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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” GESTÃO ESCOLAR: Os desafios da gestão democrática na construção de uma escola humanista e transformadora Por: Katia Cristina Souza Fernandes Orientador Professor: Geny Lima Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

GESTÃO ESCOLAR:

Os desafios da gestão democrática na construção de

uma escola humanista e transformadora

Por: Katia Cristina Souza Fernandes

Orientador

Professor: Geny Lima

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

GESTÃO ESCOLAR:

Os desafios da gestão democrática na construção de

uma escola humanista e transformadora

Trabalho de Monografia apresentado ao

Instituto A Vez do Mestre – Universidade

Cândido Mendes, como requisito parcial

para obtenção de Grau de Especialista em

Administração e Supervisão Escolar.

Por: Katia Cristina Souza Fernandes

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à vida, por ter sido sempre tão

generosa comigo, ainda que eu nem

sempre o tenha sido com ela.

Agradeço aos meus pais, por me

receberem no seio de sua família, me

acolherem em seu lar e acreditarem,

inadvertidamente, em minha capacidade

de sonhar.

Agradeço, especialmente, às minhas

filhas, por compreenderem que um sonho

só vale a pena quando vivido ao lado de

pessoas especiais e por serem, sempre,

pacientes com a minha ausência na busca

de novos horizontes.

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DEDICATÓRIA

Dedico a todos aqueles que passaram

pela minha vida, tornando-a melhor; aos

amigos presentes ou ausentes que, em

seu momento, fizeram diferença em minha

existência; dedico às grandes e pequenas

mulheres da minha família, sempre tão

fortes em sua fragilidade; aos grandes

homens – em tamanho físico e em

presença – que amparam minha

caminhada, com suavidade e força;

dedico, especialmente, à maior e mais

forte mulher com quem pude conviver ao

longo desses meus anos de vida: Ení –

que nunca me permitiu ser uma mulher

pela metade e que me ensinou, desde o

seu ventre, o doce sabor de uma

conquista, fruto do próprio esforço.

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RESUMO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 garante que o

Brasil é um país democrático, mas os alunos de nossas modernas escolas do

século XXI, ainda que tenham ficado estacionadas física e ideologicamente no

século XIX, não têm voz para exigir-lhes respeito em sua individualidade ou

mesmo em seu ritmo de pensar e fazer. Estas, com algumas felizes exceções,

ainda são “administradas” de forma centralizada.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação – 9394/1996 – propõe às

unidades públicas de Educação a ideia de Gestão Democrática, oferecendo

aos participantes desse processo (membros da comunidade escolar, alunos,

familiares, professores, Equipe Pedagógica, Corpo Administrativo, equipes de

apoio) voz e poder de decisão em seu funcionamento.

Agora, ficam algumas questões: Como rever toda uma estrutura mais do

que secular e, principalmente, como repensar velhos e arraigados hábitos na

condução de tais instituições? O que difere o conceito de Administração do

conceito de Gestão? Como trazer de volta a esse espaço, sem prejudicar a

estrutura principal, a família e a comunidade do entorno das escolas? O que a

escola deve fazer com essa autonomia conquistada legalmente?

São questões que permeiam o cotidiano das escolas públicas brasileiras

e que devem ser refletidas, a fim de que se garanta o resultado esperado: a

construção de uma escola pública de qualidade que atenda às necessidades

da educação contemporânea.

O objetivo principal desse estudo é trazer à luz essas questões e

promover uma reflexão acerca dessa temática, analisando suas possibilidades

e os benefícios que podem ser incorporados à escola pública, para garantir um

salto qualitativo na Educação Brasileira.

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METODOLOGIA

O estudo apresentado foi elaborado através de pesquisas bibliográficas

e se limitará a analisar essas pesquisas e literatura técnica, dentro do contexto

brasileiro de educação contemporânea.

As pesquisas foram realizadas em revistas especializadas em Educação

e afins, websites relacionados ao tema, livros técnicos nas áreas de Educação

e Administração/Gestão.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I: 10

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS DE

ADMINISTRAÇÃO

CAPÍTULO II: 14

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO

ESCOLAR NO BRASIL

2.1 Antonio Carneiro de Arruda Leão 17

2.2 José Quirino Ribeiro 19

2.3 Manoel Bergström Lourenço Filho 22

2.4 Anísio Spínola Teixeira 25

2.5 Repensando a Administração Escolar 28

CAPÍTULO III: 29

A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA CONSTRUÇÃO DE UMA

ESCOLA HUMANISTA E IGUALITÁRIA

3.1 Miguel Gonzalez Arroyo 31

3.2 Maria de Fátima Costa Félix 32

3.3 Vitor Henrique Paro 34

3.4 Gestão Democrática: Fundamentos Legais 36

3.5 Princípios da Gestão Democráticas 38

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 42

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INTRODUÇÃO

O tema da pesquisa a seguir é Gestão Escolar na Atualidade e a mesma

visa analisar a os desafios da gestão democrática na construção de uma

escola humanista e transformadora.

A partir da compreensão do conceito de Gestão Escolar como um

processo de coordenação de esforços e ações para alcançar objetivos comuns,

entende-se que essas ações precisam ser partilhadas, refletidas, dialogadas,

discutidas. Portanto, em um espaço democrático e transformador, faz-se maior

ainda a necessidade de partilhar decisões e dividir tarefas. Mas isso, de fato,

acontece no espaço escolar atual?

O estudo apresentado busca fazer uma análise dessa escola que se

propõe ser agente transformador e se baseia em valores democráticos, em

contraponto aos conceitos de administração e gestão, buscando entender qual

deles melhor se encaixa a essa nova concepção escolar.

A razão de aprofundar esse tema é buscar respostas às questões

básicas de como gerir uma escola democrática através de uma gestão

igualmente democrática; de como trabalhar a questão da gestão de

conhecimentos em um espaço escolar onde o individuo é o principal autor e

ator do processo de construção de conhecimento; de integrar as famílias e a

comunidade a esse processo de democratização do espaço escolar, entre

outras questões relacionadas ao assunto, entender o conceito de gestão

democrática e sua aplicabilidade na construção desse espaço escolar

democrático e transformador.

Para melhor compreensão do estudo, busca-se, primeiramente, definir o

conceito de Administração, em seu sentido mais amplo, e sua evolução ao

longo do tempo para, então, entender como essa Ciência foi incorporada ao

espaço escolar e qual seu papel nesse espaço.

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9A partir desse ponto, busca-se diferenciar administração e gestão

escolar, entendendo a aplicabilidade desses termos na prática; entender o

conceito de escola enquanto espaço democrático e de transformação social;

analisar o papel de cada indivíduo dentro do espaço escolar nessa perspectiva

de gestão democrática em uma escola democrática e transformadora; analisar

os novos desafios relacionados ao conceito de gestão escolar, fazendo um

contraponto às novas demandas que a escola enfrenta, no contexto de uma

sociedade que se democratiza e se transforma.

A escola ainda precisa se esforçar muito para atender às demandas

sociais contemporâneas e de se constituir enquanto espaço democrático e

transformador, mas pode ser que através de uma gestão participativa, esse

sonho se torne mais concreto, tornando mais concreta a ideia de construção de

uma escola mais humanista e igualitária, através de parcerias e empenho de

esforços na a busca de soluções viáveis para transformar a escola nesse tão

sonhado espaço.

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10CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS DE ADMINISTRAÇÃO

Desde os primórdios o homem busca formas de organizar suas rotinas,

ensaiando já a prática de administrar suas rotinas, desde as formas mais

simples às mais complexas. Há cerca de 5000 anos a.C., na Suméria, antigos

sumerianos procuravam melhorar a maneira de resolver seus problemas

práticos, exercitando assim uma forma, ainda que rudimentar, de administrar.

Daí em diante, em épocas diferentes da História, percebe-se a prática da

administração: Ptolomeu, no Egito, dimensionando um sistema econômico

através de uma administração pública sistemática; na China, 500 a.C., quando

da adoção de um sistema organizado de governo para o império, as Regras de

Administração Pública de Confúcio, a Constituição de Chow; o regime feudal,

que impôs uma nova forma de organização social e de administração de

recursos. na Idade Média, destacam-se as Instituições religiosas, onde seus

líderes destacavam-se como administradores natos; os sistemas coloniais

instaurados nas terras recém tomadas por Espanha, Portugal, Inglaterra.

Enfim, o homem buscou, ao longo de sua história, organizar seus

sistemas de administração de recursos e, na evolução histórica da

administração duas instituições merecem destaque: as Organizações Militares

e a Igreja Católica Apostólica Romana.

As Organizações Militares, uma evolução das ordens de cavaleiros

medievais e dos exércitos mercenários dos séculos XVII e XVIII aos tempos

modernos, respeitando uma rígida hierarquia de poder e adotando princípios e

práticas administrativas comuns às atuais organizações empresariais,

contribuindo, inclusive, com alguns princípios que a Teoria Clássica, mais

tarde, iria assimilar e incorporar.

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11 De outro lado, a Igreja Católica Apostólica Romana destaca-se como a

organização formal mais eficiente da civilização ocidental, visto que através dos

séculos a eficácia de suas técnicas organizacionais e administrativas,

espalhando-se pelos continentes e exercendo forte influência sobre seus fiéis,

inclusive em seu comportamento de seus fiéis.

No entanto, até o Século XIX, a formalização de ideias e teorias sobre a

Administração foi bastante lenta. A influência de filósofos como Sócrates,

Platão e Aristóteles é marcante nas tarefas de Administração na Antiguidade,

mas também influenciaram fortemente o pensamento administrativo do século

XX; assim como Bacon e Decartes, na Filosofia Moderna.

Francis Bacon (1561 -1626), filósofo estadista inglês, considerado um

dos pioneiros do pensamento científico moderno, fundador da Lógica Moderna

baseada no método experimental e indutivo (do específico ao geral).

(CHIAVENATO, 1983, p. 32).

René Decartes (1596 – 1650), filósofo, matemático e físico francês, é

considerado fundador da Filosofia Contemporânea e foi responsável pelo

“método cartesiano”, que teve forte influência na administração científica, nas

teorias clássicas e neoclássicas.

No século XIX a Revolução Industrial veio produzir o contexto industrial,

tecnológico, social político e econômico que se espalhou por todo mundo. Ela

foi o fenômeno responsável pelo aparecimento da empresa moderna, ocorrido

ao final do século XVIII, se estendendo ao longo do século XIX e liminar do

século XX, impondo rápidas e profundas mudanças econômicas, sociais e

políticas.

É nesse contexto que começam a surgir estudos e teorias acerca da

Administração, surgindo a Teoria Clássica da Administração.

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12 A invenção da máquina a vapor, por James Watt, na Inglaterra, em 1776

e sua posterior aplicação à produção, otimizou o esse processo, uma nova

concepção de trabalho, modificando profundamente a estrutura social e

comercial da época provocando a rápida expansão da industrialização por toda

Europa e Estados Unidos, dando início à Revolução Industrial.

Num primeiro momento, de 1780 a 1860, deu-se a revolução do carvão,

como principal fonte de energia, e do ferro, como matéria-prima principal. Num

segundo momento, de 1860 a 1914, deu-se a revolução da eletricidade e

derivados de petróleo como novas fontes de energia, e do aço como principal

matéria-prima, provocando uma profunda mudança em todo mundo,

impulsionando o surgimento da moderna administração, em resposta a duas

consequências provocadas pela Revolução Industrial:

1- O crescimento das empresas, que se deu de forma acelerada e

desorganizada e que passaram a exigir uma administração mais bem

estruturada, científica, capaz de superar o empirismo e a

desorganização, usuais em sua administração até então;

2- Maior eficiência e produtividade das empresas, em razão de seu

crescente desenvolvimento e consequente crescimento da competição

entre elas no mercado

É nesse cenário de contexto industrial, tecnológico, social, político e

econômico de situações, problemas e variáveis promovidos pela Revolução

Industrial que, no século XX, o engenheiro Frederick W. Taylor apresenta os

estudos que passam a apresentar a Administração como Ciência, de forma

organizada e estruturada, e os princípios da Administração Científica.

Não se pode precisar até que ponto os homens da Antiguidade, da Idade

Média e, até mesmo, da Idade Moderna praticavam a Administração

conscientemente, mas o fato é que eles já administravam. O que Taylor fez foi

formalizar essa prática.

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13Em seus estudos, como precursor da Teoria da Administração Científica,

Taylor organizava as empresas, dividindo o trabalho, o tempo, defendendo

métodos que assegurassem que seus objetivos fossem alcançados de forma

eficiente, otimizando a produção, enfatizando a prática de “máxima produção

com o mínimo custo”, adotando princípios de seleção científica do trabalhador,

do tempo padrão para as tarefas, do trabalho seriado e em conjunto, da

supervisão e da garantia de eficiência nos resultados. Dessa forma, a

organização é comparada a uma máquina, que segue uma matriz pré

determinada; o salário de seus trabalhadores, apesar de importante, não é

fundamental para a sua satisfação.

A organização é vista de forma fechada, desvinculada de seu mercado; a

qualificação dos trabalhadores não é mais essencial, visto que as tarefas agora

são divididas, dispensando habilidades específicas, e executadas de forma

repetitiva e monótona.

Então, os trabalhadores são, de certa forma, explorados, uma vez que

atuam na produção de forma automática e seriada, para garantir máxima

produção em mínimo tempo, garantindo os interesses particulares da empresa

e, em consequência, sua permanência no mercado de trabalho.

Nesse cenário, Taylor publica em 1911 a obra “PRINCÍPIOS DA

ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA” adotada, a partir daí, como a Bíblia dos

“administradores” de empresas, não apenas nos Estados Unidos, mas em todo

mundo, tornando-se leitura obrigatória a todos que desejassem melhorar o

desempenho de suas empresas.

Posteriormente, outros economistas liberais como Adam Smith, James

Mill, David Ricardo, John Stuart Mill, entre outros, também deram sua

contribuição para o aparecimento de alguns dos importantes princípios da

Administração que, posteriormente, tiveram grande aceitação nos setores

acadêmico e científico.

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14CAPÍTULO II

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL

A Educação brasileira tem início com a chegada dos portugueses ao

Brasil, quando estes tentaram impor sua cultura à população local, a qual

chamaram índios. Os jesuítas se instalavam nas aldeias e ali se constituíam,

improvisando escolas, dentro do modelo europeu, com a justificativa de

“civilizar” o povo indígena.

Com o passar do tempo e o povoamento da nova colônia, surge a

necessidade de se formalizar a educação brasileira e de se construírem

escolas para atender à essa nova população brasileira crescente, sempre

adequada aos moldes europeus de educação.

Os filhos das classes dominantes tinham acesso à educação,

inicialmente através de mestres, que lhes atendiam em seus domicílios,

posteriormente surgem as instituições escolares masculinas e femininas,

sempre atendendo às classes dominantes, dentro de rígidos padrões europeus,

dando aos gêneros atendimento diferenciado, pois meninos e meninas tinham

necessidades e papéis diferentes na sociedade.

Na época de acessarem o Ensino Superior, era prática da época que

esses jovens deixassem o país para cursarem Universidades Europeias, onde

se formavam normalmente em Direito ou Medicina.

Na sociedade colonial e imperial era prática e muito apropriado que as

famílias mais ricas e influentes formassem seus filhos para seguirem com seus

negócios e transformarem em prestígio político seu já constituído poder social

ou, ainda, para a vida religiosa, uma vez que a Igreja tinha uma grande

influência social e política nesse período.

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15 Apesar dessa longa trajetória, o estudo sobre como se administrava

esses espaços, ou seja, o estudo acadêmico a cerca da administração escolar

no Brasil começou a acontecer há menos de um século. Até a Primeira

República, o que se tem de produção acadêmica a cerca do tema são

“memórias, relatórios e descrições de caráter subjetivo, normativo,

assistemático e legalista” (SANDER, 2007a, p.21).

Os primeiros registros teóricos sobre a administração escolar brasileira

datam da década de 1930, quando o contexto educacional acadêmico se

engaja nos ideais progressistas de educação, se contrapondo à educação

tradicional, adotada até então, que garantia à minoria o acesso à educação e

negava o às classes populares.

Este cenário, que favorece um novo olhar sobre a educação brasileira,

começa a ser desenhado pelo movimento pedagógico da Nova Escola, com

influência da corrente norte-americana cujo principal mentor foi John Dewey.

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova acontece nessa época,

desenhando uma nova era para a educação brasileira e destacando, entre

outras tantas questões, a falta de “espírito filosófico e científico na resolução

dos problemas da administração escolar” como a principal responsável pela

“desorganização do aparelho escolar” (MANIFESTO, 1932), o que veio a

contribuir para embasar o surgimento dos primeiros escritos a cerca do tema

Administração Escolar no Brasil.

Tendo se consolidado como um momento de ruptura entre o “velho” e o

“novo”, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova foi um marco para a História

da educação brasileira. O documento defendia a construção de um sistema de

educação brasileiro, organizado pelo Estado, garantindo a cada indivíduo o

direito a uma educação integral, sendo dever do Estado “(...) considerar a

educação, na variedade de seus graus e manifestações como função social e

eminentemente pública (...)” (idem).

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Ideologicamente, o Movimento da Escola Nova, especialmente forte na

Europa, na América e no Brasil, defendia o processo de renovação da

educação durante a primeira metade do século XX.

No Brasil, especialmente, o movimento desenvolveu-se num momento

de fortes transformações sociais, políticas e econômicas, durante o governo

provisório do presidente Getúlio Vargas, iniciado em 1930. O movimento

escolanovista defende a educação como elemento mais eficaz na construção

de uma sociedade verdadeiramente democrática.

Os pioneiros e signatários do Manifesto, promulgado em 1932, se

legitimaram como idealizadores de um projeto educacional que atenderia, a

contento, às demandas sociais, culturais e educacionais do país.

Alguns desses teóricos contribuíram sobremaneira nesse período, na

organização de estudos a cerca do tema educacional e, debruçaram, de forma

mais concisa, na questão das formais mais eficientes de se administrar esse

novo espaço escolar que se constituía, sob os cuidados do Estado, conforme o

que se segue ao longo do capítulo.

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172.1 Antônio Carneiro de Arruda Leão

Em seus estudos se opunha à ideia da administração escolar como uma

produção empírica, destacando a necessidade de se conceber uma forma de

administração escolar modernizada, que atendesse à crescente demanda que

seria provocada pelo acesso das camadas populares às escolas.

Embasou seus escritos sobre Administração Escolar nas teorias de

Administração Geral de Henri Fayol. Nesse sentido, defendeu uma estrutura

escolar baseada na hierarquia de funções, cuja estrutura girava em torno de

uma figura central – o Diretor Educacional – responsável por dirigir todas as

tarefas realizadas no espaço escolar, a figura que “dirige o trabalho modelador

de outras vidas, que ajuda a progredir, mental e moralmente a comunidade

inteira. É o líder, condutor educacional de sua gente, árbitro nos assuntos da

educação.” (LEÃO , 1945, p. 158).

Para tanto, esse profissional precisava ser culto, ter uma boa formação

acadêmica e sólida experiência em funções similares. Algumas de suas

funções seriam acompanhar orçamentos institucionais, supervisionar as

atividades pedagógicas desenvolvidas na escola, acompanhar a aperfeiçoar a

política educacional, selecionar o corpo técnico, organizar os orçamentos, etc..

Além disso, era interessante que este profissional conhecesse também o

modo de vida dos alunos atendidos e teorias de Psicologia, Filosofia e

Sociologia Educacional para garantir que seus ideais educacionais estivessem

aliados à sua forma de administrar esse espaço.

“um marco na história da educação brasileira, declarando que foi com ele que se iniciou a carreira do educador profissional, do administrador escolar, com formação filosófica e técnica apropriada” (ARAÚJO – 2002, p. 121)

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18 LEÃO destacava a figura do Diretor Escolar como uma figura politica e

socialmente muito importante nessa estrutura, reforçando que este precisava

ser um educador com profundo conhecimento da política educacional e de

saberes técnico-administrativos. Este estaria subordinado ao Diretor de

Educação, que concentrava, principalmente, as funções administrativas.

Enfim, a estrutura organizacional escolar, na visão de Leão era, então,

centrada na figura do Diretor Pedagógico e baseada na divisão de tarefas e

hierarquia de funções. A Escola era um corpo onde a cabeça era o Diretor –

figura responsável por pensar todo espaço escolar e organizá-lo, além de

elaborar as políticas educacionais; e os membros – os demais elementos que a

compunham – que eram, de certa forma, meros executores das funções que

lhes eram ditadas e responsáveis por colocar em prática as políticas

educacionais pensadas pelo diretor.

“ Ele não deixa de ser educador, mas sua ação amplia-se. É, então, o coordenador de todas as peças da maquina que dirige, o líder de seus companheiros de trabalho, o galvanizador de uma comunhão de esforços e de ações em prol da obra educacional da comunidade.” (IDEM, p. 167)

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192.2 José Quirino Ribeiro

Suas obras relativas à Administração Escolar tiveram grande destaque

no cenário acadêmico, principalmente a considerada clássica Ensaio de uma

teoria de Administração Escolar – tida como a primeira tentativa bem sucedida

de abordar o tema teoricamente e formalizar a organização administrativa do

espaço escola.

Diante do novo cenário que se descortinara a partir do Movimento da

Nova Escola, a instituição escolar começava a se constituir socialmente como

uma necessidade emergente, para atender às classes populares, através do

financiamento público da educação – a estatização do ensino. Porém, era

necessário que esse investimento tivesse retorno, ou seja, que a educação

gerasse bons resultados.

Para atingir esse mérito, era imprescindível que a escola pudesse contar

com a figura de um profissional habilitado que, tanto tivesse conhecimento do

funcionamento pedagógico dessa estrutura, como tivesse conhecimento

técnico das formas de administração, coordenando suas funções tradicionais

às novas demandas buscando, através de uma educação pública de qualidade,

o desenvolvimento social e econômico do país.

“nenhum problema escolar sobrepuja em importância o problema de administração.” (LEÃO, 1953, p. 13).

“ a administração escolar vai funcionar como um instrumento executivo, unificador e de integração do processo de escolarização, cuja extensão, variação e complexidade ameaçam a perda do sentido da unidade, que deve caracterizá-lo e garantir-lhe o bom êxito.” (RIBEIRO, 1986, p. 30)

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20 Assim, a Administração Escolar deveria ser constituída em atividades

escolares a partir da filosofia da educação – buscando objetivos e ideias que

norteassem essa nova escola; da política da educação – que orientava a forma

como seriam atingidos os objetivos e ideais propostos por sua filosofia e outras

ciências correlatas - Biologia, Filosofia e Psicologia, que ofereciam

conhecimentos que necessários à aplicação das políticas educacionais em

busca do atingimento dos fins da Filosofia Educacional.

Nesse processo da escolarização moderna, sob o ponto de vista técnico,

buscava-se, principalmente, a liberdade, a responsabilidade, a unidade –

reunião de esforços na busca da unidade do trabalho desenvolvido no espaço

escolar, a economia – melhorar o rendimento das atividades com menor

dispêndio de recursos.

Para atingir esses objetivos, Ribeiro buscava nas teorias de

Administração fundamentos da Administração Científica de Taylor, e na Teoria

Clássica de Fayol, defendendo a divisão de funções, respeitando-se as

características próprias do espaço escolar, dividindo as tarefas por séries e

disciplinas e defendendo o princípio da autoridade, ou seja, oferecendo à figura

do diretor o direito de mandar e de se fazer obedecer. Sua autoridade,

portanto, lhe é conferida por lei, pois mandar também é uma de suas

atribuições, uma das competências inerentes ao seu cargo.

Assim, os processos de Administração Escolar dão-se em três etapas

distintas:

- Anteriores às atividades específicas da escola: planejamento e organização

das atividades a serem desenvolvidas;

- Simultaneamente às atividades específicas da escola: comando e assistência

das atividades desenvolvidas;

- Ao fim das atividades específicas da escola: a avaliação de resultados das

atividades desenvolvidas e relatórios críticos.

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21 As relações de trabalho dentro do espaço escolar são reguladas através

de Manuais ou Regulamentos Internos, constituídos de forma autoritária e

hierárquica pela figura do Diretor sem a participação dos demais elementos da

escola e que têm força de lei, devendo ser respeitadas severamente.

Por fim, ao concluir seus estudos apresentados ao longo da obra a cerca

da Administração Escolar (fundamentos, objetivos e processos), em suas

conclusões finais, RIBEIRO aponta que:

“ Os chamados manuais descrevem minuciosamente como os indivíduos devem utilizar os materiais (...). Os regulamentos estabelecem as normas de procedimento dos indivíduos com relação aos chefes, subordinados e colegas do mesmo nível hierárquico” (IDEM, p. 140)

“Administração Escolar é o complexo de processos, cientificamente determináveis, que, atendendo a certa filosofia e a certa política de educação, desenvolve-se antes, durante e depois das atividades escolares para garantir-lhes unidade e economia.” (IDEM, p. 179)

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222.3 Manoel Bergström Lourenço Filho

Partindo dessa ideia, observando sua produção para o progresso da

produção econômica nacional e, também, o que e como os estados estão

gastando com a educação pública – investimento do dinheiro público, Lourenço

Filho defende que essa estrutura perca características de improvisação e

busque seu desenvolvimento racional, enquanto ciência estruturada e

organizada, onde o conhecimento desenvolvido na área acadêmica da

administração seja aplicado no espaço escolar, adequado às situações reais

em que o ensino se apresente.

Com isso, a demanda agora passa a ser entender como usar esses

conceitos academicamente estruturados da administração em uma realidade

adversa àquela na qual a mesma se constitui inicialmente - na indústria de

produção, o produto final é um bem de produção ou consumo, em

contrapartida, o produto final da “empresa” escola são conhecimentos, é a

educação em sua forma mais ampla.

Nesse sentido, Lourenço Filho defende que a organização seja o

elemento principal desse novo espaço escolar e organizar, que, nesse sentido,

se resume a “bem organizar elementos (coisas e pessoas) dentro de condições

operativas (modos de fazer), que conduzam a fins determinados” (IDEM, p. 46).

Dessa forma, a Administração escolar vai se empenhar em estruturar

esse novo contexto, limitando atuações de responsabilidade e níveis de

atuação, com o objetivo garantir que a escola desenvolva um trabalho coeso e

eficiente.

“as escolas existem para que produzam algo, em quantidade e qualidade.” (LOURENÇO FILHO, 2007, p. 19)

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23 A principal atuação de Lourenço Filho quanto às teorias administrativas

se apoia nas teorias novas, não descartando, porém, as teorias denominadas

clássicas (Taylor e Fayol), mas destacando que essas últimas organizam-se

em uma estrutura mais formal impondo uma organização de fato e as pessoas,

dentro desse cenário, exercem o papel de peças abstratas, que cumprem

papéis pré-estabelecidos, sem humanizar essa estrutura, pois no encaixe de

peças na esteira de uma indústria, não há necessidade de dar foco às relações

interpessoais. Segundo LOURENÇO FILHO:

Em contraponto, as Teorias Novas lançam um novo olhar para essas

“pessoas” que compõe as organizações, buscando nos campos da Psicologia e

Sociologia informações sobre esse recurso humano presente nessas

organizações e trazendo contribuições importantes a respeito de sua atuação e

revisando as teorias clássicas. Ou seja, enquanto “as teorias clássicas

centralizavam sua atenção no processo administrativo formal; nas teorias

novas, essa atenção se estende ao comportamento administrativo” (IDEM, p.

57).

Não se pretende, no entanto, invalidar as teorias clássicas em

detrimento às teorias novas, mas completa-las, pois em sua visão, a

necessidade do sistema escolar não está limitada às atividades burocráticas,

de planejamento, supervisão, controle e avaliação mas, principalmente, da

valorização das relações humanas que se constroem nesse espaço, sem

deixar de lado as estruturas hierárquicas e organizacionais, mas ponderar sua

atuação no sentido de ajustar esses agentes do conhecimento em busca de

uma satisfatória eficiência do grupo docente.

“ Uma decisão administrativa, bem fundamentada para certo nível funcional, poderá perder tal caráter em outro. As expectativas de um plano de mais baixo em relação ao outro, ou inversamente, podem ser bastante diferenciadas, como variados serão certos efeitos que as condições sociais de trabalho produzam sobre as pessoas” (IDEM, p. 55)

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24 Para tanto, Lourenço Filho organizou essa estrutura hierárquica em

quatro níveis, descritos pelo mesmo como “níveis essenciais”. São eles: alunos

- cujo papel é aprender; mestres - cujo papel é ensinar; diretores de escola -

cujo papel é exercer autoridade sob os demais, que lhe fora concebida pelos

órgãos mais amplos e chefes de órgãos de maior alcance.

Destaca-se, entretanto, a visão do autor a cerca da função dos alunos e

de seu mestre nesse processo, que, segundo ele: “papel é aprender, ou de

participarem de situações em que possam adquirir formas úteis de

comportamento e discernimento, guiados pelos mestres” (IDEM, p. 69). O que

sugere ao aluno assumir o papel de sujeito de seu próprio aprendizado e ao

“mestre” o papel de tutor nesse processo.

Destaca-se, no entanto, na atuação do diretor escolar atividades já

citadas anteriormente por Ribeiro (1986) e Leão (1945), tais como “planejar e

programar, dirigir e coordenar, comunicar e inspecionar, controlar e pesquisar”

(IDEM, p. 88), o diferencial estará pautado no fato de que, por se tratar de

serviço (ensino) e não de produtos (indústria), essas atividades administrativas

se fundamentariam, basicamente, nas relações humanas, de forma a levar os

indivíduos a participarem desse mecanismo de forma integrada e solidária,

responsáveis pelo bom funcionamento do processo do qual não conceberam,

mas são os sujeitos principais.

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252.4 Anísio Spínola Teixeira

Seus escritos são resultado de sua atuação enquanto administrador em

órgãos da educação, especialmente como Secretário de Educação do Distrito

Federal, quando das reformas do sistema e encontram-se em periódicos ou

capítulos de livros, pois não chegou a estruturar em uma obra específica tais

produções.

A partir da mesma concepção de seus contemporâneos – de que os

espaços escolares necessitavam de uma reestruturação – pois a própria

sociedade passava por transformações sociais, operando tais transformações

sociais também nesse espaço tão social.

A escola, a partir de então, deixou de ser um espaço privilegiado, que

atendia apenas a uma minoria e passou a ser um espaço democrático, onde

todos deveriam ter acesso, mas destacando a importância da construção dessa

nova escola não simplesmente como um espaço para todos mas,

principalmente, onde esses todos tenham, de fato, garantido o seu direito de

aprender. É mais do que simplesmente colocar todas as crianças e os jovens

dentro da escola, mas garantir que todos eles, de fato, tivessem acesso a uma

educação igualitária e de qualidade.

Se o espaço escola necessitava ser transformado, também a atuação de

seus agentes demandava transformações e, consequentemente, refletir-se-ia

na administração escolar, desenvolvendo processos administrativos que

garantissem a premissa de uma escola onde todos, de fato, tenham acesso ao

conhecimento. Essa era uma preocupação iminente de Teixeira – garantir a

qualidade do ensino diante do processo de expansão dos sistemas escolares.

“A administração deve conseguir uma organização de eficiência uniforme da escola, para todos os alunos – organização e eficiência em massa.” (TEIXEIRA, 1997, p. 166)

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26 Aquelas pequenas escolas que, muitas vezes, concentrava apenas na

figura de um único e experiente mestre as funções, não apenas de ensinar,

também a função de administrar tal pequeno espaço passa por essa

reestruturação e precisa, a partir de então, se adaptar à essa nova realidade, a

complexificação dos sistemas escolares demanda buscar em todas as

camadas sociais e intelectuais novos profissionais para atuarem frente a esse

novo cenário, atendendo às distintas necessidades sociais e intelectuais que

estão acessando esse espaço.

Dessa forma, também a administração escolar passa a carecer de novos

métodos que garantam que esses novos profissionais atendam às

necessidades crescentes. Nas palavras de Teixeira:

Se anteriormente havia três funções que se davam em unidade ao ato

educativo – administrar, ensinar e guiar – estas mesmas constituirão, a partir

de então, as funções da administração escolar: administrador escolar,

supervisor de ensino e o orientador ou guia dos alunos. Dessa maneira,

defende Teixeira que “somente o educador ou professor pode fazer

administração escolar” (IDEM, p. 14), desde que este tenha vasta experiência e

especialização a nível de pós graduação, a fim de se garantir a manutenção

destas funções ligadas ao processo educativo.

Nesse momento que Teixeira se distancia de seus contemporâneos,

pois defende que a natureza da administração escolar é de “subordinação e

não de comando da obra da educação, que, efetivamente, se realiza entre o

professor e o aluno” (IDEM, p. 17).

“Como tenho que educar toda população, terei de escolher os professores

em todas as camadas sociais e intelectuais e, a despeito de todo o esforço

de prepara-los, trazê-los para a escola ainda sem o preparo necessário para

que dispensem eles a administração. Esta terá que se fazer altamente

desenvolvida a fim de ajuda-los a realizar aqueles que faziam se fossem

excepcionalmente competentes” (IDEM, p. 86)

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27 Em razão da natureza própria da educação – cujo produto final é a

formação de pessoas; bastante diversa à das fábricas de produção – que tem

como produto final a produção de objetos, coisas, o autor nega para a

administração escolar conceitos da administração clássica, justificando que:

Apesar de contemporâneo aos demais, Teixeira é o precursor da

corrente que rompe com a aplicação de conceitos da administração clássica

nos espaços escolares, defendendo que este busque sua identidade,

respeitando suas características singulares.

“Embora alguma coisa possa ser aprendida pelo administrador escolar de toda a complexa ciência do administrador de empresa de bens de consumo, o espírito de uma e de outra administração são de certo modo até opostos. Em educação, o alvo supremo é o educando (...); na empresa, o alvo supremo é o produto material (...). Nesta, a humanização do trabalho é a correção do processo de trabalho, na educação o processo é absolutamente humano e a correção um certo esforço relativo pela aceitação de condições organizatórias e coletivas aceitáveis. São, assim, as duas administrações polarmente opostas.” (IDEM, p. 15)

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282.5 Repensando a Administração Escolar

Dentro de uma ideologia capitalista, realidade que o Brasil faz parte, o

espaço escolar, como qualquer outra instituição, precisa ter um administrador

que conduza, com eficácia e eficiência, seus recursos materiais e imateriais.

Ainda que se saiba que o objeto da administração nessa realidade não seja,

exatamente, o capital gerado, mas a redução de custos envolvidos, tanto com

recursos materiais, quanto com humanos – o que representa lucro, nessa

realidade.

Se até a década de 1980 a administração escolar mantinha um caráter

conservador, essa ideia de administrar com foco na redução na utilização de

recursos e na contenção de despesas extras “desnecessárias”, tem-se, a partir

da década de 1990, a clara ideia de que o “gestor escolar” não deve se limitar a

se preocupar com contenção de despesas ou controle de atividades, dentro de

uma ordem hierárquica, mas precisa, acima de tudo, gerir esse espaço com

foco na formação integral do indivíduo.

Entretanto, para que esse espaço escolar passe a se preocupar com a

formação integral do indivíduo, ela precisa assumir novos ares em sua

concepção e em sua gestão. É quando a gestão escolar passa a se preocupar

também com as questões pedagógicas, deixando de se restringir a somente

gerenciar recursos disponíveis e sua possível redução.

Ao longo do próximo capítulo, será apresentado um estudo mais

detalhado sobre a GESTÃO ESCOLAR em si, a partir da abordagem de

teóricos da área e outras informações pertinentes, que auxiliarão na construção

do conceito dessa nova forma de gerir os espaços escolares públicos, a fim de

que atinjam seu escopo primário: a formação integral de indivíduos, de

cidadãos críticos e conscientes de seu papel em sua comunidade e na

sociedade como um todo.

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29CAPÍTULO III

A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA

HUMANISTA E TRANSFORMADORA

Após um longo período de limitação político-democrática, o Brasil, enfim,

assiste à sua reabertura e pode ver assegurado o desejo de criação de uma

Constituição Federal que atendesse seus anseios de democracia, liberdade,

respeito à sua pluralidade cultural, entre tantos outros.

Essa reabertura político-democrática faz nascer uma nova fase de

elaborações teóricas no que concerne à Administração Escolar. As

elaborações teóricas que se destacam são de ARROYO, FÉLIX e PARO, que

serão apresentadas ao longo do capítulo. Essas novas elaborações

apresentavam um enfoque sociológico e faziam críticas ao enfoque

tecnocrático da Administração Escolar pautada nos conceitos de Administração

Geral.

A promulgação da Constituição Federal de 1988 assegurou um novo

cenário para a Educação Brasileira, ratificado em 1996 na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – LDBEN – nº 9394/96. Neste novo cenário que

se descortinava, começa a ganhar contornos a introdução de um novo tipo de

organização escolar, baseado nos princípios da democracia, autonomia e

construção coletiva, em contraponto às práticas adotadas até então, que

apresentavam caráter centralizador e burocrático.

Autores como Heloísa Luck, por exemplo, propõe distinção entre os

conceitos de administração e gestão como forma de ressignificar a prática da

Administração Escolar adotando o termo gestão como o mais adequado às

características da educação atual, quando a sociedade se torna mais complexa

e não aceita mais os conceitos tecnicistas e burocráticos da administração

científicas como forma de gerir os espaços escolares públicos.

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30 O conceito de gestão, então, supera o de administração visto que se

sustenta na atuação humana e não no desempenho de máquinas ou no

resultados de ações programadas e repetidas, além de propor uma

transformação nos espaços escolares. Pode-se perceber, então, que este é um

conceito mais abrangente, visto que envolve elementos não só conceituais

relacionados à administração científica, mas também culturais, políticos e

pedagógicos e sua lógica se baseia nos princípios da democracia.

Enfim, por si só, por sua natureza, todo o processo de gestão é,

naturalmente, mais democrático. Se antes havia a figura do Administrador –

autoritária, hoje esta foi substituída pela figura do Gestor – democrática. Essa

terminologia, portanto, não traz em si apenas um novo status para o ato de

gerir o espaço escolar, mas toda uma ideologia de superação da ideia de

hierarquia imposta pela prática capitalista, onde a classe dominante sempre

impunha suas ideias e a classe dominada sempre era obrigada a aceita-las.

A ideia, a partir de então, é de se pensar a educação como garantia de

formação de cidadãos autônomos, numa sociedade democrática e autônoma,

num espaço onde a gestão não somente alimenta esse ideal de democracia,

como também se contrapõe aos interesses que regem uma sociedade

capitalista, sustentada por desigualdades sociais e disputa pelo poder.

No entanto, esse novo cenário não surgiu a partir de uma realidade

imediata, mas foi sendo historicamente constituído, a partir fatores políticos,

econômicos, sociais e culturais e as políticas públicas passam, então, a buscar

formas de atender a essa nova demanda, baseando-se nos estudos

desenvolvidos pelos teóricos já citados, apresentados a seguir.

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313.1 Miguel Gonzalez Arroyo

A partir da análise da relação de racionalidade entre os conceitos de

Administração Geral e os Processos Educacionais, elabora questionamentos a

essa racionalidade, que, em sua concepção, reforça o exercício de poder nos

espaços escolares a fim de que se garanta a manutenção do capitalismo. Essa

manutenção seria, em sua concepção, garantida a partir da reprodução das

relações sociais, funcionais à sociedade civil, no espaço escolar.

Mas, se na sociedade civil esse exercício de poder promove

desenvolvimento econômico e garante a manutenção do capitalismo, no

espaço escolar ele não auxilia na redução das desigualdades sociais e,

consequentemente, não promove essa escola democrática e emancipadora,

que a sociedade vem buscando historicamente.

Por outro lado, a racionalização do trabalho nas instituições de ensino, o

desejo de apolitização da Administração Escolar, geram maior relação com o

controle de capital que com a sua produtividade em si, no que diz respeito à

qualidade da educação. Nesse sentido, propõe o desenvolvimento de práticas

de administração escolar que envolvam toda a comunidade escolar –

reforçando a necessidade de politização da escola pública – na busca de

redefinir os fins da educação nesse novo cenário.

“O problema, pois, é como encontrar mecanismos que gerem um processo de democratização das estruturas educacionais através da participação popular na definição de estratégias, na organização escolar, na alocação de recursos e, sobretudo, na redefinição de seus conteúdos e fins.” (IDEM, 1979, p.46)

“(...) a insistência em apresentar a racionalidade administrativa como necessidade ‘natural’ ao bom funcionamento das instituições oculta a dimensão política de todo o processo administrativo” (ARROYO, 1979, p.39)

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323.2 Maria de Fátima Costa Félix

Assim como ARROYO, faz críticas à aplicação das teorias de

Administração Geral nos espaços escolares, pois que esta, uma vez que

embasada por interesses capitalistas, pauta sua atuação nas teorias de Taylor

e Fayol – fruto do capitalismo – atuando de forma a manter o controle sobre

todo o processo de “produção”: da concepção ao produto final.

Se a abordagem é sobre a Administração Escolar, não cabe pensar em

controle sobre processo de produção pois, como já citado anteriormente, a

escola não tem como fim a confecção de produtos, mas a formação de

pessoas.

Dentro do conceito de administração geral temos a ideia de controle

sobre todo o processo de produção e das ações dos trabalhadores, dentro de

um contexto de generalidade e universalidade.

No entanto, até mesmo esses conceitos podem ser contestado, visto

que sua produção (científica) não está alheia à realidade social e demanda

capitalista, sendo generalista apenas com a forma em que a sociedade se

organiza nessa sociedade capitalista.

Dentro desse prisma, FÉLIX tece críticas específicas a Querino Ribeiro,

que apontou com importante a aplicação das teorias de Fayol e Taylor dentro

das organizações escolares, devido ao seu caráter de universalidade. No

entanto, no meio educacional, essa posição desvia o foco dos problemas

enquanto sociais, políticos e econômicos, institucionalizando a aplicação de

soluções técnicas para problemas de natureza humana e lidando com

indivíduos como com máquinas, que apenas precisam ser programados.

“(...) a generalidade das teorias da Administração de Empresa não é apenas resultado de seu desenvolvimento teórico ao ponto de elaborar uma teoria integral, capaz de abarcar toda a realidade da prática administrativa de qualquer tipo de organização” (FÉLIX, 1985, p. 76)

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33 Também contesta a aplicação da forma de administração aplicada em

ambientes escolares públicos “obscurecendo a análise dos condicionantes da

educação (IDEM, p. 82), uma vez que esses são espaços de atividade humana

e política, não cabe para ela o modelo tecnicista e burocrático imposto pelas

práticas capitalistas. Aponta, nesse sentido, para a apolitização da

administração da educação pública, cujo objetivo principal seria o controle do

processo educativo como produção humana.

Adotando técnicas da Administração Geral na gerência dos espaços

escolares públicos, derruba-se, de certa forma, a intenção de politizar

indivíduos, dentro da esfera da cidadania, direitos e deveres, tornando a

Administração Escolar em detrimento a Administração Geral, como um mero

processo de técnicas aplicadas no controle de todas as etapas da produção

sem, contudo, pensar que a produção nesse espaço específico é humana, não

material.

“ Nem a tentativa da Administração Escolar em adotar os princípios de organização e administração das empresas capitalistas e os critérios de eficiência e produtividade resulta, apenas, da sua evolução teórica em relação às teorias modernas da Administração de Empresa (...)” (IDEM)

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3.3 Vitor Henrique Paro

Suas elaborações vão de encontro às críticas já formuladas

anteriormente, de aplicação de técnicas de Administração Geral na gerência de

espaços escolares, emergidas na década de 1980, com a abertura política e

democrática do Brasil.

Há de se destacar, novamente, que nas teorias de administração geral,

dentro de e uma visão capitalista, o trabalho é dividido em funções bem

definidas: quem pensa – especialista – poder de mando; quem executa – mero

executor de funções preconcebidas. Essa divisão acontece em função da

necessidade de controle do trabalho pelo capital.

Com base na análise marxista, esclarece que a divisão do trabalho

dentro do modelo capitalista racionaliza o processo, garantindo eficiência e

eficácia na conquista de seus objetivos. Apresenta, então, a administração

como uma ciência que ganha enfoques diversos, conforme o momento

histórico em que está situada.

Sem negar a importância da administração geral para a constituição da

administração escolar, sua crítica diz respeito à racionalidade capitalista, que

transforma o trabalho em exploração da vida, sempre valorizando a classe

social dominante, pois esta possui o controle dos meios de produção. Traz,

então, a ideia de que, se a administração capitalista constitui apenas uma

forma de administrar, não há nada que impeça a adoção de processos

administrativos baseados em outras óticas.

“A administração escolar inspirada na cooperação recíproca entre os homens deve ter como meta a constituição, na escola, de um novo trabalhador coletivo que, sem os constrangimentos da gerência capitalista e da parcelarização desumana do trabalho , seja uma decorrência do trabalho cooperativo de todos os envolvidos no processo escolar, guiados por uma “vontade coletiva”, em direção ao alcance dos objetivos verdadeiramente educacionais da escola”. (Paro, 1986, p. 160)

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Dessa forma, investe na ideia de que é possível desenvolver uma forma

de gerenciar esses espaços escolares com foco na transformação social, com

a participação da comunidade escolar, em contraponto à administração

tradicional, baseada na racionalidade capitalista.

Partindo dessas críticas, começa a surgir a literatura no campo da

Gestão Escolar, cujo conceito tem essência política e preocupação com o

pedagógico, visando diferenciar-se da visão técnica que esteve atrelada, ao

longo da curta história da educação brasileira, ao conceito de administração

escolar.

Lançando esse novo olhar para a educação, tem-se a medida de sua

função política diante dessa nova sociedade, que luta pela democratização da

escola pública e das práticas desenvolvidas nesse espaço.

Como resultado dessa luta e dos estudos elaborados, tem-se a adoção

do termo – e do conceito – de Gestão Democrática do Ensino Público,

constante da Constituição Federal de 1988, o primeiro grande passo para a

efetivação dessa prática nos espaços escolares, como forma de democratizar o

ensino público, garantindo sua eficiência e eficácia e, principalmente, sua

finalidade primária: a formação para a cidadania, a ética e o mercado de

trabalho.

“ (...) a participação democrática não se dá espontaneamente, sendo antes um processo histórico em construção coletiva, coloca-se a necessidade de se preverem mecanismos institucionais que não apenas viabilizem, mas também incentivem práticas administrativas participativas dentro da escola pública” (IDEM, p.46)

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363.4 Gestão democrática: Fundamentos Legais

Incialmente constante da Constituição Federal de 1988, o termo foi

adotado no campo da Administração Escolar e é resultados das experiências

que esta veio acumulando ao longo de sua história e das características que

veio acumulando ao longo das últimas décadas, desde o Manifesto dos

Pioneiros da Educação Nova.

Ainda que tenha atravessado um longo período de esquecimento, esse

ideal democrático de gestão do espaço escolar público ganhou força no

movimento dos educadores, reunidos no Fórum de Defesa da Educação

Pública, que garantiu sua inserção, na Constituição Federal de 1988, como

princípio: “gestão democrática do ensino público na forma da lei” (BRASIL,

1988, art. 206, inciso VI), pois que, enquanto processo democrático, esta

contem em si o princípio da participação da comunidade a concepção de uma

educação emancipadora, fundamentando-se no exercício efetivo da cidadania.

A partir de então, a questão ganhou novos contornos e, obviamente,

novos adeptos. O conceito se fortalece enquanto princípio da educação pública

brasileira na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN – Lei

9394/96, que institui que:

Esse conceito propõe um novo olhar sobre a organização das estruturas

escolares, a partir do que era praticado nesses espaços ao longo da história d

Administração Escolar enquanto prática na educação brasileira.

“Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.” (BRASIL, 1996, Art. 14)

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37 Enquanto legislação específica, o princípio da Gestão Democrática

também pode ser encontrado no Plano Nacional da Educação, cabe o

parêntese que isso foi um sonho inserido na Constituição de 1934 pelos

Pioneiros da Educação Nova, somente retomado na Constituição Federal de

1988 e instituído pela Lei n. 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Sua elaboração

resulta de uma intensa participação de educadores e segue o princípio

constitucional e a diretriz da LDBEN, trazendo em seus objetivos e prioridades:

Dessa maneira pode-se afirmar que a gestão escolar se constituiu,

inicialmente, a partir dos conceitos da Administração Geral, no que diz respeito

aos procedimentos organizacionais, hierarquia, divisão de funções, etc.. Mas,

ao lançar um olhar mais cuidadoso e minucioso, percebe-se que, ao invés de

apenas cumprir as etapas impostas pela Administração Geral, a gestão envolve

a concepção das políticas educacionais a serem adotadas, o planejamento, a

definição de programas, projetos e metas educacionais, a avaliação das ações

propostas e, especialmente, a participação dos atores envolvidos no processo,

que deixam de ser meros espectadores ou executores, assumem o papel de

coautores de sua atuação.

Este processo, no entanto, envolve a reconstrução da trajetória histórica

da educação nacional e sua colaboração para o atual conceito de gestão

democrática, identificando o caminho pela qual passou a Educação Brasileira e

conhecendo as bases que a sustentam e analisando todas as suas

possibilidades, construindo novos fundamentos e estratégias para a gestão dos

sistemas de ensino, destacando a autonomia desses sistemas e das unidades

que os compõem.

“(...) a democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. (BRASIL, 2001)

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383.5 Princípios da Gestão Democrática

Ao perceber que instituições públicas são espaços pertencentes ao

público (res-pública – coisa pública) e não poder público ou aos governantes, é

necessário que a cidadania se imponha enquanto exercício de poder (cidadãos

governantes), desmitificando a ideia de que a instituição pública deve estar

subordinada às políticas centralizadoras e às práticas autoritárias impostas,

onde o cidadão assume o papel de dominado, ao invés de assumir-se

enquanto coproprietário dessa res-pública e, portanto, corresponsável por sua

gerência.

A gestão democrática é um princípio do Estado para as políticas

educacionais, garantido constitucionalmente, e o exercício da democracia

depende da participação da sociedade na gestão das instituições públicas, ou

seja, faz-se necessária a participação dessa sociedade, através de seus

cidadãos, no processo e nas políticas dos governos. E sua participação não

pode se restringir à simples execução dessas políticas, mas em sua elaboração

e nos momentos de tomada de decisão, é hora de democratizar a própria

democracia. Esse conceito supera o da administração, pois se:

A partir desse princípio, espera-se que o Brasil passe a adotar uma

visão menos conservadora acerca da gestão escolar, a fim de garantir o

princípio fundamental da escola, enquanto espaço democrático: a formação de

cidadãos conscientes e qualificação desses para o mercado de trabalho.

“ O ensino democrático é, também, aquele cuja gestão é exercida pelos interessados, seja indiretamente, pela intermediação do Estado (que precisamos fazer democrático), seja diretamente, pelo princípio da representação e da administração colegiada” (CUNHA, 1987, p.06)

“(...) assenta na mobilização do elemento humano, coletivamente organizado, como condição básica e fundamental da qualidade do ensino e da transformação da própria identidade das escolas” (LUCK, 2007, p.27)

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39 Se ao longo da história da administração escolar no Brasil vivenciamos

mudanças, que mais se restringiam a novas nomenclaturas ou novos cargos, a

transformações reais, expressivas para a educação, hoje o cenário apresenta-

se bem mais aprazível, pois o princípio traz em si a ideia de gerir espaços

públicos com transparência e impessoalidade, mas também com autonomia e

participação, com liderança e trabalho coletivo, com representatividade e

competência. Na visão de MENDONÇA (2000), a gestão pode ser entendida

em seu sentido mais amplo como um:

Então, a escola passa a assumir o status de um espaço de construção

democrática sem, contudo, deixar de ser uma instituição responsável pela

formação integral do indivíduo, de ensino/aprendizagem, de formação para o

mercado de trabalho. Esse espaço democrático se constitui quando os

processos de decisão de tudo o que lhe diz respeito é embasado pela

participação e deliberação pública, através de seus representantes nos

conselhos ou colegiados. Dessa forma, a gestão democrática assume a

posição de gestão de autoridade compartilhada.

Portanto, a construção desse espaço se dará através da democratização

da escola pública, através da desconstrução de desigualdades, discriminações

e posturas autoritárias, assim como na construção de um espaço de criação de

igualdade de oportunidades e de tratamento igualitário para os cidadãos entre

si, e com o poder público. Cabe, então, às comunidades educacionais ampliar

em seu espaço essa consciência de igualdade e democracia.

“conjunto de procedimentos que inclui todas as fases do processo de administração, desde a concepção de diretrizes de política educacional, passando pelo planejamento e definição de programas, projetos e metas educacionais, até suas perspectivas de implementações e procedimentos avaliativos” (IDEM, 69)

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40 Entretanto, ao contrário do que se possa imaginar, a gestão democrática

não se restringe à eleição de um diretor de unidade ou a organização de

conselhos escolares, mas envolve uma participação coletiva em todas as

decisões que envolvem o rumo da escola em si, não somente seu espaço

físico, mas sua filosofia, suas propostas pedagógicas, seus ideais sociais.

Ou seja, a gestão democrática não se limita à forma como a instituição é

gerida, passa por todos os níveis e esferas do espaço escolar, especialmente

pela sala de aula e não se efetivará apenas pela afirmação de princípios ou

mudança de normas, mas a partir de sua fundamentação em um novo

paradigma: o da educação emancipadora.

O desafio, então, é garantir essa democracia como exercício efetivo de

cidadania, baseada na autonomia (não somente dos indivíduos, mas das

instituições). É perceber que gestão democrática e educação emancipadora

são princípios indissociáveis.

“ Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é

um modo excelente de tombar na desesperança e no fatalismo.”

Paulo Freire

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CONCLUSÃO

Abordar o assunto “Gestão Democrática” é apostar num sonho possível,

acreditar em uma educação de qualidade e relevância social, na construção de

um espaço escolar onde é possível aliar conhecimentos técnicos, a

conhecimentos práticos, construção da cidadania, da ética, é acreditar na

escola como instituição responsável pela formação integral de um indivíduo e

trazer essa responsabilidade para ser dividida entre todos: escola, comunidade

escolar, comunidade local, alunos, fazendo com que todos assumam seu

verdadeiro papel nesse processo.

A Gestão Democrática é um ato político e é a partir de sua prática que

será possível desenvolver e vivenciar a democracia no cotidiano escolar. Ela

empunha a bandeira da liberdade e da democracia e chama para si todos os

membros envolvidos no processo, divide a responsabilidade de formação, a

responsabilidade na divisão de tarefas, em todas as questões que envolvem

esse espaço escolar.

Através dos estudos feitos, compreendendo que há muito mais a se

fazer, que falta muito em produção científica nesse sentido, o que se percebe é

a busca de uma nova identidade para a escola pública brasileira. Identidade

essa baseada na cultura local de seus estudantes, em seus conhecimentos e

suas construções ao longo de sua história, identidade própria, sem a

necessidade de copiar, reproduzir, mas buscando seus próprios princípios, sua

própria “CARA”.

Mas para ser possível a construção desse espaço democrático e a

formação desse cidadão completo, crítico e consciente, é imprescindível que o

educador tenha a exata medida de seu papel concepção de educação, que

assumam, de fato, o papel de participantes ativos na construção, reconstrução,

discussão, reflexão do processo educacional e do processo de construção de

uma sociedade mais justa e igualitária.

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