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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA NA PRÉ- ESCOLA Danielle Silva Ribeiro ORIENTADORA Mª. DINA LÚCIA CHAVES ROCHA Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA NA PRÉ- ESCOLA

Danielle Silva Ribeiro

ORIENTADORA

Mª. DINA LÚCIA CHAVES ROCHA

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA NA PRÉ- ESCOLA

Rio de Janeiro

2010

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes curso de Psicomotricidade como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior. Por: Danielle Silva Ribeiro

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Antônio e Marlene pelo

constante incentivo. E ao meu noivo Davi, pela

cumplicidade, apoio, amor e mais que tudo, por sonhar

junto comigo.

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DEDICATÓRIA

“O Ser animado tem o corpo à

disposição para se exprimir e agir, para se

explicar no mundo, para enfrentar as

situações em presença das quais este mundo

sem descontinuidade o coloca” (E. Minkowski,

prefácio a Attitudes ET Mouvenents de F.J.J.

Buytendijk). Aos meus pacientes, apesar de

tão pequenos, me ensinarem tantas coisas.

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RESUMO

Não há dúvidas de que a Psicomotricidade representa um papel importante no

desenvolvimento global de um individuo. Assim, seu desenvolvimento físico, mental e

emocional, como sua adaptação social dependem, grande parte, das possibilidades

que ele adquire de mover-se com propriedade e de descobrir-se, bem como descobrir

o mundo que o cerca. Alguns autores acreditam que a sensação cinestésica é que

constrói a estruturação do esquema corporal, e não a sensação tátil. Logo é

indispensável à organização do esquema corporal para que o indivíduo possa tomar

consciência do meio exterior. Através da educação psicomotora, poderemos favorecer

sua evolução, levando a criança, progressivamente, ao controle e domínio de seu

próprio corpo.

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METODOLOGIA

Revisão Bibliográfica dos principais autores referentes a este

assunto. Eles são: Le Boulch, André Lapierre, Jacques Chazaud, Márcia

Goldfeld, Vitor da Fonseca, dentre outros.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................08

CAPÍTULO I...................................................................................................11

A PSICOMOTRICIDADE E A NOÇÃO DE CORPO

CAPÍTULO 2.................................................................................................18

DESENVOLVIMENTO INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR

CAPÍTULO 3.................................................................................................29

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

CAPÍTULO 4.................................................................................................37

REEDUCAÇÃO E TERAPIA PSICOMOTORA

CONCLUSÃO...............................................................................................39

BIBLIOGRAFIA...........................................................................................41

ÍNDICE...........................................................................................................43

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INTRODUÇÃO

Psicomotricidade é a relação entre o pensamento e a ação,

envolvendo a emoção. Logo há uma inter-relação entre o desenvolvimento das

funções motoras e o desenvolvimento das funções psíquicas.

Muitos autores na área da neurologia, da psicologia e da educação

têm reforçado a importância das relações entre o desenvolvimento psicomotor

e a aprendizagem. Há estudos que demonstraram que o córtex motor exerce

uma função predominante em todas as funções de aprendizagem quer não

simbólicas, quer simbólicas.

A integração psicomotora na criança ilustra e materializa

consequentemente, a totalidade dos padrões da sua aprendizagem. As

experiências sensório-motoras e perceptivo-motoras têm fundamental

importância nas competências de aprendizagem da criança. As relações entre

Psicomotricidade e aprendizagem estão efetivamente inter-relacionadas em

termos de desenvolvimento psiconeurológico.

A qualidade do perfil psicomotor da criança reflete o grau de

organização neurológica, que está indubitavelmente associada ao seu

potencial de aprendizagem, quer em termos de integridade, quer

fundamentalmente em termos de dificuldade.

Sem o suporte psicomotor, o pensamento não poderá ter acesso aos

símbolos e às abstrações, assim a Psicomotricidade procura educar o

movimento, ao mesmo tempo em que desenvolve as funções da inteligência.

O desenvolvimento psicomotor evolui em paralelo ao

desenvolvimento mental. Assim, é primordial às diferentes aprendizagens na

escola, especialmente á aprendizagem da leitura e da escrita que necessitam

de um desenvolvimento psicomotor harmonioso. Onde a motricidade

apresenta-se como reação global, onde fenômenos motores e psicológicos se

entrelaçam.

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Na primeira etapa, do nascimento até os dois anos, a criança passa

dos reflexos para a marcha e as coordenações motoras mais rudimentares e

de2 há cinco anos, a motricidade e a cinestesia facilitam a utilização completa

de seu corpo.

Na segunda etapa, dos cinco aos sete anos, a criança passa de um

estado sincrético e global, ao de análise, onde já será capaz de diferenciar a

direita e esquerda, tendo sua lateralização já determinada e possuindo controle

postural e respiratório.

Na terceira etapa, dos sete aos 12 anos, há o período da elaboração

definitiva do esquema corporal, o indivíduo passa à independência funcional

dos diversos segmentos e elementos corporais, transpondo o conhecimento de

si ao conhecimento dos que o cercam.

A criança, para escrever, necessita de um controle neuropsicomotor

que envolve, desde a independência de ombro, braços e dedos, até uma

integridade das funções psicológicas para conseguir fixar a atenção, deve ter o

domínio do próprio corpo e inibição voluntária. Isto deve estar pronto, a partir

do final da segunda etapa.

É indispensável à organização do esquema corporal para que o

indivíduo possa tomar consciência do meio exterior. Através da educação

psicomotora, poderemos favorecer sua evolução, levando a criança,

progressivamente, ao controle e domínio de seu próprio corpo.

Não há dúvidas de que a Psicomotricidade representa um papel

importante no desenvolvimento global de um individuo. Assim, seu

desenvolvimento físico, mental e emocional, como sua adaptação social

dependem, grande parte, das possibilidades que ele adquire de mover-se com

propriedade e de descobrir-se, bem como descobrir o mundo que o cerca.

O presente estudo tem como objetivo mostrar a contribuição da

educação psicomotora na educação infantil, a faixa etária que será descrita vai

dos dois a cinco anos. Esta limitação ocorre por considerar esta fase a mais

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importante no desenvolvimento do ser humano, pois é a fase de construção

intelectual e de personalidade do indivíduo.

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CAPÍTULO 1

A HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE E O CONCEITO PSICOMOTOR

1.1 Histórias da Psicomotricidade

Desde a antiguidade o corpo humano já era valorizado. Na Grécia o

culto ao corpo valorizava o esplendor físico.

Segundo Canongia (1986), Sócrates mostrou ao mundo que

devemos conhecer a nós mesmos antes de querer conhecer as coisas. Já

Platão, mostrou-nos a imperfeição de nossos conhecimentos, que apenas são

a aparência dos acontecimentos e não a realidade.

Aristóteles formulou as regras de raciocínio dedutivo, para ele o

corpo era matéria moldado numa forma que seria a alma.

Descartes acreditava que o movimento era o resultado de uma

conscientização voluntária.

Já na idade contemporânea, Freud pensava que o corpo tinha

importante participação nas formações inconscientes.

No século XX, pela primeira vez, usado por Wernicke (apud

Canongia, 1986, p.18) surge o termo “psicomotricidade”, que estava

relacionado a uma visão patológica, de debilidade psicomotora fisiológica.

Em 1907 Dupré, evidencia um paralelismo psicomotor, fazendo uma

associação entre a inteligência, a afetividade e o desenvolvimento da

motricidade.

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Durante a década de 30 houve várias contribuições importantes

oriundas do campo da psicologia como Gesell que formulou escalas de

desenvolvimento motor com relação à maturação infantil, Schilder que fez

contribuições em relação à imagem corporal, Wallon autor de suma importância

para a psicomotricidade já que suas obras falam sobre o caráter emotivo da

relação tônico-emocional, projetando o “eu" para além da sua superfície

corporal, evidencia a linguagem corporal precedendo a linguagem verbal e

brilhantemente nos fala sobre a simbolização. E Piaget que fez importantes

contribuições a respeito dos processos do desenvolvimento cognitivo.

Vale ressaltar a contribuição da psicanálise, com os autores Spitz e

Winnicot que chamaram a atenção quanto à importância do afeto no

desenvolvimento.

Ajuriaguerra foi uns dos precursores da psicomotricidade relacionada

à criança. As primeiras técnicas reeducativas ocorreram na França no fim da

década de 50. Onde ocorreu uma ruptura com a psicomotricidade relacionada

só ao neurológico e começou a se firmar uma psicomotricidade relacionada ao

psico-fisiolófico, a aprendizagem e a vida afetiva (emoções).

No Brasil a psicomotricidade iniciou-se vinculada à área da

reabilitação, com profissionais ligados a pessoas que tinham algum tipo de

deficiência motora ou mental, auditiva ou visual.

No Brasil, Antonio Branco Lefévre buscou junto às obras de Ajuriaguerra e Ozeretski, influenciado por sua formação em Paris, a organização da primeira escala de avaliação neuromotora para crianças brasileiras.

Dra. Helena Antipoff, assistente de Claparéde, em Genebra, no Institut Jean-Jacques Rosseau e auxiliar de Binet e Simon em Paris, da escola experimental "La Maison de Paris", trouxe ao Brasil sua experiência em deficiência mental, baseada na Pedagogia do interesse, derivada do conhecimento do sujeito sobre si mesmo, como via de conquista social... Em 1972, a argentina, Dra. Dalila de Costallat, estagiária do Dr. Ajuriaguerra e da Dra. Soubiran em Paris, é convidada a falar em Brasília às autoridades do Ministério da Educação, sobre seus trabalhos em deficiência mental e inicia contatos e trocas

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permanentes com a Dra. Antipoff no Brasil. (www.efdeportes.com/efd126/psicomotricidade-história-eintervenção-profissional.htm)

Françoise Desobou na década de 70 veio ao Brasil onde fez um

seminário sobre terapia psicomotora, abrindo o viés na ação psicomotora que

antes supervalorizava a técnica e agora tinha uma abordagem tônica

emocional, mostrando atividades espontâneas, os jogos e o simbolismo. A

partir deste momento havia uma relação terapêutica que perpassava a técnica.

1.2 Conceito Psicomotor

Vários autores fizeram a definição do que para eles seria

psicomotricidade ou conceito psicomotor. Vale ressaltar algumas delas:

Segundo Jacques Chazaud (1987), motricidade significa de forma

estática, função motriz é a resultante, ao nível da via final dos nervos cranianos

e raquidianos, das atividades de diversos sistemas que se superpõem ao arco

reflexo segmentar ou supra-medular.

Merleau-Ponty (apud Oliveira, 2000), numa visão muito própria

ultrapassa a divisão dualista entre corpo e mente. Para ele, o homem é uma

realidade corporal, ele é seu corpo, é uma “subjetividade encarnada”, como ela

chama. É na ação que a espacialidade do corpo se completa e a análise do

movimento próprio deve permitir-nos compreendê-la melhor.

Segundo Canongia (1986), a psicomotricidade tem como objetivo o

estudo do homem, nas suas relações com o corpo em movimento. Integra a

percepção e o movimento, melhorando ou normalizando o comportamento

geral do individuo.

Ajuriaguerra (apud Fonseca, 1983), nos fala que o estado Tônico,

ligado aos fatores relativos da história biológica da criança, demonstrando a

multiplicidade de fenômenos neurofisiológicos que fazem o movimento surgir

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do fundo que suporta, o que o torna relacionado com outros aspectos da

iniciativa motora.

Piaget (1987), quando comenta sobre o desenvolvimento

sensório-motor e da motricidade ressalta a importância do desenvolvimento da

motricidade antes da aquisição da linguagem, no desenvolvimento da

inteligência. Define como motricidade condutas que concebam esquemas

sensoriomotores.

Para Le Boulch (1987), psicomotricidade seria o estudo do corpo na

sua “totalidade primordial” e o movimento como dado imediato, expressão da

conduta. Ajudando cada um a adquirir uma melhor disponibilidade motora

possível.

Ele também sinaliza que o movimento leva à assimilação, que se

torna elemento de compreensão prática e ao mesmo tempo compreensão da

ação.

E para finalizar Wallon define o que para ele significa movimento (in

Fonseca, op.cit. p.30) Movimento (ação), pensamento e linguagem são uma

unidade inseparável. O movimento é o pensamento em ato, e o pensamento é

o movimento sem ato.

Para ele o movimento não intervém só no desenvolvimento psíquico

e nas relações com o outro, influencia também o comportamento habitual, que

é um fator importante no temperamento da pessoa humana.

Wallon (ibidem) argumenta sobre o caráter emotivo da relação

tônico-emocial. Pontua que em qualquer movimento existe uma condicionante

afetiva que insufla algo de intencional.

Logo, existe uma evolução tônica e corporal que constitui o prelúdio

da comunicação verbal, a que o autor chama de diálogo tônico. Este ocupa

grande importância na gênese psicomotora, tem como instrumento operativo e

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relacional o corpo. Wallon afirma que a ação desempenha um papel

fundamental na estrutural cortical e está na base da representação.

1.3 Noção de Corpo

A elaboração da noção do corpo estrutura-se nas suas linhas gerais

ao longo da infância e projeta-se numa permanente evolução dialética

inacabada, durante toda a existência do indivíduo (FONSECA, 1987).

A sucessiva integração da imagem do corpo é estabelecida por dois

aspectos essenciais, um relativo à função de ação (maturação do equipamento

neurofisiológico de base), outro, pelas reações perante o mundo exterior (id).

As reações primárias de agitação do recém-nato já demonstram um

esboço de um jogo que perdurará no seu desenvolvimento.

A articulação das estimulações interoceptivas e proprioceptivas

constituem as primeiras manifestações de vida e de presença.

As manifestações interoceptivas são a origem da estruturação, e

iniciam no meio interno do organismo (essencialmente bucais), já inerentes a

um EU e a uma consciência que vai se organizando. A criança vai passando

por estes momentos de experimentação junto à presença do outro. O que vai

levar a inúmeras modificações tônicas e a varias expressões motoras

aparentemente desorganizadas. Após esta fase surgem as possibilidades de

fixação visual, primeira reação de equilíbrio proprioceptivo que posteriormente

vai originar a verdadeira exploração ótica do mundo, a que se seguirá espaço-

cinestésica. (FONSECA, 1983)

A atividade reflexa finaliza-se aos quatro meses, depois se esboçam

as primeiras relações entre visão e a mão (id).

O jogo da mão no campo visual é a preparação para a gênese da

preensão, manifestação do desenvolvimento profundamente humanizado. A

motricidade visual e a manual são dispersas e indiferenciadas e só

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posteriormente a visão, depois de descobrir a mão, pode guiá-la e projetá-la

na relação com as coisas, segundo Tournay (apud FONSECA, 1987).

Com seis meses, inicia-se o período da descentração geral pela

função sensoriomotora e da coordenação das ações e dos espaços. O espaço

perceptivo-motor não é mais do que um espaço figurativo e subjetivo, que vai

se edificando numa maior capacidade de espacialização (FONSECA, 1987)

A maturação do desenvolvimento vai se formar a partir da

autopalpação e da atividade sensorial.

Aos nove meses, surge à diferenciação sujeito-objeto onde a criança

começa a distinguir as suas mãos dos objetos que elas seguram ou manipulam

(idem).

Ocorre à separação objeto e ação, desenvolve-se o espaço objetivo

e operativo, através da tomada de consciência dos seus limites corporais e das

diferentes posições que os objetos ocupam uns em relação aos outros.

A criança diferencia o mundo exterior do mundo interior e passa a

dispor de um sistema prático de relação. O objeto é ao mesmo tempo,

permanente e independente, segundo FONSECA (1983).

Ainda segundo Fonseca (1983, p.93)

A experiência sensorial resultante da exploração cinestésica do mundo desempenha um papel fundamental na estruturação cortical da criança. Da ação passamos à coordenação das ações, que estruturarão outras representações, geradoras mais tarde da sua verbalização.

A noção do corpo desenvolve-se graças à função semiótica e ao movimento, nascendo todo um novo período que nos leva da ação à representação. Esta função semiótica traduz a aquisição de novas condutas como à imitação, a imagem mental, o jogo simbólico, a linguagem e o desenho. (FONSECA, op.cit)

O corpo passa progressivamente por ser percebido, depois

conhecido, e finalmente vivido e representado, ao mesmo tempo em que o

espaço passa a ser livre e não organizado, após orientado e finalmente

representado. O corpo é organizado na razão direita da ocupação de espaço

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que o justifica e o relaciona. O espaço lateral, percepcionado pela articulação

visão-preensão, passa ao espaço circular, que lhe permite sair do estado inicial

de confusão corporal-espacial. Depois desta primeira diferenciação, a criança

passa a explorar o espaço extracorporal, instante que a levará a integrar,

através de uma prática, a noção do corpo (FONSECA, 1983).

A criança e a mãe (seio) são a primeira totalidade exterior, onde se

baseiam todas as futuras noções cognitivas do corpo. Assim se faz

fundamental a importância do outro no desenvolvimento da noção do corpo. A

consciência de si se constrói pouco a pouco, e se elabora posteriormente a

consciência do outro. O “tu” vem antes do “eu”. Segundo Preyer e Baldwin

(apud FONSECA, 1987).

Ajuriaguerra (apud Fonseca, 1983), afirma que a interação tônica não

é senão a experiência do corpo, e o corpo é o produto vivido dessa experiência

tônica. Nasce assim o diálogo tônico, pano de fundo do desenvolvimento da

linguagem. Se não tiver o conhecimento do mundo e sobre as pessoas não se

atinge a linguagem.

Ainda ressalta que a motricidade não é um fator instrumental de valor

unicamente efetor, ela depende de inúmeras funções que, no seu todo,

justificam o ser humano como ser de expressão.

Segundo Oliveira (2001), o corpo é uma forma de expressão da

individualidade. O individuo percebe-se e percebe as coisas que o cercam em

função do seu próprio corpo. Assim, conhecendo-o terá mais habilidade para

se diferenciar, para sentir diferenças. Ele passa a distingui-lo em relação aos

objetos circundantes, observando-os, utilizando-os.

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CAPÍTULO 2

O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Durante a vida intra- uterina as necessidades do feto são todas

satisfeitas. Seu comportamento postural se manifesta através do equilíbrio do

liquido amniótico a partir da estimulação labiríntica (LE BOULCH, 2001).

No nascimento esta situação cessa, e o bebê fica impotente para

satisfazer suas necessidades vitais, necessitando de alguém que vá

transformar este meio hostil em um meio mais favorável. A respiração,

alimentação, excreção, junto com as exigências afetivas justificam a

denominação dada por Freud de um estádio chamado narcisista primário

(idem).

O comportamento do recém-nascido oscila entre um estado de

insatisfação e um estado de quietude, os quais estão ligados as reações

tônicas e viscerais (id).

O recém-nascido não tem tônus suficiente para assegurar o

equilíbrio de seu corpo. Os estímulos cutâneos, visuais e auditivos,

ocasionados pela presença humana vão ser importantes no processo de

maturação sensorial e dos centros nervosos correspondentes.

A resposta para a sensibilidade cutânea aparece por volta da

oitava/nona semana, a auditiva aparece um mês antes do nascimento e a

visual vai se desenvolver depois do nascimento (LE BOULCH, 2001)

Já o plano motor Le Boulch (2001, p.42), ao nascimento não tem

uma significação privilegiada, ocorre “impulsividade motora”, que segundo

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Wallon (apud Le Boulch, 2001), são gestos não orientados, acompanhados

de gritos, e reações tônicas que traduzem as sensações.

Segundo Canongia (1986), a evolução psicomotora vai ser dirigida

pela integração da precisão, rapidez e força muscular. Com a progressiva

independência dos grupos musculares vai gerar um refinamento nos seus

movimentos.

O recém- nascido a termo tem um padrão predominantemente flexor

em relação aos quatro membros, a cabeça e a coluna um padrão plano. Com a

maturação do sistema nervoso, este padrão vai diferenciando-se, esta

maturação ocorre no plano axial sentido descendente. Logo, o bebê adquire o

controle de cabeça primeiro.

No primeiro mês, segundo Chazaud (1987), a criança segue pouco

com o olhar, deixa de chorar quando alguém se aproxima. No segundo mês,

segue a pessoa com os olhos, sorri aos rostos familiares, emite sons; no

terceiro mês, mantém a cabeça ereta, sai do estágio de reflexo; no quarto mês,

apalpa os objetos, volta à cabeça para olhar alguém; no quinto mês, manipula

primitivamente os objetos; no sexto mês, a criança senta, utiliza objetos; no

oitavo mês, procura pelo objeto, simboliza a presença e a ausência, aceitação

e a rejeição; no nono mês, a criança fica de pé com ajuda, fala a primeira

palavra; no décimo mês, fica em pé sozinha, repete um som ouvido. A partir

daqui a criança irá desenvolver a marcha e a linguagem, assim como a

autonomização cada vez maior do domínio do espaço físico e simbólico.

Vale chamar atenção para alguns outros marcos durante o

desenvolvimento como, por exemplo, quando o bebê eleva a cabeça permite

fixar o olhar o que resulta num desenvolvimento da atenção. Em qualquer tipo

de aprendizagem, o desenvolvimento da atenção é muito importante, porque se

baseia no progressivo controle postural dos olhos, da cabeça e a correta

coordenação do sistema motor ocular.

O acompanhamento óculo-motor nos dois primeiros meses é

importante para o relacionamento da criança (LE BOULCH, 2001).

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O terceiro mês representa uma etapa chave da maturação

bioelétrica do lactente, aparece à primeira organização espaço-temporal do

eletroencefalograma. Estabelece-se uma dificuldade entre os ritmos fronto-

rolândicos, que correspondem à atividade da área motora e os ritmos parieto-

occipitais, que traduzem a atividade perceptiva e apresentam a reação de

parada aos estímulos sensoriais.

E quando o bebê senta aos seis meses amplia seu campo visual

surgindo à vontade de preensão (CANONGIA, 1986).

Também neste momento, o sorriso automático da criança

desaparece, ela então começa a diferenciar os familiares de outras pessoas

que não são familiares, e por volta dos 8meses que ela vai identificar realmente

a imagem da mãe.

Com sete meses o bebê vai transferir e voltar um determinado

objeto para a mão (aproximação bimanual) (CANONGIA, 1986). Segundo Le

Boulch (2001), nesta época aparece o balbuceio, que seria a verdadeira

vocalização, um processo de autoconhecimento ligado ao desenvolvimento de

controle auditivo da articulação dos sons. Também com 40 semanas a criança

já consegue apontar com o dedo indicador.

Com 12 meses, as posturas estão mais aperfeiçoadas então a

criança começa a aperfeiçoar o seu andar. Segundo Le Boulch (2001), é o

período onde ocorre a utilização das primeiras palavras. Com 18 meses,

rabisca sem intenção com o lápis, agora os sinais sonoros já estão

diferenciando-se de seus significados, permitindo a evocação de objetos ou

situações não atuais (CANONGIA, 1986).

Aos dois anos ela tem a automatização do andar, articula palavras e

frases simples( telegráfica), consegue o controle da sua bexiga e do reto.

Percebem-se as sincinesias manuais e digitais. E segundo Le Boulch (2001),

no fim do segundo ano a criança vai começar a usar o verbo e associar duas

palavras. (exemplo: papa parti).

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Aos 18 meses a criança começa a adquirir a noção de

permanência do objeto.

Com três anos a criança adquire um aumento na precisão dos

gestos e diminuição gradativa da imprecisão geral.

A etapa pré- escolar começa por volta dos três/ quatro anos,

momento de amadurecimento intelectual e motor da criança. Os atos motores

voluntários estão bem mais desenvolvidos. Vai ser neste período que a criança

irá utilizar a tesoura, vai despir-se e vestir-se, amarrar os sapatos. Entretanto,

não há a completa dissociação manual, e a digital que ocorre com o movimento

de pinça.

A etapa dos 5-6 anos é ascendente até a normatização do ritmo

regular que se estabelece ao final do sexto ano. A lentidão só voltará a ocorrer

quando a criança iniciar qualquer processo de aprendizagem. Aos seis anos

irá iniciar o período escolar, onde a criança irá realizar certas tarefas por si

mesmo, e vai adquirindo a responsabilidade no novo mundo no qual se inicia.

(CANONGIA, 1986).

Segundo La Pierre (1987), a linguagem verbal vai desaparecendo, a

materialização dos meios de expressão permite modificar e harmonizar as

estruturas, grafar a ação presente sobre a ação passada, cujo traço persiste

diante de si.

Cabe também um olhar mais apurado sobre o desenvolvimento do

esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, temporal e

discriminação visual e auditiva.

Segundo Oliveira (2001), é através do corpo que se estabelece

contato com as entidades do mundo. Morais e Santos (apud Oliveira, 2001),

falam que o esquema corporal resulta das experiências que possuímos

provenientes do corpo e das sensações que experimentamos. Defontaine

(apud Oliveira, 2001) complementa que a imagem corporal compara-se a um

conhecimento “geográfico” que a criança tem. Pela interiorização, ela se torna

capaz de se situar. Para ele o esquema corporal é o conhecimento imediato do

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corpo estático ou em movimento, com suas relações com as partes do corpo,

os objetos e espaços ao redor.

A criança nasce com uma bagagem de sensações e percepções

proprioceptivas, porém, por falta de mielinização das fibras nervosas, não

consegue organizá-las. Com a maturação do sistema nervoso, ele vai podendo

distinguir as sensações (id).

Para Le Boulch (1987), aos seis anos a imagem corporal é uma

“imagem postural” de caráter estático. Esta simples imagem do corpo pode se

limitar a um “conhecimento” de sua configuração corporal e das relações de

seus segmentos.

Para Defontaine (apud Oliveira, 2001), a criança descobre o seu

corpo pelo deslocamento que lhe é imposto pela sociedade. Neste ínterim, a

criança passa por um estágio importante chamado estágio do espelho, onde

ela descobre sua imagem no espelho, isso ocorre por volta dos seis meses de

idade. No começo a criança tenta pegar a imagem, sorri, sem se reconhecer.

Aos poucos vai percebendo que o reflexo no espelho é uma representação

dela, e passa a se ver de forma global. Gradualmente ela aprende que sua

imagem no espelho é um reflexo, uma imagem, uma representação, um

símbolo.

A lateralidade é a preferência que o individuo tem de utilizar

preferencialmente mais um lado do corpo. Ocorre em três níveis: mãos, olhos e

pés. Quer dizer que a criança vai ter um predomínio motor, para um dos lados.

Este lado dominante possui mais força muscular, maior precisão e mais

rapidez. Normalmente é ele que vai iniciar e executar a ação principal. O outro

lado auxilia a ação, tão importante quanto o outro. Funcionam isoladamente,

porém de forma complementar (id).

A preferência manual pode ser observada quando vamos pegar algo

pesado e se utiliza a mão predominante, na dominância ocular quando vamos

olhar por um buraco, a dominância dos membros inferiores quando vamos

chutar uma bola. Vale ressaltar que essa dominância também vale para a

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mastigação, o lado de preferência tem os dentes mais desgastados e a

musculatura mais firme (OLIVEIRA, 2001).

A evolução da lateralidade em linhas gerais ocorre desta forma: no

segundo mês a criança tem ações assimétricas e mais unilaterais; entre o

quarto e o sétimo a criança não consegue pegar dois objetos ao mesmo tempo;

com vinte e oito semanas ela já consegue segurar o objeto com uma das mãos

e abre a outra mão para segurar o outro. Até um ano não se observa nenhuma

preferência manual, é só podemos falar de dominância manual propriamente

dita entre os cinco/ sete anos (id).

A estruturação espacial é a formação e a construção mental que

ocorre através de seus movimentos em relação aos objetos que estão em seu

meio.

De acordo com Oliveira (2001), é através do espaço e das relações

espaciais que nos situamos no meio em que vivemos e estabelecemos nossas

relações. Primeiramente a criança percebe a posição de seu próprio corpo no

espaço, após a posição dos objetos em relação a ela e finalmente a relação

dos objetos entre si.

Fonseca (1988) concebe que o espaço bucal é o primeiro com que a

criança se defronta. É próximo aos braços, portanto, primeiro local de

exploração.

Segundo Le Boulch (1984), a exploração do espaço inicia-se no

momento em que a criança fixa o olhar em um determinado objeto e tenta

agarrá-lo. Após a movimentação vai permitir que ela se dirija aos locais ou aos

objetos que quer alcançar.

A linguagem verbal vai ajudá-la na designação dos objetos,

constituindo um importante fator para a organização da vivência do espaço e

para o melhor conhecimento das diversas partes do corpo e suas posições.

(OLIVEIRA, 2001).

Alto/baixo, embaixo/ em cima; direita/esquerda, para muitas

crianças, depende da posição do seu corpo no espaço.

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Quando a criança aprende a orientar-se no meio estará

capacitada a assimilar a orientação espacial no papel. Assim, ela vai poder

mentalmente organizar sua folha ao escrever ou desenhar, antes de passar

para estas tarefas. Além disso, ela vai aprender a ler em um espaço

determinado. Cada letra tem uma forma, logo também vai precisar de uma

orientação espacial estruturada (OLIVEIRA, 2001).

Em seguida vai desenvolver a memória espacial, que vai possibilitar

descobrir objetos que estão ausentes em determinado local e reproduzir um

desenho já observado (idem).

Também nos fala sobre a lateralidade cruzada quando o individuo

usa, por exemplo, a mão direita, o olho e pé esquerdos. Assim o individuo pode

apresentar destralidade contrariada e sinistralidade contrariada.

Oliveira (2001) chama atenção para a importância da estruturação

temporal, pois não se pode ter a noção de espaço sem conceber a noção de

tempo. Segundo Fonseca (1983), a noção de tempo remete a uma noção de

controle e de organização, ao nível da atividade e da cognitividade.

A estruturação temporal condiciona a integração sensorial anterior,

pois antecede a todas as formas de análise de estímulos, decodificando-os

segundo uma ordem, sem a qual significação não é atingida. A noção de tempo

fornece a localização dos acontecimentos no tempo e a preservação das

relações entre os acontecimentos. A dimensão temporal depende da

simultaneidade, a simultaneidade é aprendida pela motricidade, e com o

desenvolvimento da lateralização, ocorre à alternância e sucessão de

movimentos, podendo assim discriminar experiências simultâneas de

experiências seqüenciadas. Simultaneidade, sequencialização e sincronização,

são dimensões temporais importantes já que elas obedecem ao princípio da

coordenação dos sistemas funcionais, cuja relevância é clara na

aprendizagem. (id)

O ritmo é a unidade de extensão temporal, caracteriza-se por

freqüências altas, médias e longas. Uma propriedade importante para a

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criança, pois para falar, andar, escrever, por exemplo, é necessário ter ritmo,

um tempo estabelecido por cada um para assim obter modulação, harmonia no

movimento e na fala.

Segundo Oliveira (2001), esta noção não é inata, é construída. No

inicio a criança vivencia seu corpo, porém este não esta isolado. Os gestos e

os movimentos vão se ajustando ao tempo e ao espaço exteriores. Assim, vai-

se assimilando os conceitos que permitirão movimentar-se no espaço e no

tempo.

Um sistema visual íntegro é requisito para a aprendizagem da leitura

e da escrita, dentre outros aspectos. Com o amadurecimento do sistema

nervoso, o sistema visual também amadurece logo a criança vai começando a

distinguir objetos e pessoas. Isso se dá pela associação com outros dados

receptores. Ainda assim ela precisa controlar o movimento de seus olhos para

dirigi-los intencionalmente para algum foco. Necessita então de um controle

preciso dos músculos extra-oculares (id).

Para escutar é necessário ter o sistema auditivo, em relação a sua

parte orgânica íntegro. Mas também devemos ter a capacidade de discriminar

e a acuidade auditiva perfeita. A discriminação nada mais é que a capacidade

de perceber e sintetizar os sons básicos da língua e a acuidade auditiva seria a

capacidade de captar e notar a diferença entre vários sons e intensidades

diferentes. Assim, no inicio a criança brinca com os sons que produz, depois

adquiri o significado destes sons, os distingue, assim resumidamente,

adquirindo uma língua e linguagem, e lá na frente à capacidade auditiva com a

memória auditiva, que significa a retenção e recordação das palavras, vão ser

de suma importância para a aquisição da leitura e da escrita.

Também necessita desenvolver a retenção dos símbolos visuais,

letras, palavras, sinais. Assim desenvolvendo a memória visual, que tem um

importante papel no reconhecimento rápido dos símbolos impressos durante a

leitura. É através da memória visual que a criança consegue distinguir letras

que têm o mesmo som. No momento em que a criança discrimina as letras e

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integra os símbolos ela atinge a organização visual. Assim integrando o

material simbólico com outros dados sensoriais (OLIVEIRA, 2001).

La Pierre(1987), chama a atenção para a passagem do “afetivo” ao

“racional”, onde a afetividade mostra-se no modo simbólico e pelo imaginário. É

da afetividade que vai nascer à abordagem racional, na medida em que a

afetividade possa ser superada, e não reprimida.

Para a aquisição das noções de dimensão, distância, ausência e

presença são indispensáveis à organização do mundo, pois elas formam os

elementos básicos da intelectualizarão, e nascem nas relações afetivas, de

tensões emocionais positivas ou negativas. A educação deve permitir à

passagem de uma a outra por eventos simbólicos desinvestidos de afeto. Na

medida em que se separa o racional e o afetivo, o real e o simbólico que a

inteligência conceitual poderá se desenvolver, e a afetividade consciente

também. Assim a criança vai passar do pensamento mágico ao lógico.

Na idade pré-escolar, a confrontação da vontade da criança com a

dos demais vai lhe permitir abandonar um pouco sua própria subjetividade e

oferece-lhe uma representação mais objetiva da realidade. Sua interação com

o outro contribui para fazer com que ela dos sete aos 12 anos passe da fase

sincrética a uma forma de percepção mais próxima daquela do adulto (id).

A expressão simbólica representa a substituição inconsciente, à qual

o sujeito apela para traduzir sua vivência frente à experiência de relação com o

mundo (LE BOULCH, 2000). A função simbólica não é uma função psicomotora

mais tem suas raízes nela.

E essa passagem ocorre mediada pela brincadeira, segundo

Goldfeld (2006), a brincadeira é um elemento de construção cultural,

lingüística, social e cognitiva. Pois é através do brincar que a criança pode

utilizar e internalizar a linguagem, imaginar e construir sua visão de mundo real

e fictício. Por isso a brincadeira de faz-de-conta é tão importante para a

criança, pois ela vai além do processo de aprendizagem da língua, de

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reconhecimento de seus pares, da sua cultura e da possibilidade de formar

opiniões sobre o mundo.

Na brincadeira a criança vai organizar conceitos através da criação

de situações imaginárias. Quanto mais avançado o desenvolvimento

lingüístico, mais enriquecida será a brincadeira. As interações que acontecem

durante a brincadeira, durante a interação, derivam do conhecimento que elas

têm e afloram a afetividade, sentimentos, permitem categorizar, generalizar,

organizar e conscientizar as relações sociais do mundo. A criança brinca pela

própria atividade de brincar, e brinca de faz-de-conta devido à discrepância

entre seus desejos de agir no mundo adulto e a realidade que se impõe

impedindo a realização do mesmo. Na brincadeira se permite que a criança

construa sua própria atitude com autonomia e autoria. O modo de agir e de

brincar deve ser respeitado, possibilitando à criança meios de refletir sobre seu

aprendizado de forma autônoma e espontânea.

Kishimoto (apud Goldfeld, 2006), fala que o brincar é uma forma de

comunicação entre as pessoas que compartilham uma mesma cultura. O

sentido da brincadeira esta no ato social. Há um intenso envolvimento da

criança durante o brincar, ela fica atenta, alerta, proporcionando um ambiente

de curiosidade e aprendizagem, levantando hipóteses, explorando e

desenvolvendo-se.

Vygotsky (apud Goldfeld, 2006), diz que o desenvolvimento da

criança se dá essencialmente através da atividade de brinquedo. No inicio o

brinquedo é apenas uma lembrança, é uma memória, não uma situação

imaginária. Conforme o brinquedo se desenvolve, desenvolve também um

propósito, que justifica a atividade. Mais tarde vão surgir as regras.

Leontiev (apud Goldfeld, 2006) lembra que primeiro a criança brinca

com o brinquedo na forma de manipulação, explorando sensorialmente o objeto

concreto, depois pode brincar sem utilizar nenhum instrumento presente, ou

seja, há um brincar sensório-motor; brincar utilizando a linguagem; e finalmente

um brincar através do pensamento lingüístico. Ele também ressalta a

importância do adulto e o papel do educador na brincadeira da criança.

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A brincadeira simbólica de faz-de-conta é um momento de

transição para a independência da linguagem entre a realização imediata das

ações e o contexto interacional (id).

Enfim, resumindo, psicomotoramente nesta etapa da vida se

verificou o desaparecimento das sincinesias, um enriquecimento da

coordenação da motricidade, um aumento da rapidez de execução, uma

aquisição simbólica que facilita a dimensão de comunicação e de existência

individual e social. (FONSECA, 1986)

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CAPÍTULO 3

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

A educação psicomotora não tem como objetivo uma ação particular

sobre o processo de tomada de consciência e sim, trata do ajustamento global

(LE BOULCH, 2001).

Para Le Boulch (1987), são nas situações educativas que as atitudes

sociais de organização, comunicação e cooperação acontecem. A Educação

psicomotora seria a ajuda que se dá a criança para permitir que disponha de

uma “imagem do corpo” operatória.

A educação psicomotora permite trabalhar dois grupos: a função de

ajustamento e as funções gnósicas (id).

Após o nascimento o desenvolvimento relacional se processa de

forma rápida, entretanto, o desenvolvimento receptivo mostra-se parcelado, se

mostra através de reações tônico-posturais e motrizes globais, até

coordenadas.

O comportamento se organiza através de estímulos externos, em

particular, da relação entre mãe-bebê. Eles vão ocorrer através do diálogo

tônico (LE BOULCH, 2001).

O recém-nascido sente necessidade de se expressar e de se

comunicar com o mundo. Um ambiente que favoreça a expressão vai fazer

com que ele desenvolva a comunicação gestual, representada por gritos,

onomatopéias e depois a linguagem. Ela se desenvolve sob o diálogo afetivo,

interligado a necessidade de se comunicar. Primeiro é um diálogo corporal e

depois passa a ser um diálogo verbal, demonstrando as relações estreitas

entre linguagem e motricidade. A qualidade afetiva e expressiva da linguagem

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coloca em evidência o desejo que a criança tem de se comunicar, antes de

ter adquirido os rudimentos de uma língua que é exterior.

Aos 12 meses a criança olha as suas partes visíveis do corpo e

compara com sua imagem especular. Até este momento o espaço além do

espelho era percebido como real. Aos dois anos e meio a criança vai

compreender que o espaço que ela sente é o mesmo que ela vê no espelho.

Este momento (afetuoso-sensório-motor) onde a criança tem a experiência

emocional do corpo e do espaço, onde adquiri novas praxias, sente seu corpo

como um objeto total no mecanismo de relação é um momento fundamental

para que a estruturação espaço-temporal se efetue (LE BOULCH, 2001).

No meio aonde a criança vai se desenvolver é fundamental a

presença humana carinhosa que possibilita condições psicoafetivas

indispensáveis ao desenvolvimento geral da criança a curto e longo prazo (id).

O papel da mãe na aquisição de linguagem da criança é muito

importante. Segundo Goldfeld (2003), quando a criança passa a utilizar o choro

com o objetivo de receber algo em troca, ela está começando a utilizar a

linguagem, está se comunicando. Isso se inicia quando a mãe da significado ao

choro da criança. Assim a linguagem não tem origem em um processo

biológico e sim em um processo social.

Apoiando-se nas visões de Vygotsk, a linguagem e o pensamento

são independentes até os dois anos de idade. A linguagem denomina-se não-

intelectual e o pensamento não- verbal. A linguagem serve apenas para a

comunicação e o pensamento por imagens auditivas, visuais, táteis, olfativas e

gustativas. Após os dois anos a criança a linguagem começa a servir o

pensamento (GOLDFELD, 2003).

A criança recebe a fala da mãe quando esta montando uma torre,

esta fala a orienta na sua tarefa, mais tarde a criança vai utilizar a sua fala para

auxiliar a sua tarefa, o que se chama de fala egocêntrica, no inicio se diferencia

da fala social. Este momento marca a aproximação entre pensamento e

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linguagem que estarão cada vez mais unidos formando assim o pensamento

lingüístico.

Com o passar do tempo esta fala egocêntrica vai ficando mais

econômica, mais silenciosa, não é mais necessário utilizar todos os elementos

lingüísticos, vai se tornando interiorizada, até o ser completamente por volta

dos seis, sete, anos.

Segundo Le Boulch (2001), o aprendizado da limpeza começa logo.

Aos quinzes meses a criança pode iniciar este aprendizado. Deve ocorrer num

clima de segurança, afeição, de preferência pela mãe. Podem ocorrer

inabilidades e rigidez tardias.

Ressalta com dois anos a criança adquire autonomia é poderá beber

e comer sem ajuda. Neste momento é preciso paciência para aceitar erros e

sujeiras, e valorizar êxitos. Também é importante que a criança tenha

possibilidade de locomoção “segura”, um espaço onde possa circular, explorar

o espaço. Isso ocorre por volta dos 9 meses

Entre os 3 e 6 anos, é um estágio transitório, tanto na estruturação

espaço-temporal quanto na estruturação do esquema corporal. Logo a

educação psicomotora deve preparar a criança para a passagem, sem ruptura,

entre o universo mágico no qual se projeta sua subjetividade e o universo onde

reina uma organização e uma estrutura (id).

Ainda nos mostra que os interesses da criança estão voltados para

o mundo exterior. A exploração do mundo leva a um estado de expressão, de

forma a afirmar a unidade afetiva e expressiva, favorecendo o equilíbrio entre o

espontâneo e o controlado, sua motricidade global coordenada e rítmica

traduzindo assim o bom desenvolvimento de sua função de ajustamento (id).

Esta função de ajustamento favorece o desenvolvimento dos

problemas motores e a expressão do corpo, traduzindo as experiências

emocionais e afetivas conscientes e inconscientes. O jogo representativo

adquire importância fundamental na medida em que agindo num mundo

imaginário a criança pode satisfazer seus desejos.

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A educação psicomotora é um suporte importante para passar de

um modo sincrético da apreensão das informações à organização dessas, o

que implica no processo de análise e síntese dos dados sensoriais (LE

BOULCH, 2001).

Segundo Canongia (1986), do desenvolvimento motor infantil passa

por várias etapas de sua maturidade nervosa e das experiências vividas

alcançadas por meio de ensaio e erro, analogias, comparações.

Logo para que ocorra um desenvolvimento integral da criança é

preciso que ela realize por si mesma as suas ações, que exercite seus

músculos, aperfeiçoando seus movimentos, tome decisões, entre outros,

exercendo assim atividades psicomotoras.

Para Gesell (apud Canongia, 1986), os três primeiros anos são um

marco na evolução infantil. Pela educação psicomotora a criança reestuda

dentro de si as informações recebidas de fora e depois exterioriza através da

linguagem corporal coerente com seu equilíbrio psíquico. A criança bem

estruturada tem sucesso nos três fatores: sensações, emoções e movimentos.

A educação psicomotora esta incluída na pré- escola onde a criança

aprende a conhecer o seu corpo, a nomear cada parte dele, usa-lô, a se

expressar, a manusear instrumentos que necessitam de coordenação motora

fina. Assim possibilitando as melhores condições de aprendizagem e de

autoconhecimento. A criança busca conhecer ao mundo e a si mesma usando

materiais concretos, tentando a verbalização depois, com o objetivo primeiro a

conscientização e depois o exercício gráfico, realizado no papel. Estas são

bases concretas que levarão à abstração (idem).

A educação psicomotora, segundo Canongia (1986), deve envolver:

O esquema corporal, que significa o reconhecimento do corpo, o instrumento

de relação da criança com o ambiente. No começo a criança não se diferencia

dos objetos, depois começa a diferenciar-se, partindo dos seus próprios

movimentos, logo começa a formar sua própria imagem corporal. Ao mesmo

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tempo, começa a desenvolver sua noção de espaço, pela distancia percebida

entre ela e o objeto. Sua imagem a faz perceber como um eixo central, com

seus dois lados, direito e esquerdo, sentindo a prevalência de um deles

começa a estabelecimento da lateralidade. Da conscientização do esquema

corporal (interoceptivo) vão se desenvolver as progressões dinâmicas de

nossas relações, motoras ou mentais. Estas projeções compõem o que se

chama de esquemas exteroceptivos que é a capacidade do indivíduo “projetar-

se” fora de si mesmo, com plena consciência, assim possibilitando a ação e

representação dos atos realizados.

A tomada de consciência é importante também para a execução e

controle dos movimentos precisos. Para que possa executar corretamente um

movimento é necessário dissociar o movimento, que implica num certo grau de

maturação neuromotora. A coordenação geral depende da harmonia dos jogos

musculares em repouso e em movimento.

Vale ressaltar também a importância do equilíbrio, que segundo

Fonseca (2000), mostra a exclusividade da postura bípede humana. A

equilibração é um importante marco para as ações coordenadas e intencionais,

que são os alicerces dos processos humanos de aprendizagem.

Segundo Canongia (1986), a noção de tempo esta ligada a

afetividade. De acordo com Piaget (apud Canongia, 1986), antes dos 7 anos a

noção de tempo é egocêntrica, e aos 8 anos a criança já organiza as noções

de ordem e de duração, mais ou menos, as do tempo. Já a noção de espaço,

vai constituir o primeiro passo para a criança alcançar a abstração. Noções de

direita-esquerda e laterais são as primeiras aquisições a serem feitas. A

coordenação visomotora que representa a coordenação dos movimentos do

globo ocular com os demais movimentos do corpo, também vai ser abordada

na educação psicomotora.

Também é importante o conceito de constância de percepção, que

significa a capacidade de reconhecer o mesmo objeto sob varias formas. A

figura-fundo que é a capacidade de perceber num conjunto, a figura.

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Segundo Fonseca (2000), a apraxia motora global é importante

porque envolve a organização da atividade consciente e a sua programação,

regulação e verificação. Esta relacionada à realização e automação dos

movimentos globais. Ela “encerra em si a unidade de um pensamento abstrato

que se traduz numa ação motora concreta”. Também devemos levar em

consideração a praxia fina que representa todas as significações

psiconeurológicas já avançadas na praxia global, está adstrita à função de

coordenação dos movimentos dos olhos durante a fixação da atenção e

durante as manipulações de objetos que exigem controle visual, além de

envolverem também funções de programação, regulação e verificação das

tarefas preensivas e manipulativas mais finas e complexas.

Segundo Goldfeld (2003), é importante “estimular” as funções

mentais: atenção, percepção e memória, pois são fundamentais no

desenvolvimento da criança.

A atenção no inicio é mediada, o que chamamos de interpsíquica, na

medida em que o adulto é quem chama a atenção da criança para o que é

significativo. Depois quando a própria criança começa a perceber o que é

importante, e passa a direcionar o seu psiquismo denominamos de

intrapsíquico.

A percepção constitui-se numa construção social que deve ser

desenvolvida na criança. Muitos afirmam que ela vem antes da atenção, o que

não é certo. Apenas a sensação sensorial, que acontece de forma

inconsciente, é independente da atenção mediada e voluntária, já a percepção

depende desta. A percepção significa a capacidade consciente de receber os

estímulos sensoriais do ambiente.

A memória na criança representa a lembrança de algum momento,

ela se da em bloco, a criança refaz a cena mentalmente. Não utiliza recursos

para facilitar sua memória. Depois, segundo Vygotsky (apud Goldfeld, 2003), a

criança vai utilizar os signos externos que são elementos externos que facilitam

a memorização. Assim vão passar da memória natural para a memória

mediada, que marca uma diferença na forma de utilização desta função mental.

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Só memorizamos aquilo que percebemos e consideramos importante.(

GOLDFELD, 2003).

Completa ainda que a formação de conceitos também seja uma

etapa importante. Pois o conceito significa uma generalização. Pois o

significado das palavras não é imutável, ele se modifica durante o

desenvolvimento, logo o nível de generalização e abstração se modifica.

Continua afirmando que o pensamento conceitual não é inato, a

criança necessita do adulto para percorrer este processo. Ela aprende o

conceito a partir de suas relações sociais, e passa a utilizá-los como os seus

pares, formando assim uma maneira de pensar, agir e recortar o mundo.

Reforça que a categorização tenha inicio com a percepção das

semelhanças, que é uma função difícil já que a criança necessita de um grau

de abstração. Ela precisa separar as características dos objetos, relacionar o

que tem em comum e reconhecê-los como semelhantes.

A educação psicomotora tem o objetivo de possibilitar a criança

desenvolver suas potencialidades, pois tem o princípio de fazer com que a

criança elabore, se permita, se ajuste, individualmente, possibilitando a ela

reagir globalmente a uma situação de urgência, se necessário.

A pré-escola não deve ser apenas um ambiente de ensinar

comportamentos motores. Nesta fase o infante constrói e organiza sua

“imagem do corpo”, através do lúdico associado à atividade motora.

Faz-se necessário criar no ambiente pré-escolar condições de

vivenciação e experimentação com diferentes situações, possibilitando

atividades individuais e coletivas, assim a atividade motora vai mostrar a

necessidade da experiência do corpo, associado também ao aspecto

emocional.

Enfim, segundo Canongia (1986), é necessário que a criança tenha

integridade psicomotora para percorrer de forma adequada o processo de

aprendizagem da leitura e da escrita. Aquela que tiver realizado um bom pré-

escolar, que lhe tenha dado a chance de vivenciar, vencendo com facilidade,

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obstáculos que lhe foram apresentados, adquirindo assim confiança em si

mesma e conhecimento de sua capacidade corporal e suas potencialidades,

provavelmente terá um bom desenvolvimento e uma grande felicidade pessoal.

Pois aos 6 anos idade onde, normalmente, se inicia a aprendizagem escolar é

necessário que se tenha um grau de maturidade para que possa realizar a

coordenação de seus complexos mecanismos, visando aquisição desta

aprendizagem.

Na pré-escola então o comportamento sensório-motor é muito

importante, pois irá favorecer o aparecimento da função de ajustamento, nessa

etapa ocorrerá à estruturação perceptiva e motora. Dos comportamentos

motores e afetivos emergirá depois na criança a exploração do plano mental.

Assim a criança passará da vida pré-escolar para a vida escolar e para que

isso ocorra sem percalços à criança tem que vivenciar o corpo inicialmente com

a atividade motora que vai ser prolongada pela expressão verbal e gráfica.

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CAPÍTULO 4

REEDUCAÇÃO E TERAPIA PSICOMOTORA

Vale ressaltar que além da educação psicomotora também existem a

reeducação psicomotora e a terapia psicomotora.

A reeducação faz-se necessária quando a criança tem uma

experiência ‘pobre’ com o corpo e quando ocorre um desequilíbrio afetivo de

grau tão importante que se mostra através de dificuldades no contato com

adultos e outras crianças, a expressão gestual e verbal ficam limitadas.

Segundo Canongia (1986), a reeducação psicomotora serve para

pacientes que tem deficiências na área psicomotora. Essas deficiências serão

observadas através de avaliações médica, neurológica, otorrinolaringológica,

psicológica visando dar orientação aos pais professores e profissionais de

reabilitação e definir um perfil psicológico do paciente. A avaliação psicomotora

se dará através da aplicação de uma bateria de provas para a despistagem

psicomotora. Já a avaliação fonoaudiológica vai investigar tanto a motricidade

orofacial, a deglutição, fala a linguagem oral e escrita, além de determinadas

falhas sensoperceptivomotoras e respiratórias.

De acordo com as necessidades observadas se desenvolverá o

plano de tratamento. O tratamento pode ser individual ou em grupo de 6 a 9

pacientes e com os dados dos exames médicos e da avaliação psicológica (id).

Segundo Fonseca (1983), a terapia psicomotora, que se faz

necessária para melhorar os processos de integração, elaboração e realização

do movimento não é uma “ginástica corretiva” é uma abordagem diferenciada

dos problemas da motricidade perturbada, partindo de um aspecto essencial e

básico: o indivíduo nas múltiplas ações de adaptação à vida corrente. Tem

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como objetivo a readaptar indivíduo à atividade mental que preside à

elaboração do movimento, melhorar as estruturas psíquicas responsáveis pela

transmissão, execução e controle do movimento, através do melhor

reconhecimento espaço- temporal com base numa maior disponibilidade

corporal. Visa à determinação de sinergias e a integração mental do

movimento. A terapia psicomotora é uma educação do ato motor pelo

pensamento, ao mesmo tempo em que constitui uma educação do pensamento

através do ato moto.

Na terapia se elucida a previsão e a organização das sequências

motoras, no espaço e no tempo, a regulação da excitação motora em

intensidade e duração, a consciência cinestésica e intelectual da realização do

ato, as informações de retorno, o aperfeiçoamento motor, tudo é finalidade do

psicomotricista. A estes aspectos não pode faltar à inter-relação recíproca do

movimento e da linguagem, dado que estes dois fatores são importantes para a

formação dos fenômenos de comunicação, informação, percepção, reflexão e

exteriorização dos estados da consciência. É importante que se utilize o

movimento como meio fundamental de modificação relacional da criança

consigo própria, com os objetos e com os outros (Fonseca, 1983).

Enfim, a educação psicomotora vai melhorar a atividade mental que

precede a execução e controle do movimento.

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CONCLUSÃO

A psicomotricidade é a relação do movimento com o pensamento,

ou seja, é a associação das funções motoras com as funções psíquicas. Onde

o pensamento educa o movimento.

O desenvolvimento sensório-motor é fundamental para o

desenvolvimento da aprendizagem. O perfil psicomotor vai nos mostrar o

potencial de aprendizagem da criança.

Não havendo uma base psicomotora, o pensamento não vai ter

passagem para os símbolos.

O período da pré-escola é marcado por várias e importantes

aquisições, estas vão ser a base para todo o período escolar e aprendizagens

futuras.

Um indivíduo que não apresenta nenhum desequilíbrio psicomotor

vai se beneficiar da educação psicomotora pois ela vai, além de ajudar no seu

desenvolvimento, propiciar muitos momentos a mais de experiências

vivenciadas. E a criança que tem algum desequilíbrio vai poder se beneficiar

das atividades educativas que vão ajudar em seu desenvolvimento motor e

mental que irá repercutir na sua aprendizagem no período escolar.

Entretanto, as crianças que apresentam algum desequilíbrio

acentuado, necessitarão de um olhar mais apurado para obterem a

oportunidade de readaptar as funções que necessitarem, seja através da

reeducação psicomotora ou com a terapia psicomotora.

Na reeducação psicomotora onde se trabalha “corrigindo” as

alterações, trabalhando o limite e o pensamento antes do agir. E a terapia

psicomotora onde se aperfeiçoa as possibilidades e também se “corrigi” as

alterações.

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Nestes dois momentos se cria um espaço para a criança

expressar sua realidade emocional. Pois o corpo está ligado a mente e são

movidos pela emoção.

A educação psicomotora portanto, deve estar incluída na pré-

escola para melhorar e direcionar o desenvolvimento das habilidades motoras

e mentais das crianças com atividades voltadas para a vivenciação do corpo e

do ambiente integrado ao pensamento.

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BIBLIOGRAFIA

AJURIAGUERRA, J. ”Lês Bases Theóriques dês Troubles Psychomoteurs et La Rééducation Psychomotrice Chez L’ enfant”, Genève-Medicine ET Hygiéne, 19. anée, 1961, número 529.

LE BOULCH. O Desenvolvimento Psicomotor- Do nascimento até os 6 anos. Porto Alegre –Artmed 2001.

LA PIERRE, André. Educação Psicomotora: na escola maternal. São Paulo- Manole -1989.

CANONGIA, Marly B. Psicomotricidade em Fonoaudiologia. Rio de Janeiro- Sindicato Nacional dos Editores de livros. 1986.

NASCIMENTO, Lucia S.; Machado, Maria T.C. Psicomotricidade e Aprendizagem. Rio de Janeiro- Entrelivros- 1986.

CHAZAUD, J. Introdução a Psicomotricidade. São Paulo- Manole- 1987.

FONSECA, V. Psicomotricidade. São Paulo- Martins Fontes-1983.

OLIVEIRA, Gislene C. Psicomotricidade: Educação e Reeducação num Enfoque Psicopedagógico. Rio de Janeiro- Vozes- 2001.

LA PIERRE & AUCOUTURIER A Simbologia do Movimento: Psicomotricidade e Educação. Porto Alegre- Artes- Médicas- 1988.

LE BOULCH, J. Rumo a Uma Ciência do Movimento Humano. Porto Alegre- Artes Médicas- 1987.

CORIAT, Lydia F. Maturação Psicomotora no Primeiro Ano de Vida da Criança. São Paulo- Cortez & Moraes- 1977.

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WEBGRAFIA

Texto retirado da internet: LUSSAC, Ricardo. Psicomotricidade. WWW.efdeportes.com 1-1 p., acessado em 03/06/10 às 19h25min.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS...................................................................................................03

DEDICATÓRIA.............................................................................................................04

RESUMO......................................................................................................................05

METODOLOGIA...........................................................................................................06

SUMÁRIO.....................................................................................................................07

INTRODUÇÃO..............................................................................................................08

CAPÍTULO I..................................................................................................................11

A PSICOMOTRICIDADE E A NOÇÃO DE CORPO

1.1 História da Psicomotricidade.............................................................................11

1.2 Conceito Psicomotor.........................................................................................13

1.3 Noção de Corpo................................................................................................15

CAPÍTULO II................................................................................................................18

DESENVOLVIMENTO INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR

CAPÍTULO III...............................................................................................................29

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

CAPÍTULO IV..............................................................................................................37

REEDUCAÇÃO E TERAPIA PSICOMOTORA

CONCLUSÃO..............................................................................................................39

BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................41