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00 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PROJETO A VEZ DO MESTRE CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOMOTRICIDADE PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA Núbia Sales Cardoso Orientador Prof.ª Me. Fátima Alves Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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00

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

PROJETO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PSICOMOTRICIDADE

PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA

Núbia Sales Cardoso

Orientador

Prof.ª Me. Fátima Alves

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em. Psicomotricidade

Por: Núbia Sales Cardoso

Rio de Janeiro

2015

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02

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, porque foi ele

quem permitiu que eu chegasse até aqui.

À minha família que me deu toda a base e

sempre me apoiou a quem devo parte do

que tenho e do que sou, o amor e o

carinho recebido me fortaleceu para

minhas conquistas.

Aos meus mestres da minha graduação a

quem tenho muita admiração e respeito.

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03

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho monográfico a

todos os profissionais da educação

brasileira, àqueles que acreditam e

respeitam a Psicomotricidade como uma

ciência completa e em especial ao meu

querido professor Vasco Amaral que me

provou através de suas aulas o amor

pela psicomotricidade escolar.

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RESUMO

O presente trabalho evidencia a necessidade de entendimento dos professores

sobre a educação psicomotora e como essa ciência é fundamental no

desenvolvimento escolar de nossas crianças. Muitas vezes professores se deparam

em sala de aula com alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem e esses

problemas afetam o desempenho escolar dos mesmos, mas nem sempre isso está

ligado a fatores neurológicos, a falta de experiência motora também prejudica o

aprendizado. Pode-se afirmar que os jogos, as brincadeiras e o movimento são

ferramentas essenciais para a aprendizagem, pois propiciam um desenvolvimento

físico, intelectual e uma maior compreensão do esquema corporal, elementos

importantes para o desenvolvimento de uma aprendizagem realmente significativa

tornando possível a interação social com o mundo e com a cultura vigente.

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METODOLOGIA

O objeto de estudo – A Psicomotricidade na Escola - surgiu pelo meu

interesse em querer inserir mais a psicomotricidade no dia a dia escolar, informar

aos meus colegas de profissão sobre a importância dessa ciência e ajudar aos

alunos no seu processo de desenvolvimento escolar.

Esta obra foi produzida através de pesquisa bibliográfica, webgráfica e

também da observação do objeto de estudo (o aluno), sendo realizada durante cinco

(cinco) meses, tempo em que pude aprimorar meus conhecimentos na área através

da leitura de autores consagrados e experiências vividas nas escolas em que

trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................................................................08

CAPÍTULO I - A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ENSINO – APRENDIZAGEM..........................................................................................10

CAPÍTULO II - DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NAS SÉRIES INICIAIS.........................................................................................................18

CAPÍTULO III - A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE E DOS PROFISSIONAIS PSICOMOTRISTAS NA ESCOLA...................................22

CONCLUSÃO................................................................................................29

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................30

ÍNDICE...........................................................................................................32

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INTRODUÇÃO

“A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação básica para a escola primária. Ela condiciona todas as aprendizagens pré – escolares e escolares; essas não podem ser conduzidas a bom termo se a criança não tiver conseguido tomar consciência de seu corpo, lateralizar-se, situar-se no espaço, dominar o tempo; se não tiver adquirido habilidade suficiente e coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve constituir privilégio desde a mais tenra infância; conduzida com perseverança, permiti prevenir certas inadaptações sempre difíceis de melhorar quando já estruturadas(...)” ( LE BOULCH, p. 24)

O presente estudo tem como objetivo apresentar os benefícios da

psicomotricidade na escola, sendo esta um objeto colaborador indispensável na

aprendizagem dos alunos.

No cotidiano das salas de aula, professores buscam formas para tornar o

ensino mais estimulante e, consequentemente, mais eficaz. Uma das alternativas

encontradas pelos profissionais que lidam diretamente com a educação, em especial

as séries iniciais é a contribuição da Psicomotricidade, ciência que integra corpo e

mente de maneira global.Nas escolas, as dificuldades na aprendizagem estão

intimamente ligadas ao desenvolvimento motor, devido a isso, a educação

psicomotora é tão recomendada pelos educadores da atualidade.

Os professores podem se questionar a respeito dessas aprendizagens que

normalmente são vistas como de responsabilidade das aulas de Educação Física,

quando na verdade devem ser trabalhadas também do ponto de vista da sala de

aula por meio de jogos, brincadeiras, jogos dramáticos, ou seja, o movimento

precisa ganhar o seu espaço também dentro da sala de aula, sobretudo nas séries

iniciais, pois é na instituição escolar onde as crianças passam uma boa parte do seu

tempo.

Acreditamos que a quantidade de alunos com dificuldades de aprendizagem

encaminhadas ao serviço de orientação educacional, sala de recursos outros

profissionais ou clínicas especializadas seria bem menor se os professores

conhecessem a importância da realização de atividades psicomotoras como

instrumentos capazes de sanar muitas dessas dificuldades.

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A Psicomotricidade está presente no simples ato de brincar e quando a

criança brinca, ela aprende, se desenvolve, cresce, se socializa, aprende a respeitar

os limites, assimila e incorpora dados da sua própria cultura.Brincar é coisa séria,

por isso é importante o aprofundamento do papel de todos os elementos que

compõem o brincar, de forma clara e consciente.

Sendo o corpo, o principal canal de conhecimento e de leitura do mundo, o

desenvolvimento psicomotor é o ponto de referência para que o professor saiba

avaliar qualquer atraso na motricidade, que poderá comprometer todo o

desempenho escolar da criança.

Cabe salientar que uma atividade bem planejada e intencionada almeja não

só o envolvimento do cérebro, mas dos músculos que se influenciam juntamente

com a mente. Torna-se essencial o redirecionamento da prática educativa voltada

para esse olhar de vincular o trabalho escolar ao movimento, envolvendo raciocínio

e ações cognitivas, afetivas, sociais e motoras.

Este estudo é dirigido a alunos da pré-escola e séries iniciais do 1º segmento

de Escolas públicas do estado do Rio de Janeiro. O mesmo se caracteriza como

uma pesquisa bibliográfica, a partir das contribuições de alguns autores como

Piaget, Le Boulch, Vítor da Fonseca, Fátima Alves, Carlos Alberto Matos Ferreira,

entre outros que abordam brilhantemente o assunto.

O trabalho foi estruturado em três capítulos: No capítulo I discorremos sobre

“A Psicomotricidade e o processo de ensino – aprendizagem”. No capítulo II

abordamos o “Desenvolvimento da criança nas séries iniciais”. No capítulo III

tratamos da “Importância da Psicomotricidade e dos profissionais psicomotristas na

escola”.

Com esses três capítulos, buscamos enfatizar as contribuições positivas da

Psicomotricidade para o desenvolvimento da aprendizagem.

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CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ENSINO – APRENDIZAGEM

Antes da aquisição da fala, a criança se utiliza de gestos, movimentos e

expressões corporais para se comunicar, bem como se relacionar e explorar o meio

no qual ela vive .

“O movimento ,assim como o exercício, é de fundamental importância no

desenvolvimento físico, intelectual e emocional da criança”.( Fátima Alves, 2012).

O presente estudo pretende fazer um breve levantamento histórico da

psicomotricidade e sua real importância no processo de ensino aprendizagem

1.1 Psicomotricidade: Histórico e fundamentos psicomotores

A Psicomotricidade é uma ciência originária da França, os primeiros estudos

iniciaram no final do século XIX. O termo foi estudado inicialmente pelos médicos

neurologistas que despertaram o desejo de explicar determinados fenômenos

clínicos ganhando força a partir da exploração da neurofisiologia.

A partir desses estudos concluiu-se que a Psicomotricidade averigua as

associações e influências entre a motricidade e o psiquismo. A respeito da ligação

entre a motricidade e o psiquismo, Damasceno (1997, p.14) ressalva que “no sentido

estrito, não há motricidade pura de todo elemento corporal objetivo e, por outro lado,

não há pensamento sem corpo, sem atitudes e sem movimentos, pois todo

movimento, no nível de execução, implica em uma certa vivência mental”,

enfatizando desta forma a origem do termo que é dividido em duas palavras: de

origem grega a palavra “Psique” significa fenômenos da mente (sensações,

percepção, etc.) a outra palavra de origem latina “Moto” ou “Motriz” tem por

definição, força que dá movimento.

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“O psiquismo [...] é entendido como sendo constituído pelo conjunto do funcionamento mental, ou seja, integra as sensações, as percepções, as imagens, as emoções, os afectos, os fantasmas, os medos, as projecções, as aspirações, as representações, as simbolizações, as conceptualizações, as ideias, as construções mentais, etc., assim como a complexidade dos processos relacionais e sociais.” (FONSECA, 2008) “A motricidade [...] é entendida como o conjunto de expressões mentais e corporais, envolvendo funções tônicas, posturais, somatognósicas e práxicas que suportam e sustentam as funções psíquicas. Com base neste pressuposto, a motricidade não pode ser compreendida apenas nos seus efeitos extrassomáticos, [...] uma vez que ela depende de motivações, significações internas e fins que a justificam, não sendo possível portanto, separá-la dos processos psicológicos que a integram, representam [...]” (FONSECA, 2008)

Como vimos anteriormente, a Psicomotricidade teve início e está incorporada

à medicina, porém após estudos realizados, tornou-se impossível associar o

movimento apenas a “um prisma puramente anatômico e mecanicista” Mello (2005),

o autor ressalta ainda a importância da medicina no “[...] diagnóstico de inúmeras

perturbações das funções nervosas, os mecanismos dos sistemas piramidal,

extrapiramidal e cerebelar [...]”, porém segundo Mello apenas esses não completam

todos os questionamentos a cerca da “execução de movimentos” e dos “distúrbios

psicomotores.”

Desta forma, podemos entender que a Psicomotricidade estuda as relações e

as influências entre psiquismo e motricidade. Todas as sensações, os afetos, as

emoções, as representações e os simbolismos estão dentro deste psiquismo. Assim,

também como os processos relacionais e sociais. A Associação Brasileira de

Psicomotricidade acrescenta que “a psicomotricidade pode também ser definida

como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências

recíprocas e sistêmicas entre o psiquismo e a motricidade.”

Analisando o conceito de Psicomotricidade percebemos que Instituto

Superior de Psicomotricidade e Educação descreve a Psicomotricidade como “[...]

uma neurociência que expressa o pensamento através do ato motor harmônico. É a

sintonia fina que coordena e organiza as ações gerenciadas pelo cérebro e as

manifesta em conhecimento e aprendizado”.

Para (Loureiro apud ISPE-GAE) “A Psicomotricidade é a otimização corporal

dos potenciais neuro, psico-cognitivo funcionais, sujeitos as leis de desenvolvimento

e maturação, manifestados pela dimensão simbólica corporal própria, original e

especial do ser humano”

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Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade

“Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto”.

Outros autores que marcaram a história da Psicomotricidade com suas

contribuições foram Piaget, Wallon, Freud entre outros.

A motricidade, de acordo com a obra de Piaget, é primordial para a

construção da idade mental, ou seja, na questão da representação, uma vez que

“ Para a formação dessa representação é preciso que tenha acontecido a experiência vivida com o objeto, a ação direta com ele, ou seja, o movimento que se pratica transformando esse objeto por meio de processos sensório-motores. É um período que Piaget denomina como “inteligência prática”, no qual a criança passa a imitar e representar as situações as quais vivencia e que são interiorizadas como imagens mentais.” (PULASKI, 1986).

Para Wallon que estudou a afetividade geneticamente, os acontecimentos à

nossa volta estimulam tanto os movimentos do corpo quanto a afetividade mental,

interferindo no desenvolvimento. E mais: a integração é fundamental na formação do

educando, e é conforme descrito por MAHONEY, 2008 apud PIMENTEL,2012

“O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das conseqüências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas essas ressonâncias têm um impacto no quarto conjunto: a pessoa, que, ao mesmo tempo em que garante essa integração, é resultado dela.”

Responsável por redefinir o conceito de debilidade motora e por determinar

de forma inteligível os transtornos psicomotores, Julian de Ajuriaguerra é dos

estudiosos mais importantes nos estudos de psicomotricidade, pois o estudioso

define a psicomotricidade como “ciência da saúde e da educação, pois indiferente

das diversas escolas, psicológicas, condutistas, evolutistas, genéticas, etc. Ela visa

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a representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e mental do

indivíduo”. (Ajuriaguerra apud ISPE-GAE)

Através dessas definições podemos entender a psicomotricidade uma ciência

relativamente nova que vem evoluindo ao passo que seus estudiosos vão

explorando a área. Ela engloba outras áreas, não só a médica. E cabe lembrar que

sua evolução foi gradativa.

A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade ao descrever em seu site a

história da Psicomotricidade, destaca a importância de Dupré, médico, que foi o

primeiro a explorar a debilidade motora. O neuropsiquiatra de importância inigualável

no campo psicomotor realizou estudos sobre a debilidade mental e seu

entrelaçamento com os movimentos, Dupré é o responsável por afirmar que “a

independência da debilidade motora (antecedente do sintoma psicomotor) de um

possível correlato neurológico.” Destaca também a importância de Edouard Guilmain

que em 1935 desenvolveu o exame psicomotor que realizava diagnóstico de

“indicação da terapêutica e de prognóstico”

Conduzido pela escola francesa, que no período do século XX, mais

precisamente nas décadas iniciais, também influenciaram a psiquiatria infantil e

outras ciências ligadas ao desenvolvimento e conhecimento do ser humano, a

Psicomotricidade no Brasil foi tomando sua forma. A partir da década de 50

(cinquenta) a Psicomotricidade passou a ser estudada de forma profunda,

permitindo que seus fundamentos causassem intervenções em diversas áreas,

principalmente na educação e na saúde. Sua influência surgiu inicialmente nas

escolas especiais, como um instrumento pedagógico, corrigindo os distúrbios

psicomotores de crianças com deficiências.

No ano de 1979 houve a primeira edição do Encontro Nacional de

Psicomotricidade, encontro no qual foi possível discutir posicionamentos teóricos e

avanços nos estudos dos pesquisadores Brasileiros. Diversos profissionais

estrangeiros vieram para o Brasil com a finalidade de expandir a Psicomotricidade

no país. Nos anos 80 iniciou-se a formação de profissionais no âmbito da

Psicomotricidade e desta forma essa ciência se tornou influente no Brasil, de

maneira que nos dias atuais diversas escolas oferecem cursos, especializações e a

área é amplamente difundida tanto no campo da educação quanto no da saúde.

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“Atualmente, no Brasil, diversas Universidades oferecem cursos de pós-graduação, e em 29 de maio de 1989, pelo Decreto Lei nº 97.782 foi autorizado no Rio de Janeiro o primeiro curso de graduação em Psicomotricidade. Existem também diversos núcleos de formação, habilitando e formando profissionais em práticas psicomotoras especificas”. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE)

Após analisarmos brevemente os avanços e as conquistas alcançadas pelos

estudiosos desta ciência, podemos observar os possíveis benefícios apresentados

em forma de teoria. Nos capítulos posteriores explicaremos como a

Psicomotricidade é aplicada na educação escolar e como sua aplicação pode

influenciar o desenvolvimento infantil.

1.2 Psicomotricidade e primeira infância

As crianças mesmo antes de nascerem se movimentam no útero. Já na

infância, crianças são sinônimos de movimento. Primeiros passos, andar, correr,

pular, agachar etc., são habilidades básicas aprendidas e adquiridas na infância.

São movimentos construídos de acordo com as necessidades, interesses e

possibilidades corporais humanas. Esses movimentos tornam-se parte dos

comportamentos, formando assim uma cultura corporal de movimento.

Na vida intra-uterina, o feto já se movimenta, mas na vida extra-uterina as

crianças começam a movimentar-se, adquirindo aos poucos maior controle sobre

seu próprio corpo, se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação

com o mundo (BARRETO, 2000).

O movimento permite a criança vivenciar o mundo e a si mesma. Descobrir-se

enquanto individuo no mundo, a partir de experiências concretas através do seu

corpo e de seus movimentos, que gerarão habilidades básicas essenciais para o

desenvolvimento intelectual.

Segundo Vayer (1984), a criança reconhece o mundo em que vive através de

seu corpo e para isso, é importante que ela tenha consciência e controle do mesmo,

visto que é através da coordenação de seus movimentos e da capacidade de

deslocamento que a criança se coloca para explorar o mundo e estabelecer os seus

conhecimentos.

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O enfoque agora não é apenas no corpo em movimento, mas num sujeito

com seu corpo em movimento. (...) O sujeito diz com seu corpo, com sua

motricidade e com seus gestos (...). (LEVIN, 1995, p.42)

Segundo MEUR (p. 21), “A psicomotricidade é a expressão de um

pensamento pelo ato motor preciso, econômico e harmonioso”. Assim, a

psicomotricidade estabelece o equilíbrio desse ser, oferecendo-lhe possibilidades

de encontrar seu espaço e de se identificar com o meio do qual faz parte.

1.3 Aprendizagem na infância

Movimentar-se é parte integral do ser humano. Já na infância tudo passa pela

descoberta do ser, do fazer, do conseguir. O período da primeira infância é o tempo

das descobertas sobre si e sobre o mundo, e grande parte dessas descobertas são

feitas a partir do próprio corpo, já que

“Todas as experiências da criança (o prazer e a dor, o sucesso ou fracasso) são sempre vividas corporalmente. Se acrescentarmos valores sociais que o meio dá ao corpo e a certas de suas partes, este corpo termina por ser investido de significações, de sentimentos e de valores muito particulares e absolutamente pessoais”. (VAYER, 1984, p.30)

Vayer ainda afirma que "(...)” A criança toma consciência, trava conhecimento

e adquire progressivamente o domínio dos elementos que constituem o mundo dos

objetos, graças a seus deslocamentos e à coordenação de seus movimentos, isto é,

graças a um uso cada vez mais diferenciado e cada vez mais preciso do próprio

corpo" (p. 21, 1984).

A brincadeira é parte vital e crucial de uma infância saudável e feliz. E além

do mais é um importante fator no desenvolvimento infantil, agregando na

constituição social, motora, afetiva e cognitiva da criança. É através da brincadeira

que a criança recria momentos, situações, aprende a solucionar situações-

problema, aumenta a capacidade imaginativa, adquire comportamentos voluntários,

desenvolve habilidades físicas essenciais, supre necessidades e apropria-se do

mundo que a cerca.

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016

Brincar é algo universal no mundo infantil, através dos tempos e das culturas,

nota-se que a criança sempre brincou, independente da época ou das estruturas

econômicas e de civilização.

O jogo é um exercício preparatório para a vida adulta, algo extremamente

prazeroso que desenvolve potencialidades essenciais para toda a vida. Ressalte-se

que traz inúmeros benefícios para as crianças como, por exemplo: trabalhar a

ansiedade, afirmação de limites, autoconfiança, autonomia, o estímulo à

coordenação motora, desenvolvimento da organização espacial, agilizando o

raciocínio lógico, verbal, numérico, visual e abstrato, aumenta e desenvolve a

concentração e a atenção, desenvolve também a antecipação e a estratégia, e é

claro, a consciência de equipe, entre outros.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil:

“No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando. Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca. “(1998, p.27)

A palavra “lúdico” vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão

incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e também a conduta daquele que

joga, que brinca e que se diverte. Por sua vez, a função educativa do jogo

oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua

compreensão de mundo.

Os jogos lúdicos oferecem condições do educando vivenciar situações-

problemas, a partir do desenvolvimento de jogos planejados e livres que permitam à

criança uma vivência no tocante às experiências com a lógica e o raciocínio e

permitindo atividades físicas e mentais que favorecem a sociabilidade e estimulando

as reações afetivas, cognitivas, sociais, morais, culturais e lingüísticas.

Negrine (1995, p. 43) ressalta que “Trabalhar no âmbito da psicomotricidade

significa pensar que mais importante que a criança “saber fazer” ou “saber fazer

bem” alguma coisa é a “tentativa de fazer”, e mais: é a oportunidade de vivenciar

diferentes experiências”.

A psicomotricidade infantil tem como meta motivar a capacidade sensitiva

através das sensações e relações entre o corpo e o exterior (o outro e as coisas);

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017

cultivar a capacidade perceptiva através do conhecimento dos movimentos e da

resposta corporal; organizar a capacidade dos movimentos representados ou

expressos através de sinais, símbolos, e da utilização de objetos reais e imaginários;

fazer com que as crianças possam descobrir e expressar suas capacidades, através

da ação criativa e da expressão da emoção; ampliar e valorizar a identidade própria

e a autoestima dentro da pluralidade social; criar segurança e expressar-se através

de diversas formas como um ser valioso, único e exclusivo e uma consciência e um

respeito à presença e ao espaço dos demais.

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CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NAS SÉRIES INICIAIS

As séries iniciais da educação fundamental compreendem do primeiro ao

quinto ano e têm como principal objetivo desenvolver na criança a percepção

adequada de si mesma, levando-a a compreender suas “possibilidades e limitações

reais”, para que adquira novas competências motoras. É justamente nessa fase que

a criança busca experiências em seu próprio corpo, formando conceitos e

organizando o esquema corporal.

“(...) a Educação Física e a educação psicomotora são instrumentos importantíssimos na construção do caráter educativo das crianças, pois percebemos que a criança que tem seus primeiros contatos com a aprendizagem de forma lúdica, provavelmente terá a chance de desenvolver-se de forma mais integrada dentro do processo educativo e estará fortalecida para lidar com os medos e frustrações inerentes ao processo do aprender.” (FELIX, 2005, apud LUSSAC, 2008)

Segundo Alves, (2003), é importante que a criança viva o concreto, possa

explorar o mundo exterior por meio das experiências. E o movimento, as atividades

físicas são auxílios valiosos para o desenvolvimento físico, intelectual e emocional

da criança.

A autora acrescenta ainda a importância do processo de desenvolvimento da

criança em relação a qualquer resultado que possa alcançar:

“A harmonia do desenvolvimento com todos os seus componentes é tão importante quanto à aquisição de tantas performances em uma determinada idade. O importante não é uma criança realizar uma corrida de obstáculos, o mais rápido possível, mas sim desenvolver seu corpo e sua mente de maneira equilibrada.” (ALVES, 2003, p.19)

Apesar de haver padrões de desenvolvimento, existe a individualidade de

cada ser, de forma que há diferença de uma criança para outra na capacidade de

executar determinadas atividades, pois cada uma tem estilo e ritmo de

desenvolvimento próprio. Sendo assim, a performance não deve ser comparada.

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019

Faz-se imprescindível a utilização de jogos psicomotores, que são atividades

capazes de desenvolver os aspectos intelectuais, afetivos e motores das crianças ,

visto que diversos estudos comprovam que “a criança, cujo desenvolvimento

psicomotor é mal constituído, poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na

direção gráfica, na distinção de letras (ex: b/d/p/q), na ordenação de sílabas, no

pensamento abstrato (matemática), na análise gramatical, noção espacial, temporal,

dentre outras”.

A educação pelo movimento colabora com o desenvolvimento de psicomotor

da criança, de maneira a auxiliar na evolução de sua personalidade e até mesmo na

construção do seu sucesso escolar.

2.1 A importância dos jogos psicomotores

Jogar, desde os primórdios da humanidade, é uma atividade natural. Os jogos

psicomotores integram aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais, pois

contribuem de forma prazerosa no desenvolvimento global da criança; a inteligência,

a afetividade, a motricidade e a sociabilidade.

É inegável que o jogo é uma atividade social, pois depende de regras

convivência e de regras imaginárias que são discutidas pelas crianças construindo-

se uma afetividade de imagem e interpretação. Através do jogo a criança reconhece

suas potencialidades e aprende a superar seus próprios limites. Por isso que deve

existir uma atitude de respeito a capacidade criadora da criança (SANTOS,2005

apud CORREIA, 2011).

Jogos de regras:

O início ocorre por volta dos cinco anos, mas podendo ser desenvolvido até

12 anos. Este tipo de jogo continua durante toda a vida do indivíduo.

Os jogos de regras são classificados em jogos de exercício sensório-motor

(exemplo futebol), e intelectual (exemplo xadrez). São caracterizados pela existência

de um conjunto de leis imposto pelo grupo, sendo que seu descumprimento é

normalmente penalizado, e uma forte competição entre os indivíduos.

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020

As atividades pressupõem a existência de parceiros e um conjunto de

obrigações (as regras), o que lhe confere um caráter eminentemente social. Torna-

se eficaz quando a criança abandona a fase egocêntrica, possibilitando desenvolver

os relacionamentos afetivo-sociais.

Existe , de acordo com Correia (2011) , uma relação direta entre brincadeiras

corporais e a psicomotricidade. Nestes aspectos,

“as brincadeiras são meio de aprimorar as funções neuropsicomotoras e fortalecer conexões neurais, pois brincar com o corpo necessita de um estado de atenção, requer controle corporal em situações de deslocamento no espaço, uma percepção de seu corpo , uma tonicidade muscular, uma organização espaço-temporal, um controle viso- manual. Além disso quando a criança brinca em conjunto, isso vem a ser uma experiência de socialização rica, pois em contato com o outro a criança aprende a tomar conta de seus impulsos e respeitar o espaço do outro” (TOMAZINHO, 2003).

O jogo e a brincadeira fazem parte do mundo da criança. E quando utilizamos

nas aulas de educação física, artes ou demais disciplinas como motivação, como

forma de explicar argumento, constituem um importante fator educacional,

favorecendo o desenvolvimento psicomotor da criança. “Nada melhor para esta

sentir a realidade do que lhe foi ou lhe será ensinado através daquilo que ela mais

gosta de fazer, brincar”. (NASSER, 2004 apud CORREIA, 2011),

A criança responde aos estímulos de várias formas e cabe ao professor, nas

primeiras séries, trabalhar a motricidade. Uma série de atividades bem elaboradas

além de desenvolverem nas crianças habilidades motoras, proporciona a aceitação,

a participação e a evolução da criança no cotidiano escolar. Abaixo algumas dessas

habilidades e sugestões de jogos psicomotores para desenvolvê-las

Coordenação motora ampla

É a disposição total do ritmo, as percepções e o desenvolvimento global da

criança. É o ato que vai apurar os movimentos dos membros inferiores e superiores,

podendo-se desenvolver algumas atividades, tais como: pintar o corpo com pincéis;

desenhar o corpo em tamanho natural; jogar bexigas para o algo sem que as deixem

cair no chão; brincadeiras de passar o anel; estátua, morto-vivo; esconde-esconde;

pular corda entre outras.

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Coordenação motora fina

As atividades de coordenação motora fina como, por exemplo: amassar,

rasgar, pinçar, modelar, auxiliam o movimento das mãos, dedos, pés,

desenvolvendo habilidades desses pequenos músculos.

Lateralidade

É a capacidade que a criança tem de se direcionar, ou seja, de olhar para

várias direções tendo uma ideia de espaço e coordenação. Para que se estimule a

lateralidade das crianças poderão ser desenvolvidas as seguintes atividades:

comandos para que utilize ambos os lados (direita e esquerda), caça ao tesouro,

brincadeiras com segmentos de seta, brincadeira de basquete entre outras.

Desenvolvimento de percepção musical

É o desenvolvimento voltado para a musicalização, em que se estimula o

aprimoramento da audição para o reconhecimento e a exercício da fala. Cabe ao

professor estimular os alunos com diferentes instrumentos musicais, exemplo:

violão, piano, flauta, gaita etc. Podendo também apresentar os sons do próprio corpo

e natureza.

Esquema Corporal

O desenvolvimento e a percepção que cada indivíduo faz de seu próprio

corpo, é diferente. Cada corpo possui características peculiares, embora as

sensações, as dores, os prazeres e as percepções possam acontecer com todos, a

maneira como cada um reage a estes estímulos varia de pessoa para pessoa. Isto

poderá depender de alguns aspectos sociais e emocionais. Desta maneira, torna-se

importante que se estimulem as crianças com atividades, nas quais elas terão a

oportunidade de fazer descobertas sobre o seu próprio corpo, levando em

consideração o tempo e a forma diferenciada de cada criança. Algumas brincadeiras

e atividades lúdicas que auxiliem no desenvolvimento da percepção corporal,

poderão ser realizadas, tais como: brincadeiras em frente ao espelho, modelagem

em gesso, mímicas, danças.

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022

CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE E DOS PROFISSIONAIS PSICOMOTRISTAS NA ESCOLA

Podemos identificar muitos problemas na educação escolar, no entanto, a

falta de atenção, falhas no desenvolvimento e na aprendizagem dos alunos são

alguns dos maiores problemas apontados atualmente pelos educadores. Tais fatos,

de maneira geral estão relacionados ao desenvolvimento psicomotor, atuando junto

com a motricidade, psiquismo e inteligência, bem como, pela relação professor e

aluno. (THIERS, 1998; OLIVEIRA, 2004 apud PIRES, 2011).

Constata-se que educação psicomotora é imprescindível nas aprendizagens

escolares, e portanto deve ser proposta desde a educação infantil e não pode ser

desprezada durante as séries iniciais, já que possibilita melhores possibilidades de

resolver atividades educativas, propostas como exercícios de análise, lógica,

relações, entre outras.

Os educadores necessitam estar aptos para desenvolver a psicomotricidade

dos alunos. Atualmente muitas escolas optam por contratar profissionais de

Educação Física especializados em Psicomotricidade.

O psicomotricista evidencia várias e diferentes competências, conforme

elencamos a seguir:

- Avaliação do perfil e do desenvolvimento psicomotor;

- Domínio de modelos e técnicas de habilitação e reabilitação psicomotora em

populações especiais ou de risco;

- Preescrição, planejamento, avaliação, implementação e reavaliação de

programas de Psicomotricidade;

- Formação, supervisão e orientação de outros técnicos.

De maneira geral, os primeiros indícios de possíveis atrasos ou dificuldade

psicomotora poderão ser percebidos na criança, desde cedo. O professor ou o

profissional psicomotricista no acompanhamento diário em sala de aula, poderá

observar esses aspectos na realização das atividades e ações que, de acordo com o

desenvolvimento psicomotor da criança, é esperado que realize ou não apresente

dificuldades na sua execução. Esses “sinais” poderão ser notados na criança, em

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023

determinadas situações e podem ser distúrbios capazes de comprometer o

desenvolvimento da criança com prejuízos por toda a vida.

Abaixo alguns sintomas de distúrbios psicomotores:

- Presença de atraso no seu desenvolvimento motor.

- Frequente queda ou ausência de equilíbrio satisfatório.

- Dificuldades em atividades dinâmicas como correr, pular ou saltar.

- É sempre “estabanada” e derruba objetos com freqüência.

- Dificuldade para recortar com a tesoura.

- Forma inadequada de segurar o lápis.

- Dificuldade para orientar-se no espaço físico e não compreensão de termos

relacionados ao espaço, tais como: a localização, a forma, a quantidade, ordem ou

seqüência de tamanho.

- Dificuldade para se adequar à noção de tempo, não identificando uma

seqüência de ações e não percebendo mudanças no ritmo de uma música ou som.

- Dificuldade para imitar as posturas de outras pessoas.

- Características significativas não representadas, no desenhar uma figura

humana.

3.1 Distúrbios psicomotores

Os distúrbios psicomotores referem-se a problemas que envolvem o indivíduo

em sua totalidade. De acordo com BRITO, a psicomotricidade considera o indivíduo

como um todo, averiguando se o problema está no corpo, na área da inteligência ou

na afetividade. Ao constatar um distúrbio psicomotor são identificados transtornos

que atingem a unidade indissociável, formada pela inteligência, pela afetividade e

pela motricidade.

Um distúrbio de psicomotricidade pode se originar de uma disfunção cerebral

mínima, de um problema físico ou de um problema emocional. Os sintomas mais

característicos, além de problemas motores de maior ou menor gravidade, são

transtornos na área do ritmo, da atenção, do comportamento, esquema corporal,

orientação espacial e temporal, lateralidade e maturação (retardos).

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024

Tipos de Distúrbios

De acordo com BRITO, Grünspun( 1988) divide os distúrbio nos seguintes

quadros:

- instabilidade psicomotora;

- debilidade psicomotora (paratonia e sincinesia);

- inibição psicomotora; lateralidade cruzada e imperícia.

Instabilidade Psicomotora

Ocasiona uma série de transtornos pelas reações que o portador apresenta.

Predomina uma atividade muscular contínua e incessante. Apresentam:

- instabilidade emocional e intelectual;

- falta de atenção e concentração;

- atividade muscular contínua (não terminam as tarefas iniciadas);

- falta de coordenação geral e de coordenação motora fina;

- equilíbrio prejudicado, hiperatividade;

- altos e baixos em provas psicométricas e idade mental baixa nas provas de

desenhos;

- deficiência na formulação de conceitos e no processo da percepção: discriminação

de tamanho, orientação espaço-temporal, discriminação da figura-fundo;

- alteração da palavra e da comunicação, atraso na linguagem e distúrbios da

palavra;

- alteração da função motora: atraso nos níveis de desenvolvimento motor e na

maturidade geral;

- alterações emocionais: são impulsivas, explosivas, destruidoras, sensíveis,

frustram-se com facilidade.

- características durante o sono; movimentam-se excessivamente enquanto dormem,

fazem movimentos rítmico com o corpo ou a cabeça no travesseiro, apresentam

terror noturno;

- alterações no processo do pensamento; dificuldade para abstrair, pensamento

desorganizado, memória pobre, atenção deficiente;

- características sociais: têm dificuldades na leitura, escrita e na aritmética

(discalculia); lentidão nas tarefas; dificuldade de copiar do plano vertical para o plano

horizontal (do quadro para o caderno);

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025

- problemas disciplinares graves na família, na escola e na sociedade.

Debilidade Psicomotora

Caracteriza-se pela presença de paratonia e sincinesia.

Paratonia: É a persistência de uma certa rigidez muscular, que pode aparecer nas

quatro extremidades do corpo ou somente em duas. A criança apresenta

incapacidade de relaxar voluntariamente um músculo. Quando a criança caminha ou

corre, os braços e as pernas se movimentam mal e rigidamente. Ao caminhar ou na

postura estática apresenta deselegância. A qualquer tipo de solicitação, interna ou

externa, a rigidez aumenta.

Se compararmos uma criança com a motricidade normal com uma criança

que apresente paratonia, podemos observar que balançando o corpo de um lado

para o outro, seguras pelos ombros, o movimento da criança normal é livre e amplo,

já na criança com debilidade psicomotora o movimento se apresenta muito limitado,

como se estivessem bloqueados. O mesmo padrão de comportamento motor poderá

ser observado se levantarmos os braços das crianças até a altura dos ombros e os

largarmos livremente. Sincinesias: É a participação de músculos em movimentos nos quais eles são

desnecessários. Por exemplo quando colocamos algo numa das mãos de uma

criança com debilidade motora e pedimos que ela aperte o objeto fortemente, sua

mão oposta também se fechará. Um teste que para ela é impossível é ficar sobre um

pé só.

Percebe-se ainda: descontinuidade dos gestos, imprecisão de movimentos no

braços e nas pernas; os movimentos finos dos dedos não são realizados e, num

dado ritmo, não conseguem reproduzi-los através de atos coordenados , nem por

imitação.

BRITO afirma que, geralmente, as crianças com debilidade motora

apresentam:

- distúrbios de linguagem (articulação, ritmo e simbolização);

- hábitos manipuladores: enrolar o cabelo, chupar os dedos;

- tremores na língua, nos lábios ou nas pálpebras, bem como nos dedos quando

iniciam uma atividade ou fazem força com eles;

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026

- disciplina difícil;

- atenção deficiente e coordenação motora pobre;

- dificuldade de realizar movimento finos;

- afetividade e intelectualidade comprometidas (seu aspecto habitual não é de

sofrimento, mas de indiferença e apatia, confundido frequentemente com o de

deficientes intelectuais);

- sonolência maior que a de outras crianças;

- enurese noturna e até diurna por muitos anos;

- isolamento social e crises de birra ou de ansiedade ao enfrentarem situações

difíceis;

- dificuldade na aprendizagem da leitura, escrita e aritmética.

Desta maneira, o autor sugere que as crianças com debilidade psicomotora

devem receber atenção individualizada com professor especializado, ou fazer parte

de pequenos grupos, à medida que forem se recuperando.

Inibição Psicomotora

As características da debilidade psicomotora estão presentes nesse quadro,

com uma distinção fundamental: na inibição psicomotora existe a presença

constante de ansiedade. As crianças com inibição psicomotora apresentam:

- estado de ansiedade constante; sobrancelhas franzidas, cabeça baixa;

- problemas de coordenação motora;

- distúrbios glandulares, de pele, circulatórios e tiques, além de enurese e

encoprese;

- rendimento superior ao das crianças com debilidade psicomotora, mas fracassam

em provas individuais (exames, chamadas orais) por causa da ansiedade.

Ao contrário dos outros tipos de distúrbios psicomotores, apreciam situações

novas e se comportam melhor quando em grupo. Podem permanecer em classe

comum, desde que sejam atendidos individualmente algumas vezes por semana por

professores especializados.

Lateralidade Cruzada

Muitos autores acreditam na existência de um hemisfério dominante no

cérebro, que é responsável pela lateralidade do indivíduo. Assim, de acordo com a

ordem enviada do hemisfério dominante, teríamos o destro e o canhoto.

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027

Além da dominância da mão existe a do pé, a do olho e a do ouvido. Quando

estas dominâncias não se apresentam do mesmo lado, dizemos que o indivíduo

possui lateralidade cruzada.

Até os 18 meses a criança é ambidestra, usa indiscriminadamente ambos os

lados. A partir de 2 anos é que ela define sua lateralidade.

Quando a dominância é direita ou esquerda, não ocorre nenhuma

perturbação no esquema corporal, mas de forma geral, quando a lateralidade é

cruzada, os distúrbios psicomotores são evidentes e resultam em deformação no

esquema corporal.

Esse tipo de distúrbio psicomotor é mais comum entre as crianças canhotas

do que as destras. A lateralidade cruzada pode apresentar:

- mão direita dominante e olho esquerdo dominante;

- mão direita dominante e pé esquerdo dominante;

- mão esquerda dominante e olho direito dominante;

- mão esquerda dominante e pé direito dominante.

É imprescindível que na análise da lateralidade sejam excluídos os casos de

deficiência de visão e de audição.

Brito afirma que a criança com lateralidade cruzada pode apresentar os

seguintes problemas:

- alto índice de fadiga;

- freqüentes quedas (é desajeitada e desastrada); - coordenação pobre, não conseguindo desenvolver satisfatoriamente as habilidades

manuais;

- atenção instável;

- problemas de linguagem, especialmente as dislalias, linguagem enrolada e rápida;

- distúrbios do sono;

- escrita repassada, espelhada, de cabeça para baixo ou ilegível (apresenta

omissões de letras ou sílabas e lentidão);

- leitura também comprometida;

- intranquilidade, sensações de inadequação ou de inferioridade.

O autor acrescenta que criança com esse tipo de distúrbio psicomotor pode

frequentar uma classe comum, mas necessita de acompanhamento profissional para

um trabalho especializado, individual e ainda com supervisão médica.

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028

Imperícia

Brito compreende que o portador de imperícia, de maneira geral, possui

inteligência normal, com evidência , segundo o autor , de uma frustração pelo fato

de não conseguir realizar certas tarefas que requerem uma apurada habilidade

manual. Para ele a criança com imperícia apresenta:

- dificuldade na coordenação motora fina;

- quebra constantemente objetos;

- letra irregular;

- movimentos rígidos;

- alto indício de fadiga.

Sendo assim, Brito considera que a criança deve ser encaminhada para

atendimento individual, uma ou duas vezes por semana, podendo frequentar uma

classe comum.

Frequentemente nos deparamos com indivíduos que apresentam distúrbios

psicomotores, justamente por não terem sido acompanhados devidamente por

profissionais capazes não apenas de identificar as dificuldades psicomotoras, mas

também de minimizá-las ou até mesmo realizar tratamentos com o objetivo de

superar tais distúrbios.

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CONCLUSÃO

Nas séries iniciais de ensino é que a criança passa a conhecer seu corpo, a

conviver com outras crianças, a experimentar diversas situações de conflito e

frustrações, assim como situações de alegria e compartilhamento de ações. Diante

deste fato, constamos que é a fase adequada para a orientação e o

acompanhamento psicomotor.

O envolvimento da escola na figura do professor das séries iniciais ou do

professor de educação física é imprescindível, mas para que isso ocorra, é

necessário que o profissional conheça o desenvolvimento infantil e as funções

psicomotoras e, assim seja possível identificar as necessidades e dificuldades

psicomotoras apresentadas pelos alunos, permitindo a elaboração de um

planejamento eficaz que conduza o processo de ensino - aprendizagem dos alunos.

Somente o docente qualificado e motivado consegue, a partir do

desenvolvimento de jogos planejados e livres oportunizar à criança uma vivência no

tocante às experiências com a lógica e o raciocínio, bem como aplicar atividades

físicas e mentais que favoreçam a sociabilidade e estimulem as reações afetivas,

cognitivas, sociais, morais, culturais e linguísticas.

Mais do que nunca a educação precisa voltar-se para a formação do ser

humano como um todo e buscar proporcionar aos alunos condições de desenvolver

habilidades e competências que vão além de conteúdos teóricos, considerando

sempre que os diversos elementos que compõem o ser humano relacionam-se entre

si e, portanto há que se desenvolver, igualmente os aspectos cognitivos, motores e

emocionais.

Constamos a partir desse estudo, que a educação nos tempos atuais

necessita mais do que tudo, despertar desde cedo nos alunos a consciência de si

mesmos, a consciência do outro e ainda a consciência do mundo em que habita.

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030

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033

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO .......................................................................................02

AGRADECIMENTO .......................................................................................03

DEDICATÓRIA...............................................................................................04

RESUMO........................................................................................................05

METODOLOGIA.............................................................................................06

SUMÁRIO.......................................................................................................07

INTRODUÇÃO...............................................................................................08.

CAPÍTULO I - A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ENSINO – APRENDIZAGEM

1.1 Psicomotricidade: Histórico e fundamentos psicomotores..................10

1.2 Psicomotricidade e primeira infância...................................................14

1.3 Aprendizagem na infância...................................................................15.

CAPÍTULO II - DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NAS SÉRIES INICIAIS

2.1 A importância dos jogos psicomotores.................................................19

CAPÍTULO III - A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE E DOS PROFISSIONAIS PSICOMOTRISTAS NA ESCOLA

3.1 Distúrbios psicomotores..........................................................................23

CONCLUSÃO.................................................................................................29

BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................30

ÍNDICE............................................................................................................33