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UNISAL Maria do Carmo Silva Novaes de Souza NAS TRILHAS DO DIREITO SOCIAL: um estudo sobre a dimensão socioeducativa da prática do Assistente Social com as famílias de Carvalhópolis-MG Americana 2012

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UNISAL

Maria do Carmo Silva Novaes de Souza

NAS TRILHAS DO DIREITO SOCIAL: um estudo sobre a dimensão

socioeducativa da prática do Assistente Social com as famílias de

Carvalhópolis-MG

Americana

2012

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UNISAL

Maria do Carmo Silva Novaes de Souza

NAS TRILHAS DO DIREITO SOCIAL: um estudo sobre a dimensão

socioeducativa da prática do Assistente Social com as famílias de

Carvalhópolis-MG

Dissertação apresentada como exigência

parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Educação à Comissão

Julgadora do Centro Universitário

Salesiano de São Paulo, sob a Orientação

do Profº. Dr. Antonio Carlos Miranda.

Americana

2012

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Souza, Maria do Carmo Silva Novaes de

S716n Nas trilhas do direito social: um estudo sobre a dimensão

socioeducativa da prática do Assistente Social com as famílias

de Carvalhópolis - MG / Maria do Carmo Silva Novaes de

Souza. – Americana: Centro Universitário Salesiano de São

Paulo, 2012. 119 f.

Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Miranda.

Inclui bibliografia.

1. Serviço social. 2. Dimensão socioeducativa. 3. Intervenção

Profissional – Brasil. I. Título.

CDD – 362

Catalogação elaborada por Maria Elisa Pickler Nicolino – CRB-8/8292

Bibliotecária Chefe do UNISAL – Unidade de Ensino de Americana.

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Maria do Carmo Silva Novaes de Souza

NAS TRILHAS DO DIREITO SOCIAL: um estudo sobre a dimensão socioeducativa

da prática do Assistente Social com as famílias de Carvalhópolis-MG.

Dissertação apresentada como exigência

parcial para obtenção do grau de Mestre

em Educação, no Programa de Mestrado

do Centro Universitário Salesiano de São

Paulo.

Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em 12/12/2012, pela comissão

julgadora:

__________________________________________

Prof. Dr. Antonio Carlos Miranda

__________________________________________

Profª. Drª. Regiane Aparecida Rossi Hilkner

__________________________________________

Profª. Drª. Sueli Maria Pessagno Caro

Americana

2012

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Aos sujeitos dessa pesquisa, que

contribuíram para sua realização.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente a Deus, pelo equilíbrio e discernimento que me

concedeu, durante a realização deste trabalho.

A todos que contribuíram para a superação do grande desafio que se tornou

concluir esta dissertação.

Ao meu orientador, Professor Dr. Antonio Carlos Miranda, pelo estímulo,

incentivo e paciência, durante a construção deste trabalho. Obrigada por sua valiosa

contribuição.

Aos sujeitos dessa pesquisa, pelo valioso subsídio no processo de construção

coletiva do conhecimento. Aos beneficiados pelo programa habitacional, por confiarem

e exporem suas opiniões. Aos profissionais da prefeitura pela disponibilidade em nos

atender com a documentação necessária para o registro de informações necessárias e

indispensáveis, por ocasião da coleta de dados.

Muito especialmente agradeço à minha família: A minha mãe pelo exemplo

constante de determinação, garra e luta. Por sua eterna presença em minha vida, dando-

me forças em todos os momentos, sobretudo, nos mais difíceis.

Aos meus filhos, Mayana,Vinícius e Lorenzo, por compreenderem minha

ausência, durante o tempo de estudo e elaboração desta dissertação. Vocês são a razão

da minha existência!

Imprescindível agradecer a todos os funcionários do UNISAL que,

indistintamente, trabalham com dedicação e nos atendem sempre com muita presteza e

urbanidade.

A todos os docentes do Programa Mestrado em Educação do UNISAL pela

busca constante na construção do conhecimento. De forma especial, agradeço ao

Professor e Coordenador deste Programa de Mestrado, Professor Dr. Renato Soffner

pelo exemplo cotidiano, que nos passa com a sua prática.

Ao Dr. Régis Silva Lopes, minha eterna gratidão e meu muito Obrigada!

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Aula de voo

O conhecimento

caminha lento feito lagarta.

Primeiro não sabe que sabe

e voraz contenta-se com o cotidiano orvalho

deixado nas folhas vívidas das manhãs.

Depois pensa que sabe

e se fecha em si mesmo:

faz muralhas,

cava trincheiras,

ergue barricadas.

Defendendo o que pensa saber,

levanta certezas na forma de muro,

orgulhando-se de seu casulo.

Até que maduro

explode em voos

rindo do tempo que imaginava saber

ou guardava preso o que sabia.

Voa alto sua ousadia

reconhecendo o suor dos séculos

no orvalho de cada dia.

Mas o voo mais belo

descobre um dia não ser eterno.

É tempo de acasalar:

voltar à terra com seus ovos

à espera de novas e prosaicas lagartas.

O conhecimento é assim:

ri de si mesmo

e de suas certezas.

É meta da forma

metamorfose

movimento

fluir do tempo

que tanto cria como arrasa.

A nos mostrar que para o voo

é preciso tanto o casulo

como a asa.

Mauro Iasi

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RESUMO

O presente trabalho problematiza a dimensão socioeducativa presente na intervenção

profissional do assistente social junto às famílias em situação de vulnerabilidade social,

oriundas do Programa Habitacional Bela Vista II, realizado no município de

Carvalhópolis (MG), no período de 2005/2009. Teve como objetivos norteadores, fazer

uma análise acerca da intervenção profissional junto às famílias em situação de

vulnerabilidade social do referido município, descobrindo como o trabalho

socioeducativo construído favoreceu o acesso ao direito à moradia, além de outros

direitos sociais; bem como, fazer levantamento bibliográfico sobre questões

relacionadas à prática profissional, conjuntura política, participação popular,

mobilização social e à dimensão cultural e educativa do Serviço Social; analisar as

dificuldades existentes para a efetivação de direitos sociais; identificar o perfil (renda,

escolaridade, composição familiar, situação trabalhista) das famílias que participaram

do Programa de Habitação Popular e verificar se houve impactos positivos na vida das

famílias acompanhadas pelo Serviço Social no Programa Habitacional. Quanto aos

procedimentos teóricos utilizados, fundamentam-se numa perspectiva crítico-dialética

tendo como norte as teorias do pensador marxista Antonio Gramsci, sobretudo, nos

conceitos de hegemonia e intelectual orgânico. Do ponto de vista metodológico,

utilizou-se da abordagem qualitativa e quantitativa, a partir da utilização de entrevistas

semi-estruturadas, aplicação de questionários e reunião com grupo focal. Pode se

afirmar que a dimensão do trabalho socioeducativo durante o processo interventivo

realizado pelo profissional assistente social, serviu como instrumento para a efetivação

de direitos sociais, com ênfase para o direito à habitação, bem como, contribuiu para a

construção da contra hegemonia da classe subalterna, fundada na capacidade coletiva de

mudança da realidade, caminhando na direção de uma nova sociabilidade.

Palavras-chave: Serviço Social. Dimensão socioeducativa. Intervenção profissional.

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RESUMEN

En este trabajo si analiza la dimensión socio educacional de la intervención profesional

de los trabajadores sociales, con familias en situación de vulnerabilidad social, que

surge del Programa de viviendas de Bela Vista II, celebrada en la ciudad de

Carvalhópolis (MG) para el período 2005/2009. Dirigido guia, hacer un análisis sobre la

intervención profesional con familias en vulnerabilidad social de la ciudad,

descubriendo la guardería obra construida favorecido el acceso al derecho a la vivienda

y otros derechos sociales, así como a la literatura en temas relacionados con la práctica

profesional, la participación política, popularidad, la movilización sociales y culturale y

la dimensión educativa de la trabajar Sociales, analizar las dificultades en la realización

de los derechos sociales, identificar el perfil (ingresos, nivel de educación, composición

familiar, empleo) familias que participaron en el Programa de Vivienda Popular y

comprobar si existen repercusiones positivas en la vida de las familias que reciben el

Programa de Vivienda Sociales. En cuanto a los procedimientos teórico utilizados si

basan en una perspectiva crítico-tomando como base las teorías dialécticas marxistas de

Antonio Gramsci , en especial los conceptos de hegemonía y el intelectual orgánico.

Desde el punto de vista metodológico, se utilizó el enfocar cualitativo y cuantitativo, de

la utilización las entrevistas semi-estructuradas, cuestionarios y reuniones los grupos

focales. Se puede decir que el cuidar de los niños tamaño del trabajo durante el

procedimiento de intervención realizado por un trabajador sociales profesional, sirvió

como un de los instrumentos para la realización de los derechos sociales, con énfasis en

el derecho a la vivienda, así como contribuyó a la construcción de la hegemonía contra

la clase baja basado en la capacidad colectiva para cambiar la realidad, avanzando hacia

una nueva sociabilidad.

Palabras-clave: Servicio Sociales. Dimensión socioeducativa. La intervención

profesional.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

AMBASP – Associação dos Municípios da Micro Região do Baixo Sapucaí

ASCOUB – Associação Comunitária de Atendimento e Orientação aos Produtores

Rurais

BNH - Banco Nacional de Habitação

CADÚNICO – Cadastro Único dos Programas Sociais

CCFGTS – Carta de Crédito referente ao financiamento concedido com recursos do

Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

CEAAL – Conselho de Educação de Adultos da América Latina

CEAS - Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo

CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CISLAGOS - Consórcio Intermunicipal Saúde da Região dos Lagos

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

COPASA/MG - Companhia de Saneamento de Minas Gerais

CPCS - Centros Populares de Cultura

CRESS – Conselhos Regionais de Serviço Social

DFI - Danos Físicos do Imóvel

EIA - Estudo Prévio de Impacto Ambiental

EIV - Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

ENESSO – Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social

FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador

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FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FNHIS – Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social

JG – João Goulart

JK – Juscelino Kubitschek

JQ – Jânio Quadros

LBA – Legião Brasileira de Assistência

LEC – Liga Eleitoral Católica

MCP – Movimento de Cultura Popular

MEB – Movimento de Educação de Base

MIP – Seguro por Morte e Invalidez Permanente

OEA – Organização dos Estados Americanos

OGU – Orçamento Geral da União

ONGs – Organizações não-governamentais

PE – Pernambuco

PTS – Projeto Técnico Social

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESI – Serviço Social da Indústria

SNHIS – Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social

TIAR – Tratado Inter-Americano de Assistência Recíproca

UCISS – União Católica Internacional de Serviço Social

UNE – União Nacional dos Estudantes

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO. ................................................................................................................. 12

1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL ................................................... 16

1.1 Burguesia, Igreja e Estado, atrelados, em busca de mecanismos para atendimento

das questões sociais ........................................................................................................ 19

1.2 O Serviço Social no Brasil e sua relação com a Igreja Católica .............................. 21

1.2.1 A Igreja no Brasil e sua aproximação com o Estado ............................................. 22

1.3 Fundação das Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil .................................. 23

1.3.1 Formação dos Primeiros Assistentes Sociais no Brasil ......................................... 24

1.4 Institucionalização do Serviço Social no Brasil ....................................................... 25

2 CONSTITUIÇÃO DA DIMENSÃO SOCIOEDUCATIVA DO SERVIÇO SOCIAL ... 27

2.1 Prática do Assistente Social ..................................................................................... 29

2.2 A perspectiva da modernização vem responder a três necessidades ........................ 31

2.2.1 Pedagogia da Ajuda............................................................................................... 34

2.2.2 Pedagogia da Participação..................................................................................... 36

2.2.3 Serviço Social e a Construção de uma Pedagogia Emancipatória ........................ 39

3 HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL ................................................ 45

3.1 O Estatuto da Cidade ................................................................................................ 46

3.2 Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) .................................... 48

3.3 Programa Minha Casa, Minha Vida ......................................................................... 49

3.4 Programa Habitacional de Interesse Social realizado no município de

Carvalhópolis (MG) ....................................................................................................... 51

3.4.1 Projeto Técnico Social .......................................................................................... 53

3.4.2 Registro do trabalho interventivo realizado pela equipe técnica durante o

Programa de Interesse Social Jardim Bela Vista II ........................................................ 61

4 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .......................................................................... 71

4.1 História do Município de Carvalhópolis (MG) ........................................................ 71

4.2 Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa .................................................................. 73

4.3 Infraestrutura do Bairro onde se realizou a Pesquisa ............................................... 73

4.4 Equipamentos Comunitários existentes no local da pesquisa .................................. 74

4.5 Organização Comunitária no Município de Carvalhópolis (MG) ............................ 74

4.6 Objetivos .................................................................................................................. 76

4.7 Metodologia da Pesquisa .......................................................................................... 77

4.8 Análise Descritiva dos Resultados ........................................................................... 79

4.8.1 Grupo Focal ........................................................................................................... 83

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 92

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REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 95

APÊNDICE ......................................................................................................................... 101

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INTRODUÇÃO

Essa pesquisa tem sua origem num Programa de Habitação Social, denominado

Jardim Bela Vista II, desenvolvido por uma equipe multidisciplinar, composta por

assistente social, engenheiro e psicólogo, no período de 2005 a 2009, realizado no

município de Carvalhópolis (MG), do qual fiz parte na condição de assistente social. Os

sujeitos dessa pesquisa são 26 (vinte e seis) famílias em situação de vulnerabilidade

social do referido município, que ansiavam pela obtenção de lotes urbanizados e, por

conseguinte, ao direito à moradia, direito esse previsto no Art.6º da Constituição

Federal de 1988 no Capítulo II, o qual trata dos direitos sociais1.

Os elementos impulsionadores para a pesquisa de tal temática dizem respeito

aos poucos estudos desenvolvidos no âmbito do Serviço Social e também na área da

educação que se dispuseram a analisar a prática profissional de assistentes sociais

atrelando com a dimensão educativa e cultural. Partimos do pressuposto de que tal

correlação é de assaz importância, tanto numa perspectiva teórica como prática, visto

que poderá fornecer elementos que possibilitam uma reflexão teórico-prática por parte

dos assistentes sociais sobre suas ações cotidianas, bem como entender tal papel

enquanto educadores sociais comprometidos com a transformação social e com a luta

por direitos sociais.

Pelo exposto, é necessário fazer a seguinte indagação: Qual a contribuição da

dimensão educativa do assistente social na concretização dos direitos sociais? Qual a

direção que o assistente social imprimiu na dimensão educativa durante a intervenção

no Programa Habitacional? Como os assistentes sociais com seus conhecimentos

teórico-metodológicos, baseados num projeto ético-político profissional, atuaram

mediando nessas relações sociais, tendo de um lado os interesses da classe trabalhadora

e do outro lado, os interesses dos nossos governantes?

Como fundamentação teórica, buscou-se as teorias do pensador marxista

Antonio Gramsci, utilizando-se dos conceitos de hegemonia e intelectual orgânico,

quando conceitua o intelectual orgânico, como aquele que se coloca a serviço de uma

1 Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

constituição. (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Art. 6º. 27. ed. São Paulo:

Saraiva, 2009).

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classe, como porta voz de seus interesses, direcionando-a para a conscientização sócio-

histórica, política e econômica.

O conceito de hegemonia gramsciano é concebido na construção da vontade

coletiva, buscando a direção e o domínio da sociedade nos aspectos cultural,

econômico, político e social. Direção essa, vinculada à construção da emancipação

humana, na busca de uma nova sociabilidade.

Desse modo, os objetivos norteadores para a realização dessa pesquisa

basearam-se na 1) análise acerca da intervenção profissional junto às famílias em

situação de vulnerabilidade social do referido município, descobrindo se o trabalho

socioeducativo construído favoreceu o acesso ao direito à moradia, além de outros

direitos sociais; bem como, 2) realizar o levantamento bibliográfico sobre questões

relacionadas à prática profissional, conjuntura política, participação popular,

mobilização social e à dimensão cultural e educativa do Serviço Social; 3) analisar as

dificuldades existentes para a efetivação de direitos sociais; 4) identificar o perfil

(renda, escolaridade, composição familiar, situação trabalhista) das famílias que

participaram do Programa de Habitação Popular e 5) verificar se houve impactos

positivos na vida das famílias acompanhadas pelo Serviço Social no Programa

Habitacional.

Do ponto de vista metodológico, utilizou-se da abordagem qualitativa e

quantitativa, a partir da utilização das pesquisas bibliográficas e de campo, através de

coleta de dados com entrevistas semi-estruturadas, aplicação de questionários e reunião

com grupo focal.

No âmbito desta reflexão, no primeiro capítulo destaca-se os expressivos

estudos que versam sobre a gênese do Serviço Social na Europa e Estados Unidos, bem

como a institucionalização do Serviço Social no cenário brasileiro na década de 1930,

demonstrando que, inicialmente, as funções atribuídas ao assistente social situavam-se

numa perspectiva de ação que visava o ajustamento do indivíduo à ordem social, com a

finalidade de manter o “status quo”, ou seja, esses profissionais desenvolviam

intervenções assistenciais e educativas perante os indivíduos, suas famílias e a

comunidade, sem elementos de criticidade e compromisso com a transformação efetiva

das situações opressoras presentes naquele contexto.

No Segundo capítulo analisou-se os aspectos da constituição da dimensão

socioeducativa do serviço social, momento que utilizamos e aprofundamos as relações

do profissional assistente social com as mudanças sócio-políticas aliadas a agudização

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da questão social, onde assistentes sociais da América Latina, sobretudo, brasileiros

passam a questionar as teorias e metodologias utilizadas em suas respectivas

intervenções profissionais, nos diversos espaços de trabalho, as quais não davam

respostas satisfatórias à realidade dos sujeitos atendidos.

Com o Movimento de Reconceituação2, a profissão passa a romper com teorias

e metodologias europeias e americanas que até então embasavam a prática profissional,

porém, não respondiam às necessidades do contexto brasileiro e, nessa época, novos

autores passaram a ser buscados pelo Serviço Social, dentre esses situam-se: Gramsci,

Althusser, Marx, Lukács, Heller, Freire, entre outros, que contribuíram para o

desvelamento da sociedade capitalista permeada por interesses antagônicos entre si.

Nesse sentido, parte-se da premissa de que o assistente social, ao desenvolver

suas ações, tanto em órgãos deliberativos (conselhos, secretarias) como em esferas

executivas (cotidiano de trabalho em entidades sociais ou no âmbito das políticas

sociais), seja por meio de planos, programas, projetos, reuniões, palestras, conferências,

atendimentos individuais e grupais, orientações e encaminhamentos, entre outros

instrumentos de trabalho, apresenta em suas intervenções enfoques sociais, políticos e

econômicos, uma vez que socializa informações, emite visões de mundo, troca

experiências com outros profissionais e usuários e também constrói novos

conhecimentos.

O terceiro capítulo mostra a trajetória da habitação de interesse social no Brasil

e as ações dos nossos governantes na tentativa de eliminarem parte da dívida social com

as populações menos favorecidas no que diz respeito à habitação, além de mostrar como

o município de Carvalhópolis (MG), vem se organizando para eliminar o déficit

habitacional existente.

O quarto capítulo apresenta a caracterização da pesquisa, através da análise

histórica do município de Carvalhópolis (MG), sede da pesquisa de campo realizada,

mostrando os perfis dos sujeitos pesquisados, a infraestrutura do bairro, pontuando os

equipamentos comunitários existentes e a organização comunitária.

Na sequência são descritos os objetivos norteadores à metodologia da pesquisa

e às categorias centrais de análise dos dados coletados.

2 O Movimento de Reconceituação do Serviço Social constitui-se, no interior da profissão, num esforço

para desenvolvimento de propostas de ação profissional condizentes com as especificidades do contexto

latino-americanos, ao mesmo tempo em que se configura como um processo amplo de questionamento e

reflexão crítica da profissão. Isso se dá motivado pelas pressões sociais e demandas de setores populares,

num contexto de grande mobilização, historicamente marcado pelo acirramento das desigualdades de

classes e das questões sociais em face da dinâmica da acumulação capitalista (SILVA, 2009, p. 72).

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Ao final deste trabalho, a partir da pesquisa realizada, pode se afirmar que a

dimensão educativa através do processo interventivo do serviço social, serviu como

instrumento para a efetivação dos direitos sociais, bem como, contribuiu para a

construção da contra hegemonia da classe trabalhadora na direção de uma nova

sociabilidade.

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1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL

A origem do Serviço Social como profissão caracteriza-se pela marca profunda

do capitalismo e do conjunto de variáveis que a ele estão subjacentes – alienação,

contradição, antagonismo, pois foi neste vasto caudal que ele foi engendrado e

desenvolvido. É uma profissão que nasce articulada com um projeto de hegemonia do

poder burguês, gestada sob o manto de uma grande contradição que impregnou suas

entranhas, pois produzida pelo capitalismo industrial, nele imersa e com ele

identificada. O Serviço Social trata-se de profissão desenvolvida como parte do projeto

de hegemonia do poder burguês, utilizada como estratégia de controle social, para

garantir a consolidação do sistema capitalista.

O interesse da classe burguesa pelo proletariado era inteiramente

esvaziado de qualquer sentido humano, pois aos seus olhos o operário

era apenas e tão somente força de trabalho, uma mercadoria como

qualquer outra, da qual necessitava para expandir seu capital

(MARTINELLI, 2009, p. 42).

Assim, fica evidente segundo a autora citada, que a criação do capitalismo

instaurou uma valorização dos bens e do capital, em contrapartida, houve constante

desvalorização do ser humano, enquanto pessoa, que foi vulgarmente substituído pela

mercadoria que gerava lucro. O progresso capitalista acontecia à custa da exploração da

classe trabalhadora. A pauperização da classe proletária se dava na mesma intensidade

que se dava a concentração da riqueza nas mãos da burguesia.

A classe operária reagiu à ascensão do capitalismo, bem como à sujeição de

sua vida aos donos do capital. As primeiras formas de oposição e resistência dos

trabalhadores como respostas à exploração ocasionada pelos donos do capital foi o

Ludismo3, movimento que aconteceu na Inglaterra no século XIX, que tinha por

objetivo a destruição das máquinas.

Assim, ao invés dos trabalhadores “se revoltarem contra a forma social em que

eram explorados, os trabalhadores voltaram-se contra as máquinas, destruindo-as em

grande número. As revoltas por parte da classe trabalhadora não param por aí. “Em

Maio de 1838, a Associação Geral dos Trabalhadores de Londres, [...] redigiu um

3 Movimento em alusão a um de seus líderes, o trabalhador William Ludd, recebera o nome de Ludismo,

e se estendeu de forma anárquica durante alguns anos do século XIX (MARTINELLI, 2009, p. 44).

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documento denominado Carta do Povo, reafirmando a oposição à burguesia”, bem

como, tornando público seus objetivos enquanto classe trabalhadora, esse conjunto de

iniciativas foi denominado por Cartismo.

O Cartismo trata-se de um movimento organizado pela classe trabalhadora,

cujo objetivo era a aprovação da Carta do Povo, que trazia em seu conteúdo, as

angustias e anseios da classe trabalhadora, como forma de protesto às explorações

burguesas.

A partir daí, a classe trabalhadora organizada estabelece manifestações de

resistência em oposição à burguesia. A Inglaterra, centro da Revolução Industrial e do

capitalismo constituído, foi a marca das lutas coletivas e sindicais do movimento

trabalhista.

A Europa é ocupada por um cenário de lutas travadas entre burguesia e

proletariado, tomando como exemplo o movimento insurrecional realizado em Paris em

18 de março de 1871, quando o proletariado apoiado pela Guarda Nacional, toma o

poder durante dois meses, marca do primeiro governo proletário da história.

Os donos do capital pressionam o Estado para a criação de mecanismos de

proteção contra qualquer ato que impedisse a expansão do capital e aos seus interesses.

Em resposta, o Estado liberal burguês estabelece medidas de proteção ao capital, dentre

elas, a revogação da Lei de Assentamento, início do século XIX, o barateamento dos

gêneros alimentícios, estratégias que garantiam a subsistência do trabalhador sem a

necessidade de aumento dos salários.

Diante do domínio do capital, os trabalhadores não tinham alternativas, a

viverem de forma alienada e explorada. A realidade posta pelo capitalismo era

dramática, ocasionando revolta dos trabalhadores e motivando-os a organizarem-se no

levantamento de bandeiras de lutas.

A classe trabalhadora lutava coletivamente, unida tentavam construir seu

projeto político de dissolução da sociedade de classes. Projeto infrutífero, a expansão da

industrialização capitalista se irradiava por todos os continentes, configurando um

momento de grande expansão do poder burguês.

Martinelli retrata o pensamento de Marx e Engels, como um dos caminhos para

a classe operária vencer as amarras do poder burguês, que soava assim: “Proletários de

todo o mundo, uni-vos!” (MARX e ENGELS, 1981, p. 681 apud MARTINELLI, 2009,

p. 59).

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A questão social acompanhava a expansão do capitalismo. Quanto maior o

acúmulo do capital, maiores eram os problemas sociais decorrentes das relações

estabelecidas na sociedade de classes.

A burguesia preocupada com a preservação do capitalismo buscava criar

mecanismos, capazes de conter as manifestações operárias, bem como a disseminação

da pobreza que vinha acompanhada de uma onda de fome e generalização da miséria.

A Escola Humanitária e Filantrópica foram referências básicas para o

enfrentamento da questão social4.

A Escola Humanitária é a que lastima o lado mau das relações de produção

atuais. Para tranquilidade de sua consciência, esforça-se para amenizar os contrastes

reais: deplora sinceramente as penúrias do proletariado e a desenfreada concorrência

entre os burgueses; aconselha os operários a serem sóbrios, trabalharem bem e terem

poucos filhos; recomenda aos burgueses que moderem seu furor na esfera da produção.

A Escola Filantrópica é a escola humanitária aperfeiçoada. Nega a necessidade

dos antagonismos; quer converter todos os homens em burgueses e a aplicar a teoria,

desde que esta se diferencie da prática e não contenha antagonismos. É evidente que na

teoria é fácil fazer abstrações das contradições que se encontram a cada momento na

realidade. Essa teoria equivaleria, então, à realidade idealizada. Em consequência, os

filantropos querem conservar as categorias que expressam as relações burguesas, porém,

sem o antagonismo que constitui a essência dessas categorias e que é inseparável delas.

A burguesia não estava preocupada com nenhuma alteração na ordem social,

seu interesse era afastar qualquer manifestação dos operários que pudesse desestabilizar

a ordem do capital.

No próximo item, serão analisadas as estratégias criadas pela burguesia, Igreja

e Estado para amenizar as manifestações das questões sociais.

4 Por questão social, entende-se o amplo espectro de problemas sociais que decorreram da instauração e

da expansão da industrialização capitalista (CERQUEIRA FILHO, 1982, p. 58 apud MARTINELLI,

2009, p. 63).

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1.1 Burguesia, Igreja e Estado atrelados em busca de mecanismos para

atendimento das questões sociais

Surge na Inglaterra, precisamente em Londres, no ano de 1869 a Sociedade de

Organização da Caridade, criada pela Burguesia, Igreja e Estado, com o objetivo de

prestar assistência à classe operária, de forma a coibir qualquer manifestação por parte

desta. Assim, surgem os primeiros assistentes sociais.

Atrelados, Burguesia, Igreja e Estado buscavam estratégias e mecanismos para

amenizar as manifestações das questões sociais, decorrentes da situação vivenciada pela

classe operária, diante da exploração, da opressão, da dominação, da acumulação da

pobreza e da miséria a que eram submetidos.

A classe operária representava ameaça, devido aos seus movimentos

reivindicatórios e organizativos. Sendo assim, a Sociedade de Organização da Caridade

acreditava que o funcionamento social, somente seria adequado, mantendo o controle da

questão social, o que implicava em impedir as manifestações coletivas dos

trabalhadores. A Organização da Caridade, a partir de então, é responsabilizada pela

prática da assistência, para corrigir os ditos males sociais.

Nessa época, trabalhando a serviço do capital, a assistência tinha determinadas

funções: a econômica, que buscava garantir a expansão do capital, a função ideológica,

de expandir o capitalismo e controlar os movimentos de classe e função de controle do

processo social e das condições de vida da massa pauperizada, ajustando-se aos padrões

estabelecidos pela sociedade burguesa constituída.

Baseando-se na concepção burguesa de que a sociedade era perfeita e

harmônica e de que os problemas eram dos indivíduos. A Sociedade de Organização da

Caridade adotou e difundiu a ideia da assistência social como uma reforma de caráter.

Através da organização dos primeiros cursos para formação dos agentes sociais

na Europa e Estados Unidos, surgem com grande Influência da Igreja, as primeiras

escolas de Serviço Social na Europa. Durante o século XX, o Serviço Social estava

presente na maioria dos países da Europa, embora sua identidade profissional estivesse

alienada, fragilizada e atribuída ao capitalismo com a ilusão de servir. É sob a influência

da Igreja Católica, que o Serviço social se legitima como profissão.

Desde sua gênese, o Serviço Social como profissão, teve relação direta com as

práticas educativas, conforme segue na análise de Martinelli (2009, p. 103):

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Os trabalhos pioneiros de educação familiar e social de Octavia Hill e

seus colaboradores constituíram importantes referências para o

desenvolvimento da ação social com famílias de operários. A

influência de Florence Nightingale, situando a visita domiciliar como

um dos mais importantes instrumentos para a realização de ações

educativas foi também marcante no processo de racionalização da

assistência e de sua organização em bases científicas.

O trabalho de educação familiar pautava-se nos conteúdos de higiene,

educação e saúde. As visitadoras sociais voluntárias exerciam a ação de reforma do

caráter dos indivíduos, dado pela sociedade à assistência social, atribuindo sua

existência aos males sociais.

A Sociedade de Organização da Caridade atravessava as fronteiras do

continente europeu, instala-se nos Estados Unidos, onde teve como importante

representante Mary Richmond, assistente social norte americana, ela acreditava que

somente através do ensino especializado teriam agentes qualificados para lidarem com a

questão social.

Em 1898, realizou-se em Nova Iorque, curso destinado à aprendizagem da ação

social, como queria Richmond, à aprendizagem da aplicação científica da filantropia.

Seu desdobramento mais significativo ocorreu no ano seguinte naquele mesmo local,

com a criação da primeira Escola de Filantropia Aplicada (Training School in Applied

Philantropy).

Diante de grandes impactos obtidos pelo referido curso, multiplicaram-se por

toda a Europa e Estados Unidos, o que desencadeou a fundação da primeira Escola de

Serviço Social na Inglaterra, incorporada à Universidade de Birmingham, seguida das

escolas fundadas em Paris em 1911 e 1913, com influências da Igreja.

Considerando-se o histórico do Serviço Social e sua origem, com marcas

profundas no capitalismo, o item seguinte enfatiza uma análise do surgimento do

Serviço Social no Brasil e seu vínculo com a Igreja Católica.

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1.2 O Serviço Social no Brasil e sua relação com a Igreja Católica

O Serviço Social na sociedade brasileira, a exemplo dos demais países da

Europa e Estados Unidos, institucionalizou-se e desenvolveu-se como profissão de

cunho educativo, engendrada a partir dos interesses da classe dominante.

Como profissão inscrita na divisão do trabalho, o Serviço Social brasileiro

surge como parte do projeto de recristianização da Igreja Católica, para formação

doutrinária e social do laicato, no início da década de 30. Ocasião que a Igreja Católica,

procura qualificar o laicato, para desenvolver ação missionária e evangelizadora na

sociedade, com vista a eliminar os princípios do liberalismo e comunismo que surgira

como perigo ameaçador à ordem burguesa.

Com as grandes mobilizações travadas pela classe operária, no início do século

XX, a Burguesia, Estado e Igreja se posicionam para afastarem as influências do

liberalismo e comunismo. A burguesia atrelada à Igreja busca mecanismos preventivos

e de manipulação, alegando cuidar das necessidades apresentadas pelos trabalhadores,

como forma de propiciar a defesa e a ampliação do capital, momento que surgem várias

instituições assistenciais, tendo em vista atenuarem algumas das sequelas ocasionadas

pelo desenvolvimento capitalista, decorrentes da agudização vivenciada pela classe

operária.

A Igreja busca nas encíclicas papais, especialmente, na Rerum Novarum5 e

Quadragésimo Anno6, instrumentos para ações doutrinárias com o objetivo de livrar o

proletariado das influências do movimento socialista, bem como, harmonizar as classes

em conflito a partir do comunitarismo cristão.

A Igreja cria como instrumento para difusão de sua doutrina social, o

movimento de leigos, denominado de Ação Católica. Trata-se de projeto de reforma

social da Igreja, com objetivo da recristianização da sociedade, fundamentada em bases

humanista e antiliberal.

A Ação Católica utilizava-se de ações educativas, com o objetivo de formar o

laicato católico para colaborar com a missão da Igreja, de salvar as almas para

cristianização da sociedade. Trata-se da arregimentação das forças católicas, para

5 Encíclica papal divulgada por Leão XIII em 15 de maio de 1891 (CASTRO, 2008, p. 51).

6 Encíclica papal divulgada por Pio XI em 15 de maio de 1931 (Ibidem).

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campanha espiritual da cristianização do mundo. No Brasil, instala-se a Ação Católica

em todas as paróquias de forma obrigatória.

Com a recristianização da sociedade, uma questão fundamental para a Igreja no

Brasil, foi estreitar suas relações com o Estado, tendo em vista a separação Igreja-

Estado desde a Proclamação da República- objeto de anàlise do próximo item dessa

pesquisa.

1.2.1 A Igreja no Brasil e sua aproximação com o Estado

Em 1922, quando o então, Presidente da República Epitácio Pessoa sofre

ameaças contra sua vida, o Cardeal Arcoverde disponibiliza todo o apoio para o

Presidente, inclusive desfilar em carro aberto com o Presidente, demonstrando sua

relação de apoio ao então Presidente.

Em 1924, quando D. Leme realizou a Páscoa das Classes Armadas, que tinha

por objetivo homenagear o Cardeal Arcoverde, este, durante os festejos, recebe em seu

palácio o presidente Artur Bernardes (AGUIAR, 2011, p. 39).

Em 05 de Maio de 1924, o Presidente Artur Bernardes oferece um banquete

para representantes da Igreja, dentre eles, o Cardeal Arcoverde e o episcopado. O

encontro teve a seguinte pauta citada por Aguiar (2011, p. 40):

O Brasil precisa do concurso de todas as outras forças vivas da

Nacionalidade para se refazer na disciplina, no respeito da autoridade,

na prática das virtudes, na obediência à lei, na lealdade aos deveres

políticos, no trabalho útil e na independência responsável ao trabalho

urgente de reconstrução geral do País, nenhuma maior que a Igreja

Em 1931, quando Nossa Senhora Aparecida é proclamada Padroeira do Brasil,

durante os festejos, houve concentração com características religiosas e cívicas,

contando com a presença do Presidente da República, ministros e diplomatas

(AGUIAR, 2011, p. 39).

No mesmo ano, foi inaugurado o Cristo Redentor no Corcovado no Rio de

Janeiro. Durante os festejos, estiveram presentes as mais altas autoridades, inclusive,

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políticas e, aproveitando a ocasião, D. Leme entregou para Vargas as reivindicações

católicas em nome do episcopado.

Na mesma época, surge através da Igreja a proposta da criação da Liga

Eleitoral Católica – LEC, que tinha por objetivo apoiar candidatos de qualquer partido

que se comprometessem a lutar pelos postulados defendidos pela Igreja que, segundo

Aguiar (2011, p. 41) são eles:

Indissolubilidade do casamento;

Ensino religioso facultativo;

Assistência religiosa às forças armadas, hospitais e penitenciárias;

A livre prática do culto religioso nos cemitérios;

Autonomia e pluralidade sindical;

Direito dos trabalhadores conforme a justiça social;

Casamento religioso com efeitos civis;

Ensino religioso nas escolas.

Parte dos postulados citados passou a fazer parte da Constituição Federal

promulgada em 1934. Esses postulados e sua luta constante interessaram à hierarquia e

às elites, mas não ao povo.

1.3 Fundação das Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil

No Brasil, a profissão se legitima no Governo Getúlio Vargas, e surgem da

iniciativa particular de grupos e frações de classes, oriundas da Igreja católica.

Em 1920, surge no Rio de Janeiro, a Associação das Senhoras Brasileiras. Em

1923, surge em São Paulo a Liga das Senhoras Católicas. As atividades eram realizadas

pela militância de mulheres, representantes da burguesia carioca e paulista. Tais

Instituições tinham por objetivo divulgar o pensamento social da Igreja Católica,

coordenar e disciplinar o apostolado laico, com vistas a prevenir, abrandar e amenizar

qualquer movimento contrário aos ideais e ao desenvolvimento capitalista.

Em 1932, surge o Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), com

o objetivo de promover para seus membros à formação através do estudo da doutrina

social da Igreja e fundamentar sua ação na formação doutrinária e no conhecimento

aprofundado dos problemas sociais, visando tornar mais eficiente à atuação das

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trabalhadoras sociais, bem como, adotar orientação definida em relação aos problemas a

resolver, favorecendo a coordenação de esforços dispersos nas diferentes atividades e

obras de caráter social.

Preocupadas com as manifestações das questões Sociais, as fundadoras do

Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), juntamente com as Cônegas regulares de

Santo Agostinho organizaram o primeiro Curso de Formação Social, que foi dirigido

pela professora Adéle de Loneaux, representante da Escola Católica de Serviço Social

de Bruxelas.

Após realização do curso, o CEAS envia para a Bélgica duas de suas

integrantes com o objetivo de cursarem a Escola de Serviço Social. Quando do seu

retorno para o Brasil, organizaram a fundação da primeira Escola de Serviço Social em

São Paulo, que se instala em 15 de fevereiro de 1936. Seguida, pela Escola de Serviço

Social do Rio de Janeiro, fundada em 1937.

1.3.1 Formação dos Primeiros Assistentes Sociais no Brasil

A formação dos primeiros Assistentes Sociais no Brasil tinha como sustentação

filosófica o neotomismo, onde se priorizava a formação doutrinária e moral, objetivando

reconstruir a sociedade através das bases cristãs, tentando eliminar as influências do

liberalismo e comunismo. O agente do Serviço Social era definido como pessoa

metodicamente formada numa escola de Serviço Social, cuja atividade e devotamento,

ligando-se a determinada engrenagem da sociedade, tende a regularizar o seu

andamento, integrando-a normalmente na marcha em conjunto de toda a sociedade.

Como base de sustentação ideológica, para a formação dos primeiros

Assistentes Sociais do Brasil, utilizou-se, das diretrizes e atividades da União Católica

Internacional de Serviço Social (UCISS), que através de métodos e técnicas pautados na

doutrina da Igreja, contribuíram para instauração e manutenção da Ordem Social Cristã.

Para realizar a tarefa que se propõe na ajuda da restauração da ordem social

cristã, o Serviço Social não pode ter uma postura neutra na formação dos futuros

assistentes sociais. O Serviço Social, nessa época, não esconde sua postura, ao

contrário, encontra formas pedagógicas ou técnicas de fazer com que a ideologia

assumida seja comunicada aos alunos. Nesse sentido, era requisito para formação do

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corpo docente das primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil, assumir a doutrina

social católica, bem como serem católicos praticantes.

A formação dos assistentes sociais era pautada na formação científica, técnica,

prática e pessoal, embasada na sociologia, psicologia, biologia e moral, que tinham a

finalidade de garantir para os estudantes do Serviço Social, o exato conhecimento do

homem e da sociedade, dos problemas ocasionados e deles advindos, bem como, do

saber adquirido, conhecer os instrumentos a serem utilizados na prática profissional.

A formação técnica consiste no estudo das teorias do Serviço Social então

existente e sua adaptação à nossa realidade. É ela que vai ajudá-lo a por em prática todo

o conhecimento sobre o Serviço Social. A formação prática resume-se no “como fazer”

nas diferentes instituições com que os futuros assistentes sociais mantinham contatos.

A formação pessoal parte para a preocupação com a personalidade integral do

aluno. Deve-se dar ao assistente social uma formação moral muito sólida. Além das

atividades normais da escola, existem alguns meios de estudo como círculos de estudo e

a orientação individual.

O serviço Social era assumido como uma vocação. Para que haja essa

formação adequada e que se assuma como vocação, é necessário que o ambiente da

escola seja um ambiente adequado, quer seja materialmente, quer seja

psicologicamente. É preciso professores que sejam exemplos a serem seguidos. Quanto

ao corpo discente, necessita ser selecionado. Os candidatos precisam ter o mínimo de

devotamento, de critério e de senso prático. E não serem nervosos em excesso.

A formação profissional do assistente social também foi objeto de debates no

primeiro congresso realizado em Santiago, no Chile e no segundo Congresso realizado

no Rio de Janeiro, em 1949. Os dois Congressos tiveram como pauta, a formação e

prática dos futuros assistentes sociais.

1.4 Institucionalização do Serviço Social no Brasil

A década de 30, marca da transição oligárquica para o Estado Novo,

materializada por uma nítida política econômica a serviço da industrialização. O Estado

busca viabilizar a expansão do setor industrial e consequentemente, o fortalecimento do

capital.

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Os assistentes sociais recebem mandado institucional, como profissional

tecnicamente preparado para atuarem junto à classe trabalhadora, na reprodução das

relações sociais. O Serviço Social Institucionalizado possibilitou aos assistentes sociais

desenvolverem intervenções a partir de uma prática educativa, ao invés de uma prática

voltada para recristianização das massas. Nesse ínterim, o estado tem por objetivo criar

tais instituições, objetivando incorporar parte das reivindicações populares.

Ao expropriar uma série de reivindicações do proletariado (defesa dos salários

reais, melhores condições de vida, direito à saúde e à cultura, aposentadoria etc.)

derivadas da situação crônica de carência em que este subsiste; ao devolver essas

reivindicações sob a forma de benefícios indiretos, outorgados através de uma estrutura

burocrática, direta ou indiretamente controlada pelo Estado, as instituições assistenciais

atuam no sentido de recuperar e falsificar o conteúdo mais profundo das lutas do

proletariado por melhores condições de existência.

Surgem na década de 40, grandes instituições assistenciais como LBA (Legião

Brasileira de Assistência), SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) SESI

(Serviço Social da Indústria), Fundação Leão XIII e a Previdência Social, que

atendendo aos interesses das classes dominantes, foram criadas pelo Estado, como

resposta às pressões da classe trabalhadora. Sendo tal iniciativa, um dos mecanismos

usado pelo Estado, para acelerar o processo do desenvolvimento capitalista no país.

O Serviço Social passa a integrar mecanismos de execução das políticas sociais

elaboradas pelo Estado, para enfrentamento da questão social, que surge com o

desenvolvimento urbano-industrial.

A história nos mostra que a profissão (Serviço Social), se institucionaliza no

Brasil, para responder os interesses da classe burguesa, de forma a garantir a paz social.

Observa-se nesse período o surgimento de constantes instituições, bem como, a criação

de uma legislação social como nunca existiu no país. Citamos como exemplo: a criação

da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), Justiça do Trabalho, aposentadoria por

tempo de serviço, velhice ou invalidez, pensões para dependentes, ajuda para funerais,

Salário Mínimo, habitação, férias, descanso semanal remunerado e outros.

As Instituições Sociais e Assistenciais, instaladas nesse período servem como

instrumentos de controle social e político dos setores dominados e da manutenção do

sistema de produção capitalista.

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2 CONSTITUIÇÃO DA DIMENSÃO SOCIOEDUCATIVA DO SERVIÇO

SOCIAL

Este estudo sobre a dimensão da função pedagógica do assistente social

sustenta-se na Análise da obra de Abreu (2002) em Serviço Social e a Organização da

Cultura: perfis pedagógicos da prática profissional, onde a referida autora com base na

tradição marxista e no conceito gramsciano de hegemonia e intelectual orgânico situa a

prática profissional do assistente social em três momentos de diferentes perfis

pedagógicos sendo: “Pedagogia da Ajuda”, “Pedagogia da Participação” e “Pedagogia

Emancipatória da Classe Trabalhadora”.

A constituição da dimensão socioeducativa da prática profissional realizada

pelos assistentes sociais ao longo de seu desenvolvimento histórico, se deu junto às

classes sociais menos favorecidas, através de aconselhamento e restabelecimento da

ordem social, que surgiu como alternativa profissionalizante, às então desempenhadas

enquanto apostolado social.

Não se trata de sistema educacional, mas de processo educativo, visto que se

desenvolve fora dos canais das instituições escolares. Tem-se, desta forma, uma

concepção de educação que não se restringe ao aprendizado de conteúdos específicos,

como o das disciplinas escolares, transmitidos pelo professor através de técnicas e

instrumentos do processo pedagógico. Porém, se trata de uma educação voltada para a

dominação da classe trabalhadora.

O enfrentamento da questão social e controle social do capital sobre a classe

trabalhadora é o marco principal do desenvolvimento da função pedagógica realizada

pelo profissional assistente social da época.

A necessidade do desenvolvimento profissional do assistente social, tanto no

molde europeu, como no molde norte americano, foi para atender o agravamento das

questões sociais, decorrentes do processo de acumulação capitalista. Daí a necessidade

da organização da assistência social em bases técnico-científicas.

A mediação privilegiada de enfrentamento da questão social e controle social

pelo capital sobre a classe trabalhadora é o marco principal do desenvolvimento da

função pedagógica do assistente social, centrada na dimensão individual na perspectiva

da reforma moral e reintegração social.

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O Serviço Social como profissão, data seu surgimento em meados do século

XIX, com a função pedagógica de mediar às manifestações da questão social, que

surgiram em decorrência das relações estabelecidas entre os donos do capital e a classe

trabalhadora.

Assistentes Sociais irão trabalhar para o restabelecimento da ordem social,

condicionada por certo, pelo respeito à autoridade. O assistente social é pessoa

“metodicamente formada numa Escola de Serviço Social, cuja atividade e devotamento,

ligando-se à determinada engrenagem da sociedade, tende a regularizar o seu

andamento, integrando-a normalmente na marcha em conjunto de toda a sociedade”

(AGUIAR, 2011, p. 46).

As condições de trabalho enfrentadas pela classe trabalhadora eram críticas. A

jornada de trabalho era determinada pela necessidade do empregador, sem nenhuma

garantia aos direitos trabalhistas, como férias, final de semana remunerado, auxílio

doença e outros. Exploravam ainda, a mão de obra de mulheres e crianças.

Em decorrência da situação de exploração vivenciada pela classe trabalhadora,

surgem os movimentos sociais, sindicatos, dentre outras reivindicações como:

legislação trabalhista.

Os donos do capital, reagem, alegando a necessidade desses direitos e garantias

serem disciplinados, tendo em vista a classe trabalhadora não ser preparada para cultivar

o ócio, sendo necessário o disciplinamento para utilização do tempo livre.

As tarefas desenvolvidas pelos assistentes sociais durante tal período, dentre

outras, era prevenir a desorganização e decadência das famílias proletárias, efetuar a

regularização legal das famílias, como os casamentos, realizar encaminhamentos,

colocação em empregos e abrigos provisórios, elaborar fichário dos assistidos, realizar

cursos de formação moral, etc.

A partir da década de 40, com a criação da Organização dos Estados

Americanos (OEA), consubstanciada na assinatura da Carta de Bogotá em 1948,

sediada em Washington, através de seu Departamento de Assuntos Econômicos e

Sociais, desenvolveu diretamente influencias na formação e na prática dos assistentes

sociais latino-americanos.

As influências estabelecidas pelos Estados Unidos sobre os países da América

Latina tinham por objetivo o desenvolvimento capitalista e a garantia de sua hegemonia

financeira.

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A influência norte-americana junto ao serviço social brasileiro ocorre, num

primeiro momento, por meio do programa de bolsas de estudos oferecido pelo governo

norte-americano ao serviço social do continente latino-americano. Esta influência

centrou-se, inicialmente, nos aspectos de instrumentação para a prática profissional,

com a importação de técnicas de serviço social de caso, grupo e de comunidade,

verificando-se a passagem da fase franco-belga para a norte-americana, ou seja, em

contraposição a um período pleno de conteúdos filosóficos, começa a impor-se uma fase

de conteúdo técnico e metodológico. Um grande esforço, no sentido de racionalização

da ação do serviço social começa a se fazer notar.

A proposta filosófica e metodológica de desenvolvimento de comunidade

incorporada ao serviço social implicou num redimensionamento do processo de “ajuda”

psicossocial individualizada para a esfera das relações comunitárias, com ênfase na

participação popular como elemento de “integração” e “promoção social”.

A proposta acima mencionada constitui-se vinculada à chamada perspectiva

desenvolvimentista modernizadora, que marca as estratégias de expansão da hegemonia

norte-americana no continente Latino-Americano nos anos 50 e 60 alterando,

sobremaneira, o perfil pedagógico da prática do assistente social neste continente com a

inclusão de novos elementos que o reafirmam e o enriquecem.

As alterações apontadas redimensionam a prática profissional para além de

uma atitude inerente ao processo de “ajuda”, ressituando-a como esfera programática da

prática profissional, conformando um perfil pedagógico diferenciado, que reproduz no

interior da prática do assistente social o que Abreu traduz como “pedagogia da

participação” (Abreu, 2002, p. 85).

2.1 Prática do Assistente Social

Com o agravamento da questão social e as exigências postas pelo novo padrão

produtivo e de trabalho, linha de montagem nos moldes fordistas/tayloristas, o

profissional assistente social passa a assumir novas práticas de cunho educativo e

ressocializador, trabalhando com a conduta individual, familiar e política do trabalhador

e sua família, adequando às necessidades da produção e da reprodução social.

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As funções pedagógicas do profissional assistente social na época são

revertidas de práticas persuasivas e coercitivas, objetivando que as classes subalternas

aderissem à “nova ordem” do capital.

A prática do assistente social era usada como estratégia e mecanismo para

enquadramento político e moral das classes subalternas à nova ordem do capital.

A nova função assumida pelo assistente social era de estabelecer um

conformismo social de forma a adequar as classes subalternas ao processo ideológico

formador de um novo momento histórico, baseado na produção fordista/taylorista.

O fordismo apresenta-se como uma verdadeira arma política nas mãos

das classes dominantes contra a combatividade e a unidade operária

desenvolvendo a formação de um tipo de trabalhador coletivo, por

meio do qual se erigiu uma nova classe operária e uma nova classe

média (GRAMSCI, 1976 apud ABREU, 2002, p. 47).

O novo homem fordiano corresponde, na verdade, a um complexo humano (o

trabalhador coletivo), isto é, “componente de uma empresa como uma máquina que não

deve ser desmontada com frequência e ter suas peças renovadas constantemente sem

perdas ingentes” (GRAMSCI, 1976, p. 397-398 apud, ABREU, 2002, p. 47).

As novas exigências produtivas do capital exigem do profissional assistente

social, novas intervenções. Nesta linha de análise situo a referência de Harvey (1994)

em relação às funções dos assistentes sociais no processo de constituição do

americanismo, considerando os imperativos de organização e adequação da força de

trabalho à disciplina necessária à operação do sistema de linha de montagem de alta

produtividade, conforme segue:

Enviou um exército de Assistentes Sociais aos lares dos seus

trabalhadores, privilegiados (em larga medida imigrantes) para ter

certeza de que o novo homem da produção de massa tinha o tipo certo

de probidade moral, de vida familiar e de capacidade de consumo

prudente [isto é, não alcoólico] e racional para corresponder às

necessidades e expectativas da corporação (HARVEY, 1994, p. 122

apud ABREU, 2002, p. 48).

Formulação semelhante encontra-se em Gramsci (1976, p. 398) referente à

iniciativa de Ford “de intervir com um corpo de inspetores na vida privada de seus

dependentes e controlar a maneira como gastavam os salários e o seu modo de viver”.

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O assistente social emerge na sociedade capitalista moderna como um

intelectual profissional do tipo tradicional, no sentido gramsciano, considerando que a

institucionalização do serviço social como profissão na referida sociedade revela o seu

enraizamento nas “práticas sociais pré-capitalistas” (SIMIONATO, 1995, apud

ABREU, 2002, p. 48).

Embora a institucionalização do Serviço Social como profissão ocorra

na sociedade capitalista, tal fato não é suficiente para a configuração

do assistente social como intelectual orgânico, pois tem a assistência

social – atividade preexistente – como eixo principal da sua

organicidade nas relações sociais. Todavia, pode constituir-se como

intelectual orgânico na sociedade capitalista, desde que venha a

desempenhar funções que, traduzindo atividades essenciais para

determinada classe fundamental, referentes aos campos econômicos,

político e social, some a essa função o papel de organizador e

dirigente político (ABREU, 2002, p. 49).

Os intelectuais modernos (orgânicos) e os tradicionais, no sentido gramsciano,

são assim considerados em relação às funções que desempenham em certas condições e

em determinadas relações sociais para manter ou modificar uma concepção de mundo,

isto é, para promover certas maneiras de pensar e agir (GRAMSCI, 1976 apud ABREU,

2002).

2.2 A perspectiva da modernização vem responder a três necessidades

No primeiro momento de difusão da ideologia e modo de produção capitalista

destacou-se o “Programa Aliança para o Progresso”, estratégia do Governo Norte

Americano para expandir a hegemonia dos Estados Unidos sobre os países da América

Latina, forma de prevenir as ameaças do comunismo, materializado na Revolução

Cubana de 1959.

Em 1961 o presidente Kennedy, através de esforço cooperativo entre países

americanos, traça estratégias para atacar os problemas sociais nos países Latino-

Americanos garantindo o “bem-estar” da população. Para que se materializasse a

política de bem-estar social seria necessário acelerar o desenvolvimento econômico e

social dos países latinos.

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Os assistentes sociais latino-americanos são chamados para realizarem suas

práticas através da intervenção nas propostas de desenvolvimento da comunidade e

educação de base.

No segundo momento da Perspectiva da Modernização Conservadora foi

implementada no País no período de 1956 a 1964, durante o período

desenvolvimentista, que se situa os governos de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e

João Goulart e dos governos militares que comandaram o país de 1964 a 1985,

sustentados pela ideologia de Segurança Nacional e Desenvolvimento- momento de

ampla participação dos assistentes sociais junto às equipes interprofissionais.

O Terceiro Momento caracteriza-se pelo avanço profissional embasados numa

busca de novos instrumentos para intervenção profissional, que se consubstanciou na

elaboração dos documentos de Araxá e Teresópolis elaborados em 1967 e 1970.

Os referidos documentos retratam o esforço profissional na busca de novos

instrumentos que possam fundamentar a prática profissional do assistente social diante

das chamadas ideologias desenvolvimentistas e da Doutrina de Segurança Nacional.

A ideologia desenvolvimentista tinha como um de seus objetivos, superar o

subdesenvolvimento com a expansão da economia em moldes industriais associados às

mudanças culturais, com base em práticas educativas que garantissem mudanças nos

valores e costumes das classes subalternas tendo como elemento central a participação

popular.

Essas ideologias eram sustentadas numa visão funcionalista, onde o

crescimento econômico era a garantia para o desenvolvimento e para o bem-estar social

da população.

Nos governos de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart a

participação e mobilização popular serviram de instrumento de implementação de

mudanças, enquanto que durante o período da Ditadura Militar, a participação popular

servia de estratégia para legitimar o chamado Regime Ditatorial.

A Doutrina de Segurança Nacional e do desenvolvimento que se materializou

durante o regime militar, a partir de 1964 teve como norte orientações ideológicas do

Neoliberalismo que passam a regulamentar os governos da Nova República, momento

que o profissional assistente social se coloca a serviço desse projeto político

denominado de bem-estar social.

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Os documentos de Araxá e Teresópolis indicam que a prática social em

conformidade com o pensamento neotomista7 deve levar a população à tomada de

consciência dos problemas sociais e assim contribuir para o desenvolvimento do país.

Nesse ínterim, as funções pedagógicas desempenhadas pelos assistentes sociais

no âmbito da mobilização e participação popular, tinham como respaldo, a pedagogia

autoritária dominante difundida no projeto da modernização conservadora.

A instauração do Regime Militar em 1964 resultou num momento de grande

controle social como: fechamento dos canais de participação política, desmantelamento

das bases de organização e representação das classes subalternas, disseminação do

medo, prisões e torturas, acompanhados de amplos programas de assistência e

previdência social que reatualizam as estratégias de integração social, configurando a

chamada Segurança Social.

A Ditadura Militar entre seus mais relevantes motivos tinha como objetivos:

afastar as ameaças do comunismo, fortalecer o domínio do capitalismo, garantir

estabilidade política conveniente ao desenvolvimento do capital financeiro estrangeiro e

nacional.

Durante o Estado Ditatorial, a intervenção estatal em face da questão social,

utiliza-se das políticas sociais com a finalidade de minimizar as manifestações das

questões sociais como forma de controlar a classe operária.

Momento que se faz necessário a redefinição profissional, a reorientação da

função pedagógica do assistente social para atender as demandas do novo projeto de

intervenção estatal, estabelecido no documento de Araxá através das ações micro e

macro assistenciais, onde as funções relacionadas a macroatuação são aquelas

diretamente ligadas ao planejamento, enquanto que as concernentes à microatuação,

estão relacionados à prestação direta de serviços numa perspectiva de desenvolvimento

integral do homem.

Duas são as propostas de intervenção profissional, sendo a primeira orientada

com base na corrente estrutural funcionalista, onde o serviço social se volta para o

desenvolvimentismo e a segunda, orientada pelo pensamento fenomenológico, com

destaque para a subjetividade.

7 Consiste numa retomada da filosofia expressa por Santo Tomás de Aquino, no século XIII (AGUIAR,

2011, p. 56).

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2.2.1 Pedagogia da Ajuda

A função pedagógica da prática profissional dos assistentes sociais teve início

no processo de institucionalização do serviço social tanto na Europa como nos Estados

Unidos, na primeira metade deste século, vinculada ao processo de organização da

cultura dominante, fundada numa visão psicologista da questão social reduzida as

manifestações individuais onde a intervenção do assistente social se consubstancia na

ajuda psicossocial individualizada, traduzindo assim, a prática dos assistentes sociais na

referida fase do desenvolvimento profissional.

Tanto na vertente americana como européia, a assistência social utiliza-se de

bases técnico-científicas para o desenvolvimento do processo de “ajuda” psicossocial

individualizada. Tal necessidade se deu pelo agravamento da questão social e pelas

exigências de enfrentamento da mesma para atender as manifestações das questões

sociais decorrentes do processo de acumulação do capital. Marco principal do

desenvolvimento da função pedagógica do assistente social centrada na dimensão

individual, na reforma moral e reintegração social.

Na década de 40, a vertente norte-americana difundiu-se no Brasil e em toda a

América Latina, como parte da estratégia do movimento (Pan-Americanista Monroista),

momento que os Estados Unidos organizam sua hegemonia nos países latino-

americanos. O referido movimento parte da criação de vários organismos internacionais

como: TIAR (Tratado Inter-Americano de Assistência Recíproca) e Organização dos

Estados Americanos (OEA)- em 1947. “Tais organismos são considerados como

principais instâncias de mediação dos nexos e compromissos da crescente dependência

latino-americana ao domínio econômico e político da potência norte-americana”

(CASTRO, 1984 apud ABREU, 2002, p. 85).

A OEA (Organização dos Estados Americanos), através da criação do

Departamento Social, desenvolve a influência norte-americana, na prática e na

organização dos assistentes sociais latino-americanos, através da base técnica dos

métodos de caso, grupo e comunidade e posteriormente com a proposta de

desenvolvimento de comunidade. Além de fornecer bolsas de estudos para assistentes

sociais latino-americanos cursarem pós-graduação nos Estados Unidos.

Como analisa Abreu (2002, p. 85):

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O desenvolvimento do processo de “ajuda” psicossocial

individualizado no serviço social, parte do ponto de vista de que a

questão social reduzida às suas manifestações na esfera individual –

constitui-se um problema moral, justificando uma intervenção via

assistência social individualizada de cunho moralizador, direcionada

para a reforma moral e a reintegração social.

Com base nas formulações de Mary Richmond, em Diagnóstico Social (1950),

a função pedagógica do assistente social vinculada às estratégias de reforma moral e

reintegração social centra-se nos procedimentos e instrumentos pedagógicos como:

inquérito, observação, entrevista e visita domiciliar. Tais instrumentos eram utilizados

na elaboração do diagnóstico social do indivíduo considerado necessitado.

De acordo com o Livro de Richmond, Caso Social Individual (1917), o

indivíduo considerado necessitado precisava de tratamento prolongado e intensivo, para

desenvolver a personalidade de forma a ser reajustado ao seu meio social. Neste sentido,

a ajuda psicossocial acontece a partir da adaptação e ajustamento do indivíduo à

sociedade. Um ponto fundamental é a tendência à naturalização da vida social, onde as

desigualdades sociais são justificadas como uma condição inerente à pessoa humana. As

relações sociais são características inscritas na natureza (divina ou inconsciente).

É importante salientar que, “todas as religiões ensinam que o mundo, a

natureza, o universo, foi criado por Deus antes da criação do homem” (GRAMSCI,

1978 apud ABREU, 2002, p. 91).

“A questão social para a Igreja Católica, conforme a análise gramsciana, é

antes de tudo, questão moral e religiosa, não econômica, devendo ser resolvida por

intermédio da caridade cristã e dos ditames da moral e do juízo da religião”

(GRAMSCI, 1978, apud ABREU, 2002, p. 91).

A posição tomada pela concepção católica em se tratando da “pobreza” tornou-

se meramente força divina, não tendo relação nenhuma com os componentes

econômicos e também envolve os seguintes pontos para explicar o problema:

1) a propriedade privada, especialmente a terra, é um “direito natural”

que não pode ser violado nem mesmo por intermédio da cobrança de

altos impostos [derivam deste princípio os programas políticos das

tendências democrata-cristãs de distribuição da terra aos camponeses

com o pagamento de indenizações, e suas doutrinas financeiras]; 2) os

pobres devem-se contentar com a sorte, pois as diferenças de classe e

a distribuição da riqueza são disposições de Deus, e seria ímpio

procurar eliminá-las; 3) a esmola é um dever cristão e implica a

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existência da pobreza (GRAMSCI, 1976, p. 281 apud ABREU, 2002,

p. 91).

Com base na análise gramsciana, o assistente social é requisitado para

desempenhar ações pedagógicas e intelectuais conformistas sobre a classe trabalhadora.

Necessidade imposta pelo padrão fordista/taylorista, modo de produção capitalista.

No continente latino-americano, sobretudo no Brasil, as técnicas e

metodologias usadas nas intervenções, eram totalmente divorciadas da nossa realidade.

Tais técnicas interventivas foram copiadas de centros avançados como Inglaterra e

Estados Unidos, quando tais países, lograram construir as experiências do chamado

“Welfare State”, técnicas distanciadas das necessidades que desencadearam as questões

sociais no contexto brasileiro.

No Brasil, embora de forma precária, o Estado cria algumas políticas sociais

que de forma fragmentada atende parte das necessidades apresentadas pelas classes

subalternas; esse processo pedagógico de “ajuda” como assinara Abreu (2002, p. 97) “se

trata de prática assistencialista caritativa, moeda de troca das relações sociais entre

dominantes e dominados”.

Na década de 40, a prestação da assistência no Brasil se deu no momento que o

Estado cria a (LBA), Legião Brasileira de Assistência, como mecanismos para o

controle das classes sociais, reproduzida como filantropia estatal.

Essa mesma década foi marcada como momento de Institucionalização do

Serviço Social Brasileiro.

2.2.2 Pedagogia da Participação

A Pedagogia da “Participação” caracteriza-se como sendo a prática realizada

por assistentes sociais, por ocasião das propostas do desenvolvimento de comunidade,

introduzidas no Brasil pelos Estados Unidos, em um momento denominado de Ideologia

Desenvolvimentista Modernizadora.

O Desenvolvimentismo intensifica-se no continente latino-americano, a partir

dos anos 50 e 60, modelo utilizado e imposto pelos Estados Unidos da América, para

estruturar as relações capital e trabalho, diante da crise do capital na época.

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Nesta análise Abreu (2002, p. 106-107) aponta a Pedagogia da Participação

como:

Ponto de partida para a prática profissional do Assistente Social,

impulsionando alterações no perfil pedagógico, a partir de um

rearranjo da função educativa deste profissional, através:

psicologização das relações sociais; manipulação material e ideológica

de necessidades sociais e recursos institucionais via estratégias de

assistência social; e, combinação entre processos persuasivos e

coercitivos para a obtenção da adesão e do consentimento ao “novo”

ordenamento econômico e social sob o domínio do capital.

As experiências do desenvolvimento de comunidade implementados pelos

países latino-americanos a partir dos anos 50 no Brasil, enfatizam a participação popular

nos programas governamentais, estratégias utilizadas pelo governo com o apoio dos

Estados Unidos, objetivando conter as ameaças do comunismo nesse contexto.

As estratégias desenvolvimentistas modernizadoras, criadas para garantir os

interesses dos Estados Unidos, fortalecendo sua hegemonia financeira, utilizam-se de

ajuda aos países latino-americanos, como forma de garantir melhorias nas condições de

vida e eliminação da pobreza.

Conforme Ammann (1980, p. 29) apud Abreu (2002, p. 109):

A pobreza é um entrave e uma ameaça para essas populações (pobres)

como para as áreas mais prósperas; de que na atual luta ideológica, os

povos famintos têm mais receptividade para a propaganda Comunista

Internacional do que as nações prósperas, de que o esforço de ajudar

os povos a alcançar um nível de vida mais sadio e mais

economicamente produtivo eliminaria os focos do Comunismo em

potencial, de que a melhoria das condições sociais e econômicas em

qualquer parte do mundo livre redundaria em benefícios dos Estados

Unidos.

As décadas de 50 e 60 foram fundamentais para que os assistentes sociais dos

países latino-americanos adequassem a prática profissional às necessidades reais

apresentadas pela América Latina, momento que culminou num amplo processo de

redimensionamento profissional denominado “Movimento de Reconceituação do

Serviço Social na América Latina”. (1980, p. 29) apud Abreu (2002, p. 109)

O Movimento de Reconceituação foi fundamental no redimensionamento do

perfil pedagógico da prática do Assistente Social no continente, onde parte dos

profissionais integrou-se ao processo de modernização conservadora, outros

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profissionais vincularam-se profissionalmente ao projeto de hegemonia da classe

subalterna, lutando pela construção de uma nova sociedade alternativa ao capitalismo.

Motivo que também influenciou o Movimento de Reconceituação foi a

Revolução Cubana no ano de 1959.

O Movimento se fortaleceu no momento de amplo processo marcado por

movimentos progressistas, denominado de Consciência Nacional Popular, que

ocorreram no Brasil nos anos 50 e metade dos anos 60 como: Movimento de Educação

de Base (MEB), vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),

Centros Populares de Cultura (CPCS), ligados a União Nacional dos Estudantes (UNE)

e o Movimento de Cultura Popular (MCP) criado na época pela Prefeitura do Recife

(PE) sob a administração de Miguel Arraes. Os instrumentos e princípios utilizados para

a conscientização dos setores populares fundamentaram-se nas propostas pedagógicas

assinadas por Paulo Freire. O referido Movimento foi interrompido pelo Golpe Militar

de 1964.

O redimensionamento do projeto profissional na década de 60 foi motivado

pela difusão da ideologia e do modo de produção capitalista na sua fase monopólica,

onde através do programa “Aliança para o Progresso”, que foi criado como mecanismo

para a expansão da hegemonia dos Estados Unidos nos países da América Latina, tinha

por objetivo acelerar o desenvolvimento econômico e social dos países latino-

americanos, como instrumento de controle político face à ameaça do comunismo.

Outros motivos também contribuíram para as adequações da profissão.

Estratégias usadas no chamado período desenvolvimentista, que compreendeu os anos

de 1956 a 1964, cujos Presidentes da República foram: Juscelino Kubitschek (JK), Jânio

Quadros (JQ) e João Goulart (JG). Para esses governos, o desenvolvimento, a

participação popular, significava estratégias de implementação de mudanças. Os

governos militares que comandaram o país de 1964 a 1985, durante a chamada

Ideologia da Segurança Nacional e Desenvolvimento, compreendem o período da

Ditadura Militar que restringem os canais de participação popular.

A categoria profissional buscava como parte de seus objetivos históricos,

contribuir na geração do bem-estar coletivo e na superação do atraso desenvolvendo

instrumentos de intervenção próprios e compatíveis com um enfoque global.

Em 1967 e 1970 foram realizados respectivamente por assistentes sociais

brasileiros, os Seminários Nacionais de Teorização do Serviço Social denominados de

Araxá e Teresópolis, que buscavam a adequação da metodologia do serviço social às

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reais necessidades apresentadas pelo contexto social latino-americano, sobretudo no

Brasil.

A reformulação do serviço social, com base em Araxá e Teresópolis, foi para

atender aos objetivos de melhor servir a pessoa humana e a sociedade, tendo por

objetivo levar as pessoas a tomarem consciência dos problemas sociais, contribuindo

para o desenvolvimento do país.

2.2.3 Serviço Social e a Construção de uma Pedagogia Emancipatória

Momento marcado pela redefinição profissional no continente latino-

americano como enfrentamento da crise profissional que se acentua a partir dos anos 60,

demarcada pelas lutas sociais e processos revolucionários existentes nas décadas de 50 a

70.

A categoria profissional formada por assistentes sociais exige um

redimensionamento do projeto profissional, haja vista a agudização vivenciada pelas

classes subalternas, tornando-se evidente a necessidade da construção de um projeto

profissional, com vistas à formação de uma nova ordem social. Esse novo projeto

profissional envolve a formação social e a produção intelectual.

Conforme Abreu (2002, p. 129), “esse momento profissional é denominado de

Pedagogia Emancipatória que substanciou na década de 70”. Esse momento é

demarcado pelo movimento de reconstrução e pelo amplo movimento da Teologia da

Libertação que, segundo Lowy (1991, p. 39 apud ABREU, 2002, p. 131), “a expressão

legitimação de um vasto movimento social, que surgiu no início dos anos 60 [...] que se

poderia batizar de Cristianismo para a Libertação”.

A Teoria da Libertação consegue estabelecer uma relação entre cristianismo e

marxismo, refletindo sobre as relações de exploração e dominação, características da

sociedade capitalista. Momento que conclamam os cristãos para lutarem pelo socialismo

no continente.

Tal qual um segredo dos Deuses, a burguesia pretendia, portanto,

ocultar dos trabalhadores a lógica do capitalismo, assim como

desejava gerar a ilusão de que o mundo burguês era a estrutura

definitiva e o capitalismo, um momento privilegiado da história, o

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momento em que “o céu desceu sobre a terra” (HEGEL, 1941, p. 343

apud MARTINELI, 2009, p. 67).

As lutas sociais são revitalizadas no final dos anos 70, quando, em termos

mundiais, as bases de sustentação do chamado Welfare State avançam em seu processo

de esgotamento, e consolidam-se as saídas capitalistas sob a orientação neoliberal à

crise estrutural do capital, alternativa hegemônica em todo o mundo na atualidade.

Os assistentes sociais empenhados na reelaboração dos fundamentos teóricos e

metodológicos norteadores da prática profissional conseguem na década de 70 a

elaboração do Projeto Ético-político Profissional que tem por objetivo ajudar a classe

trabalhadora na efetivação de seu projeto contra-hegemônico ao capital.

Diante da agudização da classe trabalhadora, a categoria profissional dos

assistentes sociais se posicionou assumido um compromisso com essa classe, mediante

a elaboração do projeto ético-político da profissão, que se trata de um conjunto de

valores e concepções éticas-políticas, por meio das quais, diversos setores significativos

da categoria se expressaram, tornando-o representativo e hegemônico.

O projeto ético-político da categoria profissional dos assistentes sociais se

estruturou no reconhecimento da liberdade como valor central, no compromisso com a

autonomia, emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais, vinculado a um

projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social.

Do ponto de vista político, o projeto ético-político se posiciona em favor da

equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização dos direitos, ampliação e

consolidação da cidadania.

O projeto ético político da profissão se materializa através da produção de

conhecimento no interior da profissão, através das produções teóricas, e entidades

representativas da categoria como: CFESS/CRESS, ABEPSS, ENESSO, Movimento

Estudantil e outros.

A prática profissional do assistente social na década de 70 se fundamentou nas

ideias freirianas, com destaque para a sua pedagogia do oprimido e seu método, quando

defende a educação como prática da liberdade, dizendo que a pedagogia do oprimido,

como pedagogia humanista e libertadora, teria, pois dois momentos distintos, ainda que

inter-relacionados. O primeiro no qual os oprimidos vão desvelando o mundo da

opressão e vão comprometendo, na práxis, com sua transformação, e, um segundo em

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que, uma vez transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser oprimida

e passa a ser a pedagogia dos homens no processo de permanente libertação.

As ideias freirianas nortearam a prática profissional do assistente social,

sobretudo, na década de 70, quando no Brasil em função das aceleradas mudanças

decorrentes do capitalismo desencadearam o aumento considerável das injustiças e

desigualdades sociais.

No final da década de 70, a prática profissional dos assistentes sociais foi

redimensionada ao lado dos movimentos populares, participou dos Movimentos de

Educação de Base, momento que a obra freiriana serviu como marco teórico e prático,

como proposta de educação popular libertadora, que defende uma educação popular

contra-hegemônica, onde não basta ao indivíduo aprender a ler a realidade, mas acima

de tudo, ter por meta modificá-la, o que não se faz sem lutas.

Nessa perspectiva de construção de prática profissional assentada em

princípios democráticos, a educação popular8 passa a ser um dos instrumentos dessa

prática profissional.

As propostas de educação popular apontavam alternativas pedagógicas para o

trabalho social junto às classes menos favorecidas na direção à produção de uma cultura

orgânica de classe, utilizada como instrumento de organização popular junto a vários

segmentos sociais como: Comunidades Eclesiais de Base, Movimentos Sociais e outros.

O assistente social se propõe a trabalhar com as classes populares de forma co-

participante, contribuindo para um saber popular como forma de resistência ao processo

hegemônico das classes dominantes.

A intervenção profissional realizada juntamente com os segmentos sociais

citados, foi historicamente contraditória à prática do assistente social, pois até então essa

prática profissional se colocava a serviço do fortalecimento do capital. A partir da

década de 70, essa prática foi redirecionada para articular juntamente com as classes

populares a conquista da garantia e a universalização dos seus direitos, fundados em

princípios democráticos de gestão pública e de justiça social.

Nessa ótica, os profissionais assistentes sociais atrelados a grupos,

comunidades, trabalhadores rurais e urbanos, dirigentes e militantes de movimentos

8 A educação popular constitui uma prática referida ao fazer e ao saber das organizações populares, que

busca fortalecê-la enquanto sujeitos coletivos, e assim, contribuir através de sua ação-reflexão ao

necessário fortalecimento da sociedade civil e das transformações requeridas, tanto para a construção

democrática de nossos países, como para o desenvolvimento econômico com justiça social (CEAAL,

1994, p. 63 apud WANDERLEY, 2010, p. 25).

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sociais e outros, articularam meios para a tomada de consciência, bem como, para

aprenderem a lutar pela efetivação dos direitos sociais.

Tais conquistas foram incorporadas na constituição federal de 1988, resultado

de um processo que envolveu a participação de vários segmentos organizados que foram

incorporados sob a forma de direitos sociais garantidos pelo Estado, que influenciou

positivamente no processo de construção do projeto ético-político do profissional

assistente social.

Com a ofensiva neoliberal e o agravamento da questão social, apontam a

necessidade de análise da função pedagógica da prática profissional do assistente social

na sociedade brasileira.

A partir dos anos 70, com a crise e esgotamento do padrão fordista/keynesiano

de produção, cujas saídas neoliberais exigem uma nova ordem capitalista de

precarização nas condições de vida e de trabalho das classes subalternas, marcado pela

crescente redução da intervenção estatal no atendimento das necessidades sociais das

classes subalternas, processo que vem se efetivando com a política de privatização

assumida pelas estratégias neoliberais de descentralização administrativa. Principal pilar

do chamado Estado mínimo, luta do neoliberalismo contra a efetivação dos direitos

sociais.

O princípio da universalização dos direitos não passa de uma verdadeira falácia

sob a ordem do capital, como exemplo, citamos os Benefícios de Prestação Continuada,

consubstanciado na Lei Orgânica da Assistência Social, que são disponibilizados a

partir de atendimento residual, focalista e restritivo. Exigindo do profissional assistente

social uma prática com rigor, direcionada para a seletividade e elegibilidade, atingindo

apenas uma parcela dos segmentos mais vulnerabilizados dos idosos e deficientes. Fica

evidente a ausência da inscrição desses usuários no campo dos direitos sociais.

Com a ofensiva neoliberal é visível a precarização do trabalho profissional do

assistente social através de terceirização, contratos temporários, assessorias,

consultorias, sem registro em carteira de trabalho, sem garantias trabalhistas e com

baixa remuneração.

Por um lado, o Estado é o maior empregador dos profissionais assistentes

sociais, por outro lado a prática profissional vem sendo requisitada para atuar em

experiências que integram o chamado terceiro setor, essa prática vem sendo

desenvolvida em instituições filantrópicas, caritativas, ONGs, organizações da

sociedade civil, financiadas com repasses públicos. Com tal prática, verifica-se a

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estratégia do Estado em focalizar as necessidades na esfera individual em detrimento da

universalização dos direitos, contribuindo para ocultar a desresponsabilização do poder

estatal com a questão social, cujo agravamento se deu com o neoliberalismo.

Neoliberalismo é a resposta à crise do capitalismo decorrente da expansão da

intervenção do Estado, antagônica à forma de mercadoria, ainda que necessária para

sustentá-la. Após alguns anos de diagnóstico, toma forma no final da década de 1970

com o 'Reaganismo' e 'Thatcherismo', e consiste essencialmente em uma tentativa de

recompor a primazia, e recuperar o âmbito da produção de mercadorias. Renegando as

formas sociais democratas que acompanham o estágio intensivo, nega a crise estrutural

e histórica do capitalismo e se volta às origens desse, do tempo do liberalismo, daí o

nome de neoliberalismo.

Na década de 90, com a dominância da cultura pós-moderna, o serviço social

vivencia momento de enfrentamento às influências pós-modernas, que se trata de

combate contra a teoria social de Marx, havendo uma verdadeira simplificação em

relação à tradição crítico-dialética, com o intuito de questionar e demonstrar a

insuficiência do marxismo dar conta dos novos cenários, dos fenômenos emergentes na

sociedade contemporânea.

Os questionamentos e formulações de autores que não se colocam no interior

da tradição marxista, contribuem para o fortalecimento do pensamento pós-moderno,

que tende a desvalorizar a direção apontada pelo projeto profissional e sua mediação na

esfera da ética.

A cultura pós-moderna aponta as alterações vivenciadas na sociedade

contemporânea, afirmando o esgotamento do projeto ético político da profissão, sendo

que as teorias que o fundamenta, não conseguem mais explicar as necessidades da

sociedade atual.

O momento em pauta implica em redefinições e reposicionamentos das práticas

sociais nas suas várias dimensões (interventiva, teórica, político-organizativa e

formativa), de forma a retomar o movimento histórico de luta das classes subalternas na

direção da construção de uma nova sociabilidade de uma nova cultura.

O próximo capítulo mostra a análise da intervenção estatal, diante da questão

da habitação de interesse social no Brasil, bem como do direito social de habitação,

garantido no texto constitucional de 1988 e como esse direito vem sendo materializado

pelo Estado, nas suas esferas, federal, estadual e municipal.

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3 HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL

Ermínia Maricato, professora da Universidade de São Paulo (USP) , resume

bem a grandiosidade da dívida social com as populações mais pobres no que se refere à

habitação:

Diferentemente de pão, automóvel, medicamentos, a habitação é uma

mercadoria especial. Parte dessa complexidade deriva da sua relação

com a terra. Cada moradia urbana exige um pedaço de terra para sua

realização. E não se tratará de terra nua. Trata-se de terra urbanizada,

isto é, terra ligada às redes de água, energia, esgoto, drenagem,

transporte coletivo além de equipamentos de educação, saúde,

abastecimento etc. [...] Trata-se, portanto, de um pedaço de cidade. No

Brasil, a maioria da população urbana de baixa renda está excluída da

cidade formal. Não é por outro motivo que são ilegais entre 30% e

50% das moradias nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto

Alegre e Belo Horizonte. A partir de Salvador rumo ao nordeste e

norte essa proporção aumenta. Excluída do mercado privado legal que

monopoliza as boas localizações, a população de baixa renda ocupa o

que sobra: mangues, várzeas, morros, dunas, matas etc., estendendo-se

ilegalmente por uma imensa periferia. Nem a metrópole de Curitiba

escapa e esse destino. Na área de Proteção dos Mananciais moram 2

milhões de pessoas ao sul na metrópole paulistana (MARICATO,

2009 apud ARAÚJO, 2009, p. 158-159).

Nem mesmo a Constituição de 1988 enfrentou concretamente o problema de

habitação, que somente passou a integrar o rol dos direitos sociais a partir de uma

Emenda Constitucional de 2000. Portanto, temos no Brasil uma herança perversa em

termos de habitação, que somente nos últimos anos passou a ser enfrentada com o

governo Lula, com a retomada dos investimentos em saneamento básico, em 2003, e em

habitação, a partir de 2005.

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3.1 O Estatuto da Cidade

O Estatuto da Cidade, aprovado em 2001, regulamentou os artigos 182 e 183

na Constituição Federal de 19889. Como se vê, foram necessários treze anos para que

fosse regulamentada a política urbana.

Nas diretrizes gerais do Estatuto da Cidade, ficou previsto que a política urbana

tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da

propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais, conforme análise de Araújo

(2009, p. 159-160):

a) garantia do direito a cidades sustentáveis, entendida como o direito à terra

urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos

serviços públicos, ao trabalho e ao lazer para as presentes e as futuras gerações;

b) gestão democrática por meio da participação da população e de associações

representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e

acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

c) cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da

sociedade no processo de urbanização;

d) planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da

população e das atividades econômicas do município e do território sob sua área de

influência;

e) oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços

públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características

locais;

f) ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a utilização

inadequada dos imóveis urbanos; a proximidade de usos incompatíveis ou

inconvenientes; o parcelamento do solo, e edificação ou o uso excessivo ou inadequado

em relação à infraestrutura urbana; a instalação de empreendimentos ou atividades que

possam funcionar como pólos geradores de trafego, sem previsão da infraestrutura

9 Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme

diretrizes gerais fixadas em lei têm por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da

cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Art. 183 - Aquele que possuir como sua área urbana de

até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-

a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro

imóvel urbano ou rural (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. 27. ed. São Paulo:

Saraiva, 2009).

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correspondente; a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua

subutilização ou não utilização; a deterioração das áreas urbanizadas; a poluição e a

degradação ambiental;

g) adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão

urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do

município e do território sob sua área de influência;

h) proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído,

do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagismo e arqueológico;

i) regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de

baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso,

ocupação do solo e edificação, considerada a situação socioeconômica da população e

as normas ambientais.

O Estatuto da Cidade definiu também os instrumentos de política urbana.

Podem ser utilizados, conforme análise de Araújo (2009, p. 160):

a) planos nacionais, regionais e estatuais de ordenação do território e de

desenvolvimento econômico e social;

b) planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e

microrregiões;

c) planejamento municipal, em especial: plano diretor; disciplina do

parcelamento, do uso e da ocupação do solo; zoneamento ambiental; plano plurianual;

diretrizes orçamentárias e orçamento anual; gestão orçamentária participativa; planos,

programas e projetos setoriais; planos de desenvolvimento econômico e social;

d) institutos jurídicos e políticos: desapropriação; tombamento de imóveis ou

de mobiliário urbano; instituição de unidades de conservação; instituição de zonas

especiais de interesse social; concessão de uso especial para fins de moradia;

parcelamento, edificação ou utilização compulsória; usucapião especial de imóvel

urbano; outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; transferência do

direito de construir; regularização fundiária; assistência técnica e jurídica gratuita para

as comunidades e grupos sociais menos favorecidos; demarcação urbanística para fins

de regularização fundiária; legitimação de posse; estudo prévio de impacto ambiental

(EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).

Um instrumento fundamental de política urbana é o plano diretor, o qual prevê

que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências

fundamentais de ordenação da cidade nele expressas, assegurando o atendimento das

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necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao

desenvolvimento das atividades econômicas. O plano diretor, aprovado por lei

municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. O

plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o

plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporam as

diretrizes e as prioridades nele contidas.

A lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez

anos. No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua

implementação, os poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão: a promoção

de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações

representativas dos vários segmentos da comunidade; a publicidade quanto aos

documentos e informações produzidas; o acesso de qualquer interessado aos

documentos e informações produzidas.

O plano diretor é obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes;

integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; onde o poder público

municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4º do artigo 182 da

Constituição Federal; integrantes de áreas de especial interesse turístico; inseridas na

área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto

ambiental de âmbito regional ou nacional.

3.2 Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS)

O FNHIS é parte integrante do Sistema Nacional de Habitação de Interesse

Social (SNHIS), que foi criado com o objetivo de: a) viabilizar para a população de

menor renda o acesso a terra urbanizada e a habitação digna e sustentável; b)

implementar políticas e programas de investimentos e subsídios, promovendo e

viabilizando o acesso à habitação voltada à população de menor renda; c) articular,

compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições e órgãos que

desempenham funções no setor da habitação.

A estruturação, a organização e a atuação do SNHIS devem observar as

seguintes diretrizes: a) prioridade para planos, programas e projetos habitacionais para a

população de menor renda, articulados no âmbito federal, estadual, do Distrito Federal e

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municipal; b) utilização prioritária de incentivo ao aproveitamento de áreas dotadas de

infraestrutura não utilizadas ou subutilizadas, inseridas na malha urbana; c) utilização

prioritária de terrenos de propriedades do Poder Público para a implantação de projetos

habitacionais de interesse social; d) sustentabilidade econômica, financeira e social dos

programas e projetos implementados; e) incentivo à implementação dos diversos

institutos jurídicos que regulamentam o acesso à moradia; f) incentivo à pesquisa,

incorporação de desenvolvimento tecnológico e de formas alternativas de produção

habitacional; g) adoção de mecanismos de acompanhamento e avaliação de indicadores

de impacto social das políticas, planos e programas; h) estabelecer mecanismos de cotas

para idosos, deficientes e famílias chefiadas por mulheres entre o grupo identificado

como o de menor renda (ARAÚJO, 2009, p. 161-162).

Foi criado o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), de

natureza contábil, com o objetivo de centralizar e gerenciar recursos orçamentários para

os programas estruturados no âmbito do SNHIS, destinados a implementar políticas

habitacionais direcionadas à população de menor renda. As aplicações dos recursos do

FNHIS serão destinadas a ações vinculadas aos programas de habitação de interesse

social que contemplem: a) aquisição, construção, conclusão, melhoria, reforma, locação

social e arrendamento de unidades habitacionais em áreas urbanas e rurais; b) produção

de lotes urbanizados para fins habitacionais; c) urbanização, produção de equipamentos

comunitários, regularização fundiária e urbanística de áreas caracterizadas de interesse

social; d) implantação de saneamento básico, infraestrutura e equipamentos urbanos,

complementares aos programas habitacionais de interesse social; e) aquisição de

materiais para construção, ampliação e reforma de moradias; f) recuperação ou

produção de imóveis em áreas encortiçadas ou deterioradas, centrais ou periféricas, para

fins habitacionais de interesse social; g) outros programas e intervenções na forma

aprovada pelo Conselho Gestor do FNHIS (ARAÚJO, 2009, p. 162).

3.3 Programa Minha Casa, Minha Vida

Lançado no ano de 2009, pelo governo Lula, o programa Minha Casa, Minha

Vida garante um impulso à habitação como fator de inclusão social. O último grande

esforço de construção de moradias se deu na década de 1970, com a construção pelo

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BNH (Banco Nacional de Habitação) de 04 milhões de moradias voltadas especialmente

para a classe média, fator que pesou muito no apoio desse segmento social à ditadura

militar. Depois de mais de três décadas, o governo Lula voltou a investir novamente em

habitação.

O programa Minha Casa, Minha Vida se propõe a construir 1 milhão de novas

moradias, agora com maior prioridade para a população de baixa renda. Pela primeira

vez se concedem subsídios importantes do Orçamento Geral da União (OGU), para as

famílias com renda de 0 a 03 salários mínimos, no valor de mais de R$ 16 bilhões. As

condições fixadas pelo programa para as famílias beneficiadas são as seguintes: a) não

ter sido beneficiado anteriormente em programas de habitação social do governo; b) não

possuir casa própria ou financiamento em qualquer unidade da Federação; c) estar

enquadrada na faixa de renda familiar do programa; d) pagamento de 10% da renda

durante dez anos, com prestação mínima de R$50,00, corrigida pela taxa de referência e

registro do imóvel em nome da mulher; e) sem entrada e sem pagamento durante as

obras; f) sem cobrança de seguro por Morte e Invalidez Permanente (MIP) e Danos

Físicos do Imóvel (DFI); g) a escritura e demais atos relativos ao primeiro imóvel são

gratuitos (ARAÚJO, 2009, p. 162-163).

O Programa Minha Casa, Minha Vida deve ser visto como um primeiro passo

num processo de investimento maciço em habitação de interesse social nos próximos

anos. Esse programa amplia o acesso à habitação e, mais importante que isso: coloca a

questão da moradia no centro da agenda política nacional. Temos no Brasil um déficit

habitacional da ordem de 7,2 milhões de moradias, d esse total, 90,9% são de famílias

na faixa de 0 a 3 salários mínimos (6,555 milhões de moradias). Assim, o Minha Casa,

Minha Vida, com previsão de construção de 400 mil unidades para a faixa de baixa

renda, só ataca 6% do total do déficit das camadas mais pobres da população. Por isso,

entendemos que a questão da habitação de interesse social deve ocupar um lugar

privilegiado na agenda política nacional de inclusão social de imediato e nos próximos

anos.

O próximo item tem por objetivo mostrar como o município de Carvalhópolis

(MG), vem se organizando para eliminar o déficit habitacional existente.

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3.4 Programa Habitacional de Interesse Social realizado no município de

Carvalhópolis (MG)

A fim de proporcionar melhor conhecimento sobre o Programa Habitacional de

Interesse Social pesquisado, apresento inicialmente um resumo das atividades onde

observaremos a cronologia do Programa Habitacional Jardim Bela Vista II, no

município de Carvalhópolis (MG), conforme segue:

Em 2005 foi aprovada a Regulamentação da Lei Municipal 915 de 08/07/2005,

para efeitos de aquisição de habitação, para cidadão ou famílias em situação de

vulnerabilidade social, posteriormente realizou-se a inscrição e seleção dos

beneficiários, seguido da elaboração do Projeto de Trabalho Técnico Social,

Em dezembro de 2005 foi criada a Lei Municipal que regulamentou o

Conselho Municipal de Habitação.

Em janeiro de 2006 realizou-se a eleição e posse dos membros representantes

do Conselho Municipal de Habitação e iniciaram as obras.

A entrega dos imóveis para os beneficiados se deu em janeiro de 2009.

A implantação do Programa de Habitação de Interesse Social teve seu início

em maio/2005, através do setor de Assistência Social do Município de Carvalhópolis

(MG), sob minha responsabilidade técnica, foi elaborado o Programa de Habitação

Social Bela vista II, programa esse que contemplou 26 (vinte e seis famílias) com

unidades habitacionais.

A administração municipal mediante realização de estudo diagnóstico detectou

demanda considerável de déficit habitacional. Visando atender as necessidades

apresentadas, buscou-se parcerias através do Ministério das Cidades e Caixa Econômica

Federal, realizou-se convênio CCFGTS, através da Resolução 460 que teve como

objetivo captar recursos para aquisição de lotes e construção de 26 unidades

habitacionais no município.

A Lei Municipal 915 de 08 de Julho de 2005, dentre outros conteúdos,

estabeleceu os critérios para concessão de moradias, devendo o programa habitacional

atender cidadãos e famílias nas seguintes situações: ser morador de prédio público, ter

maior número de filhos, existência de idosos e pessoa deficiente na família, família

residente em área considerada de risco, mulher chefe de família, chefe de família idoso,

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não ter sido beneficiado em programa habitacional, não possuir imóvel urbano ou rural,

renda familiar de um salário mínimo, ser morador do município a mais de três anos.

Como critérios de desempate, a referida lei regulamentou: priorizar famílias

residentes em área de risco (lixões, encostas, alagados, outros), famílias chefiadas por

mulheres, famílias que apresentassem maior número de dependentes (menores, idosos e

deficientes), que tivessem maior tempo de residência no município, famílias cujo chefe,

tivesse maior idade.

O processo de inscrição para obtenção da unidade habitacional teve seu início

em Julho de 2005 e as inscrições foram realizadas pela Secretária Municipal de

Assistência Social. Após tal processo realizou-se a seleção dos beneficiários, quando

foram selecionadas 26 famílias, conforme critérios previamente estabelecidos pelo

Decreto Municipal, Lei 915 de 08 de Julho de 2005, que constam nos anexos deste

trabalho.

Aos vinte e cinco dias do mês de Julho de 2005, o então Prefeito Municipal Sr.

José Alfredo de Carvalho, na presença das famílias beneficiadas pelo referido programa,

recebeu no município, equipe da Caixa Econômica Federal, assinando, então, o Termo

de Cooperação Técnica entre Prefeitura Municipal e Caixa Econômica Federal. Como

condição para assinatura do Termo de Cooperação Técnica a Caixa Econômica Federal

fez as seguintes exigências: acompanhamento do Trabalho Técnico Social e Trabalho

Técnico de Engenharia.

O Trabalho Técnico Social foi realizado durante todo o empreendimento,

iniciando-se com a realização do cadastro de inscrição dos interessados na aquisição da

unidade habitacional, seguido de elaboração do projeto Social, coordenação do projeto

social, seleção dos beneficiários, trabalho socioeducativo com as famílias beneficiadas

conforme demonstrado no projeto técnico abaixo, elaboração dos relatórios sociais,

enviados mensalmente para a Caixa Econômica Federal, avaliação e monitoramento do

projeto, finalizando com o acompanhamento durante a pós-ocupação e inserção dos

beneficiários na moradia.

O trabalho socioeducativo realizado pelo assistente social é pautado numa

prática profissional de caráter social e educativo que trabalha com comportamentos,

valores, estimulando a organização dessa classe de forma a se auto-perceberem em

favor de uma tomada de consciência no caminho da hegemonia dessa classe, resistindo

contra o processo de dominação.

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A equipe técnica responsável pelo Trabalho Técnico Social teve a seguinte

composição: um assistente social, um arquiteto urbanista, um engenheiro civil e uma

psicóloga, com a atribuição de orientar e apoiar as famílias e o Responsável Técnico

Social.

O início das obras se deu em Janeiro de 2006. Inicialmente, o trabalho foi

realizado por funcionários da Prefeitura que fizeram abertura das valas, preparação das

bases, amarraram ferragens de parte dos imóveis. O número dos funcionários

contratados foi insuficiente para atender os prazos das obras. Por tal motivo, em

consonância com a Caixa Econômica Federal e o aval da maioria dos beneficiados,

decidiu-se pelo sistema de mutirões, que teve início em 07 de Maio de 2007, com a

participação de 16 pessoas, entre homens e mulheres.

Ficou decidido que os mutirões seriam realizados aos sábados e os trabalhos

seriam divididos entre os participantes que teriam a supervisão do engenheiro e mestre

de obras da Prefeitura. Porém, parte dos beneficiados não compareceu nos mutirões,

alguns alegaram problemas de saúde, outros alegaram que ficou estabelecido que

pagariam pelo imóvel, 76 parcelas de R$ 46,00 (quarenta e seis reais) mensais;

entenderam não ser sua obrigação ajudarem no mutirão. Por tal motivo, os mutirões

foram suspensos, momento em que a Prefeitura contratou uma empreiteira para

conclusão das obras, que foram entregues em Janeiro de 2009.

No que se refere ao acompanhamento técnico social, foi realizado durante

todas as etapas dos trabalhos, conforme projeto que segue:

3.4.1 Projeto Técnico Social

O Projeto Técnico Social é o documento que sistematiza a proposta de

trabalho, onde devem constar objetivos, metas, ações e atividades a serem

desenvolvidas: metodologia, sistemática de registro de resultados de avaliação,

indicadores e cronograma de execução e planilhas de custos, elaborado em consonância

com os normativos de cada programa.

Apesar das especificidades de cada programa, a elaboração de um projeto é um

processo lógico, para comunicar objetivos e resultados esperados e que deve obedecer a

procedimentos metodológicos específicos.

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A elaboração de todo Projeto Técnico Social tem início com a realização de um

diagnóstico, também chamado de análise situacional, de contexto ou de cenário.

O objetivo do diagnóstico é descrever, analisar, entender a realidade local,

social e institucional da área de intervenção, de forma a assegurar a conexão entre o

plano micro – a comunidade, objeto da intervenção – e o plano macro – Município e

Estado. O que se busca nessa etapa é conhecer a realidade externa ao projeto e sua

dinâmica interna, criando uma base para avaliação final e possibilitando identificar

situações que possam limitar ou potencializar o alcance dos resultados propostos.

O empreendimento habitacional Jardim Bela Vista II encontra-se situado no

Bairro Jardim Bela Vista II, Carvalhópolis (MG).

O município de Carvalhópolis está localizado na região Sul do Estado de

Minas Gerais, numa região demarcada por planícies, com temperatura média anual de

25º graus, classificado com o clima temperado e temperaturas amenas durante todo o

ano. O bairro destinado ao empreendimento tem localização geográfica privilegiada,

com fácil acesso dos moradores aos equipamentos comunitários como escola, centro de

saúde, creche, clube social, banco e igrejas.

A unidade de saúde municipal conta com o Programa de Saúde da Família,

onde é disponibilizado um agente de saúde para cada bairro, que visita todos os

moradores dos Bairros, além de disponibilizar a visita do médico e de enfermeira (o)

para as famílias, atendimento diuturnamente com enfermeiro, serviço de ambulância

para as unidades de referência, plantão médico diariamente.

Quanto ao serviço odontológico, este é realizado por dentistas que atendem a

população diariamente com tratamento preventivo e curativo. Quanto aos tratamentos

de média e alta complexidade, o município conta com a parceria do CISLAGOS

(Consórcio Intermunicipal Saúde da Região dos Lagos), que complementa o

atendimento de saúde do município. Outras ações de saúde são desenvolvidas através

dos hospitais de referência em outros Estados do país tais como: São Paulo e Rio de

Janeiro.

O Município é habitado na grande maioria por trabalhadores rurais, haja vista

ser Carvalhópolis um município predominantemente agrícola. O Bairro destinado ao

empreendimento é constituído por habitações de alvenaria, disponibilizando a seus

moradores: infra-estrutura, saneamento básico, rede de esgoto, luz elétrica, bem como

rede hidráulica e ruas pavimentadas.

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O referido bairro é constituído de aproximadamente 170 habitações. Quanto à

organização comunitária o bairro conta com um Clube Social e um Albergue Municipal

em fase de acabamento. O Bairro do empreendimento não disponibiliza de associação

de moradores, porém a Secretaria Municipal de assistência social, dentre as suas

atribuições, vem estimulando a criação de Associações de Bairros.

A área do empreendimento não oferece nenhuma situação de risco para seus

moradores, encontra-se localizada a um quilômetro e meio do centro da cidade.

O local do empreendimento dispõe de fácil acesso aos equipamentos

comunitários e serviços públicos do município, tais como:

Creche Municipal Vovó Maroca, atende a 50 crianças na faixa etária de 01 a 07

anos, no horário das 7:00 às 17:00 com assistência médica, odontológica, farta

alimentação e atividades pedagógicas.

O Clube Cultural e Recreativo de Carvalhópolis disponibiliza lazer aos

moradores locais através de: piscinas, quadra poliesportiva, quadra de bocha, campo

society, salão de jogos e sauna.

A Associação São Vicente de Paula presta atendimento a pessoas idosas na

faixa etária acima de 55 anos.

Quanto à escolaridade os moradores do bairro são atendidos pelas escolas:

Escola Municipal Balãozinho Vermelho, Escola Municipal Maria Caproni de Oliveira e

Escola Estadual João de Paula Caproni.

A organização comunitária do município no que se refere às associações de

bairros é realizada através da rede prestadora de serviços assistencial tais como:

Associação Comunitária do Esmeril, que presta atendimento às famílias através do

beneficiamento de arroz; Associação Comunitária Nova Era que presta atendimento no

Balcão de Emprego; ASCOUB, que presta atendimento com orientações aos produtores

rurais; Associação São Vicente de Paula, que presta atendimento asilar aos idosos acima

de 55 anos.

A Creche Municipal presta atendimento às crianças na faixa etária de 01 a 07

anos.

Quanto aos programas desenvolvidos pela Divisão de Saúde e Ação Social,

têm por objetivo a inclusão, prevenção e proteção social dos seguimentos mais

vulnerabilizados da população sendo eles: auxilio com medicação, alimentação,

material de construção, benefícios de prestação continuada, habilitação e reabilitação de

pessoas deficientes, orientação técnica para rede executora dos serviços assistenciais,

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distribuição de órteses e próteses, condução para transporte de pessoas com problemas

de saúde, transporte para estudantes, bolsas de estudos etc.

O sistema municipal de saúde é composto por dentistas que prestam

atendimento à população com atendimento preventivo e curativo; médicos que prestam

atendimento contínuo de segunda a sexta feira além do serviço de ambulância que

presta atendimento de emergência 24 horas/dia encaminhando pacientes aos hospitais de

referência.

O atendimento psicológico prioriza o atendimento escolar, além de outros

casos que são encaminhados pelo Conselho Tutelar dos Direitos da Criança e do

Adolescente e do Programa de Saúde da Família.

O município conta com serviço de nutrição, responsável pela elaboração do

cardápio escolar, além de palestras que são ministradas para as merendeiras e agentes de

saúde do PSF, bem como a orientação aos pacientes diabéticos e hipertensos no que se

refere à alimentação e controle das doenças cardiovasculares.

O sistema de educação do município atende alunos da rede municipal com

ensino fundamental, pré-escola, além da rede estadual que atende com ensino médio. Os

alunos residentes no perímetro rural são atendidos com transporte municipal, sendo este

extensivo aos estudantes de nível superior e cursos técnicos quando se deslocam para as

cidades vizinhas.

Os alunos com necessidades especiais são atendidos em algumas

especialidades no próprio município e os demais encaminhados para escolas

especializadas do município de Machado (MG). A merenda escolar é distribuída para a

rede pública municipal e estadual.

A Prefeitura Municipal distribui ainda material didático e pedagógico para os

alunos da rede pública municipal e estadual além da distribuição de uniformes.

Na área do trabalho o município conta com o Conselho Municipal de Emprego

que se encontra aguardando recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) que

implementará cursos de formação e capacitação objetivando a geração de renda para a

população do Município.

No tocante ao meio ambiente, são realizadas campanhas escolares

conscientizando a população da importância da preservação do verde, de não poluir as

águas, da preservação da nascente de água localizada no município e na educação

ambiental estimulando hábitos de prevenção da saúde.

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A população beneficiada pelo Programa Habitacional Jardim Bela Vista II, é

composta por vinte e seis famílias totalizando cento e quatro pessoas, na grande

maioria, trabalhadores rurais com renda mensal de até dois salários mínimos,

trabalhadores do mercado informal que trabalham nos períodos de colheitas do café,

bem como, na agricultura do milho, arroz, feijão, pecuária leiteira, além de

trabalhadores formais com renda de até dois salários mínimos que trabalham como bóia-

fria, pedreiro, faxineira diarista, fábricas de costura e outros.

O nível de escolaridade do público alvo atendido no Programa Habitacional é

formado por analfabetos, alguns com ensino fundamental completo e outros com ensino

médio e superior. A composição familiar é constituída de famílias numerosas na média

de até 05 pessoas sendo, pai, mãe e filhos, além de filhos que casam e continuam a

morar com os pais. Parte das famílias é constituída por mulheres chefe família com

renda mensal de até um salário mínimo.

O público atendido no referido projeto foi priorizado mediante critérios de

seleção, priorizando famílias com a presença de idosos e pessoas portadoras de

necessidades especiais, com grande número de dependentes, famílias moradoras no

município a pelo menos três anos, e que não seja proprietário de nenhum imóvel urbano

ou rural.

Com a elaboração do diagnóstico social do município, verificou-se a existência

de um considerável déficit habitacional. Grande parte desta demanda constitui-se por

pessoas consideradas vulneráveis, em razão de sua impossibilidade de superar sua

dependência econômica social, a que estão submetidas. Neste contexto é que se

justificou o projeto.

O Programa Unidade Habitacional significou uma estratégia oferecida aos

beneficiários na busca da conquista e da construção do seu próprio projeto de vida,

autonomia e inclusão social que teve por objetivo geral viabilizar o acesso à moradia

para as famílias de baixa renda, criando mecanismos capazes de viabilizar a

participação e a organização dos beneficiários, bem como estimulá-los ao pagamento

dos encargos financeiros decorrentes da aquisição da moradia e fixação dos

beneficiários nos imóveis visando à sustentabilidade do programa.

Concomitantemente pudemos preparar a população alvo para a ocupação

racional e responsável de um novo espaço coletivo, uma nova moradia e uma nova

comunidade; Informar o grupo sobre as condições, direitos, deveres e responsabilidades

das partes envolvidas no empreendimento; prestar os esclarecimentos específicos sobre

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o programa (com a participação da Caixa); incentivar a adimplência; despertar nas

famílias o sentimento de apropriação e pertencimento; implementar ações educativas

com foco em educação sanitária e ambiental; promover a mobilização e a organização

comunitária a partir de propostas advindas do próprio grupo; promover a fixação dos

beneficiários no imóvel; implementar atividades voltadas à educação patrimonial

através de oficinas, atividades práticas e palestras; promover atividades que visem a

melhoria das relações de vizinhança, respeito aos espaços coletivos e ao correto uso do

imóvel e dos equipamentos comunitários.

Todo o projeto foi implementado em três etapas, iniciando-se antes das obras,

continuando por todo período de execução, estendendo-se até após ocupação das

famílias, estimado num prazo de doze meses. Todas as atividades foram registradas com

fotos, atas e lista de presenças.

Utilizamos uma metodologia participativa, dialógica e democrática com

atividades expositivas, buscando envolver os beneficiários em todas as atividades e

momentos do trabalho. As ações foram distribuídas em três etapas da seguinte forma:

Primeira etapa – informação aos beneficiários sobre o programa, direitos, deveres e etc.

Divulgação de informações completas e precisas sobre o programa, suas

características e peculiaridades, com foco no caráter pessoal, intransferível e

único do subsídio;

Esclarecimento sobre os direitos e obrigações dos beneficiários, competências e

atribuições dos agentes envolvidos, valor e forma de pagamento dos encargos

financeiros dos financiamentos concedidos;

Levantamento das expectativas dos beneficiários em relação ao

empreendimento;

Estratégias que objetivem a integração entre os beneficiários.

Segunda etapa – mobilização e a organização comunitária e ações educativas

Iniciativas que estimulem a organização comunitária e a formação de bases

associativas que congreguem os interesses comuns bem como o conhecimento

de suas demandas;

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Discussão das demandas do grupo, buscando, quando possível, sua

incorporação no escopo do trabalho social, visando o envolvimento, adesão e

comprometimento;

Discussão e implementação de estratégias de parcerias com entidades públicas e

organizações da sociedade civil como: escolas, rede prestadora de serviços

assistenciais, clubes de serviços e outros, visando o encaminhamento das

demandas e necessidades identificadas;

Criação da comissão de acompanhamento das obras.

Terceira etapa – pós-ocupação; educação patrimonial, inserção do beneficiário na nova

moradia

Interação entre os beneficiários e sua nova moradia;

Atividades que assegurem a inserção das famílias beneficiárias no espaço

urbano, onde se encontra inserido o empreendimento;

Promover ações educativas, com foco em educação sanitária e ambiental,

visando à preservação do ambiente e estimulando hábitos de prevenção à

saúde;

Atividades que promovam a consciência da correta utilização, conservação

manutenção dos equipamentos coletivos e o uso adequado dos imóveis.

O acompanhamento de todo o processo foi de responsabilidade da equipe

técnica com o apoio do Conselho Municipal de Habitação, onde foram usados os

seguintes instrumentos de avaliação: questionários, entrevistas, visitas periódicas às

obras e às famílias, relatos pessoais e participação nas reuniões. Quanto aos

instrumentos de registro das atividades foram realizados através de fotos atas e listas de

presença.

Para a realização do empreendimento a Prefeitura Municipal contou com as

parcerias: Secretarias de Saúde, Ação Social, Divisão de Obras, Departamento Jurídico,

beneficiários, AMBASP, CEMIG, COPASA/MG e Caixa Econômica Federal que

desenvolveram as seguintes ações:

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Setor de Ação Social:

Realização do cadastro;

Elaboração do projeto social;

Coordenação do projeto social;

Seleção dos beneficiários;

Elaboração dos relatórios sociais;

Aplicação de questionários para avaliação;

Participar da avaliação e monitoramento do projeto.

Divisão de Saúde:

Palestras educativas;

Assistência á saúde das famílias beneficiárias;

Divisão de obras:

Coordenar e executar o projeto técnico habitacional;

Executar os projetos arquitetônicos do loteamento e das casas;

Executar construção das casas;

Executar a pavimentação e abertura das ruas;

Construção da rede de esgoto e hidráulica;

Departamento jurídico:

Elaboração da Lei de doação dos terrenos;

Elaboração do termo de cessão de uso;

Orientação na elaboração do regimento que regulará as ações; (se for o caso).

Beneficiários:

Colaboradores em todo o processo.

Caixa Econômica Federal:

Disponibilizar recurso financeiro para a construção do empreendimento;

Fiscalização dos trabalhos;

Coordenação e orientação técnica na elaboração e avaliação do projeto;

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AMBASP:

Elaboração do projeto de engenharia;

Disponibilizar a equipe técnica para acompanhar e coordenar a construção das

casas.

CEMIG:

Instalação e manutenção da rede de energia elétrica.

COPASA/MG:

Instalação e tratamento da rede de água e esgotos.

3.4.2 Registro do trabalho interventivo realizado pela equipe técnica durante o

Programa de Interesse Social Jardim Bela Vista II.

Os instrumentos de registro utilizados durante o Programa Habitacional em

questão foram feitos através de relatórios, atas de reuniões, registros em diários de

campo, além de material audiovisual.

O acompanhamento do processo e atividades desenvolvidas ao longo do

projeto possibilitou o redirecionamento das ações e a avaliação dos resultados para a

verificação da eficiência, eficácia e efetividade do projeto, contribuindo para sua

sustentabilidade, gerando subsídios para o aperfeiçoamento dos programas e políticas.

Dos instrumentos os mais utilizados foram reuniões de grupo, estas por sua vez

foram registradas em atas, que constam registradas em arquivo no Departamento

Municipal de Assistência Social de Carvalhópolis (MG).

A primeira reunião realizada como trabalho socioeducativo aconteceu em 21 de

julho de 2005 na Escola Municipal Maria Caproni de Oliveira, onde houve a

participação de 36 pessoas e foram discutidos temas diversos como Direito

Social; critérios para a seleção dos beneficiados; parceria com a Caixa

Econômica Federal; valor da prestação a ser paga pelo financiamento do imóvel;

vigência e conteúdo do contrato como: os beneficiários não poderão vender,

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alugar, doar ou emprestar o imóvel durante a vigência do contrato, durante 72

meses).

A segunda reunião foi realizada em 25 de julho de 2005, também na Escola

Municipal Maria Caproni de Oliveira, compareceram 39 participantes. Falamos

sobre a assinatura do Termo de Cooperação entre Prefeitura e Caixa Econômica

Federal, contando com a presença do Representante da Caixa Econômica

Federal que realizou palestra sobre habilitação do município no Programa

Habitação de Interesse Social.

A terceira reunião, realizada em 21 de dezembro de 2005, na Escola Municipal

Maria Caproni de Oliveira, com participação de 38 pessoas, teve como pauta, a

leitura da Lei Municipal que criou o Conselho Municipal de Habitação,

momento que se realizou a eleição para Composição do Conselho Municipal de

Habitação. A assistente social responsável técnica pelo Programa Habitacional

explicou aos presentes sobre as atribuições dos conselheiros, como

acompanhamento e fiscalização direta no canteiro de obras. Feita a eleição e

nomeação dos Conselheiros explicou da necessidade de elaboração do

Regimento Interno para o Conselho Municipal de Habitação, explanado os

direitos e deveres dos beneficiários (comparecer às reuniões, pagar em dia as

prestações, cuidar bem do imóvel, justificar as ausências nas reuniões, zelar pelo

meio ambiente, cuidar do lixo corretamente). Coletivamente, tratou-se de como

elaborar projeto, para realizar recreação com as crianças durante as reuniões.

A quarta reunião contou com a presença de 35 pessoas, na ocasião foi realizada

a posse do Conselho Municipal de Habitação através de Decreto Municipal nº

1078 de 23/01/2006; a escolha do Secretário Executivo do Conselho e Votação

do Regimento Interno do Conselho Municipal de Habitação, seguida da leitura e

da análise do Regimento Interno.

Na quinta reunião na Escola Municipal Maria Caproni de Oliveira, participaram

26 pessoas. No início da reunião, realizou-se dinâmica sobre os sonhos dos

integrantes, as pessoas falavam de seus sonhos e se projetava com o sonho

realizado. Após, houve a explicação da finalidade do cartão de poupança

entregue pela Caixa Econômica Federal para cada um dos beneficiados e

elaborou-se o calendário de reuniões. Nessa reunião a assistente social falou para

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os presentes sobre o significado e importância da criação da Associação de

Moradores do Bairro.

Na sexta reunião realizada em 10 de março de 2006 na Câmara Municipal,

houve a participação de 30 pessoas, onde foi falado sobre o pagamento e

adimplência das prestações, foram distribuídas cópias com o calendário das

reuniões e aplicou-se questionário para levantamento das demandas do grupo.

A sétima reunião aconteceu no dia 07 de abril de 2006, na Câmara Municipal

com 30 pessoas participantes, houve explicações sobre o andamento da obra,

repasse de recursos, medição da obra, importância do acompanhamento do

trabalho técnico social, do acompanhamento do Conselho Municipal de

Habitação, importância da organização dos beneficiários, através da Associação

de Moradores, arborização, harmonia entre os moradores, higiene e limpeza do

bairro.

Na oitava reunião, em 09 de junho de 2006, na Câmara Municipal, contou com

participação de 26 pessoas, foi aplicada a dinâmica “Ser feliz” e reflexões em

grupo. Dando continuidade aos trabalhos, convidou-se o engenheiro responsável

pelo empreendimento para sanar as dúvidas sobre o projeto arquitetônico das

unidades habitacionais, questionaram da possibilidade de ampliar o número de

dormitórios, se a base do imóvel é compatível para receber a construção de mais

um andar, responsabilidade na construção dos muros, bem como muros de

arrimo, devido à existência de áreas desniveladas.

Na nona reunião em 11 de agosto de 2006, também na Câmara Municipal,

participaram 24 pessoas, a reunião teve início com a aplicação da dinâmica das

“diferenças” (objetivando a preparação dos beneficiados para vida comunitária).

Na ocasião esteve presente na reunião o mestre de obras da Prefeitura, com o

objetivo de prestar esclarecimentos sobre as obras.

Na décima reunião em 15 de setembro de 2006, com a presença de 32 pessoas.

A reunião teve início com a fala dos representantes do Conselho Municipal de

Habitação que explicaram sobre o andamento da obra, em seguida a assistente

social entregou para os presentes o questionário para avaliação do trabalho

social. Em seguida, falou sobre a construção do meio-fio e das calçadas, alem da

arborização do bairro.

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A 11ª Reunião realizada em 21 de outubro 2006, na Câmara Municipal, contou

com a participação de 41 pessoas. A assistente social realizou palestra sobre o

Cooperativismo e Associativismo, citou vários exemplos de cooperativas, falou

da geração de emprego e renda. Citou exemplo da Cooperativa de Salgadeiras,

se trata de uma cooperativa que tem por objetivo fabricar salgados para festas,

bem como, ajudar seus participantes no complemento da renda familiar, foram

citados outros exemplos de cooperativas.

A 12ª Reunião, que aconteceu em 15 de dezembro de 2006, com a presença de

26 pessoas, foi realizada uma dinâmica com o tema “Dias da semana”, seguida

de palestra sobre meio ambiente, e concurso de redação “Meio Ambiente”.

Na 13ª Reunião realizada aos 26 de abril de 2007 no Clube Cultural e Recreativo

de Carvalhópolis (MG) com a participação de 40 pessoas foi feito

esclarecimento sobre as visitas domiciliares que foram realizadas pela assistente

social, nas residências dos beneficiados, tais visitas tiram o objetivo de dar

cumprimento às exigências realizadas pela Caixa Econômica Federal por

ocasião da assinatura do Termo de Cooperação Técnica entre Prefeitura

Municipal e Caixa Econômica Federal. Seguida da explicação e esclarecimentos

quanto ao documento “Cessão de Uso”, que se trata de um documento

intermediário até o recebimento das escrituras.

A 14ª Reunião, realizada em 01 de junho de 2007, na Câmara Municipal contou

com a presença de 32 pessoas. Na ocasião as obras estavam paralisadas, os

beneficiários exigiram explicações quanto ao andamento das obras,

formalizaram por escrito a reclamação, quanto ao atraso da entrega das unidades

habitacionais. A referida reunião teve por objetivo explicar os motivos da

paralisação, dentre eles estava a falta de repasse financeiro por parte da Caixa

Econômica Federal, que atrelava a medição dos trabalhos realizados ao repasse

do recurso financeiro. Não existindo trabalhos não existiriam recursos

financeiros. A Prefeitura Municipal justificou a inexistência de pedreiros e

funcionários para continuidade dos trabalhos. Na mesma reunião, decidiu-se

pela proposta de mutirão.

A 15ª Reunião aos 29 de junho de 2007, na Câmara Municipal com a

participação de 26 pessoas, ocasião que se realizou o agendamento para reunião

no local do empreendimento, para definir as necessidades do mutirão, bem como

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esclarecimentos sobre o trabalho, como divisão de equipes de trabalho.

Substituição de pessoas impedidas de trabalharem nos dias de mutirão, alguns

beneficiários justificaram motivos de impedimentos para ajudarem no mutirão

A 16ª Reunião, realizada em 07de julho de 2007, no Jardim Bela Vista II, com

participação de 16 pessoas. Início do mutirão. O Engenheiro e Arquiteto

responsável pelas obras, explicou para os presentes como seriam os trabalhos,

realizou-se a divisão por equipes foi dado o início no mutirão. Após, a assistente

social juntamente com os beneficiários, decidiram os horários para almoço e

lanche, bem como o horário de início e término dos trabalhos.

A 17ª Reunião realizada aos 14 de julho de 2007, também no Jardim Bela Vista

II, com a participação de 20 pessoas, deu-se continuidade dos trabalhos de

mutirão. As equipes já distribuídas realizaram seus trabalhos dentre eles, a

limpeza e retirada de entulhos do local, abertura das bases de cinco casas. Na

ocasião, distribuíram-se lanches e refeição no almoço.

Na 18ª Reunião, realizada aos 21de julho de 2007, no Jardim Bela Vista II, com

27 pessoas participantes, houve a continuidade dos trabalhos de mutirão. As

equipes distribuídas prepararam o assoalho das casas para receber o contrapiso,

mediram ferragens para construção das cinco últimas casas do Programa.

Realizada a distribuição de lanches e refeições, os beneficiados requereram a

proposta de criação de um Regimento Interno para definir as questões

relacionadas ao mutirão, haja vista, que a maioria dos beneficiados se negou a

participar dos trabalhos realizados.

Na 19ª Reunião, realizada aos 03 de agosto de 2007, no Jardim Bela Vista II,

com a participação de 24 pessoas, deu continuidade aos trabalhos de mutirão,

com o objetivo da construção das últimas cinco casas que faltavam para

completar as 26. As equipes divididas deram continuidade nos trabalhos, feita a

distribuição de lanches e refeições, a assistente social agendou a próxima

reunião com os beneficiados para o sorteio das casas.

Na 20ª. Reunião, realizada aos 10/08/2007, na Câmara Municipal, com a

participação de 26 pessoas, foi feita a apresentação em “Data Show” para

visualização das casas ainda em construção, feita a realização dos sorteios das

casas, a numeração dos imóveis e a revelação dos nomes dos respectivos

proprietários.

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Na 21ª Reunião, realizada aos 11 de agosto de 2007, no Jardim Bela Vista II,

com a participação de 27 pessoas. Inicialmente os beneficiários conheceram seus

imóveis, momento registrado com fotos. Continuando os trabalhos de mutirão,

as equipes distribuídas, sob a supervisão do Engenheiro e Arquiteto, efetuaram a

construção das paredes e deram continuidade no aterro para receber o

contrapiso, seguida da distribuição de lanches e refeições. Nessa data a

assistente social informou aos presentes sobre a suspensão do mutirão. Explicou

da visita da Caixa Econômica Federal para medição das obras, falou da compra

dos materiais necessários para continuidade das obras. Após, houve o

questionamento dos beneficiados quanto à suspensão do mutirão e possível

retorno.

A 22ª Reunião realizada aos 31 de agosto de 2007 na Câmara Municipal com a

participação de 29 pessoas, a assistente social explicou da continuidade da

suspensão do mutirão. Houve questionamentos dos beneficiados sobre a

presença dos ausentes no mutirão, após justificativas dos beneficiados faltosos

nos mutirões, a assistente social explicou que diante da dificuldade de pessoas

para continuar os trabalhos no mutirão a Prefeitura contratou empreiteira para

continuar os trabalhos.

Na 23ª Reunião, realizada aos 28 de setembro de 2007, nas dependências do

Clube Cultural Recreativo teve a participação de 26 pessoas, foi discutido a

Preservação do Meio Ambiente, alem da parceria realizada pela Prefeitura

Municipal com a CEMIG e EMATER para aquisição de árvores plantadas nos

imóveis dos beneficiados, ocasião que o Técnico da EMATER no município,

explanou sobre as várias espécies de plantas que arborizou o local onde vão

morar os beneficiados pelo Programa, cuidados quanto aos locais adequados

para o plantio, cuidados que os beneficiados devem ter com as plantas e

explicou a importância do ar arborizado para melhoria da qualidade de vida.

A 24ª Reunião realizada aos 13 de outubro de 2007, no Jardim Bela Vista II,

com a participação de 30 pessoas, realizou-se a adubação da terra e o plantio das

respectivas árvores adquiridas pelo Programa Habitacional, foi feita a

explanação do representante da EMATER e funcionários da Prefeitura de como

deveria ser o plantio e adubação da terra e o plantio das respectivas árvores.

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A 25ª Reunião realizada em 28 de novembro de2007, na Câmara Municipal,

com a participação de 20 pessoas, foi feito esclarecimento quanto ao prazo para

o término das obras, explicação sobre aprovação da licitação para a escolha da

Construtora que irá terminar as obras e leitura da Lei nº 987 que trata do uso e

doação de Imóvel Público.

A 26ª Reunião realizada aos 18 de dezembro de 2007, na Câmara Municipal,

com a participação de 27 pessoas, tratou-se sobre as relações de vizinhança,

aplicou-se a dinâmica de grupo “Perfil do vizinho desejado”, reflexões sobre

oportunidade para os vizinhos se conhecerem melhor, aprender seus limites e

respeitar o espaço do outro. Seguida de esclarecimento sobre a próxima reunião,

com o Arquiteto Urbanista responsável pelas obras.

Na 27ª Reunião, realizada aos 31/ de janeiro de 2008, na Câmara Municipal,

com 20 pessoas, tratamos da estrutura, acabamento e entrega dos imóveis, houve

a explicação do Arquiteto Urbanista sobre a próxima etapa da construção:

colocação das lajes e cobertura com telhas houve questionamento dos

beneficiados quanto ao acabamento dos pisos e banheiros e esclarecimentos

quanto ao prazo de entregas dos imóveis aos beneficiados.

Na 28ª Reunião em 08 de fevereiro de 2008, a assistente social realizou visita

domiciliar na residência dos beneficiados, momento que prestou esclarecimentos

aos mesmos, quanto ao atraso de entrega das obras.

Na 29ª Reunião, aos 13 de março de 2008, também nas residências dos

beneficiados, deu-se continuidade nas visitas domiciliares e fizemos

esclarecimentos quanto ao atraso da entrega das casas.

A 30ª Reunião em 29 de abril de 2008 foi realizada na Caixa Econômica Federal

com três pessoas, foi explicado o acompanhamento do Sr. Manoel Gonçalves

Pereira e Sra. Cleonice Dores Caproni à Agência da Caixa Econômica Federal

de Machado-MG, solicitado a substituição dos mesmos no Programa Unidade

Habitacional Carta de Crédito FGTS do Jardim Bela Vista II.

A 31ª Reunião realizada em 24de maio de 2008, realizada no Clube Cultural

Recreativo contou com a participação de 33 pessoas, discutiu-se sobre a

possibilidade de realização de Cursos de Capacitação para os beneficiados,

momento que houve a aplicação de questionários para escolha dos cursos de

preferência;

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A 32ª Reunião realizada em 16 de junho de 2008, também no Clube Cultural

Recreativo com a participação de 30 pessoas, iniciaram-se os Cursos de

capacitação de cabeleireiros, confecção de bolsas com palha de milho e fibra de

taboa e curso de crochê; O curso de taboa teve a duração de três dias; O curso de

cabeleireiro teve duração de dois meses, sendo duas vezes por semana; O curso

de crochê teve duração de três meses, sendo uma vez por semana. Os referidos

cursos possibilitaram para os participantes a geração de emprego e complemento

da renda familiar.

Na 33ª Reunião, em 15 de julho de 2008 no Cartório de Registro Civil, realizou-

se o acompanhamento do Sr. Manoel Gonçalves Pereira e Sra. Juveli Pereira de

Carvalho até o Cartório de Registro Civil para providenciarem a documentação

referente à Unidade Habitacional.

A 34ª Reunião realizada aos 20 de setembro de 2008, no Salão do Prédio do

Asilo, com a participação de 20 pessoas, prestou-se esclarecimentos quanto ao

atraso e entrega dos imóveis. Na ocasião os participantes tiveram conhecimento

da correspondência enviada para a empreiteira com solicitação para agilizar a

entrega dos referidos imóveis. Em seguida os beneficiados foram fotografados

nos respectivos imóveis.

A 35ª Reunião realizada em 02 de outubro de 2008, na Sede do Centro de

Referência da Assistência Social contou com a participação de 02 pessoas, que

vieram saber sobre o atraso e entrega dos imóveis para os beneficiados que

faltaram à reunião do dia 20 de setembro, do ano em questão.

A 36ª Reunião realizada em 05 de novembro de 2008, na Caixa Econômica

Federal que se providenciou a substituição da Senhora Cleonice Dores Caproni,

pela Sra. Ivani de Paula Gonçalves no Programa Carta de Crédito FGTS do

Jardim Bela Vista II.

A 37ª Reunião realizada aos 18 de dezembro de 2008 na Sede do Centro de

Referência da Assistência Social fizemos o atendimento ao Senhor Luiz Paulo

Cassimiro, para desistência do mesmo do Programa Unidade Habitacional

Jardim Bela Vista II, por motivo de mudança para outro município, sendo que a

iniciativa partiu do próprio beneficiado.

A 38ª Reunião realizada aos 24 de janeiro de 2009, no Salão do Prédio do Asilo,

teve a participação de 30 pessoas, foi feita a organização da entrega das casas do

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Programa Habitacional Jardim Bela Vista II, falado sobre o plantio de árvores

para arborizar o ambiente, sobre a limpeza da área onde se encontram os imóveis

e a explicação sobre o cerimonial para entrega dos imóveis.

A 39ª Reunião em 26 de janeiro de 2009, no Clube Cultural e Recreativo houve

a participação de 90 pessoas, onde aconteceu a solenidade de entrega das

Unidades Habitacionais, referentes ao Programa CCFGTS, Resolução nº 460,

Empreendimento Jardim Bela Vista, houve palestra proferida pelas autoridades

parabenizando os beneficiados pela conquista da casa própria, a entrega das

chaves para os beneficiados do Programa, leitura de uma mensagem de

agradecimento em nome de todos os beneficiados e encerramento da cerimônia.

Na 40ª Reunião realizada em 13 de fevereiro de 2009 no Clube Cultural e

Recreativo, participaram 20 pessoas, momento onde os beneficiados apontaram

vários problemas nos imóveis como: goteiras, falta de água, formigas e esgoto

aberto em algumas casas, os referidos problemas foram levados ao

conhecimento da divisão de obras para solucioná-los, houve a explicação dos

representantes da caixa sobre o financiamento, foi falado sobre as casas que não

podem ser vendidas, alugadas ou cedidas por tempo mínimo de seis anos, que se

perder a casa, o beneficiário não conseguirá outra em nenhum lugar do Brasil

imóvel nestes termos, financiada com recursos do governo. Foi explicado ainda

que poderia haver adiantamento das prestações, que o aumento das prestações

será de acordo com o índice de variação da poupança, uma vez por ano. Se o

contrato for descumprido o beneficiário perde o imóvel. Também foi feita a

formação da Comissão de Demandas ao Poder Público, que se trata de um grupo

de pessoas, escolhidas entre si, para triar os problemas existentes no conjunto

habitacional e levar ao conhecimento do gestor público municipal.

A 41ª Reunião realizada em 04 de abril de 2009, no Clube Cultural e Recreativo,

com 28 pessoas, falou-se sobre a criação de uma horta doméstica, sobre os

Imóveis que não podem ser vendidos ou alugados, sobre os boletos de

pagamento. Seguido da leitura da Legislação que trata do tempo para venda do

imóvel.

A 42ª Reunião em 25 de abril de 2009, no Jardim Bela Vista II, com a

participação de 24 pessoas, discutiu-se sobre a possibilidade de fazer uma

escavação no fundo dos lotes da Rua Nelson Bento, com o objetivo da

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construção dos muros. Na oportunidade houve esclarecimento por parte de

funcionários da prefeitura sobre a impossibilidade de atender à reivindicação dos

proprietários, devido ao espaço entre as casas não ser suficiente para a

circulação das máquinas, necessárias para fazer o serviço. Foi explicado que a

escavação feita por máquina poderia colocar as construções em risco.

Por fim, na 43ª. Reunião realizada aos 30 de julho de 2009 no Clube Cultural e

Recreativo com 24 participantes tratou-se sobre o plantio de hortas domésticas

pelos beneficiados, sobre a limpeza dos terrenos e conservação dos imóveis, a

possibilidade de instalação de telefones públicos próximos aos imóveis e a

coleta de lixo realizada no bairro.

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4 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa desenvolvida está em consonância com a área da Educação, uma

vez que, conforme destacamos nos itens supra, o serviço social é uma profissão de

caráter interventivo e com nítida dimensão educativa, nos diversos espaços de atuação

profissional: instituições, entidades não governamentais, projetos, programas e políticas

sociais com indivíduos, grupos ou comunidades, desenvolve-se trabalho socioeducativo

comprometido com a práxis social e a defesa de direitos sociais.

Nesse prisma, a presente pesquisa adequou-se a linha: “A intervenção

educativa sociocomunitária: linguagem, intersubjetividade e práxis”, que nos forneceu

elementos para uma melhor compreensão e entendimento do nosso objeto de estudo,

cuja temática esteve intimamente relacionada à intervenção educativa em um programa

social comunitário com famílias em situação de vulnerabilidade social, pertencentes ao

município de Carvalhópolis (MG), no qual estivemos envolvidos na condição de

Assistente Social e responsável técnico entre os anos de 2005/2009 e pudemos nesse

período, desenvolver atividades socioeducativas com as famílias que fizeram parte do

programa habitacional.

4.1 História do Município de Carvalhópolis (MG)

A formação de Carvalhópolis se remete ao contexto da exploração aurífera na

Capitania das Minas Gerais, com o início da decadência do ouro, na metade do século

XVIII, muitos habitantes emigraram para outras capitanias, ficando somente aqueles

que se dedicariam, portanto à lavoura, à pecuária e a produção de manufaturas.

Acredita-se que foi neste contexto sócio econômico-cultural que se iniciou o processo

de formação do arraial de Carvalhos.

A tradição oral da cidade relata que na metade do século XVIII, chegaram na

região – então conhecida como Guaipava – os irmãos Tomé, Baltazar e Bernado

Carvalho da Silva, vindo mais tarde se estabelecer na região. A partir de então outras

famílias se fixaram na região, iniciando, assim, um arraial que receberia o nome de

Carvalhos - em homenagem aos seus fundadores.

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Em fins do século XIX, o povoado pertencia à freguesia de São João Batista de

Douradinho – atual Douradinho pertencente a Machado; sua igreja, entretanto,

encontrava-se distante dos aglomerados de Carvalhos, Dourado, São João e Macacos

que por sua vez, estavam dispersando para a freguesia de Machado. Nesse sentido, os

moradores das redondezas se mobilizaram para conseguir uma provisão - assinada pelo

vigário capitular do bispado de São Paulo - que mudaria o templo de Douradinho para a

fazenda Lambari. Tal idéia acabou por incitar um influente habitante do arraial, Antonio

Cândido de Carvalho – coronel proprietário de terras, a construir um templo religioso

que pudesse atender ao povoado.

Mas somente em 1912, com a celebração de uma missa pelo Padre Olimpo

Antônio Dutra em um local improvisado, iniciou-se as atividades relativas à construção

de uma capela em tributo a São Sebastião. Poucos anos depois, ergueram-se as

primeiras paredes da Igreja Matriz - também em homenagem ao santo padroeiro da

cidade.

A região, ainda arraial, ganhou a presença de uma bela árvore da espécie

copaíba, que sobreviveu até o ano de 2008 na Praça da Igreja Matriz. Ela se tornou um

ícone histórico para a população, presente até no brasão do município, à medida que

testemunhou todo o processo de (trans)formação da cidade. Não se sabe ao certo o ano

em que foi plantada, mas sua força e magnitude indicam que permanecerá viva e

presente na memória durante muito tempo, varias gerações de carvalhopolitanos que

lutaram para preservá-la.

O povoado de Carvalhos cresceu e, em 1923, se tornou distrito de Machado

denominando-se "Cana do Reino". Sua emancipação só ocorreu em 1953, sendo

administrada, a princípio, por dois intendentes: Ozolino de Aguiar Tavares e José Ruas

de Oliveira. A primeira eleição para a prefeitura da cidade somente ocorreu em 1955,

elegendo um conhecido líder político da região, Sr. João Honorato de Carvalho. Em

1962, o município recebeu o nome de Carvalhópolis – terra dos Carvalhos – em

homenagem à família Carvalho, presente em toda a história da formação do povoado.

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4.2 Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa

O público alvo desta pesquisa constitui-se na grande maioria, por trabalhadores

rurais com renda mensal de até um salário mínimo, que fazem parte do mercado

informal, que trabalham nas lavouras e colheitas do café, na agricultura do milho, arroz,

feijão, pecuária leiteira, além de trabalhadores formais com renda de até um salário

mínimo que realizam atividades em apiário, olaria, laticínio e fábricas de costura e

Prefeitura Municipal. O nível de escolaridade do público alvo é formado por

analfabetos, alguns com ensino fundamental completo e outros com ensino médio e

superior.

A composição familiar é constituída de famílias numerosas na média de até 05

pessoas sendo, pai, mãe e filhos, além de filhos que casam e continuam a morar com os

pais. Registrou-se a existência de famílias tendo como seu principal provedor mulheres,

com renda mensal de até um salário mínimo.

O público beneficiado no Programa Habitacional aqui pesquisado obedeceu

aos critérios de seleção, priorizando famílias com a presença de idosos e pessoas

portadoras de necessidades especiais, com grande número de dependentes, famílias

moradoras no município há pelo menos três anos, e que não fosse proprietário de

nenhum imóvel urbano ou rural.

4.3 Infra estrutura do Bairro onde se realizou a pesquisa

Quanto ao bairro onde se realizou a pesquisa, este é pavimentado com ruas

asfaltadas. A água consumida pela população é tratada pela COPASA/MG (Companhia

de Saneamento de Minas Gerais), sendo que 100% da população do bairro possui água

encanada e tratada. Em relação ao esgoto, 100% das residências do bairro

disponibilizam de saneamento básico com rede de esgoto. Quanto à coleta de lixo, esta é

realizada por um veículo da Prefeitura, e destinado para o aterro sanitário. A iluminação

pública é feita pela CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais, cobrindo 100%

da população. Quanto ao transporte o município é servido pelo Expresso Gardênia Ltda.

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4.4 Equipamentos Comunitários existentes no local da pesquisa

O local do empreendimento dispõe de fácil acesso aos equipamentos

comunitários e serviços públicos do município, tais como: Creche Municipal Vovó

Maroca, atende a 50 crianças na faixa etária de 01 a 07 anos, no horário das 7:00 às

17:00 com assistência médica, odontológica, alimentação e atividades pedagógicas.

Clube Cultural e Recreativo de Carvalhópolis, este disponibiliza lazer aos moradores

locais através de: piscinas, quadra poliesportiva, quadra de bocha, campo socyte, salão

de jogos e sauna. O Associação São Vicente de Paula, presta atendimento à pessoas

idosas na faixa etária acima de 55 anos.

Quanto à escolaridade os moradores do bairro são atendidos pelas escolas:

Escola Municipal Balãozinho Vermelho, Escola Municipal Maria Caproni de Oliveira e

Escola Estadual João de Paula Caproni.

A unidade de saúde municipal conta com o Programa de Saúde da Família,

onde é disponibilizado um agente de saúde para cada bairro, que visita todos os

moradores dos Bairros, além de disponibilizar a visita do médico e de enfermeira (o)

para as famílias, serviço de ambulância para as unidades de referência, plantão médico

diariamente.

Quanto ao serviço odontológico, este é realizado através de 04 dentistas que

atendem a população com tratamento preventivo e curativo. Quanto aos tratamentos de

média e alta complexidade, o município conta com a parceria do CISLAGOS

(Consórcio Intermunicipal Saúde da Região dos Lagos), que complementa o

atendimento de saúde deste município. Outras ações de saúde são desenvolvidas através

dos hospitais de referência em outros Estados do país tais como: São Paulo e Rio de

Janeiro.

4.5 Organização Comunitária no Município de Carvalhópolis (MG)

A organização comunitária do município é realizada através da rede prestadora

de serviços assistenciais tais como: Associação Rural, Comunitária do Esmeril, que

presta atendimento às famílias através do beneficiamento de arroz; Associação

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Comunitária Nova Era que presta atendimento com Balcão de Empregos; ASCOUB,

que presta atendimento com orientações aos produtores rurais; Associação São Vicente

de Paula, que presta atendimento asilar aos idosos acima de 60 anos; Creche Municipal,

que presta atendimento às crianças na faixa etária de 01 a 07 anos.

Quanto aos programas desenvolvidos pela Divisão de Saúde e Ação Social, são

ações que objetivam a inclusão, prevenção e proteção social dos seguimentos mais

vulnerabilizados da população sendo eles: auxilio com medicação, alimentação,

material de construção, benefícios de prestação continuada, habilitação e reabilitação de

pessoas portadoras de deficiência, orientação técnica para rede executora dos serviços

assistenciais, distribuição de órteses e próteses, condução para transporte de pessoas

com problemas de saúde, transporte para estudantes, bolsas de estudos, centro de

referência de assistência social (Programa de Atenção Integral Família, Bolsa Família,

CADÚNICO e Projetos de capacitação profissional).

O Sistema Municipal de Saúde é composto por dentistas que prestam

atendimento à população com atendimento preventivo e curativo; médicos que prestam

atendimento contínuo de segunda à sexta-feira além do serviço de ambulância que

presta atendimento de emergência 24 horas/dia encaminhando pacientes aos hospitais de

referência.

O atendimento psicológico prioriza o atendimento escolar, além de outros

casos que são encaminhados pelo Conselho Tutelar dos Direitos da Criança e do

Adolescente e do Programa de Saúde da Família.

O serviço de nutrição é responsável pela elaboração do cardápio escolar, além

de palestras que são ministradas para as merendeiras e agentes de saúde do PSF, bem

como a orientação aos pacientes diabéticos e hipertensos no que se refere à alimentação

e controle das doenças cardiovasculares.

O sistema de educação do município atende alunos da rede municipal com

ensino fundamental, pré-escola, além da rede estadual que atende com ensino médio.

Os alunos residentes no perímetro rural são atendidos com transporte

municipal, sendo este extensivo aos estudantes de nível superior e cursos técnicos

quando se deslocam para as cidades vizinhas.

Os alunos com necessidades especiais são atendidos em algumas

especialidades no próprio município e os demais encaminhados a escolas especializadas

do Município de Machado-MG. A merenda escolar é distribuída para a rede pública

municipal e estadual.

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A Prefeitura Municipal distribui ainda material didático e pedagógico para os

alunos da rede pública municipal e estadual além da distribuição de uniformes.

Na área do trabalho o município conta com o Conselho Municipal de Emprego

que se encontra aguardando recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) que

implementará cursos de formação e capacitação objetivando a geração de renda para a

população do município.

No tocante ao meio ambiente, o município encontra-se com projeto em

construção. Por ora, são realizadas campanhas escolares conscientizando a população da

importância da preservação do verde, de não poluir as águas, da preservação da

nascente de água localizada no município e na educação ambiental estimulando hábitos

de prevenção da saúde. No que se refere à coleta do lixo, o município através de

campanha social, conscientizou a população da importância da coleta seletiva, prática

que se tornou rotina.

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4.6 Objetivos

Objetivo Geral:

Fazer análise acerca da intervenção profissional do assistente social, junto às

famílias em situação de vulnerabilidade social do município de Carvalhópolis

(MG), descobrindo se o trabalho socioeducativo construído favoreceu o acesso ao

direito à moradia, além de outros direitos sociais.

Objetivos Específicos:

Fazer levantamento bibliográfico sobre questões relacionadas à: educação, prática

profissional, conjuntura política, participação popular, mobilização social e à

dimensão cultural e educativa do serviço social;

Analisar as dificuldades existentes para a efetivação de direitos sociais por parte

das famílias em vulnerabilidade social do município de Carvalhópolis (MG);

Identificar o perfil (renda, escolaridade, composição familiar, situação trabalhista)

das famílias que participaram do Programa de Habitação Popular;

Verificar se houve impactos positivos na vida das famílias acompanhadas pelo

serviço social no Programa Habitacional;

Descrever as metodologias utilizadas para estimular a participação popular das

famílias de Carvalhópolis (MG) nas reuniões ligadas ao Programa Habitacional.

4.7 Metodologia da Pesquisa

Com o intuito de investigar a problemática em questão, delimitou-se para o

desenvolvimento desta pesquisa, o recurso da pesquisa bibliográfica, documental e a

pesquisa de campo, as quais forneceram ricos elementos teóricos e empíricos acerca das

inúmeras questões abordadas.

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Como referência metodológica para o desenvolvimento do presente trabalho,

utilizamos a Pesquisa Qualitativa, visto que a mesma “parte do fundamento de que há

uma realidade dinâmica ente o mundo real e o sujeito” (CHIZZOTTI, 1988, p. 79).

Assim, nessa metodologia de pesquisa, prioriza - se a realidade dos sujeitos e

os significados que são por eles atribuídos, além de considerar que “não é o número de

pessoas que vai prestar a informação” (MARTINELLI, 1999, p. 24) que se constitui

como o fator elementar, pois o fundamental é visualizar a qualidade e não a quantidade

das respostas e dos sujeitos participantes.

Para conhecer as percepções dos sujeitos sociais, sobre as indagações

levantadas nesse trabalho, foram realizadas entrevistas, reuniões com grupos focais e

aplicação de questionários.

Para realização das entrevistas e reuniões com grupos focais e aplicação dos

questionários, realizamos contato com os responsáveis pelas famílias, sujeitos desse

estudo, momento que foram informados sobre a realização da pesquisa, seus propósitos

e finalidades. A partir da anuência, agendaram-se as datas para início dos estudos.

Importante ressaltar que o interesse desses sujeitos na adesão ao estudo, foi

manifestado através de um entusiasmo que contagiou 100% dos sujeitos pesquisados,

motivo que facilitou a coleta dos dados.

As entrevistas foram realizadas atendendo a disponibilidade de horários de

cada um dos entrevistados, seguindo um roteiro semi-estruturado.

Os questionários foram entregues pessoalmente à cada família visitada e

recolhidos após duas semanas da entrega.

A reunião com o grupo focal foi gravada e filmada, a partir do consentimento

dos sujeitos sociais, com o intuito de se garantir a maior fidedignidade possível, bem

como respeitar as características peculiares de suas falas.

O universo eleito para o desenvolvimento desta pesquisa reporta-se ao

município de Carvalhópolis (MG), cidade esta onde foi desenvolvida a pesquisa.

Para a obtenção dos dados, utilizamos o recurso da entrevista semi-estruturada,

que, segundo Ludke & André (1986), objetiva desenrolar-se a partir de um esquema

básico, porém não aplicado de uma forma rígida. Destarte, possibilitou ao entrevistador

realizar as devidas adaptações. Lembrando que a entrevista, por se constituir como um

diálogo intencional entre duas ou mais pessoas, mediada por perguntas e respostas, tem

como objetivo atingir algumas finalidades, vindo a proporcionar uma aproximação e

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reflexão, tanto por parte dos entrevistados como do entrevistador, sobre várias situações

presentes no cotidiano profissional.

Foi realizada reunião com grupo focal, que são pequenos grupos de pessoas

reunidos para avaliar conceitos e identificar problemas, o que os torna uma boa

ferramenta para determinar as reações dos sujeitos sociais com a realidade apreendida.

Os participantes do grupo focal foram previamente selecionados por mim na condição

de pesquisadora. Os mesmos foram orientados quanto aos temas debatidos. Seu objetivo

central foi identificar sentimentos, percepções, atitudes, ideias e a subjetividade inerente

a cada integrante do grupo, no que se refere do empreendimento realizado.

Utilizamos a técnica do gravador e filmagem, a partir do consentimento prévio

do grupo, no qual cada integrante assinou um termo de autorização e livre

consentimento para gravação e filmagem da reunião.

A reunião foi gravada e filmada de acordo com a permissão dos sujeitos

participantes no grupo focal, com o intuito de se garantir a maior fidedignidade possível

e respeitar as características peculiares de cada participante, sendo que as falas foram

transcritas e devidamente analisadas dentro dos moldes qualitativos, por entender que

estes possibilitam uma abordagem dinâmica e inacabada da realidade em voga.

Privilegiou-se analisar os resultados dos dados coletados, agrupando-os em

categorias, porque elas traduzem resumidamente algumas questões essenciais para o

trabalho em questão.

A palavra categoria, em geral, se refere, a um conceito que abrange elementos

ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si. Essa palavra está

ligada à ideia de classe e série. As categorias são empregadas para se estabelecer

classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou

expressões em torno de um conceito, capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de

procedimento, de um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em

pesquisa qualitativa (GOMES, 1993).

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4.8 Análise Descritiva dos Resultados

Os dados abaixo retratam a análise dos dados quantitativos obtidos através das

respostas dos questionários e entrevistas sobre o perfil socioeconômico das famílias

sujeitos desse estudo. Os questionários e entrevistas foram realizados durante os meses

de agosto e setembro de 2012.

Nas análises foram consideradas as seguintes variáveis: estado civil, sexo, faixa

etária, origem, renda familiar mensal, profissão, vínculo empregatício, despesas

mensais, religião, saúde, melhoria nos imóveis, existência de bens móveis, existência de

saneamento básico, opinião sobre o trabalho socioeducativo e outros.

Quanto ao local de nascimento dos indivíduos pesquisados, 28,75% são

nascidos no município de Carvalhópolis (MG), 39,50%, nascidos nos demais

municípios de Minas Gerais e 31,75% são nascidos em outros Estados.

Parte das pessoas acima mencionadas chegou a Carvalhópolis (MG), motivada

pela colheita do café, que após permaneceu no município.

Das 26 famílias pesquisadas, apresentam uma população de 104 moradores,

com média de 04 a 05 pessoas por residência, constituída de 25,47% de crianças,

20,10% de adolescentes, 4,0% de idosos e 50,43% de adultos. O estudo revelou que a

maioria das famílias tem como seus provedores indivíduos em idade produtiva. Das

famílias pesquisadas apenas duas são constituídas de uma única pessoa, as demais são

constituídas de mais integrantes vinculados por laços conjugais ou de sangue.

Dos chefes de famílias pesquisados 46% são casados, 30,77% vivem em

regime de união estável, 1% é viúvo e 22,23% são separados. Desses, 17% com idade

de 21 a 30 anos, 14% com idade de 31 a 40 anos, 36% com idade de 41 a 50 anos, 25%

com idade de 51 a 60 anos, 4% com idade de 61 a 70 anos e 4% de 71 a 80 anos.

Quanto ao sexo dos chefes de famílias, o feminino é da ordem de 17%, sendo

83% do sexo masculino.

Declaram-se pertencentes à religião católica 75% dos pesquisados, sendo que

25% são adeptos de evangélicos, se declarando batistas e presbiterianos e da

Comunidade Cristã do Brasil. No bairro existe uma Igreja Presbiteriana e uma Igreja

Católica. A prática religiosa serve também para fortalecimento dos vínculos de amizade

entre os moradores do bairro que frequentam a mesma religião.

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Do ponto de vista cultural, a pesquisa detectou a existência de 1% de

analfabetos, de 25,47% cursando o ensino fundamental, de 41,53% que já concluíram o

ensino fundamental, de 1% que já concluiu o ensino médio, que 29% estão cursando o

ensino médio, que 2% têm curso superior completo.

No tocante ao vínculo empregatício, a pesquisa detectou que 43% trabalham

como boia-fria nas lavouras de café, 13% são auxiliares de serviços gerais, vinculados

em serviços públicos municipais, como creche, escola, Secretária de saúde e Serviço de

limpeza pública, 4% são faxineiras diaristas, 4% são costureiras, 2% são professores,

8% são pedreiros, 1% Técnico em eletrônica, 4% são padeiros, 4% são vendedores de

verduras e 17% sobrevivem da aposentadoria.

No que se refere à qualificação profissional ou atividade produtiva, ficou

demonstrado que a maioria dos provedores das famílias pesquisadas e excluída do

mercado formal de trabalho, sem carteira assinada, sem nenhuma garantia trabalhista ou

previdenciária. Esse público é constituído de homens e mulheres que fazem parte do

exército de reserva para o fortalecimento do capital

Dos que não contam com a casa reformada e gostariam de fazer alterações,

64,28% ampliariam o número de dormitórios, 18,75% ampliariam a cozinha e 16,97%

arrumariam a área de serviço. Tal desejo se deve a necessidade de melhor acomodar e

proteger os membros da família, proporcionando-lhes conforto e melhoria na qualidade

de vida.

Quanto ao lazer, declararam que os principais passatempos são quase todos

individuais e sedentários como: ler, assistir à televisão, ouvir música, dormir e fazer

crochê.

No que se refere à limpeza das ruas, 88% dos pesquisados declararam que a

falta de higiene no bairro se deve ao fato de alguns moradores serem mal-educados e

jogarem o lixo solto, fora dos recipientes apropriados, 2% responderam que o problema

do lixo espalhado deve-se ao fato da inexistência de limpeza pública nos sábados e

domingos, 10% não manifestaram suas opiniões.

Em relação a crediário 100% declararam que pagam algum financiamento,

assim distribuídos: 100% declararam pagar a prestação das casas, sendo que desses

pesquisados 18% emprestaram dinheiro para reforma das casas, 12% pagam prestação

de móveis, 3% pagam prestação de automóvel, 67% dos pesquisados não declararam

nenhum tipo de crediário.

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No que se refere ao uso de computador e internet, 5% declararam possuir

computador, desses, apenas 2% fazem uso da internet, 3% declararam que já usaram

internet.

Das famílias pesquisadas 25% sobrevivem com renda mensal de ½ até 1 salário

mínimo, 51% sobrevivem com renda maior que 1 salário até 01 salário mínimo e ½,

12% sobrevivem com renda maior que 1 salário e ½ até 02 salários mínimos, 7%

sobrevivem com renda maior que 2 salários até três salários mínimos, 5% sobrevivem

com renda maior que três salários até 4 salários mínimos.

No tocante aos aspectos de saúde, 65% dos pesquisados fazem uso de

medicação controlada, sendo na grande maioria portadores dos seguintes diagnósticos:

hipertensão, diabetes, bronquite, câncer e doença mental; 35% declararam não fazer uso

de medicamentos controlados.

Os índices relacionados aos problemas de saúde demonstraram que na grande

maioria são portadores de diabetes e hipertensão, sendo que a grande maioria dos

pesquisados informaram que têm vida sedentária, justificando em parte tais índices.

O estudo demonstrou que 100% das famílias entrevistadas apontam a

necessidade de melhorias no que se referem à infraestrutura, equipamentos comunitários

e serviços no bairro pesquisado. Os mais citados foram: construção de bueiro para

escoamento de água por ocasião das chuvas, construção de creche para atender as

crianças do bairro, construção de uma praça com área de lazer para os moradores e um

pronto atendimento para as emergências de saúde.

A necessidade da construção de creche no local do empreendimento facilitará o

deslocamento das famílias, bem como das crianças para tal equipamento público, haja

vista, a grande maioria dos moradores do bairro em questão, não disponibilizarem de

automóvel nem mesmo de outro tipo de condução para se locomoverem. É importante

salientar que o direito a creche, se trata de direito constitucionalmente adquirido na

Constituição Federal e 1988. A Creche Municipal existente fica localizada

aproximadamente a 2000 metros do conjunto habitacional aqui pesquisado.

Durante o estudo, verificou-se que 6,7% das famílias pesquisadas são

proprietárias de automóveis, enquanto que 93,3% não possuem automóveis.

Dos possuidores de automóveis, verifica-se que são oriundos de empregos com

renda fixa, provenientes de setores públicos e privados, como: Prefeitura Municipal e

fábricas.

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Das famílias pesquisadas, 95% declararam que a aquisição do imóvel

contribuiu de forma significativa para a melhoria da qualidade de vida oferecida para a

família, 5% não manifestaram opinião.

Das famílias que declararam melhoria na qualidade de vida, se deve ao fato de

ficarem isentos do pagamento de aluguéis, haja vista que a média do valor do aluguel

pago pelas famílias contempladas era de R$180,00 a R$300,00. Hoje cada morador

paga R$46,00 na mensalidade do imóvel. Havendo um acréscimo considerável na renda

familiar. Um desses contemplados com unidade habitacional, declarou que o valor

correspondente ao aluguel lhe possibilitou a compra de um automóvel financiado.

No que se referem aos desejos futuros, a pesquisa apontou que 48% das

famílias desejam para o futuro ampliarem as casas, 26,9% desejam para o futuro, educar

os filhos para que consigam uma formação superior, 1% deseja para o futuro ser

funcionário público da Prefeitura Municipal, 1% deseja melhorar a saúde, 1% deseja ser

proprietário de comércio, 22,1% não opinaram quanto ao futuro.

O desejo de ampliarem as casas representa um indicador da maioria das

famílias, indicador esse, desencadeado pela necessidade de melhor acomodarem seus

integrantes. As casas do conjunto habitacional em questão são compostas por dois

dormitórios, uma cozinha, uma sala e um banheiro, com área total construída de 45m

quadrados.

No que se referem aos trabalhos socioeducativos realizados durante o

Programa Habitacional Jardim Bela Vista II, 78% declararam que os ensinamentos e

ações desenvolvidas foram apreendidos e aproveitados em sua vida cotidiana, 12%

declararam que os trabalhos socioeducativos foram aproveitados em sua vida cotidiana,

porém, entendem que os referidos trabalhos devem ser continuados, haja vista que

alguns dos moradores não conseguiram apreender seu objetivo, 10% não declararam

opinião quanto aos trabalhos socioeducativos realizados.

Das famílias pesquisadas, 100% fazem uso no mínimo de um aparelho celular.

O resultado desta análise possibilitou-nos um panorama geral do nível

socioeconômico dos sujeitos dessa pesquisa, além de oferecer informações para se

conhecer melhor e de maneira sistemática o perfil das famílias que foram contempladas

com unidades habitacionais no Programa Habitacional Jardim Bela Vista II.

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4.8.1 Grupo Focal

O grupo focal foi um instrumento extremamente, importante possibilitando-nos

conhecer os temas tratados, a partir das perspectivas dos próprios participantes, dos

significados subjetivos e sociais atribuídos por eles ao que se estava investigando.

A técnica do grupo focal é definida como:

Uma técnica de pesquisa na qual o pesquisador reúne, num mesmo

local e durante um certo período, uma determinada quantidade de

pessoas que fazem parte do público-alvo de suas investigações, tendo

como objetivo coletar, a partir do diálogo e do debate entre eles,

informações acerca de um tema específico (Neto et al., 2001, p. 09).

Convidaram para a reunião do grupo focal, sete participantes, sendo cinco

representantes das famílias beneficiadas, dois pesquisadores, um exercendo o papel de

mediador e relator, o outro observador e responsável pela filmagem. Os convites foram

individuais e pessoais. O critério para escolha dos participantes se deu pela observação

realizada durante as reuniões socioeducativas, onde se priorizou as lideranças existentes

entre os sujeitos dessa pesquisa.

A reunião com o grupo focal teve duração de uma hora e meia, iniciando às

15:00 e terminando às 16:30. O roteiro do debate foi construído a partir dos objetivos

dessa pesquisa, elaborado através de questões-chaves que pudessem favorecer o

levantamento das informações para a elucidação dos objetivos aqui propostos.

Os debates entre os participantes foram registrados através da gravação,

filmagem e anotações das falas, assim como o registro da linguagem não verbal, como

posturas, expressões, etc. Esta técnica serviu para complementar as entrevistas, isto

porque, o grupo focal tem por finalidade obter a "fala em debate", onde vários pontos

são discutidos, gerando conceitos, impressões e concepções sobre determinado tema,

entre os participantes do grupo. Os dados, assim obtidos, são de natureza

essencialmente qualitativa.

O grupo focal foi realizado em um espaço do Clube Recreativo, local onde

foram realizadas algumas das reuniões do Programa habitacional. Essa reunião foi

gravada e filmada com autorização escrita (termo de consentimento livre e esclarecido),

de todos os participantes. No final do debate, foi colocado para os participantes, que

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após a conclusão da dissertação será realizado outro encontro, com o objetivo de

divulgar e debater os resultados dessa pesquisa com os participantes.

Para resguardar a identidade dos integrantes que fizeram parte do grupo focal,

durante o trabalho receberam nomes de personagens da Bíblia, ficando assim

denominados: Joel, Rute, Débora, Maria e Davi.

Inicialmente, na condição de pesquisadora expliquei aos participantes, o

objetivo do grupo focal, que se trata de uma técnica para a coleta de dados, como

subsídio para realização de uma pesquisa que será utilizada na construção de uma

dissertação como exigência do Programa de Mestrado em Educação do Unisal - Centro

Universitário Salesiano de São Paulo.

Após apresentar o roteiro para o debate, informei aos presentes que na

condição de pesquisadora não faria parte dos debates, minha função seria relatar e

mediar os debates por eles realizados, conforme segue.

O debate foi dividido em partes, onde foram abordados assuntos pertinentes ao

trabalho de intervenção realizado pelo assistente social durante a construção do

programa habitacional e pós ocupação das unidades habitacionais, conforme segue:

1 - A trajetória de vida dos participantes

A nossa pesquisa optou por enveredar na escuta da trajetória de vida de cada

participante. O fato de contar sua trajetória de vida tem como finalidade entender e

aprofundar conhecimentos sobre a realidade predominantemente vivida pelos

participantes, seus anseios, realizações, origem e até mesmo conhecer a falta que teve a

moradia ao longo de suas vidas. Através de conversas com estes, durante o trabalho

socioeducativo realizado e durante o debate no grupo focal, observamos ser este um

método que tem como principal característica, justamente, a preocupação com o vínculo

entre pesquisador e sujeito. O método de história de vida, dentro da metodologia de

abordagem biográfica, relaciona duas perspectivas metodológicas intimamente,

podendo ser aproveitado como documento ou como técnica de captação de dados.

Acrescentamos, nas duas perspectivas, a produção de sentido – importante proposta da

aplicação deste método.

O fato de contar sua trajetória tem como finalidade entender e aprofundar

conhecimentos sobre a realidade predominantemente vivida pelos participantes, tal qual

a falta de uma moradia e através de conversas com estes e grupo focal. Esse método

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levantou a possibilidade de uma maior aproximação com a realidade na qual os

participantes estão inseridos, fazendo uso de uma pesquisa mais direcionada e sensível

aos detalhes como observamos nas falas:

“A minha vida em São Paulo foi muito difícil, tive que trabalhar

muito, lutar muito, vim buscando sonhos, ideais e conquistas,

chegando aqui, alcancei muitos dos meus objetivos”. (Maria)

“Sou natural de São Paulo, meu pai já estava cansado da violência do

bairro Taboão da Serra em São Paulo, quando através de uma vizinha

conhecemos Carvalhópolis, gostamos muito, resolvemos mudar para

cá. Já faz 15 anos que estamos aqui eu consegui construir uma família,

educar os meus filhos e adquiri uma habitação popular”. (Débora)

“Através do meu irmão eu conheci Carvalhópolis, através dele eu

passei a morar em Carvalhópolis, cidade hospitaleira, graças à Deus

aqui conquistei boas amizades, o povo daqui é muito bom, aqui eu

consegui uma casa própria. Sempre me coloco para ajudar aqueles que

precisam, faço questão, mesmo de longe de participar das reuniões

que se tratam principalmente de assuntos relacionados a escola e

saúde, pois temos que acompanhar o desenvolvimento que vem

acontecendo em Carvalhópolis. De 05 (cinco) anos para cá a cidade

desenvolveu muito”. (Joel)

“Nasci em São Paulo, mudamos para Carvalhópolis logo que meu avô

aposentou. Ao chegar em Carvalhópolis construí uma família, aqui é

muito bom, é bem diferente de São Paulo, a Prefeitura aqui ajuda

muito o povo, através do Programa que a Prefeitura desenvolveu com

a Caixa Econômica Federal eu adquiri minha casa própria. Crio meus

filhos e vivo em paz”. (Davi)

“Eu sou nascida e criada em Carvalhópolis, faz 31 anos que moro

aqui. Nesses últimos anos Carvalhópolis cresceu e desenvolveu

demais, daqui eu nunca saí para morar em outro lugar, aqui construí

uma família, ganhei uma casa própria. Hoje crio os meus filhos.

(Rute)

Ao longo do debate, durante as falas, pudemos perceber que o ato de contar

sobre suas histórias de vida, faz com que cada pessoa possa reviver sua trajetória e

reconhecer os fatores de lutas e conquistas para atingir o benefício e, ao mesmo tempo,

o sonho da casa própria.

Em relação aos sonhos, através dos depoimentos no grupo focal, pudemos

observar o quão é importante manter-se firme frente a um objetivo, é o que fez com que

muitos desses sujeitos persistissem em seus objetivos de possuir e manter a casa

própria.

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2 - Trabalho socioeducativo transformando realidades

Por ações socioeducativas são descritos um conjunto de atividades: grupos

socioeducativos, campanhas socioeducativas, grupos de convivência familiar, grupos de

desenvolvimento familiar, e grupos de desenvolvimento local das comunidades cada um

enfatizando uma atividade. O desenvolvimento de um ou de outro se fará conforme a

vulnerabilidade das famílias ou necessidades locais. A ênfase é para que estas ações

fundamentem-se em uma visão participativa e dialógica. Sob essa ótica, de

fundamentar-se na visão dialógica, o conceito de ações socioeducativas apresenta uma

associação à ideia de educação como prática da liberdade de Paulo Freire.

No entanto, foi possível constatar que apesar da influência do serviço social na

construção teórica dos primeiros anos da obra de Freire e da influência deste no

pensamento do serviço social, há na prática contemporânea pouca relação com a direção

e operacionalização das ações. Ressaltamos que a analogia ao pensamento de Freire se

deu não pelo termo socioeducativo, pois o autor não utilizou esse termo, mas em razão

da metodologia sugerida, pelos documentos norteadores da Política Nacional de

assistência social.

Importante lembrar que Freire nunca utilizou nenhum desses termos

socioeducativo, mas sim ação cultural, que supõe atuação dos sujeitos trocando cultura,

entendida por ele como tudo que o homem construiu em sua relação com a natureza.

Freire reconheceu a influência das assistentes sociais em sua formação inicial. Ele

comenta que houve dois pólos de influência muito grande em sua formação. Sobre isso

acrescenta:

De um lado assistentes sociais, a Escola de serviço social de

Pernambuco, assistentes sociais, todas católicas, e Anita Paes Barreto,

que em não sendo assistente social era, porém, primeiro, do mesmo

time dessas assistentes sociais que eu vou citar e, segundo era

professora fundadora dessa escola. É interessante recordar como

mulheres de minha geração, algumas mais velhas, outras um pouco

mais jovens, três, quatro, cinco, me marcaram fundamentalmente –

Anita Paes Barreto, Lourdes de Moraes, Dolores Coelho e Hebe

Gonçalves... Por isso mesmo é que essa escola que me influenciou me

chama para ela e eu fui professor da Escola de serviço social. Entro

em contato com as assistentes sociais logo depois do meu ingresso no

SESI, cerca de três meses depois, e elas começam imediatamente a me

marcar. Lembro-me da ênfase que davam ao serviço social de grupo,

ao serviço social de organização da comunidade, se bem que não

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desprezassem o trabalho com os indivíduos. Mas nestes casos o que

elas buscavam era capacitar as meninas, as jovens que estudavam, na

compreensão do indivíduo para que depois, confrontando os grupos e

as comunidades tivessem a possibilidade de individuar os grupos e as

comunidades. [...] gente que era progressista, gente comprometida [...]

(BEISEGEL, 1982, p. 35)

Assim, vemos a interação do papel do assistente social nas atividades sócio

educativas, que se expressam nas falas:

“Nas reuniões aprendemos a ter amizade, companheirismo com os

vizinhos, aprendemos que não podia alugar, nem vender e nem deixar

as casas fechadas”. (Maria)

Nesta fala observamos que Maria aprendeu não só a informação exigida pelo

Programa, mas ressalta, a grandeza de “saber” ter amizade e companheirismo com os

vizinhos, isso só pode ser apreendido nas reuniões sócio educativas, onde Maria pode

conhecer mais pessoas e se interagir com as mesmas. Pessoas estas que se relacionavam

por um mesmo propósito.

Outra fala que nos chama atenção está direcionada a importância de uma

educação continuada:

“As reuniões socioeducativas foram de grande importância,

aprendemos assuntos interessantes, como é o caso da limpeza das

ruas, assunto interessante, que foi muito trabalhado. Porém, nossas

ruas é um verdadeiro lixão ao céu aberto, principalmente próximo da

casa de “Maria”(sic), porque as pessoas não colocam em prática o que

aprendeu nas reuniões.” (Débora)

Observamos com a fala de Débora, que o assunto sobre o lixo, foi muito

trabalhado, contudo, muitos moradores não colocaram em prática o que apreenderam.

Isso nos fez analisar a cultura desses moradores, o espaço em que viviam, mais do que

isso, a importância de passar a relação do cuidado, de se pertencer a algo e ser

pertencido. Fato este que para acontecer necessitaria de mais reuniões sócio educativas.

“As reuniões socioeducativas foram de grande importância,

aprendemos sobre assuntos interessantes, como é o caso da limpeza

das ruas, assunto interessante, que foi muito trabalhado. Porém nossas

ruas é um verdadeiro lixão ao céu aberto, principalmente próximo da

casa de “Maria”, porque as pessoas não colocam em prática o que

aprendeu nas reuniões.” (Débora)

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“Vocês acreditam que a minha casa ficou infestada de ratos devido ao

lixo da casa da vizinha. Eu estava no oitavo mês de gravidez, fui

obrigada sair da minha casa, ir para a casa da minha mãe para

detetizar a casa, pois não tinha condição do meu bebê nascer com a

casa cheia de ratos”. (Maria)

“Eu vendo a situação de Maria fui obrigada a chamar a vizinha de

Maria para conversar, pois ela criava coelho e porquinho da índia, que

deixava um fedor insuportável na casa de Maria”. O terreiro da

vizinha é cheio de lixo. Conversamos com as pessoas da rua para cada

um limpar a sua entrada. Mas o povo não escuta o que a gente fala.

“Quem precisava escutar tudo isso não está aqui para escutar”.

(Débora)

“Nas reuniões aprendemos a ter amizade, companheirismo com os

vizinhos, aprendemos que não podia alugar, nem vender e nem deixar

as casas fechadas”. (Maria)

“Tem tanta gente precisando de uma casa para morar, tinha que ter

dado casa apenas para os eu precisam, tem gente que recebeu casa e

que nem aqui mora, até hoje mora em Machado, fiquei sabendo que

esta mesma pessoa está vendendo a casa que ganhou por R$

55.000,00”. (Débora)

“Quando se fala de festa, junta muita gente, quando se fala de reunião

para aprender coisas boas, poucos se interessam. Dentro da reunião foi

falado que não se pode vender e nem alugar casa, isso está

acontecendo porque não existe uma fiscalização rígida. Existe um

espírito de tolerância das autoridades de Carvalhópolis. Têm pessoas

que participaram do cadastro, que foram beneficiadas e que nem aqui

moram. Moram em Machado”. (Joel)

“A limpeza da minha rua, eu e meu vizinho cuidamos direitinho, sei

que isso pertence à Prefeitura, mas não me custa. Faço porque sou

aposentado, tenho tempo suficiente para isso. Sou criticado quando

limpo a rua, não me importo. Quando me criticam fico quietinho”.

(Joel)

“Tenho um assunto que está me incomodando muito, acho que o

policiamento deve nos visitar mais, vocês sabe o que estou falando

(sic). Aquilo ali está criando um ninho. É perigoso passar ali, tanto

nós, como nossos filhos e nossas esposas. Os caras tão passando ali a

90 Km por hora”. (Joel)

“Carro em alta velocidade e usuário de drogas. Já falei com a polícia.

A polícia fala que é para ser chamada na hora. Agora, quem vai sair

dessa distância para chamar polícia”. (Débora)

“Nós temos que fazer um ofício e um abaixo assinado para transferir

essa polícia daqui, ela não vale nada”. (Joel)

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“Nosso bairro ficou a desejar”. (Maria)

“Entraram três vezes na minha casa e roubaram meu dinheiro. A

polícia não fez nada. A polícia daqui não tem boa vontade, diz que

aqui é o moquenho da cidade. Quando o Sargento morava aqui no

bairro a polícia passava toda hora, depois que ele mudou, nem se

lembram de nós”. (Débora)

3 - Mutirão

O trabalho em mutirão

Mutirão é o nome dado no Brasil a mobilizações coletivas para lograr um fim,

baseando-se nas ajudas mútuas prestadas gratuitamente. É uma expressão usada

originalmente para o trabalho no campo ou na construção civil de casas populares, em

que todos são beneficiários e, concomitantemente, prestam auxílio, num sistema de

rodízio e sem hierarquia.

Através do grupo focal pudemos entender o significado e o aprendizado do

sistema de mutirão realizado pelos integrantes do projeto. Nas falas abaixo podemos

perceber que o processo de mutirão acompanhado pelas ações sócio educativas, trouxe

resultados positivos e reflexões que apontavam os fatores negativos do grupo:

“O mutirão foi muito importante, pena que só a minoria participou,

faltou mais fiscalização, com os que não ajudaram”. (Joel)

“Eu não participei, mas pagava um para ir no meu lugar . As pessoas

que mais precisavam, não tinham coragem para carregar um tijolo.

Além de não ajudar, não colocava ninguém em seu lugar”. (Débora)

“Eu estava com filho recém-nascido, não pude ajudar, mas meu

esposo ajudava”. (Rute)

“Os que tinham opinião contrária ao mutirão eram os que moravam

nos prédios da Prefeitura, pois além de não pagarem aluguel, não

pagavam água e nem energia elétrica, era tudo muito fácil para eles”.

(Davi)

4 - Associação de Moradores de Bairros

O conceito de que a Associação de Moradores de Bairros, passados pelo

trabalho sócioeducativo, de que é uma organização composta pelos moradores local

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objetivando uma relação de convívio melhor entre si, incentivar auxílio mútuo e

promover medidas preventivas contra acidentes e crimes, o que foi compreendida pelos

moradores:

“Mais ou menos já estamos organizando uma Associação. É um lugar

de união das pessoas, onde podemos expor tudo aquilo da

comunidade. As pessoas líderes e os moradores discutem melhorias

para o bairro e levam o pedido para o prefeito”. (Maria)

A Associação de Moradores de Bairro é uma organização que visa construir

uma comunidade confortável de se viver realizando diversas atividades cooperativas a

qual todos possam se relacionar e familiarizar de uma forma prazerosa e divertida. Os

moradores trouxeram realidades de outros locais:

“Meu primo mora em São Paulo, lá eles tem uma Associação a

reunião deles é quinzenal”, eles reúnem para tratar dos problemas no

bairro. Diante de dez ou cinco itens, eles priorizam os mais

importantes e levam para as autoridades”. (Davi)

Os moradores encontraram na Associação de Moradores uma possibilidade de

solução comunitária para seus problemas:

“Se aqui no bairro tivesse uma Associação, eu não precisava arrumar

inimizade com a vizinha, pois com a sujeira da casa dela, chegou

muito rato na minha casa. Uma Associação Amigos de Bairro poderia

nos ajudar a resolver tudo isso”. (Maria)

“Se tiver uma Associação no nosso bairro eu posso ajudar, mas

não quero liderar Associação”. (Joel)

“Nós temos vários assuntos no Bairro que poderiam ser resolvidos na

Associação: A rua está cheia de cachorros, os bueiros as caixas de

gordura não funcionam. Quando for construir outro conjunto

habitacional, não deve plantar árvores nas calçadas, pois atrapalha a

passagem do povo, deve ser plantada no fundo da casa”. (Débora)

“Vou dizer uma coisa para vocês. O engenheiro que projetou aquele

serviço não pode ser engenheiro, e o que recebeu o serviço também

não é engenheiro, colocaram a minha caixa de gordura no terreno do

meu vizinho, quando fui construir o muro é que fui vê o erro”. (Joel)

Por fim, observamos que através da coleta de dados do grupo focal tivemos

uma maior riqueza de formação de opinião e atitudes durante a interação com os

indivíduos. Essa interação é que possibilitou a captação de significados. No dizer de

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Gatti (2005, p. 9), “o grupo focal permite emergir uma multiplicidade de pontos de vista

e processos emocionais, pelo próprio contexto de interação criado, permitindo a

captação de significados que, com outros meios, poderiam ser difíceis de manifestar”.

Também ajudou o fato de o foco principal ser um tema de conhecimento e interesse de

todos, facilitando as relações e interações.

Partindo do pressuposto que numa pesquisa qualitativa os pesquisados são

sujeitos que possuem experiências e que possuem percepção própria acerca do mundo

que os cerca, é extremamente importante que esta visão de mundo, bem como atitudes

que possam ser captadas, tornando o resultado da pesquisa um fruto coletivo. Neste

sentido a técnica do grupo focal assume relevância, contribuindo sobremaneira como

técnica para coleta de dados na pesquisa qualitativa.

No relato de experiência ora exposto, o foco principal foi um tema de

conhecimento e interesse de todos, facilitando as relações e interações. A observação

ganhou grande significado, pois foi através das palavras, gestos, silêncio, tom de voz, da

expressão fisionômica que a essência pode ser captada. Desta forma procurou-se, além

de ver, examinar como esta se manifesta.

Os resultados foram analisados com o auxílio da Análise de Conteúdo, que de

acordo com Chizotti (2001, apud SILVA e SILVEIRA, 2006), “esta se aplica à análise

de textos escritos ou de qualquer comunicação oral, visual, gestual, procurando

compreender o sentido da comunicação”. As categorias de análise geradas foram: a)

condições objetivas de trabalho; b) humanização/humanizador; c) dicotomia

teoria/prática.

Durante o grupo focal, na condição de moderadora, tivemos um baixo

envolvimento, isto porque tínhamos o controle dos tópicos a serem discutidos e da

dinâmica da discussão, porém, nosso papel se restringiu a fazer a discussão progredir

sem fazer comentários diretivos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir esse trabalho, tem-se a certeza de que a pesquisa nunca tem seu

fim, sendo um campo constante de descobertas e confirmações de teorias. Essa

dissertação, portanto, pode ser o ponto de partida para novas pesquisas no meio

acadêmico.

A dimensão educativa da prática profissional aqui estudada tem sua gênese

com o agravamento da questão social e nas exigências de enfrentamento da mesma para

atender suas manifestações decorrentes do processo de acumulação do capital. Marco

principal do desenvolvimento da função pedagógica do assistente social, centrada na

dimensão individual, na reforma moral e reintegração social.

Nas décadas de 50 e 60 a prática profissional foi atrelada à Ideologia

Desenvolvimentista, modelo utilizado e imposto pelos Estados Unidos da América, para

estruturar as relações capital e trabalho nos países latino-americanos, diante da crise do

capital. Tais experiências buscavam enfatizar a participação popular, estratégia utilizada

pelo governo objetivando conter as ameaças do comunismo.

As décadas de 50 e 60 foram fundamentais para o redimensionamento da

prática profissional do assistente social, momento denominado “Movimento de

Reconceituação”. O referido Movimento se fortaleceu com um amplo processo marcado

por movimentos progressistas denominado de Consciência Nacional Popular que

ocorreram no Brasil nos anos 50 e metade dos anos 60 que se utilizaram dos

instrumentos e princípios para conscientização dos setores populares e propostas

pedagógicas assinadas por Paulo Freire, movimento esse interrompido pelo golpe

militar de 1964.

Na década de 60 e 70 com o novo cenário político, desencadeado pelo Golpe

Militar de 1964. E diante da das questões sociais, a prática profissional buscou seu

redimensionamento com o objetivo de levar as pessoas a tomarem consciência dos

problemas sociais de forma a contribuírem para o desenvolvimento do país.

Diante da agudização vivenciada pela classe trabalhadora a categoria

profissional se posicionou assumindo compromisso com essa classe, mediante a

elaboração do projeto ético-político da profissão, centrado na tradição marxista que se

estruturou no reconhecimento da liberdade como valor central, no compromisso com a

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autonomia, emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais, vinculado a um

projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social. Esse projeto se

posicionou em favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização

dos direitos, ampliação e consolidação da cidadania.

A dimensão educativa da intervenção profissional do assistente social se

vincula ao projeto de hegemonia da classe subalterna, incorporando no trabalho

educativo uma ação política e ideológica na luta pela construção de uma nova sociedade

alternativa ao capitalismo. Todo esse movimento desencadeou na Constituição Federal

de 1988, quando a assistência social passa a ser uma política pública de direitos,

fazendo parte do tripé social, ao lado da Saúde e Previdência Social.

As conquistas incorporadas à Constituição Federal de 1988 na contramão da

ofensiva neoliberal recolocaram novos dilemas e desafios para a prática profissional,

diante do agravamento das questões sociais.

Nas décadas de 80 e 90, com a crise e esgotamento do padrão

fordista/keynesiano de produção, cujas saídas neoliberais implicam reformas do Estado

em que sobressaem a política de privatização e crescente redução da intervenção estatal

no atendimento das necessidades sociais das classes subalternas.

O processo neoliberal efetiva-se em conformidade com a política de

privatização, descentralização administrativa, do chamado Estado mínimo, tido como

solução na luta do próprio neoliberalismo contra os direitos sociais, de forma que se

contrapõem, frontalmente, às conquistas sociais incorporadas à Constituição Federal de

1988, em relação ao reconhecimento de direitos sociais garantidos pelo Estado, que

sinalizam para os princípios da universalização das políticas sociais e democratização

da gestão estatal.

Dessa forma, o atendimento que vem sendo dado pelas políticas sociais são

residuais, focalistas e restritivos, obedecendo-se às questões da seletividade e

elegibilidade, legitimando e reafirmando a função pedagógica do assistente social a

partir da focalização das necessidades na esfera individual em detrimento da

universalização do direitos.

Momento de precarização do trabalho profissional (terceirização, contratos

temporários etc.), sob a forma de prestação de serviços (assessorias e consultorias), sem

registro em carteira de trabalho. Sem garantias trabalhistas e com baixos salários.

Na década de 90, com a dominância da cultura pós-moderna, o serviço social

vivencia momento de enfrentamento às influências pós-modernas, que se trata de

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combate contra a teoria social de Marx, havendo uma verdadeira simplificação em

relação à tradição crítico-dialética, com o intuito de questionar e demonstrar a

insuficiência do marxismo na atualidade.

Os questionamentos e formulações de autores que não se colocam no interior

da tradição marxista, contribuem para o fortalecimento do pensamento pós-moderno,

que tende a desvalorizar a direção apontada pelo projeto profissional e sua mediação na

esfera da ética.

Momento que aponta as alterações vivenciadas na sociedade contemporânea,

afirmando o esgotamento do projeto ético político da profissão, sendo que as teorias que

o fundamenta, não conseguem mais explicar as necessidades da sociedade atual. Urge a

necessidade de a profissão construir novos objetos, teorias e metodologias a partir dessa

nova direção.

Reafirmando as bases teóricas do projeto ético-político, teórico-metodológico e

operativo da profissão do assistente social, centrada na tradição marxista, onde o

diálogo serviu como base do projeto interventivo que norteou o trabalho realizado no

Programa Habitacional Jardim Bela Vista II, concluímos durante a pesquisa de campo,

a partir das entrevistas, aplicação dos questionários e debate realizado pelo grupo focal,

que o processo interventivo do trabalho social construído a partir da dimensão

educativa, ora se colocou a serviço dos interesses da classe dominante, ora se colocou a

serviço dos interesses da classe subalterna.

Nessa direção, a investigação possibilitou-nos verificar que a dimensão

educativa presente ao longo da intervenção profissional do assistente social, permitiu a

apreensão e a efetivação de direitos sociais, não esgotando a necessidade de avançar no

caminho da construção de uma nova sociabilidade e de uma nova cultura.

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101

APÊNDICE A - Projeto de Trabalho Técnico Social

1 IDENTIFICAÇÃO

Empreendimento: Unidade Habitacional

SIAPF Nº_____/____

Endereço: Av. João Samuel de Moraes/Bairro

Jardim Bela Vista

Município: Carvalhópolis

UF/MG

Executor: Prefeitura Municipal de Carvalhópolis

Endereço: Rua João Norberto de Lima, 222 Município: Carvalhópolis

UF/MG

Tel.: e-m@il:

[email protected]

Responsável Técnico: Maria do Carmo Silva

Novaes de Souza Formação: Assistente Social

Tel. : e-m@il:

2 COMPOSIÇÃO DA EQUIPE TÉCNICA

Nome Formação

Acadêmica

Atribuição

na Equipe

Número de

Horas

Semanais

Maria do Carmo Silva Novaes de Souza Assistente Social Responsável

Técnica

16:00

2.1 – EQUIPE TÉCNICA DE ORIENTAÇÃO E APOIO

Nome Formação Atribuição na

equipe

Nº de horas

semanais

Arquiteta Urbanista Orientação e

apoio

6 horas semanais

Arquiteto Urbanista

Engenheiro

Orientação e

apoio

6 horas semanais

Psicóloga Orientação e

apoio

4 horas semanais

3 ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDIMENTO E DO ENTORNO

Característica do Empreendimento

Tipo: [ ] horizontal [ X ] vertical

Nº de blocos/quadras: Nº de unidades habitacionais: 26

Equipamentos de uso comum:

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Características da área: O município de Carvalhópolis está localizado na região Sul do

estado de Minas Gerais, O município encontra-se situado numa região demarcada por

planícies, com temperatura média anual de 25º graus, classificado com o clima temperado e

temperaturas amenas durante todo o ano. O bairro destinado ao empreendimento tem

localização geográfica privilegiada, com fácil acesso dos moradores à escola, centro de saúde,

creche, clube social, banco e igrejas. A unidade de saúde municipal conta com o Programa de

Saúde da Família, onde é disponibilizado um agente de saúde para cada bairro, que visita

todos os moradores dos Bairros, além de disponibilizar a visita do médico e de enfermeira (o)

para as famílias, atendimento diuturnamente com enfermeiro, serviço de ambulância para as

unidades de referência, plantão médico diariamente. Quanto ao serviço odontológico, este é

realizado através de 04 dentistas que atendem a população diariamente com tratamento

preventivo e curativo. Quanto aos tratamentos de média e alta complexidade, o município conta

com a parceria do CISLAGOS (Consórcio Intermunicipal Saúde da Região dos Lagos), que

complementa o atendimento de saúde deste município. Outras ações de saúde são

desenvolvidas através dos hospitais de referência em outros Estados do país tais como: São

Paulo e Rio de Janeiro.

O Município é habitado na grande maioria por trabalhadores rurais, haja vista ser Carvalhópolis

um município predominantemente agrícola. O Bairro destinado ao empreendimento é

constituído por habitações de alvenaria, disponibilizando à seus moradores: infra-estrutura,

saneamento básico, rede de esgoto, luz elétrica, bem como rede hidráulica e ruas

pavimentadas. O referido bairro é constituído de aproximadamente 170 habitações. Quanto à

organização comunitária o Bairro conta com um Clube Social e um Albergue Municipal em fase

de acabamento. O Bairro do empreendimento não disponibiliza de associação de moradores,

porém a Secretaria Municipal de Assistência Social, dentre as suas atribuições, vem

estimulando a criação de Associações de Bairros.

A área do empreendimento não oferece nenhuma situação de risco para seus moradores,

encontra-se localizada à um Quilômetro e meio do centro da cidade.

Infra-estrutura: Quanto à infra-estrutura do bairro, este é pavimentado com ruas asfaltadas,

a água consumida pela população é tratada pela COPASA/MG (Companhia de Saneamento de

Minas Gerais), sendo que 100% da população do bairro possuem água encanada e tratada.

Em relação ao esgoto, 100% das residências do bairro disponibilizam de saneamento básico

com rede de esgoto. Quanto à coleta de lixo, esta é realizada por um veículo da Prefeitura e

destinado para o aterro sanitário. A iluminação pública é feita pela CEMIG – Companhia

Energética de Minas Gerais, cobrindo 100% da população. Quanto ao transporte o Município é

servido pelo Expresso Gardênia Ltda.

Equipamentos comunitários e capacidade de atendimento: O local do

empreendimento dispõe de fácil acesso aos equipamentos comunitários e serviços públicos do

município, tais como: Creche Municipal Vovó Maroca, atende a 50 crianças na faixa etária de

01 a 07 anos, no horário das 7:00 às 17:00, com assistência médica, odontológica, farta

alimentação e atividades pedagógicas. Clube Cultural e Recreativo de Carvalhópolis, este

disponibiliza lazer aos moradores locais através de: piscinas, quadra poliesportiva, quadra de

bocha, campo socyte, salão de jogos e sauna. O Associação São Vicente de Paula, presta

atendimento à pessoas idosas na faixa etária acima de 55 anos. Quanto à escolaridade os

moradores do bairro são atendidos pelas escolas: Escola Municipal Balãozinho Vermelho,

Escola Municipal Maria Caproni de Oliveira e Escola Estadual João de Paula Caproni.

A unidade de saúde municipal conta com o Programa de Saúde da Família, onde é

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103

disponibilizado um agente de saúde para cada bairro, que visita todos os moradores dos

Bairros, além de disponibilizar a visita do médico e de enfermeira (o) para as famílias,

atendimento com enfermeiro, serviço de ambulância para as unidades de referência, plantão

médico diariamente. Quanto ao serviço odontológico, este é realizado através de 04 dentistas

que atendem a população diariamente com tratamento preventivo e curativo. Quanto aos

tratamentos de média e alta complexidade, o município conta com a parceria do CISLAGOS

(Consórcio Intermunicipal Saúde da Região dos Lagos), que complementa o atendimento de

saúde deste município. Outras ações de saúde são desenvolvidas através dos hospitais de

referência em outros Estados do país tais como: São Paulo e Rio de Janeiro.

Caracterização da organização comunitária local: A organização comunitária do

Município é realizada através da rede prestadora de serviços assistencial tais como:

Associação Comunitária do Esmeril, que presta atendimento às famílias através do

beneficiamento de arroz; Associação Comunitária Nova Era que presta atendimento no Balcão

de Emprego; ASCOUB, que presta atendimento com orientações aos produtores rurais;

Associação São Vicente de Paula, que presta atendimento asilar aos idosos acima de 55 anos;

Creche Municipal, que presta atendimento à crianças na faixa etária de 01 a 07 anos. Quanto

aos programas desenvolvidos pela Divisão de Saúde e Ação Social, são desenvolvidas ações

que objetivam a inclusão, prevenção e proteção social dos seguimentos mais vulnerabilizados

da população sendo eles: auxilio com medicação, alimentação, material de construção,

benefícios de prestação continuada, habilitação e reabilitação de pessoas portadoras de

deficiência, orientação técnica para rede executora dos serviços assistenciais, distribuição de

órteses e próteses, condução para transporte de pessoas com problemas de saúde, transporte

para estudantes, bolsas de estudos etc. O sistema municipal de saúde é composto por

dentistas que prestam atendimento à população com atendimento preventivo e curativo;

médicos que prestam atendimento contínuo de segunda a sexta feira além do serviço de

ambulância que presta atendimento de emergência 24 horas/dia encaminhando pacientes aos

hospitais de referência. Atendimento psicológico que prioriza o atendimento escolar, além de

outros casos que são encaminhados pelo Conselho Tutelar dos Direitos da Criança e do

Adolescente e do Programa de Saúde da Família; Nutricionista profissional responsável pela

elaboração do cardápio escolar, além de palestras que são ministradas para as merendeiras e

agentes de saúde do PSF, bem como a orientação aos pacientes diabéticos e hipertensos no

que se refere a alimentação e controle das doenças cardiovasculares. O sistema de educação

do Município atende alunos da rede municipal com ensino fundamental, pré-escola, além da

rede estadual que atende com ensino médio.

Os alunos residentes no perímetro rural são atendidos com transporte municipal, sendo este extensivo aos estudantes de nível superior e cursos técnicos quando se deslocam para as cidades vizinhas.

Os alunos com necessidades especiais são atendidos em algumas especialidades no próprio município e os demais encaminhados a escolas especializadas do Município de Machado. A merenda escolar é distribuída para a rede pública municipal e estadual.

A Prefeitura Municipal distribui ainda material didático e pedagógico para os alunos da rede pública municipal e estadual além da distribuição de uniformes.

Na área do trabalho o município conta com o Conselho Municipal de Emprego que encontra-se aguardando recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) que implementará cursos de formação e capacitação objetivando a geração de renda para a população do Município.

No tocante ao meio ambiente, são realizadas campanhas escolares conscientizando a população da importância da preservação do verde, de não poluir as águas, da preservação da nascente de água localizada no município e na educação ambiental estimulando hábitos de prevenção da saúde.

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4 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO BENEFICIÁRIA

Nº de famílias

26 (vinte seis)

Total de moradores

130 (cento e trinta)

A população a ser beneficiada pelo presente projeto é, na grande maioria, trabalhadores rurais com renda mensal de até dois salários mínimos, trabalhadores do mercado informal que trabalham nos períodos de colheitas do café, na agricultura do milho, arroz, feijão, pecuária leiteira, além de trabalhadores formais com renda de até dois salários mínimos que trabalham como bóia-fria, pedreiro, faxineira diarista, fábricas de costura e outros. O nível de escolaridade do público alvo é formado por analfabetos, alguns com ensino fundamental completo e outros com ensino médio e superior. A composição familiar é constituída de famílias numerosas na média de até 05 pessoas sendo, pai, mãe e filhos, além de filhos que casam e continuam a morar com os pais. A maioria das famílias é constituída por mulheres chefe família com renda mensal de até um salário mínimo. O público atendido no referido projeto foi priorizado mediante critérios de seleção, priorizando famílias com a presença de idosos e pessoas portadoras de necessidades especiais, com grande número de dependentes, famílias moradoras no município a pelo menos três anos, e que não seja proprietário de nenhum imóvel urbano ou rural.

5 JUSTIFICATIVA

Com a elaboração do diagnóstico social do município, verificou-se a existência de um considerável déficit habitacional. Grande parte desta demanda constitui-se por pessoas consideradas vulneráveis em razão de sua impossibilidade de superar sua dependência econômica social a que estão submetidas. Neste contexto é que se justifica o presente projeto.

O projeto de Unidade Habitacional significa uma estratégia a ser oferecida aos beneficiários na busca da conquista e da construção do seu próprio projeto de vida, autonomia e inclusão social.

6 OBJETIVOS E AÇÕES PROPOSTAS

Objetivo geral: Viabilizar o acesso à moradia para as famílias de baixa renda, criando

mecanismos capazes de viabilizar a participação e a organização dos beneficiários, bem como

estimulá-los ao pagamento dos encargos financeiros decorrentes da aquisição da moradia e

fixação dos beneficiários nos imóveis visando a sustentabilidade do programa.

Objetivos específicos:

Preparar a população alvo para a ocupação racional e responsável de um novo espaço coletivo, uma nova moradia e uma nova comunidade;

Informar o grupo sobre as condições, direitos, deveres e responsabilidades das partes envolvidas no empreendimento;

Prestar os esclarecimentos específicos sobre o programa (com a participação da caixa);

Incentivar a adimplência;

Despertar nas famílias o sentimento de apropriação e pertencimento;

Implementar ações educativas com foco em educação sanitária e ambiental;

Promover a mobilização e a organização comunitária a partir de propostas advindas do próprio grupo;

Promover a fixação dos beneficiários no imóvel;

Implementar atividades voltadas à educação patrimonial através de oficinas, atividades

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práticas e palestras;

Promover atividades que visem a melhoria das relações de vizinhança, respeito aos espaços coletivos e ao correto uso do imóvel e dos equipamentos comunitários.

7 METODOLOGIA

Todo o projeto será implementado em três etapas, iniciando antes das obras continuando por

todo período de execução, estendendo até após ocupação das famílias. Estima-se um prazo de

doze meses. Todas as atividades serão registradas com fotos, atas e lista de presenças.

Utilizaremos uma metodologia participativa, com atividades expositivas, buscaremos envolver

os beneficiários em todas as atividades e momentos do trabalho. As ações serão distribuídas

em cada etapa da seguinte forma:

Primeira etapa – informação aos beneficiários sobre o programa, direitos, deveres e etc.

Divulgação de informações completas e precisas sobre o programa, suas características e peculiaridades, com foco no caráter pessoal, intransferível e único do subsídio;

Esclarecimento sobre os direitos e obrigações dos beneficiários, competências e atribuições dos agentes envolvidos, valor e forma de pagamento dos encargos financeiros dos financiamentos concedidos;

Levantamento das expectativas dos beneficiários em relação ao empreendimento;

Estratégias que objetivem a integração entre os beneficiários.

Segunda etapa – mobilização e a organização comunitária e ações educativas;

Iniciativas que estimulem a organização comunitária e a formação de bases associativas que congreguem os interesses comuns bem como o conhecimento de suas demandas;

Discussão das demandas do grupo, buscando, quando possível, sua incorporação no escopo do trabalho social, visando o envolvimento, adesão e comprometimento;

Discussão e implementação de estratégias de parcerias com entidades públicas e organizações da sociedade civil como: escolas, rede prestadora de serviços assistenciais, clubes de serviços e outros, visando o encaminhamento das soluções às demandas e necessidades identificadas;

Criação da comissão de acompanhamento das obras. Terceira etapa - pós ocupação; educação patrimonial, inserção do beneficiário na nova moradia

Interação entre os beneficiários e sua nova moradia;

Atividades que assegurem a inserção das famílias beneficiárias no espaço urbano, onde encontra-se inserido o empreendimento;

Promover ações educativas, com foco em educação sanitária e ambiental, visando a preservação do ambiente e estimulando hábitos de prevenção à saúde;

Atividades que promovam a consciência da correta utilização, conservação e manutenção dos equipamentos coletivos e o uso adequado dos imóveis.

8 ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO

O acompanhamento de todo o processo será de responsabilidade da equipe técnica com o

apoio do Conselho Municipal de Habitação, onde serão usados os seguintes instrumentos de

avaliação: questionários, entrevistas, visitas periódicas às obras e às famílias, relatos pessoais

e participação nas reuniões. Quanto aos instrumentos de registro das atividades serão

realizados através de fotos atas e listas de presença.

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9 PARCERIAS

A Prefeitura Municipal com a doação do terreno e infra-estrutura necessária através das

Secretarias de Saúde, Ação Social, Divisão de Obras, departamento jurídico, beneficiários,

AMBASP, CEMIG, COPASA/MG e Caixa Econômica Federal.

Setor de Ação Social:

Realização do cadastro;

Elaboração do projeto social;

Coordenação do projeto social;

Seleção dos beneficiários;

Elaboração dos relatórios sociais;

Aplicação de questionários para avaliação;

Participação na avaliação e monitoramento do projeto.

Divisão de Saúde:

Palestras educativas;

Assistência á saúde das famílias beneficiárias.

Divisão de obras:

Coordenar e executar o projeto técnico habitacional;

Executar os projetos arquitetônicos do loteamento e das casas;

Executar construção das casas;

Executar a pavimentação e abertura das ruas;

Construção da rede de esgoto e hidráulica;

Departamento jurídico:

Elaboração da Lei de doação dos terrenos;

Elaboração do termo de cessão de uso;

Orientação na elaboração do regimento que regulará as ações; (se for o caso)

Beneficiários:

Colaboradores em todo o processo;

Caixa Econômica Federal:

Disponibilizar recurso financeiro para a construção do empreendimento;

Fiscalização dos trabalhos;

Coordenação e orientação técnica na elaboração e avaliação do projeto.

AMBASP:

Elaboração do projeto de engenharia;

Disponibilizar a equipe técnica para acompanhar e coordenar a construção das casas;

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107

CEMIG:

Instalação e manutenção da rede de energia elétrica.

COPASA/MG:

Instalação e tratamento da rede de água e esgotos.

10 COMPOSIÇÃO DE CUSTOS - ORÇAMENTO

CUSTOS COM RECURSOS MATERIAIS E SERVIÇOS

Discriminação: Unidade Quantidade

Valor Unitário

Valor Total

Material de Consumo

Sulfite 04 caixas 120,75 483,00

Tinta para impressora/preto

03 cartuchos

73,50 220,50

Tinta para impressora/color

02 cartuchos

85,00 170,00

Livro de ata 100 folhas

02 8,40 16,80

Cartolina 10 0,31 3,10

Lápis 40 0,31 12,40

Caneta azul 40 0,47 18,80

Pasta transparente com elástico

40 1,47 58,80

Serviço de Terceiros Palestras educativas

--------- ---------- ---------

TOTAL 983,40

CUSTOS COM RECURSOS HUMANOS

Profissional Formação Período Valor

homem/hora

N.º

horas/dia

Dia/

mês

Valor

Mensal

Encargos

Sociais

Valor

Total

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108

TOTAL

TOTAL GERAL

997,50

11 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Etapa Objetivos/Ações Período ( meses)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Primeira etapa

Informação aos

beneficiários

sobre o

programa,

direitos,

deveres e etc.

Divulgação de informações

completas e precisas sobre

o programa

x

Esclarecimento sobre os

direitos e obrigações dos

beneficiários, competências

e atribuições dos agentes

envolvidos, valor e forma de

pagamento dos encargos

financeiros dos

financiamentos concedidos.

x x x

Levantamento das

expectativas dos

beneficiários em relação ao

empreendimento

x

Estratégias que objetivem a

integração entre os

beneficiários.

x x x x x x x x x x x x

Incentivar a adimplência

quanto ao pagamento das

prestações.

x x x x x x x x x x x x

Despertar nas famílias o

sentimento de apropriação e

pertencimento.

x x x x x x

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Promover a fixação dos

beneficiários nos imóveis.

x x x x x x

Segunda etapa

Mobilização e

Organização

Comunitária e

ações

educativas

Iniciativas que estimulem a

organização comunitária e a

formação de bases

associativas que

congreguem os interesses

comuns, bem como o

conhecimento de suas

demandas.

x x x x x x

Discussão das demandas do

grupo buscando, quando

possível, sua incorporação

no escopo do trabalho

social, visando o

envolvimento, adesão e

comprometimento.

x x x x x x x x x x x x

Discussão e implementação

de estratégias de parcerias

com entidades públicas e

organizações da sociedade

civil como escolas, rede

prestadora de serviços

assistenciais, clube de

serviços e outros, visando o

encaminhamento das

soluções às demandas e

necessidades identificadas.

x x x x x x x x x x x x

Criação da comissão de

acompanhamento das

obras.

x

Terceira etapa

Pós-ocupação,

educação

patrimonial,

inserção do

beneficiário na

nova moradia

Interação entre os

beneficiários e sua nova

moradia.

x x x x x x

Atividades que assegure a

inserção das famílias

beneficiárias no espaço

urbano onde se encontra

inserido o empreendimento.

x x x x x x

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110

Promover ações educativas,

com foco em educação

sanitária e ambienta,

visando à preservação do

ambiente e estimulando

hábitos de prevenção à

saúde.

x x x x x x

Atividades que promovam a

consciência da correta

utilização, conservação e

manutenção dos

equipamentos coletivos e o

uso adequado dos imóveis.

x x x x x x

Desenvolver atividades,

visando a melhoria das

relações de vizinhança, bem

como o respeito pelo espaço

coletivo.

x x x x x x

Interação entre os

beneficiários e sua nova

moradia.

x x x x x x

Desenvolver atividades que

promovam a consciência da

correta ocupação,

conservação e manutenção

dos imóveis e equipamentos

do empreendimento.

x x x x x x

12 - CRONOGRAMA FÍSICO-FINANCEIRO

Item

Custos em R$

Período (meses)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Recursos

Humanos

- - - - - - - - - - - -

Serviço de

Terceiros

- - - - - - - - - - - -

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111

Material de

Consumo

997,50

- - - - - - - - - - -

Custo com Atividades/ Eventos

- - - - - - - - - - - -

Transporte - - - - - - - - - - - -

Alimentação/Hospedagem

- - - - - - - - - - - -

Outras (especificar)

- - - - - - - - - - - -

Total 997,50

Carvalhópolis, 11 de janeiro de 2005.

_____________________________

Responsável Técnico

Maria do Carmo Silva Novaes de Souza

Assistente Social – CRESS 4108

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APÊNDICE B – Fotos das famílias contempladas no Programa Jardim Bela Vista

II

Fotos das unidades habitacionais

Início do mutirão, objetivando o aceleramento das obras, durante abertura de

valas.

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Unidades Habitacionais

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APÊNDICE C- Roteiro das questões norteadoras para o debate no grupo focal

1) Inicialmente, expliquem como foi a trajetória de suas vidas

até sua chegada em Carvalhópolis (MG)?

2) Quais as transformações que as reuniões socioeducativas, realizadas durante a

construção e pós-ocupação do programa habitacional, provocaram nas suas vidas?

3) Para vocês qual o significado de mutirão?

4) Qual a opinião de vocês sobre os mutirões realizados durante a construção de vossas

casas?

5) Qual a opinião de vocês quanto às suspensões dos mutirões, durante a construção de

vossas casas?

6) Vocês já ouviram falar em Associação de Moradores de Bairros? Para que serve?

7) Se existisse uma Associação de Moradores no Bairro de vocês, quais os problemas

que vocês buscariam ajuda da Associação?

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APÊNDICE D – Termo de consentimento livre e esclarecido

Eu, ____________________________ CPF _________________, abaixo assinado,

estando devidamente esclarecido sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa

intitulada __________________________________ realizada pela pesquisadora Maria

do Carmo Silva Novaes de Souza, aluna do Programa de Mestrado do Centro

Universitário Salesiano de São Paulo, sob a orientação do Profº. Dr. Antonio Carlos

Miranda, concordo em participar da pesquisa, sob a condição de preservação de minha

identidade, tanto na coleta dos dados como no tratamento e divulgação dos mesmos.

Cidade, data: __________________________

Nome: _________________________________

CPF: __________________________________

Assinatura: ____________________________________

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APÊNDICE E – Questionário aplicado durante a pesquisa com as famílias

contempladas no conjunto habitacional Jardim Bela Vista II

1 Dados Pessoais

2 Caracterização socioeconômica

N NOME: SEXO

( ) M ( ) F

DATA DO NASCIMENTO: / /

RG:

ENDEREÇO RESIDENCIAL:

COMPLEMENTO

BAIRRO CIDADE CEP

TELEFONES P/CONTATO

Fixo: cel:

Nome Parentesco Idade Profissão

Escolaridade

Salário

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

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3 Situação familiar

Composição Familiar:

( ) Casal ( ) casal mais filhos

( ) Mulher Chefe de família _____________________________________________

Estado Civil do Responsável pela Família ________________________________

Profissão: ___________________________________ Escolaridade: _____________

Situação no mercado de trabalho:

( ) registrado

( ) diarista

( ) autônomo

( ) desempregado

( ) aposentado

( ) afastado INSS

Nome do Cônjuge _____________________________ Estado Civil: ___________

Profissão_________________________________ Escolaridade: ______________

Situação no mercado de trabalho:

( ) registrado

( ) diarista

8.

Outras rendas que a família recebe:

Pensão Alimentícia:

Aposentadoria:

Aluguel:

R$

R$

R$

R$

R$

R$

RENDA total da família (R$) =

Nº de pessoas que vivem com esta renda ( )

Per Capita

R$

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( ) autônomo

( ) desempregado

( ) aposentado

( ) afastado INSS

4. Despesas mensais da família:

Financiamento do imóvel: R$___________________

Água: R$_____

Luz: R$_____________

Transporte: R$_______________

Celular: R$_____________

Alimentação: R$_____________

Medicamentos: R$___________________

Outros financiamentos: R$__________________

5. A sua residência é servida pelos serviços públicos de saneamento básico?

Rede de água? ( ) sim ( ) não

Energia elétrica? ( ) sim ( ) não

Asfalto? ( ) sim ( ) não

Rede de esgoto? ( ) sim ( ) não

Coleta de lixo? ( ) sim ( ) não

6. Quais dos itens abaixo existem na sua residência?

( ) Celular

( ) Computador

( ) Lap Top

( ) Internet

( ) TV por assinatura

( ) TV LCD/LED

( ) Carro Modelo _________ Ano _____

( ) Motocicleta Ano _____

7. A religião é importante para você?

( ) Sim ( ) não

8. Você participa de alguma religião?

( ) não ( ) sim Qual? ___________________________________

9. Dados sobre saúde

A família possui convênio médico?

( ) sim Qual?_________________________________ ( ) não

Você tem algum problema de saúde?

( ) sim Qual?________________________________ ( ) não

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É portador de alguma deficiência?

( ) sim Qual?_________________________________ ( ) não

Toma algum tipo de remédio?

( ) sim Qual?______________________________________ ( ) não

Há pessoa deficiente na sua família, que reside com você?

( ) sim ( ) não

10. Após a aquisição do imóvel, o que mudou na sua vida?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

11. Após a aquisição do imóvel, realizou algum tipo de melhoria no mesmo?

( ) sim ( )não

No caso positivo,

Qual?_______________________________________________________

12. Qual sua opinião, sobre os trabalhos realizados nas reuniões socioeducativas?

________________________________________________________________

______________________________________________________________

13. Gostaria de sugerir algum tema, para ser trabalhado nas reuniões, com novos grupos

contemplados com unidades habitacionais no município?

( ) sim ( ) não

No caso positivo, qual?

________________________________________________________

14. Quais os equipamentos comunitários, que faltam no bairro, que na sua opinião

seriam fundamentais para o bem estar da população?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

15. Quais são seus planos para o futuro?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

16. Outras observações:

________________________________________________________________

__________________________________________________________________