107
FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS REGULAMENTAÇÕES EXISTENTES PARA EMPRESAS, BANCOS E SEGURADORAS, COM ÊNFASE NA LEI SARBANES-OXLEY. CAROLINA CARVALHO ZACHARIAS ORIENTADOR: PROF. DR. ANTÔNIO MARCOS DUARTE JR. Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2006.

UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO

UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS

REGULAMENTAÇÕES EXISTENTES PARA

EMPRESAS, BANCOS E SEGURADORAS, COM

ÊNFASE NA LEI SARBANES-OXLEY.

CCAARROOLLIINNAA CCAARRVVAALLHHOO ZZAACCHHAARRIIAASS

ORIENTADOR: PROF. DR. ANTÔNIO MARCOS DUARTE JR.

Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2006.

Page 2: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS REGULAMENTAÇÕES EXISTENTES

PARA EMPRESAS, BANCOS E SEGURADORAS, COM ÊNFASE NA LEI

SARBANES-OXLEY.

CCAARROOLLIINNAA CCAARRVVAALLHHOO ZZAACCHHAARRIIAASS

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral

ORIENTADOR: PROF. DR. ANTÔNIO MARCOS DUARTE JR.

Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2006.

Page 3: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS REGULAMENTAÇÕES EXISTENTES

PARA EMPRESAS, BANCOS E SEGURADORAS, COM ÊNFASE NA LEI

SARBANES-OXLEY.

CCAARROOLLIINNAA CCAARRVVAALLHHOO ZZAACCHHAARRIIAASS

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

PROF. DR. ANTÔNIO MARCOS DUARTE JR. (Orientador) Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________

PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA DA SILVA Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________

PROF. DR. CARLOS PATRÍCIO SAMANEZ Instituição: DEI / PUC-RJ

Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2006.

Page 4: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

332 Z16

Zacharias, Carolina Carvalho. Uma análise comparativa das regulamentações existentes para empresas, bancos e seguradoras, com ênfase na lei Sarbanes-Oxley / Carolina Carvalho Zacharias. - Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec. 2006. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Administração Geral. 1. Finanças. 2. Gestão de risco. 3. Relação com investidor. 4. Regulamentação.

Page 5: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

5

“Três âncoras deixou Deus ao Homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade.

Cara nos é a pátria, a liberdade mais cara; mas a verdade mais cara que tudo.

Damos a vida pela pátria. Deixamos a pátria pela liberdade. Mas pátria e liberdade renunciamos pela verdade.

Porque este é o mais santo de todos os amores.

Os outros são da terra e do tempo. A verdade vem do céu, e vai à eternidade.”

Rui Barbosa

Page 6: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

6

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Antonio Marcos Duarte Jr., meu

orientador, pelas diretrizes e orientações que

permitiram a realização deste trabalho de

suma importância para o meu crescimento

profissional.

Aos professores das Faculdades IBMEC pelas

contribuições durante o curso.

Aos meus pais que sempre estão do meu lado,

amigos e familiares que me ajudam direta e

indiretamente sempre.

Page 7: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

7

RESUMO

Diante da abrangência de aplicação da Lei Sarbanes-Oxley, a qual tem sua implantação

exigida para todas as empresas que negociam ações na bolsa de valores norte-americana, e

principalmente diante do impacto desta no mercado de capitais mundial, bem como no

ambiente empresarial como um todo, este trabalho procura fazer uma análise comparativa

entre esta e outras regulamentações existentes no mercado de empresas, bancos e

seguradoras. Ao longo da dissertação é realizada uma análise dos pontos da lei, tais como:

controles internos, transparência, comitê de auditoria e responsabilização, de forma a

conhecer as exigências não apenas em termos da lei Sarbanes-Oxley, mas também no

ambiente regulamentar das instituições financeiras, através do Novo Acordo de Capitais da

Basiléia e outras exigências regulamentares aplicáveis, bem como para o mercado de

seguradoras. Este trabalho constata que muitas determinações previstas na Lei Sarbanes-

Oxley já são exigidas no mercado de bancos e seguradoras. O trabalho propõe uma

aproximação entre as exigências regulamentares para empresas, bancos e seguradoras de

forma a simplificar o ambiente regulador e ser mais eficiente, com objetivo de contribuir

para a discussão e aperfeiçoamento dos normativos sobre o assunto. Para tanto foi utilizado

um embasamento teórico das regulamentações existentes no mercado que contemplam as

questões relacionadas a controles internos, transparência, comitê de auditoria e

responsabilização e a percepção é que as exigências já estão muito próximas.

Palavras Chaves: Lei Sarbanes-Oxley, Controles Internos, Transparência, Comitê de

Auditoria e Responsabilização.

Page 8: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

8

ABSTRACT

Facing the largest application of the Sarbanes-Oxley law, which has its

implantation as an obligation to all the companies that work in the American

stroke market, and mainly with its impact on the world stroke market, as

well as in the business field, this work tries to do a comparative analysis

between this and the other regulations that exists in companies in

general, banks and insurances. During the work an analysis of the law is done in some

aspects: internal controls, transparency, audit committee and corporative

responsibility. On that aspect we could know not only the exigencies of Sarbanes-

Oxley law, but also in the regulations of the financial institutions, through the New Basel

Capital Accord and others regulations, as well to the insurances market. This work

conclusion is that much of the exigencies of Sarbanes-Oxley already exist to banks and

insurances. The work propose a closer exigencies among the regulations for companies,

banks and insurances, so that we would simplify the regulating laws and it would be more

efficient, with the purpose of contributing to the discussion and

perfection of the rules about the subject. So, for that, theoretical bases were used about the

regulations existent in the market which have questions related to the internal controls,

transparency, audit committee, and corporative responsibility and the perception is that the

exigencies are already very close.

Key words: Sarbanes-Oxley law, internal controls, transparency, audit committee and

corporative responsibility.

Page 9: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Processo de certificação da seção 404

Figura 2: Diferença entre estruturas Brasil x EUA

Figura 3: Foco do Comitê de Auditoria

Page 10: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Auditorias externas e seus problemas

Tabela 2: Resumo da Lei Sarbanes-Oxley

Tabela 3: Resumo sobre Controles Internos

Tabela 4: Resumo sobre Transparência

Tabela 5: Resumo sobre Comitê de Auditoria

Page 11: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

11

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Bacen: Banco Central do Brasil

BCBS – Basel Committe on Banking Supervision (Comitê de Supervisão Bancária da

Basiléia)

BIS: Bank for International Settlements (Banco de Compensações Internacionais)

Bovespa: Bolsa de Valores de São Paulo

CEO: Cheef Executive Officer

CFO: Cheef Financial Officer

CNSP: Conselho Nacional de Seguros Privados

COSO: Commitee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission

CVM: Comissão de Valores Mobiliários

EUA: Estados Unidos da América

G-10: Países do grupo dos 10

IBGC: Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

NACB: Novo Acordo de Capitais da Basiléia

PCAOB – Public Company Accounting Oversight Board

PLA: Patrimônio Líquido Ajustado

PR: Patrimônio de Referência

SEC: Security and Exchange Commission

SOX: Lei Sarbanes-Oxley

SUSEP: Superintendência de Seguros privados

Page 12: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

12

Sumário:

1. Introdução ............................................................................................................... 11

1.1. Motivações para a Lei. ..................................................................................... 14

1.1.1. O caso Enron ......................................................................................... 14

1.1.2. O caso WorldCom ................................................................................ 16

1.1.3. O caso Arthur Andersen ....................................................................... 17

1.2. Objetivo ........................................................................................................... 20

1.2.1. Objetivo Geral ...................................................................................... 20

1.2.2. Objetivos Específicos ........................................................................... 20

1.3. Relevância ou Justificativa .............................................................................. 21

1.4. Estrutura da Dissertação .................................................................................. 24

1.5. Órgãos Regulamentares ................................................................................... 26

1.5.1. SEC (Security and Exchange Commision) .….......…............................ 26

1.5.2. Banco Central do Brasil ..........................................................................27

1.5.3. SUSEP (Superintendência de Seguro Privado) ...................................... 28

1.5.4. CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ............................................. 29

2. Lei Sarbanes-Oxley ................................................................................................. 31

2.1. Um sumário da Lei ........................................................................................... 32

3. Controle Interno ....................................................................................................... 38

3.1. Controle Interno na Lei Sarbanes-Oxley .......................................................... 38

3.1.1. Efetividade dos controles internos sobre os relatórios financeiros ....... 40

3.2. Controles Internos nas instituições financeiras ................................................ 42

3.2.1. O Novo Acordo de Capitais da Basiléia ................................................ 42

3.2.1.1.O primeiro pilar ............................................................................... 43

3.2.1.2.O segundo pilar ............................................................................... 43

Page 13: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

13

3.2.1.3.O terceiro pilar ................................................................................. 44

3.2.2. Banco Central do Brasil: Comunicado 12.746 ...................................... 45

3.2.3. Banco Central do Brasil: Resolução 2.554 ............................................ 48

3.3. Controles internos para seguradoras ................................................................. 49

3.4. Comentários finais sobre controles internos ..................................................... 50

4. Transparência .......................................................................................................... 54

4.1. Transparência na Lei Sarbanes-Oxley .............................................................. 55

4.1.1. Responsabilidade corporativa pelos relatórios financeiros .................. 56

4.1.2. Divulgação da efetividade dos controles internos ................................ 57

4.2. Transparência nas instituições financeiras ...................................................... 58

4.2.1. O Novo Acordo de Capitais da Basiléia ............................................... 58

4.2.2. Banco Central do Brasil: Comunicado 12.746 ..................................... 60

4.2.3. Banco Central do Brasil: Resolução 2.554 ........................................... 61

4.3. Transparência para seguradoras ........................................................................62

4.4. Transparência na BOVESPA (Bolsa de Valores de São Paulo) ...................... 64

4.5. Comentários finais sobre transparência ........................................................... 65

5. Comitê de Auditoria .................................................................................................68

5.1. Comitê de auditoria na Lei Sarbanes-Oxley .....................................................69

5.1.1. Auditoria Externa .................................................................................. 72

5.1.2. Prestação de serviço de não auditoria e pré-aprovação ......................... 72

5.1.3. Independência do Comitê ...................................................................... 73

5.1.4. Especialista Financeiro .......................................................................... 74

5.1.5. Reclamações e denúncias ...................................................................... 74

5.2. Comitê de auditoria nas instituições financeiras .............................................. 75

5.2.1. Constituição do Comitê ......................................................................... 75

Page 14: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

14

5.2.2. Auditoria externa e interna .................................................................... 76

5.2.3. Comunicação ......................................................................................... 77

5.3. Comitê de auditoria para seguradoras .............................................................. 78

5.3.1. Constituição do Comitê ......................................................................... 78

5.3.2. Atribuições do Comitê .......................................................................... 79

5.3.3. Auditoria externa .................................................................................. 80

5.3.4. Comunicação ........................................................................................ 80

5.4. Comentários finais sobre comitê de auditoria ................................................. 81

6. Responsabilização ................................................................................................... 87

6.1. Responsabilização na Lei Sarbanes-Oxley .......................................................87

6.1.1. Responsabilidade corporativa: Certificação das informações ............... 88

6.1.2. Penalidades ............................................................................................ 89

6.2. Responsabilização na legislação brasileira ....................................................... 89

6.3. Comentários finais sobre responsabilização ..................................................... 91

7. Conclusões ................................................................................................................ 94

8. Referências Bibliográficas......................................................................................... 100

Page 15: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

15

1. INTRODUÇÃO

A Lei Sarbanes-Oxley, aprovada em julho de 2002, é considerada a

legislação de maior impacto em termos de governança corporativa, ética, auditoria,

declaração financeira e práticas de contabilidade pública desde os anos 30, quando houve a

criação da SEC – Security and Exchange Commission (Comissão de Valores Mobiliários

dos Estados Unidos), instituição que pode ser considerada equivalente à Comissão de

Valores Mobiliários – CVM brasileira.

Em 1933 os objetivos básicos da lei foram:

• Exigência de que as informações financeiras, entre outras relevantes,

fossem oferecidas aos investidores por canais públicos;

• Proibição de enganos, falsidade e outras fraudes na venda de ações.

Em 1934 houve a criação da SEC, sendo esta a maior autoridade na

indústria de títulos, com poder de registrar, regulamentar e transferir agentes. Foi quando

se passou a exigir relatório periódico de informações das empresas abertas1.

Recentemente, com o grande número de empresas que redeclararam ganhos

nos Estados Unidos, foi identificada a fragilidade do sistema financeiro americano com a

constatação de que os casos não são isolados e as falhas acontecem em grandes

corporações o que afeta de forma significativa o interesse público, dos investidores e a

economia como um todo.

Conforme exposto em Paine (2004), entre 1995 e 2001, o número de re-

declarações subiu de 50 para mais de 150 ao ano, num total de 722 reconhecimentos

públicos de que os números estavam errados e que precisariam ser refeitos.

1 Empresas abertas são as empresas que negociam ações nas bolsas de valores.

Page 16: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

16

Entre janeiro de 1997 a junho de 2002, aproximadamente 10% das empresas abertas nos Estados Unidos republicaram as suas demonstrações financeiras pelo menos uma vez. Em 1997 foram 92 republicações, em 2001 foram 225 e em 2002, 250 republicações. Sendo que as republicações em 2000, 2001 e 2002 tiveram um efeito significativo no valor de mercado das ações das empresas envolvidas. (KPMG Risk Advisory Services, 2005)

Durante este período, contadores, auditores, analistas, executivos de

empresas e alguns representantes do partido republicano americano tendiam a se oporem à

reforma na regulamentação corporativa. Por outro lado, investidores, principalmente

investidores institucionais, gerentes de fundos de pensão e muitos membros do partido

democrata apoiavam a reforma, que estava sendo muito discutida no congresso americano.

O governo americano, preocupado com o impacto dos escândalos contábeis

no mercado de capitais, e estimulado principalmente pelos escândalos da Enron no final de

2001 e WorldCom em meados de 2002, quando a reforma na regulamentação corporativa

passou a ser prioridade, publicou a Lei Sarbanes-Oxley (Senador Paul Sarbanes –

Democrata e Michael Oxley – Presidente do Comitê Republicano).

A lei foi criada para demonstrar aos investidores o compromisso com a

verdade e integridade nas empresas americanas, restaurar a confiança dos investidores,

designar responsabilidade aos executivos para garantir que eles estejam de acordo com as

operações da empresa, além de restaurar a confiabilidade no processo de contabilidade.

Para tanto, a lei estabelece novos padrões para atuação ao conselho de administração e

comitê de auditoria, para penalidades criminais dos executivos, independência do auditor

externo, e também estabelece o Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB),

subordinado à SEC para supervisionar a contabilidade das empresas abertas.

A lei, inicialmente, foi vista como custosa para as empresas, porém, a

adaptação exigida pela SOX, criada para dar transparência e consistência às demonstrações

Page 17: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

17

financeiras, começa a ser percebida como uma grande oportunidade para gestão mais

eficiente dos resultados das operações.

Dentro da complexidade dos itens da lei, podemos citar algumas

expectativas de benefícios, como:

• Aumento de confiança e transparência nas declarações financeiras;

• Maior eficiência na alocação de capital;

• Simplificação e padronização de políticas e procedimentos;

• Mudança de controles manuais para automáticos;

• Aumento do ambiente de controle;

• Melhoria em fusões e aquisições;

• Aumento da responsabilidade dos executivos;

• Disponibilidade de fundos e recursos para melhorar controles internos

dos relatórios financeiros.

Além disso, as exigências da lei retratam e complementam as tendências do

mercado em termos de regulamentação e práticas adotadas. Neste trabalho, será abordado

para análise comparativa entre empresas, bancos e seguradoras, com ênfase na Lei

Sarbanes-Oxley: o Novo Acordo de Capitais da Basiléia; os níveis de governança

corporativa adotados pela Bovespa; entre outras regulamentações para bancos e

seguradoras no Brasil que direcionam as empresas e instituições a trabalharem as questões

dos controles internos, transparência, comitê de auditoria e responsabilização.

Page 18: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

18

1.1. Motivações para a Lei:

1.1.1. O caso Enron

A Enron, empresa de energia, criada em 1985, conhecida e admirada pela

sua capacidade de inovar, no final de 2001 passou a ser conhecida por ser o maior caso de

falência dos Estados Unidos. Na realidade a criatividade e inovação da Enron estavam

também na capacidade de esconder as perdas e de declarar lucros inexistentes nos

relatórios financeiros. O que se fazia era criar empresas subsidiárias e parceiras, que não

tinham seus balanços publicados, as quais eram usadas para esconder os resultados ruins da

empresa como um todo.

Watkins (2003) descreve a reação do diretor presidente da Enron, Kenneth

Lay, quando questionado sobre os problemas contábeis da empresa. Ele se voltou para seus

executivos esperando uma explicação, foi quando estes argumentaram que, para eles, a

assinatura da Arthur Anderson era como uma certificação das práticas adotadas na empresa

e, portanto, não poderiam ser responsabilizados.

As declarações de Hamilton (2003) retratam a representatividade da Enron

no mundo dos negócios americanos. Sua receita era a 7a maior dos Estados Unidos. Os

leitores da revista Fortune votaram na Enron como uma das empresas mais admiradas nos

EUA. As escolas de negócio usavam a Enron como exemplo de transformação de uma

empresa conservadora de energia em uma empresa global. Em 1999 o diretor financeiro,

Fastow, foi votado pela CFO Magazine como o diretor financeiro mais criativo do ano.

O depoimento de um funcionário descrito em Hamilton (2003) revela que

na Enron os questionamentos não eram encorajados, e dizer coisas como “isso não faz

sentido”, era informalmente proibido.

Salter (2004) ressalta que a Enron possuía ferramentas de gerenciamento de

risco consideradas como as melhores do mercado, havia foco no desenvolvimento de

Page 19: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

19

talentos, sistema de controle centralizado, bem como uma equipe de analista de risco

especializada. Porém, nada disso foi suficiente para evitar a quebra.

As conseqüências das operações que levaram a Enron a pedir falência em

dezembro de 2001, começaram a ser divulgadas, conforme exposto em Salter (2004),

quando em outubro de 2001 foram anunciados, 544 milhões de perdas em subsidiárias,

redução de 1,2 bilhões no capital dos acionistas e que suas demonstrações financeiras de

1997 a 2000 seriam revistas em função de erros contábeis nas subsidiárias, sendo revelado

um lucro declarado a mais de 586 milhões e uma dívida declarada a menos de 711 milhões,

gerando quebra total de confiança e fechamento das linhas de crédito para empresa.

O que aconteceu foi que na verdade, suas subsidiárias serviam para

desconsiderar seus ativos, acelerando o crescimento dos lucros nos relatórios, protegendo a

taxa de crédito, tirando parte da dívida da empresa de suas demonstrações financeiras o

que, a longo prazo, não se sustentou e as informações tiveram que ser revistas e

desmascaradas.

Os executivos da Enron foram julgados e penalizados. Ken Lay, 64 anos,

fundador da empresa, morreu em julho de 2006, sendo condenado culpado em maio de

2006 por todas as seis acusações relacionadas à Enron. As penas contra ele incorreriam em

até 165 anos de prisão e seriam pronunciadas em outubro de 2006. O diretor financeiro

Andrew Fastow, 44 anos, foi condenado em setembro de 2006 a seis anos de prisão mais

dois anos de serviços comunitários pela sua participação no caso de falência da Enron. Sua

pena só não foi maior por ele ter concordado em colaborar com a justiça contra Ken Lay e

Jeffrey Skilling. Skilling, 52 anos, presidente da Enron que se demitiu em agosto de 2001,

foi condenado a vinte e quatro anos e quatro meses de prisão pelo envolvimento na

falência da Enron.

Page 20: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

20

1.1.2. O caso Worldcom

No caso da WorldCom, empresa de telecomunicação criada em 1983 com

rendimentos de $30 bilhões, $104 bilhões em ativos e 60.000 empregados, que em julho de

2002 pediu proteção através do código de falência dos Estados Unidos.

A empresa sempre teve como objetivo ser a número 1 entre as ações de

Wall Street. Em 2000 as condições do setor começaram a declinar até que foi decidido usar

a contabilidade para atingir as meta de desempenho, ou seja, manipular dados contábeis

para mostrar resultados inexistentes.

Hoje, a manipulação fraudulenta de resultados contábeis e de

demonstrações contábeis é conhecida como contabilidade criativa. É a decisão de criar

resultados positivos como forma de embelezar as demonstrações contábeis com a

finalidade de atrair investidores no mercado de capitais e ainda possibilitar a distribuição

de lucros a seus executivos. Com esse recurso, diante da crise geral no setor, a WorldCom

era a única empresa na qual os rendimentos divulgados continuavam altos.

“Entende-se, então, por contabilidade criativa o uso de procedimentos por parte dos contadores, que utilizam seus conhecimentos sobre as normas e procedimentos contábeis para manipular valores refletidos nas contas e demonstrações contábeis de uma empresa, porém dentro dos limites da legalidade, ou seja, entre várias alternativas válidas, o Contador decide qual o procedimento que deverá ser utilizado em atendimento aos diversos interesses e opiniões em um determinado momento.” (CARVALHO, 2003)

No caso da WorldCom, o “truque” contábil utilizado pela empresa era

registro dos custos fixos como investimentos. Kaplan (2004) descreve a cultura

organizacional formada por Bernard J. Ebbers como sendo caracterizada por não trabalhar

com práticas e políticas formais. Para Ebbers um código de ética e conduta era perda de

tempo, além disso, bônus e altos salários eram pagos especialmente para o pessoal de

Page 21: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

21

finanças, contabilidade e departamento de relação com investidor, os empregados não

deviam questionar seus superiores e sim simplesmente fazer o que eles diziam.

De acordo com Kaplan (2004), o software de gerenciamento de risco da

auditoria externa, Arthur Andersen, entre 1999 e 2001 classificava a WorldCom como

empresa de alto risco de fraude, mas continuavam realizando a auditoria como se fosse

empresa de risco moderado.

Após a falência da WorldCom, os executivos foram julgados e condenados.

No caso de Bernie Ebbers, presidente da WorldCom e uma das figuras corporativas mais

respeitadas da América, antes da quebra da empresa, apesar de negado ter qualquer

conhecimento da fraude em julho de 2002, em julho de 2005 concordou em ter sua fortuna

confiscada em quarenta milhões de dólares, incluindo dinheiro, mansões e negócios. Desta

forma Ebbers transferiu seus ativos para um fundo dos acionistas para colocar em ordem a

ação jurídica, além disso, aos 63 anos recebeu uma pena de 25 anos de prisão. Scott

Sullivan, diretor financeiro da WorldCom, 43 anos e pai de uma menina de 4 anos recebeu

uma pena de 5 anos de prisão por ter sido considerado o arquiteto da fraude que levou a

WorldCom à falência.

A fraude contábil da WorldCom que sucedeu ao caso Enron veio a reforçar

a necessidade de algo bastante rígido em relação a regulamentação das companhias de

capital aberto nos Estados Unidos, resultando na aprovação da Lei Sarbanes-Oxley no final

de julho de 2002.

1.1.3. O caso Arthur Andersen

Arthur Andersen, professor universitário fundou em 1913 a empresa de

auditoria que mais tarde veio a ser a empresa internacional de auditoria e contabilidade,

Arthur Andersen LLP. A empresa fez parte das cinco maiores empresas de auditoria

Page 22: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

22

externa do mundo e tinha sua história marcada pela honestidade e integridade, pontos

fortes de seu fundador.

De acordo com Hawkins (2003), o caderno de recrutamento da Arthur

Andersen destacava seus valores como sendo: respeito, integridade, crescimento

profissional e paixão pela excelência.

Em 1947 Leonard Spacek, um parceiro sênior da empresa assumiu o

comando da Andersen. Spacek ajudou a criar o conselho de princípios contábeis,

organização que determina padrões de contabilidade e ética. Como CEO da Arthur

Andersen, em 1954 introduziu o trabalho de consultoria como mais um serviço a ser

prestado aos clientes.

Por volta dos anos 70 as empresas de auditoria sofriam cada vez mais

pressão para reduzir custos e buscar alternativas de faturamento o que favoreceu o

crescimento dos serviços de consultoria. Segundo Hawkins (2003), em 1978 a consultoria

representava 21% do faturamento e em 1984 já era mais lucrativa que a auditoria. Assim, a

auditoria começou a ver vista como uma forma de buscar clientes para a consultoria, mas

as características dos serviços são bem diferentes e podem ser considerados conflitantes

entre si. Enquanto na consultoria o cliente é a própria empresa, na auditoria os clientes são

os investidores e credores que precisam de informações verdadeiras e transparentes

independente da satisfação da empresa, o cliente da consultoria.

A Arthur Andersen era a empresa de auditoria responsável pelas

declarações financeiras da Enron e WorldCom e também prestava serviço de consultoria

para estas. Segundo Hawkins (2003), em 2000 a Enron pagou à Arthur Andersen 25

milhões de dólares referente à auditoria e 27 milhões de dólares referente à consultoria. As

dificuldades e falhas da Enron não eram novidade para a Andersen, dentro dos parâmetros

de classificação de risco, a Enron estava como uma das 70 empresas consideradas de risco

Page 23: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

23

máximo. Em fevereiro de 2001 houve uma discussão para decidir sobre manter ou não a

Enron entre os clientes e a decisão foi manter.

Enron e WorldCom não eram os únicos clientes de alto risco da Andersen,

ainda segundo Hawkins (2003), desde 1997 a empresa pagou 600 milhões de dólares para

acertar falhas nas auditorias realizadas em seus clientes. Além disso, a Andersen não era a

única empresa de auditoria com problemas, as outras empresas também pagaram por atos

falhos realizados, conforme pode ser visto no quadro abaixo:

Empresa Cliente Pagamento Data Ernst & Young Cendant $335.0 12/1999

BFA $217.0 04/2002 Sunbeam $110.0 05/2001 Waste Management $95.0 06/2001 Colonial Realty $90.0 07/1997

Arthur Andersen

DeLorean Motors $63.0 05/1999 PricewaterhouseCoopers MicroStrategy $55.0 05/2001 Ernst & Young Informix $34.0 06/1999 KPMG Piper Jaffray $13.9 04/2000

Tabela 1: Auditorias externas e seus problemas

Fonte: HAWKINS, David F. e COHEN, Jacob. Arthur Andersen LLP.

Havard Business School, Fev/2003.

As conseqüências para a Andersen vieram com o anúncio feito pela SEC de

que não aceitaria mais seus pareceres. A Arthur Andersen foi processada por destruir

documentos relevantes para a investigação da Enron. Porém, em Junho de 2005 a empresa

foi absolvida por ter sido provado que ela apenas seguiu seus procedimentos internos de

retenção de documentos e não teve intenção de prejudicar as investigações. A obstrução

judicial, impedindo-a de assinar pareceres de auditoria, acabou com a empresa que estava

no mercado havia 89 anos e empregava 85.000 pessoas em todo o mundo. Será que isso

não poderia ter sido evitado? Por exemplo, o banco de Wall Street, JP Morgan forneceu

Page 24: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

24

informações erradas sobre a Enron e também envolvido com a WorldCom, pagou multas

assumindo o erro, mas continua no mercado.

1.2. Objetivo

1.2.1. Objetivo Geral

O trabalho tem como objetivo fazer uma análise comparativa entre a Lei

Sarbanes-Oxley e outras regulamentações do mercado, fazendo um paralelo entre

empresas, bancos e seguradoras. Para realizar esta análise são abordados, entre os diversos

itens da lei, os seguintes pontos: controles internos; transparência; comitê de auditoria; e

responsabilização como forma de identificar, em regulamentações já existentes as

exigências previstas na SOX.

1.2.2. Objetivos Específicos

• Analisar as exigências regulamentares em relação aos controles internos

de forma a identificar as abordagens legais existentes e quais as novas tendências. Verificar

os benefícios destes, que têm como objetivo sistematizar os processos para garantir que leis

e regulamentos estão sendo cumpridos, além de minimizar conflito de interesses,

desentendimentos internos e os riscos corporativos conhecidos.

• Conhecer as regulamentações referentes à transparência, uma vez que

este assunto é uma tendência muito forte no mercado mundial na expectativa de que as

informações sejam adequadamente divulgadas, gerando credibilidade aos relatórios

financeiros, protegendo os investidores e o interesse público que após recentes escândalos

de fraudes contábeis tiveram sua confiabilidade ameaçada;

Page 25: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

25

• Identificar as exigências legais sobre a criação de comitê de auditoria a

serviço da qualidade das informações contábeis e financeiras e da certeza de que os

responsáveis cumprem no mínimo as determinações regulamentares;

• Verificar e analisar as leis e regulamentos disponíveis sobre

responsabilização dos executivos das empresas, observando as responsabilidades e

respectivas penalidades.

Assim, este estudo discutirá as exigências da Le i Sarbanes-Oxley em

relação aos pontos acima descritos e principalmente sua inter-relação com práticas,

tendências e regulamentações já existentes, no ambiente de empresas, bancos e

seguradoras.

1.3. Relevância ou Justificativa

A Lei Sarbanes-Oxley é aplicável a todas as empresas que negociam ações

na bolsa de valores de Nova York o maior centro econômico do mundo. Além disso, os

recentes escândalos contábeis geraram desconfiança e tiveram conseqüências negativas

tanto para as pessoas que perderam seus empregos, suas economias aplicadas em fundos de

pensão na empresa, quanto para o mercado quando o sentimento de desconfiança tomou

conta ameaçando a saída de investidores.

Os quatro aspectos da lei a serem abordados de forma mais incisiva neste

trabalho, controle interno, transparência, comitê de auditoria e responsabilização, podem

ser vistos como questões básicas no mundo empresarial, bem como ser consideradas

palavras chaves que descrevem o processo de convergência das regulamentações de

empresas, bancos e seguradoras.

A implantação de controles internos contribui, entre outras questões, no

processo de descentralização nas empresas. Uma vez definidas as regras, procedimentos,

Page 26: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

26

leis e regulamentos que devem ser seguidos, bem como sistematizados os processos da

empresa, o poder decisório pode ser disseminado possibilitando, flexibilidade, agilidade e

tomada de decisão descentralizada, garantindo eficácia e eficiência nas operações. Diante

desta visão órgãos regulamentares a algum tempo definem exigências relacionadas aos

controles internos e a Lei Sarbanes-Oxley vem contribuir neste sentido.

A busca de transparência, ética e confiabilidade são fundamentais para o

crescimento da economia e do mercado de capitais uma vez que este depende de

investidores externos à empresa que precisam de informações confiáveis. Para tanto os

órgãos regulamentares vêm se esforçando no sentido de criar uma cultura de divulgação de

informação pelo desejo de informar e não apenas por ser uma exigência legal.

Da criação do comitê de auditoria espera-se questões indispensáveis como o

acompanhamento da gestão de riscos, da auditoria externa e interna e da efetividade dos

controles internos com foco na qualidade e integridade das demonstrações contábeis. O

comitê de auditoria é uma realidade das empresas há algum tempo, porém com a Lei

Sarbanes-Oxley este passa a ter mais responsabilidade e sua atuação é ampliada.

A responsabilização visa garantir o comprometimento das partes

interessadas nas declarações da empresa, evitando afirmação de executivos de que

desconhecem algumas práticas e atividades realizadas na sua empresa. As penalidades são

severas e é obrigação do presidente e do diretor financeiro saber e declarar que sabe tudo

que se passa na empresa.

A lei busca reparar por meios tangíveis a perda de confiança pública nos

líderes empresariais e enfatizar a importância dos padrões éticos nas informações

financeiras declaradas aos investidores. Na verdade a Lei Sarbanes-Oxley é uma forma

encontrada pelo governo norte-americano para estabelecer recursos legais para as práticas

eticamente corretas no mundo empresarial.

Page 27: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

27

Em muitos casos a legislação é criticada como mais uma exigência custosa

às empresas, sendo, seus benefícios pouco valorizados. No caso da Sarbanes-Oxley,

certamente seu cumprimento não irá garantir a total correção de falhas identificadas no

mercado, mas irá reduzir a vulnerabilidade das empresas e os riscos conhecidos.

Duarte (2003) define risco como uma medida de incerteza associada aos

retornos esperados de investimentos e podem ser divididos em quatro grandes grupos:

Risco de mercado, relacionado às variações em fatores de mercado como taxas de juros,

taxas de cambio, preços de commodities e ações; risco operacional, possível perda em

função dos sistemas, práticas e medidas de controle não serem capazes de resistir à falhas

humanas ou a situações adversas de mercado; risco de crédito em função de que uma

contraparte em um contrato, ou um emissor de dívida, tenha sua capacidade de honrar suas

obrigações, alterada; risco legal, possível perda caso os contratos não tenham amparo legal.

Desta forma, a lei pode não ser a solução, porém é algo mais austero que

contribui para o gerenciamento de riscos e para garantir ou aumentar a credibilidade das

declarações financeiras, uma vez que o importante é correr riscos sim, mas riscos

conhecidos, além de permitir aos investidores conhecerem e confiarem nas informações,

continuarem investindo e promovendo o crescimento econômico.

Conforme destacado em: Lei Sarbanes-Oxley - Guia para melhorar a

governança corporativa através de eficazes controles internos, Deloitte Touche (2003),

“não só as obrigações estão claras, mas também as oportunidades. O potencial para revisar

e perceber novas visões corporativas e atingir novos níveis de excelência corporativa é

inesgotável”.

Em Finding the Silver Lining, PricewaterhouseCoopers (2005), é descrito

que:

Page 28: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

28

As empresas começam a perceber que ao dar importância a certas exigências da SOX encontram benefícios significantes, como melhorar suas habilidades de gerenciar o risco, atrair e manter relacionamento de qualidade com parceiros, melhorar a interação com agências regulamentares, bem como qualificar membros do conselho, além de obter financiamento necessário, detectar fraude, reduzir exposição ao risco, eliminar processos redundantes do negócio e melhorar outros.

De forma sucinta, o trabalho se justifica pelo grande impacto da Lei

Sarbanes-Oxley no mercado como um todo, bem como para verificar quais as exigências

em termos de regulamentação já estão no mercado, quais as propostas e tendências futuras

e então entender e conhecer os desafios propostos pela SOX.

O trabalho se limita a analisar basicamente os pontos anteriormente citados,

referentes a controles internos, transparência, comitê de auditoria e responsabilização em

empresas através da Lei Sarbanes-Oxley, em bancos e seguradoras através de outras

regulamentações. É importante mencionar que não foram abordadas outras

regulamentações para empresas.

1.4. Estrutura da Dissertação

O trabalho está dividido em sete partes. A primeira é dedicada à introdução,

decorrendo sobre a importância, os incentivos para a Lei Sarbanes-Oxley, e os pontos a

serem discutidos ao longo do trabalho, sendo também detalhado o objetivo e justificativa

deste. Nessa parte, a contextualização da lei no mercado se dará através da descrição sobre

a SEC (Security and Exchange Commission), relacionando ao ambiente regulador para as

instituições financeiras na função do Banco Central do Brasil e para as seguradoras pela

SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), além da Comissão de Valores Mobiliários

do Brasil, a CVM.

Page 29: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

29

A segunda parte é dedicada à própria Lei Sarbanes-Oxley, ou seja, sua

criação e sua abrangência, descrevendo, de forma sucinta, cada tópico da lei, com o

objetivo de apresentá- la como um todo, uma vez que durante o trabalho apenas os itens

relacionados a controles internos, transparência, comitê de auditoria e responsabilização

serão discutidos com mais detalhe.

A terceira parte discorre sobre a questão dos controles internos tratada na

Lei Sarbanes-Oxley principalmente na seção 404 (avaliação do gerenciamento dos

controles internos). Para realizar uma análise comparativa sobre esse assunto, é

considerado também o Novo Acordo de Capitais da Basiléia, pilar 1 (capital mínimo), o

Comunicado 12.746 do Banco Central do Brasil, bem como a Resolução 2.554 do Banco

Central do Brasil, e a Circular 249 da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados).

A quarta parte é dedicada à análise da transparência destacada de várias

formas pela Lei Sarbanes-Oxley, principalmente nas seções 302 (responsabilidade

corporativa nos relatórios financeiros) e 404 (avaliação do gerenciamento dos controles

internos). Para análise deste tópico, são considerados também, o Novo Acordo de Capitais

da Basiléia, pilar 2 (supervisão) e pilar 3 (disciplina de mercado), a Resolução 2.554 do

Banco Central do Brasil, bem como a Circular 249 e 280 da SUSEP (Superintendência de

Seguros Privados) e os níveis de governança corporativa criados pela Bovespa.

A quinta parte discorre sobre Comitê de Auditoria, previsto, na seção 301,

entre outras da Lei Sarbanes-Oxley, as quais definem a constituição do comitê,

responsabilidades e sua relação com a auditoria externa. Nesta parte são abordadas também

as resoluções, 3.198 do Banco Central do Brasil, bem como a 118 do CNSP (Conselho

Nacional de Seguros Privados) que regulamentam sobre comitê de auditoria e auditoria

independente nas instituições financeiras e seguradoras respectivamente.

Page 30: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

30

A sexta parte é dedicada à análise sobre as exigências e conseqüências para

os responsáveis pelas corporações, ou seja, responsabilidade dos executivos que devem

saber tudo e, além disso, declarar que sabem tudo o que se passa na empresa. Para tanto

são discutidas as seções 302 (responsabilidade corporativa pelos relatórios financeiros),

906 (penalidades em função da responsabilidade corporativa) e 1.102 (penalidades por

alterar, destruir ou ocultar documentos). Neste caso são abordadas também as leis

brasileiras, 10.303, lei das sociedades por ações, 7.492 dos crimes contra o sistema

financeiro conhecida como lei do colarinho branco, bem como a 7.913 dos crimes contra

os investidores.

A sétima parte apresenta as conclusões sobre o assunto, sendo essa a

contribuição do trabalho para o mercado.

1.5. Órgãos Regulamentares

1.5.1. SEC – Security and Exchange Commission

A criação da SEC - Security and Exchange Commission aconteceu após a

quebra de 1929, quando houve um consenso de que para a economia se recuperar a

confiança do público no mercado de capitais deveria ser restaurada. Assim, o congresso

americano aprovou Security Act of 1933 e Security Exchange Act of 1934. Essas leis foram

designadas para restaurar a confiança dos investidores no mercado de capitais americano

através do fornecimento de mais estrutura.

A proposta principal da SEC pode ser resumida em duas idéias:

• As empresas abertas que oferecem ações aos investidores devem

oferecer também transparência na gestão.

• Pessoas que vendem e negociam ações devem tratar os investidores de

forma justa e honesta.

Page 31: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

31

A SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) pode ser

vista como equivalente à Comissão de Valores Mobiliários – CVM brasileira, tendo como

missão proteger os investidores e manter a integridade do mercado de capitais. Para tanto,

as leis e regras nos Estados Unidos tem o conceito de que todos os investidores, de grandes

instituições ou investidor individual, devem ter acesso a fatos básicos sobre o investimento

antes de tomarem suas decisões. Desta forma, a SEC solicita as empresas abertas que

divulguem informações financeiras, entre outras necessárias ao público, e que ofereça uma

possibilidade de conhecimento comum a todos os investidores para que possam julgar se a

empresa é ou não um bom investimento.

Para que a SEC seja efetiva, o ponto fundamental é sua autoridade. A cada

ano a SEC entra com uma média de 400 a 500 ações civis contra empresas e indivíduos

que não seguem as leis. Infrações típicas incluem negociadores internos (Insider trader –

essa atividade é ilegal quando a pessoa negocia a ação enquanto possui informação

material2 não publicada), fraude contábil, ou fornecimento de informações falsas ou

mascaradas3.

1.5.2. Banco Central do Brasil

O Banco Central do Brasil é uma autarquia federal, integrante do Sistema

Financeiro Nacional vinculada ao Ministério da Fazenda, com sede e foro em Brasília, a

Capital da República e atuação em todo território nacional. O Banco Central do Brasil foi

criado em 31/12/1964, com a promulgação da Lei nº 4.595.

Após a criação do Banco Central buscou-se dotar a instituição de

mecanismos voltados para o desempenho do papel de "bancos dos bancos". Em 1985 foi

2 Informação Material: uma informação é considerada material se sua omissão puder mudar ou influenciar a avaliação ou decisão de um usuário. 3 Em www.sec.gov

Page 32: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

32

promovido o re-ordenamento financeiro governamental com a separação das contas e das

funções do Banco Central, Banco do Brasil e Tesouro Nacional.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu dispositivos importantes para a

atuação do Banco Central, dentre os quais se destacam o exercício exclusivo da

competência da União para emitir moeda e a exigência de aprovação prévia pelo Senado

Federal, em votação secreta, após argüição pública, dos nomes indicados pelo Presidente

da República, para os cargos de presidente e diretores da instituição.

O Banco Central é responsável por garantir o poder de compra da moeda

nacional, tendo por finalidade zelar pela adequada liquidez da economia, manter as

reservas internacionais em nível adequado, estimular a formação de poupança, zelar pela

estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro. O Banco

Central tem como atribuição emitir papel moeda e moeda metálica, executar serviços do

meio circulante, receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições

financeiras, realizar operações de redesconto e empréstimo, efetuar operações de compra e

venda de títulos públicos federais, autorizar o funcionamento, estabelecer as condições e

exercer a fiscalização das instituições financeiras.

1.5.3. SUSEP – Superintendência de Seguro Privado

A SUSEP é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados

de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. Autarquia vinculada ao

Ministério da Fazenda foi criada pelo Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, que

também instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados, do qual fazem parte o Conselho

Nacional de Seguros Privados - CNSP, o IRB Brasil Resseguros S.A, as sociedades

autorizadas a operar em seguros privados e capitalização, as entidades de previdência

privada aberta e os corretores habilitados.

Page 33: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

33

Dentre as atribuições da SUSEP, estão: fiscalizar a constituição,

organização, funcionamento e operação das Sociedades Seguradoras; atuar no sentido de

proteger a captação de poupança popular que se efetua através das operações de seguro,

previdência privada aberta, de capitalização e resseguro; zelar pela defesa dos interesses

dos consumidores dos mercados supervisionados; promover o aperfeiçoamento das

instituições e dos instrumentos operacionais a eles vinculados; promover a estabilidade dos

mercados sob sua jurisdição, assegurando sua expansão e o funcionamento das entidades

que neles operem; zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado;

disciplinar e acompanhar os investimentos; cumprir e fazer cumprir as deliberações do

CNSP (Conselho Nacional de Seguro Privado) e exercer as atividades que por este forem

delegadas.

1.5.4. CVM (Comissão de Valores Mobiliários)

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia vinculada ao

Ministério da Fazenda, criada pela Lei nº 6.385, de 07 de dezembro de 1976, com a

finalidade de disciplinar, fiscalizar e desenvolver o mercado de valores mobiliários,

entendendo-se como tal aquele em que são negociados títulos emitidos pelas empresas para

captar, junto ao público, recursos destinados ao financiamento de suas atividades.

A principal função do mercado de valores mobiliários na economia é o

atendimento às necessidades de financiamento de médio e longo prazos por parte das

empresas. Ou seja, o mercado de valores mobiliários surge como fonte de recurso capaz de

financiar projetos de expansão ou de aperfeiçoamento tecnológico das empresas, na

medida em que reúne condições para oferecer às companhias um volume adequado de

recursos a custos satisfatórios, através de instrumentos atraentes para o público, quanto a

retorno, prazo, liquidez e garantia.

Page 34: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

34

Para tanto, a Comissão de Valores Mobiliários exerce as funções de:

assegurar o funcionamento mobiliário; proteger os titulares de valores mobiliários contra

emissões irregulares e atos ilegais; evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação

no mercado; assegurar o acesso do público às informações; assegurar a observância de

práticas comerciais eqüitativas; estimular a formação de poupança e sua aplicação em

valores mobiliários; promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do

mercado de ações e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das

companhias abertas.

O mercado de valores mobiliários, portanto, estimula a poupança e o

investimento, sendo essencial para o crescimento das economias modernas.

Page 35: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

35

2. LEI SARBANES-OXLEY

Irregularidades na contabilidade de várias empresas motivavam, a partir de

maio de 2001, crescentes discussões em Washington sobre a qualidade dos relatórios

financeiros. Em dezembro de 2001 a empresa de energia Enron declarou falência depois de

anos escondendo suas perdas em balaços não divulgados de parceiras. Milhares de

empregados perderam seus trabalhos e suas economias para aposentadoria, enquanto os

executivos da empresa embolsaram milhões.

O colapso da Enron movimentou ainda mais conversas sobre uma reforma

na regulamentação corporativa, mas muitos políticos e executivos viam o caso como sendo

isolado, porém outros pensavam que era apenas o início de grandes problemas. Em Julho

de 2002, a idéia de que era apenas o início de próximas quebras se confirmou com a

falência da empresa de telecomunicações, WorldCom. A reforma corporativa se tornou

prioridade no congresso americano.

Conforme descrito em Paine (2004), Arthur Levvit, Chairman da SEC, fez

um pronunciamento externando sua opinião sobre a visão distorcida do gerenciamento de

lucros. Ele declarou ser testemunha da queda de qualidade nos relatórios financeiros, sendo

que os ganhos relatados refletiam os interesses dos gerentes e não a realidade.

Apesar da SEC exigir que as empresas de capital aberto tenham suas

declarações financeiras auditadas por empresa de contabilidade externa, muitas vezes essas

empresas prestavam também serviços de consultoria para instalação e manutenção de

informações contábeis, sistema de tecnologia da informação, etc. Uma visão sobre a causa

das quebras, apesar das auditorias externas, é que a pressão para manter o cliente satisfeito

na consultoria pode ter levado os auditores a olharem as práticas contábeis de outra forma.

Foi então formado um Comitê de Serviços Financeiros nos Estados Unidos,

composto por senadores, sendo 36 membros do partido republicano, representados por

Page 36: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

36

Michael Oxley e 33 membros do partido democrata, representados por Paul Sarbanes, com

objetivo de reformar a regulamentação usando como ferramenta o estudo sobre as quebras

ocorridas na época.

Em 30/07/2002 o presidente norte-americano George W. Bush assinou a Lei

Sarbanes-Oxley com um discurso reforçando que a economia americana dependia da

confiabilidade e honestidade das empresas de capital aberto.

2.1. Um sumário da Lei

A Lei Sarbanes-Oxley foi criada para restaurar a confiança pública e a

integridade do mercado de capitais, definindo novas responsabilidades ao conselho de

diretores e no gerenciamento de empresas de capital aberto, fortalecendo a SEC (Security

and Exchange Commission). A SOX é aplicável às companhias de capital aberto que

negociam ações na bolsa de valores de Nova York.

A lei reescreveu as regras relativas à emissão de relatórios financeiros,

pressupôs aumento da responsabilidade do presidente da empresa, das auditorias internas, e

externas e dos advogados, garantindo maior transparência e confiabilidade às informações,

incluindo punição contra fraude e maior independência às auditorias. Diante de grande

complexidade da lei, há uma premissa simples, as práticas éticas do negócio agora são leis.

A Lei é composta por 11 títulos, podendo ser resumido conforme, Pane

(2004):

I – Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB)4 – Criação de

conselho não governamental e sem fins lucrativos para verificar auditores e proteger

investidores. As empresas que conduzem auditorias precisam ser registradas no PCAOB.

4 Recentemente o PCAOB aprovou o Padrão de Auditoria no 2 que discute a importância da tecnologia de informação para definir e manter controles internos. Os auditores externos devem reunir evidências relacionadas à estrutura e operação efetiva dos controles internos incluindo a capacidade para proteger informações eletrônicas.

Page 37: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

37

Este é encarregado de regular todas as práticas adotadas pelos auditores independentes de

empresas abertas e de definir como eles devem realizar a avaliação dos controles internos,

determina que o auditor independente considere a eficácia do comitê de auditoria em sua

avaliação.

II – Auditoria independente – Proíbe que as empresas de auditoria realizem

qualquer outra atividade para os clientes. Exige rotatividade de auditor líder e haverá

estudo sobre o impacto de exigir rotatividade entre as empresas de auditoria.

III – Responsabilidade corporativa – Requer que a auditoria seja verificada

por membro independente do conselho da empresa. Exige que o principal executivo

certifique as declarações financeiras. Pode exigir que os executivos percam os bônus

quando a empresa redeclara seus resultados financeiros por não ter cumprido a lei. Exige

que os advogados relatem fraudes aos executivos e ao conselho.

IV – Intensificação da divulgação financeira – Tratar a acuidade dos

relatórios financeiros e transparência quanto aos balanços não publicados. Limita

empréstimos pessoais aos executivos. Exige relatório da efetividade dos controles internos.

Direciona o código de ética para os diretores financeiros.

V – Conflito de interesse dos analistas – Direciona conflitos de interesses

envolvendo analistas de títulos que escrevem relatórios e têm atividades de investimento

com a mesma empresa.

VI – Comissão de reservas e autoridades – Fornece fundos para a SEC

aumentar salários, adicionar “staffs” e melhorar a tecnologia. Aumento de autoridade da

SEC para censurar atividades individuais e proibidas.

VII – Estudos e relatórios – Comissão de estudos sobre a consolidação da

contabilidade da empresa, o papel das agências de classificação de crédito, violação das

leis de títulos por tipo, freqüência e quem violou, além de reforço às ações da SEC e estudo

Page 38: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

38

sobre o papel de banqueiros de investidores ou conselheiros financeiros de manipular

ganhos da empresa.

VIII – Fraude corporativa contábil e criminal – Aumento de penalidades

para destruição ou alteração imprópria de documentos. Aumento do estatuto de limitação

para fraude de títulos. Proteção a quem denuncia.

IX – Intensificação de crimes de colarinho branco – Indivíduos que

tentarem cometer crimes serão tratados como se o crime estivesse sido cometido. Aumento

de pena de prisão, 25 anos, e multa para certas fraudes. Criação de exigências adicionais de

certificação para executivos.

X – Corporate tax returns: A restituição de imposto de cada empresa deverá

ser assinada pelo presidente (CEO – Cheef Executive Officer).

XI – Fraude corporativa e contabilidade: Criação de penalidades adicionais

para alteração e destruição de documentos. Permissão à SEC de proibir os indivíduos de

serem executivos ou diretores após cometerem fraude. Proteção adicional a quem

denuncia. Aumento de algumas multas para 25 milhões e pena de prisão para 20 anos.

De forma resumida o desdobramento dos itens acima descritos, ou seja,

todos os itens da lei estão na tabela abaixo:

Item Resumo I Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB)

Sec 101 Como formar o PCAOB definindo suas obrigações e regras. Sec 102 Critérios para registro de empresas de contabilidade no PCAOB.

Sec 103 Critérios a serem seguidos pela empresa de contabilidade registrada para emissão dos relatórios de auditoria, referente a controle de qualidade e padrões de independência.

Sec 104 O PCAOB faz inspeção na empresa de contabilidade verificando complacência com a lei, com regras do conselho, regras da SEC, padrão profissional, entre outros.

Sec 105 O PCAOB estabelece procedimentos para investigação e para disciplinar empresa de contabilidade registrada.

Sec 106 Regras para tratamento de empresas estrangeiras são as mesmas, com exceção da Sec 102.

Sec 107 As regras do PCAOB são aprovadas pela SEC.

Sec 108 A SEC define padrões de contabilidade podendo avaliar novos critérios em determinadas situações.

Sec 109 Definição de critérios para orçamento anual do PCAOB, aprovado pela SEC.

Page 39: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

39

Item Resumo II Auditoria independente

Sec 201 Proíbe a prestação de vários serviços de não auditoria por parte dos auditores externos.

Sec 202 Serviços realizados por auditores externos, sejam ou não serviços de auditoria, devem ser pré-aprovados pelo comitê de auditoria.

Sec 203 Exigência de rotatividade do auditor líder. Sec 204 A empresa de auditoria externa deve relatar a auditoria realizada ao comitê de auditoria.

Sec 205 Comitê de auditoria é criado pelo, e entre, o conselho de administração para fins de supervisão dos processos de apresentação de relatórios financeiros e contábeis, assim como auditorias das demonstrações financeiras da empresa.

Sec 206 Proibição de prestação de serviço de auditoria por empresa que teve como empregado a menos de um ano, o CEO, o CFO, controller, entre outros, a fim de evitar conflitos de interesse.

Sec 207 Estudo sobre o impacto de exigir rotatividade entre as empresas de auditoria. Sec 208 Define regulamento para restrição quanto à atuação do auditor independente. Sec 209 Define padrões para supervisão de empresas de contabilidade não registradas.

III Responsabilidade corporativa

Sec 301 Implementação de comitê de auditoria por todas as empresas de capital aberto, com registro na SEC.

Sec 302 Certificação trimestral e anual dos controles e procedimentos de divulgação pelos diretores executivo e financeiro, assumindo sua responsabilidade pelos relatórios financeiros.

Sec 303 Proibição de conduta sob influência dos gestores na auditoria das declarações financeiras.

Sec 304 O presidente e diretor financeiro devem reembolsar as perdas causadas por falhas nas declarações financeiras tendo seus bônus e lucros confiscados.

Sec 305 Restrições e penalidades para executivos e diretores. Sec 306 Regulamenta negociação durante período de "apagão" e define penalidades. Sec 307 Define regras para advogados sobre relato de suspeitas ou evidências de irregularidades. Sec 308 Define regras para formação de um fundo que proteja os investidores.

IV Intensificação da divulgação financeira

Sec 401 Determina regras para garantir que as informações divulgadas em relatórios periódicos sejam confiáveis.

Sec 402 Proíbe empréstimo pessoal a executivo, como forma de evitar conflito de interesse. Sec 403 Exige divulgação de transações realizadas por gerentes, acionistas e executivos. Sec 404 Avaliação do gerenciamento dos controles internos divulgados no relatório financeiro. Sec 405 Critérios para isentar o cumprimento das seções 401, 402 e 404. Sec 406 Exigência de direcionamento do código de ética para o executivo financeiro.

Sec 407 Exige que pelo menos um dos membros do comitê de auditoria seja um especialista financeiro.

Sec 408 Revisão sistemática e regular pela SEC das informações divulgadas pelas empresas.

Sec 409 Divulgação de informações materiais em tempo real, relativas às mudanças nas condições financeiras e operacionais.

V Conflito de interesse dos analistas Sec 501 Definição de regras para analistas com objetivo de evitar conflitos de interesses.

VI Comissão de reservas e autoridades Sec 601 Definição de recursos destinados à SEC. Sec 602 A SEC tem autoridade para reprovar, censurar pessoas. Sec 603 Critérios para participação de compra e venda de ações, sujeito a ser afastado do mercado. Sec 604 A SEC tem autoridade para suspender o direito da pessoa em se associar à corretora.

Page 40: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

40

Item Resumo VII Estudos e relatórios

Sec 701 Estudo para identificar fatores que levaram a consolidação de empresas de contabilidade e conseqüentemente a redução de empresas de auditoria.

Sec 702 Estudo sobre a função das agências de classificação de crédito.

Sec 703 Estudo para determinar o número de profissionais definidos como contadores, banqueiros de investimento, consultores de investimento e corretores envolvidos em violação de lei.

Sec 704 Estudo para identificar as áreas mais propícias a fraude, manipulação ou gerenciamento de ganhos impróprios, bem como para definir tratamento contábil aos off-balance.

Sec 705 Estudo para definição de regras de bancos de investimentos e consultor financeiro. VIII Fraude corporativa contábil e criminal

Sec 801

Sec 802 Definição de penalidades por destruição, alteração ou falsificação de registros ou documentos.

Sec 803 Descrição de quais dívidas não são perdoadas. Sec 804 Prazo limite em que as providências em função de violação podem ser tomadas.

Sec 805 Revisão das diretrizes de sentença federal estabelecendo políticas adequadas para obstrução de justiça.

Sec 806 Proteção a empregados que prestam informações às investigações.

Sec 807 Penalidades criminais por trapacear acionistas de empresas abertas são multa ou prisão por no mínimo 25 anos.

IX Intensificação de crimes de colarinho branco Sec 901

Sec 902 A tentativa de cometer fraude resulta nas mesmas penalidades da fraude efetivamente cometida.

Sec 903 Alteração da pena de cinco para vinte anos por corresponder a fraude.

Sec 904 Definição de multa e prisão por violar os rendimentos de aposentadoria dos empregados na SEC 1934.

Sec 905 A comissão de sentença deve garantir diretrizes e políticas para deter, prevenir e punir fraudes relacionadas a colarinho branco.

Sec 906 Inclusão nos relatórios periódicos de declaração por escrito dos diretores executivo e financeiro certificando as informações. Define multa de até 5 milhões e pena de prisão de até 20 anos.

X Corporate tax returns

Sec 1001 A restituição de imposto deverá ser assinada pelo presidente (CEO – Cheef Executive Officer).

XI Fraude corporativa e contabilidade Sec 1101

Sec 1102 Alterar, destruir, ocultar documentos, registros ou outros objetos com intenção de prejudicar sua integridade gera multa ou prisão de até 20 anos.

Sec 1103 No caso dos devedores começarem a pagar suas dívidas à SEC, suas ações são temporariamente interrompidas.

Sec 1104 Adendo às diretrizes de sentenças federais. Sec 1105 Restrição às pessoas que violaram regras. Sec 1106 Aumento de penalidades criminais em relação à SEC 1934. Sec 1107 Retaliação contra informantes.

Tabela 2: Resumo da Lei Sarbanes-Oxley Fonte: Levantamento feito pela autora.

Page 41: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

41

Diante de tamanha complexidade e abrangência da lei, o trabalho se

restringe a realizar uma análise comparativa entre a Lei Sarbanes-Oxley e outras

regulamentações e tendências do mercado de empresas, bancos e seguradoras no que se

refere aos seguintes pontos: controles internos; transparência; comitê de auditoria; e

responsabilização, os quais serão tratados separadamente em cada item do trabalho

conforme a seguir.

Page 42: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

42

3. CONTROLE INTERNO

Em Lei Sarbanes-Oxley - Guia para melhorar a governança corporativa

através de eficazes controles internos, Deloitte Touche (2003), é descrito o seguinte

conceito:

“O controle interno é um processo executado pela Diretoria, pelo Conselho de Administração ou por outras pessoas da companhia que impulsionam o sucesso dos negócios em três categorias: eficácia e eficiência das operações; confiabilidade dos relatórios financeiros; cumprimento de leis; e regulamentos aplicáveis”.

A implantação de uma estrutura de controles internos tem o intuito de

assegurar que todos os funcionários trabalhem para alcançar os objetivos da empresa com

eficiência e integridade, sem custos desnecessários e sem levar em consideração os

objetivos e interesses pessoais. Os controles estabelecidos servem para direcionar a

preparação de relatórios financeiros com qualidade suficiente para serem confiáveis; bem

como garantir que todos os negócios estejam de acordo com leis e regulamentos.

Os controles internos são um mecanismo para redução das possibilidades de

fraude, apropriação indébita e erros. Podemos considerar que estão relacionados à: visão

gerencial e cultura de controle; reconhecimento e avaliação de risco; atividades de controle

e segregação de responsabilidades; informação e comunicação; monitoração e correção de

deficiências.

3.1. Controle Interno na Lei Sarbanes-Oxley

O papel dos controles internos na Sarbanes-Oxley pode ser considerado

como uma das exigências mais marcantes da lei. Descrita na seção 404, avaliação do

gerenciamento dos controles internos, as novas regras são de certa forma, complicadas e

Page 43: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

43

sua implantação pode ser demorada e custosa. Porém, conforme descrito em Guia para

melhorar a governança corporativa através de eficazes controles internos da Deloitte

Touche, Lei Sarbanes-Oxley, existem alguns atenuantes:

• “Normalmente, todas as companhias de capital aberto já possuem alguma estrutura de controles internos, ainda que de maneira informal e não suficientemente documentada.”

• “Muitas companhias poderão adaptar os processos já existentes

para cumprir as medidas de controles internos determinadas pela Lei Sarbanes-Oxley.”

• “A construção de uma forte estrutura de controles internos para

atender às exigências da Lei Sarbanes-Oxley pode promover benefícios que extrapolam o cumprimento das regras. Na verdade, o potencial para revisar e concretizar novas visões corporativas e atingir novos níveis de excelência corporativa é inesgotável.”

Na Lei Sarbanes-Oxley, as exigências sobre os controles internos podem ser

encontradas também nas seções, 302, 409 e 802. A seção 302, certificação trimestral e

anual dos controles e procedimentos de divulgação, requer que o diretor presidente e o

diretor financeiro certifiquem, em cada relatório anual e trimestral, que não existem

declarações falsas, as condições financeiras estão fielmente apresentadas, controles

internos eficazes são implementados e mantidos para garantir que os funcionários sejam

advertidos sobre todas as informações materiais. A 409, relato de eventos materiais requer

que as empresas tenham procedimentos internos para divulgação pública de mudanças

materiais nas condições financeiras e operacionais de forma rápida e segura. A 802,

destruição de registros de auditoria da empresa requer que a empresa de contabilidade

registrada mantenha por sete anos os documentos de auditoria, sendo que estes devem

conter detalhes suficientes para apoiar as conclusões do auditor.

Page 44: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

44

3.1.1. Efetividade dos controles internos sobre os relatórios financeiros

A seção 404 da lei exige que uma estrutura adequada de controles internos

seja implantada e que o gerenciamento desses seja avaliado pela administração da empresa

confirmando sua responsabilidade pela implantação e manutenção. Além disso, o auditor

externo atesta a avaliação dos controles internos feita pela administração, garantindo que

os processos para emissão dos relatórios financeiros tenham adequados controles internos

e, portanto, informações divulgadas confiáveis.

A seção 404 requer ainda, que cada relatório das demonstrações financeiras

anual contenha um relatório dos controles internos, contribuindo para a transparência das

informações. Assim, as exigências podem ser resumidas da seguinte maneira:

• Implantação de uma adequada estrutura de controles internos;

• Avaliação pela administração da efetividade dos controles;

• Certificação do auditor externo sobre a acuidade da avaliação da

administração de que os controles internos estão implantados e são eficazes.

• Relatório de controle interno declarando que a administração é

responsável por uma adequada estrutura de controle interno;

Conforme exposto acima, para cumprir a seção 404 a empresa precisa

selecionar uma apropriada estrutura de controles internos. Apesar de existirem várias

estruturas o que se predomina são as recomendações do Commitee of Sponsoring

Organizations of the Treadway Commission – COSO, que desmembra os controles

internos em cinco: ambiente de controle; avaliação de riscos; atividades de controle;

informação e comunicação; e monitoramento.

O trabalho realizado pela COSO, em setembro de 1992, “Internal Control –

Integrated Framework”, destaca que há muito tempo que executivos seniores vêm

buscando modos de aperfeiçoar o controle das empresas que eles dirigem. Os controles

Page 45: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

45

internos são acionados para manter a companhia no curso, rumo às suas metas de

rentabilidade, ao alcance de sua missão e também para minimizar as surpresas ao longo do

caminho. Os controles internos capacitam os gerentes a lidar com ambientes econômicos e

competitivos em constante mudança, a alterar demandas e prioridades dos clientes e a se

reestruturar para futuros crescimentos. Os controles internos promovem a eficácia,

reduzem o risco às perdas de ativos e ajudam a assegurar a confiabilidade das

demonstrações financeiras e a conformidade com as leis e regulamentos.

Os controles internos, apesar de ajudar a minimizar riscos, também têm suas

limitações. Eles podem fornecer alguma segurança de que os objetivos da empresa foram

ou serão alcançados, porém, é importante lembrar que são realizados por pessoas, estando,

assim, sujeitos às limitações dos seres humanos. Os controles internos podem ser

fraudados, enfraquecidos por julgamento equivocado, negligência, distração, ou falhas nos

processos e procedimentos. Assim, os custos e benefícios dos controles internos devem ser

constantemente avaliados.

O processo de certificação da seção 404 da lei pode ser resumido conforme

esquema a seguir:

Figura 1: Processo de certificação da seção 404.

Fonte: Lei Sarbanes-Oxley: Treinamento e Workshop – KPMG, 2006.

Fases 1 e 2Planejamento

Escopo dotrabalho e

Diagnóstico da Estrutura de

Controle Interno

DocumentarProcessos

Avaliação deRiscos eControlesInternos

Testar osControles

Implantarou melhoraros Controles

SelecionarProcessosChaves

Certificação 404CEO / CFO

Elaborar Compliance Programme

Fases 6Processo de Certificação pelo CEO e CFO

Follow-up

MonitoramentoContínuo

Fases 3, 4 e 5Desenvolvimento da Estrutura de Controle Interno

Page 46: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

46

3.2. Controles internos nas instituições financeiras

3.2.1. O Novo Acordo de Capitais da Basiléia

Para instituições financeiras, as exigências do Comitê da Basiléia, desde o

acordo de 1988, reforçado pelo Novo Acordo de Capitais da Basiléia (Basiléia 2), têm forte

relação com as exigências da lei Sarbanes-Oxley, tanto no que se refere a controles

internos, transparência, ent re outras.

A Basiléia 2 representa um processo evolutivo iniciado em 1974 com a

criação do Comitê da Basiléia (BCBS – Basel Committe on Banking Supervision) sediado

no Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements - BIS),

sendo elaborada para substituir o acordo de capitais que vigora desde 1988.

O acordo de 1988 recomendou a constituição de um capital mínimo por

parte dos bancos, com objetivo manter a estabilidade do sistema financeiro, minimizar o

risco de quebra por problemas de insolvência. Solvência é a capacidade de cumprir todas

as obrigações contraídas através de contratos firmados com os seus clientes. Para garantir

solvência é necessário manter um capital mínimo, uma margem de solvência. Desta forma,

o acordo de 1988 apresentou padrões mínimos a serem aplicados com o objetivo de

fortalecer a saúde do sistema financeiro internacional e promover o desenvolvimento de

critérios para diminuir as desigualdades entre as instituições financeiras.

O Novo Acordo de Capitais da Basiléia, está previsto para entrar em vigor

em 2007 sendo este aplicável às instituições financeiras, com obrigação de implementação

apenas para os países do Grupo dos Dez (G-105), porém os bancos internacionalmente

ativos de outros países, para estarem inseridos no novo contexto de finanças devem

procurar adequar-se às recomendações. 5 Fazem parte do G-10: Alemanha, Bélgica, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, Japão, Luxemburgo, Reino Unido, Suécia e Suíça.

Page 47: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

47

O Novo Acordo de Capital pretende ser mais abrangente que o Acordo de 1988, partindo do princípio que o requerimento de capital regulamentar não é o único instrumento para minimizar falências bancárias. A nova proposta é estruturada em um tripé. Enquanto o primeiro compreende os requerimentos mínimos de capital, o segundo baseia-se na avaliação, pela instituição e pela supervisão, dos níveis mínimos adequados de capital, e por fim, o terceiro fundamenta-se na disciplina de mercado por meio da transparência. (GARCIA, 2003)

A Basiléia 2 é composta de três pilares:

3.2.1.1.O primeiro pilar

O primeiro pilar descreve metodologias para o cálculo de requisitos

mínimos de capital para minimizar os riscos. Neste, a metodologia proposta para cálculo

de capital tem objetivo de refletir o perfil de risco de cada instituição. Desta forma o

comitê incentiva a utilização de modelos internos para cálculo de capital, tendo como base

a utilização de sistemas internos de avaliação de risco. A nova proposta procura medir com

bastante precisão o perfil de risco de cada instituição, considerando riscos de crédito,

mercado e operacional, para então determinar o capital mínimo necessário para minimiza-

los.

3.2.1.2.O segundo pilar

O segundo pilar exige uma maior proximidade entre a supervisão bancária e

a diretoria executiva dos bancos. O comitê incentiva o desenvolvimento de ferramentas

para avaliação interna do montante de capital necessário, bem como um papel ativo da

supervisão para determinar os níveis adequados de capital para cada instituição.

“O segundo pilar toma como base quatro princípios relacionados, por um lado, à existência de processos nas instituições financeiras para determinação das necessidades de capital e, por outro, ao papel da supervisão na avaliação desses processos, bem como dos níveis de capital

Page 48: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

48

considerados adequados a cada instituição financeira, dando ênfase à importância da supervisão para garantir a manutenção desses níveis de capital.” (GARCIA, 2003).

3.2.1.3.O terceiro pilar

No terceiro pilar é tratada a questão da transparência como a base da

disciplina de mercado. Neste, o comitê exige que as instituições financeiras sejam

transparentes quanto a sua exposição a riscos, com a visão de que quanto maior o nível de

informação disponível aos agentes de mercado menores as perdas decorrentes de falências

bancárias.

O primeiro pilar da Basiléia 2 diz respeito à relação entre capital requerido e

nível de exposição a riscos, o que está diretamente ligado à estrutura de controle interno da

instituição uma vez que os controles internos são ferramentas de gerenciamento de riscos.

Assim, conforme Duarte e Lelis (2004), “o princípio básico a nortear o processo de

alocação de capital deve se originar das exposições de riscos detectadas, exigindo maiores

níveis de capital para aquelas atividades/unidades que apresentem maiores exposições a

riscos”.

Para que o trabalho de alocação de capital seja realizado é necessário

conhecer os riscos da instituição para então criar os controles internos necessários para

minimiza- los. Desta forma o processo se inicia na identificação das principais unidades e

atividades da empresa, passando pela identificação dos riscos envolvidos nessas, para

então chegar à etapa de definição dos controles internos necessários para gerenciá- los.

São cinco os passos necessários para análise dos riscos em unidades das instituições. O primeiro passo envolve a divisão das unidades de negócios ou serviços. O segundo, diz respeito à identificação e descrição das

Page 49: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

49

principais atividades da rotina diárias das unidades. O terceiro passo é a identificação dos riscos envolvidos em cada atividade. Em quarto lugar é preciso detalhar todos os controles internos usados para mitigar os riscos. O quinto e último passo está relacionado à verificação da efetividade dos controles internos praticados, o que é feito em conjunto com a auditoria interna. (DUARTE e LÉLIS, 2004)

Para Moreira (2003), o sistema de controles internos do banco é essencial

para o processo de avaliação de risco, devendo atuar de maneira independente, segregada

e, quando apropriado, envolver as auditorias internas e externas. Compete à administração

do banco assegurar o estabelecimento e o cumprimento dos sistemas de controles internos,

verificando, periodicamente, sua adequação à conduta prudente dos negócios do banco.

Segundo Duarte e Lelis (2003) a mensagem mais importante colocada pelo

Novo Acordo de Capitais da Basiléia é que as instituições financeiras devem buscar, de

forma espontânea, avanços em seus controles internos para identificação, quantificação e

gestão de riscos.

De acordo com Xavier (2003), “a nova estrutura pretende aperfeiçoar a

saúde e segurança no sistema financeiro dando mais ênfase nos controles internos e

gerenciamento dos bancos, no processo de revisão da supervisão e na disciplina de

mercado”.

3.2.2. Banco Central do Brasil: Comunicado 12.746

No Brasil, o Banco Central, com comunicado 12.746 de 09/12/2004

divulgou os procedimentos para implantação da nova estrutura de capital tendo em vista as

recomendações do Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia, Basiléia 2, que trata do

estabelecimento de critérios mais adequados ao nível de riscos associados às operações

conduzidas pelas instituições financeiras para fins de requerimento de capital

Page 50: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

50

regulamentar, tais procedimentos observam as diretrizes do comitê, adaptadas às

peculiaridades do mercado brasileiro.

O Banco Central determina que para cálculo de capital referente a risco de

crédito, não utilizará ratings6 divulgados por empresas externas de classificação de risco de

crédito, considera também que a maioria das instituições brasileiras utilizará a abordagem

padrão simplificada, com exceção das instituições de maior porte que poderá optar pela

utilização de abordagem mais avançada. Quanto a metodologia a ser utilizada para cálculo

de capital para cobrir os riscos operacionais o Bacen divulga que está em estudo e testes.

Para risco de mercado, o requerimento de capital passa a considerar as exposições aos

riscos ainda não contemplados hoje, e será permitida utilização de modelos internos.

Além disso, o Banco Central do Brasil desenvolveu um planejamento, que

direciona as ações primordialmente ao Pilar 1 (Exigências mínimas de capital), porém,

cada ação terá correspondência também ao pilar 2 (Processos de Supervisão) e ao pilar 3

(Transparência e Disciplina de Mercado).

O planejamento para a implementação da nova estrutura vai de 2005 a

2011, conforme descrito abaixo:

• 2005 - será feita uma revisão dos requerimentos de capital para risco de

crédito, introdução de parcelas de requerimento de capital para risco de mercado e estudos

referentes ao risco operacional.

• 2007 - serão estabelecidos critérios de elegibilidade para adoção de

modelos internos para risco de mercado, implementada abordagem para classificação

interna para risco de crédito, bem como estabelecimento de parcela de capital mínimo para

risco operacional.

6 A classificação de risco de um banco, de um país ou de um ativo feita por uma empresa especializada.

Page 51: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

51

• 2008-2009 - serão validados modelos internos para risco de mercado,

determinado cronograma para validar classificação interna de risco de crédito e divulgação

de critérios de modelos internos para risco operacional;

• 2009-2010 - serão validados sistemas de classificação interna avançada

para risco de crédito e estabelecimento de cronograma para validar abordagem avançada de

risco operacional;

• 2010-2011 - serão validadas metodologias internas de apuração de

requerimento de capital para risco operacional.

Segundo Gomes (2003), no Brasil com a hiperinflação da década de 80 e

inicio de 90, o processo de reestruturação das instituições financeiras sofreu algum atraso

em relação aos observados nos países mais desenvolvidos. Em contrapartida, após o plano

real, em 94, o aumento de participantes estrangeiros no sistema bancário fez com que o

nível de sofisticação dos controles ficasse muito próximo dos mercados mais

desenvolvidos.

O exemplo da evolução nacional em função das práticas internacionalmente

adotadas é a resolução 2.099 de 1994, criada pelo Banco Central do Brasil como sendo o

ponto inicial de requerimento de capital mínimo, conseqüência do Acordo de Capitais da

Basiléia de 1988, que posteriormente foi alterada por outras resoluções.

“Várias outras resoluções e circulares alteraram, acrescentaram e completaram a 2.099 para o requerimento de capital mínimo, evoluindo em direção a exigências mais rigorosas, refletidas na alteração de fatores de risco, nos níveis de alavancagem e na incorporação de elementos de riscos de mercado. Essa evolução deixa clara não somente a extrema importância do papel do capital nas instituições financeiras brasileiras, como também a existência de um constante monitoramento do ambiente em que as mesmas operam e uma evidente preocupação com a elevação do grau de solidez e fortalecimento do sistema financeiro nacional”.

(DUARTE e LÉLIS, 2003)

Page 52: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

52

A grande contribuição do Banco Central para o mercado financeiro

brasileiro em relação ao controles internos está na emissão da resolução 2.554 de

24/09/1998, que trata de implementação de controles internos nas instituições financeiras.

3.2.3. Banco Central do Brasil: Resolução 2.554

No Brasil a resolução 2.554 do Bacen, de 24/09/1998 regulamenta as

instituições financeiras quanto à implantação e implementação de controles internos de

seus sistemas de informações financeiras, operacionais e gerenciais e o cumprimento das

normas legais e regulamentares aplicáveis.

Com a resolução 2.554, o Banco Central do Brasil introduziu o conceito de

controles internos nas instituições financeiras brasileiras, passando a exigir

estabelecimento de estrutura de um sistema de controles de procedimentos internos

consistente com a complexidade e riscos das operações realizadas pela instituição, sendo

estes de responsabilidade da diretoria, tanto na implantação quanto na verificação do

cumprimento.

Os controles internos devem prever forma de identificar fatores internos ou

externos que possam afetar os objetivos da instituição, bem como realização de testes

periódicos de segurança para os sistemas de informação.

A resolução 2.554 ressalta que a atividade de auditoria interna deve fazer

parte do sistema de controle interno, sendo diretamente subordinada ao conselho de

administração, e quando não for executada por unidade da própria instituição ou do mesmo

conglomerado financeiro, poderá ser exercida: por auditor independente registrado na

CVM (Comissão de Valores Mobiliários), desde que não seja o responsável pela auditoria

das demonstrações financeiras; pela auditoria da entidade ou associação de classe ou de

órgão central a que é filiada a instituição; por auditoria de entidade ou associação de classe

Page 53: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

53

de outras instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central, mediante convênio,

previamente aprovado.

O acompanhamento das atividades dos controles internos deve gerar

relatório no mínimo semestral, sendo as conclusões e recomendações submetidas ao

conselho de administração e à auditoria externa que fará menção em seus pareceres sobre o

cronograma de implantação dos controles internos.

3.3. Controles Internos para seguradoras

Para as sociedades seguradoras, sociedade de capitalização e entidades

abertas de previdência complementar, a Circular SUSEP (Superintendência de Seguros

Privados) 249 de 20/02/2004, dispõe sobre a implantação e implementação de sistema de

controles internos e os procedimentos de suas atividades, de seus sistemas de informações

e do cumprimento das normas legais e regulamentares a elas aplicáveis.

Para implantação dos controles internos, a 249 exige que sejam consistentes

com a complexidade e risco das operações realizadas pela seguradora, sendo de

responsabilidade da diretoria, tanto a implantação quando o acompanhamento e verificação

do cumprimento destes. Os controles internos devem fornecer meios de identificar e

avaliar fatores internos e externos que possam prejudicar os objetivos da sociedade ou

entidade, bem como prever realização de testes periódicos de segurança para os sistemas

de informação.

A circular 249 acrescenta que a auditoria interna deve fazer parte do sistema

de controles internos, estar diretamente subordinada ao conselho de administração, sendo

que quando não for executada por unidade especifica da própria entidade ou integrante do

mesmo conglomerado financeiro, poderá ser exercida por auditor independente, desde que

não seja aquele responsável pela auditoria das demonstrações financeiras.

Page 54: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

54

A circular 249, determina ainda como forma de fortalecer os sistemas de

controles internos, que seja definido um diretor responsável por estes, bem como que as

informações enviadas à SUSEP, constantes de sistemas informatizados, deverão estar

acompanhadas de declaração assinada por dois diretores, atestando a veracidade e a

fidedignidade das mesmas.

Da mesma forma que na 2.554, a 249 exige que o acompanhamento das

atividades dos controles internos deve ser objeto de relatório no mínimo semestral, sendo

as conclusões e recomendações submetidas ao conselho de administração bem com à

auditoria externa que deverá fazer menção em seus pareceres sobre o cronograma

estabelecido. Para seguradoras os critérios para emissão de relatórios sobre os controles

internos estão previstos na circular SUSEP 280 de 30/12/2004, conforme descrito no item

referente à transparência para seguradoras.

3.4. Comentários finais sobre controles internos

Os controles internos podem ser considerados uma poderosa ferramenta

preventiva que permite as empresas conhecerem melhor seus pontos fracos e vulneráveis

para que os riscos existentes sejam controlados e estejam sempre em níveis adequados. É

através dos controles internos eficazes que as empresas podem gerir seus riscos de forma

efetiva.

Na Lei Sarbanes-Oxley a seção 404 trata diretamente da efetividade dos

controles internos relacionados à emissão dos relatórios financeiros, com destaque para a

definição de responsabilidade sobre a efetividade dos controles ser da administração da

empresa, sendo ainda certificados pelo auditor externo.

As seções 302, 409 e 802 são também relacionadas aos controles internos.

A 302 requer certificação dos controles internos pelo principal executivo e diretor

Page 55: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

55

financeiro. A 409 requer procedimentos internos para divulgação rápida de mudanças

materiais nas condições financeiras e operacionais. A 802 requer que a empresa de

contabilidade registrada mantenha por sete anos os documentos de auditoria.

O Novo Acordo de Capitais da Basiléia, mas precisamente no Pilar 1, traz a

abordagem de controles internos ao exigir capital mínimo regulamentar a ser calculado

pela instituição financeira considerando os riscos incorridos pela mesma. Assim a

definição de uma adequada estrutura de controles internos deve ser implementada de forma

a minimizar os riscos conhecidos, de mercado, crédito e nesse novo acordo foi incorporado

o risco operacional como forma de reduzir o montante de capital mínimo exigido.

Conforme exposto por Moreira (2003), o Comitê da Basiléia vem buscando

constantemente, mecanismos de aperfeiçoamento das práticas bancárias, de procedimentos

de supervisão, por meio de redução de riscos, melhoria de controles internos, entre outras

abordagens. Com isso, reforça ainda mais a tendência de investimento nos controles

internos das instituições e empresas, bem como dos órgãos reguladores em exigir cada vez

mais ações neste sentido.

Seguindo as exigências do Novo Acordo de Capitais da Basiléia, o Banco

Central do Brasil com o Comunicado 12.746 define um planejamento para implantação de

critérios que atendem basicamente ao pilar 1. Porém, no Brasil a grande contribuição em

termos de controles internos para instituições financeiras é a resolução 2.554 enquanto para

as seguradoras é aplicável a circular 249.

Com a resolução 2.554 de 24/09/1998 o Bacen passa a exigir que

instituições financeiras possuam sistemas de controles internos com definição de uma

pessoa responsável por estes, reportando-se diretamente ao conselho de administração ou à

diretoria da instituição, separada do órgão de auditoria interna, o que é bastante semelhante

aos procedimentos adotados em alguns países desenvolvidos.

Page 56: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

56

Para seguradoras, seis anos depois, em 20/02/2004, foi elaborada a circular

SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) 249, com exigências e proposta bem

alinhada com a resolução 2.554.

Fazendo a relação das exigências sobre controles internos entre empresas,

Sarbanes-Oxley, bancos, 2.554, e seguradores 249, podem ser identificadas exigências

comuns, tendo como pontos principais:

• É responsabilidade da diretoria, estabelecer e manter sistema de

controles internos;

• Os diretores avaliam a estrutura de controles internos;

• O auditor externo tem ligação com a implantação dos controles

internos, sendo que este na Sarbanes-Oxley deve atestar a avaliação feita pela

administração;

A Lei Sarbanes-Oxley apresenta ainda as seguintes exigências: elaboração de

procedimentos para divulgar mudanças materiais; manutenção de registros de auditoria por

empresas de contabilidade por sete anos; além de exigir que os diretores assinem os

relatórios das demonstrações financeiras anuais e trimestrais, garantindo que foram

revisadas e que retratam a realidade.

Para a 2.554 e 249 é exigido que a auditoria interna faça parte do sistema de

controle interno, e a 249 exige ainda que informações informatizadas sejam envidas

juntamente com declaração assinada por dois diretores sobre a sua veracidade.

A partir dessas informações percebemos que os controles internos fazem

parte do sistema de gerenciamento de risco das organizações e estão presentes de forma

bem próxima para empresas, bancos e seguradoras, ou seja, as exigências previstas na SOX

aparecem também nas regulamentações dos outros setores analisados.

Page 57: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

57

A tabela a seguir resume esquematicamente as conclusões do capítulo.

Empresas SOX 302, 404, 409 e 802

Seguradoras 249 - 20/02/2004

Bancos 2554 - 24/09/1998

Bancos Basiléia 2

Implantação de uma estrutura de controles internos Os diretores são responsáveis pelos controles internos Os diretores avaliam a estrutura de controles internos

O auditor externo tem responsabilidade sobre a implantação dos controles internos Auditoria interna faz parte do sistema de controle

interno

Auditor externo atesta a avaliação dos controles

internos feita pela diretoria

Procedimento interno para divulgar mudanças

Manutenção dos registros de auditoria

Assinatura nos relatórios das demonstrações financeiras

Relatório de controles internos nos relatórios anuais

Informações informatizadas com declaração assinada por

2 diretores

Metodologias para cálculo de capital mínimo

Tabela 3: Resumo sobre Controles Internos

Fonte: Levantamento feito pela autora

Page 58: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

58

4. TRANSPARÊNCIA

“Transparência pressupõe que a informação permite uma compreensão das exposições e riscos de uma empresa sem distorções... Transparência desafia os participantes de mercado não apenas a prover informações, mas também a dispor as informações no contexto que as torne significativas. Transparência exige dos participantes de mercado apresentar informações de forma que reflita os risco precisamente.” (BENEDITTO, 2006. Tradução livre de Greenspan, 2003)

A transparência é fundamental para restaurar a confiabilidade nos relatórios

financeiros e incentivar investidores a entrarem e se manterem no mercado. O

desenvolvimento do mercado de capitais é interesse público para que possibilite adequada

transferência de recursos, crescimento econômico e social. Para tanto, é extremamente

importante a credibilidade, sendo que o crescimento do mercado está diretamente

relacionado à confiança, que por sua vez dependente da preocupação das empresas e

órgãos reguladores em fornecer ao investidor acesso às informações necessárias para que

este tenha conhecimento do risco que está incorrendo.

Transparência tem sido o foco atual das empresas em todo o mundo, o

mercado exige cada vez mais e melhores informações e este é um caminho sem volta. Os

recentes escândalos em companhias americanas e em instituições financeiras justificam

esse cuidado. As informações precisam refletir com garantia as condições econômico-

financeiras das empresas, em todos os sentidos, não apenas em função da legislação.

Conforme exposto no Código das Melhores Práticas de Governança

Corporativa, IBGC, mais do que a obrigação de informar, a administração deve disseminar

o desejo de informar, sabendo que a boa comunicação interna e externa, principalmente

quando é espontânea, franca e rápida, resulta um clima de confiança, tanto internamente,

quanto nas relações da empresa com terceiros.

Page 59: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

59

O papel de exigir informações fidedignas, tempestivas e amplas não é exclusiva dos órgãos reguladores, os investidores têm instrumentos de pressão capazes de mover eventuais barreiras na direção de um bom entendimento dos riscos. Contudo, cumpre a quem possui o poder de determinar a observação de certos padrões descrever o conjunto de regras que permita a melhor transparência e compreensão dos riscos. (AGUIAR e PARENTE, 2003)

Segundo Moreira (2005), os participantes do mercado tornam-se os maiores

beneficiários dessa transparência, pois podem avaliar melhor o desempenho financeiro de

cada instituição, aumentando sua credibilidade e capacidade em administrar e gerenciar

posições de risco.

Todo investimento nos mercados financeiro e de capital envolve risco.

Conforme destacado por Lobianco (2003), o grau de risco em que incorre o investidor no

mercado de valores mobiliários, vai depender em grande parte do nível de informação de

que ele disponha sobre o tipo de operação de que deseja participar.

4.1. Transparência na Lei Sarbanes-Oxley

Na Lei Sarbanes-Oxley a transparência é enfatizada de várias maneiras,

podendo ser citadas as seções 302 e 404 como as mais enfáticas, as quais tratam

respectivamente de responsabilidade corporativa nos relatórios financeiros e avaliação do

gerenciamento dos controles internos.

Desta forma, a lei intensifica as conferências internas e aumenta a

responsabilidade dos executivos com o simples objetivo de garantir que as empresas sejam

cada vez mais transparentes, garantindo que os investidores tenham mais acesso às

informações em quantidade e qualidade, em tempo hábil para tomar suas decisões.

Page 60: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

60

A relação entre transparência e controles internos é bem próxima. Os

controles internos contribuem com o objetivo de garantir maior credibilidade nas

informações divulgadas.

Maior transparência na SOX pode ser traduzida em: responsabilidade da

administração pelas informações financeiras; divulgação imediata de fatos relevantes; mais

informação no que se refere a transações off-balance sheet; e divulgação sobre a existência

de um código de ética ou explicações pela não existência.

4.1.1. Responsabilidade corporativa pelos relatórios financeiros

Na seção 302, certificação trimestral e anual dos controles e procedimentos

de divulgação, é imposto novos níveis de responsabilidade ao presidente e diretor

financeiro. Nesta, é exigindo que certifiquem pessoalmente, assinando os relatórios

declarando que as demonstrações financeiras, anuais e trimestrais, foram revisadas, que

não contêm declarações falsas ou omissões de informações significativas, e que retratam

em todos os sentidos as condições financeiras e os resultados operacionais reais da

empresa.

O diretor presidente e o diretor financeiro são responsáveis por estabelecer e

manter um sistema de controle interno, fazendo avaliação destes trimestralmente

apresentando suas conclusões para a emissão do relatório das demonstrações financeiras.

Quaisquer mudanças significativas nos controles internos ou em outros

fatores que os afetem, incluindo qualquer ação corretiva relacionada com deficiências

significativas e fraquezas materiais devem ser indicadas no relatório. Todas as deficiências

nos controles internos, bem como as fraudes envolvendo funcionários da administração ou

que desempenham papel importante nos controles internos, devem ser divulgadas ao

auditor independente e ao comitê de auditoria.

Page 61: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

61

4.1.2. Divulgação da efetividade dos controles internos

A seção 404 da lei exige que a avaliação do gerenciamento dos controles

internos feita pela administração seja divulgada nos relatórios anuais a partir de um

relatório específico. Desta forma, a administração emite relatório da efetividade dos

controles internos, a ser divulgado no relatório financeiro, declarando sua avaliação e

conclusões, o qual deve conter:

• Menção que é de responsabilidade da administração o estabelecimento

e a manutenção de uma estrutura e procedimentos adequados de controles internos para o

relatório financeiro;

• Menção da estrutura de controles internos utilizada pela administração

para avaliar a eficácia dos mesmos para o relatório financeiro (ex: COSO);

• Uma avaliação pela administração, na data do encerramento do

exercício social da empresa, sobre a eficácia dos controles internos relacionados ao

relatório financeiro.

A lei exige ainda que o auditor independente preencha um relatório

individual atestando a avaliação da administração sobre a eficácia dos controles e

procedimentos internos para a emissão dos relatórios financeiros.

Como sugerido em Lei Sarbanes-Oxley, Guia para melhorar a governança

corporativa através de eficazes controles internos da Deloitte Touche (2003), as

determinações das seções 302 e 404 da lei podem ser direcionadas através de uma única

metodologia. Um programa de controles internos que focaliza simultaneamente a

divulgação e a emissão de relatórios financeiros pode atender as exigências trimestrais da

seção 302 e as exigências anuais da seção 404, bem como cumprir as necessidades dos

auditores independentes para executar seus procedimentos de certificação. A reivindicação

para um alinhamento mais próximo das exigências das duas seções tem sido unânime entre

Page 62: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

62

a comunicação empresarial e a maioria dos observadores espera que a SEC continue

caminhando nessa direção.

4.2. Transparência nas instituições financeiras

4.2.1. O Novo Acordo de Capitais da Basiléia

Relacionando a importância da transparência na Sarbanes-Oxley com outras

regulamentações do mercado, esta é destacada também pelo Comitê da Basiléia.

Primeiramente, com a divulgação do documento “Enhancing Bank Transparency”,

abordando de forma enfática a questão da transparência nas instituições financeiras, e mais

recentemente com o Novo Acordo de Capitais da Basiléia ou Basiléia 2, que trata da

transparência no pilar 3.

Em 1998, o Comitê divulgou o documento intitulado “Enhancing Bank

Transparency”, cujo objetivo era pontuar os papéis que tanto o órgão supervisor quanto o

mercado deveriam exercer. Exposto em Xavier, 2003 “A publicação deste documento é

baseada no reconhecimento que os mercados contêm mecanismos disciplinares que podem

reforçar os esforços dos supervisores, premiando os bancos que gerenciam seus riscos

eficazmente e penalizando aqueles cujo gerenciamento dos riscos é inepto ou imprudente”.

Nessa publicação, transparência é definida como divulgação pública de informações reais

em tempo oportuno que permitem ao usuário fazer avaliação apurada das condições e

desempenho financeiro do banco, atividades de negócios, perfil de risco e práticas de

gerenciamento de risco.

Essa definição nos faz perceber que a divulgação de informação por si só

não significa transparência, para fornecer transparência, o banco precisa divulgar

informações relevantes com acuidade, no tempo certo e que permitam o usuário tirar suas

próprias conclusões da situação da instituição.

Page 63: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

63

A Basiléia 2, conforme exposto anteriormente é composta de três pilares,

sendo que no terceiro pilar é tratada a questão da transparência como a base da disciplina

de mercado. Esse pilar pretende reforçar a importância da disciplina de mercado e de altos

níveis de transparência, gerando maiores níveis de informações aos agentes de mercado e

minimizando as perdas decorrentes de falências bancárias.

“Transparência é, portanto, a palavra-chave da disciplina do mercado. A divulgação pública, confiável e tempestiva de informações, atingindo aspectos qualitativos e quantitativos, que permita a seus usuários uma análise detalhada e completa sobre a performance, atividade, perfil de risco e práticas gerenciais de uma instituição financeira, é, para o Comitê, fundamental para uma supervisão bancária robusta, capaz de antecipar problemas em uma instituição ou no próprio sistema bancário como um todo”.

(MOREIRA, 2003)

De forma geral, o novo acordo aborda a questão da transparência em todos

os pilares, a utilização de modelos internos para definição do capital mínimo (pilar 1),

eleva o grau de transparência uma vez que a metodologia utilizada para cálculo de capital

pretende refletir o perfil de risco de cada instituição. Duarte e Lélis (2004) destacam que

“uma alocação de capital bem realizada traz maior segurança e transparência às atividades

da instituição financeira”. Em relação ao pilar 2, supervisão, o comitê incentiva esforços

dos supervisores para obterem informações de alta qualidade, as quais devem servir de

base para cumprirem sua missão e enriquecerem o público de informações, este é o

caminho para chegar à transparência, pilar 3.

“Para melhor complementar os mecanismos de transparência e divulgação, os supervisores devem exigir estreito cumprimento dos controles internos, mediante cooperação das auditorias internas e externas da instituição financeira, incentivando contínuos aperfeiçoamentos em práticas de auditoria e desenvolvimento de padrões éticos”. (MOREIRA, 2003)

Page 64: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

64

Moreira (2003) comenta que a razão para aplicação do pilar 3 é forte o

suficiente para assegurar a aplicação de exigências de divulgações obrigatória, com claras

sanções para a sua não-divulgação. As divulgações de informações devem servir de

ferramenta para sustentar as exigências mínimas de capital do pilar 1 e melhorar o processo

de supervisão bancária do pilar 2. Moreira (2003) ressalta ainda que o descumprimento dos

bancos às recomendações de divulgação do pilar 3 deve exigir, dos supervisores respostas

compatíveis à gravidade da não-observância.

No pilar 2, processo de revisão da supervisão cumpre aos supervisores

garantir que cada banco possua processos internos capazes de aferir a adequação de capital.

O documento afirma ainda que é responsabilidade da alta administração desenvolver e por

em prática metodologias transparentes e compreensíveis, para que o supervisor verifique a

adequação do capital da instituição.

4.2.2. Banco Central do Brasil: Comunicado 12.746

Conforme descrito anteriormente, no Brasil para as instituições financeiras,

o Banco Central, com comunicado 12.746 de 09/12/2004 divulgou os procedimentos para

implantação da nova estrutura de capital tendo em vista as recomendações do Comitê de

Supervisão Bancária da Basiléia, Basiléia 2. Este comunicado contém um planejamento,

que, apesar de as ações estarem focadas no pilar 1 (Exigências mínimas de capital),

também terão impacto no pilar 2 (Supervisão) e no pilar 3 (Disciplina de Mercado).

Conforme exposto por Garcia (2003), “a utilização de modelos internos

para cálculo de capital estará também associada a maiores níveis de transparência”. Então,

apesar das exigências do comunicado estar voltado para ao pilar 1, capital mínimo, este

reflete também na transparência. Porém, percebemos que ainda existe muito a evoluir no

aspecto do Banco Central comunicar procedimentos com foco na transparência em função

Page 65: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

65

da Basiléia 2. De certa forma, a resolução 2.554 de 24/09/1998, que trata de controles

internos nas instituições financeiras, contribui com a exigência de questões sobre

transparência para as instituições financeiras.

4.2.3. Banco Central do Brasil: Resolução 2.554

A resolução 2.554 do Bacen, de 24/09/1998 que regulamenta as instituições

financeiras brasileiras quanto à implantação e implementação de controles internos de seus

sistemas de informações financeiras, operacionais e gerenciais e o cumprimento das

normas legais e regulamentares aplicáveis, destaca em alguns aspectos a questão da

transparência.

É exigido que o sistema de controles internos seja estabelecido de maneira

acessível, clara e objetiva, assegurando que seja do conhecimento de todos os funcionários,

com definição de responsabilidade e segregação das atividades, de maneira a evitar

conflitos de interesse. É definida também a necessidade de canais de comunicação que

assegurem informações necessárias aos funcionários para realização de suas tarefas.

Além disso, é obrigatória a emissão de relatório no mínimo semestral,

contendo conclusões e recomendações a respeito dos controles internos, sendo reportado

diretamente ao Conselho de Administração e à auditoria externa que emite em seu parecer

as condições relativas ao cronograma dos controles internos.

Outra questão relacionada à transparência é evidenciada quando a resolução

2.554 cita que a diretoria da instituição é responsável por promover elevados padrões

éticos, de integr idade e de cultura organizacional que demonstre e enfatize a todos os

funcionários a importância dos controles internos e o papel de cada um dentro do processo.

Page 66: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

66

Essa iniciativa do Banco Central vem a reforçar a importância da

transparência para assegurar acesso às informações confiáveis e compreensíveis, bem

como o acompanhamento nacional das tendências mundiais.

4.3. Transparência para seguradoras

Para as sociedades seguradoras, sociedade de capitalização e entidades

abertas de previdência complementar, da mesma forma que para as instituições financeiras,

a mesma circular que trata dos sistemas de controles internos destaca pontos que

contribuem para a transparência.

A Circular SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) 249 de

20/02/2004, destaca que os controles internos devem ser acessíveis a todos os funcionários,

sendo que as responsabilidades e atividades distribuídas devem ser definidas evitando

conflito de interesses, bem como os canais de comunicação devem assegurar acesso às

informações necessárias ao desempenho de cada função.

As atividades relacionadas ao sistema de controle interno, da mesma forma

que na resolução 2.554, devem ser objeto de relatório no mínimo semestral, contendo

conclusões e recomendações, sendo reportado diretamente ao Conselho de Administração

e à auditoria externa que também faz menção em seu parecer sobre as condições do

cronograma de controles internos. Também, da mesma forma que na resolução 2.554, a

circular 249, ressalta que a diretoria da instituição é responsável por promover elevados

padrões éticos, de integridade e de cultura organizacional que demonstre e enfatize a todos

os funcionários a importância dos controles internos e o papel de cada um dentro do

processo.

A circular 249, determina ainda que as informações enviadas à SUSEP,

constantes de sistemas informatizados, deverão estar acompanhadas de declaração assinada

Page 67: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

67

por dois diretores, atestando a veracidade e a fidedignidade das mesmas. Além disso,

deverá ser indicado o nome do diretor responsável pelos controles internos.

Para seguradoras, existe também a circular SUSEP 280 de 30/12/2004 que

estabelece procedimentos mínimos para a emissão do relatório sobre a adequação dos

controles internos e relatório sobre o descumprimento de dispositivos legais e

regulamentares, quando da auditoria externa.

Este relatório deverá avaliar a eficácia e a eficiência dos controles internos

em relação aos riscos suportados, destacando as deficiências encontradas, levando em

consideração os principais processos existentes na sociedade e abordando o ambiente de

controle, a avaliação de riscos, as atividades e procedimentos de controle, os processos de

informação e comunicação, e a monitoração.

A avaliação do ambiente de controle deverá incluir fatores como integridade

e valores éticos, competência e experiência dos administradores, planejamento estratégico,

aspectos de governança e estrutura organizacional, estilo e filosofia de administração,

atribuição de responsabilidades, práticas e políticas de recursos humanos.

A análise da avaliação de risco deve incluir a capacidade da sociedade

supervisionada na análise de fatores internos e externos, e de levar em consideração a

probabilidade de ocorrência e o impacto nas operações.

Os processos de informação e comunicação devem permitir que todos os

funcionários entendam suas responsabilidades na estrutura de controles internos, e

entendam também como as suas atividades estão relacionadas às dos outros. A avaliação

do monitoramento deve levar em consideração a independência da auditoria interna, a

freqüência das inspeções e a implementação de recomendações pela sociedade

supervisionada.

Page 68: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

68

4.4. Transparência na BOVESPA (Bolsa de Valores de São Paulo)

Um outro exemplo do foco na transparência é a criação pela Bovespa dos

vários níveis de governança corporativa, classificando as empresas em Níveis 1, 2 ou no

Novo Mercado, de acordo com seu grau de transparência.

A adesão ao novo mercado está condicionada à emissão somente de ações

ordinárias, um free-float7 mínimo de 25%; adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado

para a solução de conflitos; e tag-along8 dentre outras condições. Como as regras para

adesão ao Novo Mercado são bastante restritivas, a Bovespa criou outros dois níveis de

governança denominados Nível 1 e 2.

Com adoção dessas regras, o objetivo é, gradativamente, migrar as

empresas para o Novo Mercado, que é composto por empresas que se comprometem,

voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa e transparência

adicional em relação ao que é exigido pela legislação. Sendo assim, a Bovespa abre uma

nova frente de atuação visando o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro,

oferecendo para as empresas uma excelente oportunidade para a captação de recursos a

custos competitivos e para os aplicadores um mercado mais seguro para o investimento de

longo prazo, através de um relacionamento cada vez mais transparente com o investidor.

Segundo Carvalho, 2003 “a migração tem impacto sobre a valorização das

ações (existência de retornos anormais positivos), aumenta o volume de negociação e

aumenta a liquidez”.

7 Quantidade de ações de uma empresa disponível para negociação em mercados organizados. 8 Direito de alienação de ações conferido a acionistas minoritários, em caso de alienação de ações realizada pelos controladores da companhia.

Page 69: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

69

4.5. Comentários finais sobre transparência

A maior transparência das informações e a melhor orientação dos

investidores somente podem trazer benefícios ao mercado em geral, tornando-o maior,

mais eficiente e mais desenvolvido. Essa é a cultura que as exigências regulamentares

pretendem incorporar ao mercado, porém o papel de exigir mais e melhores informações

não é apenas dos órgãos regulamentares, cabendo também aos investidores o papel de

reconhecer a valorizar as empresas que adotam prática de transparência na sua gestão.

Essa é a idéia dos níveis de governança corporativa definidos pela Bovespa,

que busca classificar as empresas de acordo com seu nível de transparência, permitindo ao

investidor optar ou não por aquelas que realmente se preocupam em fornecer informações

além do exigido pela legislação, e permitindo às empresas captar recursos a custos

menores.

O Novo Acordo de Capitais da Basiléia traz a transparência como base da

disciplina de mercado, pilar 3. O objetivo neste caso é incentivar as instituições financeiras

a divulgarem além das informações exigidas, com a mentalidade de que mais importante

que a divulgação por força legal é a iniciativa do desejo de informar sem obrigação.

A transparência das informações é base para definição de capital mínimo

(pilar 1) e contribui com a supervisão bancária (pilar 2), além de contribuir com os agentes

de mercado e reduzir perdas por quebra nas instituições financeiras.

Outra demonstração de preocupação com a transparência exposta pelo

Comitê da Basiléia foi em 1998 com a publicação do documento intitulado “Enhancing

Bank Transparency”, o que demonstra que há algum tempo esse tema está em pauta no

mercado e a cada dia as exigências e as práticas são no sentido de fornecer informações

com qualidade.

Page 70: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

70

Para a comparação realizada entre os mercados de empresas, bancos e

seguradoras foram analisadas, o Novo Acordo de Capitais da Basiléia, os níveis de

governança da Bovespa, conformes descritos acima. Além das seções 302 e 404 da Lei

Sarbanes-Oxley que direcionou as análises, bem como a resolução 2.554 do Bacen e as

circulares da SUSEP 249 e 280, que têm como pontos em comum, as seguintes exigências:

• Emissão de relatórios sobre os controles internos pelos diretores;

• Acompanhamento pela emissão dos relatórios dos controles internos

pela auditoria externa, sendo que na Sarbanes-Oxley estes devem ainda preencher um

relatório individual atestando a avaliação da administração sobre os controles internos;

• A Lei Sarbanes-Oxley exige a seleção de uma estrutura apropriada de

controles internos, e as resoluções 2.554 e 249, exige que os controles internos sejam

acessíveis, com definição de responsabilidade e separação das atividades, para evitar

conflitos de interesse;

Existe ainda em comum entre a 2.554 e 249: A diretoria da instituição é

responsável por promover elevados padrões éticos, de integridade e de cultura

organizacional que enfatize a importância dos controles internos e o papel de cada um

dentro do processo; além de definição de cana is de comunicação que assegure acesso às

informações necessárias a cada tarefa.

A Lei Sarbanes-Oxley exige ainda, como forma de melhorar a

transparência: Assinatura dos diretores nos relatórios das demonstrações financeiras anuais

e trimestrais, garantindo que foram revisadas e retratam a realidade; divulgação, ao auditor

independente e ao comitê de auditoria, das deficiências nos controles internos, e as fraudes

identificadas; e inclusão nos relatórios anuais de um relatório sobre os controles internos

emitido pelos diretores.

Page 71: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

71

A análise comparativa feita em termos da transparência identifica as

iniciativas e o esforço dos órgãos regulamentares que viabilizaram a existência de um

ambiente regulamentar adequado para que se aumentasse o grau de transparência. A

transparência de informações pode ser considerada questão básica para as empresas, uma

realidade que tende a se firmar e direcionar o mercado uma vez que a qualidade e a

quantidade das informações são pré-requisitos essenciais para suportar as decisões e a

administração de riscos.

A tabela a seguir resume esquematicamente as conclusões do capítulo.

Empresas SOX 302, 404, 409 e 802

Seguradoras 249 - 20/02/2004 280 - 30/12/2004

Bancos 2554 - 24/09/1998

Bancos Basiléia 2

Auditoria externa acompanha a emis são dos relatório dos controles internos Auditor externo atesta

avaliação da administração

Relatório de controles internos nos relatórios

anuais

Relatório de controles internos no mínimo semestral

Controles internos acessíveis e claros Diretoria promove padrões éticos Canal de comunicação que assegure informações

necessárias

Assinatura dos diretores nos relatórios financeiros

Informações informatizadas com

declaração assinada por 2 diretores

Divulgação de deficiências nos controles

internos ao comitê de auditoria e auditor

externo

Informações em quantidade e qualidade ao

público

Tabela 4: Resumo sobre Transparência

Fonte: Levantamento feito pela autora.

Page 72: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

72

5. COMITÊ DE AUDITORIA

O comitê de auditoria deve contribuir para disseminar e fortalecer uma

cultura de controle, ética, integridade e de melhoria na qualidade das informações

prestadas. Assim, o comitê de auditoria além de selecionar e supervisionar o auditor

independente da empresa deve revisar os relatórios financeiros para ver se estão completos

e precisos e proporcionar discussão entre a administração, auditores independentes e

auditores internos sobre questões relativas à integridade.

“Os comitês de auditoria vieram para ficar. É das coisas mais sérias que já vi serem criadas nesse país a serviço da qualidade dos demonstrativos financeiros e da certeza de que o administrador e / ou o controlador cumprem disposições legais e regulamentares, ou ainda que o auditor externo age com independência e a auditoria interna é efetiva e cumpre seu papel”. (FERREIRA, 2005)

O objetivo do comitê de auditoria deve ser, no mínimo, auxiliar o Conselho

de Administração na supervisão da integridade das demonstrações financeiras, da

adequação da empresa com as exigências de leis e regulamentos, da independência e das

qualificações e do desempenho do auditor independente, e da função de auditoria interna

da empresa. Desta forma, o papel do comitê de auditoria é fundamental para que as

informações divulgadas, e os procedimentos e controles internos utilizados para obtê- las,

atendam à expectativa dos usuários, de confiabilidade e clareza. Esse papel só pode ser

cumprido se os membros do comitê, responsáveis pela fiscalização da administração, estão

tecnicamente preparados para o desempenho de suas funções, conhecem as regras que

disciplinam sua conduta e têm capacidade de perceber a relevância ética de sua atuação.

Um comitê eficaz geralmente apregoa uma relação aberta e cooperativa com

o conselho de administração, a gerência e os auditores internos e externos. Eles recebem

Page 73: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

73

informações da administração a respeito de mudanças nos negócios e nos fatores de risco

em um determinado período e analisam outras informações sobre tendência de indústria,

estimativas contábeis e variações de orçamento. Quanto aos auditores internos, o comitê de

auditoria deve estar ativamente envolvido na supervisão, considerando a natureza e o

escopo de seu trabalho, assim como sua qualificação, seu tamanho e seus recursos. O

comitê deve estar a par da coordenação entre o auditor interno e o auditor externo.

“O comitê de auditoria é, indiscutivelmente, um importante instrumento de gestão à disposição do Conselho de Administração, na medida em que engloba atividades relevantes no processo de supervisão, tais como: (i) assegurar a qualidade dos controles internos que suportam as divulgações financeiras prestadas ao mercado; (ii) incentivar uma eficaz comunicação entre os órgãos corporativos internos e externos; (iii) acompanhar a adesão da companhia aos regulamentos aplicáveis, inclusive códigos de ética e conduta; e (iv) proteger os interesses de acionistas e demais partes interessadas.” (ALVES, 2005)

5.1. Comitê de Auditoria na Lei Sarbanes-Oxley

A Lei Sarbanes-Oxley vem trazer uma renovação de foco na atuação dos

comitês de auditoria. Uma renovação, uma vez que a mais de 40 anos, os mercados norte-

americano e europeu já requerem a existência de comitê de auditoria na sua estrutura de

governança, atuando como gestor de risco e meio de comunicação entre o conselho de

administração, auditores externos e internos.

A partir de 2002, com a Lei Sarbanes-Oxley, mas especificamente com a

seção 301, é ampliada a existência do comitê, determinando que todas as empresas de

capital aberto, com registro na SEC, com ações cotadas na bolsa norte-americana,

implementem um comitê de auditoria.

No Brasil, nos últimos 40 anos, as sociedades anônimas, têm na sua

estrutura de supervisão o conselho fiscal. Desta forma, as empresas brasileiras com registro

Page 74: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

74

na bolsa de Nova York foram autorizadas a utilizar o conselho fiscal para desempenhar as

funções do comitê de auditoria, conforme definidas na Lei Sarbanes-Oxley.

Porém, ao optarem por não constituírem comitê de auditoria, substituindo-o

pelo conselho fiscal, algumas questões devem ser analisadas, por exemplo, o comitê de

auditoria é um órgão vinculado ao conselho de administração, já o conselho fiscal deve ser

desvinculado à administração, por ter o papel de fiscalizá- la. Desta forma, as empresas

brasileiras que optarem por não constituírem comitê de auditoria devem fazer alguns

ajustes, além disso, os órgãos reguladores norte-americanos exigem que as diferenças entre

o modelo adotado no Brasil e o previsto pela Sarbanes-Oxley sejam mencionados nos

relatórios periódicos. Assim, existem desafios a serem enfrentados:

“Atender aos critérios de independência dos membros dos Conselhos de Administração, exigindo adequação que podem até mesmo determinar a mudança de membros do conselho; identificar um membro com o conhecimento e experiência exigidos para um especialista financeiro; conciliar aspectos da legislação societária com respeito às atribuições do conselho fiscal e do comitê de auditoria, que são determinadas pelas leis norte-americanas; conciliar a cultura empresarial brasileira, cuja estrutura societária é em geral concentrada em blocos de controle nas mãos de poucos acionistas, com delegação de poder ao comitê de auditoria, cujo conceito é focado na cultura norte-americana de controle pulverizado”. (SUTTON, 2005)

As diferenças entre as estruturas exigidas pela Lei Sarbanes-Oxley em

relação à administração das empresas com a presença do comitê de auditoria e a adotada

no Brasil pelas empresas que optam por não implementarem o comitê, podem ser

visualizadas e resumidas conforme a seguir:

Page 75: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

75

Figura 2: Diferença entre estruturas Brasil x EUA

Fonte: Lei Sarbanes-Oxley: Treinamento e Workshop – KPMG, 2006.

De forma resumida, os poderes e as responsabilidades do comitê de

auditoria são:

• Nomear os auditores externos;

• Aprovar ou não os serviços de não auditoria a serem contratados dos

auditores externos;

• Receber relatórios periódicos do auditor externo sobre:

ü As políticas contábeis mais significativas;

ü Alternativas à utilização de um princípio contábil; e

ü Discussões relevantes com a diretoria.

• Resolver divergências entre os auditores externos e a diretoria;

Brasil EUA

Acionistas Acionistas

Conselho de Administração

ConselhoFiscal

Conselho de Administração

Auditoria Interna/Externa

Auditoria Interna/Externa

Comitê deAuditoria

Diretoria Diretoria

Page 76: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

76

• Estabelecer procedimentos a serem informados e o tratamento a ser

dado às eventuais denúncias contra a administração;

• Ter a autoridade e os recursos necessários para contratar advogados e

consultores, independentemente da diretoria.

Por outro lado os deveres do Conselho Fiscal, no geral, são:

• Fiscalizar os atos dos administradores;

• Opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu

parecer as informações complementares que julgar necessárias;

• Denunciar, por qualquer de seus membros, erros, fraudes ou crimes que

descobrirem, e sugerir providências úteis, à administração e, se estes não tomarem as

providências necessárias, à assembléia-geral;

• Analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais

demonstrações financeiras elaboradas periodicamente pela companhia;

• Examinar as demonstrações financeiras do exercício social.

Tanto o comitê de auditoria quanto o conselho fiscal têm como

responsabilidade monitorar a qualidade das demonstrações financeiras da empresa. Porém,

o comitê de auditoria deve ser formado em sua totalidade por membros do conselho de

administração, enquanto as regras no Brasil não permitem que um membro do conselho

fiscal integre simultaneamente ao conselho fiscal.

5.1.1. Auditoria Externa

O comitê de auditoria é diretamente responsável por indicar, manter,

compensar e supervisionar o trabalho do auditor externo, incluindo a administração de

Page 77: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

77

desacordos entre a diretoria e o auditor, referente à emissão das demonstrações financeiras,

quando existir. O auditor externo deve reportar-se diretamente ao comitê de auditoria, e

devem se reunir pelo menos trimestralmente.

A seção 204 trata de relatório do auditor externo para o comitê de auditoria,

determinando que toda empresa de auditoria externa contratada deve relatá- la

oportunamente ao comitê de auditoria, expondo todas as políticas e práticas contábeis

usadas, bem como todos os tratamentos alternativos das informações financeiras que foram

discutidos com os diretores da empresa, as ramificações do uso dessas divulgações, os

tratamentos alternativos e o seu tratamento preferido.

A lei determina ainda que o comitê deve estabelecer procedimentos para

recebimento, retenção e tratamento de reclamações do auditor externo a respeito da

contabilidade, controles internos e problemas na auditoria.

As seções 203 e 207 tratam respectivamente de exigência de rotatividade do

auditor líder e do estudo sobre o impacto de exigir rotatividade entre as empresas de

auditoria.

5.1.2. Prestação de serviço de não auditoria e pré-aprovação

A seção 202 da Lei Sarbanes-Oxley, determina que os serviços realizados

por auditores externos, sejam ou não serviços de auditoria, devem ser pré-aprovados pelo

comitê de auditoria. A pré-aprovação não é obrigatória no caso de serviços de não

auditoria, em que o montante deste não é maior que 5% do total pago ao auditor; no caso

de não terem sido considerados de não auditoria na época da contratação; ou se esses

serviços forem aprovados pelo comitê antes da conclusão da auditoria. Os serviços de não

auditoria aprovados pelo comitê devem ser divulgados aos investidores em relatórios

periódicos, bem como os critérios de pré-aprovação.

Page 78: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

78

A seção 201 da lei proíbe a prestação de vários serviços de não auditoria por

parte dos auditores externos, tais como, contabilidade e outros serviços relativos aos

registros contábeis ou demonstrações financeiras; serviços de redesenho de processos

financeiros e implantação de sistemas de informações financeiras; laudos de avaliação;

terceirização da auditoria interna; funções gerenciais e serviços de recursos humanos;

serviços financeiros e serviços da área legal.

No Brasil, a CVM, através da instrução no 381, requer a divulgação de

informações sobre a prestação de outros serviços pelo auditor externo que não sejam de

auditoria externa, quando forem superiores a 5% da remuneração pelos serviços de

auditoria externa.

5.1.3. Independência do Comitê

A constituição do comitê de auditoria está condicionada a cada membro

fazer parte do conselho de administração e por outro lado ser independente. Ser membro

independente significa não receber, exceto por prestação de serviços no conselho, qualquer

honorário de consultoria, assessoria ou outro tipo de compensação monetária, e não ser

pessoa associada à auditoria externa ou a qualquer subsidiária. Os membros do comitê de

auditoria têm remuneração fixa e devem estar dispostos a dedicar o tempo assumindo a

responsabilidade de supervisores vigilantes em função do interesse do acionista.

A seção 205 da lei define comitê de auditoria como um comitê criado pelo,

e entre, o conselho de administração para fins de supervisão dos processos de apresentação

de relatórios financeiros e contábeis, assim como auditorias das demonstrações financeiras

da empresa. Caso o comitê de auditoria não exista, todo o conselho de administração da

empresa exerce sua função.

Page 79: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

79

5.1.4. Especialista financeiro

A seção 407 da lei determina sobre a competência do comitê de auditoria,

definindo que pelo menos um membro do comitê deve ser um especialista financeiro, o

que significa ter experiência: em contabilidade de empresa aberta ou auditoria, ou como

diretor financeiro; como auditor externo de empresa comparável; em aplicação de

princípios contábeis para estimativas de aumentos e reservas; bem como em controles

internos de contabilidade e entendimento da função do comitê de auditoria. É obrigatória a

divulgação deste, garantindo a sua independência em relação à administração.

Além do especialista financeiro, o comitê de auditoria tem autoridade para

contratar advogados independentes e outros assessores, se necessário para realização de

suas tarefas.

5.1.5. Reclamações e denúncias

De acordo com as exigências da SOX, o comitê de auditoria deve

determinar procedimentos para o recebimento, a retenção e o tratamento de reclamações

recebidas pela empresa, referente à contabilidade, aos controles internos e aos assuntos de

auditoria, além de procedimentos para denúncias confidenciais de funcionários

consideradas questionáveis.

5.2. Comitê de Auditoria nas instituições financeiras

No Brasil para as instituições financeiras a resolução 3.198 de 27/05/2004,

emitida pelo Banco Central do Brasil altera a resolução 3.081 de 2003 e a 3.170 de 2004,

consolidando a regulamentação pertinente à prestação de serviços de auditoria

independente para instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar

pelo Banco Central do Brasil.

Page 80: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

80

A resolução 3.198 determina que as instituições que tenham apresentado no

encerramento dos dois últimos exercícios sociais, Patrimônio de Referência (PR) igual ou

superior a R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais); ou administração de recursos de

terceiros em montante igual ou superior a R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais); ou

somatório das captações de depósitos e de administração de recursos de terceiros em

montante igual ou superior a R$ 5.000.000.000,00 (cinco bilhões de reais) devem constituir

comitê de auditoria. A resolução 3.198 define os requisitos e atribuições do comitê de

auditoria, conforme descrito nos subitens a seguir.

5.2.1. Constituição do comitê

Quanto à constituição do comitê, é exigido que este seja composto por, no

mínimo, três integrantes, com mandato máximo de cinco anos desde que não tenha tido nos

últimos 12 meses relação de integrante na instituição. Além disso, pelo menos um deve ter

comprovado conhecimento nas áreas de contabilidade e auditoria, bem como para voltar a

integrar o comitê após um mandato, deve-se esperar pelo menos três anos.

O comitê de auditoria tem como função, estabelecer as regras operacionais

para seu funcionamento, as quais devem ser aprovadas pelo conselho de administração,

formalizadas por escrito e colocadas à disposição dos respectivos acionistas ou cotistas.

5.2.2. Auditoria externa e interna

O comitê é responsável por recomendar, à administração, a empresa a ser

contratada para prestação dos serviços de auditoria externa, bem como revisar, antes da

publicação, as demonstrações contábeis semestrais.

O comitê deve ainda avaliar a efetividade das auditorias externas e internas;

avaliar o cumprimento, pela administração, das recomendações feitas pelos auditores;

Page 81: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

81

estabelecer e divulgar procedimentos para recepção e tratamento de informações sobre o

descumprimento de dispositivos legais e normativos aplicáveis à instituição, garantindo

proteção ao prestador e confidencialidade da informação.

A resolução 3.198 trata também de aprimoramentos e consolidação dos

procedimentos aplicáveis à prestação de serviços de auditoria independente. Assim, as

instituições devem designar diretor tecnicamente qualificado para responder junto ao

Banco Central, pelo acompanhamento, supervisão e cumprimento de normas e

procedimentos de contabilidade, sendo que este, nas instituições que não possuem comitê

de auditoria, responderão também pelo acompanhamento, supervisão e cumprimento das

normas e procedimentos de auditoria externa. O diretor designado será responsável pelas

informações prestadas e pela ocorrência de situações que indiquem fraude, negligência,

imprudência ou imperícia.

O auditor externo deve ser registrado na CVM, e tem como atribuição

elaborar e manter documentada sua política de independência, que deve ficar à disposição

do Bacen e do comitê de auditoria, incluindo os procedimentos de controles internos

adotados com vistas a monitorar, identificar e evitar as ocorrências.

A resolução 3.198 determina ainda que o auditor externo deve ser

substituído depois de emitidos pareceres relativos a cinco exercícios, podendo ser re-

contratado após três anos. Porém, a resolução 3.332 do Banco Central do Brasil, de

22/12/05 suspende o prazo para substituição periódica do auditor independente, até

31/12/07.

É parte do trabalho do auditor externo elaboração de relatórios, de auditoria

com suas opiniões sobre as demonstrações contábeis; de avaliação da qualidade e

adequação do sistema de controles internos, de descumprimento de dispositivos legais e

regulamentares.

Page 82: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

82

5.2.3. Comunicação

A resolução 3.198 determina que o comitê de auditoria deve se reunir, no

mínimo trimestralmente, com a diretoria da instituição, com a auditoria independente e

com a auditoria interna para verificar o cumprimento de suas recomendações ou

indagações, inclusive no que se refere ao planejamento dos trabalhos de auditoria. O

comitê se reporta diretamente ao conselho de administração e deve se reunir com este para

discutir acerca de políticas, práticas e procedimentos identificados no âmbito das suas

respectivas competências. É responsabilidade do comitê de auditoria elaborar, ao final dos

semestres, um relatório que ficará a disposição do Banco Central por cinco anos, e seu

resumo será publicado junto com as demonstrações contábeis semestrais.

É exigido que o auditor externo e o comitê de auditoria devem comunicar

formalmente ao Banco Central do Brasil, no prazo máximo de três dias úteis, a

identificação, a existência ou as evidênc ias de erro ou fraude. Além disso, o auditor

independente, a auditoria interna e o comitê de auditoria, devem manter, entre si,

comunicação imediata da identificação dos eventos previstos neste artigo.

5.3. Comitê de Auditoria para seguradoras

No caso de seguradoras, a resolução CNSP (Conselho Nacional de Seguros

Privados) No 118 de 22/12/2004 dispõe sobre a prestação de serviços de auditoria

independente e sobre comitê de auditoria para as sociedades seguradoras, de capitalização

e entidades abertas de previdência complementar.

A resolução 118 determina que as demonstrações contábeis devem ser

auditadas por auditor independente devidamente registrado na CVM, sendo necessário,

designar um diretor tecnicamente qualificado para responder, junto à SUSEP, pelo

acompanhamento, supervisão e cumprimento das normas e procedimentos de contabilidade

Page 83: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

83

e auditoria. Quando não há comitê de auditoria, este tem também a responsabilidade pelas

informações prestadas e pela ocorrência de situações que indiquem fraude, negligência,

imprudência ou imperícia.

A resolução 118 determina ainda que as sociedades supervisionadas devem

constituir comitê de auditoria no caso de terem apresentado nos dois últimos exercícios

sociais pelo menos uma das condições:

• Patrimônio Líquido Ajustado (PLA) igual ou superior a R$

500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais); ou

• Provisões técnicas em montante igual ou superior a R$ 700.000.000,00

(setecentos milhões de reais)

5.3.1. Constituição do comitê

O comitê de auditoria deve ter no mínimo três integrantes com pelo menos

um dos integrantes possuindo conhecimentos comprovados na área de contabilidade e

auditoria, podendo ter mandato máximo de cinco anos, e retornando somente após três

exercícios afastados. Além disso, para ser integrante do comitê não é permitido que a

pessoa seja ou tenha sido diretor, funcionário, membro do conselho fiscal ou envolvida nos

serviços de auditoria. O comitê de auditoria se reporta diretamente ao conselho de

administração.

5.3.2. Atribuições do comitê

As atribuições do comitê de auditoria definidas na resolução 118 são

bastante parecidas com as exigências da resolução 3.198 para as instituições financeiras.

O comitê de auditoria para as sociedades seguradoras também tem como

responsabilidade, recomendar a entidade a ser contratada para prestação de serviços de

Page 84: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

84

auditoria independente; revisar as demonstrações contábeis antes da publicação; avaliar

auditorias externa e interna; avaliar o cumprimento ou a justificativa do não cumprimento

pela administração das recomendações feitas pelos auditores independentes ou internos.

Além disso, o comitê deve definir e divulgar procedimentos para receber e

tratar informações sobre descumprimento de dispositivos legais e normativos, além de

regulamentos e códigos internos, inclusive com previsão para proteção ao prestador e

confidencialidade da informação.

É responsabilidade do comitê de auditoria, elaborar, ao final do semestre,

relatório contendo informações sobre as atividades exercidas; avaliação da efetividade dos

controles internos, auditoria independente, auditoria interna, qualidade das demonstrações

contábeis; descrição das recomendações apresentadas ao diretor presidente, com descrição

das não acatadas e as justificativas, ficando este a disposição da SUSEP por no mínimo

cinco anos.

5.3.3. Auditoria externa

Para a contratação de auditor externo é primordial que se observem diversas

questões na qual proíbem a contratação, entre elas no caso de prestação de serviço de

auditoria e consultoria concomitantemente. Além disso, o auditor deve ser substituído no

máximo depois de emitidos pareceres relativos a cinco exercícios sociais completos,

podendo ser re-contratado depois de decorridos três exercícios sociais completos.

Para o auditor externo, a resolução 118 determina que este deve emitir

parecer de auditoria expressando sua opinião quanto às demonstrações contábeis, se foram

elaboradas de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil; bem como quanto à

adequação dos controles internos aos riscos suportados pela sociedade supervisionada,

devendo comunicar a SUSEP qualquer irregularidade considerada falta grave. A

Page 85: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

85

contratação ou manutenção de auditor independente depende da aprovação do responsável

técnico, diretor, gerente, supervisor ou integrante com função de gerência.

5.3.4. Comunicação

A resolução 118, também determina que o comitê de auditoria deve se

reunir, no mínimo trimestralmente, com a administração, auditoria independente e

auditoria interna para verificar o cumprimento de suas recomendações ou indagações,

inclusive no que se refere ao planejamento dos respectivos trabalhos de auditoria. Devendo

se reunir também com o conselho fiscal e com o conselho de administração para discutir

acerca de políticas, práticas e procedimentos identificados no âmbito das suas respectivas

competências.

O auditor independente e comitê de auditoria, quando existente, e o diretor

responsável, devem individualmente ou em conjunto, comunicar formalmente à SUSEP,

no prazo máximo de três dias úteis da identificação, a existência ou as evidências de erros

ou fraudes representadas por: inobservância de normas legais e regulamentares, que

coloquem em risco a continuidade da sociedade supervisionada; fraudes, de qualquer valor,

cometidas pela administração; fraudes relevantes praticadas por funcionários; e erros que

resultem em incorreções relevantes nas demonstrações contábeis.

5.4. Comentários finais sobre comitê de auditoria

Com a Lei Sarbanes-Oxley, desde 2002, as empresas abertas com ações

negociadas na bolsa de valores americana se preocupam com a criação ou adequação de

comitês de auditoria. Apesar da existência do comitê de auditoria não ser uma novidade, a

lei amplia seus poderes e responsabilidade.

Page 86: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

86

Além de todas as exigências atribuídas diretamente ao comitê de auditoria,

na Lei Sarbanes-Oxley os novos padrões estabelecidos sobre responsabilidade corporativa,

também geram impacto nas responsabilidades do comitê de auditoria. Por exemplo, a seção

404, ao exigir do auditor externo, opinião sobre os controles internos que apóiam o

processo de divulgação das informações financeiras, está gerando impacto ao comitê de

auditoria uma vez que o auditor externo é supervisionado e indicado por este.

No Brasil, nos últimos 40 anos, as sociedades anônimas, têm na sua

estrutura de supervisão o conselho fiscal. Desta forma, as empresas brasileiras com registro

na bolsa de Nova York foram autorizadas a utilizar o conselho fiscal para desempenhar as

funções do comitê de auditoria, conforme definidas na Lei Sarbanes-Oxley.

No Brasil, para instituições financeiras, a resolução 3.170 de 30/01/2004,

alterada pela 3.198 de 27/05/2004 do Banco Central do Brasil, regulamentou a

obrigatoriedade da constituição de comitês de auditoria em instituições financeiras. Porém,

exige que os bancos, dentro de alguns parâmetros, tenham comitê de auditoria, mas não

que sejam independentes, inclusive exigindo que um dos membros faça parte da

administração da empresa, o que contradiz as exigências da Sarbanes-Oxley que exige

membros independentes.

Para a realização do trabalho, a análise comparativa foi realizada entre os

mercados de empresas, bancos e seguradoras. Em relação às empresas, a Lei Sarbanes-

Oxley, mais precisamente as seções 301 que amplia a existência do comitê de auditoria; a

204 que trata do relatório do auditor externo para o comitê de auditoria; a 203 que exige

rotatividade do auditor líder; a 207 sobre estudo do impacto de exigir rotatividade das

empresas de auditoria; a 202 que determina que os serviços realizados por auditores

externos, sejam pré-aprovados pelo comitê de auditoria; a 201 proíbe a prestação de vários

serviços de não auditoria por parte dos auditores externos; a 205 define o comitê de

Page 87: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

87

auditoria; e a 407 que exige pelo menos um especialista financeiro como membro do

comitê. Quanto à regulamentação aplicável no Brasil aos bancos e seguradoras foram

analisadas a resolução 3.198 de 27/05/2004 do Bacen e a resolução 118 de 22/12/04 do

CNSP, respectivamente.

Desta forma, em relação a comitê de auditoria, os pontos comparados e

analisados que merecem destaque e são exigências comuns são:

• O comitê é responsável por avaliar a efetividade das auditorias internas

e externas;

• O comitê revisa os relatórios financeiros;

• O comitê é responsável por indicar o auditor externo. Na Sarbanes-

Oxley também inclui a responsabilidade de manter, compensar e supervisionar esse

trabalho;

• O comitê se reúne pelo menos trimestralmente com a auditoria externa.

Para bancos e seguradoras se reúne também com a diretoria e auditoria interna;

• O comitê te autoridade para contratar especialistas para auxiliá- lo;

• O auditor externo deve ser substituído periodicamente. Para instituições

financeiras essa exigência está suspensa pela resolução 3.332 do Bacen de 22/12/05;

• Na SOX, o comitê administra desacordos e promove discussão entre a

administração e o auditor externo, referente à emissão das demonstrações financeiras. Para

bancos e seguradoras, o comitê verifica o cumprimento das recomendações feitas pela

auditorias externa e interna à administração;

• Pelo menos um membro do comitê deve ter comprovado conhecimento

nas áreas de contabilidade e auditoria. A Sarbanes-Oxley exige que este seja divulgado e

independente à administração;

Page 88: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

88

• O comitê determina procedimentos para o recebimento, a retenção e o

tratamento de reclamações, referente à contabilidade, aos controles internos e aos assuntos

de auditoria e sobre o descumprimento de dispositivos legais e regulamentares;

• Na Sarbanes-Oxley o comitê determina procedimentos para denúncias

confidenciais de funcionários relacionados a assuntos contábeis e de auditoria, bem como

de reclamações da auditoria externa. Para bancos e seguradoras é destacada a necessidade

de proteger o prestador da informação;

• Na Sarbanes-Oxley o membro do comitê deve ser independente.

Enquanto que para instituições financeiras e seguradoras, as exigências são de o comitê

deve ter no mínimo três integrantes; que não tenha sido diretor, funcionário, membro do

conselho fiscal ou envolvida nos serviços de auditoria na empresa; com mandato máximo

de cinco anos e retornando somente após três exercícios afastados; se reportam diretamente

ao conselho de administração.

• Na Sarbanes-Oxley o auditor externo se reporta diretamente ao comitê

de auditoria e se reúnem no mínimo trimestralmente. Para bancos e seguradoras se reúnem

também com a diretoria da instituição e a auditoria interna.

Nas resoluções 3.198 e 118 existem ainda as seguintes determinações: as

instituições devem designar diretor tecnicamente qualificado para responder pelo

acompanhamento, supervisão e cumprimento de normas e procedimentos de contabilidade;

comitê elabora, ao final dos semestres, um relatório que ficará a disposição dos órgãos

regulamentares por cinco anos, e seu resumo será publicado junto com as demonstrações

contábeis semestrais; e o auditor externo e o comitê de auditoria devem, comunicar

formalmente aos órgãos reguladores, no prazo máximo de três dias úteis, a identificação, a

existência ou as evidências de erro ou fraude.

Page 89: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

89

A Sarbanes-Oxley prevê ainda que o comitê de auditoria deve pré-aprovar

serviços de não auditoria a serem realizados pelo aud itor externo e divulga- los aos

investidores.

Os critérios para implantação do comitê de auditoria variam. Na lei

Sarbanes-Oxley é exigido para todas as empresas que negociam ações na bolsa de valores

americana. Para instituições financeiras as exigências estão condicionadas ao patrimônio

de referência; administração de recursos de terceiros; e captações de depósitos. Para

seguradoras as condições são relativas ao patrimônio líquido ajustado e provisões técnicas.

O mais importante para todas as partes interessadas nas empresas de capital

aberto é assegurar que o comitê de auditoria agregue valor. Para tanto, devem ter foco no

código de ética e conduta, leis e regulamentos, gestão de riscos, sistemas de controles

internos, processo de auditoria e processo de divulgação de informações financeiras,

conforme ilustrado na figura a seguir:

Figura 3: Foco do Comitê de Auditoria

Fonte: Comitê de Auditoria no Brasil: Melhores Prática de Governança

Corporativa - 2005, PricewaterhouseCoopers.

A existência de comitês de auditoria tanto para empresas, bancos e

seguradoras, apesar de não ser uma prática muito nova, está presente nas regulamentações

analisadas e as responsabilidades e exigências para este em todas as áreas apresentam

bastante similaridade e estão em constante adaptação.

Código de ética e

conduta

Leis e regulamentos

Gestão de Riscos

Sistemas de controles internos

Processo de auditoria (externa e interna)

Processo de divulgação de informações financeiras

Page 90: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

90

A tabela a seguir resume esquematicamente as conclusões do capítulo.

Empresas Bancos Seguradoras SOX 3.198 - 27/05/2004 CNSP 118 - 22/12/04

Implantação de comitê de auditoria Comitê avalia auditorias externa e interna

Comitê indica, mantém e recompensa o auditor externo Recomenda à administração a contratação do auditor externo

Comitê revisa os relatórios financeiros Substituição periódica do auditor externo

Suspensão do prazo para

substituição do auditor externo

Estudo sobre o impacto de exigir rotatividade das empresas de auditoria

Comitê administra desacordos entre a administração e o auditor externo

Comitê avalia o cumprimento, pela administração, das recomendações feitas pelos auditores externos e internos

Reunião no mínimo trimestral entre o comitê e a auditoria externa Pelo menos 1 membro do comitê ser um especialista

Divulgação do especialista financeiro

Procedimentos para o comitê receber e tratar reclamações e informações materiais Membros do comitê independentes Mínimo 3 integrantes com mandato máximo de 5 anos Pré aprovação de serviços de não

auditoria

Divulgar os serviços de não auditoria aprovados pelo comitê.

Proíbe prestação de alguns serviços pelos auditores externos

Proíbe prestação de serviço de auditoria e consultoria pelo auditor

externo Empresas Bancos Seguradoras

SOX 3.198 - 27/05/2004 CNSP 118 - 22/12/04

O comitê de auditoria pode contratar especialistas para auxiliá-lo

Diretor responsável por acompanhar e supervisionar os procedimentos

de contabilidade.

Comitê elabora relatório com resumo publicado nas demonstrações

contábeis semestrais.

Comunicação ao órgão supervisor pelo auditor externo e comitê sobre a

identificação de erro.

Tabela 5: Resumo sobre Comitê de Auditoria

Fonte: Levantamento feito pela autora

Page 91: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

91

6. RESPONSABILIZAÇÃO

É importante ponderar que regras de governança corporativa são

imprescindíveis para dar credibilidade ao mercado de capitais e segurança ao investidor em

qualquer país. O mercado com as crescentes situações de desconfiança e no interesse de

estimular o investimento no mercado de capitais, exige, cada vez mais, regras que

transmitam ao investidor clareza, segurança e disponibilidade das informações. O objetivo

é de que os administradores das corporações escolhidas para receber investimento atuem

de forma profissional, sem contaminar a gestão com interesses pessoais, principalmente

quando há uma tendência de vincular cada vez mais a remuneração ao desempenho da

empresa.

A responsabilização é a definição de responsabilidade e devidas punições

pelo não cumprimento destas pelos administradores, que têm como dever se

responsabilizar por qualquer ação dentro da empresa, pelos relatórios financeiros ou

qualquer informação divulgada aos investidores.

6.1. Responsabilização na Lei Sarbanes-Oxley

Promulgada como reação aos escândalos contábeis que sacudiram Wall

Street nos últimos anos, a Lei Sarbanes-Oxley aumentou de forma significativa a

responsabilidade da administração das companhias. O objetivo principal é procurar

garantir a confiança dos investidores nas empresas de capital aberto por meio de maior

transparência na divulgação dos atos da administração, uma vez que as ações tomadas nas

empresas são sempre em função da administração, ou seja, são eles que ditam as regras.

Os recentes escândalos já citados que ocorreram no mundo dos negócios

vieram com declarações de executivos de que não tinham conhecimento das práticas e

ações suspeitas de sua empresa, como, participações não registradas nos balanços, receitas

Page 92: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

92

impróprias, entre outras. Desta forma, a Lei Sarbanes-Oxley contribui também para

desencorajar esse tipo de alegação através de medidas que intensificam as conferências

internas e aumentam a responsabilidade dos executivos.

O rigor da lei em relação à responsabilidade da administração surgiu para

permitir que a prática da remuneração variável fosse mantida nos Estados Unidos, desde

que as regras e punições rigorosas permitissem sua aplicação de forma honesta e adequada.

A revista KPMG, Business Magazine 03 (2005), faz menção de que a remuneração

variável é aplicada em vários outros países, inclusive o Brasil, mas nos Estados Unidos

esta corresponde a maior parte dos salários dos executivos. Assim, fica mais fácil entender

por que os administradores nortes americanos, de vez em quando, têm uma vontade

incontrolável de mexer nos números do balanço em favor de seus bônus e suas opções de

ações e por que a necessidade de uma lei tão rigorosa quando a Sarbanes-Oxley.

6.1.1. Responsabilidade corporativa: Certificação das informações

A seção 302 da lei determina que o presidente e diretor financeiro devem

declarar pessoalmente que são responsáveis pelos controles e procedimentos de

divulgação, ou seja, devem assinar os relatórios. O papel dos diretores é o de reconhecer a

responsabilidade de assegurar o cumprimento das regras e transmitir as informações à alta

administração e aos funcionários, além de garantir que as informações publicamente

divulgadas retratam exatamente a realidade.

A seção 307 define responsabilidade aos advogados, sendo estes obrigados

a relatar ao superior de assuntos legais, qualquer evidência material de violação da lei pela

empresa ou qualquer pessoa. Caso o chefe de assuntos legais não responda de forma

apropriada, o fato deve ser relatado ao comitê de auditoria ou ao conselho. Tanto os

Page 93: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

93

advogados quanto os contadores têm canal aberto para denunciar diretamente à SEC

qualquer fraude e não podem ser demitidos.

6.1.2. Penalidades

A seção 906 da lei dispõe sobre responsabilidade corporativa pelos

relatórios financeiros determinando que os relatórios periódicos devem vir acompanhados

pela declaração por escrito do diretor presidente e diretor financeiro certificando que as

informações do relatório certamente apresentam em todos os sentidos materiais as

condições financeiras e resultados operacionais.

Nesta seção, é definida penalidade de até 20 anos de prisão e/ou multa de

até US$ 5.000.000 (cinco milhões de dólares), no caso do diretor presidente e diretor

financeiro certificarem declarações financeiras sabendo que não está de acordo com todos

os requisitos definidos, ou seja, sendo negligente.

A seção 1.102 da Lei Sarbanes-Oxley trata de alteração de registros e

dificuldade ou impedimento de procedimentos oficiais, definindo que alterar, destruir,

ocultar documentos, registros ou outros objetos com intenção de prejudicar sua integridade

gera multa ou prisão até 20 anos.

6.2. Responsabilização na legislação brasileira

A Lei n. 10.303 de 31/10/2001 que dispões sobre sociedades por ações,

descreve sobre os crimes contra o mercado de capitais, determinando penalidades.

• Pena de reclusão de um a oito anos, e multa de 3 vezes o valor da

vantagem ilícita obtida em decorrência de realização de operações fraudulentas com a

finalidade de obter vantagem indevida ou lucro ou causar dano a terceiro, alterando o

Page 94: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

94

funcionamento dos mercados de valores mobiliários em bolsa de valores, de mercadorias e

futuros, no mercado de balcão ou no mercado de balcão organizado;

• Pena de reclusão de um a cinco anos, e multa de até três vezes o

montante da vantagem ilícita obtida em função do uso indevido de informação

privilegiada9;

• Detenção de seis meses a dois anos, e multa pelo exercício irregular de

cargo, profissão, atividade ou função, atuando, mesmo que gratuitamente, no mercado de

valores mobiliários, como instituição integrante do sistema de distribuição, administrador

de carteira coletiva ou individual, agente autônomo de investimento, auditor independente,

analista de valores mobiliários, agente fiduciário ou exercer qualquer cargo, profissão,

atividade ou função, sem estar, para esse fim, autorizado ou registrado junto à autoridade

administrativa competente, quando exigido por lei ou regulamento.

A Lei nº 7.492/86, que define os crimes contra o sistema financeiro

nacional, estabelece:

• Pena de reclusão de dois a seis anos, e multa, no caso de divulgar

informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira;

• Pena de reclusão de três a doze anos, e multa se gerir fraudulentamente

a instituição;

• Pena de reclusão de dois a seis anos, e multa para quem induzir ou

manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública competente, relativamente à

operação ou situação financeira, sonegando-lhe informação ou prestando-a falsamente;

• Pena de reclusão de um a cinco anos, e multa para quem fraudar a

fiscalização ou o investidor, inserindo ou fazendo inserir, em documento comprobatório de

9 Informação relevante ainda não divulgada ao mercado, de que tenha conhecimento e da qual deva manter sigilo, capaz de propiciar vantagem indevida.

Page 95: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

95

investimento em títulos ou valores mobiliários, declaração falsa ou diversa da que dele

deveria consta;

• Pena de reclusão de um a cinco anos, para quem fizer inserir elemento

falso ou omitir, elemento exigido pela legislação, em demonstrativos contábeis de

instituição financeira, seguradora ou instituição integrante do sistema de distribuição de

títulos de valores mobiliários;

Além disso, a Lei nº 7.913/89, dos crimes sobre investidores, prevê que, o

Ministério Público pode adotar as medidas judiciais necessárias para evitar prejuízos ou

obter ressarcimento de danos causados aos investidores do mercado, especialmente quando

decorrerem de operação fraudulenta, prática não eqüitativa, manipulação de preços ou

criação de condições artificiais; uso de informação privilegiada; ou omissão de informação

relevante, bem como sua prestação de forma incompleta, falsa ou tendenciosa.

6.3. Comentários finais sobre responsabilização

Os assuntos referentes à responsabilização, ética e integridade estão em

foco no mundo dos negócios hoje, quando há uma tendência das empresas oferecerem cada

vez maior parte do salário dos executivos em forma de remuneração variável, então, ações

com objetivo de evitar conflitos de interesses devem ser definidas e intensificadas. Não

pode haver sucesso no sistema capitalista sem a verdade. É necessário honestidade nos

negócios diários e os investidores precisam confiar que os líderes empresariais são éticos e

seguem as leis e regulamentações, além de trabalharem em prol de seus interesses em

primeiro lugar.

No estudo analítico sobre responsabilização nas regulamentações existentes,

a Lei Sarbanes-Oxley veio nortear as exigências uma vez que um dos pontos críticos da lei

é justamente a responsabilidade e penalidades definidas para os presidentes e diretores

Page 96: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

96

financeiros das empresas abertas, com intuito de evitar declarações de que as práticas

adotadas na empresa não eram de conhecimento da administração. Ou seja, a partir da lei,

os executivos além de saberem tudo que acontece na empresa devem declarar que sabem

tudo e as informações são extremamente confiáveis. O objetivo principal é procurar

garantir a confiança dos investidores nas empresas de capital aberto por meio de maior

transparência na divulgação dos atos da administração.

A Lei Sarbanes-Oxley trata da questão de responsabilização através das

seções: 302, que exige assinatura do presidente e diretor financeiro nos relatórios; 307

definindo responsabilidade para os advogados, registrando que tanto os advogados quanto

os contadores têm canal aberto para denunciar diretamente à SEC qualquer fraude e não

podem ser demitidos. Além disso, as penalidades relativas às responsabilidades são

definidas na seção 906 com pena para declaração falsa e na seção 1.102 com penalidades

relativas à alteração e destruição de registros.

As seções 302 e 404 da Lei Sarbanes-Oxley exige que o presidente e o

diretor financeiro em conjunto com a administração devem fornecer, por escrito, as

seguintes declarações sobre os relatórios das demonstrações financeiras, afirmando que:

• As pessoas que assinam revisaram o relatório com base no melhor de

seus conhecimentos;

• O relatório não contém nenhuma afirmação falsa ou omite qualquer fato

relevante;

• As demonstrações financeiras apresentam adequadamente, em todos os

aspectos relevantes, a situação financeira e os resultados das operações da empresa.

O diretor presidente e o diretor financeiro são responsáveis ainda pelo

estabelecimento, pela manutenção e avaliação dos controles internos, sendo que estes

devem assegurar que a informação material relativa à empresa e a suas subsidiárias

Page 97: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

97

consolidadas foram fornecidas, bem como elaborar relatório com suas conclusões sobre os

controles internos. São responsáveis ainda por divulgar aos auditores e ao comitê de

auditoria, todas as deficiências materiais nos controles internos e qualquer fraude, seja

material ou não, que envolva pessoas do nível da administração ou outros funcionários que

façam parte, de forma significativa, dos controles internos.

No Brasil a responsabilização é tratada na Lei n. 10.303 de 31/10/2001 que

dispõe sobre sociedades por ações, descreve sobre os crimes contra o mercado de capitais,

determinando penalidades, bem como na Lei nº 7.492/86, que define os crimes contra o

sistema financeiro nacional. Além disso, a Lei nº 7.913/89, dos crimes sobre investidores,

prevê que, o Ministério Público pode adotar as medidas judiciais necessárias para evitar

prejuízos ou obter ressarcimento de danos causados aos investidores do mercado.

Na verdade a legislação brasileira já prevê punições a crimes de colarinho

branco a algum tempo, enquanto a lei americana através da Lei Sarbanes-Oxley passa a

definir penalidades efetivas a esse tipo de crime e faz com que a preocupação com a ética e

a integridade dos presidentes das empresas, estejam em primeiro plano.

Não há mais como argumentar que alguma informação ou ação realizada

não era de seu conhecimento, é claro hoje, que os presidentes e diretores financeiros das

empresas com ações negociadas na bolsa de valores americana são responsáveis por todas

as informações divulgadas nos relatórios financeiros e por qualquer omissão ou informação

falsa, estando assim sujeitos às penalidades da lei.

Page 98: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

98

7. CONCLUSÕES

A Lei Sarbanes-Oxley é considerada a lei de maior impacto sobre os

mercados de capitais norte-americanos e mundiais desde a legislação de 1933 e 1934, que

criou a SEC (Security and Exchange Commission), com amplos poderes para regular e

policiar o mercado de ações nos Estados Unidos.

Nos últimos anos, após os escândalos contábeis estampados em manchetes

de todo o mundo, a legislação norte-americana, com rapidez extraordinária e um apoio

quase unânime implementou a Lei Sarbanes-Oxley que ampliou os poderes da SEC e

aumentou consideravelmente a responsabilidade da administração das empresas.

Os efeitos da lei são bastante significativos tanto nos Estados Unidos quanto

para empresas estrangeiras que possuem ações cotadas na bolsa de valores norte-

americana. Além disso, as exigências da lei refletem em todo mercado uma vez que mesmo

não fazendo parte do grupo de empresas obrigadas a adotarem a lei, a importância e os

benefícios são reconhecidos e influenciam em todas as áreas e setores que estão dentro do

contexto de finanças mundial.

As mudanças introduzidas pela SOX nas práticas das empresas, de forma

geral, incluem:

• Responsabilidade do presidente, do diretor financeiro e de toda

administração nos processos de certificação das seções 302 e 404;

• Transferência de diversos poderes e responsabilidades que eram

anteriormente dos diretores executivos para um comitê de auditoria, composto de membros

não executivos do Conselho da Administração; e

• Maior transparência na divulgação das informações financeiras e dos

atos da administração.

Page 99: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

99

A Lei Sarbanes-Oxley exige que os executivos, conselhos, comitês e

auditores independentes executem tarefas específicas para alcançar os objetivos da lei

quanto à divulgação de informações corporativas confiáveis. Os executivos devem

reafirmar que a responsabilidade primária pelos relatórios entregues à SEC é do presidente

e do diretor financeiro.

De forma resumida podemos concluir que a lei foi criada para:

• Demonstrar ao investidor comprometimento com confiabilidade e

integridade nas empresas americanas;

• Deter a má conduta nas empresas e restaurar a confiança

primordialmente através de investimento na governança corporativa, melhorando a

transparência e a confiança nas auditorias financeiras;

• Definir e clarear as responsabilidades para os executivos para garantir

que eles estão de acordo com as operações das empresas as quais trabalham;

• Aumentar a responsabilidade dos executivos por suas decisões;

• Restaurar a confiança no processo de contabilidade para emissão de

relatórios.

As reformas regulamentares ou práticas empresariais acabam seguindo o

exemplo do maior centro econômico do mundo, os Estados Unidos, adotando medidas que

contribuem para aumentar a credibilidade e a confiança nos relatórios financeiros, ou seja,

minimizando os riscos, através do aprimoramento de sua gestão.

A lei pode ser vista como uma exigência americana que reflete diretamente

no mercado brasileiro e de outros países que possuem alguma empresa sujeita às

exigências da Sarbanes-Oxley. As empresas sujeitas à SOX influenciarão naturalmente o

seu setor de atuação de forma que as empresas brasileiras ou de qualquer outro país,

mesmo não tendo ações negociadas na bolsa de valores americanas, sejam pressionadas a

Page 100: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

100

adotar medidas relativas ao nível de transparência, conforme as exigidas na SOX de forma

que o investidor e os analistas de mercado as valorizem tanto quanto as que já têm as

exigências implantadas por força legal.

Esse é um caminho sem volta. Gradativamente as empresas passarão a se

adaptar às determinações da Lei Sarbanes-Oxley até por que há evidências concretas de

que muitas das exigências da SOX estão previstas nas regulamentações de bancos e

seguradoras, isso ficou claro durante o trabalho nas análises realizadas. Esta constatação

demonstra que as exigências não são novidades e sim que já vêm sendo demandadas há

algum tempo, é um caminho lógico, natural e único. O próprio Novo Mercado definido

pela Bovespa é um exemplo de que o mercado tende a ter cada vez maiores níveis de

transparência e ações de governança corporativa como forma de valorizar o investidor.

O fato dos órgãos regulamentares para bancos e seguradoras já possuírem

normas e procedimentos bem próximos às exigências da SOX facilita e desmistifica, de

certa forma, a complexidade da lei. Quando se fala em instituições financeiras o Novo

Acordo de Capitais da Basiléia adota medidas claramente direcionadas para a transparência

das informações internas, através da supervisão, com o propósito de divulgação confiável

de informações externamente através da disciplina de mercado. Por outro lado fortalece as

exigências de capital mínimo, adotando essas ações com objetivo de gerenciar os riscos

corporativos tanto no que se refere aos riscos de mercado, operacional e de crédito. O

Comitê da Basiléia desde 1998 com a publicação do documento intitulado “Enhancing

Bank Transparency”, demonstra preocupação com a transparência.

No Brasil as medidas são direcionadas em função do mercado mundial. No

que se refere aos bancos, o Banco Central do Brasil se carrega de direcionar as

regulamentações, por outro lado o mercado segurador fica a cargo da SUSEP

(Superintendência de Seguros Privados). O Novo Acordo de Capitais da Basiléia influencia

Page 101: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

101

muito tanto as medidas adotadas no Brasil para instituições financeiras, quanto às adotadas

mundialmente no setor de seguros, entre outros.

Além das exigências para bancos e seguradoras, muito do que é

recomendado hoje pela cartilha de governança corporativa da Comissão de Valores

Mobiliários (CVM) e também pelo código das melhores práticas de governança

corporativa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) está muito próximo

de algumas das exigências da SOX. Na cartilha da CVM, por exemplo, há sugestão de que

devem ocorrer reuniões sem a presença da diretoria e que os auditores devem emitir

relatório de recomendações diretamente encaminhado ao Conselho.

Conforme descrito na cartilha da CVM, a adoção de boas práticas de

governança corporativa é um mecanismo, através do qual, investidores, inclusive

controladores se protegem contra desvios de ativos. Essas práticas também contribuem

para aumentar o valor da empresa uma vez que o custo de capital é reduzido o que aumenta

a viabilidade de capitalização no mercado.

A cartilha da CVM foi elaborada em junho de 2002 com objetivo de adaptar

alguns conceitos internacionais à realidade brasileira. Desta forma são tratados os assuntos:

• Transparência: Assembléias, Estrutura Acionária e Grupo de Controle;

• Estrutura e Responsabilidade do Conselho de Administração;

• Proteção a Acionistas Minoritários;

• Auditoria e Demonstrações Financeiras.

Essas questões são também expostas no código das melhores práticas de

governança corporativa do IBGC. Mais uma vez há evidência de que o mercado brasileiro

adota cada vez mais práticas, normas e regulamentações relacionadas aos assuntos

internacionalmente discutidos e regulamentados, mais precisamente bem próximos das

exigências da SOX.

Page 102: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

102

No geral, as reformas nas exigências legais e regulamentares são

influenciadas pelas próprias empresas que ao evoluírem em suas ferramentas de gestão

com práticas cada vez mais inovadoras, exigem maiores mecanismos de controle seja por

parte da supervisão, auditoria externa ou órgãos regulamentares. Essa idéia é

compartilhada com o exposto em Garcia (2003):

“A partir do início da década de 80, verifica-se o aumento das atividades internacionais das instituições financeiras, inovações de práticas e instrumentos financeiros como derivativos e swaps, além de diversos tipos de atividades especulativas (associadas por exemplo à volatilidade da taxa de câmbio). Nesse cenário, a existência de ferramentas para gerenciamento de ativos e passivos passou a ser condição necessária para a sobrevivência das instituições financeiras e a solidez dos sistemas financeiros nacionais e internacionais. A evolução dos instrumentos de regulação e supervisão de instituições financeiras é resultado natural da evolução dos mercados, operações e atividades dessas instituições. Assim, ao mesmo tempo em que a intensificação da internacionalização das instituições financeiras implicou a necessidade de padronização da supervisão bancária mundial, foi necessário também o estabelecimento de regras prudenciais compatíveis com a sofisticação das atividades bancárias. Neste contexto o Comitê da Basiléia assumiu papel de destaque no cenário mundial.” A conclusão que se chega é que muito mais do que uma lei composta por

normas rígidas, complexas e abrangentes, a Lei Sarbanes-Oxley é um grande desafio. Para

as empresas abertas o futuro exige muito investimento nos profissionais e processos de

forma a criar um ambiente de negócios confiáveis o suficiente para manter os investidores

atraídos por esse mercado. Para os bancos e seguradoras o trabalho será de adaptação às

exigências já existentes, sendo que a Sarbanes-Oxley vem complementar e apoiar as

determinações dos órgãos reguladores destes setores.

Atualmente com o estímulo da Sarbanes-Oxley e a evolução da governança

corporativa as mudanças exigidas passam a ser vistas muito além do que uma filosofia de

prestação de contas e de transparência para o investidor, passa a ser matéria-prima para

Page 103: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

103

uma condução mais eficiente do negócio. Os exemplos de quebras em função de fraudes

contábeis, descritos durante o trabalho, não deixam espaço para improviso e manutenção

de antigas práticas.

Como já foi mencionado, é fato que as exigências, ao menos referentes aos

itens abordados neste estudo, controles internos, transparência, comitê de auditoria e

responsabilização estão muito próximas em todos os setores analisados. Desta forma, pode

ser sugerida maior aproximação entre as exigências regulamentares existentes para

empresas, bancos e seguradoras.

A existência de regulamentação padronizada facilita muito as análises

comparativas entres os participantes do mercado, permitindo, tanto ao órgão supervisor

quanto aos investidores e aplicadores, uma melhor percepção da relação às opções de

investimento no mercado.

Segundo Duarte e Lelis (2003), há uma forte tendência internacional de

unificação nas formas de identificação e quantificação de riscos presentes nas atividades de

bancos e seguradoras.

Com base neste argumento é interessante que as novas propostas para

desenvolvimento das regulamentações direcionadas a gestão de risco, como abordados

neste trabalho através das análises de controles internos, transparência, comitê de auditoria

e responsabilização para os mercados de empresas, bancos e seguradoras estejam alinhadas

entre si. O objetivo é simplificar o ambiente regulador e ser mais eficiente contribuindo

para a discussão e aperfeiçoamento dos normativos sobre o assunto.

Page 104: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

104

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, V. C. P e PARENTE, G. G. C. “A informação de crédito e a importância da Central de Risco de Crédito para supervisão bancária” em Gestão de Riscos no Brasil (DUARTE Jr. A. M. e VARGA, G. organizadores). Ed. Financial Consultoria, Rio de Janeiro, 2003. ANDREZO, Andréa Fernandes. A necessidade de maior transparência das informações e orientação dos investidores para o desenvolvimento do mercado de valores mobiliários. I Concurso de Monografia CVM, 1999. Basel Committee on Banking Supervision. (1998) “Enhancing Bank Transparency”. September. BENEDITTO, Elizabeth A. N. D. “Transparência dos Relatórios de Instituições Financeiras no Brasil”. Dissertação de Mestrado, Ibmec-RJ, 2006. BRASIL. Resolução 2554. Banco Central – 24/09/1998 BRASIL. Resolução 3170. Banco Central – 30/01/2004 BRASIL. Resolução 3198. Banco Central – 27/05/2004 BRASIL. Resolução 118 da CNSP (Conselho Nacional de Seguros Privados) – 22/12/2004 BRASIL. Comunicado 12.746. Banco Central – 09/12/2004 BRASIL. Circ. SUSEP 249/04 - Circular SUPERINTENDENTE DA SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS – 20/02/2004. BRASIL. Circ. SUSEP 280 - Circular SUPERINTENDENTE DA SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS – 30/12/2004. BRASIL. Lei N. 10.303 – 31/12/2001. BRASIL. Lei N. 7.492 – 16/06/1986 BRASIL. Lei N. 7.913 – 07/12/1989 BREALEY, Richard A., MYERS, Stewart C. Principles of Corporate Finance. McGraw-Hill, 2003. CARVALHO, Antonio Gledson. Efeitos da migração para os níveis de governança da Bovespa. Trabalho preparado para Bovespa, 2003. CARVALHO, F. L. de. A contabilidade criativa e o “one-seven-one”. Revista Acadêmica da FACECA – RAF, v. 1, n. 3, Jan/jul. 2003. Disponível em: http://www.faceca.br/raf/raf2003/2contcriat.zip

Page 105: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

105

CVM, Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa. Deloitte Touche Tohmatsu, 2003, Lei Sarbanes-Oxley, Guia para melhorar a governança corporativa através de eficazes controles internos. Maio de 2003. Deloitte Touche Tohmatsu, Pesquisa da Deloitte aponta evolução da governança corporativa em companhias brasileiras que atuam no mercado de capitais norte-americano. DOUAT, J. C. “Bases para reflexão sobre a evolução da gestão de risco de crédito no Brasil” em Gestão de Riscos no Brasil (DUARTE Jr. A. M. e VARGA, G. organizadores). Ed. Financial Consultoria, Rio de Janeiro, 2003. DUARTE, Antônio Marcos, Alocação de Capital em Conglomerados Financeiros no Brasil. Tecnologia de Crédito, Serasa. DUARTE, Antônio Marcos, LÉLIS, Rogério José Furigo. “Unificando a Alocação de Capital em Bancos e Seguradoras no Brasil” Revista de Administração de Empresas, 44,2 73-84, 2004. DUARTE Jr. A. M. e LÉLIS. R. J. F. “Alocação de capital em bancos no Brasil” em Gestão de Riscos no Brasil (DUARTE Jr. A. M. e VARGA, G. organizadores). Ed. Financial Consultoria, Rio de Janeiro, 2003. DUARTE Jr. A. “A importância do gerenciamento de riscos corporativos em bancos” em Gestão de Riscos no Brasil (DUARTE Jr. A. M. e VARGA, G. organizadores). Ed. Financial Consultoria, Rio de Janeiro, 2003. GARCIA, V. S. “Gerenciamento de risco em instituições financeiras e o Novo Acordo de Capital” em Gestão de Riscos no Brasil (DUARTE Jr. A. M. e VARGA, G. organizadores). Ed. Financial Consultoria, Rio de Janeiro, 2003. GOMES, J. R. “Desafios na integração do controle de riscos em bancos brasileiros” em Gestão de Riscos no Brasil (DUARTE Jr. A. M. e VARGA, G. organizadores). Ed. Financial Consultoria, Rio de Janeiro, 2003. GOMES, Luiz Flávio Autran M., OLIVA, Alberto. Metodologia de Pesquisa: Redação de Texto Científico. Rio de Janeiro: Faculdades IBMEC, 2001. GOUVÊA, Marcelo Rizzo. “Controles internos na prevenção à lavagem de dinheiro”. Dissertação de Mestrado, Ibmec-RJ, Dez/2003. HAWKINS, David F. e COHEN, Jacob. Arthur Andersen LLP. Havard Business School, Fev/2003. http://www.bovespa.com.br/Principal.asp http://www.bcb.gov.br/ http://www.cosif.com.br/

Page 106: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

106

http://www.cvm.gov.br/ http://www.gestiopolis.com/canales5/fin/criativa.htm http://www.susep.gov.br/ http://www.sec.gov./ IBGC, Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa. ITO, Sidney, COUTINHO, André, AZEVEDO, Simone, Governança Corporativa e Sarbanes-Oxley: O dia seguinte. KPMG Business Magazine 03. KAPLAN, Robert S., KIRON, David, Accounting Fraud at WorldCom, Harvard Business Scholl, 26 de Julho de 2004. KPMG Business Magazine 02. O primeiro Ano nos Bancos. KPMG Business Magazine 04. Uma iniciativa sem Paralelos. KPMG Business Magazine 04. É hora de se preparar. LOBIANCO, L. F. M. “O risco da legislação de fundos de investimento” em Gestão de Riscos no Brasil (DUARTE Jr. A. M. e VARGA, G. organizadores). Ed. Financial Consultoria, Rio de Janeiro, 2003. MOREIRA, R. L. “A administração da tesouraria sob o Novo Acordo de Capitais da Basiléia”. Dissertação de Mestrado, Ibmec-RJ, Dez/2002. MOREIRA, R. L. “A administração das tesourarias nos bancos brasileiros sob o Novo Acordo de Capitais da Basiléia”. Revista de Administração, São Paulo, V. 40, n. 1, p. 96-102, jan./fev./mar. 2005. MOREIRA, R. L. “Transparência e Basiléia II” em Gestão de Riscos no Brasil (DUARTE Jr. A. M. e VARGA, G. organizadores). Ed. Financial Consultoria, Rio de Janeiro, 2003. MARSHALL, Christopher, Medindo e Gerenciando Riscos Operacionais em Instituições Financeiras, Qualitymark, 2002. PAINE, Lynn Sharp, WEBER, James, The Sarbanes-Oxley Act, Harvard Business School, Rev: 12 de Julho de 2004. PrincewaterhouseCoopers, 2005, Finding the Silver Lining, How Private Companies can Benefit from the New Governance and Disclosure Standard. PricewaterhouseCoopers. Comitê de Auditoria. Novas Regras para Instituições Financeiras. Resolução 3.081. Conselho Monetário Nacional. Agosto de 2003.

Page 107: UMA ANÁLISE COMPARATIVA - LEI SARBANES-OXLEY

107

PricewaterhouseCoopers, 2005, Comitê de Auditoria no Brasil. Melhores Prática de Governança Corporativa – 2005. Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa, 2002. ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph W., JAFFE, Jeffrey F. Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2002. SALTER, Malcolm S., Innovation Corrupted: The Rise and Fall of Enron, Harvard Business Scholl, December, 2004. SARBANES-OXLEY. Public Law 107-204-July 30,2002. SILVA, José M., SILVEIRA, Emerson S. Apresentação de Trabalhos Acadêmicos: Normas Técnicas. 2ª. ed. Juiz de Fora: Juizforana Gráfica e Editora, 2003. Sistema de Controles Internos: as recomendações internacionais e o modelo brasileiro, 2000. WATKINS, Sherron S., Ethical Conflicts at Enron: Moral Responsibility in Corporate Capitalism, California Review Management, Summer, 2003 Vol. 45 – No. 4. XAVIER, Paulo Henrique Moura. Transparência das Demonstrações Contábeis dos Bancos no Brasil: Estudo de Caso sob a perspectiva do acordo “Basiléia 2”. Dissertação (Mestrado em Controladoria e Contabilidade) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.