Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    1/27

    UMA PEDAGOGIA PARA A EDUCAÇÃO DE CIDADÃOS TRABALHADORES

    Conselho de Escolas de Trabalhadores, e!ere"ro #$$%

    SUM&RIO

     Apresentação

    1. Educação de cidadãos trabalhadores: o que se busca2. Criação e reconstrução conjunta do saber:

    • Valorização do conhecimento que cada um já traz de sua experiência de vida e detrabalho

    • Construção conjunta de conhecimentos e habilidades• Tempo de discussão é tempo para pensar • O raciocnio i!uala a todos• "or que aprender a terminolo!ia técnica• #i!ni$icado peda!%!ico do material didático& apostila' resumo' quadro ne!ro• Como se monta o pro!rama

    3. Consideração e respeito às diferenças pessoais: base para a construção da igualdade entretodos

    • (ist%ria de cada um& um traço de aproximação entre todos• Como se cria um ambiente de solidariedade• O pro$essor é um i!ual 

    . A pol!tica no estudo da t"cnica

    #. A$aliação: que% a$alia os sujeitos da %aestria

    &. 'estão: ele%ento de %aestria e% todas as (reas

    ). *er%inando+ u% bre$e resgate hist,rico

    1

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    2/27

    A'resen(a)*o

    Entre os anos 2--- e 2--1+ o Conselho de Escolas de *rabalhadores ∗  realiou quatro oficinasreunindo+ cada u%a delas+ %onitores de u%a %es%a (rea t"cnica: eletr/nica+ eletricidade+%ec0nica+ ad%inistração infor%atiada. Apoiados na sua eperincia e refleão+ os participantesde cada oficina dera% continuidade à sua troca de conheci%entos aprofundando a eplicitação e adiscussão dos objeti$os+ dos contedos e dos %"todos criados e postos e% pr(tica e% suasrespecti$as escolas. 4 %aterial resultante desses encontros foi publicado nu%a pequena coleção 56e%,rias de 4ficinas entre Escolas de *rabalhadores: a Eletricidade e% Educação+ a Eletr/nicae% Educação+ a 6ec0nica e% Educação.

    7o teto que $e% a seguir 8 "roposta "eda!%!ica para uma )ducação de Cidadãos Trabalhadores8 to%a%os co%o base a coleção 6e%,rias de 4ficinas e procura%os faer+ não u% resu%o+ %asu%a seleção das discuss9es e refle9es ali apresentadas+ co%pondo8as de %odo a %ostrar da%elhor %aneira poss!$el as caracter!sticas %ais significati$as da proposta pedag,gica das escolas.e% d$ida+ h( diferenças de escola para escola. 6as no conjunto+ eiste% caracter!sticasco%uns+ criadas atra$"s de u%a eperincia que não cessa de ser refletida+ interca%biada+a$aliada+ seja na equipe de cada escola+ seja entre todas.

    Esse teto foi u%a iniciati$a da CA;

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    3/27

    7,s ta%b"% não bitola%os o adolescente a trabalhar e a $i$er s, apertando parafuso. 6astrabalha%os co% os alunos a questão da "tica e do car(ter+ para se ter u%a postura perante asociedade. *rabalha%os a questão pol!tica ensinando os direitos e de$eres+ porque %uitosadolescentes hoje e% dia não conhece%. 6ostra%os os de$eres e os direitos+ para que elescorra% atr(s do que lhes di respeito e+ assi%+ possa% entrar no %ercado de trabalho de %odo%ais digno+ e %ais preparados profissional%ente.

    Esse trabalho pol!tico te% ta%b"% u% direciona%ento pr(tico. ;or ee%plo+ nas%anifestaç9es da ;astoral dos e% *eto+ os adolescentes não $ão para a rua si%ples%entepara engrossar o %o$i%ento. Eles $ão sabendo porque " que estão l(. 7ossa preocupação "que eles possa% entender as coisas e+ não+ que $ão s, porque o outro foi. =ue saiba% que+quando $ão defender o 6o$i%ento dos e% *eto+ estão defendendo o seu pr,prio direito.

     A $erdade " que n,s te%os %uita ansiedade: quere%os logo $er o aluno e%pregado naquilopara o qual ele se preparou. >% co%panheiro+ certa $e+ contou angustiado que+ depois debatalhar durante dois anos co% u% garoto+ na oficina de %ec0nica+ encontrou esse %eninotrabalhando nu%a banca de $erduras na feira. =uando o %enino $iu o instrutor se aproi%ar+escondeu8se debaio da banca de $erduras. ;or que? ;orque nossa cobrança+ geral%ente+ "no sentido de que @" preciso ser profissional. Então ele não podia ser $isto por seu e8%onitor de %ec0nicaB

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    4/27

    #. Cr"a)*o e recons(r+)*o con/+n(a do saber 

    Valorização do conhecimento que cada um já traz de sua experiência de trabalho e de vida

    • Confor%e nosso %odo de proceder+ co%eça%os a aula a partir de proble%as da realidade.Ee%plo+ se $a%os tratar de corrente el"trica+ faço logo u%a pergunta be% pr(tica: @por que$oc to%a choque quando se encosta nu% fio desencapado? Cada u% te% sua eplicação:@;orque est( passando corrente. @;orque te% tensão ... 6as ningu"% sabe %uito be% o que" essa tensão.

     At" aqui+ ningu"% recebeu %aterial nenhu%. Esta%os apenas co%eçando a debater oassunto. ;arti%os da id"ia de que quase ningu"% conhece a teoria da corrente el"tricaD elessabe% na pr(tica. Assi%+ $a%os construir esse conheci%ento junto co% os alunos. Eles $ãofalando+ $a%os chegando a u%a id"ia+ %as que ainda não " a %ais t"cnica. o %o%ento+então+ de aprofundar e% ci%a do que eles j( dissera%. ;orque at" a! eles dissera% coisasbe% pr,i%as+ às $ees corretas+ às $ees equi$ocadas. ;ouco eu escre$o na lousa+ apenaso que eles fala%.

     A proposta " partir do conheci%ento que eles trae% ao $ir para a escola. e eles le%algu%a apostila antes+ $ão te dar u%a resposta+ %as se% ter pensado %ais profunda%entesobre o assunto. Eles $ão usar a teoria que lera% se% que tenha% participado da suaconstrução. Ao contr(rio+ do %odo co%o fae%os+ eles sente% que são capaes de chegar por eles %es%os a for%ar a teoria que est( ali.

    • Eu ta%b"% não entrego antes nenhu% teto j( for%ado. a%os construindo o teto ao nosso jeito. ;or ee%plo+ se $a%os falar de aterra%ento+ eu s, coloco o t!tulo 5  A*EFFA6E7*4 5 noalto da lousa e pergunto: @o que " aterra%ento? Então+ co%eça%os a discutir: não sei o que" isso. @4 que $oc acha? 4 que a pala$ra Gaterra%entoH quer dier para $oc? @AhB te%

    algu%a coisa a $er co% terra. Então+ coloco na lousa: terra* 7essa discussão eles $ão traendo as infor%aç9es que t% sobre o assunto. @*e% aquele fio$erde atr(s da geladeira... a%os anotando na lousa os conheci%entos que eles trae%+ e$a%os aprofundando as quest9es. Iepois+ apaga%os a lousa e procura%os que eles feche%a aula co% u%a pequena frase diendo o que " aterra%ento. @Aterra%ento "... e ponto final.@Esse " o nosso conheci%ento+ pessoalD isso " aterra%ento. , então passo a entregar algu% %aterial escrito+ %ais t"cnico+ %ais aprofundado.

    =uer dier+ pri%eiro cria%os o conheci%ento e+ s, depois+ $a%os co%parar esse nossoconheci%ento co% o que est( nos li$ros. Iesta for%a+ procura%os se%pre essa $aloriaçãodo conheci%ento deles. A discussão " de%orada+ %as tudo be%: o contedo que sai "%ara$ilhoso.

    • 7a (rea da %ec0nica ta%b"%+ n,s co%eça%os questionando os alunos sobre o que " a%ec0nica. 7as respostas+ resgata%os o conheci%ento que eles j( trae% de seu dia a dia.;orque+ de fato+ todo %undo se%pre te% algu% conheci%ento b(sico. Assi%+ atra$"s dasrespostas que $ão dando+ $a%os a$ançando. >% dos nossos objeti$os " chegar at" osdi$ersos tipos de %ateriais para+ a partir da!+ discutir os %etais e chegar at" à estrutura do aço.e%pre co% o cuidado de partir da $aloriação dos conheci%entos que eles j( trae%.

     • =uando eu pergunto o que " a %ec0nica+ procuro faer co% que cada u% responda para a

    tur%a co% o conheci%ento que j( tra consigo. Algu% conheci%ento eles se%pre t%+ %es%oque ne% saiba% que possue% tal saber. ;or isso+ fala%os e% $aloriar o que cada u% tra.

    .

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    5/27

    Ia%os %uito $alor a isso. =uando digo: @$ai at" l( e coloca no quadro+ estou buscando$aloriar o conheci%ento e a escrita dele.6as não " s, isso não: " i%portante $aloriar ta%b"% a discussão e a criação desse saber noconjunto. Eles discute% cada assunto Conjunta%ente e o conheci%ento " constru!docoleti$a%ente.

    Construção conjunta deconhecimentos e habilidades

    • 7a hora de aprender a faer as pri%eiras e%endas de fio+ eu não costu%o apresentar qualquer desenho co% os %odos corretos de se faer isso. 7ãoD " alicate e fio na %ão deles+ e eu digo:@e%enda. 7a %edida e% que fae%+ $a%os $endo os desastres. A partir da! " que $a%osprocurar a for%a %ais t"cnica de faer isso. Apresento o desenho das e%endas+ discuti%os o%elhor %eio de fa8las+ a i%port0ncia que isso te% e o %oti$o pelo qual " preciso dar %ais deseis $oltas e% torno do outro fio... Iepois+ eles copia% o desenho das e%endas no caderno.Jaendo no papel+ fica %ais f(cil gra$ar na %e%,ria e p/r e% pr(tica depois. ;orque+ u%acoisa " ou$ir o que o instrutor fala+ outra coisa be% diferente "+ al"% de ter eperi%entado ediscutido+ faer co% a pr,pria %ão o desenho da operação. ;or isso+ os alunos se%prepassa% para o seu caderno pessoal os desenhos da t"cnica das e%endas.

    E% seguida+ $a%os soldar. Iiscuti%os antes por que soldar+ o te%po todo buscando construir  junto co% eles. =uer dier+ não $a%os logo ensinando co%o " que se de$e faer as e%endase a solda. ;ri%eiro+ eles eperi%enta% para+ assi%+ ire% descobrindo co%o ". e o sujeitofe u%a boa e%enda+ ,ti%o. ignifica que+ pro$a$el%ente+ j( esta%os lidando co% algu"%que sabe faer o trabalho. e não+ então ele $ai descobrir junto co% os outros co%o faer.

    • ;ara introduir a discussão sobre a teoria at/%ica+ eu pego u% pedacinho de gi e co%eço aquebrar. 4u+ senão+ u% pedaço de papel que $oc $ai rasgando. ai quebrando+ rasgando+quebrando+ rasgando+ at" não ter %ais unha para quebrar o gi+ ou cortar o papel. Chegandoa!+ co%eça%os a discutir e trabalhar a questão dos el"trons e do ncleo+ a construir a teoriaat/%ica. Ks $ees+ assusta: h( garotos que estão ter%inando j( o ensino %"dio+ %as queainda não entendera% nada de teoria at/%ica.

    Então eu peço que cada u% desenhe o seu (to%o. Iiscuti%os cada u% dos desenhos e s,

    depois apresento os %odelos at/%icos que estão nos li$ros. E se%pre diendo: @na $erdade+não " que o seu %odelo esteja errado e este+ certo. oc criou o seu %odelo dentro da l,gicaque $oc entendeu. 6as hou$e ta%b"% que% ti$esse criado outros %odelos. a%os $er se o%odelo deles ajuda a entender %elhor.

    • Eu co%eço o curso de eletricidade co% a seguinte pergunta: @o que $ocs $iera% faer aqui? A %aioria responde que $eio faer o curso de eletricidade industrial. Então eu e%endo direto:@o que " eletricidade? 7ão te% que% responda. Alguns at" j( são eletricistas da construçãoci$il. 6as a grande %aioria não di nada. Ks $ees+ h( que% diga: @%as se eu estou aqui "para o senhor %e dier. Então+ e% pri%eiro lugar+ eu eplico que não precisa desse senhor e% sala de aula. L( co%eça quebrando essa hist,ria de senhor e professor: @%eu no%e " tal equero ser tratado pelo %eu no%e. 6as o que estou querendo saber " o que " eletricidade.e% %ais u%a resposta ou outra+ at" que algu"% di+ apontando para a l0%pada: @aquilo ali "

    eletricidade. Eu digo: @"? Co%o assi%? 6as e% geral a pergunta cai no silncio+ ningu"%arrisca %ais nada.

    7essas horas+ " bo% o instrutor a$ançar algu%a infor%ação+ para e$itar que o sujeito saia dalie não $olte nunca %ais. @Eu $i% aqui para aprender e o instrutor s, fa %e perguntar+ quer queeu fale por ele?B Então eu pego as poucas respostas que sa!ra% e $ou faendo algu%co%ent(rio: @esse brilho da l0%pada ainda não " a eletricidade+ " o produto dela+ " o efeito daeletricidade. =ual " a %at"ria pri%a da eletricidade?;ara trabalhar isso+ eu uso o fio de cobre. ou partindo+ partindo+ at" não ter %ais o que partir.@Esse pedacinho aqui não pode %ais partirD h( %uito+ j( saiu do alcance da $isão hu%ana.

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    6/27

    Chega%os ao (to%o+ então+ eu pergunto: @co%o desenhar essa coisa que ningu"% $+ que "i%aginação?. E %ostra%os que o (to%o " u%a id"ia para a qual eiste% %uitas pro$as.Jae%os o desenho da idéia e $a%os adiante. @Ao contr(rio do que di o no%e+ o (to%o te%outras di$is9es+ te% os seus GpedaçosH...

    E continua%os perguntando: @a eletricidade+ onde " que entra nisso a!? 4utro @branco deno$o. Algu% aluno insiste: @" o senhor que te% que dier. Ele te% algu%a infor%ação+ %as

    quer que o instrutor fale: @eu $i% aqui para isso. Então $a%os buscar juntos o que est(acontecendo ali no interior da %at"ria. Co%o os (to%os se organia% e qual " o seu%o$i%ento.

    Esta+ na $erdade+ " u%a $iage% %uito profunda para trabalhadores da construção ci$il+ co%osão na %aior parte nossos alunos de el"trica. Acho que faer esse oper(rio sair da rotina debater laje e ca$ar concreto+ para processar u% conheci%ento que " tão escondido da $idadesse po$o co%o " o conheci%ento do interior da %at"ria+ " u%a responsabilidade %uitogrande. *e% que ter %uito cuidado nessa hora+ porque $oc pode estar estuprando aqueleco%panheiro. *e% at" que ali$iar u% pouco+ te% que faer u%a brincadeira+ u%a GgracinhaH%es%o. ;orque " %uito fundo+ e o sujeito nunca ou$iu falar nessas coisas+ %uito %enos falar desse jeito.

    • E% nossos cursos+ depois das pri%eiras apresentaç9es os alunos j( não trabalha% %ais

    soinhos: trabalha% e% dupla. E $ão e% dupla at" o final. Ks $ees+ " o instrutor que escolheas duplasD às $ees são os alunos. e sou eu+ junto os que t% %ais facilidade co% os quet% %ais dificuldade. E% geral+ os que t% %ais dificuldade resiste% %ais a trabalhar e%grupo+ ou e% dupla. 6as+ da! a pouco+ eles %es%os co%eça% a cobrar dos outros: @$oc queest( na frente+ não $ que eu estou ainda nesse pri%eiro ite%? Então %e eplica+ que " paraeu ta%b"% poder participar no trabalho.

    *a%b"% fae%os a teoria a partir do que os alunos trae%D con$ersando+ $a%os construindo juntos e eles $ão anotando. *e%os conseguido bons resultados nesse trabalho+ tanto co%adultos quanto co% adolescentes.

    Co%eça%os por discutir e faer o interruptor co% cha$e para dois pinos e co% cha$e para trspinos. Iepois de pronto+ eu s, entrego o %aterial e digo: @o de quatro pinos+ co%o " que sefa? E eles $ão pensar e discutir. ;ode% ficar ali durante trs horas que eu espero. Iepois+

    se fe errado+ $ai faer de no$oD $ai faendo e construindo o processo todo at" conseguir ter%inar de for%a correta. E eles fae%+ tanto os adolescentes quanto os adultos.

    7o co%eço+ eles fala%: @%ostra logoB Então eu digo: @não+ $ocs t% capacidade de pensar ede desen$ol$er. E eles consegue%. esse Gconseguir faerH que incenti$a e garante quese%pre eles queiram faer+ queiram construir.

    • 7u% processo coleti$o de @criação do saber+ al"% das discuss9es+ as pesquisas ta%b"% sãofeitas e% grupo. A apresentação dos trabalhos de final de ano+ %uitas $ees+ " feita no p(tio+co% todas as tur%as. 4s alunos acha% isso %uito i%portante porque+ assi%+ eles ultrapassa%a barreira do %edo e passa% a ter %ais facilidade de participação na construção dos saberese das decis9es.

    • *e% ta%b"% a situação in$ersa+ quando+ no processo interrogati$o da criação coleti$a do

    saber+ algu% aluno j( te% a resposta pronta e co%eça a falar+ quei%ando as etapas dopensa%ento do conjunto da sala. Então eu digo: @segura u% pouco a!. E $ou buscar acontribuição de algu% outro. Aquele que j( sabe %ais+ $ai falar ta%b"%+ s, que por lti%o.4u+ se não est( saindo nada %es%o+ de jeito nenhu%+ então ele fa a sua apresentação. 6aste% u% por"%: %es%o se a apresentação esti$er correta+ ela de$e ser questionada e

     justificada+ de %odo a que todos possa% participar nessa busca de co%preensão.

    • 7a pri%eira aula do curso de eletr/nica+ a pergunta ": por que a l0%pada acende? Ia! $ai sair (to%os+ el"trons+ corrente+ tensão+ resistncia. ão trs dias de discussão sobre isso. E as

    0

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    7/27

    perguntas são diretas assi% %es%o. e u% aluno troue algu%a frase aprendida e% li$ro+ agente pua pelo que ele falou perguntando: @7a nossa l!ngua do dia a dia+ isso quer dier %es%o o qu?

    4s que sabe% %ais são MinduidosM a não falar logo. A orientação que segui%os " deiar que+pri%eiro+ fale% os que sabe% %enos.

    • 4 que procura%os deiar claro para todos " que não te%os nenhu% fecha%ento a qualquer resposta. 4 saber " %uito a%plo+ %uito grandeD e n,s descobri%os que+ se co% essa %inharesposta eu resol$o+ outra pessoa pode ter outra resposta que ta%b"% resol$e.;or isso+ logo no in!cio do curso+ eu j( dou u%a injeção de incenti$o be% grande+ justificando onosso %"todo. Eplico que o %"todo da escola foi batiado+ te%pos atr(s+ de GCriação doaberH. Criação do saber de cada u%D cada u% " que $ai criar o seu saber. E esse saber não" obra da escola. A escola $ai apenas @usar o que cada u% j( tra. ;or que? ;orque esse%"todo di+ e pro$a+ que todo ser hu%ano " capa de criar e recriar. 7ingu"% $ai te dier ne%$ai te dar respostas prontas. 7,s todos $a%os estar aqui para ajudar a pensar. 4 certo " que+depois disso+ %uito pouca gente desiste.

    4 que não significa que " para deiar de estudar nos li$ros nãoD significa que a apostila e oli$ro são para ler e in$estigar o que outros co%panheiros estão diendo e j( escre$era%.Esse " o %"todo co% o qual n,s trabalha%os. 4 aluno sabe que+ se $oc " %onitor não "

    porque $oc sabe u% bocado de coisas não+ %as " porque $oc sabe o jeito de co%o buscar ca%inhos para chegar naquela resposta. Ca%inhos que são di$ersos+ não " u% s, não.=uantas $ees eu digo: @na $erdade+ isso a! eu não sei não. a%os ter que pesquisar. Eque% $ai pesquisar? *odo %undo. >% sujeito chega l( pri%eiro+ u% outro chega depois...

    Tempo de discussão é tempo de pensar 

    • ;ortanto+ n,s não da%os resposta feita+ %as fae%os pensar. 7o curso de refrigeração+ por ee%plo+ co%eça%os co% a pergunta direta: o que " refrigeração? E esta%os se%preperguntando o @o quê+  e o @ por quê+  das coisas. 7unca die%os @é isso+  ou @é aquilo+ . Assi%+$a%os construindo u% conceito. Fefrigeração+ todo %undo sabe+ " transferncia de calor.6as não " que o aluno tenha que falar co% essas pala$ras. 4 que ele te%+ isso si%+ " queentenderD te% que saber dier algu%a coisa sobre isso.

    4 instrutor fica se%pre procurando u% gancho para dar segui%ento à discussão. ;or ee%plo+para se discutir refrigeração te% que saber o que " calor+ o que " te%peratura. Então+ euespero que saia% pala$ras co%o calor + temperatura+ $rio+ quente+ para ir norteando asperguntas e a discussão.

     Assi%+ quando inicia%os co% a pergunta sobre o que " refrigeração+ eles logo %e responde%co% as %ais $ariadas coisas: por ee%plo+ @faer frio. Então eu digo: @%as co%o se fa essefrio? Eu nunca digo: @não " isso: " assi%. Eu não %e sinto à $ontade para dar a resposta.Eu continuo perguntando: @e co%o " que se fa esse frio? a%os analisar o frio? =uando est(frio? Então+ eles pode% %e responder: @quando te% %uito gelo. E eu $ou dier: @o que " ogelo?

    4nde eu $ou chegar co% esse %onte de @por qu e de @o qu? 7o caso da refrigeração+ euchego na %at"ria+ eu di$ido at" a %enor parte+ para construir de no$o.

    7a refrigeração+ tenho o costu%e de fechar os assuntos por blocos. ;or ee%plo+ refrigeraçãole$a à discussão de calor. @4 que " calor? ;ara se chegar à co%preensão de que calor não "te%peratura %as " energia t"r%ica e% %o$i%ento+ de%ora. Contudo " bo% porque+ quandoter%ina+ o aluno não confunde %ais calor e te%peratura. 7ão conheço nenhu% li$ro que digaisso para $oc. Ks $ees+ o li$ro di que te%peratura " o grau de agitação %olecular: s, issoB6as o que " grau de agitação? 4 que " agitação %olecular?

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    8/27

    Entretanto+ co%o o aluno j( discutiu sobre a %at"ria+ ele sabe que o (to%o te% u% el"tron queest( l(+ e% %o$i%ento. Ele sabe que+ se juntar dois ou trs (to%os+ n,s te%os u%a %ol"cula.E que+ a!+ tere%os u% %o$i%ento ainda %aior. =uando $oc est( discutindo o que "te%peratura e te% a $isão de agitação %olecular+ então $oc j( te% esses degraus que pode%ajudar a consolidar u% pensa%ento %ais gen"rico l( na frente.

    • Ientro deste processo de criação do saber+ n,s procura%os des%istificar a figura do professor co%o dono da $erdade. %a das coisas que na escola se%pre discuti%os " sobre asiste%atiação. iste%atiar não te% nenhu% proble%a+ desde que fique claro que $oc est(apenas arru%ando as id"ias. Iesde que fique claro que as id"ias pode% ser se%pre%odificadas.

    • 7,s trabalha%os ta%b"% da %es%a for%a. interessante $er co%o o despertar para aparticipação se d( de u% %odo %ais lento. 6as+ a partir de certa altura do curso+ isso $e%co% u%a espontaneidade %uito grande. *anto que+ às $ees+ $oc se pergunta se aquilo "

    u%a aula ou u% bate8papo. Essa construção conjunta se d( a partir das con$ersas e% que se$ai for%ulando o pensa%ento.

    7o in!cio+ a dificuldade " grande porque te% a rejeição do aluno. ;or causa da sua poucaparticipação no %undo da escola+ a pessoa fica calada. 6as+ co% o te%po+ essa pessoa que%uitas $ees ne% da$a opinião+ no final+ " u%a das %ais atuantes dentro de sala.

    • 6as não ser( que chega nu% ponto e% que não adianta %ais perguntar+ porque as pessoasnão sabe% %ais? At" ali elas consegue% ir+ %as dali para a frente elas j( não anda% %aissoinhas. E+ no entanto+ esse que falta " u% conheci%ento que elas $ão precisar.

    • 4u+ tal$e+ u%a pergunta in$ersa: co%o perceber+ no saber que eles trae%+ aquilo que ser$ede base para ca%inhar? ;or ee%plo+ na eperincia de %edir+ as pessoas se%pre trae%algu% conheci%ento: elas sabe% %edir pal%o+ %edir passos... 4s padr9es " que $ão%udando. Então+ $oc discute esses padr9es. oc não $ai sair perguntando doida%ente.Esse " o proble%a: te% que saber conduir a perguntação e não ir aos saltos.

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    9/27

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    10/27

    trae%os na cabeça e no corpo+ no jeito de andar+ de falar+ de se $estir e de se relacionar co%os outros. u%a sociedade desigual.

    Jala%os u%a l!ngua que te% diferentes falas. A fala popular+ fala co% u% jeito tupiD por isso aselites in$entara% que essa " u%a fala de que% não te% cultura+ de que% não sabe nada.;orque+ para as elites+ s, conta a fala que $e% da acade%ia+ que " a fala que te%@co%petncia. 7esse pa!s+ a pessoa sente @$ergonha at" porque acha que não sabe falar.

    Co%o conseguir que a gente se relacione co%o gente ir%ã u%a da outra e não u%a contra aoutra? Claro que isso $aria co% o pblico. 6as te%os que buscar u% %odo para ro%per co%essa do%inação. a gente se sentir+ não dono %as+ igual e junto co% os outros. não sesentir subjugado porque não sabe isso ou aquilo+ ou porque fala desse ou daquele jeito.

    *e% u%a s"rie de coisas que+ ao resgatar juntos o conheci%ento+ te%os que fortalecer. *e%osque traer todos a essa confraterniação objeti$a e real+ que " a construção conjunta deconheci%entos+ para cada u% se sentir co%panheiro. enão+ ne% entre co%panheiros $ocse sente+ porque se%pre te% aquele que $e% por ci%a.

    *e% que buscar esse princ!pio funda%ental que est( por tr(s do nosso trabalho 5 buscandota%b"% co%o interpret(8lo e% cada realidade concreta.

    Co% essa %etodologia+ o sujeito descobre conhecer aquilo que ele pensa$a estar %uito longedele. E quando+ pelo racioc!nio+ se iguala% os n!$eis diferentes de escolaridade+ no processode descobri%ento das coisas+ o t"cnico percebe que+ nu%a discussão co%o aquela+ não " eleo sujeito que $ai dar a lu no fi% do tnel.

    *odos descobre% que não te% fronteiras entre o saber %ais e o saber %enos. Eles pode%enfrentar a situação de par a par. A!+ o %edo desaparece. A relação %uda entre os pr,priosalunos e+ depois+ entre alunos e professor.

    4 professor não sabe tudo e o aluno não entrou aqui se% saber nada. Ies%istifica8se aquestão do poder. Esse " u% dos pontos que %ais %e e%ociona.

    "or que aprender a terminolo!ia técnica

    • *e% coisas que d( para ir criando juntos+ porque h( relação direta co% a pr(tica. 4utras nãod(+ porque a %aioria dos alunos não te% infor%ação sobre elas. ;or ee%plo+ no curso deeletr/nica+ quando fala%os de cristal+ iria de%orar %uito se eu fosse esperar que elesdescobrisse%. Eu tenho que dier co%o "+ para ganhar te%po nessa parte+ pois ela não " oprincipal. 4 principal " conhecer co%o funciona. ;ula%os u%a etapa para possibilitar que oprincipal saia. E% todas as %at"rias+ de$o dier o que " preciso que eles saiba% para acontinuidade de seu aprendiado+ onde quer que esteja%.

    E% sala de aula+ nunca precisei definir o fecha%ento de u%a discussão+ porque procura%osincenti$ar que cada u% escre$a do seu jeito o que co%preendeu. A nossa pro$a te,rica le$ae% conta a co%preensão dos alunos. Cada u% escre$e do seu jeito %as+ no final+ aco%preensão do contedo est( ali: %es%o se não te% u%a frase feita pronta.

    • 6as se $oc $ai faer u%a pro$a e% u%a e%presa+ $oc te% que falar a linguage% t"cnica.6es%o que $oc traga eperincia+ a fir%a quer ou$ir o seu aprendiado t"cnico. e a escoladeia o aluno li$re...? A e%presa não quer pessoas que pense%+ quer pessoas que faça%.

    • claro que a ter%inologia t"cnica " eigida no curso. e o no%e " @polariou+ não ser$e@botou para funcionar. 6as+ isso não " s, para o teste na f(brica não. e $oc entra nu%lugar de trabalho onde te% outras pessoas que conhece% eletr/nica+ $oc $ai ter dificuldadede se relacionar co% os seus colegas se não conhecer a ter%inologia.

    14

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    11/27

    Iepois que o aluno descre$e e co%preende o fen/%eno+ a gente fala co% todas as letras: ono%e disso " @junção. E cada $e que ele fala e% @n.p. junto+ a gente di: @n.p. junto+ não.=ual " o no%e disso? At" para ele refletir e fiar. A co%preensão $eio %uito antes. Ater%inologia " s, u% no%e que+ depois+ $oc batalha para fiar. @

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    12/27

    assenhorear8se do conheci%ento e da for%a de se chegar ao conheci%ento+ de %odo a nãose sentir sub%etido pelo poderio atribu!do ao conheci%ento.

    • Eu defendo que te%os que dar apostila aos alunos si%+ a %aior+ a %ais co%pleta+ a %aiselaborada poss!$elD co%o u% instru%ento de pesquisa. 6as+ no dia a dia+ sei que não adiantadar logo u%a apostila bonita porque eles não $ão ler %es%o. %elhor trabalhar o contedoantes+ na lousa+ para faer o sujeito escre$er. Assi%+ eu tenho certea de que pelo %enosnaquele dia ele leu.

    • Eu in$isto %uito ta%b"% e% relat,rios. A pala$ra " chata: relat,rio. 7a $erdade+ o que euproponho " que eles faça% u% resu%o da aula por escrito e que+ depois+ apresente%eplicando: @entendi isso+ acho aquilo+ %ais isso. 4 sujeito consegue desen$ol$er %uitashabilidades interessantes co% esses pequenos h(bitos.

    • Cada escola te% u% pblico diferente. Então+ de acordo co% o pblico+ cada escola adota u%siste%a pr,prio de trabalho. *odos t% u% progra%a. 4s %"todos usados para trabalhar esteprogra%a são escolhidos de acordo co% a tur%a. Eu trabalho co% adolescentes. Ks $eestrabalho co% lousa+ às $ees co% folha. =uando tiro ero para todos+ %uitos perde% a ero.Então+ di$ido dois a dois e eles $ão trabalhar juntos o contedo e+ depois+ fae%os u%adiscussão. Ks $ees+ assisti%os u% fil%e sobre eletr/nica e+ depois+ $a%os con$ersar sobre

    aquilo. e%pre de acordo co% o pblico.

     Antes+ eu trabalha$a co% apostila+ que eles se%pre esquecia% de traer+ por isso+ hoje+ nãotrabalho %ais assi%D $ejo que+ co% audio$isual+ eles consegue% assi%ilar be%. e eu for trabalhar na lousa e der u% teto sobre teoria+ eles não consegue% captar. 7ão adianta.Então+ fico procurando sa!das de acordo co% os alunos que eu tenho.7,s não te%os siste%as fechados+ te%os tentati$as. ão alunos di$ersos+ cada u% te% u%arealidade diferente.

    • 7,s fae%os do quadro negro u% caderno coleti$o dos alunos. >%a das coisas queinstiga%os " que eles for%e% grupos. =uando eu pergunto o que " %ec0nica+ cada u% $airesponder indi$idual%ente. 6as+ depois+ cada grupo $ai construir sua pr,pria definição+ $aifaer a sua pr,pria arru%ação de id"ias. E% seguida+ $ai colocar no quadro a sua definição. Apartir do %o%ento e% que o pensa%ento de u% grupo foi para o quadro negro+ ele não $aificar %ais s, co% aquele grupo: agora ele pertence a todo o coleti$o.

    4 uso do quadro " ta%b"% para incenti$ar a escrita. Eles passa% a $er o quadro co%o u%espaço que não " do %onitor+ %as onde cada u% $ai à frente e constr,i o seu conheci%ento+eles %es%os registrando. Essa " u%a das coisas que instiga%os %uito entre os nossosalunos.

    Eu+ por ee%plo+ gosto de $aloriar a escrita das pessoas. ;or isso+ toda $e que te% u%questiona%ento entre os alunos+ falo para eles ire% at" l( e colocare% no quadro. i%portante faer esse eerc!cioD te%os o h(bito de não escre$er quase nada. A partir do%o%ento e% que a discussão prossegue+ aquela definição do in!cio $ai sendo %odificada. 7ofinal+ fica claro que ela não " %ais a %es%a coisa porque todos ali adquiri%os %aisconheci%ento.

    • =ue% fa o desenho no quadro " o pr,prio aluno. Esse " u% quadro que ser$e para todo%undo. u% grande caderno coleti$o. Ie in!cio+ alguns resiste%. Então+ n,s insisti%os+diendo que @esse quadro aqui " nosso+ " o caderno de todos. Co% pouco te%po+ a tur%a j(se le$anta se% dificuldades: te% d$ida? ai ao quadro e ep9e a questão.6as te%os que considerar a %aneira de cada u% se colocar. 6uitas $ees+ o sujeito at" sele$anta %as não consegue se epressar. ;or qu? Ele pode não estar aco%panhando oracioc!nio da tur%a. Então+ eu tenho que esperar o %o%ento e% que ele d u% ind!cio da suapreocupação+ para ani%(8lo. Costu%o falar assi%: @$oc est( preocupado co% que%? Aqui

    1,

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    13/27

    não te% ningu"% que sabe tudo não. 4 professor " $oc %es%o+ $ai l(... Assi%+ procura%osquebrar essa hist,ria de GcertoH e GerradoH logo nos pri%eiros dias.

    • 7u%a pesquisa co% e8alunos+ ha$ia u% que fala$a assi%: @antes eu era que ne% u% bicho.Jica$a todo encolhido+ não fala$a nada. At" o dia e% que+ nu% eerc!cio para faer no quadro+todo %undo que ia l( na frente faia errado. E eu sabia co%o faer. Então+ nesse dia eu crieicorage%+ le$antei e fui ao quadro. Ele chegou a dier assi%: @desse dia e% diante+ deiei deser aquele bicho+ que s, $i$ia pelos cantos+ %e escondendo. =uer dier+ a sensação que eletinha antes era a de não se sentir ne% u% ser hu%ano co%o os outros+ capa de ir ao quadro+de eplicar. 4lhando assi%+ parece pouco. 6as+ para ele+ aquilo foi %uito significati$o+ foi u%alibertação.

     •  A relação co% o quadro significa se epor. Acho que todo aluno te% grande %edo de se epor.

    4 quadro+ e% geral+ " usado pelos professores co%o se fosse u% castigo: @então+ $e% $oc aoquadroB Estar no quadro real%ente " u%a sensação forte. 4 pessoal te% %edo de se epor porque te% %edo de falar besteira. ;or isso+ se%pre $a%os con$ersando: @aqui $oc podefalar+ at" se for besteira+ porque aqui não te% nenhu% sabichão não. E $a%os incenti$andoas pessoas a falare% o que quere% falar+ e a usare% o quadro para faer as coisascoleti$a%ente.

    Como se monta o pro!rama

    • E% nossa escola+ não são os instrutores que define% o progra%a do curso. 4 progra%a "colocado co%o u%a proposta para os alunos+ no in!cio do ano. A pri%eira coisa " con$ersar co% eles+ para $er o que acha% dessa proposta. Rogo no in!cio+ co%o a %aioria " cego e%eletr/nica+ aceita% o progra%a proposto. K %edida que o ano $ai andando e eles $ão seassenhoreando das coisas+ co%eça% a sugerir %udanças. E% %uitos casos+ s, depois queaprendera% " que $ão propondo sugest9es.

    7,s $a%os juntando as opini9es e cha%a%os u% grupo de e8alunos para discutir as%odificaç9es propostas+ junto co% os alunos daquele ano. 7o ano seguinte+ quando chega ano$a tur%a+ eles fica% sabendo co%o o progra%a foi feito e+ por sua $e+ le$a% adiante o%es%o processo.

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    14/27

    " $erdadeiro. Ele te% conheci%entos que tra de sua $ida: todo %undo j( $iu u%a luacendendo. Assi%+ $a%os conseguir chegar ao conheci%ento tanto co% o eletricista co%eperincia+ co%o co% o adolescente. 4 te%po dessa construção " que $ai $ariar.

    E% nossa escola+ n,s te%os u% plano de aula: por ee%plo+ hoje+ eu quero dar correnteel"trica e ainda discutir %ais algu% ponto. 6as+ confor%e a tur%a+ eu não consigo cu%prir oplano. Então+ eu chego s, at" onde eu $ejo que a tur%a est( aco%panhando e aprendendo.

    6es%o que eu não chegue ao final+ est( be%. 7,s te%os essa %aleabilidade.

    • Rogo na pri%eira se%ana+ e% todas as aulas dos nossos cursos+ n,s apresenta%os oprogra%a e apura%os algu%as sugest9es de %udança. E% função dessa discussão inicialsão feitas %udanças e+ s, então+ fica pronto o progra%a oficial para o ano.6es%o assi%+ te%os co%o pr(tica reunir a tur%a antes do final do pri%eiro bi%estre e a$aliar o anda%ento dos trabalhos. Cha%a%os isso de u% pr"8conselho+ que " feito co% os alunos eco% os professores.

    0. Cons"dera)*o e res'e"(o 1s d"eren)as 'essoa"s base 'ara a cons(r+)*o da "2+aldade

    en(re (odos

    %ist$ria de cada um& traço deaproximação entre todos

    • 4 pri%eiro dia de aula co%eça co% u%a apresentação de cada u%. Jae%os u% $aral nasala e distribu!%os papel e l(pis para todo %undo. ;ri%eiro+ cada u% p9e seu no%e no papel eprega no $aral. a%os+ então+ perguntando se a pessoa sabe por que o no%e dela " esse: 8@por que $oc se cha%a Sashington? 8 e trabalha%os u% pouco e% ci%a disso. Acho que+ ao%enos e% ão ;aulo e no Fio+ tal$e tenha algu%a i%port0ncia saber onde o sujeito nasceuDperguntar a orige%+ o lugar de onde ele $e%D e os pais+ de onde $iera%? Cada u% $ai à frente

    e di. *e% pessoas que não sabe% sequer onde nascera%+ principal%ente entre os%oradores da Tona Reste de ão ;aulo. 6uita gente %ora na Tona Reste %as nasceu e%anto Andr"+ porque naquela região não tinha hospital quando ele nasceu.

    Então+ $a%os buscando essas coisas e perguntando. 4 nosso objeti$o qual ": pri%eiro+ faer u% le$anta%ento da hist,ria de cada u%. ;ara+ depois+ saber trabalhar as brincadeiras+ e$itar algu%a brincadeira que $enha a ferir profunda%ente alguns deles. =uando co%eça%os atrabalhar a orige% das pessoas+ percebe%os que boa parte deles j( não são %ais baianosUco%o são cha%ados os nordestinos e% ão ;auloV+ %as o pai era baiano+ a %ãe era baiana.

     Assi%+ co%eça%os a trabalhar a auto8esti%a+ a $aloriação de cada u%+ a hist,ria do no%e dapessoa+ e discuti%os a questão dos preconceitos. Re$anto ta%b"% a escolaridade do pessoal.

    Enfi%+ tenho a preocupação de iniciar por a!+ porque acho que isso " i%portante para odesen$ol$i%ento das relaç9es hu%anas dentro do curso.

    Como se cria um ambiente de solidariedade

    • >%a aula te% que ser dada co% %uito a%or. ;elo %enos+ " o que eu procuro passar. *e% quegostar de dar aula. *e% que sorrir. 7ão pode estar chateado não.

    Eu tenho u% lado de brincadeira e u% lado de seriedade. egunda8feira " o pior dia+ na tur%ada tarde+ porque os garotos $% co% todos os @$!cios de casaD o padrasto que bebe %uito+ asbrigas da fa%!lia+ e u%a s"rie de proble%as que eles trae% de casa. Então+ para%os uns 1-

    1.

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    15/27

    %inutos e eu fico assi%+ olhando para eles. 7ão se arrasta u%a cadeira+ ne% se fala alto: @nãofala alto não+ fala baiinho+ que " para acal%ar... E $ai acal%ando. A %es%a coisa se passaco% a tur%a da noite: eles $% co% todos os proble%as de casaD prestação+ lu+ (gua+ %ulher recla%ando+ ou ho%e% recla%ando... K noite+ al"% disso+ te% o sono. Então+ $oc te% quecriar u%a piada+ u%a brincadeira+ para poder tornar a aula gostosa. 7e% sei se estou certo+posso at" estar errado.

    • *a%b"% acho que aula não de$e ser total%ente s"ria: chegar+ sentar+ estudar e $oltar paracasa. E% algu% %o%ento+ " bo% dar u%a gargalhada+ criar u%a situação+ %es%orelacionada co% a el"trica+ que deie a sala %ais descontra!da.

    ;ara e$itar o cansaço entre os adolescentes+ eu se%pre uso algu%as din0%icas. 7o in!cio docurso+ cada u% se apresenta+ que " para todo %undo se conhecer %elhor. ;or ee%plo+procura%os saber se algu"% conhece que% trabalhe co% el"trica+ ou se te% algu% parenteque trabalhe nessa (rea.

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    16/27

    preocupa e% for%ular questiona%entos para que o seu colega ta%b"% chegue l(. @Eu nãoposso dar a resposta. Eu tenho que faer o %eu colega pensar ta%b"%.

    O pro#essor é um i!ual 

    • e%pre que co%eça u%a discussão+ seja l( qual for o assunto+ eu não %e dou por satisfeitoco% as pri%eiras colocaç9es. preciso que aquilo não pare ali+ %as sir$a de pata%ar paracontinuar o di(logo. ;or isso+ eu não esgoto a discussão. e não saiu o que eu estoubuscando para fechar esse elo+ eu $ou faer outras perguntas concernentes. 6as não possodier: j( que $ocs não sabe%+ " assi%B

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    17/27

    g(s+ que " $(cuo. , sei que depois de algu%a discussão+ decidi%os pesquisar. Een$ol$e%os ta%b"% outros alunos nessa pesquisa. Lunta%os $(rios li$ros na %esa e fo%ospesquisar. ;ara todos os alunos foi u%a aula %uito boa+ porque todos co%eçara% a seen$ol$er na pesquisa e a discutir. >ns diia%: @te% g(s. E outros: @acho que não. At" queacha%os u% li$ro de f!sica que aprofunda$a %ais o assunto e a conclusão foi que tinha g(s.7ão apenas de u% tipoD podia ser de dois tipos: nitrognio ou arg/nio.

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    18/27

    Ousca%os entender por que os fabricantes de capacitores coloca% aquelas f,r%ulas quedificulta% a leituraD para cada equipa%ento fae% u% esque%a de leitura diferente. ;or que+e% deter%inado equipa%ento+ s, se pode usar placa daquele fabricante+ de outro não pode? a questão do %onop,lio+ de co%o eles do%ina% essa tecnologia e a i%p9e%.

    Jie%os %anutenção nu% circuito integrado e $i%os que o fabricante " a%ericano. 6as+ e%baio do C

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    19/27

    E% nosso curso de eletricidade+ que fa parte do ;rogra%a %unicipal de urbaniação defa$elas+ n,s discuti%os a i%port0ncia da eletricidade e o conforto que ela tra para os%oradores do bairro. e%pre insisti%os co% os alunos: assi% co%o eles passa% a ter oconheci%ento de co%o faer as instalaç9es el"tricas naquelas residncias+ do %es%o %odoadquire% junto a obrigação de %ostrar às pessoas do bairro as nor%as para o %elhor uso daeletricidade. ;ara que não fique% co%o os donos do conheci%ento.

     As nor%as são para que se tenha conforto e+ para isso+ " preciso perguntar ao %orador o queele quer+ quais as suas necessidades dentro de casa. 4 profissional te% u% conheci%ento daeletricidade eata%ente para+ al"% de instalar+ ta%b"% eplicar e aconselhar as pessoassobre que %ateriais usar e co%o usar para que não $enha% a ter proble%as co% asinstalaç9es. ;ara que elas não tenha% gastos inteis+ não use% equipa%entos inadequados+etc.

     Acho que trabalhar o conheci%ento da eletricidade co% esse objeti$o ta%b"% te% a $er co% apol!tica. Eu energo assi%.

     A el"trica te% a $er co% a pol!tica porque+ se for%os $er+ tudo " pol!tica. Co%e%os+ $i$e%os e$esti%os pol!tica. 7o %eu %odo de $er+ não pode%os gostar daquilo que não conhece%os. E+hoje+ a %aioria dos jo$ens não conhece o que " pol!tica. 7ão conhecendo+ não gosta% e nunca$ão querer saber o que ". Assi%+ a nossa intenção " %ostrar para eles que a pol!tica inter$"%

    na $ida de cada u%. Ie u%a for%a ou de outra+ ele est( $i$endo pol!tica+ est( sofrendo co% afalta de e%prego+ est( sofrendo co% o pai dese%pregado.

    Jae%os ta%b"% u%a discussão sobre as for%as de energia. Iiscuti%os energia at/%ica+ assucatas de Angra dos Feis+ os des%ata%entos+ os grandes açudes que+ para gerar energia+destroe% $idas+ destroe% a ecologia.

    6as essa " u%a discussão que fica %ais no ca%po da denncia+ do desabafo. =uer dier+ nasescolas e% que eu trabalhei co% eletricidade+ e% nenhu% %o%ento n,s para%os para pensar e% qu o curso de eletricidade $ai influir+ por ee%plo+ na pol!tica de energia desse pa!s: o quea %inha ação no curso de eletricidade $ai %o$i%entar na pol!tica de energia desse pa!s? Ela$ai ala$ancar o qu? ai co%bater o qu? 7,s nunca senta%os para nos perguntar: nossocurso de eletricidade $ai inter$ir nessa pol!tica de energia nacional e% qu? ai %udar queconceitos? ai a$ançar e% qu? ai co%bater o qu?

    Então+ eu falo co% %uita tranqWilidade+ n,s ainda não $i%os a eletricidade dessa for%a+ co%ou%a ferra%enta de inter$enção pol!tica dentro do seu pr,prio ca%po.

    7,s ta%b"% ainda não esta%os satisfeitos co% o nosso progra%a de educação pol!ticaporque ele " separado das aulas t"cnicas: n,s para%os u% dia por se%ana s, para discutir aquestão pol!tica. Estuda%os sobretudo a hist,ria dos trabalhadores+ ou+ a nossa hist,ria. 6asainda não consegui%os faer a discussão pol!tica da pr,pria t"cnica.

     A $inculação da pol!tica co% a t"cnica " u%a discussão %uito antiga+ colocada pelas escolasde trabalhadores desde os anos )-. 7or%al%ente o que acontece? A burguesia des$incula aecono%ia da pol!tica+ co%o se u%a coisa não ti$esse nada a $er co% a outra. 7o sentido daburguesia+ pol!tica " u%a coisa ligada aos partidos+ ao $oto+ ao go$erno eleito. Io %es%o%odo+ a t"cnica " co%o se fosse algo indiscut!$el porque que% %anda na t"cnica " a cinciae+ portanto+ não se discute.

     Acho que a pol!tica " eata%ente a ação dos cidadãos capaes de+ e% conjunto+ trabalhare%para a reposição e a recriação da cidade hu%ana.

    Co%o " que a eletricidade+ a %ec0nica ou a eletr/nica entra% nisso? A eletricidade+ por ee%plo+ " hoje u%a das condiç9es b(sicas da $ida. Acho at" que+ nas atuais condiç9es da$ida hu%ana+ o conheci%ento da eletricidade " indispens($el para qualquer cidadão. *inhaque estar no curso pri%(rio. A questão de co%o ela " gerada e trans%itida+ se isso " bo% ou

    13

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    20/27

    rui%+ se pode acarretar algu% desastre+ tudo isso te%os que discutir+ são quest9es pol!ticasfunda%entais a sere% enfrentadas por que% se queira cidadão.

    4 funda%ental na questão pol!tica " a transfor%ação da sociedade. 6as+ transfor%ação e%que direção? ;orque+ querendo ou não+ a sociedade se transfor%a dia a dia+ hora a hora. 7a%edida e% que ela se rep9e+ ela $ai se transfor%ando continua%ente. Então+ quere%os faer u%a inter$enção e% que direção? essa direção que conta: transfor%ação para onde? para

    qu?

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    21/27

    4 objeti$o não " conhecer a tecnologia por conhecer. 6as " ter a $isão de que a tecnologia "boa ou %(+ dependendo da opção que " feita. A conscincia pol!tica te% que estar e% todosos seg%entos dessa educação profissional. Essa tecnologia $eio para nos ajudar? 6as n,ste%os que faer u%a opção para que ela não dese%pregue tanto. =ue% fa a opção dedese%pregar e deiar a pessoa %orrendo de fo%e " o siste%a capitalista. ;orque a %edidadesse siste%a não te% fi%. Ele não est( interessado no be% estar+ est( interessado nu%afatura.

    5. A!al"a)*o -+e6 a!al"a os s+/e"(os da ed+ca)*o

    • Co%o processo de a$aliação+ n,s te%os+ pri%eiro+ u%a pro$inha a cada trs %eses. quandoeles %ostra% o que estudara%+ ou o que conseguira% guardar na %ente. feita u%aa$aliação ta%b"% da participação do aluno. ;articipação e% dois sentidos: de presença e%sala de aula+ que " i%portante porque+ se ele perde u%a aula+ fica co% dificuldade deaco%panhar as seguintes. E participação ta%b"% nas discuss9es  que acontece% na sala.Iessa for%a+ eu tenho u%a noção %ais precisa de co%o eles participa% na teoria. I( para$isualiar be% isso+ quando o aluno passa a perguntar %ais.

     A a$aliação final le$a e% conta a participação do aluno e a nota da pro$a. Essa nota ser$eapenas para se ter u%a id"ia aproi%ada porque+ às $ees+ u%a nota engana %uito. Ie fato+não são poucos os alunos que die% que @deu u% branco na hora da pro$a... u% bo%aluno %as+ naquele %o%ento+ deu u% branco.

    7osso %"todo de certificação não te% base e% nota. 4 aluno recebe u% certificado ou departicipação ou o de conclusão: de conclusão+ significa que foi tudo be%D de participação+significa que não conseguiu assi%ilar %uito be% todos os assuntos. 7o $erso+ o certificado tratodo o contedo do curso+ tanto no espec!fico da el"trica co%o nas habilidades.

    7ossa preocupação " %uito grande+ não te%os nenhu% interesse e% prejudicar os alunos. Aintenção " que eles saiba%. At" %e proponho a trabalhar aos s(bados+ para dar u% suporte%aior aos que estão co% dificuldade. L( aconteceu de ter alunos que+ e% sala de aula+esta$a% %uito bons %as+ na pro$a+ tira$a% nota baia. Então+ resol$i faer u% no$o teste+ dar oportunidade para que estudasse% no$a%ente.

    • ;ara n,s+ cada tarefa que o aluno fa te% u%a nota. o pr,prio aluno que d( a nota. Esse "outro eerc!cio. Alguns die%: @6as co%o " que eu $ou dar nota se não entendo nada dissoB@6as co%o não entende? Então+ n,s discuti%os. 7,s acha%os que a nota " u%a questão de$oc $er a for%a %ais justa poss!$el de se a$aliar. E discuti%os isso co% os alunos.

    • 7a $erdade+ o aluno a$alia e " a$aliado o ano todo. *e% a nota do grupo e a nota de cadaparticipante. a%os supor: na (rea da el"trica+ u% grupo de cinco pessoas %ontou u% quadrode força. Então+ quando " para dar nota+ eu peço que cada u% dos cinco d u%a nota para aquestão de se!urança e estética+ $endo se o quadro est( bonito+ ou não+ e se est( seguro: @oque $oc acha? Co%o " que ficou esse quadro? Ele pode ser colocado no %ercado+ ou est(

    ultrapassado+ " coisa %uita antiga? E quanto à t"cnica de funciona%ento+ " u%a t"cnica%oderna? 4 pessoal $ai a$aliando e d( u%a nota para aquele quadro.Iepois+ $e% a nota indi$idual de cada participante: cada u% " que $ai dier o quanto %erece.

     As notas são: insu$iciente' re!ular' bom e %timo. 4 pr,prio sujeito $ai dier de seuapro$eita%ento 8 o cresci%ento que te$e e a confiança que eperi%entou ao receber apenas odesenho+ o projeto+ e se desenrolar soinho.

    *e% casos e% que a pessoa se a$alia co% u%a nota alta de%ais: @acho que %ereço u%%timo+ . E agora? 4utros alunos questiona%: @%as ele faltou quatro $ees. Al"% disso+ achoque ele não desen$ol$eu tudo o que podia+ não. Acho que ele %erece u% bom* Cada u% $ai

    ,1

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    22/27

    a$aliando o colega. Eu ta%b"% questiono+ porque aco%panhei o desen$ol$i%ento de cada u%no desenrolar daquele projeto. E+ %uitas $ees+ se o resultado for abaio do que o sujeitoacha que %erece+ ele insiste e não se confor%a: @7ão+ eu acho que essa notaY

    >%a $e eu disse a u% desses que esta$a recla%ando da nota: @acabou de chegar aqui u%engenheiro: est( ali na porta+ pedindo u% %ontador de quadro que seja ,ti%o. Ele quer para

     j(. E te% que ser ,ti%o. Zti%o " %elhor do que bo% e %uitoD não " pouco não. Ele quer u%

    ,ti%o %ontador de força e n,s esta%os indicando $oc. oc $ai? Co% u%a dessas+ o sujeito$olta atr(s. ;ara esses+ eu se%pre digo: @esta%os faendo isso para $oc pensar. A nota " anota de co%o $oc est( na realidade agora. Aqui+ n,s não te%os nenhu% grande diplo%a não.Esse papel que $ocs $ão le$ar da escola j( ne% te% %uito $alor GoficialH %es%o. 6as não "isso o que i%porta. 7ão " esse canudo que $ai dar $alor+ ou não+ a cada u% de $ocs. ocssão %uito %elhores do que o papel. 4 que n,s quere%os " dar condiç9es para que cada u%de $ocs possa crescer e %elhorar %uito %ais.

    E chego at" a dier: @eu+ que estou aqui h( %uito %ais te%po+ posso at" ter algu%a coisa de%elhor que $ocs+ porque tenho esse pri$il"gio: todo ano+ eu estudo co% todo %undo. Eganho %uito co% isso: sou o aluno %ais pri$ilegiado daqui+ porque recebo de todos $ocs ear%aeno %uitas infor%aç9es. 6as+ %es%o assi%+ eu sei %uito pouco. 4 que eu sei " quasenada. o%ente isso: e% relação a $ocs+ eu tenho %ais infor%aç9es. 6as+ eu não sei e ne%tenho o de$er de saber tudo. 7ingu"% no %undo sabe de tudo. 7,s s, $a%os acu%ulando: "

    u% eerc!cio.;ara a a$aliação te,rica+ fae%os pro$as por unidade. Ao t"r%ino de cada unidade+reser$a%os u% dia s, para faer u%a preparação para a pro$a: re$e%os o assunto+le$anta%os as d$idas+ etc. Iepois+ cada u% fa sua pro$a escrita e o %onitor corrige. L(te%os u%a tabela: at" #-[ de acertos " insu$icienteD at" )-[ " re!ular + Q-[ " bom e \-[+%timo. E% seguida+ de$ol$o as pro$as e $a%os a$aliar de no$o+ e% conjunto. Ks $ees+algu"% recla%a porque eu dei u%a nota baia+ re!ular : @;oa+ s, re!ular ? 4lhe be% o que eudisse. *odo %undo est( atento para ou$ir a leitura dele. Na$endo engano da %inha parte+ eucorrijo na hora.

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    23/27

    outros: eu percebo que alguns+ quando $ão dar a nota do outro+ t% aquela hist,ria: @o fulano" %eu a%igo+ eu... ;rincipal%ente entre os adolescentes. Então+ eu costu%o eigir deles:@oc te% que ser ho%e%+ caraB No%e% não " s, ser %acho não+ porque cachorro ta%b"% "%acho. Agora+ ho%e% " honesto. oc pode at" ne% topar co% a cara do sujeito+ %as te%que ser honesto. *e% que dar a nota que ele %erece. Io %es%o %odo que+ se o sujeito "seu a%igo+ $oc não pode proteger ele não. *e% que ser honesto co% $oc %es%o e co% oseu a%igo+ dando a nota que ele %erece.

    •  A cada u%a das no$e tarefas da %ec0nica+ fae%os u%a a$aliação co% os pr,priosaprendies. A$alia8se o procedi%ento+ as falhas+ co%o eles conseguira% aplicar na pr(tica ateoria desen$ol$ida+ co%o foi feito o le$anta%ento de custo do %aterial+ da ferra%enta e da%ão8de8obra.

     Ao t"r%ino de cada tarefa+ eles %es%os se a$alia%. @'rupo tal+ co%o foi o rendi%ento de$ocs? E co%o qual foi o anda%ento do trabalho? *odo %undo $ai dier o que conseguiudesen$ol$er na oficina+ qual foi o processo usado e qual foi a organiação para eecutar essastarefas.

     A d"ci%a tarefa+ a ser realiada ainda e% dee%bro+ consta de u% teste final. 7ão "propria%ente u%a pro$a+ %as u%a s"rie de perguntas junto co% o desenho de u%a peça. 7ãoque o aluno $ai se sentar+ baiar a cabeça e faer o teste. 7ada disso. *rata8se " de+ a partir 

    dos conheci%entos que cada u% j( te% acu%ulado+ ir atr(s e buscar+ pesquisar nos li$ros.

    4 resultado final dessa a$aliação " dado pelo conjunto: todos apresenta% e discute% cadaponto. E% nossas a$aliaç9es+ não " o %onitor que d( a resposta. 6uitas $ees acontece deu% aluno falar para o outro: @oc não foi legal. 4u+ então: @*o%e jeito+ rapa+ senão $oc $aificar fora.

    • E% nosso curso de eletr/nica+ as quest9es da pro$a te,rica são baseadas na pr(tica.7or%al%ente+ refere%8se a co%o funciona o circuito e quais as suas funç9es. A pro$a "corrigida pelo %onitor. Iepois da correção+ as pro$as $olta% para os alunos e fae%os u%acorreção geral+ todo %undo junto. Jica co%o u%a re$isão de todo o assunto dado.

    Ie diodo e% diante+ fae%os u% processo diferente. =ue " o seguinte: são oito %esas+ oito

    grupos+ cada grupo $ai bolar u% projeto pr,prio+ diferente+ usando todos os circuitos quecria%os. Cada grupo projeta e calcula juntoD a partir da!+ cada aluno fa a sua %ontage%. Anota " dada a partir da %ontage%.

    Iesse %o%ento e% diante pode acontecer o que cha%a%os @canetada. =ue " o seguinte: nahora de %ontar+ $a%os supor que algu"% pegou u% co%ponente errado. =uei%ou e ele nãopercebeu qual foi o erro do projeto. Ele %e cha%a e eu identifico que faltou a eleconheci%ento para saber qual foi o proble%a. Então+ a gente anota e essas canetadas $ãoajudar a definir a nota.

    4s alunos fae% as nossas pro$as pr(ticas co% direito a olhar tudo que quisere%. Agora+ %echa%ou+ le$a canetada. ;orque eles t% condiç9es de resol$er tudo soinhos. 7a %aioriadas $ees+ não d( proble%a.

    Iepois+ u% troca a %ontage% co% o outro e $ão desenhar o esque%a daquela placa. Elest% que desenhar o circuito de for%a que qualquer pessoa+ e% qualquer lugar do %undo+entendaD não+ que s, ele entenda. =uando ter%ina% o desenho+ $ão eplicar as funç9es decada co%ponente. Então+ eu faço duas ou trs perguntas para $er se eles real%ente sabe%que circuito " aquele.

     A pro$a te% trs etapas: %ontage%+ le$anta%ento de esque%a e tirar defeito. 7essa%ontage% que u% passa para o outro+ eu coloquei defeitos: coloquei trs situaç9es que estãoerradas. 4 circuito est( certo+ %as te% u% ou outro co%ponente quei%ado. =uandopercebe%os que ele j( identificou o erro+ então ele passa da %ontage% do esque%a para apr,i%a etapa+ que " tirar defeito.

    ,-

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    24/27

    4 principal não " achar o defeito e faer o circuito $oltar a funcionar. identificar o defeito apartir do que ele causou no circuito+ usando todo o conheci%ento que se te%. 7essa fase+ nãoaceita%os que o aluno use os @$!cios+ apenas a teoria. A id"ia " forçar cada u% a pensar nasituação. Eles não t% autoriação para tirar nenhu% co%ponente da placa se% justificar oporqu est( tirando. 7ão basta dier que " porque est( esquentando. *e% que eplicar por que est( esquentandoD te% que justificar. e seu argu%ento con$encer+ ele tira e testa.6es%o que o co%ponente esteja bo%+ se ele justificou certo+ não te% proble%a nenhu%.

    *e% canetada que " gra$e: " u% erro que u% eletr/nico não poderia co%eter. E te% erro%"dio e erro le$e. A gente se%pre coloca que o que i%porta não " a nota+ %as oconheci%ento que o cara te%. Ie todo %odo+ o aluno " respons($el pela sua nota.

    Re$a uns quine dias para faer u%a pro$a desse tipo.

    • Jae%os nosso processo de a$aliação no final do ano. 7esse processo+ reuni%os trs ouquatro %onitores 8 conselho de a$aliação 8 e fae%os perguntas ao aluno. Eles a$alia% at"co%o trabalha o %onitor. Jae%os %uitas discuss9es para que ele seja o %ais autnticoposs!$el+ para que contribua co% nosso processo. ;ergunta%os+ por ee%plo+ co%o foi ocurso+ co%o fora% os contedos+ o que ele recebeu do CentroD co% a finalidade de a$aliar ocresci%ento de cada u%.

    E% relação à disciplina dos alunos+ nunca precisa%os chegar ao ponto de ecluir algu"%. 4que chegou %ais perto foi u% aluno que ficou trs anos conosco: no pri%eiro ano+ ele rouba$anossas coisas. Co%o a equipe não conseguiu chegar a u% consenso quanto a eclu!8lo+acaba%os ficando co% ele. Noje+ esse rapa fa u% trabalho ecelente co% outros grupos por a!+ dando palestras sobre cidadania. ;ara n,s+ foi u% cresci%ento enor%e. A essas pessoas+co% esses proble%as+ procura%os tratar diferente.

    7ão trabalha%os co% pro$as e notas. *e% alunos que+ se eu %andar e%bora+ posso estar quei%ando a nica possibilidade que ele tinha de estar e% algu% lugar. ;orque a escolafor%al j( %andou ele e%bora. e eu %andar o aluno para casa+ ele $ai ser acolhido " na rua e" ali que ele $ai ficar+ at" os deeno$e anos.

    7o nosso siste%a+ o que $e% e% pri%eiro lugar " que o sujeito se %antenha inteiro. dentrodisso que $e% a questão profissional.

    7. Ges(*o ele6en(o de 6aes(r"a e6 (odas as 8reas

    • ;or %uito te%po+ as nossas escolas ti$era% o objeti$o de preparar o trabalhador para u%e%prego na indstria. Noje+ o ca%inho do e%prego industrial não te% %ais essa aberturatoda. 6as+ por outro lado+ te% esse outro %ercado+ da econo%ia cha%ada popular+ quese%pre eistiu %as que+ hoje+ o contigente se torna cada $e %aior. ;ercebe8se que %uitosalunos que ter%ina% o curso nas escolas+ atual%ente+ não estão %ais indo para a indstriane% para as grandes e%presas+ %as acaba% indo incorporar e fortalecer u%a dessasiniciati$as.

    7elas+ o trabalho te% u%a caracter!stica diferente. 4 trabalhador precisa saber+ por ee%plo:onde co%prar a %at"ria pri%aD quais as for%as de paga%entoD co%o faer a gestão doneg,cioD co%o to%ar as decis9es sobre o que produirD para que% $ender e por quantoD se oneg,cio " $i($el... Enfi%+ eiste u%a s"rie de infor%aç9es que são necess(rias+ al"% daquestão t"cnica.

    E% geral+ as pessoas sabe% trabalhar %uito be%+ %as elas t% u%a dificuldade grande e%lidar co% essa questão da $iabilidade econ/%ica.

    • Jor%ar u% t"cnico " relati$a%ente f(cil. Jor%ar u% t"cnico que seja cr!tico+ j( não " tão f(cil+%as parece que sabe%os co%o faer. Agora+ for%ar u% t"cnico que tenha ta%b"% noç9es de

    ,.

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    25/27

    gerncia e de ad%inistração+ isso não " f(cil %es%o. 6as " a! que a %aioria dose%preendi%entos e%perra%.

    • E% nossos cursos+ se%pre te%os discutido e incenti$ado a produção associada 5 ou aecono%ia popular e solid(ria+ co%o hoje " cha%ada. ;ara n,s+ " funda%ental+ hoje+ apreparação para essa econo%ia.

    4 resultado desse nosso incenti$o pode ser $isto e% alguns e8aprendies que nãoingressara% na f(brica+ %as que estão trabalhando por conta pr,pria+ ou junto co% %ais u%a+duas ou %ais pessoas.

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    26/27

    ponto+ te% u%a i%port0ncia %uito grande. ;or ee%plo+ e% nossa escola+ são os pr,priosalunos que gerencia% a coinha. 'erencia% ta%b"% a caiinha que " u% dinheiro solid(riodentro da sala de aula: tanto ser$e para ajudar na passage% co%o no lanche do pessoal. Elesorgania% festas e assu%e% outras iniciati$as atra$"s das quais seus fa%iliares $% at" aescola+ fica% conhecendo as instalaç9es e discute% junto co% eles $(rios assuntos. 4utracoisa " a for%a co%o " feita a li%pea da escola. N( u%a grande i%port0ncia e% estar li%pando u% banheiro+ u%a sala+ principal%ente para os ho%ens. ;orque " i%portante le$ar esse costu%e para dentro de casa+ para quebrar aquela concepção de que o que a %ulher fa+co%o dona de casa+ não " trabalho. E que s, o ho%e% " que trabalha+ porque trabalha fora.

    • i%portante que as pessoas aprenda% a con$i$er u%as co% as outras+ que passe% a seconhecer %elhor. Iesde o %o%ento inicial dos nossos cursos+ os aprendies co%eça% adiscutir e a assu%ire% juntos os crit"rios e nor%as tirados e% asse%bl"ias. E% geral+ sãonor%as referentes à freqWncia+ às for%as de representação das tur%as+ a %anutenção eli%pea+ à caixinha+ ao fundo solid(rio que sustenta a ero+ ao dia de con$raternização  e%que as aulas são substitu!das por algu%as horas de con$i$ncia+ co% %sica+ churrasquinho+u% pouco de cer$eja e jogos.4 i%portante nas asse%bl"ias " deiar claro que as leis e decis9es que fora% to%adas sãopara $aler+ %as não " por isso que precisa% ficar para se%pre. Elas pode% ser %odificadas apartir do %o%ento e% que co%eça% a ser discutidas.

    9. U6 bre!e res2a(e h"s(:r"co

    a%os apenas le%brar alguns fatos sobre a hist,ria dessa %etodologia da Criação do #aber' paraajudar na co%preensão de alguns pontos ou caracter!sticas da sua proposta.

    *udo isso co%eçou ainda na d"cada de 1\)-+ quando ganha$a prest!gio+ no ca%po da educação+o %"todo a%ericano do )nsino "ro!ramado. ;or esse %"todo+ qualquer indi$!duo seria capa defaer u% curso inteiro se% precisar falar co% ningu"%+ ne% co% os colegas ne% co% o professor ou instrutor. Oastaria ler e seguir as orientaç9es que j( $% descritas nas apostilas+ preparadas

    pelos especialistas.

    Esse era u% te%po e% que est($a%os %ergulhados na %aior repressão da ditadura %ilitar. E aeducação dos trabalhadores esta$a entregue+ nada %enos nada %ais+ que aos pr,priose%pres(rios+ atra$"s do E7A

  • 8/18/2019 Uma Pedagogia Para a Educação de Cidadãos Trabalhadores (2004)

    27/27

    ;or isso+ as principais quest9es a sere% consideradas nas iniciati$as de educação entre ostrabalhadores era%: a $aloriação da eperincia e dos conheci%entos que cada u% j( traconsigo+ recriando+ a partir da!+ os no$os conheci%entosD a des%istificação da figura do professor co%o aquele que sabe tudo e dos alunos co%o aqueles que não sabe% nadaD o poder que seatribui ao conheci%ento e o conheci%ento que se atribui ao poderD e a recuperação dosconheci%entos que+ criados a partir do pr,prio trabalho+ tinha% o acesso $edado aostrabalhadores.

    Joi esse processo riqu!ssi%o de troca entre os di$ersos grupos e escolas de trabalhadores quedeu orige% a essa %etodologia de trabalho e% educação que o C*C siste%atiou co% o no%e deCriação do #aber .

    6uitas $ees+ acontece de ha$er u%a confusão entre essa proposta+ de Criação do aber+ co% a%etodologia construti$ista. U4 construti$is%o " a %etodologia que resultou da siste%atiação feitapela pedagoga E%ilia Jerrero+ conjugando as teses de ;iaget+ sobre o desen$ol$i%ento intelectualdas crianças+ co% a eperincia pedag,gica de senso %ais de%ocr(tico.V 6es%o queapresentando pontos e% co%u%+ " i%portante que se perceba que se trata de construç9eshist,ricas be% distintas. Especial%ente no sentido de que a Criação do aber nasceu da pr(ticados trabalhadores co%o instru%ento de construção de seu conheci%ento e co%o %odo derecuperação de sua iniciati$a e autono%ia de pensa%ento e de luta.

    7as escolas de trabalhadores+ n,s desen$ol$e%os esse tipo de %"todo que le$a a pessoa apensar+ a se posicionar+ a reconhecer sua pr,pria dignidade+ sua capacidade de racioc!nio+ suaigualdade perante os outros.