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PORTO ALEGRE/RS SEMESTRE 2014/1 ANO II • NÚMERO 3 O mundo em Porto Alegre Edição especial do Unipautas aborda a presença estrangeira na capital dos gaúchos Dança RITMO ESPANHOL NO PAÍS DO SAMBA Gabriel Matias, o bailarino porto-alegrense que fez do flamenco sua vida e sua profissão. p. 20 ENTREVISTA Jornalista e publicitário Alfredo Fedrizzi, dono da Agência Escala, fala sobre o futuro da comunicação. contracapa Cultura SEMANA DA CHINA COLORE REDENÇÃO Evento traz aos porto- alegrenses oportunidade de aproximação com cultura chinesa. p. 15 Gastronomia VIAGEM DE SABORES Restaurantes internacio- nais permitem que se tenha um aperitivo de outras partes do mundo sem sair da cidade. p. 22-23 JORNAL DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIRITTER A Copa Cerca de 160 mil turistas, dos cinco continentes, coloriram as ruas de Porto Alegre. Pelo Caminho do Gol passaram holandes, coreanos, argelinos, argentinos, australianos, nigerianos, franceses e, claro, os campeões do mundo alemães (foto). páginas 10 e 11 A cultura Da arquitetura à culinária, passando pela dança e pelo esporte, a influência estrangeira se faz sentir na Capital. Exemplo disso é o crescimento do futebol americano (foto) na cidade. páginas 12 e 13 As pessoas Para morar, para fugir, para passear, para trabalhar, para jogar. Série de reportagens especiais mostra a história de estrangeiros que vieram morar na Grande Porto Alegre, como o atleta olímpico cubano Angel Dennis (foto). páginas 4 a 9 Foto: Tiago Pereira Foto: Michelle Bertotti Foto: Isabel Borges Comunicação A PROFISSÃO DOS SONHOS Jornalistas Marcelo Barreto e Marcelo Rech contam suas experiências como correspondentes. p. 17

Unipautas nº 03 (2014/1)

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Page 1: Unipautas nº 03 (2014/1)

PORTO ALEGRE/RSSEMESTRE 2014/1ANO II • NÚMERO 3

O mundo em Porto AlegreEdição especial do Unipautas aborda a presença estrangeira na capital dos gaúchos

Dança

RITMO ESPANHOL NO PAÍS DO SAMBAGabriel Matias, o bailarino porto-alegrense que fez do flamenco sua vida e sua profissão. p. 20

ENTREVISTAJornalista e publicitário Alfredo Fedrizzi, dono da Agência Escala, fala sobre o futuro da comunicação.

contracapa

Cultura

SEMANA DA CHINA COLORE REDENÇÃO Evento traz aos porto-alegrenses oportunidade de aproximação comcultura chinesa. p. 15

Gastronomia

VIAGEM DE SABORESRestaurantes internacio-nais permitem que se tenha um aperitivo de outras partes do mundo sem sair da cidade. p. 22-23

JORNAL DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIRITTER

A CopaCerca de 160 mil turistas, dos cinco continentes, coloriram as ruas de Porto Alegre. Pelo Caminho do Gol passaram holandes, coreanos, argelinos, argentinos, australianos, nigerianos, franceses e, claro, os campeões do mundo alemães (foto).

páginas 10 e 11

A cultura Da arquitetura à culinária, passando pela dança e pelo esporte, a influência estrangeira se faz sentir na Capital. Exemplo disso é o crescimento do futebol americano (foto) na cidade.

páginas 12 e 13

As pessoas Para morar, para fugir, para passear, para trabalhar, para jogar. Série de reportagens especiais mostra a história de estrangeiros que vieram morar na Grande Porto Alegre, como o atleta olímpico cubano Angel Dennis (foto).

páginas 4 a 9

Foto: Tiago Pereira

Foto: Michelle Bertotti

Foto: Isabel Borges

Comunicação

A PROFISSÃO DOS SONHOSJornalistas Marcelo Barreto e Marcelo Rech contam suas experiências como correspondentes. p. 17

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2 • UNIPAUTAS • 2014/1

Fale conosco: [email protected] • www.unipautas.uniritter.edu.brExpediente

Jornalismo de gente grande

Vida longa ao jornal impresso

O Jornal UniPautas é um projeto da Faculdades de Comunicação Social (FACS) do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter/Laureate International Universities. A iniciativa surgiu da necessidade de criar um espaço de divulga-ção do material produzido nos cursos de jornalismo e publicidade. Seu projeto gráfico foi desenvolvido pelos designers e professores Sandro Fetter e Jaire Passos. A tipografia principal dos textos e títulos é a Directa Serif, produzida pelo designer capixaba, Ricardo Esteves Gomes.

UniRitter / Laureate International Universities

Campus Porto Alegre: Rua Orfanotrófio, 555• Alto Teresópolis • Porto Alegre/RSCEP 90840-440 • Fones: (51) 3230.3333 | (51) 3027.7300Campus Canoas: Rua Santos Dumont, 888 • Niterói • Canoas/RS • CEP 92120-110Fones: (51) 3464.2000 | (51) 3032.6000

Reitor: Telmo Rudi Frantz Chanceler: Flávio D'Almeida Reis Pró-Reitora de Graduação: Laura Coradini Frantz Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão: Márcia Santana Fernandes

Coordenação do curso de Jornalismo: Laura Glüer

Coordenação do curso de Publicidade e Propaganda: Sônia Zardenunes

Unipautas Edição: Laura Glüer Marcelo Spalding Rodrigo Lopes Solon Saldanha

Projeto Gráfico: Jaire Passos Rogério Grilho Sandro Fetter

Diagramação: Marcelo Spalding

Consultor em diagramação: Rogério Grilho (MT 7465)

Supervisão fotográfica:Rogério Soares Professores envolvidos: Marcelo Spalding (Projeto Experimental Jornal), Rodrigo Lopes e Solon Saldanha (Redação Jornalística), Rogério Soares (Fotografia) e Cláudia Trindade (Criação Publicitária)

APRESENTAÇÃO EDITORIAL

Rodrigo Lopes, professor

No lugar da bola redonda, uma bola… oval. Sim, no país do soccer, na Porto

Alegre da Copa 2014, também se joga futebol… americano. Outra: um jogador cubano foge da de-legação em um país europeu, quer escapar mesmo do medo de voltar para ilha onde nasceu, e acaba reconstruindo sua vida em Canoas. Uma terceira: uma cidadã afegã deixa para trás a ditadura do Talibã e as bombas americanas para reencontrar em um famoso instituto de beleza da Capital sua dignidade.

O que estas histórias têm em comum? Três coisas. Primeiro, são histórias de mundos tão longínquos e, ao mesmo tempo, tão próximos. Segundo: estão ao nosso lado. Aposto que aconte-cem a não mais do que 50 quilô-metros de onde você mora. São histórias que muitas vezes, nes-te mundo globalizado, passam invisíveis ao nosso olhar. Afinal, com a internet, é mais fácil sa-bermos o que acontece em Bagdá, Cabul ou Pequim, do que tomar conhecimento do que ocorre com o nosso vizinho.

Mas há um terceiro elemento que une o time de futebol ame-ricano de Porto Alegre, o cuba-no em fuga e a afegã refugiada: estas e muitas outras pessoas ganharam a luz, a visibilidade, por conta de jovens repórteres em formação, sedentos por con-tar histórias de gente. Sim, gen-te, ser humano, matéria-prima do Jornalismo com “J” maiús-culo. Ricas histórias preteridas em muitos jornais, carentes de

humanidade.Números, estatísticas, você,

caro leitor, não encontrará nes-te Unipautas que tem em mãos. Os textos que você lerá nesta ter-ceira edição do jornal laboratório dos alunos da UniRitter transpi-ram vida. Seja por conta de quem foi personagem das reportagens, seja por quem as escreveu. Neste primeiro semestre como docente, foi com orgulho que acompanhei

– e, confesso, palpitei bastante - os estudantes do 3º semestre de Redação I na arquitetura destas páginas. Os alunos planejaram as pautas, sujaram os sapatos atrás das entrevistas, entusias-maram-se com relatos emocio-nados e também frustraram-se diante de algumas negativas das fontes.

Sim, caro leitor, a vida, com toda a sua complexidade, não é fácil. De jornalista, então, nem se fala: nem sempre encontramos a fonte, ou, quando a encontramos, ela muitas vezes não quer falar conosco. Neste mundo jornalísti-co de informações pausterizadas, de avalanche de notícias, vence quem tem persistência. Por isso, vibrei junto com aqueles estu-dantes, repórteres ganhando asas, ao saber que, quando já es-tavam desistindo, deram mais um telefonema, tentaram mais um e-mail, bateram na porta – até um encontro casual na frente do Mercado Público está valendo. Para uma boa reportagem, 10% depende de talento. Noventa por cento de transpiração.

Já estive do outro lado. Já fui (sou) repórter, coordeno equipes de jornalistas profissionais como editor. Por isso, sei o quanto vale o sorriso de um repórter ao vol-tar da pauta com a sensação de

Na webAcesse as edições anteriores do Jornal Unipautas via internet.

http://www.issuu.com/editorauniritter

dever cumprido, da entrevista bem feita.

Caro leitor, peço licença para me dirigir aos estudantes que confeccionaram os textos que você lerá a seguir. Queridos alu-nos, o “prof” está orgulhoso! Daqui para frente, escrevam mais, exercitem mais a arte tão antiga de juntar letrinhas. Lembrem-se: só escreve bem quem lê muito. E não percam a curiosidade pelo mundo. Como falamos em aula

– e, eu sei, até cansei vocês com isso -, as grandes histórias estão nas ruas. Não estão dentro das Redações. A vida está lá fora, a nossa espera. É o repórter quem ilumina a cena, quem joga luzes sobre ela.

Caro leitor, agora é a você a quem me dirijo: vivemos, no semestre em que este jornal foi feito, o maior evento esportivo do Brasil em 64 anos. Você até pode ser contra, mas, com a Copa, o mundo ficou mais per-to do Brasil. Acostumamos-nos a trombar com torcedores fran-ceses, com mapas nas mãos, no Brique da Redenção, curtimos ver o Beira-Rio lotado de holan-deses e australianos. Mas há mui-to do mundo em Porto Alegre mesmo quando não há Copa. Receptivos que somos, nós, os gaúchos, exercemos com maes-tria a hospitalidade. Isso desde a Porto dos Casais. Não é a toa que estrangeiros como o cubano de Canoas ou a refugiada afegã es-colhem o paralelo 30 como suas casas. É um pouco desse mundo em Porto Alegre que você encon-trará nestas páginas.

Boa leitura!

* Rodrigo Lopes é professor de Redação Jornalística

Marcelo Spalding, professor

O jornal vai mesmo acabar, professor? Mas eu gosto tanto dele...

Mais ou menos assim come-çou nosso semestre em Projeto Experimental de Jornalismo Gráfico. Os jovens estudantes estavam ávidos por verem seus nomes nas páginas do Unipautas, eles que já haviam admirado o nome dos colegas nas edições an-teriores. Nativos digitais, estes jovens na verdade refletem uma sensação de todos nós: que os meios eletrônicos conseguiram superar em muitos aspectos as mídias tradicionais, mas que a concretude do papel, a ideia de permanência, a possibilidade do cheiro e do toque permanecem fascinantes.

Fazer jornal impresso é não ter chance de arrumar um erri-nho aqui ou ali depois que o texto for publicado, é lutar contra as limitações físicas da página, cor-tando palavras, linhas, trechos inteiros. É esperar ansiosamente pela impressão para depois mos-trar aos pais e amigos, tirar foto e publicar no Facebook, guardar com carinho em uma gaveta ou mesmo deixar sobre a cômoda para todos verem.

Fazer jornal impresso é

conectar-se com o que há de mais tradicional no jornalismo, talvez de mais genuíno, sentir-se parte de uma história que come-çou antes mesmo de Gutemberg, forjou partidos, nações e revolu-ções, popularizou gênios e ques-tionou regimes. É acreditar no texto, no poder da leitura e da escrita como protagonistas, não abrindo mão do aspecto visual, mas tratando com o devido cui-dado e respeito a técnica que nos tirou da Pré-História.

Ainda assim, meus queridos alunos, meus caros leitores, é bem provável que o jornal im-presso como o conhecemos este-ja com seus anos contados. Seja por aspectos econômicos, ecoló-gicos ou culturais, está com seus anos contados.

A pergunta certa, porém, é: quando o jornal vai acabar? E eu ouso responder: depois que nós morrermos. Nossa geração, e in-cluo aqui a dos jovens que estam-pam estas páginas, ainda tem prazer de folhear um jornal com bons textos, boa diagramação, conteúdos instigantes. A nossa geração tem prazer em ver seu nome impresso a tinta resistindo ao tempo. E enquanto viver esta geração, viverá o jornal.

* Marcelo Spalding é professor de Projeto Experimental Jornal

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2014/1 • UNIPAUTAS • 3

Os inquietos que fizeram esta edição

EDITORIALOlhar “glocal” no Unipautas

Laura Glüer, professora

O jornal laboratório Unipautas nasceu há pouco mais de um ano, com a proposta inicial de trazer reportagens dos estudantes de Jornalismo da UniRitter, com um

olhar local sobre a capital dos gaúchos. Chegando à sua terceira edição, em um semestre que colocou Porto Alegre na vitrine internacional com a Copa do Mundo, o olhar local tornou-se

“glocal”, ou seja, globalizado mas sem perder a ênfase local. As matérias com estrangeiros em Porto Alegre e a cobertura

especial produzida pelos alunos do projeto de extensão Unicopa 2014 trouxeram um caráter diferenciado para esta edição, am-pliando horizontes e valorizando ainda mais a nossa cidade, não somente pela ótica de quem aqui nasceu, mas por quem escolheu Porto Alegre como destino.

Professores e alunos estão de parabéns por terem aceitado o desafio de trazer para o nosso Unipautas um olhar “glocal”. Olhar que oxigena a pauta de um jornal laboratório, rompendo com o óbvio e com o valor-notícia da proximidade. Esta propos-ta está totalmente alinhada à vivência de internacionalização estimulada no curso de Jornalismo da UniRitter. Viver novas experiências em sala de aula e fora dela, conhecendo culturas diversas, é o que queremos para nossos estudantes.

Sabemos que o jornalismo é, cada vez mais, multiplataforma e a mídia impressa, neste contexto, necessita se reinventar. Mas acreditamos que o exercício de produzir um jornal laboratório, ao mesmo tempo em que remete à origem do jornalismo, é fundamental para preparar o aluno para novas experiências midiáticas.

Assim, com o objetivo de estimular o exercício do jornalismo impresso no curso, a novidade do próximo semestre é a edi-ção de dois jornais laboratório por semestre, na disciplina de Projeto Experimental Jornal e Redação I. A ideia é tornar esta publicação ainda mais factual e dar ritmo de produção editorial nas disciplinas que conduzem este projeto.

Que venha mais um semestre. E terminamos este 2014/1 com o sentimento de missão cumprida.

* Laura Gluer é coordenadora do curso de Jornalismo da UniRitter

O projeto UnicopaReportagem especial desta edição sobre a Copa do Mundo é fruto de projeto de extensão criado em 2013 pela FACS

Leandro Olegário, professor

O dia 28 de junho de 2013 marcou o início de uma caminhada. Era lança-

mento do Unicopa 2014, um blog com conteúdo focado na Copa do Mundo de 2014 em Porto Alegre. Era o primeiro projeto de extensão da Faculdade de Comunicação Social focado em jornalismo esportivo: conteúdos

diferenciados e inovadores que foram além do futebol.

O time, que começou com cinco estudantes, foi ampliado para oito alunos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas.

O Unicopa 2014 esteve inteira-mente conectado às redes sociais, promovendo o compartilhamen-to de informações e a interação. Nossa regra sempre foi bem cla-ra: fazer e pensar o jornalismo esportivo com ousadia e reflexão.

Buscar novos conceitos e tentar fugir do lugar-comum. Nosso desafio nunca foi superar ou competir com veículos da mídia profissional, mas ser um balão de ensaio, no qual a evolução fosse medida diante do nosso próprio

crescimento - estimulando no grupo competências necessárias à atuação destacada no mercado de trabalho.

Durante a Copa do Mundo, o ‘filé mignon’ da nossa cobertura, estivemos espalhados em pon-tos estratégicos da capital, in-cluindo o Beira-Rio. Mostramos o evento com um olhar curioso, explorando também o jornalis-mo humanizador.

O espírito de equipe trans-formou um elenco de inquietos em uma seleção de abnegados diante do inesperável que rege a rotina jornalística – e a vida.

* Leandro Olegário é coordenador do UnicopaEquipe do Unipautas. Foto: Divulgação

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4 • UNIPAUTAS • 2014/1

Porto Alegre como destino

Redenção é um dos pontos mais visitados por turistas estrangeiros na Capital. Foto: Ethiene Antonello

Turistas vêm de fora do Brasil a fim estudar e conhecer as belezas e a cultura da capital dos gaúchos

Ethiene Antonello Mariana Aguiar

Segundo dados do Minis-tério do Turismo, desde 2011 Porto Alegre foi a capi-

tal que mais evoluiu em aspectos culturais, alcançando 76 pontos em uma escala de 0 a 100. A cida-de se destacou pela existência de patrimônios artísticos e históri-cos que atraem turistas e está en-tre as cidades que se consolidam como polo de turismo e negócios.

A uruguaia Claudia Morel, 34 anos, estudante de Direito, veio a Porto Alegre para visitar suas amigas, as quais não via desde que se mudaram do Uruguai.

“Minhas amigas falavam que Porto Alegre é uma cidade linda e cheia de atrativos, então resolvi visitá-las e estou adorando. Vou ficar por pouco tempo, mas volta-rei outras vezes”, afirma Claudia.

Os pontos turísticos que mais chamaram sua atenção foram a Redenção, o Gasômetro e a Casa de Cultura Mario Quintana:

“Minhas amigas sabem o quanto gosto de arte, então me levaram até lá e me encantei por ter sido a morada do poeta que dá nome ao espaço e pelas múltiplas mani-festações culturais que ocorrem no lugar”.

Para Cláudia, o Brasil é mais desenvolvido do que o Uruguai, pois a região de onde ela vem não oferece muitas oportunidades aos jovens, que acabam migran-do para a capital e outros países.

Para estudar

Outro que está de passagem pela capital é o estudante Lucho Leone, de 17 anos, que escolheu Porto Alegre como destino para fazer intercâmbio. Ele veio de Rosário, Argentina, a fim de co-nhecer pessoas e culturas dife-rentes: “Gostei muito da cidade, é muito bonita e fomos muito bem tratados”. Lucho ainda diz que Porto Alegre é uma das capi-tais mais organizadas e melhores de se viver no Brasil.

Quando veio para cá, Lucho conheceu vários lugares, mas o que mais lhe encantou foram os estádios de futebol da cidade: a Arena do Grêmio e o Beira-Rio. O argentino também passeou por shoppings, conheceu o centro da cidade, passou o dia na fazenda

de turismo Quinta da Estância, em Viamão, e finalizou a semana com um passeio encantador pelo Guaíba: “Fizemos um passeio de barco em que era possível ver toda cidade. Fiquei encantado”.

Para trabalhar

Assim como Lucho, muitos es-tudantes vêm para Porto Alegre em busca de novos conhecimen-tos e culturas, mas acabam se en-cantando com a beleza e o acon-chego da cidade. É o que conta o português Nuno Mourão, 26 anos, nascido em Lisboa e gra-duando de medicina. “Além de Portugal, já morei em diversos lugares do mundo. No Brasil, já vivi em Natal, Rio de Janeiro, Florianópolis e Porto Alegre. Gostei muito da experiência que tive no Rio Grande do Sul, é um lugar muito equilibrado, belo e cheio de oportunidades”, relata.

Nuno conta que para concluir

a faculdade é necessário fazer es-tágio em locais diferentes, para ter referências em várias áreas, e os estudantes têm o direito de escolher para onde vão: “Quando vim estagiar no Brasil, pesqui-sei as cidades mais influentes e atrativas, tanto culturais como de lazer. Decidi então, passar um tempo em Porto Alegre. Gostava muito de passear no Parcão, em Ipanema e na Redenção, a na-tureza me encanta. A cidade é desenvolvida e acolhe os mora-dores, que aparentam gostar de viver no lugar..

Além de fazer muitas amiza-des, Nuno conta que se encantou com a beleza da mulher gaúcha:

“Já sabia da fama que as mulheres do Sul tinham, e posso afirmar que é a pura verdade”.

Para torcer

Rafael Ferrero, estudante de Relações Internacionais, 21 anos,

já veio algumas vezes a Porto Alegre. Ele mora em Montevidéu, Uruguai e vem à capital do Estado para assistir jogos de fu-tebol. Ele conta que adora a riva-lidade existente não só na cidade, mas em todo Rio Grande do Sul entre a dupla Gre-Nal.

Torcedor do Nacional, Rafael já está acostumado com esta ri-validade no futebol, pois na sua cidade também é assim. Ele já veio várias vezes assistir aos jo-gos do seu time no antigo estádio do Grêmio, o Olímpico, na Arena e no Beira-Rio. “Sempre somos muito bem recebidos em Porto Alegre, principalmente pelos tor-cedores do Grêmio, que é nossa torcida amiga”, conta Ferrero.

Para o uruguaio, Porto Alegre é como se fosse uma Montevidéu maior, com incríveis belezas e lugares muito legais: “gosto muito do Rio Grande do Sul, me sinto em casa quando visito o Estado”.

Estrangeiros em Porto Alegre

Para morar, para passear, para trabalhar, para jogar. Uma série de reportagens sobre estrangeiros que visitaram ou vivem na capital dos gaúchos

Turista argentino se diverte na Quinta da Estância. Foto: Lucho Leone

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2014/1 • UNIPAUTAS • 5

Estrangeiros em Porto Alegre ESPECIAL

O atleta que enfrentou um país na busca pela liberdadeAngel Dennis aproveitou a oportunidade durante um campeonato para fugir de Cuba e hoje mora na Grande Porto Alegre

Michelle Bertotti

Quem vê o atleta de sa-que imponente, e que já foi considerado um dos

melhores jogadores do vôlei de Cuba, não imagina a história surpreendente que ele carrega.

Angel Dennis, 36 anos, atu-al jogador do Canoas Vôlei, foi um dos maiores pontuadores da Superliga neste ano. Falando português com uma mistura de sotaques italiano e espanhol, sua língua mãe, ele conta como foi tomar a decisão que mudaria para sempre a sua vida.

Dennis nasceu em Havana, Cuba, quando o país vivia em uma ditadura política imposta por Fidel Castro. De família hu-milde e muito unida, era apai-xonado pelo baseball. Sonhava crescer no esporte na posição de pitcher. Queria viajar, conhecer novos lugares, mas o governo não permitia que o povo saísse do país, nem para turismo.

O vôlei encontra Dennis

Aos 13 anos, a professora da escola o convidou para jogar vôlei. Haveria um campeonato nacional e faltavam jogadores. Dennis aceitou o convite. Por ter se destacado no campeonato, foi selecionado para integrar a sele-ção de menores. “Não aceitei o convite, não queria jogar vôlei,

pra mim aquilo era uma brinca-deira, eu queria o baseball”, con-ta, de forma tímida.

A pedido dos pais, por ser uma grande oportunidade, e com a promessa de que se não gostasse poderia abandonar o vôlei, Dennis mudou de ideia. Aceitou o convite e se tornou uma revelação no esporte.

Com 15 anos, teve oportu-nidade de jogar no Qatar e na Venezuela. “Senti o gosto da li-berdade, vi que poderia ganhar dinheiro e ajudar a minha famí-lia”, fala, relembrando da época que sonhava com a liberdade. Em dois anos já fazia parte da principal seleção de vôlei do país:

“Viajamos pelo mundo inteiro, recebíamos um bom dinheiro, mas a maior parte tinha que entregar ao governo, ficávamos com cerca de 10% ou 15%, só”.

Começam os problemas

O time venceu campeonatos como Mundial e Pan-Americano. Nas Olimpíadas de Sydney, a se-leção cubana chegou como uma das favoritas, mas foi derrotada por um ponto pela Rússia nas quartas de final.

A medalha Olímpica não veio para Dennis, mas na Austrália ele conheceu a jogadora de vôlei da Itália Simona Rinieri, que se tornou sua namorada e viabili-zou o sonho de ser livre: “Com a derrota nas Olímpiadas, as coisas se complicaram para nós. Voltamos a Cuba e nos disseram que como o resultado não ha-via sido bom, não sairíamos do país, e ficaríamos nos dedican-do aos treinos”. Sete meses de-pois. começaram as competições

internacionais e a seleção cuba-na voltou a vencer: “Queríamos ir para a Itália, lá estavam os melho-res times, disseram que podería-mos ir, mas o tempo foi passando e nunca nos liberaram”, lamenta.

Contando com o apoio da na-morada, o pensamento de fugir do país ganhou força: “foi mui-to complicado combinar a fuga, não podíamos falar por telefone e não tinha internet. Quando ha-via a oportunidade de sair com a seleção, aproveitava para falar ao telefone com mais liberdade, mas isso só aconteceu umas três vezes”. Falou com os pais sobre a intenção e recebeu apoio.

A oportunidade

Havia um campeonato na Bélgica e a delegação se prepa-rava para partir. “Foi um dia de muita emoção, eu e meus pais es-távamos com o coração apertado, não sabíamos o que iria aconte-cer, foi um momento muito duro para mim”, se emociona ao falar.Dennis sabia que não voltaria mais.

Chegando na Bélgica, teve os documentos recolhidos por um funcionário do governo cubano, como era de costume. No dia se-guinte, participou dos jogos do campeonato. Até que chegou o grande dia. Ao acordar, a delega-ção fez o alongamento e logo te-riam o café da manhã e uma hora e meia depois teriam que assistir a um vídeo para analisar o time adversário daquele dia.

A fuga

Dennis disse não estar se sen-tindo bem: “Voltei para o quarto do hotel, um jogador espanhol me ajudou, colocou minha mala den-tro da mala dele e saiu. Dois mi-nutos depois eu saí, fui até o pos-to de combustível, onde estavam os italianos que me tiraram dali. Eu nem sabia como eles eram. Simona tinha combinado que um deles estaria com um chapéu vermelho, e era essa a nossa re-ferência. Eu estava nervoso. Um dos italianos já estava com o car-ro ligado e o outro com o chapéu, estava do lado de fora, entrei no carro e saímos a mil”, transpira, ao relembrar o momento da fuga.

O plano era de chegar na Itália para pedir asilo, e aconte-ceu conforme o previsto. Após

dois dias, outros 5 jogadores cubanos tomaram a mesma atitude de Dennis e fugiram também: Ihosvany Hernández, Iasser Romero, Lionel Marshall, Ramón Gado abandonaram a concentração da seleção e bus-caram asilo na Itália para jogar no país. O sexto fugitivo, José Luis Hernández Larriñaga, foi para a Argentina para casar com a noiva.

Por causa dessa decisão, Dennis ficou muitos anos longe da família, não conseguia falar com eles e nem vê-los. Ele con-sidera essa a parte a mais difícil de sua vida, pois estava em um país longe de todos, sem domi-nar o idioma, porém sentia-se livre. O relacionamento com a jogadora italiana não deu certo:

“Isso me fez amadurecer muito, tive oportunidade escolher o que eu queria para a minha vida, em qual time eu queria jogar, pude escolher meu futu-ro. O clube me abraçou, me deu moradia, carro e comida”.

Dennis recebeu asilo e

conquistou a cidadania italia-na, onde morou e jogou por 10 anos. Em 2013 foi jogar na Argentina, onde defendeu o Bolívar. E em uma viagem para o Brasil, enquanto nego-ciava com o Canoas, conheceu a atual esposa, a catarinense Jussane Mazzuchetti Dennis.

Uma nova vida

Hoje, com a nova família, co-memora a chegada da primeira filha, Elena Caridád, nome es-colhido em homenagem à mãe de Dennis, que atualmente faz tratamento para combater a leucemia. Satisfeito com a vida livre que leva, ele fala que pre-tende encerrar sua carreira no Brasil e ficar por aqui: “Hoje me considero uma pessoa livre. O dia 27 de dezembro de 2001 é uma data de recomeço na mi-nha vida e eu faria tudo outra vez. Não me considero cubano ou italiano, sou um cidadão do mundo”, finaliza, enquanto se-gura a mão da esposa.

Depois de parar de jogar, Dennis pensa em morar no Brasil. Foto: Michelle Bertotti

Dennis foi um dos maiores pontuadores da Superliga deste ano. Foto: Arquivo pessoal

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6 • UNIPAUTAS • 2014/1

ESPECIAL Estrangeiros em Porto Alegre

Solo brasileiro serve como abrigo para refugiadosO Brasil é um lugar de refúgio para muitos reassentados que procuram uma nova história

Cindy Vitali e Débora Dalmoro

Um mundo justo é aquele em que as pessoas po-dem sentir-se seguras

com suas famílias em sua terra. É um lugar onde elas se sentem tranquilas e confiantes ao sair nas ruas e podem ser amantes da sua cultura sem nenhuma res-trição. Entretanto, muitas pes-soas deixam sua terra natal por perseguições por raça e religião, catástrofes, conflitos armados, violência generalizada e violação dos direitos humanos. O maior desejo das famílias é buscar uma nova vida, em um novo local.

Atualmente, o Brasil abriga 4.689 refugiados reconhecidos de 79 nacionalidades distin-tas (36% deles são mulheres), segundo dados do Conselho Nacional para Refugiados, o Conare. Os principais grupos são compostos por refugiados vindos da Angola, da Colômbia, da República Democrática do Congo e do Iraque.

Refugiados no Sul

Conhecido por seu povo aco-lhedor, o Rio Grande do Sul passou a dar abrigo para mi-lhares de refugiados. Projetos como a Associação Antônio Vieira (ASAV), vinculada ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e o Comitê Nacional para

Refugiados – Conare, prestam assessoria a refugiados.

Dessa forma, no Rio Grande do Sul encontra-se o maior nú-mero de reassentados do Brasil, com aproximadamente 250 re-fugiados vindos do Afeganistão, da Colômbia e do Paquistão pelo programa de Reassentamento Solidário, segundo o Acnur.

Grupo sediado na UFRGS assessora imigrantes e

refugiados

Em 2006, após um grupo de alunos do Direito da UFRGS, estagiar na sede do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados em Brasília, surgiu a iniciativa do projeto GAIRE – Grupo de Assessoria a Imigrantes e a Refugiados em parceria com ACNUR e o Programa de Reassentamento Solidário no Rio Grande do Sul.

Segundo Patrícia Assoni Grechi, de 22 anos, estudante de Relações Internacionais da UFRGS e atualmente monitora no Gaire, o trabalho do grupo pode ser dividido em dois eixos: atendimento aos refugiados e a divulgação da temática. “Os aten-dimentos são realizados por pro-fissionais e alunos de áreas diver-sas - atualmente o grupo conta com cerca de 25 estudantes e pro-fissionais das áreas do Direito, Relações Internacionais, Serviço Social, Psicologia e Ciências Sociais”, comenta Patrícia.

O Gaire recebeu a notícia de que a UFRGS passará a ter um sistema de ingresso específico para refugiados, processo que foi iniciado a partir de uma carta do grupo manifestando a

Indiano e sua família afegã vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor. Foto: Débora Dalmoro

Refugiado indiano sonha com retorno Movidos por uma proposta

da ONU, o refugiado india-no Farid Fazal Rahman, 20 anos, e sua família afegã vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor.

Após 10 anos residindo em Porto Alegre, Farid não é total-mente feliz por aqui. Estudante de Técnico em Administração e estagiário da EPTC, seu maior desejo é voltar para a Índia: “sin-to muita saudade das pessoas de lá, falo todos os dias com os meus amigos,” declara.

Muçulmano praticante, Farid e sua família frequentam todas as sextas-feiras a mesquita loca-lizada no centro de Porto Alegre.

Esse é um dos únicos momentos em que eles têm o contato mais frequente com seus conterrâneos.

Com um português impecá-vel, o indiano destaca que o povo gaúcho é acolhedor. Ele e sua fa-mília foram muito bem recebidos na capital gaúcha, diferentemen-te de outras famílias, que foram enviados para diversos países.

O lugar preferido do indiano em Porto Alegre é o Parque da Redenção. Farid associa o Arco do parque com um dos pontos turísticos de seu país, a Porta da Índia: “Quando chegamos a Porto Alegre e vimos o Arco da Redenção, foi uma grande sur-presa,” finaliza, emocionado.

importância de tal ação. “Isso re-presenta uma grande conquista para os refugiados e o Gaire se orgulha imensamente de ter aju-dado“ diz.

Afegã em solo porto-alegrense

Em 2002 a professora afegã Roquia Atbai, 44 anos, chegou a Porto Alegre com o ex-marido e os dois filhos. Ela desembarcou no Brasil sem falar português e usando lenços cobrindo o rosto. Após um mês a refugiada passou a atuar em um salão de beleza como esteticista, área que atua até hoje. Os filhos de Roquia con-tinuam com ela, mas o ex-mari-do voltou para o Oriente Médio, assim como fazem os refugiados que não se adaptam. Para ela, um dos maiores problemas é a sau-dade dos familiares.

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2014/1 • UNIPAUTAS • 7

Estrangeiros em Porto Alegre ESPECIAL

A adaptação e as expectativas de Barcos e D’Alessandro, os capitães da dupla Grenal

Jéssica Marquezotti

T odo mundo conhece a rivalidade entre Brasil e Argentina, assim como

entre Grêmio e Inter. Mas há al-gum tempo diversos jogadores argentinos estão atuando na du-pla Grenal, como Hernán Barcos, atacante do Grêmio, e Andrés D’Alessandro, meio-campo do Internacional.

Os capitães, que preferem não ser chamados de craque, agrade-cem e se orgulham de fazer par-te da história da dupla Grenal. Barcos chega a afirmar: “Não sou craque. Sou hoje o capitão de um time com uma história muito bo-nita e que luta para voltar a ven-cer. Também quero fazer a minha história aqui e estou fazendo”.

Barcos está no Rio Grande do Sul desde 2013. O atacante tem 29 gols marcados em 75 partidas. Já o meio-campista colorado está desde 2008 no clube e possui 51 gols em 227 jogos.

Para os jogadores, atuar no país que vive o futebol foi uma oportunidade muito grande, e talvez por isso a adaptção tenha sido tão rápida. Para D’Alessandro, “a proximidade

que tem com a Argentina, a cul-tura e os costumes são parecidos com os nossos, e o clube me aju-dou muito na adaptação”. Barcos também afirma que teve uma óti-ma recepção nos dois clubes em que atuou no país (Palmeiras e Grêmio) e que a família está bem adaptada.

Para Barcos, tecnicamente o futebol gaúcho e argentino são parecidos, mas na Argentina, se-gundo ele, se tem menos espaço para jogar.

Já D’Alessandro acredita que o futebol brasileiro esteja em um nível acima do argentino: “hoje o campeonato brasileiro é o me-lhor de Sudamérica. O futebol ar-gentino baixou muito a qualida-de e acaba sendo mais físico, isso torna o futebol brasileiro, melhor taticamente e tecnicamente”, diz o camisa 10.

Em relação à rivalidades, para Barcos a comparação entre a dis-puta de um clássico gaúcho e um clássico argentino é fraca: “são duas grandes rivalidades, mas Boca e River mexe com o país inteiro”, diz o camisa 9. Já para D’Alessandro, as disputas são parecidas pelo fanatismo do torcedor.

Um fator muito criticado é o valor pago por um passe. Para os dois, o futebol é um negócio, e o importante é o torcedor sempre manter a paixão, e não esquecer que isso vale mais que qualquer valor de passe.

Nossos capitães hermanos

D’Alessandro, no Inter desde 2008, foi fundamental para títulos como o da Libertadores e da Sul Americana. Foto: Alexandre Lopes

Barcos, no Grêmio desde 2013, é o artilheiro gremista nesta temporada. Foto: Lucas Uebel

Não sou craque. Sou hoje o capitão de um time com uma

história muito bonita e que luta para voltar a vencer.”

Hernán Barcos, atacante do Grêmio

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8 • UNIPAUTAS • 2014/1

ESPECIAL Estrangeiros em Porto Alegre

Atraído pela “bagunça” do bem

A trajetória de uma imigrante alemã no RS

Charles Di Pinto, nascido na Filadélfia, alterna períodos nos EUA e no Brasil, mas há oito anos fixou-se em Porto Alegre

Luiza Guerim

A cidade de Porto Alegre vem recebendo cada vez mais pessoas de diver-

sas partes do mundo. Com uma média anual de 1,7 mil novos ca-dastros destinados a estudos ou trabalho, a capital gaúcha já conta com 29.485 moradores estrangeiros. Um deles é o co-municador e professor universi-tário norte-americano Charles Di Pinto, 42 anos, nascido na Filadélfia. De pai americano e mãe gaúcha, Charles teve desde pequeno contato com o Brasil e a língua portuguesa, da qual possui completo domínio.

Em 1990, com 18 anos, Charles se mudou com sua família para Porto Alegre pela primeira vez, e desde então o comunicador intercala períodos morando no Brasil e nos Estados Unidos. Durante esses 24 anos, o pro-fessor universitário conta que

viu uma grande transformação na capital gaúcha: “se eu tivesse vindo nos anos 90 e voltado em 2014, eu não reconheceria como sendo a mesma cidade”.

Para Charles, a grande diferen-ça entre sua cidade natal e Porto Alegre está no comportamento das pessoas. A informalidade e

proximidade do povo brasileiro contrastam com o distanciamen-to do americano, algo que lhe causou choque em sua chegada ao país. Entretanto, segundo Charles, esse aspecto do povo es-taduniense é a razão da organiza-ção da sociedade: “Essa distância é uma forma de organização, de

funcionar de forma mecânica. A complexidade de uma sociedade, quando é bem organizada, traz certo distanciamento.”

A opção por Porto Alegre

O comunicador define Porto Alegre como uma “bagunça”, mas

não apenas no sentido negativo da palavra. Para ele, é justamen-te esse aspecto da cidade que aproxima as pessoas e resulta naquilo que mais gosta na ca-pital gaúcha: o povo. “O Brasil encanta, as pessoas tem um comportamento muito interes-sante. São mais informais, mais soltas, mais bagunçadas”, explica o norte-americano.

Porém, essa bagunça é tam-bém negativa. Para Charles, o jeito “esperto” do brasileiro, furando filas e buscando levar vantagem em suas ações, e a fal-ta de organização da cidade são resultado dessa caracerística da capital.

O americano fez ainda uma comparação curiosa a respeito do transporte público da cida-de: “andar de ônibus em Porto Alegre lembra muito os jogos da Disneylândia, porque tem cur-vas fortes, pula para cima e para baixo e tem um monte de gente se empurrando”, brinca Charles.

Há oito anos vivendo regular-mente em Porto Alegre, o pro-fessor universitário vê a capital gaúcha e o Brasil vivendo um momento especial, mais abertos para pessoas com ideias novas e empreendedoras.

Hamburguesa encontrou em Porto Alegre tradições, comidas e até o estilo alemão de sua cidade natal

Lucille Soares

Nascida em Hamburgo, na Alemanha, Susane Scheffer e sua família

vieram para o Brasil há cerca de 40 anos, quando ela tinha apenas sete. Seu pai era enge-nheiro mecânico especializado em fábrica de óleo vegetal e mudou-se para cá quando uma grande fábrica alemã, que ex-portava óleo, resolveu expan-dir suas empresas para o Brasil, implementando filiais em Belo Horizonte e Porto Alegre. Vieram para Porto Alegre na época da ditadura militar, e Susane, que já havia cursado a 1º série na Alemanha, estudou em um colégio alemão da capi-tal. Alguns anos depois seu pai

deixou de trabalhar na empresa que o trouxe, entretanto deci-diu ficar aqui com sua família, pois passou a achar a qualida-de de vida no Brasil melhor do que na Alemanha. Assim, dei-xaram alguns parentes lá, inclu-sive seus avós, os quais visitam quando é possível, porém ela só voltou a seu país de origem duas vezes, na infância e na adolescência. Com vinte e três anos, Susane pensou em voltar a morar na Alemanha, ideia que assustava muito seu pai, até que conheceu seu marido, e mudou seus planos, constituindo famí-lia aqui.

Susane formou-se em Arquitetura e hoje trabalha como Projetista de Fábrica na Petrobras. Devido ao seu car-go, tem contato com diversos estrangeiros que vêm morar no Brasil, e vê que todos têm dificuldade de adaptação, lon-ge das famílias, e nem sempre são recebidos com hospitalida-de. Quando questionada sobre

Para o americano, o melhor da cidade são as pessoas . Foto: Luiza Guerim

Objetos de decoração da casa remetem à cultura alemã. Foto: Lucille Soares

voltar à Alemanha, ela diz que ainda não pensa em retornar, pois acha que quando um imi-grante volta, existe uma espé-cie de preconceito em função da ideia de que em tempos di-fíceis se abandona a terra natal e depois se volta, quando a si-tuação está melhor. Entretanto, ela acha que se tivesse ficado lá seu nível de estudo e trabalho seriam superiores. E sonha que, no futuro, o filho faça seus es-tudos no exterior.

Em Porto Alegre, Susane encontrou um pouco dos cos-tumes alemães, que ela cultiva até hoje. Um exemplo são as confeitarias, onde se podem encontrar doces típicos da Alemanha. Susane também des-taca bairros porto-alegrenses, como Moinhos de Vento, onde se podem perceber caracterís-ticas alemãs. Em sua casa, ve-mos objetos de decoração que nos remetem à cultura alemã, e uma série de livros originais em alemão.

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2014/1 • UNIPAUTAS • 9

Estrangeiros em Porto Alegre ESPECIAL

O mochileiro que rodou a América e escolheu Porto Alegre

José Augusto Varon escolheu o turismo idependente como um estilo de viver, e não se arrependeu. Foto: Thuane Liesenfeld

A história de José Augusto Varon, um mochileiro que escolheu o Brasil para se aventurar no turismo independente e, após percorrer vários lugares do mundo, resolveu que não voltaria mais para casa

Thuane Liesenfeld

O Brasil é um dos prin-cipais países de visi-tação turística. Só no

ano de 2013, o número de tu-ristas que desembarcaram no país chegou a 6 milhões, segun-do o Embratur (Ministério do Turismo Brasileiro). No ano de 2014 é esperado que o recorde seja batido, com mais de 7 mi-lhões, devido à Copa do Mundo. Mas não somente o turismo que soma, existem também estran-geiros que escolhem o país para sua permanência, como no caso dos mochileiros: pessoas que via-jam com o intuito de conhecer gastando pouco, se instalar al-guns meses e adquirir um pouco da cultura de determinado local.

José Augusto Varon, por exemplo, natural de Amero, Colômbia, começou a visitar lu-gares pelo mundo quando tinha 22 anos. Após a primeira aventu-ra com a mochilagem, nos EUA, resolveu não ficar mais no mes-mo lugar, passando por Canadá, México, Costa Rica, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Argentina. Até chegar em Porto Alegre e escolher a capital como sua atual casa. “Viajar me deu um novo sentido na vida”, diz Varon, hoje com 30 anos.

O principal motivo que o le-vou a escolher ser mochileiro foi a curiosidade que tem desde criança, quando começou a viajar

de um país para outro com seus pais. Ainda com cinco anos, mu-dou-se para Miami, e a partir daí começou a ter vontade de conhe-cer outras culturas.

A escolha da capital

A escolha pela capital dos gaúchos, segundo o colombia-no, não foi difícil: “É uma cidade pequena e tranquila. Aqui, tudo é mais devagar, e as pessoas são mais receptivas, comparado aos outros lugares em que vivi.” Quando chegou na Capital, con-seguiu ficar em uma pensão du-rante alguns dias até encontrar uma moradia fixa por meio do site couchsurfing (site para via-jantes): “Juntei dinheiro, econo-mizei, aprendi a falar português com amigos ainda no EUA e vim para o Brasil com o intuito de conhecer a cultura linda que ouvi falar”.

Também não foi complicado

conseguir emprego. Não se pas-saram dois meses e o rapaz já estava trabalhando como pro-fessor de espanhol e de inglês. Atualmente, é gerente de proje-tos na empresa de traduções RTS Brasil e dá aulas particulares de língua estrangeira.

Em Porto Alegre, Varon tam-bém conheceu sua futura esposa, Carito Muller, 30 anos, e diz que uma das histórias mais interes-santes e especiais que tem para contar sobre sua trajetória na mochilagem é o jeito pelo qual os dois se conheceram. “Conheci Carito quando fui convidado para um jantar entre amigos, ela estava cantando no karaokê do bar quando me convidaram para acompanhá-la na cantoria.”

Apesar da estabilidade, seu próximo plano é, claro, tentar mudar-se novamente, dessa vez para o Canadá ou Inglaterra, pois aqui, segundo suas próprias pala-vras, “já deu o que tinha que dar”.

Ele pretende levar Carito para a prática do turismo independente.

Principais desafios

Em relação à adaptação ao Brasil, não foi complicado se acostumar com o gosto da comi-da, com a cultura e até mesmo com as leis. “Tudo é, pelo me-nos um pouco, parecido com os países em que já morei”, afirma. A principal dificuldade foi com o costume das pessoas. Ele diz também que no Brasil a popula-ção é mais sensível e vulnerável, fácil de desagradar: “não gosto de lidar com pessoas muito de-licadas, me sinto julgado ou me sinto mal, pois acredito que vão ficar ofendidos com qualquer coi-sa que eu possa fazer”.

Outro grande desafio, segun-do o mochileiro, é juntar dinhei-ro. Nesta região do país, o gasto com comida, remédios e coisas

para se sustentar é muito gran-de, é preciso ter um controle alto sobre o que é necessário e o que é para a diversão: “costumo gas-tar o menos possível com o que eu puder, até com o transporte público. Por isso uso minha bike”.

O costume de usar a bicicleta como a principal locomoção ele adquiriu na Europa. Segundo ele, seu recorde em um dia foi um caminho que fez do bairro Leopoldina, zona norte de Porto Alegre, à Restinga.

Depois de sua longa trajetória na mochilagem, Varon, que está longe de casa há mais de oito anos, revela vários conselhos so-bre como lidar com esse estilo de vida: “você precisa ser corajoso o suficiente sempre para novos de-safios, ter mente aberta para en-frentar as barreiras e limitações, ser vulnerável e respeitar as pesso-as, entender os seus costumes. Só assim se conquista aventuras in-críveis e amizades especiais”, diz.

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10 • UNIPAUTAS • 2014/1

ESPORTES Copa do Mundo

Um mês para a história

Paulo Mendes e Rian Ferreira

A estreia de Porto Alegre na Copa do Mundo Fifa 2014 ocorreu dia 15 de junho de 2014, quando o Beira-Rio recebeu 43.012 torce-

dores para França x Honduras. Benzema foi o nome do jogo, fez dois gols e garantiu a vitória por 3 a 0 da França contra Honduras. Além disso, a Capital foi a primeira a usar recursos tecnológicos: um gol da França, logo aos 3 min, teve a participa-ção da tecnologia da linha do gol para confirmar que a bola entrou. Benzema chutou, a bola bateu na trave e voltou para o goleiro Valladares, que não conseguiu segurar. A bola ultrapassou por poucos centímetros a linha do gol, e quando o goleiro a segurou novamente, o árbitro Sandro Meira Ricci já havia recebido a confirmação do gol pelo equipamento.

No dia 18 de junho, a segunda partida na cidade foi entre Austrália e Holanda. O público do Beira-Rio foi de 42.877 pessoas. Mesmo sem tradição no futebol, os australianos se mostram tão fanáticos quanto os holandeses. Mais de 5 mil holandeses e cerca de 20 mil australianos compareceram na capital gaúcha. Dentro de campo, a Austrália não se intimidou com o favoritismo holandês e foi ofensiva desde o início, chegando a estar na frente no placar, mas o resultado final foi 3 a 2 para os laranjas.

A partida que na teoria seria a menos empol-gante de se ver provou o contrário. Dia 22 de ju-nho, Coreia e Argélia proporcionaram um belo espetáculo dentro e fora de campo. Argelinos e sul-coreanos seguiram com brilhantismo a festa dos dois jogos anteriores. Antes de iniciar a par-tida no estádio Beira-Rio, as duas torcidas faziam uma linda festa. De um lado, uma grande bandeira da Coreia do Sul foi aberta por cima dos torcedo-res na arquibancada inferior; de outro, uma sin-tonia incrível ao cantar o hino da Argélia. O jogo acabou em 4 a 2 para a Argélia, a primeira vez na história das Copas que uma seleção do continen-te africano marcou quatro gols em uma partida.

O jogo mais esperado na capital, Argentina

Cinco jogos, 22 gols, quase 43 mil torcedores por jogo, 160 mil turistas estrangeiros e uma recordação eterna

Isabel Borges

A té o frio e a chuva do in-verno gaúcho deram uma trégua para receber os mi-

lhares de visitantes que vieram de cinco continentes para acompa-nhar os jogos da Copa do Mundo 2014, realizados no mês de junho no Estádio Beira-Rio. Segundo es-timativas do Governo do Estado e da Secretaria de Turismo, foram 350 mil turistas, sendo 160 mil estrangeiros. Dentro do estádio a média de público foi de 42.993 torcedores por jogo e um total de 22 gols nas cinco partidas.

Fora de campo, franceses, ho-landeses, argentinos, alemães, nigerianos, australianos, core-anos e argelinos se misturaram

com o povo gaúcho nos dias dos jogos. A Polícia Militar contou com um reforço de 1,6 mil ho-mens vindos do interior para a capital auxiliando na seguran-ça em torno do estádio e nas proximidades.

Uma ideia que deu certo e chamou a atenção da FIFA foi o Caminho do Gol. Criado pela Prefeitura, trata-se de um blo-queio para a circulação de carros de uma pista da avenida Borges de Medeiros até a chegada ao Estádio Beira-Rio para os torce-dores. Ao longo do trajeto, os tor-cedores presenciavam atrações culturais, como a apresentação da Banda da Brigada Militar.

A Capital contou também com outra atração: a Usina do Gasômetro abrigou nos 500 me-tros quadrados do seu mezanino o Centro de Mídia, direcionado a jornalistas não credenciados pela FIFA e oferecendo uma in-fraestrutura física e tecnológica a veículos nacionais e internacio-nais.

Cinco capítulos de um sonhoe Nigéria, reuniu no estádio Beira-Rio cerca de 43 mil pessoas, e Porto Alegre teve uma invasão “hermana” de aproximadamente 100 mil argenti-nos, que estavam espalhados por hotéis, ônibus, trailers, no Acampamento Farroupilha, na Cidade Baixa e diversos pontos da cidade. Na quarta-fei-ra, dia 25, ao soar do apito, o time argentino foi ofensivo. Lionel Messi, que estava de aniversário um dia antes, foi o grande nome do jogo, vencido pelos hermanos por 3 a 2.

Já na fase de mata-mata, quis o destino que a seleção argelina se despedisse do Mundial em solo gaúcho. A missão dos africanos era a mais desafiado-ra até o momento: derrotar a seleção alemã de Özil, Müller e da muralha Neuer. O poderoso esquadrão europeu foi reforçado por 12 mil alemães que, con-fraternizando com argelinos que apareciam na tra-vessia até o Beira-Rio, fizeram a festa durante todo o Caminho do Gol. Em campo, os africanos fizeram uma grande partida, segurando um 0 a 0 e chegan-do a ameaçar o gol de Neuer, mas na prorrogação o cansaço e as cãibras tomaram conta da equipe argelina, que aos poucos se entregou no gramado do Beira-Rio. Logo no primeiro minuto do tempo extra, Schürrle, de letra, abriu o placar, que venceu a prorrogação por 2 a 0.

Foto: Isabel Borges

Australiano no Caminho do Gol. Foto: Bruna FonsecaTransmissão de Argentina X Nigéria, ocorrido na Capital. Foto: Isabel Borges

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2014/1 • UNIPAUTAS • 11

Copa do Mundo ESPORTE

Invasão de turistas, cores, cânticos e idiomas na CapitalTuristas de diversos países estiveram em Porto Alegre por ocasião da Copa

Daniel Fagundes e Luiza Guerim

A atmosfera cosmopolita tomou conta de Porto Alegre durante a Copa do

Mundo. O evento trouxe turistas de todos os continentes seja para torcer pela sua seleção no está-dio Beira-Rio ou para conhecer a cidade.

Teve casal americano que

deixou o verão da Califórnia para aterrissar no aeroporto in-ternacional Salgado Filho. Eric e Felicia Lee ficaram hospeda-dos na casa de um familiar para aproveitar o Mundial, mesmo sem partidas de sua seleção em Porto Alegre. Impressionados com a organização da cidade, os norte-americanos ressaltaram a importância da Copa do Mundo para “trazer culturas diferentes”. Os Lee destacaram ainda o cli-ma agradável da capital e a re-ceptividade do povo gaúcho: “As pessoas são muito legais e ami-gáveis. E claro, é um dos lugares

mais fantásticos para visitar por causa do clima. Todos nos aceita-ram muito bem em sua cultura”.

Já o equatoriano Oscar Parinango esteve em Porto Alegre para apoiar a sua seleção. Oscar visitou a Redenção e o Centro Histórico, além de conhe-cer Viamão, onde o Equador fez sua preparação para o Mundial.

O equatoriano disse ainda gostar da comida gaúcha e da

“gente amável e alegre” de Porto Alegre. Perguntado sobre o que mais gosta na capital, Oscar não esconde: as mulheres gaúchas são “muy lindas”.

Já os holandeses deixaram Po r to A l e g re l a ra n j a . Literalmente. A partida entre Holanda e Austrália provocou uma ocupação nórdica da Esquina Democrática ao Beira-Rio. Ido, integrante da embaixada da Holanda no Brasil, não poupou elogios à capital gaúcha: “É uma cidade maravilhosa e pelo que presenciamos, é muito organizada. Estamos muito impressionados com Porto Alegre”. A comida gaúcha mereceu destaque com “suas carnes grelhadas, que são absolutamente fantásticas”.

Os australianos, com muita simpatia e bom humor, também estiveram em grande número na cidade. Larry McInner, de West South Wales, esteve pela primei-ra vez em Porto Alegre e gos-tou da recepção dos brasileiros:

“Estamos nos divertindo muito. A hospitalidade e a amizade do povo brasileiro com todos são ótimas”.

Nesta Copa do Mundo, não restou dúvida: holandeses, equa-torianos, argentinos, norte-ame-ricanos, australianos, argelinos e brasileiros têm a mesma paixão: o futebol.

Os uruguaios Soyla Branedt e Ismael Bulmini na Fan Fest de Porto Alegre . Foto: Débora Dalmoro

Foto: Isabel BorgesFoto: Bruna Fonseca

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12 • UNIPAUTAS • 2014/1

ESPORTES Futebol Americano

Futebol americanoem Porto Alegre

Daniel Fagundes Luiza Guerim

O futebol americano, es-porte que arrecada bi-lhões de dólares por ano

nos EUA e tem uma das ligas esportivas mais valiosas do pla-neta, a NFL (National Football League), está crescendo cada vez mais no Brasil e presente tam-bém na capital gaúcha. Somente Porto Alegre tem três times: São José Bulls, Porto Alegre Pumpkins e Restinga Redskulls.

O primeiro time do estado é o Porto Alegre Pumpkins (leia ma-téria ao lado). Por ideias diferen-tes, alguns jogadores deixaram o clube e fundaram o Porto Alegre Bulls, que no mês de maio fir-mou uma parceria com o Esporte Clube São José e passou a se cha-mar São José Bulls. Através do site oficial do time, o presiden-te do Bulls, Cristiano Leão co-mentou sobre a nova fase: “Esta

parceria representa um avanço em questão de marca e estrutura que não temos como mensurar, unir-se a um clube com mais de 100 anos de tradição é uma hon-ra muito grande, além de se abri-rem portas para este esporte que ainda está nascendo na cultura do brasil e do nosso estado.”

Apesar do crescimento, o es-porte segue encontrando obs-táculos no país. O preconceito, a falta de estrutura, federações e patrocínios, além da carência de jogadores são algumas ques-tões que pesam na hora tanto de montar como manter um time:

“A gente sabe que o Rio Grande do Sul é bem resiliente em re-lação a essas coisas. O pessoal não gosta muito de coisa nova, passava xingando a gente: ‘vai jogar futebol’”, desabafa Junior Colman, fundador do Bulls.

Apesar disso, o São José Bulls é o único time do país com um grande patrocinador: o CIEE (Centro de Integração

Empresa-Escola/RS). A equipe vem conquistando suas metas estabelecidas desde sua cria-ção em 2007, como chegar a um torneio nacional, ser o primeiro time gaúcho a ter um jogo tele-visionado e conseguir jogar em um bom estádio.

Buscando o crescimento do futebol americano no estado, o Bulls e o Restinga Redskulls estabeleceram uma parceria histórica na capital, através do empréstimo de jogadores do time da zona sul para disputar o Torneio Touchdown com a camisa dos touros vermelhos:

“Tenho certeza absoluta que to-dos irão representar muito bem a nossa comunidade e que estão totalmente capazes de fazer um excelente trabalho neste novo desafio”, declarou em nota ofi-cial o treinador Paulo Pillar, do Restinga.

Com a transmissão da NFL nos canais a cabo brasileiros e a popularidade do esporte

crescendo ainda mais, o futuro do futebol americano no país é promissor. Para o Pumpkins, o crescimento da equipe acom-panhará o progresso do espor-te. Cristiano Leão revela ainda um objetivo para sua equipe: “O maior sonho é atingir a estrutu-ra de um time grande: ter campo, vestiário, salas de reuniões, re-feitório, quartos para concentrar

antes dos jogos, o que é muito importante e faz diferença”.

Ainda não é possível traçar um paralelo justo e equilibra-do entre o futebol americano nos EUA e no Brasil. Porém, o esforço e o amor desses jovens visionários podem ser determi-nantes para alavancar a popula-ridade do esporte no Rio Grande do Sul e no Brasil.

Esporte ganha fãs no Brasil ejá tem três times na Capital

Ataque e defesa em formação para início da jogada. Foto: Luiza Guerim

Foto: Daniel Fagundes

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2014/1 • UNIPAUTAS • 13

Nome: Porto Alegre PumpkinsFundação: 2005

OS TIMES DE PORTO ALEGRE

Nome: Porto Alegre BullsFundação: 2007

Nome: Restinga RedskullsFundação: 2012

As posições do futebol americano

Um futebol jogado com as mãosRegras do futebol americano, que é jogado com as mãos, privilegiam a estratégia, não a brutalidade

Paulo Luciano Mendes

No Brasil, quando falamos em esporte o primeiro que vem à cabeça é o fu-

tebol, aquele jogado com os pés, onde tem onze jogadores para cada lado e o propósito é marcar gols. Mas existe um futebol dife-rente, que é jogado não só com pés, mas com as mãos também, e cujo objetivo é colocar a bola no chão no fundo do campo adver-sário: o futebol americano.

O futebol americano é com-plexo e cheio de regras, mas diferentemente do que muitos pensam, é um esporte baseado em estratégia e não em brutali-dade e violência. O objetivo do jogo é simples; entrar na área ao fundo do campo do adversário, conhecido como endzone, com a posse de bola para marcar o touchdown, ganhando assim seis

pontos e tendo direito a um chu-te livre ao gol, onde a bola deve passar por aquele grande “Y” que também fica no fim do campo e dá direito a um ponto extra (ou mesmo dois pontos, se o time preferir arriscar um passe para

mais uma corrida até a endzone). A única situação em que um time que não tem a posse de bola pode pontuar é derrubando um joga-dor adversário que esteja com a bola em mãos na sua própria endzone. Isso equivale a um gol

contra no futebol normal.No Brasil, em 2014 o futebol

americano foi o segundo espor-te mais visto e procurado na te-levisão por assinatura, somente atrás do Futebol (soccer). Fora das telas, há dois campeonatos

Jogo entre Porto Alegre Pumpkins e Ijui Drones pelo Gaúcho Bowl. Foto Fanpage POA Pumpkiins Crédito da foto

Futebol Americano ESPORTE

nacionais, o Torneio Touchdown e a Liga Brasileira de Futebol Americano. Já no Rio Grande do Sul, temos o Gaúcho Bowl, que é o campeonato estadual. Na Liga Brasileira e no Gaúcho Bowl joga o Porto Alegre Pumpkins, en-quanto no Torneio Touchdown quem representa o estado é o POA Bulls

O Pumpinks é o primeiro time do RS. Começou no Colégio Farroupilha logo após Vinicius Bergamann, um dos fundadores do time, trouxe algumas bolas e equipamentos do Exterior. “A gu-rizada começou a estudar e pra-ticar o esporte nos intervalos e assim começou a formação da equipe”, conta André Paludo, que faz parte da direção e núcleo de marketing da equipe. Com a for-mação do time, os treinos passa-ram a ser realizados em parques abertos, aumentando o número de interessado. Hoje o Pumpinks conta com 94 atletas treinando semanalmente. Já o POA Bulls foi criado a partir de jogadores que saíram do Pumpkins, e isso leva a uma rivalidade, parecida com a existente entre o Grêmio e o Internacional.

Um time de Futebol Americano pos-sui 53 jogadores em seu elenco, di-

vididos em 3 unidades: Ataque, Defesa e Especialistas. Confira:

ATAQUE

QUARTERBACK (vermelho)É o principal jogador da equipe. Organiza as jogadas de ataque e realiza os lança-mentos e passes. SNAPPER (azul)Jogador responsável por passar a bola para o QB (snap) e bloquear os adversários.BLOQUEADORES (amarelo)Formam uma barreira de proteção aos jo-gadores de ataque.CORREDORES (preto)São responsáveis pelas jogadas terrestres, correndo após receber a bola do QB.RECEBEDORES (verde)Recebem lançamentos - geralmente em profundidade.

DEFESA

LINHA DEFENSIVA (rosa)É a primeira linha de combate ao ataque adversário. Pode ser formada por três ou quatro jogadores.

LINEBACKERS (celeste)Formam um segundo nível da proteção. Podem ser 3 ou 4, conforme o sistema ado-tado pelo técnico.SECUNDÁRIA (laranja)Responsável por proteger a retaguarda, principalmente contra lançamentos.

ESPECIALISTAS

KICKERJogador que realiza os chutes de precisão, como kick-off (início ou reinício da parti-da), ponto extra (chute após touchdown) e field goal (chute que vale três pontos).LONG SNAPPERJogador que passa a bola para o kicker em chutes de devolução ou pontuação. HOLDEREncarregado de segurar a bola para o chu-te do kicker. PUNTERAtleta responsável pelos chutes longos de devolução ao adversário. KICK RETURNER

Jogador que recebe a bola do kickoff ou do punt e corre pelo campo, buscando conquistar o máximo de jardas.

Daniel Fagundes e Luiza Guerim

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14 • UNIPAUTAS • 2014/1

Instituto incentiva aprendizado da língua alemã em POAInstituto presente em mais de 150 países já é conhecido dos porto-alegrenses, onde está há quase 50 anos

Débora Dalmoro

Fundado em 1951 na Alemanha há quase 50 anos em Porto Alegre, o

Goethe-Institut é uma institui-ção cultural da República Federal da Alemanha com 159 sedes pelo mundo.

As funções da organização são divididas em três pilares. O primeiro visa à oferta de cursos, provas e a cooperação pedagógi-ca com universidades e escolas de ensino alemão. O segundo é a parte da programação cultural, que realiza eventos relacionados à Alemanha ou com brasileiros que lá estejam interligando os dois países. Seminários, exposi-ções, concertos, artes visuais e literatura fazem parte da gama de oferta cultural. E o terceiro pilar é a biblioteca que oferece

informação alemã, a possibili-dade de solicitar material ou de utilizar a versão online, que é gratuita. No meio digital pode-se retirar material sem sair de casa. Essa oferta está aberta a todas as pessoas que tenham interesse em livros e jornais periódicos da atualidade.

De acordo com o diretor de ensino Adrian Kissman, o Brasil tem uma importância grande em relação aos recursos da imigra-ção: “Temos um aumento grada-tivo de procura pelo curso de 10% ao ano, dobramos o número de aluno de 2008 até 2014, a gen-te procura ter no Brasil inteiro”. Segundo ele, o Brasil está se in-ternacionalizando e esse fator é responsável pela procura de lín-guas estrangeiras, pois as possi-bilidades de viagens oferecidas atualmente fazem aumentar o interesse por aprender outro idioma.

O diferencial dos cursos, se-gundo Kissman, é o padrão de qualidade internacional, por ser sede oficial da Alemanha, e o ní-vel linguístico avançado: “Esses fatores conferem um estilo

diferente entre os cursos que a gente oferece”. O diretor afir-ma, ainda, que estão investin-do muito na área de tecnologia, e a partir do segundo semestre desse ano vão ser usados tablets

como ferramenta auxiliar para conduzir as aulas. Cada sala vai ter uma mala com iPads que de-pois de serem usados vão ficar re-carregando a bateria dentro dela. Em parte os equipamentos vão

substituir os livros, pois vão es-tar com os conteúdos armazena-dos: “é um desafio muito grande tentar simular a realidade de um ambiente não real, que é onde se aprende”.

NOTÍCIAS O mundo em Porto Alegre

Biblioteca aberta ao pública traz livros em português e alemão, inclusive para crianças. Foto: Débora Dalmoro

Peruanos exibem identidade recebida no consulado em POA. Foto: Cindy Vitali

Mais de 100 consulados facilitam a vida dos estrangeiros na Capital

Consulados, como o do Peru, prestam serviços a estrangeiros e também a porto-alegrenses que desejam ir ao exterior

Cindy Vitali, Ethiene Antonello e Mariana Tripoli

Poucas pessoas sabem que Porto Alegre conta, atual-mente, com mais de 100

consulados, que estão ali para garantir proteção e assistência aos cidadãos de seu país que es-tão em viagem como os turistas, a negócio ou morando no exte-rior. Esses lugares são responsá-veis por disponibilizar as pessoas do país consulado, nacionalidade para esposa brasileira, procura-ções, pedido de nacionalidade,

alistamento militar e eleitoral, entre outras.

O consulado, diferentemente da embaixada, é a representação administrativa de uma nação dentro de outra, tratando de pessoas. A embaixada é respon-sável por assuntos de interesse comum entre as duas localidades, como assuntos políticos, econô-micos e culturais. Já o consulado, tem a tarefa de resolver assuntos e auxiliar seus cidadãos que re-sidem no território estrangeiro localizado.

Consulado do Peru atende brasileiros e peruanos

Com um ambiente har-monioso e bem castelhano, o Consulado Honorário do Peru, por exemplo, localiza-se na Rua Loureiro da Silva e atende cerca

de 60 peruanos por mês, dividi-do entre estudantes e artesãos. Muitos procuram o consulado na intenção de conseguir seus docu-mentos, outros querem registrar seus filhos como peruanos, e até brasileiros buscam informações para realizar negócios no Peru.

O Peru, aliás, é um dos países mais visitados da América do Sul. A maior parte de visitantes se di-rige aos mais de cem mil sítios arqueológicos, mas há também se dedicam ao ecoturismo na Amazônia peruana, ao turismo cultural nas cidades coloniais e ao turismo gastronômico, de aventura e de praia. Os turis-tas brasileiros podem ingressar com passaporte ou documento de identidade nacional, RG. Não precisa de visto, o que acaba fa-cilitando muito no momento de escolher qual país visitar.

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2014/1 • UNIPAUTAS • 15

Semana da China colore RedençãoSemana da China no Rio Grande do Sul traz aos porto-alegrenses oportunidade de aproximação comcultura chinesa

Bruna Fonseca

Os olhares de surpresa dos espectadores, acom-panhados de sorrisos,

aumentavam conforme apro-ximavam-se ao evento monta-do próximo ao Monumento ao Expedicionário.

Com trilha sonora oriental, os gaúchos puderam degustar tradicionais pratos chineses e a arte do chá, conferir leituras de poesias e participar de oficinas de caligrafia. Assim finaliza-vam-se as atividades da Semana da China na capital.

As cores das vestimentas e a delicadeza dos movimentos dos dançarinos durante a dança do leão - costume chinês para atrair prosperidade e sucesso - desta-caram-se diante do verde das ár-vores do Parque. A apresentação,

organizada pela academia de ar-tes marciais do estilo Ying Jow Pai (Garra da Águia do Norte), da Zona Sul de Porto Alegre, en-cerrou o último dia de atividades da feira.

Ocorrida entre os dias 19 e 25, a Semana da China no Rio Grande do Sul, uma realização do Governo do Estado junto ao Instituto Confúcio da UFRGS, faz parte do processo de apro-fundamento da interação entre o país e o estado em três eixos: seminário de negócios, circuito cultural e cooperação tecnoló-gica. A atração mais esperada da agenda do acontecimento, a Ópera de Pequim, declarada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, teve seus ingressos esgotados nos dois dias de apresentação no Theatro São Pedro.

O governador Tarso Genro as-sinou, durante o dia de abertura das atividades, um acordo que afirma cooperação dos dois paí-ses nas áreas científicas e tecno-lógicas, estimulando assim inter-câmbios de estudantes. “A China será a grande potência do século XXI, e cabe a nós fazer com que

O mundo em Porto Alegre NOTÍCIAS

essa evolução seja benéfica por meio de políticas de recepção e integração “, afirmou.

De acordo com o coordenador da Assessoria de Cooperação e Relações Internacionais (Acri), Tarson Nuñez, o resultado da Semana superou as expectativas dos idealizadores do evento. “O evento superou nossas expecta-tivas. Foi muito impressionante o interesse da população gaúcha, especialmente pelas atividades culturais. Além disso, os conta-tos empresariais e reuniões de negócios foram muito promis-sores em termos da possibilida-de de atração de investimentos chineses para o Rio Grande do Sul”.

Parque da redenção foi palco de festividade chinesa. Foto: Cláudio Fachel

Ópera de Pequim integrou a agenda da Semana da China.Foto: Cláudio Fachel

A China será a grande potência do século XXI, cabe a nós fazer com que essa evolução seja benéfica.”Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul

Walk for city chega em Porto AlegreProjeto norte-americano inspira estudantes em iniciativa pela mobilidade urbana dos pedestres

Munique Freitas

Um grupo de jovens da Capital desenvolveu uma alternativa diferente para

a mobilidade de pedestres, com placas informando o tempo que leva o percurso a pé até os prin-cipais locais da cidade. Se você está no Hospital de Clínicas, por exemplo, em direção ao Parque Farroupilha encontra a placa “São 8 minutos a pé até a

Redenção”. Outros avisos assim foram colocados em pontos de maior circulação de carros, com o objetivo de estimular os cida-dãos a fazerem seus percursos caminhando.

É o caso da aposentada Maria Gonçalo, que demonstra surpre-sa ao deparar-se com esta ini-ciativa: “eu ia pegar um ônibus para ir até o centro, mas lendo que leva poucos minutos, vou caminhando.”

A iniciativa trata-se de um projeto internacional, o Walk Your City, que chegou a Porto Alegre. O projeto surgiu em Raleigh – Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e está vinculado ao Shoot the Shit, coletivo que

propõe iniciativa por cidades mais criativas (http://shoot-theshit.cc).

Luciano Harres Braga, 29, um dos apoiadores deste coletivo na cidade, explica que o pro-cesso foi simples, desenvolvi-do num Workshop do Colégio Farroupilha: “Foi ideia dos alu-nos do colégio. Eles que estão colocando placas nos postes e a gente ajudou com a produção e planejamento”, relatou. Ele con-ta que fez contato durante meses com os criadores norte-america-nos para verificar a possibilidade de produzir o material em por-tuguês, antes da realização do projeto.

Ao ser questionado se deseja

planejar outros projetos como esse, ele afirma que o grupo pretende lançar mais propostas para mobilidade. “É um prato cheio para soluções criativas”, diz Luciano.

A estudante Aline Malaguez, 23, diz ter notado o impacto, ain-da que pequeno, na população:

“Acho que estamos muito acomo-dados nos carros, ou pensamos em pegar ônibus em caminhos que podem ser feitos a pé. As pla-cas são estimulo para mudança desses hábitos”, diz.

Inicialmente, os jovens ti-veram apoio da Prefeitura Municipal, mas como alguns cartazes foram arrancados e pi-chados, a Prefeitura deixou de

apoiar o plano. Com o intuito de espalhar

placas por toda a cidade, o pro-jeto já distribuiu mais de 70 cartazes nos bairros Chácaras das Pedras, Três Figueiras e Petrópolis.

O Shoot This Shit não traba-lha apenas neste projeto, mas sim em outros conceitos que acreditam fazer a diferença no cotidiano das cidades. É uma coligação que atua pelo Brasil com o propósito de implemen-tar ações que transformem ou acrescentem no cotidiano da so-ciedade. Em Porto Alegre, são realizados workshops para unir e criar ideias coletivas para me-lhorias no município.

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16 • UNIPAUTAS • 2014/1

NOTÍCIAS O mundo em Porto Alegre

Um carrossel para além do futebol

Aceito no Mercosul, passaporte animal facilita a circulação de cães e gatos na América do Sul

João Pedro Zettermann

Quem nunca teve vontade de levar seu animalzinho de estimação para viajar

junto mas não pôde? Ou arru-mou suas malas e ficou com pena de deixá-lo sozinho? Agora, essa vontade pode ser realizada mais tranquilamente. O passaporte para cães e gatos surge como uma alternativa segura e mais

rápida para quem quer viajar na companhia do seu bichinho.

O trânsito de cães e gatos en-tre cidades e países exige algum documento emitido pela autori-dade veterinária do país de ori-gem que, obrigatoriamente, seja aceito pelo país ou cidade de des-tino do dono do animal. O do-cumento precisa mostrar as con-dições e o histórico de saúde do animal, além de que ele atende às exigências sanitárias do país de destino. Para a obtenção do documento, o dono necessita apresentar o atestado de saú-de e a carteira de vacinação do bichinho.

O animal precisa ter uma

identificação eletrônica para o passaporte ser concedido, e de-pois de solicitado, o passaporte demora cerca de 30 dias úteis para ficar pronto.

Baixa procura

A procura pelo passaporte ainda é baixa, já que ele não é obrigatório (apesar de facili-tar o trabalho das autoridades), como destaca a chefe da Unidade de Vigilância Agropecuária do aeroporto, Consuelo Paixão Côrtes: “Por não ser um item obrigatório, e ser uma coisa re-lativamente nova, ele ainda tem uma procura pequena. Desde sua

Passaporte para cães e gatosimplementação, apenas cinco fo-ram solicitados e entregues até agora”, destacou ela.

O passaporte é gratuito, substitui o CZI (Certificado Zoosanitário Internacional) e o atestado de saúde e vale por toda a vida do animal, desde que se-jam atualizadas as informações a cada viagem.

O passaporte é aceito em todo o Brasil e em alguns países do MERCOSUL, como Paraguai, Uruguai, Argentina e Venezuela, desde que cumpra todas as exi-gências impostas pelo país. Por isso o dono do animal deve se in-formar com antecedência sobre essas exigências e adequar seu

bichinho a elas, o que pode du-rar algumas semanas ou meses.

O CVI (Certificado Veterinário Internacional) é outro documen-to que também é aceito para viagens, e ainda é o mais utili-zado. Ele, assim como o passa-porte, pode ser feito no Serviço de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro), órgão que faz parte da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do MAPA e fica localizado em aero-portos, portos, postos de fron-teira e alfândegas.

Além de Porto Alegre, ele pode ser obtido nas cidades de Santana do Livramento, Uruguaiana e Chuí.

Johan Neeskens, integrante do “Carrossel Holandês”, ministrou curso para educadores em POA

Rian Ferreira e Gabriel Ribeiro

Duas finais de Copa do Mundo, três títulos da Liga dos Campeões,

mais de uma década servindo à seleção holandesa e 23 anos de carreira. Tudo isso reunido em um senhor de 62 anos, com um sorriso um tanto tímido e uma bola de futebol debaixo do braço.

Na companhia de mais três instrutores, Johannes Jacobus Neeskens, integrante da seleção holandesa que encantou o mun-do em 1974, passou uma semana na capital instruindo educadores da rede municipal.

Para Christian Gomes, um dos participantes da atividade, o curso foi um apanhando geral da educação holandesa do fu-tebol: “Eles educam as crianças desde os seis anos de idade até

os 13 com uma teoria específi-ca”, conta. O educador e árbitro ainda disse que, dos 13 aos 16, a tática começa a ser incorporada nos jovens para, a partir dos 16 anos, o rendimento em si ser re-almente avaliado.

O prefeito José Fortunati também compareceu ao evento e caracterizou a iniciativa e a visita de Neeskens como “inesquecível para os amantes do futebol”.

Jan Derks, um dos instrutores, disse que a teoria é a receita do sucesso dos treinadores holan-deses: “Temos o (Frank) Rijkaard, Guus Hiddink, Van Gaal, entre outros, todos educados des-ta maneira e hoje são grandes nomes do cenário mundial do futebol”.

Para Johan Neeskens, “o ob-jetivo do curso é apresentar aos presentes a filosofia do ensino futebolístico holandês e ensinar a aplicar isso no dia a dia com as crianças”. O ex-jogador e treina-dor explicou que dividia os pro-fessores em dois grupos, cada um com dez crianças.

A iniciativa, como se vê, vai muito além do futebol. Neeskens

explicou que além de mostrar o futebol para as crianças, os ho-landeses querem apresentar o outro lado do esporte. “Não te-mos apenas o esporte, mostrar o lado social e as coisas da vida também é importante, além de fazer parte da metodologia do projeto. Espero que todos

aproveitem muito bem essa ex-periência”, conceitua.

Quando o assunto é Copa do Mundo, Johan diz que entrar em campo em uma final de Copa foi uma sensação muito bonita: “jo-gar uma final pelo seu país é uma honra, imagina ter essa oportu-nidade duas vezes. Lamento não

ter conseguido conquistar a vitó-ria, mas estar na história da sua pátria já é suficiente”.

A Holanda, em 1974, encan-tou o mundo pelo futebol cole-tivo imposto pelo técnico Johan Cruijff, eliminou o Brasil, mas acabou derrotada na final pela Alemanha.

Neeskens na Escola Anísio Teixeira, bairro Aberta dos Morros, zona Sul de Porto Alegre. Foto: Cristine Rochol/Divulgação PMPA

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2014/1 • UNIPAUTAS • 17

A profissão dos sonhos de todo jornalista

Barreto foi eviado especial dos canais SporTV em Londres 2012. Foto: Divulgação

Os jornalistas Marcelo Barreto e Marcelo Rech contam suas experiências como correspondentes

William Dias

Imagine trocar literalmente de vida e morar em outro país, aprender um outro

idioma, mergulhar em outras culturas e ter que se ambientar em um lugar totalmente dife-rente do seu, seja na mais calma cidade do primeiro mundo, no ambiente mais hostil de guerra ou até mesmo em catástrofes naturais.

Essas são as missões nem tão fáceis da vida de um jornalista correspondente internacional que, além de informar, precisa se acostumar a um novo espaço, a um novo estilo de vida.

Enviado especial dos ca-nais SporTV na cobertura da Olimpíada de Londres 2012, Marcelo Barreto teve pouco tempo para se ambientar em um novo país. Tendo a opor-tunidade de cobrir um dos maiores eventos esportivos do mundo, Barreto, que já havia morado no Exterior e estudado na Universidade de Michigan (EUA), não pensou duas vezes

em aceitar mais esse desafio, que já havia manifestado como um de seus destinos favoritos como correspondente.

Em relação à ambientação no país, Marcelo conta que a famí-lia teve de se adaptar rápido a

“nova casa”: “Mudamos em julho de 2011 e levamos praticamente todo o segundo semestre para completar a adaptação. Tivemos de alugar apartamento, esperar a mudança chegar, achar escola para as crianças, tudo isso em pouco tempo e já em forte ritmo de trabalho”, lembra o jornalista.

Assim como no dia a dia, Barreto também encontrou mu-danças consideráveis no am-biente de trabalho, já que volta-va para a reportagem após oito anos como apresentador: “como o posto era de correspondente na Europa, fiz muitas viagens. Saí de uma redação grande volta-da para o esporte, para um escri-tório pequeno em que apenas eu e o produtor éramos exclusivos da emissora”, conta.

De volta ao Brasil em agosto de 2013, Marcelo Barreto consi-dera a experiência muito positi-va. Faria de novo? Marcelo não pensa duas vezes ao responder:

“passado esse período, gostaria de repetir a experiência, mesmo que em outra cidade, tomei gos-to pela coisa”.

Jornalismo MÍDIA

A experiênciade Marcelo Rech

A primeira expedição brasi-leira na Antártica, Guerra da Iugoslávia e Guerra do Golfo. Essas são algumas das mais importantes coberturas inter-nacionais do jornalista gaúcho Marcelo Rech. Filho de militar, Rech cresceu trocando de cida-de. Logo aos dois meses, a fa-mília mudou-se de Santa Cruz para Pelotas. Após entrar para a equipe da EBN, Marcelo, em um ato de proatividade, pediu para reportar notícias da expedição ao continente gelado. Assim, em 1982, fez parte da equipe brasi-leira no continente de gelo: “Ir à Antártica 30 anos atrás era como ir à Lua. Sempre gostei do frio, de aventura. Para mim, com 22 anos cobrir a primeira expedição de brasileiros no continente foi uma luz”, revela o jornalista.

Como nem todo o lugar do mundo é perfeito, o correspon-dente também enfrenta situa-ções em que encontra a pior mi-séria do mundo. Com Rech não foi diferente. Para ele, o pior lu-gar em que já foi enviado espe-cial foi a província de Zambézia, no Moçambique. Segundo ele, as pessoas chegavam a disputar quem ficaria com um saco plás-tico e soldados brasileiros esta-vam lá teriam que apartar essas brigas.

Cobertura de guerras

Entre os lugares com mais di-ficuldade de ambientação, Rech cita o Oriente Médio: “o mais difícil com certeza é o Oriente Médio, devido às culturas, costu-mes e línguas. A Arábia Saudita, Iêmen, o Afeganistão, devido aos seus regimes fechados, são luga-res bem complicados”, comenta.

Quando o assunto é guerra,

o jornalista, que cobriu duas e também a separação da União Soviética, fala que atualmente é mais fácil cobrir uma guerra do que antigamente: “é rotineiro uma pessoa que tenha um blog e 1500 dólares no bolso viajar para cobrir uma guerra, por simples curiosidade, sem ser profissio-nal na área. Antes era mais raro, mais difícil. Na situação em que considera uma das piores que já passou, ele fala sobre quando es-tava cobrindo uma guerra e pas-sou mais de 48 horas sem comu-nicação, sem passar informações

para o Brasil e também sem rece-ber notícias, o que para ele é uma situação de extrema agonia, não saber o que se passa com o mun-do e ao mesmo tempo ninguém saber como ele estava naqueles momentos”.

Quando questionado se já teve algum lugar que voltaria ou se haveria algum lugar que gos-taria de ser enviado, o jornalista brinca, e revela que seu destino favorito foi um evento passa-do: “eu gostaria de ter coberto a Guerra do Vietnã, mas não tinha idade, tinha apenas 8 anos”.

Rech cobriu, entre outras, a Guerra do Golfo. Foto: ZH - Divulgação, Daniel Marenco

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18 • UNIPAUTAS • 2014/1

CULTURA Arquitetura

Influência estrangeira na arquitetura histórica da CapitalPorto Alegre é conhecida por seus belos prédios históricos, mas poucos conhecem a participação de arquitetos estrangeiros

Gabriela Holken, Lucille Soares e Rafaela Barboza

Porto Alegre foi fundada em 1752, quando cerca de 500 açorianos fixaram-se

à beira do lago Guaíba. Em 1822, recebeu os primeiros imigrantes alemães, surgindo às primeiras olarias e estabelecimentos co-merciais. A presença estrangei-ra, portanto, é marca da cidade desde sua origem. E também na arquitetura.

São muitas as influências es-trangeiras na arquitetura da ca-pital gaúcha. Muitos arquitetos de vários países deixaram seus nomes gravados nas construções históricas da Capital.

Biblioteca Pública

Projetada por Affonso Hebert, a construção teve início em 1912, porém só foi totalmente termi-nada em 1921. Sua decoração é composta por esculturas de mármore e bronze feitas pelo escultor alemão Alfred Adloff e pelo italiano Giuseppe Gaudenzi com participação do brasileiro Eduardo de Sá. A arquitetura da biblioteca tem influência da cul-tura europeia.

Instituto de Educação General Flores da Cunha

Desenhado pelo arquiteto espanhol Fernando Corona, as obras tiveram início em 1930, fi-cando pronto em 1939. No sa-guão encontramos três pinturas a óleo que estão entre as maiores do país. O Instituto de Educação General Flores da Cunha foi du-rante 60 anos o único a formar professores no Estado. Carrega esse nome em homenagem ao governador do Rio Grande do Sul. Foi tombado pelo município de Porto Alegre em 1997 e logo de-pois pelo IPHAE em 2006.

No início de 2007, foi libera-da uma verba para realizar refor-mas na parte elétrica e restaurar o ginásio interditado há 15 anos, porém ainda hoje nenhuma

reparação foi feita na estrutura. O prédio defronta-se com depre-dações, pichações nas entradas, pisos esburacados e, toda sema-na, o Instituto é alvo de vânda-los e assaltos. Ainda esse ano, o Secretário Estadual de Educação anunciou que há um projeto de restauração, mas as obras não tiveram início, pois essa mesma proposta não foi concluída.

Theatro São Pedro

Inaugurado em junho de 1858, o teatro localizado no Centro Histórico é considerado um dos mais belos do país. Foi construí-do pelo arquiteto alemão Phillip Von Normann. A construção con-ta com o estilo barroco portu-guês e é revestida internamente de veludo e ouro na decoração. A disposição da plateia, em forma de ferradura, é característica do teatro italiano da época.

Em 1975, o teatro passou por uma grande reforma. A restau-ração foi coordenada por Eva Sopher, imigrante alemã nacio-nalizada brasileira. Com a ideia de “integração do passado com o presente”, o teatro foi reinau-gurado em 1984.

Catedral Metropolitana

Conhecida como Igreja Matriz, ou Igreja Mãe de Deus, foi cons-truída novamente em 1920, pois sua primeira versão em estilo barroco teve de ser substituí-da devido a suas condições de

Novo projeto do Palácio Piratini foi feito pelo arquiteto francês Maurice Graso. Foto: Rafaela Barboza

degradação. Dom João Becker iniciou os

estudos para a construção de uma nova matriz, que foi feita pelo arquiteto italiano Giovanni Batista Giovenale, da Academia de Belas Artes São Lucas, de Roma.

O estilo foi inspirado na Renascença Italiana. A cúpula possui 65 metros de altura e 18 metros de diâmetro, considera-da uma das maiores do mundo. Os painéis de mosaico na facha-da foram feitos nas oficinas do Vaticano.

Santander Cultural

Construído por Hipólito Fabre e pelo alemão Theodor Wiederspahn, o Centro Cultural Brasileiro, mantido pelo Banco Santander, teve sua constru-ção iniciada em 1927 e somente concluída em 1931. O interior do prédio foi projetado pelo arqui-teto polonês Stephan Sobczak, e as esculturas da fachada tra-seira feitas pelo alemão Alfredo Staege.

Tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual, o prédio tem como elementos da arquitetura a predominância do estilo neo-clássico, com vitrais de origem francesa e decoração requintada. A restauração feita pelo Banco Santander manteve o estilo ori-ginal da construção.

O Centro Cultural já rece-beu exposições de Miró e Pablo Picasso, e também já serviu de espaço para a Bienal do Mercosul.

Margs

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli situa-se no Centro Histórico da cidade e recebe esse nome em homenagem ao professor, pin-tor, restaurador e museólogo brasileiro Ado Malagoli.

Primeiramente o prédio abri-gou a sede da Delegacia Fiscal da Fazenda, mas em 1978 passou a

ser usado como museu. O proje-to arquitetônico é de autoria do alemão Theodor Wiederspahn, com decoração dos também alemães Franz Radermacher e Alfred Adloff, sendo este último, o responsável pelas estátuas de Ceres e Hermes, que compõem a fachada do prédio, representan-do a Agricultura e o Comércio.

O Margs recebe diversas ex-posições nacionais e internacio-nais, possui uma vasta bibliote-ca, e também serve de espaço para oficinas de arte.

Palácio Piratini

Primeiramente chamado de “Palácio de Barro”, foi sede do go-verno por 107 anos. Até que, em 1894, o então governador Júlio de Castilhos resolveu fazer uma nova construção, porém por tro-cas de governo e problemas no projeto, a construção só iniciou em 1920, na administração de Borges de Medeiros.

O novo projeto foi feito pelo arquiteto francês Maurice Gras, inspirado no Petit Trianon de Versailles, com forte influência neoclássica.

Outro francês também teve participação, o artista Paul Landowski criou algumas escul-turas do palácio, entre elas, as que representam a Agricultura e a Indústria, presentes na fa-chada principal. Projetada por polonês, construção teve participação de alemão. Foto: Rafaela Barboza

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2014/1 • UNIPAUTAS • 19

Diretor colombiano que estudou cinema em Cuba e mora em Porto Alegre produz seu primeirolonga-metragem de ficção

Guilherme Wunder e Mariela Moraes

O diretor, roteirista e pro-dutor colombiano Juan Zapata, 36 anos, mora

no Brasil há cerca de dez anos e é conhecido por já ter dirigido quatro documentários desde que chegou no Brasil. Seu novo filme, porém, marca a estreia na ficção.

Simone conta à história de vida da atriz porto-alegrense Simone Telecchi, que interpreta ela mesma na trama, e fala sobre os dilemas da liberdade sexual por meio dela.

Juan, que se define como “uma pessoa que está sempre ten-tando se descobrir a cada filme e a cada circunstância da vida”, conta que essa história chegou nele por acaso, graças a um teste que Simone Telecchi tinha feito para participar de uma série do colombiano: “existia uma ambi-guidade muito grande entre o

Hay que filmarse, pero sin perder la ternura jamás

masculino e o feminino dela e quase que instantaneamente e por frações de segundo era evi-dente uma história, que me fez ficar amigo dela, fez com que ela contasse essa história e a partir dela eu disse que ali nós tínha-mos um filme”.

Zapata nunca tinha produzi-do um longa-metragem ficcio-nal, e relata que nem sentiu di-ferença entre esse trabalho e os documentários que já produziu, devido ao amor que sentiu con-tando à história: “Foi tão gosto-so e tão feliz produzir esse longa como quando faço um documen-tário, não teve tanta diferença não, mas sinto que é um passo à frente, é um ponto de virada na minha vida profissional”.

Para o futuro, o colombiano não pretende descansar e está com vários projetos, desde do-cumentários à filmes ficcionais:

“Estamos terminando um docu-mentário que será lançado em março sobre as primeiras am-bientalistas da América Latina, que são daqui, gaúchas, mas que trabalharam muito no mundo in-teiro e foram pessoas que cria-ram muitas da leis ambientais”.

A história de um jovem que largou sua rotina de estudante na UFRGS para embarcar numa trajetória poética na Venezuela

Andressa Carmona e Júlia Gaffreé

L ucas Gonçalves, 24 anos, um dia trocou o sonho de ser estudante de Letras

da UFRGS pela chance de dar aulas de português no Instituto Cultural Brasil Venezuela, em Caracas.

O também escritor, que em 2012 foi finalista do Prêmio AGES de Literatura com o seu primeiro livro, “Se soubesse o que dizer diria em prosa” (Paco Editorial 2011), conta que desde que chegou lá o que os venezuela-nos mais perguntam é: “por que aqui?”. E na verdade ele mesmo não sabia responder.

Refletindo, pensou que pri-meiramente pela oportunidade: foi a que surgiu para intercâm-bio. Depois, viu que Caracas – e

a Venezuela – lhe proporcionava ‘’uma semana em um dia, um ro-mance em uma linha’’, comenta Lucas.

Por viver tanto em tão pouco tempo, só poderia surgir a von-tade de participar de tudo que o país lhe proporcionava: foi ao funeral de Chávez, andou pelas ruas durante as eleições, bateu panela e, por último, participou de uma manifestação na qual ficou trancado em um condo-mínio durante cinco horas com mais três pessoas – incluindo a namorada venezuelana que co-nheceu na viagem.

Lucas conta que, quando foi para a Venezuela, deixou para trás uma convivência de quase dois anos com três amigos que eram como irmãos, mas se diz acostumado a um estilo de famí-lia mais desapegado por ter pais separados.

Para a namorada, a venezue-lana María Antonieta, 23 anos, Lucas deixa a alma em seus tex-tos, criando através da verdade, o que o caracteriza, seu estilo

único: ‘’O Lucas é um criador que encontrou na Venezuela mais di-lemas que respostas, por isso se-gue aqui’’.

Um dos amigos que morava com Lucas descreve o aparta-mento que dividiam como um lu-gar que transpirava inspirações artísticas vindas de cada um. Um pouco da alegria do apartamen-to foi transferida para Venezuela quando o amigo decidiu fazer suas malas e procurar um ca-minho diferente, deixando para trás confidentes que ainda sen-tem a falta do parceiro poético.

“A Venezuela me recebeu de braços abertos e eu caí, me ati-rei no peito desse país. Hoje sou apaixonado por essa paixão exagerada do venezuelano; por esse ódio tão instantâneo que o venezuelano pode alimentar de um dia pro outro; por todas es-sas ações passionais e tão huma-nas que me dão gás pra escrever, pra seguir denunciando, pra me sentir útil. Estou profundamente apaixonado por esse país”, com-pleta Lucas.

O poeta gaúcho que descobriu versos na Venezuela

Lucas gosta de produzir suas fotos mostrando um pouco de cada país. Foto: Arquivo Pessoal

Colombiano radicado em POA estreia em longas de ficção. Foto: Divulgação

Literatura e Cinema CULTURA

O artista

Juan Zapata estudou Cinema na Universidade Jorge Tadeo Lozano, em Bogotá, e na EICTV, em Cuba, Juan Zapata foi professor de Cinema em universidades da Colômbia en-tre 2002 e 2004. Vivendo no Brasil desde 2004, ele deu aulas de Fotografia e Roteiro na Universidade Luterana do Brasil (2007/08) e também de Produção Executiva e Distribuição Alternativa (2010).

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20 • UNIPAUTAS • 2014/1

CULTURA Dança

“O Flamenco me faz sentir satisfeit ”

Dança espanhola ganha espaço no país do samba e na cidade da chula

Bruna Fonseca, Estevan Gonçalves e Mariana Tripoli

Apesar de ainda não con-tar com grande atenção e apoio do público, o

Flamenco vem conquistando um número expressivo de fãs verda-deiros no país do samba.

A dança foi diretamente in-fluenciada pelos costumes ciga-nos, juntamente com a cultura mourisca e árabe, as quais, na época, estavam em um período difícil. Eles encontraram, assim, uma forma de expor suas rique-zas e esperanças. Passadas as tor-mentas, tornou-se uma arte que proporciona aos dançarinos e ad-miradores dos espetáculos uma viagem através de sentimentos que a música, em conjunto com a dança, provoca, tais como ale-grias, tristezas, e até revoltas.

Ao Brasil o Flamenco chegou na década de 1950, quando os imigrantes espanhóis começa-ram a chegar ao país.

A dançarina e professora do Naira Nawroski Centro de Artes Integradas, Silvia Canarim, 42 anos, dá aulas de Flamenco há 18 anos na cidade e afirma que o ritmo está no topo dos mais procurados pelo público adulto.

Fortemente inspirada pelo dançarino Israel Galván, Silvia encontrou-se com o Flamenco após uma longa trajetória à pro-cura de uma profissão. Estudou piano, alguns semestres do cur-so de Publicidade e formou-se em Jornalismo. “Aos 18 anos, eu estava descontente com a Publicidade e, ao procurar uma atividade para aliviar minha ten-são, encontrei-me em uma escola de dança”, conta.

Sílvia, que fez seu doutorado em Flamenco na Universidad de Sevilla, na Espanha, afirma que seu maior desafio como professo-ra é encontrar um caminho para chegar até o aluno, envolvê-lo

da forma correta e absorver a característica de aprendizagem de cada um para que se man-tenham na dança: “Cada aluno, assim como cada pessoa, é úni-co. Alguns terão muita facilida-de técnica, mas terão dificulda-des na hora da expressividade. Outros tem facilidade para ex-pressar sentimentos”.

Do hobbie à profissão

O bailarino porto-alegrense Gabriel Matias sequer pensava em dança flamenca, mas tinha sua mãe como principal referên-cia nesse ramo. Após o convite de um professor, o garoto come-çou a frequentar as aulas e, desde então, tomou gosto pela arte da dança originária de Andaluzia, na Espanha.

Hoje, aos dezenove, a rotina de Matias é toda voltada ao flamen-co: “Ministro aulas para todos os níveis em cursos, workshops e aulas regulares em outras cida-des. Sou também coreógrafo e faço parte da montagem do novo

espetáculo da Cia de Flamenco Del Puerto”, conta o bailarino, que recebe convites para shows no Brasil e no exterior.

Matias se orgulha das expe-riências que adquire a cada dia desde que decidiu tornar-se um bailarino: “as melhores experiên-cias que se leva são as trocas com os outros profissionais da área. Por constantemente, estamos viajando e temos um intercâm-bio muito intenso, além de ter-mos a possibilidade de conhecer outras culturas.”

Para Matias, o retorno fi-nanceiro é uma consequência quando se coloca seriedade, res-ponsabilidade e constância em

primeiro lugar. Ele também con-ta que é preciso grandes doses de perseverança para não desistir e se tornar um bailarino bem-suce-dido: “o retorno financeiro demo-ra um pouco, mas vem. É preciso trabalhar muito, muitas horas de ensaio prático, até 5 horas pordia, escutar muito flamenco e ler bas-tante’’ conta Matias.

Quando perguntado sobre preconceito, Matias garante que nunca sofreu e acredita que exis-ta, na maioria das vezes, na ca-beça do próprio bailarino por ter vergonha de falar para os outros que dança. “Dentro do mercado não há preconceito, muito pelo contrário”, diz.

A verdade é que o flamenco me faz sentir satisfeito em muitos aspectos da minha vida.”Gabriel Matias, bailarino

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Dança CULTURA

O balanço da serpente em uma dança das arábiasArtista de dança do ventre gaúcha que já trabalhou até na Arábia fala sobre uma das danças mais tradicionais do mundo

Yasmin Furtado

Batidas de quadril, movi-mentos ondulatórios com os braços, pulsações com

a barriga e simulação de movi-mentos de uma serpente.

Talvez você não esteja reco-nhecendo todos os itens citados, mas a dança você certamente co-nhece: a Dança do Ventre.

Nadima Murad, uma das maiores artistas do gênero no Brasil, é bailarina, professora, coreógrafa e administra a mais conceituada escola de Dança do Ventre no Estado, a Escola de Dança Nadima Murad. É, ainda, a idealizora de um dos maiores eventos de dança, o Festival de Dança do Ventre do Rio Grande do Sul: “a primeira vez que vi a Dança do Ventre me apaixonei. Foi em 1996 na TV. A professora Maria Lou do Couto estava dan-do um curso, me inscrevi e nunca mais parei. Descobri naquele mo-mento minha verdadeira paixão e que não poderia mais viver sem praticar”.

Em sua carreira internacio-nal, passou por países como Emirados Árabes Unidos (Dubai), Marrocos, Bahrein, Líbano, Síria e foi a única gaúcha a trabalhar no Egito (Castelo de Montazah), onde venceu um concurso re-alizado em 2008 na cidade de Alexandria: “ter trabalhado nos países árabes foi a coisa mais ma-ravilhosa que aconteceu na mi-nha vida profissional. Até os dias

de hoje sonho com aquela vida de glamour que levava lá, trabalhan-do uma hora por dia, ou melhor fazendo o que amo e morando em hotéis de luxo. Não posso di-zer que é trabalho (risos)”.

Por outro lado, Nadima lem-bra que o público da época era bem exigente: “lá, diferentemen-te daqui, as pessoas saem quase todas as noites para jantarem e assistirem shows de dança e mú-sica fazendo de cada show um momento único de muita alegria e descontração”, explica.

Considerada uma das danças étnicas mais populares do mun-do, a dança traz um leque de benefícios para a vida de quem pratica: “vão desde ser uma óti-ma e prazerosa atividade física, a uma nova forma de conhecer novas pessoas e relaxar a men-te desvendendo os mistérios de uma cultura milenar impressio-nante. Procure boas profissionais com referências, estude, assista a shows e viva a dança com paixão e amor por que ela encherá sua vida de alegria”, diz Nadima.

História

Não se sabe ao certo de onde vem a dança, mas grande parte das pesquisas aponta que seu iní-cio deu-se no Antigo Egito em ri-tuais cultos e religiosos para fer-tilidade, daí o nome “Dança do Ventre”. As mulheres dançavam fazendo movimentos pélvicos e abdominais, pois acreditava-se que dessa movimentação surgis-sem os “frutos”.

Sofrendo várias modificações com o passar dos anos, o cará-ter da dança hoje é considerado artístico, cultural e profissional, mas sem perder a essência árabe usada em seus movimentos.

Premiada bailarina e coreógrafa Nadima Murad ministra aulas em Porto Alegre. Foto: Divulgaçáo

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Dos peixes aos sushisA história da Japesca, fundada nos anos 70 e uma das pioneiros do emergente mercado de fast-food de comida japonesa

Jenifher Mello

A o andarmos pelas ruas e shoppings de Porto Alegre, é possível notar a

variedades de restaurantes que servem comida japonesa. Muitas pessoas ainda pensam que sushi trata-se apenas de “peixe cru”, quando, na verdade, a culiná-ria japonesa apresenta diversos pratos. Nos restaurantes, as op-ções vão dos tradicionais sushis e shashimis aos temakis, que são um tipo de sushi enrolado à mão em uma alga, recheado com arroz e peixe.

Um dos principais nomes da culinária japonesa em Porto Alegre é o da empresa Japesca, fundada em 1970 por João Lopes da Cunha, um pescador criado e nascido na Ilha da Pintada.

A história da empresa come-ça no Mercado Público, local onde todo o pescado era comer-cializado. Ainda em meados de 1970, o fundador decidiu aban-donar a sociedade que mantinha com uma peixaria do Mercado Público e inaugurou sua própria

indústria de pescados em São Lourenço do Sul, próximo a Rio Grande, onde a matéria-prima era farta. Em 2009, a família de-cidiu expandir os negócios para o ramo da cozinha oriental, assim nascendo a Temakeria Japesca.

O restaurante integra uma linha de fast-food japonês, mas nunca deixou de lado o seu prin-cipal negócio: a comercialização de peixe. O novo negócio come-çou em um espaço pequeno junto ao local que a empresa já possuía no Mercado Público, atendendo junto a peixaria.

Logo que a culinária japone-sa ganhou seu espaço em meio a tantos outros modelos de res-taurantes, apenas o público de maior poder aquisito tinha a possibilidade de desfrutar des-te novo conceito gastronômico. Sob a orientação de uma consul-tora japonesa, a empresa decidiu oferecer um produto de qualida-de, praticidade e rapidez em sua entrega com um preço acessível, com o objetivo de popularizar a comida japonesa entre os gaú-chos, que são preferencialmen-te são consumidores de carne vermelha.

Após ser eleita por três anos (2010, 2011 e 2013) como a me-lhor Temakeria de Porto Alegre, com o prêmio “Veja Comer & Beber”, MELHOR TEMAKI, a empresa implantou o “PAS”

CULTURA Gastronomia

– Programa de Alimento Seguro em todas as suas unidades, com o objetivo de aumentar a segu-rança alimentar e a qualidade dos produtos comercializados aos consumidores.

Gabriel Antonio Mendo da Cunha, advogado e um dos só-cios da empresa, salienta a for-ma simples e rápida nos atendi-mentos: “Nosso diferencial é a

Os temakis são os mais comercializados, em especial o de salmão. Foto: Divulgação

agilidade entre o pedido e a en-trega, de forma simples, rápida e eficiente, esse novo modelo tem agrado os clientes que buscam qualidade e preços mais acessí-veis nesse área gastronômica”.

Atualmente, a rede conta com seis Temakerias - duas delas inauguradas em 2013 nos bair-ros Cidade Baixa e Moinhos de Vento, uma tele entrega e mais

uma Cevicheria (restaurante de comida peruana) que abriu suas portas em Março deste ano, na Avenida Nilo Peçanha na Zona Norte de Porto Alegre.

Os próximos planos da rede Japesca é a abertura de mais uma temakaria na Avenida Assis Brasil, Zona Norte. Outro proje-to que está em andamento são as temakerias móveis.

Temperos e segredos árabes em POARestaurante combina sabor e tradição na sua culinária libanesa

Mariela Moraes Kessler

F undado em 1989 por Therese Youssef Ghanem, nascida no Líbano, Al Nur

é um dos mais conhecidos res-taurante árabes de Porto Alegre. Com um cardápio típico libanês, Al Nur vem crescendo e com isso mudanças ocorreram ao longo do tempo. Em 2004, Cid Said, fi-lho da dona Therese, assumiu o comando do restaurante, moder-nizando e aumentando a capaci-dade para 68 pessoas.

Com música libanesa ao fun-do, o restaurante oferece para o seu público a Rodada Al Nur, que

nada mais é que o rodízio onde são servidas a maioria das igua-rias da casa. O cliente também pode saborear o menu à la carte e algumas raridades, que são os pratos elaborados por clientes mais assíduos do restaurante. Tudo sobre o comando da chef Marli Scott.

Atuando como gerente da casa há nove meses, Alex Ritta, 39, conta que todas as quartas-

-feiras o Al Nur oferece ao seu público uma orientação indivi-dual na borra do café, que é uma tradição milenar árabe: “Quem realiza esta leitura é Nurah Said Said, irmã do proprietário, Cid Said. Neste dia as mulheres vêm em peso para o restaurante, for-mando fila no lado de fora. É um dia em que o restaurante lota.”

Além de sua matriz, localizada

no bairro Rio Branco, Al Nur possui uma filial no Shopping Bourbon Wallig e daqui a 30 dias ficará pronta a da Zona Sul: “A loja da Protásio sem dúvida é a mais aconchegante e charmosa. A nossa filial do Bourbon é mais sofisticada. Para a zonal sul esta-mos preparando um restaurante maior, com a parte de cima re-servada somente para eventos, com um lindo jardim e espaço kids monitorado por câmeras, que os pais poderão acessar atra-vés do celular. Com certeza será a loja mais glamourosa”, conta Alex.

A casa que deu origem ao Al Nur localiza-se na Avenida Protásio Alves, número 616. Aberto diariamente, o restau-rante conta também com o ser-viço de telentrega. Primeira unidade foi fundada nos anos 80. Foto: Mariela Moraes Kessler

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Sabor e tradição polonesaO Polska Restauracja apresenta a culinária típica com receitas apetitosas e um ambiente familiar do país europeu

Marcella Schaurich

O Polska foi inaugurado em 1996 pela filha de polo-neses Irena Kowalczyk.

Ela, que também é casada com um polonês, já tinha intimidade com a culinária do país há muito tempo. Antes de abrir o restau-rante decidiu conhecer de perto os mistérios e segredos dessa co-zinha fazendo cursos na própria Polônia.

Hoje quem cuida do restau-rante é a filha de Irena, Janine Kowalczyk: “Por ter sido uma he-rança deixada por nossa família, é muito importante para gente manter o restaurante e aperfei-çoar ainda mais o cardápio”, con-ta Janine.

O Polska trabalha com seis ti-pos de sopas, entre elas a tradi-cional sopa de zour (com beter-raba e ervilhas), além de oferecer a mesa polonesa, que é composta por cerca de dez pratos tradicio-nais, como filé ao molho caçador (Filet w Sosie mysliwskim), be-terraba com raiz forte (Cwikla) e os pastéis cozidos recheado com ricota (Pierogi). A bebida típica fica por conta da vodca polone-sa, Wódka Wyborowa, segundo Janine “uma das melhores do mundo”.

O restaurante é reconhecido por ganhar por 15 anos conse-cutivos o prêmio de melhor res-taurante polonês do Brasil pelo Guia Quatro Rodas. Por ser mo-tivo de muito orgulho para a fa-mília Kowalczyk, os prêmios es-tão todos pendurados na parede do restaurante, fazendo parte da decoração.

O ambiente é simples, po-rém muito acolhedor, pois foi pensado cuidando os mínimos

Gastronomia CULTURA

Tradicionais ovos de páscoa pintados a mão. Foto: Marcella Schaurich

detalhes para recriar um am-biente familiar do país europeu.

A decoração fica por conta dos móveis estilo cristaleiras,

repletos da história da Polônia, as tradicionais bonecas e os ovos de páscoa pintados à mão (pi-sanki e Malowanki).

Para deixar os clientes ainda mais no clima polonês, o local, conta com uma música ambien-te polonesa.

Muito mais que chucrute e chopeFamília Baumbach mantém restaurante alemão há mais de 40 anos na Capital

Paola Gonçalves

T udo começou no Restaurante Tiroleza, em São Leopoldo, onde

Orlando e Vera Baumbach tra-balhavam como auxiliares de cozinha. Em 1967, Seu Orlando e sócios fundaram o Ratskeller, na capital, e em 1982, o sonho da família começou a sair do papel ao iniciar a construção do Restaurante Baumbach, no bairro São Geraldo, inaugurado em 1989 e que desde então tem

conquistado uma clientela fiel e assídua:

O Ratskeller tem no seu cardápio, dentre tantas tradi-cionais comidas da culinária alemã, marrecas, peixes e filés, porém o prato mais pedido é o Peixe Baumbach, que tem em seu acompanhamento cama-rões e batata dorê. Na sobreme-sa, dois pratos competem pela preferência do público: o apfels-trudel- prato tradicional alemão-, e a pera recheada com sorvete.

Raqueli Baumbach, gerente há 25 anos, conta que o segre-do dos elogios sobre seu bom atendimento é a união: “aqui trabalhamos todos juntos, não há competição, somos uma úni-ca equipe”, finaliza ela.

Luiz Santos, 55 anos, que vi-sita com frequência o estabeleci-mento, afirma que “para minha família, o Ratskeller Baumbach é o melhor restaurante e com custo/benefício muito bom. Melhor atendimento em rela-ção aos outros que conheço em Porto Alegre”.

Além do atendimento, o Baumbach tem uma curiosi-dade sustentável: desde a sua inauguração utiliza a energia solar e tem recipientes que co-lhem água da chuva, ajudando o meio ambiente.

O restaurante localiza-se na Av. Pará 1324, bairro São Geraldo, em Porto Alegre. O valor médio do prato por casal varia entre R$35 a 40 reais. Baumbach Ratskeller opera desde 1982 no bairro São Geraldo Foto: Paola Gonçalves

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ENTREVISTA

“O profissional do futuro tem muito o espírito do jornalista”

Jornalista e publicitário Alfredo Fedrizzi, dono da Agência Escala, conversa com estudan-tes de Jornalismo da UniRitter sobre o futuro da comunicação

Luiz Otávio Rodrigues, Rian Ferreira e William Dias

Poderíamos dizer que Carlos Alfredo Fedrizzi, dono da Agência Escala, uma das

maiores do Brasil, já fez de tudo um pouco em comunicação: tra-balhou em rádio, em redação de jornal, foi chefe de jornalismo em TV, assessor de imprensa e até candidato a publicitário no ano de 2002.

O talento não surgiu a toa: nascido em Joaçaba, SC, é filho do também jornalista Nelson Fedrizzi, radicado em Porto Alegre. Ele ouvia do pai que os seus filhos poderiam fazer tudo

“desde que não inventassem ser jornalistas”. Mas Alfredo, o segundo de cinco filhos, não conseguiu fugir do jornalismo, principalmente porque desde os tempos de Colégio Rosário ele participava de um pequeno jornal rodado em mimeógrafo.

Em entrevista ao Unipautas, Fedrizzi relata como vê o futuro da comunicação em meio à dis-cussão entre os formatos tradi-cionais e digitais.

Unipautas - Na sua opinião, qual vai ser o perfil do comu-nicador do futuro?

Fedrizzi - Essa pergunta vale

alguns milhões de dólares (ri-sos). Eu acho que a gente precisa aprender a ler sinais, ter estraté-gia, criatividade, inteligência, ou seja, coisas que nunca acabam. O profissional do futuro tem muito o espírito do jornalista, por ter ser bastante curioso.

Unipautas - O digital vai fazer com que as mídias tra-dicionais acabem?

Fedrizzi - Nunca, o que exis-te é uma readequação, uma adap-tação. No natal passado mesmo eu ganhei um toca discos da mi-nha esposa e minha filha me pre-senteou com LPs, porque várias bandas estão sendo reeditadas em LP. Claro que vira nicho, coisa

de colecionador ou especialista, mas tudo isso continua sobre-vivendo. As novas tecnologias vêm para complementar com as outras e se readequar, ou seja, o ser humano é o que é e está aí porque soube se adaptar.

Unipautas - O que você consome mais, o digital ou o tradicional?

Fedrizzi - Eu não sei res-ponder o percentual, mas tenho muito prazer em ler o jornal em papel. Eu uso o digital durante o dia, especialmente quando estou viajando, pois compro muitos li-vros e também fica mais versátil do que levar dois ou três livros para viagem.

Unipautas- Existe ainda al-guma atividade que você não tenha feito e queira fazer?

Fedrizzi - Sim, tem muita coisa ainda. Eu acho que nós temos que ter muitos projetos na cabeça, seja de curto, médio ou longo prazo, porque a cada dia que passa precisamos nos renovar.

Unipautas - Como está o mercado hoje para a comunicação?

Fedrizzi - Eu vejo o mercado muito complicado, dificil, mais restritivo, mas como eu sempre falo, sempre deve se escolher uma profissão adequada que se goste de fazer, se dedicar mais que os outros e consequente-mente você virá a ser sério can-didato entre os melhores. Quem não quer falar do trabalho fora do ambiente dele é porque não gosta do que faz. O que eu sinto falta mesmo é o profissinal 360, aquele que tem noção de um pou-co de tudo, que sabe diagnosticar o problema e achar a ferramenta certa pra resolvê-lo.

Unipautas - Pelos lugares que você já visitou no mundo, tem algo lá fora que falte aqui para os profissionais entra-rem bem no mercado?

Fedrizzi - Eu diria que falta experientalismo, falta experien-ciar mais, ousar mais. No Vale do Silício por exemplo, se você tiver quebrado uma empresa isso con-ta como ponto positivo porque significa que você é uma pessoa que faz, ousa, experimenta. As próprias emissoras de TV não precisariam comprar programas prontos, elas têm criatividade suficiente para criar os próprios. Falta às pessoas tomarem mais as rédias das suas atividades.

Carlos Alfredo Fedrizzi, dono da Agência Escala. Foto: Divulgação

O jornalismo antigamente era mais heroico, hoje é mais profissional.”