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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
SEGURANÇA E SAÚDE NO AMBIENTE DE TRABALHO
MICHELE SEZINI DA CRUZ
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
RIO DE JANEIRO 2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
SEGURANÇA E SAÚDE NO AMBIENTE DE TRABALHO Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Michele Sezini da Cruz
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a DEUS por permitir a
realização de mais um sonho; segundo
a minha família por acreditarem em
mim e me darem força nos momentos
difíceis; terceiro, aos amigos que
sempre me incentivaram a não desistir
e acreditar que querer é poder. Quarto,
mas não menos importante, ao meu
namorado que tem sido um
companheiro maravilhoso. Muito
Obrigada a todos! Sem vocês nada
disso estaria acontecendo.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha mãe, que
sempre foi minha amiga e cúmplice em
todas as horas, que sempre sorriu e
chorou comigo, que sempre me
incentivou, que sempre se orgulhou de ter
uma filha teimosa e sonhadora. Obrigada
minha mãe querida. Eu te amo!
5
RESUMO
A falta de Segurança e Saúde no Ambiente de Trabalho tem ocasionado números alarmantes de acidente no ambiente de trabalho vitimando milhares de trabalhadores todos os anos no País. Assim, ante essa realidade atemorizante faz-se necessário compreender a importância da preservação da segurança e saúde dos trabalhadores no desempenho de suas atividades laborativas, bem como fazer um estudo detalhado das causas desses acidentes, identificando os responsáveis, a fim de que sejam tomadas medidas efetivas de prevenção e redução dos acidentes no ambiente de trabalho, sendo que somente com a união de esforços de toda a sociedade será possível o desenvolvimento de uma cultura de conscientização e prevenção no combate a essa mazela da Sociedade Contemporânea.
6
METODOLOGIA
O presente trabalho constitui-se em uma descrição detalhada das
características jurídicas do tema em estudo, do tratamento conferido ao
assunto pelo ordenamento jurídico nacional e de sua interpretação pela
doutrina especializada, tudo sob o ponto de vista específico do direito positivo
brasileiro.
Para tanto, o estudo que ora se apresenta foi levado a efeito a partir
do método da pesquisa bibliográfica, em que se buscou o conhecimento em
diversos tipos de publicações, como livros, artigos e outros periódicos
especializados, além de publicações oficiais da legislação e da jurisprudência.
Por outro lado, a pesquisa que resultou nesta monografia também foi
empreendida através do método dogmático, porque teve como marco
referencial e fundamento exclusivo a dogmática desenvolvida pelos estudiosos
que já se debruçaram sobre o tema anteriormente, e positivista, porque buscou
apenas identificar a realidade social em estudo e o tratamento jurídico a ela
conferido, sob o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro.
Adicionalmente, o estudo que resultou neste trabalho identifica-se,
também, com o método da pesquisa aplicada, por pretender produzir
conhecimento para aplicação prática, assim como com o método da pesquisa
qualitativa, porque procurou entender a realidade a partir da interpretação e
qualificação do fenômeno estudado; identifica-se, ainda, com a pesquisa
exploratória, porque buscou proporcionar maior conhecimento sobre a questão
proposta, além da pesquisa descritiva, porque visou à obtenção de um
resultado puramente descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica do
tema.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................9
CAPÍTULO I
A PROTEÇÃO LEGAL DO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO E DA SAÚDE
E SEGURANÇA DO TRABALHADOR .................................................... 11
1.1 – A REALIDADE DOS ACIDENTES DE TRABALHO NO BRASIL.........15
1.2 – A POSTURA PATRONAL QUANTO A PREVENÇÃO DO MEIO
AMBIENTE DE TRABALHO ......................................................................... 17
1.3 – A POSTURA DOS TRABALHADORES DIANTE DOS RISCOS
AMBIENTAIS...................................................................................................19
CAPÍTULO II
A TUTELA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NO CONTEXTO DA
GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA ................................................................... 22
2.1 – O PAPEL DA SOCIEDADE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE 24
2.2 - SINDICATOS............................................................................................26
2.3 – PODER PÚBLICO...................................................................................28
8
CAPÍTULO III
A EFETIVIDADE NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO
TRABALHO.....................................................................................................30
3.1 – JURISDIÇÃO CONFERIDA À JUSTIÇA DO TRABALHO EM PROL DE
UM MEIO AMBIENTE SEGURO E SADIO......................................................32
3.2 – RESPONSABILIDADE PELA ADOÇÃO DAS MEDIDAS
NECESSÁRIAS À PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO.......36
3.3 – FORMAS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTE NO MEIO AMBEINTE DE
TRABALHO......................................................................................................39
CONCLUSÃO................................................................................................. 41
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 43
9
INTRODUÇÃO
O presente trabalho monográfico é um estudo realizado acerca da
crescente e alarmante quantidade de acidentes no ambiente de trabalho
vitimando milhares de trabalhadores todos os anos no País.
Nesse contexto fático, o trabalho dedica-se a evidenciar a extrema
relevância de uma urgente conscientização de toda a Sociedade na criação de
uma cultura de prevenção para que esses números possam gradativamente
ser amortizados, a fim de que todos os trabalhadores, independentemente da
atividade que exerçam, possam usufruir de uma ambiente de trabalho saudável
e seguro. Para que isso seja possível, o presente trabalho dedica-se também
em estudar as causas relacionadas ao crescente número de acidentes no
ambiente de trabalho; identificar os responsáveis diretos e indiretos pelo
crescimento dessa mazela na Sociedade e apontar efetivos meios de
prevenção e redução dos acidentes.
Assim, aborda-se no presente trabalho monográfico a urgente e
necessária importância da disseminação de uma cultura de prevenção da
segurança, higiene e saúde no ambiente de trabalho, bem como, sendo
ultrapassada essa fase, demonstrar como os Tribunais vêm se posicionando
sobre a matéria, no que concerne à punição dos responsáveis, e, ainda, não
menos importante, identificar os atores da Sociedade que efetivamente podem
mudar essa triste realidade através de medidas efetivas.
Destarte, o que se objetiva com o presente estudo é analisar os
institutos jurídicos e sociais disponíveis que possam ser utilizados para
proteger os trabalhadores, tendo sempre como foco o bem maior a ser tutelado
que é o direito a um ambiente de trabalho seguro e saudável, o que revela-se
importante para as presentes e futuras gerações, envolvendo direitos e
garantias fundamentais da pessoa humana em conflito com o desenvolvimento
10
econômico, sendo certo que o grande desafio da Sociedade Contemporânea é
o de harmonizar a saúde e segurança do trabalhador no exercício de suas
atividades com o crescimento desenfreado do Capitalismo rumo ao
crescimento econômico a qualquer custo, mesmo que o preço seja a vida dos
trabalhadores, fato decorrente do mundo Globalizado.
O estudo que precedeu este trabalho teve como ponto de partida o
pressuposto de que impera no Brasil a falta de cultura empresarial para
precaver os riscos ambientais no ambiente de trabalho, uma vez que o foco
principal é o lucro deixando de lado o fator humanitário, urgindo a necessidade
de criação de uma cultura de prevenção dos acidentes no ambiente de
trabalho, sendo inaceitável que os trabalhadores, parte hipossuficiente da
relação jurídica, continuem sendo vítimas dessa moléstia, devendo toda a
Sociedade acoplar esforços para a criação de uma cultura solidária e de
preocupação para com todos os seres humanos, sobretudo, com os
trabalhadores que representam o presente e futuro do desenvolvimento
econômico, inobstante todo o avanço tecnológico.
Visando um trabalho prático, cujo objeto de estudo seja bem
delineado e especificado, a presente monografia dedica-se, especificamente,
às questões relativas à segurança e saúde no ambiente de trabalho decorrente
da falta de investimento na prevenção de acidentes, bem como nos problemas
culturais que influenciam a postura dos empregadores e trabalhadores no
sentido de evitar os acidentes laborais, e, não menos importante, na
ineficiência dos Poderes Públicos quanto à criação de políticas de fiscalização
e prevenção dos acidentes no ambiente de trabalho.
Neste contexto, importante destacar que o presente trabalho
procurou disseminar os recentes dados divulgados sobre o tema, nos mais
diversos veículos e comunicação, ante o alarmante crescimento dos acidentes
no ambiente de trabalho e como a Justiça Trabalhista, especificamente, utiliza
as normas existentes para responsabilizar por esses acidentes, a fim de
conscientizar e punir os culpados, bem como reparar, na medida do possível os
trabalhadores e familiares destes pelos danos decorrentes dos acidentes no
11
ambiente de trabalho, e, por fim, mas não menos importante, como a questão
deve ser enfrentado por toda Sociedade.
CAPÍTULO I
A PROTEÇÃO LEGAL DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E
DA SAÚDE DO TRABALHADOR
No âmbito trabalhista, especificamente, a Constituição Federal da
República do Brasil em seu artigo 7º, XXII, assegura como direito fundamental
dos trabalhadores urbanos e rurais à redução dos riscos inerentes ao trabalho,
por meio de normas de saúde, higiene e segurança.
Preceitua ainda a Carta Magna, no artigo 1º, III o princípio
fundamental da dignidade da pessoa humana, segundo o qual todo ser
humano tem direito a uma vida digna, e o meio ambiente do trabalho deve tê-lo
como parte integrante de sua plataforma, pois, conforme dispõe ainda o artigo
225, da Constituição Federal, a vida deve ser de qualidade, e para que o
trabalhador tenha uma vida com qualidade, torna-se necessário um trabalho
decente e em condições seguras.
Além disso, de forma mais detalhada, a Consolidação das Leis do
Trabalho traz o Capítulo V inteiramente tratando sobre a Segurança, Higiene e
Medicina do Trabalho.
Não menos importante, o Ministério do Trabalho editou a Portaria n.
3.214/77 tratando do mesmo tema, com a aprovação de diversas Normas
Regulamentadoras, no total de 33 atualmente.
Também o meio ambiente do trabalho encontra a mesma proteção
disposta para o meio ambiente geral, em face do princípio da prevenção, em
cumprimento às Convenções n. 148, 155, 161 e 187 da OIT, importantíssima
12
normativa internacional para a proteção do meio ambiente do trabalho e, por
via de consequência, da saúde do trabalhador.
Destarte, com um farto manancial legislativo e de normas
internacionais para proteção da Segurança e Saúde no Ambiente de Trabalho
o País deveria inserir-se entre os mais desenvolvidos neste aspecto,
entretanto, a realidade que se observa é outra completamente diversa, ante a
realidade cruel que transita longe de uma Sociedade Democrática e
socialmente justa.
As estatísticas desoladoras comprovam que a Sociedade não esta
preocupada em criar um ambiente propicio para que os trabalhadores possam
levar uma vida digna, razão pela qual todos os atores desta são diretamente
responsáveis pelo abismo que se formou entre os direitos positivados em
contraposição à Dignidade Humana.
Infelizmente, os altos índices de Acidente de Trabalho no Brasil
necessitam de toda a atenção do Poder Público e da Sociedade, ressaltando
que esses acidentes podem significar para as vítimas um início de um périplo
penoso, caro e demorado, o que decorre da falta de investimento no tocante à
redução de riscos nos ambientes de trabalho.
As graves consequências dos acidentes atingem empregados que
são mutilados, morrem ou simplesmente ficam incapacitados para o trabalho,
refletindo diretamente na economia do País, em especial, na Previdência Social
que paga os auxílios-doença, aposentadorias, pensões e reabilitações.
Para solucionar o dilema, necessita-se, sobretudo, de uma
conscientização de todos, principalmente, das empresas no processo educativo
de ensino dos empregados na prevenção de acidentes de trabalho, ressaltando
que muitos empregadores ainda não perceberam que investir na prevenção de
acidentes de trabalho significa melhor qualidade, produtividade e
competitividade dos produtos.
13
O avanço do capitalismo globalizado dos séculos XX e XXI não
prioriza soluções para as questões sociais e humanitárias, apenas preza e dá
suporte para o avanço tecnológico e científico, os quais potencializam, cada
vez
mais, os riscos e acidentes nos ambientes de trabalho, além de prejudicar de
forma direta a saúde do trabalhador e, principalmente, o equilíbrio no meio
ambiente de trabalho.
Da mesma forma, a automação e a informatização não contribuíram
eficazmente para a saúde e para a qualidade de vida do trabalhador, pelo
contrário, o trabalho mecanizado trouxe ao trabalhador uma “escravidão”
exaustiva, entorpecedora e desumana, sendo que tais fatos contribuíram para
a degradação das condições do trabalho e do aumento dos acidentes e
doenças no meio ambiente de trabalho.
A vida tem um valor humano inestimável, entretanto, quanto tem
custado a vida de um trabalhador em nosso País? O objetivo meramente
lucrativo dos Empregadores estão respeitando os Princípios Fundamentais da
Valorização do Trabalho e da Dignidade do Ser Humano Trabalhador? O Poder
Público e a Sociedade têm cumprido o seu papel de fiscalizador? Tem criado
meios de prevenção efetivos contra os acidentes de trabalham que assolam
milhares de trabalhadores todos os anos?
1.1– A REALIDADE DOS ACIDENTES DE TRABALHO NO BRASIL
De acordo com as estatísticas divulgadas pelo Ministério da
Previdência Social, no Brasil, em 2010, ocorreram 701.496 acidentes de
trabalho, 2.712 óbitos e 15.593 acidentes de trabalho típicos.
A região Sudeste conta com o maior número de acidentes de
trabalho, com um total de 378.564 ocorrências. Em seguida, a região Sul
registra 156.853 casos, a região Nordeste 89.485, região Centro-Oeste 47.374
e, por fim, região Norte, com 29.220 acidentes.
14
Analisando isoladamente os Estados, apresentaram aumento no
número de acidentes de trabalho somente estados das regiões Norte e
Nordeste: Rondônia (de 5.101 em 2009 para 5.280 em 2010), Maranhão (de
5.957 em 2009 para 5.969 em 2010), Piauí (de 3.118 em 2009 para 3.226)
Paraíba (de 4.914 em 2009 para 4.957 em 2010), Pernambuco (18.629 em
2009 para 19.936 em 2010), Alagoas (9.065 em 2009 para 9.185 em 2010).
Especificamente, no Estado do Rio de Janeiro no âmbito do Tribunal
Regional do Trabalho da 1ª Região, foram registrados no mesmo ano, 47.938
acidentes de trabalho, sendo que desse total houve 147 mortes.
Destarte, a realidade é desastrosa, demonstrando a total falta de
investimento e prevenção seja por parte dos Empregadores, bem como do
Poder Público e de toda a Sociedade, e porque não, dos próprios Empregados,
que muitas das vezes se recusam em utilizar os equipamentos específicos de
segurança no ambiente de trabalho.
Sobreleva notar, que esses acidentes não causam repercussões
apenas de ordem jurídica, sendo certo que nos acidentes menos graves, em
que o empregado tenha que se ausentar por período inferior a quinze dias, por
exemplo, o empregador deixa de contar com a mão de obra temporariamente
afastada em decorrência do acidente e tem que arcar com os custos
econômicos da relação de empregado, repercutindo ainda para o empregador
no que tange o cálculo do Fator Acidentário de Prevenção - FAP da empresa.
Ademais, os acidentes de trabalho geram custos também para o
Estado, incumbindo ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS administrar
a prestação de benefícios, tais como auxílio-doença acidentário, auxílio-
acidente, habilitação e reabilitação profissional e pessoal, aposentadoria por
invalidez e pensão por morte, assim, estima-se que a Previdência Social
gastou, só em 2010, cerca de 17 bilhões de reais com esses benefícios
previdenciários.
Em que pese os dados assustadores, estes certamente não refletem
a realidade, que é muito pior, haja vista que muitos dos acidentes de trabalho
15
sequer são registrados, seja porque o órgão Previdenciário diagnostica-as
como doenças normais, seja porque uma grande massa de trabalhadores não
possuem Carteira de Trabalho Assinada, encontrando-se na informalidade,
sem contar no processo de Globalização da Economia contribuindo
decisivamente para o aumento dos riscos ambientais, o que dificulta a
fiscalização dos Órgãos Fiscalizadores, ante a fuga de responsabilidade quanto
a proteção do Meio Ambiente.
1.2 – A POSTURA PATRONAL QUANTO A PREVENÇÃO DO MEIO
AMBIENTE DE TRABALHO
As mudanças no mundo do trabalho advindas das inovações
tecnológicas e organizacionais têm incrementado significativamente a produção
nas empresas, eliminando assim tarefas penosas ou pesadas, sendo certo que
essa relação estabelecida entre o homem e a tecnologia ocasionou novos
riscos para a saúde dos trabalhadores, tanto nos aspectos físico, mental ou
social.
Em que pese tantas transformações tão evidentes, ainda fica difícil
de serem captadas e apreendidas pelos profissionais, uma vez que,
atualmente, ainda deparamos com empresas desinformadas, desinteressadas
ou até mesmo com dificuldades de solucionar assuntos correlatos a acidentes
de trabalho.
A atuação do empregador é de fundamental importância no
treinamento dos empregados para a correta utilização dos Equipamentos de
Proteção Individual ou Coletiva, cabendo a empresa treinar o trabalhador
gratuitamente, sendo a inspeção no local de trabalho um procedimento
essencial de antecipação de intempéries em relação à Segurança e Medicina
do Trabalho, com o fim de eliminar as condições inseguras com a consequente
redução dos acidentes e as doenças ocupacionais.
16
Destarte, o empregador tem por obrigação ficar sempre atento na
questão que envolve a segurança do trabalhador, consciente de que o
trabalhador é seu maior ativo faz despertar para a relevância de se prevenir
acidentes e evitar acidentes, bem como elaborar uma clara política de
segurança do trabalhador.
Entretanto, as estatísticas demonstram que não tem sido prioridade
do patronato brasileiro o investimento na prevenção de acidentes de trabalho, o
que revela-se um grande equívoco das empresas, uma vez que o investimento
nessa área representa um bom negócio para o capitalismo, porque se de um
lado diminui custos, ao contrário do que muitos pensam, de outro, melhora a
qualidade dos bens produzidos e sua produtividade, que hoje são fatores
indispensáveis para a competitividade cada vez mais acirrada por conta do
processo de globalização dos mercados de produto.
Neste aspecto, importante destacar a citação de Melo (apud
RIZZATTO, 2009, p. 01) que afirma que os acidentes de trabalho ocorrem de
práticas inadequadas no meio ambiente de trabalho, ou seja, sua degradação.
Como práticas mais comuns o autor cita:
a) a falta de investimento na prevenção de acidentes por parte das empresas; b) os problemas culturais que ainda influenciam a postura das classes patronal e profissional no que diz respeito a não priorização da prevenção dos acidentes laborais; c) a ineficiência dos Poderes públicos quanto ao estabelecimento de políticas preventivas e fiscalização dos ambientes de trabalho; d) os maquinários e implementos agrícolas inadequados por culpa de muitos fabricantes que não cumprem corretamente as normas de segurança e orientações previstas em lei; e. e) a precariedade das condições de trabalho por conta de práticas equivocadas de flexibilização do Direito do Trabalho. (MELO apud RIZZATO, 2009, p. 01).
17
O que se verifica, é que normalmente, as condições do ambiente de
trabalho não estão totalmente adaptadas ao trabalhador, gerando acidentes do
trabalho e enfermidades profissionais, pois as deficiências condicionais de
execução do trabalho geram tensão, fadiga, insatisfação, provocando ainda, o
absenteísmo, instabilidade no emprego e queda na produtividade. A prevenção
proporcionada pelo empregador é, sem dúvida, o princípio inspirador de todas
as normas de tutela à saúde, inclusive e principalmente no local de trabalho,
constituindo o guia da realização e gestão prática dessa prevenção.
Destarte, o que se percebe é que falta para os empresários
brasileiros, na realidade, educação ambiental em todos os aspectos e níveis,
simplesmente porque não faz parte da nossa cultura capitalista investir no
homem por uma razão eminentemente humanitária, não é por outra razão, que
os Tribunais Trabalhistas têm concedido altas indenizações a título de
reparações morais e materiais decorrentes de acidentes de trabalho, o que
certamente, está ajudando a criar nas empresas uma maior conscientização da
necessidade de prevenção
1.3 – A POSTURA DOS TRABALHADORES DIANTE DOS RISCOS
AMBIENTAIS
A realidade revela que os trabalhadores, regra geral, não se
convenceram ainda da importância de implementarem condições de trabalho
adequadas para sua segurança de saúde.
Na prática, as prioridades dos trabalhadores estão diretamente
relacionadas com reivindicações econômicas, do que na defesa de suas vidas,
sendo o objeto mais importante a manutenção do emprego, mesmo que para
isso tenham que abrir mão de um ambiente de trabalho seguro e saudável,
vivendo em condições de trabalho inadequadas.
18
Essa permissividade dos trabalhadores em nada ajuda, muito pelo
contrário, não incentiva aos seus empregadores no cumprimento das Normas
existentes que os obriga na manutenção de um meio ambiente seguro e
saudável para seus empregados, até porque não é objeto de grandes
reivindicações por parte destes.
No entanto, o preço que os trabalhadores estão pagamento tem sido
muito alto, uma vez que quando se dão conta já estão adoentados, isso
quando o pior não acontece, que é a perda de suas vidas ou ainda a
condenação a uma vida sem aptidão para o exercício de qualquer atividade
laborativa, mazelas essas que podem ser evitadas por todos nós, inclusive
pelos diretamente afetados.
A conscientização da necessidade de prevenção dos acidentes de
trabalho revela-se inadiável, a fim de que não só os trabalhadores de hoje mais
também as futuras gerações possam gozar de um ambiente de trabalho seguro
e saudável, do que depende inclusive o futuro da economia, sendo que
extrema relevância que sejam observadas as normas de segurança do
trabalho, bem como que os trabalhadores denunciem as empresas no caso de
descumprimento das regras.
Destarte, na prevenção de acidentes do trabalho, tem papel de
relevo a participação consciente do empregado, uma vez que os atos inseguros
de responsabilidade do empregado são as causas principais de boa parte dos
acidentes laborais, assim, pode a empresa adotar os melhores dispositivos de
segurança em sua maquinaria ou as mais avançadas técnicas de prevenção de
acidentes e tudo será em vão se o próprio empregado não decidir colaborar
com seu empregador, respeitando as normas, o que serve para destacar a
importância de sua integração no programa prevencionista delineado pela
empresa.
Sendo assim, a participação dos empregados é fundamental para a
observância e aplicação das normas de segurança no meio ambiente do
trabalho, pois sua fiscalização quanto às condições laborais e exigência do
19
cumprimento das normas de proteção é imprescindível, sendo eles os
destinatários imediatos e principais vítimas das omissões.
O Valor do Trabalho e da Dignidade Humana devem ser respeitados
sempre, porque não, primeiramente, pelo próprio ser humano, conscientizando-
se que o trabalho não deve ser, necessariamente, ao mesmo tempo a sua
fonte de sobrevivência e de sua morte, ou a causa de uma vida inútil e doente.
20
CAPÍTULO II
A TUTELA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NO CONTEXTO
DA GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA
O processo de Globalização da Economia tem fundamental
importância sobre o presente e futuro do Direito do Trabalho, acarretando
benefícios, mas também prejuízos nas relações de trabalho, em regra, ganham
as grandes potências detentoras do Capitalismo e perdem os países
subdesenvolvidos, que não se prepararam para enfrentar esse fenômeno,
como é o caso do Brasil.
Os principais reflexos do processo de Globalização despreparada no
País, especificamente nas relações de trabalho, são a precarização das
condições de trabalho, educação precária, mão de obra desqualificada, dentre
outros inúmeros, tendo como consequência o agravamento das condições
inseguras de trabalho e aumento do número de acidentes.
O fenômeno chamado globalização oriundo do neo-liberalismo
não foi capaz de eliminar ou, ao menos, reduzir os infortúnios laborais a
números aceitáveis, ao contrário, em parte, impõe um modo de produção
transnacional com novas condições de trabalho agressivas à segurança e
saúde do trabalhador, persistindo a prioridade dos empresários pelo
aumento do capital em detrimento do desenvolvimento sócio-econômico
sustentável.
Neste sentido, sintetiza o ilustre doutrinador Cotrim, em poucas
linhas, a dura realidade do operariado na época da Revolução Social e as
consequências da terrível exploração do trabalho humano: (Cotrim, História
Global – Brasil e Geral. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999)
21
Sempre com o objetivo de aumentar os lucros, o empresário industrial pagava o menor salário possível, enquanto o explorava ao máximo a capacidade de trabalho dos operários. Em diversas indústrias, a jornada de trabalho ultrapassava 15 horas diárias. Os salários eram tão reduzidos que mal davam para pagar a alimentação de uma única pessoa. Para sobreviver, o operário era obrigado a trabalhar nas fábricas com toda a sua família, inclusive mulheres e crianças de até mesmo seis anos. Além de tudo isso, as fábricas tinham péssimas instalações, o que prejudicava em muito a saúde do trabalhador. Toda essa terrível exploração do trabalho humano acabou gerando lutas entre operários e empresários. Houve casos de grupos de operários que, armados de porretes, atacaram as fábricas, destruindo suas máquinas. Para eles, as máquinas representavam o desemprego, a miséria, os salários de fome e a opressão. Posteriormente, perceberam que a luta do movimento operário não devia ser dirigida contra a máquina, mas contra o sistema de injustiças criado pelo capitalismo industrial. Surgiram então os sindicatos operários, que iniciaram a luta por melhores salários e condições de vida para o trabalhador.
Hodiernamente, no País, vislumbra-se como principais reflexos
dessa Revolução Social, a informalidade do trabalho e a precarização das
condições em que o trabalho é desenvolvido, intensificando-se, em paralelo a
isso a campanha pela flexibilização do Direito do Trabalho, que cresce de
forma desordenada, já que não atenta para a necessidade de fortalecimento do
direito laboral, a fim de fazer frente aos avanços ilimitados dos interesses do
capital, principalmente, no que toca a manutenção do emprego, porém, na
qualquer emprego, mas o que preserve a dignidade do trabalhador.
Diante do panorama desolador faz-se necessário tornar o direito
laboral mais forte, ou seja, tornar o ambiente de trabalho um local saudável e
seguro para o empregado, a fim de fazer frente aos avanços ilimitados dos
interesses do capital, sendo mais importante do que preservar o emprego,
observar o Princípio Fundamental da Dignidade da Pessoa Humana.
22
Neste sentido, importante destacar a lição de Miguel Reale no
sentido de que “cumpre a nós, juristas, não perdermos de vista o papel que nos
cabe, para não colocarmos o nosso peso do lado errado”. (Reale, 1991, 195).
Com efeito, urge ressaltar que o ser humano trabalhador é
imensuravelmente mais valioso do que a mais sofisticada máquina existente ou
processo produtivo, sendo sempre o sujeito-fim de qualquer atividade ou ato do
homem.
Destarte, cabe aos operadores do direito fazer valer os princípios e
normas que regem a Saúde e Segurança no Ambiente de Trabalho,
assegurando, sobretudo os Valores Sociais do Trabalho e a Dignidade da
Pessoa Humana, não se deixando levar pelo modismo.
2.1 – O PAPEL DA SOCIEDADE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE
O artigo 225 da Constituição Federal da República assegura a todos
o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao
Poder Público e à Coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
Na realidade, a proteção ao meio ambiente destina-se a um bem
maior que é o direito do ser humano de viver com qualidade e dignidade,
assim, coloca-se o homem no centro das atenções.
A incumbência constitucional dispensada a toda Sociedade
certamente perpassa por uma mudança cultural, urgindo a necessidade de
uma conscientização de todos, em especial, das empresas através de
investimentos diretos na Segurança e Saúde do Trabalhador e criação de
Políticas Coletivas.
Na lição de Norberto Bobbio “uma coisa é falar dos direitos do
homem, direitos sempre novos e cada vez mais extensos, e justificá-los com
23
argumentos convincentes; outra coisa é garantir-lhe uma proteção efetiva”.
(Bobbio, 1992, 63).
Todos fazem parte da sociedade civil e devem ter como meta
principal cuidar do meio ambiente de trabalho, o que, certamente, servirá não
só para as presentes gerações, mas também para as futuras, influenciando de
forma significativa o desenvolvimento da Sociedade.
À sociedade cabe o papel de suma importante, que é a participação
e a mobilização efetiva, para que ações sejam propostas e tomadas, devendo
todos compreender que a participação da sociedade é essencial, para que os
efeitos das proposições e exigências, estas realizadas tanto em âmbito
administrativo quanto judicial, realmente sejam produzidos.
Neste sentido, expõe o doutrinador Soares que a "proteção ao meio
ambiente, a referência é à conduta livre do homem, e, portanto, ao mundo da
Ética e do Direito. "Proteger" significa, em outras palavras: determinar as
condutas que preservam o equilíbrio do meio ambiente, em detrimento de
outras, considerando ilícitas ou proibidas, e, portanto, acompanhadas de uma
sanção, caso sejam praticadas”. (Soares, 2001, p.20).
Para tanto, a vasta legislação existente abre à população várias
formas de ação, contudo não basta existir o canal de acesso é preciso que o
povo use os instrumentos de participação disponíveis, a fim de que possa de
forma eficaz, cumprir o seu dever de fiscalização ambiental.
Entretanto, os fatores que pesam nesta realidade são a falta de
informação e a participação ainda insuficiente nas diversas entidades ou
mesmo na forma individual, bem como o desconhecimento jurídico que tem
dado causa a realidades alarmantes, não só por particulares, mas também pelo
poder público.
Destarte, de nada adianta sermos um País exemplar no que
concerne à existência de Normas de Proteção a Saúde e Segurança do
Trabalhador, se na prática, não são tomadas medidas efetivas no sentido de
24
prevenir acidentes e proporcionar um meio ambiente seguro, saudável e digno
para o trabalhador, que tem o direito de poder trabalhar sem sofrer prejuízo
algum para sua saúde, nem diminuição da capacidade de trabalho ou
expectativa de vida.
2.2 – O PAPEL DOS SINDICATOS NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE
No âmbito trabalhista cabe aos Sindicatos a defesa dos direitos e
interesses coletivos e individuais da categoria, nos termos do que disposto no
inciso III, artigo 8º, da CRBB/88.
Infelizmente, verifica-se que os dirigentes sindicais, os quais
deveriam defender os interesses da categoria, em regra, não se
conscientizaram da importância de lutar por um meio ambiente seguro e
saudável para os trabalhadores, tornando incipiente as negociações coletivas
neste sentido.
A respeito do tema afirma do Ilustre Doutrinador Arnaldo Sussekind,
conforme se depreende, in verbis: (SUSSEKIND, 1999, 150)
A negociação coletiva, em quase todos os países, vem sendo prejudicada pelo enfraquecimento dos sindicatos, resultante da crise gerada pela globalização da economia com o endeusamento das leis do mercado, que ampliou consideravelmente o desemprego e reduziu significativamente (salvo algumas exceções: países escandinavos e Espanha) o número de trabalhadores filiados aos correspondentes sindicatos.
Destarte, tem sido precários os acordos coletivos tratando sobre o
meio ambiente do trabalho, o que demonstra a tímida atuação dos Sindicatos,
sendo certo que, lamentavelmente, a atuação tem se limitado, em juízo, na
busca de pagamento dos adicionais de insalubridade e periculosidade, que
representam a mercantilização da saúde dos trabalhadores por preço vil.
25
Faz-se imperioso, que os sindicatos mantenham um trabalho de
defesa e proteção dos trabalhadores lutando pela manutenção de um ambiente
de trabalho saudável para os trabalhadores, todavia, o que oferecem de fato é
uma liberdade altamente condicionada à fraqueza natural do trabalhador cuja
dependência o sujeita ao isolamento e a ter uma aceitação conformista.
A cidadania participativa e ativa tem um papel fundamental na
mobilização e na tomada da consciência das pessoas assim como no
acompanhamento das implicações do sistema sócio-econômico e social, a que
urge dar mais destaque e importância, com a criação de estratégias para a
defesa do meio ambiente de trabalho, através da iniciativa de luta e defesa dos
valores contidos e desenvolvidos dentro dos próprios movimentos, sobretudo,
naqueles que nos dizem mais respeito à saúde do trabalhador.
O destino do País paira como um grande desafio para todos,
passando pela sua sustentabilidade de hoje e de amanhã, portanto, aos
sindicatos cabe a proteção dos grupos, classes ou categorias de trabalhadores,
possuindo legitimação em defesa dos direitos e interesses coletivos, tendo, os
sindicatos, papel primordial na prevenção, redução ou eliminação dos riscos no
ambiente de trabalho, uma vez que o direito à saúde e segurança é garantia de
todos os que prestam atividade remunerada subordinada, quer diante de
conflitos individuais ou coletivos.
As vantagens resultantes das negociações coletivas caracterizam-se
pela possibilidade de resolver as questões de saúde do trabalhador, levando
em consideração as peculiaridades de cada categoria profissional, além de
possuir um processo normativo que facilita sua incorporação aos direitos
laborais.
O ordenamento jurídico brasileiro concede às entidades sindicais
campo amplo de atuação no combate aos riscos no meio ambiente do trabalho,
visto que aos sindicatos cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos da
categoria, conforme preceitua o artigo 8º, inciso III, da CRFB/88.
26
Sendo assim, aos sindicatos, incumbe papel essencial na defesa do
direito à saúde e segurança no ambiente do trabalho, atuando na aplicação,
fiscalização e promoção das normas de proteção, sendo certo que qualquer
ameaça para a vida do trabalhador ou para suas condições de labor deve ser
objeto de preocupação dos sindicatos, portanto, sua competência é ampla na
defesa da vida e da saúde do trabalhador, cabendo-lhe prevenir, denunciar,
representar em juízo, fiscalizar e fazer cumprir os dispositivos legais.
Destarte, os sindicatos têm condição de intervir decididamente em
defesa da humanização do trabalho, resgatando a finalidade do trabalho como
espaço da construção do bem-estar, construção da identidade e da
subjetividade daquele que trabalha.
2.3 – O PAPELO DO PODER PÚBLICO NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE
De acordo com o artigo 225, caput da CRFB/88 incumbe ao Poder
Público a defesa do meio ambiente, no caso a saúde do trabalhador, o que se
estende a todos os poderes, Legislativo, Executivo, Judiciário e Ministério
Público.
No que diz respeito ao Poder Legislativo, em que pese o arcabouço
jurídico existente, as condições de trabalho no País não são adequadas, em
alguns casos até degradantes, sendo certo que inexiste norma incriminadora
para o Empregador que descumpre as normas de segurança e saúde no
ambiente de trabalho, o que certamente contribui para a o total descaso
existente.
Com a incidência de uma norma nesse sentido, o Empregador
passará a ser punido pelo simples descumprimento das normas sobre saúde e
segurança no ambiente do trabalho, enquanto que pelas normas existentes a
pinicão só existe depois da ocorrência, regra geral, do acidente de trabalho.
27
Por outro lado, cabe ao Poder Executivo orientar e fiscalizar sobre
condições de trabalho e reprimir as empresas, no entanto, ante a falta de
estrutura adequada, não tem obtido o êxito desejado.
Com relação ao Ministério do Trabalho, também não tem tido uma
ação exitosa com suas normas de proteção a saúde e segurança no ambiente
do trabalho, isso porque o Delegado Regional do Trabalho não tem autonomia
suficiente para atuar livremente, sendo influenciado, regra geral, por interesses
políticos.
Não menos importante, tem-se a atuação do Poder Judiciário, o qual
somente age quando provocado, sendo que com o advento da Constituição
Federal priorizando as questões ambientais, passaram as ser ajuizadas ações
no sentido de impor aos Empregadores o cumprimento das obrigações
atinentes às normas de segurança e saúde no ambiente de trabalho.
Com efeito, a efetiva contribuição do Judiciário na tutela da saúde do
trabalhador ainda depende do impulso dos legitimados legais, bem como do
abandono pelos Juízes dos antigos dogmas para aceitar a aplicação dos atuais
instrumentos processuais coletivos, voltados para o rápido acesso à prestação
jurisdicional.
Cumpre enfatizar que Educação Ambiental garantida pela
Constituição de incumbência Poder Público sozinha não é suficiente para
resolver os problemas ambientais, mas é condição indispensável para tanto,
tendo como grande desafio contribuir para a formação de cidadãos conscientes
do seu papel na preservação do meio ambiente e aptos para tomar decisões
sobre questões ambientais necessárias para o desenvolvimento de uma
sociedade sustentável.
Destarte, o papel do poder público é fundamental para que tais
demandas se concretizem, razão pela qual não basta ter as melhores garantias
legais sobre o meio ambiente do trabalho e a saúde dos trabalhadores, sendo
indispensável que essas sejam concretizadas por meio de conscientização e
educação preventiva e dos instrumentos legais postos à disposição dos
28
legitimados coletivos, para que o trabalho seja meio de ganhar a vida e não de
perdê-la.
29
CAPÍTULO III
A EFETIVIDADE NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO
TRABALHO
Na luta pela proteção do meio ambiente do trabalho há uma série de
obstáculos, de origem bastante diversificada, existindo desde uma falta de
tradição da sociedade em lutar pela proteção de uma ambiente de trabalho
seguro e saudável, até uma notória articulação deficiente dos órgãos públicos
envolvidos nesta temática.
Além disso, tem-se ainda a postura intransigente de muitas
empresas e de muitos trabalhadores, que embora os maiores interessados na
promoção de condições adequadas de trabalho, ignoram o exercício de
manutenção de um meio ambiente seguro e saudável.
Em uma ordem constitucional que tem como fundamentos a
Dignidade da Pessoa Humana e o Valor Social do Trabalho, e que se destina
ao bem estar de todos, afirmando a inviolabilidade do direito à vida, depende,
naturalmente, de um meio ambiente de trabalho compatível com a condição
humana.
Muitas das vezes, não é a postura dos agentes sociais envolvidos
que impede a plena e eficaz atuação na defesa do meio ambiente de trabalho
seguro e saudável, mas sim as dúvidas produzidas pelo próprio Sistema Legal
existente acerca do assunto, havendo várias indefinições, como por exemplo,
com relação a competência dos órgãos do Poder Judiciário, espécie de ação
utilizada pelos interessados, dentre outras, impondo uma demora à prestação
jurisdicional, o que revela-se incompatível com a idéia de efetiva realização
dos postulados imaginados pelo legislador constituinte originário.
30
Assim, tendo o constituinte de 1988 inserido princípios relativos ao
meio ambiente na Constituição, abriu-se o caminho legal para viabilizar a tutela
do meio ambiente e da própria espécie humana em face de um mundo melhor,
sem dúvida o maior legado que podemos deixar às futuras gerações, por que
preservar é também uma atitude de amor e de respeito.
Além disso, toda a vida no planeta, aí inclui-se a espécie humana
tem assegurado o direito que têm como fim maior a qualidade sadia de vida, a
partir de um ambiente de trabalho seguro e saudável, daí decorrendo a
essencialidade do meio equilibrado à sadia qualidade de vida, colocando o
legislador constituinte tais bens numa conexão direta e correlatamente
indispensável, gerando uma prejudicialidade recíproca e imprópria, por certo.
A norma ambiental será tanto mais eficaz quanto mais diretamente
abrigar aspectos da realidade política, social e econômica da população,
portanto, a eficácia do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
encontra-se relacionada a aplicação do princípio da predominância do
interesse público determinante para fixar as competências para se legislar
sobre matéria ambiental.
Com efeito, para assegurar o exercício do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, como direito fundamental e essencial a sadia
qualidade de vida, ou, em outras palavras, digno à vida, deverá o poder público
compor interesses diversos, sob pena de tornar suas normas ineficazes.
3.1 – JURISDIÇÃO CONFERIDA A JUSTIÇA DO TRABALHO EM PROL DE
UM MEIO AMBIENTE SEGURO E SADIO
O primeiro passo a ser dado na definição da competência em ações
que envolvam a defesa do meio ambiente de trabalho destina-se a apurar o
exato alcance da delimitação da jurisdição conferida à Justiça do Trabalho, na
medida em que da competência conferida à Justiça Federal excetuam-se as
31
causas de competência daquele ramo especializado do Poder Judiciário,
sendo, portanto, residual a Justiça Federal.
Neste contexto fático, importa consignar que, no Brasil, a primeira
previsão de uma Justiça do Trabalho surgiu na Constituição Federal de 1934 e,
seguindo o mesmo caminho, por conseguinte a Constituição de 1937 também
trouxe tal previsão, porém, necessário observar que essa Justiça não possuía
a autonomia necessária, o que apenas veio a acontecer a partir da Lei
1.237/39.
Entretanto, ainda continuava sem ter o caráter de órgão do Poder
Judiciário o que só lhe foi garantido na Carta de 1946, quando seu artigo 94,
inciso V, assim passou a definir; entendimento este que já vinha sendo
consolidado através das decisões do Supremo Tribunal Federal.
Com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004 a competência
da Justiça do Trabalho foi significativamente ampliada, passando a contemplar
todas as controvérsias oriundas e/ou decorrentes da relação de trabalho, sendo
que anteriormente tal competência era limitada às ações entre trabalhadores e
empregadores, ou seja, decorrentes da relação de emprego disciplinada pela
CLT, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de
trabalho.
Contudo, o novo texto do artigo 114 da Carta Magna, visando ampliar
expressivamente a competência da Justiça do Trabalho, fez uso, apenas, da
expressão relação de trabalho, cujo significado, bem mais amplo do que o de
relação de emprego, já era pacífico tanto na doutrina quanto na jurisprudência
trabalhista.
A relação de trabalho, segundo Maurício Godinho Delgado, engloba:
(Delgado, 2008, 285/286).
Todas as relações jurídicas caracterizadas por terem sua prestação essencial centrada em uma obrigação de fazer consubstanciada em labor humano. Refere-se, pois, a toda modalidade de contratação de trabalho humano modernamente admissível. A expressão relação de trabalho
32
englobaria, desse modo, a relação de emprego, a relação de trabalho autônomo, a relação de trabalho eventual, de trabalho avulso e outras modalidades de pactuação de prestação de labor. Traduz, portanto, o gênero a que se acomodam todas as formas de pactuação de prestação de trabalho existentes o mundo jurídico atual.
Portanto, a Justiça do Trabalho atualmente é competente para
processar e julgar as ações cujas causas de pedir e pedidos envolvam relação
de trabalho, qualquer que seja ela. Aqui, reitera-se, relação de trabalho sendo
gênero do qual relação de emprego é espécie.
A competência, então, não é mais restrita ou limitada às relações
disciplinadas pela CLT, mas para toda e qualquer relação que tenha como
objeto o trabalho humano.
Especificamente no que diz respeito ao meio ambiente de trabalho, o
Supremo Tribunal Federal já tinha entendimento pacificado, antes mesmo da
promulgação da Emenda Constitucional n.º 45/2004, no sentido de que a
competência era da Justiça do Trabalho, consoante os termos da Súmula n.
736, aprovada pela Sessão Plenária de 26.11.2003, que dispõe:
Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores.
Com efeito, revela-se incontroverso que a Justiça do Trabalho detém
competência absoluta para processar e julgar as ações que tenham como
causa de pedir o meio ambiente de trabalho, independentemente na natureza
do vínculo mantido entre as partes envolvidas, seja celetista, estatutário, civil
ou outro, bastando, no particular, que a controvérsia tenha como objeto o meio
ambiente laboral, como objeto principal.
3.2 – RESPONSABILIDADE PELA ADOÇÃO DAS MEDIDAS NECESSÁRIAS
À PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO
33
O conceito de Meio Ambiente do Trabalho não se restringe ao local
de trabalho estritamente, alcançando também as condições laborais e de vida
fora dele, assim, as consequências de um acidente típico ou doença laboral,
por exemplo, não se restringem à vida do homem enquanto trabalhador,
apresentando consequências financeiras, sociais e humanas para a vítima, sua
família, a empresa e, finalmente, para toda a sociedade, que, em última
instância, é responsável pelas mazelas sociais em todos os seus graus e
aspectos.
O meio ambiente de trabalho, pela dimensão e importância que
apresenta, congrega direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, cuja
análise deve ser feita sob a perspectiva constitucional, assim, a
constitucionalização dos direitos trabalhistas é a resposta que vem sendo
apresentada pelo sistema normativo à nova questão social surgida na
contemporaneidade, apontando para a edificação de um novo padrão
axiológico, que a doutrina vem sedimentando na aplicação dos direitos
fundamentais também às relações entre particulares, superando o antigo
modelo que os restringia às relações do cidadão com o Estado.
Assim, considerando o atual momento de fragilidade das instituições,
o sistemático descumprimento da lei causado pelo descrédito em sua atuação
coercitiva tem acirrado as disputas de poder nas relações privadas, entre as
quais as trabalhistas, cabendo ressaltar, que quando se trata de meio ambiente
de trabalho, essa relação entre particulares se reveste de especial importância,
gerando efeitos ainda mais amplos, em decorrência das consequências que
pode provocar em seu entorno social.
Destarte, fazendo específica referência ao meio ambiente de
trabalho, o direito contemporâneo não pode esgotar sua capacidade de
atuação apenas na apresentação de resposta às situações de ameaça
concreta ou na função reparatória da lesão já ocorrida, faz-se necessário,
portanto, a intensificação da função promocional do Direito e o estímulo à
atuação preventiva mais abrangente se tornam cada vez mais importantes,
assegurar um meio ambiente de trabalho seguro e saudável evitando lesões
incapacitantes ainda na idade produtiva, diminuindo os custos da previdência
34
social com afastamentos por doenças e aposentadorias precoces, evitando
patente dano à sociedade, pois um trabalhador acidentado ou doente leva para
a exclusão social toda sua família.
Nesta linha de raciocínio, o Decreto n. 7.602, de 7 de novembro de
2011, dispõe sobre Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho
(PNSST), priorizando as ações de promoção, proteção e prevenção sobre as
de assistência, reabilitação e reparação, apontando para a necessidade de
eliminação ou redução dos riscos nos ambientes de trabalho, estabelecendo a
inserção de tais disposições num Plano Nacional de Segurança e Saúde no
Trabalho, estruturado sobre as seguintes diretrizes:
a) inclusão de todos trabalhadores brasileiros no sistema nacional de promoção e proteção da saúde;
b) harmonização da legislação e a articulação das ações de promoção, proteção, prevenção, assistência, reabilitação e reparação da saúde do trabalhador;
c) adoção de medidas especiais para atividades laborais de alto risco;
d) estruturação de rede integrada de informações em saúde do trabalhador;
e) promoção da implantação de sistemas e programas de gestão da segurança e saúde nos locais de trabalho;
f) reestruturação da formação em saúde do trabalhador e em segurança no trabalho e o estímulo à capacitação e à educação continuada de trabalhadores; e
g) promoção de agenda integrada de estudos e pesquisas em segurança e saúde no trabalho.
Ademais, o referido Decreto trouxe a imputação de Responsabilidade
Subjetiva do Empregador quando incorrer em dolo ou culta, a teor do que
disposto no inciso XXVIII do artigo 7º da CF/88 c/c o artigo 927 do Código Civil,
bem como a Responsabilidade Objetiva do Empregador quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem, no caso do trabalhador.
35
Outrossim, segundo dados apresentados pelo Tribunal Superior do
Trabalho (TST), há mais de 700 mil acidentes de trabalho por ano no Brasil e a
média de sete mortes por dia, sendo que a Previdência Social gasta R$ 10,4
bilhões por ano com acidentes de trabalho. (www.tst.jus.br)
Diante desse contexto trágico, a Corregedoria geral da Justiça do
Trabalho emitiu a Recomendação 21/2011, a qual estabelece que
Desembargadores e Juízes do Trabalho encaminhem à Procuradoria da
Fazenda Nacional cópias de sentenças/acórdãos que reconheçam a conduta
culposa do empregador em acidente de trabalho, possibilitando, assim o
ajuizamento de ações regressivas.
Neste sentido, cabe enfatizar a louvável e recente iniciativa do
Tribunal Superior do Trabalho e do Conselho Superior da Justiça do
Trabalho, em parceria com diversas instituições públicas e privadas,
instituindo o Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho,
visando à formulação e execução de projetos e ações nacionais voltados à
prevenção de acidentes de trabalho e ao fortalecimento da Política Nacional
de Segurança e Saúde no Trabalho, o que certamente revela-se como uma
Ação afirmativa memorável na efetiva diminuição do número de acidentes
de trabalho registrados no Brasil nos últimos anos.
Com a implantação do novo programa, toda a Sociedade, sejam
as Instituições Públicas Federais, Estaduais e Municipais juntamente com os
atores da Sociedade Civil, tais como Empregados, Empregadores,
Sindicatos, dentre outras estarão em conjunto promovendo a
conscientização do desenvolvimento de uma cultura de prevenção de
acidentes de trabalho, pois somente através da união de esforços será
possível salvaguardar a higidez no ambiente de trabalho e combater tal
mazela da Sociedade.
Com efeito, revela-se imperiosa a necessidade de conscientização
de todos, trabalhadores e empregadores, no cumprimento das normas de
saúde e segurança no trabalho, para que com planejamento, continuidade,
36
acompanhamento, metas e organização, se consolide uma mudança
comportamental no processo produtivo, com ações educativas, inclusive
públicas nos diversos setores produtivos, visando uma Sociedade
equilibrada e sustentável, reafirmando os fundamentos constitucionais
pétreos de cidadania, da dignidade da pessoa humana e dos valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa.
3.3 – FORMAS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTE NO MEIO AMBIENTE DE
TRABALHO
As ações e medidas destinadas a evitar acidentes de trabalho
dependem diretamente do tipo de atividade exercida, do ambiente de trabalho
e das tecnologias e técnicas utilizadas.
Os riscos ambientais denominados acidentais são muito
diversificados e estão presentes no arranjo físico inadequado, pisos pouco
resistentes ou irregulares, material ou matéria-prima fora de especificação,
máquina e equipamentos sem proteção, ferramentas impróprias ou
defeituosas, iluminação excessiva ou insuficiente, instalações elétricas
defeituosas, probabilidade de incêndio ou explosão, armazenamento
inadequado, animais peçonhentos e outras situações de risco que poderão
contribuir para a ocorrência de acidentes.
Com o escopo de prevenir os acidentes e as doenças decorrentes do
trabalho, a ciência e as tecnologias colocam à nossa disposição uma série de
medidas e equipamentos de proteção coletiva e individual, visando proteger os
trabalhadores e ao mesmo tempo proporcionar à otimização dos ambientes de
trabalho, destacando-se por serem mais rentáveis e duráveis para a empresa.
Destarte, as formas de prevenção de acidente no meio ambiente de
trabalho são inúmeras, tais como, a utilização do equipamento de proteção
individual (IPI); a limpeza e organização dos locais de trabalho; o isolamento ou
afastamento de máquina muito ruidosa; proteção nas escadas através de
37
corrimão, rodapé e pastilha antiderrapante; instalação de avisos, alarmes e
sensores nas máquinas, nos equipamentos e elevadores; instalação de pára-
raios; iluminação adequada.
Especificamente, quanto ao equipamento de proteção individual,
cumpre observar que cabe ao Empregador adquirir o tipo adequado à atividade
do empregado; fornecer gratuitamente ao empregado somente EPI aprovado
pelo Ministério do Trabalho e Emprego através do Certificado de Aprovação -
CA; orientar o trabalhador sobre o seu uso; tornar obrigatório o uso; substituí-
lo, imediatamente, quando danificado ou extraviado; e responsabilizar-se pela
sua higienização e manutenção periódica.
Por outro lado, cabe ao Empregado, usá-lo apenas para a finalidade
a que se destina; responsabilizar-se por sua guarda e conservação; e
comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso.
Portanto, numa percepção ergonômica, todo e qualquer trabalho
possui dois componentes: o físico e o mental, que necessitam de equilíbrio
para proporcionar bem-estar e saúde aos trabalhadores, isso porque as
pessoas possuem estaturas e constituição física diferentes, razão pela qual a
capacidade de suportar sobrecarga física e mental também varia de indivíduo
para indivíduo.
Estas características tão distintas devem ser levadas em
consideração no planejamento das tarefas e das condições de trabalho, uma
vez que uma máquina, um equipamento, painel, plataforma, cadeira, mesa ou
ferramenta de trabalho com desenho inadequado e sem permitir ajustes de
adequação para o usuário, certamente, podem provocar dores lombares,
lesões nos músculos, tendões e articulações.
4433 Por outro lado, a forma como o trabalho é organizado e as relações
de trabalho têm significativos papéis na determinação da saúde mental dos
trabalhadores.
38
Importa ainda registrar que na seara trabalhista já há um arcabouço
infraconstitucional para prevenção e proteção do meio ambiente de trabalho,
entretanto, o inciso I, do artigo 157 da CLT, imputa às empresas a obrigação de
“cumprir e fazer cumprir” as regras de segurança, enquanto o item II, do
mesmo artigo, a de “instruir os empregados, através de ordens de serviço,
quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou
doenças ocupacionais”, e o artigo 158 atribui aos empregados o encargo de
“observar as normas de segurança e medicina do trabalho.
Não menos importante, a instituição da Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes de Trabalho (Cipa) (NR 5), do Serviço Especializado
em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) (NR 4), do
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) (NR 9) e do Programa
de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO) (NR 7) foram iniciativas
pioneiras que demonstraram a importância da conduta de prevenção e
precaução para evitar lesão à saúde do trabalhador, abrindo uma nova vereda
quanto a edificação do padrão normativo destinado a disciplinar o meio
ambiente de trabalho.
Assim, investir na melhoria das condições de trabalho, para que o
ambiente seja saudável e seguro, cria um circulo virtuoso em beneficio de
todos os envolvidos, trazendo vantagens para o empregador, que não perde o
tempo e dinheiro investidos no treinamento e pode contar com um empregado
sadio e bem treinado, bem como reduz o número de acidentes e doenças
profissionais, diminuindo os gastos previdenciários com auxílio-doença e
aposentadorias precoces, evitando ainda, o comprometimento da
empregabilidade futura do trabalhador, a desagregação familiar e os casos
recorrentes de alcoolismo e violência doméstica.
Por derradeiro, é preciso que o binômio dever ser/sanção, que previa
a adoção de medidas meramente reparatórias, adote uma nova perspectiva,
incorporando os princípios da precaução e prevenção, que vão atuar como
marcos de resistência, preservando o núcleo inalienável que garante ao
trabalhador a condição de sujeito, impedindo a precarização provocada pela
39
lógica que o reduz a objeto de descarte, assim atuando como norte de um novo
padrão normativo, a fim de preservar a funcionalidade do sistema jurídico e
manter a eficácia do Direito na contemporaneidade.
40
CONCLUSÃO
Ao longo do trabalho apresentado foram expostas algumas das
dificuldades legais e processuais enfrentadas hodiernamente na atuação da
defesa dos interesses e direitos relacionados ao meio ambiente de trabalho,
sem pretensão de exaurir o tema, o que seria impossível, ante a ampla
temática existente.
A realidade do meio ambiente de trabalho no Brasil, a postura
patronal e dos trabalhadores quanto a prevenção dos acidentes no ambiente
de trabalho, o papel da Sociedade, Sindicatos e Poder Público na defesa de
um ambiente de trabalho saudável, a jurisdição conferida à Justiça do Trabalho
e a adoção de medidas necessárias a proteção e formas de prevenção, foram
penas alguns dos temas abordados no presente trabalho.
Destarte, o estudo mostra que inobstante o fato de o Brasil possuir
um dos mais avançados arcabouços teórico-legislativo do mundo em matéria
de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores, tal fato não tem sido
suficiente para impedir o registro dos maiores índices de acidente de trabalho e
doentes ocupacionais no ranking internacional.
Expõe ainda o estudo, que a falta de uma política prevencionista
ambiental a cargo dos diversos setores públicos e privados, os quais ainda não
se conscientizaram da necessidade de criação de uma tutela eficaz do meio
ambiente do trabalho e saúde do trabalhador.
Com consequência, anualmente, milhares de trabalhadores são
mutilados e incapacitados para o exercício das atividades laborativas, além do
crescente e assustador números de mortes no ambiente de trabalho, o que só
faz crescer os gastos das empresas e da Previdência privada, afetando
negativamente a economia do País.
41
Não basta ser referência no que tange as garantias legais sobre o
meio ambiente de trabalho e a saúde dos trabalhadores, sendo indispensável
que as leis sejam concretizadas por meio de conscientização e educação
preventiva e dos instrumentos legais postos à disposição dos legitimados.
A proteção do meio ambiente de trabalho e o fenômeno
desenvolvimentista devem caminhar lado a lado fazendo parte de um objetivo
comum, a fim de que a Ordem Econômica esteja voltada à Justiça Social,
devendo o trabalhador ser visto como sujeito-fim e não como objeto-meio do
desenvolvimento.
Sobreleva notar, que o homem doente, infeliz e sem educação
adequada não tem condições de acompanhar os processos de produção cada
vez mais sofisticados, portanto, se a Sociedade como um todo não se ocupa de
criar uma dinâmica social abrangente, cabe a cada um dos setores inertes a
responsabilidade pelo abismo que se formou ente os direitos positivados e a
vida de cada trabalhador vitimado em seu âmbito de trabalho.
A dignidade da pessoa humana engloba necessariamente o respeito
e a proteção à integridade física e corporal do indivíduo e o seu valor consiste
na garantia de condições justas e adequadas de vida para o indivíduo e sua
família, valores esses que devem ser transportados e aplicados no meio
ambiente do trabalho.
Por fim, urge que se compreenda que o trabalho é meio de se
ganhar a vida, e não de perdê-la, e que o ser humano trabalhador é mais
valioso do que a mais sofisticada máquina existente ou processo produtivo.
42
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Atualizada até
a Ementa Constitucional nº LVI.
BRASIL. Decreto Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis
do Trabalho.
BRASIL. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas
Regulamentadoras – NR – do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis
do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho.
BRASIL. Decreto Lei nº 7.602, de 7 de novembro de 2011. Dispõe sobre a
Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho – PNSST.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 18ª tiragem. Rio de Janeiro: Campus,
1992, p.63.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral, 5ª Ed, São Paulo. Saraiva,
1999.
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo:
LTr, 2008.
OIT. http://www.oit.org.br/. Link: Consultas/Jurisprudência. Acesso em 11 de
Junho de 2012.
REALE. Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª Ed, Rio de Janeiro, Saraiva,
2002.
43
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trabalhador: Espaço não adequado ao trabalhador representa agressão à
sociedade. Disponível em: http://www.rumosustentavel.com.br/meio-ambiente-
dotrabalho - seguranca-e-saude-do-trabalhador-espaco-nao-adequado-ao-
trabalhadorrepresenta- agressao-a-sociedade/. Acesso em: 10 de Junho de
2012.
SOARES, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente -
Emergência, obrigações e responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001.
SUSSEKIND, Arnaldo, MARANHÃO, Délio e VIANNA, Segadas. Instituições de
Direito do Trabalho. 18ª Ed, Volume I, São Paulo: Ltr, 1999.
TST. http://www.tst.jus.br. Link: Consultas/Jurisprudência. Acesso em 11 de
Junho de 2012.
44
ÍNDICE
RESUMO........................................................................................................... 5
METODOLOGIA................................................................................................ 6
SUMÁRIO...........................................................................................................7
INTRODUÇÃO..................................................................................................10
CAPÍTULO I
A PROTEÇÃO LEGAL DO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO E DA SAÚDE
E SEGURANÇA DO TRABALHADOR .................................................... 13
1.1 – A REALIDADE DOS ACIDENTES DE TRABALHO NO BRASIL.........15
1.2 – A POSTURA PATRONAL QUANTO A PREVENÇÃO DO MEIO
AMBIENTE DE TRABALHO ......................................................................... 17
1.3 – A POSTURA DOS TRABALHADORES DIANTE DOS RISCOS
AMBIENTAIS...................................................................................................19
CAPÍTULO II
A TUTELA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NO CONTEXTO DA
GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA ................................................................... 22
2.1 – O PAPEL DA SOCIEDADE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE 24
2.2 -SINDICATOS............................................................................................26
2.3 – PODER PÚBLICO...................................................................................28
45
CAPÍTULO III
A EFETIVIDADE NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO
TRABALHO.....................................................................................................30
3.1 – JURISDIÇÃO CONFERIDA À JUSTIÇA DO TRABALHO EM PROL DE
UM MEIO AMBIENTE SEGURO E SADIO......................................................32
3.2 – RESPONSABILIDADE PELA ADOÇÃO DAS MEDIDAS
NECESSÁRIAS À PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO.......36
3.3 – FORMAS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTE NO MEIO AMBEINTE DE
TRABALHO......................................................................................................39
CONCLUSÃO................................................................................................. 41
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 43