75
UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE BOTUCATU INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS BIOLOGIA FLORAL E PREDAÇÃO DE SEMENTES EM Mimosa bimucronata (DC.) KUNTZE POR Acanthoscelides schrankiae HORN 1873 (COLEOPTERA: BRUCHIDAE) LAURA ARRUDA SILVA BOTUCATU - SP - 2006 - Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências, Campus de Botucatu, UNESP, para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Botânica), AC: Morfologia e Diversidade Vegetal

UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

  • Upload
    others

  • View
    7

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CAMPUS DE BOTUCATU

INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS

BIOLOGIA FLORAL E PREDAÇÃO DE SEMENTES EM Mimosa bimucronata (DC.)

KUNTZE POR Acanthoscelides schrankiae HORN 1873 (COLEOPTERA: BRUCHIDAE)

LAURA ARRUDA SILVA

BOTUCATU - SP

- 2006 -

Dissertação apresentada ao Instituto

de Biociências, Campus de Botucatu,

UNESP, para obtenção do título de

Mestre em Ciências Biológicas

(Botânica), AC: Morfologia e

Diversidade Vegetal

Page 2: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CAMPUS DE BOTUCATU

INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS

BIOLOGIA FLORAL E PREDAÇÃO DE SEMENTES EM Mimosa bimucronata (DC.)

KUNTZE POR Acanthoscelides schrankiae HORN 1873 (COLEOPTERA: BRUCHIDAE)

LAURA ARRUDA SILVA

PROFª DRª RITA C. S. MAIMONI-RODELLA

Orientadora

PROF. DR. MARCELO NOGUEIRA ROSSI

Co-orientador

BOTUCATU - SP

- 2006 -

Dissertação apresentada ao Instituto

de Biociências, Câmpus de Botucatu,

UNESP, para obtenção do título de

Mestre em Ciências Biológicas

(Botânica), AC: Morfologia e

Diversidade Vegetal

Page 4: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: Selma Maria de Jesus

Silva, Laura Arruda. Biologia floral e predação de sementes em Mimosa bimucronata (DC.)

Kuntze por Acanthoscelides schrankiae Horn 1873 (Coleóptera: Bruchidae) / Laura Arruda Silva. – 2006.

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de

Biociências de Botucatu, 2006. Orientadora: Rita C. S. Maimoni-Rodella Co-orientador: Marcelo Nogueira Rossi

Assunto CAPES: 20300000

1. Botânica 2. Flores 3. Sementes - Predação CDD 580

Palavras-chave: Mimosoideae; Parasitóides; Polinização; Predação de

sementes; Reprodução

Page 5: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Dedico à Clara, que ainda nem

nasceu, mas já encanta minha vida.

Page 6: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Profa. Dra. Rita de Cássia S. Maimoni-Rodella pela orientação, amizade e convivência ao longo desses anos.

À Bióloga Elza Guimarães pela preciosa ajuda e amizade.

À CAPES pela bolsa de estudosconcedida.

Ao Prof. Dr. Marcelo Nogueira Rossi, pela co-orientação.

Ao Prof. Dr. Jorge Tamashiro do Instituto de Biologia – UNICAMP pela identificação de Mimosa bimucronata.

À Profa. Dra. Angélica Maria Penteado-Dias da UFSCar e ao Prof. Dr. Jesus Romero Nápoles do Instituto de Fitosanidad

– México, pela identificação dos predadores de sementes e seus parasitóides.

Ao Prof. Dr. Roberto A. Rodella, pelas fotos de frutos e besouros.

Ao Curso de Pós-Graduação em Ciências Biológicas – Botânica e ao Departamento de Botância, do Instituto de

Biociências de Botucatu – UNESP pelas facilidades concedidas.

A todas as pessoas que me ajudaram durante a realização desse trabalho.

Page 7: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

SUMÁRIO

Resumo ..............................................................................................................................................01

Abstract ..............................................................................................................................................02

Capítulo 1: Introdução e Revisão de Literatura

Introdução............................................................................................................................03

Biologia da Reprodução em Fabaceae: Mimosoideae.........................................................04

Predação de Sementes por Bruquídeos................................................................................07

O gênero Acanthoscelides...................................................................................................10

Bruquídeos e Parasitóides....................................................................................................12

Defesa das Plantas e o Comportamento dos Bruquídeos....................................................13

Referências Bibliográficas...................................................................................................17

Capítulo 2: Biologia Floral de Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze (Fabaceae: Mimosoideae)

Abstract................................................................................................................................24

Resumo................................................................................................................................24

Introdução............................................................................................................................26

Material e Métodos..............................................................................................................27

Resultados e Discussão........................................................................................................29

Referências Bibliográficas...................................................................................................37

Capítulo 3: Predação de sementes de Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze por Acanthoscelides schrankiae Horn

Abstract................................................................................................................................48

Resumo................................................................................................................................49

Introdução............................................................................................................................50

Material e Métodos..............................................................................................................53

Área de Estudo...........................................................................................................53

Distribuição de frutos maduros em indivíduos de Mimosa bimucronata...................53

Emergência de bruquídeos e parasitóides, descrição do padrão de oviposição e uso

das sementes, e distribuição espacial da predação na copa das plantas.....................54

Resultados e Discussão........................................................................................................55

Oviposição..................................................................................................................55

Predação de sementes.................................................................................................57

Referências Bibliográficas...................................................................................................58

Considerações finais...........................................................................................................................66

Page 8: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

BIOLOGIA FLORAL E PREDAÇÃO DE SEMENTES DE MIMOSA BIMUCRONATA (DC.)

KUNTZE POR ACANTHOSCELIDES SCHRANKIAE HORN (1873). 2006. 66P. DISSERTAÇÃO

(MESTRADO) – INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS, UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL

PAULISTA, BOTUCATU.

RESUMO - O presente estudo teve como objetivo investigar a biologia floral de Mimosa

bimucronata e a predação de suas sementes pelo bruquídeo Acanthoscelides scrankiae. A biologia da reprodução foi estudada em populações de dois municípios (Botucatu e Cachoeira Paulista, ambos no estado de São Paulo) no período de dezembro de 2004 a março de 2005, sendo que a fenologia reprodutiva dessa espécie foi acompanhada de novembro de 2003 a junho de 2005. Determinou-se o número de flores por glomérulo, a duração das flores, os eventos da antese e outras características florais como sexo, tamanho, formato, coloração, odor, presença de néctar e localização de osmóforos. A receptividade do estigma e viabilidade do pólen foram avaliadas. Flores foram fixadas em glutaraldeído, desidratadas em série crescente de soluções de álcool, secas até o ponto crítico, montadas em suporte de alumínio, metalizadas com ouro, examinadas e documentadas em microscópio eletrônico de varredura. Acompanhou-se o crescimento dos frutos e foram feitos testes para determinar o sistema reprodutivo. A presença de visitantes florais foi observada no campo e registraram-se a quantidade de visitas e o comportamento dos visitantes, além do tempo médio de permanência dos visitantes junto às flores. A predação de sementes foi estudada em Botucatu em populações localizadas em duas áreas distintas. Avaliou-se a distribuição de frutos por região da inflorescência e a intensidade de predação nessas regiões. De fevereiro a agosto de 2003 e de janeiro a agosto de 2004 foram realizadas coletas quinzenais de frutos para o acompanhamento da emergência de insetos, sendo que nesse último período também foram feitas coletas para dissecção sob estereomicroscópio visando descrever o padrão de oviposição e uso das sementes pelas fêmeas e larvas dos bruquídeos, respectivamente. Para investigar a ocorrência de distribuição preferencial dos predadores em frutos localizados em diferentes posições na copa das árvores, foram realizadas duas coletas (maio/2003 e maio/2004) de 100 frutos por planta em 10 indivíduos. Foram considerados quatro quadrantes na copa, ou seja, parte superior, inferior e exposição leste e oeste. Os frutos foram mantidos isolados em recipientes individuais, sob condições de laboratório, sendo a emergência de predadores de sementes e seus parasitóides acompanhada e quantificada diariamente. Constatou-se que a morfologia das flores de M.

bimucronata permite a visita de grande variedade de insetos, embora os polinizadores efetivos sejam Apis mellifera e Bombus (cf.) morio. A maior freqüência de visitas foi observada no período da manhã. Os testes de sistema reprodutivo apontaram a espécie em questão como predominantemente xenógama. Há maior produção de frutos na região mediana da inflorescência. Até cerca de 52% das sementes produzidas são predadas, sendo inteiramente consumidas pelas larvas do besouro A. schrankiae, que se transformam em pupa e completam seu desenvolvimento no interior dos frutos de M. bimucronata dos quais emergem como adultos. A oviposição ocorre na superfície dos frutos, sendo que apenas uma larva do besouro ocupa cada semente. Não houve distribuição preferencial dos insetos predadores das sementes pelas regiões da copa, caracterizando uma distribuição uniforme. Observou-se também a presença de himenópteros parasitóides do gênero Horismenus atacando as larvas de A. schrankiae. Palavras-chave: Mimosoideae; Parasitóides; Polinização; Predação de sementes; Reprodução

Page 9: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

FLORAL BIOLOGY AND SEED PREDATION IN MIMOSA BIMUCRONATA (DC.) KUNTZE

BY ACANTHOSCELIDES SCHRANKIAE HORN (1873). 2006. 66 P. DISSERTATION (M. Sc.) –

INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS, UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA,

BOTUCATU, SP, BRAZIL.

ABSTRACT - The present study aimed to investigate the floral biology of Mimosa bimucronata and their seed predation by the bruchid Acanthoscelides schrankiae. The reproduction biology was studied in populations established in two municipalities (Botucatu and Cachoeira Paulista, São Paulo State, southeastern Brazil), from December 2004 to March 2005. The reproductive phenology was evaluated from November 2003 to June 2005. The number of flowers per flower head, flower duration, anthesis events and other floral characteristics such as sex distribution, flower size, color, scent, nectar and osmophores location were studied. The stigma receptivity and pollen viability were evaluated. The flowers were observed and documented in a scanning electron microscope, after receiving a proper treatment. Fruit grow was monitored and tests were performed to evaluate the reproductive system. Floral visitors were observed directly in the field and their frequency, duration of visits and behavior in the flowers was registered. Seed predation was studied in Botucatu, in populations established in two areas. The distribution of fruits along different locations in the inflorescence was evaluated. From February to August 2003 and from January to August 2004 fruits were collected in regular intervals of fifteen days to observe the emergence of seed predators and parasitoids as well as to describe the pattern of oviposition and seed exploitation by bruchid females and larvae, respectively. To investigate if fruits were unevenly predated in the canopy two other collections of 100 fruits per plant (n=10) were carried out (May/2003 and May/2004) considering four canopy regions: Superior, Inferior, East and West. Fruits were maintained isolated in individual recipients under environmental conditions and seed predators and their parasitoids emergence were observed and quantified daily. Mimosa bimucronata flower and inflorescence morphology allow access to several kinds of visitors, although only Apis mellifera and Bombus (cf.) morio should be considered effective pollinators. The visits were performed mostly in the morning. The plant can be described as xenogamous. The mean number of fruits produced in the mean portion of inflorescence was significantly higher than the inferior and superior portions About 52% of the seeds can be predated and completely eaten by Acanthoscelides schrankiae larvae, which became pupae and finish their cycle inside M. bimucronata pods, from where emerge as adults. The oviposition takes place on the fruit surface and there is only one larva per seed. Proportions of predated seeds were evenly distributed in the canopy regions. Parasitoid Hymenoptera (Horismenus sp.) were observed inside A. schrankiae larvae. Key words - Mimosoideae; Parasitoids; Polininaation; Seed predation; Reproduction

Page 10: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

BIOLOGIA FLORAL E PREDAÇÃO DE SEMENTES DE MIMOSA BIMUCRONATA (DC.)

KUNTZE POR ACANTHOSCELIDES SCHRANKIAE HORN (1873)

Introdução

Dentre as leguminosas, a subfamília Mimosoideae apresenta distribuição tropical e sub-

tropical, sendo áreas tropicais da América, África, Ásia e Austrália os centros atuais com maior

diversidade de taxons (Elias 1981). Possui cerca de 50 gêneros e 3000 espécies (Heywood 1979;

Cronquist 1981). Na região Neotropical a maioria das espécies ocorre na América Central e na

América do Sul, com poucos representantes nas Índias Ocidentais; sua presença é comum em

florestas tropicais úmidas, especialmente nas proximidades de rios e lagos (Elias 1981). Acacia (700-

800 espécies) e Mimosa (450-500 espécies) são os gêneros com maior número de espécies (Cronquist

1981). No gênero Mimosa encontram-se árvores, lianas, arbustos e ervas, predominantemente

neotropicais, sendo algumas importantes plantas invasoras (Endress 1994).

Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze, conhecida vulgarmente como maricá, é espécie típica da

Mata Atlântica, com ampla distribuição nesse bioma, sendo largamente cultivada na região Sudeste

do Brasil para formação de cercas vivas defensivas, devido à abundância de espinhos em seus ramos

(Lorenzi 2000). Trata-se de uma espécie arbórea com três a oito metros de altura, muito ramificada e

aculeada, bastante abundante em várzeas brejosas ao longo dos rios, banhados e outras depressões dos

terrenos onde, não raro, forma densas associações, sendo também freqüente em formações

secundárias situadas em encostas, sobretudo em solos rochosos, com declividade pouco acentuada

(Burkart 1979). Muito prolífica, escapa freqüentemente ao cultivo, podendo invadir áreas de

pastagens e terrenos baldios, ocorrendo preferencialmente em baixadas úmidas onde chega a formar

densas infestações (Lorenzi 2000).

Foi assinalada como espécie com alto valor sociológico em levantamentos realizados em

remanescentes de florestas ripárias no estado de São Paulo (Bernaci et al. 1998) e em áreas de

caatinga às margens do Rio São Francisco, no estado de Pernambuco (Nascimento et al., 2003).

Sendo espécie pioneira, M. bimucronata apresenta grande importância na recuperação de áreas

degradadas, nas quais é indicadora do estágio inicial de regeneração (Resolução Conama Nº02/94).

Faz-se referência também à sua utilização como planta medicinal, sendo a infusão dos brotos eficaz

no combate à asma pura, à bronquite asmática e às febres intermitentes (Burkart 1979).

Tendo em vista estes relevantes aspectos, surgiu o interesse pelo estudo da biologia da

reprodução de Mimosa bimucronata, visando caracterizá-la quanto ao sistema de reprodução, a

polinização e as interações ocorrentes entre sementes e seus predadores.

Page 11: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Biologia da Reprodução em Fabaceae: Mimosoideae

Entre as Mimosoideae prevalecem flores polissimétricas com pequenas pétalas e estames

com filetes longos e evidentes, mas com anteras pequenas. Normalmente as flores estão arranjadas

em densos glomérulos e formam flores do tipo escova; na tribo Mimoseae o número de estames por

flor é freqüentemente pequeno (de 4 a 5), enquanto outras tribos tendem a apresentar estames mais

numerosos; as flores individuais são diminutas e formam glomérulos esféricos ou espiciformes,

sendo tão densos que superficialmente as flores perdem sua individualidade, podendo constituir-se

em pseudantos (Endress 1994).

No gênero Mimosa há cerca de 480 espécies de árvores, lianas, arbustos e ervas,

predominantemente neotropicais, sendo algumas importantes plantas invasoras (Barneby 1991). As

flores reúnem-se em glomérulos e são, comumente, hermafroditas; o cálice gamossépalo é

normalmente pequeno e, algumas vezes, com lobos irregulares; as quatro pétalas são unidas e o

androceu é haplo ou diplostêmone (Endress 1994). As flores têm coloração vívida e odor adocicado,

sendo em geral diurnas, fornecendo, na maioria dos casos, apenas pólen como recurso aos

visitantes. Embora entre as Mimosoideae possam ser encontradas diferentes formas de adaptação à

polinização, há predominância de espécies melitófilas em espécies do gênero Mimosa estudados até

o presente em áreas tropicais e no Brasil (Aguiar 2003, Barbosa et al.2000, Machado & Lopes

2004, Vogel et al. 2005). Recentemente um caso raro de adaptação à quiropterofilia foi relatado na

Caatinga nordestina, para Mimosa lewisii, observando-se nessa espécie abundante produção de

néctar (Vogel et al.2005).

Grãos de pólen compostos, ou políades, ocorrem em cerca de 15% das famílias de

angiospermas (Kenrick & Knox, 1982) e são muito freqüentes nos gêneros de Mimosoideae (Seijo

& Neffa 2004). Acredita-se que as políades confiram uma vantagem seletiva para a reprodução,

pois se apenas uma delas alcançar a superfície estigmática, todos os óvulos dentro do ovário podem

ser fertilizados, além de ser um modo eficiente de dispersão do pólen por insetos (Kenrick & Knox

1982). No entanto, há autores que discordam dessa hipótese, já que a baixa eficiência da polinização

é um problema geral e os grãos de pólen compostos estão presentes em poucos grupos de

dicotiledôneas. Assim, para Lipow & Wyatt (2000) apud Kenrick & Knox (1982) a aglutinação do

pólen pode ser uma adaptação no sentido de evitar que cargas de pólen se misturem. Uma carga

mista de pólen da própria planta e pólen de outras plantas tem sido registrada como desperdício em

grupos como Mimosoideae e Asclepias, porque esses grupos possuem sistemas de auto-

incompatibilidade pós-zigótica.

Em um estudo com várias espécies de Acacia, Kenrick & Knox (1982) demonstraram haver

uma correlação entre o número de grãos de pólen por políade e o número máximo de sementes por

Page 12: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

vagem, sendo que em amostras de polinização aberta em várias espécies de Acacia, o número de

sementes por vagem não excedeu o de grãos de pólen por políade. Por exemplo, políades com 16

grãos de pólen ocorreram em 81 espécies de Acacia sendo que o número máximo de sementes por

fruto não excedeu 15 e foi maior do que oito em 45 espécies. Na maioria das espécies o número de

óvulos é menor do que o número de grãos na políade, mas a relação é mais complexa já que o

número de óvulos não é constante para cada espécie. Cruden (1977) verificou que espécies com

sistemas de transporte de pólen mais eficientes têm menores taxas de pólen/óvulo. De acordo com

Kenrick & Knox (1982) membros de Asclepiadaceae e Mimosoideae, que apresentam o pólen

reunido em políneas ou políades, respectivamente, possuem baixas taxas pólen/óvulo quando

comparados com espécies xenógamas. Esses autores sugerem que a presença de políades em

Acacia, à semelhança do que ocorre com políneas de Asclepiadaceae e Orchidaceae, constituem um

mecanismo que ajuda a garantir a produção de sementes após um único evento de polinização. No

entanto, o alto número de políades por antera em Mimosa aumentaria a taxa pólen/óvulo esperada

para as Mimosoideae que possuem políades. Assim, Seijo & Neffa (2004) sugerem que talvez as

políades confiram vantagens seletivas para a reprodução diferentes daquelas propostas para Acacia.

Os autores observam, então, que o número de políades produzidas por anteras parece estar

relacionado ao número de estames por flor em cada gênero, sugerindo que há um mecanismo

compensador para garantir a produção de pólen suficiente e assegurar uma polinização efetiva.

Segundo Guinet (1981) apud Kenrick & Knox (1982) Adenanthera e Mimosa possuem as

menores políades registradas em angiospermas. A maioria das espécies de Mimosa apresenta suas

políades com quatro grãos de pólen (tétrades), e algumas têm políades com oito, 12 ou 16 grãos

(Van Campo & Guinet, 1961 apud Seijo & Neffa, 2004).

Há uma adaptação marcante entre políade e estigma, sendo que somente uma políade pode

se alojar em cada estigma (Baranelli et al. 1995). Em um estudo com três populações de Acacia

senegal, Tandon et al. (2001) examinaram amostras com 50 pistilos de cada população para

verificar a presença de políades no estigma, após 24-48 horas da antese. Somente uma políade

estava presente em 92% dos pistilos, duas políades foram registradas em 6% dos pistilos e três

políades em apenas 2% deles. Nos pistilos que continham duas ou três políades, somente uma delas

estava posicionada em perfeito alinhamento com a superfície estigmática, permitindo a germinação

e crescimento do tubo polínico. As outras não germinaram, confirmando a relação 1:1 entre políade

e estigma.

Arroyo (1981) apud Baranelli et al. (1995) considera a unidade básica de reprodução das

Mimosoideae as inflorescências e não as flores individuais. Baranelli et al. (1995) afirma que essa

interpretação também recebe suporte fisiológico, sendo que os numerosos gineceus agiriam em

cooperação como o pistilo de uma única flor verdadeira.

Page 13: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

A morfologia e a aparência das inflorescências indicam uma estratégia entomófila

generalista para polinização em todas as espécies das tribos Acaciae e Mimoseae (Arroyo 1981

apud Tybirk 1993). Ainda de acordo com esse autor, a estrutura dos glomérulos faz com que sejam

acessíveis a uma ampla diversidade de visitantes e, em geral, os conjuntos de visitantes associados

às flores de Mimosoideae são mais diversos do que aqueles associados a flores estruturalmente mais

complexas em outras leguminosas, tais como as Papilionoideae (Arroyo 1981 apud Stone et al.

2003).

Arroyo (1981) apud Tybirk (1993) afirma que Leguminosae é principalmente polinizada por

abelhas, representando a maior fonte de alimento para tais insetos. Segundo Stone et al. (2003)

todas as Acacia são polinizadas por abelhas, sendo as abelhas-de-mel importantes polinizadores

tanto em locais onde são nativas quanto em locais onde foram introduzidas. Ainda de acordo com

esse autor, as abelhas solitárias também são importantes visitantes de acácias, sendo as famílias

Megachilidae, Colletidae, Halictidae e Anthophoridae de importância mundial, com variações

regionais. Por exemplo, para Acacia senegal, as abelhas foram os visitantes mais freqüentes, ativos

e efetivos (Tandon et al. 2001). O grupo de abelhas foi o menos diverso, mas o mais comum para A.

senegal, A. albida, A. tortilis e A. nilotica, sendo Anthophoridae, Halicitidae e Megachilidae

comuns enquanto Apidae e Colletidae foram raras (Tybirk 1993). No caso de uma espécie híbrida

de Acacia (A. mangium Willd. x A. auriculiformis A. Cunn. ex Benth.) somente duas espécies de

visitantes foram comuns e tinham cargas pesadas de pólen em seus corpos, sendo elas Apis

mellifera (Apidae) e Ceratina sp. (Antophoridae) (Sornsathapornkul & Owens 1998).

As abelhas são os únicos visitantes florais a coletar ativamente grandes volumes de pólen

estocado externamente, em contraste a quase todos os outros visitantes para os quais a coleta de

pólen é acidental (Stone et al. 2003).

Vários outros visitantes foram registrados em diversos estudos com espécies de

Mimosoideae, sendo os mais freqüentemente encontrados moscas (Diptera), borboletas

(Lepidoptera), besouros (Coleoptera), vespas e formigas (Hymenoptera) (Bernhardt 1987, Krüger &

McGavin 1997, Raju & Rao 2002, Stone et al. 2003, Tandon et al. 2001, Tybirk 1993).

Baixas taxas de produção de vagens (taxa fruto/flor) foram encontradas na maioria das

Mimosoideae (Tybirk 1993). Em Acacia, por exemplo, menos do que um por cento das flores

resultou na produção de frutos (Tybirk 1997). Baixa eficiência na produção de frutos foi também

registrada para Mimosa bimucronata em populações naturais na Argentina (Seijo & Neffa 2004).

Page 14: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Predação de sementes por bruquídeos

As plantas constituem vasta fonte de alimento para qualquer organismo versátil o suficiente

para usá-las. Entretanto, a despeito de sua ampla ocorrência nos diversos biomas, seu uso como

alimento é menos comum do que o esperado, o que levanta a hipótese da existência de problemas

associados ao seu consumo. De fato, os grupos de invertebrados que tiveram sucesso na exploração

desta fonte alimentar são os mais altamente evoluídos, sugerindo que são necessárias especializações

para usar plantas como alimento (Edwards & Wratten 1981).

Pelo fato de serem imóveis, as plantas não podem escapar das pressões exercidas pelos

herbívoros. Portanto, suas únicas defesas estão relacionadas com estruturas físicas e compostos

químicos para a redução de seu consumo (Stiling 1999). Crawley (1983) deduziu que para a maioria

dos sistemas naturais, não mais do que 10% da produção primária é retirada pelos herbívoros, sendo

90% retirados pela decomposição. Pimentel (1988) revisou 93 casos de herbivoria em folhas e

constatou que apenas 7% da área foliar era consumida por herbívoros. Cyr & Pace (1993) revisaram

diversos outros casos de herbivoria, mostrando que existiam níveis mais altos de retirada da produção

primária pelos herbívoros do que se pensava, uma vez que foram encontrados valores de 18% em

sistemas terrestres (67 estudos) e 51% em sistemas aquáticos (44 estudos).

Apesar das plantas possuírem mecanismos de defesa, os herbívoros podem influenciar a taxa

de crescimento, a taxa reprodutiva e a estabilidade das populações vegetais (Fox & Morrow 1992,

Wise & Sacchi 1996). Sabe-se que a reprodução em plantas pode ser intensamente afetada pela

predação de sementes, uma vez que 90% ou mais de todas as sementes produzidas por determinado

indivíduo pode ser destruída por meio da predação. Entre os principais predadores de sementes

encontram-se os insetos, principalmente aqueles pertencentes a diversas famílias das ordens

Coleoptera, Diptera, Lepidoptera e Hemiptera (Janzen 1971). Dentre os coleópteros, destacam-se

aqueles pertencentes à família Bruchidae, pois são freqüentemente citados como importantes

predadores de sementes, principalmente de leguminosas (Janzen 1975, Southgate 1979, Gullan &

Cranston 2000).

A família Bruchidae é um grupo monofilético adaptado exclusivamente no consumo de

sementes. Esta família consiste de cerca de 1700 espécies descritas e de 66 gêneros agrupados nas

subfamílias Amblycerinae, Bruchinae, Eubaptine, Kytorhininae, Pachymerinae and Rhaebinae

(Southgate 1979, Borowiec 1987, Johnson 1994, Johnson et al. 2003). Destes, 42 gêneros são

encontrados na América do Sul, do Norte, Central e Índias Ocidentais (Romero-Napoles 2002).

Cerca de 80% das espécies estão em Bruchinae, 10% em Amblycerinae, 9% em Pachymerinae,

sendo o restante (1%) distribuído nas outras três subfamílias (Johnson & Romero 2004). Os estágios

imaturos de todas as espécies se alimentam de sementes de cerca de 35 famílias de plantas,

Page 15: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

especialmente Fabaceae (Johnson 1989; Johnson et al. 2003). Recentes mudanças na taxonomia e,

conseqüentemente, na nomenclatura, parecem favorecer o uso do nome da subfamília Bruchinae ao

invés de Bruchidae (Kergoat et al. 2005), mas por conveniência, o nome Bruchidae foi mantido

neste estudo.

Com relação ao habito de oviposição, Johnson (1981) supôs que os bruquídeos podem ser

divididos em três guildas quando se alimentam de sementes de Fabaceae, em diferentes momentos e

de diferentes formas. Algumas espécies somente realizariam a oviposição sobre frutos aderidos à

planta, outras espécies fariam a oviposição sobre sementes expostas, porém ainda dentro de frutos

presos à planta e o terceiro grupo colocaria seus ovos sobre sementes já dispersas, expostas no

substrato. Desta forma, dependendo da estrutura dos frutos, uma espécie vegetal poderia receber

ovos das três guildas, algumas de duas guildas e algumas de apenas uma guilda de bruquídeos.

Segundo Johnson & Romero (2004), inicialmente os bruquídeos desenvolveram estratégias para

ovipositar sobre a superfície dos frutos, evoluindo posteriormente novos mecanismos de oviposição,

podendo depositar seus ovos diretamente sobre a semente. Assim, hoje teríamos mais espécies que

colocam ovos sobre a superfície dos frutos. Essa hipótese foi confirmada, sendo que 78% das

espécies já estudadas ovipositam sobre a parede dos frutos (Johnson & Romero 2004).

Algumas fêmeas de bruquídeos são capazes de avaliar o número de ovos colocados sobre uma

semente e usar essa informação para produzir uma distribuição uniforme de cargas de ovos, o que

minimiza a competição larval dentro de sementes (Wilson 1988). Por exemplo, Segundo Messina &

Renwick (1985), o bruquídeo Callosobruchus maculatus é capaz de avaliar de forma precisa o

número de ovos existente em uma semente, usando tal informação para produzir uma distribuição

uniforme dos ovos depositados, minimizando a competição dentro das sementes.

Através da observação de diversas espécies de leguminosas na América Central, Janzen

(1969) constatou que espécies que não eram atacadas por besouros bruquídeos produziam sementes

maiores e em menor quantidade, quando comparadas com espécies que possuíam infestações

consideráveis por estes besouros. Segundo o autor, a presença de substâncias tóxicas nas sementes

ou frutos das plantas com maiores sementes, foi a causa da imunidade apresentada. Por outro lado,

Center & Johnson (1974) mostraram exemplos onde diversos mecanismos de defesa apresentados

pelas plantas (leguminosas em especial) podiam ser contornados pelos bruquídeos. Siemens et al.

(1994) constataram que devido à menor resistência das cascas das sementes e à deficiência na

abscisão prematura de frutos infestados, plantas híbridas de Cercidium floridum e C. microphyllum

(Fabaceae) apresentaram maiores densidades de bruquídeos.

As sementes são recursos valiosos comparados à polpa de frutos maduros, tanto em termos de

sua composição nutricional quanto de sua abundância relativa no espaço e no tempo. Elas são

freqüentemente ricas em lipídeos, açúcares e proteínas e relativamente pobres em taninos,

Page 16: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

fornecendo recursos essenciais para a sobrevivência de plântulas em germinação (Harper et al.

1970, Silvertown & Charlesworth 2001). Assim, sementes na fase de pré-dispersão são consumidas

por pequenos insetos de rápido desenvolvimento, devido ao seu abundante conteúdo energético e

nutricional (Crawley 1997).

Variações na intensidade de predação, entre árvores individuais, têm sido registradas para

muitas espécies de leguminosas (Mitchell 1977, Janzen 1978, Pellew & Southgate 1984, Auld 1986,

Ernst et al. 1989, 1990, Hoffman et al. 1989; Traveset 1991, Miller 1996, Schelin et al. 2004).

Alguns dos fatores que explicam essas variações são a magnitude da produção de sementes, a

densidade de árvores e diferenças na espessura das vagens (Janzen 1969; Miller 1994,1996; Ernst et

al. 1989,1990), bem como inimigos naturais e condições de tempo (Traveset 1991). Ernst et al.

(1989) consideram também a existência de um componente genético de resistência à predação por

bruquídeos. Janzen (1978) sugere algumas hipóteses adicionais para tal variação, tais como: a)

assincronia no surgimento de frutos, resultando em maior predação nas árvores que produzem os

frutos prematuramente e b) quando há sincronia na produção de frutos, plantas com maior produção

liberariam um odor mais intenso, resultando em ataque desproporcional.

Variações anuais na infestação de sementes por bruquídeos são freqüentemente encontradas

na literatura (Pellew & Southgate 1984; Hoffmann et al. 1989; Ernst et al. 1989, 1990; Miller

1996). Tais variações podem estar relacionadas a mudanças na umidade (Halevy 1974 apud Miller

1996), temperatura (Ernst et al. 1989; Traveset 1991), chuvas (Miller 1996), magnitude da

produção de frutos (Janzen 1971), parasitas (Traveset 1991), interação entre predadores de sementes

(Southgate 1979) ou ciclo natural dentro da população de bruquídeos (Miller 1996).

Barnes (2001) verificou que, no caso de Acacia (Fabaceae: Mimosoideae), a seletividade dos

predadores é ditada pelo tamanho das sementes e Szentesi e Jermy (1995) registraram uma boa

relação entre morfologia das sementes (tamanho e forma) e a distribuição de bruquídeos para

muitos legumes. Esses autores relatam, por exemplo, que espécies de Bruchus usam, em média,

sementes mais esféricas enquanto espécies de Bruchidius colonizam as menos esféricas. Em geral,

as espécies de plantas hospedeiras de bruquídeos têm significativamente mais sementes esféricas do

que plantas não hospedeiras. Além disso, o volume e o peso médio de sementes foram

significativamente menores nas espécies de leguminosas não infestadas do que naquelas que são

infestadas por bruquídeos, demonstrando a preferência por sementes maiores. Duas outras

características são citadas ainda como impedimentos à colonização por bruquídeos: a pubescência

na parede da vagem e uma "reação hipersensível" também na superfície da vagem através de tecido

de proliferação (Szentesi & Jermy 1995).

De acordo com Hulme (2002) altas taxas de predação de sementes não necessariamente se

traduzem em reduções dramáticas nas populações vegetais. É possível que mesmo grandes perdas

Page 17: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

de sementes tenham pouco impacto na demografia, como quando: a) as plantas se regeneram

principalmente por meios vegetativos; b) as perdas de sementes por ação de predadores são

minimizadas pela presença de um grande banco de sementes persistente; c) os predadores de

sementes são saciados por grandes produções de sementes; e/ou d) a regeneração é limitada antes

pelo microambiente do que pela quantidade de sementes (Hulme 2002). Essa visão é coerente com

os resultados encontrados por Schelin et al. (2004) em Acacia macrostachya, cuja proporção de

sementes não infestadas é suficientemente grande para a regeneração das populações.

Zhang et al. (1997) afirmam que a predação de sementes, como outras formas de predação,

poderia causar dois tipos de resposta pela população vegetal explorada. A primeira é a adaptação

via seleção por mecanismos morfológicos, químicos, temporais e mecanismos espaciais para evitar

o predador. A segunda é a modificação de ocorrência numérica e espacial via eliminação e

redistribuição de indivíduos melhor adaptados na população, através de modelos diferenciais de

ataque.

Uma característica importante dos besouros da família Bruchidae é a grande especificidade

com relação à planta(s) hospedeira(s) (Center & Johnson 1974). Com o objetivo de investigar a

especificidade de ataque de besouros predadores de sementes, Janzen (1980) estudou os coleópteros

coletados em sementes e frutos de diversas espécies de plantas dicotiledôneas em uma floresta

tropical da Costa Rica. Pelo menos 110 espécies de coleópteros predadores de sementes foram

criados em laboratório, os quais foram obtidos de um total de 3.700 amostras de sementes e frutos

destas plantas. Janzen concluiu que a maioria dos besouros coletados apresentou especificidade com

relação ao ataque, uma vez que 75% das espécies encontradas estavam associadas a apenas uma

espécie de planta, e que tal especificidade é de suma importância para o entendimento do impacto

dos herbívoros na determinação da riqueza e distribuição das espécies de plantas. Johnson (1989)

também constatou grande especificidade de diversas espécies de bruquídeos, principalmente

daquelas pertencentes ao gênero Acanthoscelides Schilsky (1905), sendo as interações destes

bruquídeos com suas plantas hospedeiras (Angiospermas) um excelente modelo para estudos de

radiação adaptativa (Herrera & Pellmyr 2002, Kergoat et al. 2004, Alvarez et al. 2006).

O gênero Acanthoscelides

Acanthoscelides é o gênero de bruquídeo mais representativo na região Neotropical (Johnson

1981). Até o momento, cerca de 300 espécies foram descritas, mas especula-se que muitas espécies

ainda serão descobertas, principalmente em regiões pouco estudadas da América do Sul,

principalmente na região Sudeste e floresta Amazônica (Kergoat et. al. 2005). A maioria das

espécies descritas apresenta oligofagia ou monofagia e cerca de 100 espécies se desenvolvem em

Page 18: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Faboideae, 35 espécies em Mimosoideae, e 6 espécies em Caesalpinioideae. Apenas uma minoria

de espécies se alimenta em não-leguminosas, como Malvaceae [Malvoideae (30 espécies),

Grewioideae (8 espécies), Byttnerioideae (uma espécie), e Cistaceae (uma espécie)] (Johnson, 1983,

1989, 1990). Como citado acima, diversas espécies de Acanthoscelides se alimentam de sementes

de leguminosas da subfamília Mimosoideae (Zidko 2002). Por exemplo, Johnson (1981) revisou

registros de plantas hospedeiras para bruquídeos e encontrou espécies de Acanthoscelides

alimentando-se de 11 espécies de Leucena (Mimosoideae). Hopkins (1983) relatou que de dez

espécies de bruquídeos encontrados em Parkia (Mimosoideae), nove pertenciam ao gênero

Acanthoscelides. Além disso, outros registros têm sido feitos, como Kassulke et al. (1990) e Wilson

& Flanagan (1991).

De acordo com Johnson & Romero (2004), Acanthoscelides é o gênero com o maior número

de espécies no Novo Mundo e se alimenta de sementes de 11 famílias. Szentesi & Jermy (1995)

relatam que três espécies de plantas infestadas por espécies desse gênero possuem sementes

alongadas e um pouco cilíndricas, mas ainda achatadas, revelando a seletividade desse gênero por

determinadas formas de sementes. Diversas espécies deste gênero são também importantes pragas

agrícolas, principalmente de feijão [Phaseolus vulgaris (Leguminosae)] (Cardona 1989,

Stamopoulos 1989, Baier & Webster 1992). Os adultos dos bruquídeos não possuem importância

econômica, uma vez que se alimentam de pólen, néctar, ou não se alimentam, tendo apenas uma

função reprodutiva. Algumas espécies podem ser utilizadas como agentes de controle biológico de

plantas daninhas, como é o caso de A. quadridentatus e A. puniceus, as quais foram intensamente

liberadas no norte da Austrália para o controle biológico de Mimosa pigra (Leguminosae)

(Kassulke et al. 1990, Wilson & Flanagan 1991).

Segundo Jesus Romero Napoles (comunicação pessoal) Acanthoscelides schrankiae (Horn)

1873, pode ser encontrado predando sementes de Acacia picachensis Brandegee, Mimosa

acantholoba (Willd.) Poiret, M. acutistipula Benth., M. aff. albida, M. albida Willd., M. arenosa

(Willd.) Poiret, M. arenosa var. arenosa, M. bahamensis Benth., M. caduca Poiret, M. eurycarpa

Robinson, M. polyantha Benth., M. quadrivalvis L., M. quadrivalvis var. angustata (Torrey & A.

Gray) Barneby, M. quadrivalvis var. diffusa (Rose) Barneby, M. quadrivalvis var. distachya (DC.)

Barneby, M. quadrivalvis var. platycarpa (A. Gray) Barneby e Schrankia paucijuga. Portanto, este

é o primeiro registro da ocorrência de A. schrankiae em M. bimucronata. Existem apenas dois

estudos na literatura que citam A. schrankiae, os quais focam na sistemática do gênero

Acanthoscelides (Johnson 1983, 1990). Conseqüentemente, não existe na literatura qualquer estudo

sobre a biologia e ecologia de A. schrankiae. Esta espécie pode ser encontrada nas Bahamas,

Equador, Estados Unidos, México, República Dominicana, Venezuela e Brasil (Jesus Romero

Napoles, comunicação pessoal).

Page 19: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Bruquídeos e Parasitóides

Sabe-se que as populações de insetos freqüentemente apresentam flutuações em tamanho, e

este fato tem gerado diversas especulações sobre quais fatores limitam o tamanho destas

populações, principalmente em insetos que apresentam herbivoria. Hairston et al. (1960)

argumentaram que como os herbívoros raramente consomem todos os recursos disponíveis (“o

mundo é verde”), suas populações devem ser limitadas pelos inimigos naturais, e não pela

abundância de recursos. No entanto, diversos estudos têm demonstrado que as populações de

insetos herbívoros podem ser limitadas tanto pelo tipo de recurso disponível (forças do tipo

‘bottom-up’), como pela ação de inimigos naturais (forças do tipo ‘top-down’) (Roininem et al.

1996, Hunter et al. 1997, Stiling & Rossi 1997, Turlings & Benrey 1998, Turchin et al. 1999).

Dentre os inimigos naturais mais importantes dos insetos herbívoros estão os parasitóides.

Os parasitóides são espécies de insetos que requerem e se alimentam de apenas um animal

durante suas vidas, vivendo como larvas dentro dos hospedeiros, os quais são necessariamente

levados à morte (Gullan & Cranston 2000). Entretanto, durante a fase adulta, podem ser

responsáveis pela morte de vários hospedeiros, pois depositam ovos dentro, sobre ou próximos dos

hospedeiros (Price 1997). Eles ocorrem em diferentes grupos de insetos, particularmente nas ordens

Diptera e Hymenoptera (Godfray, 1994).

Dentre todos os animais, os parasitóides estão entre os mais abundantes, sendo objeto de

estudo por diversas razões. Primeiramente, são de grande importância para programas de controle

biológico de pragas, onde diversos estudos teóricos e práticos procuram identificar e quantificar os

atributos que aumentam a efetividade dos parasitóides como agentes controladores. Como

conseqüência, o estudo da dinâmica populacional se beneficiou muito devido às interações entre

hospedeiros e parasitóides, uma vez que os parasitóides são organismos que possibilitam o

desenvolvimento de modelos populacionais simples. Isto ocorre principalmente porque somente as

fêmeas adultas procuram pelo hospedeiro e, quando este é encontrado, já ocorre a oviposição

(Hassell, 2000). Assim, diversos estudos de campo têm demonstrando que os parasitóides são

capazes de influenciar a dinâmica populacional de seus hospedeiros (Sih et al. 1985, Murdoch et al.

1989, Gould et al. 1990, Turchin 1990, Berryman 1996).

Espécies de Horismenus Walker têm sido registradas como parasitóides prováveis de

Bruchidae imaturos (Sari et al. 2002). Schmale et al. (2002) relataram a presença de Horismenus

ashmeadii como parasitóides sobre A. obtectus, que infestam grãos de feijão (Phaseolus vulgaris)

estocados. Essa espécie de parasitóide só não foi indicada como possível agente de controle pós-

colheita devido à dificuldade de criá-lo em laboratório.

Page 20: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Schmale et al. (2002), estudando a infestação de sementes de feijão pelo bruquídeo A.

obtectus em pequenas fazendas localizadas na Colômbia, encontraram o parasitóide Horismenus

ashmeadii (Hymenoptera: Eulophidae) emergindo de tal hospedeiro em 21% das amostras, sendo a

única espécie encontrada, representando um nível total de parasitismo de 18%. Parasitóides

Horismenus sp. também tem sido encontrados parasitando os bruquídeos Amblycerus submaculatus

e Sennius bondari em Senna alata (Caesalpinaceae) (Ribeiro-Costa 1998). Schmale et al. (2003)

também investigaram o efeito da utilização de plantas resistentes ao ataque de A. obtectus,

combinada com a ação do parasitóide Dinarmus basalis (Hymenoptera: Pteromalidae), na redução

da infestação de sementes armazenadas de feijão. Os autores constataram que os danos foram

significativamente reduzidos em tais circunstâncias e que os parasitóides foram muito eficientes na

redução da densidade populacional de A. obtectus.

Defesa das plantas e o comportamento dos bruquídeos

Janzen (1969), em um estudo com 36 espécies vegetais, verificou que aquelas encontradas

livres da infestação por bruquídeos tinham impedimentos tóxicos em suas sementes. Apesar disso,

muitos outros estudos têm demonstrado que numerosas espécies com componentes tóxicos em suas

sementes são predadas por bruquídeos, conforme revisado por Center & Johnson (1974). Assim, os

autores concluem que os bruquídeos teriam desenvolvido resistência a determinadas toxinas, sendo

registrado, entre vários outros exemplos, que Acanthoscelides submuticus (Bruchidae) desenvolveu

meios fisiológicos de resistir à toxina presente nos frutos de sua planta hospedeira (Amorpha

fruticosa) e possivelmente a consuma (Center & Johnson 1974).

Janzen (1969) sugeriu que as plantas teriam desenvolvido uma estratégia denominada

"saciedade do predador" por produzir sementes menores em maior quantidade. Para contorná-la os

bruquídeos deveriam: a) alimentar-se de mais sementes; b) diminuir seu tamanho; c) procurar outras

plantas hospedeiras cujas sementes tivessem quantidade e qualidade satisfatória de recursos ou d)

extinção. Center & Johnson (1974) encontraram muitos exemplos de respostas dos bruquídeos

seguindo as alternativas a e b. Os autores ainda afirmam que a resposta evolutiva mais comum à

estratégia de saciedade do predador foi a larva utilizar uma semente quase inteira (como várias

espécies de Acanthoscelides sp.) ao invés de somente uma pequena porção desta ou então, uma

larva se alimentar de muitas sementes.

Trinta e uma características de leguminosas, que podem ser funcionais na eliminação ou

diminuição da destruição de sementes causadas por bruquídeos, foram apontadas por Janzen (1969)

e estão listadas na Tabela 1. Center & Johnson (1974) descobriram em estudos próprios e na

literatura, mecanismos de contorno que os bruquídeos aparentemente desenvolveram em resposta a

Page 21: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

pelo menos 11 dessas características, conforme demonstrado na Tabela 2. Ou seja, embora as

defesas das plantas contra predação possam ser eficientes para evitar ou reduzir os danos por grande

parte dos predadores potenciais, sua eficiência contra predadores especializados é reduzida ou

anulada pelo refinamento de adaptações nesses especialistas, originadas através de processos

coevolutivos (Center e Johnson 1974).

Sabe-se que espécies congêneres de leguminosas possuem diferentes metabólitos secundários

em suas sementes. Janzen et al. (1986) apud Siemens et al. (1992) lançaram a suposição de que

espécies vegetais congêneres, que não possuem certos metabólitos secundários, podem proteger

suas sementes por mecanismos alternativos de defesa. Essa hipótese foi confirmada para duas

espécies de Cercidium (C. floridum e C. microphyllum) onde aquela que não possui resistência

química no tegumento reduz a predação de sementes por abscisão prematura das vagens infestadas

(Siemens et al. 1992).

Grimm (1995) investigou a infestação por bruquídeos em Phithecellobium pallens

(Mimosoideae) concluindo que tal espécie não possuía nenhuma característica (química, física ou

fenológica) para evitar a predação. Conclui também que a perda de sementes por predação foi baixa

comparada a super iniciação de vagens. Considerando que a hipótese de Janzen (1969) sobre a

saciedade do predador discute a produção de frutos e sementes em quantidade superior à utilizada

por predadores, a interpretação dada por Grimm (1995) pode ter sido equivocada, visto que não foi

registrado nenhum dano sério à regeneração da espécie apesar da suposta ausência de estratégia

para contornar a predação.

Apesar da existência de alguns estudos enfocando as interações entre sementes de espécies de

Mimosoideae e insetos herbívoros, o estudo aqui proposto é praticamente ausente no Brasil, pois

enfoca a relação inseto-planta em um sistema natural composto por plantas de Mimosa

bimucronata, besouros da família Bruchidae e parasitóides, servindo como subsídio não só para

futuros estudos aplicados, mas também para estudos teóricos de dinâmica populacional.

Page 22: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Tabela 1 – Características de leguminosas que podem ser funcionais na eliminação ou diminuição

da destruição de sementes por bruquídeos. Retirada de Janzen, 1969.

1. Produção de goma pelas vagens seguindo a penetração pela primeira larva, o que pode afastar ovos remanescentes.

2. Estoque de taninos ou outros potenciais tóxicos nas paredes das vagens. 3. Albúmen abundante sobre sementes onde os ovos serão depositados, tornando difícil a

penetração por larvas. 4. Uma camada de albúmen dura e consistente dentro do tegumento que a larva de bruquídeo

não consegue atravessar. 5. Deiscência, fragmentação ou explosão de vagens, espalhando as sementes para escapar das

larvas que chegam através das paredes dos frutos ou das fêmeas em oviposição. 6. Produção de vagens com superfícies lisas, excluindo espécies que ovipositam nas depressões

das vagens. 7. Vagens com paredes finas o suficiente para que parasitas possam ovipositar sobre o

bruquídeo. 8. Vagens indeiscentes, excluindo espécies que ovipositam sobre sementes expostas. 9. Uma camada de material sobre a superfície das sementes que aumenta quando a vagem abre e

destaca os ovos anexados. 10. Tegumento muito denso e duro. 11. Estoque de amido excluindo espécies que se alimentam de óleo na semente e vice versa. 12. Compostos tóxicos ou alucinógenos. 13. Riqueza de inibidores endopeptidose, tornando a digestão pelo bruquídeo muito difícil. 14. Escamação da superfície da vagem que pode remover ovos depositados. 15. Sementes imaturas permanecem pequenas ao longo do ano e então abruptamente chegam à

maturidade pouco antes da dispersão. 16. Sementes maduras tão pequenas que a fêmea não pode se equilibrar para ovipositar. 17. Sementes tão finas que os bruquídeos não podem se desenvolver nelas. 18. Sementes tão pequenas que os bruquídeos não podem se desenvolver nelas. 19. Sementes muito úmidas e carnudas que germinam dentro de semanas ou morrem, sem

tempo suficiente para o desenvolvimento de bruquídeos. 20. Superfície da semente mais ou menos macia ou convexa correlacionada com fracasso na

oviposição. 21. Baixo conteúdo nutricional nos cotilédones ou outros fatores levando ao fracasso da larva de

bruquídeo para esvaziar a semente, com conseqüente formação da pupa no centro da semente, de onde o adulto não pode escapar.

22. Alta assincronia nas produções de sementes de indivíduos de uma única espécie, levando a baixa densidade de fêmeas em qualquer momento, mas também a uma distribuição mais uniforme no tempo.

23. Baixa produção de sementes porém de forma contínua, por indivíduos amplamente espaçados, levando a uma maior dificuldade do encontro pelos bruquídeos e a uma baixa emergência de bruquídeos de qualquer conjunto de sementes predadas.

24. Assincronia de conjuntos de sementes de espécies raras na comunidade com espécies comuns nas quais a maior parte dos bruquídeos se reproduz.

25. Amplo espaçamento máximo entre árvores com sementes. 26. Sincronia do surgimento das sementes com o período do ano mais desfavorável aos adultos

bruquídeos. 27. Assincronia do surgimento de sementes com o florescimento de espécies onde os bruquídeos

adultos coletam néctar e pólen. 28. Desprendimento de vagens verdes que tem ovos antes das sementes amadurecerem,

resultando em morte de bruquídeos e conservação da energia que iria para essas sementes.

Page 23: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

29. Sincronia do surgimento de frutos com as épocas mais favoráveis aos parasitas de ovos e larvas.

30. Ter um agente dispersor que remove as sementes logo que essas amadurecem. 31. Alta sincronia de produção de sementes entre indivíduos das mesmas espécies acompanhado

por longos períodos sem nenhuma produção.

Page 24: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Tabela 2 – Características de leguminosas que podem ser funcionais na eliminação ou

diminuição da destruição de sementes por bruquídeos e algumas adaptações correspondentes de

bruquídeos. Retirada de Center & Johnson, 1974.

Defesa da planta (Janzen 1969) Adaptação de Bruchidae

1. Produção de goma pelas vagens seguindo a penetração da primeira larva, o que pode afastar ovos remanescentes.

Período de quiescência no desenvolvimento embrionário no ovo até que o amadurecimento da semente esteja completo.

2. Deiscência, fragmentação ou explosão de vagens, espalhando as sementes para escapar das larvas que chegam através das paredes dos frutos ou das fêmeas ovipositando.

Oviposição sobre as sementes somente depois que elas foram espalhadas. Anexo das sementes umas às outras ou anexo das sementes à valva da vagem.

3. Produção de vagens com superfícies lisas, excluindo espécies que ovipositam nas depressões das vagens.

4. Vagens indeiscentes, excluindo espécies que depositam seus ovos somente sobre sementes expostas

Oviposição dentro do exocarpo carnoso. Construção de orifícios nas paredes das vagens pelas fêmeas para a oviposição. Colar os ovos na superfície das vagens.

5. Uma camada de material sobre a superfície das sementes que aumenta quando a vagem abre e destaca os ovos anexados.

Anexo de ovos à superfície da semente por "cordões-âncora" para permitir a expansão do substrato. Entrada da larva dentro da semente antes da vagem abrir.

6. Compostos tóxicos ou alucinógenos 7. Riqueza de inibidores

endopeptidose, tornando a digestão pelo bruquídeo muito difícil.

Mecanismos para evitar e desintoxicar. Perda de endopeptidases inibidoras.

8. Escamação da superfície da vagem que pode remover ovos depositados.

Oviposição abaixo do exocarpo que escama. Rápido desenvolvimento embrionário ou alimentação de sementes imaturas para entrar na vagem antes da escamação ocorrer. Oviposição sob o cálice, longe da superfície da vagem.

9. Sementes imaturas permanecem pequenas ao longo do ano e então abruptamente chegam à maturidade pouco antes da dispersão.

Entrada e alimentação de sementes imaturas. Atraso da maturação embrionária até as sementes amadurecerem.

10. Sementes tão finas que os bruquídeos não podem se desenvolver nelas.

11. Sementes tão pequenas que os bruquídeos não podem se desenvolver nelas.

Utilização completa dos conteúdos da semente. Alimentação baseada em muitas sementes.

Page 25: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Referências Bibliográficas

AGUIAR, C. M. I. 2003. Utilização de recursos florais por abelhas (Hymenoptera, Apodeaae) em

uma área de Caatinga (Itaitim, Bahia, Brasil). Revista Brasileira de Zoologia 20:457-467.

ALVAREZ, N., ROMERO-NAPOLES, J., ANTON, K. W., BENREY, B. & HOSSAERT-

MCKEY, M. 2006. Phylogenetic relationships in the Neotropical bruchid genus

Acanthoscelides (Bruchinae, Bruchidae, Coleoptera). Journal of Zoological Systematics and

Evolutionary Research 44:63-74.

ARROYO, M.T.K. 1981. Breeding systems and pollination biology in Leguminosae. In: Polhill,

R.M., Raven, P.H., eds. Advances in legume systematics. Kew: Royal Botanic Gardens 723-

769.

AULD, T.D. 1986. Variation in predispersal seed predation in several Australian Acacia spp. Oikos

47:319-326.

BAIER, A. H. & WEBSTER, B. D. 1992. Control of Acanthoscelides obtectus Say (Coleoptera:

Bruchidae) in Phaseolus vulgaris L. seed stored on small farms I. Evaluation of damage.

Journal of Stored Products Research 28:289-293.

BARANELLI, J.L., COCUCCI, A.A. & ANTON, A.M. 1995. Reproductive biology in Acacia

caven (Mol.) Mol. (Leguminosae) in the central region of Argentina. Botanical Journal of the

Linnean Society 119:65-76.

BARBOSA, I. F., LAROCA, S. & ALMEIDA, M. C. 2000. Utilização de recursos florais por

abelhas silvestres (Hymenoptera, Apoidea) da Floresta Estadual Passa Dois (Lapa, Paraná,

Brasil). Revista Brasileira de Entomologia 44: 9-19.

BARNEBY, R. C. 1991. Sensitivae censitae. A description of the genus Mimosa Linnaeus

(Mimosaceae) in the new World. Memoirs of the New York Botanical Garden, 65: 1-835.

BARNES, M.E. 2001. Seed predation, germination and seedling establishment of Acacia erioloba

in northern Botswana. Journal of arid Environments 49:541-554.

BERNACI, L. C., GOLDENBERG, R. & METZGER, J. P. 1998. Estrutura florística de quinze

fragmentos florestais ripários na Bacia do Jacaré-Pepira (SP). Naturalia, 23: 23-54.

BERNHARDT, P. 1987. A comparison of the diversity, density, and foraging behavior of bees and

wasps on australian Acacia. Annals of the Missouri Botanical Garden 74:42-50.

BERRYMAN, A. A. 1996. What causes population cycles of forest Lepidoptera? Trends in Ecology

and Evolution, 11: 28-32.

BOROWIEC, J.A. 1987. The genera of seed-beetles (Coleoptera, Bruchidae). Polskie Pismo

Entomologiczne 57:3-207.

Page 26: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

BURKART, A. 1979. Leguminosas. Mimosoideae. In Flora Ilustrada Catarinense (P.R.REITZ, ed.)

p. 154-158.

CARDONA, C. 1989. Insects and other invertebrate bean pests in Latin America. In: Bean

Production Problems in the Tropics. (Schwartz, H.F., Pastor-Corrales, M.A. eds.) CIAT, Cali,

Colombia.

CENTER, T.D. & JOHNSON, C.D. 1974. Coevolution of some seed beetles (Coleoptera:

Bruchidae) and their hosts. Ecology 55:1096-1103.

CRAWLEY, M. J. 1983. Herbivory, the Dynamics of Animal-Plant Interactions. Studies in

Ecology, Vol. 10. Blackwell Scientific Publications, Oxford, UK.

CRAWLEY, M.J. 1997. Plant-herbivore dynamics. In: Crawley, M. J. (ed.) Plant ecology. pp. 401-

474.

CRONQUIST, A. 1981. An integrated system of classification of flowering plants. Columbia

University Press, New York.

CRUDEN, R.W. 1977. Pollen-ovule ratios: a conservative indication of breeding systems in

flowering plants. Evolution 31:32-46.

CYR, H. & PACE, M. L. 1993. Magnitude and patterns of herbivory in aquatic and terrestrial

ecosystems. Nature, 361: 148-150.

EDWARDS, P. J. & WRATTEN, S. D. 1981. Ecologia das interações entre insetos e plantas.

E.P.U./EDUSP, São Paulo.

ELIAS, T.S. 1981. Mimosoideae. In: Polhill, R.M. & Raven, P.H. Advances in Legume Systematics. Part 1. Kew: Royal Botanic Gardens. p. 143-151.

ENDRESS, P.K. 1994. Diversity and evolutionary biology of tropical flowers. Cambridge

University Press.

ERNST, W.H.O., TOLSMA, D.J. & DECELLE, J.E. 1989. Predation of seeds of Acacia tortilis by

insects. Oikos 54:294-300.

ERNST, W.H.O., TOLSMA, D.J. & DECELLE, J.E. 1990. Predispersal seed predation in native

leguminous shrubs and trees in savannas of southern Botswana. African Journal of Ecology

28:45-54.

FOX, L. R. & MORROW, P. A. 1992. Eucalypt responses to fertilization and reduced herbivory.

Oecologia, 89: 214-222.

GODFRAY, H. C. J. (1994) Parasitoids: behavioral and evolutionary ecology. Princeton University

Press, Princeton, NJ.

GOULD, J. R., ELKINGTON, J. S. & WALLNER, W. E. 1990. Density-dependent suppression of

experimentally created gypsy moth, Lymantria dispar (Lepidoptera: Lymantriidae),

populations by natural enemies. Journal of Animal Ecology, 59: 213-233.

Page 27: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

GRIMM, C. 1995. Seed predators and the fruiting phenology of Pithecellobium pallens

(Leguminosae) in thornscrub, north-eastern Mexico. Journal of Tropical Ecology 11:321-332.

GULLAN, P.J. & CRANSTON, P.S. 2000. The insects: an outline of entomology. Blackwell

Science, Oxford, UK.

GUINET, P.H. 1981. Mimosoideae. In Advances in Legume Systematics, ed. R.M. Polhill and P.H.

Raven, Part 1. pp. 143-151. Royal Botanic Gardens, Kew.

HAIRSTON, N.G., SMITH, F.E. & SLOBODKIN, L.B. 1960. Community structure, population

control and competition. American Naturalist 94:421-425.

HALEVY, G. 1974. Effects of gazelle and seed beetles (Bruchidae) on germination and

establishment of Acacia species. Israel Journal of Botany 23:120-126.

HARPER, J.L. 1977. The population biology of plants. Academic Press, New York.

HARPER, J.L., LOVELL, P.H. & MOORE, K.G. 1970. The shapes and sizes of seeds. Annual

Review of Ecological Systematic. 1:327-356.

HEYWOOD, V. H. [ed.]. Flowering plants of the world. 1979. Oxford University, Oxford.

HERRERA, C.M. & PELLMYR, O. 2002. Plant-Animal Interactions: An Evolutionary Approach.

Blackwell Publishing, Oxford, UK.

HOFFMAN, M.T., COWLING, R.M., DOUIE, C. & PIERCE, S.M. 1989. Seed predation and

germination of Acacia erioloba in the Kuiseb River Valley, Namib Desert. South. African

Journal of Botany 55: 103-106.

HOPKINS, M.J.G. 1983. Unusual diversities of seed beetles (Coleoptera: Bruchidae) on Parkia

(Leguminosae: Mimosoideae) in Brazil. Biological Journal of the Linnean Society 19:329-

338.

HUGHES, C.E. & JOHNSON, C.D. 1996. New host records and notes on Bruchidae (Coleoptera)

from Leucaena Benth. (Leguminosae, Mimosoideae) from Mexico, Central e South America.

Journal of Applied Entomology 120:137-141.

HULME, P.E. 2002. Seed-eaters: seed dispersal, destruction and demography In Seed Dipersal and

frugivory: ecology, evolution and conservation. CAB International 2002. Eds D.J. Levey,

W.R. Silva and M. Galetti.

HUNTER, M.D., VARLEY, G.C. & GRADWELL, G.R. 1997. Estimating the relative roles of top-

down and bottom-up forces on insect herbivore populations: a classic study revisited.

Proceedings of the National Academy of Sciences USA 94:9176-9181.

JANZEN, D.H. 1969. Seed-eaters versus seed size, number, toxicity and dispersal. Evolution 23:1-

27.

JANZEN, D.H. 1971. Seed predation by animals. Annual Review of Ecology and Systematics

2:465-492

Page 28: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

JANZEN, D. H. 1975. Interactions of seeds and their insect predators/parasitoids in a tropical

deciduous forest. In: Evolutionary strategies of parasitic insects and mites. (Price, P. W.

ed.).Plenum Press, New York.

JANZEN, D.H. 1978. Intensity of predation on Pithecellobium saman (Leguminosae) seed by

Merobruchus columbinus and Stator limbatus (Bruchidae) in Costa Rican Deciduous Forest.

Tropical Ecology 22:162-176.

JANZEN, D. H. 1980. Specificity of seed-attacking beetles in a Costa Rican deciduous forest.

Journal of Ecology 68:929-952.

JANZEN, D.H., RYAN, C.A., LIENER, I.E & PEARCE, G. 1986. Potentially defensive proteins in

mature seeds of 59 species of tropical Leguminosae. Journal of Chemical Ecology 12:1469-

1480.

JOHNSON, C. D. 1981. Interactions between bruchid (Coleptera) feeding guilds and behavioral

patterns of fruits of the Leguminosae. Environmental Entomology 10:249-253.

JOHNSON, C. D. 1983. Ecosystematics of Acanthoscelides (Coleoptera: Bruchidae) of southern

Mexico and Central America. Miscellaneous Publications of the Entomological Society of

America 56:1-248.

JOHNSON, C. D. 1989. Adaptive radiation of Acanthoscelides in seeds: examples of legume-

bruchid interactions. Monographs in Systematic Botany from Missouri Botanical Gardens

29:747-779.

JOHNSON, C. D. 1990. Systematics of the seed beetle genus Acanthoscelides (Bruchidae) of

northern South America. Transactions of the American Entomological Society 116:297-618.

JOHNSON, C. D. 1994. The enigma of the relationships between seeds, seed beetles, elephants,

cattle and other organisms. Aridus:6:1-4.

JOHNSON, C. D & ROMERO, J. 2004. A review of evolution of oviposition guilds in the

Bruchidae (Coleoptera). Revista Brasileira de Entomologia 48: 401-408.

JOHNSON, C.D.; SOUTHGATE, B.J.; DELOBEL, A. (2003) A revision of the Caryedontini

(Coleoptera: Bruchidae: Pachymerinae) of Africa and Middle East. Memoirs of the American

Entomological Society 44:1-120.

KASSULKE, R.C, HARLEY, K.L.S & MAYNARD, G.V. 1990. Host specificity of

Acanthoscelides quadridentatus and A. puniceus (Col.: Bruchidae) for biological control of

Mimosa pigra (with preliminary data on their biology). Entomophaga 35(1):85-96.

KENRICK, J. & KNOX, R.B. 1982. Function of the polyad in reproduction of Acacia. Annals of

Botany 50:721-727.

Page 29: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

KERGOAT, G. J., ALVAREZ, N., HOSSAERT-MCKEY, M., FAURE, N. & SILVAIN, J. F.

2005. Parallels in the Evolution of the two largest New and Old World seed-beetle genera

(Coleoptera, Bruchidae). Molecular Ecology 14:4003-4021.

KRÜGER, O. & MCGAVIN, G.C. 1997. The insect fauna of Acacia species in Mkomazi Game

Reserve, north-east Tanzania. Ecological Entomology 22:440-444.

LIPOW, S.R. & WYATT, R. 2000. Towards an understanding of the mixed breeding system of

swamp milkweed (Asclepias incarnata). Journal of the Torrey Botanical Society 127: 193-

199.

MACHADO, I. C. & LOPES, A. V. 2004. Floral traits and pollination systems in the Caatinga, a

Brazilian tropical dry forest. Annals of Botany 94: 1-12.

MESSINA, F. J. & RENWICK, J. A. A. 1985. Ability of ovipositing seed beetles to discriminate

between seeds with different egg-loads. Ecological Entomology 10:225-230.

MILLER, M.F. (1994) Large african herbivores, bruchid beetles and their interactions with acacia

seeds. Oecologia 97:265-270.

MILLER, F.M. 1996. Acacia seed predation by bruchids in an African savanna ecosystem. Journal

of Applied Ecology 33:1137-1144.

MITCHELL, R. 1977. Bruchid beetles and seed packaging by palo verde. Ecology 58:644-651.

MURDOCH, W. W., LUCK, R. F., WALDE, S., REEVE, J. D. & YU, D. S. 1989. A refuge for red

scale under control by Aphytis: structural aspects. Ecology,70: 1707-1714.

NASCIMENTO, C. E. S., RODAL, M. J. N. & CAVALCANTI, A. C. 2003. Phytosociology of the

remaining xerophytic woodland associated to an environmental gradient at the banks of the

São Francisco river - Petrolina, Pernambuco, Brazil. Revista Brasileira de Botânica, 26: 271,

287.

PELLEW, R.A. & SOUTHGATE, B.J. 1984. The parasitism of Acacia tortilis seeds in the

Serengeti. African Journal of Ecology 22:73-75.

PIMENTEL, D. 1988. Herbivore population feeding pressure on plant hosts: feedback evolution

and host conservation. Oikos, 53: 289-302.

PRICE, P. W. 1997. Insect ecology. John Wiley & Sons, New York, NY.

RAJU, A.J.S. & RAO, S.P. 2002. Pollination ecology and fruiting behaviour in Acacia sinuata

(Lour.) Merr. (Mimosaceae), a valuable non-timber forest plant species. Current Science

82:1466-1471.

RESOLUÇÃO CONAMA Nº02/94. Disponível em www.mma.gov.br

ROININEM, H., PRICE, P.W. & TAHVANAINEN, J. 1996. Bottom-up and top-down influences

in the trophic system of a willow, a galling sawfly, parasitoids and inquilines. Oikos 77:44-50.

Page 30: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

ROMERO-NAPOLES, J. Bruchidae. 2002. In: Biodiversidad, taxonomía y biogeografía de

artrópodos de México: Hacia una síntesis de su conocimiento. (J. L. Bousquets & J. J.

Morrone, eds.).UNAM, Vol. III. 513-534.

SARI, L.T.; RIBEIRO-COSTA, C.S. & MEDEIROS, A.C.S. 2002. Insects associated with seeds of

Lonchocarpus muehlbergianus Hassl. (Fabaceae) in Tres Barras, Parana, Brazil. Neotropical

Entomology 31:483-486.

SCHELIN, M.,TIGABU,M.,ERIKSSON, I., SAWADOGO, L. & ODÉN, P.C. 2004. Predispersal

seed predation in Acacia macrostachya, its impact on seed viability, and germination

responses to sacarification and dry heat treatmens. New Forest 27:251-267.

SCHMALE, I., WÄCHERS, F.L., CARDONA, C. & DORN, S. 2002. Field infestation of

Phaseolus vulgaris by Acanthoscelides obtectus (Coleoptera: Bruchidae), parasitoitoid

abundance, and consequences for storage pest control. Environmental Entomology 31:859-

863.

SEIJO, J.G. & NEFFA, V.G.S. 2004. The cytological origin of the polyads and their significance in

the reproductive biology of Mimosa bimucronata. Botanical Journal of the Linnean Society

144:343-349.

SIEMENS, D.H., JOHNSON, C.D. & RIBARDO, K. 1992. Alternative seed defense mechanisms

in congeneric plants. Ecology 73:2152-2166.

SIEMENS, D. H., RALSTON, B. E. & JOHNSON, C. D. 1994. Alternative seed defense

mechanisms in a palo verde (Fabaceae) hybrid zone: effects on bruchid beetle abundance.

Ecological Entomology 19:381-390.

SIH, A., CROWLEY, P., MCPEEK, M., PETRANKA, J. & STROHMEIER, K. 1985. Predation,

competition, and prey communities - a review of field experiments. Annual Review of Ecology

and Systematics, 16: 269-311.

SILVERTOWN, J. W. & CHARLESWORTH, D. 2001. Introduction to plant population biology.

Blackwell Science, Oxford, Uk.

SORNSATHAPORNKUL, P. & OWENS, J.N. 1998. Pollination biology in a tropical Acacia

hybrid (A. mangium Willd. X A. auriculiformis A. Cunn. Ex Benth.). Annals of Botany

81:631-645.

SOUTHGATE, B.J. 1979. Biology of the Bruchidae. Annual Review of Entomology 24:449-473.

STAMOPOULOS, D. C. 1989. Effects of photoperiod on the biology of Acanthoscelides obtectus

Say. Journal of Applied Entomology 107:150-154.

STILING, P. D. 1999. Ecology: theories and applications. Prentice Hall, New Jersey, NJ.

STILING, P & ROSSI, A.M. 1997. Experimental manipulations of top-down and bottom-up factors

in a tri-trophic system. Ecology 78:1602-1606.

Page 31: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

STONE, G.N., RAINE, N.E., PRESCOTT, M. & WILLMER, P.W. 2003.Pollination ecology of

acacias (Fabaceae, Mimosoideae) Australian Systematic Botany 16:103-118.

SZENTESI, A. & JERMY, T. 1995. Predispersal seed predation in leguminous species: seed

morphology and bruchid distribution. Oikos 73:23-32.

TANDON, R.., SHIVANNA, K.R. & RAM, H.Y.M. 2001. Pollination biology and breeding system

of Acacia senegal. Botanical Journal of the Linnean Society 135:251-262.

TRAVESET, A. 1991. Pre-dispersal seed predation in Central American Acacia farnesiana: factors

affecting the abundance of co-ocurring bruchid beetles. Oecologia 87:570-576.

TURCHIN, P. 1990. Rarity of density dependence or population regulation with lags? Nature, 344:

660-663.

TURCHIN, P., TAYLOR, A.D. & REEVE, J.D. 1999. Dynamical role of predators in population

cycles of a forest insect: an experimental test. Science 285:1068-1071.

TURLINGS, T.C.J & BENREY, B. 1998. Effects of plant metabolites on the behavior and

development of parasitic wasps. Ecoscience 5:321-333.

TYBIRK, K. 1993. Pollination, breeding system and seed abortion in some African acacias.

Botanical Journal of the Linnean Society 112:107-137.

TYBIRK, K. 1997. Reproductive biology and evolution of the genus Acacia. Bulletin of the

International Group for the Study of Mimosoideae. p. 45-53.

VAN CAMPO, M. & GUINET, P. 1961. Les pollen composés: l'exemple dês Mimosacées. Pollen

et Spores 3:201-218.

VOGEL, S., LOPES, A. V. & MACHADO, I. C. 2005. Bat pollination in the NE Brazilian endemic

Mimosa lewisii: an unusual case and first report for the genus. Taxon 54: 693-700.

WILSON, C.G. & FLANAGAN, G.J. 1991. Establishment of Acanthoscelides quadridentatus

(Schaeffer) and A. puniceus Johnson (Coleoptera: Bruchidae) on Mimosa pigra in Northern

Australia. Journal of Australian Entomogical Society 30:279-280.

WILSON, K. 1988. Egg laying decisions by the bean weevil Callosobruchus maculatus. Ecological

Entomology 13:107-118.

WISE, M. J. & SACCHI, C. F. 1996. Impact of two specialist insect herbivores on reproduction of

horse nettle Solanum carolinense. Oecologia, 108: 328-337.

ZHANG, J., DRUMMOND, F.A., LIEBMAN, M. & HARTKE, A. 1997. Insect predation on seeds

and plant population dynamics. Technical Bulletin 163. Maine Agricultural and Forest

Experiment Station, University of Maine.

Page 32: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Biologia Floral de Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze (Fabaceae: Mimosoideae)

ABSTRACT - [Floral biology of Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze) (Fabaceae: Mimosoideae].

The present work was developed in two municipalities, Botucatu and Cachoeira Paulista, São Paulo

State, southeastern Brazil, between November 2003 and June 2005. The number of flowers per

flower head, flower duration, anthesis events and other floral characteristics such as sex

distribution, flower size, color, scent, nectar and osmophores location were studied. The stigma

receptivity and pollen viability were evaluated. The flowers were observed and documented in a

scanning electron microscope, after receiving a proper treatment. Fruit grow was monitored and

tests were performed to evaluate the reproductive system. Floral visitors were observed directly in

the field and their frequency, duration of visits and behavior in the flowers was registered. M.

bimucronata showed an annual flowering pattern. The pollen grains are united in polyades with

eight cells, which are interpreted as an adaptation to minimize mixed pollen grain loads on the

stigma. Fruit set was low in natural conditions and there was no occurrence of agamospermy. The

flower and inflorescence morphology allow access to several kinds of visitors. Members of

Hymenoptera, Diptera and Coleoptera were observed visiting the flower heads. The visits were

performed mostly by bees (56,4%). M. bimucronata can be described as xenogamous, generalist

entomophilous and therefor very well adapted to ruderal environments were its presence is

prevalent.

Key words: pollination, polyads, reproductive system.

RESUMO - [Biologia floral de Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze (Fabaceae: Mimosoideae)]. O

presente estudo foi realizado em dois municípios, Botucatu e Cachoeira Paulista, estado de São

Paulo, no período de novembro de 2003 a março de 2005. Determinou-se o número de flores por

glomérulo, a duração das flores, os eventos da antese e outras características florais como

Page 33: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

distribuição do sexo, tamanho, formato, coloração, odor, presença de néctar e localização de

osmóforos. A receptividade do estigma e viabilidade do pólen foram avaliadas. Flores foram

examinadas e documentadas em microscópio eletrônico de varredura, após tratamento adequado.

Acompanhou-se o crescimento dos frutos e foram feitos testes para a determinação do sistema

reprodutivo. A presença de visitantes florais foi observada no campo e registraram-se a quantidade

de visitas e o comportamento dos visitantes, além do tempo médio de permanência dos visitantes

junto às flores. O padrão de floração de M. bimucronata é anual. Os grãos de pólen encontram-se

reunidos em políades compostas por oito células, o que pode ser interpretado como uma adaptação

para minimizar o efeito da mistura das cargas de pólen depositadas sobre o estigma. A formação de

frutos em condições naturais foi baixa e não ocorreu agamospermia. A morfologia das flores e das

inflorescências permite o acesso aos recursos florais a uma ampla variedade de visitantes, tendo

sido observadas visitas de insetos das ordens Hymenoptera, Diptera e Coleoptera. A maioria das

visitas foi realizada por abelhas (56,4%). Os resultados obtidos permitem caracterizar M.

bimucronata, como planta xenógama, entomófila generalista e, portanto, bastante adaptada aos

ambientes ruderais onde sua ocorrência é predominante

Palavras chave: políades, polinização, sistema reprodutivo.

Page 34: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Introdução

Dentre as leguminosas ocorrentes em formações vegetais no Brasil, Mimosa bimucronata

(DC.) Kuntze (Fabaceae:Mimosoideae) é citada como espécie com alto valor sociológico em

remanescentes de florestas ripárias no estado de São Paulo (Bernaci et al., 1998) e em áreas de

caatinga à margens do Rio São Francisco, no estado de Pernambuco (Nascimento et al., 2003). Ë

considerada espécie típica da Mata Atlântica, com ampla distribuição nesse bioma, sendo largamente

cultivada na região Sudeste do Brasil para formação de cercas vivas defensivas, devido à abundância

de espinhos em seus ramos (Lorenzi, 2000).

Sendo espécie pioneira, M. bimucronata apresenta grande importância na recuperação de áreas

degradadas, nas quais é indicadora do estágio inicial de regeneração (Resolução Conama Nº02/94).

Faz-se referência também à sua utilização como planta medicinal, sendo a infusão dos brotos eficaz

no combate à asma pura, à bronquite asmática e às febres intermitentes (Burkart, 1979). Além desses

aspectos, o valor de M. bimucronata como fonte de recursos para abelhas-de-mel (Apis mellifera) foi

ressaltado por Barth & Luz (1998). Entretanto, até o presente não há informações relativas à

polinização de M. bimucronata.

A necessidade de incrementar os estudos sobre a biologia da polinização de plantas nativas de

ambientes tropicais foi apontada por Nogueira-Neto (2002). Tais estudos são de grande importância

para o desenvolvimento de programas de conservação e manejo de polinizadores nativos,

necessitando-se para tanto conhecer as preferências alimentares e o modo como as espécies utilizam

os recursos disponíveis (Aguiar, 2003).

Dentro deste contexto, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de contribuir para

o conhecimento da fenologia, morfologia e biologia floral de Mimosa bimucronata.

Page 35: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Material e Métodos

O estudo foi realizado em dois municípios, Botucatu (48o26’37” W e 22o52’22” S) e

Cachoeira Paulista (45º00’33” W e 22º39’44” S), estado de São Paulo, no período de dezembro de

2004 a março de 2005. Em ambos os municípios, foram realizadas observações em indivíduos adultos

de Mimosa bimucronata ocorrentes em áreas de fragmentos de vegetação nativa. Espécimes

testemunho foram depositados no Herbário do Instituto de Biociências de Botucatu (BOTU) da

Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, SP.

Em Botucatu as plantas observadas encontravam-se às margens de um pequeno córrego e em

áreas de fragmentos de floresta estacional semidecidual, no Jardim Botânico do Instituto de

Biociências da UNESP, ambos localizados no Distrito de Rubião Júnior. O solo da área do córrego é

do tipo Aluvial Hidromórfico enquanto das demais áreas do Jardim Botânico é classificado como

Latossolo Vermelho-Amarelo, Textura Arenosa (Comissão de Solos, 1960). O clima é do tipo Cwb

de Koeppen, mesotérmico de inverno seco (Carvalho et al., 1983). Em Cachoeira Paulista foram

observadas plantas localizadas em Área de Proteção Ambiental (APA) às margens do Rio Paraíba do

Sul, bairro Margem Esquerda, próximo à Rua Rio Grande do Sul e também em indivíduos ocorrentes

em área descampada adjacente à APA. O solo dessas áreas é do tipo Aluvial Hidromórfico (Comissão

de Solos, 1960). O clima é do tipo Cwa de Koeppen, tropical de inverno seco

(www.embras.net/pmcachoeirapaulista).

A fenologia reprodutiva da população de Botucatu teve avaliação quinzenal no período de

novembro de 2003 a junho de 2005, realizando-se o acompanhamento das fenofases conforme

proposto por Fournier (1974), sendo estimadas as quantidades relativas de botões, flores, frutos

imaturos e frutos maduros por planta, por meio de avaliação não destrutiva (estimativa visual), em

onze indivíduos.

Mimosa bimucronata apresenta flores pequenas reunidas em glomérulos esféricos que, por sua

vez, reúnem-se em grandes panículas. Para determinação do número de flores por glomérulos foram

Page 36: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

coletados dez deles na fase de botão pré-antese em quatro indivíduos. Outros dezenove botões em pré-

antese de diferentes glomérulos e indivíduos foram dissecados sob lupa a fim de se determinar o sexo

das flores. Realizou-se a contagem do número de flores por panícula em oito indivíduos, sendo feita a

coleta de uma panícula por indivíduo. Características florais tais como tamanho, formato, coloração,

odor e presença de néctar foram avaliadas em dez flores. Para detecção de osmóforos flores recém

abertas foram imersas em solução de vermelho neutro (1%) por cerca de 30 minutos (Dafni, 1992). A

receptividade do estigma foi avaliada com peróxido de oxigênio (3%) e observada com auxílio de

microscópio (Dafni, 1992). A viabilidade do pólen foi estimada a partir de contagens dos grãos de

pólen viáveis presentes em dez botões em estágio de pré-antese, corados com carmim acético

(Radford et al., 1974), coletados em cinco indivíduos. Trinta glomérulos com botões em fase de pré-

antese foram marcados e acompanhados diariamente para determinação da duração das flores e para a

caracterização os eventos da antese. Flores foram também fixadas em glutaraldeído (2,5 % em tampão

fosfato 0,1M pH 7,3 por 1 hora), desidratadas em série crescente de soluções de álcool, secas até o

ponto crítico, montadas em suporte de alumínio, metalizadas com ouro, examinadas e documentadas

em microscópio eletrônico de varredura (MEV) Philips 515, a 20 kV. O crescimento dos frutos foi

acompanhado por cinco semanas marcando-se dez frutos no início do desenvolvimento, e medindo-se

seu comprimento, até a estabilização do seu tamanho.

A presença de visitantes florais foi observada diretamente no campo por 18 dias não

consecutivos, em seis indivíduos, no período das 05:00 às 17:30 h. Registraram-se a quantidade de

visitas e o comportamento dos visitantes que foram coletados e montados a seco para posterior

identificação. Para as espécies mais freqüentes foi cronometrado o tempo médio de permanência dos

visitantes junto às flores em cada visita. Algumas das visitas foram registradas por meio de

fotografias. Todas as observações e determinações anteriormente descritas foram efetuadas em

Botucatu. Observações adicionais referentes ao comportamento dos visitantes florais mais freqüentes

foram também realizadas em Cachoeira Paulista.

Page 37: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Glomérulos isolados foram considerados as unidades reprodutivas, pois, devido às pequenas

dimensões das flores, sua manipulação se tornava bastante difícil. Para o estudo do sistema

reprodutivo, desenvolvido em Cachoeira Paulista, botões em pré-antese foram isolados em sacos de

tecido (organza) realizando-se os seguintes testes: a) autopolinização espontânea, que consistiu em

ensacar botões pré-antese intactos para posterior verificação do sucesso na formação de frutos; b)

agamospermia, que consistiu em emascular botões em pré-antese e posteriormente ensacá-los,

avaliando-se, posteriormente a produção de frutos. A avaliação da eficiência da polinização natural

(controle) foi feita marcando-se glomérulos com botões em pré-antese que foram mantidos expostos,

verificando-se posteriormente o número de frutos formados.

Resultados e Discussão

O aspecto geral das populações de Mimosa bimucronata estudadas pode ser visualizado na

Figura 1. O padrão de floração e frutificação da espécie é anual (senso Newstrom & Frankie, 1994). O

período de floração estende-se de setembro a abril, com pico de floração de novembro a início de

março. Frutos imaturos estão presentes a partir de dezembro e os primeiros frutos maduros surgem a

partir de janeiro (Figura 2). Os frutos demoram cerca de 60 dias para amadurecer; porém, observou-se

maior taxa de crescimento nas duas primeiras semanas, quando a maioria dos frutos atingiu seu

tamanho final (Figura 3). Frutos maduros permaneceram presos à planta mãe por vários meses.

Mimosa bimucronata possui amplas inflorescências de cor branca que se destacam na

folhagem (Figura 4A), com cerca de 15-40 cm de comprimento (Figura 4B). Em cada inflorescência

as flores se reúnem em glomérulos esféricos (Figuras 4C e 4D) dispostos em amplas panículas (Figura

4B), que contêm de 60 a 150 glomérulos. O número médio de flores por glomérulo (n=10) foi de 41,3

± 8,65. As flores são actinomorfas, diplostêmones, unicarpelares e hipóginas (Figura 4E). O cálice é

gamossépalo, de cor branca tendo as sépalas 0,49 ± 0,20 mm de comprimento. A corola tubulosa é

gamopétala, com quatro lobos de coloração branca, cada um com uma pequena mancha esverdeada

Page 38: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

no ápice. As pétalas têm 2,41 ± 0,23 mm de comprimento e 0,85 ± 0,14 mm de largura. O pistilo

possui 9,0 ± 0,47 mm de comprimento enquanto o ovário, 1,0 mm. O estilete é terminal e delgado,

sendo o estigma côncavo e inconspícuo (Figura 5A). O número de óvulos variou de 5 a 9, sendo mais

freqüente a ocorrência de 6 óvulos (n=15).Os estames são brancos, heterodínamos, variando de 7 a 10

mm. As anteras bitecas apresentam deiscência longitudinal e são dorsifixas. Os grãos de pólen

encontram-se reunidos em políades compostas por oito grãos de pólen (Figura 5 D e 5 E), sendo então

denominadas bitétrades, cuja viabilidade média foi de 96,7%, variando de 93,3 a 100%. Acredita-se

que as políades confiram uma vantagem seletiva para a reprodução, pois se apenas uma delas alcançar

a superfície estigmática, todos os óvulos dentro do ovário podem ser fertilizados; o arranjo do pólen

em políades foi relatado em cerca de 15% das famílias de Angiospermas (Kenrick & Knox, 1982),

sendo bastante freqüente entre as Mimosoideae (Seijo & Neffa, 2004).

As dimensões internas do estigma permitem que apenas uma bitétrade seja nele depositada

(Figura 5B e 5C), o que levaria a uma produção de no máximo oito sementes por fruto, o que de fato

se observou na grande maioria dos frutos. Entretanto, após o exame de 314 frutos, foram encontrados

quatro contendo nove sementes e um fruto contendo dez, o que levanta a hipótese de que,

eventualmente possa ocorrer a deposição e germinação de mais de uma bitétrade sobre o estigma.

Seijo & Neffa (2004) observaram a ocorrência ocasional de mais de uma bitétrade aderida ao pistilo

de M. bimucronata, porém nunca dentro da cavidade estigmática. A ocorrência de alguns frutos com

mais de oito sementes leva à suposição de que a germinação de mais de uma bitétrade possa ocorrer

eventualmente.

De acordo com Seijo & Neffa (2004) M. bimucronata possui cerca de 2.000 bitétrades por

antera, resultando em uma razão pólen/óvulo (P/O) de 16.000, compatível com o esperado para

plantas xenógamas (Cruden, 1977). No entanto, outras espécies de Mimosoideae e Asclepiadaceae

que possuem políades ou políneas, respectivamente, apresentam razão P/O bastante baixa, o que seria

indicio da ocorrência de maior eficiência no sistema de polinização dessas espécies (Cruden, 1977;

Kenrick & Knox, 1982). A aparente contradição entre essas duas características, ocorrentes em

Page 39: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Mimosa bimucronata, sugere que a presença de grãos de pólen compostos, nesta espécie, não seria

apenas uma adaptação para maior eficiência na dispersão do pólen por insetos, mas sim uma

adaptação que minimizaria o efeito da mistura das cargas de pólen depositadas sobre o estigma (Seijo

& Neffa, 2004).

Considerando o número de grãos de pólen em uma políade e o número de óvulos por carpelo,

os resultados mostram uma estreita relação entre os números de gametófitos masculino e feminino

envolvidos no processo de fertilização de M. bimucronata. Esta característica estabiliza a razão P/O

em 1/1, o que permite que todos os óvulos de um pistilo sejam fecundados após um único evento de

polinização cruzada (Seijo & Neffa, 2004).

Para a maioria dos botões a antese tem início entre 03:00 e 04:00 horas. No glomérulo, os

botões têm horários de abertura variados, não sendo a antese sincrônica nem dentro nem entre

glomérulos. O pólen já se encontra exposto em botões pré-antese. Inicialmente os estames emergem

dobrados do pequeno tubo floral, distendendo-se lentamente. Em seguida inicia-se a distensão dos

estiletes. Os estames se distendem completamente cerca de 1 hora após o início da antese, em cada

glomérulo. Essa seqüência também é observada na maioria das espécies do gênero Acacia cuja antese

envolve extensão dos estames e liberação de pólen, seguido pelo posterior alongamento dos estiletes;

nessas espécies, inicialmente os estigmas estão encobertos pela massa de estames, sugerindo que

possam ser efetivamente protândricas (Stone et al, 1998). As flores recém abertas exalam leve odor

frutado, semelhante ao de pêssego maduro, a partir de osmóforos que se localizam nas bordas da

corola, conforme detectado no teste com vermelho neutro.

Em Mimosa bimucronata o pólen já está exposto no momento da antese e o estigma encontra-

se receptivo, não havendo, portanto, dicogamia. Às 5:00 h todos os glomérulos apresentam a maior

parte das flores abertas, com algumas delas ainda exibindo estames e estigmas não totalmente

alongados. Não são todos os botões que se abrem dentro de um glomérulo. Alguns se abrem nos dias

seguintes ou são abortados. De acordo com Stone et al (1998), a falta de sincronia dentro de um

glomérulo e dentro de árvores na população teria efeito sobre os visitantes florais, já que a coleta de

Page 40: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

grande volume de pólen em uma única espécie assincrônica seria mais custosa para grandes abelhas.

Ao contrário, a dissincronia nesses dois níveis favoreceria o forrageamento por pequenas abelhas,

para as quais uma única flor já seria um recurso significativo. As flores de M. bimucronata

permanecem funcionais apenas no primeiro dia. Entretanto, permanecem no glomérulo por seis a oito

dias, tendo sido fertilizadas ou não. Os eventos ocorrentes nesse período encontram-se descritos na

Tabela1. A retenção de flores após mudanças na coloração e na receptividade é interpretada como

uma adaptação para o aumento da atratividade floral a longas distâncias, aumentando a freqüência de

visitas dos polinizadores (Gori, 1983, 1989; Weiss, 1991).

Não houve produção de frutos a partir de flores emasculadas, indicando a não ocorrência de

agamospermia. Houve formação de apenas três frutos após experimento de autopolinização

espontânea em 780 glomérulos (Tabela 2), indicando pouca eficiência deste tipo de polinização ou

mesmo uma possível contaminação com pólen de outra planta, a despeito de todo cuidado empregado.

A formação de frutos em condições naturais foi baixa. Mesmo nos glomérulos com maior número de

flores houve baixa produção de frutos, o que é muito comum em Mimosaceae (Baranelli et al, 1995).

Seijo & Neffa (2004) igualmente observaram este resultado em populações naturais de M.

bimucronata na Argentina, relacionando-o ao caráter xenógamo da espécie, associado à ocorrência de

baixa eficiência na polinização. Para espécies de Acacia foi sugerida a ocorrência de favorecimento de

uma ou poucas flores sobre outras na mesma inflorescência através de algum mecanismo regulador

(Baranelli et al., 1995) De acordo com os autores, um evento de polinização incompatível levaria à

eliminação da flor. Como há uma marcante adaptação entre a políade e o estigma, de forma que

somente uma políade pode se alojar em cada estigma e, devido à proporção 1/1 entre número de grãos

de pólen por políade e o número de óvulos por ovário, o gineceu poderia ser entendido como um

módulo reprodutivo no qual todos ou nenhum dos óvulos desenvolveriam sementes. Assim, os

numerosos gineceus de cada glomérulo agiriam em cooperação como o pistilo de uma única flor

(Baranelli et al, 1995).

Page 41: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Seijo & Neffa (2004) estudaram a origem e o papel das políades na biologia reprodutiva de

Mimosa bimucronata. A análise de eficiência da polinização revelou que apenas 33% das flores

possuíam uma políade corretamente localizada no estigma, o que seria uma das razões para a baixa

taxa de formação de frutos. Outra hipótese mencionada pelos autores seria o aborto de sementes auto-

polinizadas. Adicionalmente, Baranelli et al (1995) propõe um mecanismo regulador pós-polinização

que favoreceria a predominância de uma ou poucas flores legitimamente polinizadas sobre outras na

mesma inflorescência, para Acacia caven. Essa hipótese também pode ser válida para M.

bimucronata.

As inflorescências de M. bimucronata são do tipo escova ("brush-blosson" senso Faegri & van

der Pijl, 1979), nas quais os estames sobrepujam os demais órgãos florais em aparência, sendo esta

característica bastante freqüente entre as Mimosoideae (Endress, 1994). Nas flores do tipo escova, a

atração visual dos polinizadores é difusa e a deposição do pólen ocorre no abdome ou na cabeça dos

visitantes (Faegri & van der Pijl, 1979). Desta forma, a disposição das flores em M. bimucronata

permite o acesso aos recursos florais a uma ampla variedade de visitantes, o que caracteriza uma

estratégia generalista para a polinização. De fato, foram observadas visitas de insetos das ordens

Hymenoptera, Diptera e Coleoptera (Tabela 3). A ordem Hymenoptera foi responsável por 80,4% das

visitas, enquanto que Diptera, 19,6%. A maioria das visitas foi realizada por abelhas (56,4%), sendo

que Apis mellifera representou 85,4% do total dessas visitas. Espécies do gênero Apis foram relatadas

como importantes polinizadores do gênero Acacia, tanto em locais onde são nativas (África, sudeste

da Ásia) como em locais onde foram introduzidas (Américas e Austrália) (Stone et al., 2003).

As flores de M. bimucronata fornecem apenas pólen como recurso aos visitantes. As abelhas

foram os únicos visitantes florais a coletar ativamente grandes quantidades de pólen, em contraste

com os outros visitantes cuja coleta de pólen foi menos intensa ou mesmo acidental. Para maior parte

dos visitantes, o pólen era depositado predominantemente na região ventral do corpo, resultando na

ocorrência de polinização esternotríbica (Endress, 1994). Resultados semelhantes foram constatados

em diversas espécies de Acacia (Stone et al, 2003). Assim, as abelhas constituem talvez o mais

Page 42: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

importante grupo de polinizadores tanto para os gêneros Acacia e Mimosa quanto para um grande

número de espécies vegetais (Bawa, 1990).

No período da manhã observou-se a maior freqüência de visitantes (Figura 6). A primeira

visita às flores de M. bimucronata ocorreu pouco antes das 6:00 horas, tendo sido efetuada por A.

mellifera (Figura 7). O maior número de visitas foi observado entre 6:00 e 7:00 horas, sendo que A.

mellifera representou 92,8% das visitas nessa faixa de horário. Esta abelha foi o primeiro visitante a

ser observado e muitos indivíduos continuam em forrageamento até às 11:00 h aproximadamente.

Após esse horário, sua freqüência diminui bastante, sendo observadas somente até às 13:00 h.

Indivíduos desta espécie visitaram de 1 a 142 glomérulos na mesma árvore, podendo permanecer na

copa por até 15 minutos. Em cada glomérulo podem ficar de 1 a 25 segundos, sendo mais freqüente

demorarem-se menos de 10 segundos no glomérulo. Estas abelhas podem retornar a glomérulos

anteriormente visitados. Algumas vezes, pairavam em frente a várias flores recém-abertas, mas não as

visitam.

Bombus (cf.) morio visitaram as flores nos mesmos horários observados para A. mellifera,

porém com menor freqüência. Suas visitas eram muito rápidas, variando de 1 a 5 segundos num

mesmo glomérulo. Devido ao peso dessas abelhas e à fragilidade dos pedicelos dos glomérulos estas

abelhas não conseguiam permanecer muito tempo coletando pólen de um mesmo glomérulo, já que

este se recurvava. Essa dificuldade também foi observada com abelhas visitantes de uma série de

acácias (Heinrich & Heinrich, 1983 apud Stone et al, 2003). Os autores sugerem que inflorescências

com poucas flores não estão aptas a suportar o peso de uma grande abelha em sua superfície e tendem

a colapsar, tornando o forrageio mais difícil. Além disso, grandes abelhas precisam visitar grande

número de glomérulos para garantir uma carga razoável de pólen. O vôo entre inflorescências é, com

certeza, energeticamente mais custoso do que a coleta em uma única inflorescência. Assim, as

pequenas abelhas teriam vantagem na coleta de pólen dessas espécies (Heinrich & Heinrich, 1983

apud Stone et al, 2003). O número de glomérulos visitados por Bombus variou de 1 a 119 no mesmo

indivíduo, sendo que uma abelha chegou a ficar sete minutos em uma mesma árvore. Entretanto, nem

Page 43: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

todas as visitas resultavam em coleta de pólen, pois quando a abelha não realizava um pouso

adequado, ela se dirigia a outro glomérulo onde, eventualmente, conseguia realizar a coleta. Por outro

lado observou-se que em algumas plantas com flores recém-abertas não ocorriam visitas desta abelha

embora estivessem voando nas proximidades, possivelmente visitando outras plantas em floração.

Bombus são condicionadas rapidamente e procuram por flores com características que elas associam

com recompensas de alimento mais atrativas (Heinrich, 1975). Inicialmente, podem visitar numerosas

espécies de plantas, mas eventualmente restringem seu forrageio àquelas que oferecem maior

quantidade de alimento. (Heinrich, 1975). Esse comportamento justificaria a não ocorrência de visitas

de Bombus às plantas de Mimosa em alguns dias, mesmo havendo grande quantidade de recurso

disponível, no caso, o pólen. A dieta dessas abelhas está freqüentemente baseada em espécies de

leguminosas havendo, entretanto, outras famílias botânicas igualmente importantes para sua nutrição,

tais como Asteraceae, Melastomataceae, Verbenaceae e Solanaceae (Cortopassi-Laurino et al., 2003).

Algumas abelhas de pequeno porte, do gênero Exomalopsis, e outras, provavelmente Ceratina

e Halictidae, bem menores que A. mellifera, visitaram as flores, coletando pólen diretamente de

anteras individuais, sendo pouco provável seu desempenho na polinização.

Algumas moscas foram também observadas no período da manhã (Figuras 6 e 7), sendo que

após as 14:00 horas não foi registrada nenhuma visita desse grupo. Visitavam de um a nove

glomérulos, sendo mais comum visitarem apenas um ou dois. Seu tempo de permanência no

glomérulo variou de 11 segundos a um minuto, caracterizando visitas mais lentas. Deslocavam-se

pelo glomérulo coletando pólen e eventualmente realizando a polinização.

Vespas foram observadas por volta das 7:00 h e continuaram a visitar as inflorescências até

cerca de 17:00 h. Vespas foram os únicos insetos que visitaram flores já senescentes, provavelmente à

procura de larvas ou de uma possível secreção proveniente dos tricomas presentes em ovários em

desenvolvimento. Bernhardt (1987), em um estudo com oito espécies de Acacia australianas, não

classificou as vespas como polinizadores efetivos devido à baixa freqüência de visitas e ao seu breve

tempo de forrageamento. No presente trabalho, as vespas igualmente não se mostraram polinizadores

Page 44: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

eficientes devido à preferência por flores senescentes. Embora tenha havido visitas a flores recém-

abertas, a freqüência foi muito baixa. Outra possibilidade para a presença de vespas é o engano em

relação à espécie vegetal. Estudos de polinização de acácias não revelaram diferenças na diversidade

de insetos visitando espécies com e sem néctar, que possuem flores muito similares (Tybirk, 1997).

Muitas borboletas e vespas carnívoras, conhecidas por se alimentarem também de néctar, comumente

visitaram Acacia tortilis que não possui nectário. De acordo com o autor, esse fato só poderia ser

interpretado como engano (Tybirk 1993, 1997).

Foram observadas poucas visitas de Coleoptera, que eram caracterizadas pelo consumo de

partes florais. Os besouros permaneciam muito tempo em um único glomérulo e nos circunvizinhos,

dificilmente contribuindo para a polinização dessa espécie. Bernhardt (1989) apud Tandon et al.

(2001), em um estudo sobre polinização de acácias australianas, também não considerou besouros

como polinizadores efetivos devido à baixa freqüência de suas visitas, à baixa fidelidade e à atividade

destrutiva desse grupo junto às flores. A presença de alguns visitantes florais foi registrada e pode ser

visualizada na Figura 8.

Desta forma, pode-se considerar que, nas áreas de estudo, abelhas Apis mellifera e Bombus

(cf.) morio são os polinizadores efetivos de Mimosa bimucronata devido à sua freqüência e

comportamento, sendo os demais visitantes polinizadores eventuais. Como se constatou maior

freqüência de A. mellifera, que é espécie introduzida, surgem questionamentos sobre o papel desta

abelha no deslocamento dos polinizadores nativos da planta. Para elucidar este aspecto serão

necessários estudos adicionais.

Os resultados obtidos permitem caracterizar Mimosa bimucronata, quanto à reprodução, como

planta xenógama, entomófila generalista e, portanto, bastante adaptada aos ambientes ruderais onde

sua ocorrência é predominante. Pode-se destacar também seu importante papel como espécie capaz de

fornecer recursos para diversas espécies de insetos, especialmente, Apis mellifera.

Page 45: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Referências Bibliográficas

AGUIAR, C.M.L. 2003. Utilização de recursos florais por abelhas (Hymenoptera, Apodeaae) em

uma área de Caatinga (Itaitim, Bahia, Brasil). Revista Brasileira de Zoologia 20:457-467.

BARANELLI, J.L., COCUCCI, A.A. & ANTON, A.M. 1995. Reproductive biology in Acacia

caven (Mol.) Mol. (Leguminosae) in the central region of Argentina. Botanical Journal of the

Linnean Society 119:65-76.

BARTH, O. M. & LUZ, C. F. P. 1998.Mellissopalynological data obtained from a mangrove area

near to Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Apicultural Research, 37: 155-163.

BAWA, K.S. 1990. Plant-pollinator interactions in tropical rain forests. Annual Review of Ecology

Systematic 21:399-422.

BERNACI, L. C., GOLDENBERG, R. & METZGER, J. P. 1998. Estrutura florística de quinze

fragmentos florestais ripários na Bacia do Jacaré-Pepira (SP). Naturalia, 23: 23-54.

BERNHARDT, P. 1987. A comparison of the diversity, density, and foraging behavior of bees and

wasps on australian Acacia. Annals of the Missouri Botanical Garden 74:42-50.

BERNHARDT, P. 1989. The The floral ecology of Australian Acacia. In: STIRTON, C. H &

ZARUCCHI, J. L. (eds.). Advances in legume biology. Monographs in systematic botany. 29.

The Missouri Botanical Garden, Saint Louis. p. 263-282.

BURKART, A. 1979. Leguminosas. Mimosoideas. In Flora Ilustrada Catarinense (P.R.REITZ, ed.)

p. 154-158.

CARVALHO, W.A., ESPÍNDOLA, C.R. & PACCOLA, A.A. 1983. Levantamento de solos da

fazenda Lageado estação experimental “Presidente Médici”. FCA/Unesp, Botucatu, SP.

COMISSÃO DE SOLOS. 1960. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado de São

Paulo. Ministério da Agricultura (CNEPA/SNPA). Rio de Janeiro, RJ.

CORTOPASSI-LAURINO, M., KNOLL, F. R. N. & IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. 2003. Nicho

trófico e abundância de Bombus morio e Bombus atratus em diferentes biomas brasileiros. In:

MELO, G. A. R. & ALVES-DOS-SANTOS, I. Apoidea Neotropica: homenagem aos 90 anos

de Jesus Santiago Moure. Editora UNESC, Criciúma.

CRONQUIST, A. 1981. An integrated system of classification of flowering plants. Columbia

University Press, New York.

CRUDEN, R. W. 1977. Pollen-ovule ratios: a conservative indication of breeding systems in

flowering plants. Evolution 31: 32-46.

DAFNI, A. 1992. Pollination ecology: a practical approach. Oxford University Press, New York.

ELIAS, T.S. Mimosoideae. In: Polhill, R.M. & Raven, P.H. Advances in Legume Systematics. Part 1. Kew: Royal Botanic Gardens. p. 143-151.

Page 46: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

ENDRESS, P.K. 1994. Diversity and evolutionary biology of tropical flowers. Cambridge

University Press.

FAEGRI, K. & PIJL, L.van der. 1979. The principles of pollination ecology. 3rd. ed., Pergamon

Press,. London.

FOURNIER, L. A. 1974. Um método cuantitativo para la medición de características fenológicas en

árboles. Turrialba 24: 422-423.

GORI D. F. 1983. Post-pollination phenomena and adaptive floral changes. In C. E. Jones and R. J.

Little [eds.], Handbook of experimental pollination biology, 31–49. Van Nostrand Reinhold,

New York, New York.

GORI D. F. 1989. Floral color change in Lupinus argenteus (Fabaceae): why should plants

advertise the location of unrewarding flowers to pollinators? Evolution 43: 870-881

HEINRICH, B. 1975. Bee flowers: a hypothesis on flower variety and blooming times. Evolution

29:325-334.

HEINRICH, B. & HEINRICH, M. J. E. 1983. Heterothermia in foraging workers and drones of the

bumblebee Bombus terricola. Physiological Zoology 56: 563-567.

KENRICK, J. & KNOX, R.B. 1982. Function of the polyad in reproduction of Acacia. Annals of

Botany 50:721-727.

LORENZI, H. 2000. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. 3a ed.

Instituto Plantarum, Nova Odessa.

NASCIMENTO, C. E. S., RODAL, M. J. N. & CAVALCANTI, A. C. 2003. Phytosociology of the

remaining xerophytic woodland associated to an environmental gradient at the banks of the

São Francisco river - Petrolina, Pernambuco, Brazil. Revista Brasileira de Botânica, 26: 271,

287.

NEWSTROM, L. E.; FRANKIE, G. W. A new classification for plant phenology based on

flowering patterns in lowland tropical rain forest trees at La Selva, Costa Rica. Biotropica, v.

26, 141-159, 1994.

NOGUEIRA-NETO, P. 2002. Management of plants to maintain and study pollinating bee species

and also protect vertebrate frugivorous fauna. In: KEVAN. P. G. & IMPERATRIZ-

FONSECA, V. Pollinating bees: the conservation link between agriculture and nature.

Ministry of Environment, Brasília.

RADFORD, A. E., DICKINSON, W. C., MASSEY, J. R. & BELL, C. R. Vascular plant

systematics. Harper & Row, New York.

SEIJO, J.G. & NEFFA, V.G.S. 2004. The cytological origino f the polyads and their significance in

the reproductive biology of Mimosa bimucronata. Botanical Journal of the Linnean Society

144:343-349.

Page 47: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

STONE, G.N., RAINE, N.E., PRESCOTT, M. & WILLMER, P.W. 2003.Pollination ecology of

acacias (Fabaceae, Mimosoideae) Australian Systematic Botany 16:103-118.

TANDON, R.., SHIVANNA, K.R. & RAM, H.Y.M. 2001. Pollination biology and breeding system

of Acacia senegal. Botanical Journal of the Linnean Society 135:251-262.

TYBIRK, K. 1993. Pollination, breeding system and seed abortion in some African acacias.

Botanical Journal of the Linnean Society 112:107-137.

TYBIRK, K. 1997. Reproductive biology and evolution of the genus Acacia. Bulletin of the

International Group for the Study of Mimosoideae. p. 45-53.

WEISS M. R. 1991 Floral color change as cues for pollinators. Nature 354: 227-229

Page 48: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Figura 1 - Populações de Mimosa bimucronata (setas). A: Município de Botucatu, às margens de um córrego no Distrito de Rubião Júnior. B: Município de Cachoeira Paulista, às margens do Rio Paraíba do Sul. Estado de São Paulo.

A

B

Page 49: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Figura 2 - Fenologia reprodutiva de Mimosa bimucronata em áreas ruderais em Botucatu-SP, em

porcentagem média do evento na população, no período de 2003 a 2005.

0

5

10

15

20

1 2 3 4 5

Semana

Comprimento (mm)

*

Figura 3 - Crescimento médio de frutos (n=10) de Mimosa bimucronata. Botucatu, SP.

010

2030

4050

60708090

100

20/11/03

20/12/03

20/01/04

20/02/04

20/03/04

20/04/04

20/05/04

20/06/04

20/07/04

20/08/04

20/09/04

20/10/04

20/11/04

20/12/04

20/01/05

20/02/05

20/03/05

20/04/05

20/05/05

20/06/05

Porcentagem

Botões Flores Frutos imaturos Frutos maduros

Page 50: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Figura 1 - Mimosa bimucronata. A: Planta em floração. B: Panícula com flores recém-abertas e flores murchas. C: Glomérulo com botões. D: Glomérulo com flores recém-abertas .E: Flor isolada; estilete (seta).

Figura 5 - Mimosa bimucronata ao MEV. A: Porção distal do estilete e estigma não

polinizado. B: Estigma polinizado contendo políade. C: Detalhe do estigma polinizado, com políade em vista equatorial. D: Políade em vista polar. E: Políade em vista equatorial. Barras = 5 µm.

A B

C D E

Page 51: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Figura 6 - Número médio de visitas observadas, por grupo de visitantes, nos diferentes horários, em

inflorescências de Mimosa bimucronata.

Apis mellifera

Bombus (cf.) morio

Outras abelhas

Vespas

Moscas

Horário 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00

Total de horas de observação/horário

1h45' 1h54' 2h40' 5h22' 7h36' 9h49' 6h22' 4h13' 3h23' 4h30' 5h25' 2h05' 1h05'

Figura 7 - Horários de ocorrência dos principais visitantes florais de Mimosa bimucronata e tempo total de

observação efetuado por faixa de horário.

05:00

06:00

07:00

08:00

09:00

10:00

11:00

12:00

13:00

14:00

15:00

16:00

17:00

18:00

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Número médio de visitas

Horários

Abelhas Moscas Vespas Besouros

Page 52: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Figura 8 - Visitantes florais em glomérulos de Mimosa bimucronata. A: Apis mellifera.

B: Abelha Halictidae (?). C e D: Vespas. E: Mosca. F: Besouro. Barras = 1 cm.

A B

C

D

E F

Page 53: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Tabela 1 – Principais eventos florais em Mimosa bimucronata, observados em 30 glomérulos em março/2005.

Botucatu, SP.

Período da Antese

Eventos observados

1º dia Flores brancas; estames distendidos com anteras levemente amareladas e pólen exposto; estigma receptivo.

2º dia Anteras caem em cerca de 80% dos glomérulos e, as remanescentes, apresentam coloração marrom, às vezes contendo pequenas quantidades de pólen.

3º dia As poucas anteras persistentes encontram-se sem pólen. Início da senescência dos estames.

4º dia A maioria dos estames está murcha com coloração ocre.

5º dia Estames caídos ou completamente murchos.

6º dia Sépalas, pétalas e pistilo iniciam a senescência. Abscisão de algumas flores e glomérulos.

7º dia A maioria das flores apresenta estigma, estilete e corola murchos e com coloração ocre. Cerca de 1/3 dos glomérulos sofrem abscisão.

8º dia Apenas as flores que apresentam ovários túrgidos permanecem. Cerca de 2/3 dos glomérulos sofrem abscisão.

Dias subseqüentes

Abscisão de algumas flores com ovário túrgido, restando apenas 20% dos glomérulos com um ou dois frutos em desenvolvimento cada.

Page 54: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Tabela 2 – Resultado dos experimentos para verificação do sistema reprodutivo em Mimosa bimucronata. ISI: Índice de auto-incompatibilidade

Tratamentos Nº glomérulos ensacados

Nº total de flores (estimado)

Nº frutos formados

Sucesso nos glomérulos (%)

Sucesso nas flores (%)

Controle 1401 57441 908 64,8 1,6 Agamospermia 179 7339 0 0 0 Autopolinização 780 31980 3 0,4 0,009

ISI: 0,006

Tabela 3 – Insetos visitantes observados em Mimosa bimucronata em 18 dias não consecutivos, no período de Dezembro/2004 a Março/2005.

Visitante Nº de visitas %

Hymenoptera Abelhas

Apis mellifera 397 48,1 Bombus (cf.) morio 40 4,8 Exomalopsis sp. 13 1,6 Outras abelhas 15 1,8

Vespas

Morfo-espécie 1 167 20,2

Morfo-espécie 2 28 3,4

Morfo-espécie 3 4 0,5 Diptera

Morfo-espécie 1 92 11,2 Outras moscas 61 7,5

Coleoptera 7 0,9

Page 55: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Predação de sementes de Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze por

Acanthoscelides schrankiae Horn

ABSTRACT - (Seed predation by Acanthoscelides schrankiae Horn in Mimosa bimucronata

(DC.) Kuntze). In this study, the intensity of predation of Mimosa bimucronata seeds by A.

schrankiae, the pattern of oviposition and seed exploitation, and the spatial and temporal

variation of seed predation, were investigated. The distribution of fruits along different locations

in the inflorescence was evaluated. Therefore, the number of fruits and the amount of predated

seeds in each location were recorded. Fruits were also collected in regular intervals of fifteen

days to observe the emergence of seed predators and parasitoids as well as to describe the pattern

of oviposition and seed exploitation by bruchid females and larvae, respectively. To investigate

if fruits were unevenly predated in the canopy (Superior, Inferior, East and West positions), two

other collections of fruits were carried out. The mean number of fruits produced in the mean

portion of inflorescence was significantly higher than the inferior and superior portions;

however, the mean number of predated seeds per fruit was significantly smaller in this portion.

Females of A. schrankiae laid their eggs on fruits and larvae perforate the exocarp to reach seeds.

Most fruits presented from one to three eggs and larger fruits loaded more eggs. The highest

value of the proportion “number of eggs/fruit” was recorded in April; hence the higher

percentage of predated seeds was also observed in this month. Only one bruchid larva was

observed in each seed. Dry weight of fruits (total) and seeds (non-predated), proportions of

predated seeds, seed abortions and non-emergent predators were evenly distributed in the

canopy.

Key-words: Insect-plant interaction, Seed predation, Mimosa bimucronata, Bruchidae,

Acanthoscelides schrankiae.

Page 56: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

RESUMO - (Predação de sementes de Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze por Acanthoscelides

schrankiae Horn). O presente estudo teve como objetivo descrever a ocorrência de predação de

sementes de Mimosa bimucronata por Acanthoscelides schrankiae, enfocando a intensidade de

predação, o padrão de oviposição e uso das sementes, e a variação espacial e temporal da

predação. A distribuição de frutos em diferentes partes da inflorescência foi avaliada,

registrando-se o número de frutos formados e a quantidade de sementes predadas por região da

inflorescência. Coletas quinzenais de frutos também foram feitas para a observação da

emergência de predadores e parasitóides, bem como para a descrição do padrão de oviposição e

uso das sementes pelas fêmeas e larvas dos bruquídeos, respectivamente. Outras duas coletas de

frutos foram feitas para investigar a ocorrência de distribuição preferencial dos predadores em

diferentes posições na copa das árvores (parte superior, inferior e exposição leste e oeste). Houve

maior produção de frutos na região mediana das inflorescências, sendo que o número de

sementes predadas por fruto foi significativamente menor naqueles localizados na porção

mediana da inflorescência. Constatou-se que as fêmeas de A. schrankiae depositam seus ovos

sobre os frutos e as larvas, ao eclodirem, perfuram o exocarpo e alcançam as sementes. A

maioria dos frutos possuía de um a três ovos, e os frutos maiores possuíam um maior número de

ovos. O maior valor da razão “número de ovos/fruto” foi constatado em abril e,

conseqüentemente, a maior porcentagem de sementes predadas também foi encontrada neste

mês. Somente uma larva de bruquídeo se desenvolve em cada semente. A matéria seca total, a

matéria seca das sementes não predadas e a proporção de sementes predadas nos diferentes

quadrantes da copa das árvores não diferiram significativamente, o mesmo ocorrendo para as

taxas de aborto e de predadores não-emergentes.

Palavras-chave: Interação inseto-planta, Predação de sementes, Mimosa bimucronata,

Bruchidae, Acanthoscelides schrankiae.

Page 57: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Introdução

A predação de sementes é um processo de interação interespecífica importante na regulação

da composição e estrutura de comunidades vegetais (Janzen, 1971), atuando como uma força

seletiva que afeta a abundância, a distribuição e a evolução das plantas (Harper et al. 1970 apud

Zhang et al. 1997). Entre os insetos, espécies de Coleoptera, Hymenoptera, Diptera, Lepidoptera e

Thysanoptera constituem os maiores predadores de sementes (Zhang et al. 1997). Dentre os

coleópteros, destacam-se aqueles pertencentes à família Bruchidae, pois são freqüentemente citados

como importantes predadores de sementes (Janzen 1975, Southgate 1979, Gullan & Cranston

2000).

Espécies da família Bruchidae (Coleoptera) se alimentam, enquanto larvas, exclusivamente

de sementes de angiospermas, especialmente leguminosas (Janzen, 1975, Southgate 1979; Ernst et

al. 1990, Gullan & Cranston 2000). Os bruquídeos não são restritos às leguminosas, mas a maioria

das espécies consome sementes desse grupo, sendo que mais de dez espécies de bruquídeos podem

se alimentar de apenas uma espécie de leguminosa (Janzen 1969).

As fêmeas de bruquídeos depositam seus ovos sobre os frutos ou sementes de leguminosas.

Ao eclodirem, as larvas perfuram o exocarpo e alcançam as sementes, alimentando-se de uma ou

mais delas. Em seguida, empupam dentro ou fora das sementes e os besouros adultos constroem

orifícios pelos quais emergem já adultos (Janzen 1969). Center & Johnson (1974), revisando a

biologia de 38 espécies de bruquídeos e 44 espécies de plantas hospedeiras, demonstraram que: a) o

substrato em que a oviposição ocorre é mais freqüentemente a vagem do que a semente; b) embora

dois terços das espécies de bruquídeos estudadas se alimentem ocultos dentro de uma única semente

e empupem ali, cerca de um terço consome uma semente quase inteira ou se alimenta de muitas

sementes, empupando fora delas; e c) 75% das plantas hospedeiras apresentam vagens indeiscentes

ou tardiamente deiscentes e 25% têm vagens deiscentes.

Page 58: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Contudo, os bruquídeos também podem ser atacados, tanto no estágio de ovo como no

estágio larval, por predadores e parasitóides. De acordo com Askew (1971) apud Garcia (1991) há

mais de 100.000 espécies de parasitóides, considerando apenas Hymenoptera. Dentre todos os

animais, os parasitóides estão entre os mais abundantes, sendo objeto de estudo por serem de grande

importância para programas de controle biológico de pragas, onde diversos estudos teóricos e

práticos procuram identificar e quantificar os atributos que aumentam a efetividade dos parasitóides

como agentes controladores. Como conseqüência, o estudo da dinâmica populacional se beneficiou

muito devido às interações entre hospedeiros e parasitóides, uma vez que os parasitóides são

organismos que possibilitam o desenvolvimento de modelos populacionais simples. Isto ocorre

principalmente porque somente as fêmeas adultas procuram pelo hospedeiro e, quando este é

encontrado, já ocorre a oviposição (Hassell 2000). Assim, diversos estudos em condições naturais

têm demonstrando que os parasitóides são capazes de influenciar a dinâmica populacional de seus

hospedeiros (Sih et al. 1985, Murdoch et al. 1989, Gould et al. 1990, Turchin 1990, Berryman,

1996).

Schmale et al. (2002), estudando a infestação de sementes de feijão pelo bruquídeo

Acanthoscelides obtectus em pequenas fazendas localizadas na Colômbia, encontraram o

parasitóide Horismenus ashmeadii (Hymenoptera: Eulophidae) emergindo de tal hospedeiro em

21% das amostras, sendo a única espécie encontrada, representando um nível total de parasitismo de

18%. Parasitóides Horismenus sp. também tem sido encontrados parasitando os bruquídeos

Amblycerus submaculatus e Sennius bondari em Senna alata (Caesalpinaceae) (Ribeiro-Costa,

1998). Schmale et al. (2003) também investigaram o efeito da utilização de plantas resistentes ao

ataque de A. obtectus, combinada com a ação do parasitóide Dinarmus basalis (Hymenoptera:

Pteromalidae), na redução da infestação de sementes armazenadas de feijão. Os autores constataram

que os danos foram significativamente reduzidos em tais circunstâncias e que os parasitóides foram

muito eficientes na redução da densidade populacional de A. obtectus.

Page 59: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze (Fabaceae: Mimosoideae), conhecida

vulgarmente como maricá, é espécie arbórea medindo de 4 a 8 metros de altura, nativa do Brasil,

típica da Mata Atlântica, com ampla distribuição nesse bioma. Na região sudeste do Brasil é

freqüentemente utilizada na formação de cercas vivas defensivas, devido à abundância de

espinhos em seus ramos. É uma planta invasora muito freqüente em solos férteis e úmidos,

podendo infestar áreas de pastagens, sendo comum em baixadas úmidas e beira de cursos d’água,

onde costuma formar densas infestações (Lorenzi, 2000). A importância econômica de M.

bimucronata reside no bom poder calorífero da madeira e em sua excelência apícola, pela

abundante floração estival (Burkart, 1979; Reitz et al., 1983; Marchiori, 1993), tendo ainda

grande importância para a recuperação de áreas degradadas, nas quais é indicadora do estágio

inicial de regeneração (Resolução Conama Nº02/94). Faz-se referência também à sua utilização

como planta medicinal, sendo a infusão dos brotos eficaz no combate à asma pura, à bronquite

asmática e às febres intermitentes (Burkart, 1979).

A propagação de M. bimucronata ocorre exclusivamente por sementes (Lorenzi, 2000)

produzidas a partir de flores dispostas em glomérulos, arranjados em amplas panículas. A

emergência de insetos predadores de sementes (fase de pré-dispersão) e seus parasitóides foi

observada nos frutos dessa espécie na região de Botucatu, Estado de São Paulo. Desta forma,

desenvolveu-se o presente estudo com o objetivo de descrever a ocorrência de predação de

sementes de M. bimucronata, enfocando a intensidade de predação, o padrão de oviposição e uso

das sementes, e a variação espacial e temporal da predação. Considerando-se que a relação inseto-

planta em um sistema natural composto por plantas de M. bimucronata, besouros da família

Bruchidae e parasitóides é inédita no país, espera-se que o presente estudo produza subsídios não só

para futuros estudos aplicados, mas também para estudos teóricos de dinâmica populacional.

Page 60: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Material e Métodos

Área de estudo

O presente trabalho foi realizado no município de Botucatu (48o26’37” W e 22o52’22” S),

região centro-oeste do Estado de São Paulo, no período de abril de 2002 a setembro de 2004. O solo

da área de estudos é do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo, Textura Arenosa (Comissão de Solos,

1960) e o clima da região é do tipo Cwb de Koeppen, mesotérmico de inverno seco (Carvalho et al.,

1983). Os indivíduos de M. bimucronata utilizados neste estudo estão localizados em duas áreas,

caracterizando duas populações distintas. A área 1 está localizada nas margens da estrada de acesso

ao distrito de Rubião Júnior, Rodovia Domingos Sartori SP 251/300, nas proximidades do trevo da

Rodovia Marechal Rondon, ocupando uma área de barranco com acentuado declive. A área 2

encontra-se adjacente a uma lagoa, na área do trevo de acesso ao Campus da Universidade Estadual

Paulista, localizada no Distrito de Rubião Júnior, ao lado do conjunto habitacional "Cidade

Universitária".

Distribuição de frutos maduros em indivíduos de M. bimucronata

Com a finalidade de avaliar a distribuição de frutos maduros em diferentes partes da

inflorescência, foram coletadas de três a oito inflorescências por planta em onze plantas, em abril de

2002, perfazendo um total de 61 inflorescências. Nestas foram registrados os números de frutos

formados em três diferentes regiões da inflorescência: terço superior, médio e inferior. A análise

dos dados relativos à produção de frutos foi feita pelo Teste de Tukey (Zar, 1999). Para cada uma

dessas regiões, cinqüenta frutos foram coletados aleatoriamente e a quantidade de sementes

predadas e não predadas por fruto foi registrada, comparando-se os dados pelo Teste de Qui-

quadrado (Zar, 1999).

Page 61: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Emergência de bruquídeos e parasitóides, descrição do padrão de oviposição e uso das

sementes, e distribuição espacial da predação na copa das plantas

De janeiro a maio de 2003 foram feitas coletas quinzenais de dez frutos (imaturos e maduros)

por planta em cinco plantas localizadas na área 1. Cada fruto foi mantido isolado em recipientes

cobertos com tecido voil, fixados com elástico, e a emergência de predadores e parasitóides foi

quantificada diariamente. Os insetos que emergiram foram conservados em álcool 70% e

posteriormente enviados a especialistas para identificação. De janeiro a maio de 2004 também

foram realizadas coletas quinzenais de dez frutos (imaturos e maduros) por planta em oito

indivíduos para o acompanhamento da emergência de predadores e parasitóides. Paralelamente a

cada coleta, foram amostrados outros dez frutos que foram dissecados sob estereomicroscópio para

a descrição do padrão de oviposição e uso das sementes pelas fêmeas e larvas dos bruquídeos,

respectivamente. Neste caso, as coletas estenderam-se até o mês de agosto de 2004. Também

registrou-se, para cada fruto, o número de sementes predadas e não predadas. Na descrição do

padrão de oviposição analisou-se: 1) a quantidade de ovos por fruto; 2) a relação entre o tamanho

dos frutos e a quantidade de ovos depositados sobre os frutos e, 3) o número de ovos por fruto em

função do tempo. No caso do padrão de uso das sementes observou-se: 1) o número de larvas por

semente, e 2) o desenvolvimento inicial das larvas, desde a eclosão até o início do processo de

exploração da semente.

Visando investigar a ocorrência de distribuição preferencial dos predadores em frutos

localizados em diferentes posições na copa das árvores, foram realizadas duas coletas

(maio/2003 e maio/2004) de 100 frutos por planta em 10 indivíduos localizados na área 2. Foram

considerados quatro quadrantes na copa, ou seja, parte superior, inferior e exposição leste e

oeste. Coletaram-se 25 frutos por quadrante, os quais foram mantidos isolados em recipientes

individuais, sob condições de laboratório, sendo a emergência de predadores de sementes e seus

parasitóides acompanhada e quantificada diariamente. Registrou-se a proporção de sementes

Page 62: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

predadas localizadas nos diferentes quadrantes, a matéria seca total dos frutos e das sementes não

predadas, bem como as porcentagens de sementes abortadas e de insetos não-emergentes (presos

no interior das sementes). Comparações dos valores médios foram feitas através da análise de

variância (ANOVA) (Zar, 1999).

Resultados e Discussão

A distribuição dos frutos nas inflorescências não se mostrou uniforme, havendo maior

produção na região mediana das inflorescências, que diferiu significativamente da produção na

região inferior, mas foi similar à da porção superior (Tabela 1). O número total de sementes

produzidas por fruto variou de 4 a 9. Verificou-se que nos frutos produzidos nos terços superior e

inferior das inflorescências o número de sementes predadas e não predadas por fruto não diferiu

significativamente, observando-se uma proporção de 1:1 entre eles (Tabela 2). Entretanto, o número

de sementes predadas por fruto foi significativamente menor naqueles localizados na porção

mediana da inflorescência, observando-se a proporção de uma semente predada para cada duas não

predadas (Tabela 2). Contudo, não se pode afirmar que tenha ocorrido menor predação de sementes

na região mediana, pois é provável que devido à maior quantidade de frutos ali produzidos, a

concentração do ataque por fruto tenha se diluído. Dessa forma, aparentemente não houve região da

inflorescência que tenha sido preferencial para a ocorrência do ataque de predadores.

Oviposição

No presente estudo observou-se que as sementes de M. bimucronata foram preferencialmente

predadas por uma espécie de coleóptero, identificado como Acanthoscelides schrankiae (HORN)

1873 (Coleoptera: Bruchidae). A Figura 1 apresenta frutos de M. bimucronata predados por A.

schrankiae, destacando-se a emergência de um besouro adulto e a aparência do fruto após a

Page 63: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

emergência. Verificou-se que as fêmeas de A. schrankiae depositam seus ovos sobre os frutos de M.

bimucronata. As larvas eclodem, perfuram o exocarpo e alcançam as sementes. Seguindo a

classificação de Johnson (1981) para as guildas de oviposição, essa espécie de bruquídeo enquadra-

se na Guilda A, ou seja, a oviposição ocorre nos frutos presos à planta. De acordo com o autor há

mais duas guildas de oviposição, sendo: guilda B – os ovos são depositados sobre as sementes

expostas ainda na planta e guilda C – oviposição ocorre em sementes livres no substrato.

Analisando os dados de literatura, Johnson & Romero (2004) encontraram que 77% das espécies de

bruquídeos estudadas ovipositam sobre as paredes do fruto, 10% sobre as sementes dentro dos

frutos e 13% sobre sementes no substrato. Os autores concordam com a hipótese de que,

evolutivamente, os bruquídeos iniciaram a oviposição sobre a superfície dos frutos e uma maior

especificidade teria ocorrido conforme as plantas desenvolviam melhores maneiras de distribuir

suas sementes. Essa hipótese justifica a maior concentração de espécies ovipositando na superfície

dos frutos.

Durante a descrição do padrão de uso das sementes, constatou-se que somente uma larva de

bruquídeo se desenvolve em cada semente até a emergência do adulto. Redmon et al. (2000)

estudaram a biologia de Bruchidius villosus, um bruquídeo infestante da leguminosa Cytisus

scoparius e concluíram que, aparentemente, a primeira larva a chegar à semente impede as outras

de alcançarem e se alimentarem dos cotilédones. As fêmeas detectariam a oviposição por outras

fêmeas, e o número de ovos depositados seria ajustado para minimizar a perda da prole devido à

competição dentro das vagens (Wilson, 1988; Redmon et al., 2000). No caso de A. schrankiae as

fêmeas também parecem perceber uma oviposição anterior, já que em 76,5% das sementes onde

foram encontrados ovos (n=217) havia apenas um deles. Em relação ao fruto, também se observou

que a maior parte possui de um a três ovos em sua superfície, como demonstrado na Figura 2.

Também constatou-se que os frutos que possuíam um maior número de ovos eram os de

maior tamanho (Figura 3). Redmon et al. (2000) encontraram uma relação significativa entre o

número de ovos de bruquídeos depositados sobre os frutos e o comprimento da vagem, sendo mais

Page 64: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

ovos deixados sobre vagens maiores, confirmando, assim, a idéia de percepção da oviposição por

outras fêmeas de bruquídeos.

Predação de sementes

Em todas as coletas realizadas nos dois períodos (de janeiro a maio de 2003 e janeiro a maio

de 2004) foram encontradas sementes predadas, onde também constatou-se a emergência de

parasitóides, os quais foram identificados como Horismenus sp. (Hymenoptera: Eulophidae). Em

relação à emergência de bruquídeos em laboratório, ocorreu apenas em frutos coletados a partir de

meados de abril. Traveset (1991) afirma que devido à abundância e ao alto número de emergências

de parasitóides Urosigalphus sp. (Hymenoptera: Braconidae) em vagens verdes de Acacia

farnesiana, haveria um favorecimento àquelas fêmeas de bruquídeos Mimosestes sp. que

depositariam seus ovos em um estágio mais tardio de maturação da vagem. É possível que esse

favorecimento também ocorra no sistema A. schrankiae-Horismenus sp., já que a emergência de A.

scrhankiae iniciou-se apenas nos frutos coletados em medos de abril, indicando um provável escape

do bruquídeo da época de maior infestação deste parasitóide. Corroborando essa hipótese,

observou-se um aumento na razão número de ovos/fruto nos frutos coletados de janeiro até meados

de abril, sendo o maior valor registrado em meados de abril, seguido por declínio do final de abril

até agosto, conforme ilustrado na Figura 4. Conseqüentemente, a maior porcentagem de sementes

predadas foi encontrada também em meados de abril (Figura 4). A partir do final de março, a

quantidade de larvas de bruquídeos encontradas dentro das sementes decresceu acentuadamente. As

maiores quantidades de larvas de parasitóide encontradas dentro das sementes ocorreram no período

entre meados de abril e final de maio sendo a maior porcentagem registrada ao final de maio,

seguida por queda brusca na porcentagem. A porcentagem de sementes com orifícios de emergência

(bruquídeos e parasitóides) manteve-se relativamente constante nos meses de janeiro e fevereiro,

aumentando em seguida. A maior taxa observada deu-se em agosto.

Page 65: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

No caso de Acacia, New (1979) sugere a possibilidade de espécies de Coleoptera ocorrerem

predominantemente nas regiões superiores da árvore. A proporção de sementes predadas nos

diferentes quadrantes da copa das árvores de M. bimucronata não diferiu significativamente, o que

revela uma distribuição uniforme dos predadores pela copa (Tabelas 3 e 4). O mesmo ocorreu para

a matéria seca total e para a matéria seca das sementes não predadas, para as taxas de aborto por

quadrante e também para as de predadores presos nas sementes (Tabelas 3 e 4). A proporção média

de predadores presos nas sementes foi maior no ano de 2003 (27,80 ± 22,53) do que no ano de 2004

(1,33 ± 2,38). De acordo com Ernst (1992) a última atividade de pré-emergência do bruquídeo é a

construção do orifício de emergência. Caso esse orifício seja pequeno para a emergência do besouro

é impossível aumentá-lo. Tanto o diâmetro inadequado do orifício e a falta de energia física para

empurrar o "disco" que o cobre explicaram a dificuldade de 6-17% de Bruchidius sahlbergi

(Coleoptera: Bruchidae) de emergirem das sementes de Acacia erioloba, ficando presos (Ernst,

1992). Esses fatores também podem explicar a grande quantidade de bruquídeos que não

conseguiram emergir das sementes de M. bimucronata (Figura 1 AB).

Referências Bibliográficas

ASKEW, R.R. 1971. Parasitic Insects. New York, Elsevier.

BERRYMAN, A. A. 1996. What causes population cycles of forest Lepidoptera? Trends in

Ecology and Evolution 11:28-32.

BURKART, A. 1979. Leguminosas. Mimosoideae. In Flora Ilustrada Catarinense (P.R.Reitz, ed.) p.

154-158.

CARVALHO, W.A., ESPÍNDOLA, C.R. & PACCOLA, A.A. 1983. Levantamento de solos da

fazenda Lageado estação experimental “Presidente Médici”. FCA/Unesp, Botucatu, SP.

COMISSÃO DE SOLOS. 1960. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado de São

Paulo. Ministério da Agricultura (CNEPA/SNPA). Rio de Janeiro, RJ.

CENTER, T.D. & JOHNSON, C.D. 1974. Coevolution of some seed beetles (Coleoptera:

Bruchidae) and their hosts. Ecology 55:1096-1103.

Page 66: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

ERNST, W.H.O. 1992 Nutritional aspects in the development of Bruchidius sahlbergi (Coleoptera

Bruchidae) in seeds of Acacia erioloba. Journal of Insect Physiology 38:831-838.

ERNST, W.H.O., TOLSMA, D.J. & DECELLE, J.E. 1990. Predispersal seed predation in native

leguminous shrubs and trees in savannas of southern Botswana. African Journal of Ecology

28:45-54.

GARCIA, M.A. 1991. Ecologia nutricional de parasitóides e predadores terrestres. In: Ecologia

nutricional de insetos e suas implicações no manejo de pragas ( Panizzi, A. R. & Parra, J. R.

P.eds.) Manole LTDA, São Paulo, p. 289-311.

GOULD, J. R., ELKINGTON, J. S. & WALLNER, W. E. 1990. Density-dependent suppression of

experimentally created gypsy moth, Lymantria dispar (Lepidoptera: Lymantriidae),

populations by natural enemies. Journal of Animal Ecology 59:213-233.

GULLAN, P.J. & CRANSTON, P.S. 2000. The insects: an outline of entomology. Blackwell

Science, Oxford, UK.

HARPER, J.L., LOVELL, P.H. & MOORE, K.G. 1970. The shapes and sizes of seeds. Annual

Review of Ecological Systematic. 1:327-356.

HASSELL, M. P. 2000. The spatial and temporal dynamics of host-parasitoid interactions. Oxford

University Press, Oxford, UK.

JANZEN, D.H. 1969. Seed-eaters versus seed size, number, toxicity and dispersal. Evolution 23:1-

27.

JANZEN, D.H. 1971. Seed predation by animals. Annual Review of Ecology and Systematics

2:465-492.

JANZEN, D. H. 1975. Interactions of seeds and their insect predators/parasitoids in a tropical

deciduous forest. In: Evolutionary strategies of parasitic insects and mites. (Price, P. W.

ed.).Plenum Press, New York.

JOHNSON, C.D. 1981. Interactions between bruchid (Coleptera) feeding guilds and behavioral

patterns of fruits of the Leguminosae. Environmental Entomology 10:249-253.

JOHNSON, C.D & ROMERO, J. 2004. A review of evolution of oviposition guilds in the

Bruchidae (Coleoptera). Revista Brasileira de Entomologia 48(3):401-408.

LORENZI, H. 2000. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. 3a ed.

Instituto Plantarum, Nova Odessa.

MARCHIORI, J. N. C. 1993. Anatomia da madeira e casca do maricá, Mimosa bimucronata (DC.)

Kuntze. Ciência Florestal 3:85-106.

MURDOCH, W. W., LUCK, R. F., WALDE, S., REEVE, J. D. & YU, D. S. 1989. A refuge for red

scale under control by Aphytis: structural aspects. Ecology 70:1707-1714.

Page 67: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

NEW, T.R. 1979 Seed Predation of Some Australian Acacias by Weevils (Coleoptera:

Curculionidae). Australian Journal of Zoology 31:345-352

REDMON, S.G., FORREST, T.G. & MARKIN, G.P. 2000. Biology of Bruchidius villosus

(Coleoptera: Bruchidae) on Scotch broom in North Carolina. Florida Entomologist 83:242-

253.

REITZ, R.., KLEIN, R. M. & REIS, A. 1983. Projeto madeira do Rio Grande do Sul. Sellowia

34/35:1-525.

RESOLUÇÃO CONAMA Nº02/94.disponível em www.mma.gov.br

RIBEIRO-COSTA, C. S. 1998. Observations on the biology of Amblycerus submaculatus (Pic) and

Sennius bondari (Pic) (Coleoptera: Bruchidae) in Senna alata (L.) Roxburgh

(Caesalpinaceae). Coleopterists Bulletin 52:63-69.

SCHMALE, I., WÄCHERS, F.L., CARDONA, C. & DORN, S. 2002. Field infestation of

Phaseolus vulgaris by Acanthoscelides obtectus (Coleoptera: Bruchidae), parasitoitoid

abundance, and consequences for storage pest control. Environmental Entomology 31:859-

863.

SCHMALE, I., WÄCKERS, F. L., CARDONA, C. & DORN, S. 2003. Combining parasitoids and

plant resistance for the control of the bruchid Acanthoscelides obtectus in stored beans.

Journal of Stored Products Research 39:401-411.

SIH, A., CROWLEY, P., MCPEEK, M., PETRANKA, J. & STROHMEIER, K. 1985. Predation,

competition, and prey communities - a review of field experiments. Annual Review of

Ecology and Systematics, 16:269-311.

SOUTHGATE, B.J. 1979. Biology of the Bruchidae. Annual Review of Entomology 24:449-473.

TRAVESET, A. 1991. Pre-dispersal seed predation in Central American Acacia farnesiana: factors

affecting the abundance of co-ocurring bruchid beetles. Oecologia 87:570-576.

TURCHIN, P. 1990. Rarity of density dependence or population regulation with lags? Nature

344:660-663.

WILSON, K. 1988. Egg laying decisions by the bean weevil Callosobruchus maculatus. Ecological

Entomology 13:107-118.

ZAR, J.H., 1999. Biostatistical Analysis. Prentice Hall, Upper Saddle River, NJ.

ZHANG, J., DRUMMOND, F.A., LIEBMAN, M. & HARTKE, A. 1997. Insect predation on seeds

and plant population dynamics. Technical Bulletin 163. Maine Agricultural and Forest

Experiment Station, University of Maine.

Page 68: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Tabela 1 – Números médios de frutos por região da inflorescência (n=61) em Mimosa bimucronata, comparados pelo teste de Tukey.

Regiões da inflorescência Número médio de frutos

Terço superior 35,79 AB

Terço médio 57,44 A

Terço inferior 27,90 B

DMS (Tukey) = 26,47 Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade

Tabela 2 – Número total e porcentagem de sementes predadas e não predadas, em 50 frutos de

cada região da inflorescência, em Mimosa bimucronata, comparados pelo teste de

Qui-Quadrado.

Predadas Não predadas

Regiões da

inflorescência No. % No. %

Terço superior 136 42,8 182 51,2

A

Terço médio 99 31,5 215 68,5 B

Terço inferior 115 48,5 122 51,5 A

χ 2 = 17,51 *

Page 69: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Tabela 3 – Comparações dos valores médios da matéria seca total, da matéria seca das sementes não predadas, da porcentagem de abortos, de sementes predadas e de insetos não-emergentes, entre os diferentes quadrantes [Superior Oeste (SO), Superior Leste (SL), Inferior Oeste (IO) e Inferior Leste (IL)]. Para as comparações, Análises de Variância (ANOVA) foram aplicadas. Maio, 2003.

Fonte de variação GL QM F P

Matéria seca total 3 0,0098 0,0458 0,9868 ns

Matéria seca das sementes não predadas

3 0,0848 0,9602 0,4220 ns

% de abortos 3 8,0841 0,0924 0,9637 ns

% de sementes predadas 3 251,5732 0,5405 0,6576 ns

% de insetos não-emergentes 3 22,6546 0,1263 0,9439 ns

ns = não significativo

Tabela 4 – Comparações dos valores médios da matéria seca total, da matéria seca das sementes não predadas, da porcentagem de abortos, de sementes predadas e de insetos não-emergentes, entre os diferentes quadrantes [Superior Oeste (SO), Superior Leste (SL), Inferior Oeste (IO) e Inferior Leste (IL)]. Para as comparações, Análises de Variância (ANOVA) foram aplicadas. Maio, 2004.

Fonte de variação GL QM F P

Matéria seca total 3 0,0525 0,3987 0,7548 ns

Matéria seca das sementes não predadas

3 0,0151 1,5121 0,2279 ns

% de abortos 3 56,5321 0,3135 0,8155 ns

% de sementes predadas 3 135,3216 0,5793 0,6324 ns

% de insetos não-emergentes 3 1,2936 0,2142 0,8859 ns

ns = não significativo

Page 70: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Figura 1 – A e B: Frutos de Mimosa bimucronata com besouros (Acanthoscelides schrankiae)

emergindo das sementes. C: Fruto após a emergência do besouro; notar semente

predada no interior. D: Adulto de Acanthoscelides schrankiae.

1 mm

A B

C

D

1 mm

Page 71: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

0

20

40

60

80

100

1 a 3 4 a 6 7 ou +

Nº de ovos

Porcentagem de frutos

Figura 2 – Porcentagem de frutos (n=113) de Mimosa bimucronata com as respectivas

quantidades de ovos de Acanthoscelides schrankiae.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

1 a 3 4 a 6 7 ou +

Nº de ovos

Pocentagem de frutos

1 a 2,9 cm 3 a 3,9 cm 4 ou + cm

Figura 3 – Relação entre o tamanho dos frutos (em cm) de M. bimucronata e quantidade de

ovos de A. schrankiae (Bruchidae: Coleoptera) depositados em sua superfície.

Page 72: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

0

10

20

30

40

50

60

21/jan/04

5/fev/04

21/fev/04

8/mar/04

22/mar/04

12/abr/04

29/abr/04

26/mai/04

10/jun/04

25/jun/04

14/jul/04

2/ago/04

Data de coleta

Porcen

tage

m

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

Nº o

vos/fruto

Porcentagem

Nº ovos/fruto

Figura 4 – Porcentagem de sementes predadas e número de ovos de bruquídeos por fruto

registrados no período de janeiro a agosto de 2004.

Page 73: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mimosa bimucronata, espécie nativa da Mata Atlântica, é considerada importante sob

diversos aspectos tais como o cultivo para recuperação de áreas degradadas, formação de cercas

defensivas e utilização para fins medicinais. Neste trabalho foram estudadas a biologia floral dessa

espécie bem como a predação de suas sementes por besouros. Trata-se de abordagem inédita, tanto

sob o aspecto da biologia da reprodução quanto no que se refere à predação de sementes. M.

bimucronata apresentou um padrão de florescimento anual, sendo suas flores reunidas em amplas

panículas de coloração branca. Os grãos de pólen encontram-se reunidos em políades que tornam

sua coleta, efetuada por insetos, mais eficiente, além de aumentar a pureza da carga de pólen

depositada sobre o estigma. A população mostrou-se predominantemente xenógama, com baixa

formação de frutos em condições naturais. A estratégia observada para polinização é a entomofilia

generalista. Em relação à interação planta-predador, observou-se que fêmeas de bruquídeos

depositam mais ovos nos maiores frutos, havendo variação na intensidade de predação entre anos e

entre plantas. Observou-se também que os predadores têm distribuição uniforme na copa a despeito

das sugestões sobre preferência de predadores de sementes pela porção superior. A presença de

parasitóides foi registrada.

Assim, espera-se que o presente trabalho contribua para o conhecimento da biologia

reprodutiva de M. bimucronata e produza subsídios não somente para futuros estudos aplicados,

mas também para estudos teóricos de dinâmica populacional envolvendo a planta e o sistema

predador-parasitóide ocorrente em suas sementes.

Page 74: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 75: UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp013436.pdf · 2016-01-24 · unesp - universidade estadual paulista campus de botucatu instituto

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo