12
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Professora: Cristiana Mendes RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO DIREITO ADMINISTRATIVO BIBLIOGRAFIA: 1. BARCELLOS, Ana Paula de. Renovar. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais. 2. CAHALI, Yussef Said. Revista dos Tribunais. Responsabilidade Civil do Estado. 3. CARVALHO FILHO. José dos Santos. Gen. Manual de Direito Administrativo. 4. CASTRO, Guilherme Couto. Editora Forense. A Responsabilidade Civil objetiva no Direito Brasileiro. 5. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Gen. Programa de Responsabilidade Civil. 6. NOHARA. Irene Patrícia. Editora Atlas. Direito Administrativo. O prazo prescricional das ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública é quinquenal (Decreto n. 20.910/1932), tendo como termo a quo a data do ato ou fato do qual originou a lesão ao patrimônio material ou imaterial. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 - Tema 553) Responsabilidade Civil do Estado por: Ato legislativo – Regra: não existe responsabilidade (lei tem caráter genérico e abstrato, portanto não temos como individualizar os danos); Exceções: leis de efeitos concretos, leis inconstitucionais (Inf. 297 - declaração formal de inconstitucionalidade) e omissões inconstitucionais (Estado tem o dever de legislar). Caso Varig- STF RE 571969. STF manteve acórdão oriundo do TRF-1 que condenou a União ao pagamento de indenização a favor da companhia aérea. Congelamento de tarifas. Ato judicial – Regra: não responsabilidade; Exceção: erro judiciário, prisão além do tempo fixado na sentença e demora na prestação jurisdicional. Responsabilidade pessoal do Juiz: Casos de dolo ou fraude (responsabilidade subjetiva do Magistrado) Art. 143 NCPC e art. 181 NCPC. ATENÇÃO: A lei 13.286/2016 trata no seu art. 22 da responsabilidade subjetiva dos notários e registradores no exercício da atividade típica, afastando a tese de responsabilização objetiva. ERRO JUDICIÁRIO. CONDENAÇÃO CRIMINAL. REVISÃO. ABSOLVIÇÃO. DANOS MORAIS. Condenação criminal com cumprimento em regime prisional fechado, posteriormente comprovado, em revisão criminal, a inocência, configura erro judicial passível de indenização. É objetiva a responsabilidade civil do Estado, independente da atuação do magistrado, que é subjetiva. Danos

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

1 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

DIREITO ADMINISTRATIVO

BIBLIOGRAFIA:

1. BARCELLOS, Ana Paula de. Renovar. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais.

2. CAHALI, Yussef Said. Revista dos Tribunais. Responsabilidade Civil do Estado.

3. CARVALHO FILHO. José dos Santos. Gen. Manual de Direito Administrativo.

4. CASTRO, Guilherme Couto. Editora Forense. A Responsabilidade Civil objetiva no Direito Brasileiro.

5. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Gen. Programa de Responsabilidade Civil. 6. NOHARA. Irene Patrícia. Editora Atlas. Direito Administrativo.

O prazo prescricional das ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública é quinquenal

(Decreto n. 20.910/1932), tendo como termo a quo a data do ato ou fato do qual originou a lesão ao

patrimônio material ou imaterial. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 - Tema 553)

Responsabilidade Civil do Estado por:

Ato legislativo – Regra: não existe responsabilidade (lei tem caráter genérico e abstrato, portanto não temos como individualizar os danos); Exceções: leis de efeitos concretos, leis inconstitucionais (Inf. 297

- declaração formal de inconstitucionalidade) e omissões inconstitucionais (Estado tem o dever de legislar).

Caso Varig- STF RE 571969. STF manteve acórdão oriundo do TRF-1 que condenou a União ao

pagamento de indenização a favor da companhia aérea. Congelamento de tarifas.

Ato judicial – Regra: não responsabilidade; Exceção: erro judiciário, prisão além do tempo fixado na

sentença e demora na prestação jurisdicional. Responsabilidade pessoal do Juiz: Casos de dolo ou fraude

(responsabilidade subjetiva do Magistrado) Art. 143 NCPC e art. 181 NCPC.

ATENÇÃO: A lei 13.286/2016 trata no seu art. 22 da responsabilidade subjetiva dos notários e registradores no exercício da atividade típica, afastando a tese de responsabilização objetiva.

ERRO JUDICIÁRIO. CONDENAÇÃO CRIMINAL. REVISÃO. ABSOLVIÇÃO. DANOS MORAIS. Condenação criminal com cumprimento em regime prisional fechado, posteriormente comprovado, em

revisão criminal, a inocência, configura erro judicial passível de indenização. É objetiva a responsabilidade civil do Estado, independente da atuação do magistrado, que é subjetiva. Danos

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

2 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

materiais pelo tempo que deixou de ganhar, a ser calculado em liquidação de sentença, considerando o

labor do indivíduo. Danos morais devidos, fixados em um milhão de reais. TRF4. APELAÇÃO CÍVEL

Nº 2006.72.12.000660-9/SC.

Evolução Política e Jurídica da Reponsabilidade Civil do Estado

PRIMEIRA ETAPA: TOTAL IRRESPONSABILIDADE DO ESTADO (“O rei não erra, o que

agradou o príncipe tem força de lei” (“O Estado sou eu”) - período de alforria do dever indenizatório do

Estado. PERÍODO ABSOLUTISTA.

Obs: No Século XX, José Aguiar Dias criticava os sistemas norte-americano e inglês, pela sua persistência

na regra the king can do no wrong, extinto apenas em 1946.

SEGUNDA ETAPA: NOVO MODELO DE RESPONSABILIZAÇÃO DO ESTADO.

REVOLUÇÃO FRANCESA (1789). VETORES DA LEGALIDADE, SEPARAÇÃO DE PODERES E

DIREITOS FUNDAMENTAIS. Limites de atuação do Estado.

• CC 1916 E A CONSTITUIÇÃO DE 1937. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO.

• ATOS DE GESTÃO X ATOS DE IMPÉRIO – DIFICULDADE NA INSTRUÇÃO PROCESSUAL e

na COMPROVAÇÃO DO NEXO DE CAUSALIDADE.

• CUPA DO SERVIÇO ou CULPA ANÔNIMA. A VÍTIMA NÃO PRECISOU MAIS IDENTIFICAR O

AGENTE PÚBLICO E DEMONSTRAR SUA CULPA INDIVIDUAL PARA RESPONSABILIZAR O

ESTADO.

Faute du service public: ausência do serviço, serviço falho ou defeituoso ou serviço tardio.

ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO DE 1946- Aparecimento do Estado de Direito. ERA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA- FORTALECIMENTO NA CRFB 1988.

PREVISÃO NO ARTIGO 43 DO CÓDIGO CIVIL 2002.

CRFB 1988 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios

de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao

seguinte:

(...)

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

3 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Passagem do Sec. XIX – XX (a consolidação da responsabilização objetiva: surgimento moderno da responsabilidade sem culpa)

Hipercomplexidade em matéria de responsabilidade civil (ex. abandono afetivo) e a

flexibilização do nexo de causalidade em diversas situações (ex. dano ambiental).

Ampliação dos riscos e das situações de concausalidade

Surgimento de novos danos, inclusive, no plano coletivo.

Possibilidade de diminuição do quantum indenizatório em razão da conduta dos envolvidos.

TEORIA DO RISCO

“A culpa deixou de ser protagonista e passou a desempenhar um papel coadjuvante. ” Flávio

Tartuce.

CLÁUSULA GERAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. PREVISÃO NO CC 2002.

TÍTULO IX

Da Responsabilidade Civil

CAPÍTULO I

Da Obrigação de Indenizar

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-

lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

4 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

Risco: Probabilidade concreta de perigo.

RISCO ADMINISTRATIVO

RISCO CRIADO

RISCO PROVEITO

RISCO PROFISSIONAL NOVOS RISCOS

RISCO DEPENDÊNCIA (JOSÉ FERNANDO SIMÃO)

RISCO INTEGRAL

RISCO CONCORRENTE (FLÁVIO TARTUCE)

TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO

Em princípio, pois, a responsabilidade objetiva do poder público, assentada na teoria do risco administrativo, ocorre por ato de seus agentes.

Ato de seus agentes “nessa qualidade”.

A Administração Pública pode responder civilmente pelos danos causados por seus agentes, ainda que estes estejam amparados por causa excludente de ilicitude penal. Precedentes

STJ.

A responsabilidade civil do Estado como guardião de relevantes interesses públicos existe mesmo

quando o ato administrativo for lícito.

“A Administração Pública gera risco para os administrados, entendendo-se como tal a possibilidade de dano que os membros da comunidade podem sofrer em decorrência da normal ou anormal atividade do Estado. Tendo em vista que essa atividade é exercida em favor de todos, seus ônus devem ser também suportados por todos, e não apenas por alguns. Consequentemente, deve

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

5 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

o Estado, que a todos representa, suportar os ônus da sua atividade, independentemente de culpa de seus

agentes”. Sérgio Cavalieri Filho, em seu livro Programa de Responsabilidade Civil. GEN.

DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. APELAÇÕES CÍVEIS SIMULTÂNEAS.

AÇÃO INDENIZATÓRIA. RECURSO DA AUTORA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. ABORDAGEM POLICIAL. DANOS MORAIS. DEVER DE INDENIZAR. MAJORAÇÃO

DO VALOR ARBITRADO INDENIZATÓRIO. RECURSO IMPROVIDO. RECURSO DO ESTADO

DA BAHIA. EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE POR CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIA E DOS HONORÁRIOS DE

SUCUMBÊNCIA. NÃO PROVIDO.

I –Nos termos do art. 37, §6º, da CF, as pessoas jurídicas de direito público respondem objetivamente pelos danos causados a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o agente público causador do dano, nos casos de dolo ou culpa; II – A abordagem policial

indevida e ilegal, que expõe cidadão a uma situação vexatória, enseja a responsabilidade objetiva

civil do Estado, com a condenação em dano moral; III – analisando as informações trazidas nos

autos, bem como o quanto relatado pelas partes em suas peças processuais, e em face da

configuração do dano jurídico do autor, razoável e proporcional o arbitramento estabelecido na

sentença a quo, no importe de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), devendo-se manter, portanto, a

sentença de piso. RECURSOS NÃO PROVIDOS. TJBA. Apelação n. 8000114-91.2015.8.05.0119. Segunda Câmara Cível. J. 01/2018.

STJ Inf. 606 (2017) Processo REsp 1.574.681-RS, SEXTA TURMA Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, por

unanimidade, julgado em 20/4/2017, DJe 30/5/2017.

Tema:

Tráfico de drogas. Flagrante. Domicílio como expressão do direito à intimidade. Asilo Inviolável. Exceções

constitucionais. Interpretação restritiva. Invasão de domicílio pela polícia. Necessidade de justa causa.

Destaque:

Não configura justa causa apta a autorizar invasão domiciliar a mera intuição da autoridade policial de eventual traficância praticada por indivíduo, fundada unicamente em sua fuga de local supostamente conhecido como ponto de venda de drogas ante iminente abordagem policial.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES (STJ)

A responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva, devendo ser comprovados a negligência na atuação estatal, o dano e o nexo de causalidade. Jurisprudência em Teses.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

6 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

Precedentes: AgRg no AREsp 501507/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,

julgado em 27/05/2014, DJe 02/06/2014; REsp 1230155/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA

TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 17/09/2013; AgRg no AREsp 118756/RS, Rel. Ministro HERMAN

BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/08/2012, DJe 22/08/2012; REsp 888420/MG, Rel. Ministro

LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/05/2009, DJe 27/05/2009; AgRg no Ag 1014339/MS, Rel.

Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/08/2008, DJe 24/09/2008.

(VIDE INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA N. 437).

Dir-se-á que o comportamento do agente público poderá ser omissivo. Neste caso, entretanto, exige-se a prova da culpa. É que a omissão é, em essência, culpa, numa de suas três vertentes:

negligência, que, de regra, traduz desídia, imprudência, que é temeridade, e imperícia, que resulta de falta

de habilidade (Álvaro Lazarini, 'Responsabilidade Civil do Estado por Atos Omissivos dos seus Agentes', em 'Rev. Jurídica', 162/125).

TESE DE CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO

'O Estado só responde por omissões quando deveria atuar e não atuou - vale dizer:

quando descumpre o dever legal de agir. Em uma palavra: quando se comporta

ilicitamente ao abster-se.' E continua: 'A responsabilidade por omissão é responsabilidade

por comportamento ilícito. E é responsabilidade subjetiva, porquanto supõe dolo ou culpa

em suas modalidades de negligência, imperícia ou imprudência, embora possa tratar-se

de uma culpa não individualizável na pessoa de tal ou qual funcionário, mas atribuída ao

serviço estatal genericamente. É a culpa anônima ou faute de service dos franceses, entre nós traduzida por 'falta de serviço'.

Responsabilidade civil estatal por atos omissivo: diferença entre omissão genérica e especifica. Sérgio Cavalieri distingue Omissão Genérica e Omissão Específica. Esclarecendo, escorando-se em monografia de Guilherme Couto de Castro, "não ser correto dizer, sempre, que toda

hipótese de dano proveniente de omissão estatal será encarada, inevitavelmente, pelo ângulo subjetivo.

Assim o será quando se tratar de omissão genérica. Não quando houver omissão específica, pois aí há

dever individualizado de agir".

OMISSÃO ESPECÍFICA

O Estado se encontra na condição de “garante” e, por omissão, cria situação propícia para

a ocorrência do evento em situação em que tenha o dever de agir para impedi-lo. Pressupõe um dever

específico do Estado, que o obrigue a agir para impedir o resultado danoso. Ex.: morte de detento em rebelião em presídio ou acidente com aluno nas dependências de escola pública.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

7 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO E ATO OMISSIVO

A Turma iniciou julgamento de recurso extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul que, aplicando o princípio da responsabilidade objetiva do Estado,

julgara procedente pedido formulado em ação indenizatória movida por vítimas de ameaça e de estupro

praticados por foragido do sistema penitenciário estadual, sob o fundamento de falha do Estado na

fiscalização do cumprimento da pena pelo autor do fato, que, apesar de ter fugido sete vezes, não fora

sujeito à regressão de regime. O Min. Carlos Velloso, relator, conheceu e deu provimento ao recurso para afastar a condenação por danos morais imposta ao Estado, com base no entendimento firmado no RE 369820/RS (DJU de 27.2.2004), no sentido de que, em se tratando de ato omissivo do poder público, a responsabilidade civil é subjetiva, a exigir demonstração de dolo ou culpa, não sendo, entretanto, necessário individualizar esta última, uma vez que pode ser atribuída ao serviço público, de forma genérica, a falta de serviço, a qual não dispensa o requisito da causalidade. Entendeu ausente, na espécie, a demonstração da existência de nexo causal entre a fuga do apenado e

o dano causado às recorridas. Desprovimento do Recurso Extraordinário. RE 409203/RS, rel. Min. Carlos Velloso, 7.6.2005. (RE-409203)

G1 Globo.

21/04/2016 19h09 G1 Globo.

Duas pessoas morrem após desabamento de ciclovia no Rio de Janeiro. Ciclovia Tim Maia foi

inaugurada em 17 de janeiro e custou R$ 44 milhões. Local teria sido atingido por uma forte onda; 3ª vítima

é procurada.

Situação hipotética

Um policial militar, durante período de folga, em sua residência, se desentendeu com seu vizinho,

desferindo-lhe um tiro com arma pertencente à corporação. Existe responsabilidade civil do Estado?

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

8 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO. ARTIGO 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. Crime praticado por policial militar

durante o período de folga, usando arma da corporação. Responsabilidade civil objetiva do Estado.

Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento. (RE 418023 AgR, Relator(a): Min. EROS

GRAU, Segunda Turma, julgado em 09/09/2008, DJe-197 DIVULG 16-10-2008 PUBLIC 17-10-2008

EMENT VOL-02337-04 PP-00741 RTJ VOL-00207-03 PP-01206)

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ASSALTO PRATICADO POR POLICIAL FARDADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO

CARREADO AOS AUTOS. SÚMULA 279/STF. 1. O Estado responde objetivamente pelos danos causados por seus agentes, ainda que fora do horário de expediente. Nesse sentido:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. Responsabilidade civil do Estado. C.F., art. 37, § 6º. I. – Agressão

praticada por soldado, com a utilização de arma da corporação militar: incidência da responsabilidade

objetiva do estado, mesmo porque, não obstante fora do serviço, foi na condição de policial-militar que o

soldado foi corrigir as pessoas. O que deve ficar assentado é que o preceito inscrito no art. 37, § 6º, da C.F., não exige que o agente público tenha agido no exercício de suas funções, mas na qualidade de agente público. II. – R.E. não conhecido (RE 160401, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, Dj

04-06-1999). 2. A súmula 279/STF dispõe verbis: Para simples reexame de prova não cabe recurso

extraordinário. 3. É que o recurso extraordinário não se presta ao exame de questões que demandam

revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, adstringindo-se à análise da violação direta da ordem

constitucional. 4.Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE 644395 AgR, Relator(a): Min. LUIZ

FUX, Primeira Turma, julgado em 04/10/2011, DJe-202 DIVULG 19-10-2011 PUBLIC 20-10-2011 EMENT

VOL-02611-02 PP-00212 RT v. 101, n. 916, 2012, p. 663-667

LEADING CASE

É objetiva a responsabilidade civil do Estado pelas lesões sofridas por vítima baleada em razão de tiroteio ocorrido entre policiais e assaltantes. Trata-se de fato administrativo.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

9 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

Crédito da Foto: Jornal O Tempo.

- Análise de caso indicativo da responsabilização do Estado pela falta de manutenção de presídio, porque

não atendidos os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, sendo de sua

responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição da República Federativa Brasileira, a

obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em

decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento. RE 580252/MS, rel. orig.

Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 16.2.2017. (RE-580252) – Informativo nº 854 STF.

O Estado possui responsabilidade objetiva nos casos de morte de custodiado em unidade

prisional. Precedentes STJ.

CAUSAS EXCLUDENTES DO NEXO CAUSAL E AFASTAR A RESPONSABILIDADE DO ESTADO:

1. Culpa exclusiva da vítima

2. Culpa exclusiva de terceiro

3. Caso fortuito ou força maior (Art. 393 CC)

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

10 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

# Causas Atenuantes/Concausas – se comprovado que o Estado contribuiu para o dano, não há que se falar de exclusão da responsabilidade.

Regra: Suicídio do particular afasta a responsabilidade civil do Estado Exceção: Inf. 301 STJ – admite responsabilidade do Estado quando o suicídio ocorre dentro do estabelecimento prisional.

Inf. 397 STJ – Militar que ingressa na repartição militar, tem acesso a arma de fogo e tenta colocar fim a própria vida, não tem êxito e depois propõe ação em face do Estado. STJ admitiu indenização alegando que deveria controlar através de exames médicos a situação psíquica do agente.

Fortuito interno – Existe um risco, mas inerente a atividade desenvolvida que não rompe o nexo causal x fortuito externo – rompe o nexo causal. Ex.: Inf. 224/425 STJ - Roubo dentro veículo de transporte de concessionaria de serviço público.

Inf. 370 STF – Policial que utiliza a arma de fogo para matar o amante de sua mulher – Estado não deve ser responsabilizado.

Inf. 421 STF - Policial de folga que utiliza a arma da corporação para acabar com uma briga de rua e gera dano – Estado deve ser responsabilizado pela conduta.

Inf. 436 e 519 STF – Teoria da Dupla Garantia – o Art. 37, §6 consagrou 2 garantias diferentes: vítima ser indenizada pelos danos sofridos e garantia do próprio agente público de somente ser responsabilizado pelo próprio Estado, não podendo ser acionado diretamente pela vítima. Doutrina Majoritária – permite que a vítima proponha em face do Estado (objetiva), do Agente (subjetiva) ou ainda em face de ambos.

Estado pode denunciar a lide e incluir o servidor no polo passivo da demanda? STJ – sustenta que é uma faculdade. Yussef – na hipótese que a vítima individualizar o agente que seria supostamente responsável pelo dano, o próprio autor da demanda trouxe para aquela ação a conduta daquele agente público. Neste caso, o Poder Público já estaria autorizado. Se a vítima não fez isso, não poderia o Estado inovar na demanda e discutir culpa em uma ação que tem natureza objetiva. Celso Antonio Bandeira de Melo/– não cabe a denunciação da lide pelo Estado por 2 argumentos: se o Estado fizer a denunciação, ele estará assumindo a sua responsabilidade perante a vítima e caso o Estado faça a denunciação haveria uma confusão entre discussões de responsabilidade pautada na culpa.

TEORIA DO MÍNIMO EXISTENCIAL. NÚCLEO ESSENCIAL DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. JUDICIALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS. POLITIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. ATIVISMO JUDICIAL.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

11 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

DI PIETRO:

Ações Individuais: Fornecimento de medicamentos e vaga na escola pública. Direito fundamental

individual. Segundo a jurista, ao atender direitos individuais, muitas vezes, deixa-se de atender a coletividade e se frustra a política pública. Ao invés de construir um posto de saúde, atende-se milhares de demandas individuais.

Ações coletivas: Próteses auditivas, saneamento básico, construção de um cemitério na cidade, construção de uma rodovia. TEORIA DA RESERVA DO POSSÍVEL (insuficiência de recursos

financeiros para execução de políticas públicas). Para a administrativista, a interferência do Judiciário é possível, mas não pode se transformar em regra e deve ser excepcional. Não pode adentrar na discricionariedade do Poder Público, salvo se a opção da Administração Pública for antijurídica e desproporcional.

MÍNIMO EXISTENCIAL (ALEMANHA) e

MÍNIMO EXISTENCIAL (BRASIL)

ANÁLISE DAS QUESTÕES CONCRETAS E MINUCIOSA DOS FATOS. DECISÃO A SER TOMADA DE MANEIRA CAUTELOSA.

EX: MUNICÍPIO DE MARÍLIA (SP). GOLPE DOS REMÉDIOS. MÁFIA CONTRA OS COFRES PÚBLICOS.

ADPF 45 MC/DF* - POLÍTICAS PÚBLICAS - INTERVENÇÃO JUDICIAL - "RESERVA DO POSSÍVEL" RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO.

MÍNIMO ORÇAMENTÁRIO NA ÁREA DE SAÚDE. INTANGIBILIDADE DO MÍNIMO EXISTENCIAL. CLÁUSULA DA RESERVA DO POSSÍVEL (JUSTO MOTIVO OBJETIVAMENTE AFERÍVEL). O ESTADO NÃO PODE INVOCAR GENERICAMENTE PARA SE EXIMIR DE OBRIGAÇÕES CONSTITUCIONAIS.

É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções institucionais do Poder Judiciário - e nas desta Suprema Corte, em especial - a atribuição de formular e de implementar políticas públicas (JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, "Os Direitos Fundamentais na Constituição

Portuguesa de 1976", p. 207, item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo.

Com casos recentes de ativismo judicial, STF estaria passando dos limites?

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES · 2020. 2. 29. · 3 . UNIVERSIDADE. CANDIDO MENDES. Professora: Cristiana Mendes § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

12 U N I V E R S I DA D E

CANDIDO MENDES

Professora: Cristiana Mendes

Juristas apontam como principais motivos para essa atuação da mais alta corte brasileira a omissão do Poder Legislativo e a falta de confiança da população nos parlamentares

(Crédito da Foto. Kamila Mendes Martins, com Estadão Conteúdo, 2016).