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Uma escolha valiosa em favor da vida Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1124 Dezembro/2013 Araripina O Sertão do São Francisco é conhecido como um lugar que desenvolve uma grande parcela dos projetos de irrigação no país. Foi pensando nas possibilidades que esta terra poderia oferecer que a família de Elizênio Benício Coelho, de 38 anos, deixou a cidade de Araripina, Sertão do Araripe, quando ele ainda era adolescente. Dessa forma, eles foram morar no município de Lagoa Grande. Lá, ele trabalhava numa fazenda onde conheceu Maria de Fátima Pereira do Nascimento Coelho, de 33 anos. Eles se casaram há 14 anos e têm uma filha chamada Adriele Nascimento Coelho, de 7 anos. Na fazenda, o casal trabalhava na produção de uvas e vinhos. Nessa época, eles também conseguiram uma pequena área para plantar feijão, banana e algumas verduras. Alguns anos se passaram e Elizênio começou a apresentar problemas de saúde, devido ao uso excessivo de agrotóxicos nas plantações da fazenda. Segundo o agricultor, ele pulverizava uma grande quantidade de veneno diariamente, e então sentia sintomas freqüentes de fraqueza, palpitação e falta de ar. Sua esposa conta que à exposição ao veneno, provocava rachadura nos seus lábios. Com o tempo, ela resolveu deixar o trabalho da fazenda, e alguns meses depois, Elizênio também pediu demissão. A família do agricultor resolveu voltar para sua terra natal e deixou um lote para ele e Fátima trabalharem por conta própria. O casal ainda tentou ficar por mais algum tempo, mas os problemas de saúde de Elizênio foram se agravando, já que ele continuava aplicando defensivos químicos nos cultivos da roça. Muitas vezes, o pai de Elizênio teve que viajar para Lagoa Grande, e ajudar o filho quando ele estava doente. Em 2003, a família resolveu vender o lote e comprar a propriedade de 12 hectares em que vivem atualmente, na Serra da Rancharia, em Araripina. Elizênio e Fátima começaram a plantar mandioca e feijão, atividade que garantiu a renda da família durante alguns anos. Na propriedade havia também um pequeno reservatório que armazenava 9 mil litros de água, que

Uma escolha valiosa em favor da vida

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A história de Elizênio e Fátima começou no Sertão do São Francisco. Lá, o casal trabalhou em uma fazenda e fez uso excessivo de agrotóxicos nas plantações durante anos. Com o tempo, o agricultor apresentou problemas de saúde em razão do trabalho exaustivo e perigoso. A família se mudou para cidade de Araripina e transformou a vida através da agroecologia. Atualmente, o casal produz alimentos alimentos saudáveis e vende o excedente na comunidade.

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Uma escolha valiosa em favor da vida

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1124

Dezembro/2013

Araripina

O Sertão do São Francisco é conhecido como um lugar que desenvolve uma grande parcela dos projetos de irrigação no país. Foi pensando nas possibilidades que esta terra poderia oferecer que a família de Elizênio Benício Coelho, de 38 anos, deixou a cidade de Araripina, Sertão do Araripe, quando ele ainda era adolescente. Dessa forma, eles foram morar no município de Lagoa Grande. Lá, ele trabalhava numa fazenda onde conheceu Maria de Fátima Pereira do Nascimento Coelho, de 33 anos. Eles se casaram há 14 anos e têm uma filha chamada Adriele Nascimento Coelho, de 7 anos. Na fazenda, o casal trabalhava na produção de uvas e vinhos. Nessa época, eles também conseguiram uma pequena área para plantar feijão, banana e algumas verduras.

Alguns anos se passaram e Elizênio começou a apresentar problemas de saúde, devido ao uso excessivo de agrotóxicos nas plantações da fazenda. Segundo o agricultor, ele pulverizava uma grande quantidade de veneno diariamente, e então sentia sintomas freqüentes de fraqueza, palpitação e falta de ar. Sua esposa conta que à exposição ao veneno, provocava

rachadura nos seus lábios. Com o tempo, ela resolveu deixar o trabalho da fazenda, e alguns meses depois, Elizênio também pediu demissão. A família do agricultor resolveu voltar para sua terra natal e deixou um lote para ele e Fátima trabalharem por conta própria. O casal ainda tentou ficar por mais algum tempo, mas os problemas de saúde de Elizênio foram se agravando, já que ele continuava aplicando defensivos químicos nos cultivos da roça. Muitas vezes, o pai de Elizênio teve que viajar para Lagoa Grande, e ajudar o filho quando ele estava doente.

Em 2003, a família resolveu vender o lote e comprar a propriedade de 12 hectares em que

vivem atualmente, na Serra da Rancharia, em Araripina. Elizênio e Fátima começaram a plantar mandioca e feijão, atividade que garantiu a renda da família durante alguns anos. Na propriedade havia também um pequeno reservatório que armazenava 9 mil litros de água, que

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Realização Apoio

era utilizada para beber, cozinhar e nas tarefas domésticas. Às vezes, quando a água não era suficiente, o casal se deslocava até um barreiro próximo. A vida da família começou a melhorar em 2008, quando foi construída uma cisterna de placa na propriedade, que armazena 16 mil litros de água para o consumo humano, do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), da Articulação no Semiárido (ASA).

Fátima sempre gostou de fazer alguns canteiros para garantir o tempero da comida. O interesse na produção de hortaliças foi o suficiente para modificar o cenário da propriedade a partir de 2010. Neste ano, a família foi beneficiada com uma cisterna-calçadão, uma tecnologia do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA. “No passado a gente sofria com o veneno, aqui a gente sofreu pela escassez de água, mas quando essa cisterna chegou, procuramos valorizá-la porque representava a mudança na vida da gente”, revela a agricultora. O casal deixou de plantar feijão, pois Elizênio não tinha condições de utilizar produtos químicos, mas depois de um tempo isso mudou. Nos cursos que participou, o agricultor aprendeu que é possível utilizar defensivos naturais para combater algumas pragas específicas, especialmente no feijão.

“Para mim a lição que fica é o alerta sobre os agrotóxicos, pois sabemos que são perigosos e causam danos à saúde, é uma maravilha não ter mais que fazer uso dessas substâncias”, afirma Elizênio. Atualmente eles utilizam a manipueira, o nim e a pimenta malagueta nos canteiros, pois servem para prevenir os insetos e combater a mosca branca, por exemplo. “A manipueira serve de adubo e jogamos na terra antes de fazer os cultivos, depois disso fazemos a pulverização misturada com a água. O coentro cresce rápido e bonito e também conserva mais tempo na geladeira, complementa”.

Atualmente, a família tem uma diversidade de hortaliças, algumas frutas e plantas medicinais no quintal. Eles comercializam na própria comunidade e em localidades vizinhas. A venda das verduras incrementa a renda familiar, ajuda a comprar remédios e atende aas necessidades mais urgentes da família. A família cria galinhas de capoeira e tem a mesa colorida com ovos também. “Sendo sincera, digo que não estamos sentindo muito as conseqüências dessa seca, pois hoje vivemos de uma forma mais tranqüila e temos qualidade de vida”, reforça Fátima.

A família deseja outra tecnologia de captação e armazenamento de água para guardar mais

água no período das chuvas. Além disso, ainda pretendem ampliar o criatório de galinhas e as hortaliças na propriedade.