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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
GENAMARA PEREIRA FERREIRA FIEL
O SURDO E A RETIRADA DA CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO EM ARACAJU-SE: Realidades e Desafios
MACEIÓ- AL
2013
2
GENAMARA PEREIRA FERREIRA FIEL
O SURDO E A RETIRADA DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO EM
ARACAJU-SE: Realidades e Desafios
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.
Orientador: Prof. Ms Alessio Sandro de
Oliveira Silva
MACEIÓ-AL
2013
3
GENAMARA PEREIRA FERREIRA FIEL
O SURDO E A RETIRADA DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO EM
ARACAJU-SE: Realidades e Desafios
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.
APROVADO EM ____/_____/_____.
____________________________________
PROF. MS, ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA
ORIENTADOR:
____________________________________
PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA
BANCA EXAMINADORA
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos motoristas SURDOS do Estado de
Sergipe que, com todas as dificuldades, persistem e lutam para
alcançar desejos e sonhos.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por iluminar e guiar sempre meus caminhos.
A toda família que, com muito carinho e apoio, sempre estão ao meu lado
dando forças para vencer todas as dificuldades.
Ao meu irmão Geraldo Ferreira Filho e aos amigos surdos que me
ajudaram bastante para desenvolvimento das atividades em campo desta
monografia.
Ao coordenador e professor Manoel Ferreira pela paciência e incentivo
para chegarmos até esta conclusão da especialização em psicologia do trânsito.
Aos professores da UNIP, que sempre estiveram dando o melhor durante
todos os encontros das aulas de pós-graduação de psicologia do trânsito.
Aos amigos e colegas, em especial à amiga Cristiane Rezende pelas
palavras positivas em todos os momentos, pelo auxílio nos trabalhos e por estar
comigo nesta caminhada tornando-a mais fácil e agradável.
A todos que de alguma forma tornaram este caminho mais fácil de ser
percorrido.
6
Tudo o que um sonho precisa para ser
realizado é alguém que acredite que ele
possa ser realizado.
Roberto Shinyashiki
7
RESUMO
A Carteira Nacional de Habilitação para os surdos já é uma realidade que vem sendo concretizada a passos curtos, principalmente porque os Detrans ainda não possuem profissionais especializados em falar a linguagem dos sinais nos postos, dificultando o acesso a um direito das pessoas surdas: tirar a carteira de motorista. Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar as principais dificuldades encontradas pelos surdos na retirada da Carteira Nacional de Habilitação. Para a consecução da pesquisa foi realizada uma pesquisa de campo junto a 08(oito) surdos habilitados e 01 (um) psicólogo credenciado pelo Detran para atendimento deste público. Os resultados permitiram compreender que a dificuldade do surdo perpassa todo o processo de habilitação, desde as primeiras informações junto ao Detran até as aulas práticas, principalmente porque o Detran não possui tradutor intérprete e nem os Centros de Formação de Condutores possui este profissional, devendo o surdo arcar com o ônus do intérprete. Desta forma, evidenciou-se que existem as garantias legislativas, mas estas leis ainda são incipientes para colocar em prática as reais necessidades dos surdos; está faltando cidadania e acessibilidade aos órgãos públicos em relação à barreira da comunicação entre os surdos e ouvintes. Problema que poderá ser resolvido com a contratação de tradutores intérpretes ou mesmo a qualificação de profissionais que lidam diretamente com os surdos. Palavras-chave: Carteira Nacional de Habilitação; Dificuldades; Surdez.
8
ABSTRACT
Thedriver's licenseforthe deafis a realitythat has beenachievedin small steps, mainly becauseDetransstill lackskilled professionalsto speaksign languageinposts, hindering accessto a rightof deaf people: take thedriver's license.Thus, the aim of thisstudy was toidentify the maindifficulties encounteredby deaf peoplein the withdrawal ofdriver's license. To achievetheresearch was carried outa field surveyalongthe08(eight) enableddeafandone (01) Psychologistaccredited by theDMVforthispublicservice. The resultsallowed us to understandthe difficultyof the deafpermeatesthe entirequalification process, from the initial information fromtheDMVto theclasses, mainly becausethe DMVdoes not havea translatororinterpreter andthe Centers forDriver Traininghasthis professional, with the deafbear the burdenof the interpreter. Thus, it became clear thatthere aresafeguardslaws,but theselawsare still incipientto putinto practicethe real needsof the deaf; missingcitizenshipand accessibilityto public bodiesin relation to thecommunication barrierbetween thedeaf and hearing. Problem thatcanbe solvedby hiringinterpretersortranslatorstotrain professionalswho deal directlywith the deaf. Keywords:Driver'slicense; Difficulties; Deafness.
9
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 - Perfil dos pesquisados.........................................................................33
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 11
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 14
2.1 A Surdez.......................................................................................................... 14
2.2 O Código de Trânsito Brasileiro................................................................... 15
2.3 Exame de Aptidão Física, Mental e Avaliação Psicológica........................ 16
2.4 A Psicologia do Trânsito............................................................................... 17
2.5 Intérprete Tradutor em LIBRAS..................................................................... 22
2.6 A Inclusão....................................................................................................... 24
2.7 O Surdo e a Carteira Nacional de Habilitação............................................. 26
3 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................. 28
3.1 Ética................................................................................................................. 28
3.2 Tipo de Pesquisa............................................................................................ 28
3.3 Universo.......................................................................................................... 29
3.4 Sujeitos da Amostra....................................................................................... 30
3.5 Instrumento de Coleta de Dados.................................................................. 30
3.6 Plano para Coleta de Dados.......................................................................... 31
3.7 Plano para a Análise dos Dados........................................................... 31
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................... 32
4.1 Perfil dos Pesquisados.................................................................................. 33
4.2 Instrutor Capacitado em Libras no Centro de Formação de Condutores. 34
4.3 Dificuldades no Processo de Habilitação.................................................... 34
4.3.1 Falta de Intérprete em LIBRAS................................................................... 35
4.3.2 Não Houve Dificuldade............................................................................... 37
4.4 Atenção Especial no Trânsito para os Surdos e Cuidados........................ 38
4.5 Situação/Constrangimento por não Terem Conhecimento da Surdez...... 39
4.6 Como Ocorrem os Testes para os Surdos................................................... 39
4.7 O que Precisa Melhorar no Processo de Habilitação................................. 40
4.8 Sugestões Importantes para Inclusão.......................................................... 41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 43
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 45
APÊNDICE............................................................................................................. 49
11
1.INTRODUÇÃO
As diferenças sempre foram alvos de exclusão em toda a história da
humanidade. Isso pode ser percebido desde o século XV, em que os considerados
“anormais” ficavam exclusos do meio social, sendo categorizados no imaginário das
pessoas como seres improdutivos e incapazes de participarem de uma sociedade,
cujos valores destacam os campos éticos, morais, estéticos e espirituais. Conceitos
esses, que se mostravam cada vez mais enraizados por se tratar de uma cultura que
privilegia a normalidade como sinônimo de capacidade (FOUCAULT, 2007).
A validação social estava muito mais nos efeitos da exclusão do que na
possibilidade de atualizar-se como um modelo pretensamente explicativo. Por esse
motivo, dava-se a existência errante dos loucos, vagabundos, cabeças alienadas,
presidiários e todas as pessoas diferentes, que fugissem dos padrões da
normalidade, que por sua vez não se adaptassem às regras tidas como normais e
verdadeiras (FOUCAULT, 2007).
Nesse contexto de exclusão, tem-se a pretensão de situar que a verdade
sobre as coisas reside na cabeça dos homens e pode sofrer variações de sociedade
para sociedade. Com isto, o nascer diferente, orgânica ou fisicamente da
exigibilidade social constitui, através dos tempos, formas bruscas de classificação
entre o que é normal e o que é patológico.
Na história do povo surdo encontram-se presentes marcas que o
identificavam como umser incompleto, incapaz, deficiente. Passando por extermínio,
reclusãoem casa, proibição do uso da língua de sinais e a segregação em escolas
especiais (Sá, 2002). A sociedade, mesmo sabendo dos seus potenciais, da sua
capacidade ainda demorou muito para aceitá-lo, um processo que também veio
junto com a utilização da língua de sinais, que fez com que os surdos pudessem se
unir cada vez mais em prol de uma comunidade, de uma cultura e de uma língua até
as atuais propostas.
Esta busca incessante de poder se ver e ser visto, encarar e ser encarado
como umsujeito com capacidades e habilidades,possibilidades de ser e vir a ser aos
poucos foi se transformando. Apesar de uma determinada limitação, as pessoas
surdas são pessoas que têm o direito de crescer e se desenvolver segundo suas
possibilidades e necessidades. Surdez não significa inferioridade, pois com o
desenvolvimento de suas potencialidades, o surdo poderá se integrar na vida social
12
e política da comunidade, como qualquer outro cidadão. Pode se desenvolver em
qualquer área, pois sua privação sensorial só diz respeito ao som.
Diante desta igualdade de oportunidades, segundo Ramos (2009),
ocandidato portador de algum tipo de limitação física, que não interfira na
capacidade de dirigir, pode conduzir, desde que o veículo seja adaptado. Além
disso, uma junta de médicos examina a extensão da deficiência e desenvoltura do
candidato No caso de deficientes auditivos, é possível habilitar-se nas categorias A e
B, para conduzir motos e carros de passeio. Por meio de um conta-giros, o surdo
pode acompanhar visualmente a aceleração.
Isto significa que as pessoas surdas podem e tem o direito de possuir sua
Carteira Nacional de Habilitação. Independente do grau de surdez são amparados
pela Constituição Federal, Leis, Decretos, e Portarias para que seu direito como
cidadão seja respeitado entre eles: a presença do tradutor- interprete em LIBRAS
que facilita ao surdo o acesso ás informações e sua participação efetiva durante
todo o desenrolar do processo atuando como assessor do deficiente auditivo e
surdo, sem ônus, uma vez que, esse está incluído na categoria de deficientes.
Desta forma, o objetivo deste estudo é verificar as principais dificuldades
encontradas pelos surdos na retirada da Carteira Nacional de Habilitação. E, como
objetivos específicos pretendeu-se: averiguar se existe uma atenção especial no
trânsito para os surdos; verificar se os testes realizados no processo de retirada da
habilitação são adaptados para atender aos surdos e se existem profissionais
qualificados para este atendimento;observar o que poderia ser melhorado no
processo de habilitação no sentido da inclusão.
Desta forma, este estudo é de importância fundamental porque através da
comunicação do surdo por meio da escrita é possível mostrar, que independente da
sua limitação ele é um cidadão como qualquer outro e que pode obter a Carteira
Nacional de Habilitação.
Não se isenta a possibilidade de um tema polêmico, principalmente em
virtude das dificuldades que os surdos enfrentam na própria comunicação e
obtenção da Carteira Nacional de Habilitação. Um estudo de grande relevância para
a sociedade e uma forma de chamar atenção das autoridades competentes, de
forma que se preparem para atender as necessidades e expectativas dos cidadãos
aracajuanos surdos.
Para elucidação da proposta, esta monografia é composta em três
13
capítulos específicos: o primeiro traz um estudo teórico acerca da surdez, Código de
Trânsito Brasileiro, Psicologia do Trânsito e do intérprete/tradutor em LIBRAS; o
segundo discute a metodologia e o terceiro os resultados e discussões que
considera principalmente a necessidade do intérprete/tradutor em LIBRAS auxiliando
o surdo no processo de comunicação.
14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nesta seção, estão dispostos os conceitos dos termos utilizados na
revisão de literatura pertinente ao problema pesquisado, com os devidos
comentários, interpretações e reflexões, para fins de atendimento aos objetivos
propostos neste trabalho.
2.1 A Surdez
A deficiência auditiva pode ser caracterizada como a diminuição da
capacidade de percepção normal dos sons. Sendo assim, Rinaldi (1997), acrescenta
que pode ser considerado surdo aquele cuja audição, ainda que deficiente, é
funcional com ou sem prótese auditiva.
Rinaldi (1997), ainda acrescenta que pelos menos uma em cada mil
crianças nasce profundamente surda. Muitas pessoas desenvolvem problemas
auditivos ao longo da vida, por causa de acidentes ou doenças. Assim, existem dois
tipos principais de problemas auditivos. O primeiro afeta o ouvido externo ou médio
e provoca dificuldades auditivas "condutivas" (também denominadas de
"transmissão"), normalmente tratáveis e curáveis. O outro tipo envolve o ouvido
interno ou o nervo auditivo, chama-se surdez neurossensorial.
Na classificação, se envolve como uma deficiência de transmissão,
quando o problema se localiza no ouvido externo ou médio (nesse caso, o
prognóstico costuma ser excelente); mista, quando o problema se localiza no ouvido
médio e interno, e sensorioneural (neurossensorial), quando se origina no ouvido
interno e no nervo auditivo. Infelizmente, esse tipo de surdez em geral é irreversível.
A surdez condutiva faz perder o volume sonoro: é como tentar entender alguém que
fala muito baixo ou está muito longe. A surdez neurossensorial corta o volume
sonoro e também distorce os sons. Essa interpretação descoordenada de sons é um
sintoma típico de doenças do ouvido interno.
Nas palavras de Redondo (2000), a surdez traz muitas limitações para o
desenvolvimento do indivíduo, uma vez que a audição acaba sendo essencial para
aquisição da linguagem falada. Essa deficiência influi no relacionamento da mãe
com o filho, criando lacunas que comprometem processos psicológicos de
integração de experiências, afetando o equilíbrio da capacidade normal de
15
desenvolvimento da pessoa.
Ela também salienta que a sociedade ainda hoje conhece bem pouco
acerca dos portadores de deficiência. Desconhecimento esse que reflete na falta de
estatística a respeito do seu número real quanto das formas assistenciais
disponíveis de sua integração e inclusão no mercado de trabalho. É justamente essa
falta de informação que faz com que haja uma rara presença dessa temática em
noticiários.
No Brasil, por exemplo, existem diversas leis voltadas para a deficiência.
No entanto, mesmo depois de decretadas as leis elas são implantadas de modo
lento e parcial e ainda assim, sendo ignoradas por grande parte da população.
Dessa forma, os portadores de deficiência precisam recorrer à legislação para
reivindicar seus direitos de cidadão.
2.2 O Código de Trânsito Brasileiro
O Código de Trânsito Brasileiro de 1997 traz a necessidade da realização
de aulas teóricas e práticas com o objetivo de mostrar o conhecimento do sistema
de trânsito. Desta forma, as escolas de formação de condutores devem estar
conectadas aos Detrans.
Segundo os Artigos 140, 141 e 142 do Código de Transito Brasileiro em seu
Capitulo XIV- da Habilitação, de 1997,p.59.
Art.140. A habilitação para conduzir veiculo automotor e elétrico será apurada através de exames que deverão ser realizados junto ao órgão ou entidades executivo do Estado ou do Distrito Federal, do domicilio do candidato ou residência do candidato ou na sede estadual ou distrital do próprio órgão, devendo o condutor preencher os seguintes requisitos.
Art.141. O processo de habilitação, as normas relativas á aprendizagem para conduzir veículos automotores e elétricos e a autorização para conduzir ciclomotores serão regulamentados pelo CONTRAN.p.59.CNT.
Art.142. O reconhecimento de habilitação obtida em outros pais está subordinada as condições estabelecidas em convenções e acordos internacionais as normas do CONTRAN.p.59.CNT.
Traz a Resolução 168, de 14 de dezembro de 2004, no Art.4º,§2º, diz o
seguinte:
Quando houver indícios de deficiência física, mental ou de progressividade da doença que possa diminuir a capacidade para conduzir veículo, o prazo de validade do exame poderá ser diminuído a critério médico e / ou psicólogo perito examinador.
16
§3º O condutor que, por qualquer motivo, adquira algum tipo de deficiência física para a condução de veículo automotor, deverá apresentar-se ao órgão ou entidade executivo de transito do Estado ou do Distrito Federal para submeter-se aos exames necessários, pela junta médica competente.
Recentemente a nova Resolução 267 de quinze de fevereiro de 2008 que
está em vigor:
Dispõe sobre o exame de aptidão física e mental, a avaliação psicológica e o credenciamento de entidades públicas e privadas de que tratam o art.147, I e §§ 1ºa4º e o art.148 do Código de Transito Brasileiro.
Desta forma, a Carteira Nacional de Habilitação pode ser adquirida por
qualquer pessoa que consiga passar nos exames necessários. Inclusive candidatos
portadores de alguma limitação física que não interfira na capacidade de dirigir, pode
conduzir normalmente, desde que o veículo seja adaptado.
2.3 Exame de Aptidão Física, Mental e Avaliação Psicológica
O Conselho Nacional De Trânsito, no uso das atribuições legais que lhe
confere o art. 12, inciso I, da Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 que instituiu o
Código de Trânsito Brasileiro - CTB, c.c. o inciso I, doart. 147 e os §§ 3oe 4odo art. 2o
da Lei 9602/98 e conforme o Decreto no 2327, de 23 de setembro de 1997, que trata
da coordenação do Sistema Nacional de Trânsito, resolve:
Art. 1o Os Anexos I e II da Resolução nº 51/98-CONTRAN, passam a
vigorar com a seguinte redação:
Para obtenção da Permissão Para Dirigir os exames exigidos sãoExame
Clínico Geral que envolve avaliação oftalmológica, avaliação otorrinolaringológico,
avaliação neurológica, avaliação cardiorrespiratória, avaliação do aparelho
locomotor e exames complementares ou especializados a critério médico.
A avaliação médica será regida pelas seguintes normas: O
candidatodeverá responder a um questionário, sob pena de responsabilidade e que
conterádados e informações pessoais de relevância para o exame de aptidão física
e mental.
Exame clínico geral - Anamnese - com especial atenção aos dados
apontados pelo candidato no questionário.
O exame de sanidade física e mental do candidato a condutor de veículo
automotor portador de deficiência física, será realizado por Junta Médica Especial
designada pelo Diretor do Órgão Executivo de Trânsito da Unidade da Federação e
17
do Distrito Federal.
O exame de sanidade física e mental do candidato a condutor de veículo
automotor portador de defeito físico em que não haja necessidade de adaptação
veicular, poderá ser realizado por médico especialista em medicina de tráfego,
devendo este condutor ser encaminhado à prova de direção veicular na banca
especial do órgão executivo de trânsito.
Quando se trata de exame de avaliação psicológica é preliminar,
obrigatório, eliminatório, e complementar para os condutores e candidatos a
obtenção, mudança de categoria, da Carteira Nacional de Habilitação, aferindo-se
psicometricamente as seguintes áreas de concentração de características
psicológicas: área Percepto – Reacional, Motora e Nível Mental e área do Equilíbrio
Psíquico.
A área percepto-reacional e motora será avaliada através de técnicas
psicológicas permitindo aferir de forma integrada e interdependente o que se segue:
atenção; percepção; tomada de decisão; motricidade e reação; cognição e nível
mental.
As áreas Percepto-Reacional e Motora, e de Equilíbrio Psíquico são áreas
de avaliação básica de todo condutor. A entrevista psicológica deve investigar
história pregressa e atual do candidato.
No caso de constatação dos indícios de problemas médicos, o candidato
ou condutor deverá ser encaminhado ao médico responsável pelo exame de aptidão
física e mental.
2.4 A Psicologia do Trânsito
O Brasil, mesmo após o Novo Código de Trânsito Brasileiro ainda continua
sendo reconhecido por suas estatísticas alarmantes de acidentes de trânsito
(Lemes, 2003). São milhares de pessoas anônimas e personalidades famosas que
mesmo assim revelam parcialmente o número de acidentes pela dificuldade de
registro de todos eles.
Em pleno século XXI está havendo um surto automobilístico e o trânsito
ainda é considerado uma grande problemática de altos custos sociais e econômicos,
além de desencadear sofrimentos incontáveis para vítimas e familiares, gerando
preocupação para autoridades que buscam implantar junto ao crescimento
18
estratégias nos diversos campos do conhecimento, inclusive na Psicologia,
restringindo o uso do volante às pessoas consideradas aptas em avaliação
psicológica. Hoffmann; Cruz; Alchier (2003), falam sobre a obrigatoriedade do
processo de avaliação psicológica - outrora denominado exame psicotécnico - para
adquirir a carteira de habilitação, uma exigência para todo o território nacional.
Estudos realizados por Lamounier; Rueda (2005) discute sobre a efetiva
colaboração da avaliação psicológica de condutores na promoção da segurança,
razão principal de sua implementação e manutenção no processo de habilitação há
mais de 50 anos. Os autores estão sempre em busca de responder se a avaliação
psicológica tem contribuindo ou não para a segurança no trânsito.
As discussões sobre a psicologia no trânsito são marcadas por dificuldades
e limitações em sua fundamentação e exercício, não existindo consenso sobre sua
validade, principalmente em relação ao aumento da segurança, surgindo ainda mais
necessidade de avaliação acerca dessa prática avaliativa uma vez que milhões de
brasileiros se submetem todos os anos aos exames psicológicos para obter a
permissão para dirigir ou renová-la, que pode estar levando indivíduos aptos a ser
considerados inaptos e vice-versa.
Por outro lado Groeger (2003) se debruçou em estudos para identificar até
que ponto os testes psicológicos predizem a segurança no trânsito e chegou à
conclusão de que há relações mais que consistentes. Para isso utilizou critérios de
tempo, reação, coordenação motora, atenção, personalidade, inteligência,
percepção e julgamento.
Para Silva; Alchieri (2007) dos poucos estudos anteriormente realizados, não
foram encontradas contribuições significativas que estabelecem empiricamente
relações entre as medidas psicológicas e medidas do comportamento infrator do
motorista. Mas, existem diversas tentativas nesta direção uma vez que a eliminação
deste tipo de ação terá a promoção de segurança no trânsito será sempre
questionada.
Por outro lado, existem também estudos que mostram que os acidentes de
trânsito necessitam da Psicologia, no sentido de compreender, intervir e ocupar seu
espaço como a ciência que estuda o homem. Adverte Panichi; Wagner (2006) que
90% dos acidentes estão associados a fatores humanos e somente 10% repousa
em causas ambientais.
É nessa perspectiva, que a avaliação psicológica de motoristas no Brasil
19
torna-se importante, avaliando aspectos da personalidade, por estudos sobre a
validade e fidedignidade dos testes atualmente utilizados, pelo desenvolvimento de
melhores instrumentos de avaliação ou mesmo, pelo delineamento de uma
alternativa metodológica para a avaliação psicológica (SILVA; ALCHIERI, 2007).
Segundo o Ministério do Trabalho e do Emprego (2011), o Psicólogo do
Trânsito possui como funções específicas desenvolver pesquisas no campo de
processos psicológicos, psicossociais e psicofísicos, relacionando-os às questões do
trânsito, para elaborar e implantar programas de treinamento e capacitação; realiza
exames em candidatos à habilitação de trânsito, aplicando entrevistas e testes
psicotécnicos, para dirigir veículos automotores; participa de equipes
multiprofissionais, elaborando e aplicando técnicas psicológicas em programas, para
prevenir acidentes de trânsito; avalia a relação causa-efeito na ocorrência de
acidentes de trânsito, levantando atitudes-padrão dos envolvidos nessas
ocorrências, para sugerir formas de evitar e/ou atenuar as suas incidências.
Ainda colabora com as autoridades competentes quando designado,
apresentando laudos, pareceres ou estudos sobre a natureza psicológica dos fatos,
para favorecer a aplicação da lei e da Justiça; elabora e aplica técnicas de
mensuração das aptidões, habilidades e capacidade psicológica dos motoristas e
candidatos à habilitação, atuando em equipes multiprofissionais, para aplicar os
métodos psicotécnicos de diagnóstico; desenvolvem estudos, relativos à educação e
ao comportamento individual e coletivo na situação de trânsito, especialmente nos
complexos urbanos, levantando atitudes-padrão dos envolvidos e sua causa/efeito,
para sugerir formas de evitar e atenuar as ocorrências. Pode estudar as aplicações
psicológicas do alcoolismo e de outros distúrbios nas situações de trânsito. Pode
atuar como perito em exames para motorista, objetivando sua readaptação ou
reabilitação profissional. Pode prestar assessoria e consultoria a órgãos públicos e
normativos em matéria de trânsito.
Lane (2001) fala da importância da Psicologia no trânsito como uma
importante forma de compreensão do comportamento humano e das funções
mentais, analisando os fatores que determinam esse comportamento diante de
determinadas situações. Além destes aspectos, são também objetos de estudo os
aspectos sociais e ambientais.
Para Rueda (2009) a contribuição da Psicologia no trânsito, diante das
variáveis psicológicas, são importantes formas de contribuir para a maneira como os
20
motoristas se comportam no trânsito e como estes comportamentos podem levar a
se envolverem em acidentes ou colocarem em situação de risco a eles e aos demais
participantes do trânsito.
Desta forma, a Psicologia tem uma importância fundamental uma vez que,
apesar dos avanços tecnológicos, Tebaldi; Ferreira (2004) afirmam que o veículo
ainda continua sendo uma caixa metálica que, ao ser conduzido, assume a
inteligência, a alma, a sensibilidade e o comportamento do condutor.
Nas palavras de Rozestran (1981) avaliar o comportamento humano no
trânsito é uma tarefa árdua porque inclui diversos aspectos da personalidade
humana, doa quais: processo de atenção, de detecção, de diferenciação e de
percepção, assim como também da tomada e processamento de informações, da
memória a curto e longo prazos, ao conhecimento e aprendizagem de normas de
conduta e símbolos, a motivação, a tomada de decisão, além de outros aspectos
importantes para analise da reação em diferentes situações na condução de
veículos automotores.
Destaca-se a necessidade de uma análise detalhada e aprofundada do
condutor de veículos párea que ele se enquadre numa infinidade de fatores, dos
quais pode ser importante para evitar um acidente, merecendo, portanto, ser
assunto de um estudo aprofundado.
De acordo com a Resolução CFP 007/2009, o candidato, independente da
atividade (se utiliza o veículo automotor para atividade remunerada ou não
remunerada), deverá ser capaz de apresentar:
1. Tomada de Informação
1.1. Atenção em seus diferentes tipos, como: atenção difusa / vigilância /
atenção sustentada; atenção concentrada; atenção distribuída / dividida; atenção
alternada, conforme definidas pela literatura e pelos manuais de instrumentos
padronizados.
1.2. Detecção, discriminação e identificação: estes aspectos fazem parte e
são recursos utilizados quando se responde a um instrumento para avaliar a
atenção. Porém, eles também devem ser aferidos por meio da entrevista, criando
situações hipotéticas vivenciadas no ambiente do trânsito com a finalidade de
21
identificar a capacidade de perceber e interpretar sinais específicos do
ambiente/contexto do trânsito.
2. Processamento de Informação e Tomada de Decisão
2.1. Inteligência: capacidade de resolver problemas novos, relacionar ideias,
induzir conceitos e compreender implicações, assim como a habilidade adquirida de
uma determinada cultura por meio da experiência e aprendizagem.
2.2. Memória: capacidade de registrar, reter e evocar estímulos em um curto
período de tempo (memória em curto prazo) e capacidade de recuperar uma
quantidade de informação armazenada na forma de estruturas permanentes de
conhecimento (memória de longo prazo).
2.3. Orientação espacial, identificação significativa, julgamento ou juízo
crítico e tomada de decisão: estes aspectos devem ser avaliados por meio de
entrevista, com o objetivo de obter informações a respeito da capacidade do
indivíduo situar-se no tempo e espaço; de sua escala de valores para perceber e
avaliar a realidade para, dessa forma, identificar quais os julgamentos que levam a
atitudes seguras no trânsito.
3. Comportamento
Conjunto de reações de um sistema dinâmico em face das interações
propiciadas pelo meio. No caso do ambiente do trânsito, por meio da entrevista e
situações hipotéticas deverão ser aferidos comportamentos adequados às situações
no trânsito, como tempo de reação, coordenação viso e áudio-motora, assim como a
capacidade para perceber quando as ações no trânsito correspondem ou não a
comportamentos adequados, sejam eles individuais ou coletivos.
4. Traços de Personalidade
Equilíbrio entre os diversos aspectos de personalidade, em especial os
relacionados a controle emocional, ansiedade, impulsividade e agressividade.
O resultado da aplicação pode ser enquadrado em três categorias: “apto”,
“inapto temporariamente” e “inapto". Um candidato está apto “quando apresentar
22
desempenho condizente na Avaliação Psicológica para condução de veículo
automotor na categoria pretendida.” Considera-se inapto temporário o candidato
“quando não apresentar desempenho condizente para a condução de veículo
automotor, porém passível de adequação.” A condição de “inapto” é atribuída ao
sujeito “quando não apresentar desempenho condizente para a condução de veículo
automotor.”.
Por isso a importância dos princípios éticos profissionais, que não é diferente
para o psicólogo que deve dominar os conceitos adquiridos nas Resoluções e no
Código de Ética, bem como os princípios morais éticos vivenciados no cotidiano.
2.5 Intérprete Tradutor em LIBRAS
Nas palavras de Quadros (2007), tradutor/intérprete em Libras é o
profissional que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta
outra língua para uma determinada língua de sinais. Diante deste processo
interpretativo, a língua de sinais para a língua oral e vice-versa destacam-se
modalidades, competências e habilidades que o profissional deve envolver na sua
prática.
Nesta atividade, é imprescindível o domínio das língua envolvidas, a
compreensão das ideias presentes nos discurso para além das palavras, lembrando
que em uma atividade de tradução/interpretação, além da gramática das línguas
está a cultura, os aspectos sociais e emocionais presentes no contexto a ser
interpretado.
[…] o trabalho de interpretação não pode ser visto, apenas, como um trabalho linguístico. É necessário que se considere a esfera cultural e social na qual o discurso está sendo enunciado, sendo, portanto, fundamental, mais do que conhecer a gramática da língua, conhecer o funcionamento da mesma, dos diferentes usos da linguagem nas diferentes esferas de atividade humana. Interpretar envolve conhecimento de mundo, que mobilizado pela cadeia enunciativa, contribui para a compreensão do que foi dito e em como dizer na língua alvo; saber perceber os sentidos (múltiplos) expressos nos discursos (LACERDA, 2009, p. 21).
É necessário que o intérprete em LIBRAS se conscientize da sua
obrigação em exercer sua profissão com qualidade, responsabilidade, sabendo que
dela depende a contribuição para a plena garantia de comunicação, acesso a
informação e até educação de uma pessoa surda.
23
Desta forma, o Brasil possui formação de intérprete em língua de sinais
em nível Médio e em cursos superior em formato de Graduação ou Pós-Graduação
Lato Sensu. O curso de formação para intérprete é diferente de um simples curso de
LIBRAS uma vez que os participantes já possuem um bom nível de fluência da
língua brasileira de sinais. E, no curso, é esperado que o profissional aprofunde seus
conhecimentosde diversas temáticas relacionadas à LIBRAS.
Em 2005, a partir do Decreto nº 5.626, foi criado um exame reconhecido
pelo Ministério da Educação – MEC como PROLIBRAS que avalia a proficiência em
LIBRAS.
Segundo o supracitado Decreto nº 5.626/05, a função do intérprete é
viabilizar ao aluno surdo o acesso aos conteúdos curriculares, em todas as
atividades didático-pedagógicas, e agir como apoio a acessibilidade aos serviços e
às atividades da instituição de ensino. Além disso, a Lei nº 12.319/10 ainda ressalva
que:
Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando
pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do
surdo e, em especial:
I – pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da
informação recebida;
II – pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso,
idade, sexo ou orientação sexual ou gênero;
III – pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber
traduzir;
IV – pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar
por causa do exercício profissional;
V – pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um
direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que
dele necessitem;
VI – pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda.
Existe, no exame PROLIBRASa possibilidade de garantir, em caráter
emergencial, o cumprimento legal da disponibilização de intérpretes como parte da
efetiva inclusão social das pessoas surdas. Uma medida de caráter temporário
válido até o ano de 2015.
24
2.6 A Inclusão
Não se pode ignorar o longo e importante processo histórico que produziu
a deficiência, configurado numa luta constante de diferentes minorias, na busca de
defesa e garantia de seus direitos enquanto seres humanos e cidadãos. Ignorar tal
processo implica na perda de compreensão de seu sentido e significado.
Essa exclusão generalizada teve também suas repercussões nos mais
diversos setores, que a princípio foram construídos somente para atender aos
indivíduos dentro dos padrões da normalidade. Mas, como tudo evolui, os anos 70
(setenta) são marcados pelo despertar de uma sociedade, no que se refere à luta
pelos seus direitos, fazendo-se valer a voz das categorias excluídas e transformando
esses direitos em leis.
Segundo Gohn(1994) essas reivindicações deram abertura para uma
nova significação do conceito de cidadania que impulsiona a tomada de consciência
a respeito dos direitos e dos deveres de cada um.
Urge a necessidade de elaborar estratégias para o enfrentamento do
opositor, uma vez que os direitos não dizem respeito apenas às garantias escritas
nas leis, mas ao modo como as relações sociais se estruturam, construindo vínculos
civis entre indivíduos, grupos e classes.
O Estado acentua uma reflexão mais ampla sobre seu papel e suas
obrigações para com a sociedade, que se fortalece e a cada momento é crescente
sua participação nas decisões políticas e assim, a cidadania tutelada começa a dar
espaço à cidadania conquistada.
De modo geral, passou-se a discutir que as pessoas com deficiência
necessitam, sim, de serviços de avaliação e de capacitação oferecidos no contexto
de suas comunidades. Mas também, que estas não são as únicas providências
necessárias, caso a sociedade deseje manter com essa parcela de seus
constituintes uma relação de respeito, de honestidade e de justiça. Cabe também à
sociedade se reorganizar de forma a garantir o acesso de todos os cidadãos -
inclusive os que têm deficiência - a tudo o que se constitui e caracteriza
independente de quão próximos estejam do nível de normalidade.
Assim, cabe a sociedade oferecer os serviços que os cidadãos portadores
de deficiência necessitarem (nas áreas físicas, psicológicas, educacionais, sociais,
profissionais). Cabe também lhes garantir o acesso a tudo que dispõem,
25
independente do tipo de deficiência e grau de comprometimento apresentado pelo
cidadão.
Na concepção de Aranha (1995, p. 26) a deficiência é apenas “uma
condição social caracterizada pela limitação ou impedimento da participação da
pessoa diferente nas diferentes instâncias do debate de ideias e tomada de decisões
na sociedade”.
Desta feita, a pessoa portadora de deficiência, como qualquer outra, tem
direito à convivência não segregada e o acesso aos recursos disponíveis aos
demais cidadãos. Para tanto, fez-se necessário identificar o que poderia garantir tais
prerrogativas.
A inclusão parte do mesmo pressuposto da integração, que é o direito da
pessoa portadora de deficiência ter igualdade de acesso ao espaço comum da vida
em sociedade. Diferem, entretanto, no sentido de que o paradigma de serviços,
onde se contextualiza a ideia da integração, pressupõe o investimento principal na
promoção de mudanças do indivíduo, na direção de sua normalização. Obviamente
que, no paradigma de serviços também se atua junto a diferentes instâncias da
sociedade (família, escola, comunidade).
Para Resende (1996), a integração social, portanto, não é processo que
diga respeito somente à pessoa portadora de deficiência, mas sim a todos os
cidadãos. Não haverá inclusão da pessoa portadora de deficiência, enquanto a
sociedade não for inclusiva, ou seja, realmente democrática, onde todos possam
igualmente se manifestar nas diferentes instâncias do debate de ideias e de tomada
de decisões da sociedade, tendo disponível, o suporte que for necessário para
viabilizar essa participação.
Assim, que as pessoas portadoras de deficiência possam frequentar os
serviços que necessitem para o seu melhor tratamento e desenvolvimento. Mas que,
a sociedade também se reorganize de forma a garantir o acesso imediato da
pessoa, através da provisão das adaptações que se mostrem necessárias.
Não adianta prover igualdade de oportunidades, se a sociedade não
garantir o acesso da pessoa com deficiência a essas oportunidades. Muitos
são os suportes necessários e possíveis de imediato. Outros demandam
maior planejamento a médio e longo prazo. Todos, entretanto, devem ser
disponibilizados, caso se pretenda alcançar uma sociedade justa e
democrática. Não há modelos prontos, nem receitas em manuais. “Não é
possível esperar que toda uma sociedade se transforme primeiro para
depois transformar também a situação de abandono de um segmento
26
expressivo da população geral” (RESENDE, 1996, p. 16).
Diante desses pressupostos, os surdos também sentem vontade de se
comunicar, de serem aceitas socialmente com seus sonhos, fantasias e desejos. Por
isso Sánchez (1993) relata que não haverá isolamento se estes encontrarem em sua
comunidade o que eles necessitam. Assim se sentiriam estimulados no processo de
aprendizagem e membros efetivos da comunidade e cidadãos de fato.
Segundo Quadros (1995), os surdos também apresentam a capacidade
de se comunicar, assim como os ouvintes, em qualquer parte do mundo. Sendo
assim, reconhecer a diferença entre surdos e ouvintes é segundo Brito (1993),
encarar a realidade relativa ao surdo. É reconhecer suas limitações e sua habilidade
linguística que se manifesta na criação, uso e desenvolvimento de línguas gestual-
visuais, tornando assim iguais aos outros.
Os surdos são capazes de construir seu conhecimento, desde que a
proposta de trabalho seja desafiadora, fonte de prazer e descoberta. O processo de
aprendizagem deve ser apaixonante. A construção do conhecimento deve acontecer
no convívio com o grupo e a afetividade entre alunos e professores é essencial no
processo de construção do conhecimento.
2.7 OSurdo e a Carteira Nacional de Habilitação
São muitos os obstáculos que o surdo costuma enfrentar no processo de
retirada da Carteira Nacional de Habilitação, principalmente pela sua grande
dificuldade de comunicação uma vez que o ouvinte desconhece a Língua de Sinais-
LIBRAS e a estrutura gramatical da comunidade surda e o surdo porque não sabe a
Língua Portuguesa.
Desta forma, como muitos DETRANS não possuem intérpretes, os surdos
levam familiares, amigos ou até mesmo intérpretes contratados para dar
prosseguimento no processo. Este processo encontra dificultoso nos processos
iniciais, quando é necessário expressar para a recepcionista os seus dados
pessoais, que no transcorrer do processo só aumenta o grau de dificuldades
(RAMOS, 2009).
Ao ser aprovado na primeira fase, o surdo é encaminhado para fazer a
avaliação psicológica, realizada por um psicólogo-perito que aplica os testes e faz a
entrevista de forma direta, individual e profunda. Porém, as dificuldades encontram-
27
se presentes porque o psicólogo por diversas vezes se sente inseguro perante o
surdo (RAMOS, 2009).
Todo o processo instrucional prima pela escrita, no qual o surdo lê e
responde o mesmo acontecendo em relação à aplicação de testes. “Pressupõem
que o surdo seja oralizado, esteja usando o aparelho ou feito o implante coclear e
que conheça a língua portuguesa” (Ramos, 2009, p. 32), contrariado a alínea II do
Código Nacional de Transito- art.140 de 23 de setembro de 1997.p.59.
II- saber ler e escrever- o Código parte do pressuposto que o surdo deve ser alfabetizado na língua do País de origem, que no caso é a Língua Portuguesa, ou seja, o surdo entende a estrutura gramatical da língua portuguesa, só que os ouvintes esquecem que comunicação é feita de forma diferente da dos ouvintes, apenas a leitura e a escrita são feitas através de uma estrutura gramatical própria da comunidade surda.
Na inexistência e um intérprete e quando o psicólogo não entende
LIBRAS, o candidato é encaminhado para outro profissional que tenha domínio da
situação. Passando por este processo o Surdo é encaminhado para o Centro de
Formação de Condutores que também precisa ter um intérprete em LIBRAS ou o
próprio surdo deverá levar o seu intérprete para dar prosseguimento no processo.
De forma geral ainda são muitas as dificuldades que o surdo encontra
para a retirada da sua habilitação fazendo com que os mesmos desistam, ou seja,
só uma pequena parcela da comunidade surda consegue. Essas dificuldades são
apresentadas pelo estabelecimento deficiente da comunicação.
28
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Este capítulo tem por objetivo descrever os procedimentos sistemáticos e
racionais que conduziram à pesquisa, quer seja, o seu processo de coleta, seleção,
registro e tratamento dos dados que ao serem analisados legitimaram o propósito da
pesquisa. O método científico visou reunir um conjunto de regras para desenvolver
uma experiência a fim de produzir novo conhecimento, bem como corrigir e integrar
conhecimentos pré-existentes.
3.1 Ética
O trabalho está pautado na Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de
Pesquisa, que define procedimentos e cuidados éticos na pesquisa envolvendo
seres humanos. Dessa forma foi preservado o sigilo e a garantia do anonimato
durante o contato com os surdos. Esta Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo
e coletividade referenciais da autonomia, não maleficiência, beneficência e justiça.
Por conseguinte, a participação na pesquisa os surdos assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido manifestando a sua anuência na
participação da pesquisa demonstrando que foi informado de forma clara detalhada
e por escrito da justificativa, objetivos e procedimentos da pesquisa.
Foi importante que ao participar da pesquisa o surdo considerou-se livre
para consentir em participar da pesquisa, resguardando a autora a propriedade
intelectual das informações geradas e expressando a concordância com a
divulgação pública dos resultados.
3.2Tipo de Pesquisa
Neste estudo de caso foi utilizada a pesquisa exploratório-descritiva.
Exploratória porque foi realizada em um local específico e por sua natureza de
sondagem, familiarizando-se com as características e peculiaridades do tema a ser
explorado, ou ainda não explorado, para, assim, desvendar melhor o problema ou
fenômeno, obtendo percepções, idéias desconhecidas e inovadoras sobre os
mesmos.
ParaAcevedo; Nohara (2004), a pesquisa exploratória objetiva
29
proporcionar mais compreensão do fenômeno que está sendo investigado,
permitindo, assim, que o pesquisador delineie de forma mais precisa o problema.
O seu caráter de pesquisa descritiva se dá porque visa descrever o
fenômeno estudado ou as características de um grupo, diante das necessidades dos
objetivos específicos. Esse tipo de pesquisa também permite observar, registrar e
analisar a situação-problema sem, entretanto, entrar no mérito de seu conteúdo. As
pesquisas descritivas são aquelas que visam descrever características de grupos,
como também a descrição de um processo numa organização, o estudo do nível de
atendimento de entidades, levantamento de opiniões, atitudes e crenças.
Este estudo estabeleceu uma ponte com a abordagem qualitativa levando
em consideração o que os surdos tinham a dizer diante da sua condição de
participante. Nessa perspectiva, o pesquisador é parte integrante da pesquisa,
assim como afirma Minayo (2003), que não é possível negar a evidência de que toda
ciência é comprometida, uma forma de veicular interesses, visões de mundo
historicamente constituídas e se submete e resiste aos limites dados pelos
esquemas de dominação vigentes, portanto, a visão de mundo do pesquisador e dos
atores sociais que estão implícitos em todo o processo de conhecimento desde a
concepção do objeto até o resultado do trabalho.
Segundo Spink (2000), tudo que é dito é único, singular, tanto do ponto de
vista dos sujeitos como de sua relação com a entrevistadora. Esse sentido está
presente na pesquisa qualitativa que conforme Minayo (2003), há necessidade de
um maior aprofundamento e abrangência da compreensão, sendo essencial que o
pesquisador seja capaz de conhecer, identificar e analisar profundamente dados
não-mensuráveis, como sentimentos, sensações, percepções, pensamentos,
intenções, comportamentos passados, entendimento de razões, significados e
motivações de um determinado grupo de indivíduos em relação a um problema
específico.
3.3 Universo
A pesquisa foi realizada no município de Aracaju, especificamente no
Instituto Pedagógico de Apoio à Educação do Surdo de Sergipe - IPAESE,
instituição referencial em educação especializada para surdo localizada à Av. Mario
Jorge Menezes Vieira, 3172 – bairro Coroa do Meio em Aracaju-SE.
30
3.4 Sujeitos da Amostra
Neste estudo, foram selecionados 08(oito) surdos que responderam a
entrevista de pesquisa, por acessibilidade possível. Para realizar as entrevistas
houve a imensa ajuda de um surdo que é exemplo de liderança na comunidade
surda aqui em Sergipe que se predispôs a mobilizar esta comunidade para que as
entrevistas pudessem ser aplicadas, bem como foi entrevistada 01(uma) psicóloga
na capital Aracaju que realiza os testes junto aos surdos.
Numa reunião previamente agendada com os surdos, houve pouco
sucesso principalmente porque maior parte dos presentes não possuíam a Carteira
Nacional de Habilitação em virtude dos autos custos para todo o processo no
DETRAN/SE.
Diante de todo o empenho foram necessários 2 meses (março e abril) de
2013 para concluir todas a entrevistas que foram marcadas em vários dias de
acordo com a disponibilidade e horário de cada pesquisado que frequenta o Instituto
Pedagógico de Apoio à Educação do Surdo de Sergipe – IPAESE.
3.5 Instrumentos de Coleta de Dados
Os objetivos da pesquisa demandam um processo criterioso de coleta de
dados, averiguando fatos ou fenômenos determinado pelas respostas individuais, a
conduta previsível em certas circunstâncias, bem como descobrir os fatores que
influenciam ou que determinam opiniões, sentimentos e condutas.
Neste estudo, a entrevista estruturada foi o instrumento de coleta de
dados selecionado porque, segundo Rey (2006) representa uma valorização singular
no campo produtivo de investigação e desenvolvimento, ela abre novas zonas de
sentido sobre os fenômenos estudados e também fecha os olhos do pesquisador
para outras zonas de sentido do real.
A entrevista direcionada aos surdos foi composta por 11(onze)
questionamentos, desde a caracterização do sujeito até importantes sugestões para
a inclusão dos surdos. Na entrevista realizada com a psicóloga 08(oito) questões
foram privilegiadas, que vão desde a formação do profissional até sugestões para a
realização dos testes psicológicos no processo de avaliação.
Na interpretação de uma entrevista, o pesquisador tende a se concentrar
31
nos indicadores verbais, devido à dificuldade de recuperar, em termos de uma
análise pormenorizada, a complexidade dos processos comunicativos envolvidos no
momento da entrevista (para além da linguagem verbal).
3.6 Plano para Coleta dos Dados
Na oportunidade a entrevista foi diretamente realizada com os surdos em
dias e horários previamente agendados. Houve ajuda de um surdo liderança na
comunidade em Sergipe, selecionando os participantes. Pela dificuldade de acesso
aos surdos motoristas, foi reduzido o número de participantes para 08 (oito) que
responderam a todas as questões propostas.
3.7 Plano para a Análise dos Dados
Por se tratar de uma pesquisa de natureza qualitativa os dados foram
submetidos a interpretações por meio da análise de conteúdo, que segundo Minayo
(2003, p. 145) está centrada em três fases básicas:
1º)Pré-análise: envolveu atenção e leitura, permitindo aos pesquisadores
se deixarem invadir pelas primeiras impressões onde foi possível verificar a riqueza
dos conteúdos, ou seja, após a leitura cuidadosa das falas e imersão no conteúdo
houve reflexões, estabelecendo relações com os objetos desta pesquisa
identificando e discriminando alguns temas emergentes. A partir daí foram possíveis
algumas desconstruções do texto de acordo com as preocupações centrais deste
trabalho;
2º)Análise: após a desconstrução houve uma agregação das falas
presentes nos relatos, percebendo palavras frequentes e características do discurso
que emergem, evidenciam-se e se repetem denunciando a sua importância no
contexto da pesquisa;
3º)Síntese: é chegada a hora da análise e compreensão dos conteúdos
presentes nas falas dos pesquisados, observando se há padrões de comparação
entre os vários sujeitos entrevistados. Assim, foi possível identificar e destacar
possíveis convergências e divergências nas falas.
32
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nada se pode produzir de coletivo se as consciências particulares não
existirem; mas esta condição necessária não é suficiente. É preciso ainda que as
consciências estejam associadas, combinadas, e combinadas de determinada
maneira; é desta combinação que resulta a vida social, e, por conseguinte, é esta
combinação que a explica.
Nessa perspectiva, as dificuldades dos surdos na retirada da Carteira
Nacional de Habilitação são aqui manifestadas no discurso do dia-a-dia pelas
pessoas que compõem esse grupo social. Esses conhecimentos socialmente
elaborados procurarão determinar a construção de uma realidade comum a todos os
indivíduos.
Nesse aspecto, antes de entrevistar os surdos uma psicóloga credenciada
pelo Detran de Sergipe desde 04 de novembro de 2010 informou aspectos
importantes acerca dos testes.
A entrevistada possui 06(seis) anos de formação na área de Psicologia e
afirma que o Detran de Sergipe possui dois psicólogos credenciados para atender
aos surdos que para ela são em média 01 (um) ou 02 (dois) por ano agendados,
mas em muitos casos ela é chamada para atender em LIBRAS outros candidatos
surdos que são agendados para colegas psicólogos que não possuem
conhecimento em LIBRAS.
Na aplicação dos testes a mesma não considera que exista nenhum tipo e
dificuldade porque possui conhecimento para aplicação seja para surdos ou
ouvintes. Os testes aplicados para os surdos são os mesmos para os ouvintes que
são de atenção, concentração, palográfico e raciocínio, ou seja, são avaliadas
atenção, concentração, personalidade e como se encontra o nível de raciocínio. O
que mudar para o surdo é a forma de passar as instruções de cada teste que é o
uso de LIBRAS.
Nos testes a pesquisada acredita não haver necessidade de
modificação/adaptação, o que pode ser melhorado é a forma de agendar o
candidato que é surdo, deste o atendimento inicial no Detran, nos agendamentos
dos profissionais psicólogos e médicos, até a última etapa nas aulas teóricas e
práticas com intérprete. Em caso de não haver profissionais habilitados para esses
33
atendimentos, disponibilizar intérpretes que tenham realmente prática em LIBRAS,
bem como disponibilizar cursos para todos os que lidam direta ou indiretamente com
os surdos no trânsito e nos setores de atendimento do Detran.
4.1 Perfil dos Pesquisados
Participaram da entrevista 8(oito) surdos, dentre eles 7(sete) do gênero
masculino e 1(um) feminino, com idades entre 21(vinte e um) e 29 (vinte e nove)
anos. São estudantes bem como existem aqueles que já possuem formação
acadêmica, sempre voltados para a área de Tecnologia da Informação e
Comunicação como a área de atuação. Possuem de 1 a 9 anos com a habilitação. O
uso das TICs ampliam as possibilidades dos surdos, contato com outras realidades
políticas e culturais. Segundo Arcoverde; Gianini (2000), também uma oportunidade
de diálogo sem opressão das diferenças e compreender quaisos projetos comuns
para além da diferença.
Tabela 01 – Perfil dos pesquisados
PERFIL DOS PESQUISADOS
Entrevistados Gênero Idade Formação Área de atuação
Tempo que possui CNH
A
1
M 29 anos Gestão de Tecnologia da Informática
Técnico em Informática
9 anos
B M 22 anos Técnico em Computador Manutenção de Rede
2 anos
C M 25 anos Desenvolvimento de Sistema
Assistente Administrativo
3 anos
D M 25 Sistemas para Internet (Cursando)
Técnico em Informática
3 anos
E M 24 anos Ensino Médio (Cursando) ____ 1 ano
F M 20 anos Estudante Digitador 2 anos
G F 26 anos Estudante ____ 2 anos
H M 21 anos Sistema de Informação (Cursando)
____ 2 anos
Fonte: Dados da pesquisa em maio de 2013
Pode-se perceber que a acessibilidade a comunicação é um fator
importante para o exercício da cidadania, bem como pode contribui para uma melhor
integração e inclusão do mesmo, nos distintos espaços sociais. Através das TICs os
surdos podem estudar, conversar com amigos, trabalhar, ver notícias, se divertir,
buscar informações e trabalhar. Porém, a pesquisa mostra que a maior relação do
1Como forma de preservação da identidade dos pesquisados, os mesmos serão representados pelas
letras do alfabeto.
34
surdo com a Informática é porque o Instituto Pedagógico de Apoio à Educação do
Surdo em Sergipe – IPAESE á única instituição de surdo do estado e o mesmo,
como forma de inserção no mercado de trabalho, já sai com o curso técnico
profissionalizante.
4.2 Instrutor Capacitado em Libras no Centro de Formação de Condutores
A Língua Brasileira de Sinais ainda é muito desconhecida. Hoje, o maior
problema que os surdos enfrentam é a falta de comunicação com as pessoas que
não são surdas, ou seja, o surdo só se comunica com o surdo ou com alguns
ouvintes que usam a língua do surdo.
Em relatos realizados pelos surdos participantes desta pesquisa são
inúmeras as reivindicações e dentre elas, intérpretes que possam auxiliá-los. No
processo de retirada da habilitação os entrevistados “A”, “B”, “C”, “D”, “F”, “G”, “H”
afirmam que o Centro de Formação de Condutores não possuía interpretes. Porém,
o entrevistado “E” afirma que o máximo que podia acontecer em alguns momentos
eram pessoas que conheciam libras: “Em alguns momentos pessoas que conhecia
um pouco de LIBRAS” (Entrevistado E).
Trata-se de uma falta de cidadania e acessibilidade aos órgãos públicos,
gerando uma grande barreira na comunicação. Não se trata de um favor, uma
gentileza, mas uma obrigação legal segundo a Lei nº 12.319 de 1º de setembro de
2010, Art 6º, inciso IV afirmando que são atribuições do tradutor e intérprete, no
exercício de suas competências atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às
atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas.
4.3 Dificuldades no Processo de Habilitação
Os pesquisados apontam como principal dificuldade a falta do intérprete
em LIBRAS uma vez que este profissional tem a função de ser o canal comunicativo
entre o surdo e ouvintes. Uma atividade que exige estratégias mentais na arte de
transferir o conteúdo das explicações, questionamentos e dúvidas, viabilizando a
participação do surdo em todos os contextos na retirada da habilitação.
35
4.3.1 Falta de Intérprete em LIBRAS
A comunicação, considerada o principal viés de integração social é um
fator fundamental e a LIBRAS é uma ferramenta que possibilita esta interação dos
surdos. No entanto, para que isso ocorresse da forma necessária e fundamental foi
necessário que a LIBRAS fosse oficializada e atualmente, existem leis em vigor que
regulamentam a profissão e determinam a formação desse profissional. Uma dessas leis é a
Lei nº 12.319 DE 01.09.2010 que regulamenta a profissão de Tradutor e Interprete de
LIBRAS.
Para Skliar (2000), a língua de sinais não se configura plenamente como
uma das marcas de sua identidade e, de outro lado, ela não é dominada osuficiente,
fazendo com que as dificuldades de compreensão e negociação levem a um
reconhecimento de si como participante pouco capaz de acontecimentos dialógicos.
Destaca-se a importante e necessária presença do intérprete de LIBRAS no
processo de habilitação, ressignificando os conteúdos propostos, ensinando novos
conceitos e permitindo a construção da identidade surda, valorizando o processo de
comunicação, troca, reflexão, crítica, posicionamento e oportunizando ao surdo
significar sua interação com outro surdo.
Os pesquisados destacaram que a principal dificuldade na retirada da
habilitação é a ausência de um profissional que domine LIBRAS, é o que apontam
“B”, “C”, “D”, “E”, “F”, “G” e “H”:
Em todos os caminhos percorridos para retirar o processo de habilitação foi difícil porque não tinha profissionais que soubessem LIBRAS para acompanhar. Foi disponibilizada uma intérprete do próprio DETRAN para a prova teórica, mas ela não sabia LIBRAS nem 50%. Tive que pagar intérprete para me guiar em todo o processo, foi muito gasto (Entrevistado B). Não foi disponibilizado intérprete nem pelo DETRAN, nem pela autoescola, minha sorte foi um amigo que é ouvinte e sabe LIBRAS que me acompanhou durante todo o processo, menos na prova teórica, que foi sozinho, sem intérprete (Entrevistado C). No setor de atendimento não tinha nenhuma pessoa para atender surdo com comunicação em LIBRAS; as aulas práticas e provas também não disponibilizavam intérpretes. Eu paguei as horas trabalhadas do intérprete pata todo processo de habilitação; nas clínicas encontramos facilidade com psicólogo e médico porque fomos acompanhados pela irmã que conhece a Língua Brasileira de Sinais, mas também não foi disponibilizado intérprete pelo DETRAN nem pelas clínicas; na prova técnica no computador o tempo é limitado 1 hora e o surdo não tem condições de traduzir do Português para LIBRAS cada uma das perguntas tão rapidamente. Já a prova no papel o tempo é maior, de 4 horas e aí sim temos sucesso (Entrevistado D).
36
Minha dificuldade foi ter que por conta própria, contratar um intérprete para me acompanhar durante todo o processo de habilitação. Por sorte minha cunhada pôde me acompanhar e não precisei gastar esse dinheiro que seria obrigação do DETRAN e da autoescola disponibilizar (Entrevistada E). Maior dificuldade foi a falta de intérprete ou de uma pessoa que tenha conhecimento em LIBRAS para nos acompanhar durante o processo de habilitação. Minha mãe que em alguns momentos me acompanhou para médico, autoescola. Na prova teórica também não foi disponibilizado intérprete e tive dúvidas em algumas questões e o resultado foi que perdi na prova e tive que marcar outro dia para fazer novamente (Entrevistados F e G).. Fui na autoescola e não disponibilizaram intérprete e nem tinham pessoas com conhecimento em LIBRAS; na prova teórica fui ao DETRAN informar que na prova teórica eu precisaria de um intérprete e no setor me informaram que no dia seria disponibilizado. Porém, quando cheguei para fazer a prova, que perguntei pelo intérprete eles haviam esquecido e através de mímica tentaram me ajudar, mas eu já havia ficado muito chateado; fui marcar o exame clínico e fui informado que para o surdo só teria vaga uma semana depois e para o ouvinte já teria vaga no outro dia,não aceitei e entrei com Protocolo para o diretor do DETRAN e como não obtive resposta durante um mês, fui solicitar meus direitos através da justiça e aí sim, consegui fazer o exame logo (Entrevistado H).
As falas dos pesquisados demonstram que a falta de um intérprete causa
morosidade em todo o processo de habilitação, fazendo com que os surdos sejam
responsáveis por providenciar o profissional para acompanhá-lo em todo o processo.
Assim, a profissão de Tradutor e Intérprete da LIBRAS foi reconhecida no
dia 1º de setembro de 2010 pela Lei nº 12.319. O recente ato vem suscitando novas
discussões acerca dos parâmetros para o exercício de tal função, como a formação,
atuação, sindicalização e valorização dessa atividade, tendo em vista que o
intérprete:
[...] processa a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos. (Quadros, 2007, p.27).
Diante do seu potencial conhecimento acerca dos dois processos
linguísticos e culturais particulares, isto é, o da língua fonte e o da língua alvo, este
profissional, segundo os pesquisados é responsável por viabilizar ao surdo, os
conteúdos e comunicação pertinentes ao processo de habilitação.
37
4.3.2 Não Houve Dificuldade
O pesquisado “A” não menciona a falta de intérprete e fala sobre o auxílio
da família no processo de habilitação. Em seguida trata da isenção nos exames
clínicos e psicológico e sua possível aprovação pela junta médica.
Após a abertura do processo de habilitação o candidato é encaminhado
para uma clínica credenciada. Além dos tradicionais exames médicos e psicológicos
tradicionais, o candidato deverá se submeter à avaliação da "Junta Médica Especial"
para deficientes, composta por dois médicos da clínica, onde se definirá a
necessidade ou não de adaptação veicular, quando necessário.
Ao ser atendido pela Junta Médica Especial o candidato deverá
apresentar laudos médicos com, no máximo, 03 (três) meses de validade,
descrevendo o quadro da deficiência, bem como o devido CID (Código Internacional
de Doenças). É com este laudo em mãos que o surdo procura o Centro de
Formação de condutores para realização das aulas, que nem sempre acontece
porque maior parte desses centros de formação não possui intérpretes.
Na autoescola as aulas teóricas eu não assistia porque o professor avisou que eu sou surdo, então, só precisei ler o livro em casa durante o processo de aulas. Nas aulas práticas só fiz duas aulas porque já sabia dirigir, então não tive dificuldade, meus pais já me ensinaram antes. Nos exames clínicos e psicológico fui isento porque eu sou surdo. Resultado fui reprovado pelos profissionais e só na junta médica fui aprovado (Entrevistado A).
O próprio Centro de Formação de Condutores, diante da impossibilidade
de atendimento do surdo, criou atalhos para acelerar o processo de habilitação, o
que não é permitido diante da Lei. Segundo a Resolução nº 168, de 14 de dezembro
de 2004:
Art. 13. O candidato à obtenção da ACC, da CNH, adição ou mudança de categoria, somentepoderá prestar exame de Prática de Direção Veicular depois de cumprida a seguinte cargahorária de aulas práticas: I – obtenção da ACC: mínimo de 20 (vinte) horas/aula; II – obtenção da CNH: mínimo de 20 (vinte) horas/aula por categoria pretendida; III – adição de categoria: mínimo de 15 (quinze) horas/aula em veículo da categoria na qual esteja sendo adicionada; IV – mudança de categoria: mínimo de 15 (quinze) horas/aula em veículo da categoria para a qual esteja mudando.
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Em todos os casos, deverão ser observados, em todos os casos, 20%
(vinte por cento) da carga horária cursada para a prática de direção veicular no
período noturno (Alterado pela Resolução Contran 347/2010).
4.4 Atenção Especial no Trânsito para os Surdos e Cuidados
Os pesquisados – “A”, “B”, “C”, “D”, “E”, “F”, “G” e “H”, salientam que
como qualquer outro motorista no trânsito é sempre necessário atenção redobrada.
Com a falta da audição é necessário redobrar a atenção pela visão, com o uso dos
retrovisores.
Atenção sempre maior de que ouvintes, pela visão (Entrevistado D). No meu caso usar aparelho e ter atenção redobrada (Entrevistado E). Ter mais atenção com outros veículos, pedestres, obras e tudo que existe nas vias (Entrevistada G).
De acordo com a lei Federal 8.160/91, "é obrigatória a colocação, de
forma visível, do 'Símbolo Internacional de Surdez' em todos os locais que
possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de deficiência
auditiva e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou que
possibilitem o seu uso". O selo poderá ser colocado no vidro traseiro do veículo
permitindo que o motorista de ambulância, policiais, resgate e outros possam
identificar que o condutor é surdo. O mesmo adesivo pode ser colocado no vidro
dianteiro. Para que os policiais ou oficiais possam saber que o condutor é surdo,
evitando problemas durante a abordagem.
É proibida a utilização do „Símbolo Internacional de Surdez‟ para
finalidade outra que não seja a de identificar, assinalar ou indicar local ou serviço
habilitado ao uso de pessoas portadoras de deficiência auditiva.
A identificação dos veículos conduzidos por deficientes auditivos
representa um respeito à cidadania e garante a acessibilidade, além de evitar que
estes condutores sejam prejudicados no trânsito por não ouvir as sirenes, os apitos
dos agentes de trânsito e até as buzinas.
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4.5 Situação/Constrangimento por não Terem Conhecimento da Surdez
Questionados acerca de algum constrangimento no trânsito porque as
pessoas não possuíam conhecimento de vossa surdez, os pesquisados “A”, “B”, “C”,
“E”, “G” e “H”, salientam que nunca ocorreu nada. Porém, “D” e “F” salientam que já
passaram sim por constrangimentos, dando as seguintes justificativas:
Sim. Parado na Blitz e o guarda não acreditou que eu não bebia e fiz baliza com os cones para acreditarem (Entrevistado D). Sim “Porém o pesquisado não mencionou” (Entrevistado F).
Em conversa com os surdos eles falaram acerca de sentirem a vibração
do motor, mas é necessário ficar atendo a todos os movimentos ao redor,
principalmente porque as pessoas andam muito estressadas no trânsito e, muitas
vezes não reparam no adesivo de identificação, sem contar também com a falta de
preparo dos agentes para lidar com o surdo.
4.6 Como Ocorrem os Testes para os Surdos
Os testes realizados são os mesmos dos ouvintes, a diferenciação é a
necessidade de acompanhamento de um profissional de LIBRAS. O que se percebe
é que os surdos, de forma geral precisaram contratar um intérprete ou mesmo contar
com o apoio de pessoas próximas para acompanhá-los no processo de habilitação.
Não fiz porque justamente não tinha minha comunicação que é LIBRAS. Só depois que levei intérprete (Entrevistado A). Precisamos é de profissionais que se comuniquem em LIBRAS (Entrevistado B). Quando tem psicólogo que sabe LIBRAS ou intérprete. Meu dia foi um amigo intérprete (Entrevistados C e G) Precisamos é de profissionais que se comuniquem em LIBRAS (Entrevistado D) Quando tem psicólogo que sabe LIBRAS ou no meu dia que levei intérprete (Entrevistado E) Da mesma forma que o ouvinte, ou seja, com comunicação adequada para cada tipo de língua. A minha é LIBRAS e levei meu intérprete (Entrevistado F)
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Com a comunicação em LIBRAS quando existe este profissional. No meu caso foi através de mímica (Entrevistado H).
O pesquisado H fala que não houve nenhum intérprete em seu processo
de habilitação, que ocorreu tudo através de mímica. De certo, a mímica é bem
diferente da LIBRAS uma vez que esta não é apenas uma mímica usada pelos
surdos para facilitar a comunicação. Ela possui estrutura gramatical própria com
níveis linguísticos como fonológico, morfológico, sintático e semântico.
A Língua de Sinais é o suporte para o desenvolvimento cognitivo do
surdo. Para os surdos, a língua de sinais pode suprir a função de suporte para o
pensamento, permitindo que o surdo tenha um desenvolvimento normal, equiparado
ao de um ouvinte.
Segundo Vygotsky (1989), ensinar o surdo a falar significa não só brindar-
lhe com a possibilidade de comunicar com as pessoas, como desenvolver nele a
consciência, o pensamento, a autoconsciência. Este é o retorno do surdo ao seu
estado humano.
4.7 O que Precisa Melhorar no Processo de Habilitação
Os aspectos ligados à melhora no processo de habilitação estão ligados à
necessidade de qualificar os profissionais como médicos, psicólogos, instrutores,
bem como a necessidade de contratação de intérpretes.
Neste caso, o intérprete seria a pessoa, que sendo fluente na língua de
sinais, possua competências e habilidades tradutoras. Possuindo capacidade de
verter, em tempo real, uma tradução simultânea ou apenas com um pequeno lapso
de tempo.
Os argumentos apresentados pelos surdos fundamentam e ressignificam
o paradigma de preservação da cultura surda, do reconhecimento das diferenças e
da importância do uso da língua de sinais nas relações sociais para os surdos
possam participar da vida em sociedade.
Ter profissionais, médicos, psicólogos, instrutores que saibam LIBRAS (Entrevistado A, C e E). Profissionais que tenham mais paciência com os surdose que falem LIBRAS Entrevistado B).
Profissionais que saibam LIBRAS (Entrevistado D e H)
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Habilitar pessoas e os profissionais, médicos, psicólogos e instrutores na Língua Brasileira de Sinais (Entrevistado F). Divulgação, cursos de aprendizagem da LIBRAS pelos ouvintes que estão diretamente nesse trabalho (Entrevistada G).
De forma geral, o que os surdos mais necessitam são pessoas que
possam se comunicar com os mesmos. Porém, no Brasil existe uma visível falta e
profissionais no mercado que possuam conhecimento da LIBRAS e qualificação
requerida para ser um intérprete da Linguagem Brasileira de Sinais. Desta forma,
para que médicos, psicólogos, instrutores e agentes possam compreender o surdos,
existe ainda um longo caminho a ser percorrido. O que diz a Lei mostra a grande
disparidade entre o ideal e real.
4.8 Sugestões Importantes para Inclusão
A inclusão de portadores de algum tipo de necessidade sempre foi um
desafio; um quadro no qual o surdos também se encontram presentes. Apesar de o
Brasil em 2002 ter reconhecido a Língua Brasileira de Sinais como a Língua das
comunidades surdas brasileiras, a exclusão inda continua uma vez que prevalece a
velha questão de que as leis são criadas, porém pouco efetivadas devido muitas
vezes não se aplicar as necessidades reais da sociedade organizada.
Entre 2006 e 2009, o Ministério da Educação (MEC) certificou pouco mais
de 5 mil intérpretes pelo Prolibras - o Programa Nacional para Certificação de
Proficiência no Uso e Ensino da Língua Brasileira de Sinais - e, embora mais de 7,6
mil cursos superiores de Pedagogia, Fonoaudiologia e Letras ofereçam a disciplina
de Libras, ter o número de intérpretes necessário para atender a demanda
necessária ainda é uma realidade distante.
Segundo os pesquisados, as sugestões mais importantes são a
capacitação em LIBRAS:
Que os profissionais ligados a área de trânsito fossem capacitados em LIBRAS: atendentes, policiais, SAMU, psicólogos, médicos, etc. Que fosse implantado S.O.S em Sergipe que atendesse ouvintes e surdos nas vias de tráfego (Entrevistados A, B e H). Ter em todos os locais de acesso aos surdos pessoas habilitadas em LIBRAS (Entrevistado C, E e F).
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Importante que todos os guardas da SMTT tenham conhecimento da LIBRAS para se ter comunicação adequada com os surdos. Em caso de batidas, acidentes precisaremos comunicação com a justiça volante, SAMU, bombeiros, então é preciso ter forma de comunicação por telefones que atendem surdos e pessoas que também saibam LIBRAS. Também seria importante colocar uma observação na carteira que o motorista é surdo. Hoje apenas quem é deficiente auditivo é que tem observação que é obrigado estar com o aparelho auditivo ao dirigir (Entrevistado D). Ouvintes terem mais paciência no trânsito; mais respeito pelo outro no trânsito; precisa de pessoas que falem em LIBRAS, guardas, policiais, para nossa maior segurança (Entrevistada G).
Desta forma, a capacitação de pessoas em LIBRAS é a maior
reivindicação dos pesquisados uma vez que já existem leis que sugerem a
importância do intérprete, mas não prevêem explicitamente sua presença, o que
implica na organização da comunidade surda e ouvinte para a obtençãodesse
recurso.
Poucos são os locais no Brasil que têm experiência com a prática
deintérpretes em locais sociais. Pela política de inclusão e pela recente oficialização
da Libras, torna-se essencial discutir a importância, o papel e as possibilidades de
atuação deste profissional narealidade cotidiana dos surdos.
No Brasil, pesquisas sobre intérpretes de línguas de sinais são escassas,
já que este trabalho, quando é realizado, tem ainda um caráter experimental na
maioria dos estados e municípios. A formação de intérpretes em Libras é algo
recente e só aqueles que freqüentam os grandes centros têm acesso a essa
formação, promovida pelas associações de surdos. Entretanto, tal formação focaliza
quase que exclusivamente o trabalho do intérprete tradicional e aspectos das
práticas educacionais fundamentais, que são menos conhecidos e tematizados
pelos próprios surdos, não são focalizados (LACERDA; POLETTI, 2002).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A comunicação do surdo ocorre por meio do uso de LIBRAS. Assim, o
surdo não deve ser considerado um indivíduo analfabeto, mas simplesmente aquele
que possui uma comunicação diferente do ouvinte. Trata-se de um ser humano
deficiente sensorial, mas possui sua cultura, sua identidade, estilo de vida, direitos e
deveres.
Porem, apesar da existência de inúmeras Leis de proteção e apoio aos
surdos, a sua concretização ainda se encontra distante do necessário. A pesquisa
realizada em Aracaju mostrou que o Detran não dispõe de um profissional intérprete
de LIBRAS para acompanhar o surdo no processo de habilitação, bem como os
Centros de Formação de Condutores também não tem atendido esta necessidade.
O estudo mostra que os surdos habilitados são aqueles que, pela sua
perseverança, possuem seu próprio intérprete para que seu processo de habilitação
tenha início, prosseguimento e fim.
Seria necessário um profissional tradutor intérprete e LIBRAS
credenciado pelo Dentran, bem como em autoescolas para assessorar tanto o
ouvinte como o surdo, explicando e esclarecendo possíveis dúvidassempre que seja
necessária a sua intervenção, dando segurança para ambas as partes.
Uma importante medida também seria que os médicos, psicólogos,
examinadores ou mesmo instrutores aprendessem o mínimo necessário para
acomunicação em LIBRAS para que possam de forma clara, concisa e objetiva uma
boa comunicação com os surdos.
Como já existe o selo de identificação nos vidros do condutor surdo,
deveria também haver um dispositivo de sinalização dentro do veículo do surdo que
identificasse a necessidade de ultrapassagem de carros da polícia, ambulância,
viatura e corpo de bombeiros. Sem contar na importância de sinais visuais que
também auxilie o condutor e o pedestre surdo.
Ouvintes e surdos tem os mesmos direitos garantidos pela Constituição
Federal e, se os surdos possuem o direito de usufruir dos serviços do tradutor
intérprete em LIBRAS. Porque em todos estes casos eles precisaram arcar com o
ônus e terem assessoria deste profissional no Detran e nos Centros de Formação de
Condutores?
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Espera-se que se efetive, ainda mais as lutas para o valor das pessoas
surdas seja realmente reconhecido, partindo do princípio de que a LIBRAS é
considerado um método altamente eficaz para que os surdos possam ser educados,
informados, integrando-se ao meio social.
45
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46
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APÊNDICE
ENTREVISTA PARA OS SURDOS
1. Idade:
2. Formação:
3. Área de atuação:
4. Há quanto tempo possui carteira de habilitação:
5. No processo de retirada da habilitação, o centro de formação de condutores
possuía instrutor capacitado em Libras?
6. Quais as principais dificuldades encontradas no processo da habilitação?
7. Existe uma atenção especial no trânsito para os surdos? Quais os principais
cuidados que o surdo deve tomar?
8. No trânsito, já passou por algum tipo de situação ou mesmo constrangimento por
não terem conhecimento da vossa surdez? Qual?
9. Os testes realizados pelo psicólogo são adaptados aos surdos? Como ocorre?
10. O que poderia ser melhorado no processo de habilitação para melhorar a
inclusão dos surdos?
11. E no trânsito, que sugestões seriam importantes para esta inclusão?
ENTREVISTA PARA A PSICÓLOGA
1. Tempo de formação?
2. Tempo de atuação na psicologia do trânsito?
3. É credenciada pelo Detran desde ____________________________________.
4. Quantos psicólogos no Dentran são habilitados para atender surdos?
5. Em média quantos surdos você atende por ano?
6. No processo de habilitação para os surdos quais os testes aplicados? Como são
aplicados?
7. Sente dificuldades na aplicação destes testes?
8. O que poderia ser modificado em termos de testes? Quais as suas sugestões?