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O Brasil vive momentos de turbulência política. O mundo atravessa mais uma crise econômica sem precedentes com índices de desemprego altíssimos nas principais econo- mias. Nos últimos anos, o fortalecimento de instituições como a Polícia Federal e o Ministério Público deflagraram uma luta intensa contra a corrupção nas diversas esferas de governo. A apuração e punição aos(às) que comprovadamente estiverem envolvidos(as) deve ser princípio de uma democracia. Movimentos sociais e di- versas entidades como a CNBB, por exemplo, têm denunciado que alguns setores têm se aproveitado da situação de caos para atenta- rem contra o estado democrático de direito, algo muito parecido com o que ocorreu em 1964 com o golpe militar. O que está em jogo neste momento, muito além da queda de um governo, é a tentativa de retomada do projeto neoliberal de privatização das empresas públicas e a retirada de direitos históricos alcançados pelos(as) tra- balhadores(as) como 13º salário, 1/3 de férias, FGTS e o índice de aumento do salário mínimo e do piso do magistério conquistados recentemente. O momento atual exige de cada um(a) de nós muita mobilização em defesa dos nossos direitos, em defesa de cada bra- sileiro e brasileira, em defesa do Brasil. BOLETIM INFORMATIVO DA FRENTE BRASIL POPULAR | MARÇO/ABRIL 2016 Em defesa do Brasil REPRODUÇÃO A história se “repete” e a democracia brasileira volta a correr risco Contra a corrupção de todos, em todos os lugares Uma ponte para o atraso: plano de Michel Temer é a verdadeira ameaça ao povo Pág. 02 Pág. 03 Pág. 04

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O Brasil vive momentos de turbulência política. O mundo atravessa mais uma crise econômica sem precedentes com índices de desemprego altíssimos nas principais econo-

mias. Nos últimos anos, o fortalecimento de instituições como a Polícia Federal e o Ministério Público deflagraram uma luta intensa contra a corrupção nas diversas esferas de governo. A apuração e punição aos(às) que comprovadamente estiverem envolvidos(as) deve ser princípio de uma democracia. Movimentos sociais e di-versas entidades como a CNBB, por exemplo, têm denunciado que alguns setores têm se aproveitado da situação de caos para atenta-

rem contra o estado democrático de direito, algo muito parecido com o que ocorreu em 1964 com o golpe militar. O que está em jogo neste momento, muito além da queda de um governo, é a tentativa de retomada do projeto neoliberal de privatização das empresas públicas e a retirada de direitos históricos alcançados pelos(as) tra-balhadores(as) como 13º salário, 1/3 de férias, FGTS e o índice de aumento do salário mínimo e do piso do magistério conquistados recentemente. O momento atual exige de cada um(a) de nós muita mobilização em defesa dos nossos direitos, em defesa de cada bra-sileiro e brasileira, em defesa do Brasil.

Boletim informativo da frente Brasil PoPular | março/aBril 2016

Em defesa do Brasil

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A história se “repete” e a democracia brasileira volta a correr risco

Contra a corrupção de todos, em todos

os lugares

Uma ponte para o atraso: plano de Michel

Temer é a verdadeira ameaça ao povo

Pág. 02 Pág. 03 Pág. 04

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“Ele não pode ser candida-to. Se for candidato, não pode ser eleito. Se for eleito, não pode governar”. Quem será o autor dessa frase e a quem ela se refere? Seria do ex-presiden-te Fernando Henrique Cardoso sobre o futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Ou seria do senador Aécio Neves, sobre supostos planos do ex-presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva? Não. Esta é uma célebre frase de Carlos Lacerda, ferrenho oposi-tor do presidente Getúlio Vargas e do Estado Novo, do presidente Juscelino Kubitschek (JK) e, por fim, apoiador declarado do gol-pe militar que derrubou o então presidente João Goulart (Jango).

Lacerda foi uma versão muito mais autêntica, sofistica-da e inteligente do atual depu-tado federal Jair Bolsonaro. E as ‘coincidências’ não param por aí. Historiadores relatam que Lacerda se recusava a aceitar o resultado da eleição de Jango e fez de tudo para impedir que o presidente exercesse o seu mandato. Além disso, o ‘Lacer-dismo’ - movimento político de direita e anticomunista – rece-bia apoio declarado de setores do Estado, da elite econômica e

social, da mídia e dos grandes capitais internacionais. Alguma similaridade com o que aconte-ce, hoje, no Brasil?

“O Lacerdismo e o Udenis-mo possuem em si o mesmo DNA do ‘Vai pra Rua’, ‘Movi-mento Brasil Livre’ etc. A uti-lização das expressões ‘mar de lama’, ‘corrupção’ e ‘renuncie’ é tão comum com Dilma Roussef, quanto foi com Vargas. A caça desmesurada, superando os li-mites da legalidade e do bom senso, contra o líder popular de plantão e sua família, também são marcas comuns aos dois pe-ríodos. Por fim, a decisão estra-tégica acerca do futuro da pro-priedade do petróleo nacional está no coração da escaramuça de 1954 e de 2016”, aponta o professor e pesquisador Gui-lherme Santos Mello, do Insti-tuto de Economia da Unicamp, em um artigo publicado no Por-tal Vermelho.

Outra ‘coincidência’ históri-ca foi que assim como o ex-pre-sidente Lula, JK foi acusado de ser dono de imóvel em nome de amigo. Vários jornais, da época, acusaram Juscelino Kubitschek de possuir um apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro.

Por conta disso, Juscelino teve a vida escancarada após o gol-pe militar e seu mandato como senador foi caçado. A história se “repete” com o ex-presidente Lula. Depois da punição, nem julgamento houve. O procura-dor, de então, considerou não haver provas de que JK fosse o dono do imóvel. O juiz mandou arquivar o processo.

Democracia e liberdade - Você tem ideia do que seja o Estado Democrático de Direito, garantido na Constituição Bra-sileira em suas cláusulas pétre-as (ou seja, direito que nem por emenda constitucional poderia ser abolido)? Bom, basicamente, é a garantia a todas as pessoas – da mais humilde a mais podero-sa – de que suas liberdades civis (direito de ir e vir, de livre credo e associação, de pensamento, de expressão, de propriedade, etc.) sejam respeitadas, evitan-do abusos por parte do Estado. E este é um dos pilares básicos de uma democracia. E é pela manutenção destes direitos que a Frente Brasil Popular luta: para que nenhum Poder – seja Executivo, Judiciário ou Legis-lativo – suplante a democracia e os seus processos.

A história se “repete” e a democracia brasileira volta a correr risco

Diante dos últimos acontecimentos, não podemos correr o risco de “repetir” a história, onde são recorrentes os ataques à nossa democracia

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Falar em corrupção pare-ce nunca ter sido algo tão frequente em nossa so-

ciedade. Dos telejornais às me-sas de bar. Do ônibus à fila do supermercado. No entanto, isso não significa que a corrupção é algo atual. Mesmo que seja um assunto que, atualmente, move a sociedade brasileira, o combate à corrupção sem-pre foi uma das bandeiras dos movimentos sindical e social. A ironia é que, antes, as elites sociais e econômicas do Brasil pareciam desconhecer o tema, bem como a mídia monopoliza-da e que, nos últimos anos, tem agido como partido.

De acordo com o cientista político e professor da Pontifí-cia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Másimo Della Justina, a corrupção existe no Brasil há muito tempo. Ela está presente nestes últimos 50 anos, do período democrático ante-rior à Ditadura Militar, durante o próprio regime e, depois, com o novo processo democrático no país. Para ele, o que muito se discute atualmente é a quan-tidade de corrupção, mas não ela em si. “Nós, hoje, estamos discutindo somente a quantia e não o princípio”, aponta.

Quando questionado sobre o quanto a democracia brasi-leira e o Estado Democrático de Direito são afetados pela cor-rupção, Másimo apontou o sis-tema eleitoral brasileiro como sendo um dos setores corrup-tíveis no país. “Existe, hoje, a necessidade de financiamento privado de campanhas políti-cas”, explica. Ao citar o siste-ma eleitoral como é, Másimo indica que o país ainda não foi, economicamente, democratiza-

do. “O Brasil se democratizou politicamente, mas não econo-micamente. Quando você tem oligopólios na sociedade, que pensam muitas vezes que são donos do país, você tem uma si-tuação em que acham que têm o direito de fazer o que lhes atra-em, para garantir seus superlu-cros”, explica.

O pesquisador também aponta que, além do fator eco-nômico, o setor judiciário como outra forma de promover a corrupção, dando benefício a determinados grupos e utili-zando brechas na lei para isso. “Outro tipo de corrupção é feita por advogados, juristas de gru-pos e organizações, que fazem mais esforço para proteger al-guns grupos do que fazer, exa-tamente, justiça”. Ele definiu isso como “legalismo corrup-to”, onde se usa a própria jus-tiça e legislação para esse tipo de ação. “Não é a lei que é cor-rupta, nem o sistema, mas são utilizados mecanismos a partir dela”, diz.

O papel da desigualdade – Ou-tro aspecto que deve ser consi-derado é o que indica o soció-

logo, e presidente do Ipea, Jessé Souza. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele foi categórico: a desigualdade social é o maior problema do país. “Quero mos-trar que é uma mentira o que os intelectuais e as ciências sociais dizem sobre o Brasil. Com raras exceções, o que afirmam é que o grande problema é a corrup-ção. Isso é uma manipulação. Nada prova que nosso país seja mais corrupto que os EUA (...). A corrupção existe em todo lu-gar, não é uma jabuticaba. O in-teresse em dramatizar o tema é um mecanismo dos mais ricos para imbecilizar a sociedade. Só as elites ganham nessa luta de classes invisível”.

O presidente do Ipea tam-bém não poupa o que ele con-sidera ‘o falso moralismo e a manipulação da mídia’ para dis-seminação da ideia de que, aca-bando com a corrupção, o país terá seus problemas resolvidos. “Quero pôr a classe média no espelho: ‘Olhe o que você cons-trói, quem você abandona, bem você, que tira onda de campeão da moralidade’. A classe média vampiriza esses trabalhadores. É farisaica. E a imprensa é o bra-

ço principal dessa elite que nos dá sua dose de veneno midiá-tico a cada dia. Dizemos que o problema é a corrupção, mas ao mesmo tempo mantemos uma das sociedades mais perversas e desiguais do planeta”, diz.

Corrupção: eu pratico?

Em junho de 2013, a Controladoria-Geral da União (CGU) criou uma campanha chamada “Pequenas Corrupções - Diga não”. Com o ob-jetivo de “conscientizar os cidadãos para a ne-cessidade de combater atitudes antiéticas - ou até mesmo ilegais -, que costumam ser cultural-mente aceitas e ter a gra-vidade ignorada ou mi-nimizada”, a campanha exemplifica ações que, comprovadamente, são detectadas no dia a dia das pessoas.

Apresentar atestado médico falso, colar na prova da escola, não dar nota fiscal ao cliente, comprar produtos falsifi-cados - inclusive cartei-rinha de estudante - são alguns exemplos da cam-panha. Como aponta o promotor de Justiça, Jai-ro Cruz Moreira, “muitas pessoas não enxergam o desvio privado como corrupção, só levam em conta a corrupção no ambiente público”.

Contra a corrupção de todos, em todos os lugaresEm momentos de debate sobre a corrupção no Brasil, é hipocrisia não encarar os problemas estruturais existentes no país

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Um ilusionista, para alcançar o seu objetivo, sabe que precisa tirar a atenção da sua plateia para uma

coisa, enquanto, de fato, a verdadeira ação acontece em outro lugar. Bom, basicamente, é o que está acontecendo no Brasil. No atual cenário, quando a sociedade só ouve e fala sobre ‘corrupção’ e ‘impeachment’, poucas pessoas dão a devida atenção ao projeto que está sendo esboçado por setores conserva-dores, com o apoio da mídia, com o objetivo de destroçar, completamente, vários direi-tos que a população brasileira levou déca-das para conquistar. É o que propõe o do-cumento de autoria do PMDB - partido do atual vice-presidente - que a imprensa iden-tifica como o “plano de governo pós Dilma”. Em um primeiro momento, o texto foi iro-nicamente chamado de ‘Uma ponte para o futuro’; depois, ‘Agenda Brasil’. Agora, rece-beu o nome que lembra um filme B: Plano Michel Temer II. Mas a inocência para aí.

Em reunião com o empresariado, em dezembro do ano passado, apenas cinco dias após Eduardo Cunha (PMDB-SP), pre-sidente da Câmara, concordar em aceitar a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, Temer falou sobre o seu plano. Como noticiado pelo jornal Va-

lor Econômico, o vice-presidente afirmou que o plano “tem propostas na área econô-mica, como a flexibilização das leis traba-lhistas, o fim da indexação do salário dos aposentados ao salário mínimo e o fim das vinculações constitucionais no Orçamen-to, que deve afetar os recursos destinados, sobretudo, à saúde e educação”. Segundo a matéria, Temer foi aplaudido de pé pelo em-presariado, que aprovou entusiasticamente uma “agenda liberal na economia”.

E o que isto significa para o cidadão co-mum, para o(a) trabalhador(a) que tem car-teira assinada, para o(a) aposentado(a), para quem atua na educação e saúde pública?

Em um pronunciamento feito, na última se-mana, o deputado estadual Professor Lemos revelou a verdadeira intenção por trás deste acontecimentos. “A meta é empossar o vice-presidente Michel Temer, para por em prá-tica um projeto que é contrário ao interesse dos brasileiros, inclusive dos milhões que estão indo às ruas. São exatamente 36 itens, mas existem alguns que preocupam muito. É um texto que fala de privatização geral, fala de acabar com as vinculações institu-cionais, fala da terceirização que, nós sabe-mos, será do jeito que eles estão propondo, basicamente a escravização do trabalhador na era moderna”.

Uma ponte para o atraso: plano de Michel Temer é a verdadeira ameaça ao povo

Por trás do teatro do impeachment e da espetacularização da Operação Lava jato, setores conservadores já tramam sobre como o Brasil será governado. E pode ter certeza: nenhum direito da classe trabalhadora sobreviverá!

Acabar com os direitos trabalhistas – Temer, o PMDB e os partidos que apoiam o golpe prometem no documento: “na área trabalhista, permitir que as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais”. O resultado, disso, será a terceirização escancarada e o fim anunciado da CLT e dos direitos tra-balhistas, como férias, 13º salário, licença maternidade e outros.

Achatar as aposentadorias – O plano prevê a suspensão das indexações, entre elas (e principalmente), a da previdência ao salário mínimo. Na prática, isto significa que se o salário mínimo for corrigido, e o governo de plantão não quiser – ou alegar que não pode –, não precisará corrigir as aposentadorias. Isto significará que, ao longo do tempo, os(as) aposentados(as) vão ganhar cada vez menos, mesmo tendo contribuído a vida inteira.

Tirar do Estado a obrigação de cuidar da educação e saúde pú-blica – Hoje, o governo é obrigado a repassar percentuais específicos do seu orçamento para as áreas públicas de saúde, educação e tecnologia. Com o fim da vinculação, como promete o Plano Temer, esta obrigatoriedade acaba. E se hoje a maioria dos Estados e municípios já não cumprem a Lei do Piso do ma-gistério, com o ‘plano de governo pós Dilma’ é que isto não ocorrerá mesmo.

Privatizar o que ainda não foi privatizado – Está lá, com todas as letras, que o Estado irá “executar uma política de desenvolvimento centrada na inicia-tiva privada, por meio de transferências de ativos que se fizerem necessárias, concessões amplas em todas as áreas de logística e infraestrutura, parcerias para complementar a oferta de serviços públicos”. Não tem como este texto deixar dúvidas, a ordem será privatizar, como aconteceu com a Vale do Rio Doce, com a Eletrobrás e vários bancos estatais. Até hoje, estas privatizações são lembradas por suas negociações nebulosas.

Veja como o Plano Temer II abre a porteira para ataques a direitos históricos: