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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES FACULDADE INTEGRADA AVM PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A Criança TDAH-I e seu comportamento em fase escolar Por: Daniela Magno Lopes Pereira Matrícula: c206476 Orientador Prof a . Dayse Serra Rio de Janeiro, RJ 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

FACULDADE INTEGRADA AVM

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A Criança TDAH-I e seu comportamento em fase escolar

Por: Daniela Magno Lopes Pereira

Matrícula: c206476

Orientador

Profa. Dayse Serra

Rio de Janeiro, RJ

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

FACULDADE INTEGRADA AVM

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A Criança TDAH-I e seu comportamento em fase escolar

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.

Por: Daniela Magno Lopes Pereira

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AGRADECIMENTOS

Aos professores do curso de psicopedagogia, Meu pai, minha mãe, meu marido e meu filho.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa pesquisa ao meu Bisavô Nestor – “Professor de alma”, minha avó Marilia, por me ensinar a seguir os mesmos trilhos de seu pai, meus aluninhos - meus maiores professores, e meu filho Calvin – minha inspiração.

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"Um professor sempre afeta a eternidade.

Ele nunca saberá onde termina sua influência."

Henry Adams

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo esclarecer um pouco mais sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e a importância da atuação do professor e da instituição escolar para o desenvolvimento de crianças portadoras desse transtorno.

Os professores são, freqüentemente, aqueles que mais facilmente percebem quando um aluno está tendo problemas de atenção, aprendizagem, comportamento, emocionais/afetivos ou sociais. Porém, nem sempre a escola está preparada para fazer um planejamento adequado ou diferenciado (modificação do ambiente, adaptação do currículo, flexibilidade na realização e apresentação de tarefas, adequação do tempo de atividade, etc ) quanto às estratégias e intervenções que deverão ser implementadas para que um aluno portador de TDAH tenha a oportunidade de desenvolver seu potencial.

Uma criança portadora de TDAH, não necessariamente possui dificuldade em aprender. Essa criança muitas vezes possui o QI acima da média, porém, devido aos sintomas desenvolvidos pelo transtorno, sua forma de aprendizagem é muito peculiar, ou seja, os educadores devem achar o foco de interesse dessas crianças para que um trabalho seja desenvolvido.

A criança hiperativa, ou portadora de TDAH,em sala de aula, exige uma atenção especial por parte do professor e nada melhor que este esteja bem preparado para saber contornar os problemas suscitados. Como é o caso de como posicionar este aluno em sala de aula, ou como proceder nas tarefas, ou ainda, no aspecto do relacionamento; sendo um mediador entre o portador de TDAH e os demais alunos e a sociedade escolar.

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METODOLOGIA

Para buscar respostas para o problema levantado, a metodologia utilizada neste trabalho foi a de Análise de Conteúdo onde vários livros foram consultados, bem como sites da internet, artigos de revistas especializadas e observação de uma aluna portadora de TDAH em seu ambiente escolar.

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SUMÁRIO

Introdução ....................................................................................................... pg. 8

Capítulo I - A Criança e o TDAH ..................................................................... pg. 9

Capítulo II - O Conhecimento dos Professores a respeito do Transtorno de déficit de

atenção e hiperatividade (TDAH) .................................................................... pg. 15

Capítulo III - Intervenções e sugestões para lidar com crianças portadoras de

transtorno de deficit de atenção ...................................................................... pg. 18

Conclusão ....................................................................................................... pg. 22

Anexo 1 - Acompanhamento de uma aluna com TDAH IN LOCO .................. pg. 23

Anexo 2 – ENTREVISTA – Paulo Mattos - Como lidar com o TDAH .............. pg. 29

Bibliografia ..................................................................................................... pg. 32

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INTRODUÇÃO:

Essa pesquisa busca orientar a todos que de uma certa maneira se encontram envolvidos com a problemática do Transtorno do Défict de Atenção e Hiperatividade: pais, educadores, familiares, entre outros.

Estamos no século XXI, momento conhecido como a “Era do Conhecimento”. Com ele, avanços, novas tecnologias, grande exposição da ciência, o conhecimento disponível às classes desfavorecidas, e também, incertezas, inseguranças, competitividade no mercado de trabalho. Com isso, há necessidade dos profissionais dos mais diversos segmentos prepararem-se para as novas demandas do mundo globalizado. Nesse cenário focalizamos o professor, o qual lida com o conhecimento no processo ensino-aprendizagem. É exigido dele, portanto, a busca incessante pelo saber, a capacitação contínua para que preparado, possa lidar com o novo, com os desafios, vislumbrando o pleno desenvolvimento do educando, o que assim destaca a criança com TDAH.

Neste trabalho encontram-se orientações para auxiliar a ação do professor que lida com o hiperativo, ressaltando a importância do papel da escola na vida do portador de TDAH. É importante estimular-se sua auto-estima ajudando-o a encontrar o equilíbrio ao longo de um tratamento multidisciplinar, ou seja, um tratamento realizado por uma equipe em comunhão: pais, escola, médicos e terapeutas, não deixando de lado, porém, que o problema tratado da criança hiperativa em sala de aula também exigirá uma maior atenção por parte do professor. O hiperativo dispersa a atenção da turma devido ao seu comportamento irrequieto, exigindo assim do professor uma atenção seletiva, muitas vezes dificultada pelo excesso de alunos sob sua responsabilidade. Partindo-se de uma ação didático-pedagógica mais envolvente na qual seja valorizada a afetividade, percebe-se ser possível contornar os problemas de aprendizagem e de comportamento social do hiperativo.

Diante do exposto, se faz fundamental um trabalho com os que dirigem e atuam no sistema de ensino, bem como com os pais que têm crianças assistidas nestas escolas. Um trabalho que tenha como objetivo modificar posturas e atitudes com relação a essas crianças com TDAH, bem como difundir informações corretas sobre o tema.

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CAPÍTULO I

A Criança e o TDAH.

1.1 – COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS COM TDAH.

As crianças com TDAH são normalmente agitadas ou inquietas. Freqüentemente são rotuladas como “sem limites” ou outros adjetivos parecidos. Na idade pré-escolar, estas crianças costumam mover-se sem parar pelo ambiente, mexendo em vários objetos, contando histórias, não param quietas na cadeira e parecem estar sendo movidas por um motor contínuo. Sacodem os pés e mãos e constantemente pedem para sair de sala de aula durante as tarefas, pois têm dificuldade para manter atenção em algumas atividades, principalmente aquelas muito longas, repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. Além disso, podem ser facilmente distraídas por estímulos do ambiente externo, e até com os próprios pensamentos. Muitas vezes parecem estar “no mundo da lua”. Geralmente são referidas como “esquecidas”, pois esquecem o material escolar, perdem brinquedos, não lembram aonde deixaram alguma coisa e muitas vezes não lembram de dar recados. Durante jogos e brincadeiras têm dificuldade em esperar a vez, não aceitam bem as regras e interrompem os outros o tempo todo.

Apresentam também, frequentemente, dificuldades de organização e planejamento e o desempenho sempre parece inferior ao esperado para a capacidade intelectual. Precisam normalmente de uma atenção individualizada com comandos curtos e objetivos e até “notinhas e lembretes” para conseguirem dar conta de atividades rotineiras no dia a dia.

Segundo o Diagnostical and Statistical Manual of Mental Disorders, O DSM-IV a característica essencial do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade, mais freqüente e severo do que aquele tipicamente observado em indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento. Alguns sintomas hiperativo-impulsivos que causam prejuízo devem ter estado presentes antes dos 7 anos, mas muitos indivíduos são diagnosticados depois,alguns anos após a presença dos primeiros sintomas.

Devidos aos sintomas já mencionados, algum prejuízo deve estar presente em pelo menos dois contextos (por ex., em casa e na escola ou

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trabalho). Deve haver claras evidências de interferência no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional apropriado em termos evolutivos.

A desatenção pode manifestar-se em situações escolares, profissionais ou sociais. Os indivíduos com este transtorno podem não prestar muita atenção a detalhes ou podem cometer erros por falta de cuidados nos trabalhos escolares ou outras tarefas. O trabalho freqüentemente é confuso e realizado sem meticulosidade nem consideração adequada.

A hiperatividade pode variar de acordo com a idade e nível de desenvolvimento do indivíduo, devendo o diagnóstico ser feito com cautela em crianças pequenas. Os bebês e pré-escolares com este transtorno diferem de crianças ativas, por estarem constantemente irrequietos e envolvidos com tudo à sua volta; eles andam para lá e para cá, movem-se "mais rápido que a sombra", sobem ou escalam móveis, correm pela casa e têm dificuldades em participar de atividades sedentárias em grupo durante a pré-escola (por ex., para escutar uma estória).

Os sintomas tipicamente pioram em situações que exigem atenção ou esforço mental constante ou que não possuem um apelo ou novidade intrínsecos (por ex., escutar professores, realizar deveres escolares, escutar ou ler materiais extensos ou trabalhar em tarefas monótonas e repetitivas). Os sinais do transtorno podem ser mínimos ou estar ausentes quando o indivíduo se encontra sob um controle rígido, está em um contexto novo, envolvido em atividades especialmente interessantes, em uma situação a dois (por ex., no consultório do médico) ou enquanto recebe recompensas freqüentes por um comportamento apropriado.

Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva em sua obra “Mentes Inquietas” (2009), quando pensamos em TDAH, não devemos raciocinar como se estivéssemos diante de um cérebro “defeituoso”. Devemos olhar sob um foco diferenciado, pois o cérebro do TDAH apresenta um comportamento bastante peculiar, que acaba por lhe trazer um comportamento típico, que pode ser responsável tanto por suas melhores características como por suas maiores angústias e desacertos vitais.

O comportamento do TDAH nasce do que se chama de trio de base alterada. É a partir desse trio de sintomas (impulsividade, hiperatividade e deficit de atenção) que irá se desvendar todo o universo do TDAH, que muitas

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vezes oscila entre o universo da plenitude criativa e o da exaustão de um cérebro que não pára nunca.

1.2 – SUBTIPOS:

Segundo o Diagnostical and Statistical Manual of Mental Disorders, O DSM-IV, embora a maioria dos indivíduos apresente sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade-impulsividade, existem alguns indivíduos nos quais há predominância de um ou outro padrão. O subtipo apropriado (para um diagnóstico atual) deve ser indicado com base no padrão predominante de sintomas nos últimos 6 meses.

1.2.1 TDAH – Instabilidade da atenção:

Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade, Tipo Predominantemente Desatento.

Este subtipo deve ser usado se seis (ou mais) sintomas de desatenção (e menos de seis sintomas de hiperatividade-impulsividade) persistem há pelo menos 6 meses:

• Não enxerga detalhes ou faz erros por falta de cuidado.

• Dificuldade em manter a atenção.

• Parece não ouvir.

• Dificuldade em seguir instruções.

• Dificuldade na organização.

• Evita / não gosta de tarefas que exigem um esforço mental prolongado.

• Freqüentemente perde os objetos necessários para uma atividade.

• Distrai-se com facilidade.

• Esquecimento nas atividades diárias.

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1.2.2 TDAH - Tipo hiperativo/ impulsivo

Este subtipo deve ser usado se seis (ou mais) sintomas de hiperatividade-impulsividade (e mais seis sintomas de desatenção) persistem há pelo menos 6 meses. A desatenção pode, com freqüência, ser um aspecto clínico significativo nesses casos.

É definido se a pessoa apresenta seis das seguintes características:

• Inquietação, mexendo as mãos e os pés ou se remexendo na cadeira.

• Dificuldade em permanecer sentada.

• Corre sem destino ou sobe nas coisas excessivamente.

• Dificuldade em engajar-se numa atividade silenciosamente.

• Fala excessivamente.

• Responde a perguntas antes delas serem formuladas.

• Age como se fosse movida a motor.

• Dificuldade em esperar sua vez.

• Interrompe e se interrompe.

1.2.3 TDAH - Tipo combinado

Este subtipo deve ser usado se seis (ou mais) sintomas de desatenção e seis (ou mais) sintomas de hiperatividade-impulsividade persistem há pelo menos 6 meses. A maioria das crianças e adolescentes com o transtorno tem o Tipo Combinado. Não se sabe se o mesmo vale para adultos com o transtorno.

1.2.4 TDAH - Tipo não específico

A pessoa apresenta algumas dificuldades, mas número insuficiente de sintomas para chegar a um diagnóstico completo. Esses sintomas, no entanto, desequilibram a vida diária.

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Os pesquisadores, no entanto, afirmam que na idade escolar, crianças com TDAH apresentam uma maior probabilidade de repetência, evasão escolar, baixo rendimento acadêmico e dificuldades emocionais e de relacionamento social. Supõe-se que os sintomas do TDAH sejam catalisadores, tornando as crianças vulneráveis ao fracasso nas duas áreas mais importantes para um bom desenvolvimento - a escola e o relacionamento com os colegas.

À medida que cresce o conhecimento médico, educacional, psicológico e da comunidade a respeito dos sintomas e dos problemas ocasionados pelo TDAH, um número cada vez maior de pessoas está sendo corretamente identificado, diagnosticado e tratado. Mesmo assim, suspeita-se que um grupo significativo de pessoas com TDAH ainda permanece não identificado ou com diagnóstico incorreto. Seus problemas se intensificam e provocam situações muito difíceis no confronto da vida normal.

O TDAH é com freqüência, apresentado, errôneamente, como um tipo específico de problema de aprendizagem. Ao contrário, é um distúrbio de realização. Sabe-se que as crianças com TDAH são capazes de aprender, mas têm dificuldade em se sair bem na escola devido ao impacto que os sintomas do TDAH têm sobre uma boa atuação. Por outro lado, 20% a 30% das crianças com TDAH também apresentam um problema de aprendizagem, o que complica ainda mais a identificação correta e o tratamento adequado. Pessoas que apresentaram sintomas de TDAH na infância demonstraram uma probabilidade maior de desenvolver problemas relacionados com comportamento opositivo desafiador (TDO), delinquência, transtorno de conduta, depressão e ansiedade.

Paulo Mattos (2007), cita em uma de suas obras (“No Mundo da Lua”), uma lista de problemas demonstrados em estudos científicos que acontece com maior frequência em crianças portadoras de TDAH, quando são comparadas com outras da mesma idade e classe social, porém sem o transtorno:

• Maior frequência de acidentes.

• Mais problemas de aprendizado escolar.

• Maior frequência de reprovações.

• Maior frequência de expulsões.

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• Maior incidência de depressão.

• Maior incidência de ansiedade.

O TDAH é um transtorno na vida de muita gente . Até aí todos concordam. Mas de um lado, estão os que vêem a criança como a portadora do déficit: é ela quem não consegue prestar atenção. Enquanto do outro, estão os que a percebem como uma vítima da falta de atenção – da escola, da família, das instituições. Reconhece-se também, o ritmo frenético do dia-a-dia das crianças, naturalmente superestimuladas e freqüentemente com acesso a programas multimídia, desenhos, animações, games e celulares que só faltam fazer ligações sem tocá-lo. Talvez possamos fazer uma relação direta com os comportamentos hiperativos que vêm aumentando porque o mundo hoje tem outro movimento. Mas não é toda criança agitada que o tem TDAH.

Resumindo, o que a escola precisa é ser mais interativa e buscar envolvimento da criança e da família no processo educacional. Os profissionais devem sempre trabalhar em conjunto com outro(s) profissional (is) envolvido(s) no atendimento do aluno e sempre trocando idéias, executando Estudo de Caso, fornecendo orientações aos Mediadores, Familiares e, principalmente, ao Educador.

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CAPÍTULO II

O Conhecimento dos Professores a respeito do Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)

A evolução e a transformação da sociedade brasileira, colocam a necessidade de pensar a Educação como um processo no qual as diferentes situações oportunizam melhoria da qualidade de vida para todos, por meio de um sistema educativo preparado para dar conta de toda a demanda escolar existente. O que se propõe na realidade é a formação de um professor que esteja preparado para atuar além do espaço restrito da sala de aula. Todo o professor deve ser preparado para investigar, sistematizar e produzir conhecimento, por intermédio de leituras diversificadas, trabalhos escritos, utilização de recursos tecnológicos, análise de materiais didáticos, especialmente livros, vídeos, jogos e brinquedos a serem utilizados com os alunos.

O papel do professor é fundamental no acompanhamento de um aluno hiperativo. Através de relatórios dos comportamentos apresentados em sala de aula, o professor pode ajudar o aluno estimulando a aprendizagem e motivação,além de diminuir suas queixas, pois compreender uma criança significa ser capaz de fazer prognóstico sobre seu comportamento.

Segundo Paulo Mattos (2007),para lidar com um portador de TDAH, os professores devem ter conhecimento do transtorno em sí e saber diferenciá-lo de desobediência, falta de educação e preguiça, e devem desenvolver um repertório de interferências para poder atuar na sala de aula de uma criança hiperativa, minimizando o impacto negativo do temperamento do aluno, para não haver rotulação e não fazerem avaliações errôneas sobre o comportamento de crianças com TDAH, o que é feito freqüentemente, além de equilibrar as necessidades dos demais alunos com a dedicação de que uma criança portadora do transtorno necessita.

Como já foi visto, o TDAH é caracterizado por três principais sintomas: distração, impulsividade e hiperatividade, portanto, estas três características são comuns na população infantil. Para distinguir uma criança TDAH de uma sem o transtorno, deve-se conhecer profundamente o comportamento e as características infantis de uma forma geral, e não somente daquelas que apresentam algum tipo de transtorno.

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No decorrer da formação do educador, este nem sempre tem oportunidade de vivências práticas para um conhecimento mais aprofundado sobre as condições internas e externas, que permeiam o desenvolvimento dos educandos e das suas habilidades, portanto, quando o educador se depara com aquele aluno que não consegue desenvolver as habilidades que conduzam à aprendizagem adequada, necessita de uma interação com outros profissionais, ou seja uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo, pediatra, neuroligista e etc, para discussão e avaliação das dificuldades para a elaboração de um trabalho integrado e efetivo.

Faz-se necessário um aprofundamento das práticas de integração dos alunos com TDAH no ensino regular e para uma maior eficácia das mesmas, um trabalho de sensibilização do corpo docente, discente e dos funcionários da rede de ensino, acrescido de um programa de capacitação e aprimoramento profissional.

É fundamental um trabalho com os que dirigem e atuam no sistema de ensino, bem como com os pais que têm crianças assistidas nas escolas. Um trabalho que tenha como objetivo modificar posturas e atitudes com relação à freqüência de crianças com TDAH nessas unidades, bem como difundir informações corretas sobre o tema.

Segundo Paulo Mattos, o ideal não é dar a todo mundo exatamente a mesma coisa, mas dar a qualquer um o que cada um precisa.

É importante ressaltar que um trabalho desses, de preparação das escolas para aceitarem crianças com TDAH, contribui para um melhor atendimento às crianças em geral e também para o desenvolvimento de ações de prevenção e detecção precoce de outras deficiências.

2.1 - O QUE OS PROFESSORES DEVEM ESPERAR DO DESEMPENHO ACADÊMICO DOS ALUNOS COM TDAH?

Segundo o psiquiatra Paulo Mattos, algumas criancas com TDAH conseguem ter bom desempenho acadêmico, mas muitas delas apresentam desempenho abaixo do esperado em relação aos seus pares e seu potencial, não sendo raras as repetições, pois o TDAH ocorre em toda a faixa de inteligencia, qualquer Q.I. pode ser encontrado em quem tem o transtorno,

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desde alunos com inteligência limítrofe até os superdotados. A inteligência do portador de TDAH é provavelmente o maior determinante de quanto ele vai conseguir vencer na vida apesar do transtorno.

As dificuldades para completar tarefas individuais (em grupo é mais fácil), em prestar atenção nas instruções das atividades e nas explicações do professor e a dificuldade para estudar em casa podem resultar em notas baixas. Apesar disso, com as necessárias adaptações é possivel melhorar o desempenho dos portadores do transtorno. É importante que o professor tenha em mente a diferença entre “dificuldades de se adaptar ao sistema educacional” e “impossibilidade de aprendizagem”. Muitas criancas com TDAH são muito inteligentes e se lhes dermos o tratamento adequado, elas poderão se desenvolver de forma favorável.

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CAPÍTULO III Intervenções e sugestões para lidar com crianças portadoras

de Transtorno de Déficit de Atenção:

Na idade escolar, a criança hiperativa precisa aprender a lidar com regras, a estrutura e os limites de uma educação organizada e seu temperamento inquieto que não se ajusta muito bem às expectativas da escola.

Segundo Goldstein (1996), muitas crianças hiperativas também vivenciam comportamentais emocionais secundários na escola como conseqüência de sua incapacidade de satisfazer as exigências da sala de aula. Esses problemas muitas vezes se desenvolvem em resposta a fracassos freqüentes e repetidos, e algumas crianças podem se tornar deprimidas e retraídas, enquanto outras podem se tornar irritadas e agressivas.

Uma sala de aula eficiente para crianças desatentas e hiperativas deve ser organizada e estruturada como também silenciosa. O professor deve estar preparado para receber uma criança portadora de TDAH e procurar conhecer melhor o quadro e os sintomas, para saber como lidar com ela. Um programa ponderando o comportamento, baseado em perdas e ganhos, deve ser parte do trabalho da rotina da classe. No caso de repreensão, esta deve ser imediata assim como os pequenos incidentes não devem ser enfatizados e reforçados.

As tarefas devem variar, mas continuar sendo interessantes para os alunos. Os horários de transição ser supervisionados e as crianças nunca devem ser deixadas desassistidas. Pais, professores e equipe pedagógica devem manter uma comunicação freqüente.

O professor deve criar facilidades para que a criança com TDAH adquira novas amizades, pois os amigos são essenciais para o desenvolvimento dessa criança. A instabilidade comportamental, a ansiedade e a falta de concentração em algumas crianças hiperativas fazem com que as outras crianças se afastem delas, pois por não compreenderem a sua forma de relacionamento, acabam considerando - as inconvenientes.

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3.1 – SUGESTÕES DE INTERVENÇÕES

Há uma grande variedade de intervenções específicas que o professor pode fazer para ajudar a criança com TDAH e se ajustar melhor à sala de aula:

• Proporcionar estrutura, organização e constância, arrumação das cadeiras, programas diários, regras claramente definidas;

• Colocar a criança perto de colegas que não o provoquem, perto da mesa do professor, na parte de fora do grupo;

• Encorajar freqüentemente, elogiar e ser afetuoso.

• Dar responsabilidades que elas possam cumprir fazendo com que se sintam necessárias e valorizadas (começar com tarefas simples e gradualmente mudar para mais complexas);

• Proporcionar um ambiente acolhedor entre professor e alunos;

• Nunca provocar constrangimento para o aluno;

• Proporcionar trabalhos de grupo com poucos alunos;

• Favorecer oportunidades sociais;

• Comunicar-se com os pais. Geralmente eles sabem o que funciona melhor para seu filho;

• Favorecer oportunidades para movimentos monitorados, como ida a secretaria, levantar para apontar o lápis, levar um bilhete a outro professor;

• Recompensar os esforços;

• Colocar limites claros e objetivos.

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3.2 – O BRINCAR E AS CRIANÇAS PORTADORAS DE TDAH

As atividades lúdicas, além de facilitarem a aprendizagem, atendem a determinados interesses e necessidades sociais, pois favorecem a socialização e a cooperação entre as crianças. A escola,portanto, deve promover essas situações, propondo atividades que possibilitem a construção de conhecimentos, dando oportunidades ao aluno de ser mais criativo, participativo e ativo, tornando-se um ser com iniciativa pessoal e autonomia, levando-o a adquirir atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade. Para isso, faz-se necessário que o professor elabore aulas interessantes e diversificadas, explorando as diferentes habilidades nos alunos,o que trará benefícios significativos para suas vidas.

Segundo J. M. Barros (2002), no que se refere ao lúdico, sabe-se que o comportamento da criança hiperativa, em relação às crianças “normais”, se mostra muito deficitário devido à grande dificuldade de atenção, concentração e impulsividade causada pelo o distúrbio. Portanto, ao utilizar os jogos como estratégias pedagógicas deve- se levar em consideração as características da criança com TDAH, bem como as condições sob as quais deverá realizar as atividades, auxiliando ao aluno a desenvolver as habilidades necessárias para um desempenho social, emocional e cognitivo.

Ainda segundo J. M. Barros (idem) a hiperatividade dificulta o desenvolvimento de um comportamento social “adequado” em uma criança portadora do TDAH e através dos jogos ela pode aprimorar seu senso de respeito às normas e grupos sociais.

O jogo é uma ferramenta criativa, atraente e interativa que auxiliará o professor a minimizar os problemas de desatenção e de comportamento social nas crianças hiperativas, melhorando assim a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, pois é através desse ato que a criança reproduz experimentações e vivências que percebe do mundo exterior, e, ainda, pode relacionar-se com outras crianças.

De acordo com Vygotsky (2004), a aprendizagem é um processo social. É possibilitada através das áreas de desenvolvimento proximal, isto é, da distância entre a zona de desenvolvimento real, que se costuma determinar através das soluções independentes de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, ou seja, aquilo que a criança ainda não sabe, mas que pode aprender. A zona de desenvolvimento proximal pode ser ilustrada

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através daquilo que a criança faz hoje com auxílio de adultos ou mesmo de crianças mais hábeis, mas que amanhã poderá fazer por si mesma.

Levando em consideração a afirmação de Vygotsky no sentido de que no processo de aprendizagem e desenvolvimento, para cada passo que a criança dá adiante no aprendizado, são dois passos que ela avança no desenvolvimento, é inegável que a atuação do professor se faça muito relevante nesse processo. De fato, cabe a ele motivar e estimular constantemente a atenção da criança com TDAH, para que a mesma não saia do foco diante de qualquer movimentação no ambiente.

O brincar para para as crianças nos processos de aprendizagem e desenvolvimento é muito importante, pois é através desse ato que a criança reproduz experimentações e vivências que percebe do mundo exterior, e aprende a se relacionar.

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CONCLUSÃO

Conclui – se com essa pesquisa, que o Transtorno de déficit de atenção não tem cura, porém, com um acompanhamento especial, é possível que o portador tenha os sintomas amenizados e que aprenda a conviver com as inconveniências e dificuldades que o TDAH traz para o dia a dia desse indivíduo.

Os Professores e a equipe escolar têm papel fundamental no desenvolvimento e acompanhamento dos alunos hiperativos, ou portadores de TDAH, pois serão estes o veículo de comunicação e o elo entre a família e a equipe de especialistas durante o tratamento em fase escolar.

As instituições escolares devem cada vez mais buscar esclarecimentos e treinamentos para sua equipe de professores a respeito do TDAH, assim como outros transtornos, deixando claro sempre que o papel da instituição não é dar diagnóstico, mas sim auxiliar aos pais que crianças hiperativas, se não forem tratadas podem ter complicações nos relacionamentos, no convívio social, na escola e etc, o que pode levar a insatisfação, frustração e a conflitos internos.

É importante que a instituição escolar e a família trabalhem em parceria com uma equipe multidiciplinar, acompanhando a criança com TDAH no tratamento, na sua socialização, sem esquecer porém, de que impor limites é necessário. Esta criança vive numa sociedade cheia de regras e não deve se prevalecer desta patologia para agredir, para complicar a vida dos outros, visto que, hoje em dia com o avanço das pesquisas sobre a hiperatividade, o tratamento ameniza bastante os sintomas, proporcionando ao portador de TDAH uma vida mais tranqüila.

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ANEXO 1

Acompanhamento de uma aluna com TDAH IN LOCO

Informações sobre a aluna.

Nome: Laura (nome fictício)

Idade: 6 anos completos em 6/08/2010

Residência: Rio de Janeiro, RJ

Instituição de ensino localizada em Botafogo, Rio de Janeiro, RJ.

Período escolar: Primeiro ano do ensino fundamental.

Diagnóstico feito pelo neuropediatra: TDAH/TDO.

Tratamento: Está sendo tratada há 7 meses por um neuropediatra e por um

psiquiatra. Faz ingestão da medicação 2 vezes ao dia.

Histórico:

Laura freqüenta a escola atual desde fevereiro de 2011. Essa é a terceira dos

ultimos dois anos. É uma criança agitada. Está sempre se movimentando,

conversando alto, dando aparência de agir com impulsividade sem pensar nas

consequências. Por conta desse comportamento, envolve-se inúmeras vezes em

brigas e confusões, e seu nome é ouvido com frequência nos corredores da

instituição de ensino. Quando não lhe estão chamando atenção, estão comentando

algo que ela fez de errado. Tem dificuldade de concentração nas atividades de sala

de aula, e uma resistência em aceitar limites. Ao ser repreendida costuma responder

grosseiramente ou fazer caretas, debochando da forma como falam com ela.

Quinze dias antes desse trabalho ser elaborado, a mãe de Laura esteve na

escola para contar a história da filha. Explicou que Laura já foi uma menina de rua,

adotada por uma família que por algum motivo desistiu dela depois de alguns meses.

Foi então levada para um abrigo. Nessa instituição Laura teve os primeiros contatos

com a atual mãe adotiva que procurou se aproximar dela, sensibilizada com sua

história.

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Decidida a adoção, a nova família, formada de pais e uma filha de dez anos,

foi ao encontro da menina, que primeiramente rejeitou a idéia por medo de ser

novamente abandonada. Resistiu bastante, porém aceitou conhecer a nova casa.

Laura tinha então 4 anos de idade.

A mãe contou que a menina trouxe poucas lembranças da rua, porém muitas

fantasias, como a de morar num bercinho rosa. O que era evidente que ela não tinha.

Contou também que nos períodos de frio, a criança pede “um jornal para se

esquentar”, pois era o que ela usava quando ainda não tinha casa.

Durante o período de adaptação dessa nova família, Laura insistia com sua

mãe que tinha saído de sua barriga, que era sua filha de verdade. Num “surto

familiar” (palavras da mãe), como já não soubesse mais o que fazer, e sem suportar

ver a angustia da filha, a mãe acabou vestindo uma camiseta bem larga, colocou a

menina dentro, e fez como se estivesse grávida, acariciando a barriga e

“proporcionando a ela um acolhimento uterino”. Depois fizeram o parto, e Laura foi

“amamentada como um bebê de verdade”. A partir daí foi “selada entre elas uma

ligação de mãe e filha” (palavras da mãe).

Porém, toda a dedicação da família a essa criança, como todo o investimento

em educação, segundo sua mãe, não contribuíram para que a falta de limite e

agitação dela diminuíssem. A menina não era bem aceita socialmente, e chegou a

agredir a professora da antiga escola, levando sua mãe a sofrer ameaça de ser

processada devido ao mau comportamento da aluna.

A família decidiu então pelo tratamento, e em seis meses ela recebeu o

diagnóstico: TDAH/TODO . O neuropediatra indicou um psiquiatra que receitou doses

do medicamento Ritalina, o que pareceu trazer para a menina um pouco mais de

organização de pensamento e concentração.

Diante desse histórico, durante o curso de psicopedagogia, uma das

professoras sugeriu que fossem feitos cinco encontros com a aluna para estudo

de caso .

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Primeiros contatos com a Aluna:

Durante uma conversa em sala de aula sobre animais abandonados, Laura

disse que também já havia sido abandonada.

Ao ser questionada sobre sua família e sua casa, foi taxativa: “ eu era pobre,

sabia? Morava numa caixinha, na rua, e ficava pedindo pra todo mundo me levar pra

casa. Todo mundo que passava eu dizia: me leva pra casa! Me leva pra casa! Até

que um dia, meu pai foi lá e me buscou e me levou pra morar com minha mãe e

minha irmã”.

Avaliação pedagógica:

ENCONTRO 1 – dia 03/03/2011

No primeiro encontro com Laura, sugeri que jogássemos alguns jogos. A

aluna se interessou muito pelos jogos de memória, e pelos jogos de montar palavras.

Porém, perdemos muito tempo para conseguir concluir os dois, pois a menina se

recusava a montar palavrinhas, Queria apenas colocar todas as peças juntas, como

se o jogo fosse um grande quebra-cabeças e chegou a mencionar que o jogo era dela

e por isso podia montar como quisesse.

Quanto ao jogo da memória, Laura não aceitava o fato de que as peças

deveriam ficar viradas de cabeça para baixo, e queria a todo custo procurar os pares

levantando os cartões.

Sugeri então um quebra cabeça bem fácil com 20 peças grandes, já que ela se

interessou em colocar as peças juntas. Porém até o fim do encontro ela não

conseguiu montar.

Jogos utilizados:

Jogo da memória:

Função cognitiva: Pareamento

Função pedagógica: Animais/ partes do corpo.

Jogo de montar palavras:

Função cognitiva: Leitura

Função pedagógica: reconhecer o alfabeto.

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Quebra cabeças:

Função cognitiva:Orientação espacial

Função pedagógica: ------

ENCONTRO 2 - dia 04/03/2011

Laura estava muito agitada pois não tinha feito ingestão da Ritalina nesse dia.

Sugeri que jogássemos vários jogos diferentes, mas ela fazia cara de quem não

estava com vontade e aquilo não era interessante no momento. Ela queria pular num

pé só, mostrar como sabia plantar bananeira, queria correr de um lado para o outro e

gritava e falava alto o tempo todo. Reclamava muito de fome. Ela me pediu que

víssemos um filme ou cantássemos uma música. Perguntei quais eram as músicas

preferidas, e sem pestanejar, disse que gostava do “Barney e da Xuxa” e se pôs a

cantar várias músicas, enquanto pulava e fazia coreografias, sempre procurando ter

certeza de que eu estava olhando e gostando. Me perguntava o que eu tinha achado

e pedia para cantar com ela, se mostrando sempre muito carinhosa.

ENCONTRO 3 – EOCA (Entrevista operativa centrada na aprendizagem )–

dia 16/03/2011

Nesse dia nos encontramos na “biblioteca da escola”, por ser um lugar mais

acolhedor, e com mais opções e recursos para trabalharmos. A aluna me parecia

estar tranquila, e tinha passado momentos agradáveis e divertidos durante o período

de aula. O conteúdo abordado no dia, tratava de um feriado irlandês, chamado “St

Patrick’s day”. Por isso tínhamos feito algumas brincadeiras com as crianças dizendo

que esse era o dia da sorte, aonde os duendes nos ajudam a achar o pote de ouro no

fim do arco – íris.

Quando ficamos a sós para iniciar a entrevista operativa centrada na

aprendizagem – EOCA,( o que é isso) comecei a conversar com ela como de

costume, perguntando o que ela estava achando da escola, dos amigos, da

professora, e percebi que ela estava muito séria. Perguntei o que estava acontecendo.

Laura fez sinal para eu me calar e disse : “Estou sentindo um cheiro de duende aqui!

Você não está sentindo cheiro de duende”? Eu disse que não tinha percebido e ela

correu para a porta como se tentasse ouvir algo e falou: “ Ouve, Teacher! Ouve só

esse barulho. É o barulho dele batendo na porta”! Isso durou algum tempo, mas

finalmente a convenci de sentar perto de mim e produzir algo para a avaliação.

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Perguntei se ela já estava aprendendo a escrever, se estava gostando, e

perguntei o que havia aprendido e o que já sabia. Imediatamente ela tomou o papel e

se pôs a “escrever” (do jeito dela), muito concentrada, com uma expressão de quem

estava fazendo algo muito importante. De repente ela me olhou muito séria e disse:

“antes eu não sabia escrever. Antes eu não sabia fazer muitas coisas”. Perguntei

para ela quando era antes, mas não tive resposta.

Depois de um tempo, ela disse: “preciso escrever outra coisa”, e fez uns

números, usando os dois lados do papel. Perguntei o que era e ela me respondeu:

“Números”.

Vi que ela passou um tempo pensando, com o lápis na bôca e perguntei o que

estava escrito na folha e ela me disse “ I love you”. Perguntei se aquilo tudo que ela

tinha escrito só tinha esse significado e ela repetiu “ I love you”. Então procurei saber

do que ela mais gostava de escrever na escola. Ela me disse que gostava das aulas

de inglês, de natação e de ler livros. Depois me disse “ Por enquanto acho que é só

isso, mesmo”. E começou a pegar as coisinhas dela para ir embora. Pedi que ela

ficasse, mas ela disse que “estava cansada”.

ENCONTRO 4 – 18/03/2011

Laura trouxe de casa um livro chamado “Ou isto ou aquilo” , de Cecília

Meireles. Estava muito empolgada, pois sua irmã havia emprestado para ela e pediu

que tomasse muito cuidado. Isso a deixou muito orgulhosa, e não houve jeito dela

largar o livro. Lemos algumas poesias, e ela gostou muito da poesia da Lombriga e da

poesia que dá título a publicação – “Ou isto ou aquilo”. Passou um tempo repetindo

essa frase.

Como Laura estava repetindo muitas vezes a história de que a irmã havia

delegado a ela uma função, sugeri que brincássemos com os cartõezinhos(o que é

isso?) da família, e ela logo concordou. Brincamos então de esconder os cartões, de

contar histórias com eles e ela disse que gostaria de fazer um desenho para mim. Eu

aceitei, e ela fez as carinhas da família dela. Só fez os rostos. Disse: “não estava com

vontade de fazer o resto”.

Depois, pediu-me pra fazer um outro desenho e quis “recortar e colar”, pois

tinha que me dar um presente. Aceitei, e ela fez um rosto grande e uma “colagem

indefinida”. Quando perguntei o que era, só me disse que era pra eu lembrar dela no

dia do meu aniversário, e me perguntou por um quebra cabeças que os alunos tinham

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feito em sala e ela não tinha terminado. Era um quebra cabeças de papel. De recorte

e colagem. Então deixei que ela terminasse. Do jeito dela.

Quando as peças foram coladas no papel, pude perceber em Laura uma falta

de organização espacial, o que pode significar que a formação dos próprios limites

dela e de seu Eu, ainda não estejam bem definidos.

ENCONTRO 5 - 21/03/2011

Laura estava sem medicação, e encontrava-se muito agitada. Tinha se metido

em confusões na escola o dia todo e a professora da parte da manhã se queixou que

não conseguiu dar aula por conta de sua agitação .

Fui ao encontro da menina, que estava almoçando o seu terceiro prato de

comida, e quando terminou ficou reclamando que queria mais, o que não foi permitido.

Tentei conversar com ela em uma sala reservada, mas ela não conseguiu ficar

concentrada. Queria correr, fazer atividades, e brincar com os amigos.

Conclusão:

Observando Laura em seu processo de aprendizagem, desenvolvimento e

comportamento, percebi que suas atitudes estão bem relacionadas com o Transtorno

de Déficit de Atenção. Porém, não encontrei nenhum sintoma compatível com o

Transtorno Desafiador Opositivo.

A aluna é muito agitada e impulsiva, porém, se é convidada a desempenhar

uma função, e está em um ambiente harmônico, mostra-se muito receptiva e

carinhosa. Procura sempre emprestar seu material aos colegas e preocupa-se com o

que as pessoas pensam dela. Fica muito feliz quando é elogiada.

Laura não lida bem com limites, com as normas, ou quando é chamada

atenção de forma agressiva. Há dificuldade também quando gritam com ela. O que

se nota, é que se é chamada a refletir sobre o que fez, fica atenta ao que está lhe

sendo dito.

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ANEXO II

ENTREVISTA

Como lidar com o TDAH

Paulo Mattos, psiquiatra, professor da UFRJ e presidente da ABDA falou sobre

o TDAH no programa de televisão RJTV. A entrevista, de grande destaque no

programa, abordou as principais dúvidas que os pais de portadores têm em relação

aos sintomas e principalmente como lidar com eles.

Para saber mais sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade

(TDAH), que é mais comum do que parece, o RJTV fez a seguinte entrevista:

RJTV: Como saber se a criança é levada e bagunceira ou se é realmente

hiperativa? Os pais fazem essa confusão?

Paulo Matos: Fazem sim, mas o mais comum é que os professores consigam

fazer a diferença. Porque o professor vê muitas crianças ano após ano, por isso ele

consegue perceber que aquela criança é mais agitada que as outras. É comum correr,

brincar, ficar agitado, ficar distraído, principalmente quando a aula é chata. Todo

mundo é assim um pouco. Mas o que caracteriza o TDAH é quando a criança tem

muitos sintomas, quando ela é muito mais agitada que as demais. É importante fazer

esse diagnóstico porque quanto mais cedo é feito o tratamento, melhor o prognóstico

do distúrbio.

RJTV:Mas o que é esse mais cedo? Com que idade pode-se ter uma

garantia, uma certeza de que a criança tem um problema de déficit de atenção?

Em um bebê já é possível perceber?

Não é obrigatório, mas muitas mães contam que já no cercadinho a criança já

ficava inquieta, rolando de um lado para o outro. Mas o diagnóstico fica mais claro,

mais evidente por volta dos 7, 8 anos. Que é justamente quando a criança tem que

ficar sentada na sala de aula, tem que se organizar para estudar em casa. E aí fica

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claro que todas as demais crianças conseguem fazer isso, e ela não consegue. Isso

atrapalha muito o rendimento, pouco a pouco ela vai sendo discriminada pelos

colegas, pelos próprios professores porque ele está sempre fazendo bagunça. Pouco

a pouco começa a ter uma piora na auto-estima, o abandono escolar é muito comum.

E um problema recente que está ficando bastante evidente para todos que trabalham

com TDAH é o aumento da prevalência de uso de drogas e álcool nestas crianças.

Isso já é um problema de saúde pública, mas os portadores de TDAH têm maior

incidência de abuso de drogas.

Pergunta de Renata Melo, professora de educação física, tem um filho de 8

anos – Uma criança que é hiperativa e não é tratada na infância ela pode ter seqüelas

na vida adulta?

Essas crianças se tornam adolescentes que têm mais incidência de depressão,

ansiedade, desemprego, a incidência de divórcios em adultos portadores de TDAH é

três vezes maior. Esses indivíduos, como já falei, têm maior abuso de drogas e álcool,

além disso, eles sofrem mais acidentes de trânsito e quando eles ocorrem, eles

tendem a ter maior gravidade.

RJTV:Todos os casos são tratados com remédio, ou não? Terapia

também ajuda? Porque muitos mais podem retardar esse tratamento por medo

de dopar as crianças?

Essa é uma dúvida muito comum. Estudos que foram feitos até hoje

comparando terapia, medicação e a combinação de terapia e medicação mostram que

o medicamento é extremamente importante na maioria dos casos. Os pais não devem

temer o uso de medicação porque ela controla os sintomas de maneira muito

satisfatória.

Pergunta de Alessandra Rocha, que tem um filho de 6 anos, que é hiperativo –

Eu gostaria de saber se a hiperatividade da criança pode refletir na sua auto-estima.

Certamente. Essas crianças com o tempo são chamadas a atenção pelo

professor. Ficam de castigo, não conseguem parar quietos, não conseguem manter

uma conversação, interrompem os outros quando eles estão ocupados. E com isso a

auto- estima vai piorando com o tempo.

RJTV: E em relação aos adultos? Os sintomas são parecidos?

Os sintomas são parecidos. Isso é uma cosia relativamente recente. Não se

sabia que o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade ocorria também em

adultos. Mas hoje em dia se acredita que em torno de 50% a 60% irá ingressar na

vida adulta com sintomas do transtorno.

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RJTV: E ainda agitados?

Eles ficam se balançando na cadeira, não esperam o interlocutor parar de

falar, ficam tamborilando os dedos. O adulto não é hiperativo, ele é inquieto. Ele vai

para a praia, joga, vai pra água. Ele não consegue relaxar e sossegar mesmo quando

ele tem tempo livre. Mas ele não é propriamente hiperativo como no caso das

crianças.

RJTV: Como os pais devem lidar com essas crianças? Porque geralmente

essas crianças são muito levadas, como lidar com essas crianças sem se tornar

excessivamente autoritário?

A primeira providência quando há uma suspeita de TDAH é saber se realmente

existe esse diagnóstico. Havendo o diagnóstico é iniciado o tratamento com

medicação, terapia e muitas vezes com tratamento pedagógico. A partir daí o pai vai

receber orientação de como lidar da melhor forma com a criança. Sem ser demais,

nem de menos.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARROS, J. M. Gramático: Jogo Infantil e Hiperatividade. - Rio de Janeiro:

Sprint, 2002.

LOPES, M. da G. Jogos na Educação Infantil: criar, fazer, jogar. 3.ed. - São

Paulo: Ed Cortez, 2002.

MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre o transtorno do

déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescente e adultos;Paulo

Mattos, 7.ed. rev. E atual. – São Paulo: Lemos Editorial,2007.

DUPAL, George J.; STONER, Gary. TDAH Nas escolas – São Paulo: M. Books

do Brasil Editora LTDA, 2007.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa: Mentes Inquietas: desatenção, hiperatividade e

impulsividade. Ed. Revista e ampliada. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

BOY, Priscila Pereira: Inquietações e desafios na escola: Inclusão, violência,

aprendizagens e carreira docente. - Rio de Janeiro: WAK ed. 2010.

KAUARK, Fabiana: Motivação no ensino e na aprendizagem: Competências e

criatividade na prática pedagógica. - Rio de Janeiro: WAK ed. 2008.

SAMPAIO, Simaia: Dificuldades de aprendizagem: a psicopedagogia na relação

sujeito, família e escola. – 2ª. Ed. – Rio de Janeiro: WAK ed. 2010.

DSM IV – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders em

(http://virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.php?cod=38) – Junho/Julho 2011

VYGOTSKY, L. S. Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos

psicológicos superiores. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.