Umberto Eco - a ilha do dia anterior

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  • 7/26/2019 Umberto Eco - a ilha do dia anterior

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    Umberto Eco produziu iluso de tica com 'O Nome da Rosa'

    Era um tipo simptico. Numa poca em que a intelectualidade europeia no perdoava a cultura de massa, Umberto Eco escreveu com simpatia sobre gibis e literatura de entretenimento. Seu livro "Apocalpticos e Integrados", de 1964, mal traduzido aquipela editora Perspectiva, sustentava (erradamente) que, se toda obra de arte busca produzir algum tipo de efeito no seu pblico, no h razo para condenar a indstrialtural quando faz isso tambm.Num mbito mais terico, Umberto Eco desempenhou papel parecido. Foi contemporneo davoga estruturalista e, mais tarde, de crticos desconstrucionistas como Jacques Derrida (1930-2004) e Paul de Man (1919-1983).Enquanto o pensamento acadmico apostava cada vez mais no tecnicismo e na incompreensibilidade (assumindo o papel que as vanguardas artsticas tiveram na dcada de 1920), o comuniclogo italiano manteve em geral um estilo acessvel, sem deixar de incorporar as descobertas e conceitos de seus pares.Na coletnea de ensaios "Interpretao e Superinterpretao" (Martins Fontes), obra de 2, Umberto Eco mantm, por exemplo, uma posio menos radical do que a de outros colaboradores do volume, como Jonathan Culler ou Richard Rorty.Pode haver, diz Eco sensatamente, interpretaes mais verdadeiras e menos verdadeiras, mais fiis ou infiis, de uma obra literria. No faz sentido cair num relativismo pmoderno completo.

    PS-MODERNO

    Mesmo assim, Umberto Eco foi bem ps-moderno. Em "O Nome da Rosa", livro de fico queo fez mundialmente conhecido, investiu num tipo de literatura que, bem ao gostoda moda intelectual dos anos 1980, joga em dois campos simultaneamente. um romance de entretenimento, mas ao mesmo tempo cheio de piscadinhas de olhos para o leitor mais erudito.No se trata de ficar no meio de campo entre "alta" e "baixa" cultura, mas de produzir (com resultados a meu ver insatisfatrios) um produto hbrido, uma iluso de ticaque muda de aparncia conforme visto de longe ou de perto.Divertiu-se muito com a cultura e a crtica. Suas crnicas, reunidas em "Dirio Mnimo"reclamam da cafonice do celular e inventam, por exemplo, listas de disciplinasacadmicas inteis e paradoxais, como Histria da Aviao na Grcia Antiga e assim por e.Muito erudito e com faro miditico, Umberto Eco continuar a ser til para estudantes

    de comunicao e de esttica. Deixa um legado? Espero que sim e que seja maior do que moda inaugurada em "O Pndulo de Foucault". A saber, a dos ttulos no gnero "O Atiadr de Wittgenstein", "O Cachorro de Rousseau", "O Relgio de Cuco de Jos do Patrocnio", que sei eu.