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IMPLICAÇÕES SÓCIO-POLÍTICAS E ÉTICAS DA TEORIA DA FALSEABILIDADE DE POPPER

Prof. Gilmar Zampieri

Introdução:

A filosofia da ciência tem vários guias e intérpretes. Um dos maiores, no século XX, foi, sem dúvida, Karl Raimund Popper. Nas mãos de Popper, os temas tradicionais de epistemologia recebem novas interpretações. Todo filósofo inovador enfrenta criticamente seus predecessores para reforçar teses ou para rejeitá-las. No caso de Popper a crítica mais contundente se dirige contra os programas da Indução, do Neopositivismo e do Historicismo. Os dois primeiros são rejeitados pela inapropriação na demarcação do campo científico. O historicismo é criticado e rejeitado por levar a estados absolutos e totalitários.

O racionalismo crítico, como é conhecido o seu programa, não se limita a destruir os pressupostos dos programas acima referidos. Para além da crítica, Popper se aventura na direção de uma nova interpretação da ciência e sua lógica. Sua nova interpretação torna-se frutífera também no campo das ciências sociais.

Esse texto pretende seguir em linhas gerais essa aventura de destrutiva e reinterpretativa de Popper. Iniciaremos com a crítica aos programas da indução e do neopositivismo e a partir da crítica avançaremos para o momento propositivo de Popper no que concerne a um novo critério demarcador da ciência, qual seja, o falibilismo, ou falseabilismo. Num segundo momento abordaremos a crítica ao historicismo e, com ela, a crítica aos inimigos da sociedade aberta. O que se perceberá nesse segundo momento é que Popper simplesmente aplica o método das ciências naturais para as ciências sociais, com conseqüências importantes na esfera política e na ética.

1. Crítica aos Programas

Popper constrói os fundamentos de sua nova concepção da lógica da investigação científica acertando contas com as explicações tradicionais. Duas são as concepções básicas com as quais Popper se defronta criticamente, rejeitando-as como não satisfatórias na sua pretensão de demarcação do campo científico. A primeira é a que estabelece a indução como critério para as ciências empíricas. A segunda é a que propõe a verificabilidade (neo-positivismo).

1.1. Crítica ao Programa da Indução

Tradicionalmente a resposta ao problema da demarcação entre o que é ciência e como se processa, na distinção com outros conhecimentos, sobretudo o metafísico, o teológico, o filosófico, é que diz que a ciência é experimental e indutiva e a filosofia e teologia é especulativa e dedutiva.

Esse critério remonta a Francis Bacon que em seu livro “Novum Organum” diz que, para fazer ciência verdadeira, é preciso voltar a observar a natureza. É preciso iniciar pela observação e pela observação do particular chegar a axiomas universais, à verdade universal. Assim, é a experiência e não a especulação a única fonte segura do conhecimento.

Diz Bacon: “Só há duas e só pode haver duas vias para a investigação e para a descoberta da verdade. Uma que consiste no saltar-se das sensações e das coisas particulares aos axiomas mais gerais e a seguir descobrir os axiomas intermediários a partir desses princípios...Esta é a que ora se segue. A outra, que recolhe os axiomas dos dados dos sentidos particulares, ascendendo contínua e gradativamente até alcançar em último lugar os princípios de máxima generalidade. Esse é o verdadeiro caminho, ainda não instaurado”(BACON, 1973, p.16).

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Nota-se que para Bacon, primeiro filósofo da ciência da era moderna, adepto ao indutivismo, não há como fugir do caminho do particular para o geral. Tanto um como outro caminho por ele referido tem como pressuposto a passagem do particular (sensações) para o geral (axiomas). Nem menciona a possibilidade de partir de uma teoria especulativa e depois fazer teste de experiência. Não. O único caminho é o caminho da indução, em duas vias. Isso significa que o critério que distingue o conhecimento científico é o elemento observacional, e a partir da observação eleva-se ao universal e verdadeiro.

O programa da indução, ou o indutivismo, parte da tese de que afirmações universais, que constitui propriamente o conhecimento, são resultado da experiência, e portanto, de afirmações particulares. Como pode afirmações gerais ser justificadas pela evidência limitada, isto é, contendo limitado número de observação? A essa pergunta o indutivista responde: que dadas certas premissas em condições satisfatórias é possível generalizar. As condições para isso são: a) grande número de repetição da observação; b) a observação repetida deve ser submetida à variedade de condições; c) nenhuma observação deve conflitar com a lei geral. Precisamente essa é a lógica da indução: do particular para o geral. O processo do método pode ser por enumeração, repetição ou eliminação.

Popper trata do problema da indução tanto no seu livro A Lógica da Investigação Científica quanto no Conhecimento Objetivo. Popper abre o livro Conhecimento Objetivo afirmando: “Julgo haver resolvido importante problema filosófico: o problema da indução. Essa solução tem sido extremamente frutífera, capacitando-me a resolver bom número de outros problemas filosóficos” (POPPER, 1975, p.13).

A afirmação acima se refere ao seu livro A Lógica da Investigação Científica, que datada de 1934, tratou exaustivamente o problema da indução. Nessa obra Popper resume o método indutivo assim: “costuma-se chamar de indutiva a uma inferência se ela passa de enunciados singulares (chamados também de enunciados particulares), tais como as descrições dos resultados de observações ou experimentos, para enunciados universais, tais como as hipóteses ou teorias” (POPPER, 1975, p. 263). Para Popper essa é uma concepção amplamente aceita, mas injustificada.

O problema da injustificação já havia sido colocado e resolvido por Hume, do ponto de vista lógico e psicológico. Popper segue seus passos dizendo que “de um ponto de vista lógico, está longe de ser óbvio que estejamos justificados ao inferir enunciados universais a partir dos singulares, por mais elevado que seja o número destes últimos, pois qualquer conclusão obtida desta maneira pode sempre acabar sendo falsa: não importa quantas instâncias de cisnes brancos possamos ter observados, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos” (POPPER, 1975, p. 263). A impossibilidade de justificação racional é precisamente o problema da indução. Hume já tinha acenado para essa questão dizendo que sobre o futuro eu não posso ter experiência e que, portanto, só posso passar a uma lei por força do hábito e nunca fundado na razão. É por isso diz, Hume que o fundamento não é lógico, mas psicológico.

Na verdade o que a lógica indutiva se arroga o direito de defender está para além dela mesma. A distinção do que é científico e o que não é lhe escapa das mãos. O seu critério, qual seja da experiência, que pretende demarcar o campo, está ele mesmo, impossibilitado de fundamentar e justificar o próprio princípio. O princípio de que a experiência é o critério para a universalização não passa ele mesmo pela experiência, se passasse conduziria a uma regressão ao infinito. Diz POPPER: “Se tentamos considerar que conhecemos a verdade através da experiência, então para justificar esse critério deveríamos empregar inferências indutivas, e para justificar essas últimas deveríamos assumir um princípio indutivo superior, e assim por diante. Assim sendo cai por terra a tentativa de basear o princípio de indução na experiência, uma vez que ela deve conduzir a uma regressão infinita”( POPPER, 1975, p.

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265) . Assim a distinção do que é cientifico e o que não é lhe escapa das mãos. Ela repõe de volta o problema.

Para concluir a consideração sobre a crítica de Popper à impossibilidade de justificar logicamente o princípio da indução, ilustramos com o seguinte exemplo, do qual falou Bertrand Russel: “peru indutivista”. Um certo peru mudou de dono. Na nova criação onde foi levado ele logo observou que lhe era dado alimento às nove da manhã. Não se apressou em tirar conclusões apressadas. Esperou por alterações de circunstâncias: o dia da semana, dia de chuva ou de sol, quente ou frio... Munido de maior número possível de variações e circunstâncias concluiu definitivamente: Dão-me alimento invariavelmente às nove da manhã. Isso, porém, não aconteceu numa véspera de Natal em que, ao invés de ser alimentado, foi degolado, para servir de alimento na mesa do novo dono.

1.2. Crítica ao programa Neo-positivistaPopper é considerado “opositor oficial” do neo-positivismo. O neo-positivismo é uma

reflexão sobre o método científico que se afirma no período entre guerras e tem como expoente importante Moritz Schlick. Ao redor de Schlick é que se aliam outras figuras como Carnap e Neureth e se constitui o que se convencionou chamar de “Circulo de Viena”, “empirismo lógico”, ou ainda “neo-positivismo”. O cerne do pensamento neo-positivista se caracteriza pela atitude antimetafísica. O seu núcleo é o princípio de verificação, segundo o qual, só tem valor e sentido as proposições e enunciados que podem ser verificadas empiricamente, através do recurso aos fatos da experiência. Com essa base rejeita qualquer pretensão de validade as afirmativas metafísicas ou teológicas. Estas são simplesmente “sem sentido”, “absurdas”, “carentes de significação”. Carnap resume bem essa postura:

“Quando dizemos que as chamadas proposições da metafísica não têm sentido, isto deve ser tomado rigorosamente ao pé da letra. Numa acepção menos rigorosa classificam-se por vezes de sem sentido uma pergunta ou uma frase quando são completamente inúteis, por exemplo a pergunta: “ Qual é o peso médio dos vienenses cujo número telefônico acaba em 3?”, ou quando são completamente falsas ( por exemplo: “ No ano de 1910 Viena tinha seis habitantes). Ou quando são logicamente contraditórias como por exemplo: “ Cada uma das duas pessoas, A e B é mais velha um ano do que a outra”). Oras essas proposições são na verdade pseudo-proposições, e assim devem ser colocadas todas as proposições da metafísicas, como pseudo-proposições”.

Em termos gerais podemos assim resumir as principais teses do neo-positivismo: a) que o princípio de verificação constitui o critério de distinção entre proposições sensatas e proposições insensatas; 2)que, com base nesse princípio, só tem sentido as proposições passíveis de verificação empírica ou factual, vale dizer as afirmações da ciência empírica; 3) que a metafísica, juntamente com a ética e a religião, não sendo constituídas por conceitos e proposições factualmente verificáveis, são um conjunto de questões aparentes que se baseiam em pseudo conceitos; 4) que o trabalho que resta ao filósofo sério é o de análise da semântica (relação entre a linguagem e a realidade à qual a linguagem se refere) e da sintática (relação dos sinais e signos entre si) do discurso significante, isto é, do discurso científico; 5) por isso a filosofia não pode ser especulação sobre o todo, mas análise da linguagem científica.

Essa demarcação entre ciência e filosofia, proposta pelo neo-positivismo, através do critério de verificabilidade, que relega a filosofia metafísica e a teologia ao campo do não científico, ao vago de sentido, ao inócuo, ao absurdo, ao fantasioso, ao carente de sentido, é

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frontalmente atacada por Popper. E o seu ataque segue a lógica da crítica já processada contra o indutivismo. Popper diz que os neo-positivistas “pretendem admitir como científico ou legítimo apenas aqueles enunciados que são redutíveis aos enunciados elementares da experiência. Está claro que o critério de demarcação implicado deste modo é idêntico à exigência de uma lógica indutiva...uma vez que rejeito a lógica indutiva, devo também rejeitar todas essas tentativas de resolver o problema da demarcação” (POPPER, 1975, p. 270).

As expressões “absurdo”, “carente de significação”, diz Popper, não se restringem a dizer que a metafísica não pertence à ciência empírica. Isso não implicaria em menosprezo, pois é comum definir-se a metafísica como uma ciência não empírica. Porém a pretensão dos neo-positivistas é mais audaz. Querem mesmo é a eliminação, a aniquilação da metafísica. “Os positivista acreditam que podem dizer muito mais acerca da metafísica além de dizer que alguns de seus enunciados são não-empíricos. As expressões `carente de significado´ou ´absurdo´expressam uma avaliação pejorativa: e não existe dúvida de que o que os positivistas realmente pretendem conseguir não é tanto uma demarcação bem sucedida como a ruína final e a aniquilação da metafísica” (POPPER, 1975, p.270). Por que aniquilação? Porque seria da natureza mesma das coisas que a metafísica “nada mais é do que um falatório absurdo (nonsense) - `sofisma e ilusão´ como diz Hume, que deveria se “atirar às chamas”.

Essa postura de demarcação não é aceita por Popper, e explica porque: “ minha tarefa, de modo como a vejo, não é realizar a derrocada da metafísica...Nem vou até o ponto de afirmar que a metafísica não tem nenhum valor para a ciência empírica. Pois não se pode negar que juntamente com idéias metafísicas que destruíram o avanço da ciência existem outras-tais como o atomismo especulativo, que a auxiliaram. E, olhando a questão sob o ângulo psicológico, estou inclinado a pensar que a investigação científica é impossível sem a fé em idéias que possuem uma índole puramente especulativa, algumas vezes até mesmo bastante nebulosa: uma fé que é amplamente desnecessária do ponto de vista da ciência, e que, nessa medida, é “metafísica” (POPPER, 1975, p.272-273). Isso deixa claro que o critério ou co conceito positivista de “dignificado” ou “sentido” (ou de verificabilidade, confirmalidade indutiva, etc...) não é apropriado para demarcar o campo, porque a metafísica não é necessariamente sem sentido.

Popper descarta a demarcação positivista não por prazer de refutação. Ele a fundamenta recorrendo à história da ciência e até à astrologia. Diz Popper: “nunca pude aceitar esse ponto de vista. A moderna teoria física – especialmente a teoria de Einsten – que em 1919 era amplamente debatida – é altamente abstrata e especulativa; afasta-se muito do que se poderia denominar sua ´base de observação´. Todas as tentativas feitas para demonstrar que se baseia mais ou menos diretamente na observação deixaram de convencer. O mesmo acontecia, aliás, com a própria teoria de Newton” (POPPER,1972, p.283).

Portanto, o cerne da questão da demarcação entre ciência (significado) e metafísica (absurdo, sem sentido e significado real) proposto pelo neo-positivismo, é desfeito na lógica do racionalismo crítico de Popper. Trata-se, segundo Popper, não de estabelecer como critério a significância e a verificabilidade, mas de diferenciar os campos. Dizer que uma assertiva ou um conjunto de assertivas não é científico, em absoluto implica dizer que é insensato ou absurdo. A solução proposta pelos neo-positivistas não resolve o problema, pelo contrário, o recoloca. O preconceito contra a metafísica impede até mesmo que os sistemas de linguagem trabalhem apropriadamente. Por que? Porque as ditas “leis da natureza” não são empiricamente verificáveis, logo, não são científicas. Isso seria um absurdo porque “excluir do campo da significação todas as teorias científicas, pois essas não são mais redutíveis a referência à observação do que as chamadas pseudoproposições metafísicas. Portanto, o critério de significação leva a uma distinção errônea entre ciência e metafísica” (POPPER, 1972, p.288). Assim, poder-se-ia dizer que os neo-positivistas reintroduzem a metafísica na ciência, já que as próprias leis da natureza não são verificáveis; apesar disso, continuam

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relegando-a ao campo do “sem sentido” e “sem significado”. Então o problema está mal colocado. O critério tem que ser outro. E o que veremos a seguir.

2. Um novo demarcador para a ciência: a falseabilidadePopper chama problema da demarcação “a busca de um critério que permite distinguir

apropriadamente a ciência empírica, de um lado, e a matemática, a lógica e a metafísica de outro” (POPPER, 1975, p.269). Rejeita, como vimos, tanto o método que parte da observação (indução) quanto o critério da significância-verificação (neo-positivismo). Ambos são inapropriado para responder a pergunta: Quando uma teoria pode ser classificada como científica? Essa pergunta não se refere ao problema da veracidade ou aceitabilidade de uma teoria, mas ao problema da distinção entre ciência e pseudociência.

Para Popper, uma teoria tem estatuto de científica quando pode ser refutada. É impossível provar que uma teoria científica é verdadeira, mas é sempre possível provar que ela é falsa. Se não pode ser falseável, não é científica. Não é um grande número de casos particulares que confirma uma teoria científica. Nem é pela verificação empírica de enunciados lógicos. Não é pela concordância entre linguagem e realidade. Científico não é o que é seguro, verificável, comprovado pela experiência, mas exatamente o que é possível de ser diferente, de mudar, de ser posto a prova e , se for o caso, ser refutado. Nesse sentido a irrefutabilidade de uma teoria não é uma virtude, mas um vício. Isso vai significar que a verdade nunca pode ser alcançada absolutamente. As teorias que passam pelo teste podem ser consideradas mais próximas da verdade, mas verdade não pode ser afirmada definitivamente. Com isso não se abdica da experiência. A teoria deve ser testada pela experiência. A que resistir aos experimentos será considerada provisoriamente melhor. Popper sintetiza esse critério assim: “certamente admitirei um sistema como empírico ou científico somente se ele for suscetível de ser testado pela experiência. Estas considerações sugerem que se deve considerar como um critério de demarcação, não a verificabilidade, mas a falseabilidade de um sistema. Em outras palavras, não exigirei de um sistema científico que ele seja suscetível de ser relacionado, de uma vez por todas, em um sentido positivo; mas requererei que sua forma lógica seja tal que ele possa ser relacionado, por meio de testes empíricos, em um sentido negativo: deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema científico empírico” ( POPPER, 1975, p. 275).

Portanto, a falseabilidade, isto é, a capacidade de uma teoria poder ser refutada com base na experiência, representa, para Popper, o critério de demarcação entre ciência e pseudociência.

Como Popper elabora esse critério? A lógica parece ser a seguinte: a pesquisa não parte da observação, mas de problemas. Para resolver problemas formula-se hipóteses, como tentativa de solução. Uma vez elaboradas as hipóteses (teoria), ela deve ser posta a prova (experimentação). Se resistir a prova, às hipóteses serão confirmadas, corroboradas, sempre temporariamente. Se não resistir, as hipóteses estarão falseadas, abrindo a possibilidade para novas hipóteses, e assim sucessivamente.

Para demonstrar a falsidade da idéia de que tudo começa com a observação, Popper dá um exemplo: “Há um quarto de século, procurei chamar a atenção de um grupo de estudantes de física, em Viena, para este ponto, começando uma conferência com as seguintes instruções: ´tomem lápis e papel, observem cuidadosamente e anotem o que puderem observar´. Os estudantes quiseram saber naturalmente, o que deveriam observar” (POPPER, 1972, p. 25). Isso prova, segundo Popper, que a observação é sempre seletiva. Enquanto tal exige um objeto, uma tarefa bem definida, um ponto de vista, um problema. Em última instância, exige conjecturas. Exige uma teoria prévia. A teoria vem antes do que a observação.

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O que levou Popper a formular esse critério? Tudo começou em 1919, como ele mesmo relata na sua autobiografia intelectual. Naquele ano quatro eram as teorias que dominavam o cenário intelectual: a teoria da história de Marx, a Psicanálise de Freud, a Psicologia Individual de Adler e a teoria da Relatividade de Einstein. As três primeiras tinham algo em comum que contrastava com a teoria da relatividade de Einstein. Enquanto as três primeiras se apresentavam com capacidade de explicação aparentemente confirmada – quaisquer fossem as circunstâncias e situações – a teoria da relatividade era arriscada, isto é, fazia conjecturas passíveis de serem refutadas. Resultados experimentais poderiam contrastar com os seus postulados teóricos ou confirmá-los como de fato ocorreu.

Disso Popper tira algumas conclusões que parecem ser fundamentais no seu pensamento: é fácil obter informações ou verificações para uma teoria, desde que a procuremos; as confirmações só devem ser consideradas relevantes se resultarem de predições arriscadas e improváveis à luz de uma teoria concorrente; as boas teorias são uma proibição. Quanto mais uma teoria proíbe, melhor é; a teoria que não for passível de refutação não é científica. A irrefutabilidade é um vício e não uma virtude; o recurso auxiliar ad hoc salva a teoria, mas implode seu caráter científico (POPPER, 1972, p. 66).

Munido dessas conclusões, Popper refuta como não científica as teorias de Marx, Freud e Adler. No caso de Marx algumas teses são científicas, porém não estão confirmadas. Os seus seguidores ao invés de aceitar as refutações tentaram reinterpretar a teoria. Com isso tentaram salvá-la, ao preço de sua destruição enquanto teoria científica. Quanto às teorias psicanalíticas, elas pertencem a outra categoria, por não serem de todo testáveis são, portanto, irrefutáveis. Qualquer comportamento sempre é tido como comprovação de uma teoria, dada a vaguidade de ambas. Popper dá um exemplo para mostrar a irrefutabilidade das teorias de Freud e de Adler. “Posso ilustrar esse ponto com dois exemplos muito diferentes de comportamento humano. O homem que joga uma criança na água com intenção de afoga-la e o de quem sacrifica sua vida na tentativa de salvar a criança. Ambos os casos podem ser explicados com igual facilidade, tanto em termos freudianos como adlerianos. Segundo Freud, o primeiro homem sofria de repressão, enquanto o segundo alcançara a sublimação. Segundo Adler, o primeiro sofria de um sentimento de inferioridade (gerando provavelmente a necessidade de provar a si mesmo ser capaz de cometer um crime), e o mesmo havia acontecido com o segundo (cuja necessidade era provar a si mesmo ser capaz de salvar a criança” (POPPER, 1972, p.65).

Isso não acontece com a teoria da relatividade, que se arriscava a colidir com os fatos e poder, em princípio, ser refutada. Esse caráter, que lhe atesta a cientificidade, porém, não parte da observação. Nem se fundamenta na verificação de significância. Ela é arriscada. É audaciosa. É conjectura. É isso que lhe confere caráter de científica.

Nesse sentido jamais se pode dizer que uma teoria é verdadeira, mas pode-se dizer se ela é falsa. Pode-se ainda dizer que uma teoria é superior a suas predecessoras, na medida que resistir aos testes que falsificaram a predecessora. É assim que se dá o progresso da ciência. Uma teoria nova dever ser mais falsificável daquela que ela pretende substitui, sua rival. A teoria será superior se prever fenômenos novos, não vislumbrados pela rival. Quanto mais resistir ao teste, sem ser refutada, melhor será a teoria. A verdade é pois aproximada gradativamente. A verdade total estará sempre em aberto. Ao cientista cabe persegui-la. Precisamente aqui entra o papel das teorias. “As teorias são redes que lançamos para capturar o que chamamos ´mundo´: para racionalizá-lo, explicá-lo e dominá-lo. Esforçamo-nos para deixar as malhas cada vez menores” (POPPER, 1975, 287). A verdade é, pois, um ideal regulador. A eliminação dos erros de teorias anteriores, substituídas por teorias mais verossímeis, é a condição de aproximação da verdade.

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E isso basta para compreendermos minimamente a posição de Popper no que diz respeito ao seu critério demarcador da investigação científica. A seguir analisaremos quais implicações na aplicação desse método para as ciências sociais, e conseqüentemente as implicações para o âmbito político e ético.

3. Critica ao historicismo e à dialética: A sociedade abertaPopper tira algumas conseqüências de sua teoria das ciências naturais para a ciência da

história e das sociedades. Três obras são fundamentais nesse campo. A miséria do historicismo, A sociedade aberta e seus inimigos, e o que é dialética.

No ensaio “O que é dialética”, Popper faz uma distinção entre o método de tentativa e erro e o método dialético. O método de tentativa e erro (falseabilidade) é assim resumido por Popper: “quando um cientista se defronta com um problema apresentará então tentativamente uma solução: uma teoria. E, se for o caso, a ciência aceitará (mas só provisoriamente) essa teoria. Quando o resultado do exame mostra que a tentativa é falsa, então é rejeitada; o método de tentativa e erro é, na sua essência, um método de eliminação, de escolha negativa, de exclusão”(POPPER, 1981, p.26). O sucesso do método de tentativa e erro depende de no mínimo três condições: número suficiente de apresentação de teorias (engenhosas e imaginativas); diferenciação de teorias; e seu rigoroso exame. Quando se cumpre essas condições então as teorias mais aptas sobreviverão e as inaptas serão eliminadas.

O método dialético vai numa outra direção. Nele o pensamento se desenvolve por meio de três fases: tese, antítese, síntese. Em primeiro lugar existe uma tese. Esta tese suscita oposição. A oposição se dirige contra a afirmação (tese). É a antítese. O conflito entre tese e antítese resultará em síntese. A síntese é a preservação dos valores positivos de ambas. Alcançada a síntese, ela torna-se novamente o primeiro passo para o processo ternário sucessivo. Assim o processo ternário prosseguirá sempre para um nível mais elevado (POPPER, 1981, 27).

Popper salienta que o seu método de tentativa e erro se diferencia do método dialético porque aquele não implica no desenvolvimento em forma de síntese: “Propusemos, antes, que o conflito entre uma idéia e sua crítica, ou entre uma tese e a sua antítese levasse à eliminação da tese (ou talvez da antítese) no caso de ela se revelar satisfatória; e propusemos que a concorrência entre as teorias só levasse à aceitação de novas teorias quando existissem, à disposição, teorias suficientes e quando estas fossem submetidas a uma prova de confirmação” (POPPER, 1981, p. 28). Isso significa, segundo Popper, que o método de tentativa e erro é mais universal do que o método dialético. Por que? Porque não se restringe à idéia de que, no princípio, há só uma tese disponível. Pelo contrário, pode haver muitas teses disponíveis desde o princípio, independentes uma da outra e que não necessariamente estejam em oposição frontal. É admissível que aconteça que só uma tese esteja disponível e então o método dialético se revela aplicável. Porém, isso não é necessariamente assim.

Além desse aspecto, Popper critica também o mito de que a tese “cria” a sua antítese. Segundo ele, não é a tese que cria a antítese, pela suposta contradição, mas é a razão crítica que cria a antítese. “De fato é meramente a nossa atitude crítica que cria a antítese e se essa falha, o que é muitas vezes o caso, então não resultará nenhuma antítese. De igual modo devemos acautelar com a opinião de que é do conflito, da luta entre tese e antítese que resultará a síntese. É um conflito do pensamento e é o pensamento, a procura, que cria as novas idéias” (POPPER, 1981, p. 29).

Popper critica a dialética também por afirmar que as contradições é que geram o progresso. Para Popper as contradições devem ser evitadas e não estimuladas. Aceitar as contradições é desafiar a lógica tradicional. “Os dialéticos pretendem que as contradições

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sejam úteis ou que arrastem o progresso e nós concebemos que isso é exato em certo sentido. Contudo só é exato enquanto estamos decididos a não tolerar qualquer contradição e a alterar toda a teoria que apresente contradições; por outras palavras, uma contradição só é proveitosa enquanto estivermos resolvidos a não aceitar nenhuma contradição” (POPPER, 1981, p30). Não é a contradição que leva ao progresso, mas sua eliminação por alteração de teorias. Se tolerarmos as contradições, diz Popper, então não buscaremos novas teorias para modifica-las. Aceitar às contradições é perder a força da crítica.

Cremos que esses elementos básicos da discussão entre o método de tentativa e erro e o método dialético sejam suficientes para um segundo passo. Aliás, o mais importante.

Qual é esse segundo passo? É a crítica ao historicismo que se fundamenta basicamente no método dialético. Essa crítica a processa na obra A miséria do historicismo.

Em A miséria do historicismo, Popper critica a crença em leis da história, ou leis do desenvolvimento social, ou leis do progresso, que, em última instância, se fundamentam na dialética.

Segundo o historicismo a função das ciências sociais é prever, descobrir as leis inexoráveis do desenvolvimento histórico, de tal forma a poder captar o seu desdobramento posterior. Diz Popper. “Considero historicismo a forma de abordar as ciências sociais que presume ser a previsão histórica, profecia histórica, o principal objetivo e que presume ser esse objetivo atingível por meio da descoberta de “ritmos” ou de “padrões” subjacentes à evolução histórica”. A atitude do homem livre é apressar as leis da necessidade histórica e diminuir as dores do parto. Por isso o historicismo é otimista e ativista. Marx dizia: “os filósofos interpretaram o mundo de várias maneiras, cabe transformá-lo”. Esse “transformá-lo” dá o tom de ativismo, isto é, centralidade à ação que apressa o futuro previsto.

Em linhas gerais o “historicismo holista”, como o denomina Popper, postula a distinção entre o método das ciências naturais e sociais; a ciência social atuará como uma “parteira ajudando a fazer surgir novos períodos históricos”;O caráter é holístico, isto é, de profecia total, por considerar a “sociedade como um todo”; o controle sobre a sociedade deve ser total e não parcial; a história é regida por leis que dadas certas condições A, levam a B.

No prefácio de A miséria do historicismo, Popper resume porque o historicismo não é admissível. O faz em cinco pontos:

a) O curso da história humana é influenciado pelo crescer do conhecimento.

b) Não é possível predizer, através de recursos a métodos racionais ou científicos a expansão futura do nosso conhecimento científico. Não há como antecipar hoje o que tão-somente saberemos amanhã.

c) Não é possível, conseqüentemente, prever o futuro curso da história humana.

d) Isso significa que devemos rejeitar a possibilidade de uma história teorética. Não pode haver uma teoria científica do desenvolvimento histórico a servir de base para a predição histórica.

e) O objetivo fundamental dos métodos historicistas está, portanto, mal colocado.

Popper contrapõe a visão “historicista holista” ao que ele denomina de “engenharia de ação gradual”. Segundo a visão da “ação gradual”, é impossível prever o desdobramento da sociedade na mesma medida que é impossível fazer desdobramentos possíveis para a ciência. Nesse sentido Popper é coerente com o seu critério da ciência. “A engenharia da ação

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gradual” diferencia lei de tendência e, portanto, não é adepta a profecias que levam aos totalitarismos. Postula ainda que a história não tem sentido inexorável. O sentido da história é o sentido que lhe damos. Nesse particular, a história não nos justifica, mas nos julga. A conquista da justiça e da liberdade é obra pública e privada e se dá, não por revolução, mas gradualmente, por instituições democráticas.

Os embates metodológicos entre o historicismo dialético ou “engenharia utópica” e a “engenharia da ação gradual” tem repercussão diferenciada do ponto de vista político e ideológico. Essas repercussões são abordadas, sobretudo, na obra A sociedade aberta e seus inimigos. Nessa obra, Popper estuda os dialéticos, de Heráclito a Marx, passando por Platão e Hegel, para mostar que a dialética e o historicismo são o suporte teórico do totalitarismo político e ideológico, da sociedade fechada enfim. Vejamos essa crítica mais de perto.

Em A sociedade aberta e seus inimigos, Popper repassa os principais teóricos historicistas (Heráclito, Platão, Hegel e Marx) da “sociedade feudal” ou “sociedade fechada” e aplica seu método crítico para justificar a sociedade aberta, a democracia. Uma das teses principais é de que “a profecia é prejudicial, que a metafísica da história impede a aplicação dos métodos graduais da ciência aos problemas da reforma social. E, ainda, tenta mostrar que podemos torna-nos os artífices de nosso destino, quando deixarmos de posar como seus profetas”(POPPER, 1987, p. 18).

Heráclito é inimigo da sociedade aberto por seu historicismo e por seu mito do destino impiedoso. Segundo Popper, Heráclito, depois de dizer que “tudo está em fluxo” ou “que não podemos mergulhar duas vezes no mesmo rio”, recai na idéia de que há uma lei ou uma ordem no processo do mundo, que o determina. “Na filosofia de Heráclito manifesta-se uma das características menos recomendáveis do historicismo, a saber, a excessiva ênfase na mudança, combinada com a crença complementar numa inexorável e imutável lei do destino...Essa lei é a guerra, que é o princípio dinâmico e criador de qualquer mudança e particularmente de todas as diferenças entre os homens. E, sendo um historicista típico, aceita como moral o julgamento da história, pois sustenta que o resultado da guerra é sempre justo” (POPPER, 1987, p. 27ss).

Mais relevante historicista do que Heráclito é, no mundo antigo, Platão, com sua doutrina político-social. Platão é a expressão mais alta da reação contra a sociedade aberta da democracia ateniense. Para ele, a lei do desenvolvimento histórico é a de que toda a mudança social é corrupção, decadência ou degeneração. Essa lei é cósmica, pois todas s coisas criadas são destinadas a decadência. Mas, tal tendência é possível de ser controlada, isto é, é possível, pelo esforço humano, romper o processo de decadência. O elemento da vontade moral do homem é que o diferencia de Heráclito, pois este acreditava no destino histórico.

Por que Platão é inimigo da sociedade aberta, da democracia ateniense? Porque, segundo Popper, postula um estado ideal, governado pelo filósofo-rei que, livre da ignorância e munido da sabedoria, evitaria a degeneração do próprio Estado, no sentido de impedir os movimentos políticos que são causa da degeneração. Nesse sentido Platão é teórico do Estado petrificado, fruto de sua concepção essencialista na área do conhecimento, que crê na possibilidade de descobrir as essências ocultas das coisas, as formas ou idéias: “As formas ou idéias não só são imutáveis, indestrutíveis e incorruptíveis, como também perfeitas, verdadeiras, reais e boas; de fato o “bem” é, certa vez na República, explicado como tudo `quanto preserva`, e o ´mal` como tudo quanto destrói, ou corrompe...Se realmente, o ponto de partida de toda a mudança é perfeito e bom, então a mudança só pode ser um movimento que afasta da perfeição e do bem; deve dirigir-se para o imperfeito e o mau, para a corrupção” (POPPER, 1987, p49). Logo, O Estado ideal é o que afasta a mudança. A mudança é sempre um afastamento do bem e do justo. A conclusão óbvia é o totalitarismo estático, pois a livre expressão democrática é um aval para a corrupção, a mudança. O líder, munido da idéia do

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bem e da justiça, deve ser seguido sem contestação, para a felicidade de todos. Os sábios deverão governar, e os ignorantes deverão segui-los. Ora, diz Popper, esse raciocínio leva para as ditaduras nas suas mais variadas expressões.

Platão se enquadra dentro do que Popper qualifica como “mecânica utópica” em oposição à “mecânica gradual”, defendida por ele. Qual é o cerne da “mecânica utópica”? Para Popper o principal elemento é que a ação racional deve ter um alvo. Definido o alvo procura-se os meios para alcançá-lo. No caso de Platão o alvo é o Estado ideal. Traçado o alvo, parte-se para a prática. E salve-se quem estiver contra. Os críticos a esse alvo traçado são inimigos e, portanto, podem ser banidos. É uma postura doentia. Diferente é a postura da “mecânica gradual”. Segundo essa, o político que a adota não necessariamente necessita ter um alvo pré-estabelecido. Pode ou não esperar que um dia a humanidade alcance um estado ideal, a felicidade, a liberdade etc...Mas, está consciente de que se esse estado se realizar, se puder ser atingido, está muito distante, e que cabe a cada geração não reivindicar ser feliz, mas ser menos infeliz, injustiçado, explorado. Assim, o método da “mecânica gradual” reivindica para si não o bem definitivo, mas a eliminação do mal circunstancial e concreto. Esse é o método razoável, pois possível de ser colocado em prática a qualquer momento.

No segundo tomo de A sociedade aberta e seus inimigos, Popper avança da antiguidade para a modernidade e, dentro dessa, analisa dois expoentes, inimigos da sociedade aberta, adeptos do historicismo e da dialética.

Hegel é a fonte de todo historicismo moderno. Popper o trata como o “novo tribalismo”, isto é, a sociedade fechada, visto que fundamenta o estado totalitário, na medida em que identifica o real com o racional e vê no Estado Prussiano a encarnação da racionalidade. Para Hegel, segundo Popper, o estado é tudo e o indivíduo, nada. O indivíduo é nada porque deve tudo ao estado, tanto sua existência física quanto moral e espiritual. Popper transcreve uma passagem do próprio Hegel para confirmar isso: “ O universal se encarna no Estado. O estado é a idéia do divino como existe na terra. O estado é a marcha de Deus pelo mundo. O estado deve ser compreendido como um organismo. Ao estado completo pertencem, essencialmente, a consciência e o pensamento. O estado sabe o que quer. O estado é real e a verdadeira realidade é necessária. O que é real é eternamente necessário. O estado existe em razão de si mesmo. O estado é o que efetivamente existe, a vida moral realizada” (POPPER, II. 1987, p.30).

Essa passagem selecionada não poderia ser mais evidente. Hegel é síntese do pensamento totalitário e fechado. Seu pensamento é a justificação e a apologia do Estado Prussiano. É evidente que essa concepção leva a guerra como motor da história. Guerra entre estados é que faz a história avançar. O vencedor é o verdadeiro, bom e justo.

O historicismo Hegeliano justificador do estado totalitário, constrói-se, segundo Popper, sobre dois pilares ou duas idéias básicas: a) a dialética (guerra dos opostos); b) a filosofia da identidade.

Para Platão as idéias ou essências existem antes das coisas em fluxo, que caminham para a decadência. Hegel, com Aristóteles, acredita que as idéias são idênticas às coisas em fluxo.Todo real é racional, ou se quiser, toda coisa real é uma idéia. As coisas caminham, diferentemente de Platão, para o progresso e não para a decadência. No mundo de Hegel tudo está em fluxo. Um fluxo progressivo, porque dialético. Na dialética de tese, antítese e síntese a história avança e se eleva a um estado superior. É evidente que o estado superior era o Prussiano.

O segundo pilar, segundo Popper, é a filosofia da identidade que é a aplicação da dialética. Heráclito tinha dito: “O caminho para cima e o caminho para baixo é o mesmo”. Hegel assume para si essa idéia de Heráclito. Essência e existência, particular e universal,

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substância e acidente, forma e conteúdo, sujeito e objeto, mudança e repouso, matéria e espírito,..são uma e a mesma coisa, há uma identidade de opostos. Isso parece loucura, mas não é loucura. Diz Popper: “Há método nessa loucura: há mesmo, método prussiano. É que por trás da aparente confusão pairam os interesses da monarquia absoluta de Frederico Guilherme. A filosofia da identidade serve para justificar a ordem de coisas existentes. Seu principal rebento é um positivismo ético e jurídico, a doutrina de que o que existe é bom, visto não poder haver padrões fora dos padrões existentes; a doutrina de que a força é o direito” (POPPER, 1987, p. 47).

Para concluir passemos a Marx. Em relação a Marx, Popper tem um sentimento de amor e ódio. Confessa ter sido atraído para o comunismo, mas cedo ter se afastado dele por perceber que o marxismo é “ a mais desenvolvida e mais perigosa forma de historicismo” (POPPER, 1987, p. 89). Reconhece em Marx a sinceridade, a largueza de espírito, o sendo dos fatos, um lutador contra a hipocrisia e o farisaísmo. Reconhece, sobretudo, a sua influência intelectual: “abriu e aguçou nossa visão de muitos modos. Uma volta à ciência social anterior a Marx é inconcebível. Todos os escritores modernos têm dívidas para com ele, mesmo que o ignorem. Isso é especialmente exato em relação aos que são discentes da sua doutrina, como eu: e estou disposto a admitir que o tratamento, por exemplo, que dei a Platão e a Hegel leva o selo de sua influência” (POPPER, 1987, p.89).

Sua sinceridade, humanismo e rigor crítico em favor da maioria excluída são tudo. Para Popper há erros, muitos erros no marxismo. “Apesar de seus mérito, creio que Marx foi um falso profeta. Foi um profeta do decurso da história e suas profecias não se tornaram verdadeiras” (POPPER, 1987. p.90). Mas isso não é tudo. O pior, diz Popper, “ é haver ele desviado dezenas e dezenas de pessoas inteligentes fazendo-as crer que a profecia histórica é o modo científico de abordar os problemas sociais. Marx é responsável pela devastadora influência do método historicista de pensamento nas fileiras dos que desejam impulsionar a causa da sociedade democrática” (POPPER, 1987, p.90).

Para Popper o marxismo deve ser analisado como um método e não como uma doutrina. Método que, nas mãos de Marx, prevê o curso futuro do desenvolvimento econômico e do poder político, tornando-se utopia-profética que leva necessariamente à ideologia totalitária, pr fazer louvor à luta de classes e à revolução. O marxismo é sim, mais do que uma doutrina, um método, porém um método pobre e na prática desastroso. Segundo o método marxista cabe à ciência fazer predições do futuro. E só é possível fazer predições do futuro se este for determinado, o que não parece ser plausível. O determinismo econônico e sociológico de Marx é seu grande e imperdoável erro.

Concluímos a crítica elaborada por Popper a Marx com uma citação da Autobiografia Intelectual de Popper: “E se existisse um socialismo capaz de combinar-se com a liberdade individual, eu seria hoje socialista. De fato, nada poderia ser mais aprazível do que viver uma vida modesta, simples e livre, numa sociedade igualitária. Foi necessário algum tempo para que eu percebesse que isso não passava de sonho; que a liberdade é mais importante do que a igualdade; que a tentativa de chegar a igualdade põe em perigo a liberdade e que, perdida esta, aquela nem chega a implantar-se entre os não-livres” (POPPER, 1986. p. 43).

Esses quatro dialéticos analisados por Popper e por ele qualificados de historicistas, são os responsáveis teóricos pela ideologia totalitária, pela ideologia da guerra, que anula a liberdade humana; portanto, são inimigos da democracia, da sociedade aberta.

À visão historicista da sociedade fechada, Popper contrapõe a visão da sociedade aberta. O que é a sociedade aberta? Qual sua lógica? Essa parece ser a pergunta fundamental nesse momento. Como veremos, a sociedade aberta nada mais é do que a aplicação à sociedade do critério científico, a falseabilidade.

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Retomemos o critério científico de Popper: é científico não o que é observado, experimentado e comprovado. Nem é o que é lingüisticamente significativo e verificado. É científico o que pode ser falseado, refutado. Portanto, a verdade é uma busca permanente, que avança em tentativa e erro. A correção dos erros por conjecturas audaciosas é o critério de progresso em direção à verdade, que nunca será definitiva e justificada racionalmente.

A primeira implicação social é: é impossível prever o que irá acontecer amanhã. Se nosso conhecimento cresce, então não há como antecipar hoje o que só saberemos amanhã. Esse princípio metodológico implica em dize o seguinte: a sociedade avança na direção da democracia, da justiça, da liberdade, gradualmente, sem rupturas, sem revoluções. Esse princípio é anti-revolucionário e faz louvor a democracia liberal. As revoluções são um subproduto dos visionários, que vislumbram o futuro e se esforçam para antecipa-lo, mesmo que para isso seja preciso sacrificar o presente indefinidamente.

Como conseqüência direta e quase que continuidade do primeiro princípio, poderíamos dizer que a democracia é a melhor e a única forma racional de organização social por constituir-se no exercício crítico da razão humana. Isto porque a democracia não só tolera, mas estimula, no seu interior, as instituições democráticas, a liberdade dos indivíduos e dos grupos organizados, tendo em vista a solução gradual dos problemas sociais.A democracia é meio e é fim. Popper só admite a violência em caso de extrema necessidade, para manter a democracia: “Não sou contra uma revolução em todos os casos e sob todas as circunstâncias. Acredito, com alguns pensadores mediáveis e cristãos da Renascença que ensinaram a admissibilidade do tiranicídio, que realmente, sob uma ditadura pode não haver outra possibilidade e que uma revolução violenta pode ser justificada. Mas também acredito que tal revolução somente poderá ter com objetivo o estabelecimento da democracia”(POPPER, 1987, p. 158).

Mas, o que Popper entende por Democracia? “Por democracia não entendo algo tão vago como o `governo do povo`ou o `governo da maioria`, mas um conjunto de instituições( entre elas, especialmente eleições gerais, isto é, o direito do povo de mudar o governo) que permitam o controle público dos governantes e sua mudança pelos governados e que torne possível para os governados obter reformas sem usar de violência, mesmo contra a vontade dos governantes” (POPPER, 1987, p. 158). Mais adiante, na obra A sociedade aberta e seus inimigos, Popper esclarece melhor essa definição traçando sete regras básicas para a democracia:

a) A democracia não pode ser plenamente caracterizada como o governo da maioria, pois uma maioria pode governar de modo tirânico...Numa democracia, os poderes dos governantes devem ser limitados; e o critério de uma democracia é este: numa democracia, os dirigentes podem ser mudados pelos dirigidos sem derramamento de sangue. Assim, se os governantes não garantem aquelas instituições que asseguram à maioria a possibilidade de trabalhar pacificamente para uma mudança, então o seu governo é uma tirania.

b) Duas são as forma de governo: democracia e tirania.

c) Uma constituição democrática só excluiria um tipo de mudança no seu sistema legal, a saber, uma mudança que coloque em perigo seu caráter democrático.

d) O direito às minorias não deve ser estendido aos que violam a lei, especialmente aos que incitam os demais à derrubada violenta da democracia.

e) A política de formas institucionais para salvaguardar a democracia deve sempre com base no pressuposto de que pode haver tendências antidemocráticas latentes, tanto entre os governantes como entre os governados.

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f) Se a democracia for destruída, todos os direitos serão destruídos. E ainda que persistam certas vantagens econômicas gozadas pelos governantes, só persistem à custa de seu sofrimento.

g) A democracia supõe vigilância permanente para não sucumbir às forças antidemocráticas latentes.

Para finalizar uma palavra sobre as instituições e outra sobre a crença na razão.

Como foi dito, Popper atribui papel insubstituível às instituições, na defesa e estabilidade da democracia. Os marxistas pretende um revolução total com controle total pelo estado. Popper propõe uma “ação gradual” e para isso não só o estado mas, sobretudo, as instituições privadas ganham relevância. A ´engenharia social holística`,ou ´utópica´, ao contrário da “engenharia social de ação gradual”, nunca é de caráter ´privado`, sempre é de caráter público. Pretende a revolução de toda a sociedade, segundo as linhas de um definido plano ou de uma definida diretriz; pretende `conquistar as posições-chaves` e ampliar o poder do estado...até que estado e sociedade quase se identifiquem: e pretende, a par disso, controlar, a partir dessa `posições chaves´,as forças históricas que moldam o futuro da sociedade em desenvolvimento ou detendo esse movimento ou antecipando seu curso e a ele adaptando a sociedade” (POPPER, 1984, p. 54)

Bem outra é a posição de quem defende a democracia ou se quisermos usar a expressão de Popper, “engenharia da ação gradual”. “Quem aceita a engenharia da ação gradual sabe, tal como Sócrates, o quão pouco sabe. Sabe que, só errando, dialogando, é que aprenderemos. E, assim caminharia, passo a passo, comparando cuidadosamente os resultados esperados aos conseguidos, sempre aberto para as invitáveis conseqüências indesejáveis de qualquer reforma...Tal como a entendemos, a abordagem da ação gradual abrangeria, por exemplo, uma reforma constitucional e nem excluiríamos uma série de reformas paulatinas (POPPER, 1984, p. 54). Essa tarefa cabe à toda sociedade organizada em instituições privadas (escolas, empresas, etc....)

Quanto ao aspecto da crença na razão humana transcreveremos o último parágrafo do ensaio “Utopia e Violência”: “ o verdadeiro racionalismo estará sempre consciente do pouco que sabe. Também tem consciência do simples fato de que tudo o que possa possuir pela razão o deve a troca mútua de pensamentos com outras pessoas. Inclina-se, portanto, para considerar que a razão humana é um laço que une as pessoas. Para ele a razão é exatamente o oposto de um instrumento de poder e do recurso à violência: antes vê nela um meio de dominar a violência” (POPPER, 1981, p. 12).

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Elementos para pensar a ética de Popper:

1- A ética não pode ser fundada racionalmente de modo absoluto.

2- É possível pensar uma ética consensual ancorado sobre valores racionais como: a tolerância, a liberdade, a paz, o respeito pelo outro etc...

3- A ética é uma conseqüência do pensar de Popper ou é um pré-suposto? Não haveria uma atitude ética prévia ao próprio racionalismo? Não haveria uma crença, uma fé na razão, uma decisão ética que se colocaria na raiz mesmo do racionalismo crítico?

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CONCLUSÃO:

Sem pretender originalidade concluímos com uma rápida apreciação crítica ao pensamento de Popper no que se refere às implicações políticas da teoria da falseabilidade. Iniciemos com uma apreciação positiva e, a seguir, passamos a uma apreciação problematizadora.

O que nos parece substancialmente relevante, do ponto de vista político, é a defesa da democracia, contar qualquer forma de totalitarismo, conseqüência direta de seu princípio científico. A nosso ver Popper é um pensador fecundo para todos os que nesse início de milênio, acreditam na democracia e na sua radicalidade, não só como fim a ser alcançado, mas também como meio de ação razoável. Apostar e fundamentar a democracia como meio e fim, não é hoje, uma questão meramente ideológica. É uma exigência da razão eu mais e mais se afirma como intersubjetiva e aberta. Abdicar da democracia é abdicar da razão. Cabe, é evidente, a pergunta: qual democracia, que democracia? Essa pergunta, porém, mesmo que incontornável, tem como pressuposição o fato mesmo da democracia. O tipo sempre será uma disputa no interior do processo de construção dela mesma. E, nesse particular, Popper não parece ser simplesmente um liberal no sentido do “mercado total”. Nada é total e absoluto para Popper. Princípios absolutos e ilimitados são logicamente paradoxais.

Popper, porém, não é isento de limites. Como grande pensador tem também seu calcanhar de Aquiles. Entre outros, os pontos fracos e problemáticos da teoria de Popper podem ser situados em dois níveis. Um referente ao todo de sua teoria e outro mais pontualizado, qual seja, a postulação da conexão direta e necessária entre dialética e totalitarismo.

Popper parte do princípio de unidade do método científico. Tanto o método das ciências naturais quanto o das ciências sociais tem como passo primeiro a solução de problemas. Os problemas são sempre o ponto de partida. Dados certos problemas reais, propõem-se e criticam-se soluções. Toda pesquisa é efetuada para resolver problemas. E os problemas se resolvem elaborando conjecturas, que se confirmam (provisoriamente) ou são desmentidas pela experiência. Ademais toda teoria sempre é parcial. É sempre uma perspectiva que capta o todo de uma parte, nunca o todo nele mesmo. Verdade que seja total e absoluta é impossível. Essa postura simplesmente destrona a concepção clássica da filosofia que é pensar o todo. Aparece aqui uma contradição flagrante em Popper que Apel levará adiante. Dizer que todo conhecimento é falível, ou dizer que não há nada fundado absolutamente não é uma pretensão de dizer algo absoluto? Não há aqui uma contradição performativa que desmente o que afirma na própria afirmação? Se é uma contradição então parece que não há como ser absolutamente crítico, ou crítico absoluto. Há algo que não pode ser posto em dúvida permanentemente. Esse princípio poderia ser aplicado ao próprio racionalismo crítico. A razão crítica é um absoluto inquestionável. Ou então o próprio racionalismo crítico deveria ser falseável, o que não parece ser o caso.

Um outro problema, mais pontual, eu localizaria no interior da defesa da democracia. Não haverá um otimismo exagerado na razão crítica no interior dos jogos de poder dentro da sociedade? O intelectual, o cientista e o próprio político, estarão eles isentos de interesses econômicos e institucionais? Esses interesses não são limitadores da ação crítica? Não terá Popper subestimado o poder econômico e interesses de mercado que impossibilita o avanço aberto da democracia em todos os níveis? Não haverá um idealismo racional na posição de Popper?

Finalmente uma palavra sobre a dialética, sobretudo de Marx. Será necessariamente a esquerda marxista totalitária? A dialética não pode ser uma dialética aberta? Não seria a dialética a forma de poder ver a realidade no todo e não simplesmente nos seus problemas pontuais que levam a um pragmatismo reformista? Não haverá a necessidade de uma utopia-

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esperança para não cair no imediatismo? No caso específico de Marx não seria mais condizente enquadrá-lo como anarquista do que totalitário? Afinal, Marx propõe o fim do estado como ideal regulador e não o estado absoluto.

Bibliografia.

BACON, F. Novum Organum. São Paulo: Abril cultural, 9173.

POPPER, K. R. A lógica da Investigação Cientifica. São Paulo, Abril cultural, 1975.

________. A miséria do historicismo. São Paulo: Cultrix, 1984.

________. Autobiografia intelectual. São Paulo: Cultrix, 1986.

________. A sociedade aberta e seus inimigos. São Paulo: Itatiaia, 1987. Tomo I e II.

________. Conhecimento Objetivo. São Paulo: editora da USP, 1975.

________. Conjecturas e Refutações. Brasília: UNB, 1972.

________. O que é dialética. In: Cadernos da UNB, 1981.

________. Utopia e violência. In: O racionalismo crítico na Política – Cadernos da UNB. Brasília: UnB, 1981.

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