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 Um cl ie nt e do esc ri tório PERE IRA, CAMARG O & LA RA AD VO GADO S ASSOCIADOS obteve em 24/05/2011, na Vara Cível da Comarca de Capivari - SP, o direito assegurado a realizar gratuitamente a cirurgia de vertebroplastia pela UNIMED de CAPIVARI – COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO. A UNIMED foi obrigada a devolver o dinheiro exigido, mesmo com alegando que o contrato era anterior a Lei n.° 9656, de 03 de junho de 1998. O escritório argumentou basicamente que o Superior Tribunal de Justiça desde 2010 tem se posicionado favoravelmente a concessão das cirurgias, ainda que não exista  previsão contratual. A recém criada súmula n. º 469, do mesmo tribunal, que determina a aplicação do Código de Defesa do Consumido r nestes casos também contribuiu para a  procedência do pedido. A UNIMED não recorrer da decisão, mas os clientes do escritório sim, vez que ainda é necessário a concessão dos danos morais, de forma a ressarcir os prejuízos causados  pela operadora de Capivari. Veja a sentença na íntegra: Co ma rca de Ca pivari SP XX Va ra Judicial Pro ce sso XX XX XXX Vi sto s. XXXX XX XXXX XXXX XX ajuiz aram ação co ntr a UNIMED DE CA PI VARI  COOP ERATIVA DE TRABALHO MÉDICO, obje tivando, em suma, a declar ão de inexigibilidade da dívida representada pelos cheques nº 850101 e 850102 e a condenação da ré à devolução em dobro da quantia de R$ 5.300,00, entregue pelos autores para pagamento de ressonância magnética (R$ 600,00) e da primeira parcela da cirurgia de vertebroplastia (R$ 4.700,00), além da indenização dos danos morais suportados pelo autor Lázaro. Argumentam, em resumo, que a cobrança é indevida e abusiva. Instruíram a petição inicial os documentos de fls. 27/54. A antecipação dos efeitos da tutela foi indeferida (fl. 55). Citada, a ré ofereceu cont es taç ão. De in ício, denu nciou a lid e à empr esa COTEXMED – COMERCIAL DE PRODUTOS HOSPITALARES LTDA., alegando que, em caso de procedência da ação, terá direito de regresso contra a real beneficiária do pagamento. No mérito, sustenta a exigibilidade do valor cobrado do requerente, sob o argumento de que a quantia se refere ao material utilizado no procedimento cirúrgico (prótese), que não encontra cobertura no contrato celebrado pelas  pa rtes . A ten tati va de con cil iaç ão res ult ou inf rut ífe ra. É o rel ató rio . DECIDO. Con heç o diretamente do pedido, nos termos do art. 330, I, do Código de Processo Civil, uma vez que as  partes demonstraram desinteresse na produção de prova em audiência. Indefiro a denunciação da lid e, poi s o cas o concreto não se amo lda a nen hu ma das hipóteses aut ori zad ora s da intervenção de terceiro, previstas no art. 70 do CPC. Não há falar-se em ação de regresso, pois a empresa fornecedora da prótese não está, por lei ou por contrato, obrigada a reembolsar o que a Unimed vier a pagar ao consumidor em caso de procedência da ação. Trata-se aqui de relações  jurídicas distintas, a primeira estabelecida entre o consumidor e o plano de saúde; a segunda, independente e desvinculada da primeira, envolvendo o plano de saúde e o fornecedor do  produto. Eventual condenação da Unimed ao fornecimento gratuito da prótese ao consumidor não implicará nenhuma responsabilidade à fabricante do produto, a qual, não tendo vínculo direto com o autor, ainda assim estará autorizada a receber da Unimed o preço correspondente à 1

UNIMED condenada pela Justiça a realizar cirurgia mesmo sem previsão contratual

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Um cliente do escritório PEREIRA, CAMARGO & LARA – ADVOGADOSASSOCIADOS obteve em 24/05/2011, na Vara Cível da Comarca de Capivari - SP, odireito assegurado a realizar gratuitamente a cirurgia de vertebroplastia pela UNIMEDde CAPIVARI – COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO.

A UNIMED foi obrigada a devolver o dinheiro exigido, mesmo com alegando que ocontrato era anterior a Lei n.° 9656, de 03 de junho de 1998.

O escritório argumentou basicamente que o Superior Tribunal de Justiça desde 2010tem se posicionado favoravelmente a concessão das cirurgias, ainda que não exista

 previsão contratual. A recém criada súmula n. º 469, do mesmo tribunal, que determinaa aplicação do Código de Defesa do Consumidor nestes casos também contribuiu para a

 procedência do pedido.

A UNIMED não recorrer da decisão, mas os clientes do escritório sim, vez que ainda énecessário a concessão dos danos morais, de forma a ressarcir os prejuízos causados

 pela operadora de Capivari.

Veja a sentença na íntegra:

Comarca de Capivari – SP XX Vara Judicial Processo nº XXXXXXX Vistos.XXXXXXXXXXXXXXXX ajuizaram ação contra UNIMED DE CAPIVARI – COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO, objetivando, em suma, a declaração deinexigibilidade da dívida representada pelos cheques nº 850101 e 850102 e a condenação da ré àdevolução em dobro da quantia de R$ 5.300,00, entregue pelos autores para pagamento deressonância magnética (R$ 600,00) e da primeira parcela da cirurgia de vertebroplastia (R$4.700,00), além da indenização dos danos morais suportados pelo autor Lázaro. Argumentam,em resumo, que a cobrança é indevida e abusiva. Instruíram a petição inicial os documentos defls. 27/54. A antecipação dos efeitos da tutela foi indeferida (fl. 55). Citada, a ré ofereceucontestação. De início, denunciou a lide à empresa COTEXMED – COMERCIAL DEPRODUTOS HOSPITALARES LTDA., alegando que, em caso de procedência da ação, terádireito de regresso contra a real beneficiária do pagamento. No mérito, sustenta a exigibilidade

do valor cobrado do requerente, sob o argumento de que a quantia se refere ao material utilizadono procedimento cirúrgico (prótese), que não encontra cobertura no contrato celebrado pelas  partes. A tentativa de conciliação resultou infrutífera. É o relatório. DECIDO. Conheçodiretamente do pedido, nos termos do art. 330, I, do Código de Processo Civil, uma vez que as

 partes demonstraram desinteresse na produção de prova em audiência. Indefiro a denunciaçãoda lide, pois o caso concreto não se amolda a nenhuma das hipóteses autorizadoras daintervenção de terceiro, previstas no art. 70 do CPC. Não há falar-se em ação de regresso, pois aempresa fornecedora da prótese não está, por lei ou por contrato, obrigada a reembolsar o que aUnimed vier a pagar ao consumidor em caso de procedência da ação. Trata-se aqui de relações

 jurídicas distintas, a primeira estabelecida entre o consumidor e o plano de saúde; a segunda,independente e desvinculada da primeira, envolvendo o plano de saúde e o fornecedor do

 produto. Eventual condenação da Unimed ao fornecimento gratuito da prótese ao consumidor 

não implicará nenhuma responsabilidade à fabricante do produto, a qual, não tendo vínculodireto com o autor, ainda assim estará autorizada a receber da Unimed o preço correspondente à

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compra por esta realizada. No mérito, a ação deve ser julgada parcialmente procedente. Sãofatos incontroversos: 1) o autor é beneficiário de plano de saúde Unimed; 2) o requerente sofreu

lesão e teve de se submeter a tratamento cirúrgico denominado vertebroplastia. Não há dúvida,outrossim, de que esse procedimento está coberto pelo plano de saúde contratado pelo autor,tanto é que foi autorizado pela Unimed. A questão controvertida diz respeito à existência ou nãoda obrigação da operadora de fornecer o “kit de vertebroplastia”, necessário à realização dacirurgia. A querela resolve-se em favor do autor. Não se olvida que o contrato celebrado pelas

 partes expressamente exclui o fornecimento de prótese (fl. 35). Tal cláusula, todavia, não temaplicação ao caso concreto, porquanto de prótese, no sentido exato do termo, aqui não se trata.Prótese, na definição de Houaiss, vem a ser o “dispositivo implantado no corpo para suprir afalta de um órgão ausente ou para restaurar uma função comprometida”, ou, então, o “aparelhoque vise suprir, corrigir ou aumentar uma função natural”. E o próprio termo dispositivo, nomesmo dicionário, traduz-se, na acepção aqui empregada, por aparelho (Dicionário Houaiss daLíngua Portuguesa, Rio de Janeiro: Objetiva, 2009). Também Aurélio conceitua prótese como

“qualquer aparelho que auxilie ou aumente uma função natural” (Novo Dicionário Aurélio daLíngua Portuguesa, Curitiba: Positivo, 2004). E o vocábulo aparelho, neste caso, tem osignificado de peça, objeto ou instrumento. Diante desses esclarecimentos, basta a leitura do

 parecer do médico auditor da própria ré, para se concluir que não se cuida aqui de prótese, assimentendido como o dispositivo ou aparelho substituto de órgão ou parte dele. Com efeito, naexplicação dada pela Unimed, o procedimento denominado vertebroplastia consiste na simplesinjeção de cimento para preenchimento de espaço ósseo (fl. 123). Ainda que assim não seentenda, a cláusula em comento, na esteira da pacífica jurisprudência do c. Superior Tribunal deJustiça, deve ser tida como abusiva e, portanto, desconsiderada. Nesse sentido, os seguintes

  julgados: “AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. PLANO DE SAÚDE.COBERTURA SECURITÁRIA. PRÓTESE NECESSÁRIA AO SUCESSO DA CIRURGIA

COBERTA PELO CONTRATO. IMPOSSIBILIDADE DE RECUSA. INCIDÊNCIA CDC.SÚMULA 83/STJ. 1. A jurisprudência desta Corte é pacífica em repudiar a recusa defornecimento de instrumental cirúrgico ou fisioterápico, quando este se encontrar 

 proporcionalmente interligado à prestação contratada, como é o caso de próteses essenciais aosucesso das cirurgias ou tratamento hospitalar decorrente da própria intervenção cirúrgica. 2.Encontrando-se o acórdão recorrido em harmonia com o entendimento firmado nesta CorteSuperior de Justiça, incide à hipótese o enunciado da Súmula 83/STJ, aplicável também aorecurso interposto com fundamento na alínea "a" do permissivo constitucional. 3. Não tendo oagravante trazido qualquer razão jurídica capaz de alterar o entendimento sobre a causa,mantenho a decisão agravada pelos seus próprios fundamentos. 4. Agravo regimental não

 provido” (AgRg no Ag 1226643/SP, rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, 05/04/2011, DJe12/04/2011). “CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. CLÁUSULA LIMITATIVA DE

FORNECIMENTO DE PRÓTESES. INAPLICABILIDADE. CIRURGIA CUJO SUCESSODEPENDE DA INSTALAÇÃO DA PRÓTESE. 1. Malgrado válida, em princípio, a cláusulalimitativa de fornecimento de próteses, prevendo o contrato de plano de saúde, no entanto, acobertura de determinada intervenção cirúrgica, mostra-se inaplicável a limitação caso acolocação da prótese seja providência necessária ao sucesso do procedimento. 2. No caso, éindispensável a colocação de próteses de platina para o êxito da cirurgia decorrente de fratura detíbia e maléolo. 3. Recurso especial conhecido e provido” (REsp 873226/ES, rel. Min. LuisFelipe Salomão, 4ª Turma, 08/02/2011, DJe 22/02/2011). Quanto ao valor despendido peloautor com a realização de exame de ressonância magnética, a cobrança não foi justificada pelaré, razão pela qual se impõe a restituição da quantia paga a esse título. A acolhida da pretensãodo autor, contudo, limita-se a esses pontos. Não é devida a almejada devolução em dobro. Acobrança foi realizada com base na interpretação, embora equivocada, de cláusula contratual.

 Não há evidência de dolo ou má-fé da operadora. Não há prova, outrossim, do alegado danomoral, que sequer foi especificado na petição inicial. Ante o exposto, julgo parcialmente

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  procedente a ação para: a) declarar inexigível a dívida de R$ 9.400,00, representada peloscheques nºs 850101 e 850102, sacados contra o Banco do Brasil; b) condenar a ré a restituir aos

autores a quantia de R$ 5.300,00 (cinco mil e trezentos reais), atualizada monetariamente desdeo desembolso e acrescida de juros de 1% ao mês a partir da citação. Sendo recíproca asucumbência, as custas e despesas processuais são distribuídas igualitariamente entre as partes,compensando-se as honorárias. Ressalvo o benefício da justiça gratuita concedido ao autor.P.R.I. Capivari, 24 de maio de 20011. Cleber de Oliveira Sanches Juiz de Direito

 _________________________________ Informações para a Imprensa:

Pereira, Camargo & Lara – Advogados Associados

Rua Barão de Jaguará. n.º 1091, sala n.º 514, Ed. R. Monteiro, Centro, Campinas, SPwww.pclassociados.com.br e-mail: [email protected] / Tel.: (19)3383-3279

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