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PT UMA EUROPA SEGURA NUM MUNDO MELHOR ESTRATÉGIA EUROPEIA EM MATÉRIA DE SEGURANÇA Bruxelas, 12 de Dezembro de 2003

Uma Europa Segura Num Mundo Melhor

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Uma Europa segura num mundo melhor

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    UMA EUROPA SEGURA NUM MUNDO MELHOR

    ESTRATGIA EUROPEIA EM MATRIA DE SEGURANA

    Bruxelas, 12 de Dezembro de 2003

  • 1 PT

    Unio de 25 Estados com mais de 450milhes de habitantes e uma produoque representa um quarto do produto

    nacional bruto (PNB) mundial, a UnioEuropeia forosamente um actor

    global; deve, pois, estar pronta a assumira sua parte de responsabilidade na

    segurana global e na criao de ummundo melhor.

    Nenhum pas capaz deenfrentar totalmentesozinho os complexos

    problemas que hoje emdia se colocam.

    Introduo

    A Europa nunca foi to prspera, segura e livre como hoje. violncia que marcou a primeirametade do Sculo XX seguiu-se um perodo de paz e estabilidade sem precedentes na histriaeuropeia.

    A criao da Unio Europeia constituiu um elemento essencial deste desenvolvimento, quetransformou as relaes entre os nossos Estados e tambm as vidas dos nossos cidados. Os paseseuropeus esto empenhados em resolver pacificamente os conflitos e em cooperar entre si, atravsde instituies comuns. Ao longo deste perodo, com a gradual expanso do primado do Direito e dademocracia, assistiu-se transformao de regimes autoritrios em democracias seguras, estveis edinmicas. Os sucessivos alargamentos tm contribudo para a viso de um continente unido e empaz.

    Os Estados Unidos tm desempenhado um papel crucial nocontexto da integrao europeia e da segurana europeia, emespecial atravs da NATO. Com o fim da Guerra Fria, osEstados Unidos passaram a ocupar uma posio dominante

    enquanto actor militar. No entanto, nenhum pas capaz de enfrentar totalmente sozinho oscomplexos problemas que se colocam hoje em dia.

    A Europa continua a ver-se confrontada com ameaas e desafios em matria de segurana. Aecloso do conflito nos Balcs veio lembrar-nos que a guerra ainda no desapareceu do nossocontinente. Ao longo da ltima dcada, no houve no mundo uma nica regio que tivesse sidopoupada a conflitos armados. Na sua maior parte, os conflitos ocorreram, no entre Estados, massim a nvel interno, tendo causado vtimas que, na sua maioria, eram civis.

    A Unio Europeia, que rene 25 Estados com maisde 450 milhes de habitantes, com uma produoque representa um quarto do produto nacional bruto(PNB) mundial, e com uma vasta gama deinstrumentos ao seu dispor, forosamente um actorglobal. Na ltima dcada, foram destacadas foraseuropeias para zonas to longnquas como oAfeganisto, Timor Leste ou a RDC. A crescente convergncia dos interesses europeus e o reforoda solidariedade mtua da UE fazem de ns um actor mais credvel e eficaz. A Europa deve estarpronta a assumir a sua parte de responsabilidade na segurana global e na criao de um mundomelhor.

    Antnio LudovinoRealce

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  • 2 PT

    Eleva-se a 45 milhes o nmerodaqueles que todos os anos morrem

    de fome e subnutrio. A SIDAcontribui para o colapso das

    sociedades... A segurana umacondio prvia dodesenvolvimento.

    I. O QUADRO DE SEGURANA: DESAFIOS GLOBAIS E PRINCIPAIS AMEAAS

    Desafios globais

    O quadro ps-Guerra Fria caracteriza-se por uma crescente abertura das fronteiras, com uma

    indissolvel ligao entre os aspectos internos e externos da segurana. Os fluxos de comrcio e

    investimento, o desenvolvimento da tecnologia e a expanso da democracia contriburam para a

    liberdade e prosperidade de muitos. Para outros, a globalizao foi sentida como uma causa de

    frustrao e injustia. Esta evoluo veio tambm alargar as possibilidades de interveno de grupos

    no estatais nos assuntos internacionais e acentuar a dependncia da Europa de uma infra-estrutura

    interligada nos domnios dos transportes, da energia e da informao, bem como noutras reas e,

    por conseguinte, a sua vulnerabilidade.

    Desde 1990 que as guerras vitimaram 4 milhes de pessoas, 90% das quais civis. Em todo o mundo,

    mais de 18 milhes de pessoas viram-se obrigadas a abandonar os seus lares em resultado de

    conflitos.

    Numa grande parte do mundo em

    desenvolvimento, a pobreza e a doena so

    fonte de indizvel sofrimento e suscitam

    preocupaes prementes em matria de

    segurana Metade da populao mundial

    cerca de trs mil milhes de pessoas vive

    com menos de 2 euros por dia. Eleva-se a 45 milhes o nmero daqueles que todos os anos morrem

    de fome e subnutrio. A SIDA hoje uma das epidemias mais devastadoras da histria da

    humanidade, contribuindo para o colapso das sociedades. Podem surgir novas doenas susceptveis

    de se propagar rapidamente e constituir ameaas escala mundial. A frica subsariana agora

    mais pobre do que h dez anos. Em muitos casos, o fracasso econmico est ligado a problemas

    polticos e a situaes de conflito violento.

    A segurana uma condio prvia do desenvolvimento. Os conflitos destroem as infra-estruturas,

    incluindo as de carcter social, incentivam a criminalidade, desencorajam o investimento e tornam

    impossvel uma actividade econmica normal. H pases e regies enredados num ciclo de conflito,

    insegurana e pobreza.

    Antnio LudovinoRealce

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  • 3 PT

    As ADM foram utilizadaspela ltima vez pela seita

    terrorista Aum no metro deTquio, em 1995, comrecurso ao gs sarin.

    Morreram 12 pessoas eficaram feridos vrios

    milhares. Dois anos antes,a Aum tinha pulverizadoesporos de carbnculonuma rua de Tquio.

    A concorrncia em matria de acesso aos recursos naturais nomeadamente gua , que iragravar-se nas prximas dcadas devido ao aquecimento do planeta, de molde a causar novasturbulncias e novos movimentos migratrios em vrias regies.

    A dependncia energtica fonte de especial preocupao para a Europa, que o maior importadormundial de petrleo e gs. As importaes representam actualmente cerca de 50% do consumo deenergia. Esta proporo aumentar para 70% em 2030. Na sua maior parte, as importaes provmdo Golfo, da Rssia e do Norte de frica.

    Principais ameaas

    Actualmente improvvel que algum Estado-Membro venha a sofrer uma agresso em largaescala. Contudo, a Europa enfrenta agora novas ameaas que so mais diversificadas, menosvisveis e menos previsveis.

    Terrorismo: O terrorismo pe vidas em risco, implica custos avultados, procura abalar a abertura ea tolerncia das nossas sociedades e representa uma crescente ameaa estratgica para toda aEuropa. Os movimentos terroristas dispem, cada vez mais, de recursos importantes, esto ligadosentre si atravs de redes electrnicas e mostram-se prontos a recorrer a uma violncia sem limitescom o objectivo de causar um grande nmero de vtimas.

    A mais recente vaga de terrorismo global e est ligada ao extremismo religioso de carcterviolento. Na sua origem esto razes complexas. Entre estas, contam-se nomeadamente as pressesexercidas pela modernizao, as crises culturais, sociais e polticas e a alienao dos jovens quevivem em sociedades estrangeiras. Trata-se de um fenmeno que tambm faz parte das nossassociedades.

    A Europa simultaneamente um alvo e uma base para o terrorismo: h pases europeus que foramdesignados como alvo e sofreram atentados. Foram descobertas bases logsticas de clulas da AlQaeda no Reino Unido, em Itlia, na Alemanha, em Espanha e na Blgica. Torna-se indispensveluma actuao concertada a nvel europeu.

    A proliferao das armas de destruio macia potencialmente a maior ameaa nossa segurana. Osregimes instaurados pelos tratados internacionais e osmecanismos de controlo das exportaes fizeram abrandar aproliferao das ADM e dos respectivos sistemas de

    Antnio LudovinoRealce

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  • 4 PT

    lanamento. Porm, estamos hoje em dia a entrar numa nova fase perigosa, que abre a possibilidadede uma corrida s ADM, especialmente no Mdio Oriente. O progresso das cincias biolgicas podevir a aumentar a potncia das armas biolgicas nos prximos anos; os ataques com produtosqumicos e materiais radiolgicos constituem tambm uma sria possibilidade. A disseminao datecnologia em matria de msseis vem trazer um novo elemento de instabilidade, podendo colocar aEuropa perante riscos acrescidos.

    O cenrio mais assustador o da aquisio de armas de destruio macia por parte de gruposterroristas. Se tal acontecesse, um pequeno grupo teria capacidade para infligir danos a uma escalaque antes se encontrava apenas ao alcance dos Estados e dos exrcitos.

    Conflitos regionais: Problemas como os que se registam nas regies de Caxemira e dos GrandesLagos e na Pennsula da Coreia tm impacto directo e indirecto nos interesses europeus, o mesmoacontecendo com os conflitos que grassam em zonas mais prximas, sobretudo no Mdio Oriente.Os conflitos violentos ou latentes, que tambm persistem nas nossas fronteiras, so uma ameaa estabilidade regional. Destroem vidas humanas, arruinam as infra-estruturas sociais e fsicas,ameaam as minorias, as liberdades fundamentais e os direitos humanos. O conflito pode conduzirao extremismo, ao terrorismo e ao fracasso dos Estados e oferece, alm disso, oportunidades criminalidade organizada. A insegurana regional pode estimular a procura de ADM. Para fazerface s novas ameaas, que tantas vezes assumem formas capciosas, a via mais prtica consistir,nalguns casos, em resolver os velhos problemas dos conflitos regionais.

    Fracasso dos Estados: A m governao corrupo, abuso de poder, debilidade das instituies eausncia de responsabilizao e as guerras civis constituem factores que corroem os Estados pordentro. Nalguns casos, esta situao levou praticamente ao colapso das instituies estatais. ASomlia, a Libria e o Afeganisto, sob o regime talib, so os exemplos recentes mais conhecidos.O colapso do Estado pode estar relacionado com ameaas bvias, tais como a criminalidadeorganizada ou o terrorismo. O fracasso dos Estados um fenmeno alarmante que mina agovernao escala global e contribui para a instabilidade regional.

    Criminalidade organizada: A Europa um alvo de primeiro plano para a criminalidadeorganizada. Esta ameaa interna nossa segurana apresenta uma importante dimenso externa.Com efeito, grande parte das actividades dos bandos criminosos consiste no trfico transfronteiriode droga, mulheres, migrantes clandestinos e armas. A criminalidade organizada pode igualmenteestar ligada ao terrorismo.

    Estas actividades criminosas esto muitas vezes associadas a Estados fracos ou enfraquecidos. Osproventos da droga tm contribudo para o enfraquecimento das estruturas do Estado em diversos

    Antnio LudovinoRealce

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    pases produtores de droga. Os lucros obtidos com o comrcio de pedras preciosas, madeira e armasligeiras servem para alimentar conflitos noutras partes do mundo. Todas estas actividades abalam oprimado do Direito e a prpria ordem social. Em casos extremos, a criminalidade organizada podemesmo passar a dominar o Estado. 90% da herona presente na Europa provm do cultivo depapoila no Afeganisto pas onde o trfico de droga subsidia exrcitos privados. Na sua maiorparte, a herona distribuda atravs das redes criminosas dos Balcs, as quais so igualmenteresponsveis por cerca de 200 000 dos 700 000 casos de trfico sexual de mulheres em todo omundo. O incremento da pirataria martima representa uma nova dimenso da criminalidadeorganizada qual dever doravante ser consagrada maior ateno.

    O conjunto de todos estes elementos terrorismo determinado a fazer uso da mxima violncia,

    disponibilidade de armas de destruio macia, criminalidade organizada, enfraquecimento do

    sistema estatal e privatizao da fora podero colocar-nos perante uma ameaa verdadeiramente

    radical.

    Antnio LudovinoRealce

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  • 6 PT

    Numa era de globalizao, asameaas longnquas podem serto preocupantes como as que

    esto prximas de ns... Aprimeira linha de defesa h-de

    muitas vezes situar-se noexterior. As novas ameaas so

    dinmicas. Em matria depreveno de conflitos e

    ameaas, nunca demasiadocedo para comear.

    II. OBJECTIVOS ESTRATGICOS

    Vivemos num mundo que nos oferece melhores perspectivas, mas tambm ameaas maiores do queaquelas que temos conhecido at agora. O futuro depender, em parte, da nossa actuao. Temossimultaneamente de pensar em termos globais e agir a nvel local. Para defender a sua segurana epromover os seus valores, a UE tem trs objectivos estratgicos:

    Enfrentar as ameaasA Unio Europeia tem-se empenhado activamente na resposta s principais ameaas.

    Aps o 11 de Setembro, reagiu com medidas tais como a aprovao de um Mandado deDeteno Europeu, aces contra o financiamento do terrorismo e um acordo de auxliojudicirio mtuo com os Estados Unidos. A UE continua a desenvolver a cooperao nestedomnio e a melhorar as suas defesas.

    Tem prosseguido, de h muitos anos a esta parte, polticas de luta contra a proliferao emmatria de armamentos. A Unio chegou recentemente a acordo sobre um novo programa deaco que prev os passos necessrios para reforar a Agncia Internacional da EnergiaAtmica, bem como medidas para reforar o controlo das exportaes e combater as remessasilegais e as aquisies ilcitas. A UE est empenhada em garantir a adeso universal aos regimesprevistos nos tratados multilaterais, bem como em reforar os tratados e as respectivasdisposies em matria de verificao.

    A Unio Europeia e os Estados-Membros intervieram no sentido de contribuir para a resoluode conflitos regionais e para o restabelecimento de Estados em colapso, nomeadamente nosBalcs, no Afeganisto e na RDC. Uma das formas mais eficazes de lidar com o problema dacriminalidade organizada na UE consiste em restabelecer a boa governao nos Balcs,promover a democracia e dotar as autoridades locais de capacidade para fazer frente criminalidade.

    Numa era de globalizao, as ameaaslongnquas podem ser to preocupantes como asque esto prximas de ns. Tanto as actividadesda Coreia do Norte no domnio nuclear, como osriscos nucleares na sia meridional e aproliferao no Mdio Oriente constituemmotivo de preocupao para a Europa.

    Os terroristas e os criminosos so hoje capazesde actuar no mundo inteiro: as suas actividadesna

    Antnio LudovinoRealce

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  • 7 PT

    O alargamento no devercriar novas linhas de fractura

    na Europa.A resoluo do conflito

    israelo-rabe umaprioridade estratgica para a

    Europa.

    Os terroristas e os criminosos so hoje capazes de actuar no mundo inteiro: as suas actividades nasia central ou meridional podem representar uma ameaa para os pases europeus ou para os seuscidados. Entretanto, a globalizao dos meios de comunicao permite aos cidados da Europaestarem mais informados acerca dos conflitos regionais ou das tragdias humanitrias que ocorramem qualquer parte do mundo.

    O nosso conceito tradicional de auto-defesa at ao final da Guerra Fria baseava-se na ameaa deinvaso. No contexto das novas ameaas, a primeira linha de defesa h-de muitas vezes situar-se noexterior. As novas ameaas so dinmicas. Os riscos de proliferao aumentam com o passar dotempo; se nada for feito, as redes terroristas tornar-se-o cada vez mais perigosas. Estes fenmenos fracasso dos Estados e criminalidade organizada tm tendncia a alastrar-se se os ignorarmos como tivemos ocasio de verificar na frica Ocidental. Por conseguinte, devemos estar prontos aactuar antes de ocorrerem as crises. Em matria de preveno de conflitos e ameaas, nunca demasiado cedo para comear.

    Contrariamente ao que se passava com a ameaa macia e visvel da Guerra Fria, nenhuma dasnovas ameaas puramente militar, nem pode ser combatida com meios exclusivamente militares;todas elas requerem uma conjugao de instrumentos. A proliferao em matria de armamentospode ser sustida por meio de medidas de controlo das exportaes e combatida atravs de pressespolticas, econmicas e outras, ao mesmo tempo que se atacam as causas polticas que lhe estosubjacentes. A luta contra o terrorismo pode implicar uma conjugao de meios servios deinformaes, meios policiais, judiciais, militares e outros. Nos Estados em colapso, podem sernecessrios instrumentos militares para restabelecer a ordem e instrumentos humanitrios para fazerfrente crise imediata. Os conflitos regionais exigem solues polticas, mas, na fase ps-conflito,podem revelar-se necessrios recursos militares e meios eficazes de manuteno da ordem. Osinstrumentos econmicos so colocados ao servio da reconstruo e a gesto civil de crisescontribui para reconstituir a administrao civil. A Unio Europeia est particularmente bemequipada para reagir a estas situaes multifacetadas.

    Criar segurana na nossa vizinhana

    Mesmo na era da globalizao, a geografia continua a ser importante. do interesse da Europa queos pases situados junto s suas fronteiras sejam bem governados. Para a Europa, constitui um

    problema ter na sua vizinhana pases envolvidosem conflitos violentos, Estados enfraquecidos emque floresce a criminalidade organizada,sociedades disfuncionais ou um crescimentodescontrolado da populao.

    Antnio LudovinoRealce

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  • 8 PT

    Com a integrao dos Estados aderentes, ficamos em maior segurana, mas tambm mais prximos

    de zonas conturbadas. Compete-nos promover um conjunto de pases bem governados, a leste da

    Unio Europeia e na orla do Mediterrneo, com os quais possamos estabelecer estreitas relaes de

    cooperao.

    Os Balcs so o exemplo que melhor ilustra a importncia deste facto. Graas aos esforos por ns

    envidados em concertao com os EUA, a Rssia, a NATO e outros parceiros internacionais, a

    estabilidade da regio j no est ameaada pela ecloso de grandes conflitos. A credibilidade da

    nossa poltica externa depende da consolidao dos resultados por ns obtidos na regio. A

    perspectiva europeia proporciona no apenas um objectivo estratgico mas tambm um incentivo

    realizao de reformas.

    No do nosso interesse que o alargamento crie novas linhas de fractura na Europa. necessrio

    tornarmos extensivos aos nossos vizinhos a Leste os benefcios da cooperao econmica e poltica,

    enfrentando ao mesmo tempo os problemas polticos que os afectam. Devemos passar agora a

    interessar-nos, de forma mais acentuada e activa, pelos problemas do Sul do Cucaso, que, a seu

    tempo, ser tambm uma regio vizinha.

    A resoluo do conflito israelo-rabe uma prioridade estratgica para a Europa e um pressuposto

    sem o qual poucas sero as possibilidades de resoluo de outros problemas do Mdio Oriente.

    imperioso que a Unio Europeia se mantenha determinada e pronta a mobilizar recursos para

    enfrentar o problema at sua resoluo. A soluo baseada na existncia de dois Estados h

    tanto tempo apoiada pela Europa merece hoje vasta aceitao. Para a sua concretizao, so

    necessrios esforos conjugados, desenvolvidos em cooperao, no s por parte da Unio

    Europeia, dos Estados Unidos, das Naes Unidas e da Rssia, mas tambm pelos pases da

    regio,e sobretudo, por parte dos prprios israelitas e palestinianos.

    A regio do Mediterrneo, em geral, continua a ver-se confrontada com graves problemas de

    estagnao econmica, perturbaes sociais e conflitos por resolver. Os interesses da Unio

    Europeia exigem um envolvimento continuado com os parceiros do Mediterrneo, atravs de uma

    cooperao mais eficaz a nvel econmico, cultural e de segurana, no mbito do processo de

    Barcelona. Dever igualmente ser ponderada a possibilidade de um mais vasto envolvimento com o

    mundo rabe.

    Antnio LudovinoRealce

  • 9 PT

    A nossa segurana e a nossaprosperidade dependem cada

    vez mais de um sistemamultilateral efectivo.

    Estamos empenhados emdefender e desenvolver o

    Direito Internacional.O enquadramento fundamentaldas relaes internacionais a

    Carta das Naes Unidas.

    UMA ORDEM INTERNACIONAL BASEADA NUM MULTILATERALISMO EFECTIVO

    Num mundo de ameaas, mercados e meios de comunicao globais, a nossa segurana e a nossaprosperidade dependem cada vez mais de um sistema multilateral efectivo. nosso objectivodesenvolver uma sociedade internacional mais forte, instituies internacionais que funcionem sematritos e uma ordem internacional que respeite as regras estabelecidas.

    Estamos empenhados em defender e desenvolver o Direito Internacional. O enquadramentofundamental das relaes internacionais aCarta das Naes Unidas, cabendo ao Conselhode Segurana das Naes Unidas aresponsabilidade primria da manuteno da paze da segurana internacionais. Reforar asNaes Unidas e dot-la dos meios necessriospara que possa cumprir as suas misses e actuarde forma eficaz uma das prioridades daEuropa.

    Queremos que as organizaes, regimes e tratados internacionais respondam eficazmente sameaas paz e segurana internacionais, pelo que devemos estar prontos para actuar quando assuas regras forem violadas.

    Instituies importantes do sistema internacional, tais como a Organizao Mundial do Comrcio(OMC) e as instituies financeiras internacionais, tm registado a adeso de novos membros. AChina aderiu OMC e a Rssia est a negociar a sua adeso. Deve ser nosso objectivo aumentar onmero de adeses a esses organismos, sem comprometer os elevados padres que os caracterizam.

    Um dos elementos centrais do sistema internacional a relao transatlntica. Ela no s do nossointeresse bilateral, como refora a comunidade internacional no seu todo. A NATO umaimportante manifestao desse relacionamento.

    Tambm as organizaes regionais reforam a governao mundial. Para a Unio Europeia, a forae a eficcia da OSCE e do Conselho da Europa assumem particular relevncia. Outras organizaesregionais, como a ASEAN, o MERCOSUL e a Unio Africana, fornecem um contributo importantepara um mundo em que reine maior ordem.

    Antnio LudovinoRealce

  • 10 PT

    Para uma ordem internacional em que sejam respeitadas as regras estabelecidas condio prvia

    que a legislao evolua em resposta a fenmenos como a proliferao de armamentos, o terrorismo

    e o aquecimento do planeta. do nosso interesse contribuir para o desenvolvimento das instituies

    existentes, tais como a Organizao Mundial do Comrcio, e apoiar novas instituies, como o

    Tribunal Penal Internacional. A nossa experincia na Europa demonstra que a segurana pode ser

    reforada atravs de medidas de confiana e de regimes de controlo dos armamentos. Estes

    instrumentos podem tambm constituir um contributo importante para a segurana e para a

    estabilidade nos pases nossos vizinhos e no s.

    A qualidade da sociedade internacional depende da qualidade dos Governos que constituem o seu

    fundamento. A melhor proteco para a nossa segurana um mundo constitudo por Estados

    democrticos bem governados. As melhores formas de reforar a ordem internacional so a

    disseminao dos princpios da boa governao, o apoio s reformas sociais e polticas, a luta contra

    a corrupo e os abusos de poder, o estabelecimento do primado do direito e a proteco dos

    direitos humanos.

    As polticas de comrcio e de desenvolvimento podem constituir poderosos instrumentos para

    promover as reformas. Sendo os maiores prestadores mundiais de ajuda pblica e tambm o maior

    bloco comercial do mundo, a Unio Europeia e os seus Estados-Membros esto bem colocados para

    a prossecuo destes objectivos.

    Um dos principais aspectos da nossa poltica, ao qual deveramos conferir ainda maior peso,

    contribuir para uma melhor governao atravs de programas de assistncia, da condicionalidade e

    de medidas comerciais bem orientadas. O mundo ser mais seguro para a Unio Europeia e para os

    seus cidados se for visto como fonte de justia e de oportunidades para todos.

    Certos pases colocaram-se fora dos limites da sociedade internacional. Alguns isolaram-se

    voluntariamente; outros violam de forma continuada as normas internacionais. desejvel que

    esses pases voltem a juntar-se comunidade internacional e a UE dever estar disposta a prestar-

    -lhes a necessria assistncia. Aqueles que o no quiserem fazer devero compreender que h um

    preo a pagar, designadamente a nvel das suas relaes com a Unio Europeia.

    Antnio LudovinoRealce

  • 11 PT

    Temos de desenvolveruma cultura estratgica

    que promova umainterveno precoce,

    rpida e, se necessrio,enrgica.

    III. IMPLICAES POLTICAS PARA A EUROPA

    Nos ltimos anos, a Unio Europeia tem feito progressos no sentido de uma poltica externa

    coerente e de uma gesto de crises eficaz. Dispomos de instrumentos susceptveis de serem usados

    com eficcia, conforme demonstrmos nomeadamente nos Balcs. Porm, se quisermos que o nosso

    contributo esteja altura do nosso potencial, teremos de ser mais activos, mais coerentes e mais

    capazes e teremos de colaborar com outros parceiros.

    Mais activos na prossecuo dos nossos objectivos

    estratgicos Isto aplica-se a toda a gama de instrumentos

    de que dispomos para a gesto de crises e a preveno de

    conflitos, incluindo actividades de natureza poltica,

    diplomtica, civil e militar, comercial e em matria de

    desenvolvimento. So necessrias polticas activas para

    combater as novas ameaas dinmicas. Temos de

    desenvolver uma cultura estratgica que promova uma

    interveno precoce, rpida e, se necessrio, enrgica.

    Enquanto Unio de 25 Estados-Membros, com uma despesa superior a 160 mil milhes de euros no

    captulo da defesa, devemos ser capazes de manter vrias operaes em simultneo. Podemos

    representar uma especial mais-valia levando a cabo operaes que envolvam capacidades tanto

    militares como civis.

    A UE deveria apoiar as Naes Unidas nas suas iniciativas de resposta s ameaas paz e

    segurana internacionais. A UE est empenhada em reforar no s a sua cooperao com a ONU

    para prestar assistncia aos pases que se encontram em fase de ps-conflito, como tambm em

    prestar apoio quela organizao em situaes de gesto de crises a curto prazo.

    Temos de ser capazes de actuar antes de constatarmos a deteriorao de pases nossa volta,

    quando haja sinais de proliferao de armamentos e antes que surjam situaes de emergncia

    humanitria. Uma interveno preventiva pode evitar que os problemas venham a assumir

    propores mais graves no futuro. Uma Unio Europeia com maiores responsabilidades e mais

    activa ser uma Unio Europeia com maior peso poltico.

  • 12 PT

    Mais capaz Uma Europa mais capaz algo que est ao nosso alcance, embora seja preciso tempo

    para desenvolvermos todo o nosso potencial. As aces em curso nomeadamente a criao de uma

    agncia de defesa mostram que estamos no bom caminho.

    preciso mobilizar mais recursos para a defesa e fazer um uso mais eficaz desses recursos, a fim de

    transformar as nossas foras armadas em foras mveis mais flexveis e de as dotar dos meios

    necessrios para enfrentar as novas ameaas.

    O recurso sistemtico a meios partilhados e postos em comum reduziria as duplicaes, os custos e,

    a mdio prazo, levaria a um aumento das capacidades.

    Em quase todas as intervenes de grande envergadura, eficincia militar sucedeu o caos civil.

    Precisamos de maior capacidade para concentrar todos os recursos civis necessrios em situaes de

    crise e de rescaldo de crises.

    Maior capacidade diplomtica Precisamos de criar um sistema que conjugue os recursos dos

    Estados-Membros com os das instituies da UE. A resoluo de problemas mais distantes e que

    nos so mais estranhos requer uma melhor compreenso e comunicao.

    Uma anlise comum das ameaas a melhor base para uma actuao comum, o que exige uma

    melhor partilha de informaes entre Estados-Membros e com os nossos parceiros.

    medida que formos aumentando as nossas capacidades nas diversas reas, devemos fixar como

    horizonte um espectro alargado de misses, que podero incluir operaes conjuntas de

    desarmamento, o apoio a pases terceiros no combate ao terrorismo e a reforma do sector da

    segurana. Este ltimo ponto enquadrar-se-ia no contexto mais vasto da criao de instituies.

    Os acordos permanentes entre a UE a NATO, em especial o acordo Berlim Mais, reforam a

    capacidade operacional da UE e constituem o quadro em que se insere a parceria estratgica entre as

    duas organizaes no plano da gesto de crises, reflectindo a determinao de ambas em enfrentar

    os desafios do novo sculo.

    Antnio LudovinoRealce

    Antnio LudovinoRealce

  • 13 PT

    Actuando emconjunto, a Unio

    Europeia e osEstados Unidospodem ser nomundo uma

    extraordinriafora benfica.

    Mais coerente Somos mais fortes quanto actuamos em conjunto: essa a justificao da PolticaExterna e de Segurana Comum e da Poltica Europeia de Segurana e Defesa. Ao longo dosltimos anos, crimos uma srie de instrumentos diferentes, cada um dos quais com a sua prpriaestrutura e filosofia.

    O desafio consiste agora em congregar os diferentes instrumentos e capacidades: programas deassistncia europeus, Fundo Europeu de Desenvolvimento, capacidades militares e civis dosEstados-Membros e outros instrumentos; todos eles podem contribuir para a nossa segurana e paraa segurana dos pases terceiros. A segurana a condio primeira do desenvolvimento.

    Os esforos diplomticos, assim como as polticas nos domnios do desenvolvimento, do comrcioe do ambiente, devero obedecer mesma agenda. Numa situao de crise, no h nada que possasubstituir a unidade do comando.

    Na luta tanto contra o terrorismo como contra a criminalidade organizada, fundamental uma maiorcoordenao entre a aco externa e as polticas em matria de Justia e Assuntos Internos.

    necessria uma maior coerncia, no s entre os instrumentos da UE, mas tambm nasactividades externas de cada um dos Estados-Membros.

    Tambm a nvel regional, em especial em situaes de conflito, necessria coerncia entre aspolticas seguidas. As experincias tanto dos Balcs como da frica Ocidental demonstram dediversas formas que raramente possvel resolver problemas ao nvel de um nico pas ou semapoio regional.

    Colaborar com os nossos parceiros So poucos ou nenhunsos problemas que temos capacidade para enfrentar sozinhos. Asameaas acima descritas so ameaas comuns, que partilhamoscom todos os nossos parceiros mais prximos. A cooperaointernacional uma necessidade. Devemos prosseguir os nossosobjectivos, tanto atravs da cooperao multilateral nasorganizaes internacionais como por meio de parcerias comactores essenciais.

    Nada pode substituir a relao transatlntica. Actuando em conjunto, a Unio Europeia e os EstadosUnidos podem ser no mundo uma extraordinria fora benfica. Dever ser nosso objectivo manteruma parceria efectiva e equilibrada com os Estados Unidos, o que constitui mais uma razo paraque a UE crie mais capacidades e reforce a sua coerncia.

    Antnio LudovinoRealce

    Antnio LudovinoRealce

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    Devemos continuar a esforarmo-nos por estabelecer relaes mais estreitas com a Rssia, que

    constitui um dos principais factores da nossa segurana e prosperidade. O respeito por valores

    comuns reforar a dinmica que dever conduzir a uma parceria estratgica.

    Histria, geografia e laos culturais ligam-nos a todos os cantos do mundo: aos nossos vizinhos do

    Mdio Oriente, os nossos parceiros da frica, da Amrica Latina e da sia. Estas relaes

    representam um elemento positivo a explorar, devendo-se, em especial, procurar desenvolver

    parcerias estratgicas com o Japo, a China, o Canad e a ndia, bem como com todos os que

    partilhem os nossos objectivos e valores e estejam dispostos a apoi-los activamente.

    Concluso

    Vivemos num mundo em que se perfilam novos perigos, mas tambm novas oportunidades. A

    Unio Europeia tem o potencial necessrio para dar um contributo fundamental, tanto para a

    conteno das ameaas como para a realizao das oportunidades. Uma Unio Europeia activa e

    capaz teria um forte impacto escala mundial, contribuindo assim para um efectivo sistema

    multilateral conducente a um mundo mais justo, mais seguro e mais unido.

    Antnio LudovinoRealce

    Antnio LudovinoRealce

    Antnio LudovinoRealce