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UNIDADE 6: SOCIOLOGIA DA LINGUAGEM: A economia das trocas linguísticas; a compreensão do trabalho de interpretação na pesquisa em educação TEXTOS-BASE: BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: Editora da USP, 1996. Parte 1, pág. 23 a 52. BOURDIEU, Pierre. Compreender. In: BOURDIEU, Pierre. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1997 Responsáveis pela discussão: Eliana, Juliane e Luíza.

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TEXTOS-BASE:

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: Editora da USP, 1996. Parte 1, pág. 23 a 52.

BOURDIEU, Pierre. Compreender. In: BOURDIEU, Pierre. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1997

Responsáveis pela discussão: Eliana, Juliane e Luíza.

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ContextualizaçãoContextualizaçãoPierre BourdieuPierre Bourdieu

Textos-base: Textos-base: A Sociologia da Educação de Pierre A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições; e Bourdieu & Bourdieu: limites e contribuições; e Bourdieu &

Educação Educação Maria Alice Nogueira e Cláudio Maria Alice Nogueira e Cláudio Marques Martins NogueiraMarques Martins Nogueira

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Pierre BourdieuPierre Bourdieu

1930-20021930-2002

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BiografiaBiografia Nascido em agosto de 1930, em Béarn, uma Nascido em agosto de 1930, em Béarn, uma

região rural do sudoeste da França, numa região rural do sudoeste da França, numa família campesina, ingressa em 1951 na família campesina, ingressa em 1951 na Faculdade de Letras, em Paris, na Escola Normal Faculdade de Letras, em Paris, na Escola Normal SuperiorSuperior e em 1954 gradua-se em Filosofia, e em 1954 gradua-se em Filosofia, assumindo a função de professor em Moulins. assumindo a função de professor em Moulins. Após prestar serviço militar na Argélia, assume, Após prestar serviço militar na Argélia, assume, em 1958 o cargo de professor assistente na em 1958 o cargo de professor assistente na Faculdade de Letras em Argel, quando inicia sua Faculdade de Letras em Argel, quando inicia sua pesquisa acerca da sociedade cabila. Em 1960 pesquisa acerca da sociedade cabila. Em 1960 torna-se assistente de Raymond Aron, na torna-se assistente de Raymond Aron, na Faculdade de Letras de Paris e principia seus Faculdade de Letras de Paris e principia seus estudos acerca do celibato na região de Béarn. estudos acerca do celibato na região de Béarn. Ainda em 1960 integra-se ao Centro de Ainda em 1960 integra-se ao Centro de Sociologia Européia, do qual torna-se secretário Sociologia Européia, do qual torna-se secretário geral em 1962.geral em 1962.

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Biografia (cont.)Biografia (cont.) Desenvolve ao longo das décadas de 1960 a 1980 Desenvolve ao longo das décadas de 1960 a 1980

farta obra, contribuindo significativamente para a farta obra, contribuindo significativamente para a formação do pensamento sociológico do século formação do pensamento sociológico do século XX. Na década de 1970 estende sua atividade XX. Na década de 1970 estende sua atividade docente a importantes instituições estrangeiras, docente a importantes instituições estrangeiras, como as universidades de Harvard e Chicago e o como as universidades de Harvard e Chicago e o Instituto Max Planck de Berlim. Instituto Max Planck de Berlim.

É consagrado Doutor 'honoris causa' das É consagrado Doutor 'honoris causa' das universidades Livre de Berlim (1989), Johann-universidades Livre de Berlim (1989), Johann-Wolfgang-Goethe de Frankfurt (1996) e Atenas Wolfgang-Goethe de Frankfurt (1996) e Atenas (1996). Morreu em Paris, em 23 de janeiro de (1996). Morreu em Paris, em 23 de janeiro de 2002, depois de finalizar um curso acerca de sua 2002, depois de finalizar um curso acerca de sua própria produção acadêmica, que servirá de própria produção acadêmica, que servirá de fundamento ao seu último livro, fundamento ao seu último livro, Esboço para uma Esboço para uma autoanáliseautoanálise..

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Contexto de produçãoContexto de produção Paradigma funcionalista na educação. Paradigma funcionalista na educação.

Educação – papel duploEducação – papel duplo Escola publica e gratuita – acesso e Escola publica e gratuita – acesso e

igualdade de oportunidadesigualdade de oportunidades Capacidades e dons individuaisCapacidades e dons individuais Escola – instituição neutra – Escola – instituição neutra –

conhecimento racional e objetivo e conhecimento racional e objetivo e selecionaria seus alunos com base em selecionaria seus alunos com base em critérios racionais.critérios racionais.

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Contexto de produçãoContexto de produçãoAnos 60Anos 60

Crise na concepção de escola e Crise na concepção de escola e reinterpretação do papel dos sistemas de reinterpretação do papel dos sistemas de ensino.ensino.

Dois movimentos:Dois movimentos:1.1. Surveys (Aritmética Política inglesa, Surveys (Aritmética Política inglesa,

Relatório Coleman – EUA, Estudos do INED Relatório Coleman – EUA, Estudos do INED – França) – França)

2.2. Certos efeitos inesperados da massificação Certos efeitos inesperados da massificação do ensino. “geração enganada”do ensino. “geração enganada”

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Bourdieu – anos 60Bourdieu – anos 60 Anomalias acumuladas no paradigma Anomalias acumuladas no paradigma

funcionalista – novo modo de interpretação funcionalista – novo modo de interpretação da escola e da educaçãoda escola e da educação

Corroboram com sua teoria - Os dados das Corroboram com sua teoria - Os dados das grandes Surveys e a frustração da grandes Surveys e a frustração da “geração enganada”“geração enganada”

Escola – tem seu papel invertidoEscola – tem seu papel invertido Paradigma da Reprodução - tornou-se um Paradigma da Reprodução - tornou-se um

dos mais importantes paradigmas dos mais importantes paradigmas utilizados na interpretação sociológica da utilizados na interpretação sociológica da Educação Educação

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A sociologia da Educação de A sociologia da Educação de BourdieuBourdieu

Teses CentraisTeses Centrais 1. os alunos não são indivíduos abstratos 1. os alunos não são indivíduos abstratos

que competem em condições relativamente que competem em condições relativamente igualitárias na escola, mas atores igualitárias na escola, mas atores socialmente constituídos que trazem, em socialmente constituídos que trazem, em larga medida incorporada, uma bagagem larga medida incorporada, uma bagagem social e cultural diferenciada e mais ou social e cultural diferenciada e mais ou menos rentável no mercado escolar. menos rentável no mercado escolar.

2. a escola tem um papel central de 2. a escola tem um papel central de legitimação e reprodução das legitimação e reprodução das desigualdades sociais.desigualdades sociais.

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Tese 1: A herança familiar e suas Tese 1: A herança familiar e suas implicações escolares implicações escolares

Oposição entre subjetivismo e objetivismo. Oposição entre subjetivismo e objetivismo. Ator da sociologia da educação de bourdieu – nem Ator da sociologia da educação de bourdieu – nem

o indivíduo isolado, consciente, reflexivo, - nem o o indivíduo isolado, consciente, reflexivo, - nem o sujeito determinado, mecanicamente submetido sujeito determinado, mecanicamente submetido as condições externa objetivas. as condições externa objetivas.

O sujeito da sociologia de bourdieu é O sujeito da sociologia de bourdieu é caracterizado por uma bagagem socialmente caracterizado por uma bagagem socialmente herdada, os capitais e o herdada, os capitais e o HabitusHabitus. .

Capital econômicoCapital econômico Capital social Capital social Capital cultural instucionalizado e incorporado Capital cultural instucionalizado e incorporado

(expressão sintomaticamente vaga; os gostos em (expressão sintomaticamente vaga; os gostos em matéria de arte, culinária, decoração, vestuário, matéria de arte, culinária, decoração, vestuário, esportes e etc; o domínio maior ou menor da esportes e etc; o domínio maior ou menor da língua culta; as informações sobre o mundo língua culta; as informações sobre o mundo escolar.)escolar.)

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Tese 1: A herança familiar e suas Tese 1: A herança familiar e suas implicações escolares (cont.)implicações escolares (cont.)

RazõesRazões1.1. o capital cultural funcionaria como uma o capital cultural funcionaria como uma

ponte entre o mundo familiar e o mundo ponte entre o mundo familiar e o mundo escolar. escolar.

2.2. o capital cultural possibilitaria um bom o capital cultural possibilitaria um bom desempenho nos processos formais e desempenho nos processos formais e informais de avaliaçãoinformais de avaliação

3.3. a compreensão que os pais tem do a compreensão que os pais tem do funcionamento escolarfuncionamento escolar

Papel dos outros capitaisPapel dos outros capitais

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Tese 1: A herança familiar e suas Tese 1: A herança familiar e suas implicações escolares (cont.)implicações escolares (cont.)

A bagagem cultural de cada individuo é A bagagem cultural de cada individuo é definida também por seu definida também por seu habitus habitus . .

Aplicado a educação, o histórico de Aplicado a educação, o histórico de sucessos e fracassos escolares dos grupos sucessos e fracassos escolares dos grupos sociais vividos por seus membros os fariam sociais vividos por seus membros os fariam construir estratégias adequadas as suas construir estratégias adequadas as suas chances.chances.

Bourdieu caracteriza os habitus Bourdieu caracteriza os habitus (disposições e estratégias de investimento (disposições e estratégias de investimento escolar) de cada classe social, distinguindo-escolar) de cada classe social, distinguindo-as em três: elites, classe média e popular.as em três: elites, classe média e popular.

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Tese 2: A escola e a reprodução e Tese 2: A escola e a reprodução e legitimação das desigualdades legitimação das desigualdades

sociaissociais

Concepção antropológica de cultura – Concepção antropológica de cultura – noção de arbitrário cultural. noção de arbitrário cultural.

Caso da Escola. Caso da Escola. Conversão de um arbitrário cultural Conversão de um arbitrário cultural

em cultura legitimaem cultura legitima

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Tese 2: A escola e a reprodução e Tese 2: A escola e a reprodução e legitimação das desigualdades legitimação das desigualdades

sociaissociais Autoridade pedagógica – Escola – Autoridade pedagógica – Escola –

cultura neutra. cultura neutra. Função de reprodução e legitimação Função de reprodução e legitimação

das desigualdades sociais. das desigualdades sociais. Como essas duas funções se exercem:Como essas duas funções se exercem:1.1. pretensa e falsa igualdade de pretensa e falsa igualdade de

oportunidadesoportunidades2.2. comunicação pedagógicacomunicação pedagógica

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Tese 2: A escola e a reprodução e Tese 2: A escola e a reprodução e legitimação das desigualdades legitimação das desigualdades

sociaissociais Alunos classe dominantes X Alunos Alunos classe dominantes X Alunos

classe popularclasse popular Argumento central - ao dissimular que Argumento central - ao dissimular que

acultura da escola é a cultura das acultura da escola é a cultura das classes dominantes, a escola dissimula classes dominantes, a escola dissimula igualmente os efeitos que isso tem igualmente os efeitos que isso tem para o sucesso escolar das classes para o sucesso escolar das classes dominantes. dominantes.

A escola cumpre simultaneamente A escola cumpre simultaneamente uma dupla funçãouma dupla função

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A repercussão dos trabalhos de A repercussão dos trabalhos de Bourdieu coincidiu com os Bourdieu coincidiu com os acontecimentos de maio de 1968.acontecimentos de maio de 1968.

Teoria da reprodução: a escola legitima e Teoria da reprodução: a escola legitima e reproduz a cultura da classe dominante- reproduz a cultura da classe dominante- manutenção das desigualdades sociais.manutenção das desigualdades sociais.

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Seu trabalho fez um resgate e revalorização de Seu trabalho fez um resgate e revalorização de algumas correntes, obras e autores, nos campos algumas correntes, obras e autores, nos campos da história social da arte, sociologia da cultura, da história social da arte, sociologia da cultura, história social e interacionismo simbólico.história social e interacionismo simbólico.

Seu trabalho inovador não limitou a estudos Seu trabalho inovador não limitou a estudos relativos a problemática educacional, incorporou relativos a problemática educacional, incorporou textos sobre a indústria cultural, os intelectuais, a textos sobre a indústria cultural, os intelectuais, a sociologia da religião e matrimonial, as produções sociologia da religião e matrimonial, as produções artísticas, etc.artísticas, etc.

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A economia das trocas linguísticas traz A economia das trocas linguísticas traz uma teoria do poder simbólico a partir uma teoria do poder simbólico a partir de uma crítica aos postulados da de uma crítica aos postulados da linguística. linguística.

Bourdieu procura construir os sistemas Bourdieu procura construir os sistemas de disposições sociais dos diversos de disposições sociais dos diversos grupos e classes e seu manejo da grupos e classes e seu manejo da língua como parte de um domínio língua como parte de um domínio particular e distintivo do corpo. particular e distintivo do corpo.

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Saussure: língua una e indivisível, exclui qualquer variação Saussure: língua una e indivisível, exclui qualquer variação social inerente.social inerente.

Separa a “línguística externa” da “linguística Separa a “línguística externa” da “linguística interna”, onde exclui toda relação com a história interna”, onde exclui toda relação com a história política de seus falantes ou com a geografia do política de seus falantes ou com a geografia do território onde é falada, pelo fato de que não território onde é falada, pelo fato de que não acrescentariam nada ao conhecimento da língua acrescentariam nada ao conhecimento da língua tomada em si mesma.tomada em si mesma.

Separa o instrumento linguístico de suas condições Separa o instrumento linguístico de suas condições sociais de produção e de utilização.sociais de produção e de utilização.

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Para Bourdieu:Para Bourdieu:

As trocas linguísticas, relações de comunicação por As trocas linguísticas, relações de comunicação por excelência, são também relações de poder simbólico, onde se excelência, são também relações de poder simbólico, onde se atualizam relações de força entre os locutores ou seus atualizam relações de força entre os locutores ou seus respectivos grupos.respectivos grupos.

Todo ato de fala implica uma relação entre disposições Todo ato de fala implica uma relação entre disposições socialmente modeladas, do socialmente modeladas, do habitushabitus linguístico, e as linguístico, e as estruturas do mercado linguístico, que se impõem como um estruturas do mercado linguístico, que se impõem como um sistema de sanções e de censuras específicas.sistema de sanções e de censuras específicas.

Valor distintivo: resulta do relacionamento operado pelos Valor distintivo: resulta do relacionamento operado pelos locutores, entre o produto linguístico oferecido por um locutor locutores, entre o produto linguístico oferecido por um locutor socialmente caracterizado e os produtos simultaneamente socialmente caracterizado e os produtos simultaneamente propostos num espaço social determinado.propostos num espaço social determinado.

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Estilo: desvio individual em relação à norma linguística.Estilo: desvio individual em relação à norma linguística.

O que circula no mercado linguístico não é “a língua”, mas O que circula no mercado linguístico não é “a língua”, mas discursos estilisticamente caracterizados – no lado da discursos estilisticamente caracterizados – no lado da produção, cada locutor transforma a língua comum num produção, cada locutor transforma a língua comum num idioleto, e do lado da recepção, cada receptor contribui para idioleto, e do lado da recepção, cada receptor contribui para produzir a mensagem que ele percebe e aprecia, importando produzir a mensagem que ele percebe e aprecia, importando para ela tudo o que constitui sua experiência singular e para ela tudo o que constitui sua experiência singular e coletiva. coletiva.

A palavra só existe imersa em situações.A palavra só existe imersa em situações.

Cada palavra, cada locução, ameaça assumir dois sentidos Cada palavra, cada locução, ameaça assumir dois sentidos antagônicos conforme a maneira que o emissor e o receptor antagônicos conforme a maneira que o emissor e o receptor tiverem de interpretá-la. Exemplo: o perigo da “gafe”.tiverem de interpretá-la. Exemplo: o perigo da “gafe”.

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A produção e a reprodução da A produção e a reprodução da língua legítimalíngua legítima

a) Língua oficial e unidade política (p. 31)a) Língua oficial e unidade política (p. 31)

b) A língua padrão: um produto “normatizado” (p. 32)b) A língua padrão: um produto “normatizado” (p. 32)

c) A unificação do Mercado e a Dominação Simbólica (p. 36)c) A unificação do Mercado e a Dominação Simbólica (p. 36)

d) Desvios Distintivos e valor social (p. 39)d) Desvios Distintivos e valor social (p. 39)

e) O campo literário e a Luta pela Autoridade Linguística (p. e) O campo literário e a Luta pela Autoridade Linguística (p. 44)44)

f) A dinâmica do campo linguístico (p. 49)f) A dinâmica do campo linguístico (p. 49)

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A produção e a reprodução da A produção e a reprodução da língua legítimalíngua legítima

Vós o dissestes, cavalheiro! Deveria haver leis Vós o dissestes, cavalheiro! Deveria haver leis para proteger os conhecimentos adquiridos.para proteger os conhecimentos adquiridos.

Tomai, por exemplo, um de nossos bons alunos, Tomai, por exemplo, um de nossos bons alunos, modesto, aplicado, que começou, desde as modesto, aplicado, que começou, desde as primeiras aulas de gramática, a manter seu primeiras aulas de gramática, a manter seu caderninho de expressões.caderninho de expressões.

Que, durante vinte anos, atento a cada palavra Que, durante vinte anos, atento a cada palavra dos professores, acabou reunindo uma dos professores, acabou reunindo uma espécie de pequeno pecúlio inte lectual: será espécie de pequeno pecúlio inte lectual: será que este não lhe pertence, como se fosse que este não lhe pertence, como se fosse uma casa ou dinheiro?uma casa ou dinheiro?

P. CLAUDEL, Le Soulier de SatinP. CLAUDEL, Le Soulier de Satin(p. 29)(p. 29)

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Comparação do acúmulo do saber com o acúmulo Comparação do acúmulo do saber com o acúmulo da riqueza material; da riqueza material;

Augusto Comte: descreve a apropriação simbólica Augusto Comte: descreve a apropriação simbólica como uma espécie de participação mística universal como uma espécie de participação mística universal uniformemente acessível e infensa a qualquer uniformemente acessível e infensa a qualquer expropriação;expropriação;

A ilusão do comunismo linguístico que ronda toda A ilusão do comunismo linguístico que ronda toda teoria linguística: a língua como um tesouro teoria linguística: a língua como um tesouro universal a ser conservado;universal a ser conservado;

Saussure remete à metáfora do tesouro:Saussure remete à metáfora do tesouro: Tesouro interior depositado pela prática da fala nos sujeitos Tesouro interior depositado pela prática da fala nos sujeitos

pertencentes à mesma comunidadepertencentes à mesma comunidade A soma dos tesouros individuais da línguaA soma dos tesouros individuais da língua Soma de marcas depositadas em cada cérebroSoma de marcas depositadas em cada cérebro

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Chomsky reafirma “essa posição dos Chomsky reafirma “essa posição dos fundadores da linguística moderna” com o fundadores da linguística moderna” com o argumento da competência linguística - outro argumento da competência linguística - outro nome da língua - possuída por todo um grupo nome da língua - possuída por todo um grupo como um “tesouro universal”, bem público de como um “tesouro universal”, bem público de participação aberta a todos os membros de participação aberta a todos os membros de uma “comunidade linguística”.uma “comunidade linguística”.

Para Bourdieu: esse modo de conceber a Para Bourdieu: esse modo de conceber a língua desconsidera a questão das condições língua desconsidera a questão das condições econômicas e sociais de aquisição da econômicas e sociais de aquisição da competência legítima e da constituição do competência legítima e da constituição do mercado onde se estabelece e se impõe esta mercado onde se estabelece e se impõe esta definição do que é legítimo e o que é definição do que é legítimo e o que é ilegítimo;ilegítimo;

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a) Língua oficial e unidade política a) Língua oficial e unidade política (p. 31)(p. 31)

Os linguistas esquecem as leis sociais de construção e a Os linguistas esquecem as leis sociais de construção e a gênese social da língua: apenas incorporam à teoria um gênese social da língua: apenas incorporam à teoria um objeto pré-construído;objeto pré-construído;

Citação do Curso de Linguística Geral de Saussure:Citação do Curso de Linguística Geral de Saussure: Não é o espaço que define a língua, mas a língua que se define Não é o espaço que define a língua, mas a língua que se define

em determinado espaço;em determinado espaço;

Os falantes são os portadores das mudanças que ocorrem Os falantes são os portadores das mudanças que ocorrem (disposição dos falantes);(disposição dos falantes);

A língua é um código legislativo e comunicativo que existe e A língua é um código legislativo e comunicativo que existe e subsiste independentemente de seus usuários e de suas subsiste independentemente de seus usuários e de suas utilizações;utilizações;

Diferentemente do dialeto, a língua possui todas as propriedades Diferentemente do dialeto, a língua possui todas as propriedades comumente atribuídas à língua oficial e por isso se impõe;comumente atribuídas à língua oficial e por isso se impõe;

Ela assegura o mínimo de comunicação entre todos os membros Ela assegura o mínimo de comunicação entre todos os membros de uma “comunidade linguística” : condição da produção de uma “comunidade linguística” : condição da produção econômica e mesmo da dominação simbólica (p. 31)econômica e mesmo da dominação simbólica (p. 31)

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É preciso considerar o processo político de unificação onde os É preciso considerar o processo político de unificação onde os sujeitos falantes são levados a aceitar a língua oficial, fator sujeitos falantes são levados a aceitar a língua oficial, fator ocultado por essa filosofia histórica;ocultado por essa filosofia histórica;

Falar de Falar de a línguaa língua sem outras especificações significa aceitar a sem outras especificações significa aceitar a definição de língua oficial de uma unidade política como a única definição de língua oficial de uma unidade política como a única legítima;legítima;

É no contexto de criação do Estado que se criam as condições É no contexto de criação do Estado que se criam as condições da constituição de um mercado linguístico unificado e da constituição de um mercado linguístico unificado e dominado pela língua oficial: situações oficiais e espaços dominado pela língua oficial: situações oficiais e espaços oficiais (escolas, entidades públicas, instituições políticas, etc.)oficiais (escolas, entidades públicas, instituições políticas, etc.)

““esta língua do Estado torna-se a norma teórica pela qual todas esta língua do Estado torna-se a norma teórica pela qual todas as práticas linguísticas são objetivamente medidas” (p. 32);as práticas linguísticas são objetivamente medidas” (p. 32);

Para que haja a dominação linguística – a imposição de um uso Para que haja a dominação linguística – a imposição de um uso sobre os demais – é necessária a sobre os demais – é necessária a unificaçãounificação do mercado do mercado linguístico dentro de uma determinada unidade política.linguístico dentro de uma determinada unidade política.

a) Língua oficial e unidade política a) Língua oficial e unidade política (p. 31)(p. 31)

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b) A língua padrão: um produto “normatizado”b) A língua padrão: um produto “normatizado” (p. 32)(p. 32)

Processo de legitimação e imposição de uma Processo de legitimação e imposição de uma língua “purificada” língua “purificada” normalização dos normalização dos produtos dos produtos dos habitus habitus linguísticos:linguísticos: O papel do dicionário: Soma dos “tesouros de O papel do dicionário: Soma dos “tesouros de

língua individuais”; reunião do registro erudito da língua individuais”; reunião do registro erudito da totalidade dos recursos linguísticos acumulados ao totalidade dos recursos linguísticos acumulados ao longo do tempo (junção de todos os usos possíveis longo do tempo (junção de todos os usos possíveis de uma mesma palavra)de uma mesma palavra)

O papel do sistema escolar: “fabricar semelhanças O papel do sistema escolar: “fabricar semelhanças das quais resulta a comunidade de consciência das quais resulta a comunidade de consciência que é o cimento da nação” que é o cimento da nação” (p. 35)(p. 35)

A relação com o mercado de trabalho: o A relação com o mercado de trabalho: o reconhecimento do diploma faz com que os pais se reconhecimento do diploma faz com que os pais se “desfaçam” de seu dialeto de origem para que os “desfaçam” de seu dialeto de origem para que os filhos tenham maiores chances de reconhecimento filhos tenham maiores chances de reconhecimento dentro desse mercadodentro desse mercado

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c) A Unificação do Mercado e a c) A Unificação do Mercado e a Dominação Simbólica Dominação Simbólica (p. 36)(p. 36)

A contribuição que a intenção política de A contribuição que a intenção política de unificação traz à unificação traz à fabricaçãofabricação da língua que os da língua que os linguistas ocultam como um dado natural;linguistas ocultam como um dado natural;

A generalização do uso da língua dominante é A generalização do uso da língua dominante é uma dimensão da unificação do mercado de uma dimensão da unificação do mercado de bens simbólicos que acompanha a unificação da bens simbólicos que acompanha a unificação da economia, da produção e da circulação culturais;economia, da produção e da circulação culturais;

As coerções jurídicas são capazes de impor As coerções jurídicas são capazes de impor apenas a aquisição, mas não a utilização apenas a aquisição, mas não a utilização generalizada e a reprodução autônoma da língua generalizada e a reprodução autônoma da língua legítima.legítima.

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O reconhecimento da legitimidade se dá:O reconhecimento da legitimidade se dá: Nas disposições insensivelmente inculcadas pelas sanções Nas disposições insensivelmente inculcadas pelas sanções

do mercado linguístico e na possibilidade de lucros dentro do mercado linguístico e na possibilidade de lucros dentro de um determinado mercado;de um determinado mercado;

A sutileza da coerção se apresenta no íntimo do sujeito: A sutileza da coerção se apresenta no íntimo do sujeito: “escolhas” do “escolhas” do habitus; habitus; a autocorreção; a autocorreção;

A intimidação: violência simbólica que só tem condições de A intimidação: violência simbólica que só tem condições de se exercer sobre uma pessoa “predisposta” (em seu se exercer sobre uma pessoa “predisposta” (em seu habitushabitus) a senti-la enquanto outros a ignoram;) a senti-la enquanto outros a ignoram;

A timidez reside na relação entre a situação ou a pessoa A timidez reside na relação entre a situação ou a pessoa intimidante e a pessoa intimidada;intimidante e a pessoa intimidada;

A violência ocorre de maneira silenciosa e por isso é mais A violência ocorre de maneira silenciosa e por isso é mais difícil ser revogada: maneiras de olhar, de se aprumar, de difícil ser revogada: maneiras de olhar, de se aprumar, de ficar em silêncio (olhares desaprovadores, tons ou ares de ficar em silêncio (olhares desaprovadores, tons ou ares de censura, etc) Ação da inconsciência.censura, etc) Ação da inconsciência.

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d) Desvios distintivos e valor social d) Desvios distintivos e valor social (p. 39)(p. 39)

Todas as práticas linguísticas encontram sua medida em Todas as práticas linguísticas encontram sua medida em relação às práticas legítimas, e assim se define a relação relação às práticas legítimas, e assim se define a relação que cada locutor pode manter com a língua e com a sua que cada locutor pode manter com a língua e com a sua própria produção;própria produção;

A desvalorização de usos populares da língua: A desvalorização de usos populares da língua: regionalismos, expressões “viciosas” e “erros de regionalismos, expressões “viciosas” e “erros de pronúncia” são impróprios em ocasiões oficiais;pronúncia” são impróprios em ocasiões oficiais;

Falar é apropriar-se de um ou outro dentre os estilos Falar é apropriar-se de um ou outro dentre os estilos expressivos expressivos a diferença é de usos de uma mesma a diferença é de usos de uma mesma língua, não de línguas diferentes (portanto, quem fala língua, não de línguas diferentes (portanto, quem fala diferente do modo legítimo é considerado desvio);diferente do modo legítimo é considerado desvio);

Há assim a reprodução do sistema de diferenças sociais Há assim a reprodução do sistema de diferenças sociais na ordem simbólica dos desvios diferenciais; Essas na ordem simbólica dos desvios diferenciais; Essas diferenças passam despercebidas pelo sistema estrutural diferenças passam despercebidas pelo sistema estrutural da língua;da língua;

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O falar faz parte de uma competência biológica, comum O falar faz parte de uma competência biológica, comum a todos os seres humanos, portanto, não distintiva;a todos os seres humanos, portanto, não distintiva;

O falar a língua legítima é uma competência socialmente O falar a língua legítima é uma competência socialmente construída, e é portanto, capaz de propiciar a distinção;construída, e é portanto, capaz de propiciar a distinção;

O lucro da distinção encontra-se distribuído em função O lucro da distinção encontra-se distribuído em função das oportunidades de acesso às condições de aquisição das oportunidades de acesso às condições de aquisição da competência legítima (distribuição desigual);da competência legítima (distribuição desigual);

““A competência dominante opera como um capital A competência dominante opera como um capital linguístico capaz de assegurar um lucro de distinção em linguístico capaz de assegurar um lucro de distinção em sua relação com as demais competências, contanto que sua relação com as demais competências, contanto que sejam continuamente as condições necessárias para que sejam continuamente as condições necessárias para que os grupos detentores dessa competência sejam capazes os grupos detentores dessa competência sejam capazes de impô-la como a única legítima nos mercados oficiais”. de impô-la como a única legítima nos mercados oficiais”.

(ex.: exames escolares, entrevistas de emprego, (ex.: exames escolares, entrevistas de emprego, consulta médica... Nota da P. 44)consulta médica... Nota da P. 44)

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e) Campo Literário e a Luta pela e) Campo Literário e a Luta pela Autoridade Linguística Autoridade Linguística (p. 44)(p. 44)

Diferenças entre o capital necessário à simples produção Diferenças entre o capital necessário à simples produção de um “falar comum” e o capital de instrumentos de de um “falar comum” e o capital de instrumentos de expressão necessário à produção de um discurso escrito expressão necessário à produção de um discurso escrito digno de ser digno de ser publicadopublicado (quer dizer, oficializado) (quer dizer, oficializado)

a produção de “instrumentos de produção” como figuras a produção de “instrumentos de produção” como figuras de linguagem e de pensamento, gêneros, maneiras ou de linguagem e de pensamento, gêneros, maneiras ou estilos legítimos e todos os discursos destinados a se estilos legítimos e todos os discursos destinados a se tornarem “autoridade”, fonte de “referência obrigatória” tornarem “autoridade”, fonte de “referência obrigatória” a serem citados como exemplos de “uso correto”a serem citados como exemplos de “uso correto”

““As lutas entre os escritores em torno da arte de As lutas entre os escritores em torno da arte de escrever legítima contribuem, por sua própria existência, escrever legítima contribuem, por sua própria existência, para produzir quer a língua legítima, definida pela para produzir quer a língua legítima, definida pela distância que a separa da língua ‘comum’, quer a crença distância que a separa da língua ‘comum’, quer a crença em sua legitimidade”. (p.45)em sua legitimidade”. (p.45)

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Inculcação escolar de obras legitimadas por gramáticos Inculcação escolar de obras legitimadas por gramáticos ou pelas academias ou pelas academias estratégia dos autores para estratégia dos autores para serem reconhecidos como legítimos: escolha de serem reconhecidos como legítimos: escolha de produtos que lhes parecem dignos de serem produtos que lhes parecem dignos de serem consagrados e incorporados à competência legítima;consagrados e incorporados à competência legítima;

““As propriedades que caracterizam a excelência As propriedades que caracterizam a excelência linguística cabem em duas palavras: distinção e linguística cabem em duas palavras: distinção e correção. O trabalho realizado no campo literário produz correção. O trabalho realizado no campo literário produz as aparências de uma língua original procedendo a um as aparências de uma língua original procedendo a um conjunto de derivações que têm como princípio um conjunto de derivações que têm como princípio um desviodesvio em relação aos usos mais frequentes (...)” (p. 47) em relação aos usos mais frequentes (...)” (p. 47)

Oposição entre: Distinto e vulgar; Raro e comum; Oposição entre: Distinto e vulgar; Raro e comum; Vigoroso ou nobre e relaxado ou livre Vigoroso ou nobre e relaxado ou livre termos termos aplicados: linguagem rebuscada, seleta, nobre, aplicados: linguagem rebuscada, seleta, nobre, requintada, polida, etc., em oposição a linguagem requintada, polida, etc., em oposição a linguagem comum, corrente, familiar, popular, grosseira, etc.comum, corrente, familiar, popular, grosseira, etc.

e) Campo Literário e a Luta pela e) Campo Literário e a Luta pela Autoridade Linguística Autoridade Linguística (p. 44)(p. 44)

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f) A Dinâmica do Campo Linguístico f) A Dinâmica do Campo Linguístico (p. 49)(p. 49)

O domínio da língua legítima pode ser adquirido O domínio da língua legítima pode ser adquirido pela familiarização ou pela inculcação expressa de pela familiarização ou pela inculcação expressa de regras explícitas regras explícitas as grandes classes de modo de as grandes classes de modo de expressão correspondem a classes de modos de expressão correspondem a classes de modos de aquisição: a diferentes formas de combinação entre aquisição: a diferentes formas de combinação entre os dois principais fatores de produção da os dois principais fatores de produção da competência legítima, a família e o sistema escolar;competência legítima, a família e o sistema escolar;

Assim, a Sociologia da Linguagem é indissociável da Assim, a Sociologia da Linguagem é indissociável da Sociologia da Educação;Sociologia da Educação;

O mercado escolar, dominado pelos produtos O mercado escolar, dominado pelos produtos linguísticos da classe dominante tende a sancionar linguísticos da classe dominante tende a sancionar as diferença de capital preexistenteas diferença de capital preexistente distribuição desigual do distribuição desigual do conhecimentoconhecimento da língua legítima e da língua legítima e

a distribuição mais uniforme de seu a distribuição mais uniforme de seu reconhecimentoreconhecimento

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Estratégias linguísticas da pequena burguesia: tendência à Estratégias linguísticas da pequena burguesia: tendência à hipercorreção, expressão particularmente típica de uma boa hipercorreção, expressão particularmente típica de uma boa vontade cultural manifesta em todas as dimensões da prática;vontade cultural manifesta em todas as dimensões da prática;

Defasagem entre o conhecimento e o reconhecimento, entre Defasagem entre o conhecimento e o reconhecimento, entre as aspirações e os meios de satisfazê-las as aspirações e os meios de satisfazê-las geradora de geradora de tensão e pretensão.tensão e pretensão.

O esforço em negar a distinção se constitui em apropriar-se O esforço em negar a distinção se constitui em apropriar-se dela mesma e configura uma permanente pressão dela mesma e configura uma permanente pressão novas novas estratégias de distinção entre os detentores das marcas estratégias de distinção entre os detentores das marcas distintivas socialmente reconhecidas como refinadas. distintivas socialmente reconhecidas como refinadas.

O principal fator de distinção: a tensão relacionada à O principal fator de distinção: a tensão relacionada à hipercorreção controlada hipercorreção controlada versusversus a naturalidade no uso da a naturalidade no uso da língua legítima. língua legítima.

Essa tensão não se mostra somente pela língua, mas através Essa tensão não se mostra somente pela língua, mas através da relação com outros bens simbólicos, como a música, as da relação com outros bens simbólicos, como a música, as artes plásticas, os estilos de vida, etc.artes plásticas, os estilos de vida, etc.

f) A Dinâmica do Campo Linguísticof) A Dinâmica do Campo Linguístico (p. 49) (p. 49)

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CompreenderCompreender

In: BOURDIEU, Pierre. A In: BOURDIEU, Pierre. A Miséria do MundoMiséria do Mundo

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Idéia centralIdéia central Explicar a relação de comunicação Explicar a relação de comunicação

na sua generalidade. na sua generalidade. Propõe um modelo e dá exemplos Propõe um modelo e dá exemplos

dele ou que o contrapõem.dele ou que o contrapõem.

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EntrevistaEntrevista Relação socialRelação social Distorções – inscritas na própria Distorções – inscritas na própria

estrutura da relação de pesquisa. estrutura da relação de pesquisa. Prática – reflexiva e metódicaPrática – reflexiva e metódica

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Recurso para controlar as Recurso para controlar as distorçõesdistorções

1.1. Realizar refletividade reflexo Realizar refletividade reflexo realizada no próprio campo. realizada no próprio campo.

2.2. Fazer uso reflexivo dos Fazer uso reflexivo dos conhecimentos adquiridos na conhecimentos adquiridos na ciência social para controlar os ciência social para controlar os efeitos da própria pesquisa.efeitos da própria pesquisa.

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(Por) Uma comunicação “não (Por) Uma comunicação “não violenta”violenta”

Conhecer os efeitos dessa “intrusão”Conhecer os efeitos dessa “intrusão” Tentar entender como o entrevistado Tentar entender como o entrevistado

significa a situação, a própria pesquisa significa a situação, a própria pesquisa e seu objetivo, da situação particular e seu objetivo, da situação particular da pesquisa e das razões que levam o da pesquisa e das razões que levam o interlocutor participar da troca.interlocutor participar da troca.

Tentar mediar a amplitude e a Tentar mediar a amplitude e a natureza da distância entre a finalidade natureza da distância entre a finalidade da pesquisa e sua significação pelo da pesquisa e sua significação pelo entrevistadoentrevistado

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Entrevista: duas dissimetrias Entrevista: duas dissimetrias

1ª - O pesquisador que inicia o jogo e 1ª - O pesquisador que inicia o jogo e estabelece sua regra.estabelece sua regra.

2ª - Dissimetria social – de capital2ª - Dissimetria social – de capital

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DissimetriasDissimetrias

1.1. Esforçar-se para dominar os efeitos sem Esforçar-se para dominar os efeitos sem anulá-los. anulá-los.

2.2. Instituir uma relação de escuta ativa e Instituir uma relação de escuta ativa e metódicametódica

Implicações da escutaImplicações da escuta Disponibilidade totalDisponibilidade total Construção metódicaConstrução metódica Agir na estrutura do mercado lingüístico Agir na estrutura do mercado lingüístico

e simbólicoe simbólico

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ExemploExemploPesquisador: Pesquisador: Você pessoalmente está prestes a Você pessoalmente está prestes a

partir de Longwy?partir de Longwy?Pesquisado: Pesquisado: “Agora?(tom de surpresa) Para quê? “Agora?(tom de surpresa) Para quê?

Partir... Eu não vejo a utilidade... Não, eu não Partir... Eu não vejo a utilidade... Não, eu não creio que eu deixarei Longwy... Essa idéia ainda creio que eu deixarei Longwy... Essa idéia ainda não tinha me passado pela cabeça... Além disso não tinha me passado pela cabeça... Além disso minha mulher ainda trabalha. Isso pode ser um minha mulher ainda trabalha. Isso pode ser um freio... Mas deixar Longwy ... Eu não sei, pode freio... Mas deixar Longwy ... Eu não sei, pode ser, porque não? ... Um dia ... Eu não sei não ... ser, porque não? ... Um dia ... Eu não sei não ... Mas eu não penso nisso agora. Eu ainda não Mas eu não penso nisso agora. Eu ainda não pensei nisso porque eu estou ... Eu não sei, pensei nisso porque eu estou ... Eu não sei, porque não (risos), eu não sei, nunca se sabe...”porque não (risos), eu não sei, nunca se sabe...”

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Outros recursosOutros recursos Proximidade social e familiar Proximidade social e familiar 1ª Garante ameaças de ter suas 1ª Garante ameaças de ter suas

razões subjetivas reduzidas a causas razões subjetivas reduzidas a causas objetivasobjetivas

2ª Garantia de um acordo de 2ª Garantia de um acordo de comunicação efetivocomunicação efetivo

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Estratégias para garantir a Estratégias para garantir a proximidade social e familiaridade proximidade social e familiaridade

Estratégia de Willian LabovEstratégia de Willian Labov Pesquisa de BourdieuPesquisa de Bourdieu

Essa estratégia possibilita igualar na Essa estratégia possibilita igualar na entrevista os mercados de bens entrevista os mercados de bens simbólicos e culturais.simbólicos e culturais.

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Benefícios da familiaridadeBenefícios da familiaridade

Compartilhamento de objetividadesCompartilhamento de objetividades

SocioanáliseSocioanálise

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Um exercício espiritualUm exercício espiritual Realizar um trabalho incessante de construção próximo do Realizar um trabalho incessante de construção próximo do

naturalnatural Recursos Recursos 1.1. fazer com que o entrevistado se sinta legitimado de ser o fazer com que o entrevistado se sinta legitimado de ser o

que é e e a se manifestarque é e e a se manifestar2.2. Não negar da distância social que separa os interlocutoresNão negar da distância social que separa os interlocutores3.3. Fazer o exercício de empatia – realizar uma compreensão Fazer o exercício de empatia – realizar uma compreensão

fundada no domínio das condições sociais das quais ele é fundada no domínio das condições sociais das quais ele é produto como produto como

os mecanismos sociais que operam na sua categoriaos mecanismos sociais que operam na sua categoria O domínio dos condicionamentos psíquicos e sociais de sua O domínio dos condicionamentos psíquicos e sociais de sua

posição e trajetória posição e trajetória 4. Fazer uma compreensão da situação que o pesquisado e 4. Fazer uma compreensão da situação que o pesquisado e

colocado e é produto.colocado e é produto.5. Evitar a semi-compreensão imediata do olhar – economia 5. Evitar a semi-compreensão imediata do olhar – economia

de pensamentode pensamento

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Resistência a objetivação: Um Resistência a objetivação: Um exemploexemplo

Pesquisador: Pesquisador: A tomada de consciência teve lugar A tomada de consciência teve lugar quando você chegou a França. Mas Tomada de quando você chegou a França. Mas Tomada de Consciência de que exatamente?Consciência de que exatamente?

Pesquisado: Pesquisado: a tomada de consciência do real no a tomada de consciência do real no sentido de que para mim, é aí que as coisas vão sentido de que para mim, é aí que as coisas vão começar a se delinear. Eu vivo realmente a começar a se delinear. Eu vivo realmente a separação dos meus pais. Ele toma, realmente, separação dos meus pais. Ele toma, realmente, sentido para mim a partir do momento no qual eu sentido para mim a partir do momento no qual eu passo do período que eu vivi com meus pais, enfim, passo do período que eu vivi com meus pais, enfim, com a minha mãe e sua família (no Marrocos, onde com a minha mãe e sua família (no Marrocos, onde minha mãe passou depois da separação), aqui, onde minha mãe passou depois da separação), aqui, onde eu finalmente descubro meu pai. É a primeira vez eu finalmente descubro meu pai. É a primeira vez que nos vivemos realmente juntos. Mesmo quando que nos vivemos realmente juntos. Mesmo quando ele estava casado com a minha mãe , sua vida social ele estava casado com a minha mãe , sua vida social era aqui (na França), por isso eles se viam pouco. era aqui (na França), por isso eles se viam pouco.

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ContinuaçãoContinuação Eu tinha a impressão que era alguém que eu descobria pela primeira Eu tinha a impressão que era alguém que eu descobria pela primeira

vez (...). Ele entrou na minha vida a partir do momento que fomos vez (...). Ele entrou na minha vida a partir do momento que fomos viver juntos. Portanto, a tomada de consciência desse lado, a viver juntos. Portanto, a tomada de consciência desse lado, a separação faz sentido. Percebe-se que o pai que se tem, nunca se separação faz sentido. Percebe-se que o pai que se tem, nunca se viveu com ele (...) E depois também, tomada de consciência de uma viveu com ele (...) E depois também, tomada de consciência de uma outra paisagem. Não é mais o mesmo espaço-tempo (...). Você sabe outra paisagem. Não é mais o mesmo espaço-tempo (...). Você sabe que você passa de seu pai para sua mãe. Isso o excita também um que você passa de seu pai para sua mãe. Isso o excita também um pouco, de uma certa maneira mas a realidade, ela vem pouco a pouco pouco, de uma certa maneira mas a realidade, ela vem pouco a pouco colorir e tornar visível, de fato, o que aconteceu. Portanto, isso não é a colorir e tornar visível, de fato, o que aconteceu. Portanto, isso não é a mesma paisagem, não são as mesmas pessoas, não são as mesmas mesma paisagem, não são as mesmas pessoas, não são as mesmas pessoas, nem o mesmo espaço-tempo. Eu volto a um período bastante pessoas, nem o mesmo espaço-tempo. Eu volto a um período bastante vago a partir desse momento onde, se você quer, será preciso, de vago a partir desse momento onde, se você quer, será preciso, de hoje em diante, que se faça a ponte entre dois mundos, que estão, hoje em diante, que se faça a ponte entre dois mundos, que estão, para mim, radicalmente separados. Eu fiquei um pouco nessa etapa, para mim, radicalmente separados. Eu fiquei um pouco nessa etapa, nessa separação, que ultrapassa de longe a separação pai-mãe. E um nessa separação, que ultrapassa de longe a separação pai-mãe. E um pouco mais longe: “eu tenho de fato a impressão de estar ancorada a pouco mais longe: “eu tenho de fato a impressão de estar ancorada a alguma coisa. E a pergunta agora que se faz e se eu vou continuar alguma coisa. E a pergunta agora que se faz e se eu vou continuar nesse dilema ou se eu vou sair definitivamente? Francamente, eu não nesse dilema ou se eu vou sair definitivamente? Francamente, eu não acredito muito. Certamente eu sempre ficarei no meio do caminho. É acredito muito. Certamente eu sempre ficarei no meio do caminho. É verdade que isso de ser assim ou assado não me interessa. Há verdade que isso de ser assim ou assado não me interessa. Há vontade de manter essa corrente de ar, um meio-termo. Sei lá.vontade de manter essa corrente de ar, um meio-termo. Sei lá.

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RiscosRiscos Você se sente desnaturalizada aqui? Você se sente desnaturalizada aqui?

Qual é a sua maior insatisfação?Qual é a sua maior insatisfação? Dupla enganaçãoDupla enganação

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RiscosRiscos Não basta também apenas uma entrevista Não basta também apenas uma entrevista

reflexiva, é necessário não se deixar levar reflexiva, é necessário não se deixar levar pelo entrevistado em sua falsa pelo entrevistado em sua falsa objetivaçãoobjetivação

O entrevistado impõe seu jogo e fornece O entrevistado impõe seu jogo e fornece uma aparência de auto-analise escapando uma aparência de auto-analise escapando assim de tornar visíveis as determinações assim de tornar visíveis as determinações sociais de suas opiniões, de suas práticas sociais de suas opiniões, de suas práticas no que elas têm de mais difícil de no que elas têm de mais difícil de assumir.assumir.

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Conceito de entrevistaConceito de entrevista Exercício espiritualExercício espiritual

Auto análise provocada e Auto análise provocada e acompanhada. acompanhada.

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Construção realistaConstrução realista Construção realista – conhecimento Construção realista – conhecimento

prévio da realidadeprévio da realidade Exemplo – pesquisa sobre moradia Exemplo – pesquisa sobre moradia

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EntrevistaEntrevista Duas mulheres de quarenta anos de idade, uma delas conta Duas mulheres de quarenta anos de idade, uma delas conta

a história de suas sucessivas moradias.a história de suas sucessivas moradias.Mulher 1: Mulher 1: é a primeira vez que moro numa casa nova, é é a primeira vez que moro numa casa nova, é

muito bom... A primeira casa que tive em Paris foi na rua muito bom... A primeira casa que tive em Paris foi na rua Brancion, era um apartamento antigo, que não tinha sido Brancion, era um apartamento antigo, que não tinha sido reformado desde a guerra de 14. Tudo precisava de reformado desde a guerra de 14. Tudo precisava de reformas, tudo estava torto. Tão pouco conseguimos reformas, tudo estava torto. Tão pouco conseguimos recuperar o teto de tão sujo que estava.recuperar o teto de tão sujo que estava.

Mulher 2: Mulher 2: com certeza, é muito trabalho...com certeza, é muito trabalho...Mulher 1: Mulher 1: Antes, com meus pais, nós morávamos numa Antes, com meus pais, nós morávamos numa

habitação sem água. Era formidável, com duas crianças ter habitação sem água. Era formidável, com duas crianças ter um banheiro. um banheiro.

Mulher 2: Mulher 2: Na casa dos meus pais era a mesma coisa. Mas Na casa dos meus pais era a mesma coisa. Mas nem por isso éramos sujos. Mas é verdade, é tão mais fácil...nem por isso éramos sujos. Mas é verdade, é tão mais fácil...

Mulher 1: Mulher 1: Depois moramos em Creteil. Era um imóvel Depois moramos em Creteil. Era um imóvel moderno mas que já tinha uma dezena de anos...” moderno mas que já tinha uma dezena de anos...”

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Pequenas intervençõesPequenas intervenções Esse tipo de intervenção engaja o Esse tipo de intervenção engaja o

interlocutor na história que ele conta interlocutor na história que ele conta e o convida a dela participar.e o convida a dela participar.

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Os riscos da escritaOs riscos da escrita Transcrição – já é uma verdadeira Transcrição – já é uma verdadeira

tradução ou até uma interpretação, a tradução ou até uma interpretação, a transcrição joga deliberadamente com transcrição joga deliberadamente com a pragmática da escrita para orientar a a pragmática da escrita para orientar a atenção do leitor para os traços atenção do leitor para os traços sociologicamente pertinentes que sociologicamente pertinentes que poderíamos deixar escaparpoderíamos deixar escapar

Dois conjuntos de obrigaçõesDois conjuntos de obrigações 1. obrigações de fidelidade1. obrigações de fidelidade 2. fazer escolhas2. fazer escolhas

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Os riscos da escritaOs riscos da escrita Confusão dos efeitos simbólicosConfusão dos efeitos simbólicos Esforçar para fornecer ao leitor a Esforçar para fornecer ao leitor a

legibilidade do discursolegibilidade do discurso Discurso perigosoDiscurso perigoso

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Contexto das entrevistas do Contexto das entrevistas do RMIRMI

Entrevista realizada por um escritório de estudos a Entrevista realizada por um escritório de estudos a pedido do Ministério da Pesquisa e da Tecnologia para pedido do Ministério da Pesquisa e da Tecnologia para avaliar a renda mínima (RMI) após três anos em avaliar a renda mínima (RMI) após três anos em execução. execução.

É apresentada como uma entrevista científica.É apresentada como uma entrevista científica. Foi realizada no momento em que a comissão deve Foi realizada no momento em que a comissão deve

entrar com seu primeiro relatório ao primeiro ministro.entrar com seu primeiro relatório ao primeiro ministro. Lugar de realização – escritórios da prefeituras ou Lugar de realização – escritórios da prefeituras ou

centros comunitárioscentros comunitários Numero de perguntas: 300Numero de perguntas: 300 Conteúdo: perguntas que fazem o beneficiário provar Conteúdo: perguntas que fazem o beneficiário provar

a legitimidade da situação (que procura emprego, que a legitimidade da situação (que procura emprego, que é desempregado e seus direitos estão no fim, que é é desempregado e seus direitos estão no fim, que é um jovem sem qualificação, que não tem domicílio um jovem sem qualificação, que não tem domicílio fixo, etc)fixo, etc)

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Violência simbólica nas entrevistas Violência simbólica nas entrevistas burocráticas – exemplo 1 burocráticas – exemplo 1

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Violência simbólica nas entrevistas Violência simbólica nas entrevistas burocráticas – exemplo 1 burocráticas – exemplo 1

A violência simbólica é feita com desinibição pois A violência simbólica é feita com desinibição pois os agentes encarregados se sentem autorizados os agentes encarregados se sentem autorizados pelo Estado, detentor do monopólio da violência pelo Estado, detentor do monopólio da violência simbólica legítima.simbólica legítima.

O inquérito é conduzido na lógica da suspeita.O inquérito é conduzido na lógica da suspeita. O entrevistado, na lógica da suspeita, é tratado O entrevistado, na lógica da suspeita, é tratado

como dissimulador ou simulador potencial que como dissimulador ou simulador potencial que deve ser pego na armadilha. deve ser pego na armadilha.

Os repetidos porques induzem a crer que o que Os repetidos porques induzem a crer que o que acontece com o entrevistado foi resultado de acontece com o entrevistado foi resultado de uma livre escolha e a vítima seria responsável.uma livre escolha e a vítima seria responsável.

A discordância estrutural é geradora de mal-A discordância estrutural é geradora de mal-entendidos explícitos. Ignoram as respostas entendidos explícitos. Ignoram as respostas anteriores e vão a fundo nas próximasanteriores e vão a fundo nas próximas