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PARANÁ GOVERNO DO ESTADO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
ROSÂNGELA MARIA DA COSTA OLIVEIRA
LITERATURA E ESCOLA - REDESCOBERTA DO POEMA
EM SALA DE AULA.
UNIDADE DIDÁTICA
VIA PLANO DE TRABALHO DOCENTE
UEL – LONDRINA - 2011
ROSÂNGELA MARIA DA COSTA OLIVEIRA
LITERATURA E ESCOLA – REDESCOBERTA DO POEMA
EM SALA DE AULA.
Proposta de Material Didático apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná. Orientadora: Profª Drª Alba Maria Perfeito
UEL – LONDRINA – 2011
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Ficha Catalográfica. .................................................................................. 5
Quadro 2 – Principais características do gênero poema em termos bakhtinianos. ..... 8
Quadro 3 – Demonstrativo do Plano de Trabalho Docente. ........................................ 9
Quadro 4 – Plano de Trabalho Docente voltado para prática/teoria/prática. ............. 11
LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS
DCE - Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica de Língua
Portuguesa.
PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional.
SUMÁRIO
1 FICHA CATALOGRÁFICA ............................................................................... 5
2 APRESENTAÇÃO/PLANO NORTEADOR ...................................................... 6
2.1 TEMA .......................................................................................................................... 6
2.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 6
2.3 PÚBLICO ALVO ............................................................................................................. 9
2.4 OBJETIVOS ................................................................................................................ 10
3 PROCEDIMENTOS ........................................................................................ 10
3.1 PRÁTICA SOCIAL INICIAL ............................................................................................ 12
3.1.1 Anúncio dos Conteúdos ........................................................................................ 12
3.1.2 Vivência Cotidiana dos Conteúdos ....................................................................... 12
3.1.3 Desafio: O que gostariam de saber a mais? ......................................................... 12
4 PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................................... 13
4.1 DIMENSÃO CONCEITUAL ............................................................................................. 13
4.2 DIMENSÃO ESTÉTICO-LITERÁRIA ................................................................................. 13
4.3 DIMENSÃO HISTÓRICO-CULTURAL .............................................................................. 14
4.4 DIMENSÃO SOCIAL ..................................................................................................... 14
4.5 DIMENSÃO POLÍTICA ................................................................................................... 15
5 INSTRUMENTALIZAÇÃO .............................................................................. 15
5.1 LENDO UM GÊNERO DISCURSIVO: POEMA..................................................................... 18
5.2 ANALISANDO O CONTEXTO DE PRODUÇÃO ................................................................... 21
5.3 ATIVIDADES QUE ABORDAM O CONTEÚDO TEMÁTICO .................................................... 24
5.4 ATIVIDADES SOBRE A CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL (ARRANJO, ORGANIZAÇÃO TEXTUAL) DO GÊNERO POEMA. ................................................................................................... 25
5.5 ATIVIDADES QUE CONTEMPLAM AS MARCAS LINGUÍSTICAS E ENUNCIATIVAS .................. 25
5.6 TRABALHANDO OUTRO POEMA DE CASTRO ALVES ...................................................... 27
5.6.1 Conversando sobre o tema ................................................................................... 36
5.6.2 Explorando as marcas lingüístico-enunciativas no gênero discursivo poema . 36
6 CATARSE ...................................................................................................... 41
7 PRÁTICA SOCIAL FINAL .............................................................................. 42
7.1 INTENÇÕES E AÇÕES SOBRE O CONTEÚDO APREENDIDO ............................................. 42
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43
5
LITERATURA E ESCOLA – REDESCOBERTA DO POEMA EM SALA DE AULA
UNIDADE DIDÁTICA
VIA PLANO DE TRABALHO DOCENTE (Dirigido a Professores e Alunos)
PROFESSOR PDE – TURMA 2010
1 FICHA CATALOGRÁFICA
T Í T U L O : L i t e r a tura e esco la – Redescober ta do Poema em Sa la de Au la
Autor Rosângela Maria da Costa Oliveira
Escola de Atuação Colégio Estadual Dr. Willie Davids – Ensino Fundamental e Médio
Município da escola Londrina Núcleo Regional de Educação Londrina Orientador Profª Drª Alba Maria Perfeito Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina – UEL Disciplina/Área Língua Portuguesa Produção Didático-Pedagógica Unidade Didática Via Plano de Trabalho Docente Relação Interdisciplinar: — Público Alvo Ensino Médio Localização Rua Guaranis, 874
Apresentação
Numa tentativa de amenizar a dificuldade e até uma certa antipatia por parte de alguns educandos, quanto à leitura/interpretação dos poemas em sala de aula, esta unidade pedagógica trabalhará o gênero discursivo poema, priorizando alguns poemas de Castro Alves, caracterizando-os de acordo com as características bakhtinianas: condições de produção, conteúdo temático, construção composicional e marcas de linguagem,. Nesse sentido irá abordá-los, conforme Perfeito e Vedovato (2011), na transposição didática, com Plano de Trabalho Docente, proposto por Gasparin (2009), adaptado pela Profª Drª Alba Maria Perfeito. Tal plano será pautado “em atividades planejadas que possibilitem ao aluno a leitura e a produção oral e escrita, bem como a reflexão e o uso da linguagem em diferentes situações.” (PARANÁ, 2008, p. 55).
Palavras-chave Aquisição da Linguagem; Gênero Discursivo Poema; Castro Alves; Plano de Trabalho Docente.
Quadro 1 – Ficha Catalográfica. Fonte: Elaborado pelo Autor.
6
2 APRESENTAÇÃO/PLANO NORTEADOR
2.1 TEMA
A relevância da aprendizagem do poema em sala de aula.
2.2 JUSTIFICATIVA
Após o rompimento da linguagem como expressão do pensamento por
Saussure (1969), determina-se a divisão entre Língua e Fala (Langue/Parole),
escolhendo a Língua como objeto de estudo. Portanto:
[...] em oposição à Parole, manifestação individual concreta dos falantes, sujeita a variações, a Langue é conceituada como um sistema de signos ( um conjunto de unidades que estão organizadas, formando um todo, de caráter social, homogêneo e abstrato, internalizados na mente do falante. A Langue paira sobre o falante, que a incorpora, utilizando-a em situações reais e diversificadas de uso. Tal utilização, porém, não é considerada na teoria saussuriana pois seu estudo se limita ao funcionamento interno da língua, sem levar em conta as determinações sócio-históricas da linguagem. (PERFEITO, 2005, p. 826)
Apenas quando os “homens penetram na corrente da comunicação
verbal; ou melhor, somente quando mergulham nessa corrente é que sua
consciência desperta e começa a operar” destacam (BAKHTIN/VOLOCHÍNOV,
1986, p. 108).
Segundo Perfeito (2005), nesse enfoque, discurso, gênero e texto,
tornaram-se aliados aos novos estudos sobre o pensamento e linguagem, deixando
de ser explicações dos fenômenos básicos da frase. Concomitantemente a isto,
estudos lingüísticos e literários “passam a confrontar diferentes leituras dos mesmos
textos e incorporam o leitor como categoria tão importante como o texto e o autor”
(GERALDI, 1997, p. 18), numa contínua movimentação, no ato enunciativo.
7
Ensinar a língua, a partir dessa perspectiva, “requer que se considerem
os aspectos sociais e históricos em que o sujeito está inserido, bem como o contexto
de produção do enunciado1”, (PARANÁ, 2008, p. 49).
Com a contemplação do Conteúdo Estruturante nas Diretrizes
Curriculares Estaduais Educação Básica – Língua Portuguesa, doravante DCE -
(2008, p. 62 – 63) e de acordo com seu desdobramento no trabalho didático-
pedagógico, a Língua será aprimorada a partir da linguagem em uso, na sala de
aula. O trabalho com a disciplina levará em conta “os gêneros discursivos que
circulam socialmente, com especial atenção àqueles de maior exigência na sua
elaboração formal”, (PARANÁ, 2008, p. 63).
Para Bakhtin (2010, p.283) “As formas da língua e as formas típicas dos
enunciados, isto é, os gêneros do discurso, chegam à nossa experiência e a nossa
consciência em conjunto e estreitamente vinculadas”. Porque falamos por
enunciados e não por orações e palavras isoladas. E, assinala:
Nós aprendemos a moldar o nosso discurso em formas de gênero e, quando ouvimos o discurso alheio, já adivinhamos um determinado volume ( isto é, uma extensão aproximada do conjunto do discurso), uma determinada construção composicional, prevemos o fim, isto é, desde o início temos a sensação do conjunto do discurso que e seguida apenas se diferencia no processo da fala. Se os gêneros do discurso não existissem e nós não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo do discurso, de construir livremente e pela primeira vez cada enunciado, a comunicação discursiva seria quase impossível, (BAKHTIN, 2010, p. 283).
Desse modo, tendo em vista a instabilidade do gênero, já postulava
Bakhtin (2010, p.285) “quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente
os empregamos”, exercendo assim, o nosso livre projeto de discurso.
A inclusão do gênero poema no âmbito escolar é essencial, mas sua
estabilidade como enunciado é bastante relativa, por isso, Perfeito e Vedovato
(2011) estruturam de modo amplo, as principais características do gênero em termos
bakhtinianos (2003) relacionadas às condições de produção, as quais serão de
grande auxílio aos professores em seu trabalho em sala, com o gênero poema,
como observaremos nos tópicos e no quadro desenvolvidos por elas:
• O conteúdo temático - aquilo que pode ser dizível num gênero;
1 Enunciado: de acordo com Bakhtin ( 1992), é através dos enunciados que o emprego da língua se efetua, sejam eles orais e/ou escritos.
8
• O estilo - a escolha dos recursos expressivos do gênero (as marcas
lingüístico-enunciativas);
• A construção composicional- formas de organização, de arranjo textual,
intrinsecamente ligados no todo do enunciado e determinados pela
especificidade de cada campo da esfera social – ideologicamente
conformada.
Contexto de produção
Produtor: é representado sempre pelo poeta; Destinatário: varia de acordo com os objetivos do autor; Local de circulação: livros, jornais, internet, materiais didáticos
diversos, entre outros; Contexto histórico: normalmente influência a forma utilizada,
bem como no arranjo do poema.
A construção composicional
Apresenta organização em versos, estrofes, rimas ou em versos brancos. Pode respeitar; em casos específicos, a metrificação. O ritmo é marcado pela relação do poeta com o seu contexto. Assim, pode pulsar desenfreado no Modernismo ou pode se apresentar de modo marcado como o proposto pelos estudiosos literários tradicionais.
O conteúdo temático Variável.
As marcas linguístico-enunciativas
Figuras de linguagens e pensamento; forte presença de estratos fonéticos, efeitos sonoros, preocupação com a construção visual. Possível emprego de neologismos e utilização de palavras imagens.
Quadro 2 – Principais características do gênero poema em termos bakhtinianos. Fonte: Elaborado pelas autoras (no prelo).
De acordo com o exposto, trabalharei nesse enfoque o gênero discursivo
poema, no caso os poemas de Castro Alves (O “Adeus” de Teresa, O Laço de Fita e
Tragédia no Lar), da esfera literária, via Transposição Didática com Projeto de
Trabalho Docente de Gasparin (2009), organizado em uma perspectiva sócio-
histórica, provenientes dos estudos vigotskianos, onde serão levadas em
consideração as três fases do método dialético de construção do conhecimento
escolar: prática, teoria, prática. O quadro a seguir, o qual faz parte do Anexo 1 (p.
163) do livro de Gasparin (2009), apresenta uma sinopse da proposta do autor:
9
QUADRO DEMONSTRATIVO DO PLANO DE TRABALHO DOCENTE
Projeto de Trabalho Docente-Discente na Perspectiva Histórico-Crítica.
PRÁTICA TEORIA PRÁTICA
(ZONA DE DESENVOLVIMENTO
REAL) (ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL)
(ZONA DE DESENVOLVIMENTO
POTENCIAL)
Prática social inicial do conteúdo
Problematização Instrumentalização Catarse Prática Social
Final do conteúdo
1) Apresentação do conteúdo;
2) Vivência
cotidiana do conteúdo:
a) O que o aluno
já sabe: visão da totalidade empírica.
Mobilização.
b) Desafio: o que
gostaria de saber a mais?
1) Identificação e discussão sobre os principais problemas postos pela prática social e pelo conteúdo.
2) Dimensões do
conteúdo a serem trabalhadas.
1) Ações docentes e discentes para a construção do conhecimento.
Relação aluno x objeto do conhecimento através da mediação docente.
2) Recursos
humanos e materiais.
1) Elaboração teórica da síntese, da nova postura mental.
Construção da nova totalidade concreta.
2) Expressão da
síntese.
Avaliação: deve atender às dimensões trabalhadas e aos objetivos.
1) Intenções do aluno.
Manifestação da nova postura prática, da nova atitude sobre o conteúdo e da nova forma de agir.
2) Ações do aluno.
Nova prática social do conteúdo.
Quadro 3 – Demonstrativo do Plano de Trabalho Docente. Fonte: Gasparin, 2009, adaptado por Perfeito, Borges e Ohuschi (2010).
2.3 PÚBLICO ALVO
Alunos do Ensino Médio2.
2 Embora o público alvo seja o aluno, esta unidade didática também contribui com/para a prática
pedagógica do professor, orientando-o no desenvolvimento dos estudos com o gênero discursivo
poema, baseando-se nos conceitos bakhtinianos, transpostos por meio de um Plano de Trabalho
Docente (PTD).
10
2.4 OBJETIVOS
• Ampliar os horizontes discursivos dos alunos, resgatando a empatia do
educando pela leitura/interpretação do gênero discursivo poema, com o
estudo teórico e prático da obra do poeta Castro Alves, por meio da
transposição didática, com o Plano de Trabalho Docente de Gasparin
(2009).
• Evidenciar para o educando os aspectos que possibilitam a diversidade
de leitura e interpretação de poemas, como gêneros discursivos;
• Ressaltar o discurso ideológico presente no poema através da leitura;
• Mediar o crescimento do aluno como leitor crítico, reflexivo, inserido e
conhecedor de diversas esferas sociais;
• Reconhecer que, assim como os poetas de outrora, os alunos também
podem escrever seus sentimentos, sucessos, desventuras e críticas
através do poema;
• Estimular os alunos a socializarem suas produções poéticas, assumindo
uma atitude autônoma, reflexiva e emancipada quanto à leitura e
produção de texto;
• Proporcionar embasamento teórico para que o educando leia, interprete e
possa redigir seu próprio poema e compreenda os aspectos e
características relevantes da escola literária estudada;
3 PROCEDIMENTOS
Esta unidade didática versa a partir da obra de Castro Alves, via esfera
literária, o gênero discursivo poema pela transposição didática, com o Plano de
Trabalho Docente de Gasparin, o qual é pautado “em atividades planejadas que
possibilitem ao aluno a leitura e a produção oral e escrita, bem como a reflexão e o
uso da linguagem em diferentes situações”. (PARANÁ, 2008, p. 55).
11
Quanto à avaliação, este Plano de Trabalho Docente corrobora as
Diretrizes Curriculares do Paraná, uma vez que o processo de aprendizagem é
contínuo e dá prioridade à qualidade e o desempenho do educando. A avaliação dos
poemas considerará a avaliação formativa:
A avaliação formativa considera que os alunos possuem ritmos e processos de aprendizagem diferentes e, por ser contínua e diagnóstica, aponta dificuldades, possibilitando que a intervenção pedagógica aconteça a todo tempo. Informa ao professor e ao aluno acerca do ponto em que se encontram e contribui com a busca de estratégias para que os alunos aprendam e participem mais das aulas. (PARANÁ, 2008, p. 81).
Sob essa perspectiva, juntamente com as Diretrizes, o Plano de Trabalho
Docente contemplará na avaliação: oralidade, leitura, escrita e análise linguística.
Uma vez que o professor é o mediador entre conteúdo e o educando.
O Plano de Trabalho Docente de Gasparin é voltado para as três fases do
método dialético de construção do conhecimento – prática/teoria/prática – as quais
se desenvolvem em cinco etapas, conforme o quadro abaixo. O qual está melhor
explicitado nas páginas 09 a 42 desta referida unidade.
Prática real (zona de desenvolvimento
real)
Teoria (zona de desenvolvimento proximal)
Prática (zona de desenvolvimento
potencial)
Prática Social Inicial do Conteúdo Problematização Instrumentalização Catarse
Prática Social Final do
Conteúdo Quadro 4 – Plano de Trabalho Docente voltado para prática/teoria/prática. Fonte: GASPARIN, J. L. Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. Campinas: Autores Associados, 2009, p. 163.
OBS: O tempo estimado para as atividades 3.1, 3.1.1, 3.1.2, 3.1.3, 4, 4.1, 4.2, 4.3,
4.4 e 4.5 são: 5 aulas ao todo.
12
3.1 PRÁTICA SOCIAL INICIAL
3.1.1 Anúncio dos Conteúdos
Devido ao fato do poema ser único e ter características peculiares,
precisamos atrair/cativar a atenção do educando, nesse primeiro momento, ainda
que superficialmente, para a estrutura composicional do poema (as estrofes, versos,
rimas), marcas lingüísticas que reforçam/auxiliam a construção de efeitos de sentido
do texto. Assim como, a livre pontuação no texto poético, para começar a criar um
encantamento por esse gênero discursivo.
O professor poderá registrar no quadro, se achar oportuno, os conteúdos
acima.
Além disso, todas as palavras dos enunciados/conteúdos/atividades que
causem estranheza para os alunos serão discutidas com os alunos - com mediação
do professor e com auxílio do dicionário.
3.1.2 Vivência Cotidiana dos Conteúdos
Atividade oral, para resgatar os conhecimentos prévios dos alunos:
• O que é o gênero discursivo poema?
• Vocês já declamaram alguma vez um poema? Caso a resposta seja
afirmativa, em que série ou lugar?
• Vocês gostam de leitura? E a leitura de poemas?
• Já leram algum poema? Qual?
• Qual o tema que os poemas podem abordar?
3.1.3 Desafio: O que gostariam de saber a mais?
Atividade escrita no caderno.
• O que vocês gostariam de saber a mais sobre o gênero poema?
13
• O que vocês esperam aprender com nossos estudos?
• Vocês conhecem alguém que gosta ou tem o hábito de escrever
poemas? Quem?
4 PROBLEMATIZAÇÃO
Ler ou escrever poemas? O que vocês acham mais difícil?
A partir desse questionamento motivador, os alunos serão divididos em
grupo para discutirem sobre o assunto, em seguida, um aluno de cada grupo
anotará a opinião da equipe numa folha avulsa e lerá para a turma com a
mediação/intervenção do professor sempre que necessário. O professor pode ficar
com a folha avulsa, para utilizá-la na prática social-final.
4.1 DIMENSÃO CONCEITUAL
Atividade oral (Porém à medida que esses elementos: diferença entre
poema e poesia, figuras de linguagem e as marcas lingüístico-enunciativas forem
aparecendo nas análises dos poemas de Castro Alves, será entregue uma folha
avulsa para os alunos com as devidas explicações): Breve diferenciação entre
poema e poesia, a influência das figuras de linguagens e as marcas linguísticas para
o sentido do poema. Consoante Perfeito e Vedovato (2011, no prelo):
Um bom modo para introduzir o conceito de poemas é com atividades ligadas ao conteúdo imagético do poema: distribuição no papel, cores, etc. Normalmente, os educandos já apontam algumas diferenças entre os poemas e os textos de outros gêneros.
4.2 DIMENSÃO ESTÉTICO-LITERÁRIA
Atividade oral com a intervenção do professor, com auxílio da TV-
Pendrive.
14
Considerando que o gênero poema pertence à esfera literária, qual a sua
importância estética?
4.3 DIMENSÃO HISTÓRICO-CULTURAL
Propor uma atividade extraclasse, podendo ser individual ou em dupla,
escrita ou impressa, sobre a origem do poema e as suas possíveis mudanças
significativas, por exemplo:
• Vocês conhecem a origem do poema?
• Com o passar do tempo houve mudanças significativas do gênero
discursivo poema ou ele não mudou desde sua origem?
Na aula seguinte, os alunos apresentarão a atividade pesquisada. E, o
professor, organizará grupos, com alunos de equipes diferentes, no máximo quatro,
para a troca de experiência sobre o gênero poema, sempre com a mediação do
professor, como ressalta Gasparin (2009,p.2) “ambos passam a ser coautores do
processo ensino-aprendizagem”. Em seguida, a equipe escolhe um colega para
oralmente relatar a conclusão que chegaram sobre as perguntas da pesquisa. O
professor, fundamentado na concepção interacionista da linguagem, fará os devidos
acréscimos e comentários oportunos, conforme a explanação dos grupos.
4.4 DIMENSÃO SOCIAL
Atividade oral para resgatar a importância do poema na sociedade. E, a
citação de Perfeito e Vedovato poderá ser escrita no quadro ou passada na TV
Pendrive.
Por que o gênero discursivo poema é importante para a sociedade?
Essa indagação para o gênero poema é bastante complexa, como
postulam Perfeito e Vedovato (2011, no prelo):
Esse talvez o ponto mais complexo em relação aos poemas, pois não há para o poema uma justificativa social para sua criação. Nossa indicação é relacionar o poema ao autor, para tratar a arte como materialidade possível dos não ditos. Assim, para além das questões
15
estéticas, o poema como mencionamos acima, serviria como o lugar para a concretização de valores históricos e culturais [...].
4.5 DIMENSÃO POLÍTICA
Atividade oral com a mediação do professor.
• Você já ouviu falar em Bahia, Salvador, Recife? Como vocês acham
que são essas regiões?
• Além dos poemas que outros veículos podem relatar/mostrar as
injustiças sociais, assim como o poeta Castro Alves o fez?
5 INSTRUMENTALIZAÇÃO
Propor a leitura do poema O “Adeus” de Teresa e Laço de Fita do poeta
Castro Alves, seguidos de algumas indagações, as quais deverão ser respondidas
por escrito, pelos alunos, com a mediação do professor. Todavia, antes da leitura é
fundamental lembrar aos educandos as características do poema, de acordo com
estudos realizados por Norma Goldstein, como material de pesquisa.
O estudo do poema é um vasto caminho a percorrer, para compreendê-lo
melhor sugerimos valorizar a riqueza de seus versos, estrofes e rimas porque cada
poema é único.
Goldstein (1988, p. 08) afirma que a “a riqueza de significações
escondidas num poema justifica sua múltipla leitura e interpretação – ainda que
parcial – por qualquer leitor bem intencionado”, sugerindo quatro etapas para a
leitura ou análise do poema, as quais levarão /encaminharão o leitor às pistas de
significação pelos vários aspectos ou níveis do texto: rítmico, lexical, sintático e
semântico.
As rimas no poema são classificadas pela sua posição no verso e na
estrofe. Quando aparecem no final do verso são denominadas rimas externas, já no
interior do verso, rimas internas. São conhecidas também como rimas pobres
(palavras que pertencem a mesma classe gramatical ou categoria) e ricas (as que
16
coincidem sonoramente palavras de diferentes classes gramaticais). Entretanto, no
nível fônico, pobre é a rima que ocorre apenas em um fonema e rica a que faz
coincidir os sons das palavras a partir da consoante que vem antes da vogal tônica.
Conforme Goldstein (1988, p. 22 e 23):
Quanto à posição da rima ao longo do poema ou da estrofe, convencionou-se que cada tipo de ima é indicado por uma vogal: primeiro tipo, “a”; segundo, “b” e assim por diante. Por exemplo: obedecendo um esquema “abba”. As rimas bb são consideradas emparelhadas e as aa, interpoladas, pela posição que ocupam na estrofe. Um outro modo de distribuir as rimas resulta em rimas cruzadas ou alternadas do tipo abab. Se as rimas se distribuírem de outro modo, serão chamadas rimas misturadas. No caso de um verso solto, sem rima, fala-se em rima perdida ou órfã.
Já na análise do compasso do poema, usamos a metrificação ou
versificação que, segundo Goldstein (1988, p. 09-10):
[...] consiste em “medir” o tamanho dos versos, dividindo-os ou escandindo-os em sílabas poéticas. Nem sempre as sílabas poéticas coincidem com as gramaticais. Cada vez que ocorre um encontro vocálico, as vogais vizinhas podem ser lidas ora juntas, ora separadas uma da outra.
A autora ainda (1988, p. 10) reitera na “regra de versificação: só se
contam as sílabas poéticas até a última sílaba forte, não sendo consideradas as que
vêm depois dela”.
Há também uma variação referente ao metro (tamanho dos versos),
podendo existir versos de uma sílaba a quinze sílabas (por exemplo: redondilha
menor ou verso de cinco sílabas poéticas, redondilha maior ou verso de sete sílabas
poéticas, verso decassílabo, verso alexandrino ou doze sílabas poéticas). Para um
estudo mais aprofundado, sugerimos a tabela de Goldstein (1988, p. 16-17)
intitulada: As doze variedades de versos e sua composição métrica.
Os versos podem ser regulares, brancos, polimétricos ou livres.
Consoante Goldstein(1988, p. 19):
• Versos regulares são os que obedecem às regras estabelecida pela métrica clássica, determinando a posição das sílabas acentuadas em cada metro (tamanho de verso), e que apresentam rimas regulares, fazendo coincidir os sons finais das últimas palavras de cada verso;
• Versos brancos são os que obedecem às regras métricas de acentuação, mas não apresentam rimas;
• Versos polimétricos, como o nome anuncia é um conjunto de versos com diversos [(poli = muitos) tamanhos (metro)]. Trata-se de um grupo de versos regulares de tamanhos diferentes. Ou seja: as sílabas acentuadas de cada verso se distribuem de acordo com as
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regras clássicas de versificação, sendo cada um deles de tamanho diferente;
• Os versos livres não obedecem a nenhuma regra preestabelecida quanto ao metro, à posição das sílabas fortes, à presença ou distribuição de rimas.
A estrofe, sendo um conjunto de versos, também possui nomes e
tamanhos diferentes como: dístico – dois versos, terceto – três versos, quarteto ou
quadra (frequente no folclore popular) – quatro versos, quinteto – cinco versos,
sexteto ou sextilha – seis versos, sétima ou septilha- sete versos, oitava – oito
versos, nona – nove versos, décima- dez versos. E, quando a estrofe tiver quatorze
versos, a denominamos soneto (composto por quatro estrofes, sendo as duas
primeiras com quartetos e as duas últimas por tercetos).
No poema, inclusive, pode aparecer o estribilho ou refrão - versos ou
apenas um verso que se repetirá ao longo do poema, como postula Goldstein (1988,
p. 21) “um tipo de estrofe especial.”
Algumas figuras de linguagem evidenciam os recursos sonoros no poema
como por exemplo: aliteração (repetição da mesma consoante), assonância
(repetição da mesma vogal), onomatopéia (quando o som da palavra lembra o
objeto ou o ser nomeado) e a repetição ou reiteração de sons (coloca certos sons
em evidência, ora para acentuar semelhanças, ora para indicar contrastes).
As categorias gramaticais (Há adjetivos? Ausência ou não de verbos?
Substantivos?) são auxiliares imprescindíveis para a análise lexical/ linguística de
um poema. De acordo com Goldstein (1988, p. 30):
O levantamento das classes gramaticais pode auxiliar na interpretação de um texto. Aparecem substantivos? Predominam verbos? Em que tempo e modo? De estado ou de ação? A resposta a estas perguntas talvez contenha pistas para a interpretação do poema. Você vai verificar a utilidade deste tipo de análise, a partir de exemplos.
No nível de frase, estudamos como as palavras se constituem em
“sintagmas, frases, períodos, orações. O tipo de construção sintática do texto pode
ajudar a compreender o seu sentido”, (Goldstein, 1988, p. 35) por meio de
combinação de vocábulos, pontuação, paralelismo, gradação, inversão,
enumeração. O aspecto semântico, além de não estar dissociado dos outros níveis,
pode ser reforçado por algumas figuras de linguagens como a metáfora,alegoria,
comparação, sinestesia, metonímia, antítese, ironia, por exemplo.
18
5.1 LENDO UM GÊNERO DISCURSIVO: POEMA
As leituras dos poemas Laço de fita e O “Adeus” de Teresa serão
expostas e confrontadas, com a mediação do professor.
O “Adeus” de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus ...
E amamos juntos ... E depois na sala
“Adeus” eu disse a tremer co’a fala ...
E ela, corando, murmurou-me: “adeus”.
Uma noite ... entreabriu-se um resposteiro ...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus ...
Era eu ... Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa ...
E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”
Passaram tempos ... séc’los de delírio ...
Prazeres divinais ... gozos do Empíreo ...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei! ... descansa! ...”
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”
Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d’ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
19
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...
E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”3
S. Paulo, 28 de agosto de 1868
O Laço de Fita
Não sabes, criança? ’Stou louco de amores ...
Prendi meus afetos , formosa pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos de moça bonita,
Fingindo a serpente que enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh’alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
3 O poema O “Adeus” de Teresa foi retirado do livro Castro Alves/seleção de textos, notas, estudos biográficos e crítico por Marisa Lajolo e Samira Campadelli. –3ª ed. – São Paulo: Nova Cultural, 1990, p. 50. – (Literatura Comentada)
20
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!
Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas pernas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita
Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.
Mas ai! Findo o baile, despindo os adornos
N’alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia liberte as tranças
Mas eu...fico preso
No laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c’roa...
Teu laço de fita.4
S. Paulo, julho de 1868.
OBS: As atividades 5.2, 5.3, 5.4 e 5.5 serão escritas, com a mediação do professor.
As perguntas podem ser respondidas em folha avulsa para confrontação de
4 O poema Laço de Fita foi retirado do livro Castro Alves/seleção de textos, notas, estudos biográficos e crítico por Marisa Lajolo e Samira Campadelli. –3ª ed. – São Paulo: Nova Cultural, 1990, p. 33-34. – (Literatura Comentada)
21
dados do professor e alunos. O professor também incentivará o uso do
dicionário para aquisição de linguagem do educando, assim como, o auxiliará
nos enunciados e resolução das atividades propostas.
5.2 ANALISANDO O CONTEXTO DE PRODUÇÃO
a) Onde pode ser veiculado o poema?
b) Quem escreve esse tipo de texto?
c) Vocês conhecem algum poeta ou poetisa?
d) Vocês escrevem poema ou gostariam de tentar escrevê-lo?
e) O poema tem semelhança quanto à organização em relação a outros
textos que vocês conhecem, como por exemplo: fábulas, contos,
crônicas, artigo de opinião?
f) Há a possibilidade de a história de vida de um autor influenciar sua
obra/produção? Conheça a vida de Antônio Frederico de Castro Alves
segundo estudiosos como: Romero (1960) o qual foi membro da
Academia Brasileira de Letras, Silva (1974) e Lajollo e Campadelli
(1988) e comente o modo como escreve seus poemas, como, por
exemplo, a sua vida serviu de parâmetros para sua obra.
Biografia de Castro Alves
Seus pais eram bem de vida: o pai era médico e a mãe, filha de um
homem rico e influente. Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na fazenda de
Cabeceiras, comarca de cachoeira, perto de Curralinho, na Bahia no dia 14 de
março de 1847. Faleceu em 6 de julho de 1871, devido sua saúde estar debilitada
por ter levado um tiro no calcanhar, acidentalmente numa caçada - o que o levou
amputar uma das pernas, no seu terço inferior -, além do agravamento de sua
tuberculose.
Deixou obras como: Espumas Flutuantes e a Cachoeira de Paulo Afonso,
as quais são exemplos da poesia lírica e social; Os Escravos, um exemplo de poesia
épica; Gonzaga e a Revolução de Minas no teatro.
22
Talvez, tenha enraizado o gosto pela poesia, quando estudou na escola
“Ginásio Baiano” fundado e dirigido pelo educador Abílio César Borges, o qual usava
método inovadores ao invés dos famosos castigos corporais da época. Os
educandos eram estimulados a progredir, através das composições e declamações
de poemas nas festas escolares. Nessa escola, declamou seu primeiro poema
dedicado à data baiana, 2 de julho em 3 de julho de 1861.
Castro Alves, embora pertencesse a terceira geração da corrente
Romântica, de certa forma, em sua obra, prenunciou o realismo que seria a próxima
escola literária, porque tanto em seus poemas como em sua vida a mulher era: real,
presente e corporificada. Muito diferente de seus colegas românticos, que cultuavam
o amor platônico e inatingível, ele cantava o amor em seus versos de modo
expressivo, criando personagens femininas em seus poemas que deixavam
transparecer sentimentos, emoções, como por exemplo, em O “Adeus” de Teresa.
Ele, ainda, versou sobre a mulher de modo mais angelical/inacessível como
observamos no poema “O Laço de Fita”.
Na época, a diversão dos jovens estudantes, das famílias e moças da
época era ir ao Teatro. Foi assim que conheceu e se apaixonou pela atriz Eugênia
Câmara. Ao lado dela, seu trabalho e seu reconhecimento expandiram-se ainda
mais: intensificou a escrita dos seus poemas, o gosto pelo teatro e traduziu peças
para a sua amada encenar. Contudo, devido aos ciúmes de ambos, o amor logo
acabou.
Ao trabalhar às causas sociais, evidenciou em seus poemas os abusos
atrozes contra os escravos ou injustiçados (por exemplo: as crianças francesas
vítimas da guerra franco-prussiana). Comoveu os leitores e a sua platéia com sua
oratória eloquente e seus versos “foram quase sempre lidos num tom ditirâmbico5 e
encomiástico/laudatório” (ROMERO, 1960, p. 1286) repletos de hipérboles,
antíteses, metáforas, para convencer e dialogar com seus interlocutores. Buscou
aproximar o leitor e ouvinte de tamanha crueldade, como podemos observaremos
em Tragédia no Lar6.
5 “Ditirâmbico vem de ditirambos – cantos festivos expressando grandes alegrias ou grandes tristezas – onde ritmo, canto e metro são usados ao mesmo tempo, e onde aparece a própria pessoa do autor (“eu”) como narrador.” (CARA, 1986, p. 11) 6 Esta crueldade também está presente em outros poemas de Castro Alves, como: Navio Negreiro, Vozes d’ África, Lúcia e outros.
23
Há quem diga “que até a África que Castro Alves cantava era, na
paisagem e nos costumes, filtrados pela lente de Hugo” (PILAGALLO, 2007, p. 01),
porque ele se identificava muito com o poeta francês Victor Hugo. Traduziu algumas
de suas poesias, além de ambos simpatizarem com os princípios humanísticos.
Romero (1960, p. 1290) reitera que seus poemas lidos atentamente
apresentam dois traços fundamentais: “– o lirismo gracioso dos amores , das
paixões, das efusões particulares, e o cantar brilhante do socialista, do democrata
social.”
Embora tenha falecido jovem, aos 24 anos, e no auge de sua carreira,
além de ter vivido e cantado o amor de forma intensa em seus versos, trabalhando
as causas sociais de modo engajado em seus poemas, levou a “sério o seu caráter
de poeta, e concentrou aí todos os esforços e energias de seu espírito. “Quis deixar
obra durável”. (ROMERO, 1960, p. 1291).
Devido a sua forte atuação nas causas sociais ficou conhecido como
Poeta dos Escravos ou “Cecéu” para os íntimos, consoante Lajollo e Campadelli
(1988, p. 15). E, inclusive, como “o apóstolo andante, o São Paulo do
Condoreirismo” (ROMERO, 1960, p. 1291), porque não ficou parado num único
Estado, levou sua poesia e seus ideais para Recife, Bahia, Rio de Janeiro e São
Paulo, tidos na época como os quatro centros intelectuais mais notáveis do Brasil.
Antes de prosseguir com as atividades, releia o poema em homenagem a
Castro Alves, para relembrar suas características.
Libertador
Lá vai o Libertador
Com olhos de Condor
As injustiças cantar
Com eloqüência e louvor
Nos palcos e folhetins
Nobre de berço e coração
As injustiças delatou
Sobre tamanha humilhação
Que seus irmãos
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Passavam na senzala
E porões imundos
Em alto mar
Também encantou
E cantou amores
Para as musas
De seu coração
De modo objetivo
Onde passou a versar
As mulheres com sentimentos,
Para a época um escândalo
Para a literatura um presente
Com versos cheios de vida,
Imagens, ricos em rimas: externas ou internas,
Pobres ou ricas,
Preferencialmente as ricas e
Figuras de linguagens convincentes
Como: antítese, hipérboles, metáforas,
Aliterações, assonâncias ...
Para de seus leitores aproximar
a realidade que os salões em festa,
não ousavam mostrar!
Rosângela Maria da Costa Oliveira
5.3 ATIVIDADES QUE ABORDAM O CONTEÚDO TEMÁTICO
a) Os poemas O “Adeus” de Teresa e Laço de Fita abordam a mesma
temática?
b) O poeta idealizou a sua musa inspiradora do mesmo jeito nos dois
poemas?
c) Lendo apenas os títulos dos poemas, é possível inferir de forma
concreta o tema?
25
5.4 ATIVIDADES SOBRE A CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL (ARRANJO, ORGANIZAÇÃO
TEXTUAL) DO GÊNERO POEMA.
a) Observando a organização do poema no papel, há alguma
característica específica desse gênero discursivo?
b) Releia os poemas O “Adeus” de Teresa e Laço de Fita do poeta Castro
Alves e observe se existe alguém contando a história? Como se chama
essa pessoa?
c) A organização do poema provoca alguma dificuldade na sua
leitura/compreensão? Justifique.
d) Os versos são exclusivos do poema ou são contemplados por algum
outro gênero? Pesquise e. depois. socialize com seu professor e
colegas.
5.5 ATIVIDADES QUE CONTEMPLAM AS MARCAS LINGUÍSTICAS E ENUNCIATIVAS
a) As reticências usadas nos dois poemas têm o mesmo significado?
Justifique. Antes de responder lembre-se que:
“As reticências ou pontos-de-reticências podem indicar que o sentido vai além do que foi expresso; indicar pequenas hesitações, dúvida ou surpresa; indicar omissão de pensamentos, mostrando que ainda há ideias para serem expressas; permitir que o leitor( ou interlocutor), com sua imaginação, dê prosseguimento ao assunto; sugerir um prolongamento das entonações interrogativa e exclamativa, indicar que algumas partes foram suprimidas de uma citação. Nesse caso, aparecem entre parênteses. E, em citações de poemas, quando há supressão de versos inteiros, as reticências ocupam toda a extensão da linha, independentemente do número de versos omitidos”. (MESQUITA, p. 467-468).
b) Castro Alves foi um poeta além da sua época, pois surpreendia as
pessoas com suas atitudes ou temas poéticos. Em seu poema O
“Adeus” de Teresa, o fato da palavra adeus estar com aspas contribui
significativamente para o desfecho do poema?
c) Que sentido é produzido, quando a personagem fica corada no
primeiro refrão do poema O “Adeus” de Teresa?
d) Conforme Mesquita (1997, p. 541), “figuras de pensamento são
processos expressivos que introduzem uma idéia diferente daquela que
26
a palavra habitualmente expressa”. Relembrando as figuras de
pensamento existentes como: antítese, ironia, eufemismo, hipérbole7,
por exemplo. Analise os seguintes versos da 3ª estrofe do poema O
“Adeus” de Teresa: “Passaram tempos ...séc’los de delírio ...”/ Prazeres
divinais ... gozos do Empíreo ...”. Ocorre alguma figura de linguagem?
Qual?
e) Releia a última estrofe e retire os adjetivos que prenunciam o inusitado
desfecho dos enamorados?
f) Ainda, na última estrofe, observe o quarto verso: “Entrei!... Ela me
olhou branca... surpresa!”. Por que a personagem ficou surpresa?
g) Sabemos que o aspecto rítmico de um poema é uma melodia para
nossos ouvidos, devido à forma como o poema é composto. Sempre
que coincidem os sons, temos as rimas externas (quando os sons que
terminam as palavras, no final dos versos, são os mesmos, e as rimas
internas (quando as palavras rimadas são do interior do verso).
Considerando este excerto, no poema estudado 0 “Adeus de Teresa”,
qual o tipo de rima predominante: externa ou interna? Cite alguns
exemplos.
h) Quantas estrofes e quantos versos compõem o poema Laço de Fita?
i) No poema Laço de Fita, preste atenção nos dois últimos versos da
primeira estrofe, o poeta Castro Alves empregou um recurso chamado
encadeamento, onde esses versos são complementares quanto ao
sentido. Releia novamente o poema e verifique se ocorreu
encadeamento em outras estrofes. Quais?
j) Segundos estudos Goldstein (1988, p. 22-23) “quanto à posição ao
longo poema ou da estrofe, convencionou-se que cada tipo de rima
indicado por uma vogal: primeiro tipo, ‘a’, segundo, ‘b’ e assim por
diante”. No poema Laço de Fita, a rima predominante é a “b”, como
podemos observar nos vocábulos pepita/ fita; bonita/fita tidas como
rimas consoantes graves. Retire do poema outros exemplos de rima
“b”.
7 Neste momento, seria proficiente relembrar juntamente com os alunos, o significado de cada uma das figuras de linguagem citadas na questão, caso o professor ache oportuno.
27
k) Lembrando que as rimas pobres pertencem à mesma classe gramatical
(substantivo rima com substantivo, adjetivo rima adjetivo, verbo rima
com verbo...) e rimas ricas aquelas as quais coincidem sonoramente
com palavras de classes gramaticais diferentes, analise de acordo com
as palavras usadas como resposta no exercício anterior, o tipo de rima:
pobre ou rica?
l) Em Laço de Fita, na segunda estrofe, o Laço e o cabelo são
comparados com outros dois vocábulos? Quais são eles? E na quinta
estrofe, o laço de fita é comparado a que?
OBS: Tempo estimado para as atividades 5, 5.1, 5.2, 5.3, 5.4 e 5.5: 12 aulas
aproximadamente.
5.6 TRABALHANDO OUTRO POEMA DE CASTRO ALVES
Antes mesmo da Lei do Ventre Livre ou Lei Rio Branco, que declarou livre
todos os nascidos no Brasil em 28 de setembro de 1871, Castro Alves já denunciava
com seus poemas os horrores e humilhação daqueles que foram privados da sua
liberdade e direitos. Leia, atentamente, o poema que segue.
Obs.: Primeiramente, propor uma leitura silenciosa para os alunos, depois
pedir para grifarem/pintarem as palavras que eles não conhecem e verificarem os
significados delas no contexto do poema, sempre com a intervenção do professor.
Ademais, cada aluno lerá uma estrofe em voz alta para, gradativamente, serem
incentivados à declamação.
Tragédia no lar de Castro Alves
Na Senzala, úmida, estreita,
Brilha a chama da candeia,
No sapé se esgueira o vento.
E a luz da fogueira ateia.
28
Junto ao fogo, uma africana,
Sentada, o filho embalando,
Vai lentamente cantando
Uma tirana indolente,
Repassada de aflição.
E o menino ri contente...
Mas treme e grita gelado,
Se nas palhas do telhado
Ruge o vento do sertão.
Se o canto pára um momento,
Chora a criança imprudente...
Mas continua a cantiga...
E ri sem ver o tormento
Daquele amargo cantar.
Ai! triste, que enxugas rindo
Os prantos que vão caindo
Do fundo, materno olhar,
E nas mãozinhas brilhantes
Agitas como diamantes
Os prantos do seu pensar ...
E voz como um soluço lacerante
Continua a cantar:
"Eu sou como a garça triste
"Que mora à beira do rio,
"As orvalhadas da noite
"Me fazem tremer de frio.
"Me fazem tremer de frio
"Como os juncos da lagoa;
"Feliz da araponga errante
"Que é livre, que livre voa.
29
"Que é livre, que livre voa
"Para as bandas do seu ninho,
"E nas braúnas à tarde
"Canta longe do caminho.
"Canta longe do caminho.
"Por onde o vaqueiro trilha,
"Se quer descansar as asas
"Tem a palmeira, a baunilha.
"Tem a palmeira, a baunilha,
"Tem o brejo, a lavadeira,
"Tem as campinas, as flores,
"Tem a relva, a trepadeira,
"Tem a relva, a trepadeira,
"Todas têm os seus amores,
"Eu não tenho mãe nem filhos,
"Nem irmão, nem lar, nem flores".
A cantiga cessou... Vinha da estrada
A trote largo, linda cavalhada
De estranho viajor,
Na porta da fazenda eles paravam,
Das mulas boleadas apeavam
E batiam na porta do senhor.
Figuras pelo sol tisnadas, lúbricas,
Sorrisos sensuais, sinistro olhar,
Os bigodes retorcidos,
O cigarro a fumegar,
O rebenque prateado
Do pulso dependurado,
Largas chilenas luzidas,
30
Que vão tinindo no chão,
E as garruchas embebidas
No bordado cinturão.
A porta da fazenda foi aberta;
Entraram no salão.
Por que tremes mulher? A noite é calma,
Um bulício remoto agita a palma
Do vasto coqueiral.
Tem pérolas o rio, a noite lumes,
A mata sombras, o sertão perfumes,
Murmúrio o bananal.
Por que tremes, mulher? Que estranho crime,
Que remorso cruel assim te oprime
E te curva a cerviz?
O que nas dobras do vestido ocultas?
É um roubo talvez que aí sepultas?
É seu filho... Infeliz! ...
Ser mãe é um crime, ter um filho - roubo!
Amá-lo uma loucura! Alma de lodo,
Para ti - não há luz.
Tens a noite no corpo, a noite na alma,
Pedra que a humanidade pisa calma,
— Cristo que verga à cruz!
Na hipérbole do ousado cataclisma
Um dia Deus morreu... fuzila um prisma
Do Calvário ao Tabor!
Viu-se então de Palmira os pétreos ossos,
De Babel o cadáver de destroços
Mais lívidos de horror.
31
Era o relampejar da liberdade
Nas nuvens do chorar da humanidade,
Ou sarça do Sinai,
— Relâmpagos que ferem de desmaios...
Revoluções, vós deles sois os raios,
Escravos, esperai!...
Leitor, se não tens desprezo
De vir descer às senzalas,
Trocar tapetes e salas
Por um alcouce cruel,
Que o teu vestido bordado
Vem comigo, mas... cuidado...
Não fique no chão manchado,
No chão do imundo bordel.
Não venhas tu que achas triste
Às vezes a própria festa.
Tu, grande, que nunca ouviste
Senão gemidos da orquestra
Por que despertar tu'alma,
Em sedas adormecida,
Esta excrescência da vida
Que ocultas com tanto esmero?
E o coração - tredo lodo,
Fezes d'ânfora doirada
Negra serpe, que enraivada,
Morde a cauda, morde o dorso
E sangra às vezes piedade,
E sangra às vezes remorso?...
Não venham esses que negam
A esmola ao leproso, ao pobre.
A luva branca do nobre
32
Oh! senhores, não mancheis...
Os pés lá pisam em lama,
Porém as frontes são puras
Mas vós nas faces impuras
Tendes lodo, e pus nos pés.
Porém vós, que no lixo do oceano
A pérola de luz ides buscar,
Mergulhadores deste pego insano
Da sociedade, deste tredo mar.
Vinde ver como rasgam-se as entranhas
De uma raça de novos Prometeus,
Ai! vamos ver guilhotinadas almas
Da senzala nos vivos mausoléus.
— Escrava, dá-me teu filho!
Senhores, ide-lo ver:
É forte, de uma raça bem provada,
Havemos tudo fazer.
Assim dizia o fazendeiro, rindo,
E agitava o chicote...
A mãe que ouvia
Imóvel, pasma, doida, sem razão!
À Virgem Santa pedia
Com prantos por oração;
E os olhos no ar erguia
Que a voz não podia, não.
— Dá-me teu filho! repetiu fremente
o senhor, de sobrolho carregado.
— Impossível!...
— Que dizes, miserável?!
— Perdão, senhor! perdão! meu filho dorme...
33
Inda há pouco o embalei, pobre inocente,
Que nem sequer pressente
Que ides...
— Sim, que o vou vender!
— Vender?!... Vender meu filho?!
Senhor, por piedade, não
Vós sois bom antes do peito
Me arranqueis o coração!
Por piedade, matai-me! Oh! É impossível
Que me roubem da vida o único bem!
Apenas sabe rir é tão pequeno!
Inda não sabe me chamar? Também
Senhor, vós tendes filhos... quem não tem?
Se alguém quisesse os vender
Havíeis muito chorar
Havíeis muito gemer,
Diríeis a rir — Perdão?!
Deixai meu filho... arrancai-me
Antes a alma e o coração!
— Cala-te miserável! Meus senhores,
O escravo podeis ver ...
E a mãe em pranto aos pés dos mercadores
Atirou-se a gemer.
— Senhores! basta a desgraça
De não ter pátria nem lar, -
De ter honra e ser vendida
De ter alma e nunca amar!
Deixai à noite que chora
Que espere ao menos a aurora,
34
Ao ramo seco uma flor;
Deixai o pássaro ao ninho,
Deixai à mãe o filhinho,
Deixai à desgraça o amor.
Meu filho é-me a sombra amiga
Neste deserto cruel!...
Flor de inocência e candura.
Favo de amor e de mel!
Seu riso é minha alvorada,
Sua lágrima doirada
Minha estrela, minha luz!
É da vida o único brilho
Meu filho! é mais... é meu filho
Deixai-mo em nome da Cruz!...
Porém nada comove homens de pedra,
Sepulcros onde é morto o coração.
A criança do berço ei-los arrancam
Que os bracinhos estende e chora em vão!
Mudou-se a cena. Já vistes
Bramir na mata o jaguar,
E no furor desmedido
Saltar, raivando atrevido.
O ramo, o tronco estalar,
Morder os cães que o morderam...
De vítima feita algoz,
Em sangue e horror envolvido
Terrível, bravo, feroz?
Assim a escrava da criança ao grito
Destemida saltou,
35
E a turba dos senhores aterrada
Ante ela recuou.
— Nem mais um passo, cobardes!
Nem mais um passo! ladrões!
Se os outros roubam as bolsas,
Vós roubais os corações! ...
Entram três negros possantes,
Brilham punhais traiçoeiros...
Rolam por terra os primeiros
Da morte nas contorções.
Um momento depois a cavalgada
Levava a trote largo pela estrada
A criança a chorar.
Na fazenda o azorrague então se ouvia
E aos golpes - uma doida respondia
Com frio gargalhar! ... 8
Recife, julho de 1865.
OBS: As atividades 5.6.1 e 5.6.2 serão escritas com a mediação do professor. Estas
perguntas podem ser respondidas em folha avulsa, individualmente ou em
dupla, para confrontação de dados do professor e alunos. O professor
também incentivará o uso do dicionário para desenvolvimento da linguagem
do educando, assim como, o auxiliará nos enunciados e resolução das
atividades propostas. E, sempre que se retornar à releitura do poema para
auxiliar os exercícios, será praticada a entonação com os alunos.
8 O poema Tragédia no Lar foi retirado do livro Castro Alves/seleção de textos, notas, estudos biográficos e crítico por Marisa Lajolo e Samira Campadelli. –3ª ed. – São Paulo: Nova Cultural, 1990, p. 80-87. – (Literatura Comentada)
36
5.6.1 Conversando sobre o tema
a. Sabendo que Castro Alves tinha uma afinada sensibilidade ao tratar os
problemas sociais em seus poemas, qual o impacto que o título do
poema acarreta para o leitor?
b. O que o poeta denunciou em seu versar?
c. É possível estabelecer uma relação de semelhança entre o tema deste
poema e o tema dos poemas O “Adeus” de Teresa e Laço de Fita
anteriormente estudados? Justifique a resposta.
d. Castro Alves denunciou em seus versos os abusos que os escravos
sofriam, caso ele fosse um poeta contemporâneo, o que ele
cantaria/denunciaria em seus poemas, em relação aos problemas
sociais?
e. Em pleno século XXI, há mães que têm seus filhos arrancados
cruelmente de suas vidas? Justifique a resposta.
f. Observe esta estrofe:
“ Vinde ver como rasgaram-se as entranhas
De uma raça de novos Prometeus,
Ai! Vamos ver guilhotinadas almas
Da senzala nos vivos mausoléus”.
Você conhece a história de Prometeu? Caso não conheça, pesquise para
saber com quem ele está sendo comparado e por quê.
5.6.2 Explorando as marcas lingüístico-enunciativas no gênero discursivo
poema
a) “Adjetivo é a palavra variável que modifica a compreensão do
substantivo, atribuindo-lhe uma qualidade, um estado, um modo de
ser, um aspecto ou uma aparência exterior.” (MESQUITA, 1997, p.
181), retire da primeira estrofe os adjetivos que caracterizam as
condições precárias de uma senzala.
37
b) No terceiro verso da primeira estrofe: “No sapé se esgueira o vento”.
Ocorre qual figura de linguagem9? Assinale a opção correta.
( ) antítese ( ) prosopopéia ( ) ironia ( ) hipérbole
c) Castro Alves, também em seus poemas, a natureza como podemos
observar neste trecho “Tem a palmeira, a baunilha,/ Tem o brejo, a
lavadeira,/ Tem as campinas, as flores,/ Tem a relva, a trepadeira”.
Sabendo que:
“Paralelismo é o recurso que consiste na repetição da mesma construção sintática em versos diferentes. Ora se repete a mesma combinação de adjetivo e substantivo; ora se repetem verbos com o mesmo tipo de complemento; ora locuções introduzidas pelo mesmo termo.” (GOLDESTEIN, 1988, p. 36)
Podemos dizer que nos versos anteriores, em nível de frase ocorreu
paralelismo. Transcreva outro trecho do poema o qual tenha paralelismo.
d) Castro Alves não foi somente cauteloso ao usar as palavras em seus
poemas; usou com maestria os recursos dos sinais de pontuações
para dialogar de modo mais próximo e até mesmo íntimo dos leitores.
Lembre-se que “o ponto-de-interrogação marca o tom de voz que se
eleva, próprio da interrogativa direta, podendo, ou não, exigir resposta”.
(MESQUITA, 1997, p. 466). “O ponto de exclamação é colocado depois
da interjeição ou frase exclamativa, para expressar estados emotivos
ou chamamento.” (MESQUITA, 1997, p. 467). Apenas uma
observação: “Nas perguntas que denotam surpresa ou admiração,
costuma-se usar também o ponto-de-exclamação, ao lado do ponto-de-
interrogação.” (MESQUITA, 1997, p. 466). Lembre-se que o travessão
é usado para “indicar, nos diálogos, a fala ou a mudança de
interlocutor; distinguir os comentários do narrador nas falas das
personagens; dar mais relevo a certas expressões ou chamar a
atenção do leitor”. (MESQUITA, 1997, p. 470). Quanto ao uso das
9 Relembrando as figuras de linguagem: “Do mesmo modo que a comparação, a metáfora é uma figura que consiste em empregar uma palavra fora do seu sentido normal, demonstrando uma semelhança entre seres. A comparação, nesse caso, é mental e subjetiva; ironia é uma figura de linguagem que exprime um conceito contrário do que se pensa ou do que realmente se quer dizer; eufemismo consiste na substituição de uma palavra ou expressão com sentido desagradável por outra, com finalidade de amenizar seu significado; a hipérbole ocorre quando se usa uma expressão exagerada, geralmente para dar maior ênfase à frase e a prosopopéia ou personificação consiste em atribuir características de seres animados a seres inanimados ou irracionais.”(MESQUITA, 1997, p. 539,542 e 543)
38
reticências, releia a questão 5.5.a, caso tenha esquecido. Ciente disso,
analise em que sentido o travessão, a exclamação, o ponto de
interrogação e as reticências puderam interferir no efeito da construção
de sentido no excerto que segue:
— Dá-me teu filho! Repetiu fremente
O senhor, de sobrolho carregado.
— Impossível!...
— Que dizes, miserável?!
— Perdão, senhor! Meu filho dorme...
Inda há pouco o embalei, pobre inocente,
Que nem sequer pressente
Que ides ...
— Sim, que o vou vender!
— Vender?!... Vender meu filho?!
e) Sabemos que a vírgula é um sinal “destinado a marcar pausa de breve
duração entre os termos da oração e orações de um mesmo período”.
(MESQUITA, 1997, p. 462). Lembre-se que ela também pode ser
usada para:
“separar o vocativo; o aposto; adjuntos adverbiais; separar os termos de uma enumeração, quando têm idêntica função sintática; separar nomes de lugar nas datas e endereços; indicar a elipse, isto é, a omissão de um termo da oração ou para isolar palavras/expressões explicativas ou conclusivas, tais como, por exemplo, isto é, digo, assim, com efeito.”(MESQUITA, 1997, p. 463).
Após esta breve explicação, leia os versos extraídos do poema Tragédia
no Lar e escreva o sentido produzido pelas vírgulas, além de separarem os termos
da oração?
Tem pérolas o rio, a noite lumes,
A mata sombras, o sertão perfumes,
Murmúrio o bananal.
f) Há uma certa liberdade, quanto à colocação dos pronomes do caso
oblíquo em relação aos verbos. “A colocação dos pronomes oblíquos
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átonos está intrinsicamente ligada à harmonia da frase, ao seu
equilíbrio, à sua sonoridade.” (MESQUITA, 1997, p. 530). Portanto, o
pronome recebe o nome de próclise, quando aparece antes do verbo;
ênclis, posposto ao verbo e mesóclise no meio do verbo.
I. De acordo com o enunciado lido, analise os versos abaixo e assinale
a assertiva correta quanto ao uso do pronome oblíquo átono.
“Vinde ver como rasgaram-se as entranhas”.
( )
“— Escrava, dá-me teu filho!”.
( )
“Meu filho é-me a sombra amiga”.
( ) Próclise ( ) Mesóclise ( ) ênclise
II. E, no verso
“Me fazem tremer de frio”.
( ) Próclise ( ) Mesóclise ( ) Ênclise
g) Quanto à disposição, as rimas podem ser: encadeadas; cruzadas ou
alternadas; intercaladas, interpoladas ou opostas10. Leia atentamente
as estrofes a seguir e escreva quanto à disposição que rima(s) há nela.
I. “A cantiga cessou... Vinha da estrada
A trote largo, linda cavalhada
De estranho viajar,
Na porta da fazenda eles paravam,
Das mulas boleadas apeavam
10 Lembrar aos alunos que rimas encadeadas são “rimas de fim de verso com o interior do verso seguinte; cruzadas ou alternadas: apresentam-se em versos alternados; intercaladas, interpoladas ou opostas: rimam os versos extremos de uma estrofe; emparelhadas: sucedem-se duas a duas, ou seja, rimam—se os versos que se sucedem.” (Mesquita, 1997, p. 565-566)
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E batiam na porta do senhor.”
II. “Eu sou como garça triste”
Que mora a beira do rio,
As orvalhadas da noite
Me fazem tremer de frio”
h) Analise a referida estrofe, quanto ao tipo das rimas e escreva se
ocorreu rima pobre, rica, rara ou preciosa11.
“Junto ao fogo, uma africana,
Sentada o filho embalando,
Vai lentamente cantando
Uma tirana indolente,
Repassada de aflição
E o menino ri contente ...
Mas treme e grita gelado,
Se nas palhas do telhado
Ruge o vento do sertão”.
Relendo o 2º, 3º e 4º versos da estrofe como o uso do gerúndio12 no
referente à construção de sentido para os versos? Tenha em mente que “a forma
nominal do gerúndio é empregada para enunciar a ideia da ação verbal em pleno
desenvolvimento, em curso.” (MESQUITA, 1997, p. 294)
i) Analise o tempo e o modo do verbo destacado dos versos e escreva
quando ele pode ser usado.
( )
“Se alguém quisesse os vender
Havíeis muito a chorar, 11 “Rimas raras: formadas entre palavras para as quais há poucas rimas possíveis; preciosas: são rimas obtidas de forma artificial, construídas com palavras combinadas.” (MESQUITA, 1997, p. 565). 12 O verbo no gerúndio termina em ‘ndo’ e segundo Mesquita (1997, p. 294 e 295) “o gerúndio é empregado nos seguintes casos: locuções verbais, na indicação de tempo, em relação a um fato específico, na indicação de fatos simultâneos, na indicação de uma progressão indefinida de fatos e em substituição de uma forma imperativa”, o professor exemplificará no quadro a explicação.
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Havíeis muito gemer,
Diríeis a rir — Perdão?!”
(...)
j) Castro Alves abordou em seus poemas os conflitos sociais de sua
época, de forma engajada, procurando persuadir seus interlocutores,
com seus versos, a deixarem de lado o comodismo e a visualizarem o
mundo exterior. Para isso, muitas vezes, como recurso expressivo,
empregou idéias antagônicas ou palavras opostas. Leia a estrofe que
segue, como exemplo, e responda como é chamada esta figura de
linguagem? Exemplifique.
“Não venham esses que negam
A esmola ao leproso, ao pobre.
A luva branca do nobre
Oh! Senhores, não mancheis...
Os pés lá pisam em lama,
Porém as frontes são puras
Mas vós nas faces impuras
Tendes lodo, e pus nos pés.”
Você achou a estrofe acima provocativa para a época? Comente.
OBS: Tempo estimado para as atividades 5.6.1 e 5.6.2: 08 aulas.
6 CATARSE
É o momento do aluno mostra o que foi internalizado para levar para a
vida com o estudo gênero. Neste momento pode ser feita um resumo de tudo o que
foi aprendido, como por exemplo:
• Quais são as principais características do poema, quanto à sua
estrutura?
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• Como podem aparecer os vocábulos no poema?
• Os temas dos poemas são sempre de amor?
• Existe diferença entre poema e poesia, conforme nossos estudos?
7 PRÁTICA SOCIAL FINAL
A prática social final pode ser será uma exposição com as principais
características do gênero discursivo poema para as demais turmas do Ensino
Médio/Colégio. Haverá, também, um Sarau, no qual os alunos poderão declamar os
poemas de Castro Alves, ou de outros autores escolhidos por eles. E aqueles alunos
que, no decorrer do processo de ensino-aprendizagem do gênero poema,
manifestarem o gosto pela escrita dos mesmos, após a refacção textual, poderão
criar um livro de poemas para a turma.
7.1 INTENÇÕES E AÇÕES SOBRE O CONTEÚDO APREENDIDO
Sugestões:
• Reconhecer e valorizar o poema como um gênero discursivo cultural.
• Valorizar o poema em seus vários contextos: popular,
clássico/histórico, moderno, interativo, social, cultural.
• Apreender os elementos lingüístico-enunciativos do gênero e
compreender seus efeitos de sentido na leitura.
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