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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
APLICABILIDADE DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL AO PROCESSO DO TRABALHO
AUTOR
COELI REGINA RODRIGUES COELHO
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
RIO DE JANEIRO 2009
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
APLICABILIDADE DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL AO PROCESSO DO TRABALHO
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Coeli Regina Rodrigues Coelho.
3
Agradeço à minha família pelo incentivo, aos professores, ao meu orientador Professor Carlos Leocádio e aos amigos Norma, Maria Aparecida e Wedson pelo estímulo recebido ao longo do Curso.
4
Dedico este trabalho a minha querida avó, por tudo que fez pela minha formação profissional e moral. Dedico também ao meu companheiro e amigo, que sempre me incentivou a participar deste Curso.
5
RESUMO
O presente trabalho versa sobre a aplicabilidade da multa prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil ao Processo do Trabalho, mesmo na hipótese de existência de norma expressa na Consolidação das Leis do trabalho em sentido contrário, em consonância com os princípios peculiares do Direito Processual do Trabalho, evidenciando o princípio da subsidiariedade previsto nos artigos 769 e 889 do texto consolidado, que autoriza a aplicação subsidiária do CPC desde que atendidas duas condições: houver omissão na legislação trabalhista bem como a compatibilidade entre as normas do processo civil com relação aos institutos e princípios processuais do trabalho. Este trabalho aborda as lacunas do ordenamento jurídico, discutindo a leitura clássica do princípio da subsidiariedade, propondo uma leitura moderna do referido princípio à luz do novo modelo principiológico que assegura a todos, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação, apresentando os argumentos expendidos pelos doutrinadores que defendem a aplicabilidade do art. 475-J do CPC e daqueles que sustentam a inaplicabilidade deste dispositivo, com a finalidade de verificar a possibilidade de aplicação da multa em comento ao Processo do trabalho.
6
METODOLOGIA
O presente trabalho versa sobre a aplicação subsidiária das regras
contidas no artigo 475-J do Código de Processo Civil ao Processo do Trabalho,
embora presente norma jurídica disciplinando a matéria na Consolidação das Leis
do Trabalho.
A partir dessa premissa, é fácil concluir que o estudo que ora se
apresenta foi levado a efeito a partir do método da pesquisa bibliográfica, em que
se buscou o conhecimento em diversos tipos de publicações, como a Constituição
Federal de 1988, a Consolidação das Leis do Trabalho, o Código de Processo
Civil, livros e artigos jurídicos apresentados em revistas, livros, textos, material
disponível na rede mundial de computadores, além de publicações oficiais da
legislação e da jurisprudência.
Por outro lado, a pesquisa que resultou nesta monografia também foi
empreendida através do método dogmático positivista, porque teve como marco
referencial e fundamento exclusivamente a identificação do posicionamento da
doutrina e jurisprudência, bem como dos fundamentos utilizados pelas duas
correntes.
Adicionalmente, o estudo que resultou neste trabalho identifica-se,
também, com o método da pesquisa aplicada, por pretender produzir
conhecimento para aplicação prática, assim como com o método da pesquisa
qualitativa, porque procurou entender a realidade a partir da interpretação e
qualificação dos fundamentos abordados pelas duas correntes; identifica-se,
ainda, com a pesquisa exploratória, porque buscou proporcionar maior
conhecimento sobre a questão proposta, além da pesquisa descritiva, porque
visou à obtenção de um resultado puramente descritivo, sem a pretensão de uma
análise crítica do tema.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 9
CAPÍTULO I
PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E SUA
AUTONOMIA....................................................................................................... 11
CAPÍTULO II
A SUBSIDIARIEDADE DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL AO PROCESSO DO
TRABALHO......................................................................................................... 19
2.1 – O PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE..................................................... 19
2.2 – LEITURA CLÁSSICA DO PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE.............. 22
CAPÍTULO III
AS RECENTES REFORMAS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E O
PROCESSO DO TRABALHO............................................................................. 30
3.1 – AS RECENTES REFORMAS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL........ 30
3.2 – AS LACUNAS DO ORDENAMENTO JURÍDICO...................................... 33
3.3 – UMA LEITURA MODERNA DO PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE..... 37
CAPÍTULO IV
A MULTA PREVISTA NO ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E
SUA APLICABILIDADE AO PROCESSO DO TRABALHO............................... 40
CONCLUSÃO...................................................................................................... 50
8
BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 52
9
INTRODUÇÃO
O presente trabalho constitui-se na análise da possibilidade da
aplicação subsidiária das regras do Código de Processo Civil ao Processo do
Trabalho, mesmo na hipótese de existência de norma expressa na Consolidação
das Leis do Trabalho em sentido contrário, notadamente a aplicabilidade da multa
de dez por cento prevista no artigo 475-J, observando-se os princípios peculiares
do Direito Processual do Trabalho.
A aplicação de normas materiais e processuais de outros ramos do
Direito na esfera trabalhista sempre provocou calorosos debates.
A Consolidação das Leis do Trabalho estabelece em matéria
processual, duas regras de aplicação subsidiária à lei trabalhista, contidas nos
artigos 769 e 889 do texto consolidado. A regra prevista no artigo 769 da CLT tem
aplicação na fase de conhecimento, enquanto que na fase de execução aplica-se
a prevista no artigo 889 do mesmo diploma. Sob a perspectiva da interpretação
histórica e teleológica, a restrição foi imposta para evitar que o uso de
procedimentos estranhos à CLT delongasse ou retardasse as demandas
trabalhistas, ou seja, para impossibilitar a utilização de novos recursos, outras
formalidades ou outros procedimentos que pudessem atravancar o desfecho do
processo trabalhista.
A Lei nº 11.232/2005 promoveu importantes alterações no Direito
Processual Civil, inaugurando a fase de cumprimento da sentença no processo de
conhecimento e uma das alterações produzidas pela referida lei foi a introdução
do artigo 475-J do CPC, que estipula multa no percentual de dez por cento sobre
o valor da condenação no caso do devedor, condenado ao pagamento de quantia
certa ou já liquidada, não proceder à satisfação do crédito exeqüendo dentro do
prazo estipulado de quinze dias.
O legislador promoveu uma enorme mudança ao adotar o denominado
sincretismo processual, ao estabelecer que o cumprimento da sentença traduz
10
mera continuação do processo de cognição, que só é concluído mediante a
efetiva entrega do direito que foi definido no título judicial. O primeiro aspecto que
merece destaque é que não há necessidade de nova citação para que seja
instaurado o processo de execução e o segundo, a imposição da multa caso o
devedor não cumpra espontaneamente a obrigação de pagar no prazo de quinze
dias.
O novo diploma legal procura concretizar a mensagem normativa
constitucional positivada no art. 5º, LXXVIII, da Constituição da República, no
sentido de garantir a razoável duração do processo, com os meios que garantam
a celeridade de sua tramitação.
A pesquisa que precedeu esta monografia teve como ponto de partida
o pressuposto de que a multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil, em
consonância com os princípios do Processo do Trabalho, é plenamente aplicável,
acarretando, conseqüentemente, uma diminuição na lentidão com que se
desenvolvem as relações processuais no Poder Judiciário, especificamente no
âmbito trabalhista, bem como proporcionando maior celeridade e efetividade à
prestação jurisdicional.
A matéria abordada pela presente monografia é bastante
controvertida, pois doutrina e jurisprudência têm procurado responder, não sem
transtornos, se a multa civilista introduzida pela Lei nº 11.232/2005 é aplicável ao
Processo do Trabalho, pois este tem como fim efetivar direitos sociais
constitucionalmente estabelecidos, principalmente porque o crédito trabalhista
tem natureza alimentar, reivindicando um comando que esteja em perfeita
harmonia com a principal finalidade do processo, que permita a maior efetividade
possível, mas observando os pressupostos exigidos para aplicação supletiva de
normas do processo civil, sem que ocorra violação da garantia constitucional do
devido processo legal.
11
CAPÍTULO I
PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E SUA
AUTONOMIA
Os princípios servem de alicerce à criação de normas processuais,
bem como se traduzem em fontes de Direito para fins de interpretação da norma
processual.
Ensina Maurício Godinho Delgado acerca dos princípios (MAURÍCIO
GODINHO DELGADO, 2006, p. 187):
Para a ciência do Direito os princípios conceituam-se como proposições fundamentais que informam a compreensão do fenômeno jurídico. São diretrizes centrais que se inferem de um sistema jurídico e que, após inferidas, a eles se reportam, informando-o .
Os princípios, além de fundamentar e inspirar o legislador na
elaboração da norma, também atuam como fonte integradora desta, suprimindo
as omissões existentes e as lacunas do ordenamento jurídico.
Deve-se ressaltar a importância da função dos princípios na
interpretação de determinada norma pelo operador do Direito. Desempenham,
portanto, os princípios, as funções informativa, normativa e interpretativa.
Dentre os princípios que dão autonomia e suporte ao Direito do
Trabalho, destaca-se o Princípio da Proteção, reputado o mais importante pela
doutrina e correspondente ao critério fundamental orientador do Direito do
Trabalho.
Manifesta-se o Princípio Tutelar em três dimensões distintas:
1ª) Princípio da norma mais favorável: havendo conflito entre duas
normas regulamentando a mesma matéria, deverá o operador do Direito optar
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pela mais favorável ao obreiro, ainda que não corresponda aos critérios clássicos
da hierarquia das normas.
2ª) Princípio da condição mais benéfica ou direito adquirido do
empregado: este princípio informa que cláusulas contratuais benéficas somente
poderão ser suprimidas caso as cláusulas posteriores sejam ainda mais
favoráveis ao obreiro, permanecendo intocadas em razão de qualquer alteração
posterior menos vantajosa do contrato ou regulamento da empresa. O Princípio
da condição mais beneféfica foi incorporado pela jurisprudência do C. TST
através das Súmulas 51 e 228, bem como pela legislação em seu artigo 468 da
CLT, que diz que nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das
respectivas condições por mútuo consentimento e, ainda assim desde que não
resultem, direta ou indiretamente prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade
da cláusula infringente desta garantia.
3ª) Princípio do in dúbio pro operário: consiste este princípio em um
critério de interpretação pelo qual, entre os vários sentidos possíveis de uma
norma, deve o juiz ou intérprete optar por aquela que seja mais favorável ao
trabalhador.
Para Sérgio Pinto Martins, o Princípio Tutelar também se aplica ao
Processo do Trabalho, quando afirma (SERGIO PINTO MARTINS apud MAURO
SCHIAVI, 2007, p. 186-187):
O verdadeiro princípio do processo do trabalho é o protecionista. Assim como no Direito do Trabalho, as regras são interpretadas mais favoravelmente ao empregado, em caso de dúvida, no processo do trabalho também vale o princípio protecionista, porém analisado sob o aspecto do direito instrumental.
Acrescenta o ilustre autor:
Não é a Justiça do Trabalho que tem cunho paternalista ao proteger o trabalhador, ou o juiz que sempre pende para o lado do empregado, mas a lei que assim o determina. Protecionista é o sistema adotado pela lei. Isso não quer dizer, portanto, que o juiz seja sempre parcial em favor do empregado, ao contrário: o sistema visa proteger o trabalhador.
13
Segundo Renato Saraiva, que é da mesma opinião de Sérgio Pinto
Martins, o Princípio da Proteção também se aplica ao Direito Processual do
Trabalho, “o qual é permeado de normas, que, em verdade, objetivam proteger o
trabalhador, parte hipossuficiente da relação jurídica laboral.” Aduz o referido
autor que “considerando a hipossuficiência do obreiro também no plano
processual, a própria legislação processual trabalhista contém normas que
objetivem proteger o contratante mais fraco (empregado)” (RENATO SARAIVA,
2008, p.47).
Relativamente a essas normas protetoras, na opinião do ilustre autor,
convém destacar os seguintes dispositivos: (id. Ibid.)
a) A gratuidade da justiça e a assistência judiciária na Justiça do
Trabalho são destinadas aos trabalhadores, não abrangendo os empregadores;
b) A inversão do ônus da prova implementada no âmbito do processo
laboral aproveita somente ao trabalhador, mediante presunções que lhe são
favoráveis.
c) O juiz do trabalho pode, de ofício, impulsionar a execução,
favorecendo ao exeqüente, no caso, o trabalhador;
d) A ausência do reclamante à audiência importa no arquivamento da
reclamação trabalhista, que tem a possibilidade de ajuizar uma nova ação
trabalhista;
e) A obrigatoriedade do depósito recursal na interposição de recurso,
com a finalidade de garantir futura execução, sendo um comando destinado tão
somente ao reclamado;
f) A reclamação trabalhista deve ser proposta na localidade em que o
empregado efetivamente prestou os seus serviços, nos termos do art. 651 da
CLT, como forma de proteger o empregado, facilitando a produção de provas pelo
obreiro, como também com o intuito de diminuir as suas despesas.
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O Direito Processual do Trabalho, conforme conceitua Renato Saraiva,
“é o ramo da ciência jurídica, dotado de normas e princípios próprios para a
atuação do direito do trabalho e que disciplina a atividade das partes, juízes e
seus auxiliares, no processo individual e coletivo do trabalho” (RENATO
SARAIVA, 2008, p.27).
Existem ainda algumas divergências na doutrina acerca do Direito
Processual do Trabalho possuir princípios próprios, e ser um ramo autônomo da
ciência jurídica. Isso se explica pelo fato do Processo do Trabalho ser incompleto,
utilizando, ainda, subsidiariamente o Processo Civil, necessitando, portanto, de
uma legislação mais abrangente que defina seus próprios princípios.
Para se aferir a autonomia de determinado ramo do Direito, é
necessário avaliar se este determinado ramo do Direito tem enfoques, princípios,
regras, teorias e condutas metodológicas próprias de estruturação e dinâmica.
José Augusto Rodrigues Pinto defende a autonomia do processo laboral,
lecionando que (JOSÉ AUGUSTO RODRIGUES PINTO apud RENATO
SARAIVA, 2008, p. 29):
Os caminhos para a autonomia do Direito Processual do Trabalho, em face do processo comum, não poderiam ser diversos dos seguidos por todos os ramos que obtiveram sua identidade própria, dentro da unidade científica do Direito. Foram por ele observados os estágios clássicos, da formação de princípios e doutrina peculiares, legislação típica e aplicação didática regular. Todos esses estágios estão cumpridos, no Brasil, sucessivamente, pelo Direito Processual do Trabalho. Acha-se ele sustentado por princípios peculiares, ainda que harmonizados com os gerais do processo, por ampla construção doutrinária, que se retrata em consistente referência bibliográfica, e por um sistema legal característico, incluindo-se, além do mais, nos currículos de graduação em Direito, na condição de disciplina nuclear [...].
O Processo do Trabalho também segue muitos dos princípios do
Direito Processual Civil, como por exemplo, os princípios da inércia, da
instrumentalidade das formas, oralidade, impulso oficial, eventualidade, preclusão,
conciliação e economia processual.
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Entretanto, há autores como Valentim Carrion, que afirmam que os
princípios do Direito Processual do Trabalho são os mesmos do Direito
Processual Civil, conforme destacado abaixo (VALENTIM CARRION, 2005, p.
578/579):
O direito processual se subdivide em processual penal e processual civil (em sentido lato, ou não penal). As subespécies destes são o processual trabalhista, processual eleitoral, etc. Todas as subespécies do direito processual civil se caracterizam por terem em comum a teoria geral do processo; separam-se dos respectivos direitos materiais (direito civil, direito do trabalho, etc.) porque seus princípios e institutos são diversos. São direitos instrumentais que, eles sim, possuem os mesmos princípios e estudam os mesmos institutos. Os princípios de todo os ramos do direito não penal são os mesmos (celeridade, oralidade, simplicidade, instrumentalidade, publicidade, etc.), e os institutos também (relação jurídica processual, revelia, confissão, coisa julgada, execução definitiva, etc.). Assim, do ponto de vista jurídico, a afinidade do direito processual do trabalho com o direito processual comum (civil em sentido lato) é muito maior (de filho para pai) do que com o direito do trabalho (que é objeto de sua aplicação). [...] Isso leva à conclusão de que o direito processual do trabalho não é autônomo com referência ao processo civil e não surge do direito material laboral. O direito processual do trabalho não possui princípio próprio algum, pois todos os que o norteiam são do processo civil (oralidade, celeridade, etc.); apenas deu (ou pretendeu dar) a alguns deles maior ênfase e revelo.
Segundo a opinião do magistrado Mauro Schiavi, apesar do Direito
Processual do Trabalho hoje estar mais próximo do Direito Processual Civil, “não
há como se deixar de reconhecer alguns princípios peculiares do Direito
Processual do Trabalho os quais lhe dão autonomia e o distingue do Direito
Processual Comum” (MAURO SCHIAVI, 2007, p.187).
A identificação dos princípios do Direito Processual do Trabalho não
encontra unanimidade na doutrina, sendo ponto de discórdia entre os autores,
cada um arrolando princípios próprios. Este trabalho passa a destacar alguns dos
princípios que orientam o Processo do Trabalho:
1) Celeridade – O processo de dissídio individual não pode ser
demorado, arrastando-se interminavelmente perante os órgãos judiciais, em razão
da matéria versada ser, basicamente, de natureza alimentar, como salários.
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Os princípios da oralidade, da irrecorribilidade das decisões
interlocutórias e da concentração, juntamente com o impulso oficial do juiz,
conduzem à formação do princípio maior denominado celeridade, objetivando a
prestação da tutela jurisdicional no menor tempo possível.
2) Princípio inquisitório ou inquisitivo – Confere ao juiz a função de
impulsionar o processo, na busca da solução do litígio, conforme previsto no
artigo 262 do CPC. No processo do Trabalho, o princípio inquisitório encontra-se
consubstanciado nos artigos 765 e 852-D da CLT, nos seguintes termos:
Art. 765 Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária aos esclarecimentos delas.
Art. 852-D O juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas, considerando o ônus probatório de cada litigante, podendo limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias, bem como apreciá-las e dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica.
3) Princípio da oralidade – A realização dos atos processuais pelas
partes e pelo próprio magistrado na própria audiência, deverá ser de forma verbal,
oral. O princípio da oralidade é de grande aplicação e se encontra disposto em
vários artigos da CLT como, por exemplo, na leitura da reclamação e defesa oral
em 20 minutos (art.847), primeira e segunda tentativas de conciliação (arts. 846 e
850), interrogatório das partes (art. 848), oitiva das testemunhas (art. 848,
parágrafo 2º), razões finais em 10 minutos (art. 850) e protesto em audiência (art.
795).
4) Princípio da concentração dos atos processuais - Este princípio tem
por objetivo que a prestação jurisdicional seja prestada no menor tempo possível,
concentrando os atos processuais em uma única audiência, conforme dispõe o
artigo 849 da CLT.
Os juízes do trabalho têm adotado, no procedimento comum, partindo a
audiência em três sessões, a saber: audiência de conciliação, audiência de
instrução e audiência de julgamento, realizando audiência única quando o feito
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envolver matéria exclusivamente de direito, ou quando a comprovação dos fatos
depender apenas de prova documental, esta esgotada com a apresentação da
peça vestibular e defesa.
Entretanto, existem juízes que realizam audiência única, concentrando
todos os atos processuais em um único momento, mesmo no procedimento
comum.
O princípio da concentração dos atos processuais se encontra
consagrado no procedimento sumaríssimo, no texto consolidado em seu artigo
852-C, que determina que as demandas sujeitas a este rito sejam instruídas e
julgadas em audiência única:
Art. 852 C As demandas sujeitas a rito sumaríssimo serão instruídas e julgadas em audiência única, sob a direção de juiz presidente ou substituto, que poderá ser convocado para atuar simultaneamente com o titular.
Do texto legal acima, pode-se destacar que a concentração dos atos
processuais em audiência objetiva prestigiar o princípio da celeridade processual,
assegurando a todos a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação, conforme reza o artigo 5º, inciso LXXVIII da
Constituição Federal de 1988, acrescentado pela Emenda Constitucional nº
45/2004.
5) Princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias -
Decisão interlocutória é o ato pelo qual, o juiz, durante o curso do processo,
resolve questão incidente. De acordo com o preceituado no art. 893, § 1º, da CLT,
as decisões interlocutórias não são recorríveis de imediato, somente permitindo-
se a apreciação do seu merecimento em recurso da decisão definitiva. Tal
princípio destoa do processo civil, que prevê no artigo 522, do CPC, a
possibilidade de revisão imediata das decisões interlocutórias.
6) Princípio da imediatidade – Este princípio permite um contato do juiz
com as partes e demais pessoas envolvidas no processo, como testemunhas,
peritos, terceiros, com o objetivo de firmar o seu convencimento, através da busca
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da verdade dos fatos. Aplicado amplamente na seara trabalhista, tendo em vista
que a prova oral é a mais utilizada no processo do trabalho.
Pode-se identificar o princípio da imediação ou imediatidade no artigo
820 da CLT, que reza que as partes e as testemunhas serão inquiridas pelo juiz,
podendo ser reinquiridas por seu intermédio, a requerimento das partes, seus
representantes ou advogados.
7) Princípio da conciliação – Este princípio é contemplado pelo artigo
764 da CLT, que determina que os dissídios individuais ou coletivos submetidos à
apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação. Tanto nos
procedimentos comum e sumaríssimo deverá o juiz do trabalho usar os meios
adequados de persuasão para a solução dos conflitos, devendo, entretanto,
quando da celebração do acordo, observar se não há prejuízos ao empregado no
tocante às cláusulas acordadas, “podendo o magistrado recusar a homologação
do acordo quando o mesmo representar, em verdade, renúncia de direitos pelo
empregado” (RENATO SARAIVA, 2008, p.40).
8) Princípio da subsidiariedade. Na fase de conhecimento, o art. 769 da
CLT disciplina que o direito processual comum será fonte subsidiária do Direito
Processual do Trabalho, desde que haja dois requisitos: omissão na legislação
trabalhista ou a norma do Processo Civil não ferir os princípios próprios do
Processo do Trabalho. E, na fase de execução, o art. 889 da CLT determina que,
nos casos omissos, deverá ser aplicada ao Processo do Trabalho a Lei de
Execução Fiscal (Lei nº 6830/1980).
Conclui-se, então, que o Direito Processual do Trabalho é um Direito
autônomo, tendo em vista que possui matéria legislativa específica
regulamentada na Consolidação das Leis do Trabalho, institutos e peculiaridades
próprios, que o diferenciam do Processo Civil. A própria Consolidação das Leis
do Trabalho, a teor do disposto no art. 769, determina a aplicação subsidiária das
regras do processo civil, em caso de omissão da norma instrumental trabalhista.
19
CAPÍTULO II
A SUBSIDIARIEDADE DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL AO
PROCESSO DO TRABALHO
2.1 – O PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
Diante das recentes alterações do Código de Processo Civil, crescem
as discussões sobre a aplicação subsidiária do Código do Processo Civil ao
Processo do Trabalho e a possibilidade da aplicação da regra processual civil,
mesmo havendo regra expressa em sentido contrário na CLT.
No tocante às recentes modificações introduzidas no Código de
Processo Civil, de aplicação controvertida, destacam-se, como por exemplo, a
declaração da prescrição ex officio, a dispensa de autenticação de peças do
processo declaradas autênticas pelo advogado e a Lei 11.232/2005, que, dentre
outras alterações, disciplina a liquidação e o cumprimento da sentença como fase
do processo de conhecimento.
Na seara processual trabalhista, a Consolidação das Leis do Trabalho
disciplina os requisitos para a aplicação subsidiária do Direito Processual Comum
ao Processo do Trabalho, no artigo 769, que dispõe:
Art. 769 Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.
Não obstante a autonomia do Direito Processual do Trabalho, este se
utiliza subsidiariamente das regras do Direito Processual comum, caso haja a
omissão do ordenamento processual e, ainda, se for compatível com este. Isto é,
não basta que o Direito Processual seja omisso. É necessário, também, que a
norma a ser aplicada seja compatível com o Processo do Trabalho e que não
ofenda os princípios trabalhistas.
20
Quando a Consolidação das Leis do Trabalho foi editada em 1943, a
norma do artigo 769 funcionava como uma cláusula de contenção destinada a
impedir que a utilização indiscriminada das regras do processo civil
comprometessem a celeridade do processo laboral, isto porque, em razão do
Código de Processo Civil utilizado ser o de 1939, que se mostrava bastante
moroso, preocupando-se mais com as tutelas protetivas do patrimônio do que
com os direitos sociais. Daí a necessidade da cláusula de contenção prevista no
artigo 769, ou seja, impedir que outros procedimentos, formalidades, pudessem
atravancar o desfecho do processo trabalhista, que é voltado para sua clientela de
autores, composta fundamentalmente de trabalhadores que buscam uma solução
mais célere nas ações trabalhistas.
Atualmente a realidade é outra, pois o processo civil, em razão das
recentes alterações legislativas, passou a consagrar a otimização do princípio da
efetividade da prestação jurisdicional, que tem no princípio da celeridade uma das
formas de manifestação.
Menos debatida, mas não menos importante, é a aplicação da Lei
6830/1980, que dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda
Pública, no processo trabalhista. Com efeito, considerando-se que o crédito
fazendário é privilegiado, antecipando-se a outros, do mesmo modo o crédito
trabalhista também o é, estando a frente de todos os demais. Na verdade, em se
tratando de subsidiariedade, a Lei 6830/80 deveria anteceder o próprio CPC nas
lacunas da execução trabalhista. A não utilização daquela em detrimento desta
talvez deva-se ao fato de não haver o processo de execução trabalhista
autônomo, já este vem a reboque do processo de conhecimento, nos mesmos
autos, ressalvada a execução provisória que se dá em carta de sentença e, por
conseguinte, em autos apartados. E é na execução provisória que a aplicação do
artigo 475-J encontra seu maior óbice na aplicação. Isto porque o executado não
pode ser compelido ao depósito do valor homologado com imputação de multa se
inexiste trânsito em julgado da decisão de mérito. Ou seja, a exceção da
aplicação do citado artigo do código processual dá-se enquanto provisória for a
execução. Outro não é o entendimento do ilustre advogado e consultor Marcelo
Almeida Tamaoki que escreveu um esclarecedor artigo sobre este tema, na
21
Revista Consultor Jurídico de outubro do corrente ano, a saber (MARCELO
ALMEIDA TAMAOKI, acesso em 09/11/2009):
Não se discute que as recentes reformas do Código de Processo Civil, em especial aquelas referentes ao anacrônico problema do processo de execução, primaram pela celeridade, brevidade e eficiência processual, na busca por uma completa e efetiva prestação jurisdicional.
No entanto, há de se analisar com um pouco mais de zelo a questão relativa à incidência da multa prevista no caso de execução provisória, multa por que? É preciso interpretar com cautela as alterações trazidas ao Código no que prevê a aplicação da multa e no ponto que autoriza a execução provisória nos moldes da execução definitiva.
Pela interpretação literal vê-se que a norma utiliza os termos condenado e condenação. Isto significa dizer que, pelo espectro do devido processo legal, havendo pendência de julgamento de eventual recurso, não restará caracterizada a situação de condenado do devedor, na medida em que há a possibilidade de reforma do título capaz de ensejar a execução provisória.
Desta forma, diante da exigência imposta pelo referido artigo de que o devedor esteja condenado, é possível concluir que houve limitação da incidência da multa em questões atinentes à execução definitiva.
E não é só. O artigo em destaque faz menção ao “pagamento”, instituto do direito material, que, enquanto modalidade de extinção das obrigações, não se coaduna com o que ocorre na execução provisória, já que nesta o devedor não realiza pagamento da dívida, mas sim a garante.
Numa interpretação teleológica, que é aquela em que se busca o fim, a ratio do preceito normativo, reside ela, fundamentalmente em estimular o pagamento da dívida. Ocorre que, como destacado, o pagamento da dívida não constitui a finalidade principal da execução provisória.
E prossegue o ilustre advogado,
Logo, “admitir a incidência do artigo 475-J do CPC na execução provisória seria o mesmo que concluir que seria possível ao executado, em qualquer execução, provisória ou definitiva, garantir o juízo para afastar a incidência da multa” (STJ, REsp 1.100.658-SP, Rel. Ministro Humberto Martins, j. em 07.05.09).
22
Dito de outra forma, a multa passaria a ter uma dupla função, qual seja, não só estimular o adimplemento voluntário, mas também serviria para o oferecimento de garantia, o que absolutamente incompatível com a teleologia do artigo da Lei que, frise-se, visa unicamente estimular o pagamento da dívida.
Numa visão lógica, há uma nítida incompatibilidade lógica em se admitir a multa prevista na execução provisória, pois o pagamento (enquanto cumprimento voluntário da obrigação) implica no reconhecimento da procedência do pedido, o que é incompatível com a vontade externada de recorrer. Bem por isso que, numa interpretação sistemática, conclui-se que a multa não é compatível com a execução provisória.
Portanto, por todos os ângulos interpretativos que se olhe a questão, depreende-se que a multa prevista no artigo 475-J não deve incidir na execução provisória. Mas o assunto, como dito, está longe de encontrar uma solução pacífica. Cabe a nós, enquanto operadores do Direito, com base nos métodos interpretativos, observarmos a orientação seguida pelos Tribunais pátrios, e aguardamos posicionamento pacificador do Superior Tribunal de Justiça que, ao que tudo indica, deve seguir pela inaplicabilidade da multa na execução provisória. É esperar para ver.
Ou seja, o eminente advogado exclui a possibilidade de aplicação na
execução provisória, mas não opõe resistência na execução dita definitiva.
2.2 – LEITURA CLÁSSICA DO PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
As hipóteses e os requisitos para aplicação de normas do Processo
Civil, em caso de omissão da legislação trabalhista, encontram-se previstas no
artigo 769 do texto consolidado, que dispõe:
Art. 769 Nos casos omissos, o direito comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste título.
Segundo o artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho, o Direito
Processual Comum será fonte subsidiária do Direito Processual do Trabalho,
desde que atendidas duas condições: houver omissão na legislação trabalhista e
houver compatibilidade entre as normas do processo civil e o processo do
trabalho. É necessária, também, a omissão da CLT bem como não tenha previsão
legal na Lei 6830/1980, que rege a cobrança dos executivos fiscais, para
utilização do Código de Processo Civil.
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A corrente tradicional parte de uma interpretação literal do artigo 769
da CLT, afirmando que a CLT não é omissa, devendo ser observado o
procedimento a ser adotado no processo de execução que se encontra previsto
nos artigo 880, 882, 884 e seguintes, utilizando-se de argumentos para afastar a
aplicabilidade das normas previstas no art. 475-J do CPC, como por exemplo:
a) Há procedimento específico previsto nos artigos 880 a 883
da CLT que concede ao executado pagar o valor devido ou garantir a
execução no prazo de 48 horas, sob pena de penhora;
b) A utilização do procedimento contido no art. 475-J ofende o
princípio do devido processo legal, direito este garantido ao
jurisdicionado pela Constituição Federal, de que não será surpreendido
com eventual desrespeito à aplicação da lei.
c) Contraria o Princípio da Legalidade, porque utilizada regra
diversa da expressamente prevista na CLT, bem como o Princípio da
Especialidade da norma trabalhista, em razão da CLT prever a penhora
de bens, não fazendo menção à estipulação de multa pecuniária.
Ilustres doutrinadores, como José Augusto Rodrigues Pinto e Manoel
Antonio Teixeira Filho, defendem a inaplicabilidade da multa de dez por cento no
Processo do Trabalho.
José Augusto Rodrigues Pinto ensina que a aplicação da norma
contribui para um desfecho mais célere do dissídio, na medida “que o torna
economicamente desestimulante ao devedor fazê-lo perdurar com intuito
procrastinatório.” Entretanto, afirma que a multa em comento é inaplicável ao
processo do trabalho (JOSÉ AUGUSTO RODRIGUES PINTO, 2006, p. 312-313):
Malgrado a evidente afinidade do resultado que isso propicia com o anseio da celeridade do processo trabalhista, em razão da inferioridade econômica do trabalhador (não apenas do empregado, em face da EC n. 45/04) e da função alimentar dos créditos que vindica na Justiça do Trabalho, não consideramos possível trazê-la do CPC para a execução trabalhista, apesar do silêncio da CLT, no particular. É que, sendo a norma impositiva de coerção econômica, há que ter aplicação
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restrita, forçando a caracterização do silêncio da legislação a ser suprida como impeditivo e não omissivo – e só esta última hipótese autorizaria o suprimento.
Segundo o ilustre Ministro do TST João Batista Brito Pereira, a regra do
artigo 475-J não se ajusta ao processo do trabalho, primeiro porque não há
previsão da referida multa no processo do trabalho, segundo porque o artigo 769
da CLT somente autoriza a aplicação supletiva das normas do processo comum,
desde que presentes os seguintes elementos: omissão e compatibilidade. Fora
desses dois elementos, estar-se-ia diante da indesejada substituição dos
dispositivos da CLT por aqueles do CPC que se pretende aplicar sob o signo da
vanguarda (JOÃO BATISTA BRITO PEREIRA, 2007, p.21).
De acordo com o entendimento do ilustre Ministro, caso o preceituado
no art. 769 da CLT, que tem como preservação a garantia da autonomia do
processo do trabalho, não seja observado, “o juiz do trabalho poderá incorrer no
pecado da desatenção aos princípios da legalidade e do devido processo legal,
inscritos, como se sabe, no art. 5º, II e LIV, da Constituição da República” (id.Ibid).
Pedro Paulo Teixeira Manus, quanto à regra prevista nos artigos 769 e
889 da CLT, aduz que a mesma “configura princípio típico do processo do
trabalho, que garante o respeito ao devido processo legal”, ou seja, sempre
quando houver previsão, norma específica disciplinando determinada matéria na
Consolidação das Leis do trabalho, o jurisdicionado terá a segurança de que não
será surpreendido pela aplicação de norma diversa (PEDRO PAULO TEIXEIRA
MANUS, 2007, p. 44).
Na opinião do magistrado, apesar da boa intenção do julgador na
aplicação da multa de dez por cento prevista no artigo 475-J do CPC, ao devedor
de quantia líquida que não a deposita no prazo de quinze dias, de estar
contribuindo para uma maior celeridade da execução e conseqüentemente para a
efetividade do processo, este procedimento não será aplicável ao processo do
trabalho. Assevera ainda que (op. cit, p. n.46-47):
Ora, este procedimento deve ser adotado no processo civil porque é legal, em decorrência da modificação produzida pela referida Lei nº 11.232/2005, afastando o antigo procedimento. Já
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no nosso caso, como visto, além do CPC não ser fonte subsidiária primeira na execução, o que até poderia se colocar como mero aspecto formal da questão, tal procedimento é ilegal, pois contraria as regras de procedimento estabelecidas nos arts. 880 a 883 da CLT. É verdade que na fase da execução já temos credor e devedor certos, do mesmo modo que o valor devido e liquidado, mas é evidente que estamos ainda sob as regras do devido processo legal, daí porque se configura ilícito determinar ao devedor o depósito obrigatório de valor devido, quando a lei faculta a garantia do juízo com outro tipo de bem.
Manoel Antonio Teixeira Filho ressalta “que a adoção supletiva de
normas do processo civil não pode acarretar alteração do sistema (procedimento)
do processo do trabalho, que é a espinha dorsal deste”. Acrescenta que “essa
adoção só se justifica como providência necessária para atribuir maior eficácia ao
sobredito sistema e não, para modificar-lhe a estrutura em que se apóia”
(MANOEL ANTONIO TEIXEIRA FILHO, 2007, p. 54).
Convém salientar que as leis de processo civil não revogam as leis do
processo do trabalho e vice-versa. Segundo o ilustre magistrado, é inaceitável a
possibilidade das normas previstas no texto consolidado, regentes da execução,
serem substituídas totalmente pelas da Lei nº 11.232/2005. Com o intuito de
conduzir o processo ao atingimento de seus objetivos, aceita-se aplicar
determinadas disposições da Lei 11.232/2005 ao processo do trabalho em caráter
supletivo, conforme preceituado no artigo 769 da CLT, com a finalidade suprir as
lacunas existentes, conduzindo o processo ao atingimento de seus objetivos,
particulares e institucionais (MANOEL ANTONIO TEIXEIRA FILHO, 2006, p.287).
Com relação à aplicação da multa prevista no art. 475-J do CPC, no
percentual de dez por cento, aduz o referido jurista (id.Ibid.)):
Quanto à multa de dez por cento, julgamos ser também inaplicável ao processo do trabalho. Ocorre que esta penalidade pecuniária está intimamente ligada ao sistema instituído pelo art. 475-J, consistente em deslocar o procedimento de execução para o processo de conhecimento. Como este dispositivo do CPC não incide no processo do trabalho, em virtude de a execução trabalhista ser regida por normas (sistema) próprias (arts. 786 a 892), inaplicável será a multa, nele prevista.
Em decisão de 2006, assim se manifestou o egrégio Tribunal Superior
do Trabalho acerca do tema:
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RECURSO DE REVISTA
REQUISITOS EXTRÍNSECOS DE ADMISSIBILIDADE
Próprio e tempestivo, o Recurso de Revista preenche os requisitos extrínsecos de admissibilidade.
I – INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 475-J DO CPC AO PROCESSO DO TRABALHO
a) Conhecimento
O Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região, em acórdão de fls. 118/123, negou provimento ao Agravo de Petição, mantendo a sentença, que aplicara a multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil à 2ª Reclamada. Eis os fundamentos:
“Sustenta a Agravante que a norma, contida no art. 475-J do CPC, é inaplicável ao processo do trabalho, porquanto a CLT contém regramento explícito relativo ao processo executório.
A Lei nº 11.232/05 produziu uma revolução no processo de execução, uma vez que o extinguiu como processo autônomo, tornando-o uma mera fase executiva do processo.
Trata-se de inovação condizente com o princípio constitucional da duração razoável do processo (artigo 5º, LXXVIII, CF), assim como ao princípio da efetividade da tutela jurisdicional.
Nessa linha de raciocínio, a reforma criou um mecanismo inovador de pressão psicológica do devedor para pagamento da dívida, ao introduzir o art. 475-J no CPC.
Dispõe o artigo 769 da CLT que, nos casos omissos, o Direito Processual Comum será fonte subsidiária do Direito do Trabalho, exceto naquilo em que for incompatível.
Nesses termos, comungo com o entendimento do Juízo de 1º grau, no sentido de que a multa civilista é perfeitamente aplicável ao processo do trabalho, tendo em vista que a execução trabalhista é omissa no que se refere as multas, e o art. 769 da CLT autoriza a utilização das regras insertas no CPC em caso de lacuna na lei trabalhista, desde que não haja incompatibilidade.
Aliás, quanto ao último requisito, tenho que a sua existência é plena, uma vez que, sendo certo que o Processo do Trabalho tem como fim efetivar direitos fundamentais, o que torna a Justiça do Trabalho uma justiça distributiva, com muito maior razão a incidência da multa, deve ser nele aplicada.
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Assim, em que pese os argumentos de alguns doutrinadores em sentido contrário, a exemplo do renomado José Augusto Rodrigues Pinto, para quem "norma impositiva de coerção econômica, há que ter aplicação restrita, forçando a caracterização do silêncio da legislação a ser suprida como impeditivo e não omissivo — e só esta última hipótese autorizaria o suprimento", (Revista LTr. v. 70, n. 3, mar. 2006, p. 313), tenho que este não é o melhor raciocínio aplicável à hipótese, que, acaso acompanhado, impediria também a aplicação subsidiária no processo do trabalho de outras penalidades constantes no caderno processual civil, a exemplo da multa por ato atentatório ao exercício da jurisdição (CPC, art. 14, parágrafo único), da multa por litigância de má-fé (CPC, arts. 17 e 18), da multa por embargos protelatórios (CPC, artigo 538, parágrafo único), da multa por ato atentatório à dignidade da justiça (CPC, art. 601) e das próprias astreintes (CPC, arts. 461 e 461-A), dentre outras.
Em suma, entendo que a multa, em análise, é plenamente aplicável ao Processo do Trabalho.
Conforme já exposto acima, dada a novidade da matéria, a jurisprudência acerca do tema ainda é incipiente. Mas já há precedentes acerca da questão, conforme aresto da Quarta Turma do TRT 3ª Região, na forma a seguir transcrita:
"MULTA — ARTIGO 475-J DO CPC. A multa prevista no art. 475-J do CPC, com redação dada pela Lei 11.232/05, aplica-se ao Processo do Trabalho, pois a execução trabalhista é omissa quanto a multas e a compatibilidade de sua inserção é plena, atuando como mecanismo compensador de atualização do débito alimentar, notoriamente corrigido por mecanismos insuficientes e com taxa de juros bem menor do que a praticada no mercado. A oneração da parte em execução de sentença, sábia e oportunamente introduzida pelo legislador através da Lei 11.232/05, visa evitar argüições inúteis e protelações desnecessárias, valendo como meio de concretização da promessa constitucional do art. 5º, LXXVIII pelo qual "A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados o tempo razoável do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação." Se o legislador houve por bem cominar multa aos créditos cíveis, com muito mais razão se deve aplicá-la aos créditos alimentares, dos quais o cidadão-trabalhador depende para ter existência digna e compatível com as exigências da vida. A Constituição brasileira considerou o trabalho fundamento da República — art.1º, IV e da ordem econômica — art.170. Elevou-o ainda a primado da ordem social — art. 193. Tais valores devem ser trazidos para a vida concreta, através de medidas objetivas que tornem realidade a mensagem ética de dignificação do trabalho, quando presente nas relações jurídicas". (Processo nº 00987-1998-103-03-00-6-AP, publicado em 02/12/2006, Juiz Relator: Desembargador Antônio Alvares da Silva.)
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Manoel Antônio Teixeira Filho ensina que o processo do trabalho
legislado é incompleto e que essa existência lacunosa foi antevista pelo próprio
legislador, como evidencia a regra inscrita no art. 769 da CLT. Em decorrência
disso, há muito tempo vem sendo adotado pelo processo do trabalho as normas
do processo civil em caráter subsidiário, propiciando--lhe meios e condições para
atingir os fins a que se destina (MANOEL ANTONIO TEIXEIRA FILHO, 2007,
p.54-55)..
Segundo ainda o ilustre doutrinador, no sistema processual do trabalho
a execução constitui processo autônomo, estando regulado pelos arts. 876 a 892
da CLT e o fato do deslocamento pelo CPC, da liquidação e a execução por
quantia certa, fundada em título judicial, para o processo de conhecimento, não
toma o processo do trabalho, só por isto, omisso ou lacunoso. Ressalta ainda que
o sistema próprio do processo do trabalho possui a figura dos embargos à
execução (art. 844), pelo qual o devedor poderá, em processo autônomo, resistir
juridicamente, aos atos executivos, constituindo esses embargos elemento
estrutural do sistema de execução do processo do trabalho - e, como tal,
indispensável e irretocável, exceto por norma legal dirigida ao próprio sistema.
Acrescenta que no que diz respeito à atitude do devedor diante do
título executivo judicial, bem como sua resistência jurídica aos atos que daí
derivam, não há omissão no processo do trabalho, repelindo, por isso a aplicação
supletória do art. 475-J do CPC. A concessão única possível, de acordo com
Manoel Antonio Teixeira Filho, diz respeito às matérias que o devedor poderia
alegar em seus embargos, pois a realidade prática demonstrou serem
insuficientes às enumeradas no art. 884, § 1°, da CLT. Neste caso, porém, a
adoção supletiva da norma do processo civil implicaria no aprimoramento do
sistema próprio do processo do trabalho, e não em alteração estrutural deste.
Prossegue o ilustre doutrinador aduzindo que, não havendo lacuna ou
omissão no sistema próprio do processo do trabalho com relação à execução, a
aplicação das normas do processo civil atinentes ao cumprimento da sentença,
especialmente a multa prevista no art. 475-J implicaria em transgressão ao artigo
769 da CLT, que adota a omissão como requisito fundamental para aplicação
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subsidiária do CPC, bem como em arbitrária derrogação dos dispositivos da CLT
preceituados nos artigos 880 a 894, que disciplinam o processo de execução.
José Augusto Rodrigues Pinto afirma que a muita prevista no art. 475-J
do CPC, ante o não cumprimento voluntário da sentença, reage como uma
astreinte, havendo uma determinação taxativa de agravar a obrigação imposta
pela sentença logo que verificada a disposição do devedor de negar-lhe
obediência, tacitamente manifestada com o esgotamento do prazo concedido
para o cumprimento espontâneo. Todavia, ensina que a multa em questão, sendo
norma impositiva de coerção econômica, há que ter aplicação restrita, forçando a
caracterização do silêncio da legislação a ser suprida como impeditivo. Somente a
omissão autorizaria o suprimento. (JOSÉ AUGUSTO RODRIGUES PINTO, 2006,
p. 312/313).
Vale mencionar que há projeto de lei n° 7152/2006 em trâmite no
Congresso Nacional visando à alteração do art. 769 da CLT, de autoria do
Deputado Luiz Antônio Fleury, do Estado de São Paulo, que acrescenta o
parágrafo único ao referido artigo, com a seguinte redação:
Parágrafo Único do art. 769, da CLT: O direito processual comum também poderá ser utilizado no processo do trabalho, inclusive na fase recursal ou de execução, naquilo que permitir maior celeridade ou efetividade de jurisdição, ainda que exista norma previamente estabelecida em sentido contrário.
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CAPÍTULO III
AS RECENTES REFORMAS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E
O PROCESSO DO TRABALHO
3.1 – AS RECENTES REFORMAS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
A Lei nº 11.232/2005, de 22 de dezembro de 2005, promoveu
consideráveis alterações no direito processual civil, objetivando a celeridade e a
economia processual, inaugurando a fase de cumprimento da sentença no
processo de conhecimento.
A Lei em comento estabeleceu para as sentenças condenatórias cíveis
por obrigação de fazer e de não-fazer, de entrega de coisa e pagamento de
quantia certa, o denominado sincretismo processual, ou seja, a reunião das
regras de cognição e de execução dos títulos judiciais num só processo, que
permite converter a execução em mera fase continuativa da cognição, em lugar
de abrir um processo autônomo, dela distinto. A Lei transpôs todas as normas
concernentes à execução de sentença do Livro II (“Do Processo de Execução”)
para o Livro I (“Do Processo de Conhecimento”) do CPC, salvo nas condenações
à Fazenda Pública, sujeitas ao processo constitucional peculiar dos precatórios.
O novo diploma legal procura concretizar os princípios da celeridade e
efetividade processual, que se encontram inseridos no artigo 5º, LXXVIII da
Constituição Federal, no sentido de para tornar mais ágil a satisfação do julgado,
à semelhança do processo do trabalho. Em razão do importante conteúdo
normativo destes princípios, devem os mesmos merecer a máxima efetividade no
processo do trabalho.
Assevera o art. 5º, inciso LXXVIII:
31
LXXVIII- A todos no processo judicial ou administrativo são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade da sua tramitação.
Uma das alterações produzidas pela Lei nº 11.232/2005 foi a
introdução do artigo 475-J no Código de Processo Civil, no capítulo referente à
liquidação de sentença, nos seguintes termos:
Art. 475-J Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.
O referido dispositivo estipula multa no percentual de dez por cento
sobre o valor da condenação, caso o devedor condenado ao pagamento de
quantia certa ou liquidada, não efetue o pagamento no prazo estipulado de quinze
dias.
A inclusão do artigo 475-J do CPC, pela Lei 11.232/2005 veio gerar
polêmica em relação à execução trabalhista na doutrina e jurisprudência. .Alguns
entendem ser plenamente aplicável a regra do CPC ao processo laboral, já que a
regra visa dar maior celeridade ao procedimento, pelo princípio da efetividade da
prestação jurisdicional. Outros, de forma contrária, entendem que tal dispositivo
não alterou o art. 880 da CLT, devendo este ser aplicado, mesmo havendo norma
processual mais célere e eficaz.
Nota-se que essa penalidade pecuniária foi instituída com a finalidade
de estimular o devedor ao cumprimento espontâneo da obrigação.
Convém destacar que não haverá necessidade de pedido expresso do
credor ao juiz, no tocante à aplicação da multa de dez por cento ao devedor,
sendo certo de que a mesma deverá ser cominada ex officio pelo juiz. Havendo,
entretanto, pagamento parcial do débito no prazo previsto no artigo 475-J do
CPC, a multa de dez por cento incidirá sobre o restante, conforme preceituado no
§ 4º do CPC.
32
Merece destaque também a desnecessidade do ato de citação do
devedor a fim de que tenha início o procedimento executivo, fixando prazo para
cumprimento voluntário da obrigação, bem como a imposição da multa em caso
do não cumprimento, no prazo estipulado de quinze dias, que tem gerado
controvérsia no seio dos operadores do Direito.
Segundo Manoel Antonio Teixeira Filho, tem ocorrido, por parte dos
magistrados que vêm aplicando o art. 475-J do CPC ao processo do trabalho,
falta de uniformidade procedimental (MANUEL ANTONIO TEIXEIRA FILHO,
2007, p. 57):
a) alguns aplicam por inteiro as disposições dessa norma forânea, adotando, assim, o procedimento nela descrito: 15 dias para cumprir, de maneira espontânea, a obrigação, sob pena de multa de dez por cento sobre o montante da dívida, e 15 dias para impugnar a sentença, desde que garantida a execução; b) outros as aplicam de maneira parcial, fragmentada, fazendo constar por exemplo, do mandado executivo que o devedor disporá de cinco, de oito, de dez ou de quinze dias para pagar a dívida, sob pena de o montante ser acrescido da multa de dez por cento (CPC, art. 475-J, caput). Neste caso, não estabelecem que, após a garantia patrimonial da execução, o devedor terá prazo de quinze dias para impugnar o título executivo (como estatui o art. 475-J, § 1º, do CPC), e sim, de cinco dias para oferecer embargos à execução, nos termos do art. 880, caput, da CLT.
Assevera o ilustre jurista que a geração de um terceiro procedimento,
conforme acima descrito, afasta a configuração do devido processo legal,
assegurado pela Constituição Federal, em seu art. 5º, LIV, gerando “uma
inquietante insegurança jurídica no espírito dos jurisdicionados, por deixá-los à
mercê do entendimento pessoal e idiossincrático de cada magistrado” (id.Ibid.)
Oportuno lembrar que se a sentença é de condenação por quantia
líquida, não haverá necessidade de intimação específica para pagamento, sendo
que o devedor deve pagar a dívida no prazo de 15 dias a contar da intimação da
sentença, não havendo necessidade de se intimá-lo novamente, porque ele sabe
exatamente o quanto deve pagar e o prazo que tem para efetuar o pagamento.
33
A questão que se coloca na seara trabalhista é saber se o juiz da
execução pode ignorar o caminho processual determinado pela CLT, sem que
haja modificação legislativa, e aplicar uma regra nova do CPC sob o argumento
de que é mais benéfico à execução ou mais eficaz ao processo do trabalho.
3.2 – AS LACUNAS DO ORDENAMENTO JURÍDICO
A questão das lacunas do Direito Processual do Trabalho e da
incompletude do sistema processual sempre gerou polêmicas. O conceito de
lacuna é controverso, não havendo um consenso sobre o referido tema.
O processo do trabalho vem adotando, há décadas, no caso das
lacunas da lei, em caráter supletório, normas do processo civil com o fim
específico de acolmatá-lo, ou seja, torná-lo completo e, deste modo, propiciar-lhe
meios e condições para atingir os fins a que se destina, objetivando a celeridade
processual.
Logo, na execução trabalhista, caso não haja respostas para suas
indagações nos dispositivos expressos da Consolidação das Leis do Trabalho, o
intérprete socorrer-se-á da Lei de Execução Fiscal. Não havendo, neste, soluções
para o caso concreto, disporá do Código de Processo Civil.
Importante observar que a adoção supletiva de normas do processo
civil não pode acarretar alteração do sistema (procedimento) do processo do
trabalho, que é a espinha dorsal deste, pois se sabe que essa adoção só se
justifica como providência necessária para atribuir maior eficácia ao sobredito
sistema e não, para modificar-lhe a estrutura em que se apóia.
Ensina Manoel Antonio Teixeira Filho, que certos setores da doutrina
da própria magistratura trabalhista entendem ser aplicável ao processo do
trabalho as disposições da Lei 11.232/1005. Destaca como um dos pontos em
comum dessa corrente de pensamente o fato de que a CLT é omissa no tocante à
matéria. Invoca a lição do jurista Norberto Bobbio a respeito das lacunas
objetivas. Acrescenta que as lacunas objetivas, segundo o referido jurista,
“decorrem da dinâmica das relações sociais, das novas invenções, de fenômenos
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econômicos supervenientes, de progressos tecnológicos, enfim, de todos aqueles
fatores que provocam o envelhecimento das normas. (MANOEL ANTONIO
TEIXEIRA FILHO, 2007, p. 53).
Conclui-se, então, que as lacunas no ordenamento jurídico não se
devem apenas à omissão do legislador, mas também à falta de atualização das
leis, já há muito tempo em vigor, chamadas pela doutrina de leis ancilosadas.
Leis ancilosadas, seriam aquelas que não possuem mobilidade, ou seja, aquelas
que não acompanharam a crescente evolução da sociedade e se encontram
estacionadas no tempo, incapazes, portanto, de solucionar problemas oriundos
dessa crescente evolução.
Segundo a teoria da estrutura tridimensional do Direito, este não se
constitui apenas de um conjunto de leis. O Direito seria analisado sobre três
aspectos, a saber: normativo, fático e axiológico.
Maria Helena Diniz defende, com base na estrutura tridimensional do
Direito, que este é essencialmente dinâmico, logo, os fatos estão em constante
evolução, assim como os valores sociais estão em contínua mutação, o que
obriga o sistema jurídico a encontrar sempre novas soluções aos problemas que
aí decorrem (MARIA HELENA DINIZ, 2001, p.437).
Conforme entendimento de Mauro Schiav, em concordância com Maria
Helena Diniz, as lacunas da legislação processual podem ser diferenciadas em
normativas, ontológicas e axiológicas, a saber (MAURO SCHIAVI, 2008, p. 1417-
1418):
a) normativas: quando a lei não contém previsão para o caso concreto. Vale dizer: não há regulamentação da lei sobre determinado instituto processual;
b) ontológicas: quando a norma não está mais compatível com os fatos sociais, ou seja: está desatualizada. Aqui, a norma regulamenta determinado instituto processual, mas ela não encontra mais ressonância na realidade, ou seja, não há efetividade da norma processual existente;
c) axiológicas: quando as normas processuais levam a uma solução injusta ou insatisfatória. Existe a norma, mas sua aplicação leva a uma solução incompatível com os valores de
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justiça e eqüidade exigíveis para a eficácia da norma processual.
Na opinião do ilustre juiz, o Código de Processo Civil deverá ser
utilizado como fonte subsidiária do Processo do Trabalho, quando o juiz do
trabalho estiver diante de lacunas normativas, ontológicas e axiológicas da
legislação processual do trabalho.
Com as recentes reformas trazidas pela Lei nº 11.232/2005, que
inaugurou o novo processo sincrético, pode-se afirmar que existem duas espécies
de lacunas no artigo 769 da CLT (CARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE, 2007,
p. 103):
a) lacuna ontológica, pois não há negar que o desenvolvimento das relações políticas, sociais e econômicas desde a vigência da CLT (1943) até os dias atuais revelam que inúmeros institutos e garantias do processo civil passaram a influenciar diretamente o processo do trabalho (astreintes, antecipação de tutela, multas por litigância de má-fé e por embargos procrastinatórios etc.), além do progresso técnico decorrente da constatação de que, na prática, raramente é exercido o ius postulandi pelas próprias partes, e sim por advogados cada vez mais especializados na área justrabalhista;
b) lacuna axiológica, ocorre quando a regra do art. 769 da CLT, interpretada literalmente, se mostra muitas vezes injusta e insatisfatória em relação ao usuário da jurisdição trabalhista quando comparada com as novas regras do sistema do processo civil sincrético que propiciam situação de vantagem (material e processual) ao titular do direito deduzido na demanda. Ademais, a transferência da competência material das ações oriundas da relação de trabalho para a Justiça do Trabalho não podem redundar em retrocesso econômico e social para os seus novos jurisdicionados nas hipóteses em que a migração de normas do CPC, impliquem melhoria da efetividade da prestação jurisdicional, como é o caso da multa ede 10% e a intimação do advogado (em lugar da citação) do devedor para o cumprimento da sentença.
Do texto acima, pode-se concluir que as recentes modificações
introduzidas no Código de Processo Civil, atinentes ao cumprimento de sentença,
primando pela otimização do princípio da efetividade da prestação jurisdicional, e,
portanto, mais eficazes que as normas da CLT, poderão ser utilizadas no
processo do trabalho para acolmatar as lacunas ontológica e axiológica das
regras constantes no texto consolidado.
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Convém salientar que haverá lacunas ontológicas e/ou axiológicas,
ainda que haja norma jurídica reguladora acerca de determinada matéria quando
a mesma não corresponda aos fatos e anseios sociais, ocasionando soluções
insatisfatórias.
O ilustre jurista Jorge Luiz Souto Maior é favorável a aplicabilidade do
Código de Processo Civil ao Processo do Trabalho, desde que observados os
requisitos da efetividade processual e melhoria da prestação jurisdicional, com os
seguintes argumentos (JORGE LUIZ SOUTO MAIOR, 2006, p.920):
Das duas condições fixadas no art. 769, da CLT, extrai-se um princípio, que deve servir para tal análise: a aplicação de normas do Código de Processo Civil no procedimento trabalhista só se justifica quando for necessária e eficaz para melhorar a efetividade da prestação jurisdicional trabalhista. A fixação deste princípio nos conduz, inevitavelmente, a uma proposição de extrema importância, qual seja: as normas do Código de Processo Civil não vinculam, automaticamente, ao juízo trabalhista.O juízo trabalhista só se valerá das normas do processo civil quando estas, sendo compatíveis com o espírito do processo do trabalho, como dito, puderem melhorar a prestação jurisdicional, no sentido da efetividade da prestação jurisdicional.(...) O direito processual trabalhista, diante do seu caráter instrumental, está voltado à aplicação de um direito material, o direito do trabalho, que é permeado de questões de ordem pública, que exigem da prestação jurisdicional muito mais que celeridade; exigem que a noção de efetividade seja levada às últimas conseqüências. O processo precisa ser rápido, mas ao mesmo tempo eficiente para conferir o que é de cada um por direito, buscando corrigir os abusos e obtenções de vantagens econômicas que se procura com o desrespeito à ordem jurídica.
A aplicação do princípio da subsidiariedade não deve ficar limitada à
interpretação literal do artigo 769 da CLT. Como bem salienta Luciano Athayde
Chaves, “o chamado princípio da subsidiaridade, previsto no art. 769 da CLT, não
encerra, portanto, uma mera técnica de colmatação das lacunas normativas.”
Acrescenta, ainda, que (LUCIANO ATHAYDE CHAVES, 2007, p. 145):
A expressão “omissão”, ali consignada, merece ser interpretada à luz das modernas teorias das lacunas, de modo a preservar a efetividade do Direito Processual do Trabalho, permitindo sua revitalização, a partir do influxo de novos valores, princípios, técnicas, institutos e ferramentas que lhe conservem a celeridade e lhe viabilizem o atingimento de seus escopos.
37
3.3 – UMA LEITURA MODERNA DO PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
Conforme regra do artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho,
tem-se a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil desde que haja
omissão do dispositivo na legislação trabalhista e na Lei de Execução Fiscal, bem
como compatibilidade entre as normas do processo civil e o Processo do Trabalho
e com os princípios que norteiam o Direito Processual do Trabalho. O conteúdo
do artigo 769 não comporta uma interpretação meramente literal, porquanto esta
conduz a uma utilização conjugada das idéias de omissão e incompatibilidade.
Segundo Luciano Athayde Chaves, Mauro Schiavi, Carlos Henrique
Bezerra Leite e Jorge Luiz Souto Maior, atualmente a utilização da
subsidiariedade no Processo do Trabalho está reclamando uma leitura moderna,
devendo ser interpretada além da literalidade do artigo 769.
O Direito do Trabalho tem como finalidade conferir igualdade ao
desigual e tendo em vista a natureza alimentar do crédito trabalhista, faz-se
necessário imprimir celeridade ao processo trabalhista, permitindo a maior
efetividade possível, observando-se o princípio da celeridade e da razoável
duração do processo, previsto no inciso LXXVIII do artigo 5º da Constituição
Federal, acrescentado pela Emenda Constitucional nº 45/2004. Contudo, quando
as normas do processo comum se apresentam mais eficazes que as normas do
processo do trabalho, assegurando uma prestação jurisdicional mais célere,
aquelas deverão ser aplicadas subsidiariamente ao processo do trabalho.
Carlos Henrique Bezerra Leite destaca que, para acolmatar as lacunas
ontológica e axiológica existentes no art. 769 da CLT, será necessário que haja
“uma nova hermenêutica que propicie um novo sentido ao seu conteúdo devido
ao peso dos princípios constitucionais do acesso efetivo à justiça que determinam
a utilização dos meios necessários para abreviar a duração do processo”.
Segundo o referido autor, para acolmatar as referidas lacunas constantes na CLT,
deve-se “estabelecer a heterointegração do sistema mediante o diálogo das
fontes normativas com vistas à efetivação dos princípios constitucionais
38
concernentes à jurisdição justa e tempestiva” (CARLOS HENRIQUE BEZERRA
LEITE, 2007, p. 103).
Todas as fases reformistas do processo civil tiveram como finalidade
principal a efetividade da prestação jurisdicional. Com isto, assistimos ao avanço
do Direito Processual Civil, buscando inspiração na CLT, adotando os princípios
mais pungentes do nosso direito instrumental, como é o caso, por exemplo, da
celeridade e da simplicidade, que vem se expressando desde a reforma de 1992.
Em contrapartida, o Direito Processual do Trabalho vem sendo negligenciado pelo
legislador. Portanto, as normas do processo civil devem ser aplicadas ao
processo do trabalho, desde que impliquem maior efetividade à tutela jurisdicional
dos direitos trabalhistas. O processo do trabalho vem adotando a incidência de
regras não omissas, porém aplicadas, em razão de serem mais céleres e efetivas
da prestação jurisdicional. Como exemplo, observa-se a Súmula nº 303 do
colendo TST, segundo a qual – mesmo diante de disposição legal expressa no
art. 1º, V, do Decreto-lei nº 779/1969, que determina a remessa necessária
obrigatória de sentença total ou parcialmente desfavorável aos entes públicos – é
aplicável a norma do § 2º do artigo 475 do CPC, que não admite a remessa
necessária sempre que a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo
não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos ou quando a decisão estiver em
consonância com decisão plenária do Supremo Tribunal Federal ou com súmula
ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho.
A heterointegração dos processos civil e trabalhista pressupõe a
interpretação evolutiva do art. 769 da CLT, permitindo a aplicação subsidiária do
CPC não apenas na hipótese tradicional de lacuna normativa do processo laboral,
mas também quando a norma do processo trabalhista apresentar manifesto
envelhecimento que, na prática, impede ou dificulta a prestação jurisdicional justa
e efetiva, em face de institutos processuais semelhantes adotados em outras
esferas da ciência processual, mais modernos e eficazes. Para tanto, é
necessário avançar na teoria das lacunas do direito, como bem salienta o ilustre
magistrado (LUCIANO ATHAYDE CHAVES, apud CARLOS HENRIQUE
BEZERRA LEITE, p. 101):
39
“Precisamos avançar na teoria das lacunas do direito (quer sejam estas de natureza normativa, axiológica ou ontológica),a fim de reconhecer como incompleto o microssistema processual trabalhista (ou qualquer outro) quando – ainda que disponha de regramento sobre determinado instituto – este não apresenta fôlego para o enfrentamento das demandas contemporâneas, carecendo da supletividade de outros sistemas que apresentem institutos mais modernos e eficientes.
Essa releitura do método de heterointegração do Processo do trabalho
também mereceu a análise de Jorge Luiz Souto Maior que ensina (JORGE LUIZ
SOUTO MAIOR, 2006, p. 920-921):
Ora, se o princípio é o da melhoria contínua da prestação jurisdicional, não se pode utilizar o argumento de que há previsão a respeito na CLT, como forma de rechaçar algum avanço que tenha havido neste sentido no processo comum, sob pena de negar a própria intenção do legislador ao fixar os critérios de aplicação subsidiária do processo civil. Notoriamente, o que se pretendeu (daí o aspecto teleológico da questão) foi impedir que a irrefletida e irrestrita aplicação das normas do processo civil evitasse a maior efetividade da prestação jurisdicional trabalhista que se buscava com a criação de um procedimento próprio da CLT (mais célere, mais simples, mais acessível). Trata-se, portanto, de uma regra de proteção, que se justifica historicamente. Não se pode, por óbvio, usar a regra de proteção do sistema como óbice ao seu avanço. Do contrário, pode-se ter um processo civil mais efetivo que o processo do trabalho, o que é inconcebível, já que o crédito trabalhista merece tratamento privilegiado no ordenamento jurídico como um todo. Em suma, quando há alguma alteração no processo civil o seu reflexo na esfera trabalhista só pode ser benéfico, tanto sob o prisma do processo do trabalho quanto do direito do trabalho, dado o caráter instrumental da ciência processual.
Conclui-se ser necessária a heterointegração no processo do trabalho,
estabelecendo-se a implementação do diálogo das fontes normativas
infraconstitucionais do CPC e da CLT, à luz do novo modelo principiológico que
assegura a todos a duração razoável do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação”, previsto no artigo 5º, inciso LXXVIII, da
Constituição da República.
40
CAPÍTULO IV
A MULTA PREVISTA NO ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL E SUA APLICABILIDADE AO PROCESSO DO
TRABALHO
As recentes alterações do Código de Processo Civil, principalmente a
Lei 11.232/2005, têm provocado o crescimento das discussões acerca da
aplicação subsidiária do Código de Processo Civil ao Processo do Trabalho, bem
como da possibilidade da aplicação da regra processual civil se há regra expressa
em sentido contrário na CLT.
Uma das alterações introduzidas pela referida Lei no Código de
Processo Civil, no capítulo atinente à liquidação de sentença, e que, sem dúvida,
vem merecendo grande atenção da doutrina é o art. 475-J, cujo teor é o seguinte:
Art. 475-J Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não efetue o prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido da multa de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.
Trata-se de multa de dez por cento sobre o valor total da condenação,
em favor do credor, a ser paga pelo devedor, se este não quitar a dívida no prazo
de quinze dias. A aplicabilidade da multa contida no artigo 475-J é polêmica, de
dez que o juiz do trabalho, em especial o da execução, deve adotar
procedimentos que tornem mais ágil a satisfação do julgado, imprimindo
celeridade na tramitação da execução, conforme preceitua o art. 5º, inciso LXXVIII
da Constituição Federal, bem como precisa garantir às partes o devido processo
legal.
O art. 769 da CLT disciplina a regra para aplicação somente na fase de
conhecimento, tendo o Código de Processo Civil como primeira fonte subsidiária a
ser aplicada ao processo do trabalho, a saber:
41
Art. 769 Nos casos omissos o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível. com as normas deste Título.
Já na fase de execução no processo do trabalho, a regra da aplicação
da lei subsidiária encontra-se disciplinada n art. 889 da CLT e não no artigo 769,
que afirma:
Art 889 Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida da Fazenda Pública Federal.
Logo, na fase de execução, o Direito Processual Comum será a fonte
subsidiária do Processo do Trabalho, desde que não haja previsão legal nos
dispositivos da Lei 6.830/1980, que versa sobre a execução da dívida da Fazenda
Pública, bem como a compatibilidade das regras do CPC com os princípios do
processo trabalhista.
Desse modo, a lei estabelece regra específica a se aplicar tanto na
fase de conhecimento quanto na fase de execução, havendo em comum na
aplicação de ambas as leis o requisito da omissão pela CLT.
A polêmica existente no âmbito do processo do trabalho é saber se
pode o intérprete aplicar a multa estipulada no artigo 475-J do Código de
Processo Civil ao Processo do Trabalho sem que haja modificação legislativa, sob
fundamento de que o procedimento é mais eficaz do que a regra prevista no texto
consolidado.
Certos setores da doutrina e da própria magistratura brasileira do
primeiro grau de jurisdição vêm entendendo que as disposições da Lei
11.232/2005, reguladoras do cumprimento da sentença são aplicáveis ao
processo do trabalho, tendo como fundamentos a omissão na CLT acerca do
tema e que sua aplicação importa no atendimento à cláusula constitucional da
razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII).
A aplicação da multa do art. 475-J do CPC tem gerado controvérsia,
tendo em vista a sistemática diferenciada da execução no processo comum em
42
relação ao processo do trabalho. No processo civil, após o trânsito em julgado da
sentença condenatória em quantia certa, o devedor terá o prazo de quinze dias
para efetuar o pagamento ao credor e, caso isto não se concretize, ser-lhe-á
aplicada automaticamente a multa de dez por cento sobre o montante da
condenação. Na seara trabalhista, a artigo 880 preceitua que o devedor seja
citado para pagamento da dívida no prazo de 48 (quarenta e oito) horas ou
garanta a execução, sendo-lhe facultada a indicação de bens à penhora, nos
termos do artigo 882 da CLT.
A CLT prevê em seus artigos 880 a 883, normas referentes à
execução. Porém, levando-se em conta existência de incompatibilidade das
referidas normas com o princípio da duração razoável do processo e a celeridade
de sua tramitação, insculpido no art. 5º inciso LXXVIII da Constituição Federal,
pode-se questionar a aplicabilidade da multa do art. 475-J ao Processo do
Trabalho. Vale ressaltar que o sistema processual trabalhista adota três multas
que são aplicadas mesmo sem previsão na CLT, a saber: multa e indenização de
litigância por má-fé, atos atentatórios à dignidade da justiça, na fase de execução
e multa por embargos de declaração quando são meramente protelatórios.
Importante salientar que com a introdução do artigo 475-J no Código
de Processo Civil pela Lei 11.232/2005, não será necessária nova citação do
executado para a fase de cumprimento, já que esta, a rigor, passou a integrar o
próprio processo cognitivo. Entretanto, quanto aos créditos decorrentes de
execução contra a Fazenda Pública, seja na forma de precatório ou na
modalidade de requisição de pequeno valor, esta nova regra não tem
aplicabilidade, devendo ser observado o artigo 730 do Código de Processo Civil,
que exige a citação do devedor. Logo, o artigo 475-J do Código de Processo Civil
não atingiu a execução contra a Fazenda Pública, permanecendo, por força da lei,
os mecanismos processuais que lhe são inerentes na fase executiva, bem como
sua autonomia em relação à etapa cognitiva.
Vale lembrar que tendo em vista o grande número de demandas
trabalhistas hoje existentes na Justiça do Trabalho e conseqüentemente o grande
número de execuções, será enorme a economia aos serviços judiciários quando
43
dispensada a confecção de mandados citatórios, sem levar em conta o número de
vezes que um Oficial de Justiça comparece ao local da diligência sem obter êxito
na localização do executado para efetuar a citação, acarretando na morosa
providência da citação por edital (§ 3º, art. 880 da CLT).
Oportuno destacar o posicionamento de Luciano Athayde Chaves que
apóia a inovação introduzida pela Lei 11.232/2005 (LUCIANO ATHAYDE
CHAVES, 2007, p. 147):
Com efeito, o art. 880 da CLT ainda conserva a superada idéia de autonomia do processo de execução, na medida em que alude à necessidade de “mandado de citação ao executado, a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo”. Cuida-se de comando normativo atingido em cheio pelo fenômeno do ancilosamento normativo, diante do que preconiza a atual dinâmica do processo comum, abrindo caminho para o reconhecimento do que a Ciência Jurídica denomina de “lacuna ontológica”.
Segundo o ilustre magistrado, trata-se da “hipótese mais evidente de
lacuna ontológica do microssistema processual trabalhista”, e tendo em vista o
processo comum dispor de uma estrutura que superou a exigência de nova
citação para que se faça cumprir as decisões judiciais, contribuindo para a
celeridade, economia e efetividade processuais, o intérprete não deverá manter-
se fiel ao preceituado no artigo 880 da CLT. Acrescenta ainda que (LUCIANO
ATHAYDE CHAVES, 2007, p. 147):
O sistema processual possui um tronco estruturante, que é a Teoria Geral do processo, a qual, a mercê das alterações promovidas pela Lei nº 11.232, não mais comporta a arquitetura anterior que separa a fase de conhecimento daquela onde são promovidos os atos judiciais tendentes a dar efetividade ao decreto judicial condenatório.
Ainda, segundo o eminente magistrado, poder-se-ia, inclusive,
sustentar a existência de verdadeira lacuna normativa, atraindo, por conseguinte,
a incidência do art. 769 da CLT, e via de conseqüência, a aplicação do art. 475-J
do CPC, de vez que ausentes as normas processuais trabalhistas que disciplinam
o cumprimento, no processo cognitivo, de título judicial fundado em obrigação de
pagar (op. cit, p. 148).
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Conforme se depreende do art. 475-J do CPC, não haverá
necessidade de pedido expresso do credor ao juiz no sentido de que este
imponha a multa de dez por cento ao devedor. Observa-se, também, caso haja o
pagamento parcial da dívida, que a multa incidirá sobre o saldo remanescente e
não sobre o total da condenação, conforme expresso em seu parágrafo 4º.
Sérgio Cabral dos Reis entende ser aplicável a multa prevista no artigo
475-J do CPC ao Processo do Trabalho. Sendo matéria nova, é natural que haja
dúvidas e incompreensões por parte da doutrina e jurisprudência. Afirma que não
há não há violação ao disposto no artigo 769 da CLT, visto que existe lacuna
legislativa, bem como há compatibilidade com os princípios do processo do
trabalho. Leciona que a mesma “contribuirá para a busca da efetividade do
processo, uma vez que somente terá como destinatário o devedor que tiver
patrimônio suficiente a se sentir psicologicamente pressionado a quitar o débito.”
No entanto, caso haja interesse no cumprimento voluntário da obrigação por parte
do devedor, depositando quantia um pouco inferior, a multa não deverá ser
aplicada, à luz do princípio da razoabilidade. Na opinião do ilustre magistrado,
devem prevalecer os princípios da boa-fé e da lealdade processual, caso haja
dúvida sobre o valor devido. Finaliza, concluindo que “só haverá a execução da
multa sobre o restante, se o executado, ao seu alvedrio, injustificadamente não
cumprir a obrigação de maneira integral” (SÉRGIO CABRAL DOS REIS, 2007, p.
166 e 169).
Luciano Athayde Chaves também entende ser aplicável a multa de dez
por cento prevista no art. 475-J do CPC na seara trabalhista, tendo em vista o
grande volume processual existente no universo judiciário, afirmando que “é mais
do que salutar o incremento dessa ferramenta entre nós, de modo a estimular o
pagamento espontâneo da obrigação, fazendo reduzir os recursos meramente
protelatórios” (LUCIANO ATHAYDE CHAVES, 2007, p.150).
Já se tem, inclusive, precedente Regional em apoio à tese
da aplicação da multa:
MULTA DO ART. 475-J DO CPC. APLICABILIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO. A multa prevista no artigo 475-J do
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CPC, segundo as diretrizes estabelecidas no artigo 769 da CLT, aplica-se subsidiariamente ao processo do trabalho, uma vez que o arcabouço normativo que regulamenta esse processo não contempla uma penalidade específica para a hipótese de inadimplemento voluntário de condenação ao pagamento de quantia certa. A matéria, portanto, não é disciplinada pela legislação laboral, o que equivale a dizer que está presente, na espécie, o pressuposto da omissão. No que tange ao requisito da compatibilidade, vale lembrar que o escopo nuclear da instituição da referida multa consiste em obter, de forma célere, a quitação do débito exeqüendo. Sendo assim, torna-se inquestionável que a norma em exame se amolda à realidade do processo trabalhista, onde os títulos judiciais, por contemplarem, via de regra, obrigação de natureza alimentar, reclamam, com maior razão, adimplemento imediato pelo devedor.(TRT – 23ª Região – RO 01335-2008-051-23-00-8 – 1ª Turma – Rel.Desembargador Tarcísio Valente – publicado em 15/10/2009)
EXECUÇÃO. MULTA DO ART. 475-J. APLICAÇÃO NA JUSTIÇA DO TRABALHO. O processo civil, notadamente quanto à fase de execução, sofreu transformações que não podem ser descartadas de plano pela Justiça do Trabalho, até porque muitas delas foram inspiradas no processo trabalhista e se respaldam na garantia à jurisdição célere expressa no art. 5º, LXXVIII da CF. O art. 475-J do CPC intenta conferir maior celeridade e efetividade ao provimento judicial: a intimação da parte com vistas a estimular o cumprimento espontâneo da obrigação, no prazo de 15 dias, pena de multa de 10% sobre o montante da condenação, não apresentando incompatibilidade com o processo trabalhista. Nem mesmo à luz do art. 769 da CLT se justifica a resistência à aplicação do art. 475-J do CPC. Com feição inovadora, referido dispositivo cria tramitação prévia, no interstício temporal que antecede a execução forçada, prescrevendo ato a ser praticado após a liquidação da sentença, que se materializa pela expedição de simples intimação à parte a fim de que se disponha a cumprir o comando sancionatório da decisão cognitiva, sob pena de multa. A CLT não traz qualquer dispositivo semelhante, não havendo pois, a suposta incompatibilidade. Os dispositivos da CLT incidem a partir da execução forçada do decisum (art. 880 e segs), e portanto, somente após intimada a parte para depositar o valor da condenação. Vê-se, pois, que o art. 475-J tem incidência antes das demais disposições constantes na CLT e mesmo daquelas de que cuida a Lei 8.630/80 (executivos fiscais), aplicadas subsidiariamente. Daí porque concluímos que (1) o septuagenário portal do artigo 769 da CLT não pode engessar o direito processual do trabalho, a ponto de excluí-lo de todo o progresso da legislação; (2) a CLT e a Lei 6.830/80 não tratam especificamente dessa modalidade de cobrança preliminar sob pena de multa, de sorte que o art. 475-J do CPC veio preencher um vazio legal, restando autorizada sua aplicação subsidiária ao processo trabalhista; (3) as modificações sofridas pelo processo civil representam um aporte legal vanguardista, harmônico com a instrumentalidade, celeridade e efetividade que se busca imprimir ao processo trabalhista, mormente no que concerne à fase de execução em que via de regra intenta-se a satisfação de créditos
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de natureza alimentar. (TRT – 2ª Região – AP 00046-2006-002-02-00-4 - 4ª Turma – Rel. Ricardo Artur Costa e Trigueiros – publicado em 18/09/2009)
EMENTA: PROCESSO DO TRABALHO SÁBIA SIMPLICIDADE DO LEGISLADOR MANTENEDORA DE UMA PERENE MODERNIDADE AVAREZA QUE TROUXE FRUTOS DURANTE LONGOS ANOS CRIAÇÕES DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL ALTAMENTE POSITIVAS, COM BASE NO ART. 769/CLT MULTA DO ART. 475-J – AVANÇO QUE NÃO PODE SER DESPREZADO POR EXCESSIVO FORMALISMO – OMISSÃO LEGISLATIVA E COMPATIBILIDADE INTRÍNSECA E EXTRÍNSECA REVELADA PELA UNIDADE DO SISTEMA A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO E NÃO APENAS POR LEIS ORDINÁRIAS (CLT E CPC) – A timidez legislativa em torno do Processo do Trabalho e, em especial, acerca da execução, que, sabiamente, sempre e sempre foi tratada como fase e não como processo distinto da cognição, nunca foi causa para a estagnação do Processo do Trabalho. Ao revés, a contribuição da doutrina, dos advogados e dos juízes foi intensa e extensa, pois as dificuldades tinham de ser superadas mediante a interpretação sistemática e harmoniosa do ordenamento jurídico, assim como com muita criatividade, recentemente alimentada pela dicção do art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal. O Código de Processo Civil de 1973 adotou, sem muito estardalhaço, alguns avanços obtidos pelo Processo do trabalho, despindo-se de algumas formalidades desnecessárias, que só se justificam para a garantia do contraditório. Já a reforma implementada, paulatinamente, a partir da década de noventa, isto é, a partir de 1994, com a modificação do art. 461 do CPC, e, ao depois, mais especificamente, em dezembro de 2004, com a assinatura de um compromisso, que reuniu os chefes dos três Poderes em torno de onze propostas para a agilização e para a efetividade do processo, deu novo colorido ao Processo Civil. Em 22 de Dezembro de 2005, foi publicada a Lei n. 11.232, com vigência seis meses após essa data, introduzindo novas regras para a execução de títulos judiciais, visando à modernização da execução, que constitui o resultado último e útil do processo, porque tudo se deve fazer, nos limites da lei, para que o comando sentencial seja cumprido e o credor receba o que lhe é devido. Estatui o art. 475-J que, caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento. Esse dispositivo legal é, a todas as luzes, aplicável ao Processo do Trabalho. Nos termos do art. 769 da CLT, o CPC será fonte subsidiária do Direito Processual do Trabalho, nos casos omissos e desde que haja compatibilidade. Os requisitos são, por conseguinte, a omissão e a compatibilidade. Omissão é falta, lacuna; é ausência de norma, vazio legislativo; é fissura da lei. Assim, impõe-se o reconhecimento de que a CLT é omissa a esse respeito regra reforçadora e estimuladora do cumprimento da sentença. Nem se diga que o fato de a Consolidação possuir um Capítulo destinado à execução elide a omissão, ao argumento de que existem normas disciplinadoras desta fase processual.
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Obviamente, algumas regras teriam de existir, sob pena de omissão completa e de fragmentação da autonomia do Processo do Trabalho. Da mesma forma, o fato de a CLT possuir uma Seção destinada às provas, assim como a tantos outros institutos nunca impediu a aplicação subsidiária do CPC. Por outro lado, compatibilidade é harmonia, consistência, coexistência; é algo que possui atributos compatíveis, que é conciliável. O antônimo de omissão é a plenitude; e ninguém a diria presente na CLT. O antônimo de compatível é incompatível, isto é, aquilo que não pode coexistir com outra coisa; inconciliável; incombinável difícil sustentar incompatibilidade interior ou exterior do art. 475-J do CPC, com a execução trabalhista. As qualidades do Processo do Trabalho não devem se limitar ao que já existe; devem ir além e buscar o que há de bom e compatível, por expressa determinação do art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal. Assim, a incidência da multa, caso o devedor não efetue o pagamento no prazo de quinze dias, constitui um importante reforço ao cumprimento espontâneo da condenação, mediante a quitação do débito processual, em favor do credor o empregado. Ainda que se queira ser extremamente apegado à literalidade do art. 475-J, no tocante ao prazo de quinze dias, plenamente adaptável ao art. 880/CLT, inclusive tendo em vista a natureza do crédito trabalhista, essencialmente alimentar e vinculado à satisfação dos direitos sociais 3ª. dimensão os dois prazos podem fluir paralelamente, um sem interferir no outro, até que os trâmites da execução esbarrem no termo final de quinze dias, quando, então, a multa de 10% incidirá incondicionalmente, caso o devedor não efetue espontaneamente o pagamento do montante da condenação. Omissão jus processual trabalhista que precisa ser preenchida pelo intérprete, bem como compatibilidade intrínseca e extrínseca que deve ser reconhecida, de uma vez por todas, sem muitos entraves e discussões, para o aperfeiçoamento, para o aprimoramento e para a efetividade das sentenças judiciais. E mais: a multa pode ser cominada na fase de execução de qualquer processo, independentemente da época da prolação da sentença, a qualquer momento, a requerimento ou de ofício pelo Juiz, suficiente a notificação da parte devedora a respeito do prazo legal de quinze dias para a quitação do valor da condenação, sem que haja a necessidade da prática dos atos propriamente relacionados com a execução. O juiz deve velar pelo rápido andamento do processo, potencializando a norma do art. 5º, inciso LXXVIII, compatibilizando-a, no sistema, com toda e qualquer norma de índole processual, que tenha por fito dar efetividade à centralidade e à valorização do trabalho, como forma de realçar o princípio da dignidade da pessoa do trabalhador e resgatar, definitivamente, a credibilidade do Poder Judiciário. O art. 475-J não fixa prazo para a quitação do débito, mediante atos de execução judicial. O prazo nele referido é para o pagamento da dívida, sem atraso, sem burocracia, sem entrave. Não me parece que a incidência da multa fica afastada com a interposição de embargos à execução ou de agravo de petição, pois não há menção neste sentido na referida norma, a não ser, como parece óbvio que, com o manejo dos referidos meios impugnatórios, a Devedora consiga desconstituir toda a dívida, ou parte dela. Mas, mesmo nesta última hipótese, a multa incidirá sobre o saldo
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incontroverso da dívida, já que a Devedora deveria ter pago ao Credor a parte do crédito que entendia devida, sem deixar de assumir, no entanto, os riscos de ter de quitar a multa sobre o restante ou sobre o valor que for fixado como efetivamente devido, haja vista que não há dúvida de que a multa em questão visa a evitar a protelação da execução, através do manejo de recursos inaptos para modificar, efetivamente, o valor do crédito exeqüendo. Por conseqüência, não basta a realização do depósito para a garantia do Juízo (obviamente destinado a assegurar a interposição de embargos à execução) para se obstar a incidência da multa sobre o valor devido ao reclamante. (TRT – 3ª Região – AP 01566-2003-012-03-00-3 – 4ª Turma – Rel. Luiz Otávio Linhares Renault – publicado em 21/06/2008)
MULTA DO ART. 475-J DO CPC. APLICABILIDADE AO PROCESSO DO TRABALHO. A multa prevista no artigo 475-J do CPC é aplicável ao processo do trabalho, nos termos dos artigos 769 e 889 da CLT e da OJ EX SE 203. [...] 2. Inaplicabilidade do art. 475-J do CPC. A executada pretende o afastamento da multa do art. 475-J do CPC sob o fundamento de que referido dispositivo não é aplicável ao processo do trabalho eis que este já dispõe de norma expressa acerca da execução dos valores devidos, o art. 880 da CLT, não havendo a omissão requerida pelo art. 769 do mesmo diploma, fazendo referência ainda a jurisprudências de outros Tribunais Regionais do Trabalho bem como do C. TST. Sem razão. Este E. Tribunal já pacificou o entendimento de que a multa prevista no art. 475-J do CPC afigura-se compatível com o procedimento executório previsto na CLT, nos termos da OJ EX SE 203 desta Seção Especializada, com o seguinte teor: "MULTA - ART. 475-J DO CPC. APLICABILIDADE AO PROCESSO DO TRABALHO. A multa prevista no artigo 475-J do CPC é aplicável ao Processo do Trabalho, nos termos dos artigos 769 e 889 da CLT, observados os seguintes parâmetros: I - a multa incidirá no prazo de 15 (quinze) dias, contados da data da intimação do trânsito em julgado da sentença, quando líquida (artigo 852 da CLT), ou da data da intimação da decisão de liquidação; II - transcorrido o prazo sem pagamento, proceder-se-á à citação do réu para que, em 48 horas, pague o valor da condenação já acrescido da multa de 10% ou nomeie bens à penhora, nos termos do artigo 880 da CLT;III - o pagamento parcial no prazo fará incidir a multa apenas sobre o restante do valor da condenação;IV - a citação para pagamento ou nomeação de bens prescinde do requerimento do credor, sendo inaplicável a segunda parte do caput do artigo 475-J do CPC;V - não é necessária a intimação pessoal do devedor para incidência da multa;VI - a multa é inaplicável na execução provisória, bem como na hipótese de execução contra a Fazenda Pública".Na hipótese, a execução é definitiva, sendo que após homologados os cálculos de liquidação, a devedora foi intimada para pagamento no prazo de 15 dias, sob pena de incidência da multa de 10% sobre o total do crédito em execução, reputando-se escorreito o procedimento adotado pelo r. Juízo de origem, sem que se vislumbre qualquer contrariedade à CLT, cujos dispositivos que tratam da execução trabalhista se afiguram compatíveis com o disposto no artigo 475-J do CPC, conforme consignado na OJ
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retro mencionada. Logo, em que pesem os argumentos da agravante, a multa prevista no artigo 475-J do CPC não é inconciliável com o processo do trabalho, de modo que é indevida sua exclusão. Mantenho. [...] (TRT – 9ª Região – AP 03119-2005-006-09-00-6 – Seção Especializada do TRT - 9ª Região – Rel. Rubens Edgard Tiemann – publicado em 20/10/2009)
DA MULTA DO ART. 475-J DO CPC Alega a Recorrente ser inaplicável a multa em epígrafe, esclarecendo que as regras do processo civil somente se aplicam ao processo trabalhista quando a CLT não regular a matéria. Que no caso em tela, a primeira fonte subsidiária a ser aplicada em execução trabalhista seria a Lei de Execução Fiscal, sendo certo que o processo civil somente seria utilizado como segunda opção. A Lei nº 11.232/2005 acrescentou ao Código de Processo Civil o artigo 475-J, o qual estipula o acréscimo da multa de 10% (dez por cento) ao valor líquido da condenação ou fixado por liquidação, caso o devedor não efetue o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias. O recurso ao direito processual comum como fonte subsidiária do Processo do Trabalho, como se sabe, dá-se na hipótese de existência de omissões no diploma celetista e desde que haja compatibilidade com os princípios processuais trabalhistas, nos termos do artigo 769 da CLT. A multa de 10% (dez por cento) prevista no artigo 475-J situa-se no Capítulo X do Título VIII do CPC, o qual disciplina o procedimento ordinário. Com efeito, o referido capítulo trata da fase de cumprimento espontâneo da sentença, inovação trazida pela Lei nº 11.232/2005, que consagrou o chamado processo sincrético no ordenamento processual pátrio. Portanto, considerando-se que: 1) a multa é aplicada ainda na fase de conhecimento (ou de liquidação, como no caso); 2) a CLT apresenta lacuna normativa; e 3) não há incompatibilidade com os Princípios do Processo do Trabalho, visto que a multa visa a compelir o devedor ao pagamento, tornando a entrega da tutela jurisdicional mais célere, não há afronta à sistemática adotada pela CLT para a execução trabalhista. Desta feita, o preceito punitivo contido no artigo 475-J revela-se perfeitamente aplicável ao Processo do Trabalho. No tema, convém reproduzir entendimento jurisprudencial convergente: “Não há óbice à aplicação, no processo do trabalho, do art. 475-J do CPC, por existir omissão na CLT (art. 769). Nem a lei celetista, nem a Lei 6.830/80, tratam especificamente sobre a forma preliminar de cobrança de dívida certa ou já liquidada, procedimento este que verdade é pré-executório. Não há qualquer incompatibilidade, portanto, com o processo trabalhista. A Lei 11.232/05 acresceu diversos dispositivos ao Código de Processo Civil, justamente com a intenção de facilitar a satisfação do crédito exeqüendo. É de primordial importância que o Judiciário Trabalhista atue na mesma linha de raciocínio que a instância civil, visando garantir a efetividade do comando judicial, a fim de evitar prejuízos não passíveis de reparação, como por exemplo, o perigo da demora do efetivo pagamento do débito ao credor.” (TRT/SP - 02765200102902004 - AP - Ac. 4ªT 20081083143 - Rel. SERGIO WINNIK - DOE 20/01/2009) Nego provimento. (TRT – 1ª Região – RO 01011-2003-034-01-00-0 – 8ª Turma – Rel. Paulo Marcelo de Miranda Serrano – publicado em 21/10/2009)
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CONCLUSÃO
De tudo o que até agora se viu, pode-se concluir pela perfeita
aplicabilidade do artigo 475-J do Código de Processo Civil ao rito processual
trabalhista. Não bastasse a singeleza da execução no Processo do Trabalho,
muito devido pela antiguidade do Decreto-lei nº 5.452, que a duras penas vem
sendo atualizado nem sempre com a velocidade que os novos tempos exigem,
tem-se também, como já anteriormente demonstrado, a possibilidade de
aplicação de fontes diversas do Direito, quando assim exige a efetividade do
processo. De fato, não há porque deixar-se de aplicar determinada previsão
contida no Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), se isto vier a
emprestar celeridade ao processo. É o que se pretende, precisamente, com a
aplicação do artigo 475-J do CPC. Muito mais do que um benefício pecuniário,
qual seja, a multa de dez por cento aplicada sobre o crédito em execução, tem-se
que a aludida multa induz, sobremaneira, o devedor ao pagamento do crédito
exeqüendo, isto porque o devedor solvente não verá razão para postergar o
pagamento, sabendo que após o prazo de quinze dias incidirá a multa ora em
estudo.
Foi visto também, principalmente no Capítulo que rege os princípios
formadores do Direito Processual do Trabalho, que a aplicação subsidiária de
outras leis somente favorece a celeridade na satisfação do crédito do reclamante.
Assim é que a Lei de Execuções Fiscais, juntamente com o digesto Processual
Civil, não apenas complementa, mas trazem força ao momento mais importante
do processo, qual seja, o pagamento do valor devido. Note-se que a instrução
processual (fase de conhecimento) é bem mais detalhada do que a fase de
execução. Características próprias, em alguns pontos distantes do processo civil,
denotam que a preocupação do legislador foi maior no primeiro momento do
processo. Apenas para aclarar: a inexistência do saneador processual, a
contagem dos prazos, o número de testemunhas, bem como a forma de seu
comparecimento em juízo, a unicidade das audiências, a singeleza exigida na
petição inicial, dentre tantas outras características, demonstram a relevância dada
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à instrução, diferentemente do momento executório. Os que militam na justiça
especializada trabalhista percebem com clareza estas indicações. Não menos
clara é a percepção de que a execução não foi contemplada com os mesmos
mecanismos de celeridade. Citações pessoais com suas demoradíssimas
diligências, penhora de bens que raramente despertam interesse de licitantes em
hastas públicas, são fatores que devem ser considerados no momento em que
tudo é substituído por uma intimação dirigida ao patrono da executada, através de
Diário Oficial (art. 475-J, § 1º do CPC).
Importante também salientar a inexistência de vedação constitucional
para aplicação do mencionado artigo, tanto mais se a norma processual
trabalhista não atingir os princípios da celeridade e da duração razoável do
processo, estes previstos no artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição da
República, acrescido pela Emenda Constitucional 45/2004. As disposições do
artigo 769 da CLT amparam a aplicação subsidiária das normas de Direito
Processual Civil capazes de satisfazer os princípios constitucionais mencionados.
Não se deve, ainda, desprezar todo o arcabouço recursal de que
dispõe o réu executado, que permite protelar, quase que indefinidamente, o
andamento da execução. E como dito logo acima, a penhora de poucos bens,
desde que suficientes para garantir o juízo, abrem as portas para a aplicação das
infinitas medidas previstas na CLT. Relevante notar que o depósito em dinheiro,
ao contrário da simples penhora de bens, permite o pagamento do valor
incontroverso, qual seja, aquele admitido pelo executado e que é capaz de
minorar a aflição do exeqüente, usualmente hipossuficiente.
Em todo este trabalho não foi defendida a supressão dos recursos (lato
sensu) de que dispõe o executado para defesa de seus interesses. Tal seria
objeto de outro estudo que, por razões óbvias, não se inserem no escopo desta
análise.
Por todas as razões já expostas, conclui-se pela total aplicabilidade das
disposições contidas no artigo 475-J do CPC, respeitados todos os entendimentos
em contrário aqui demonstrados.
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