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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SOCIOECONÔMICO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS TIAGO PEDRAZZI DAER UMA ANÁLISE EMPÍRICA DO INVESTIMENTO AGREGADO NA ECONOMIA BRASILEIRA DE 2003 A 2012 FLORIANÓPOLIS 2013

uma análise empírica do investimento agregado na economia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO SOCIOECONÔMICO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

TIAGO PEDRAZZI DAER

UMA ANÁLISE EMPÍRICA DO INVESTIMENTO AGREGADO NA ECONOMIA

BRASILEIRA DE 2003 A 2012

FLORIANÓPOLIS

2013

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TIAGO PEDRAZZI DAER

UMA ANÁLISE EMPÍRICA DO INVESTIMENTO AGREGADO NA ECONOMIA

BRASILEIRA DE 2003 A 2012

Monografia submetida ao Curso de Ciências

Econômicas da Universidade Federal de Santa

Catarina, como requisito obrigatório para a

obtenção do grau de Bacharelado.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Arend.

Co-orientador: Prof. Dr. Gueibi Souza.

FLORIANÓPOLIS

2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO SOCIOECONÔMICO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A Banca Examinadora resolveu atribuir nota 9,5 ao aluno Tiago Pedrazzi Daer na

disciplina CNM 5420 – Monografia, pela apresentação deste trabalho.

Banca Examinadora:

------------------------------------------------------------------------------------

Prof. Dr. Marcelo Arend (Orientador)

------------------------------------------------------------------------------------

Prof. Dr. Gueibi Peres Souza (Co-orientador)

------------------------------------------------------------------------------------

Prof. Dr. Ronivaldo Steingraber (Membro)

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Dedico as mulheres da minha vida, minha mãe

Anelise, minhas irmãs, Bibiana, Mariana e

Luciana, e a minha companheira Camila.

Page 5: uma análise empírica do investimento agregado na economia

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Badique Oliveira Daer e Anelise Rodrigues

Pedrazzi, pelo amor e carinho que me propiciaram e pela confiança que depositam em mim

em favor do meu crescimento. Não poderia deixar de agradecer-lhes, também, pelo enorme

esforço que fizeram durante toda a minha vida para me propiciar uma boa educação.

Também agradeço as minhas irmãs, Bibiana, Mariana e Luciana, pelo apoio e carinho que

me deram ao longo do curso. Vocês tornam minha vida muito mais animada e divertida.

A você, Camila Aparecida da Silveira – minha companheira, agradeço por todo o suporte

que me deste ao longo de toda esta etapa. A sua simples presença, nos momentos mais

difíceis, me alentava e dava forças para seguir em frente. Sem você certamente o caminho até

aqui teria sido mais árduo.

Aos meus amigos, eu os agradeço pelos momentos de descontração e por todo o incentivo

que me deram.

Não poderia esquecer aqueles que fizeram parte, de forma mais direta, da minha formação

acadêmica e me ajudaram na construção deste trabalho. Obrigado aos Professores Marcelo

Arend e Gueibi Souza por todo o auxílio que me deram.

Enfim, agradeço a todos os demais que me auxiliaram de forma direta ou indireta na

execução deste projeto, com atenção especial aos meus sogros, Maria e Genésio, e ao meu

cunhado Emanuel, que me aturaram alguns fins de semana quais necessitei estudar.

Page 6: uma análise empírica do investimento agregado na economia

“A dificuldade real não reside nas novas ideias,

mas em conseguir escapar das antigas”.

John Maynard Keynes

Page 7: uma análise empírica do investimento agregado na economia

RESUMO

O presente estudo faz uma análise descritiva e quantitativa do investimento agregado do

Brasil focando-se no período de 2003 a 2012. O objetivo foi identificar o impacto dos

determinantes macroeconômicos sobre nível do investimento agregado na economia

brasileira, no período exposto anteriormente. Para atingir o objetivo utilizou-se de referencial

teórico de base keynesiana, clássico e contemporâneo, para destacar as variáveis. Em seguida

contextualizou-as através de revisão dos fatos ocorridos na economia brasileira pós-Plano

Real. Por último, foi feita uma análise de regressão, através do método dos Mínimos

Quadrados Ordinários (MQO), com o objetivo específico de estimar parâmetros para as

variáveis explicativas e mensurar o impacto delas sobre a taxa investimentos nacional.

Verificou-se, então, que a variável dependente respondeu positivamente as variações do

Produto Interno Bruto e negativamente as variações da taxa de juros, da taxa de câmbio e dos

salários reais.

Palavras-chave: Investimento agregado; economia brasileira; análise de regressão.

Page 8: uma análise empírica do investimento agregado na economia

ABSTRACT

The present study analyses, in description and quantitatively, the aggregate investment of the

Brazilian economy in the 2003-2012 period. The objective was to identify the impact of the

macroeconomic determinants over the level of aggregate investment in that timeframe. In

order to reach that goal, the study used a Keynesian theoretical framework, both classic and

contemporary, to contrast the variables. Afterwards, it has provided a context through revision

of the events that happened in the Brazilian economy post-Plano Real. Finaly, the research

performed a regression analysis, through the method of ordinary least squares (OLS) with the

specific objective of estimating parameters for the explainable variables as well as measuring

their impact over the national investment rate. It is possible to verify, then, that the dependent

variable had responded positively over the variations of the Gross Domestic Product and

negatively to the fluctuations of the interest rate, exchange rate and real wages.

Keywords: aggregate investment; Brazilian economy; regression analysis.

Page 9: uma análise empírica do investimento agregado na economia

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Viabilidade de investimentos em função das taxas de juros ..................................... 25

Figura 2- Composição do saldo em conta corrente .................................................................. 49

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Esquema ilustrativo da utilização das variáveis macroeconômicas câmbio e juros

no combate a inflação e no equilíbrio das contas externas ....................................................... 44

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Média trimestral do IPCA a.m. ............................................................................... 38

Gráfico 2 - Taxa de câmbio R$/US$ (Venda) .......................................................................... 39

Gráfico 3 – Taxa de juros do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC) over a.a. . 41

Gráfico 4 - Taxa de investimentos - média a.a. ........................................................................ 42

Gráfico 5 - Reservas internacionais em milhões de dólares (1995 – 2003) ............................. 43

Gráfico 6 - Índice de Salário Real da Indústria (SRI) – média (2006=100) ............................. 45

Gráfico 7- Índice de preço geral das commodities (2002=100) ............................................... 48

Gráfico 8 - Reservas internacionais de 2003 a 2012 ................................................................ 49

Gráfico 9- Comparativo da evolução da produção industrial entre Brasil, mundo e América

Latina ........................................................................................................................................ 52

Gráfico 10- Evolução dos investimentos industriais por setor ................................................. 52

Gráfico 11- Custo Unitário do Trabalho/Taxa Real Efetiva de Câmbio da Indústria de

Transformação (Dez/01-Dez/11) .............................................................................................. 54

Page 12: uma análise empírica do investimento agregado na economia

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Taxas médias de crescimento para o mundo, o Brasil e regiões selecionadas - 1995-

06 .............................................................................................................................................. 50

Tabela 2- Taxas de Investimento para o mundo, o Brasil e regiões selecionadas - 1995-06 (%)

.................................................................................................................................................. 50

Tabela 3- Matriz de correlação ................................................................................................. 61

Page 13: uma análise empírica do investimento agregado na economia

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Bacen – Banco Central do Brasil

BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento

EMgK – Eficiência Marginal do Capital

EUA – Estados Unidos da América

FBKF – Formação Bruta de Capital Fixo

FHC – Fernando Henrique Cardoso

FMI – Fundo Monetário Internacional

FRA – Função de Regressão Amostral

FRP – Função de Regressão Populacional

Gretl - Gnu Regression, Econometrics and Time-series Library

IED – Investimento Externo Direto

INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor

IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo

IPEADATA – portal eletrônico de dados Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPI – Imposto sobre Produto Industrializado

Lula – Luis Inácio Lula da Silva

MQO – Mínimos Quadrados Ordinários

NUCI – Nível de Utilização da Capacidade Instalada

OLS – Ordinary Least Squares

PDE – Princípio da Demanda Efetiva

PIB – Produto Interno Bruto

PND – Planos Nacionais do Desenvolvimento

PT – Partido dos Trabalhadores

SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia

SRI – Índice de Salário Real da Indústria

TJLP – Taxa de Juros de Longo Prazo

Page 14: uma análise empírica do investimento agregado na economia

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO .......................................................................................... 14

1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 16

1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 16

1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 16

1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 16

1.3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 17

CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................. 20

2.1 INVESTIMENTO DENTRO DE UMA PERSPECTIVA KEYNESIANA CLÁSSICA .. 20

2.1.1 Principio da Demanda Efetiva ..................................................................................... 21

2.1.2 Investimento em função da renda ................................................................................ 22

2.1.3 Eficiência Marginal do Capital e Taxa de juros ......................................................... 23

2.2 KEYNESIANISMO-ESTRUTURALISTA: UMA VISÃO CONTEMPORÂNEA .......... 26

2.2.1 Taxa de câmbio e Salário Real ..................................................................................... 26

2.3 MÉTODO DOS MINIMOS QUADRADOS ORDINÁRIOS ........................................... 33

2.4 SÍNTESE CONCLUSIVA ................................................................................................. 35

CAPÍTULO 3 – ECONOMIA BRASILEIRA DE 1995 A 2012 ......................................... 37

3.1 GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO ........................................................ 37

3.2 GOVERNO LULA ............................................................................................................. 47

3.3 GOVERNO DILMA .......................................................................................................... 56

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE QUANTITATIVA .................................................................... 59

4.1 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................... 59

4.2 MODELO DE REGRESSÃO MULTIPLA COM DEFASAGENS DISTRIBUIDAS ..... 62

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 66

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 70

APÊNDICE ............................................................................................................................. 73

ANEXOS ................................................................................................................................. 83

Page 15: uma análise empírica do investimento agregado na economia

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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

A presente monografia pretende abordar um tema de extrema importância para o

desenvolvimento nacional, trata-se da evolução da taxa de investimento agregado no Brasil e

suas determinantes.

O investimento agregado é um dos componentes principais da demanda agregada. Ao

mesmo tempo em que é responsável pela geração de emprego, promove elevação do nível de

renda nacional (JONES, 2000) e cria bases para um crescimento econômico sustentado. De

forma sintética, como disseram Luporini e Alves (2010), o investimento em capital fixo, por

promover o aumento da capacidade produtiva e expandir o nível de produção, torna-se ponto

nevrálgico para a determinação do produto, emprego e renda da economia de um país.

O tema revela sua importância ao analisar a história mais recente da economia brasileira,

quando se podem observar diferentes movimentos do crescimento do produto em razão dos

distintos níveis de investimento apresentados ao longo do tempo. Dados retirados do portal

eletrônico de dados Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEADATA) mostram que, os

anos 1970, impulsionados pelos primeiro e segundo Planos Nacionais do Desenvolvimento

(PND), alcançaram taxas anuais de investimento que circundaram uma média de 21,40% do

Produto Interno Bruto (PIB) refletindo num crescimento anual médio da economia na base de

8,79%. Em contrapartida, os anos 1990, período de estabilização da economia brasileira,

houve queda do investimento público, elevação das taxas de juros, movimento de abertura da

economia, as quais levaram as taxas de investimentos para 15,66% ao ano (a.a.) em 1999 e o

crescimento médio da economia para uma média de 1,64% a.a. ao longo da década (ANEXO

A).

Partindo dessa problemática, este trabalho se propôs a encontrar na teoria keynesiana

clássica do investimento e na vertente keynesiano-estruturalista do desenvolvimento, fundada

por Bresser-Pereira (BRESSER-PEREIRA, 2011), as variáveis macroeconômicas capazes de

determinar o nível do investimento agregado numa economia capitalista e, o mais importante,

analisar o impacto destas variáveis no contexto recente da economia brasileira, mais

precisamente no período que vai de 2003 a 2012.

Keynes foi o primeiro autor a tentar explicar as oscilações das taxas de investimento

agregada dentro de uma economia capitalista, visto a importância que esta tem dentro da

determinação da Demanda Efetiva, cerne de sua Teoria Geral, e, consequentemente, na

manutenção do nível de emprego (LUPORINI; ALVES, 2010). Para Luporini e Alves (2010),

Page 16: uma análise empírica do investimento agregado na economia

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a manutenção de taxas expressivas de investimento em capital fixo numa determinada

economia é condição necessária para sua prosperidade no curto e no longo prazo, em razão

disso, as variáveis macroeconômicas devem estar alinhadas a aquele objetivo, de tal forma

criem um ambiente favorável às inversões produtivas.

Partindo disso, a teoria keynesiana clássica propõe inicialmente que o nível de renda da

economia deve ser mantido elevado para criar bases materiais e psicológicas ao empresário

para manter os ciclos de investimentos aquecidos numa determinada economia (KURIHARA,

1961). De forma complementar, Keynes (1992) explica que as taxas de juros desempenham

papel fundamental da formação do nível de investimentos de uma economia, posto que

representam a linha de corte entre os investimentos atrativos em bens de capital e os não

atrativos, quanto maiores as taxas de juros, mais projetos de investimento produtivo se

enquadrarão no segundo grupo.

Quando se volta para o panorama nacional e contemporâneo, vários estudos de autores

keynesianos-estruturalistas como Bresser-Pereira, Paulo Gala, Nelson Marconi, José Luis

Oreiro, dentre outros, quais buscam identificar outras variáveis macroeconômicas, além das

propostas pela teoria clássica keynesiana, que expliquem o movimento dos investimentos no

Brasil. Taxa de câmbio e salários se mostraram importantes para estes autores na explicação

do movimento das taxas de investimentos nacionais.

Primeiramente a taxa de câmbio aparece como um fator determinante da competitividade

externa do bem industrializado produzido na economia, portanto, fator que pode ampliar ou

reduzir a demanda externa por bens industrializados brasileiros e, assim, incentivar ou não os

investimentos em ampliação da capacidade produtiva (BRESSER-PEREIRA, 2007). Já, os

salários funcionam como proxy de custo ao empresário local e proxy de demanda interna,

sendo que o impacto sobre os investimentos dependerá da relação desta variável com a

produtividade do trabalho (GALA; MORI, 2009).

Realizando uma análise histórica da economia brasileira pós-Plano Real, verificou-se que

as taxas de investimento apresentaram tendência decrescente até 2003, mas após este ano os

investimentos apresentaram-se crescentes no Brasil até o advento da crise do sub-prime em

2008, ocorrida nos Estados Unidos da América (EUA).

Passado o efeito imediato da crise, o Brasil apresentou forças e as taxas de investimento

logo se recuperaram. Entretanto, mesmo no ápice da prosperidade econômica brasileira, as

taxas de investimento sequer chegaram aos 20% a.a. e o crescimento econômico do tipo stop

and go prevaleceu.

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Diante disso, utilizou-se de uma análise de regressão para analisar os impactos das

variáveis propostas: renda agregada, taxa de juros, taxa de câmbio e salários sobre o

investimento agregado na economia brasileira no período que vai de 2003 a 2012.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

A partir das análises keynesianas clássicas e contemporâneas do investimento, mensurar

os impactos das variáveis macroeconômicas, identificadas por estas como determinantes do

investimento, sobre o movimento da taxa de investimento agregado brasileiro de 2003 a 2012.

1.1.2 Objetivos Específicos

Destacar, dentro da perspectiva teórica keynesiana clássica e contemporânea as

variáveis que influenciam a oscilação das taxas de investimento;

Relatar brevemente o a trajetória da economia brasileira contemporânea, com ênfase

na evolução das taxas de investimento agregada;

Quantificar, através de análise de regressão, o impacto das variáveis destacadas pela

teoria keynesiana clássica e contemporânea sobre o investimento agregado na

economia brasileira de 2003 a 2012;

1.2 JUSTIFICATIVA

A ciência econômica busca entender, dentre diversas outras coisas, a causa do crescimento

e do desenvolvimento econômico das nações. Independente da vertente teórica, todas

concordam que, das variáveis macroeconômicas componentes do produto agregado, o

investimento produtivo é o elemento dinâmico do processo de acumulação de uma economia

capitalista, pois gera demanda e aumenta a capacidade de oferta da mesma.

Passado o período de hiperinflação na economia brasileira, se esperava que as taxas de

investimento voltassem subir e que a mesma entraria numa nova espiral de prosperidade e

crescimento econômico. Contudo, as taxas de investimento circundam os 18% do PIB e,

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como consequência, o crescimento do produto estagnou nos níveis de 2% a.a., em média

(IPEADATA, 2013). Quais as razões para a ocorrência desse fenômeno?

A teoria keynesiana clássica, sugere que a taxa de investimentos responde às oscilações da

renda agregada e da taxa de juros média de uma determinada economia, já os keynesianos-

estruturalistas, uma vertente keynesiana brasileira, mostra que a taxa de câmbio e os salários

pagos também apresentam relação significativa na determinação do nível de investimento

agregado de uma economia capitalista.

Atualmente, os patamares de juros caíram, a oferta de crédito cresceu, a economia

permaneceu estável, o risco-Brasil está em níveis bem mais baixos do que de outrora, enfim, a

economia brasileira como um todo aparenta um diagnóstico melhor, mas os números do

investimento não refletem isto, e com isso, o crescimento sustentado não ocorre, aparecendo

na verdade, o voo da galinha, crescimento tipo stop and go.

Sendo assim, faz-se necessário uma análise dos dados num período mais atual buscando

explicar o nível de investimentos produtivos verificados atualmente na economia brasileira,

tendo em vista mudanças do contexto macroeconômico ocorridas pós-Plano Real.

1.3 METODOLOGIA

Conforme GIL (2002) a ciência é, nos últimos 200 anos, a fonte de respostas com maior

credibilidade para os questionamentos humanos. Adquiriu esse status perante as demais

fontes de verdade devido suas respostas serem, sem sombra de dúvidas, as mais prováveis de

serem verdadeiras. Todavia, no campo das ciências sociais, onde se enquadra o estudo da

economia, a ciência ainda concorre com outras fontes, tais como o conhecimento filosófico e

o conhecimento vulgar, este último utilizado pelas pessoas no dia-a-dia. De acordo com,

Ferrari (1982, apud GIL, 2002, p. 2) o conceito de ciência é o “conjunto de atitudes e

atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser

submetido á verificação.”.

Este trabalho pode ser classificado como uma pesquisa explicativa, pois se caracteriza

pela preocupação em identificar fatores determinantes ou contribuintes da ocorrência de um

fenômeno, ou seja, através dos resultados que serão expostos aqui, buscou-se explicar a razão,

o porquê de algo (GIL, 1999). Para embasar este objetivo, foi aplicado um método estatístico

quantitativo, sendo assim, segundo Gil (1999), a pesquisa oferece conclusões com

probabilidade de acerto e margem de erro, importante para os pesquisadores preocupados com

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questões de ordem quantitativa, além de oferecer razoável grau de precisão. Seguindo a

classificação de delineamento de pesquisa do mesmo autor, este estudo foi uma mescla de

pesquisa bibliográfica, dado que se embasou na bibliografia científica já publicada, e pesquisa

ex-post-facto, posto que objetivou fazer testes práticos e empíricos com variáveis não

manipuláveis, cujas suas manifestações já ocorreram.

Dito isto, a metodologia utilizada para o desenvolvimento de cada objetivo específico está

expressa em capítulos, posteriores a introdução, os quais compõem o presente estudo. Abaixo

segue a metodologia utilizada para formulação de cada um deles.

Para atender o primeiro objetivo especifico, fez-se uma leitura da Teoria Geral de Keynes

(1996) juntamente de uma síntese da teoria keynesiana, escrita por Kurihara (1961). Desta

forma, introduziu-se o debate keynesiano dos investimentos e logo destacou-se os fatores

determinantes das oscilações do investimento agregado segundo esta corrente teórica.

Posteriormente, buscou-se apresentar novas variáveis explicativas, através da leitura de

estudos recentes, mas que seguissem o mesmo hard core da teoria keynesiana dos

investimentos. Dentre os autores pesquisados, estão: Bresser-Pereira (2007), um dos mentores

da nova teoria keynesiana-estruturalista do desenvolvimento no Brasil, Bresser-Pereira e

Marconi (2008), Gala e Mori (2009) e Oreiro (2012). Vale ressaltar que, para todas as

variáveis destacadas, também se mostrou como se dá o relacionamento delas com a taxa de

investimentos.

Encontradas as variáveis explicativas a serem inseridas na análise, no terceiro capítulo

iniciou-se uma análise breve e descritiva da recente história da economia brasileira, mais

especificamente pós-Plano Real, dando ênfase aos movimentos apresentados pelas variáveis

explicativas e dependentes eleitas neste trabalho, junto dos eventos que explicam tais

oscilações. Leituras de Gremaund, Vasconcellos e Toneto Junior (2008), Lacerda et. al

(2006), Giambiagi et. al (2005), Gentil e Araújo (2012) e Salama (2010) serviram como base

para esta passagem.

Após a análise descritiva, passou-se, no quarto capítulo, à análise quantitativa do trabalho.

Primeiramente, foram coletados os dados correspondentes as variáveis elencadas pela

literatura apresentada no segundo capítulo. Para isto, foi utilizado o site do IPEADATA

(2013). Após terem sido coletados os dados, foram feitos alguns testes para confirmação de

algumas hipóteses necessárias para aplicação do modelo de regressão linear múltipla, seguido

do devido tratamento dos dados. Todos os procedimentos estatísticos foram feitos utilizando o

Page 20: uma análise empírica do investimento agregado na economia

19

software Gnu Regression, Econometrics and Time-series Library (Gretl), disponível para

download gratuito em http://gretl.sourceforge.net.

O modelo de regressão linear foi gerado através do método dos Mínimos Quadrados

Ordinários, com a utilização de defasagens temporais para as variáveis explicativas. Portanto,

o modelo será caracterizado, segundo Gujarati (2006) como modelo de Regressão Múltiplo

Linear com Defasagens Distribuídas. Gerados os coeficientes do modelo de regressão,

passou-se a interpretação destes utilizando os capítulos dois e três como referência.

Por fim, no último capítulo encontram-se as considerações finais, quais fazem um

apanhado geral do trabalho e dos resultados obtidos.

Page 21: uma análise empírica do investimento agregado na economia

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CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O investimento agregado é, em grande parte o somatório das decisões dos diversos

empresários, públicos ou privados, em adquirir bens de capital para iniciar, ou aumentar, a

produção de determinado bem, mais os gastos do governo voltados a melhoria da

infraestrutura (BLANCHARD, 2007). Sendo assim, é necessário investir para que se aumente

a capacidade produtiva de uma economia capitalista e tenha-se base para o crescimento

econômico sem inflação. Entretanto, para que os níveis de investimento se mantenham em

patamares suficientes, se faz necessário um arranjo favorável das variáveis macroeconômicas,

de forma que incentivem a lucratividade empresarial (LUPORINI; ALVES, 2010).

Portanto, a proposta deste capítulo é identificar as variáveis macroeconômicas que

influenciem as decisões de investir do empresário capitalista e de que forma elas deveriam se

encontrar numa economia para que tal agente seja incentivado a investir seu capital em

máquinas e equipamentos produtivos.

No mais, o capítulo está dividido em duas seções: na primeira delas encontra-se a

abordagem keynesiana, explicando brevemente o princípio da demanda efetiva, a função

keynesiana do investimento em função da renda e posteriormente o conceito de Eficiência

Marginal do Capital, evidenciando os impactos das taxas de juros no nível de investimentos;

na segunda seção destacam-se artigos mais atuais de autores nacionais, que agregam variáveis

ao debate a partir de uma analise mais focada a economia brasileira.

2.1 INVESTIMENTO DENTRO DE UMA PERSPECTIVA KEYNESIANA CLÁSSICA

A análise do Investimento agregado como ponto chave do crescimento econômico obteve

grande atenção a partir da obra de Keynes. Para este autor a demanda agregada adquire ponto

nevrálgico como fator explicativo da variação do produto e o Investimento produtivo como

cerne explicativo das oscilações da demanda agregada. Desta forma, a teoria keynesiana

tornou-se uma das primeiras a buscar explicações para os movimentos do investimento

através de variáveis determinantes capazes de direcionar a análise do investimento agregado

em uma economia capitalista (LUPORINI; ALVES, 2010).

Page 22: uma análise empírica do investimento agregado na economia

21

2.1.1 Principio da Demanda Efetiva

Sob o contexto econômico conturbado por uma grande crise, Keynes questionou os

preceitos da teoria econômica clássica como propositores de soluções aos problemas

econômicos reais que as principais economias vinham sofrendo e elaborou a sua Teoria Geral.

Como ponto de partida o autor rejeita a hipótese clássica de que a oferta cria a sua própria

demanda e formula o Princípio da Demanda Efetiva (PDE) (GRASEL, 1996).

O PDE explica o nível de atividade econômica através da demanda agregada e não da

oferta, como faziam os clássicos (GRASEL, 1996). A soma do que se espera que a

comunidade reverta de sua renda em consumo de bens e serviços (D1) e do montante de

investimento que se espera ser realizado pelo empresário capitalista (D2), resulta no que

Keynes chamou de demanda efetiva (D). Sendo assim:

[…] a demanda efetiva é simplesmente a renda agregada (ou produto) que os

empresários esperam receber, incluídas as rendas que fazem passar às mãos dos

outros fatores de produção, por meio do volume de emprego corrente que resolvem

conceder (Keynes, 1992. p. 59).

Observando individualmente os componentes da demanda agregada citados anteriormente,

consumo dos trabalhadores e investimento realizado pelo empresário, a teoria toma algumas

hipóteses importantes como base, seguem:

1) A porção de renda gasta pela comunidade em consumo de bens e serviços depende de

sua propensão a consumir, sendo esta última variante das condições psicológicas das

pessoas que compõe tal comunidade. Portanto, estabelecida a propensão a consumir, o

montante a ser gasto em consumo dependerá da quantidade de pessoas empregadas;

2) O nível de emprego depende da função oferta agregada, da propensão a consumir e do

nível de investimentos.

3) D1 cresce junto do nível de emprego, entretanto, menos que D (demanda efetiva),

dado que nem toda a renda é consumida. Portanto, a medida em que a renda cresce

aumenta o hiato entre oferta agregada e a renda que os empresários esperam que

retorne por via do consumo dos trabalhadores, e, caso a propensão a consumir dos

trabalhadores não varie, a atividade econômica só se manterá em crescimento caso o

investimento (D2) cresça de tal forma que cubra a lacuna entre oferta agregada e D1

(KEYNES, 1992).

Enfim, dado que: i) o ponto de maximização dos lucros se dá na intersecção entre oferta

agregada e demanda agregada (ambas funções do emprego), ii) atingir este ponto é a meta de

Page 23: uma análise empírica do investimento agregado na economia

22

qualquer empresário, e, iii) o volume de empregados que o empresário busca contratar varia

conforme sua expectativa de receita futura, demonstrou-se que o nível de atividade econômica

em será pautado pela expectativa de demanda agregada em , e não pela capacidade

produtiva de tal economia em determinado tempo (KEYNES, 1992).

A partir disto, a teoria keynesiana desenvolve seu argumento explicativo sobre o nível de

emprego de uma sociedade capitalista e, além disso, insere o debate dos investimentos dentro

da dinâmica da economia capitalista, conforme segue abaixo:

A não ser que haja este volume de investimento, as receitas dos empresários serão

menores que as necessárias para induzi-los a oferecer tal volume de emprego. Daqui

se segue, portanto, que dado o que chamamos de propensão a consumir da

comunidade, o nível de equilíbrio do emprego, isto é, o nível em que nada incita os

empresários em conjunto a aumentar ou reduzir o emprego, dependerá do montante

de investimento corrente. O montante de investimento corrente dependerá, por sua

vez, do que chamaremos de incentivo para investir, o qual, como se verificará,

depende da relação entre a escala da eficiência marginal do capital e o complexo das

taxas de juros que incidem sobre os empréstimos de prazos e riscos diversos

(Keynes, 1992. p. 40).

2.1.2 Investimento em função da renda

Inicialmente, o investimento era variável independente tido como autônomo, dado a

infinidade de fatores que poderiam influenciar o empresário na decisão de investir, Keynes

não se preocupou em buscar explicações mais robustas à variações no nível de investimentos.

Porém, após demonstrar o papel dos gastos do empresário na demanda efetiva, se tornou

necessário analisar pormenor o que motivava o capitalista a decidir empregar sua liquidez em

novos capitais e fatores de produção. Assim, introduziu-se o conceito de eficiência marginal

do capital, cujas inversões em capital fixo passam a ser função, grosso modo, da relação:

expectativa de lucros futuros e nível médio dos juros correntes (KURIHARA, 1961). Tratar-

se-á dessa relação mais adiante, contudo, vale ressaltar o tipo de capital que merece atenção

na leitura keynesiana.

Segundo Kurihara (1961), capital de que Keynes tratava era, capital fixo (ex.: máquinas,

equipamentos e edificações) e capital circulante (ex.: estoques de bens não vendidos e

inventários). Dos dois tipos, aquele qual mereceu o maior destaque foi o capital fixo, dado sua

maior representatividade na composição do capital total e, sua capacidade intertemporal de

trazer as expectativas futuras e incertezas do longo prazo para decisões correntes dos

empresários.

Apesar de a função investimento ser determinada pela relação entre Eficiência Marginal

do Capital (EMgK) e taxa de juros, diversos autores analisaram tal componente da demanda

Page 24: uma análise empírica do investimento agregado na economia

23

agregada como função simples do crescimento da renda nacional, visto que tendencialmente

os lucros acompanham em mesmo sentido as variações no produto e as expectativas otimistas

dos investidores dependem também das observações do crescimento vigente da renda

agregada (KURIHARA, 1961).

Conforme Kurihara (1961), dado a relação direta entre renda nacional e lucros esperados,

a função I(Y), chamada de investimento induzido, apresenta correlação positiva e dela

podem-se obter importantes coeficientes capazes de expressar os impactos da variação da

renda nos investimentos, são eles: (I/Y) a propensão média a investir, o qual mensura a

porcentagem da renda aplicada na produção de bens de capital; e (dI/dY) propensão marginal

a investir, isto é, a taxa a qual se espera que o investimento varie a partir de uma variação no

nível da renda.

Seguindo a mesma corrente de pensamento, foi elaborado o Modelo do Acelerador

Flexível, evolução do Modelo Acelerador, que conforme Jacinto (1997) (apud BORIN, 2003)

“o estoque de capital efetivo se ajusta em função da diferença entre o estoque de capital

desejado de um período atual e o estoque efetivo no período anterior, através de um

coeficiente de ajustamento parcial [...]” onde os estoques de capitais são dependentes do nível

de produto corrente e passado. Portanto, segundo este modelo, o nível de produção, ou atual

estado da renda agregada, e expectativa de demanda são variáveis chaves para a efetivação de

investimentos em capital fixo.

2.1.3 Eficiência Marginal do Capital e Taxa de juros

Criando bases para as primeiras teorias do investimento, Keynes (1996), inicialmente,

relacionou as inversões em capital produtivo com as expectativas de lucro e taxas de juros,

como segue:

O montante de investimento [produtivo] corrente dependerá, por sua vez, do que

chamaremos de incentivo para investir, o qual, como se verificará, depende da

relação entre a escala da eficiência marginal do capital e o complexo das taxas de

juros que incidem sobre os empréstimos de prazos e riscos diversos (Keynes, 1996.

p. 62).

Conforme o PDE, a decisão de adquirir nova unidade de um bem de capital dependerá,

assim como a decisão de empregados a contratar, da expectativa de receita que tal empresário

espera que este capital lhe proporcione. O fluxo de anuidades que o empresário espera obter a

partir da utilização do bem de capital que ele adquiriu, Keynes (1997) intitulou de renda

esperada.

Page 25: uma análise empírica do investimento agregado na economia

24

Concomitante a isto, um produtor de bens de capital somente o ofertará quando o seu

preço de oferta for atrativo. Para preço de oferta, toma-se aquela importância ao qual induz

um fabricante a produzir unidade adicional de determinado bem de capital, conhecido também

como custo de reposição, não podendo se confundir com preço de mercado o qual o fabricante

efetivamente ofertará o produto (KEYNES, 1992). Dito isto, da relação entre a renda esperada

de um determinado bem de capital e o seu preço de oferta, ou custo de reposição, surge o

conceito de Eficiência Marginal do Capital. De forma mais clara e precisa o autor coloca:

Mais precisamente, defino a eficiência marginal do capital como sendo a taxa de

desconto que tornaria o valor presente do fluxo de anuidades de rendas esperadas

desse capital, durante toda a sua existência, exatamente igual ao seu preço de oferta

(Keynes, 1992. p. 115).

Vale ressaltar que a EMgK depende do retorno esperado de um bem de capital

recentemente produzido, ou seja, não importando para sua composição os ganhos históricos

de bens em utilização em relação ao seu preço original (KEYNES, 1992).

Pressupõe-se que a curva da EMgK, ou curva da demanda por investimentos, – com a

devida taxa de juros no eixo das ordenadas e o volume de investimentos no eixo das abcissas

– tem coeficiente angular negativo, seja via redução da renda esperada de um determinado

tipo de capital a medida em que sua oferta se amplia no mercado, seja via aumento do preço

de oferta, dado a pressão sobre os fabricantes do capital referido (KEYNES, 1992).

A relação entre taxa de juros e Eficiência Marginal do Capital, tomado como taxa

percentual, torna-se latente, visto que o mercado oferece uma série de ativos financeiros

remunerando através de diversas taxas de juros, podendo extrair-se uma taxa de juros padrão

i, portanto, o empresário apenas alocará seus recursos em capital fixo quando a sua

expectativa de lucros futuros ultrapassar os rendimentos que obteria se alocasse sua riqueza

em títulos do mercado financeiro (KEYNES, 1992). Ou seja, o investimento só será atraente

quando EMgK > i. Veja a figura 1 que segue abaixo:

Page 26: uma análise empírica do investimento agregado na economia

25

Figura 1- Viabilidade de investimentos em função das taxas de juros

Fonte: (GRASEL, 1996)

Na Figura 1 toma-se no eixo Y a Eficiência Marginal do Capital e a Taxa de juros média

do Mercado, já no eixo X encontram-se sete projetos de investimento possíveis em ordem

decrescente de rentabilidade futura. Sendo a reta perpendicular ao eixo das ordenadas a taxa

de juros média de mercado e a linha negativamente inclinada representando a EMgK,

consegue-se observar que, neste exemplo, são viáveis racionalmente1 apenas os projetos de

investimento 1, 2, 3 e 4, pois estes ultrapassam a linha da taxa de juros, ou seja, suas

expectativas de lucratividade futura são maiores do que a média das rentabilidades

provenientes de juros pagas no mercado financeiro.

Conforme descreveu Keynes (1992, p. 116):

Torna-se, portanto, evidente, que a taxa efetiva de investimento corrente tende a

aumentar até o ponto em que não haja mais nenhuma classe de bem de capital cuja

eficiência marginal exceda a taxa de juros corrente. Em outras palavras o

investimento vai variar até aquele ponto da curva de demanda de investimento em

que a eficiência marginal do capital em geral é igual à de juros do mercado.

A determinação do investimento dentro da teoria keynesiana depende, desta forma,

diretamente da expectativa de rendas futuras e negativamente das oscilações de taxas de juros,

dado que quedas nesta taxa incentivarão o empresário a investir no mercado produtivo ao

revés que aumentos dela criarão desincentivos a investimentos cuja EMgK seja menor do que

tal taxa.

1 Racionalmente, pois Keynes (1992) mostra que nem toda a decisão de investir se dá a partir de uma

comparação fria entre a expectativa de lucros devidamente calculada e as rentabilidades futuras provenientes de

títulos do mercado financeiro. Muitos investimentos ocorrem por puro otimismo do empresário.

Page 27: uma análise empírica do investimento agregado na economia

26

Portanto, é crucial para Keynes que a taxa de juros esteja em baixos níveis para que a taxa

de investimentos seja elevada, caso contrario haverá um forte desincentivo ao capitalista em

adquirir bens de capital que representam investimentos menos líquidos e mais arriscados.

Também vale ressaltar a importância de uma economia estabilizada e próspera para a

manutenção de elevadas taxas de investimento, pois em ambientes adversos cheios de

incertezas, as expectativas dos empresários são minadas fazendo-o segurar a liquidez e reduzir

investimentos.

2.2 KEYNESIANISMO-ESTRUTURALISTA: UMA VISÃO CONTEMPORÂNEA

Analisando a literatura econômica contemporânea, encontram-se autores nacionais,

inseridos no debate internacional, que trazem outras variáveis explicativas a função

investimento e, assim, podem auxiliar para a explicação do nível do investimento

agregado brasileiro, dado que suas propostas partem de análises mais alinhadas com as

peculiaridades da economia brasileira.

Tomar-se-á como base os textos de Bresser-Pereira e Gala (2007), Bresser-Pereira

(2007), Bresser-Pereira e Marconi (2008), Oureiro (2012) e Gala e Mori (2009). As

variáveis que serão enfatizadas nesta seção serão a taxa de câmbio e o salário real.

2.2.1 Taxa de câmbio e Salário Real

Partindo de uma base keynesiana, observa-se que tão essencial quanto uma taxa de

juros competitiva internacionalmente, se faz necessário, para que um país se desenvolva,

uma taxa de câmbio de equilíbrio que seja capaz de incentivar as exportações e os

investimentos (BRESSER-PEREIRA, 2007).

O investimento apoiado na poupança externa foi uma alternativa adotada por diversos

países latino-americanos entre as décadas de 1960 e 1970, dado que suas economias não

tinham poupança interna suficiente para financiar seus projetos de desenvolvimento.

Contudo o excesso de endividamento dessas duas décadas eclodiu na crise da dívida

externa nos anos 1980. A partir de 1990 o incentivo a poupança externa para países em

desenvolvimento veio com mais força, não só como uma alternativa a insuficiência de

poupança interna, mas como base de um modelo de crescimento (BRESSER-PEREIRA,

GALA. 2007).

Page 28: uma análise empírica do investimento agregado na economia

27

Os neoclássicos, defensores do modelo de crescimento com poupança externa,

propõem é que o capital excedente dos países desenvolvidos, na busca por maiores

lucratividades, naturalmente se deslocará aos países em desenvolvimento convertendo-se

em investimento produtivo, financiando desta forma a acumulação de capital do país

destino, e, consequentemente, aumentando as taxas de crescimento econômico do local

onde se estabelecer (BRESSER-PEREIRA, GALA. 2007).

Autores como Bresser-Pereira e Gala (2007) criticam o crescimento econômico via

poupança externa a partir do argumento de que este receituário ortodoxo não leva

economias médias ao desenvolvimento econômico conforme o prometido. O argumento

dos autores parte da observação de que o capital estrangeiro que abarca nas economias

emergentes, como a do Brasil, sobrevaloriza a taxa de câmbio, que além de prejudicar

empresas exportadoras, aumentam artificialmente o salário real, ampliando, assim, o

consumo interno e esmagando a lucratividade, o que por consequência desestimula

fortemente os investimentos produtivos. Basicamente, o que os autores buscam mostrar é

que a poupança externa substitui parte da poupança interna por meio de aumento do

consumo, variando a taxa de substituição da poupança interna pela poupança externa

conforme o arranjo macroeconômico de cada economia.

Por outro lado, o câmbio valorizado poderia atrair investimentos, visto que a

importação de máquinas e equipamentos do exterior tornar-se-ia mais atrativa e, assim,

deveria haver transferência de tecnologia externa para dentro do país com mais

facilidade. Contudo, esse argumento se mostra extremamente falho quando se observa a

economia brasileira de década de 1990, quando a taxa de câmbio valorizou-se fortemente

e o nível de investimento respondeu com queda (GALA; MORI. 2009).

Ora, seguindo a argumentação de Gala e Mori (2009), quando se apresenta dentro de

uma economia uma valorização cambial forte, os ramos da indústria que ofertam bens e

serviços precificados internacionalmente perdem competitividade e tem seus lucros

achatados. Há maior desestimulo do que este para a decisão de investir em capital

produtivo em tais setores? O que se observou em economias que tiveram seu câmbio

fortemente apreciado foi uma redução do nível do investimento agregado, evidenciando,

desta forma, que os ganhos com a importação de máquinas e equipamentos a preço mais

baixo não compensam as fortes contrações no lucro que as empresas se expõem.

Gala e Mori (2009) respondem o argumento da transferência de tecnologia da

seguinte forma:

Page 29: uma análise empírica do investimento agregado na economia

28

Nas cadeias globais de fornecimento, as decisões sobre transferências de

tecnologia são feitas pelas multinacionais que alocam sua produção de acordo

com a situação geral (macro, institucional, educacional, etc.) de cada

plataforma de produção. Regiões ou países que apresentam alta volatilidade

cambial e recorrentes ciclos de sobrevalorização, como é o caso do Brasil,

acabam ficando fora desse circuito (GALA; MORI. 2009. p. 88).

O movimento de ascendência dos asiáticos com economias dinâmicas no cenário de

produtores mundiais de bens industrializados, a partir da década de 1980, no mesmo

momento em que as economias da América Latina perdiam seu espaço, corrobora com a

tese de que a sobrevalorização cambial não é um atrativo às multinacionais para a

transferência de tecnologia, bem como as induz a transferir plantas industriais já

estabelecidas (GALA; MORI, 2009).

Este debate do nível ótimo da taxa de câmbio está muito atrelado aos modelos de

crescimento debatidos na atualidade, wage-led e export-led, ambos embasados na Teoria

de crescimento liderado pela demanda de Keynes, Kalecki e Kaldor. O primeiro

impulsiona o crescimento por vias de aumento salarial enquanto o segundo o faria por

meio do crescimento das exportações (OREIRO, 2012). Onde isso afeta a relação

investimento x taxa de câmbio?

Segundo Oreiro (2012), o modelo de crescimento wage-led consiste em impulsionar o

crescimento da economia via aumento relativo do salário real em relação à produtividade,

portanto, aumento da demanda agregada via aumento do nível de consumo. Os “sócio-

desenvolvimentistas” são favoráveis a este modelo, pois , além deles acreditarem que esse

modelo gera melhor distribuição de renda, os sequenciais aumentos reais no salário

garantiriam demanda crescente ao empresário, incentivando-o a aumentar a produção,

dado que o trabalhador consome toda a sua renda.

Em contrapartida, o preço unitário do trabalho se elevaria e reduziria a

competitividade desta economia no mercado internacional, necessitando assim de

medidas protecionistas visando à manutenção da lucratividade do empresário local. No

médio e longo prazos, dado a queda nas exportações, os problemas na balança de

pagamentos tornar-se-iam inevitáveis. Conclui o autor que este é um modelo de

crescimento instável (OREIRO, 2012).

Por outro lado, o modelo export-led sugere o crescimento das exportações como

determinante do crescimento da demanda agregada através do efeito multiplicador que a

variável independente gera sobre a variável dependente. Ou seja, o crescimento das

Page 30: uma análise empírica do investimento agregado na economia

29

exportações ao gerar crescimento no PIB deverá induzir aumentos no consumo e nos

investimentos em mesma proporção (OREIRO, 2012).

Contudo, para sucesso deste último modelo é condição sine qua non que a estrutura

produtiva da indústria exportadora seja diversificada e com elevada participação de

produtos intensivos em fatores de produção e tecnologia. Desta forma, “a elast icidade

renda das exportações será elevada”, possibilitando que o ritmo de expansão das

exportações seja em maior ritmo do que o da renda mundial e que o país conseguirá fazer

o caching-up em relação ao mundo (OREIRO, 2012).

É neste ponto que a taxa de câmbio assume papel fundamental no sucesso do modelo

export-led e na crítica dos “sócio-desenvolvimentistas”. Primeiro porque se faz

necessário que a taxa de câmbio esteja num equilíbrio industrial que favoreça os diversos

ramos da indústria exportadora em geral, porém, chegando na crítica, o primeiro efeito de

uma desvalorização cambial seria a redução do salário real, o que por consequência,

geraria uma piora na distribuição funcional da renda (OREIRO, 2012).

Caso a taxa de câmbio esteja valorizada, a tendência será de produção daqueles bens

quais o país possui vantagens comparativas, o que no Brasil significa reprimarização da

pauta exportadora, déficits comerciais e desindustrialização da economia (OREIRO,

2012). O investimento perde sua força como motor dinâmico da economia tornando-a

dependente do crescimento do consumo para seu crescimento e sem sustentabilidade de

longo prazo.

Portanto, conclui Oreiro (2012):

O regime export-led é um modelo no qual a taxa de crescimento do produto real

é determinada pela taxa de crescimento das exportações e sustentada, a nível

doméstico, pelo crescimento do consumo e do investimento. O êxito desse

regime depende da existência de uma estrutura produtiva diversificada, a qual

permite que os produtos manufaturados tenham uma participação expressiva,

quando não majoritária, na pauta de exportações. Para tanto é necessário manter

uma taxa de câmbio competitiva, ou seja, compatível com o equilíbrio

industrial. Nesse caso, a economia irá manter um razoável grau de abertura ao

comércio internacional; ao mesmo tempo em que permite um crescimento

robusto do mercado doméstico.

Alinhada à conclusão do autor acima está a relação feita entre doença holandesa, câmbio e

desindustrialização, por Bresser-Pereira e Marconi (2008). Antes de avançar na argumentação

da relação, o conceito de doença holandesa é:

A doença holandesa é um fenômeno decorrente da existência de recursos

naturais abundantes que geram vantagens comparativas ao país que os possui e,

segundo mecanismos de mercado, podem levá-lo a se especializar na produção

destes bens e não se industrializar ou terminar se industrializando, o que inibiria

o processo de desenvolvimento econômico (BRESSER-PEREIRA; MARCONI,

Page 31: uma análise empírica do investimento agregado na economia

30

2008. p. 7).

Países que sofrem do distúrbio de mercado exposto acima tendem a equilibrar sua

conta corrente de forma intertemporal com uma taxa de câmbio apreciada, dado que

desfrutam de rendas ricardianas. Ou seja, um país que possua vantagem comparativa

originada pela enorme disponibilidade de certo recurso natural, consegue tornar o preço

dos bens ligados a este recurso competitivo no mercado externo a uma taxa de câmbio

mais apreciada do que os bens produzidos nesta mesma economia que não tenham

relação com a vantagem comparativa deste local (BRESSER-PEREIRA; MARCONI,

2008).

Quando este cenário se realiza em uma economia, existirão duas taxas de câmbio

concomitantemente: uma de equilíbrio corrente, a qual mantém a conta corrente

devidamente balanceada, e outra de equilíbrio industrial sendo esta a taxa de câmbio que

tornaria atrativo a produção daqueles bens comercializáveis diferentes daqueles

beneficiados pelas rendas ricardianas (BRESSER-PEREIRA; MARCONI, 2008).

Uma taxa de câmbio valorizada levará o país a se especializar cada vez mais naquilo

que possui vantagem comparativa, ao mesmo tempo, a doença holandesa pressionará o

câmbio em direção da valorização e, dito isto, os setores dinâmicos da indústria sofrerão

choques negativos de competitividade e lucratividade tornando-os pouco atrativos aos

olhos dos empresários.

Conforme Bresser-Pereira (2007), a doença holandesa ao manter a taxa de câmbio

valorizada, torna-se um obstáculo do lado da demanda reprimindo os investimentos das

indústrias mesmo quando estas detém o conhecimento tecnológico. Sendo assim, esta

falha de mercado é prejudicial ao desenvolvimento econômico, dada a importância dos

investimentos produtivos no desenvolvimento de uma economia, seja através do aumento

de produtividade e competitividade que o aumento de capital trazem, seja como base de

sustentação do crescimento a longo prazo ao criar demanda e estrutura produtiva para o

aumento do produto.

Bhaduri e Marglin (apud GALA; MORI, 2009) elaboraram um modelo de curto prazo

que mostra as influencias da taxa de câmbio sobre os investimentos através dos impactos

que a primeira causa sobre o salário real e lucro capitalista. Através dessa relação,

puderam-se gerar conclusões acerca do choque da variável câmbio no investimento

agregado.

Page 32: uma análise empírica do investimento agregado na economia

31

Antes da equação, apresentar-se-ão alguns pressupostos da teoria de Kaldor, Kalecki

e Keynes que servem de base para sustentação do modelo, são eles: (1) trabalhador

consome toda a sua renda, logo não tem poupança; (2) preços são formados a partir da

regra de Mark-up sobre os custos do trabalho e (3) o nível de preços médio é uma

ponderação entre os preços de bens comercializáveis e não-comercializáveis. A partir

disto, Bhaduri e Marglin (apud GALA; MORI, 2009) chegam a seguinte função2:

( ) ( )

Sendo: m o mark-up sobre os custos do trabalho; p os preços internacionais, substituindo

os preços dos bens domésticos comercializáveis; pnt

os preços dos bens não-comercializáveis;

α o coeficiente entre 0 e 1; e é a taxa de câmbio nominal; b a produtividade; e w os salário

nominal médio.

Portanto, desvalorizações no câmbio aumentarão os preços internacionais em relação ao

salário, consequentemente o salário real decrescerá para dado α tendo como contrapartida o

aumento dos lucros, na hipótese de que elevações no salário nominal não ultrapassem o

aumento de preço dos bens comercializáveis (GALA; MORI, 2009). O mesmo vale para o

contrário, caso haja uma valorização do câmbio e as condicionantes do exemplo anteriores se

mantenham, a tendência é de queda nos lucros.

Bhaduri e Marglin (apud GALA; MORI, 2009) avançam então para a função

investimentos:

I = I(h, z), Ih > 0, Iz > 0

Seja I o nível de investimentos variando positivamente em relação a h, margem de

lucro, e z, Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI).

Para chegar-se a equação investimento, derivou-se parcialmente o nível da capacidade

instalada pelas margens de lucro praticadas para encontrar a elasticidade do investimento

em bens de capital a lucratividade do empresário, assim:

( )

( )

logo,

2 Ver a dedução da equação em Gala e Mori (2009).

Page 33: uma análise empírica do investimento agregado na economia

32

Assumindo a condição de equilíbrio Keynesiana:

(sh – Iz) > 0

Para sh igual a parcela de renda poupada pelo capitalista que é sempre maior do que

zero, a variação da utilização da capacidade instalada variará com os movimentos da

diferença entre (sh – Iz) (BHADURI; MARGLIN apud GALA; MORI, 2009).

Desta forma, os impactos de variações no salário real se farão recessivos ou

progressivos a economia dependendo da elasticidade do investimento aos lucros. No caso

dos investimentos serem pouco elásticos a variações na margem de lucro, uma queda no

salário real será prejudicial ao crescimento da economia, dado que os investimentos dos

capitalistas não suprirão a queda de consumo provocada pela queda salarial. Doutra

forma, uma elevada elasticidade dos investimentos à margem de lucro causará aumento

na demanda agregada, via elevação da taxa de investimentos, e a economia será posta

“numa trajetória do tipo investment-led growth” (GALA; MORI, 2009. p. 92).

Trazendo o modelo para uma economia aberta, com as funções exportação e

importação dependentes da taxa de câmbio e NUCI, o novo equilíbrio se dará por:

(shz + M) = I(h,z) + E

Tomando M como gasto com importações e E como o gasto com exportações, a

elasticidade NUCI a margem de lucro fica:

( – sz)(gu + sh – Iz)

Nesta equação g assume o papel de “participação inicial de importações e exportações

sobre o produto” (GALA; MORI, 2009. p. 92) e u “a elasticidade do volume de importações

sobre a capacidade instalada” (GALA; MORI, 2009. p. 92). Para tanto, se assumirá mais uma

vez que (gu + sh – Iz) > 0 e, com isso, serão obtidas conclusões bastante próximas do que se

observou com a economia fechada (GALA; MORI, 2009).

Agora que a economia foi aberta, o impacto de uma desvalorização cambial se dará na

redução do salário real que refletirá em aumento dos lucros dos empresários, incentivando o

Page 34: uma análise empírica do investimento agregado na economia

33

investimento produtivo, assim o nível de renda será puxado pelo aumento de investimentos e

exportações. Para tanto a hipótese da elevada elasticidade dos investimentos aos lucros ainda

se faz necessária para que o cenário se realize (GALA; MORI, 2009).

Torna-se claro, então, a relação entre: investimentos, câmbio e salários, a partir das

equações apresentadas. A releitura do feita por Gala e Mori (2009) do modelo de Bhaduri e

Marglin, corrobora com a ideia de que a taxa de câmbio deve ser mantida em um patamar

que torne a indústria nacional competitiva no mercado externo, se a economia estiver

buscando crescimento econômico sustentado pautado em investimento produtivo. Agrega ao

debate a condicionante da elasticidade investimentos/lucro, o qual precisa ser suficiente para

suprir a queda no consumo a partir de uma queda no salário real.

2.3 MÉTODO DOS MINIMOS QUADRADOS ORDINÁRIOS

Uma análise de regressão busca estimar uma Função de Regressão Populacional (FRP)

com base numa Função de Regressão Amostral (FRA) de forma que a segunda possa

representar a primeira da forma mais fiel possível (GUJARATI, 2006). O método dos

Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) é uma das formas de encontrar FRA.

Conforme Gujarati (2006), tal método, criado por Carl Friedrich Gauss, estima os

parâmetros da FRA por meio da minimização da soma dos quadrados resíduos, ou seja,

através desse método estatístico, para qualquer que seja a amostra testada os coeficientes

estimados beta 1 e beta 2 serão aqueles que minimizam a soma dos quadrados dos resíduos.

Portanto, através da aplicação do método do MQO, atinge-se o objetivo central de um modelo

de regressão.

Entretanto, como a intenção não é apenas encontrar os parâmetros estimados beta 1 e beta

2, mas também poder fazer inferências a respeito dos verdadeiros parâmetros, para garantir

que a regressão apresente propriedades estatísticas interessantes, é necessário que os dados

respeitem as premissas do “modelo de regressão linear clássico, gaussiano ou padrão”

(GUJARATI, 2006. p. 53).

A primeira das premissas é que a função deve ser linear nos parâmetros, não necessitando

que o regressando Y e o regressor X sejam lineares. Assumindo essa hipótese como

verdadeira garante-se que Y varia em relação a X de forma linear (GUJARATI, 2006).

Page 35: uma análise empírica do investimento agregado na economia

34

Outra prerrogativa para eficácia do modelo é que os valores de X sejam independentes em

relação ao termo do erro, ou seja, para cada valor de X, os valores médios, ou esperados, para

a variação aleatória termo do erro ui é igual a zero (GUJARATI, 2006).

Para que o modelo tenha validade estatística, também é necessário que haja ausência e

heterocedasticidade, ou seja, ao longo de todas as observações a variância do termo do erro

deve se manter constante. Isto implica que a distribuição em torno da média deve ser igual ao

longo da amostra, de forma que todos os pontos da reta de regressão sejam confiáveis.

Muito importante é avaliar a especificação do modelo. Este teste estatístico consiste em

verificar se o modelo de regressão não está omitindo nenhuma variável importante, com o

erro afetando sistematicamente o valor médio de Y, ou se está assumindo a forma funcional

errada (GUJARATI, 2006).

A premissa 5 apontada por Gujarati (2006) afirma não haver correlação entre os diversos

termos do erro. Essa premissa é importante, pois caso haja correlação entre e , a

variação de Y será determinado de certa forma por , e assim a média de Y teria influência

do termo do erro, e não apenas de X.

Por último, uma premissa que vale apena para as análises de regressão múltiplas é a de

não haver presença de multicolinearidade. Conforme Gujarati (2006), em economia é muito

comum que as variáveis explanatórias tenham relações de influencia entre elas, havendo, de

certa forma, intensidades de multicolinearidade entre as variáveis. Portanto, afirma o autor

que os impactos negativos aumentam a medida que aumenta a intensidade do problema. Em

suma, em casos de multicolinearidade muito forte os erros-padrão tornam-se elevados e os

coeficientes, por consequência, menos precisos. Pode haver casos do erro-padrão ser tão

elevado que o parâmetro é estimado com sinal contrário, nestes casos o modelo está

comprometido.

Partindo do fato que as premissas foram respeitadas, o modelo de regressão gerado por

MQO, apresenta as seguintes propriedades estatísticas, segundo o teorema de Gass-Markov: o

coeficiente é linear, é não-tendencioso e perante todos os estimadores lineares não

tendenciosos desse tipo, estes apresentam variância mínima, portanto, são estimadores

eficientes. Conforme Gujarati (2006): “dadas às premissas do modelo clássico de regressão

linear, os estimadores de mínimos quadrados da classe dos estimadores lineares não

tendenciosos têm variância mínima, isto é, são o melhor estimador linear não tendencioso.”

(GUJARATI, 2006. p. 65).

Page 36: uma análise empírica do investimento agregado na economia

35

2.4 SÍNTESE CONCLUSIVA

Partindo diretamente de autores keynesianos, o investimento agregado pode ter seu

movimento analisado a partir do crescimento da renda agregada da economia, pois quanto

mais promissora esta se mostrar, mais otimistas serão as projeções dos empresários

capitalistas e consequentemente maior serão suas inversões em produção.

Contudo, o próprio Keynes, quando vai tratar em sua Teoria Geral dos determinantes do

investimento agregado, introduz uma explicação mais completa com alguns conceitos novos

para a época. O autor parte do princípio que o investidor busca maximizar lucros e, por isto,

quando ele necessita tomar a decisão de adquirir um novo bem de capital, faz uma

comparação entre a taxa de desconto que iguala as expectativas de receitas futuras ao preço de

oferta do determinado bem de capital com a média das taxas de juros vigentes no mercado

financeiro. A taxa referida que iguala preço de demanda a preço de oferta foi denominado por

Keynes de Eficiência Marginal do Capital. Dito isto, a taxa de juros média da economia

precisa estar em patamares baixos para que se torne atrativo ao capitalista comprar o risco de

investir em bens de capital e não alocar sua liquidez em ativos financeiros que remunerem

juros.

Trazendo o problema da identificação dos fatores explicativos do investimento para a

atualidade, autores como Bresser-Pereira, Paulo Gala, Nelson Marconi e José Luis Oreiro, que

seguem na mesmo linha heterodoxa de Keynes, trazem outras duas variáveis

macroeconômicas para o cento do debate: a taxa de câmbio e os salários.

A taxa de câmbio age sobre os investimentos sobre duas formas: propiciar competitividade

à indústria interna, garantindo demanda externa para os bens produzidos internamente, e

manter atrativa a lucratividade dos empresários via contenção do salário real. Os autores que

mais debatem o câmbio como fator determinante de maiores taxas de investimento rechaçam

a ideia de que moeda valorizada aumenta tais taxas por meio de Investimento Externo Direto

(IED), quando na verdade ampliam o consumo, em grande parte, substituindo a poupança

interna por externa, e concluem que a taxa de câmbio deve ser mantida num patamar de

equilíbrio industrial, mais depreciado do que aquele que equilibra a balança de pagamentos,

visto que o país sofre de doença holandesa.

Já os salários, que também tem relação próxima com a taxa de câmbio, dado que taxas de

câmbio aumentam os salários reais, devem crescer à medida que cresce a produtividade da

economia, pois caso cresçam acima, pressionam os custos industriais, reduzindo a

Page 37: uma análise empírica do investimento agregado na economia

36

lucratividade do empresário e com isso desestimulando o investimento por parte do mesmo.

Entretanto, outra corrente teórica, adepta ao modelo de crescimento do tipo wage-led, acredita

que aumentos sucessivos no salário real servirão como garantias de maior demanda para o

empresário e serão benéficos a decisão de investir do empresário.

Identificadas as variáveis e as premissas que servirão de base para o restante dos capítulos,

passa-se então a um breve capítulo que contextualizará estas variáveis dentro do recente

histórico da economia brasileira contemporânea, mais precisamente de 1995 a 2012, e logo

em seguida aplicar-se-ão os testes estatísticos que verificarão como se apresentou a relação do

investimento agregado com tais variáveis na economia local num período mais recente.

Page 38: uma análise empírica do investimento agregado na economia

37

CAPÍTULO 3 – ECONOMIA BRASILEIRA DE 1995 A 2012

Neste capítulo será feita uma breve revisão da economia brasileira pós-Plano Real,

focando-se no comportamento das variáveis levantadas no capítulo anterior: investimento

agregado, PIB, taxa de juros, taxa de câmbio e salários. Desta forma traçar-se-á um paralelo

entre os principais eventos que ocorreram no contexto econômico brasileiro neste período de

inflação controlada e o movimento de tais variáveis.

3.1 GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

O contexto econômico vivido pela economia brasileira, após a implementação do plano

Real, foi marcado pelo sucesso do governo na estabilização dos preços, com inflação trazida a

patamares aceitáveis, a custa de déficit fiscal e crise da balança de pagamentos. O Plano Real

foi elaborado e inserido pela equipe econômica do governo de Itamar Franco liderada por

Fernando Henrique Cardoso (FHC), que no ano seguinte se elegeria como presidente da

republica com mandato até 1998, sendo reeleito em 1999 para ficar no cargo até 2002. Os

dois mandatos foram permeados por crises internacionais e por uma condução de política

econômica liberalizante (GIAMBIAGI et. al., 2005).

Logo em 1995, o foco do governo era o sucesso na contensão da inflação, visto que o

consumo havia crescido fortemente pela estabilização inicial e a demanda já pressionava os

preços para cima. Por isso, as sombras dos mal sucedidos planos de estabilização da década

de 1980 e inicio da década 1990, a preocupação ainda era a estabilização monetária. Naquele

ano, conforme Giambiagi et. al. (2005), a crise do México abalava os mercados internacionais

e principalmente os emergentes, os quais tiveram restrições de crédito. Na economia brasileira

houve pressão negativa na Balança de Pagamentos e arrefecimento da entrada de capitais

estrangeiros. Resultado disto, somado a crescente demanda interna, foi à queda brutal das

reservas internacionais, que em junho de 1994, quando foi lançado o Plano Real, eram de US$

43 bilhões, em abril de 1995 já se encontrava na casa dos US$ 34 bilhões.

A inflação no primeiro ano de FHC como presidente mostrava-se ainda resistente,

fechando em junho de 1995, 12 meses de Plano Real, com um Índice Nacional de Preços ao

Consumidor (INPC) de 33% a.a.. O sucesso do plano adotado seria evidenciado em anos

posteriores, contudo, o governo diante de uma deterioração da Balança de Pagamentos e

preços subindo ainda com força, julgou necessário o lançamento de algumas medidas que

Page 39: uma análise empírica do investimento agregado na economia

38

amenizassem esse dois problemas iniciais: (1) programa para desvalorização cambial

controlada (micro desvalorizações), para conter os déficits na Balança de Pagamentos sem

pressionar os preços; (2) elevação da taxa de juros nominal, com o intuito de trazer o capital

estrangeiro para compensar os saldos negativos na conta comercial e, também, conter a

pressão da demanda agregada sobre os preços (GIAMBIAGI et. al., 2005).

As medidas adotadas resultaram em sucesso na contenção da inflação e recuperação das

reservas internacionais no curto prazo. Isso só foi possível graças à combinação de elevadas

taxas de juros com a recuperação rápida dos ânimos do sistema financeiro internacional, o

qual reestabeleceu a alta liquidez mundial (GIAMBIAGI et. al., 2005). Facilmente pode-se

ver no gráfico o sucesso que obtiveram as medida do governo sobre a inflação.

Gráfico 1- Média trimestral do IPCA a.m.

Fonte: Elaboração com base em IPEADATA (2013).

Conforme gráfico acima, nota-se que em 1995 há um movimento agudo de alta da inflação

chegando ao segundo trimestre daquele ano a uma média de 2,45% a.m, porém, logo após a

ação do governo, ainda no mesmo ano o movimento de queda surge permanecendo como

tendência até meados de 1999, quando o Brasil não resiste à pressão especulativa sobre o real

e deixa o câmbio flutuar permitindo forte desvalorização.

Entretanto, paralelo ao êxito obtido na estabilização dos preços, a política macroeconômica

adotada agravou problemas estruturais na economia brasileira: desequilíbrio externo crescente

e seria crise fiscal (GIAMBIAGI et. al., 2005).

O desequilíbrio externo se dava pelos grandes déficits em conta corrente oriundos do

crescimento das importações e queda do desempenho das exportações. Entre 1995 a 1997 as

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Page 40: uma análise empírica do investimento agregado na economia

39

importações brasileiras em dólar cresceram a uma taxa de 21% a.a. enquanto as exportações

subiram apenas 6,8% a.a.. Como agravante desta situação crítica na Balança de Pagamentos,

pelo lado da conta corrente, o governo passou a partir de 1995 a financiar seus déficits

comerciais através da entrada de capitais estrangeiros, IED, que fez ampliar a remessa de

juros, lucros e dividendos ao exterior (GIAMBIAGI et. al., 2005).

A razão principal do problema na Balança de Pagamentos encontrava-se na taxa de

câmbio sobrevalorizada que o Brasil tinha adotado para ancorar os preços internos e segurar a

inflação. No inicio do Plano Real a moeda brasileira não foi fixada ao dólar, como a

Argentina fez, contudo mantida num patamar de valorização fora da realidade da economia

local e possibilitando, ainda, apreciação nominal em relação à moeda norte-americana,

chegando ao patamar de R$ 0,84/US$ ainda no fim de 1994 (GREMAUND;

VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2008).

O gráfico abaixo ilustra este período de valorização cambial que a economia brasileira

vivenciou, bem como a desvalorização cambial ocorrida em 1999.

Gráfico 2 - Taxa de câmbio R$/US$ (Venda)

Fonte: Elaboração com base em IPEADATA (2013).

A manutenção de taxa de câmbio valorizada tinha como objetivo segurar os preços no

mercado interno através da forte concorrência imposta pelos bens importados. Contudo, essa

política foi eficaz ao conter a escalada inflacionaria dos bens tradeables, ou seja, aqueles

quais se conseguem comercializar internacionalmente, já para os non-tradeables evidenciou-

se ineficaz tal medida e por isso tais bens conseguiam imprimir aumentos significativos de

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

Page 41: uma análise empírica do investimento agregado na economia

40

preços mesmo com câmbio sobre apreciado (GREMAUND; VASCONCELLOS; TONETO

JUNIOR, 2008).

Conforme Gremaund, Vasconcellos e Toneto Junior (2008), o problema maior constava

no fato do Brasil estar se endividando externamente sem que o capital entrante ampliasse a

capacidade de pagamento futura do país. Com base numa análise da pauta de importação, foi

fácil de analisar o financiamento externo do consumo brasileiro.

Duas questões devem ser observadas no caso brasileiro em 1994. A primeira refere-

se à pauta de importações[...] Apesar de todos os componentes terem crescidos em

1994 e 1995, os dois itens que apresentaram maiores aumentos foram: automóveis

(208%) e bens de consumo (185%). Isto significa que uma parcela relevante da

entrada de recursos direcionou-se para o financiamento de consumo, ou seja, para

itens que não ampliaram a capacidade futura de pagamento do país (GREMAUND;

VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2008, p.459).

A política monetária tornou-se, no primeiro governo FHC, o principal instrumento de

política econômica do governo, pois era através da manutenção das taxas de juros que o

governo continha à demanda, tornava o país atraente ao capital estrangeiro para compensar os

elevados déficits fiscais e conseguia manter a “âncora cambial”. Então, para que os juros

cumprissem todas as suas funções, era necessário que se mantivesse em um patamar real

bastante elevado. Porém, à medida que a inflação caia, os juros nominais acompanhavam a

tendência, contudo, em momentos de grande instabilidade internacional, o governo se viu

obrigado a dar choques de alta nos juros para conter a fuga de capitais e manter as reservas

internacionais (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2008).

Veja no gráfico abaixo que, além da crise mexicana ter refletido em elevação dos juros,

em 1997 e meados de 1998, quando houve as crises asiática e russa, respectivamente, a taxa

de juros apresentam movimentos acentuados de alta, quebrando a tendência de queda que se

apresentava naquele período.

Page 42: uma análise empírica do investimento agregado na economia

41

Gráfico 3 – Taxa de juros do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC) over a.a.

Fonte: Elaboração com base em IPEADATA (2013).

O déficit público nominal de 1995 a 1998 foi de 7% a.a. em média, concomitante,

segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2008), a elevação na carga tributária e

seguida de uma dívida pública crescente (GIAMBIAGI et. al. 2005).

O déficit fiscal apresentou quadro de piora depois de 1994 e logo a resposta encontrada

para o problema foi o aumento dos encargos com a dívida. Entretanto, os juros representaram

apenas 1/3 da elevação da Necessidade de Financiamento do Setor Público, ao passo que a

queda no superávit primário, que teve sua média contraída de 2,9% do PIB de 1991/94 para

um déficit médio de 0,2% no período de 1995/98, foi responsável pela maior parcela do

desequilíbrio fiscal (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2008).

A economia Brasileira no primeiro governo FHC obteve melhora do quadro inflacionário,

mostrando sucesso nas medidas do governo adotadas para atingir tal objetivo, contudo abriu

mão do controle das contas fiscais e do equilíbrio da balança de pagamentos ao combinar

política monetária restritiva, política fiscal expansionista e câmbio sobrevalorizado. As

contrapartidas dos ganhos na manutenção dos preços viriam nas taxas pífias de crescimento

econômico conduzido por níveis de investimento cadentes.

Segundo Souza (2008), a expectativa do governo era de que com os preços controlados e

instituições liberais consolidadas no Brasil, o capital estrangeiro seria atraído pelas grandes

possibilidades da economia brasileira, ampliaria os investimentos em capital fixo, atualizaria

o parque industrial, aumentaria a produtividade do setor exportador - através novos

equipamentos - e consequentemente a competitividade externa da produção nacional, e, ao

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

Page 43: uma análise empírica do investimento agregado na economia

42

fim, geraria saldos positivos no comércio internacional equilibrando as transações correntes.

Contudo, não foi isso que se verificou.

Durante todo o período de 1995 a 2002, apesar do boom do IED, a taxa de investimentos

resultado da Formação Bruta de Capital Fixo em relação ao PIB teve tendência decrescente ao

longo do tempo, às empresas multinacionais que aqui se instalaram se limitaram, na maior

parte, a comprar parques fabris já prontos e inseriam-se em setores voltados a economia

doméstica, sem qualquer vocação exportadora. Portanto, o ingresso de capital estrangeiro, em

vez de sanar o problema da deterioração das contas externas, tornou a agravar a situação por

dois motivos: primeiro porque elevou a parcela de remessas de lucros e dividendos ao

exterior, passando de US$ 619,5 milhões nos anos de 1991/92 para uma media de 3,7 bilhões

no primeiro biênio do governo FHC; em segundo lugar, o capital estrangeiro instalado voltado

a atender a demanda interna exigiu ainda mais importações, pressionando os já agravados

déficits em conta corrente (SOUZA, 2008).

Gráfico 4 - Taxa de investimentos - média a.a.

Fonte: Elaboração com base em IPEADATA (2013).

Conforme Rego e Marques (2006), a queda do investimento em capital fixo até janeiro de

1999 se dá pelos elevados juros que se mantinham na economia até o momento e câmbio

demasiado valorizado, condições adversas para investimentos que mirem o longo prazo e

dependam da competitividade externa de seus produtos para realizar lucratividade atraente.

Portanto, os dólares que entravam neste período tiveram outra função, conforme excerto

abaixo:

12,0

13,0

14,0

15,0

16,0

17,0

18,0

19,0

20,0

Page 44: uma análise empírica do investimento agregado na economia

43

Constata-se que a vulnerabilidade externa decorrente do crescente déficit em conta

corrente no balanço de pagamentos e a sua contrapartida representada pelo aumento

da poupança externa têm financiado o consumo e não o investimento [...] (REGO;

MARQUES, 2006. p. 226).

A passagem do primeiro para o segundo mandato de FHC é marcado pela forte pressão

especulativa sobre o câmbio, qual o governo não conseguiu segurar através da política

monetária, sequer administrar uma desvalorização gradual. Veja no gráfico 2, que o quarto

trimestre de 1998 fecha numa média de 1,20 R$/US$ e já no primeiro trimestre de 1999 esta

média se eleva para 1,92 R$/US$ (IPEADATA, 2013).

À medida que as crises internacionais ocorriam e a confiança do investidor estrangeiro nas

economias emergentes caia, o governo se via obrigado a elevar os juros para manter os

dólares dentro do Brasil, e assim, manter a âncora cambial sobre os preços, a vulnerabilidade

econômica brasileira ficava cada vez mais evidente a olho nu e as especulações numa

desvalorização do real vinham com mais força (REGO; MARQUES, 2006). Esses

movimentos são fáceis de verificar ao comparar os Gráficos 4 e 5, quando nos anos 1995,

1997 e 1998 ocorreram as crises mexicana, asiática e russa, respectivamente e resultaram

pressões de saída das reservas internacionais tendo como resposta elevações dos juros.

Gráfico 5 - Reservas internacionais em milhões de dólares (1995 – 2003)

Fonte: Elaboração com base em IPEADATA (2013).

Conforme visto anteriormente, em 1999 se tornava insustentável a manutenção do câmbio

valorizado dado que o mercado não respondia mais aos juros elevados e as reservas

internacionais estavam caindo em alta velocidade – ver gráfico 5 (GIAMBIAGI et. al., 2005).

20.000,00

30.000,00

40.000,00

50.000,00

60.000,00

70.000,00

80.000,00

Page 45: uma análise empírica do investimento agregado na economia

44

A partir de então, a política econômica do Brasil passa a ser pautada por nova

reestruturação institucional a partir dos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI),

que se iniciaram ainda em 1998 e, com isso, a adoção do conhecido “tripé da política

econômica”: regime de câmbio flutuante, sistema de metas de inflação e compromisso com

superávit primário (GIAMBIAGI et. al., 2005). O quadro 1 torna claro a mudança de função

da política monetária e do câmbio na economia após a desvalorização de 1999 e a adoção do

conhecido tripé macroeconômico.

Quadro 1 – Esquema ilustrativo da utilização das variáveis macroeconômicas câmbio e juros

no combate a inflação e no equilíbrio das contas externas Período /

Objetivo CONTENÇÃO DOS PREÇOS EQUILIBRIO DAS CONTAS EXTERNAS

1995 - 1999 Câmbio Juros

pós - 1999 Juros Câmbio

Fonte: Elaboração própria.

Inicialmente os agentes do mercado internacional, bastantes receosos da capacidade do

governo brasileiro de equilibrar suas contas, foram céticos com a promessa de cumprimento

das metas estabelecidas no primeiro acordo com o FMI para renegociação das dívidas

externas, e mantiveram a tendência de fuga de dólares da economia brasileira. Este problema

foi contornado à medida que o governo apresentou medidas pontuais para aumentar sua

credibilidade diante do mercado, ressalva para a entrada de Armínio Fraga na Presidência do

Banco Central, profundo conhecedor do mercado financeiro e que introduziu os primeiros

estudos sobre a adoção de metas de inflação no Banco Central do Brasil (BACEN), e a adoção

de metas expressivas de superávit primário em relação ao PIB, quais foram de 3,10%, 3,25%

e 3,35% para os anos de 1999 a 2001 (GIAMBIAGI et. al., 2005).

A desvalorização cambial ocorrida em 1999 pouco afetou a inflação ao longo daquele ano

e também dos dois próximos que viriam, mostrando que os mecanismos de indexação já

haviam perdido a força, o governo melhorara sua imagem diante do mercado externo e as

políticas econômicas contracionistas surtiam efeitos sobre a demanda mantendo a inflação

estabilizada (GIAMBIAGI et. al., 2005). Assim, ainda naquele ano, a economia entraria numa

curta trajetória de crescimento econômico, qual se encerraria em 2001 devido uma série de

eventos que comprometeriam o desempenho do mercado interno e externo, são eles: a crise

energética, os atentados de 11 de setembro e a crise argentina (GIAMBIAGI et. al., 2005).

Com a rápida desvalorização do real ocorrida em 1999, a produção industrial de setores

exportadores retomou um movimento crescente de atividade, impulsionando, desta forma, o

Page 46: uma análise empírica do investimento agregado na economia

45

crescimento da economia. Já no ano de 2000 a produção industrial havia crescido 4,9% e o

PIB 4,4% (SOUZA, 2008).

Naquele biênio de 1999 e 2000, o bom desempenho do quadro externo favoreceu a

retomada do crescimento do produto, mesmo que breve, pois a demanda interna estava

reprimida pelos juros elevados, queda dos gastos do governo e contenção do aumento salarial,

reflexos do primeiro acordo com o FMI. O Gráfico 6 mostra a evolução dos salários

industriais de 1995 a 2012, dados retirados do IPEADATA (2013), e facilmente pode-se

observar que no período de 1995 a 2003, quando houve avanço nas políticas liberais e o país

esteve sobre tutela do FMI, o salário real industrial esteve em declínio, voltando a crescer a

partir da entrada de Lula no governo.

Gráfico 6 - Índice de Salário Real da Indústria (SRI) – média (2006=100)

Fonte: Elaboração com base em IPEADATA (2013).

A crise de 2001 jogou um balde de água fria no que parecia a recuperação da economia

brasileira. O Brasil, mesmo antes de 2001 já vinha sofrendo com uma dívida pública

explosiva e com elevado passivo externo, passou, a partir de então, a ter de enfrentar também

o protecionismo dos países desenvolvidos. Em consequência disto, as exportações caíram e a

crise na balança de pagamentos mais uma vez se fez presente (SOUZA, 2008).

O governo, então, apostou numa desvalorização cambial para melhorar o saldo comercial,

porém o passivo externo cotado em moeda forte saltou de 52,65 para 58,37 bilhões de dólares

de 2000 para 2001. Além disto, a dívida pública não ficara por menos e chegava em 2001 na

marca de 51,5% do PIB (SOUZA, 2008).

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

110,0

120,0

130,0

Page 47: uma análise empírica do investimento agregado na economia

46

Necessitou-se então, de 2001 a 2002, firmar mais dois acordos com o FMI, o que

significou metas de superávit primário maiores e políticas monetárias contracionistas mais

fortes. O segundo auxílio acordado com a instituição foi visando apenas garantir o pagamento

de juros e encargos da divida externa (SOUZA, 2008).

Segundo Souza (2008), o panorama do fim do segundo governo FHC não era nada bom

com relação ao cenário externo, dado que: a desvalorização cambial era crescente e os

investidores de portfólio estrangeiros, formados em maior parte por especuladores do câmbio,

estavam ainda nervosos com a debilidade da economia brasileira. Uma das principais razões

para o receio daqueles é a relação dívida/PIB em 2002 estar em 63,7%, posto que o FMI havia

limitado o teto de 53%.

Pedro Malan, Ministro da Fazenda naquela época, decidiu irrigar o mercado com 14

bilhões de dólares buscando conter a depreciação do dólar e elevou as metas de superávit

primário para ganhar a simpatia do mercado internacional. Entretanto tais medidas não

surtiram efeito e agravaram a crise cambial que o país vivenciava, pois já em julho de 2002 a

moeda norte-americana era cotada em 3,4277, representando um aumento de 48,7% nos

primeiros sete meses do ano. Dado que era ano de eleição, o Banco Central admitiu

oficialmente, como resposta para a fuga de capitais que depreciava a moeda, a existência de

um receio por parte dos investidores internacionais com a possível vitória de Luis Inácio Lula

da Silva (Lula), candidato que representava ruptura com a ortodoxia (SOUZA, 2008).

Portanto, no terceiro acordo com o FMI, foi exigido que os candidatos à presidência

daquele ano assinassem um termo de anuência que garantisse a continuidade das “políticas

economias sadias” tratadas com a instituição internacional, à custa de não serem liberados os

30 bilhões de dólares que o governo necessitava (SOUZA, 2008).

Giambiagi et. al. (2005) faz um balanço do 2º governo FHC colocando do lado positivo a

melhora do quadro fiscal, reflexo das metas de superávit primário, e melhora do quadro da

crise no Balanço de Pagamentos e saldo em Conta corrente, visto a elevação nas exportações

e queda relativa nas importações causadas pelo câmbio depreciado. Pelo lado negativo, ficam

as baixas taxas de crescimento econômico e baixas taxas de investimento em capital fixo que

se verificou no período.

Page 48: uma análise empírica do investimento agregado na economia

47

3.2 GOVERNO LULA

Lula foi eleito em 2002 sobre muitas suspeitas e instabilidade econômica. O mercado

internacional estava aflito com um governante de esquerda que sempre defendeu a moratória

no comando de uma nação bastante endividada externamente, por isso os dólares seguiam um

fluxo intenso para fora mantendo o câmbio bastante depreciado e a inflação, em consequência

disso, tinha voltado a assombrar os formuladores de política econômica (GREMAUD;

VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2008).

Contudo, o Partido dos Trabalhadores (PT) já em época de campanha, sob comando de

Antônio Palocci – partidário bem visto pelo mercado - havia emitido a “Carta ao povo

brasileiro”, documento no qual se buscava credibilidade com o mercado através do

comprometimento da legenda em seguir as políticas econômicas ortodoxas que haviam

estabilizado a economia, respeitar os contratos firmados, preservar os ajustes fiscais e garantir

o pagamento dos juros. Ao entrar no governo, Lula dá outro bom sinal para o mercado ao

nomear Henrique Meirelles como Presidente do Banco Central, ex-presidente mundial do

Bank Boston. (GIAMBIAGI, et. al. 2005).

Já em 2003, a confiança dos investidores internacionais é conquistada de vez pela equipe

econômica do governo ao combater a tendência inflacionária com medidas bastante

ortodoxas. Isto significou: elevação da taxa básica de juros, aumento da meta de superávit

primário e valorização do câmbio. Porém, vale ressaltar que os bons resultados fiscais

apresentados ao longo dos governos Lula, da mesma forma que fez FHC, se deram por

aumentos paulatinos da carga tributária (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO

JUNIOR, 2008), isto é, a melhora do quadro fiscal ocorreu concomitantemente a uma política

fiscal expansionista.

Ao longo de todo o primeiro mandato do Governo Lula, o único componente dos gastos

do governo que contraiu foi o investimento, ao passo que os gastos assistenciais, como bolsa

família, e os gastos com previdência cresceram. Os custos desta decisão de política fiscal

aparecem na elevada carga tributária imposta à sociedade juntamente de problemas em

infraestrutura que recaem sobre a capacidade produtiva do país, inibindo os investimentos e

resultando em pressão inflacionaria a cada aumento mais forte do consumo (GREMAUD;

VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2008).

Gremaud, Vansconcellos e Toneto Junior (2008) apontaram para a importância da taxa de

câmbio na política monetária na condução da política econômica, dado que apreciações

Page 49: uma análise empírica do investimento agregado na economia

48

cambiais seguravam a subida de preços e possibilitava a redução da taxa de juros, que apesar

de atingir valores nominais relativamente baixos para a história recente do país, ainda era um

dos mais altos comparados à média internacional, que em termo reais beirava os 11% a.a..

Entretanto, conforme os autores acima citados, Lula teve a sorte de um cenário externo

bastante favorável, com o surgimento da China demandando elevadas quantias de

commodities agrícolas e minerais, ao mesmo tempo em que se observava prosperidade nas

economias centrais. Com câmbio desvalorizado, as exportações brasileiras se beneficiaram e

os saldos comerciais tornaram-se superavitários. Outro fator de grande impacto positivo para

a Balança comercial brasileira foram os saltos dos preços das commodities que estiveram em

ascensão de 2003 até a metade de 2008.

O gráfico 7 mostra o comportamento do preço geral das commodities ao longo dos dois

mandatos de Lula. Já a Figura 2, deixa claro o peso que o boom internacional da demanda e

preço das commodities teve na sustentação dos superávits comerciais, dado que os demais

setores da indústria mostraram-se todos deficitários.

Gráfico 7- Índice de preço geral das commodities (2002=100)

Fonte: Elaboração com base em IPEADATA (2013).

0,00

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

300,00

350,00

400,00

Governo Lula-1

Governo Lula-2

Page 50: uma análise empírica do investimento agregado na economia

49

Figura 2- Composição do saldo em conta corrente

Fonte: Retirado da apresentação de Prates (2013).

Ao longo do primeiro e do segundo mandato de Lula, até a crise de 2008, a conjuntura

externa e interna estava favorável visto que: preços internos estavam estabilizados, os saldos

comerciais eram crescentes, chegando a 46 bilhões de dólares em 2006, e as metas de

superávit primário apresentavam-se acima das acordadas com o FMI, de 4,25% em 2006.

Desta forma, houve uma enxurrada de dólares do mercado internacional para a economia

brasileira, em época de elevada liquidez externa, que tornou a valorizar o câmbio, conforme

pode-se notar no gráfico 2, e possibilitou ao governo adotar uma politica de aumento das

reservas internacionais, como mostra o gráfico 8.

Gráfico 8 - Reservas internacionais de 2003 a 2012

Fonte: Elaboração com base em IPEADATA (2013).

0,00

50.000,00

100.000,00

150.000,00

200.000,00

250.000,00

300.000,00

350.000,00

400.000,00

Page 51: uma análise empírica do investimento agregado na economia

50

Entretanto, por melhor que estivesse o cenário externo, o crescimento brasileiro ficou

aquém da media mundial e permaneceu instável, assim como ocorreu no período de FHC.

Gremaud, Vasconcellos e Toneto Junior (2008) mostraram que de 2003 até 2006 a economia

nacional havia crescido 2,62% a.a em média, enquanto a media mundial teria sido de 4,85%.

Os autores explicam esse baixo crescimento devido às baixas taxas de investimento da

economia brasileira neste período, que apesar de apresentarem certa recuperação,

permaneciam baixas em relação à de outras economias, como as asiáticas.

A seguir seguem duas tabelas que ajudam a enxergar o baixo nível de crescimento

econômico verificado no Brasil pós-Plano Real (de 1995 a 2006), através de um comparativo

com as demais economias do mundo, primeiramente das taxas de crescimento e

posteriormente das taxas de investimento quais fundamentaram as primeiras.

Tabela 1- Taxas médias de crescimento para o mundo, o Brasil e regiões selecionadas - 1995-

06

PERÍODOS MUNDO

(1)

ECONOMIAS

AVANÇADAS

(2)

TIGRES

ASIÁTICOS

(3)

ÁFRICA

AMERICA

LATINA

(4)

OUTROS

EMERGENTES

(5)

BRASIL

1995-06 4,0 2,7 4,8 4,1 2,9 5,7 2,4

2000-06 4,3 2,5 4,7 4,5 3,1 6,4 2,6

2003-06 4,9 2,7 4,6 5,2 4,3 7,3 2,6

Fonte: (DATHEIN, 2007).

NOTA: os dados para 2006 foram estimados na época.

(1) Consideram-se 174 países. (2) Consideram-se 29 economias: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá,

Chipre, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hong Kong,

Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Reino Unido, Cingapura,

Suécia, Suíça e Taiwan. (3) Coréia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan. (4) São 33 países do Hemisfério

Ocidental, não incluindo EUA, Canadá e Cuba. (5) Outros mercados emergentes e países em desenvolvimento:

145 países (mundo menos as economias avançadas).

Tabela 2- Taxas de Investimento para o mundo, o Brasil e regiões selecionadas - 1995-06 (%)

PERÍODOS MUNDO

(1)

ECONOMIAS

AVANÇADAS

(2)

TIGRES

ASIÁTICOS

(3)

ÁFRICA

AMERICA

LATINA

(4)

OUTROS

EMERGENTES

(5)

BRASIL

1995-06 22,1 21,2 27,7 20,4 20,9 25,3 19,4

2000-06 21,7 20,7 25,7 20,7 20,3 25,4 19,2

2003-06 21,9 20,6 25,5 21,5 20,4 26,5 19,4

Fonte: (DATHEIN, 2007).

NOTA: 1. As taxas de investimento são iguais a investimento/PIB; 2. Os dados de 2006 são estimados.

(1) Consideram-se 174 países. (2) Consideram-se 29 economias: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá,

Chipre, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hong Kong,

Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Reino Unido, Cingapura,

Suécia, Suíça e Taiwan. (3) Coréia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan. (4) São 33 países do Hemisfério

Ocidental, não incluindo EUA, Canadá e Cuba. (5) Outros mercados emergentes e países em desenvolvimento:

145 países (mundo menos as economias avançadas).

Page 52: uma análise empírica do investimento agregado na economia

51

Gentil e Araujo (2012) fazem uma análise bem similar sobre a forma como se deu o

crescimento brasileiro pós-década de 1990. Para tais autores, a debilidade da economia

brasileira em promover mudanças estruturais, ou seja, alterar a estrutura produtiva da

economia tornando-a mais dinâmica e competitiva no mercado internacional, através de

investimentos que ampliem a capacidade produtiva da economia, explica as taxas de

crescimento oscilatórias e fracas que o Brasil vem apresentando ao longo do século XXI.

Segundo tais autores, a queda na atividade industrial é outro fator preocupante que debela

o crescimento econômico brasileiro. A indústria é o setor capaz de gerar economias de escala,

promover inovações e multiplicar a renda através de suas extensas cadeias de valor, por isso a

busca por um desempenho líder e acelerado deste setor deve fazer parte de qualquer projeto

de desenvolvimento econômico. Contudo, o que se verificava na economia nacional era uma

queda gradativa da participação da indústria no PIB.

Este movimento regressivo na estrutura industrial brasileira teve forte relação com as

politicas liberais adotadas no início da década de 1990 e ao ambiente interno que se manteve

por quase todo o governo FHC e Lula, que não favorecia a indústria, sendo composto por:

infraestrutura deficitária, tributação pesada, juros elevados e câmbio valorizado, uma

combinação de indicadores macroeconômicos bastante negativos a competitividade externa e

interna do setor industrial.

Importante ver na figura abaixo que a queda da indústria nacional se deu de forma relativa,

ou seja, cresceu no período de 2002 a 2013, mas sempre a um ritmo inferior a média mundial

e com maiores dificuldades de recuperação que o restante do mundo. Vale salientar também

que, por mais que a indústria tenha se recuperado em 2009 e 2010, o nível de atividade no

período ilustrado nunca foi suficiente para fazer a taxa de investimentos superar os 19% a.a.,

e, além disso, após atingir o pico da recuperação naquele último ano, a indústria passou a

mostrar sinais de fraqueza e falta de dinamismo ao apresentar estagnação e queda em relação

ao mundo e América Latina como um todo.

Page 53: uma análise empírica do investimento agregado na economia

52

Gráfico 9- Comparativo da evolução da produção industrial entre Brasil, mundo e América

Latina

Fonte: Arend (2013).

Apesar de ter ocorrido uma contração relativa da indústria na economia brasileira, dado as

políticas de juros altos e câmbio valorizado mantidas durante o governo Lula, criando cenário

adverso às inversões industriais, os investimentos em capital fixo cresceram intensamente

entre 2005 e setembro de 2008. Como mostra o gráfico 10, este movimento ocorreu porque

alguns setores ligados as commodities minerais e agrícolas se beneficiaram com o boom dos

preços no mercado internacional e da crescente demanda externa, e assim ampliaram seus

investimentos num ritmo muito acima da média para conseguir suprir tal mercado – destaque

para as commodities primárias agrícolas e extrativas e o petróleo. (BNDES apud GENTIL;

ARAÚJO, 2012).

Gráfico 10- Evolução dos investimentos industriais por setor

Fonte: Elaboração com base em CEMACRO (2013).

0,00%

100,00%

200,00%

300,00%

400,00%

500,00%

600,00%

700,00% Commodities

primárias agrícolas e

extrativasCommodities indust.

deriv. agríc. e extrat.

(-) petróleoManufaturados de

baixa e média-baixa

tecnologiaManufaturados de

média-alta e alta

tecnologiaPetróleo

Total

Page 54: uma análise empírica do investimento agregado na economia

53

Conforme Beluzzo e Almeida apud Gentil e Araújo (2012, p. 16):

A forte demanda chinesa por commodities e o elevado ingresso de liquidez

internacional empurram o país para o déficit comercial dos setores industriais (com

destaque para os déficits em produtos químicos, bens de capital mecânicos,

equipamentos de rádio, teve e comunicações, veículos automotores) ao mesmo

tempo em que o agronegócio e a mineração sustentavam um superávit no comercio

exterior.

Portanto, o Brasil tinha seu saldo em conta-corrente dependente de um cenário externo

bastante favorável para conseguir cobrir os déficits em transações correntes de alguns ramos

da indústria prejudicados pela conjuntura macroeconômica brasileira. Estes setores são

justamente aqueles que Gentil e Araújo (2012) tratavam como os essenciais para dinamizar a

economia, os que produzem bens de maior valor agregado e distribuem melhor a renda com

suas cadeias de valor.

Os dois mandatos de Lula são marcados também, além dos elevados saldos comerciais

agraciados pela bonança do mercado externo, por uma política que remunerou o salário

mínimo sempre acima da inflação, ou seja, o assalariado nesta época teve aumento da renda

real em todos os anos, chegando a 12,1% no ano de 2006 (SALAMA, 2010).

Segundo Salama (2010), o crescimento real da renda do trabalhador assalariado que houve

durante o governo Lula juntamente da política expansionista de crédito a pessoa física, gerou

uma explosão do consumo das famílias, respondendo, desta forma a 80% do crescimento do

PIB entre 2005 e 2008.

Entretanto, esses ganhos salariais não refletiam aumentos de produtividade, resultando em

pressões inflacionarias que exigiam do governo medidas estabilizadoras (contracionistas)

tanto em âmbito monetário como em âmbito fiscal. Reflexo disto eram elevações das altas

taxas de juros e contenção de gastos do governo, mais especificamente investimentos, dado

que as políticas assistencialistas se mantinham intactas (GENTIL; ARAUJO, 2012). Pois

então, como elevar o nível de renda da população em geral sem que resulte em pressões

inflacionárias? Com aumentos de produtividade, diriam Gentil e Araújo (2012).

No gráfico abaixo, pode-se ver o impacto da política de aumento salário adotada ao longo

do governo lula no aumento do custo unitário do trabalho.

Page 55: uma análise empírica do investimento agregado na economia

54

Gráfico 11- Custo Unitário do Trabalho/Taxa Real Efetiva de Câmbio da Indústria de

Transformação (Dez/01-Dez/11)

Fonte: Retirado de Oreiro (2013a).

De 2004 a 2009 as taxas de crescimento salariais foram maiores do que as taxas de

crescimento da produtividade, com exceção de 2007, e, de 2002 a 2009, o ganho de

produtividade da economia nacional foi de apenas 0,9%. Tais cifras apenas espelham o

retrocesso relativo da produção industrial no Brasil, visto que são nos setores com maior grau

de elaboração industrial que ocorrem os maiores ganhos de produtividade e deles surge a

“maior capacidade de geração de renda e empregos” (GENTIL; ARAÚJO, 2012. p. 17).

Conforme já foi exposto, a economia brasileira havia consolidado um mercado interno

pujante, escorado em salários reais maiores e larga oferta de credito. No cenário externo, as

exportações de commodities garantiam superávits na balança comercial, cobrindo os elevados

níveis de importação de bens industrializados que a demanda interna aquecida exigia no

cenário de câmbio valorizado. Também é importante destacar, conforme a UNCTAD apud

Salama (2010), que o Brasil, até 2008, foi considerado o quarto destino preferido pelas

quatrocentas empresas multinacionais mais importantes do mundo, de acordo com a Merrill

Lynch, e o segundo mercado mais seguro do mundo, o que tornou a economia brasileira alvo

de intensos fluxos de capitais, tanto de portfólio como de IED.

Analisando a divida externa brasileira no período pré-crise, constatou-se uma diminuição

da vulnerabilidade externa aparente, visto que a dívida externa bruta havia caído de 56,4% do

PIB em 2001 para 20,6% do PIB em 2007. Contudo, havia uma maior fragilidade externa a

Page 56: uma análise empírica do investimento agregado na economia

55

choques econômicos, pois em 2001 a porcentagem de investimento externo em portfólio,

aquele com maior volatilidade, era de 9,9% da dívida externa, já em 2007 esses investimentos

representavam 38,8% da dívida externa brasileira.

A crise global de 2008 eclodiu no Brasil no quarto trimestre de 2008 e se manteve com

força até o inicio de 2009, mas já revertendo à tendência dos indicadores no fim deste mesmo

ano (PASTORE; PINOTTI; PAGANO, 2010). Conforme Pastore, Pinotti e Pagano (2010) a

recessão provocada pela crise no Brasil durou apenas 2 trimestres, frente aos 4 na economia

norte-americana.

Os mecanismos de impacto sobre a economia brasileira foram basicamente dois: queda no

preço e nas quantidades demandadas das commodities no mercado externo e trancamento dos

fluxos financeiros do exterior para dentro do país, sendo estes: empréstimos a médio e longo

prazos, compra de ações de empresas brasileiras e IED. Com isto, a capacidade de importar da

economia brasileira diminuiu causando forte queda na taxa de investimentos, dado a

dependência das empresas brasileiras de importação de bens de capital (PASTORE;

PINOTTI, 2008).

No gráfico 4 o movimento de queda dos investimentos é ilustrado, sendo que no terceiro

trimestre de 2008 a taxa de investimentos era de 18,4% a.a., e passa para 14,8% a.a. no

primeiro trimestre de 2009 (IPEADATA, 2013). A recuperação é rápida, conforme dito

acima, pois a partir do 2º trimestre de 2009 os investimentos voltam a subir chegando no

primeiro trimestre de 2010 já a taxa de 19,2% a.a. (IPEADATA, 2013), acima do que se

apresentava logo antes da crise chegar aqui.

O movimento de depreciação cambial ocorre ao natural, conforme Pastore e Pinotti

(2008), com o câmbio flutuante, as reservas não absorveram totalmente o impacto e o dólar

sai de R$ 1,73 no primeiro trimestre de 2008 para 2,39 no primeiro trimestre de 2009. Mas

com o movimento de recuperação da economia ainda em 2009, o câmbio fechou o ano em

1,74.

A recuperação da economia brasileira em 2009 se dá por meio do lançamento de medidas

anticíclicas por parte do governo que atacavam as seguintes frentes: redução dos juros e

redução do depósito compulsório, com intuito de dar liquidez a bancos pequenos e médios e

manter a oferta de crédito (PASTORE; PINOTTI; PAGANO, 2010); política fiscal

expansionista, através da redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para linha

branca da indústria e automóveis (TCU, 2013) e aumento dos gastos públicos correntes, como

Page 57: uma análise empírica do investimento agregado na economia

56

aumento da folha salarial do funcionalismo público e dos benefícios da previdência

(PASTORE; PINOTTI; PAGANO, 2010).

Mesmo com as decisões do governo almejando ampliação do consumo, não foi possível

conter uma queda no PIB em 2009, -0,3% (IPEADATA, 2013). Contudo, no ano seguinte a

recuperação foi mais forte dado que o consumo se manteve aquecido e as empresas tornaram

a elevar as taxas de investimento novamente, com isto, no ano de 2010, último ano do

governo Lula, a economia apresentava crescimento de 7,5% (GENTIL; ARAÚJO, 2012).

Salama (2010, p. 5) faz uma síntese de como foi à condução de política econômica do

período Lula:

Siendo esquemáticos, podríamos decir que el primer gobierno del presidente Lula

realizó un saneamiento, con el costo del consecuente déficit social y a riesgo de

marginar la economía en la arena mundial. El segundo gobierno fue más

“desarrollista”, devolviendo al Estado un poder que había perdido después de la

hiperinflación (1994), conservando numerosos aspectos ortodoxos (altas tasas de

interés, apreciación de la moneda, poca inversión pública -aunque en aumento-,

reforma fiscal moderada).

3.3 GOVERNO DILMA

Dilma Rousseff, também do PT, foi eleita Presidente da República em 2010 sob otimismo

econômico, oriundo do resultado da economia daquele ano (BRESSER-PEREIRA, 2013).

Segundo Bresser-Pereira (2013), alguns analistas pensavam que o Brasil naquele ano havia

encontrado o caminho para o desenvolvimento econômico, dado a ascensão das taxas de

investimento no fim do segundo mandato de Lula, chegando a 19% - conforme visto na

página 55 - e pelas taxas de crescimento terem sido de cerca de 4,5% a.a. ao longo dos oito

anos de governo Lula.

Em 2011, porém, a trajetória da economia já começa a declinar. A produção industrial que

havia se recuperado em 2010 inicia um novo processo de queda no início de 2011, o nível de

utilização da capacidade instalada cai e os investidores passam a ficar receosos na decisão de

investir (BNDES apud GENTIL; ARAÚJO, 2012).

O motivo pelo qual a economia brasileira iniciou tendência de queda encontra-se na piora

do quadro da economia global. A Europa não se recuperava da crise do euro, suas economias

principais apresentavam crescimentos nulos ou recessivos, e a economia norte-americana não

apresentava melhora significativa, sendo assim, o quadro se resumia para o Brasil a demanda

externa cadente. Analisando o gráfico 7 verificamos que a tendência de alta dos preços das

Page 58: uma análise empírica do investimento agregado na economia

57

commodities cessa em 2011 e o governo já não pode contar com esse fator para elevar seus

superávits comerciais (BRESSER-PEREIRA, 2013).

O problema, segundo Bresser-Pereira (2013), encontra-se em velhos legados passado de

governo em governo desde a criação do Real: taxas de juros elevadas e câmbio apreciado.

Estes axiomas são os responsáveis por minar os projetos de investimento do empresário

industrial colocando-o em condições desfavoráveis de competitividade com relação ao

produto externo.

Conforme o mesmo autor, alguns avanços foram dados a partir de 2011. O problema dos

juros foi atacado pelo governo através de uma política de redução da SELIC, como se pode

ver no gráfico 3, fechando o ano de 2012 com uma SELIC Over de 7,29% (IPEADATA,

2013) tornando assim o custo do capital mais próximo das realidades internacionais.

Juntamente disto, o governo reduziu também a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) ao

longo dos dois anos, situando-se abaixo da SELIC e da inflação, fechando o ano de 2011 a

6% a.a. (BNDES, 2013), enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechava

em 6,5% a.a. (IPEADATA, 2013), e no ano de 2012 a TJLP fechou em 5% a.a. e o IPCA

5,87% a.a. respectivamente. É importante citar a TJLP, pois ela é o custo básico dos

financiamentos concedidos pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), ou seja, ao

longo destes dois anos o governo tem cedido empréstimos a juros negativos.

Contudo, permanece o problema do câmbio apreciado. Deste modo a indústria nacional

não consegue avançar no mercado interno, posto que as importações tomam conta do mercado

interno e do mercado externo, pois o produto chega no exterior com competitividade muito

baixa (BRESSER-PEREIRA, 2013). Além disso, os custos de mão-de-obra, principalmente

para a indústria manufatureira de baixo valor agregado, são maiores no mercado interno do

que nos países mais competitivos (SALAMA, 2010).

Posto isto, o problema da estrutura produtiva citada por Gentil e Araújo (2012) permanecia

no governo Dilma, de forma que o crescimento do produto era instável, como nos governos

anteriores, mas em níveis mais baixos 2,73% em 2011 e 0,9% em 2012.

Observando brevemente o mercado de trabalho, o índice de salário real da indústria, como

mostra o gráfico 6, indica ganhos reais ao trabalhador industrial, mas num ritmo bem abaixo

daquele que se verificou no período governado por Lula. Já a taxa de desemprego, que fechou

2010, último ano do governo Lula, a uma taxa de 5,7% a.a., cairia a 4,7% em 2011 e 4,6% em

2012 (IPEADATA, 2013).

Page 59: uma análise empírica do investimento agregado na economia

58

Portanto, no governo Dilma apareceu um problema bastante intrigante: crescimento

econômico baixo com economia em pleno emprego e pressão inflacionária (BRESSER,

2013). Ou seja, o crescimento econômico permaneceu sendo puxado pelo consumo das

famílias gerando pressão inflacionária sobre uma estrutura produtiva que se encontra

defasada. Ficou o desafio para este novo governo de superar este entrave da economia e

promover um ambiente propício aos investimentos, gerando demanda e estrutura de oferta e

promovendo crescimento com preços estabilizados.

Page 60: uma análise empírica do investimento agregado na economia

59

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE QUANTITATIVA

Após a identificação e contextualização dos fatores macroeconômicos determinantes do

movimento da taxa de investimento agregado, neste capítulo será apresentado um modelo de

Regressão Múltipla com Defasagens Distribuídas, calculado pelo método MQO com auxílio

do software Gretl. O objetivo é: encontrar coeficientes que estimem o valor e o vetor de

impacto de cada uma das defasagens temporais validadas estatisticamente das variáveis

independentes – renda agregada, taxa de juros, câmbio e salário - sobre a taxa de investimento

agregada. Depois de estimados e apresentados, passa-se a interpretação dos parâmetros com o

auxílio dos marcos teóricos expostos no capítulo 2 e os eventos ocorridos na economia

brasileira explicitados no capítulo 3.

Sendo assim, o capítulo é composto por duas seções. Na primeira delas são apresentados

os dados coletados para cada uma das variáveis e o tratamento devido da amostra. Na segunda

seção, é apresentado o resultado da analise de regressão calculada juntamente da interpretação

dos parâmetros estimados.

4.1 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados coletados como amostra das variáveis testada no modelo de regressão são:

Taxa de investimentos: Taxa de investimento (preços 2006) - (% PIB) - Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística, Sistema de Contas Nacionais Trimestrais Referência

2000 (IBGE/SCN 2000 Trim.) - SCN4_FBKFPIB904;

Renda agregada: PIB (deflator: IPCA (preços segundo trimestre de 2006)) - R$ (milhões)

- Banco Central do Brasil, Boletim, Seção Atividade Econômica (BCB Boletim/Ativ. Ec.) -

BM12_PIB12;

Taxa de juros: Taxa de juros - Over / Selic - (% a.m.) - Banco Central do Brasil, Sistema

Gerenciador de Séries Temporais (BCB outras/SGS) - GM366_TJOVER366;

Câmbio: Taxa de câmbio - R$ / US$ - comercial - venda - fim período - R$ - Banco

Central do Brasil, Boletim, Seção Balanço de Pagamentos (BCB Boletim/BP) -

BM12_ERVF12;

Salário: Salário real - indústria - índice (média 2006 = 100) - SP - - - Federação e Centro

das Indústrias do Estado de São Paulo, Levantamento de Conjuntura (Fiesp) –

FIESP12_TSR12;

Page 61: uma análise empírica do investimento agregado na economia

60

O intervalo temporal da amostra vai de 1995 a 2012, dado que a intenção inicial do

trabalho era elaborar um modelo de regressão que compreendesse o período pós-Plano Real

trabalhado no capitulo 3. Entretanto, não foi possível gerar uma FRA válida estatisticamente

utilizando toda amostra, pois a variável dependente apresenta clara mudança estrutural a partir

do segundo trimestre de 2003, ou seja, os coeficientes angulares apresentam valores diferentes

para a amostra partida em dois, antes e depois desse determinado ponto amostral. A Figura B-

1 do APÊNDICE B ilustra uma forte quebra de tendência apresentada pelos dados e o Quadro

B-1 comprova, através do Teste de Chow, a presença de falha estrutural no ponto da amostra

destacado. Portanto, o modelo de regressão teve que ser estimado num período reduzido, que

vai do segundo trimestre de 2003 ao quarto trimestre de 2012.

Como a periodicidade das observações é trimestral, foi possível ultrapassar o número

mínimo de pontos na amostra para poder calcular um modelo de regressão sem que houvesse

o problema de “micronumerosidade”3. Para consulta da amostra utilizada para variável

endógena e variáveis exógenas, ver ANEXO A e ANEXO B respectivamente.

O PIB deflacionado pelo IPCA é a somatória do produto real gerado pela economia, mas

também representa a soma de todas as rendas do país. A SELIC Overnight foi selecionada

para representar os juros, devido esta ser a taxa básica de juros da economia brasileira

operacionalizada diariamente no mercado SELIC, servindo de base para o restante do

mercado. O Índice médio do Salário Real da Indústria representa, por um lado uma variável

Proxy do consumo e, por outro o impacto de custo da remuneração do trabalhador industrial

sobre os investimentos. Os demais dados, taxa de investimento e taxa de câmbio venda, foram

selecionados num critério ad hoc por representarem por si só as respectivas variáveis.

Entretanto, para comprovar a relação entre as variáveis independentes com a variável

dependente, elaborou-se uma Matriz de correlação, conforme segue abaixo:

3 Ver mais em Gujarati (2006).

Page 62: uma análise empírica do investimento agregado na economia

61

Tabela 3- Matriz de correlação

Coeficientes de correlação, usando todas as observações 2003:2 - 2012:4

5% valor crítico (bilateral) = 0,3160 para n = 39

PIB Real SRI Selic Over Câmbio Tx. Investimento

1 0,9438 -0,8806 -0,8171 0,9438 PIB Real

1 -0,9166 -0,8856 0,9094 Índice SRI

1 0,8147 -0,8419 Selic Over

1 -0,8634 Câmbio

1 Tx. Investimento

Fonte: Elaboração própria através do Gretl com dados do IPEADATA (2013).

A Tabela 3 deixa claro que os dados coletados para as variáveis independentes registram

forte correlação com a taxa de investimentos, porém, também pode-se observar a elevada

correlação que os regressores apresentam entre si, indicando a possível ocorrência do

problema de multicolinearidade na regressão, conforme abordado na seção 2.9. Porém, como

será visto mais adiante, este não foi o caso.

Com o objetivo de mensurar e amenizar os efeitos da crise financeira de 2008 sobre o

modelo de regressão, cujo impacto sobre os dados pode causar problema de falha estrutural ao

modelo, utilizou-se uma variável dummy, que apresenta o valor 1 para o quarto trimestre de

2008 e primeiro trimestre de 2009 e zero para os restantes. Estes dois trimestres foram

selecionados para representar a crise no Brasil segundo sugestão do trabalho de Pastore,

Pinotti e Pagano (2010). Coforme mostrou o Gráfico 4 no capítulo 3, a taxa de investimentos

sofreu profunda queda no período referido, nos levando, portanto, a considerar a sugestão dos

autores.

Por último, como se está trabalhado com séries temporais, é importante que se verifique se

as variáveis são estacionarias, isto é, se sua média, variância e covariância permanecem as

mesmas, independente do ponto da amostra em que se estiver medindo-as. Uma variável

estacionaria sempre tende a sua média, possibilitando que sejam feitas previsões

(GUJARATI, 2006). Além disso, trabalhar com variáveis não-estacionarias traz o risco de se

calcular uma regressão espúria (entre variáveis que não se espera qualquer tipo de relação)

(GUJARATI, 2006).

Por isso, foram aplicados testes de Dickey-Fuller aumentado para raízes unitárias nas

amostras, através do software Gretl, buscando testar suas estacionariedades. Conforme o

APÊNDICE C, os testes mostraram que, para os dados em seu estado natural, apenas a Selic

apresentou esta característica a um nível de significância de 10%. Portanto, aplicou-se a

Page 63: uma análise empírica do investimento agregado na economia

62

primeira diferença em cada uma das variáveis buscando estacioná-las, conforme sugere

Gujarati (2006). Também, para que a interpretação dos parâmetros fosse mais interessante e

não representasse variações em termos de primeiras diferenças, antes, se aplicou o logaritmo

natural a cada uma delas, assim, os coeficientes resultantes representam o valor em pontos

percentuais (p.p.) em que varia a taxa de investimentos para cada variação e um ponto

percentual da variável independente.

Após a transformação dos dados, as variáveis PIB e SRI ainda permaneceram não-

estacionárias ao nível de significância adotado anteriormente. Contudo, existe literatura prévia

que fundamenta a relação entre tais variáveis e o investimento agregado, conforme foi

apresentado no referencial teórico, reduzindo bastante a possibilidade de se estar mensurando

uma relação espúria. Também, neste trabalho não se pretende utilizar o modelo de regressão

para fazer previsões, portanto, o modelo ainda é valido para analisar o período especificado na

amostra, conforme Gujarati (2006), dado que os coeficientes permanecem sendo os melhores

estimadores lineares não-tendenciosos.

4.2 MODELO DE REGRESSÃO MULTIPLA COM DEFASAGENS DISTRIBUIDAS

Para seleção das defasagens das variáveis de controle, utilizou-se o método de Hendry,

que propõe uma especimetria a partir de um modelo com o maior número de defasagens

temporais possíveis, para o modelo mais específico (GUJARATI, 2006). Abaixo segue a

equação do modelo de Regressão Múltipla com Defasagens Distribuídas gerado com o auxílio

do Software Gretl e apresentado na integra, junto de seus testes, no APÊNDICE D.

Sendo:

TxI = Taxa de investimento;

Y = PIB Real;

E = Taxa de câmbio;

i = Taxa de juros;

w = SRI;

C = Dummy para crise de 2008;

u = termo do erro;

Page 64: uma análise empírica do investimento agregado na economia

63

Primeiramente, algumas ressalvas antes de iniciar as interpretações dos parâmetros:

1) Foi aplicado o teste de multicolinearidade no modelo encontrado, e segundo o

APÊNDICE E, não se pode afirmar a presença de multicolinearidade entre os

coeficientes dos regressores estimados, portanto, não se levou em consideração que os

parâmetros estimados possam estar com erros oriundos de problemas de

multicolinearidade quando interpretados;

2) O coeficiente linear não será desconsiderado do modelo mesmo que não sendo aceito a

10% de nível de significância, pois não há razões suficientes para crer que a reta de

regressão passa pela origem.

Dadas as devidas pontuações, pode-se afirmar, então, que o modelo explica com 99% de

confiança cerca de 83% da variação do Investimento agregado no período estudado, tendo em

vista o teste F e o R quadrado ajustado apresentados no APÊNDICE D.

Iniciando a análise dos coeficientes angulares pela demanda agregada, o modelo

evidenciou que variações de 1 ponto percentual no PIB real, ocorridas entre o segundo

trimestre de 2003 e o último trimestre de 2012, provocaram em t-0 variação de 0,56 pontos

percentuais sobre a taxa de investimento agregada, em t-1 0,38 pontos percentuais e em t-3

também 0,36 pontos percentuais.

Para o câmbio, verificou-se impacto de -0,15 p.p. sobre o regressando para cada 1 p.p. de

variação em t-1. A primeira defasagem da Selic também se mostrou significante e afetou

negativamente as taxas de investimento no período analisado em -0,08 p.p..

O SRI mostrou-se estatisticamente válido com dois trimestres de defasagem, apenas, e seu

coeficiente angular mostrou que o impacto sobre a taxa de investimentos foi de -0,25 p.p. para

cada 1 p.p. variado neste indicador. A crise por si só afetou no período analisado -0,04 p.p. a

taxa de investimentos agregada do país.

Os parâmetros estimados em geral, mostraram que a taxa de investimento agregada do

Brasil responde a oscilações de curto prazo, visto que todas as variáveis determinantes do

investimento causavam reflexos no investimento a defasagens de no máximo três trimestres.

A demanda agregada consolidou-se, neste modelo, como a variável mais importante para

o crescimento do investimento agregado no Brasil, tanto pelo valor de seus coeficientes, tanto

pelo número de defasagens que se mostraram significativas para explicar as oscilações

ocorridas pela variável dependente no intervalo de tempo contido na amostra. Ademais, este

resultado está afinado a base da teoria proposta por Keynes, pois na medida em que crescia a

Page 65: uma análise empírica do investimento agregado na economia

64

demanda agregada, as projeções de receita naturalmente aumentavam e, assim, o empresário

brasileiro era incentivado a aumentar a sua capacidade produtiva.

Através da leitura destes coeficientes apenas, não se pode afirmar, ao certo, se foi a

aquecida demanda interna que se fez presente durante o governo Lula que impulsionou os

investimentos ou se foi o cenário externo favorável que incentivou o empresário a investir,

mas analisando melhor os outros parâmetros, encontram-se indícios que podem esclarecer por

qual lado a demanda se mostrou mais forte.

Quando se volta a atenção novamente ao resultado obtido para o câmbio, a seguinte

interpretação econômica surge instantaneamente: o câmbio valorizado, ao contrário do que se

viu no capítulo 2, foi benéfico aos investimentos nacionais. Como isso foi possível? Será que

a produtividade do Brasil cresceu de tal forma que o produto nacional conseguiu ser

competitivo no mercado mundial mesmo com moeda valorizada? Conforme Gentil e Araújo

(2012), esta hipótese é pouco provável que seja verdadeira.

A causa dessa contradição, segundo Bresser-Pereira (2007), pode ser encontrada no

fenômeno da doença holandesa das commodities. Voltando a seção 3.1 deste trabalho,

facilmente pode-se entender que a relação FBKF/PIB só cresceu durante este período, porque

os setores industriais ligados à exportação de commodities imprimiram taxas muito superiores

às demais áreas da indústria brasileira. Segundo o autor, a competitividade natural que o

Brasil tinha, e ainda têm na produção de bens primários, compensava qualquer efeito negativo

que o câmbio pudesse causar e permitia que a taxa de câmbio de equilíbrio da balança de

pagamentos fosse sobreapreciada.

Portanto, apesar da taxa de investimento se manter praticamente estagnada durante o

período analisado para os setores industriais tecnologicamente mais avançados, outros setores,

como o do petróleo, apresentaram elevadas taxas de inversão, mesmo com o câmbio

apreciado, elevando, assim, as taxas de investimento agregado. Todavia, a evolução da FBKF

estava amarrada a apenas um setor da economia, conforme o gráfico 10, que dependia muito

da demanda externa. Criou-se, então, uma limitação a evolução das taxas de investimento no

Brasil, visto que os demais setores investiam pouco desde a década de 1990.

Os juros imprimiram o sinal esperado pela teoria keynesiana, corroborando com a ideia de

que juros baixos incentivam o aumento dos investimentos. A tendência dos dados já mostrava

isto, posto que os juros durante quase todo o período Lula e início do governo Dilma

mostraram-se cadentes ao passo que a variável dependente mostrava tendência contrária. Isto

é, a queda dos juros na economia brasileira, possibilitou, ao longo do tempo, que cada vez

Page 66: uma análise empírica do investimento agregado na economia

65

mais investimentos fossem viáveis a medida que suas EMgK se tornassem maiores do que os

juros, conforme leitura da teoria keynesiana. Juros menores também significaram custos mais

baixos do capital aos empresários, criando um ambiente mais propício a tomada de

empréstimos.

Os salários reais industriais crescentes também se apresentaram como freio aos

investimentos, dado a natureza do sinal do parâmetro estimado pelo modelo. Este resultado

está afinado ao discurso de Oreiro (2013) que coloca o modelo wage-led como limitado e

prejudicial à indústria local. Ao que indica, então, a evolução dos salários reais na indústria

inferiu um revés negativo mais expressivo sobre os investimentos, como um fator de custo as

empresas, do que seu vetor positivo de mantenedor de demanda interna pode exercer. Desta

forma, conforme Gentil e Araújo (2012), a evolução real da remuneração do trabalhador

perante os passos curtos dados pela produtividade da industrial nacional, gerou problema de

custo à indústria, principalmente as manufatureiras mão-de-obra intensiva (SALAMA, 2010),

tornando o ambiente mais adverso a novas inversões em capital fixo. A análise do Gráfico 11

do capítulo 3, ratifica, portanto, o resultado alcançado.

A variável binária Dummy, como era de se esperar, foi prejudicial à manutenção do

crescimento da FBKF no Brasil. A crise econômica minou o otimismo do mercado

internacional e gerou contração da demanda externa pelas commodities brasileiras. Por mais

que a China permanecesse mantendo a sua parcela de demanda, grandes mercados como o

europeu e o norte-americano perderam força e logo impactaram a economia nacional.

Page 67: uma análise empírica do investimento agregado na economia

66

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho buscou-se identificar, em referenciais teóricos fundamentados basicamente

nas ideias de Keynes, variáveis macroeconômicas capazes de afetar a decisão dos diversos

agentes econômicos capazes de ampliar a Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) de

determinada economia e, consequentemente, as perspectivas de crescimento sustentado desta

no longo prazo. Após a identificação, testou-se, através de modelo de regressão com

defasagens temporais, a relação das variáveis selecionadas com a taxa de investimento

nominal da economia brasileira no período específico que vai de 2003 a 2012, encontrando-se

assim, valores estimados dos parâmetros que representam os impactos individuais de cada

uma dessas variáveis sobre o regressando.

A Teoria Geral de Keynes, autor cujo incitou o primeiro modelo explicativo das variações

do investimento, foi o ponto de partida da pesquisa. Para este autor, o investimento é o

componente da demanda agregada mais importante e mais volátil, posto sua capacidade de

determinar o nível de emprego da economia e, por sua vez, ser baseado nas expectativas do

empresário quanto a demanda futura para seus bens e/ou serviços ofertados.

A partir da teoria da Demanda Efetiva, autores keynesianos elaboraram uma função do

investimento produtivo apenas em relação à demanda agregada, intitulado modelo do

Acelerador de investimentos. Entretanto, o próprio Keynes havia formulado uma função

diferente para o investimento. Para ele, o empresário capitalista encontra-se num trade-off

contínuo entre gastar sua liquidez em capital produtivo ou aplicar em títulos do mercado

financeiro. A primeira opção fornece rendas por meio da realização da produção de bens e

serviços, a segunda gera rendimentos por meio de juros. Conclui o autor que o investimento

produtivo somente valerá a pena ao capitalista quando as taxas de juros médias do mercado

financeiro forem menores do que a Eficiência Marginal do Capital, que pode ser considerada

a taxa que iguala o valor presente das rendas futuras provenientes de um bem de capital novo

ao custo marginal da produção deste. Portanto, as taxas de juros sempre devem se manter

baixas, para que o capitalista seja incentivado a todo instante a empregar capital no mercado

produtivo, e desta forma, criar as bases para o crescimento econômico de médio e longo

prazo.

Também, autores nacionais, inseridos em um debate mais recente, trazem outras variáveis

explicativas para entender o movimento da taxa de investimentos no Brasil, que como foi

apresentado no estudo, é uma das taxas mais baixas do mundo. Estes autores, como é o

Page 68: uma análise empírica do investimento agregado na economia

67

exemplo de Bresser-Pereira, Marconi e Gala, corroboram com noção básica keynesiana de

que a demanda efetiva determina o nível de oferta. Partindo disto, o debate iniciou-se neste

trabalho em torno da taxa de câmbio, visto sua função central na condução de investimentos

em economias capitalistas globalizadas.

A taxa de câmbio afeta os investimentos na medida em que torna o produto nacional

competitivo no mercado externo e comprime o salário real em benefício da lucratividade do

empresário (GALA; MORI, 2009). Países como o Brasil, deveriam administrar a taxa de

câmbio num patamar tal que alavancassem a exportação de bens industrializados e

incentivasse a inversão de capitais nos setores industriais capital-intensivos de alta tecnologia,

pois são estes os ramos do mercado que mais agregam valor a economia e mantém o nível de

emprego através de suas extensas cadeias de valor (BRESSER-PEREIRA; MARCONI,

2008).

Nesta linha de raciocínio, os autores enfatizaram que o Brasil somente sustentava uma taxa

de câmbio valorizada, em épocas mais recentes, devido a presença da doença holandesa

provocada pela elevada vantagem comparativa que o país possui na produção de bens

primários. Isto significa que os produtores brasileiros, deste tipo de bem, conseguem ofertar

no mercado externo a um preço competitivo, mesmo com câmbio desfavorável as

exportações, e, dado a quantidade produzida e o peso do comércio destes bens na balança

comercial, esta anomalia permite que o país conviva com taxas de câmbio apreciadas.

Outra relação observada com atenção por este mesmo nicho de autores, como Oreiro

(2013), por exemplo, é a dos salários com o crescimento econômico no todo e, mais

importante, os seus reflexos sobre a taxa de investimentos. Contudo, as conclusões

apresentadas no trabalho acerca desta análise são dualizadas. Por um lado, existem os

defensores de que a manutenção salários reais crescentes acima da taxa de crescimento da

produtividade criam mercado interno bastante aquecido e incentiva o empresário por via de

demanda efetiva em ascendência – modelo de crescimento tipo wage-led. Por outro lado,

alguns outros autores defendem que este modelo é limitado e instável, pois reduz a

competitividade da indústria nacional, dado o aumento do custo unitário do trabalho, e

necessita de medidas protecionistas para garantir a lucratividade do empresário que não são

sustentáveis no médio e longo prazo.

Portanto, a alternativa para estes últimos é escorar o crescimento econômico na indústria

voltada a exportação, cujo incentivaria o empresário por meio de um ambiente

macroeconômico interno que garantiria a competitividade do produto nacional nos mercados

Page 69: uma análise empírica do investimento agregado na economia

68

globais – modelo de crescimento tipo export-led. Volta-se então a necessidade de manutenção

da taxa de câmbio.

Posto isto, a análise do histórico da economia brasileira pós-Plano Real mostra através da

exposição das baixas taxas de investimento da economia brasileira, que ainda não se

conseguiu estabilizar a economia de fato. Por mais que o referido plano econômico tenha

obtido sucesso incontestável na manutenção da inflação em patamares que permitam o

crescimento do produto, isto se deu a um custo de piora do quadro fiscal e externo que exigiu

medidas de política monetária e cambial que liquidaram a possibilidade de impulsionar os

investimentos produtivos na economia.

Como se viu em capítulos anteriores, as taxas de juros do Brasil ao longo de 1995 até

2012 mantiveram-se em patamares altos, mesmo com tendência decrescente, e a taxa de

câmbio esteve sobrevalorizada durante a maioria do período analisado, mas sem esquecer a

forte explosão depreciativa ocorrida em 1999 que findou com o apaziguamento dos mercados

externos logo no início do governo Lula. Criou-se, então, adverso cenário a inversão de

capitais privados no mercado produtivo. Soma-se a isto, a decrescente taxa de investimentos

pública, que sucateou a infraestrutura brasileira, gerando ainda mais problemas a

competitividade nacional – o clamado Custo-Brasil.

O teste econométrico mostrou que o período de crescimento do governo Lula, sustentado

pela onda de prosperidade internacional que ocorreu de 2002 a 2008, possibilitou o

crescimento da taxa de investimento, apoiada nos ótimos saldos comerciais que os setores

exportadores de commodities apresentavam, resultando em aumento expressivo das taxas de

investimento em capital fixo destas industriais, mesmo a taxas de câmbio valorizadas. O

crescimento econômico que se deu neste período aguçou o otimismo dos demais setores e

disseminou a onda de investimentos a outros setores mais intensivos em capital, porém de

forma mais modesta e voltada ao mercado interno. Todavia, apesar da taxa de investimento

agregado ter crescido no período da amostra utilizada para rodar o modelo econométrico, esta

não passou dos 20% a.a., mostrando que apenas recuperou as perdas da década de 1990, sem

qualquer avanço significativo.

Outra informação relevante que este modelo nos traz é a comprovação da ideia dos

defensores do export-led de que os salários reais crescentes acima da produtividade causam

mais impactos negativos no médio e longo prazo do que efeitos positivos. Também mostra

que a política monetária expansionista apresentada pelo governo ao longo do período

analisado pelo modelo, segundo trimestre de 2003 até o quarto trimestre de 2012,

Page 70: uma análise empírica do investimento agregado na economia

69

provavelmente apresentaram reflexos positivos na determinação da taxa de investimentos da

economia, seguindo o que diz a teoria keynesiana apresentada.

Por fim, o estudo sobre o investimento no Brasil ainda merece aprofundamento. Neste

trabalho as variáveis: demanda agregada, taxa de juros, taxa de câmbio e salários, mostraram-

se importantes na sua determinação e apontaram para alguns problemas estruturais na

economia brasileira. Além do mais, este é um debate contemporâneo sobre os novos rumos da

economia brasileira, e por isso exige ainda mais reflexão.

Page 71: uma análise empírica do investimento agregado na economia

70

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Page 74: uma análise empírica do investimento agregado na economia

73

APÊNDICE

[Apêndice A – Tabela comparativa de crescimento do PIB e taxa de investimento entre

os períodos de 1970 a 1979 e 1990 a 1999]

Tabela A-1 - Relação taxa de investimentos x crescimento PIB - comparativo entre década

de 70 e 90

1970 a 1979 1990 a 1999

Taxa de investimento -

preços correntes (%) PIB

PIB var. real anual -

(% a.a.)

Taxa de investimento -

preços correntes (%) PIB

PIB var. real anual -

(% a.a.)

18,83 10,40 20,66 -4,35

19,91 11,34 18,11 1,03

20,33 11,94 18,42 -0,47

20,37 13,97 19,28 4,67

21,85 8,15 20,75 5,33

23,33 5,17 18,32 4,42

22,42 10,26 16,87 2,15

21,35 4,93 17,37 3,38

22,27 4,97 16,97 0,04

23,36 6,76 15,66 0,25

21,40 8,79 18,24 1,64

Fonte: Elaboração com base em IPEADATADATA .

Page 75: uma análise empírica do investimento agregado na economia

74

[Apêndice B – Teste de Chow para variável independente]

Figura B-1- Distribuição dos resíduos da Regressão Taxa de investimento pelo tempo - 1995 à

2012

Fonte: Elaboração própria através do Gretl com dados do IPEADATA (2013).

Quadro B-1- Teste de Chow para Taxa de Investimento de 1995 a 2012

Modelo 1: MQO, usando as observações 1995:1-2012:4 (T = 72)

Variável dependente: Investimento

Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor

Const 15,414 0,357824 43,0770 <0,00001 ***

Time 0,0178799 0,00851921 2,0988 0,03945 **

Média var. dependente 16,06660 D.P. var. dependente 1,537931

Soma resíd. quadrados 157,9897 E.P. da regressão 1,502330

R-quadrado 0,059201 R-quadrado ajustado 0,045761

F(1, 70) 4,404839 P-valor(F) 0,039446

Log da verossimilhança -130,4547 Critério de Akaike 264,9093

Critério de Schwarz 269,4627 Critério Hannan-Quinn 266,7220

rô 0,870880 Durbin-Watson 0,220313

Teste de Chow para a falha estrutural na observação 2003:2 -

Hipótese nula: sem falha estrutural

Estatística de teste: F(2, 68) = 90,9279

com p-valor = P(F(2, 68) > 90,9279) = 6,07943e-020

Fonte: Elaboração própria através do Gretl com dados do IPEADATA (2013).

Page 76: uma análise empírica do investimento agregado na economia

75

[Apêndice C – testes de Dickey-Fuller para raíz unitária]

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para Investimento

incluindo 9 defasagens de (1-L)Investimento (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 29

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,025

diferenças defasadas: F(9, 18) = 2,739 [0,0329]

valor estimado de (a - 1): -0,0836097

estatística de teste: tau_c(1) = -0,957074

p-valor assintótico 0,7703

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,038

diferenças defasadas: F(8, 19) = 3,628 [0,0100]

valor estimado de (a - 1): -1,85835

estatística de teste: tau_ct(1) = -2,92584

p-valor assintótico 0,1541

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para PIB_Real

incluindo 9 defasagens de (1-L)PIB_Def (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 29

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,078

diferenças defasadas: F(9, 18) = 12,096 [0,0000]

valor estimado de (a - 1): -0,0198856

estatística de teste: tau_c(1) = -0,474663

p-valor assintótico 0,8937

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,034

diferenças defasadas: F(8, 19) = 9,540 [0,0000]

valor estimado de (a - 1): -1,59418

estatística de teste: tau_ct(1) = -2,93721

p-valor assintótico 0,1506

Page 77: uma análise empírica do investimento agregado na economia

76

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para Selic_O

incluindo 9 defasagens de (1-L)Selic_R (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 29

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,030

diferenças defasadas: F(9, 18) = 1,855 [0,1264]

valor estimado de (a - 1): -0,16529

estatística de teste: tau_c(1) = -3,77404

p-valor assintótico 0,003201

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,034

diferenças defasadas: F(9, 17) = 1,405 [0,2609]

valor estimado de (a - 1): -0,196637

estatística de teste: tau_ct(1) = -1,35681

p-valor assintótico 0,8733

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para Cambio_Venda

incluindo 1 defasagem de (1-L)Cambio_Venda (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 37

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,082

valor estimado de (a - 1): -0,108388

estatística de teste: tau_c(1) = -2,16285

p-valor assintótico 0,2202

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,074

valor estimado de (a - 1): -0,199026

estatística de teste: tau_ct(1) = -2,0953

p-valor assintótico 0,5479

Page 78: uma análise empírica do investimento agregado na economia

77

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para SRI

incluindo 8 defasagens de (1-L)SRI (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 30

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,026

diferenças defasadas: F(8, 20) = 4,542 [0,0028]

valor estimado de (a - 1): -0,155655

estatística de teste: tau_c(1) = -2,10695

p-valor assintótico 0,242

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,098

diferenças defasadas: F(8, 19) = 3,127 [0,0197]

valor estimado de (a - 1): -0,38785

estatística de teste: tau_ct(1) = -1,97632

p-valor assintótico 0,6137

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para ld_Investimen

incluindo 8 defasagens de (1-L)ld_Investimen (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 29

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,029

diferenças defasadas: F(8, 19) = 3,257 [0,0165]

valor estimado de (a - 1): -2,73814

estatística de teste: tau_c(1) = -2,56956

p-valor assintótico 0,09938

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,022

diferenças defasadas: F(4, 26) = 6,360 [0,0010]

valor estimado de (a - 1): -1,69284

estatística de teste: tau_ct(1) = -3,6563

p-valor assintótico 0,02531

Page 79: uma análise empírica do investimento agregado na economia

78

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para ld_PIB_Real

incluindo 8 defasagens de (1-L)ld_PIB_Def (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 29

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,093

diferenças defasadas: F(8, 19) = 11,927 [0,0000]

valor estimado de (a - 1): -2,56748

estatística de teste: tau_c(1) = -2,37818

p-valor assintótico 0,148

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,110

diferenças defasadas: F(8, 18) = 12,183 [0,0000]

valor estimado de (a - 1): -2,67257

estatística de teste: tau_ct(1) = -2,49688

p-valor assintótico 0,3297

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para ld_SRI

incluindo 7 defasagens de (1-L)ld_SRI (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 30

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,012

diferenças defasadas: F(7, 21) = 3,194 [0,0182]

valor estimado de (a - 1): -0,722769

estatística de teste: tau_c(1) = -1,00678

p-valor assintótico 0,7531

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,013

diferenças defasadas: F(7, 20) = 3,265 [0,0176]

valor estimado de (a - 1): -1,75797

estatística de teste: tau_ct(1) = -1,71718

p-valor assintótico 0,7439

Page 80: uma análise empírica do investimento agregado na economia

79

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para ld_Cambio_Ven

incluindo 1 defasagem de (1-L)ld_Cambio_Ven (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 36

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,000

valor estimado de (a - 1): -0,924512

estatística de teste: tau_c(1) = -4,68406

p-valor assintótico 8,642e-005

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,004

diferenças defasadas: F(5, 24) = 2,023 [0,1114]

valor estimado de (a - 1): -1,83757

estatística de teste: tau_ct(1) = -3,45897

p-valor assintótico 0,04391

Teste Aumentado de Dickey-Fuller para ld_Selic_O

incluindo 4 defasagens de (1-L)ld_Selic_R (o máximo foi 9)

dimensão de amostragem 33

hipótese nula de raiz unitária: a = 1

teste com constante

modelo: (1-L)y = b0 + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: 0,000

diferenças defasadas: F(4, 27) = 2,782 [0,0468]

valor estimado de (a - 1): -1,31492

estatística de teste: tau_c(1) = -4,49461

p-valor assintótico 0,0001

com constante e tendência

modelo: (1-L)y = b0 + b1*t + (a-1)*y(-1) + ... + e

coeficiente de 1ª ordem para e: -0,007

diferenças defasadas: F(4, 26) = 2,677 [0,0541]

valor estimado de (a - 1): -1,33503

estatística de teste: tau_ct(1) = -4,42088

p-valor assintótico 0,001972

Page 81: uma análise empírica do investimento agregado na economia

80

[Apêndice D – Modelo de regressão linear múltiplo e teste básicos de validação]

Quadro D-1- Modelo de regressão linear múltiplo

Modelo 1: MQO, usando as observações 2004:2-2012:4 (T = 35)

Variável dependente: ld_Investimen

Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor

const -0,00954924 0,006052 -1,5779 0,12624

ld_PIB_Real 0,557383 0,104267 5,3457 0,00001 ***

ld_PIB_Real_1 0,387517 0,0971337 3,9895 0,00045 ***

ld_PIB_Real_3 0,364862 0,0854519 4,2698 0,00022 ***

ld_SRI_2 -0,25207 0,101477 -2,4840 0,01949 **

ld_Selic_O_1 -0,076902 0,044599 -1,7243 0,09609 *

ld_Cambio_V_1 -0,1503 0,0626841 -2,3977 0,02368 **

Dummy -0,0449654 0,0197751 -2,2738 0,03114 **

Média var. dependente 0,006465 D.P. var. dependente 0,046904

Soma resíd. quadrados 0,009659 E.P. da regressão 0,018914

R-quadrado 0,870874 R-quadrado ajustado 0,837397

F(7, 27) 26,01407 P-valor(F) 1,97e-10

Log da verossimilhança 93,75405 Critério de Akaike -171,5081

Critério de Schwarz -159,0653 Critério Hannan-Quinn -167,2129

rô -0,025123 Durbin-Watson 1,971077

Fonte: Elaboração própria através do Gretl com dados do IPEADATA (2013).

Teste de não-linearidade (quadrados) -

Hipótese nula: a relação é linear

Estatística de teste: LM = 5,2881

com p-valor = P(Qui-quadrado(4) > 5,2881) = 0,258993

Teste RESET para especificação (apenas quadrados) -

Hipótese nula: a especificação é adequada

Estatística de teste: F(1, 26) = 1,61182

com p-valor = P(F(1, 26) > 1,61182) = 0,215482

Teste de White para a heteroscedasticidade -

Hipótese nula: sem heteroscedasticidade

Estatística de teste: LM = 7,31261

com p-valor = P(Qui-quadrado(11) > 7,31261) = 0,773232

Teste da normalidade dos resíduos -

Hipótese nula: o erro tem distribuição Normal

Estatística de teste: Qui-quadrado(2) = 0,766961

com p-valor = 0,681485

Teste de Chow para a falha estrutural na observação 2007:3 -

Hipótese nula: sem falha estrutural

Page 82: uma análise empírica do investimento agregado na economia

81

Estatística de teste: F(7, 20) = 1,85196

com p-valor = P(F(7, 20) > 1,85196) = 0,132246

Teste LM para autocorrelação até a ordem 19 -

Hipótese nula: sem autocorrelação

Estatística de teste: LMF = 0,610923

com p-valor = P(F(19,8) > 0,610923) = 0,820229

Page 83: uma análise empírica do investimento agregado na economia

82

[Apêndice E – teste de multicolinearidade]

Quadro E-1 - Teste de Multicolinearidade do Modelo de Regressão Linear Múltiplo

Fatores de Inflacionamento da Variância (VIF)

Valor mínimo possível = 1,0

Valores > 10,0 podem indicar um problema de colinearidade

ld_PIB_Real 2,757

ld_PIB_Def_1 2,528

ld_PIB_Def_3 1,938

ld_SRI_2 1,942

ld_Cambio_V_1 1,951

ld_Selic_O_1 1,377

Dummy_1 2,061

VIF(j) = 1/(1 - R(j)^2), onde R(j) é o coeficiente de correlação múltipla

entre a variável j e a outra variável independente

Propriedades da matriz X'X:

Norma-1 = 40,487957

Determinante = 1,4594312e-005

Número de condição recíproca = 0,00031227422

Fonte: Elaboração própria através do Gretl.

Page 84: uma análise empírica do investimento agregado na economia

83

ANEXOS

[Anexo A – Média trimestral da taxa de investimento nominal (FBKF/PIB) ao ano]

Data Taxa de investimento Data Taxa de investimento

1995 T1 17,9960 2004 T1 14,0261

1995 T2 17,3599 2004 T2 13,9098

1995 T3 15,4954 2004 T3 14,4763

1995 T4 14,9757 2004 T4 13,8094

1996 T1 15,8956 2005 T1 13,7965

1996 T2 16,5210 2005 T2 13,9298

1996 T3 16,1419 2005 T3 14,5552

1996 T4 16,7249 2005 T4 14,1814

1997 T1 17,2475 2006 T1 14,7940

1997 T2 17,5049 2006 T2 14,5984

1997 T3 17,2401 2006 T3 15,1448

1997 T4 16,7107 2006 T4 15,0881

1998 T1 17,6421 2007 T1 15,3707

1998 T2 17,5665 2007 T2 15,6569

1998 T3 17,0180 2007 T3 16,5524

1998 T4 16,2311 2007 T4 16,3699

1999 T1 16,1585 2008 T1 16,6205

1999 T2 15,9890 2008 T2 17,1093

1999 T3 15,3644 2008 T3 18,4242

1999 T4 15,1922 2008 T4 16,8886

2000 T1 15,4521 2009 T1 14,7689

2000 T2 16,0265 2009 T2 15,1389

2000 T3 15,7597 2009 T3 17,0111

2000 T4 15,8449 2009 T4 17,5841

2001 T1 16,4609 2010 T1 17,5422

2001 T2 15,9291 2010 T2 17,6998

2001 T3 15,7329 2010 T3 19,1335

2001 T4 14,4503 2010 T4 18,5503

2002 T1 14,6084 2011 T1 18,3181

2002 T2 14,3421 2011 T2 18,1927

2002 T3 14,4780 2011 T3 19,2001

2002 T4 14,3282 2011 T4 18,6638

2003 T1 14,4332 2012 T1 17,8072

2003 T2 13,1332 2012 T2 17,4342

2003 T3 13,3900 2012 T3 17,9646

2003 T4 13,5501 2012 T4 17,5877

Page 85: uma análise empírica do investimento agregado na economia

84

[Anexo B – Amostra das variáveis independentes trimestrais do segundo trimestre de

2002 ao quarto trimestre de 2012]

Data PIB Real (milhões R$) Índice SRI (%) SELIC Over (%) Câmbio (R$/US$)

1995 T1 126.988,70 96,6057 16,89467 0,86317

1995 T2 128.506,18 100,0505 18,51308 0,91367

1995 T3 129.925,70 92,46589 15,7773 0,94700

1995 T4 136.331,80 93,46307 12,22191 0,96700

1996 T1 124.654,79 93,19111 9,698168 0,98360

1996 T2 131.274,68 92,16371 8,006329 0,99843

1996 T3 137.734,64 90,83414 7,477338 1,01653

1996 T4 150.454,89 92,34502 6,992452 1,03340

1997 T1 131.515,61 92,43567 6,268489 1,05230

1997 T2 140.620,20 94,15807 5,911202 1,07080

1997 T3 145.262,39 92,85872 5,777329 1,09047

1997 T4 150.926,43 93,70481 9,154528 1,10977

1998 T1 134.699,72 91,40827 8,194615 1,13050

1998 T2 145.749,04 92,3148 5,76596 1,15057

1998 T3 147.191,04 92,73785 6,632193 1,17530

1998 T4 148.265,06 93,49329 9,322581 1,20103

1999 T1 139.091,20 86,54324 8,747771 1,92333

1999 T2 150.772,79 85,72132 6,510586 1,71807

1999 T3 147.249,24 85,30129 4,899756 1,87580

1999 T4 156.790,17 86,08997 4,302863 1,88823

2000 T1 144.259,20 86,40726 4,16855 1,77273

2000 T2 154.757,47 89,32326 3,958822 1,81110

2000 T3 154.884,02 88,35629 3,561534 1,81397

2000 T4 162.084,77 92,45682 3,289744 1,94133

2001 T1 154.470,46 82,35333 3,091105 2,05930

2001 T2 160.582,92 83,6179 3,232909 2,28320

2001 T3 156.891,98 80,5843 3,638577 2,55143

2001 T4 163.905,51 80,373 3,466249 2,51873

2002 T1 157.608,77 79,40557 3,30739 2,36337

2002 T2 170.483,79 81,4478 3,294909 2,57630

2002 T3 166.852,86 79,18233 3,200795 3,44857

2002 T4 167.039,42 79,2275 3,23022 3,60493

2003 T1 156.695,81 73,40857 3,396104 3,48070

2003 T2 165.785,18 75,63943 3,419748 2,90913

2003 T3 167.371,16 76,64647 3,330544 2,95180

2003 T4 176.385,56 79,95887 2,57321 2,89827

2004 T1 166.137,97 78,36163 2,150672 2,92110

Page 86: uma análise empírica do investimento agregado na economia

85

(Continuação)

2004 T2 179.960,93 81,76387 2,025449 3,06043

2004 T3 180.766,12 83,21277 2,059283 2,93973

2004 T4 186.961,16 86,84097 2,079137 2,74720

2005 T1 173.660,68 83,24093 2,14229 2,62867

2005 T2 185.367,80 87,01517 2,311595 2,42850

2005 T3 186.752,90 88,3858 2,433184 2,32547

2005 T4 194.882,53 89,80243 2,207531 2,26733

2006 T1 182.095,78 92,0082 2,056107 2,17463

2006 T2 192.460,47 98,4046 1,81986 2,18467

2006 T3 200.336,39 98,0863 1,769628 2,16307

2006 T4 210.882,36 110,2644 1,551699 2,14927

2007 T1 200.222,24 102,4349 1,488838 2,09777

2007 T2 212.807,52 104,6098 1,417175 1,96300

2007 T3 214.552,46 104,405 1,338023 1,89283

2007 T4 222.473,32 109,0596 1,225522 1,76633

2008 T1 214.874,95 104,9852 1,172445 1,73090

2008 T2 229.906,88 109,4377 1,200467 1,63617

2008 T3 236.215,21 111,8528 1,361778 1,70510

2008 T4 234.826,21 113,2629 1,401599 2,26180

2009 T1 213.729,12 103,9883 1,220818 2,33660

2009 T2 227.890,77 105,467 1,013458 2,03430

2009 T3 237.516,97 107,2574 0,936268 1,84570

2009 T4 254.689,87 112,0263 0,894444 1,74523

2010 T1 238.383,28 106,5421 0,846641 1,82227

2010 T2 255.749,13 113,2485 0,906527 1,78293

2010 T3 264.451,38 115,0571 1,044793 1,73580

2010 T4 274.948,53 117,4507 0,982768 1,69457

2011 T1 252.173,67 109,1279 0,99535 1,65443

2011 T2 269.759,53 116,2264 1,042785 1,57143

2011 T3 267.734,44 118,2201 1,111591 1,66597

2011 T4 274.982,88 118,883 0,974146 1,79173

2012 T1 257.370,11 111,9682 0,899602 1,75680

2012 T2 271.416,80 116,9301 0,749975 1,97847

2012 T3 266.839,47 119,0187 0,660099 2,03923

2012 T4 273.840,84 119,4087 0,629211 2,03130