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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1362 Setembro/2013 Uma geração de conhecimento Araripina Agroecologia, determinação e aprendizado. Essa é a receita de sucesso da experiência desenvolvida no Sítio Baixio dos Batistas, município de Araripina, Sertão do Araripe. A família de Miguel Genilson Batista e Francisca Rodrigues Alencar, ambos de 42 anos, é protagonista de uma história que ganhou força sete anos, na propriedade deixada pelo avô do agricultor. O casal de agricultores e o filho André Geovane Alencar Batista, de 20 anos, viveram muitos anos no Sítio Boqueirão, comunidade vizinha. Na época a sobrevivência da família ficava por conta das diárias de serviço que Seu Miguel realizava no Baixio dos Batistas. Nesse período, o agricultor trabalhou também na escavação coletiva de um poço amazonas, de aproximadamente dez metros de profundidade. Quando a água começou a brotar no poço, despertou o interesse da família em fazer pequenos canteiros de hortaliças, e logo Dona Francisca passou a vender o excedente do coentro na comunidade. Pouco tempo depois, chegou o período de inverno, e o barreiro do Sítio Boqueirão acumulou água, possibilitando que a agricultora ampliasse os cultivos. Até hoje, o casal aproveita as chuvas também para plantar feijão, milho e jerimum. A relação da família com a agricultura sustentável começou há muitos anos, e foi construída, por meio do incentivo da mãe de Miguel, Dona Valdenora Batista. Segundo o agricultor, ela foi uma das primeiras agricultoras da região a participar das atividades promovidas pelo Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada), organização que assessora a experiência da família até hoje. Dona Valdenora conta que no início os trabalhos eram mais comunitários, e que a ideia era fortalecer o associativismo no município. “Comecei a participar de reuniões, capacitações, dias de campo e intercâmbios. Foi no tempo que aprendi a fazer preparos e defensivos naturais”, explica orgulhosa.

Uma geração de conhecimento

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Page 1: Uma geração de conhecimento

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1362

Setembro/2013

Uma geração de conhecimento

Araripina

Agroecologia, determinação e aprendizado. Essa é a receita de sucesso da experiência desenvolvida no Sítio Baixio dos Batistas, município de Araripina, Sertão do Araripe. A família de Miguel Genilson Batista e Francisca Rodrigues Alencar, ambos de 42 anos, é protagonista de uma história que ganhou força há sete anos, na propriedade deixada pelo avô do agricultor. O casal de agricultores e o filho André Geovane Alencar Batista, de 20 anos, viveram muitos anos no Sítio Boqueirão, comunidade vizinha.

Na época a sobrevivência da família ficava por conta das diárias de serviço que Seu Miguel realizava no Baixio dos Batistas. Nesse período, o agricultor trabalhou também na escavação coletiva de um poço amazonas, de aproximadamente dez metros de profundidade. Quando a água começou a brotar no poço, despertou o interesse da família em fazer pequenos canteiros de hortaliças, e logo Dona Francisca passou a vender o excedente do coentro na comunidade. Pouco tempo depois, chegou o período de inverno, e o barreiro do Sítio Boqueirão

acumulou água, possibilitando que a agricultora ampliasse os cultivos. Até hoje, o casal aproveita as chuvas também para plantar feijão, milho e jerimum.

A relação da família com a agricultura sustentável começou há muitos anos, e foi construída, por meio do incentivo da mãe de Miguel, Dona Valdenora Batista. Segundo o agricultor, ela foi uma das primeiras agricultoras da região a participar das atividades promovidas pelo Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada), organização que assessora a experiência da família até hoje. Dona Valdenora conta que no início os trabalhos eram mais comunitários, e que a ideia era fortalecer o

associativismo no município. “Comecei a participar de reuniões, capacitações, dias de campo e intercâmbios. Foi no tempo que aprendi a fazer preparos e defensivos naturais”, explica orgulhosa.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

Com a experiência e as práticas de Dona Valdenora, a família de Seu Miguel e Dona Francisca foi sensibilizada para desenvolver atividades sustentáveis na propriedade. “Nunca usamos venenos, mesmo antes de conhecer a agroecologia, mas a gente queimava e brocava tudo, e o terreno ficava feio e limpo”, relembra Miguel. Ele conta que aprendeu várias técnicas, inclusive a curva de nível, aplicada em terrenos de declividade. “Aprendemos a colocar as valetas que formam um barramento na propriedade, que impede de arrastar os plantios quando chove, além de ajudar a reter água no solo”, complementa. Dona Valdenora conheceu a técnica durante uma visita de intercâmbio.

As práticas agroecológicas foram repassadas de mãe pra filho e melhorou a qualidade de vida da família na comunidade. “As vezes gostam de zombar da gente, mas tudo que fazemos é bem pensado. Quando deixamos os restos na propriedade, aproveitamos todos os elementos sem queimar os bagaços, e aí percebemos uma terra mais úmida e com mais nutrientes”, garante Dona Francisca. A família não gosta de tratar da saúde com remédios de farmácia, por isso, utilizam as plantas medicinais cultivadas. Em 2006, a casa foi construída na propriedade do Baixio dos Batistas, e então a família se mudou definitivamente. A água do poço amazonas permite a produção de hortaliças e frutas, e ainda criam galinhas de capoeira. Tudo isso em

uma área de dois hectares.

A família é umas das pioneiras na participação da Feira Agroecológica de Araripina. Seu Miguel e Dona Francisca estão entre os primeiros a produzir alimentos de forma agroecológica e comercializá-los no município. A permanência do casal na feira durou três anos, pois com o tempo o excedente diminuiu, e só foi possível continuar vendendo na própria comunidade e manter alguns consumidores mais fiéis, como é o caso de um restaurante famoso na cidade. “Temos vontade de voltar pra feira, mas com a queda na produção por causa das estiagens tivemos que priorizar um cliente

antigo que compra bastante e faz questão de que os alimentos sejam agroecológicos”, reforça.

Ano passado, através do Chapada, a família foi beneficiada pelo Plano Brasil Sem Miséria, do Governo Federal. O investimento foi direcionado na ampliação das hortas e na avicultura. Com a aquisição de equipamentos, a família melhorou a estrutura do aviário na propriedade e aumentou a criação de galinhas. A horticultura é a principal atividade, e garante a renda necessária para o sustento da família. No futuro, Seu Miguel e Dona Francisca esperam adquirir uma cisterna de captação e armazenamento de água para ampliar a produção de alimentos agroecológicos, pois a água do poço será sempre uma incerteza.

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