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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NO DIREITO BRASILEIRO AUTOR CAMILLA THEODORO RANGEL ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · ao caso concreto. São feitas observações sobre a justiça / segurança jurídica e ao estudo da coisa julgada e sua regulamentação,

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NO DIREITO BRASILEIRO

AUTOR

CAMILLA THEODORO RANGEL

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NO DIREITO BRASILEIRO

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual Civil. Por: Camilla Theodoro Rangel.

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Agradeço ao meu marido, Christian, pela paciência quando da elaboração do presente trabalho e aos meus pais, Francisco e Emilia, por tudo que eles me proporcionaram até hoje.

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RESUMO

A relativização da coisa julgada e a sua estabilidade nas relações

jurídicas são temas de grande questionamento e dividem a doutrina e a

jurisprudência quando da sua aplicação, referem-se ao conflito entre a

justiça concreta e a segurança jurídica. Os princípios constitucionais

devem ser analisados e ponderados em face da legislação

infraconstitucional que regulamentam a matéria quando da sua aplicação

ao caso concreto. São feitas observações sobre a justiça / segurança

jurídica e ao estudo da coisa julgada e sua regulamentação, limites,

conceito, fundamentos e importância no direito pátrio. Por outro lado,

abordaremos os princípios constitucionais aplicáveis à matéria com

destaque no princípio da proporcionalidade. Depois, a questão da

relativização da coisa julgada, será exemplificada com os

posicionamentos jurisprudenciais e doutrinários favoráveis e contrários à

relativização. Por último, a análise do princípio da proporcionalidade e a

sua interação com outros princípios constitucionais. Esse princípio

garantido na constituição que poderá servir como amparo para que uma

decisão judicial possa ser justa sem gerar insegurança ao mundo

jurídico e possa melhorar o convívio em sociedade.

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METODOLOGIA

A presente monografia constitui-se em um estudo detalhado das

características jurídicas do fenômeno em estudo, do tratamento conferido a

cada uma delas pelo ordenamento jurídico nacional e de sua interpretação pela

doutrina e jurisprudências especializadas, tudo sob o ponto de vista específico

do direito positivo brasileiro.

Logo, o estudo que ora se apresenta foi levado a efeito a partir do

método da pesquisa bibliográfica, em que se buscou o conhecimento em

diversos tipos de publicações, como livros, revistas e outros periódicos

especializados, além de publicações oficiais da legislação e da jurisprudência.

Por outro lado, a pesquisa que resultou nesta monografia também foi

empreendida através do método normativo-dogmático, pois teve como

referencial e fundamento exclusivo a dogmática desenvolvida pelos estudiosos

que já se debruçaram sobre o tema anteriormente, e positivista, porque buscou

apenas identificar a realidade social em estudo e o tratamento jurídico a ela

conferido, sob o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro.

Em adição, o estudo que resultou neste trabalho identifica-se,

também, com o método da pesquisa aplicada, por pretender produzir

conhecimento para aplicação prática, assim como com o método da pesquisa

qualitativa, porque procurou entender a realidade a partir da interpretação e

qualificação dos fenômenos estudados; identifica-se, ainda, com a pesquisa

exploratória, porque buscou proporcionar maior conhecimento sobre a questão

proposta, além da pesquisa descritiva, porque visou a obtenção de um

resultado puramente descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica do

tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................8

CAPÍTULO I

A SEGURANÇA JURÍDICA E A JUSTIÇA DAS DECISÕES

JUDICIAIS.........................................................................................................10

1.1 – A JUSTIÇA NAS DECISÕES JUDICIAIS............................................... 10

1.2 – A SEGURANÇA JURÍDICA.................................................................... 11

1.2.1 – OS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCINAIS DA

SEGURANÇA JURÍDICA .................................................................................12

1.2.2 – EFETIVAÇÃO DA SEGURANÇA JURÍDICA ......................................13

CAPÍTULO II

A COISA JULGADA E OS SEUS EFEITOS.....................................................15

2.1 – HISTÓRICO DA COISA JULGADA NO BRASIL ..................................15

2.2 – CONCEITUAÇÃO DA COISA JULGADA ..............................................17

2.3 – DISTINÇÃO ENTRE COISA JULGADA FORMAL E MATERIAL ..........17

2.3.1 – CONCEITO DE COISA JULGADA FORMAL ......................................19

2.3.2 – CONCEITO DE COISA JULGADA MATERIAL...................................20

2.4 – OS LIMITES DA COISA JULGADA.........................................................21

2.4.1 – OS LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA..............................21

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2.4.2 – OS LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA...............................23

CAPÍTULO III

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS À COISA

JULGADA......................................................................................................... 25

3.1 – ASPECTOS GERAIS...............................................................................25

3.2 – PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA LEI

.........................................................................................................................26

3.3 – PRINCÍPIO DO DIREITO ADQUIRIDO..................................................27

3.4 – PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA............................28

3.5 – PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE................................................30

CAPÍTULO IV

A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NO DIREITO PÁTRIO.................33

4.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS...................................................................33

4.2 – A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA COMO GARANTIA DA

SEGURANÇA JURÍDICA..................................................................................34

4.3 – A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA COMO GARANTIA DA

JUSTIÇA NAS DECISÕES..............................................................................37

CONCLUSÃO...................................................................................................42

BIBLIOGRAFIA................................................................................................44.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um estudo acerca da discussão da relativização

da coisa julgada, dedica-se ao conflito que assola os aplicadores do direito,

qual seja, o confronto entre a justiça concreta e a segurança jurídica, ainda que

ocorra eventual injustiça ao caso individual concreto, e a aplicação dos valores

constitucionais.

A relativização, no direito brasileiro, iniciou-se por volta do ano 2000,

tendo como exemplos dois casos de grande repercussão na mídia. O primeiro

caso versou sobre a inovação do exame de DNA, em que se produz uma prova

com 99,8% de eficácia e diante dessa observação o Estado-Juiz julga com

base no juízo de probabilidade, aventando a possibilidade da descoberta da

verdadeira filiação. E, na negativa da realização do exame, o magistrado julga

por presunção de certeza com o auxílio de provas documentais e

testemunhais. Podemos citar, como segundo caso, o que dispunha sobre uma

ação indenizatória de valor irrisório em uma ação de desapropriação, em que o

desapropriado receberia um valor ínfimo do Estado, tendo em vista o valor

venal do imóvel não atualizado, que não correspondia com o valor de mercado.

Logo, nesse último caso, fica fácil a valoração do imóvel tendo por referência o

preço do imóvel naquela região, a avaliação de corretores, dentre outros

critérios para o melhor julgamento do Estado-Juiz.

Nesse sentido, a relativização da coisa julgada começou a ser utilizada,

nas decisões judiciais, com fulcro nos princípios constitucionais da moralidade,

dignidade da pessoa humana, devido processo legal, justiça nas decisões e

razoabilidade. Podemos falar que os precursores da relativização foram os

eminentes doutrinadores: José Augusto Delgado, Humberto Theodoro Junior e

Candido Rangel Dinamarco.

A presente monografia divide-se em quatro capítulos. O primeiro capítulo

estuda o significado da justiça, discorrendo acerca da segurança jurídica, seus

fundamentos e os seus instrumentos de efetivação e aplicação. O segundo

capítulo trata da coisa julgada, discorrendo sobre a sua evolução histórica,

distinguindo a coisa julgada formal e material, bem como delineando os seus

limites (objetivos e subjetivos). Faz-se, aqui, uma análise sobre os seus

fundamentos e importância.

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No terceiro capítulo aborda os princípios constitucionais pertinentes ao

foco do estudo, quais sejam: o princípio da irretroatividade da lei, direito

adquirido, justiça das decisões, dignidade da pessoa humana e

proporcionalidade. Esses princípios têm por objetivo tentar amenizar os

conflitos existentes entre a legislação e o caso concreto, pois nem sempre o

que está disposto na lei consegue alcançar o caso concreto, logo, eles servem

como meio de solucionar aqueles casos excepcionais em que a norma positiva

isoladamente não prevê uma solução clara e eficaz. Encontram-se explícitos

em nossa Carta Magna e servem de embasamento para muitas decisões

judiciais.

O último capítulo faz uma análise da relativização da coisa julgada à luz

da segurança jurídica e a justiça das decisões judiciais. Discute-se, nesse

capítulo, o conflito entre a lei positivada e as decisões dos magistrados, com

uma abordagem nas diversificadas correntes doutrinárias e jurisprudenciais

acerca do tema, deixando ao alvedrio do operador do direito a melhor solução

ao seu caso concreto.

Por fim, o presente estudo trata da estabilidade das relações jurídicas e

aborda a polêmica acerca da relativização da coisa julgada, sob o foco da

discussão entre a justiça concreta (aplicação da lei) e a segurança jurídica,

diante da observância dos princípios constitucionais. Em que se preconiza a

melhor solução do caso concreto com diferentes decisões acerca de um

mesmo fato jurídico, servindo inclusive, de parâmetros para a edição de

súmulas e uniformização jurisprudencial.

Logo, a coisa julgada está relacionada à segurança jurídica e os

operadores do direito devem analisar criteriosamente cada caso concreto, pois

a relativização da coisa julgada pode ou não ferir a segurança jurídica, tendo

em vista que cada hipótese deve ser verificada à luz dos princípios

constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade.

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CAPÍTULO I

A SEGURANÇA JURÍDICA E A JUSTIÇA DAS DECISÕES

JUDICIAIS

O presente capítulo tem por objetivo a demonstração de que o direito ao

contrário das outras ciências trabalha com valores subjetivos e, no momento,

que lidamos com as relações humanas ele é transformado em um fenômeno

social. Logo, não temos certezas e verdades absolutas como parâmetros, mas

temos valores principais, quais sejam: a justiça e a segurança. No transcorrer

desse capítulo explicaremos o significado dos valores supracitados.

1.1 – A JUSTIÇA NAS DECISÕES JUDICIAIS.

A justiça deve ser compreendida como uma ideia referente ao direito,

que possui como cerne este valor. Todavia, não há consenso entre o conceito

de justiça, trata-se de tema flexível e bastante controvertido. O eminente

doutrinador Paulo Dourado de Gusmão a define do seguinte modo:

“Tratando-se de conceito do direito dissemos dever

corresponder o direito à ideia de justiça. Mas, que é

justiça? Eis aí uma questão formulada desde

Sócrates até nossos dias, sem resposta ainda. Não

há quem não tenha dela pelo menos uma vaga ideia.

Defini-la, quantas tentativas têm sido mal sucedidas.

Desde Kant diz-se não ser possível conceituá-la por

ser a razão cega para os valores” (GUSMÃO, Paulo

Dourado De. 2001. p. 75).

Podemos, ainda, citar as ideias de Hans Kelsen:

“As normas do direito positivo correspondem a certa

realidade social, mas às normas de justiça. Nesse

sentido, o valor de direito é objetivo, ao passo que o

valor de justiça é subjetivo. E isso se aplica mesmo

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que às vezes um grande número de pessoas tenha

um mesmo ideal de justiça”(KELSEN, Hans. 2001.

p.223).

Diante desse estudo de conceituação de justiça, passamos do

pensamento aristotélico aos dias atuais, e muitos doutrinadores se

dedicaram ao estudo da justiça. Não podemos deixar de citar o brilhante

estudo desenvolvido por Chaim Perelman que define a justiça sob

diversas concepções. Perelman conclui que o estudo comum entre essas

concepções refere-se ao conceito de justiça formal, pois para todas elas,

ser justo é tratar da mesma forma os indivíduos iguais, sob determinado

ponto de vista.

Para o eminente doutrinador, a justiça formal é “um princípio de ação

segundo o qual os seres de uma mesma categoria essencial devem ser

tratados de uma mesma forma”. (PERELMAN, Chaim. 2000. pp. 19 e ss).

Vale ressaltar, que mesmo com esse estudo aprofundado não

conseguimos solucionar todos os problemas da justiça concreta, pois na

avaliação subjetiva dos indivíduos fica difícil dispor sobre justiça e a

finalidade no direito em termos absolutos. Mas, mesmo que não haja

consenso, devemos obedecer e aceitar que determinadas regras rejam a

sociedade em benefício de um bem maior, qual seja, a segurança jurídica,

sob pena de gerar um estado caótico, gerando assim a insegurança.

1.2 – A SEGURANÇA JURÍDICA

Podemos dizer que na acepção genérica “segurança” se refere a vários

sentidos específicos, quais sejam: segurança pública, segurança pessoal,

segurança social e jurídica, que é objeto desse estudo monográfico. Segundo o

doutrinador Paulo Dourado de Gusmão: “A segurança diz respeito, pois, à

segurança individual, social, estatal, política e internacional. Pressuposta em

todos os ramos do direito (...)” (GUSMÃO, Paulo Dourado de. 2001, p.77).

Nas relações jurídicas, a segurança jurídica se encontra em uma

posição intimamente relacionada ao Estado Democrático de Direito, sendo um

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dos seus pilares e relaciona-se à ordem jurídica. Nesse sentido, dispõe o Profº

Paulo Nader:

“Nesse plano jurídico a segurança corresponde a uma

1ª necessidade, a mais urgente, porque diz respeito à

ordem. Como se poderá chegar à justiça se não

houver, primeiro, um Estado organizado, uma ordem

jurídica definida? É famoso o dito de Goethe: “prefiro a

injustiça à desordem.” (NADER, Paulo. 2003 p.215).

1.2.1) OS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAI DA

SEGURANÇA JURÍDICA.

No ordenamento jurídico pátrio, a segurança jurídica é tutelada tanto na

Carta Magna quanto na legislação ordinária. Podemos dizer que a Constituição

de 1988 trata da segurança jurídica sob três aspectos, quais sejam: o princípio,

o valor e o direito fundamental. Segundo o doutrinador Evandro da Silva

Barros:

“(...) a inserção constitucional de

segurança jurídica como valor ocorreu segundo Konrad

Hesse, porque ‘a constituição jurídica está

condicionada pela realidade histórica. Ela não pode ser

separada da realidade concreta de seu tempo. A

pretensa eficácia da constituição somente pode ser

realizada se se levar em conta essa realidade’”

“é necessário lembrar que o texto

constitucional ao introduzir a segurança jurídica como

um dos seus princípios, empreendeu-lhe conotação de

direito fundamental, uma vez que detém a função de

garantir, tutelar e proteger os direitos conferidos aos

sujeitos de direito”. (BARROS, Evandro Silva. Ano XII, n

47, abril/junho de 2004, pp. 55/56).

Ainda, segundo o supracitado doutrinador a segurança jurídica está

intimamente ligada ao preâmbulo constitucional, e quando a nossa Carta

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Magna dispõe acerca dos direitos invioláveis no caput do art. 5º ao lado dos

direitos à liberdade, à vida, à propriedade e à igualdade. Embora o constituinte

não tenha se referido expressamente ao direito à segurança jurídica, este

acabou sendo evidenciado em diversos artigos da nossa constituição.

A legislação infraconstitucional também protege a segurança jurídica. O

art. 6º da LICC confere proteção à coisa julgada, ao ato jurídico perfeito e ao

direito adquirido. O Código de Processo Civil conceitua a coisa julgada no seu

art. 467 e também faz expressa proibição à possibilidade do juiz decidir

novamente questões já apreciadas, com fulcro no art. 471. Prevê, ainda, o

duplo grau de jurisdição, para causas contra o poder público, consoante o

preceito do art. 475 e elenca, taxativamente, o cabimento da ação rescisória,

consoante o preceito do art. 485 do CPC, entre outros.

Vale a pena citar, o art. 2º, caput da Lei 9784/99 que regulamenta o

trâmite do processo administrativo no âmbito da Administração Pública, que

inclui o princípio da segurança jurídica no rol os princípios aos quais a

Administração deve prestar obediência.

Logo, diante do exposto, verificamos a importância da observância da

segurança jurídica que possui lugar destacado no ordenamento jurídico pátrio.

1.2.2 – EFETIVAÇÃO DA SEGURANÇA JURÍDICA

Para que ocorra a segurança jurídica, temos que observar em primeiro

lugar a normatividade, pois somente a partir da existência de normas jurídicas

é que podemos garantir algum tipo de segurança, pois, em uma sociedade em

que o indivíduo possa realizar o que quiser, sem observância a nenhuma

norma, será instaurado o caos.

Somente como direito cogente é que ocorrerá a segurança jurídica. Ou

seja, apenas, a partir de sua dogmática de que, ao praticar determinada

conduta, todo o indivíduo saberá qual conseqüência irá lhe advir. Logo, a

possibilidade é fundamental, pois segundo a lição de Perelman:

“apenas com essa condição que a paz judiciária

poderia ser assegurada em uma sociedade civilizada”

(PERELMAN, Chaim. 2000, p.31).

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Isso significa que, as regras jurídicas e o respeito a elas é essencial, não

apenas para o comportamento individual, ou para o aplicador do direito, como

toda a sociedade.

Além da previsibilidade trazida pelas normas, devemos observar

atentamente a imutabilidade das decisões judiciais aplicadas ao caso concreto,

ou seja, a regra do caso concreto que não será mais contestada. Se assim não

ocorresse, estaríamos diante de uma insegurança que iria perdurar mesmo

após do desfecho de uma lide, visto que, a decisão continuaria passível de

questionamento. Logo, chegamos à conclusão de que a coisa julgada se

apresenta como garantidora da segurança jurídica. Podemos citar a boa

doutrina da autora Cármen Lúcia Antunes Rocha:

“Afirma-se a coisa julgada como manifestação

necessária ou como decorrência precisa da segurança

jurídica, em virtude do que as decisões judiciais devem

se revestir de intangibilidade absoluta após o trânsito

em julgado” (ROCHA, Cármen Lúcia Antunes (org).

2005. p.168).

Portanto, a exigência de norma e parâmetros para os aplicadores da lei

e a presença da imutabilidade das decisões são fundamentos essenciais para

a garantia da segurança jurídica.

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CAPÍTULO II

A COISA JULGADO DE OS SEUS EFEITOS

2 – A COISA JULGADA E OS SEUS EFEITOS

2.1 – HISTÓRICO DA COISA JULGADA NO BRASIL

Analisando as legislações brasileiras, podemos dizer que as

constituições de 1824 (monárquica) e a de 1891 (republicana) não fizeram

qualquer referência à coisa julgada, mencionavam apenas a irretroatividade da

lei.

A coisa julgada foi tratada pioneiramente na Constituição de 1934 que

garantiu a proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e a coisa

julgada. A constituição de 1937 promoveu um verdadeiro retrocesso, em uma

das demonstrações de autoritarismo, suprimiu, dentre outras, a proteção à

coisa julgada.

Seguem, abaixo, os avanços introduzidos no Código de Processo Civil

de 1939, nos arts. 287 e 288, in verbis:,

“art. 287 – A sentença que decidiu total ou parcialmente

o lide terá força de lei nos limites das questões

decididas.

Art. 288 – Não terão efeito de cousa julgada os

despachos, meramente interlocutórios e as sentenças

proferidas em processos de jurisdição voluntária e

graciosa, preventivos e preparatórios e de desquite por

mútuo consentimento”.

Esses artigos fizeram expressa referência à coisa julgada,

estabelecendo até os seus limites. A proteção concedida à coisa julgada

reapareceu na Constituição de 1946, em seu artigo 141, § 3º, in verbis:

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“art. 141 – A constituição assegura aos brasileiros e

aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade

dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à

segurança individual, e à propriedade nos termos

seguintes (...) § 3º - A lei não prejudicará o direito

adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

Já a Constituição de 1967 deu nova ênfase ao artigo que dispunha da

coisa julgada, suprimindo a expressão “a lei não prejudicará”, essa matéria foi

disciplinada no inciso IV do art. 149 da Carta Magna, in verbis:

“art. 149 – A constituição assegura aos brasileiros

natos e estrangeiros residentes no Brasil o direito à

vida, à liberdade, ao trabalho e à propriedade, nos

seguintes termos: IX – respeito ao direito adquirido,

ao ato jurídico perfeito, e à coisa julgada”.

Posteriormente, a Constituição de 1969, retomou o texto dado à

proteção à coisa julgada, das constituições de 1934 e 1946. Podemos dizer

que o instituto da coisa julgada teve um verdadeiro avanço na promulgação do

Código de Processo Civil de 1973, pois tratou inclusive da definição e efeitos,

bem como da distinção entre a coisa julgada formal e material.

Por último, a constituição de 1988, inseriu no título que trata dos direitos

e garantias fundamentais, em seu art. 5º, inc. XXXVI, a proteção ao instituto da

coisa julgada, não inovando em relação aos textos das constituições anteriores.

Segue, in verbis, o art. 5º inc. XXXVI da CRFB:

“art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção

de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros

natos e os estrangeiros residentes no país, a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança, à propriedade, nos seguintes

termos: inc XXXVI – a lei não prejudicará o direito

adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”

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2.2 – CONCEITUAÇÃO DA COISA JULGADA

Podemos dizer que o direito é um complexo de normas que regem uma

sociedade, com a finalidade de garantir a paz e convivência entre os seus

integrantes de forma pacífica. Sendo assim, é imprescindível que se mantenha

a estabilidade nas relações jurídicas.

A Carta Magna em seu art.5°, inc. XXXVI firmou a coisa julgada como

um dos maiores garantidores da paz social. O art.6°, parágrafo 3° da LICC

também dispõe acerca da coisa julgada, in verbis :

“ Art.6°, § 3°, LICC : Chamar coisa julgada ou caso

julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”.

O Código de Processo Civil também disciplina a coisa julgada, sendo ela

determinante para a imutabilidade das sentenças e de seus efeitos. Segundo a

boa doutrina de Marinoni e Arenhart :

“ De fato nada mais é do que o reflexo da ordem

jurídica abstrata no caso concreto ; se a regra abstrata

é (ao menos acorde com ela) imutável, também a regra

concreta deve ser. E, considerando que na sentença o

juiz “concretiza” a norma abstrata, fazendo do caso

concreto, nada mais normal que essa lei se mostre

imutável”. (MARINONI L G, ARENHART S C. 2006,

Página 633).

2.3 – DISTINÇÃO ENTRE COISA JULGADA FORMAL E MATERIAL

Vale ressaltar, que quando não caiba mais nenhum recurso, contra

sentenças que extingam o processo, mesmo que sem resolução de mérito, a

coisa julgada estará formada, independentemente da natureza da sentença.

Entretanto, a doutrina discorre de duas espécies de coisa julgada, quais sejam:

a formal e a material.

Segundo o jurista Luís Guilherme Marinoni:

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“ Quando se alude à indiscutibilidade da sentença

judicial, fora do processo, em relação a outros feitos

judiciais, põe-se o campo da coisa julgada material, que

aqui realmente importa e que constitui,

verdadeiramente, o âmbito de relevância da coisa

julgada. Já a indiscutibilidade da decisão judicial

verificada dentro do processo remete à noção da coisa

julgada formal. A coisa julgada formal, como se nota, é

endoprocessual, e se vincula à impossibilidade de

rediscutir o tema decidido dentro da relação processual

em que a sentença foi prolatada. Já a coisa julgada

material é extraprocessual, fazendo repercutir seus

efeitos para fora do processo, em relação a outros

processos ”. (MARINONI L G, ARENHART S C. 2006,

P.633).

Já nas palavras do constitucionalista José Afonso da Silva, a coisa

julgada material é a única abarcada na CRFB/88.

“ Dizemos que o texto constitucional só se refere à

coisa julgada material, em oposição à opinião de

Pontes de Miranda, porque o que se protege é a

prestação jurisdicional definitivamente outorgada. A

coisa julgada formal só se beneficia da proteção

indiretamente na medida em que se contém na coisa

julgada material, visto que é pressuposto desta, mas

não assim a simples coisa julgada formal. Tutela-se a

estabilidade dos casos julgados, para que o titular do

direito aí reconhecido tenha a certeza jurídica de que

ele ingressou definitivamente no seu patrimônio”.

(SILVA, José Afonso da. 2001, p.438).

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2.3.1 – CONCEITO DE COISA JULGADA FORMAL

Podemos dizer a coisa julgada formal não possui uma definição no

ordenamento jurídico pátrio. Para muitos doutrinadores essa nomenclatura é

equivocada. Segundo a doutrina de Nélson Nery Júnior:

“ Trata-se na verdade de preclusão e não de coisa

julgada ”. (JÚNIOR, Nélson Nery. Rosa Maria de

Andrade. 2003, p.789)

A coisa julgada formal é reconhecida como uma forma de estabilidade

relativa que garante que a matéria discutida na sentença não poderá ser

reavaliada no mesmo processo. Segundo Luiz Rodrigues Wambier :

“ Na doutrina aparece a expressão preclusão máxima

para designar coisa julgada formal, e isto significa que a

coisa julgada formal se identifica de fato com o fim do

processo, tendo lugar quando da decisão não caiba

mais recurso algum (ou porque a parte terá deixado

escoar in albis os prazos recursais ou porque terá

interposto todos os recursos). Torna-se indiscutível a

decisão naquele processo em que foi proferida, já que o

processo acabou. A indiscutibilidade que nasce com a

coisa julgada formal se limita àquele processo em que a

decisão tenha sido proferida...” (WAMBIER, Luiz

Rodrigues. 2006, p.502).

Logo, a partir do trânsito em julgado da sentença, seja pelo esgotamento

de recursos cabíveis, seja por inexistência de recurso, ou até mesmo por

decurso de prazo recursal, forma-se a coisa julgada formal, tornando a

sentença imutável no processo em que foi prolatada.

As sentenças que fazem coisa julgada formal são aquelas que

extinguem o processo por carência de ação, por falta de pressupostos

processuais, a que homologa transação, ou a sentença que acolhe ou rejeita o

pedido do autor, ou seja, a coisa julgada formal se dá em relação a qualquer

sentença. Nesse sentido, se posicionam Luís Guilherme Marinoni e Sérgio

Cruz Arenhart :

“A ‘coisa julgada formal’ opera-se em relação a

qualquer sentença, a partir do momento em que precluir

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20

o direito do interessado em impugnar internamente a

relação processual ” (MARINONI, L G, ARENHART, S

C. Op. Cit. P.632)

Por fim, vale esclarecer que a coisa julgada formal pode ocorrer sem que

ocorra a coisa julgada material. É o que acontece com as sentenças

terminativas, que encerram o processo sem resolução do mérito e não

impedem a rediscussão da questão em outra ação.

2.3.2 – CONCEITO DE COISA JULGADA MATERIAL

A coisa julgada material, ao contrário da coisa julgada formal, irá ocorrer

nas sentenças de mérito, sendo assim a coisa julgada por excelência.

Consiste, pois, em uma qualidade que a sentença adquire após o seu trânsito

em julgado, ou seja, quando não mais sujeita a qualquer recurso (ordinário e

extraordinário), nem mesmo a remessa necessária, no mesmo entendimento,

segue a boa doutrina de Nélson Nery Junior e Rosa Maria Nery:

“ coisa julgada material (auctoritas rei indicatae) é a

qualidade que torna imutável e indiscutível o comando

que emerge da parte dispositiva da sentença de mérito

não mais sujeita a recurso ordinário e extraordinário

(CPC 467, LICC 6º § 3º), nem a remessa necessária do

CPC 475 (STF 423, Barbosa Moreira, Temas 3º, 107)”.

(JUNIOR, Nelson Nery, Nery, Rosa Maria de Andrade,

op cit, p.787).

Alguns autores lecionam ser a coisa julgada material um efeito da

sentença, mas, no entendimento do Profº Ovídio Baptista da Silva, tal assertiva

nada mais é do que um equívoco:

“Pelas considerações precedentes, cremos que se

pode concluir que LIEBMAN, que a coisa julgada não é

um efeito, mas uma qualidade que se ajunta, não, como

ele afirma, ao conteúdo e a todos os efeitos da

sentença, tornando-a imutável, e sim apenas ao efeito

declaratório, tornando-o indiscutível nos futuros

julgamento”. (SILVA, Ovídio Baptista da..2009 p. 496).

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Por fim, vale ressaltar que a coisa julgada material não é um instituto

meramente processual, pois a situação jurídica abarcada pelo manto da coisa

julgada, por atingir uma coletividade, é muito mais ampla do que as normas

técnicas que regem o procedimento do processo.

2.4 – OS LIMITES DA COISA JULGADA

De acordo com o que dispõe o art. 468 do CPC, in verbis:

“A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide,

tem força de lei nos limites da lide e das questões

decididas”.

Esses limites referem-se à natureza subjetiva e objetiva. Segundo

Sérgio Cruz Arenhart:

“A coisa julgada, como visto, atinge a declaração

suficiente que existe na sentença de mérito,

estabelecendo a ‘lei do caso concreto’, capaz de reger

especificamente a situação em juízo. Mas essa

imutabilidade se estende a quem”. (MARINONI, L G,

ARENHART, S C, op cit. P.641).

2.4.1 – OS LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA

Segundo o art.472 do CPC, in verbis :

“ A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais

é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros.

Nas causas relativas ao estado de pessoa, se

houverem sido citados no processo, em litisconsórcio

necessário, todos os interessados, a sentença produz

coisa julgada em relação a terceiros”.

A coisa julgada atinge somente as partes de uma demanda. Entretanto,

não seria lógico que outras pessoas diretamente atingidas pela decisão de uma

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demanda fossem impedidas de discutir a sentença. Na verdade, a

imutabilidade é que se restringe às partes do processo.

Podemos citar a posição de Luiz Guilherme Marinoni:

“ Em princípio, portanto, tornando-se a regra geral, tem-

se que somente as partes (e seus sucessores, por

inferência lógica) ficam acobertados pela coisa julgada.

Autor e réu da ação ficam vinculados à decisão judicial,

já que foram os sujeitos do contraditório que resultou na

edição da solução judicial. Naturalmente, se esses

sujeitos tiveram condições de influenciar na prolação da

decisão judicial, tendo, aliás, o autor solicitado esta

tutela estatal, indubitavelmente hão de sujeitar-se à

resposta jurisdicional oferecida. Para as partes, assim,

a decisão judicial, preclusa em função do esgotamento

dos meios de impugnação, torna-se imutável”.

(MARINONI, L.G., ARENHART, S.C. op.cit. 641).

Logo, a coisa julgada, sendo clara nossa legislação nesse sentido, recai

apenas sobre quem for parte no processo. Contudo, os efeitos da sentença

podem recair em terceiros sem que sejam impedidos de rediscutir a matéria

solucionada judicialmente, em atenção aos princípios do contraditório e da

ampla defesa. Vale a pena transcrever julgado do STJ, nesse sentido:

“ EMENTA : PROCESSO CIVIL. LIMITES

SUBJETIVOS DA COISA JULGADA. PROTEÇÃO AO

TERCEIRO QUE NÃO INTEGROU A RELAÇÃO

PROCESSUAL. LOCATÁRIA DA PROMISSORA

COMPRADORA QUE TEVE SUA RELAÇÃO

OBRIGACIONAL JUDICIALMENTE RESCINDIDA.

ORDEM DE DESPEJO QUE VIOLA DIREITO DA

LOCATÁRIA DE NÃO SER DESALOJADA DE SUA

POSSE SEM AS GARANTIAS DO DEVIDO

PROCESSO LEGAL. RECURSO PROVIDO.

SEGURANÇA CONCEDIDA.

I – A sistemática do CPC brasileiro não se

compadece com a extensão da coisa julgada a

terceiros, que não podem suportar as consequências

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prejudiciais da sentença. É o princípio consagrado no

art.472 da Lei processual.

II – Não tendo a locatária, por qualquer forma,

integrado a relação processual, de onde emanou a

sentença, cuja execução importou em ordem de

despejo contra ela expedida, viola-se o direito líquido e

certo na espécie, de não ser a locatária prejudicada por

sentença dada entre promitente-vendedora e

promissária-compradora locadora, e de não ser

desalojada sem as garantias do due process of law, da

posse que vinha exercendo”.(STJ – RMS 513/RJ –

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. 5ª Turma. DJ

29.11.1993. p.25880).

Nos casos que envolvam o estado da pessoa e havendo litisconsórcio

necessário e citação de terceiros, nos termos da 2ª parte do art.472 do CPC, in

verbis : “ Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados,

em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa

julgada em relação a terceiros”, a coisa julgada irá atingi-los, já que,

obviamente, estarão participando da relação processual.

Todavia, temos exceções, já que em algumas hipóteses, terceiros serão

atingidos pelos efeitos e pela autoridade da coisa julgada. Podemos citar a

legitimação extraordinária prevista no art.6° do CPC, in verbis : “ Ninguém

poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por

lei”. O substituto, nesse caso, ficará vinculado à decisão judicial.

2.4.2 – OS LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA.

De acordo com o art.458 do CPC, in verbis :

“ São requisitos essenciais da sentença: I – o relatório,

que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e

da resposta do réu, bem como o registro das principais

ocorrências havidas no andamento do processo; II – os

fundamentos, em que o juiz analisará as questões de

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fato e de direito; III – o dispositivo, em que o juiz

resolverá as questões, que as partes lhe submeterem ”.

A sentença tem como requisitos essenciais o relatório, em que o juiz

discorre sobre fatos do processo, resumindo o que é pleiteado pela parte

autora e os principais atos processuais praticados. A fundamentação ou

motivação, em que são expostos as razões e fundamentos utilizados para

alcançar a decisão final. E, por fim, o decisum ou dispositivo, em que o

magistrado apresenta sua decisão, com base na fundamentação arguida.

Vemos que no relatório e na fundamentação nada ainda foi declarado

em relação ao julgamento propriamente dito. Assim, a coisa julgada não atinge

toda a sentença, mas somente o seu dispositivo. Acerca do tema, Humberto

Theodoro Júnior escreve:

“ Os motivos ainda que relevantes para fixação do

dispositivo da sentença limitam-se ao plano lógico de

elaboração do julgado. Influenciam em sua

interpretação, mas não se recobrem do manto da

intangibilidade que é próprio da res judicata. O

julgamento, que se torna imutável e indiscutível, é a

resposta dada ao pedido do autor, não o “porquê”

dessa resposta” (JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso

de Direito Processual Civil. 38ª ed. RJ : Forense 2002 ;

v1, p.483).

Temos que ressaltar que também não faz coisa julgada a “ verdade dos

fatos estabelecida na sentença ” (art.469, II do CPC), significando que um fato

que o juiz considere verdadeiro em um processo pode ser contestado em outro

e ser considerado falso.

Por último, cabe esclarecer que “ a apreciação da questão prejudicial

decidida incidentalmente no processo ” (art.469, III do CPC), também não faz

coisa julgada. Logo, resguardada pela Carta Magna e regulada pelo CPC, a

coisa julgada é considerada o instituto que mais assegura a estabilidade das

relações jurídicas, sendo assim, sua garantidora.

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CAPÍTULO III

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS À COISA

JULGADA

3.1– ASPECTOS GERAIS.

Esse capítulo abordará alguns princípios constitucionais aplicáveis à

questão da coisa julgada. É importante ressaltar, a distinção entre conflito de

regras jurídicas e princípios. As regras são proposições normativas, ou seja, se

os fatos nela previstos acontecerem, a regra deve incidir, de modo direto e

automático, produzindo seus efeitos. Podemos citar, como exemplo, a norma

constitucional que prevê a aposentadoria compulsória tendo por parâmetro a

idade do servidor, ou seja, quando o servidor completar setenta anos, deve

passar à inatividade, sem que a aplicação do preceito comporte maior

especulação. O mesmo ocorre com a norma constitucional que prevê a criação

de uma autarquia depende de lei específica. O comando é objetivo e não dá

ensejo a construções mais elaboradas sobre a sua incidência.

Nos casos supracitados, uma norma somente deixará de viger sobre a

hipótese do caso concreto caso seja ineficaz ou inválida, se houver uma

legislação mais específica ou se não estiver em vigor, ou seja, nos casos de

exceção à regra.

Os princípios estabelecem uma carga valorativa, um valor ético, uma

decisão política de cunho relevante, e indicam uma diretriz. Ocorre que, em

uma ordem pluralista, existem outros princípios que abarcam decisões, valores

ou fundamentos diversos, por vezes contrapostos. A colisão de princípios,

portanto, não só é possível, como faz parte da lógica do sistema, que é

dialético. Nas palavras de Ronald Dworkin:

“As regras são aplicáveis à maneira do “tudo ou nada”.

Dados os fatos que uma regra estipula, então, ou a

regra é válida, e neste caso a resposta que ela fornece

deve ser aceita, ou não é válida, e neste caso, em nada

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contribui para a decisão”. (DWORKIN, Ronald. 2003. p.

39).

Os princípios constitucionais devem ser reconhecidos à vista dos

elementos do caso concreto, o aplicador do direito deverá fundamentar-se

quando houver o confronto entre antagonismos inevitáveis, como os que

existem entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade, a livre

iniciativa e a intervenção estatal, o direito de propriedade e a sua função social.

O direito deve ser aplicado através de um sério critério de ponderação. Nesse

sentido, são as palavras de Willis Santiago:

“Princípios, à diferença de regras, como acentua

Dworkin, apresenta-se em determinadas situações de

conflito entre si, como sendo uns mais importantes do

que os outros, por terem essa “dimensão de peso

(relativo)” (dimension of weight), devido à qual faz

sentido perguntar, nessa situações concretas, qual

princípio tem mais peso, é mais importante, para que

possa prevalecer. Quando se diz que o princípio da

proporcionalidade é mais importante que o da isonomia

e, mesmo, considerando abstramento, o mais

importante de todos, é por ser ele a expressão objetiva

dessa dimensão de todo e qualquer princípio”. (GRAU,

Eros Roberto e GUERRA FILHO, Willis Santiago

(organizadores). Op cit. P. 281).

A distinção principal entre regra e princípio refere-se à relatividade. Não

há princípio do qual se possa pretender seja acatado de forma absoluta, em

toda e qualquer hipótese, pois uma obediência unilateral e irrestrita a uma

determinada pauta valorativa termina por infringir uma outra.

3.2) PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA LEI.

Esse princípio aparece no nosso ordenamento jurídico desde a

Constituição de 1824. A primeira constituição republicana (1891), no seu art.

11, inciso 3º, vedava aos Estados, como à União, a prescrição de leis

retraotivas. A atual constituição, no seu art. 5º, inc. XXXVI, in verbis: “A lei não

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prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”,

também faz referência ao instituto.

De acordo com a boa doutrina de Tupinambá Miguel do Nascimento:

“ (...) a lei penal só retroagirá para beneficiar o réu (inc.

XL). Nos demais casos incide o inc. XXXVI: “a lei não

prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a

coisa julgada. É o princípio constitucional da

possibilidade de retroagir, mas tornando o passado

inviolável nas situações que cita, diante da

normatividade superveniente. A compreensão deste

direito e garantia, em todas as suas nuances, passa

necessariamente pelo entendimento das situações

referidas na norma, em que há ultratividade de regras já

revogadas pelo ordenamento jurídico novo”.

(NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do.1997. P.

72).

Frise-se, todavia, que o que não pode ser atingido pela supremacia da

lei nova é o direito adquirido, jamais o direito em potencial, ou a simples

expectativa de direito, uma vez que não se pode admitir direito adquirido a

adquirir um direito.

3.3 – PRINCÍPIO DO DIREITO ADQUIRIDO

De alguma forma, o direito adquirido sempre foi amparado pelas

Constituições Federais ao longo da história, com exceção da Carta Magna de

1937, que não fazia referência alguma ao instituto

No mesmo sentido, o legislador cuidou do tema ao editar a Lei de

Introdução ao Código Civil, que em seu art. 6º §2º, in verbis:

“A Lei em vigor terá efeito imediato e geral,

respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e

a coisa julgada (...) § 2º Consideram-se adquiridos

assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele,

possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício

tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida

inalterável, a arbítrio de outrem”.

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Nesse artigo, há a definição do direito adquirido.

A maioria dos doutrinadores considera esse instituto de difícil

conceituação. Conforme leciona o doutrinador José Afonso da Silva

“a doutrina ainda não fixou com precisão o conceito e

“direito adquirido””. Tem-se como referência, sempre

mencionado no estudo do tema, o italiano Gabba.

Ainda nas palavras de José Afonso, abaixo transcritas:

“É ainda a opinião de Gabba que orienta sua noção,

destacando como seus elementos caracterizadores ter

sido produzido por um fato idôneo para sua produção;

ter se incorporado definitivamente ao patrimônio do

titular”. (SILVA, José Afonso. 2001. p. 436).

Vale a pena transcrever a definição de direito adquirido feita por Rubens

Limongi França:

“é a conseqüência de uma lei, por via direta ou por

intermédio de fato idôneo; conseqüência que, tendo

passado a integrar o patrimônio material ou moral do

sujeito, não se fez valer antes da vigência da lei nova

sobre o mesmo objeto”. (FRANÇA, Rubens Limongi.

1988, p.50).

3.4 – PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Hodiernamente, o ordenamento jurídico tende ao reconhecimento do ser

humano como centro e fim do direito. Essa inclinação encontra-se pautada

principalmente no Estado Democrático de Direito. Nas palavras de Daniel Sarmento:

“o princípio da dignidade da pessoa humana

representa o epicentro axiológico da ordem

constitucional”. (SARMENTO, Daniel. 2002. p.65).

O princípio em comento é reconhecido na atual constituição como um

dos fundamentos da República Federativa do Brasil, em seu art. 1º, inc III, in

verbis, “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

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Estados e Municípios e Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de

Direito e tem como fundamentos: (...) III – a dignidade da pessoa humana”.

Nas palavras de José Afonso da Silva:

“(...) a dignidade da pessoa humana não é uma criação

constitucional, pois ela é um desses conceitos a priori,

um dado preexistente a todo experiência especulativa,

tal como a própria pessoa humana. A constituição,

reconhecendo a sua existência e a sua eminência,

transformando-a num valor supremo da ordem jurídica,

quando a declara como um dos fundamentos da

República Federativa do Brasil constituída em Estado

Democrático de Direito”. (SILVA, Jose Afonso da. 2002,

p.31).

Esse princípio, embora seja envolvido em grande abstração pode ser

compreendido como sendo uma igualdade de direitos entre todos os homens;

garantia de independência e autonomia do ser humano, de forma a obstar toda

interferência externa ao desenvolvimento de sua personalidade, bem como

toda atuação que importe na sua degradação; observância e proteção dos

direitos inalienáveis do homem; não admissibilidade da negativa de meios

fundamentais para o desenvolvimento de alguém como pessoa ou a imposição

de condições subumanas de vida.

Na boa doutrina de Alexandre de Moraes, a dignidade da pessoa

humana consiste em

“um valor espiritual e moral inerente à pessoa , que se

manifesta singularmente na autodeterminação

consciente e responsável da própria vida e traz consigo

a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas,

constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo o

estatuto jurídico deve assegurar”. (MORAES,

Alexandre. 2002, p. 145).

Por último, pode-se afirmar que a dignidade da pessoa humana

relaciona-se ao homem como centro do universo jurídico. Esse reconhecimento

abarca todos os seres humanos e cada um destes individualmente, sendo que

a projeção dos seus efeitos emanados na ordem jurídica não se deve

manifestar de modo distinto entre as pessoas.

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Diante do exposto, chega-se à conclusão de que a igualdade entre os

homens se apresenta como uma obrigação a ser cumprida pelo poder público,

tanto em relação à elaboração das regras de direito seja quanto à sua

aplicação. Entretanto, cabe a observação acerca do tratamento isonômico que

não impossibilita a discriminação, mas sim a garantia de que esta não aconteça

de forma injustificada e desarrazoada.

3.5 – PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.

A Carta Magna concede direitos e garantias fundamentais. Entretanto,

tais direitos e garantias não são ilimitados, sendo os seus limites, também

resguardados e assegurados pela própria Constituição Federal. Para dirimir a

controvérsia entre os princípios constitucionais que atormenta os operadores

do direito, representado pelos conflitos entre princípios constitucionais que,

certamente, ocupam a mesma ordem hierárquica normativa, é que se recorre

ao princípio da proporcionalidade como escopo de encontrar solução

balanceada, atingindo o menos possível os princípios envolvidos.

Segundo o doutrinador Willis Santiago Guerra Filho:

“(...) preconiza-se o recurso a um “princípio dos

princípios”, o princípio da proporcionalidade, que

determina a busca de uma “solução de compromisso”,

na qual se respeita mais, em determinada situação, um

dos princípios em conflito, procurando desrespeitar o

mínimo o outro, e jamais lhe faltando totalmente com o

respeito, isto é, ferindo-lhe seu “núcleo essencial”, onde

se acha insculpida a dignidade humana”. (GRAU, Eros

Roberto e GUERRA FILHO, Willis Santiago

(organizadores). 2001. p.269).

Esse princípio foi pioneiramente estudado pelo direito alemão,

influenciado por pensamentos jusnaturalistas, onde se afirmava que a limitação

da liberdade individual só tem cabimento caso seja revertida para a realização

de interesses coletivos superiores. Por sua vez, nos Estados Unidos, foi

desenvolvido o princípio da razoabilidade que, de certa maneira, se identifica

com o princípio da proporcionalidade. Neste último, o princípio surgiu pela

interpretação evolutiva do devido processo legal.

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O princípio da razoabilidade não aparece de forma explicita em nossa

legislação, é uma conseqüência da política adotada pelos constituinte , a do

“Estado Democrático de Direito”, já que, sem a sua aplicação não se pode

garantir o respeito simultâneo aos interesses públicos, coletivos e individuais.

No entanto, podemos reconhecê-lo no art. 5º § 2º da CRFB/88, in verbis: “Os

direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou por tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.

Para o doutrinador Paulo Bonavides a tese que demonstra a noção de

proporcionalidade emerge de vários dispositivos da Constituição Federal de

1988 e dispõe que:

“é na qualidade de princípio constitucional ou princípio

geral do direito, apto a acautelar do arbítrio do poder o

cidadão e toda a sociedade, que se faz mister

reconhecê-lo já implícito e, portanto, positivado em

nosso direito constitucional”. E conclui: “o princípio da

proporcionalidade é, por conseguinte, direito positivo

em nosso ordenamento constitucional. Embora não

haja sido ainda formulado como “norma jurídica global”,

flui do espírito que anima em toda a sua extensão e

profundidade o § 2º do art. 5º, o qual abrange a parte

não-escrita ou não expressa dos direitos e garantias da

Constituição, a saber, aqueles direitos e garantias cujo

fundamento decorre da natureza do regime, da

essência impostergável do Estado Democrático de

Direito e dos princípios que este consagra e que fazem

inviolável a unidade da Constituição”. (BONAVIDES,

Paulo. 2001. p. 396).

Na doutrina, temos diversos conceitos para o princípio da

proporcionalidade, segundo a citação de Paulo Márcio Cruz e Rogério Zuel

Gomes:

“Para Paulo Bonavides, que estudou a fundo o direito

alemão, o Princípio da Proporcionalidade “se

caracteriza pelo fato de presumir a existência de

relação adequada entre um ou vários fins determinados

e os meios com que são levados a cabo”. Nesta

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acepção entende Muller, citado por Paulo Bonavides,

que “há violação do princípio da proporcionalidade, com

ocorrência de arbítrio, toda vez que os meios

destinados a realizar um fim não são por si mesmos

apropriados e ou quando a desproporção entre meios e

fim é particularmente evidente, ou seja, manifesta”.

(CRUZ, Paulo Márcio, GOMES, Rogério Zuel.

2006.p.141).

Vale ressaltar que há uma necessidade lógica e, até, axiológica, de se

postular a relatividade, que nada mais é do que o princípio da

proporcionalidade, para que haja o respeito às normas e aos princípios

tendentes a colidirem quando se opera concretamente com o Direito.

É na situação supracitada que ocorre o conflito entre princípios, ou entre

eles e as regras do direito. Aqui, que o princípio da proporcionalidade mostra

sua grande significação, porque pode ser utilizado como critério para solucionar

da melhor forma o conflito, intensificando na medida em que se acata um e

desacate o outro.

Sobre o tema segue a boa doutrina de Alexandre de Moraes:

”Desta forma, quando houver conflito entre dois ou

mais direitos ou garantias fundamentais, o interprete

deve utilizar-se do princípio da concordância prática ou

da harmonização de forma a coordenar e combinar os

bens jurídicos em conflito, evitando o sacrifício total de

uns em relação aos outros, realizando uma redução

proporcional do âmbito de alcance de cada qual

(contradição de princípios), sempre em busca do

verdadeiro significado da norma e da harmonia do texto

constitucional com sua finalidade precípua”. (MORAES,

Alexandre de. 2006, p. 28).

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CAPÍTULO IV

A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NO DIREITO PÁTRIO

4.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS.

De acordo com o processualista Alexandre Freitas Câmara:

“Diante dos problemas práticos que podem ser

gerados por sentenças injustas ou contrárias ao

ordenamento jurídico que tenham alcançado a

autoridade de coisa julgada, surge, então, o dilema:

deve-se admitir ou não a relativização da coisa julgada?

Argumentos de peso há, registre-se, em ambos os

sentidos, não sendo possível a qualquer processualista

nos dias de hoje permanecer indiferente ao tema”.

(CÂMARA, Alexandre Freitas. 2008. p. 24).

No mesmo sentido segue a doutrina de Luiz Rodrigues Wambier:

“Nos últimos anos se vêm registrando uma tendência,

por parte respeitável dos processualistas brasileiros, no

sentido de se atribuir menor valor ao instituto da coisa

julgada que, como se viu, visa a realizar, no plano dos

fatos, a valor segurança. Segundo alguns, portanto, tal

valor deveria ceder passo a outros valores, igualmente

relevantes, em certas circunstâncias excepcionais. A

essa tendência deu-se o nome de “relativização da

coisa julgada””. (WAMBIER, Luiz Rodrigues, op. Cit. p,

507).

Impende ressaltar, uma divisão doutrinária acerca do tema, qual seja, a

que admite a possibilidade de relativização, a qualquer tempo, em alguns

casos específicos e, o outro posicionamento que não admite, tendo em vista a

violação de normas constitucionais.

Por esse motivo, a discussão da presente monografia provoca grande

controvérsia em decorrência da carência de legislação específica acerca da

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matéria e de conflitos entre valores constitucionais que envolvam a questão,

existindo diversificadas correntes doutrinárias e jurisprudenciais.

4.2 – A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA COMO GARANTIA DA

SEGURANÇA JURÍDICA.

Dentre os doutrinadores que inadmitem a relativização da coisa julgada,

podemos citar Leonardo Greco, que considera a coisa julgada uma garantia

constitucional importante. Nas suas palavras:

“Todavia, parece-me que a coisa julgada é uma

importante garantia fundamental e, como tal, um

verdadeiro direito fundamental, como instrumento

indispensável à eficácia concreta do direito à

segurança, inscrito como valor e como direito no

preâmbulo e no caput do art. 5º da Constituição de

1988. A segurança não é apenas a proteção da vida, da

incolumidade física ou do patrimônio, mas também e

principalmente a segurança jurídica”. (GRECO,

Leonardo. 2008. p. 254).

A segurança juridica é considerada para o supracitado autor como sendo

a previsibilidade mínima que o Estado Democrático de Direito deve

proporcionar aos indivíduos e é a manutenção da coisa julgada essencial para

a segurança, não só para os demandantes de um lide, como para toda a

sociedade, assim dispõe:

“Em recente estudo sobre as garantias fundamentais

do processo, recordei que na jurisdição de

conhecimento, a coisa julgada é garantia da segurança

jurídica e da tutela jurisdicional efetiva. Àquele a quem

a justiça reconheceu a existência de um direito, por

decisão não mais sujeita a qualquer recurso no

processo em que foi proferida, o Estado deve assegurar

a sua plena e definitiva fruição, sem mais poder ser

molestado pelo adversário. Se o Estado não oferecer

essa garantia, a jurisdição nunca assegurará em

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35

definitivo a eficácia concreta dos direitos dos cidadãos.

Por outro lado, a coisa julgada é uma conseqüência

necessária do direito fundamental à segurança (art. 5º ,

inc. I, da Constituição) também dos demais cidadãos, e

não apenas das partes no processo em que ela se

formou, pois, todos aqueles que travam relações

jurídicas com alguém que teve determinado direito

reconhecido judicialmente, devem poder confiar na

certeza desse direito que resulta da eficácia que

ninguém pode negar aos atos estatais”. (GRECO,

Leonardo. 2008. p.255).

Vale a pena transcrever a doutrina de Nelson Nery acerca do tema:

“Consoante o direito constitucional de ação (CF 5º

XXXV), busca-se pelo processo a tutela jurisdicional

adequada e justa. A sentença justa é o ideal – utópico –

maior do processo. Outro valor não menos importante

para essa busca é a segurança das relações sociais e

jurídicas. Havendo choque entre esses dois valores

(justiça da sentença e segurança das relações sociais e

jurídicas), o sistema constitucional brasileiro resolve o

choque optando pelo valor segurança (coisa julgada),

que deve prevalecer em relação à justiça, que será

sacrificada (veropferungstheorie)”. (JUNIOR, Nelson

Nery. 2008. p.297).

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, proferiu alguns julgados

favoráveis à tese da relativização da coisa julgada, conforme ementa a seguir

exposta:

EMENTA: INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE COISA

JULGADA. SENTENÇA ANTERIOR QUE JULGOU

IMPROCEDENTE POR DEFICIÊNCIA PROBATÓRIA UMA

PRIMEIRA AÇÃO INVESTIGATÓRIA. INEXISTÊNCIA DE

COISA JULGADA MATERIAL, NA HIPÓTESE. QUANDO

NÃO ESGOTADAS TODAS AS PROVAS DISPONÍVEIS,

NÃO SE PODE RECONHECER A COISA JULGADA,

ESPECIFICAMENTE EM SEDE INVESTIGATÓRIA,

PORQUE AQUI SE TRATA DE UMA MATÉRIA

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ESPECIALÍSSIMA, EM QUE DEVE SER RELATIVIZADA A

COISA JULGADA. ISSO PORQUE O VALOR QUE A COISA

JULGADA VISA RESGUARDAR É JUSTAMENTE O DA

SEGURANÇA JURÍDICA, E ESSE VALOR DEVE SER

POSTO EM COTEJO COMO UM DOS PRÓPRIOS

FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO

BRASIL, DISPOSTO NO ART. 1º, INC III DA SUA

CONSTITUIÇÃO, OU SEJA, O DA DIGNIDADE DA

PESSOA HUMANA. O DIREITO DA IDENTIFICAÇÃO ESTA

LIGADO À PRESERVAÇÃO DESSA DIGNIDADE E DEVE-

SE SOBREPOR A QUALQUER OUTRO VALOR, A

QUALQUER OUTRO PRINCÍPIO, INCLUSIVE O DA

SEGURANÇA JURÍDICA, QUE A COISA JULGADA BUSCA

PRESERVAR. DERAM PROVIMENTO, POR

MAIORIA./FLS.18/ (Apelação Cível nº 70002610012, Sétima

Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José

Carlos Teixeira Giorgis, julgado em 12/09/2001).

Em sentido contrário, segue o julgado abaixo, em que se prestigia o

instituto da coisa julgada.

EMENTA: NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. COISA

JULGADA MATERIAL. DESCABIMENTO DE NOVA AÇÃO

PARA COLHER NOVAS PROVAS. 1. A COISA JULGADA

MATERIAL É GARANTIA CONSTITUCIONAL E GARANTIA

CONSTITUCIONAL NÃO PODE SER FLEXIBILIZADA, EM

HIPÓTESE ALGUMA. 2. É INADIMISSÍVEL AÇÃO

NEGATÓRIA PARA RESCINDIR SENTENÇA QUE JULGOU

PROCEDENTE AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE

PATERNIDADE, EMBASADA EM FARTA PROVA

TESTEMUNHAL, JÁ QUE O RÉU MANTEVE-SE REVEL

DURANTE TODO O TRAMITAR DAQUELA DEMANDA,

BUSCANDO JUSTIFICAR SEU COMPORTAMENTO, APÓS

12 ANOS, COM ALEGADA IGNORÂNCIA OU

DESCONHECIEMENTO DE PODER REPRESENTAR-SE

PELA DEFENSORIA PÚBLICA. RECURSO DESPROVIDO,

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POR MAIORIA. (APELAÇÃO CÍVEL Nº700144776397,

SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS,

RELATOR: SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS

CHAVES, JULGADO EM 18/10/2006).

4.3 – RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA COMO GARANTIA DA

JUSTIÇA NAS DECISÕES .

Diante do exposto, parte da doutrina e jurisprudência tendem a

questionar o dogma da imutabilidade da coisa julgada material. Parte da

doutrina entende necessária a rescisão de sentenças com o trânsito em

julgado, quando desarrazoadas. Outra parte da doutrina entende que a

relativização deve se dar em casos excepcionais, independente de

desconstituição. No entanto, embora com fundamentações diversas, o foco

principal está na inadmissibilidade da perpetuação da injustiça, com fulcro nos

princípios constitucionais da moralidade, dignidade da pessoa humana, justiça

nas decisões. Na doutrina do Professor Cândido Rangel Dinamarco,

“não é legítimo eternizar injustiças e pretexto de evitar

a eternização de incertezas”. (DINAMARCO, Cândido

Rangel. 2002. p.54).

No mesmo sentido é a doutrina de José Augusto Delgado:

”(...) não posso conceber o reconhecimento de força

absoluta quando ela atenta contra a moralidade, contra

a legalidade, contra os princípios maiores da

Constituição Federal e contra a realidade imposta pela

natureza. Não posso aceitar, em sã consciência, que,

em nome da segurança jurídica, a sentença viole a

Constituição Federal, seja veículo de injustiça,

desmorone ilegalmente patrimônios, obrigue o estado a

pagar indenizações indevidas, finalmente desconheça

que o branco é branco e que a vida não pode ser

considerada morte, nem vice-versa”. (DELGADO, José

Augusto. 2002. p.89).

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Já Humberto Theodoro Junior e Juliana Cordeiro de Faria, entendem

que discutindo a coisa julgada há ofensa direta aos princípios constitucionais, e

se posicionam da seguinte forma:

”Pode, é certo, a coisa julgada ser ilidida em razão de

ulterior declaração de inconstitucionalidade da lei

aplicada na sentença. Entretanto, o principal foco de

cogitação, quando se trata de relativizar a autoridade

da res indicata é justamente o cotejo entre o conteúdo

da sentença e os valores tutelados pela Constituição.

Não se pode ter como absoluta a intangibilidade da

coisa julgada, no caso concreto, quando dentro da

sistemática constitucional houver sido transgredido um

valor de nível mais elevado que a segurança jurídica”.

(JUNIOR, Humbeto Theodoro, FARIA, Juliana Cordeiro.

2008. p. 207).

Para o doutrinador Alexandre Freitas Câmara as sentenças

inconstitucionais transitadas em julgado, poderiam ser rediscutidas, não sendo

admitida a relativização da coisa julgada por mera alegação de injustiça na

sentença. Em suas palavras:

”Significa isto dizer que não se pode, simplesmente

admitir que a parte vencida venha a juízo alegando que

a sentença transitada em julgado está errada, ou é

injusta, para que se admita o reexame do que ficou

decidido”. “(...) Por tal razão, entendo que apenas no

caso de ter algum fundamento constitucional é que será

possível reapreciar o que ficou decidido por sentença

transitada em julgado. Dito de outra maneira, apenas

no caso de sentenças inconstitucionais transitadas em

julgado será possível relativizar-se a coisa julgada”.

(CAMARA, Alexandre Freitas.2008. p. 31).

Por último, vale consignar que a tendência doutrinária da relativização

da coisa julgada reflete nas decisões judiciais, conforme julgado do Supremo

Tribunal de Justiça, abaixo transcrito:

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EMENTA: PROCESSO CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE

PATERNIDADE. REPETIÇÃO DE AÇÃO ANTERIORMENTE

AZUIZADA, QUE TEVE O SEU PEDIDO JULGADO

IMPROCEDENTE POR FALTA DE PROVAS. COISA

JULGADA. MITIGAÇÃO. DOUTRINA. PRECEDENTES.

DIREITO DE FAMÍLIA. EVOLUÇÃO. RECURSO

ACOLHIDO. I – Não excluída expressamente a paternidade

do investigado na primitiva ação de investigação de

paternidade diante da precariedade da prova e da ausência

de indícios suficiente a caracterizar tanto a paternidade

como a sua negativa, e considerando que, quando do

ajuizamento da primeira ação, o exame pelo DNA ainda não

era disponível e nem havia notoriedade a seu respeito,

admite-se o ajuizamento de ação investigatória, ainda que

tenha sido aforada uma anterior com sentença julgando

improcedente o pedido. II – Nos termos da orientação da

Turma, “sempre recomendável a realização de perícia para

investigação genética (HLA E DNA), porque permite ao

julgador um juízo de fortíssima probabilidade, senão certeza”

na composição do conflito. Ademais, o progresso da ciência,

em matéria de prova, está na substituição da verdade ficta

pela verdade real. III – A coisa julgada, em se tratando de

ações de estado, como no caso de investigação de

paternidade, deve ser impetrada modus in rebus. Nas

palavras de respeitável e avançada doutrina, quando

estudiosos hoje se aprofundam no reestudo do instituto, na

busca sobretudo da realização do processo justo, “a coisa

julgada existe como criação necessária à segurança prática

das relações jurídicas e as dificuldades que se opõem à sua

ruptura se explicam pela mesmíssima razão. Não se pode

olvidar, todavia, que numa sociedade de homens livres, a

Justiça tem que estar acima da segurança, porque sem

justiça não há liberdade”. IV – Este Tribunal tem buscado,

em sua jurisprudência, firmar posições que atendam aos fins

sociais do processo e às exigências do bem comum.

(Recurso Especial nº 226.436 – PR (1999/0071498-9), 4ª

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Turma do STJ, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo

Teixeira, julg. 28/06/2001).

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. FASE

EXECUTÓRIA. DETERMINAÇÃO DE NOVA AVALIAÇÃO.

FIXAÇÃO DA TERRA NUA INCLUINDO A COBERTURA

FLORÍSITICA ART. 12 DA LEI 8.629/93.

1. Recurso especial intentado contra acórdão, exarado em

agravo de instrumento, que reformou decisão

monocrática designadora de nova perícia na área objeto

da ação expropriatária, em fase de execução, por

entender que o juiz de primeiro grau elevou premissa

fática equivocada quanto aos cálculos, para chegar à

conclusão adotada. 2. A desapropriação, como ato de

intervenção estatal na propriedade privada, é a forma

mais drástica de manifestação do poder de império,

sendo imprescindível a presença da justa indenização

como pressuposto de admissibilidade do ato

expropriatório. 3. Posicionamento do Relator: filiação à

corrente que entende ser impossível a res judicata, só

pelo fundamento de impor segurança jurídica, sobrepor-

se aos princípios da moralidade pública e da

razoabilidade nas obrigações indenizatórias assumidas

pelo Estado. Esse pensamento não nega proteção do

direito subjetivo de qualquer uma das partes, pelo

contrário, a sua preservação apresenta-se devidamente

fortalecida quando a decisão operante da coisa julgada

vivifica sem qualquer ataque a princípios maiores

constitucionais e que se refletem na proteção da

cidadania. 4. Há razoabilidade em ato judicial de

determinação de nova perícia técnica no intuito de se

aferir, com maior segurança, o valor real no mercado

imobiliário da área em litígio sem prejudicar qualquer das

partes envolvidas. Resguarde-se, nesse atuar, maior

proximidade com a garantia constitucional da justa

indenização, seja pela proteção do patrimônio público. 5.

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Inobstante em decisão anterior já transitada em julgado

se haja definido o valor da indenização, é diante das

peculiaridades do caso concreto que se pode estudar a

necessidade da realização de nova avaliação. 6.

Reforma do acórdão que afastou a designação de nova

perícia. 7. Recurso especial provido (Resp. 602636 / MA

Rel. Ministro José Delgado. PRIMEIRA TURMA. Julg.

05/05/2004).

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42

CONCLUSÃO

No presente trabalho fica demonstrado que não há divergência

acerca da importância da segurança jurídica como um dos meios de

manutenção da paz social, sendo vital ao Estado Democrático de Direito e

como garantidora da ordem jurídica. Por outro lado, é inegável que o instituto

da coisa julgada é uma ferramenta primordial à eficácia concreta da segurança

jurídica, podendo, assim, ser relativizada em casos excepcionais. Basta frisar,

que estamos falando de exceção, ou seja, aqueles casos em que é difícil ou

impossível dar uma decisão com fulcro no direito positivado, naqueles casos

em que há um desafio ao aplicador do direito em conjugar os normas cogentes

com os princípios constitucionais e daí tirar o melhor substrato uma decisão

que tem como receptor um indivíduo à espera do bom senso e da melhor

decisão para o seu caso concreto.

Pela visão constitucionalista sobre o tema, depreende-se do art. 5º,

inciso XXXV da Carta Magna, que através do processo, busca-se uma

prestação jurisdicional adequada e justa, sendo a sentença justa o ideal para a

sociedade. Desse ponto, os doutrinadores adeptos dessa teoria, embasam-se

em princípios constitucionais (legalidade, instrumentalidade, dignidade da

pessoa humana, irretroatividade da lei, direito adquirido, proporcionalidade

entre outros) para admitirem a relativização da coisa julgada. Ou seja, esses

doutrinadores buscam uma integração entre a legislação vigente e a

conjugação dos princípios constitucionais e a lei para a aplicação de uma

decisão justa àqueles casos excepcionais.

Hodiernamente, temos três tendências para o assunto, quais sejam, a

primeira nega a possibilidade da relativização da coisa julgada – em que não é

admitida a aplicação de normas diferentes das cogentes, a segunda afirma a

necessidade de se permitir a rescisão a qualquer tempo, de sentenças

transitadas em julgado que sejam objetivamente desarrazoadas, com o objetivo

de evitar decisões contrárias ao bom senso e aos princípios do direito. A

terceira tendência defende a relativização da coisa julgada independentemente

de prévia desconstituição da sentença, em casos excepcionais, que nos

parece, atualmente, o entendimento majoritário. Esse posicionamento busca

evitar problemas, pois tenta de uma maneira simplificada expurgar do mundo

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jurídico decisões injustas e descabidas, ou seja, o próprio aplicador do direito

as reconhece e as questiona e tenta impugná-la por petições simples sem que

haja maiores questionamentos em via recursal e o Estado-Juiz reconhecendo a

sua falha, faz-se a modificação pertinente.

Todavia, o que se deve adotar é a harmonização dos princípios que se

entendem ser iguais ou de maior relevância, partindo-se do pressuposto de que

os princípios constitucionais não são absolutos, ou seja, devem ser analisados

através de um parecer racional, tendo por base o binômio Justiça-Segurança.

Ou seja, trata-se de questão complicada, pois temos que ter a noção acertada

de que analisamos as normas e os princípios e, depois, devemos observar o

binômio Justiça-Segurança, pois só assim poderemos ter a certeza de que o

questionamento é pertinente.

Quando da aplicabilidade do princípio da proporcionalidade, pode-se

ponderar a interpretação do art. 5º, inc. XXXVI, da Constituição Federal de

1988, ponderando-o como garantia fundamental do processo justo, por meio do

emprego das técnicas de hermenêutica constitucional, de modo a coordenar,

proporcionalmente, a Segurança e a Justiça. Logo, a constituição deve ser

interpretada e utilizada com base em critérios específicos para que fique isenta

do livre alvedrio dos aplicadores do direito, ou seja, deve ser interpretada por

meio de técnicas jurídicas, para que tenha validade no processo.

Por último, cumpre-nos enfatizar a necessidade e a urgência no

aprimoramento do sistema processual vigente, de maneira a regularizar a

matéria de forma mais clara, sem dar margem a diversas interpretações,

gerando sérias controvérsias jurídicas. Somente assim diminuiremos os

conflitos existentes e consequentemente as inseguranças e as injustiças

judiciais, impondo indiretamente uma postura mais séria do Estado-Juiz

quando da prolação de uma sentença. Trata-se, pois de questão severa que

deve ser debatida e enfrentada pelos nossos aplicadores do direito e seja,

enfim, dirimida pelos nos Tribunais, através da edição de súmulas e de

incidentes da uniformização da jurisprudência.

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ÍNDICE

RESUMO.............................................................................................................4

METODOLOGIA..................................................................................................5

SUMÁRIO............................................................................................................6

INTRODUÇÃO.....................................................................................................8

CAPÍTULO I

A SEGURANÇA JURÍDICA E AS JUSTIÇA NAS DECISÕES

JUDICIAIS........................................................................................................10

1.1 – A JUSTIÇA NAS DECISÕES JUDICIAIS................................................10

1.2 – A SEGURANÇA JURÍDICA.....................................................................11

1.2.1 – OS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS

DA SEGURANÇA JURÍDICA............................................................................12

1.2.2 – EFETIVAÇÃO DA SEGURANÇA JURÍDICA......................................13

CAPÍTULO II

A COISA JULGADA E OS SEUS EFEITOS

2.1 – HISTÓRICO DA COISA JULGADA NO

BRASIL..............................................................................................................15

2.2 – CONCEITUAÇÃO DA COISA JULGADA................................................15

2.3 – DISTINÇÃO ENTRE COISA JULGADA FORMAL E

MATERIAL.......................................................................................................17

2.3.1 – CONCEITO DE COISA JULGADA FORMAL......................................17

2.3.2 – CONCEITO DE COISA JULGADA MATERIAL.................................19

2.4 – OS LIMITES DA COISA JULGADA......................................................20

2.4.1 – OS LIMITES SUBJETIVOS DA COISA

JULGADA........................................................................................................21

2.4.2 – OS LIMITES OBJETIVOS DA COISA

JULGADA.........................................................................................................21

CAPÍTULO III

PRINCÍPÍOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS À COISA JULGADA..........23

3.1 – ASPECTOS GERAIS...............................................................................25

3.2 – PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA

LEI.....................................................................................................................25

3.3 – PRINCÍPIO DO DIREITO ADQUIRIDO....................................................26

3.4 – PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA

HUMANA...........................................................................................................27

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3.5 – PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE................................................28

CAPÍTULO IV

A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NO DIREITO PÁTRIO.................30

4.1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS...................................................................33

4.2 – A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA COMO GARANTIA DA

SEGURANÇA JURÍDICA..................................................................................33

4.3 – RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA COMO GARANTIA DA

JUSTIÇA NAS DECISÕES...............................................................................37

CONCLUSÃO...................................................................................................42

BIBLIOGRAFIA................................................................................................44