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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
A inclusão da criança com Autismo no processo interativo das
práticas cotidianas da Educação Infantil
Por: Cláudia Nunes da Silva Loureiro
Orientadora: Profª Mary Sue de Carvalho Pereira
Rio de Janeiro
2017 DOCUMENTO P
ROTEGID
O PELA
LEID
E DIR
EITO A
UTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
A inclusão da criança com Autismo no processo interativo das
práticas cotidianas da Educação Infantil
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre
– Universidade Candido Mendes como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em Educação
Especial e Inclusiva
Por: Cláudia Nunes da Silva Loureiro
AGRADECIMENTOS
À Deus pela sua presença em todos os meus
caminhos.
Ao meu esposo Luís Roberto Loureiro, por sua
importância no meu crescimento, pois sem sua
parceria, amor e compreensão, não conseguiria
realizar este trabalho.
À minhas filhas, Talita e Larissa pela
cumplicidade e por tornarem a minha vida mais
feliz.
À minha mãe Maria Alexandrina, que sempre
me apoiou e me dedicou amor e carinho.
A todos os professores que passaram por
minha vida acadêmica, principalmente, àqueles
voltados à Educação Especial.
A todos que se engajam na luta em prol das
pessoas com autismo.
Ao meu aluno Guilherme e à sua família que
me possibilitou novos olhares sobre o autismo
infantil.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho em especial àquela que
com seu amor, seu carinho e paciência, me
incentivou, acreditou em mim e compartilhou do
meu ideal.
Minha filha, Talita Nunes Loureiro.
EPÍGRAFE
“A educação deve ser como o amor...
incondicional e consciente considerando
qualquer criança... mesmo que aos olhos
de alguns lhes pareça diferente!”
Nora Cavaco.
RESUMO
O Autismo é caracterizado por um conjunto de sintomas apresentadas no dia a
dia de certos indivíduos trazendo prejuízos na socialização, na comunicação e no
comportamento e, consequentemente na aprendizagem. Cerca de 70 milhões de
pessoas no mundo são acometidas pelo transtorno e alguns mitos infelizmente,
ainda prevalecem, em pessoas que não convivem com autistas, imaginam que são
crianças estranhas, isolada em seu próprio mundo, alheia a tudo e a todos.
. O acesso de pessoas com necessidades educacionais especiais à escola
regular passa a ser garantido por meio de leis e documentos em âmbito nacional,
estadual e municipal. Contudo, as políticas de inclusão assinadas por diversos
países, a partir do século XX, permitiram avanços em termos de legislação e
diretrizes em busca de uma escola inclusiva que atenda alunos com TEA nos
fazendo refletir sobre as modalidades de atendimento e a demanda de alunos
presentes nas escolas, rever preconceitos objetivando uma educação de qualidade
para todos, onde o papel do professor é de valorizar o potencial dos aprendentes e
não suas limitações.
O movimento de inclusão favoreceu a instituição de políticas que garantissem
o acesso universal à educação de acordo com a Constituição Federal de 1988,
determinando a educação como direito a todos visando o pleno desenvolvimento do
indivíduo, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. A política
educacional brasileira garante uma proposta de inclusão que tem como paradigma
três palavras: acesso, participação e aprendizagem, se não tivermos esse olhar, a
inclusão não ocorre de forma verdadeira e responsável.
Entende-se que inclusão é uma política que busca perceber e entender às
necessidades educativas especiais de todos os alunos, em salas comuns, inclusive
nas classes da Educação Infantil, em um sistema regular de ensino, de forma a
promover a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos.
.
METODOLOGIA
Esta etapa trata dos procedimentos metodológicos utilizados durante o
processo de estudo.
Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental, onde foi
possível identificar as fontes que poderiam fornecer dados sobre o problema em
questão. Em seguida deu-se a coleta de materiais através de catálogos de livros,
artigos publicados, textos complementares e documentos oficiais.
Está coleta foi armazenada onde, posteriormente, foi possível identificar
importantes informações relacionadas ao tema em estudo.
Após está etapa, iniciou-se a seleção de materiais pesquisados e sua
validação. Em seguida, foi feita a leitura analítica deste material, através da qual
foram destacados, os aspectos fundamentais em relação ao tema abordado, bem
como seu entendimento.
Após a leitura analítica foi feito um fichamento do material bibliográfico, para
melhor organização e realização do trabalho.
Finalmente, procedeu-se a conclusão do trabalho monográfico de pesquisa.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - Entenda o Autismo 12 CAPÍTULO II - Legislação e Autismo 23
CAPÍTULO III - A criança com autismo na Educação Infantil 30
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 41
9
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo abordar o processo educacional inclusivo da
criança com autismo, no sistema regular de ensino, especificamente na Educação
Infantil, além de trazer conceitos sobre Autismo, Inclusão e Mediação Escolar.
Ao longo do tempo, quando se ouvia falar em Autismo, logo se pensava em uma
criança isolada em seu próprio mundo, que brinca de forma estranha, balança o
corpo para lá e para cá, alheia a tudo e a todos. Geralmente está associada a
alguém “diferente ”que vive isolada do mundo. Mas não é bem assim, esse olhar nos
parece estreito demais; quando nós falamos em autismo, estamos nos referindo a
pessoas que possuem habilidades absolutamente reveladoras, fazendo nos refletir
sobre quem de fato vive alienado.
O Autismo é um transtorno global do desenvolvimento infantil que se manifesta no
indivíduo, ainda criança, antes dos três anos de idade e se prolonga por toda a vida.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 70 milhões de pessoas
no mundo são acometidas pelo transtorno, sendo que, em crianças, é mais comum
que o câncer, a AIDS e o diabetes. Transtorno este, que caracteriza-se por um
conjunto de sintomas que afeta as áreas da socialização, comunicação e do
comportamento, e, dentre eles, a mais comprometida é a interação social. Porém,
isso não significa absolutamente dizer, que a criança com autismo não consiga e
nem possa desempenhar seu papel social de forma satisfatória, como também,
desenvolver-se no processo ensino aprendizagem. Ao contrário, é preciso
ressignificar a concepção sobre o Autismo Infantil, Educação Infantil e Educação
Inclusiva. Para entender e tratar o autismo, é preciso quebrar antigos paradigmas,
eliminar as culpas e aprender a despertar e a valorizar os talentos inatos de cada
indivíduo. Não devemos nos deter nas dificuldades apresentadas, mas sim viabilizar
as potencialidades, sempre visando a independência, autonomia, socialização e
auto-realização de quem vive e se expressa dessa maneira tão peculiar. Talvez seja
esse o maior desafio: aceitar o diferente e ter a chance de aprender com ele.
Felizmente nos dias de hoje, existe uma força tarefa em que grupos e
associações de diversos países ao redor do mundo se engajam e se esforçam,
incessantemente, para abolir preconceitos em relação às pessoas com autismo e
buscar diagnósticos e tratamentos adequados; embora muitos avanços já tenham
sido conquistados em termos de entendimento e tratamento eficaz. Este movimento
10
vem aumentando, e o Brasil está neste roteiro, o autismo está saindo de um lugar de
tabu e está começando a ser abordado com coerência, clareza e compaixão.
Conhecer as peculiaridades de uma pessoa com Autismo pode nos trazer um
aprendizado especial para nossas vidas. Para isso, são necessárias ações
motivadoras, de tal forma que propicie à criança com autismo a participar de
atividades em conjunto, fazendo com que realmente, ela sinta prazer em fazer.
Essas são as primeiras etapas para que ela seja resgatada do seu mundo “singular”
e estabeleça vínculos com as pessoas ao seu redor.
Uma pessoa com autismo, sente, olha e percebe o mundo de maneira muito
diferente do nosso. Entretanto, pais, profissionais da educação e a sociedade como
um todo devem reconhecê-la como um ser social, que se constitui, aprende e se
desenvolve nas condições concretas de vida, a partir das relações e interações que
lhe são possibilitadas e das práticas culturais em que é inserida.
Assim como um diamante que precisa ser lapidado para brilhar, esse indivíduo
merece e deve ser acolhido, cuidado e estimulado a se desenvolver. Neste contexto,
não se pode deixar de ressaltar a mediação escolar, que neste caso assume um
papel importante no processo de desenvolvimento, bem-estar social, físico e
emocional desse indivíduo e que nos dias de hoje vem sendo muito discutida.
Atualmente existem diversas literaturas que revelam o avanço sobre o assunto,
trazendo conceitos e questões a respeito de vários aspectos relacionados ao
Autismo, uma delas é destacar, que alguns autores descreviam o autismo como uma
forma precoce de Esquizofrenia e caracterizava-os desde síndrome comportamental,
síndrome neuropsiquiátrica, transtorno invasivo do desenvolvimento e espectro
autista entre outros, como também o fato de ser mais comum no sexo masculino do
que no sexo feminino. O Autismo apresenta-se em níveis diferentes de
funcionamento com características em comum, comprometendo a comunicação, a
interação social e o comportamento.
Considerando que o Autismo, dependendo de caso a caso, está freqüentemente
associado a outras condições neuropsiquiátricas, como hiperatividade,
agressividade, distúrbio de sono, comprometimento na coordenação motora, fobia
social e transtorno de linguagem, é muito importante que a criança seja avaliada por
uma equipe interdisciplinar ou por profissionais especializados. A causa, o
diagnóstico e o tratamento continuam sendo estudados tornando-se necessário a
11
importância de se buscar um diagnóstico precoce. Para isso as crianças precisam
ser observadas por seus pediatras criteriosamente, e a qualquer alteração notada,
devem ser encaminhadas a um especialista mesmo que não se tenha a certeza do
mesmo. Nos dias de hoje, ainda se percebe que alguns pais não conseguem aceitar
e lidar com o diagnóstico de seus filhos e fazem peregrinações, passando de médico
em médico em busca de outras opiniões ou diagnósticos, levando a um desgaste
familiar e além de tudo, um atraso considerável no que diz respeito ao tratamento
efetivo da criança.
No Brasil, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo vem conseguindo cada
vez mais adeptos e pessoas engajadas, tendo como objetivo capacitar profissionais,
acolher e informar a todas as famílias de crianças com autismo. A primeira
organização brasileira foi a Associação de Amigos do Autista (AMA), fundada em
São Paulo em 8 de agosto de 1983,por um grupo de pais, a maioria com filhos do
espectro autista. No entanto, o “I Encontro de Amigos do Autista”, promovido pela
AMA, só ocorreu após dez anos de sua fundação, reunindo médicos e outros
profissionais do país que estudavam o autismo.
Hoje, a AMA é considerada uma referência para muitos brasileiros com o
transtorno e suas famílias, e vem investindo sem medir esforços na formação de
profissionais e na busca de mais ferramentas adequadas para promover tratamentos
efetivos. O exemplo foi seguido por outros pais e amigos e outras várias instituições
por todo Brasil são reunidas pela Associação Brasileira de Autismo (Abra), uma
entidade nacional que congrega as associações de pais e amigos do autista no
Brasil, baseada no lema “a união faz a força”, a Abra representa todos aqueles que
lutam pelos direitos das pessoas com autismo em âmbito nacional.
Atualmente, muitos pesquisadores dedicam as suas vidas ao estudo do autismo e
existem inúmeras publicações de qualidade sobre o tema.
12
CAPÍTULO I
Entenda o autismo
Há muitos anos se ouve falar em Autismo, nos remetendo a pensar no indivíduo
que apresenta comportamentos e atitudes muito peculiares, vivendo isolado de tudo
e de todos, que balança o corpo e olha incansavelmente para seus dedinhos a
mexer. Felizmente nos dias de hoje, este olhar vai além ao que diz respeito ao
Autismo.
Nas diversas literaturas podemos encontrar autores que consideram o autismo
uma forma precoce de esquizofrenia. Estudos mais recentes, no entanto, tem
mostrado uma distinção segura entre o Autismo e a Esquizofrenia de início precoce.
Alguns estudos ainda mostram que é possível que um subgrupo de pacientes com
quadro de esquizofrenia com início na infância e aqueles com autismo tenham uma
composição genética semelhante.
Atualmente, o volume crescente de artigos, trabalhos, bibliografia e estudos sobre
o assunto trazem conceitos sobre vários aspectos do Autismo; como a questão da
definição, a etiologia, o diagnóstico, a avaliação e as formas apropriadas de
intervenção. Segundo BOSA (2001), as diferentes formas em que encontramos a
palavra “autismo” escrita na literatura com “a” maiúsculo e minúsculo, com e sem
artigo na frente da palavra, como síndrome comportamental, síndrome
neuropsiquiátrica, como transtorno invasivo do desenvolvimento, transtorno
pervasivo do desenvolvimento, espectro autista, psicose infantil, entre outros.
Segundo ela, a confusão deriva de um arrolamento de terminologias, cuja natureza
justifica-se pelas diferentes bases epistemológicas que orientam o pensamento e a
ação de cada profissional. (BOSA 2001)
Identificar, portanto uma criança com Autismo, muitas vezes é um desafio, pois
quadros discretos são mais difíceis de ser diagnosticado. Além disto, é uma
condição onde não há exames de imagens ou laboratoriais que comprovam;
dependendo de total observação clínica, comportamental, e principalmente do relato
familiar, dos cuidadores, e dos profissionais da educação para assim confirmar ou
descartar sua presença. Relatos estes, que podem ser desencontrados,
incompletos, pouco compreendido por quem o avalia ou minimizados por quem o
observa.
13
Para a psiquiatria, o Autismo, trata-se de um sintoma esquizofrênico que consiste
em referir à própria pessoa e tudo que aconteceu ao seu redor. Para a medicina, o
autismo é uma síndrome infantil caracterizada pela incapacidade congênita de
estabelecer contato verbal e afetivo com o outro, apresentando um desequilíbrio do
desenvolvimento do cérebro que compromete a comunicação e a interação social
das pessoas, ocasionando um comportamento restringido e repetitivo; e que se
manifesta antes dos três anos de idade, e mantém-se durante toda a vida. Segundo
Autism Society of America (ASA-Associação Americana de Autismo), cerca de 20
entre 10 mil nascidos possui a síndrome e é quatro vezes mais comum no sexo
masculino do que no sexo feminino. É encontrado em todo mundo em famílias,
independentemente de qualquer configuração racial, étnica e social.
O Autismo divide-se em níveis de funcionamento e transtornos que vão desde o
autismo não verbal, de baixo funcionamento até a Síndrome de Asperger altamente
verbal. Estes distúrbios possuem características em comuns, mas tem diferenças
importantes também, caracterizado por comprometimento na comunicação,
interação social e comportamentos repetitivos, o Autismo clássico é tipicamente
diagnosticado antes dos três anos de idade. Na maioria dos casos, provoca atrasos
significativos no desenvolvimento, variando de leve ou de alto funcionamento a
grave ou de baixo funcionamento.
O Autismo de alto funcionamento envolve sintomas como competência lingüística
em atraso ou não funcional, comprometendo o desenvolvimento social. Entretanto
são pessoas com QI na faixa normal e podem exibir nenhum comportamento
compulsivo ou autodestrutivo muitas vezes visto em autismo de baixo
funcionamento, considerado o nível mais grave da doença em que os sintomas são
mais profundos e envolvem déficits graves em habilidades de comunicação,
habilidades sociais pobres, e movimentos repetitivos estereotipados. Ainda neste
contexto, a Síndrome de Asperger se diferencia do Autismo clássico em que não
implica qualquer atraso de linguagem significativo ou prejuízo. Este tipo de Autismo
de alto funcionamento possui algumas características distintas, incluindo habilidades
verbais, problemas com jogo simbólico, problemas com habilidades sociais, desafios
que envolvam o desenvolvimento da motricidade fina e grossa, intensivo ou mesmo
obsessivos interesses especiais.
14
Para que se tenha um diagnóstico seguro, é importante uma investigação
detalhada de cada fase do desenvolvimento, que vão desde a fecundação bem
sucedida, ao desenvolvimento do feto, até que se apresentem as características de
um bebê completo e pronto para nascer. Passada a fase do nascimento, investiga-
se o primeiro ano de vida, ou seja, como é esse bebê em casa e a partir do segundo
ano de vida, o foco é direcionado para os comportamentos, habilidades motoras e a
interação social da criança. O principal instrumento é o conhecimento dos critérios,
dos sintomas e dos detalhes que podem resultar em sinais significativos para o
diagnóstico, é fundamental que o profissional tenha experiência no assunto, entenda
sobre comportamentos infantis e que a criança seja avaliada por uma equipe
interdisciplinar ou por profissionais especializados, onde a confiança no diagnóstico
será confidencialmente maior e proporcionará o direcionamento mais rápido das
prioridades terapêuticas.
Pesquisas revelam que a causa, o diagnóstico e o tratamento do Autismo
continuam sendo estudados, é provável, que a causa deste transtorno seja uma
possível falha genética que pode estar constituída em alguma forma de doença
auto-imune ou enfermidade degenerativa das células do sistema nervoso. Segundo
a Associação de Amigos do Autista, (AMA) o tratamento envolve intervenções psico
educacionais, orientação familiar, desenvolvimento da linguagem e ou comunicação.
O recomendado, é que uma equipe multidisciplinar avalie e desenvolva um
programa de intervenção orientado a satisfazer as necessidades particulares de
cada indivíduo. Existem alguns métodos de intervenção para auxiliar e dar suporte
no tratamento da criança que possui Autismo. Dos métodos de intervenção mais
conhecido e mais utilizados para promover o desenvolvimento do indivíduo com
esse transtorno e que possuem comprovação científica de eficácia são:
TEACCH (Treatment and Education of. Autistic and Related Communication
Handcapped Children) sigla adotada por um projeto de saúde pública e disponível
na Carolina do Norte, EUA, que oferece serviços voltados para pessoas com
Autismo e outros transtornos do espectro do Autismo e suas famílias. Trata-se de
um programa especial de educação talhado para as necessidades individuais de
aprendizado da criança autista baseado no desenvolvimento do cotidiano. Teve
início nos anos 60 quando três médicos estavam trabalhando com crianças autistas
e perceberam a necessidade de criar meios para o controle do ambiente de
15
aprendizado e que encorajasse a independência das crianças. O que faz a diferença
na abordagem TEACCH ser única, é o foco no design do ambiente físico, social e na
comunicação. Esse ambiente é estruturado para acomodar as dificuldades que a
criança autista tem, e ao mesmo tempo treina o seu desempenho para a aquisição
de hábitos aceitáveis e apropriados.
PECS (Picture Exchange Communication System) em português, Sistema de
Comunicação por Troca de Figuras, que consiste em um método para ensinar
pessoas com distúrbios de comunicação e/ou com autismo, a se comunicarem de
forma funcional por intermédio da troca de figuras. (Revista Autismo -02 de abril de
2012).
Este método foi desenvolvido nos EUA pelo psicólogo Andrew Bondy e pela
fonoaudióloga Lori Frost, eles perceberam que várias crianças com Autismo tinham
dificuldade com imitação, especialmente a imitação verbal (imitar palavras) e mesmo
aquelas que eram capazes de imitar, geralmente não usavam as palavras para se
comunicar espontaneamente. Bondy e Frost queriam mostrar uma maneira de ajudar
as crianças com autismo a se comunicar de forma funcionalmente fácil e
socialmente aceitável.
“O PECS dá à criança a possibilidade de expressar suas necessidades e desejos de uma maneira muito fácil de entender. Muitas crianças que começaram a utilizar o PECS também desenvolvem a fala como um efeito colateral, claro que é um efeito colateral muito agradável.” (Publicado no BAB- Boletim Autismo Brasil n°3, de agosto de 2005)
“ABA (Applied Behavior Analysis, na sigla em inglês) uma abordagem da
psicologia que é usada para a compreensão de comportamento e vem sendo
amplamente utilizada no atendimento a pessoas com Autismo. Trata-se de um
método de intervenção comportamental no tratamento dos sintomas do Autismo. O
método ABA pode intencionalmente ensinar a criança a exibir comportamentos mais
adequados.“ (Sabrina Helena Bandini Ribeiro. Revista Autismo – 16 de Setembro de
2010)
O tratamento ABA envolve o ensino intensivo e individualizado das habilidades
necessárias para que o indivíduo possa adquirir independência e melhor qualidade
16
de vida. Dentre essas habilidades ensinadas, incluem-se comportamentos sociais,
tais como contato visual e comunicação funcional, comportamentos acadêmicos,
além de atividades da vida diária. A redução de comportamentos de agressões,
movimentos estereotipados, auto lesões e fugas também fazem parte do tratamento
comportamental, já que esses comportamentos interferem no desenvolvimento do
indivíduo diagnosticado com autismo.
1.1 História do Autismo
Agora que já foi falado um pouco sobre o Autismo, diagnóstico, manifestações e
tratamento, é interessante sabermos um pouco mais sobre o processo de
descoberta desse funcionamento mental.
A palavra “Autismo” deriva do grego “autos”, que significa “voltar-se para si
mesmo”. As primeiras publicações que descreveram de forma sistematizada, foram
os estudos do psiquiatra infantil austríaco Leo Kanner em 1943 e Hans Asperger em
1944. (LEBOYER, 1995; BOSA, 2002).
Em suas pesquisas, Leo Kanner estudou o acompanhamento de 11 crianças,
entre 2 e 11 anos de idade, três meninas e oito meninos, a quem atendia e
comprovou que essas crianças apresentavam isolamento desde o início da vida,
apego às rotinas, preferência por objetos inanimados em detrimento das pessoas,
ecolalia1 imediata ou tardia e inversão pronominal, descrevendo todas as suas
análises em um artigo intitulado “ Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” (
MERCADANTE; ROSÁRIO,2009,p.35).
É preciso lembrar que, até então, os conceitos de Autismo, Esquizofrenia e
Psicose Infantil se confundia. (BRASIL, 2013, p.17). Anos mais tarde, Kanner referiu-
se ao mesmo quadro como uma síndrome, denominando-a de Autismo Infantil
Precoce, onde percebeu outras características comuns à maioria das crianças.
No ano de 1944, o pesquisador austríaco Hans Asperger publicou, em sua tese
de doutorado, a Psicopatia Autista da Infância um estudo observacional com mais
de 400 crianças, avaliando seus padrões de comportamento e habilidades.
Descreveu um transtorno da personalidade que incluía falta de empatia, baixa 1ecolalia: Repetição de palavras ou frases.
17
capacidade de fazer amizades, monólogo, hiper foco em assunto de interesse
especial e dificuldade de coordenação motora, quadro que depois ficou denominado
como Síndrome de Asperger. (SILVA, GAIATO, REVELES, 2012, p.160)
Ambos continuaram suas pesquisas, enquanto Kanner continuava seus
estudos sobre o Autismo, o médico austríaco Hans Asperger observava crianças
com um quadro semelhante ao descrito por seu colega. No entanto, estas
mantinham como características diferentes a presença da intelectualidade e uma
maior capacidade de comunicação. (CUNHA, 2012, p.22).
Kanner, em parceria com o psiquiatra infantil Eisemberg, no ano de 1959,
constatou que tal síndrome poderia aparecer depois de um tempo e de
desenvolvimento, aparentemente, normal da criança. (RODRIGUES; SFENCER,
2010, p.18).
Nesta mesma época, o psiquiatra Eugene Bleuler, que também estudou sobre
o Autismo, foi contra a um dos aspectos estabelecidos por Leo Kanner, discordando
dele, de que todos os indivíduos com Transtorno Autista não possuíam aptidões
para o relacionamento social nem para reagir perante situações da vida, em sua
concepção, o autista não teria imaginação. Ao contrário de Bleuler, afirmando, que
os mesmos indivíduos sofriam com a ausência da realidade, pois penetravam em
seu mundo particular, ignorando tudo ao seu redor. O autista mergulharia no seu
interior e em sua própria e fecunda imaginação.
Na década de 80, felizmente o Autismo passou a ser visto com outros olhos, e
recebeu um reconhecimento especial, diferente da esquizofrenia, como foi citado
anteriormente; o que propiciou um crescente número de estudos científicos,
recebendo a denominação diagnóstica correta e com critérios específicos. Desde
então, o assunto passou a ser tratado como uma síndrome, como um distúrbio do
desenvolvimento e não mais como uma psicose.
Com a criação do CID 92 e do DSM-III3_ manuais utilizados por profissionais da
área médica e de saúde mental; o autismo ainda era visto por diferentes enfoques.
Porém, nas atualizações desses guias médicos (CID 10 e no DSM-IV em 1993 e
1994, respectivamente), houve uma melhor definição e alinhamento do autismo.
Em dezembro de 2007, a ONU decretou 2 de abril, o Dia Mundial de
Conscientização do Autismo ( World Autism Awareness Day-WAAD), celebrado pela
primeira vez em 2008.
18
No Brasil, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo tem conseguido cada
vez mais adeptos e pessoas engajadas. No ano de 2010, pela primeira vez, a data
foi lembrada no dia 2 de abril com iluminações em azul (cor definida para o autismo).
“A primeira organização brasileira foi a Associação de Amigos do Autista (AMA),
em São Paulo, oficialmente fundada em 8 de agosto de 1983, 40 anos após a
descoberta desse transtorno por um grupo de pais,a maioria com filhos do espectro
autista. Esses pais tinham como objetivo acolher, informar e capacitar famílias e
profissionais, com um papel social e de pesquisa amplo de ajuda a todas as famílias
com autismo da cidade, do estado e do país.” (SILVA, GAIATO, REVELES;
2012,p.162).
É importante ressaltar que, o fato de que as crianças e adolescentes com esse
transtorno não possuíam até então o direito garantido de freqüentar as escolas
regulares eram tratados em âmbito educacional por entidades filantrópicas, como
Pestalozzi e APAE. O primeiro autista foi descoberto em 1943, quando já estava
com 10 anos de idade. Donald Gray Triplett, com 79 anos hoje. Conhecido como
CaseI Donald T.
O Autismo não é mais considerado como um tipo de psicose nem esquizofrenia, e
sim um transtorno global do desenvolvimento (TGD) definido recentemente, com o
termo Transtorno do Espectro Autista (TEA). No Brasil, de acordo com a lei
Berenice Piana, nº12. 764, de 27 de dezembro de 2012, que institui uma política
nacional de proteção aos direitos das pessoas com o Transtorno do Espectro
Autista, estas passam a ser consideradas como pessoas com deficiência para todos
os efeitos legais. Essa mesma norma, em seu artigo primeiro, parágrafo primeiro,
classifica como pessoa com Autismo “aquela portadora de síndrome clínica
caracterizada” com: “I- Deficiência persistente e clinicamente significativa da
comunicação e da interação sociais, manifestada por deficiência marcada de
comunicação verbal e não verbal usada para interação social; ausência de
reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu
nível de desenvolvimento; II- padrões restritivos e repetitivos de comportamentos,
interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais
estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a
rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses restritos e fixos”.
(BRASIL, 2012)
19
1.2 Principais características do indivíduo com Autismo
Como já falado, o Autismo apresenta-se em graus de funcionamento. O termo
espectro foi adotado após constatarem os diferentes graus de funcionamento.
Segundo Perine e Gonring (2013), tal mudança ocorreu nos anos 2000, devido à
disparidade entre níveis de inteligência e linguagem.
Os estudos revelam que a idade média para detectar o transtorno é de três anos
de idade, onde as crianças tendem a “preencher critérios variados de medidas
diagnósticas” (BOSA, 2006). Entretanto, nos primeiros meses de vida, já há
possibilidade de percepção por partes dos pais,quando, por exemplo, o bebê que
não se aconchega no colo ou no seio da mãe não troca olhares, não tem
movimentos antecipatórios4. Porém, são raros os pais ou os cuidadores que tem
essa percepção de identificar a ausência de comportamentos básicos tão
importantes. A falta da oralidade ou a presença de dificuldades comunicativas
podem ser uma possibilidade de que algo está errado.
Algumas crianças, embora autistas, apresentam inteligência e falam intactas,
outras já apresentam sérios problemas no desenvolvimento da linguagem e restritos
padrões de comportamento.
São indivíduos que não olham nos olhos de quem fala com eles, fixam o olhar
em alguma parte do corpo ou da vestimenta e adorno utilizado pelo outro, prestando
atenção no que lhe estimula. Ainda sobre comportamentos, são comuns, os
movimentos auto estimulatórios5, em que a criança fere a si mesma, como jogar a
cabeça contra a parede ou se morder. Esses movimentos ainda englobam um ou
mais dos cinco sentidos: Visão – olhar fixamente para luzes; Audição – tapar os
ouvidos; Tato – esfregar as mãos em objetos diversos; Paladar – lamber objetos;
Olfato – cheirar pessoas e objetos.
A linguagem, também é uma característica predominante, algumas crianças
autistas começam a balbuciar tardiamente, porém não desenvolvem a fala. Outras
apresentam oralidade com um pequeno repertório de palavras, mas que mais tarde
perdem o que havia conquistado. Outras adquirem a fala não funcional, que é a
repetição de frases e palavras – ecolalia. As ecolalias podem ser imediatas 4 Movimento de esticar os braços para ser levado ao colo de outrem.
5 Movimentos repetitivos com partes do corpo ou com objetos e não causam
danos a ninguém.
20
ou tardias; são imediatas quando a criança repete o que lhe foi dito no momento
em que ocorre a “troca”, tardia quando ouvida em contextos diferentes e anteriores,
trazida para aquela atualidade. (OLIVIER, 2011, p.113). Também é comum repetir
dizeres de personagens de desenhos animados, filmes ou o que ouçam dos adultos
em outros momentos, sem haver necessariamente, conexão e coerência com a
realidade.
Não utilizam o pronome “eu” para se referirem a si próprio (BOSA,2006). Existe
sempre a mesma entonação para necessidades diversas, há uma monotonia da fala.
São indivíduos, que muitas vezes não percebe risco ao seu redor e agem de forma
impulsiva e perigosa, não respondem a chamados pelo nome, parecendo não ouvir.
Por essa incapacidade de comunicação com o mundo e a ausência de
entendimento, a rotina é algo que traz tranqüilidade e segurança para os autistas.
Assim, representam uma resistência a mudanças físicas e temporais, Uma simples
troca de trajeto a ser percorrido, ou a troca de horário podem ser motivos de grande
sofrimento, demonstrando através de choros incontroláveis, gritos e até agressões.
Um dos maiores mitos existentes sobre o autismo, e que felizmente está deixando
de ser, é achar que pessoas autistas vivem em seu mundo particular, interagindo
com o ambiente que criam. No entanto, conviver com indivíduos com Autismo, pode-
se perceber o quanto são pessoas sensíveis, amáveis e carinhosas, com gestos e
comportamentos peculiares, mas acompanhadas de talentos e habilidades.
O Transtorno Autista consiste na presença de um desenvolvimento comprometido
ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um repertório
muito restrito de atividades e interesses. Dependendo do nível de funcionamento e
da idade cronológica do indivíduo autista, as manifestações do transtorno variam
imensamente. Por exemplo, uma criança autista que fica isolada em seu canto
observando outras crianças brincarem, sem interagir, não é porque ela está
necessariamente desinteressada na brincadeira ou porque vive em seu mundo.
Pode ser que essa criança simplesmente tenha dificuldade de iniciar, manter e
terminar adequadamente um diálogo ou uma interação social.
Segundo a ASA (Autism Society of American), indivíduos com autismo
apresentam pelo menos metade das características listadas a seguir:
• Dificuldade de relacionamento com outras pessoas;
• Riso inapropriado;
21
• Pouco ou nenhum contato visual – não olha nos olhos;
• Aparente sensibilidade à dor
• Preferência pela solidão; modos arredios – busca isolamento e não procura
outras crianças;
• Rotação de objetos – brinca de forma inadequada ou bizarra com os mais
variados objetos;
• Inapropriada fixação por objetos;
• Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade – problemas de sono ou
excesso de passividade;
• Ausência de resposta aos métodos normais de ensino – muitos precisam de
materiais adaptados;
• Insistência em repetição, resistência à mudança da rotina;
• Não tem real medo do perigo – consciência de situações que envolvem perigo;
• Procedimento com poses bizarras – fixar objetos ficando de cócoras; colocar-se
de pé em uma perna só; impedir a passagem por uma porta, somente liberando-
a após tocar de uma determinada maneira os alisares;
• Ecolalia – repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal;
• Recusa colo ou afagos – bebês preferem ficar no chão que no colo;
• Age como se estivesse surdo – não responde pelo nome;
• Dificuldade em expressar necessidades – sem ou limitada linguagem oral e/ou
corporal (gestos);
• Acessos de raiva – demonstra extrema aflição sem razão aparente;
• Irregular habilidade motora – pode não querer chutar uma bola, mas pode
arrumar blocos;
• Desorganização sensorial – hipossensibilidade ou hipersensibilidade, por
exemplo, auditiva;
• Não faz referência social – entra em lugar desconhecido sem olhar para o adulto
pai/mãe) para fazer referência antes e saber se é seguro. (FONSECA, 2014,
p.31e32).
É relevante citar que não são todos os indivíduos com autismo que apresentam
todos estes sintomas, entretanto muitos dos sintomas estão presentes entre os 12 e
os 14 meses de vida da criança, variando de leve a grave e em intensidade de
22
sintoma para sintoma, pois o autismo se manifesta de forma singular em cada
pessoa, em diferentes situações e são inapropriadas para a idade. Também vale
ressaltar que as ocorrências desses sintomas não são determinantes para o
diagnóstico do autismo. Conforme já citado, se faz necessário um acompanhamento
por uma equipe interdisciplinar.
O autismo pode ocorrer de forma isolada, ser secundário ou apresentar
condições associadas, razão pela qual é extremamente importante a identificação de
comorbidades bioquímicas genéticas, neurológicas, psiquiátricas, entre outras.
23
CAPÍTULO II
Legislação e autismo
Falar sobre leis no Brasil é algo complicado. Muitas vezes desconhecemos
determinadas leis, ou ouvimos dizer que uma lei “pegou” ou “não pegou”.
Politicamente, muitas coisas não funcionam em nosso país, e acabamos nos
acostumando
No entanto, quando o assunto é Autismo, algo tão importante e específico que
felizmente cada vez mais vem sendo discutido por especialistas, estudiosos e
outros. O autismo, conforme já citado, traz consigo características peculiares, que
requerem por si só uma política séria e específica. Neste contexto, muitos avanços
ocorreram e várias conquistas foram garantidas, porém é preciso que se tenha um
olhar diferenciado, para colocar em prática uma política pública e uma legislação no
qual o Autismo seja tratado como prioridade no que diz respeito a Educação
Inclusiva. No Brasil, a inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA),
tem assumido uma posição importante nos debates educacionais.
Pessoas com autismo possuem os mesmos direitos que qualquer outra, como
previsto na Constituição Federal de 1988 e nas leis específicas para pessoas com
deficiência. Na infância é garantido os direitos previstos no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e, após 60 anos, os direitos do Estatuto do Idoso. Pensando
dessa maneira, com esses direitos garantidos, em tese, os indivíduos autistas, não
deveriam encontrar dificuldades para receber um diagnóstico correto, embora
sabendo que para isso é necessário uma avaliação de profissionais especializados e
de um tratamento efetivo, o que na prática, a realidade é bem diferente; pois ainda
se vê famílias lutando incansavelmente durante um longo período da vida, de
maneira desgastante e solitária.
Conforme o art. 54 da ECA, “é obrigação do Estado garantir atendimento
educacional especializado a pessoas com deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino”. Apesar de, na teoria, o direito à educação ser garantido a tais
crianças, na prática sabemos que muitas instituições escolares que se propõem a
uma política de inclusão ou apenas se diz cumprir a lei, ainda deixam a desejar pela
falta de profissionais capacitados, falta de estrutura física, e por vezes, também pelo
descaso com tais alunos.
24
Entende-se que, inclusão é uma política que busca perceber e entender às
necessidades educativas especiais de todos os alunos, em salas de aula comuns,
em um sistema regular de ensino, de forma a promover a aprendizagem e o
desenvolvimento pessoal de todos.
Em uma proposta de Educação Inclusiva, todos os alunos devem ter a
possibilidade de integrar-se a um ensino regular, mesmo aqueles que possuem
deficiências ou transtorno global do desenvolvimento (TGD). Portanto, as escolas,
devem atender as necessidades individuais, desses alunos, promovendo mudanças
significativas quanto a estrutura, formações profissionais e nas relações família-
escola.
A educação inclusiva é a forma mais recomendável de atendimento
educacional para os alunos que apresentam Transtorno do Espectro Autista. É
identificada como o caminho eficiente para a construção da cidadania e da
participação social em consonância com a perspectiva da educação para todos e
com todos. (CNE/CEB N° 17/2001, MEC) As políticas educacionais no nosso país,
nos mostram que documentos oficiais recebem influência dessa nova perspectiva e
afirmam o direito de todos a uma educação de qualidade.
Mesmo antes da Declaração da Salamanca, documento assinado por diversos
países, que marcou época, e determina a transformação das instituições
educacionais em “Escola para Todos”, a Constituição da República Federativa do
Brasil (1988) já dispunha, em seu capítulo III, artigo 208, que “o dever do Estado
com a educação será efetivado mediante a garantia de:...III- atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino;”. ( FONSECA, 2014, p. 19).
Da mesma forma, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente também
estabelece, no capítulo IV, artigo 54, que “é dever de o Estado assegurar à criança e
ao adolescente o atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.
Mas foi com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394,
de 1996), que dedica o capítulo V inteiramente à Educação Especial, e que as
políticas nacionais passaram a se pautar pela perspectiva da inclusão de alunos com
necessidades especiais no ensino regular.
25
Em 2012, foi aprovada a lei Berenice Piana, nº 12.764/2012 que Institui a
Política Nacional de Proteção à Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
especificamente, a qual engloba o autismo como uma deficiência, conforme
estabelece os direitos ao qual o indivíduo com tal transtorno deve ter, entre eles, a
atenção integral a essas pessoas tanto no âmbito da saúde, como educacional, além
do direito à inserção no mercado de trabalho, observando-se as peculiaridades
desta deficiência. Dentre os direitos da pessoa com TEA, está o acesso à educação,
sendo punido, o gestor pedagógico da escola que recusar sua matrícula em até vinte
salários mínimos. Além disso, a lei também garante que, em casos de comprovada
necessidade, o indivíduo com TEA incluída no ensino regular também terá direito a
um acompanhante escolar especializado.
Segundo Eugênio Cunha (2012), a Lei Berenice Piana vem a corroborar a proposta inclusiva já disposta na LDBEN nº 9.394/96 e cita que ela “avança ao destacar que a pessoa com TEA é considerada pessoa com deficiência”. Tal avanço significa garantir a proteção legal em todos os sentidos, especialmente no acesso a uma educação inclusiva, com suporte de mediador (acompanhante especializado, como está na letra da lei).
A nível Municipal existe um Projeto de Lei que prevê a criação dos cargos de
agente de apoio à Educação, com a finalidade de realizar um atendimento
especializado a todas as crianças com necessidades especiais no Município do Rio
de Janeiro, emergindo como substituto do cargo de agentes auxiliares de Creche, e
cumprindo a função dos agentes educacionais ou, como diz a Lei Federal, os
acompanhantes especializados.
Hoje, nessa nova perspectiva, a educação assume as seguintes funções:
social, cultural e política, garantindo dessa forma, além das necessidades básicas
(afetivas, físicas e cognitivas) essenciais ao processo de desenvolvimento e
aprendizagem, a construção do conhecimento de forma significativa, por meio das
interações que estabelece com o meio e assim promove a oportunidade de convívio
com a diversidade e a singularidade de forma aberta, flexível e acolhedora.
Já as redes privadas de ensino vêem buscando formas de auto-ajustes para
atuar interativamente no processo de construção de um sistema educacional
inclusivo na forma de compreender e praticar a inclusão.
26
No âmbito da educação, a opção por uma política de construção de um
sistema educacional inclusivo vem coroar um movimento para assegurar a todos os
cidadãos, inclusive aos com necessidades educacionais especiais, a possibilidade
de aprender a administrar a convivência digna e respeitosa em uma sociedade
complexa e diversificada. (FONSECA, 2014, p.27). Desta forma, proporcionando não
só àqueles que possuem necessidades educacionais especiais, mas ainda para
todos, alunos e professores, com ou sem necessidades especiais, a prática saudável
e educativa dessa convivência no exercício das relações interpessoais, aspecto
fundamental da democracia e da cidadania.
Além disso, de acordo com a Resolução CNE/CEB 4/2009, em seu Art.1º,
para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os sistemas de ensino devem
matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento
Educacional Especializado, (AEE), ofertado em salas de recursos multifuncionais ou
em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de
instituições comunitárias, ou filantrópicas sem fins lucrativos, já que todos têm o
direito a educação para garantir seu pleno desenvolvimento como pessoa,
preparando para o exercício da cidadania, e qualificação para o trabalho. Entende-
se por atendimento educacional especializado, um conjunto de atividades, recursos
de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma
complementar ou suplementar à formação dos alunos eliminando possíveis barreiras
para a sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua
aprendizagem. Ainda, como descrito nos Art. 3º e 4º desta resolução, a Educação
Especial, se realiza em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, tendo o
AEE como parte integrante do processo educacional, considerando público alvo para
esse atendimento especializado, os alunos com deficiência; aqueles que possuem
impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial e
aos alunos com transtornos globais do desenvolvimento; aqueles que apresentam
um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento
nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras, como os autistas
clássicos e síndrome de Asperger.
27
O Estado também garante o direito a esporte, cultura e lazer, pois essas
atividades contribuem para o desenvolvimento social, psíquico e motor das pessoas
com autismo.
O direito a saúde, talvez, seja a parte mais importante desde processo e está
previsto no artigo 196 da Constituição Federal, sendo direito de todos e dever do
Estado. As pessoas com autismo contam também com a proteção especial da Lei
Federal 7.853/89, que garante o tratamento adequado em estabelecimentos de
saúde públicos e privados específicos para a patologia que possuem. Porém, esse
direito é difícil de ser cumprido em toda sua amplitude, precisando efetivamente de
leis mais específicas, que não garantem apenas o direito de acesso ao sistema de
saúde, mas também que regulamenta todo o acompanhamento de uma pessoa com
autismo, cuidando de cada etapa da sua vida para o máximo de seu
desenvolvimento intelectual, social e cognitivo. Outro direito garantido por lei para as
pessoas com autismo, é o direito ao trabalho, a educação profissional e o direito a
programas de capacitação direcionados as suas potencialidades e interesses. Inseri-
lo ao mercado de trabalho pode trazer um grande avanço em sua independência e
socialização, melhorando sua autoestima e o desenvolvimento pessoal. E por último,
segundo a Lei Federal 8.899/94, a pessoa com autismo ainda tem o direito a
transporte gratuito, se for comprovadamente carente, podendo utilizar bancos
reservados em transporte coletivo, já que são destinadas as pessoas com
deficiência. Vale ressaltar, que a critério de lei, as pessoas com síndrome de
Asperger não tem os mesmos direitos das pessoas com autismo.
Entende-se que para colocar em prática um modelo eficaz de um sistema
educacional inclusivo de acordo com os parâmetros da Política Nacional de
Educação, cabe a todos nós, dedicarmo-nos à efetivação desse desafio que,
embora difícil, é de nossa competência e obrigação, considerando que, a criança
com autismo tem o direito de estudar em um ambiente seguro e acolhedor.
A inclusão educacional é fator determinante para a inclusão social e exercício
da cidadania. (CNE/CEB Nº17/2001, MEC).
28
2.1 Mediação escolar e Autismo
Quando pensamos em inclusão de crianças e adolescentes com Autismo e
outras necessidades especiais, nos lembrarmos da palavra mediação, assunto
proeminente para os profissionais de educação especial e inclusão. No entanto, não
podemos deixar de citar Lev Vygostsky, “conhecido como um teórico multidisciplinar
por ser formado em Direito, Literatura e Medicina, abraçando então a Psicologia, foi
um dos primeiros estudiosos a falar sobre o conceito de mediação (TAILLE,
OLIVEIRA e DANTAS, 1992), este que abre as portas anos mais tarde, para a
formação de uma nova profissão, a de mediador escolar”. (ROMERO, 2016, p. 85).
Segundo Vygostsky, o contato que o indivíduo tem com o meio e com seus
iguais é sempre mediado por um conhecimento e/ou por experiência assimilada,
além da linguagem. Dessa forma, acreditava que qualquer indivíduo pudesse ser um
mediador para toda e qualquer criança, mesmo àquela dita “normal”. O professor, o
pai, o terapeuta e o amigo teriam o mesmo papel de mediador, por isso, tem a sua
teoria como socio interacionismo, pois percebe que a interação do sujeito é mediada
por várias relações. Portanto, a mediação, conceito central de sua obra; é uma
intervenção de um elemento intermediário em uma relação.
Anos depois, a partir dessa ideia precursora, surgiu o conceito de Mediação
Escolar, como um suporte humano a mais para crianças com dificuldades
educacionais especiais, além da figura do professor regente. Segundo o psiquiatra
Gustavo Teixeira (2013), o mediador é o profissional que irá fazer a união entre
escola, família e educador, auxiliando o aluno dentro da sala de aula, para encorajá-
lo, incentivar e facilitar a compreensão das atividades e dos conteúdos pedagógicos,
assim como, durante o recreio ou outro momento de lazer, orientando sua
socialização, a correção de comportamentos negativos e as regras sociais exigidas
para uma boa convivência entre todos.
O incentivo à comunicação, à linguagem, é de extrema importância para o
desenvolvimento da criança com autismo de baixo funcionamento, ao contrário das
crianças e adolescentes com TEA, que podem fazer uso de comunicação alternativa,
como o PECS. Neste contexto de comunicação, devemos ressaltar a relevância do
mediador no meio social, indivíduos com Autismo tem dificuldade de entender
regras, expressões faciais, corporais, além de metáforas e ironias.
29
O mediador também pode orientar o professor quanto às possíveis
adaptações para o aprendizado do aluno com Autismo. Estas mudanças podem ser
utilizadas com toda turma, no intuito de auxiliar a todos e proporcionar uma
verdadeira inclusão ( PINHEIRO, LOUBACK e VITORINO, 2014).
O mediador é aquele que no processo de aprendizagem favorece a interpretação do estímulo ambiental, chamando a atenção para os seus aspectos cruciais, atribuindo significado à informação recebida, possibilitando que a mesma aprendizagem de regras e princípios sejam aplicadas às novas aprendizagens, tornando o estímulo ambiental relevante e significativo, favorecendo o desenvolvimento.( MOUSINHO et al. 2010)
Devemos destacar que o mediador mesmo sendo o parceiro da criança ou do
adolescente, não deve ser visto como uma “bengala” para as crianças com
dificuldades educacionais e assim deve ter um “prazo de vencimento”. Tal
profissional deve estimular, a todo tempo, a independência do seu mediado,
construindo um caminho para que o mesmo alcance sua autonomia em todos os
âmbitos necessários à sua formação. (ROMERO, 2016)
Outro ponto relevante dentro de uma política educacional inclusiva são as
questões relativas à adaptação curricular-mudança proporcionada pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional para os alunos com dificuldades
educacionais; devem ser observadas e realizadas pelo professor regente e
mediador, de forma conjunta, para que ambos proporcionem um currículo flexível e
funcional para o aluno, de forma com que este aprenda o que for significativo para
sua vida e possa ser devidamente avaliado conforme tal aprendizagem.
(FONSECA,2014)
Entende-se que, o objetivo da mediação escolar é prestar o apoio necessário
nas atividades executadas pelo professor regente, contribuindo no processo de
ensino aprendizagem, na convivência, no desenvolvimento, enquanto ao bem-estar
social, físico e emocional dos alunos; nas dependências das unidades de
atendimento escolar, seja da rede pública de ensino, seja da rede privada de ensino,
principalmente em salas de aulas em unidades de Educação Infantil.
30
CAPÍTULO III
A criança com autismo na Educação Infantil
Neste capítulo, enfatizarei sobre o processo interativo que favorece a
participação da criança com autismo no contexto da Educação Infantil. Como
sabemos o desenvolvimento infantil, ocorre desde a gestação e após o nascimento a
criança está imersa no meio social onde as possibilidades de desenvolvimento não
se encontram apenas no sujeito, mas também nos outros membros do meio social
que constituem o sujeito. Então, inseri-la ao meio social, a partir de como ela é
significada e constituída pelo outro sem desconsiderar suas especificidades, mas
levando em consideração essa criança como um ser que pensa, deseja, sente e
representa o mundo de maneira peculiar, interagindo com ele de forma diferente.
Para Vygotsky assim como as crianças neurotípicas apresentam
particularidades em seu desenvolvimento, o mesmo acontece com as crianças
deficientes que se desenvolvem de um modo distinto e peculiar, necessitando de
caminhos alternativos e recursos especiais. Assim, desmistificar o modelo de
aprendizagem visa promover experiências que invistam no desenvolvimento cultural
da criança, sua participação nos diferentes espaços e atividades cotidianas que
favoreça a desenvolver as funções psicológicas superiores a partir de seu
desenvolvimento cultural.
A aprendizagem do aluno com autismo é possível a partir em que educadores
valorizam as distintas habilidades de seus alunos como forma de abrir caminhos
para a aprendizagem. Atuais pesquisas no campo da Neurociência nos revelam com
clareza a respeito das múltiplas habilidades ou múltiplas inteligências, objeto de
estudo durante anos de Piaget, Montessori, Vygotsky e outros. (CUNHA, 2016).
Certamente, a inteligência humana é algo que cada um de nós possuímos,
independentemente de ser ou não deficiente. De fato, essa inteligência nos leva a
aprender e, inegavelmente, ela é estimulada por cargas afetivas; alunos com
autismo não deixam de ser aprendentes e receptivos ao afeto, nutrem curiosidades,
porém muitas vezes com interesses peculiares. Neste caso, o professor precisa
entender e compreender que tem o papel de mediador e que intencionalmente, cria
situações que possa favorecer o desenvolvimento da criança com Autismo.
31
Na sala de aula, o primeiro passo a ser dado pelo professor será o de conhecer
seu aluno, seus afetos, seus interesses; o que possibilitará abrir caminhos e
encontrar recursos facilitadores para a aprendizagem, e sobretudo, auxiliá-lo em seu
desenvolvimento. Não se trata de uma regra, mas de um caminho, pois o afeto traz
interesse para os movimentos de ensino e aprendizagem. Após conhecê-lo melhor,
é possível elaborar atividades pedagógicas que lhe sejam funcionais, isto é, nas
quais o aluno autista encontre sentido em aprender, já no aspecto cotidiano,
começar pelos afazeres diários, pois precisam ser realizados cotidianamente para
outorgar autonomia, o que é essencial nas primeiras fases do desenvolvimento de
qualquer criança e assim propor tarefas para serem executadas em perfeita sintonia
com a família, alcançando etapas previamente estabelecidas. Ainda que não se
aprenda perfeitamente, o que se busca,é a interação social a comunicação, a
cognição, os movimentos e as habilidades. Compreender as singularidades da
criança com Autismo é percebê-la como criança, como sujeito que pensa, que sente,
que precisa um pouco ou muito do outro investindo em suas potencialidades. (
CHIOTE,2015).
Como docente, é fundamental entender os mecanismos que são necessários e
trilhar caminhos diante dos desafios do autismo. Muitos são os fatores que as
motivam, o barulho, a mudança de rotina, o excesso de atividades, as ansiedades,
os possíveis conflitos e as frustrações. Adaptar currículo, práticas pedagógicas e
materiais de desenvolvimento, é um bom caminho. O aluno com autismo nem
sempre aceita com naturalidade as mudanças, nem sabe lidar com a contrariedade,
muito menos, saberá o que fazer se o professor usar a palavra “não”, então ao invés
de dizer-lhe “não”, mostrar-lhe o que ele poderá fazer. É normal a criança com
autismo tentar esquivar-se para fugir ou até se irritar para não fazer o que é pedido.
É importante que o educador não valorize tais comportamentos, mas redirecione de
forma lúdica e pacífica a situação, sua fala precisa ser serena, explicita e sem
pressa; pois a voz é o convite do professor, ou seja, é o exercício de comunicação
oral, a perseverança para redirecionar as atitudes e ensinar a forma adequada para
a expressão de sentimentos e desejos é essencial.
Em uma proposta de educação inclusiva, as atividades pedagógicas devem
ser realizadas por qualquer aluno, da educação regular ou especial, em situações de
dificuldade de aprendizagem ou não. O material pedagógico é o instrumento que
32
estimula o aluno, para que ele, ainda que por meio de pequenos passos, possa, de
forma gradual e constante, seguir adiante descobrindo novas experiências de
aprendizagem.
O trabalho pedagógico não é produzido única e exclusivamente
pela professora que ensina, nem tampouco pela criança que
aprende. O ensinar e aprender são produzidos na relação entre
alunos e professora. Um se constitui em relação ao outro.
(CHIOTE, 2015, 2º edição)
No entanto o processo de aquisição do saber é semelhante ao de qualquer
outro educando, porém para o aluno autista, nem sempre o foco estará naquilo que
o professor apontar ou falar. Neste caso, é preciso canalizar o afeto para que
aconteça o processo de ensino; o afeto é o melhor caminho para se obter a atenção,
daí a importância da observação, para saber o que fazer. Primeiramente o educador
reconhece as habilidades do educando e aquelas que devem ser adquiridas, mesmo
que seja apenas pelo olhar ou pelo toque, em muitos casos, trata-se do início da
comunicação, da interação entre educador e educando.
Segundo (CUNHA, 2016), qualquer aprendente incluindo os alunos com
autismo, a aprendizagem escolar acontece em quatro estágios: estágio diretivo- fase
em que se ensina aos filhos, quando ainda pequeninos e que necessitam ser
conduzidos para aprender todas as coisas; estágio autônomo- o aluno tem
capacidade de aprender novas habilidades por si próprias, na educação
inclusiva,assim como nas primeiras classes da Educação Infantil a autonomia se
torna essencial, uma vez que qualquer ganho abrangerá a conquista da
independência intelectual e operacional; estágio criativo- trata-se de um saber
criativo, construídos em razão das circunstâncias e das necessidades, não se
restringe sobre os conceitos existentes; estágio colaborativo- possuem extremas
habilidades em determinadas áreas, aprende-se com a autonomia, criatividade e
colaboração.
É claro que os estágios da aprendizagem não são determinantes,
principalmente para os aprendentes que são espectro autista, pois há indivíduos
com características extremamente distintas.
33
Cuidar e educar na Educação Infantil são processos inerentes na formação
integral da criança. Momentos como rodinha, hora da higiene, alimentação, fila e
brincadeira são situações de aprendizagem que, a partir da participação em práticas
culturais cotidianas, possibilitam a apropriação de signos e instrumentos, assim,
produzindo novas outras formas de interagir com o meio e com os outros. É preciso
buscar nas peculiaridades do aluno Autista seus movimentos corporais, expressões
interpretando e significando suas ações oferecendo possibilidades de agir no espaço
escolar, permitindo que vivencie diferentes situações e inseri-lo no meio cultural,
proporcionando, na experiência das ações, atividades coletivas, o desenvolvimento
das funções psicológicas, como a atenção, a memória, o intelecto, a percepção,
entre outras, favorecendo o desenvolvimento, a partir das relações que ela
estabelece no meio em que está inserida.
Segundo (ORRÚ, 2009), a interação social da criança autista com outras
crianças sem a síndrome, possibilita aprender e se transformar, podendo diminuir os
comportamentos considerados inadequados a partir da apropriação e construção de
um novo repertório com ações mais significativas, por meio da ação mediadora do
professor e das crianças com quem ela convive no espaço escolar, na Educação
Infantil, os alunos são orientados em diversos momentos e atividades. A maneira
como os outros interpretam, orientam e regulam suas ações no espaço escolar, são
internalizados pela criança em um processo no qual ela se apropria das formas
culturais, ao mesmo tempo em que as modificam criando seu jeito singular de
interagir, de intervir no meio, regulando suas próprias práticas com o meio.
A vivência escolar permite o acesso a diferentes produções culturais,
proporcionando o desenvolvimento dos alunos por meio de aprendizagens, não
podemos deixar de lembrar, que é preciso educar não o autista, mas, antes de tudo,
uma criança. O importante é educar a criança, e volto a dizer conhecê-la, saber
como ela se desenvolve, possibilitando sua imersão no meio social, para que, no
contato com a coletividade e com os outros, seu desenvolvimento cultural seja
ampliado.
Dessa forma, na Educação Infantil, a brincadeira e o faz de conta deve ser
compreendida como um fenômeno de relações sociais em que a criança sozinha ou
com seus parceiros de brincadeira, cria situações imaginárias, assume papéis e
passa a interagir com objetos e ou parceiros de brincadeira de acordo com a
34
temática da situação, negociando significados e regras. A brincadeira se constitui
como atividade fundamental no processo do desenvolvimento infantil por possibilitar
que, enquanto brinca sozinha ou em interação com outras crianças, ela resolve
problemas, cria hipóteses em um pensar sobre si e sua atuação no meio,
favorecendo a elevação dos modos de pensamento.
Assim, para Vigotski (2007, p.120), ”[...] o brinquedo contribui com a principal
contradição para o desenvolvimento”, o ato de brincar está relacionado com o real, a
própria criança imagina e dá origem a ação, desenvolvendo a vontade, a capacidade
de fazer escolhas, substituindo um objeto por outro, bem como uma ação por outra.
As situações coletivas, o brincar com outras crianças favorece o rompimento de
algumas limitações que o diagnóstico de Autismo coloca como a impossibilidade do
brincar para as crianças com essa síndrome. Portanto, o papel da mediação nas
situações de brincadeiras e de todo o processo de aprendizagem escolar não deve
se prender às “limitações” do diagnóstico de Autismo, mas de abrir as possibilidades,
orientando-se não apenas por aquilo que a criança faz ou não faz, mas investindo
sempre naquilo que ela pode vir a fazer, pois o objetivo da escola não está em
adaptar-se ao defeito/deficiência, mas superar, no que implica no desenvolvimento
da criança.
[...] a brincadeira, além de possibilitar ganhos de desenvolvimento que lhe são próprios (atuação no plano imaginativo, refinamento da significação), proporciona um rico espaço de circulação social de linguagem e uso de instrumentos, sendo, assim uma importante fonte para os processos de constituição dos sujeitos. (MARTINS, 2009, p. 43)
A brincadeira, como aponta Martins (2009),é uma possibilidade de
desenvolvimento da criança com Autismo a partir de sua interação social, em uma
prática específica da infância que essa criança pertence como sujeito que apresenta
especificidades na forma de se relacionar com o outro,e que tem o direito de
participar da cultura.
Outra importante consideração que cabe destacar aqui é a sistematização e a
intencionalidade no trabalho pedagógico. Ainda é comum ouvir professores
julgando-se despreparados para o trabalho educativo com uma criança com
Autismo. Quando o professor assume o lugar de mediador, ele favorece o processo
de desenvolvimento, sistematizando as ações cotidianas, deixando de fazer por ele,
35
investindo nas ações conjuntas, em um “fazer para” ele ver o que se espera, no
“fazer com” e colocá-lo em ação, a partir de hipóteses naquilo que ele poderia
futuramente realizar sozinho. O professor deve estimular a capacidade de
concentração durante a realização das tarefas, pois, como já falado, são as
dificuldades comunicativas e o déficit de atenção que mais impede o aprendizado da
criança com autismo na vida cotidiana.
No entanto, o aluno poderá atender seus próprios esquemas mentais ao
realizar as atividades em sala de aula. Devido à convivência que também estimula a
função cognitiva, aos poucos, à criança aprenderá a executá-las estimulada por
fatores da aprendizagem social.
Conforme Cunha, “a proposição curricular poderá abarcar de maneira subjetiva
alguns princípios da aprendizagem que poderão ser ensinados aos alunos com
autismo como também para os demais alunos”:
• A descoberta de que as pessoas ao redor são importantes;
• A valorização da amizade;
• Afetividade e amor;
• Que o convívio com todos da escola ajuda-os na construção do conhecimento;
• Que aprender as rotinas diárias poderá contribuir para a independência e a
autonomia;
• Que compartilhar sentimentos e interesses é uma forma de comunicação e que
faz parte do processo inclusivo.
É fundamental investigar o sujeito com Autismo e sua bagagem de
escolarização, indagar sobre a formação docente e, sobretudo, o diagnóstico desses
sujeitos e o modo como sua vida se desenrola a partir dele. E é a partir desse
diagnóstico, ou melhor, do modo como ele é interpretado pelas pessoas que
convivem com esse sujeito, familiares, profissionais e outros, que os limites e as
possibilidades do seu desenvolvimento se constroem. Um novo olhar para a criança
enquanto sujeito que apresenta especificidades, mas, sobretudo transforma a
experiência cotidiana em conhecimento, as intervenções mostram a potência do
trabalho do professor quando este se coloca como outro que media a relação da
criança com o mundo.
Não existe uma receita de “bolo” para a inclusão da criança com Autismo na
Educação Infantil, nem um modelo para solucionar os problemas e as dificuldades
36
que surgem no encontro com essas crianças dentro do espaço escolar. No entanto,
pressupõe um ensino colaborativo com prazeres e afetos, com produções individuais
e em grupo, socializando o saber produzido, e que aprender com autonomia,
criatividade e colaboração são questões que vão culminar na sala de aula com a
nova geração de aprendentes e que o ambiente de ensino numa perspectiva
inclusiva, todos são participantes do grupo.
O incentivo à formação e a capacitação de profissionais especializados no
atendimento às crianças com Autismo, assim como o apoio aos pais e responsáveis
como forma de construir uma parceria entre família e escola, o que é fundamental na
educação de todo aluno com necessidades educacionais especiais ou não.
Assim, não devemos desconsiderar o valor da formação inicial e continuada
para o trabalho dos professores em geral, evidencia que, diante de um contexto
inclusivo, a criança deve ser abrangida em sua singularidade, e o professor torna-se
essencial tendo como base de sua formação a ética em seu fazer pedagógico.
Afinal, educar o aprendente com Autismo é criar uma relação dialógica, em que
implica um jeito diferente de aprender e um jeito diferente de ensinar.
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CONCLUSÃO
Após pesquisa realizada e observações finais concluídas sobre o tema,
devemos entender que o Autismo é um transtorno global do desenvolvimento infantil
com características peculiares, que se manifesta ainda na infância e se prolonga por
toda vida do indivíduo. Apresenta um conjunto de sintomas comprometendo as
áreas da socialização, comunicação e do comportamento. Como ideia principal,
deve-se entender o funcionamento do cérebro autista, seus níveis e, sobretudo o
diagnóstico que quanto antes, melhor para haver o tratamento adequado e o
desenvolvimento funcional.
Foi possível compreender que é um erro absurdo em dizer, que a pessoa com
Autismo não possa ser inserido na sociedade e desempenhar seu papel social de
forma satisfatória. Assim, pode-se considerar esse indivíduo/criança como um ser
social, que se constitui como sujeito capaz de aprender e se desenvolver a partir das
relações sociais e interações que lhe são possibilitadas.
No que concerne o processo de ensino aprendizagem, deve-se destacar, em
primeiro lugar, a importância do trabalho do professor em uma perspectiva de
educação inclusiva, na construção de um olhar individualizado para a criança com
Autismo, bem como a importância do papel da mediação pedagógica no processo
de significação e inclusão da criança autista na Educação Infantil. Cabe ressaltar a
importância de o professor conhecer seu aprendente, oferecer estímulos e acreditar
em seu potencial investindo para que essa criança participe das práticas cotidianas
da educação infantil e dela se aproprie. Sua formação e o seu conhecimento
científico a respeito do assunto tornam-se essenciais para a identificação da
síndrome.
Através do estudo realizado conclui-se que a função do mediador, é de
extrema importância para o desenvolvimento do aluno com Autismo e que o avanço
em termos legislativo em prol da inclusão torna-se o processo de inclusão
responsável e verdadeiro. Quando nos tornamos parte desse processo de inclusão,
entendemos como lidar com tal público, encantamo-nos com as reais possibilidades
de nossos educandos.
Com este trabalho entendemos que existem caminhos a serem trilhados no
trabalho educativo com a criança com Autismo e que esses caminhos se fazem no
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próprio caminhar. Falar de inclusão e conhecer o mundo singular e belo do Autismo
é refletir sobre propostas à inserção do aluno com Autismo em sala de aula regular
de ensino.
Sobre tudo, pode-se considerar que a temática não se esgota aqui. É
fundamental que pesquisadores continuem se debruçando em novos estudos para
investigar novos caminhos no processo de significação da criança com Autismo, nas
possibilidades de seu desenvolvimento cultural e no contexto da educação infantil.
Assim, acredito ser necessário, aqui afirmar que não digo ser fácil aplicar todas
estas teorias e recomendações a tanta diversidade, mas enquanto educador tentar
todos os dias, acreditando na conquista de vitórias, o que nos traz grande
satisfação.
O trabalho com indivíduos tidos “fora do padrão da normalidade” tem sido um
grande desafio, mas ao mesmo tempo um crescimento enquanto profissional da
educação que acredita todos os dias na inclusão e escolarização da criança com
Autismo, em turmas regulares, principalmente na Educação Infantil, reconhecendo e
valorizando suas peculiaridades.
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BIBLIOGRAFIA
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Resolução nº 4, de 02 de outubro de 2009. Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília, 2009. BRASIL, L. D. B. "Lei 9394/96–Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. BRASIL. Lei nº 12.764 de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3o do art. 98 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990. BRASIL. Lei nº 13.146, de 06/07/2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da pessoa com Deficiência). 2015 CHIOTE, Fernanda de Araújo Binatti. Inclusão da criança com autismo na educação infantil: trabalhando a mediação pedagógica. 2ª Ed, Rio de Janeiro: Wak Editora, 2015. CUNHA, Eugênio. Autismo na escola: um jeito diferente de aprender, um jeito diferente de ensinar. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2016. ROMERO, Priscila. Prefácio Eugênio Cunha. O aluno Autista: avaliação, inclusão e mediação. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2016. SILVA, Ana Beatriz Barbosa; GAIATO, Mayara Bonifácio; REVELES, Leandro Thadeu. Mundo Singular: Entenda o autismo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
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WEBGRAFIA
http://www.pecs-brazil.com/pecs.php http://www.planalto.gov.br/
https://www.revistaautismo.com.br/
https://www.terapiaaba.com.br/
http://www.usp.br/espacoaberto/?materia=pais-vamos-falar-sobre-autismo
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INDICE
FOLHA DE ROSTO
AGRADECIMENTO
DEDICATÓRIA
RESUMO
METODOLOGIA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................... 09
CAPÍTULO I: Entenda o Autismo............................................................... 12
1.1- História do Autismo.............................................................................. 16
1.2- Principais características do Autismo................................................ 19
CAPÍTULO II: Legislação e Autismo........................................................... 23
2.1- Mediação escolar e Autismo................................................................ 28
CAPÍTULO III: A criança com autismo na Educação Infantil.................... 30
CONCLUSÃO..................................................................................................... 37
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 39
ÍNDICE................................................................................................................ 41