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1 UM NOVO PARADIGMA PARA A ATUAÇÃO CRIMINAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO: O CONTROLE EXTERNO MATERIAL DA ATIVIDADE POLICIAL E A INVESTIGAÇÃO DIRETA DE INFRAÇÕES PENAIS COMO FORMAS DE REDUÇÃO DA DESIGUALDADE NO PROCESSO DE CRIMINALIZAÇÃO SECUNDÁRIA André Tiago Pasternak Glitz 1 RESUMO O artigo analisa a forma desigual como atualmente é aplicado o Direito Penal no Brasil e o papel do Ministério Público como agente transformador desta realidade. A polícia seleciona de modo arbitrário o seu objeto de atuação, concentrando sua ação em cidadãos pertencentes às classes sociais menos favorecidas, atividade que não sofre controle adequado por parte do Ministério Público. Deve o Ministério Público, através de um controle externo material da atividade policial e da investigação direta de infrações penais, buscar uma aplicação mais igualitária do Direito Penal, superando os entraves à criminalização secundária da chamada criminalidade do colarinho-branco, em busca dos objetivos de um verdadeiro Estado Social e Democrático de Direito. Palavras-chave: Sistema de justiça criminal. Igualdade. Ministério Público. Controle externo. Investigação Criminal. ABSTRACT This article analyses the unequal application of substantive criminal law in Brazil and the role of the Public Prosecution Office in order to change this reality. Today, police arbitrarily selects what to investigate and its actions frequently are driven towards those citizens from the lowest social classes, without adequate control from the Public Prosecution Office. It is the criminal prosecutor’s constitutional function to change this scenario through effective control of the police activity and direct investigations of certain criminal cases. By doing that, perhaps, criminal substantive law in Brazil will be applied in a more balanced manner, reaching also felonies such as white collar crimes, in pursue of a Democratic and equal society. 1 Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná, designado pela Procuradoria-Geral de Justiça para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) Núcleo Regional de Curitiba/PR, desde abril de 2011.

UM NOVO PARADIGMA PARA A ATUAÇÃO CRIMINAL DO … · Justiça para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) – Núcleo Regional de Curitiba/PR, desde

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UM NOVO PARADIGMA PARA A ATUAÇÃO CRIMINAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO: O CONTROLE EXTERNO MATERIAL DA

ATIVIDADE POLICIAL E A INVESTIGAÇÃO DIRETA DE

INFRAÇÕES PENAIS COMO FORMAS DE REDUÇÃO DA

DESIGUALDADE NO PROCESSO DE CRIMINALIZAÇÃO

SECUNDÁRIA

André Tiago Pasternak Glitz1

RESUMO

O artigo analisa a forma desigual como atualmente é aplicado o Direito Penal

no Brasil e o papel do Ministério Público como agente transformador desta

realidade. A polícia seleciona de modo arbitrário o seu objeto de atuação,

concentrando sua ação em cidadãos pertencentes às classes sociais menos

favorecidas, atividade que não sofre controle adequado por parte do Ministério

Público. Deve o Ministério Público, através de um controle externo material da

atividade policial e da investigação direta de infrações penais, buscar uma

aplicação mais igualitária do Direito Penal, superando os entraves à

criminalização secundária da chamada criminalidade do colarinho-branco, em

busca dos objetivos de um verdadeiro Estado Social e Democrático de Direito.

Palavras-chave: Sistema de justiça criminal. Igualdade. Ministério Público.

Controle externo. Investigação Criminal.

ABSTRACT

This article analyses the unequal application of substantive criminal law in

Brazil and the role of the Public Prosecution Office in order to change this

reality. Today, police arbitrarily selects what to investigate and its actions

frequently are driven towards those citizens from the lowest social classes,

without adequate control from the Public Prosecution Office. It is the criminal

prosecutor’s constitutional function to change this scenario through effective

control of the police activity and direct investigations of certain criminal cases.

By doing that, perhaps, criminal substantive law in Brazil will be applied in a

more balanced manner, reaching also felonies such as white collar crimes, in

pursue of a Democratic and equal society.

1 Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná, designado pela Procuradoria-Geral de

Justiça para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) – Núcleo

Regional de Curitiba/PR, desde abril de 2011.

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Keywords: Criminal justice system. Equal protection. Public prosecutor. Police

control. Criminal investigation.

SUMÁRIO

1. Introdução – 2. A desigualdade do sistema de justiça criminal e algumas de

suas causas – 3. Formas de redução das desigualdades através do

incremento da vulnerabilidade daqueles excluídos do atual sistema de

justiça criminal – 3.1. Necessidades de readequações legislativas – 3.2

Sugestões de intervenção do Ministério Público como protagonista da

busca por um novo paradigma para o sistema de justiça criminal no Brasil –

3.2.1. Controle externo material da atividade policial – 3.2.2. Investigações

diretas de infrações penais pelo Ministério Público - 4. Conclusão – 5.

Referências Bibliográficas.

1. Introdução.

Por anos, o Direito Penal teve seu estudo focado na dogmática sistêmica

da teoria do delito, blindando-se de influências político-criminais tidas para muitos

como indesejáveis.

Consagrados juristas alemães como EDMUND MEZGER e HANS

WELZEL defendiam este distanciamento, assim como o fazia NELSON HUNGRIA, no

Brasil. Na obra de JUAREZ CIRINO DOS SANTOS, A moderna teoria do fato punível,

o prefácio de NILO BATISTA menciona um discurso de HUNGRIA no ano de 1942

em que apregoa justamente a necessidade da manutenção desta separação2.

Houve, por isso, um descolamento entre o Direito Penal e a sua aplicação

prática, os seus “efeitos reais”. Foi o Professor CLAUS ROXIN o pioneiro na proposta

de fundir dogmática e política criminal, indo além, inclusive, ao sugerir uma teoria do

delito totalmente estruturada em função da política criminal3.

2 BUSATO, Paulo César. Direito Penal e Ação Significativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p.63-64.

3 A obra referência desta proposta é Política criminal e sistema jurídico penal, traduzida para o português

por LUÍS GRECO.

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Porém, este desapego à realidade não é exclusividade das Ciências

Penais. A respeito desta problemática, CONDE e HASSEMER ensinam que:

“(...) não é estranho que o Direito, e não somente o Direito Penal

e seus cultivadores, tenham uma fixação normativa que às vezes

é quase uma obsessão, que faz com a criação, interpretação e

aplicação das normas jurídicas seja sua quase, para não dizer

exclusiva preocupação ou tarefa. Isso em si não seria mal se a

realidade social, a que se referem as normas jurídicas, fosse

imutável e estivesse prévia e claramente delimitada, mas

desgraçadamente esta realidade é mais complexa, rica e

cambiante do que o próprio tecido normativo construído em

torno dela reflita ou cristaliza.”4

Nesta perspectiva, o estudioso e o profissional que tem como objeto de

sua atividade o “sistema de justiça criminal”5 brasileiro não pode se prender a

dogmática do Direito Penal e do Processo Penal sem voltar a sua atenção para a forma

como ele opera e as consequências desta intervenção nas vidas das pessoas.

E ao se dispor a realizar tal reflexão, a constatação é que no Brasil o

Direito Penal material vem sendo aplicado de forma extremamente desigual por este

“sistema de justiça criminal”. Desigualdade que não se encontra na letra fria e distante

da lei e dos manuais, mas nas Delegacias de Polícia, Promotorias de Justiça, Varas

Criminais e Penitenciárias deste país continental.

Sobre esta violação ao princípio constitucional da igualdade em

particular, ZAFFARONI, BATISTA, ALAGIA e SLOKAR asseveraram:

“O princípio constitucional da isonomia (art.5º CR) é violável

não apenas quando a lei distingue pessoas, mas também quando

4 CONDE, Francisco Munoz e HASSEMER, Winfried. Introdução á Criminologia. Rio de Janeiro:

Lumen Juris, 2008. p.5 5 A expressão “sistema de justiça criminal” será usada no artigo referindo-se ao conjunto de órgãos e

instituições responsáveis pela elaboração, interpretação e aplicação do Direito Penal e do Direito

Processual Penal brasileiro, de maneira interligada e funcional, em que cada uma delas desempenha uma

atribuição definida com antecedência pela Constituição e pelas leis brasileiras.

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a autoridade pública promove uma aplicação distintiva

(arbitrária) dela.” 6

Neste artigo, pretendo pontuar brevemente como se opera este vilipêndio

constitucional na prática e apontar aquelas que, na minha ótica, são as suas principais

causas. Na sequencia, apresentarei algumas estratégias para solucionar o problema.

Como se verá, embora o conjunto destas propostas resolutivas tenha

como protagonistas os responsáveis pela elaboração, interpretação e aplicação das

regras que modulam o “sistema de justiça criminal” brasileiro, o foco central será a

atuação do Ministério Público como agente propulsor desta transformação.

2. A desigualdade do sistema de justiça criminal e algumas de suas

causas.

Cumpre desde logo reconhecer que há enorme identificação dos

postulados da doutrina desenhada pela criminologia na década de 70 do século XX,

denominada de “labeling approach”, à realidade brasileira7.

Muito resumidamente, o “labeling approach” constituiu uma radical

mudança do objeto de pesquisa da criminologia, partindo dos fatores da criminalidade

(etiologia) para a reação social.

Assim, a criminalidade não seria um dado ontológico, mas algo

construído pelo sistema de justiça criminal através de definições e da reação social. O

comportamento criminoso é assim definido por ser rotulado como tal e a estigmatização

social é diretamente responsável pela criação do status de criminoso, conforme explica

BARATTA8.

6 ZAFFARONI, Eugenio Raul; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro e SLOKAR, Alejandro. Direito

penal brasileiro – I. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p.46. 7 De acordo com CONDE e HASSEMER, a base para o desenvolvimento da teoria do “labeling

approach” se deu na criminologia norte-americana dos anos 60, com LEERT, ERICKSON, SHUR e

BERCHER e também com o trabalho de sociólogos e criminólogos europeus como TAYLOR, WALTON

e YOUNG, na Inglaterra; SACK, na Alemanha; BARATTA, na Itália; BERGALLI, na Espanha, op. cit.,

p.93. 8 BARATTA, Alessandro. Criminologia Critica e Critica do Direito Penal. 2 ed. Rio de Janeiro: Freitas

Bastos, 1999, p.85-92.

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No Brasil, a reação social identificada pela teoria se opera através de uma

tripla seletividade do sistema, resultando na desigualdade da aplicação do direito penal.

Esta seleção ocorre em relação aos autores de crimes, às vítimas e aos tipos penais, e

seu principal protagonista é a polícia (militar e civil), por que é ela que atua na “porta de

entrada” do sistema.

No entanto, há que se destacar que a seleção efetuada num primeiro

momento pela polícia é passivamente absorvida pelo Ministério Público e Poder

Judiciário9 que a reproduz, através de mecanismos próprios, acentuando ainda mais a

desigualdade da filtragem inicial. Esta seletividade sem controle leva à discriminação10

e tem como causas alguns fatores que se destacam.

O alicerce central desta nefasta desigualdade é a enorme disparidade

entre o projeto idealizado pelo Congresso Nacional e Presidente da República e a

capacidade do Estado em concretizar este vasto programa11

. Para alguns, como

ZAFFARONI, BATISTA, ALAGIA e SLOKAR, esta diferença é natural, própria do

sistema criminal, assim como a seleção que dela deriva.

“A criminalização primária é um programa tão imenso que

nunca e em nenhum país se pretendeu levá-la a cabo em toda a

9 Muito embora o Poder Judiciário receba do discurso dos juristas a função de redução do poder punitivo

do Estado, na prática, ele não apenas reproduz a seletividade realizada com antecedência pela polícia e

pelo Ministério Público, mas realiza internamente sua própria seleção, aumentando a desigualdade na

aplicação das leis penais. 10

A maneira como é elaborada a estatística criminal nacional de segurança pública no Brasil já revela,

por si só, este desequilíbrio e seletividade. Realizada desde o ano de 2005, com sua base de dados sendo o

número de ocorrências policiais registradas, não há informações referentes à renda per capta dos

noticiados como sendo autores de infrações penais, somente identificando-os por sexo, faixa etária e raça.

Não há, ainda, dados sobre eventual investigação que tenha sido instaurada com base no registro da

ocorrência, tampouco de seu resultado. No entanto, alguns dados chamam a atenção, como o número total

de registros de crimes contra a administração pública no país no ano de 2012, que é 1.479, contabilizando

0,3% do total e o de crimes praticados por particular contra a administração pública, 1.224, representando

0,2% do todo. Uma leitura destes números nos levaria a concluir que crimes de peculato, concussão,

corrupção ativa e passiva praticamente não acontecem no Brasil, o que parece efetivamente não

corresponder à realidade. Outros delitos de colarinho branco, como a lavagem de dinheiro, sequer são

relacionados estatisticamente. Estes dados se encontram no 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública,

divulgado em novembro de 2013 e confeccionado com base em informações do Sistema Nacional de

Estatística de Segurança Pública e Justiça Criminal – SINESPJC, a cargo do Instituto Brasileiro de

Geografia Estatística (IBGE). Metodologia, histórico e objetivo do SINESPJC podem ser encontrados

em: <http://ces.ibge.gov.br/base-de-dados/metadados/ministerio-da-justica-mj/sistema-nacional-de-

estatistica-de-seguranca-publica-e-justica-criminal-sinespjc> e os dados divulgados em novembro de

2013 estão em: <http://www.forumseguranca.org.br/produtos/anuario-brasileiro-de-seguranca-publica/7a-

edicao>. Ambos os acessos em 23 de julho de 2014. 11

Importante aqui a noção de criminalização primária como sendo o programa penal de determinado país

através de suas leis criminalizadoras de condutas enquanto que criminalização secundária é entendida

como a forma como o programa é levado a cabo pelas agências do Estado. (ZAFFARONI, BATISTA,

ALAGIA e SLOKAR, op. cit. p.43-53.

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sua extensão nem sequer em parcela considerável, porque é

inimaginável. A disparidade entre a quantidade de conflitos

criminalizados que realmente acontecem numa sociedade e

aquela parcela que chega ao conhecimento das agências do

sistema é tão grande e inevitável que seu escândalo não logra

ocultar-se na referência tecnicista a uma cifra oculta. As

agências de criminalização secundária têm limitada capacidade

operacional e seu crescimento sem controle desemboca em uma

utopia negativa. Por conseguinte, considera-se natural que o

sistema penal leve a cabo a seleção de criminalização secundária

apenas como realização de uma parte ínfima do programa

primário.” 12

Realmente, parece ser um fenômeno mundial a multiplicação da

legislação penal e mesmo condutas aparentemente normais, que outrora não

desencadeavam a atuação do direito penal, passaram a ser criminalizadas.

BUSATO identificou com precisão que:

“Pode-se partir de uma simples constatação empírica: estamos

vivendo um momento de orientação global ao recrudescimento

da repressão. (...). A quebra da bipolaridade do poder a nível

mundial, somada á globalização econômica, e por forca desta,

cultural, levou a humanidade a um discurso mais ou menos

hegemônico ditado a partir de uma fonte bem conhecida. Este

discurso é o discurso da insegurança social, do rompimento de

qualquer padrão em prol de uma pretensão de segurança que

nunca chega.” 13

12

Zaffaroni, op. cit., p.44. 13

CONDE, Francisco Munoz e BUSATO, Paulo César. Crítica ao direito penal do inimigo. Rio de

Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.158.

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O fenômeno é sentido, inclusive e, sobretudo, em países desenvolvidos,

como os Estados Unidos da América, onde tem sido apontado como uma das causas

para o “colapso” do sistema de justiça criminal americano14

.

Decorrência disso é a natural limitação da estrutura do Estado, em sua

concepção lato sensu, em lidar com este imenso universo de leis penais, o que resulta

em seleção que, por sua vez, não sofre adequado controle, acarretando em

discriminação.

Logo, até mesmo para justificar a sua existência, num primeiro momento,

a polícia escolhe, arbitrariamente, uma pequena parcela das leis penais do país para

concentrar a sua atuação e, posteriormente, esta seleção é acolhida e acentuada pelo

Ministério Público e pelo Poder Judiciário.

E é nos critérios - ou na ausência deles - que orientam esta seleção que

reside a principal causa do problema aqui tratado.

Como a polícia atua de maneira burocratizada15

, acaba substituindo seus

objetivos por reiterações rituais, geralmente fazendo o mais simples e o mais barato.

Não se trata aqui de atribuir uma conotação negativa a forma como

funcionam as nossas polícias, mas de uma constatação natural decorrente de uma das

principais características da burocracia WEBERIANA, o seu caráter de permanência e

repetição:

“O burocrata individual não pode esquivar-se ao aparato ao qual

está atrelado. Em contraste com o notável, que administra ou

governa honorificamente ou á margem, o burocrata profissional

esta preso a sua atividade por toda a sua existência material e

ideal. Na grande maioria dos casos, ele é apenas uma

engrenagem num mecanismo sempre em movimento, que lhe

determina um caminho fixo. O funcionário recebe tarefas

especializadas e normalmente o mecanismo não pode ser posto

14

Neste sentido, as obras de WILLIAM J. STUNTZ, The colapse of american criminal justice e

HARVEY A. SILVERGATE, Three felonies a day. 15

O principal instrumento de investigação da polícia brasileira é o Inquérito Policial, símbolo de poder

dos Delegados de Polícia que se recusam a buscar outras formas mais eficientes para investigar crimes.

Ritualizado, formalista, recheado de atos inúteis, enfim, um exemplo perfeito de atividade burocrática do

Estado.

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em movimento ou detido por ele, iniciativa esta que tem que

partir do alto. O burocrata individual esta, assim, ligado á

comunidade de todos os funcionários integrados no mecanismo.

Eles têm um interesse comum em fazer com que o mecanismo

continue suas funções e que a autoridade exercida socialmente

continue.”16

É próprio da burocracia, portanto, e dentre os órgãos do “sistema de

justiça criminal” brasileiro, Ministério Público e Poder Judiciário também são ainda de

características eminentemente burocráticas, a extrema conformidade às rotinas e aos

procedimentos, os quais garantem com que as pessoas façam repetidamente aquilo que

delas se espera, centradas nas regras e regulamentos ao invés de trabalhar em função de

objetivos e metas democraticamente estabelecidos.

Portanto, naturalmente, a ação da polícia recai sobre a denominada obra

tosca da criminalidade (ZAFFARONI), cuja detecção e investigação são mais fáceis.

Crimes de baixa complexidade, cometidos por pessoas situadas em

extratos sociais de limitado acesso positivo a educação e que, portanto, terão menos

condições de evitar sua reiteração e de praticá-los de maneira sofisticada, o que

dificultaria a sua percepção, são os clientes preferidos do sistema17

.

Consequentemente, são excluídos de seus tentáculos os crimes cuja

autoria, teoricamente, recairia sobre aqueles em posição social de maior destaque. Isso

ocorre não por que não cometam estes aquelas mesmas infrações penais, mas, sim, por

que suas condições pessoais os tornam capazes de evitar a sua reiteração ou de aplicar

sofisticação à execução do delito.

Igualmente, dadas circunstâncias sociais, econômicas e políticas, há uma

inclinação natural de pessoas ricas ou detentoras de alguma forma de parcela de Poder

do Estado à prática de crimes de difícil detecção e investigação, os chamados crimes de

colarinho branco18

, havendo, logo, baixa vulnerabilidade destas ao sistema19

.

16

WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1979,

p.265. 17

Zaffaroni, op cit., p.38-59. 18

Escolhi usar a expressão “crime de colarinho branco’” ´por que me parece a mais adequada à amplitude

da ideia passada pelo texto. A expressão, em inglês “white-collar crime”, foi cunhada por Edwin

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No entanto, há casos excepcionais nos quais pessoas que, a princípio, não

seriam selecionadas pelo sistema, acabam sendo por ele alcançadas.

Aqui, como visitantes indesejados, mesmo sem possuir os predicados

necessários para frequentar a “festa” das Delegacias de Polícia e Fóruns Criminais

brasileiros, a seleção ocorre por que o cidadão se colocou em posição de vulnerabilidade

originariamente não existente ou por que alguma atitude isolada de agentes do Estado

foi capaz de atuar sobre um chamado crime de colarinho branco.

E quando tal anomalia ocorre as desigualdades se acentuam, agora com a

contribuição do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Nestes casos, no âmbito da polícia há interferências externas diretas

(políticas e midiáticas) e dificuldades em investigar fatos mais complexos praticados

por autores não convencionais, seja por falta de treinamento ou por carência de

condições materiais.

Embora um pouco menos sujeitos a interferências externas diretas,

membros e servidores do Ministério Público e do Poder Judiciário também não se

encontram preparados para lidar com esta criminalidade não usual20

.

Além disso, a grande quantidade de trabalho e a rotina de lidar com casos

de menor complexidade acabam fazendo com que estes profissionais tentem evitar o

Sutherland em 1939, que definiu o termo como sendo um “crime cometido por uma pessoa de alta e

respeitável posição social praticado no exercício de seu trabalho”. No original, "a crime committed by a

person of respectability and high social status in the course of his occupation", em

<http://www.law.cornell.edu/wex/white-collar_crime>. Acesso em 23 de julho de 2014. Para saber mais,

especialmente sobre as estratégias de atuação do Federal Bureau of Investigation (FBI) no combate a esta

criminalidade nos Estados Unidos da América <http://www.fbi.gov/about-

us/investigate/white_collar/whitecollarcrime>. Ambos os acessos em 23 de julho de 2014. 19

O Brasil já possui a terceira maior população carcerária do mundo. Dados divulgados no dia 30 de

novembro de 2013 revelam que dos 548.168 presos brasileiros somente 2.703 (0,49%) se encontravam

detidos pela prática de crimes contra a administração pública, como peculato e corrupção. Por outro lado,

267.975 (49%) da população carcerária era formada por presos acusados de praticar crimes contra o

patrimônio, como o furto. Dados disponíveis em <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/por-quais-

crimes-as-pessoas-estao-presas-no-brasil/>. Acesso em 23 de julho de 2014. 20

Vários fatores parecem ser decisivos para isso, como a formação jurídica dos profissionais,

circunstâncias sociais (os acusados são da mesma posição social de seus acusadores e julgadores) e

psicológicas (empatia com o acusado). Outrossim, o Estado não é estruturado para lidar com esta

criminalidade. É fato a inexistência de órgãos especializados para o combate aos crimes de colarinho

branco (corrupção e lavagem de dinheiro, por exemplo) na estrutura da polícia, Ministério Público e

Poder Judiciário dos Estados brasileiros. No Estado do Paraná, em particular, não existem Varas

Criminais especializadas em processar crimes de colarinho branco. No Ministério Público há os Grupos

de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECOs) e na estrutura da Polícia Civil os

Núcleos de Repressão aos Crimes Econômicos (NURCEs).

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desconhecido, afastando-se de investigações e ações penais aparentemente mais difíceis,

em que a dedicação deverá ser maior e os critérios de análise distintos dos comumente

aplicados21

.

Ao atuarem desta maneira, condicionados, Promotores de Justiça e Juízes

de Direito agem como seres humanos que são, tendendo a fazê-lo automaticamente, de

forma acrítica, como aponta ALEXANDRE MORAIS ROSA:

“As descobertas da neurociência demonstram que a maneira

como aprendemos a pensar e a explicar o modo como decidimos

depende de um complexo sistema de variáveis. (...) e o cérebro,

assinala Daniel Kahneman, por seus sistemas — S1 (implícito,

rápido, direto, automático, emotivo e desprovido de esforço) e

S2 (explícito, consciente, demorado, racional, desgastante e

lógico) — busca reduzir a complexidade da decisão.

Basta lembrar da primeira vez em que dirigimos um carro. O

que era uma atividade do S2 nas primeiras vezes, com o tempo,

passa a ser uma atividade realizada pelo piloto automático. E

dirigimos sem pensar. Ainda que os sistemas (S1 e S2)

trabalhem em sequência, por sermos humanos, não se

problematiza muito, justamente porque a resposta pronta está

dada. Modificar exige tempo e esforço mental. No campo do

processo penal esse modo de pensar leva muitas vezes a erros

(vieses), dado que a reflexão não é acionada. Isso porque a

atenção é cara e escassa.”22

21

Como exemplo, é fácil constatar que os critérios de avaliação do conjunto de provas de casos penais da

criminalidade não convencional são geralmente os mesmos utilizados em casos mais simples, rotineiros, o

que pode ser interpretado como ofensa ao principio da isonomia material. Parece ser razoável afirmar que

Promotores de Justiça e Juízes de Direito não deveriam buscar encontrar os mesmos meios de prova que

comumente estão disponíveis em casos de baixa complexidade, como a confissão, por exemplo, nos

chamados crimes de colarinho branco, em que são mais raras tais hipóteses. 22

ROSA, Alexandre Morais. Duração razoável do processo sem contrapartida é como promessa de

amor. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2014-jul-18/limite-penal-duracao-razoavel-

contrapartida-igual-prometer-amor>. Acesso em 18 de julho de 2014.

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Outro fator que contribui para esta desigualdade é que a legislação

brasileira não prevê instrumentos necessários para lidar com esta criminalidade,

tampouco regras processuais condizentes com as suas particularidades23

.

O processo penal brasileiro é voltado àquela criminalidade habitual ao

sistema. Podem ser mencionadas aqui as tantas formas de revisão das decisões judiciais

que na prática acaba beneficiando somente uma minoria de acusados com condições

econômicas para pagar um bom e influente advogado.

Enfim, mesmo quando o primeiro filtro do sistema de justiça criminal

deixa escapar alguém que a princípio não se encontrava em situação de vulnerabilidade,

o sistema apresenta uma série de outros filtros, que se multiplicam ao longo do

caminho, sendo raras as sentenças condenatórias com imposição de pena de prisão para

estas pessoas.

Este panorama foi identificado com precisão por BUSATO e

HUAPAYA:

“Na América Latina, são mais que evidentes os obstáculos que

se apresentam para levar a cabo a criminalização secundária

para a delinquência do colarinho-branco. Os índices não são

mais do que vergonhosos. As razões são muitas: o poder

econômico e político de seus autores e também o seu prestígio.

Muitos destes processos de criminalização terminam tão-

somente em uma triste folha de expediente perdida em uma

gaveta de alguma Delegacia de polícia, ou nem mesmo isso.

O Direito Penal, por isso, sempre deve permanecer em constante

crítica. Dentro de um Estado Social e Democrático de Direito é

necessário, para afirmar a legitimidade do próprio Estado, que

23

Exemplo disso é que somente através da Lei nº 12.850/2013 se definiu Organização Criminosa na

legislação brasileira e, ainda timidamente, foram aperfeiçoados alguns instrumentos processuais próprios

ao combate desta espécie de criminalidade como a colaboração premiada, a ação controlada e a infiltração

de agentes.

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estes obstáculos que impedem a criminalização secundária de

altos setores da população se extingam.”24

Trata-se, evidentemente, de um lento e gradual processo a superação

destes obstáculos, porém, é preciso “dar o primeiro passo”, e este pode e deve ser de

iniciativa do Ministério Público brasileiro.

3. Formas de redução das desigualdades através do incremento da

vulnerabilidade daqueles excluídos do atual sistema de justiça

criminal.

Embora um efetivo reequilíbrio da balança necessariamente passe pela

forma de atuar de todos aqueles que integram o “sistema de justiça criminal”, os parcos

apontamentos que se pretende colocar referem-se a algumas necessárias modificações

legislativas e às possíveis intervenções do Ministério Público brasileiro, como órgão

independente dos demais Poderes da República Federativa do Brasil, incumbido pela

Constituição de promover “(...) a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e

dos interesses sociais e individuais indisponíveis”25

e na posição de exclusivo titular da

ação penal pública (artigo 129, I, da CF).

Ou seja, o foco da criminalização secundária deve passar a ser a

criminalidade não usual e para tanto ao Ministério Público foi destinado instrumental

capaz de realizar esta mudança de rota já pelo Constituinte Originário.

O que se pretende não é uma “caça às bruxas”, mas cumprir, através da

aplicação do Direito Penal, os objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil, expressados no artigo 3º, da Constituição Federal, tão somente.

Neste sentido, novamente BUSTATO e HUAPAYA:

“Deve-se ter em conta, entretanto, que isto não significa, de qualquer

modo, uma pretensão de “vingança proletária” à custa de una ampliação

do Direito Penal, mas sim uma “correção de rumos” em direção a um

24

BUSATO, Paulo César e HUAPAYA, Sandro Montes. Introdução ao Direito Penal: fundamentos para

um sistema penal democrático. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p.88. 25

Artigo 127, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil.

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13

Direito Penal mais adequado às propostas humanitárias e aos princípios

do Estado Social e Democrático de Direito.”26

3.1. Necessidade de readequações legislativas.

Em primeiro lugar, é preciso que seja respeitado o princípio penal da

intervenção mínima. O direito penal deve ter reduzido o seu âmbito de incidência

àquelas situações de extrema necessidade, limitado sempre pela sua própria finalidade

de proteção dos bens jurídicos.

Somente assim poderá ser encurtada a distância entre o programa penal

do Estado e a capacidade de torná-lo efetivo. É certo que quanto menor for esta

disparidade maior será a capacidade de dar concretude à lei penal, reduzindo o campo

de discricionariedade daqueles responsáveis pela sua execução e, consequentemente, de

discriminação.

Também de lege ferenda se encontra a possibilidade de ampliar as

hipóteses legais de acordo entre as partes nos crimes de ação penal pública, como o

Projeto de Lei nº 8045/2010 (atualmente em trâmite na Câmara dos Deputados), que

institui o novo Código de Processo Penal e prevê regras que possibilitam acordos entre

Ministério Público e acusado para verdadeira imposição antecipada de pena, mediante

atendimento de determinados requisitos legais.

De fato, desde que estabelecidos previamente os limites legais (legal

standards) e respeitada a possibilidade de controle posterior por parte do Poder

Judiciário, trata-se de um campo em que o Ministério Público e o Poder Judiciário

podem: I) filtrar a seletividade discriminatória efetuada pela polícia de maneira

arbitrária na fase de investigação; b) desafogar as Promotorias de Justiça e Varas

Criminais para que ambas as instituições possam planejar sua atuação criminal com

base em um novo paradigma, voltado à criminalidade do colarinho branco.

Além de se tratar de uma necessidade do sistema de justiça criminal

brasileiro, teoricamente, a ampliação dos acordos penais já encontra sustentação na

corrente doutrinária flexibilizadora do princípio da obrigatoriedade da ação penal

pública e a garantia contra eventuais abusos repousam na teoria constitucional dos freios

26

Op. cit. p.89.

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14

e contra pesos (checks and balances) e na inafastabilidade do controle ulterior por parte

do Poder Judiciário27

.

Por fim, ainda no campo das possíveis mudanças legislativas, é

imprescindível que o processo penal brasileiro se modernize e se adeque às novas

espécies de criminalidade, talvez buscando inspiração em modelos estrangeiros que

tenham apresentado algum êxito neste sentido e possam ser adaptados à nossa

realidade28

.

3.2. Sugestões de intervenção do Ministério Público como

protagonista da busca por um novo paradigma para o sistema de

justiça criminal no Brasil.

No entanto, as alterações legislativas sugeridas não são novidade. Aliás,

apesar de possíveis, realisticamente falando, são elas pouco prováveis. Tanto já se falou

de suas necessidades que qualquer mudança dentre as apontadas acima, em curto ou

médio prazo, seria uma enorme e agradável surpresa.

Como são o Congresso Nacional e a Presidência da República os

detentores do “poder político constitucional” para a promoção dessas modificações,

cabe ao Ministério Público, na condição de titular exclusivo da ação penal pública e

como sendo o órgão a quem a Constituição confiou a missão de zelar pela paz social,

interesses sociais - como a segurança pública - e eficiência das ações policiais, elaborar

e colocar em prática o que se pode chamar de projeto de redução da desigualdade na

aplicação do direito penal no Brasil.

27

Embora o tema seja de grande densidade para ser tratado aqui, pode-se afirmar que seriam assim

evitados os principais problemas que hoje se apresentam, por exemplo, no sistema de justiça criminal dos

Estados Unidos da América, aonde a prosecutorial discretion é alvo de devastadoras críticas pelos

doutrinadores, diante os poderes conferidos aos prosecutors para arbitrariamente decidir quais casos

processar, como processá-los e numa ampla liberdade para celebração de acordos com imposições

antecipadas de penas privativas de liberdade (plea bargaining), sem nenhuma possibilidade de controle

pelo Poder Judiciário. 28

Neste sentido, é urgente a necessidade de repensar o Inquérito Policial como instrumento eficaz à

investigação criminal e valorizar as decisões dos juízes de primeiro grau, limitando a possibilidade de

recursos às instâncias superiores, dentre outras medidas que fogem do escopo deste trabalho.

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Minha sugestão é que este plano seja centrado em dois eixos que se

complementam, na busca pela mudança do enfoque de atuação das agências de

criminalização secundária: um controle externo material da atividade policial e a

investigação direta de infrações penais pelo Ministério Público.

3.2.1. Controle externo material da atividade policial.

A Constituição do Brasil estabelece como uma das funções institucionais

do Ministério Público o exercício do “controle externo da atividade policial, na forma

de lei complementar”.

Referida Lei Complementar é a Lei nº 75/93, a qual, de maneira bastante

aberta, estabelece os princípios que devem orientar o exercício desta atividade, dentre

eles devendo aqui ser apontado o de buscar respeitar os direitos assegurados na

Constituição Federal e na lei (artigo 3º, “a”).

No entanto, em seu Capítulo II, ao elencar as medidas judiciais e

extrajudiciais referentes ao controle externo da atividade policial a lei parece de uma

obviedade gritante, dando a clara impressão de se tratarem de repetições de outras

atribuições já conferidas por lei ao Ministério Público, em sua essência29

.

Como o legislador complementar deixou a desejar ao apresentar

genéricas e já conhecidas ações de controle externo da atividade policial, cabe ao

Ministério Público nortear a sua atuação nesta atividade interpretando a própria

Constituição Federal de 1988.

O Ministério Público brasileiro deve, assim, neste particular, exercer o

controle externo da atividade policial procurando corrigir as distorções ao princípio

constitucional da igualdade (artigos 5º e 6º da CF), assegurando o direito social à efetiva

segurança pública (artigo 6º da CF) de todo o cidadão e buscando legitimar a sua

condição institucional de titular exclusivo da ação penal pública (artigo 129, I da CF).

29

SALGADO, Daniel de Resende. “O controle externo, a seletividade e a ineficiência da investigação

criminal” em CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO.

Coordenadores: Daniel, Dentan e Monique Cheker, Editora Jurispodvm, Salvador, 2013, p.166.

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Como premissa básica é preciso reconhecer a necessidade de seleção na

atividade policial de prevenção e investigação30

. Enquanto houver um número de leis

penais que torne impossível uma atuação policial capaz de aplicá-las uniformemente é

imprescindível selecionar e superar, assim, o mito do princípio da obrigatoriedade da

investigação e da ação penal pública31

.

Num segundo momento, é imprescindível que o Ministério Público se

torne parte ativa desta seleção. Ou seja, possa ser efetivamente capaz de influenciar e,

em conjunto com as polícias, fazer escolhas32

e definir pautas de atuação de acordo com

uma política de segurança pública com metas e objetivos democraticamente

estabelecidos.

A atual passividade com que age o Ministério Público torna-o

corresponsável pelas inúmeras distorções que se operam na realidade do “sistema de

justiça criminal”. É preciso estabelecer uma postura proativa, superando preconceitos e

reconhecendo a necessidade de se fazer um verdadeiro planejamento interinstitucional

entre as polícias e o parquet.

Não se propõe aqui uma relação verticalizada entre as polícias e o

Ministério Público, mas de interação horizontal, através da qual se permita o

desnudamento e o debate dos critérios que são hoje usados para a seletividade da

atuação policial.

Aliás, a interpretação literal da palavra controle parece ter feito com que

o Ministério Público se sinta apenas um fiscal da polícia, numa relação quase que

hierarquizada. Não quero dizer que a fiscalização da atividade policial seja prescindível.

Longe disso, faz ela parte importante dos deveres institucionais do parquet,

especialmente quando a atuação policial é ilegal.

30

DALLAGNOL, Deltan Martinazzo compartilha deste pensamento em seu artigo “Controle externo da

atividade policial: panorama, problemas e perspectivas”. Disponível em:

<http://2ccr.pgr.mpf.mp.br/documentos-e

publicacoes/artigos/artigo_problemas_perspectivas_controle_externo_atividade_policial.pdf>. Acesso em

23 de julho de 2014. 31

São várias as referências sobre esta nova perspectiva de roupagem ao princípio da obrigatoriedade da

ação penal pública, merecendo ser citada a tese de mestrado do Procurador da República LUIS

WANDERLEI GAZOTO, O Princípio da Não-Obrigatoriedade da Ação Penal Pública. Disponível em:

<https://sites.google.com/site/luiswanderleygazoto/meus-textos/o-princpio-da-no-obrigatoriedade-da-ao-

penal>. Acesso em 23 de julho de 2014. 32

Poderiam ser fixados critérios objetivos para tais escolhas, com base em dados estatísticos, sempre

visando reduzir ao máximo a discricionariedade arbitrária que hoje impera.

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No entanto, não se pode olvidar que a polícia é uma instituição vinculada

e subordinada ao Poder Executivo, não sujeita, portanto, hierarquicamente ao Ministério

Público. De outro lado, este é o titular exclusivo da ação penal pública, destinatário

único das investigações policiais.

Estas posições e atribuições constitucionais forçam o intérprete a,

interpretando a Constituição de maneira textual (não confundir com literal),

contextualizar a palavra controle para emprestá-la um sentido de atuação conjunta entre

polícia e Ministério Público, em cooperação, unidade, obrigando este a se aproximar

irremediavelmente das polícias para fielmente desempenhar o seu papel.

Antes disso, contudo, parece imprescindível que cada Ministério Público

deva estabelecer uma verdadeira política institucional de atuação no controle externo

material da atividade policial, superando o voluntarismo de alguns poucos que têm se

dedicado a enfrentar o tema de maneira isolada33

.

Como resultado, se espera que o Ministério Público deixe de se

apresentar como mero ratificador ou expectador passivo do trabalho policial ou, nas

palavras de RENÉ ARIEL DOTTI, um mero “repassador da prova colhida34

”.

Além disso, a formação de uma pauta de atuação comum e a inserção do

Ministério Público no âmago do trabalho investigativo pode ser uma solução para

reduzir as diligências inúteis e definir estratégias iniciais de preservação formal e

material das provas produzidas na investigação em eventual futura ação penal35

.

O Ministério Público precisa definitivamente tornar efetiva a sua

condição de titular exclusivo da ação penal pública, garantida pelo artigo 129, I, da

33

Como algumas iniciativas neste sentido, ainda que com o foco no aspecto formal do controle, pode-se

mencionar a Resolução nº 20, do Conselho Nacional do Ministério Público, que busca disciplinar e

definir formas de atuação no controle externo da atividade policial e o Manual Nacional do Controle

Externo da Atividade Policial, elaborado pelo Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais dos

Ministérios Públicos dos Estados e da União, disponível em:

<https://www.mprr.mp.br/app/webroot/uploads/Manual_do_Controle_Externo.pdf>. Acesso em 23 de

julho de 2014. 34

DOTTI, René Ariel. O Ministério Público e a Polícia Judiciária: relações formais e desencontros

materiais. In: MORAES, Voltaire de L. (Org.). Ministério Público, Direito e Sociedade. Porto Alegre:

Sergio Antonio Fabris, 1996. 35

Acerca deste particular aspecto no que tange à intervenção efetiva do Ministério Público coleta da

prova na fase investigatória vide SALGADO, Daniel de Resende. “O controle externo, a seletividade e a

ineficiência da investigação criminal” em CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO

MINISTÉRIO PÚBLICO. Coordenadores: Daniel, Dental e Monique Cheker, Editora Jurispodvm,

Salvador, 2013.

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Constituição Federal. Ao titular da ação penal caberia, em tese, decidir com

exclusividade os casos penais a serem apreciados pelo Poder Judiciário.

Esta parcela de poder do Estado foi atribuída pela Carta Magna tão e

somente ao Ministério Público, porém, não passa hoje de um discurso retórico e distante

da realidade.

É imprescindível reconhecer que quem decide hoje, de fato, quais casos

penais serão submetidos ao Poder Judiciário é a polícia e dela, por sua omissão, fez-se

refém o parquet!

Eis, portanto, talvez um dos caminhos para se fiscalizar os critérios

arbitrários de seletividade que causam distorções graves no nascedouro do “sistema de

justiça criminal”, ao mesmo tempo em que se pode pensar numa investigação criminal

eficiente e produtiva, com a colheita somente de provas necessárias e voltadas desde

logo à segunda fase da persecução penal.

3.2.2. Investigações diretas de infrações penais pelo Ministério

Público.

A execução de uma política institucional de controle externo material da

atividade policial, que contemple atuação no viés acima indicado, certamente não é a

única forma através da qual pode o Ministério Público servir de agente transformador da

realidade do sistema de justiça criminal brasileiro.

As policiais são órgãos do Poder Executivo e, portanto, sujeitas a uma

série de circunstâncias que limitam por natureza a sua capacidade de ação. Estas

limitações devem ser reconhecidas como próprias da posição na qual o Constituinte

Originário situou as polícias brasileiras.

Portanto, além de atuar em parceria com os órgãos de segurança na

seleção de prioridades que podem ser denominadas de “comuns”, o Ministério Público

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deve, internamente, fixar as suas próprias diretrizes para o exercício da atividade de

investigação direta de uma parcela de infrações penais, em casos “excepcionais”36

.

O critério a pautar esta seleção interna não pode ser outro que não seja o

de identificar aquela criminalidade cuja tendência é de ainda resistir a uma ação

integrada entre o Ministério Público e as polícias, dadas as peculiaridades próprias do

espaço em que estas se situam na estrutura do Estado brasileiro, já referido.

Além disso, esta seleção deve também ser realizada de acordo com metas

e objetivos de uma política estadual de segurança pública previamente discutida

democraticamente.

Outro ponto de fundamental importância neste tema é que a atividade de

investigação direta pelo Ministério Público acarreta naturalmente em algum desgaste

pessoal - dos agentes ministeriais responsáveis pela sua execução - e institucional.

Este impacto negativo deve ser administrado pela instituição de modo a

conferir um equilíbrio entre a necessidade de estreitamento e fortalecimento das

relações com as polícias (no campo do controle externo, sobretudo material) sem que

isso importe em obstaculizar um combativo trabalho de investigação direta do parquet,

que invariavelmente tem por objeto infrações penais praticadas pelos próprios agentes

policiais.

Duas formas de facilitar o balanceamento deste delicado cenário são: a) a

já referida seleção, com base em critérios previamente discutidos, da seara em que se

dará a apuração direta de infrações penais pelo Ministério Público; b) a cisão de

atribuições entre as atividades de execução do controle externo da atividade policial e

da investigação37

.

36

A investigação direta pelo Ministério Público não deveria, teoricamente, abarcar todos aqueles

chamados crimes de colarinho-branco, podendo o seu objeto ficar restrito a uma criminalidade organizada

que logrou êxito em se expandir para dentro da própria estrutura do Estado, por exemplo. Nestes casos,

parece-me que as polícias, na sua atual conformação constitucional, mostrar-se-iam incapazes de agir

eficientemente na atividade investigatória, mesmo se “amparadas” pelo parquet através de uma execução

da atividade do controle externo material, já colocada. Não obstante, no estado atual de coisas, a

investigação direta pelo Ministério Público é definida de maneira muito mais ampla, haja vista a completa

inoperância do “Estado policial”. Um bom exemplo desta amplitude é a Resolução nº 1.801/2007, que

regulamente os Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), no Ministério

do Estado do estado do Paraná. e define seu vasto campo de atuação no artigo 5º. 37

Embora situadas as atribuições em órgãos distintos, a proximidade e a troca de informações entre eles é

de fundamental importância, inclusive podendo haver, por exemplo, um mesmo setor de operações e/ou

de serviço de inteligência.

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Não obstante, é altamente recomendável que cada Ministério Público

reflita e discuta suas próprias peculiaridades, estruturando-se de acordo com as

demandas locais, sendo as ideias acima apenas propositivas diante de um quadro

hipotético que considero ideal38

.

Definidas as estratégias de cada Ministério Público é preciso concentrar

investimentos para treinamento de membros e servidores, bem como, aquisição de

equipamentos de vanguarda que permitam à instituição atuar com eficiência frente à

criminalidade que tem o dever de atingir: a do colarinho branco, detentora do poder

econômico e político.

4. Conclusão.

Mostra-se imprescindível que se inicie um processo de transformação de

atuação das agências de criminalização secundária no Brasil, sendo que o Ministério

Público possui todas as condições para assumir tal papel e resgatar de fato o seu

protagonismo na interpretação e aplicação do Direito Penal e do Processo Penal.

Já é tardio o início deste Movimento de superação dos entraves à atuação

do Estado sobre a criminalidade de colarinho-branco, não havendo qualquer expectativa

de que as mudanças se operem de forma repentina, até por que dependem também, e

principalmente, de uma verdadeira transformação da cultura de atuação profissional de

advogados, promotores, juízes e policiais.

É a posição compartilhada por ZUGALDIA ESPINAR:

“(...) a legitimidade do Direito Penal de um Estado Social e Democrático

de Direito passa por remover os obstáculos que impedem a

criminalização secundária dos setores sociais altos e por tomar

consciência da ´armadilha` que pode supor a carência por parte do Estado

de um interesse sério em prevenir a delinquência marginal para poder

seguir utilizando o despossuído criminalizado como ´bode expoatório`

(as prisões, queiramos ou não, estão cheias, ainda que sempre com os

mesmos), isto é, como expressão simbólica do bom funcionamento de

38

No Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e no Ministério Público do Rio Grande do Sul

as atribuições de controle externo da atividade policial e dos GAECOs são situadas em órgãos distintos,

enquanto que no Estado do Paraná há uma recente tendência de seguir estes modelos de separação, já que,

nos termos da Resolução n. 1.801/2007, as atribuições de controle externo competem também aos

GAECOs.

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um sistema que lava as mãos criminalizando (ainda que só em nível

primário) a delinquência dos setores sociais mais favorecidos.”39

Finalizo com as palavras magistralmente ditas por CONDE e

HASSEMER, tão pertinentes e, acima de tudo, tão reais:

“É evidente que existem determinadas anomalias psíquicas, genéticas etc.

que levam à predisposição de determinados delitos. Também é certo que

alguns defeitos na socialização favorecem certas formas de

criminalidade. Mas isso não justifica que a imagem da criminalidade, que

aparece quase sempre nos livros e obras gerais, Tratados e Manuais de

Criminologia, seja aquela levada a cabo por sujeitos patológicos e

marginalizados sociais. Nos Manuais de Criminologia, muito se fala de

psicopatas, de assassinos em série, estupradores de crianças; de brigas de

jovens que alteram a ordem pública nos estádios de futebol, que cometem

atos de vandalismo, que consomem ou traficam drogas, ou roubam em

supermercados; mas pouco, para não dizer nada, se fala da criminalidade

dos poderosos; da personalidade egoísta, da insensibilidade social e

desumana do empresário ou dos membros do Conselho de

Administração, que decidem não pagar o salário digno ou não fazer

determinadas inversões sociais em beneficio dos trabalhadores, que

cometem fraudes fiscais, que provocam a insolvência fraudulenta da

empresa, deixando na rua milhares de trabalhadores, que não adotam

medidas que evitem a poluição do meio ambiente ou a fabricação de

produtos defeituosos; como tampouco se fala do banqueiro frio,

calculista e ambicioso que administra especulativamente as economias

alheias, que cria sociedades de fachada em paraísos fiscais, que se presta

a interesses muito mais elevados, lavagem de dinheiro procedente de

atividades ilegais; ou de políticos corruptos, dos intermediários entre

estes e os empresários ambiciosos que esperam conseguir subvenções ou

concessões de obras públicas; do financiamento ilegal de partidos

políticos; dos grandes lideres da máfia e do narcotráfico, de seus

assessores jurídicos. Será que isso não é criminalidade? Será que uma

39

In BUSATO e HUAPAYA, op. cit. p.88-89.

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fraude financeira de grande volume não produz maior dano social que

todos os furtos e roubos cometidos em uma década em um país? Talvez

possa parecer exagerado ou demagógico, mas aos olhos do tipo de

criminalidade julgada diariamente pelos Tribunais, e da criminalidade

que também é raramente objeto de sanção penal, muitas vezes vem à

mente a oportuna e irônica frase de Bertold Brecht: “O que é mais grave,

assaltar um banco ou fundar um?.”40

5. Referências bibliográficas.

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BUSATO, Paulo César. Direito Penal e Ação Significativa. Rio de Janeiro: Lumen

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ROSA, Alexandre Morais. Duração razoável do processo sem contrapartida é como

promessa de amor. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2014-jul-18/limite-

40

Op. cit. p.123-124.

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