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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS- APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SUCUMBÊNCIA NA JUSTIÇA DO TRABALHO AUTORA VALERIA CHRISTINA IVO XAVIER ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS- APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SUCUMBÊNCIA NA JUSTIÇA DO TRABALHO

AUTORA

VALERIA CHRISTINA IVO XAVIER

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS- APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SUCUMBÊNCIA NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Valéria Christina Ivo Xavier

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RESUMO

O presente trabalho refere-se ao cabimento do direito dos advogados receberem honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho e, por consequência a revogação das súmulas 219 e 329 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) . Há um conflito existente entre a indispensabilidade do advogado previsto no artigo 133 da Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, Lei 8.906/94 e o jus postulandi disposto no artigo 791 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Pretende-se demonstrar a importância do advogado na defesa dos interesses individuais na Justiça do Trabalho. O processo trabalhista é complexo e apresenta dificuldades até mesmo para os profissionais que militam nessa área. Como a parte desacompanhada de um advogado ficaria diante de um tecnicismo necessário? Saberia um trabalhador o que seria Tutela Antecipada? A presença do advogado é imprescindível para desempenhar as suas funções e apontar de maneira clara e justa a melhor e eficaz forma de proteção ao cidadão na solução dos litígios. O fato é que, mesmo após a promulgação da Constituição de 1988, o direito ao jus postulandi continua na Justiça do Trabalho, mesmo sendo entendimento majoritário a indispensabilidade do advogado para administração da justiça. Entende-se não aplicar o princípio da sucumbência no processo do trabalho pelo fato da legislação trabalhista cuidar expressamente da matéria e essa normatização estaria contemplada na Lei 5.584/70, expressamente nos artigos 14 a 19. Mas deve-se ter em mente que a citada Lei foi editada em momento histórico outro em que não havia sido promulgada a CRFB de 1988. Hoje ao Sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos e individuais da categoria em questões judiciais e administrativas, ou seja, o Sindicato tem legitimidade para na condição de substituto processual, defender os interesses da categoria, não lhe impondo a prestação de um serviço obrigatório de assistência jurídica. Nesse contexto não há norma legal que cuide integralmente da matéria na CLT, a única disposição legal que fala dos honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho, vincula-se à assistência jurídica pelo Sindicato, desta forma nos remete a aplicação do disposto no artigo 769 da CLT à hipótese, ensejando que o princípio da sucumbência previsto no Código de Processo Civil seja aplicado aos processos do trabalho.

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METODOLOGIA

O método de investigação utilizado foi do tipo bibliográfico, utilizando-

se de doutrinas. Teve-se como base a análise e o estudo acerca das recentes

publicações, projetos de lei e dos recentes julgados sobre o assunto, através de

uma abordagem crítica da jurisprudência dominante. Buscando dirimir as

controvérsias surgidas através da análise do tema. Tendo como ponto de partida

os princípios aplicáveis ao processo do trabalho, assim como o conflito entre os

institutos do jus postulandi, acesso a justiça, a essenciabilidade do advogado na

justiça do trabalho e o princípio da sucumbência.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................7

CAPÍTULO I

O JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO E A ESSENCIABILIDADE

DO ADVOGADO...................................................................................................10

CAPÍTULO II

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS..........................................................................16

2.1 – HISTÓRIA DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS......................................16

2.2 – CONCEITO...................................................................................................16

2.3 - ESPÉCIES DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.........................................16

2.3.1 - CONVENCIONADOS OU CONTRATADOS..............................................17

2.3.2 – FIXADOS OU ARBITRADOS....................................................................18

2.3.3 – DE SUCUMBÊNCIA..................................................................................19

CAPÍTULO III

A POSSIBILIDADE DA CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

NO PROCESSO DO TRABALHO.........................................................................22

CAPÍTULO IV

O JUS POSTULANDI NOS TRIBUNAIS DO TRABALHO...................................27

CONCLUSÃO........................................................................................................30

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BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................33

ANEXOS................................................................................................................37

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INTRODUÇÃO

A Justiça do Trabalho, desde os seus primórdios, é consagrada como a

justiça dos necessitados e, como tal, deve sua tutela jurisdicional ser prestada

gratuitamente aos mesmos. A normatividade regente desse campo do Direito,

surgida em 1943 – a Consolidação das Leis do trabalho – diante da realidade da

época e da necessidade de normas especiais, trouxe regras condizentes com o

princípio protetivo e mais adequadas à celeridade processual, tendo em vista que

sempre objetivou tutelar um crédito de natureza alimentar.

Trazendo em seu texto o princípio do jus postulandi, o qual consiste na

capacidade postulatória de empregados e empregadores, conforme dispõe o

artigo 791 da Consolidação das Leis do Trabalho, ou seja, as partes podem

ajuizar pessoalmente suas reclamações e acompanhá-las até o final, sem a

necessidade da presença do advogado. Entretanto, sendo o empregado como a

parte mais fraca da relação processual e geralmente por não possuir

conhecimento jurídico suficiente para praticar os atos processuais e defender

seus direitos, acaba prejudicado em sua demanda.

A Constituição da República, em seu artigo 133, determina que o

advogado é indispensável à administração da justiça em oposição ao que

disciplina o citado artigo da CLT.

Há quem defende que com a promulgação da Carta Cidadã de 1988 o

artigo 791 da CLT tornou-se inconstitucional por não ter sido acolhido pelo novo

texto constitucional.

Apesar do contido no texto constitucional, afirma-se que o artigo 791 da

consolidação trabalhista continua vigente uma vez que o advogado é

indispensável à administração da justiça, mas conforme disciplina o artigo 133 da

Constituição depende de regulamentação, já que o texto da Carta Magna traz

uma vírgula seguida da expressão “nos limites da lei”.

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Com relação aos honorários advocatícios, a Lei 8.906/94 os assegura

em todo processo e o artigo 133 da Constituição Federal reza a essencialidade do

advogado para a administração da justiça, mas o fato é que as citadas normas

jurídicas confrontam com o jus postulandi, assegurado pelo artigo 791 da

Consolidação das Leis do Trabalho.

Quanto ao tema, se de um lado o jus postulandi veio para favorecer o

reclamante pois sem a presença do causídico poderia apresentar óbice a

conciliação e gerar custos, por outro, a falta deste causaria prejuízos a ampla

defesa, resultando em ações mal redigidas, partes despreparadas, perda de

prazos, etc.

Há muito a Ordem dos Advogados do Brasil defende a bandeira do fim

o jus postulandi na Justiça do Trabalho e a instituição da sucumbência no

processo.

Dentro do papel de uniformizador da jurisprudência, o Tribunal Superior

do Trabalho (TST) vem negando ambas as postulações consoante o que reza as

súmulas 219 e 329.

O enunciado 219 do TST consubstancia que os honorários de

advogado, na Justiça do Trabalho, não são devidos de mera sucumbência, mas

sim pela conjugação de dois requisitos: estar a parte assistida por sindicato

representante profissional e perceber salário inferior ao dobro do salário mínimo.

Mesmo após a promulgação da CF/88, permanece válido o

entendimento consubstanciado na súmula 219, uma vez que o enunciado 329

reforça a validade deste entendimento pelo TST.

Com efeito, a premissa que rege o princípio da sucumbência é da parte

contratar advogado de sua confiança para defender seus interesses no Judiciário

e saindo vencedor na ação este advogado será remunerado, pelo vencido, em

razão do trabalho que executou.

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O empregado, a despeito do princípio protetivo, é protegido pela

Constituição Federal, podendo para tanto contratar um advogado de sua

confiança para postular em juízo, e assim sendo, não pode ser obrigado a optar

pela assistência sindical, a qual nem sempre é eficaz.

Diante desse quadro foi apresentado anteprojeto de lei pela Seccional

da OAB do Rio de Janeiro, ao presidente da Câmara dos Deputados, elaborado

por uma comissão integrada pelo ex-ministro e autor da Consolidação das Leis do

Trabalho, Arnaldo Sussekind, que repara as duas situações principais que nós

temos hoje, o descrédito do advogado trabalhista, ou seja, torna-o indispensável à

justiça e ao mesmo tempo, não o concede honorário de sucumbência ao

advogado.

Dessa forma o objetivo desse trabalho foi destacar a necessidade de

honorários advocatícios de sucumbência na Justiça do Trabalho, sobretudo a luz

das recentes alterações na lei civil, na CLT, tanto nas lides empregatícias, como

também para aquelas decorrentes da relação de trabalho lato sensu, tendo em

vista a compatibilidade desses ordenamentos com os Princípios Gerais do

Trabalho.

Contudo, foi necessária a análise pormenorizada acerca do assunto,

observando detalhadamente cada corrente doutrinária, posição jurisprudencial e

interpretação de acordo com as normas e princípios constitucionais vigentes, para

melhor aplicação do direito, de modo a falar-se em verdadeira justiça.

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CAPÍTULO I

O JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO

O jus postulandi consiste no direito de falar em nome próprio,

prerrogativa que possuem empregado e empregador, para ajuizarem

pessoalmente suas reclamações em causa própria.

Sergio Pinto Martins conceitua o jus postulandi como O direito que a

pessoa tem de estar em juízo, praticando pessoalmente todos os atos autorizados

para o exercício do direito de ação, independente do patrocínio de advogado

(MARTINS, SERGIO PINTO, 2002, p. 725).

O instituto do jus postulandi, das partes na reclamação trabalhista está

consubstanciado no artigo 791 da CLT, o qual estabelece que os empregados e

os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho

e acompanhar suas reclamações até o final.

Ainda, o artigo 839, alínea “a”, do mesmo diploma consolidado salienta

a existência do jus postulandi como prerrogativa da justiça laboral, quando

estabelece a reclamação trabalhista poderá ser apresentada pelos empregados e

empregadores, pessoalmente, ou por seus representantes, e pelos sindicatos de

classe (BRASIL. Decreto Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprovada a

Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: http://

www4.planalto.gov.br/legislação. Acessado em: 20 de Dez. de 2010).

Diz-se, então, que o jus postulandi, no processo do trabalho, é a

capacidade conferida às partes, como sujeitos da relação de emprego, para

postular diretamente em juízo, sem a necessidade de serem representados por

advogados.

Com a promulgação da Constituição de 1988, cujo artigo 133 considera

o advogado essencial à administração da justiça e com advento da Lei 8.906, o

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Estatuto da Advocacia e da OAB, que, em seu artigo 1º, inciso I, disciplina que

são atividades privativas da advocacia a postulação a qualquer órgão do Poder

Judiciário e aos juízes especiais, muitos ecoaram no sentido de que o artigo 791

da CLT, não teria sido recepcionado em face da incompatibilidade com o texto

constitucional e a desavença sobre a revogação do citado artigo retornou a cena.

Tendo o Superior Tribunal de Justiça (STF) se manifestado nos autos

da ADI n. 1.127-8, proposta pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), no

sentido de que a capacidade postulatória do advogado não é obrigatória nos

Juizados Especiais, na Justiça do Trabalho e na chamada Justiça de Paz. Nestes,

as partes podem exercer diretamente o jus postulandi.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST), por sua vez, também firmou

jurisprudência nesse sentido, conforme se infere da Súmula n. 329, in verbis:

“HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – ARTIGO 133 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988. Mesmo após a promulgação da Constituição da República de 1988, permanece válido o entendimento consubstanciado na Súmula n. 219 do Tribunal Superior do Trabalho” (RA 21/93 – DJU 21.12.1993).

A Súmula n. 219 do TST por sua vez, prevê:

“HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. HIPÓTESE DE CABIMENTO (incorporada a Orientação Jurisprudencial n.27 da SDI-II – Res. 137/2005 – DJ 22.08.2005) I – Na Justiça do Trabalho, a condenação a condenação de honorários advocatícios, nunca superior a 15% (quinze por cento), não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte estar assistida por sindicato da categoria profissional e comprovar percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família (ex-Súmula n.219 – Res.14/1985, DJ 19.09.1985). II – É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação rescisória no processo do trabalhista, salvo se preenchidos os requisitos da Lei n. 5.584/70 (ex-OJ n. 27 – inserida em 20.09.2000)”

Conforme posicionamento acima mencionado, embora os verbetes

tratem apenas dos honorários advocatícios, não se pode negar que eles deixam

implícitos que, no processo do trabalho as partes, continuam tendo a faculdade do

jus postulandi.

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Contudo, em caso de eventual recurso extraordinário para o Supremo

Tribunal Federal (STF), ou mesmo para o Superior Tribunal de Justiça (STJ),

deve este ser subscrito por advogado sob pena de não ser conhecido.

Nesse sentido Sergio Pinto Martins leciona: Acompanhar a reclamação

até o final, quer dizer que o Jus Postulandi das partes pode ser exercido até o

Tribunal Superior do Trabalho (TST), em todos os recursos. Apenas se a parte

tiver de apresentar recurso extraordinário é que precisará de advogado

(MARTINS, SERGIO PINTO, 2002, p. 725).

Porém, a 4ª Turma do TST em recente julgado (AIRR 886/2000, jul.

2005), firmou entendimento de que o jus postulandi não prevalece em caso de

interposição de recurso de revista para o Superior Tribunal do Trabalho (TST).

Para a 4ª Turma, a natureza extraordinária do recurso de revista exige que este

seja interposto por advogado, devidamente inscrito na Ordem dos Advogados

(OAB). Contudo, essa posição ainda não é dominante no referido Tribunal, senão,

vejamos:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – RECURSO DE REVISTA – REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL – JUS POSTULANDI. Trata-se de agravo de instrumento que denegou seguimento ao recurso de revista, que, também veio subscrito pelo reclamante. O jus postulandi está agasalhado no art. 791 da CLT, que preceitua: “Os empregados e empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final”. A expressão “até o final”, portanto, deve ser interpretada levando-se em consideração a instância ordinária, já que esta é soberana para rever os fatos e provas dos autos. O recurso de revista, por sua natureza de recurso extraordinário, exige seja interposto por advogado devidamente inscrito na OAB, a quem é reservado a atividade privativa da postulação em juízo, incluindo-se o ato de recorrer – art. 1º da Lei 8.906/1994. Agravo de instrumento não conhecido” (TST – 4ª T. – AIRR. 886/2000 – 401-05-00 – DJ 12.08.2005).

Desta forma, a possibilidade de um trabalhador interpor recursos ou até

mesmo dar impulso ao processo é questão de difícil visualização.

Para Raimundo Faoro, a vantagem de se livrar do advogado é

aparente, porquanto na verdade ela fica ao desamparo da assistência do

profissional habilitado, muitas vezes enfrentando a outra parte assistida por

profissional de grande competência e habilidade. (LÔBO,2009, P. 17).

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Aquele que postula em causa própria, muitas vezes age de forma

errada, é lesado e deixa de obter um resultado satisfatório, acabando por suprimir

o seu direito.

É preciso destacar que, após a Emenda Constitucional 45/2004, que

ampliou a competência material da Justiça do Trabalho para processar e julgar

qualquer lide envolvendo relação de trabalho (artigo 114 da CRFB), entende

Renato Saraiva, procurador do trabalho da 6ª Região, que o jus postulandi da

parte é restrito às ações que envolvam relação de emprego, não se aplicando às

demandas referentes às relações de trabalho distintas da relação empregatícia.

Logo, em caso de ação trabalhista ligada a relação de trabalho não

subordinado, as partes deverão estar representadas por advogados, a elas não

se aplicando o artigo 791 da CLT, restrito a empregados e empregadores

(SARAIVA, RENATO, 2009, p. 245).

Contrário ao seu entendimento, Saraiva transcreve a seguinte

jurisprudência:

“APLICAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO – NOVAS AÇÕES – EXTENSÃO DO JUS POSTULANDI. Embora o TST tenha editado instrução normativa que prevê a aplicação do princípio da sucumbência nos feitos da nova competência, remanesce a aplicabilidade da regra do jus postulandi. Se é verdade que o rito procedimental deve corresponder às peculiaridades das relações de direito material apreciadas, também é certo a aplicação estrita do CPC pode prejudicar partes a que a hipossuficiência atinge de forma mais aguda, exatamente por não contarem com as garantias do contrato de emprego. Por fim, há que se atentar para a circunstância de que o jus postulandi sempre foi assegurado, nos feitos de competência da Justiça do Trabalho, a empregado, empregador, assim como, também, a trabalhador eventual e àquele que buscava o reconhecimento de vínculo, ainda que sem sucesso. A conclusão portanto, é de que não existe irregularidade na atuação da parte sem a presença de advogado, nos feitos da nova competência. Recurso a que se nega provimento para manter a decisão que reconheceu que o réu tem capacidade postulatória”.

Marco Antonio Lobato explica muito bem os reflexos da utilização do

jus postulandi:

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Cremos que, o jus postulandi não deve ser tido como uma mágica chave de acesso ao Poder Judiciário e, quanto menos, à Justiça. A capacidade postulatória não pode e não deve ser conferida indistintamente a todos os cidadãos, sob pena de lhes negar a própria cidadania. Antes, deve ser esta garantida, ao se reservar o jus postulandi a um profissional especialmente preparado para a defesa de direitos, o advogado. Este sim, com anos de estudo, e aprimoramento se sua vocação, isenção emocional e preparo técnico, tem a voz que consegue, no mais das vezes, ser ouvida. Promessas de maior acesso à Justiça através do jus postulandi certamente iludem o leigo, que ao defender sua aplicação, ajuda a armar arapuca para si mesmo. Arapuca esta que leva ao fim do recurso que é sua real garantia de acesso, pois que, sem ele, suas dificuldades e quiçá impossibilidades só fazem aumentar e, sendo escutado, mas não ouvido como necessitaria, muitas vezes deixa de ver reconhecidos direitos e interesses seus, fato que o auxílio de um profissional treinado nas manhas da lei e do processo certamente evitaria. PAIVA, Mário Antonio Lobato. A Supremacia do Advogado em face do Jus Postulandi.(Disponível em: http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto_asp?id=72. Acesso em: 20 de setembro. 2010).

E conclui:

Não é possível aceitar o argumento de que, por exemplo, a Justiça do Trabalho é de fácil acesso ao povo, ao trabalhador, pois ele poderá reclamar e pleitear seus direitos diretamente, independentemente da constituição de um advogado, e o mesmo podendo acontecer com o empregador. Isso, a meu ver, é um engano. Não é necessário muito esforço, e nem mesmo concentração, para se perceber que diante da complexidade das leis, dos procedimentos e da burocracia administrativa do Poder Judiciário, querer dar suposta liberdade para que pessoas do povo possam bater às portas do Judiciário e dizer que terão seus direitos resgatados, sem a presença de um profissional da advocacia é a mesma coisa, guardadas as devidas proporções, que soltar alguém desprotegido numa jaula com leão faminto. [...] Concluo, assim, que a postulação é um direito irrenunciável que se estampa como exigência indeclinável da própria Justiça, fantasia legal, colocada em ângulo sombrio e a título de mera espectadora. Não pretendendo dizer que esta postulação deva ser brilhante e erudita, mas que, porém não deva ser restringida a argumentos esdrúxulos e muitas vezes vazios de consistência por parte do postulante leigo que notoriamente não possui qualificação profissional adequada para garantir a efetividade da prestação jurisdicional e, conseqüentemente, a Justiça por todos almejada.(PAIVA, Mário Antonio Lobato. A Supremacia do Advogado em face do Jus Postulandi. Disponível em: http://www.bdjur.stj.gov.br. Acesso em: 20 de setembro. 2010).

Percebe-se que o princípio do Jus Postulandi é ilusão e um afronto aos

princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Além de contrapor

diretamente a indispensabilidade do advogado, previsto na Carta Magna, criando

conflito com os princípios já citados.

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Portanto sem advogado não há justiça, visto que para alcançá-la faz-se

necessário um conhecimento técnico, e com a presença deste profissional no

andamento do processo é que os direitos dos cidadãos serão respeitados e

adquiridos.

O princípio da indispensabilidade do advogado não foi posto na

Constituição como favor de corporativo aos advogados ou para reserva de

mercado profissional, sua ratio é de evidente ordem pública e de relevante

interesse social, como instrumento de garantia de efetivação da cidadania. É

garantia da parte e não do profissional (LOBÔ, 2009, p. 26).

Diz Lôbo: Como adverte José Afonso da Silva, comentando o artigo

133 da Constituição, o princípio [da indispensabilidade] agora é mais rígido,

parecendo, pois, não mais se admitir postulação judicial por leigos, mesmo em

causa própria, salvo falta de advogado que o faça (LÔBO, 2009, p. 27)

Nesse contexto diz-se que a dispensabilidade do advogado pode

atrapalhar o acesso a justiça, uma vez que o direito ao advogado e a assistência

jurídica integral é garantia de todo cidadão, caso contrário a cidadania seria

maculada e não há igualdade de meios técnicos quando uma parte é defendida

por profissional e a outra não, fazendo com que os mais fracos sejam entregue a

própria sorte, a sua experiência, a sua inexperiência e ao desconhecimento dos

procedimentos, bem como do aparelho judiciário (LÔBO, 2009, p. 17).

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CAPÍTULO II

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

2.1 – HISTÓRIA DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

A história dos honorários tem origem no Direito Romano.

Tudo começou quando, no governo do Imperador romano Cláudio (41

d.C a 54 d.C) foi estabelecido que os advogados tivessem direito a honorários

dentro de certos limites (no máximo 10.000 sestércios) por ação onde o mesmo

atuasse.

Também ficou estabelecida a obrigatoriedade do advogado se

inscrever (matrícula) na corporação (por sinal, também criada no governo do

referido imperador), cujo nome era Colégio ou Corporação Advocatícia

(Fernandes, Robério, 2009. Disponível em http: / historiasecuriosidades.blogspot.

com. Acesso em 20 de setembro de 2010).

O valor máximo não era calculado em valores percentuais, como é o

no Brasil, e sim havia um teto máximo.

Daí, se tem como surgiram os limites dos honorários, as matrículas dos

advogados e a corporação que regeria a classe.

2.2 – CONCEITO

A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na Ordem o

direito a honorários contratados ou, na falta de contrato, os que forem fixados na

forma da lei, assim, Plácido E. Silva, define os honorários de advogado (Plácido

de E. Silva, 2006, p. 687).

2.3 – ESPÉCIES DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

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Dispõe o artigo 22 do Estatuto da Advocacia e da OAB, in vebis:

Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na

OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por

arbitramento e aos de sucumbência.

Notadamente, há que se destacar que a contratação prévia de

honorários não exclui os que porventura se originem de sucumbência.

2.3.1- CONVENCIONADOS OU CONTRATADOS

Os honorários convencionais são os devidos ao advogado por força de

contrato de prestação dos serviços que tenha sido celebrado. Esse honorário é

devido ao advogado pelo cliente, independentemente do resultado da demanda.

O advogado tem o direito de receber o valor conforme foi estabelecido com seu

cliente. Em caso de recusa de pagamento pelo cliente, o instrumento de contrato

é título executivo extrajudicial, podendo ser executado, conforme disciplina o

artigo 24 do Estatuto da Advocacia, abaixo descrito.

Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato

escrito que os estipular são títulos executivos e constituem crédito

privilegiado na falência, concordata, concurso de credores, insolvência

civil e liquidação extrajudicial.

O contrato de prestação de serviço advocatício é regulado pelo Código

Civil e pelo Estatuto da Advocacia, é um contrato bilateral e consensual, pois gera

deveres e obrigações para ambos e é aperfeiçoado pelo simples acordo entre as

partes. Deixando-se claro que o advogado exime-se da responsabilidade em caso

da não obtenção de êxito na demanda.

No ensinamento de Caio Mário:

A matéria é amplamente tratada, considerando-se mandato judicial o

contrato que tem por objeto a representação para a defesa dos

interesses e direitos perante qualquer juízo. É preciso não confundir esse

contrato, em que é essencial em nosso sistema a concessão de poderes

para falar e agir, em nome do mandante, com a prestação do serviço do

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advogado como consultor, orientador, assistente, a qual se cumpre a

representação (Pereira, Caio Mario da Silva, 1984, p. 289).

Carlos Roberto Diniz fala que:

“a obrigação é de meio quando o devedor deve entregar seus

conhecimentos, meios e técnicas para a obtenção de determinado

resultado, sem, no entanto, responsabilizar-se por ele” (DINIZ, Carlos

Roberto Faleiros. A subsecção da OAB e a advocacia. 2. ed. rev. amp.

e atual. Ribeirão Preto, Nacional de Direito, 2006).

Paulo Lôbo explica que convencionar os honorários por escrito é forma

de reduzir os desgastes que a sua falta possa repercutir:

É dever ético do advogado, para produzir o potencial de risco e desgaste

com o cliente que repercute mal na profissão, contratar seus honorários

por escrito. Dessa forma, os honorários convencionados tornam-se

inquestionáveis e permitem, em situação extrema, a execução judicial.

Devem ser utilizados parâmetros seguros, tais como: valor fixado na

moeda de curso forçado; atualização mediante indexador determinado,

quando for o caso; percentual sobre o valor da causa, desde já

determinado (Paulo Lôbo, 2009, p. 143 e 144).

2.3.2 – FIXADOS OU ARBITRADOS

São os honorários que, ante a ausência de contratação por escrito pelo

cliente, são arbitrados judicialmente através da mensuração do magistrado, é o

que se abstrai do § 2º, do artigo 22 do Estatuto da Advocacia e da OAB, in verbis:

Art. 22 (...)

§2º Na falta de estipulação ou de acordo, os honorários são fixados por

arbitramento judicial, em remuneração compatível com o trabalho e o

valor econômico da questão, não podendo ser inferiores aos

estabelecidos na tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB.

Paulo Lôbo ensina em sua obra que:

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(...) Os honorários serão fixados por arbitramento judicial, quando não

forem convencionados previamente. O arbitramento não se confunde

com arbitrariedade do juiz, que deverá observar parâmetros que a

própria lei fixou. Há o limite mínimo que é a tabela organizada pelo

Conselho Seccional da OAB. Há dois outros parâmetros, que não são

únicos, a serem levados em conta pelo juiz:

I – A compatibilidade com o trabalho realizado, dentro ou fora do

processo judicial, incluindo: o tempo, a proficiência, a quantidade e

qualidade das peças produzidas, a média da remuneração praticada

pelos profissionais em caso semelhantes, a participação de mais de um

profissional, as despesas e deslocamentos realizados pelo advogado.

II – O valor econômico da questão, relativo ao qual se estipule uma

percentagem, segundo a média praticada no meio profissional. (LÔBO,

2009, P. 144)

Nesta visão, o provimento judicial não deverá afastar-se dos

parâmetros mínimos, devendo o magistrado considerar, o valor e o cuidado

despendido pelo profissional no exercício de sua função, sem deixar de levar em

conta a natureza alimentar dos honorários.

3.2.3 – HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

São aqueles que decorrem diretamente do sucesso obtido na demanda

pelo advogado, tendo suas regras estabelecidas no artigo 20 do Código de

Processo Civil, que assim dispõe:

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as

despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Essa verba

honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar

em causa própria.

Vale dizer, independentemente de qualquer perquirição a respeito de

eventual dolo ou culpa: quem perde paga. Como a lei diz “a sentença condenará”,

é dispensável pedido expresso neste sentido (COSTA MACHADO, 2007, p. 31)

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Gisela Gondin conceitua como sendo: São os que decorrem do êxito

que o trabalho do profissional da advocacia proporcionou ao cliente na demanda

judicial e são fixados nos termos do artigo 20, do Código de Processo Civil, no

mínimo de 10% (dez por cento) e máximo de 20% (vinte por cento), ou consoante

apreciação equitativa do juiz, nas causas de pequeno valor ou de valo inestimável

(§4º) (Ramos, Gisela Gondin, 2003, p. 427).

Percebe-se então, então, que, no momento em que o juiz prolata a

sentença, seja definitiva ou extintiva, se apreciou ou não o mérito, resta

configurada a sucumbência, declarando quem deve responder pelas despesas do

processo, estabelecendo um vencedor e um vencido, no todo ou em parte.

Assim dispondo o parágrafo único do artigo 21 do Código de Processo

Civil, nos casos de sucumbência recíproca, e mesmo de sucumbência parcial,

aplicando-se a proporcionalidade na repartição do ônus (sucumbência parcial),in

verbis:

Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão

recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os

honorários e as despesas.

O princípio da sucumbência deve manter um nexo de causalidade

entre o processo e a sua causa.

Vejamos o que diz Cahali:

A lei, no ápice de uma longa evolução histórica, acolhe e regra da

sucumbência, entendendo, com isso, que o direito deve ser reintegrado

inteiramente, como se a decisão fosse proferida no mesmo dia da

demanda. Se as despesas tivessem que ser pagas pelo vencedor, a

recomposição do direito reconhecido pela sentença seria, sem qualquer

justificação parcial. A idéia de culpa se substitui, assim, a idéia do risco;

quem litiga, o faz a seu risco, expondo-se, pelo só fato de sucumbir, ao

pagamento das despesas. Reconheça-se, porém, que a regra da

sucumbência não exaure a problemática pela responsabilidade pelos

encargos do processo; como; também, não desfruta de autonomia

bastante para ser considerada princípio informador absoluto do nosso

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sistema processual. Com efeito, aqui (tal qual como acontece com o

processo italiano, seu modelo mais próximo), é lícito afirmar que o

princípio legislativo da causalidade é latente. Assim, não deve o

intérprete ater-se a literal análise do art. 20, onde o princípio da

causalidade, sobre o qual se apóia a regra da responsabilidade do

sucumbente, é acolhido na lei nos limites da sucumbência; insere-se no

sistema, como fundamental, o princípio da causalidade, do qual a

sucumbência apresenta-se apenas como um elemento revelador, talvez

o seu mais expressivo indício. Na lição de Carnelutti, válida para nosso

Direito, a raiz da responsabilidade está na relação causal entre o dano e

a atividade de uma pessoa. Esta relação causal é denunciada segundo

alguns indícios, o primeiro dos quais é a sucumbência; não há, aqui,

nenhuma antítese entre o princípio da causalidade e a regra da

sucumbência como fundamento da responsabilidade pelas despesas do

processo: se o sucumbente as deve suportar, isto acontece porque a

sucumbência demonstra que o processo teve nele a sua causa. Mas o

princípio da causalidade é mais largo do que da sucumbência, no sentido

de que esta é apenas um dos indícios da causalidade” ( CAHALI,

YUSSEF SAID, 1997, p. 50 e 51).

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CAPÍTULO III

A POSSIBILIDADE DA CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS DE

SUCUMBÊNCIA NO PROCESSO DO TRABALHO

A Carta Magna ressaltou a importância e a imprescindibilidade do

advogado, dispondo em seu artigo 133: o advogado é indispensável à

administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no

exercício da profissão, nos limites da lei.

Com o advento da Constituição de 1988, em decorrência da redação

de seu artigo 133, acendeu-se forte discussão quanto a sobrevivência ou não do

jus postulandi no âmbito da justiça do trabalho, que consiste na capacidade

postulatória de empregados e empregadores ajuizarem pessoalmente suas

reclamações e acompanhá-las até o final, tal como disciplina o artigo 791 da

CLT.(FALCÃO, Ismael Marinho, 1999).

No sentir de Ruberval José Ribeiro, também destaca que:

(...) a Lei Maior recepcionou o artigo 68, da Lei 4.215/63, que por sua vez

havia banido do mundo jurídico o artigo 791 da CLT. Dessa forma, não

foi o constituinte de 1988 que fulminou o denominado jus postulandi, mas

o próprio legislador ordinário. Reforçando, ainda, o argumento de que

não se pode fazer regra geral o que é exceção. Toda vez que o

constituinte pretendeu afastar determinadas situações de suas normas

utilizou-se de expressões como “salvo”. Afirmando que ao inserir na Lex

Legum o artigo 133, o legislador não ressaltou que o advogado seria

indispensável apenas a determinada justiça, daí por que não se pode

afastá-la da Justiça do Trabalho, sob argumento da existência do direito

à parte de postular.(RUBERVAL, 1999)

Neste sentido, ressalta João Alves de Almeida Neto:

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(...) que o jus postulandi e a capacidade postulatória possuem noções

diferentes. A capacidade postulatória é atributo do sujeito, já o jus

postulandi é o exercício de direito que este atributo possibilita.

Afirmando, ainda que:

(...) os institutos trabalhistas que protegem de forma demasiada o

empregado, assim como o jus postulandi pessoal das partes, necessitam

ser revistos. Os mesmos, atualmente, não estão alcançando os seus

escopos, ou seja, beneficiar o hipossuficiente. Eles estão, de certa

forma, prejudicando os destinatários destas normas protetivas.

E, continua,

(...) outrora era necessário para igualar as partes em conflito, atualmente

é uma armadilha processual, pois o processo é uma unicidade complexa

de caráter técnico e de difícil domínio, daí porque seu trato é reservado,

via de regra, aos profissionais que tenham conhecimento e tenham

condições de praticar atos múltiplos que ocorrem durante seu

desenvolvimento. A redação de petições, a inquirição de testemunhas, a

elaboração de defesas, o despacho com o juiz, o modo de colocação dos

problemas, exigem pessoa habilitada, sem o que muitas seriam as

dificuldades a advir, perturbando o andamento do processo. (ALMEIDA

NETO, 2003)

É o que nos ensina Ruberval, quando esclarece:

(...) o processo do trabalho é complexo e apresenta dificuldades até

mesmo para os profissionais que militam na área trabalhista, sejam eles

juízes, procuradores do trabalho, advogados. Como a parte

desacompanhada de advogado ficaria diante de um tecnicismo

necessário? Como resolveria questão presente frente ao ônus da prova?

Estaria o juiz apto a conduzir-lhe pelo caminho do sucesso, sem

seqüelas materiais e processuais? Como ficaria diante dos prazos

processuais? Saberia a parte carrear para os autos o que efetivamente

necessita, o que viria, efetivamente, incutir o convencimento do juiz? (Ruberval,1999)

No tocante ao insucesso na postulação, assevera Falcão que:

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(...) na postulação, ou até mesmo em face de uma sentença defeituosa e

passível de reforma ou anulabilidade, a parte que atuou sem advogado,

provavelmente não terá como buscar a revisão do decisum, por lhe faltar

capacidade técnica para demonstrar os defeitos da sentença, urgindo,

assim, que se socorra de um advogado, através de quem irá buscar a

correta prestação jurisdicional junto à segunda instância. (FALCÃO,

1999)

Nesse sentir, observa João Alves de Almeida Neto:

(...) que como um leigo poderá redigir uma petição obedecendo os

requisitos do artigo 282 do CPC, como poderá contra-arrazoar um

recurso, obedecendo os prazos processuais rigorosamente impostos

pela lei e ainda enfrentar todo o ritual da instrução probatória sem estar

amparado por um profissional competente e atento a todas as

armadilhas processuais?, uma vez que qualquer pessoa que atue na

área jurídica sabe que um leigo sem advogado torna-se um personagem

sem voz no processo, visto que a construção da verdade processual

exige muito mais do que a posse da verdade real: exige habilidade para

prová-la e construí-la aos olhos do juiz, usando como únicas armas um

bem articulado discurso jurídico, uma retórica bem elaborada e a

competente compreensão das leis.( ALMEIDA NETO, 2003)

Neste contexto, conclui Manzi:

(...) não se justifica mais a manutenção de processos em que se permita

o exercício do jus postulandi pelas partes. O jus postulandi justificava-se

em um momento em que o número de advogados era insuficiente para

atender a demanda, constituindo-se um óbice para o acesso a justiça. O

direito evoluiu na mesma velocidade com que o acesso às informações

se ampliou. As doutrinas e jurisprudências são acessadas

instantaneamente e o aumento geométrico das relações intersubjetivas

tornou o direito complexo e técnico e o processo uma peça para

especialistas. (José Ernesto Manzi, 2004).

Teixeira Filho, também defende esse posicionamento quando diz que:

(...) seja qual for o ângulo que se aprecie a matéria, o jus

postulandi não sobrevive ao novo Estatuto da Advocacia.

Revogados pois, e agora inquestionavelmente, os artigos 791 e

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839 da Consolidação das Leis do Trabalho, em sua inteireza e

parcialmente o artigo 4º da Lei 5.584/70. Admitir a prática de

qualquer procedimento na Justiça do Trabalho sem patrocínio de

advogado equivale a retardar a entrega da prestação jurisdicional,

na medida em que se dá sequência a um processo acoimado de

nulidade absoluta pelo artigo 4º da Lei nº 8. 906/94. Asseverando

o fato de que cabe às esferas do Governo dar efetividade à

Defensoria Pública (Lei Complementar nº 80 de 12/01/94)

dotando-s de profissionais que viabilizem sua missão

constitucional, é outro sinal eloqüente que a Carta Magna emite

sobre a obrigatoriedade do advogado, bem como a obrigação de o

sindicato manter serviço jurídico para assistir a categoria, em juízo

ou fora dele, é supletiva a do Estado e residual, pelo menos

enquanto sobreviver a nefasta contribuição sindical compulsória. É

o que a Consolidação das Leis do Trabalho determina a aplicação

de parte destes vultosos recursos em assistência jurídica. (FILHO,

João de Lima Teixeira, Instituições do Direito do Trabalho, 17ª

edição, editora LTr , 1997, São Paulo, pág. 1358/1359) .

O magistrado, ao fixar os honorários de sucumbência fará com que a

empresa que está habituada a não quitar os rescisórios no ato da rescisão mude

esta conduta, proporcionando assim, o desaforamento nas Varas do Trabalho.

Neste sentido Molina sintetiza a questão:

o que estou a defender não é o fim do jus postulandi, este

declarado constitucional pelo E. STF, mas sim a sua aplicação

excepcional, somente nas lides genuinamente entre empregados

e empregadores e, mesmo nestas hipóteses, se os litigantes

quiserem valer-se do patrocínio profissional do advogado, poderão

fazê-lo com a condenação na verba honorária da parte

sucumbente. Se, por outro lado, empregado ou empregador litigar

sem patrocínio técnico, não haverá condenação honorária, salvo

se aqueles forem advogados e estiverem litigando em causa

própria ( artigo 20, caput, CPC).( MOLINA,2005)

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Destacando que, diante de todo o exposto, com fim do jus postulandi

haverá uma redução considerável das demandas temerárias tanto do empregado

quanto do empregador, pois se corre o risco de arcar com os honorários do

advogado da parte contrária.

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CAPÍTULO IV

O JUS POSTULANDI NOS TRIBUNAIS DO TRABALHO

Em várias oportunidades, está se encaminhando para a mudança de

posição em relação à aplicação das Súmulas 219 e 329 do TST, conforme

algumas das decisões de alguns Tribunais Regionais do Trabalho abaixo:

TRABALHISTA. PROCESSUAL. EQUIPARAÇÃO SALARIAL.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - Atendidos os requisitos do art.

461 da CLT, ou seja, idêntica função, trabalho de igual valor,

prestado ao mesmo empregador na mesma localidade, impõe-se

o reconhecimento do direito do obreiro à equiparação salarial.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DEFERIMENTO A

indispensabilidade da intervenção do advogado no processo

traduz princípio de índole constitucional. Inconcebível exercício de

ampla defesa, constitucionalmente assegurada, sem a presença

do causídico.Honorários advocatícios devidos em homenagem ao

princípio da sucumbência e em respeito à norma legal. (CF, art.

133; CPC, art. 20, § 3º; Lei nº 8.906/94, art. 23 e Lei nº

5.584/70).Recurso ordinário conhecido e improvido.(BRASIL.

Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região. Recurso Ordinário

nº 00455-2004-001-22-00-3 .Relator: Wellington Jim Boavista.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS (SEMPRE DEVIDOS,

HAVENDO SUCUMBÊNCIA) – Independentemente da condição

econômico-financeira do Reclamante empregado, os honorários

advocatícios, havendo sucumbência do empregador, sempre são

devidos, por imposição do art. 20, § 3º e alíneas, do CPC,

subsidiariamente aplicáveis ao processo trabalhista (R. O.

parcialmente provido).( BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da

7ª Região. Recurso Ordinário nº 510/2001. Relator: Francisco

Tarcísio Guedes Lima Verde.)

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HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – No processo do trabalho

são devidos apenas com base, atualmente, na Lei nº 1.060-

50, na medida em que a Lei nº 10.537-02 revogou o artigo

14 da Lei nº 5.584-70. Assim, quando o trabalhador ou quem

o representa, mesmo de forma sintética, declara sua

dificuldade econômica para demandar, e tal assertiva não é

desconstituída, conforme autoriza a Lei nº 7.510-86, que

alterou a de nº 1.060-50, são devidos honorários

advocatícios, na base de 15% sobre o montante da

condenação. (BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 9ª

Região. Recurso Ordinário nº 00404-2003-069-09-00-6.

Relator: Luiz Eduardo Gunther.)

Considerando-se que o reclamante deve ser reparado pelo

gasto que teve com a contratação de advogado para receber

seus direitos trabalhistas, inadimplidos pela reclamada, com

base nos arts. 389 e 404, do NCC, entendem cabíveis os

honorários advocatícios. TRT 15ª R - autos RO 1189-2005-

136-15-00-7, rel. Juiz Luiz Carlos de Araújo. (in Revista

Magister Trabalhista e Previdenciário, vol. 16, página 154,

ementa 54). (disponível

Outra decisão recente que vem ao encontro do defendido no

presente trabalho é a exposta nos autos 2429-2005-004-15-

00-8, em sede de RO a Douta Desembargadora Maria da

Graça Bonança, entendeu compatível os honorários

advocatícios dos artigos 389 e 404 do CC com a Lei

5584/70, no sentido de que são cabíveis honorários ao

patrono do reclamante no importe de 20% sobre a

condenação (in Revista Magister Trabalhista e

Previdenciário, vol. 19, ementa 53, p. 152).

Neste mesmo sentido foi a decisão do Douto magistrado nos

autos 0085-2006-101-15-00-2 entendendo que com o

advento do Código Civil de 2002, por meio do artigo 389,

estabeleceu-se que os honorários advocatícios não mais

decorrem somente da sucumbência, mas, agora, do

inadimplemento da obrigação. Pensar diferente seria violar

os princípios elementares do direito, vez que se concluiria

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que para as dívidas civis o devedor deve pagar honorários,

ao passo que para as verbas trabalhistas não, ainda que

seja inegável sua natureza alimentar. Deve o empregado ser

reparado pelo gasto que teve com a demanda decorrente do

inadimplemento do empregador (in Revista Magister

Trabalhista e Previdenciário, vol. 14, página 147).

Quanto à aplicabilidade da sucumbência no processo do trabalho,

como se vê a jurisprudência, mesmo que timidamente, já está começando a

caminhar no sentido do seu reconhecimento.

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CONCLUSÃO

Admitir o jus postulandi, na Justiça do Trabalho é o mesmo que não dar

ao jurisdicionado condições técnica de igualdade de litigar com a parte adversa

patrocinada por advogado. Seria como fechar os olhos para as mudanças das

realidades fáticas e jurídicas do Direito Material e Processual na Justiça Laboral.

Nada adianta possibilitar o jus postulandi sem fornecer a parte todos os meios

para a defesa de seus direitos em juízo.

Ocorre que o Direito do Trabalho está cada vez mais complexo. Não há

como se imaginar, nos dias atuais, um trabalhador defender-se pessoalmente.

Não tem como um leigo demandar em juízo junto aos órgãos do judiciário,

especialmente quando se fala, por exemplo, de uma tutela antecipada, de uma

execução provisória, dentre outros institutos jurídicos.

O tecnicismo das leis adquiriu especial importância no que diz respeito,

principalmente, ao cumprimento dos atos processuais, os quais devem ser

praticados segundo formas rigorosamente prescritas em lei.

Desta forma, o jus postulandi tornou-se inviável, diante das mudanças

ocorridas na Justiça Laboral.

O tema teve como objetivo não afastar o jus postulandi, mas garantir

ao advogado os honorários que lhes são devidos em razão do seu trabalho

desenvolvido na defesa dos interesses da parte e garantir o amplo acesso a

defesa de interesses através de um técnico habilitado.

A condenação em honorários advocatícios é a constatação de que a

atividade foi efetivamente prestada no processo pelo advogado, o que não tem a

ver com o dissenso sobre a sua obrigatoriedade ou não patrocínio da causa.

A legislação e a jurisprudência vêm dificultando a representação por

advogados limitando apenas o recebimento de honorários aos sindicatos.

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A presença do advogado é um ponto de equilíbrio entre as partes. A

própria Constituição ressalta a importância do advogado quando afirma ser este

essencial a justiça.

Salienta-se que a Consolidação das Leis do Trabalho não contém

dispositivo que vede os honorários de sucumbência, e o jus postulandi é uma

faculdade, sem deixar de mencionar que o parágrafo único do artigo 8º, deste

mesmo diploma, dispõe que o direito comum é fonte subsidiária da legislação

trabalhista naquilo em que não lhe é incompatível. Podendo-se, então, aplicar o

artigo 20 do Código de Processo Civil.

Como já se posicionou o STF, os honorários têm caráter alimentar

tornando-os inafastáveis das condenações.

Não há incompatibilidade da sucumbência na Justiça do Trabalho, pois

os honorários de sucumbência representam a restituição daquilo que é devido à

parte. Sem a sucumbência, a parte só receberá o que lhe é devido e terá que

custear os honorários do advogado que contratou, ou seja, o trabalhador vai

retirar de seu crédito alimentar uma parte para pagar os honorários de seu

advogado.

Deve-se buscar na Justiça do Trabalho resguardar a parte prejudicada,

condenando a parte que provocou o litígio injustamente ao pagamento dos

honorários de sucumbência, desta forma estaria se evitando ações temerárias.

Além do que a sucumbência faz com que desestimule o

inadimplemento, fazendo com que o empregador de preferência a quitação de

suas dívidas.

Nesse sentido é que a Ordem dos Advogados do Brasil apresentou

anteprojeto de lei para que se torne indispensável à presença do advogado e a

instituição dos honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho, o qual foi

levado ao Congresso Nacional visando a transformação da norma legal.

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A partir do momento que existe uma pessoa técnica, qual seja, o

advogado, capaz de aplicar todas as técnicas admitidas no processo, seria

plenamente possível o cabimento de honorários, sejam em que modalidade for.

Os honorários seriam devidos em razão do trabalho intelectual do

advogado. Não seria o fim do jus postulandi, mas sim a sua aplicação

excepcional. Quando a parte tem seus direitos defendidos por advogado deve sim

haver o cabimento de honorários, sejam eles contratuais, arbitrados ou

sucumbênciais, em consonância com os princípios constitucionais vigentes como

um verdadeiro acesso a justiça.

Por todo o exposto, a presente monografia tem o intuito de reforçar o

posicionamento de que na atualidade é cabível o instituto da sucumbência na

Justiça do Trabalho, sem afastar o jus postulandi, mas garantindo ao advogado o

que lhe é devido em razão do seu trabalho técnico e intelectual desenvolvido.

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ANEXOS

ÍNTEGRA DA MINUTA DO ANTEPROJETO DE LEI

Lei nº..............................de......................

Dá nova redação a disposição da CLT

Art. 1º- Os artigos 839 e 876 da Consolidação das Leis do Trabalho

passam a viger com a seguinte redação:

Art. 839- A reclamação será apresentada:

a) Por advogado legalmente habilitado, que poderá

também atuar em causa própria;

b) Pelo Ministério público do Trabalho;

Art. 876-........................

§ 1º Serão devidos honorários de sucumbência ao advogado

que patrocinou a demanda judicial, fixados entre 10% (dez por cento) a

20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, e ao arbítrio do

juiz, será estipulado o valor monetário indenizatório sob igual título, nas

causas de valor inestimável.

§ 2º Fica vedado a condenação recíproca proporcional da

sucumbência.

§ 3º Os honorários advocatícios serão devidos pelo vencido,

exceto se este for beneficiário da gratuidade de justiça.

§ 4º No caso de assistência processual por advogado de

entidade sindical, os honorários de sucumbência, pagos pelo vencido,

serão revertidos ao profissional que patrocinou e atuou na causa.

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§ 5º Serão executados ex-officio os créditos previdenciários

resultantes da condenação ou homologação de acordo.

§ 6º Ficam revogados o 791 da CLT e os arts. 16 e 18 da Lei

5.584 de 26 de junho de 1970 e demais dispositivos incompatíveis com

a presente Lei.

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data da publicação.

Justificação

Quando da instalação da Justiça do Trabalho em 1941, ainda sob a

esfera administrativa, deferiu-se às partes o direito de, pessoalmente, reclamar,

defender-se e acompanhar a causa até o seu fim. Essa prerrogativa justificava-se

por se tratar então de uma justiça administrativa, gratuita, regida por um processo

oral, concentrado, e a ela serem submetidos, quase exclusivamente, casos

triviais, tais como horas extras, anotação de carteira, salário, férias, indenização

por despedida injusta.

Ocorre que a Justiça do Trabalho, incorporada ao Judiciário em 1946,

sob o influxo da industrialização, do desenvolvimento econômico, social e cultural

do país, hipertrofiou-se, formalizou-se, solenizou-se, tornou-se técnica e

complexa.

Por não possuir Código de Direito material nem processual, a Justiça

trabalhista assimilou e passou aplicar, supletivamente, a legislação processual e

material civil, administrativa, tributária, comercial naquilo em que a CLT fosse

omissa. Adotou institutos como a ação rescisória, tutela antecipada, pré-

executividade, ação de atentado, consignatória, reconvenção, assédio sexual,

dano moral, intervenção de terceiro, litispendência, ação monitória,

desconsideração da pessoa jurídica, recurso adesivo, habeas corpus, entre outras

ações.

A própria CLT, ao longo de sua vigência, já sofreu cerca de mil

alterações, no caput de seus artigos, parágrafos, incisos, alíneas. Paralelamente

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a esse diploma formou-se uma legislação complementar extravagante, numerosa,

diversificada, mais extensa que a própria CLT. Tornou-se difícil aos próprios

advogados acompanhar as incessantes mudanças, acrescidas de súmulas,

orientações jurisprudenciais, e precedentes normativos editados pelo TST.

Compõe hoje o Judiciário trabalhista de mais de 1.000 Varas e por ele tramitam

anualmente dois milhões de processos. A Justiça do Trabalho, em síntese, não

apenas assimilou os procedimentos do direito processual civil, como também os

vícios da Justiça comum.

Mesmo depois da Constituição/88 (art.133), do CPC/73 (art. 20), do

Código Civil/02 e Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/94), continuam a vigir o art.

791 da CLT e a Súmula 219 do Tribunal Superior do Trabalho, com base nos

quais se consideram indevidos honorários de sucumbência no judiciário

trabalhista.

Esse entendimento cristalizou-se sem que haja na CLT qualquer

vedação expressa à concessão de honorários sucumbenciais. Essa verba veio a

ser reconhecida- de maneira restritiva e desvirtuada- pela Lei 5.584/70, a todo

aquele que, assistido pelo sindicato, perceber salário inferior ao dobro do mínimo

legal, revertidos os honorários advocatícios, porém, em favor do Sindicato. Vale

dizer: as entidades sindicais fazem assistência jurídica, que é uma de suas

finalidades estatutárias, uma fonte de lucro.

A persistência dos Tribunais Superiores na manutenção do jus

postulandi, pode não ter viés ou inspiração patronal, mas que favorece o

empresário, incentiva a litigiosidade em detrimento do trabalhador e retarda a

tramitação processual, disto resta a menor dúvida. E isso na contramão da

moderna tendência de todo o direito, que é de assegurar amplo acesso a Justiça

e lhe emprestar celeridade, efetividade e a mais completa garantia de defesa aos

jurisdicionados. Tal entendimento reforça a inefetividade dos direitos

constitucionais assegurados formalmente aos trabalhadores. É que estes, pelo

real temor de serem despedidos, só recorrem a Justiça do trabalho para reclamar

a reparação dos direitos sonegados depois de extintos seus contratos de trabalho,

quando não raro alguns já se encontram prescritos.

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A negação da verba honorária tem efeito impactante na Justiça do

Trabalho, em cujas pendências uma das partes -o trabalhador- é hipossuficiente e

os litígios, por envolverem verbas de natureza salarial, relacionam-se com sua

sobrevivência e de sua família, embora os litígios tenham por objeto interesses de

direito patrimoniais, tais honorários são devidos.

Há quem pense e diga, por isso, que a Justiça do Trabalho é uma

Justiça de segunda categoria, por não admitir a obrigatoriedade do advogado nem

honorários sucumbenciais.

Hipertrofia e formalização da Justiça do Trabalho

Diante da pletora de inovações acima exposta, a desafiarem até

profissionais experientes, sustentar que o trabalhador possui capacidade técnica

para postular e se defender pessoalmente, beira a falta de bom senso, a

irracionalidade, o absurdo. Nesse contexto, o jus postulandi tornou-se, já de

algum tempo, inviável, desfavorável ao trabalhador, ao qual, particularmente,

visava a favorecer. O jus postulandi constituiu um instituto adequado, justo, útil e

necessário para a época, mas já cumpriu, e talvez bem, seu papel histórico, não

mais se justificando sua manutenção.

Depois que a CF/88 estabeleceu ser "o Advogado indispensável à

administração da Justiça", sem excluir dessa regra a Justiça do Trabalho, não há

mais como admitir possa a parte postular e defender-se pessoalmente. Se a

Carta Magna não excetuou a Justiça do Trabalho da regra geral que estatuiu ser

o advogado imprescindível à atuação da Justiça, não é mais possível restringir

nem, muito menos, criar exceção a esse princípio. Não se pode ler "o advogado é

indispensável à administração da Justiça, exceto na Justiça do Trabalho", onde

está escrito na Constituição, simplesmente, genericamente: "O advogado é

indispensável à administração da Justiça.

Incompatibilidade do art. 791/CLT com o art. 133/CF

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O que é inadmissível é, em sã consciência, negar a evidência de

contradição entre os artigos 791 da CLT, que considera facultativa, opcional, a

assistência de advogado, e o art. 133 da CF, que prescreve ser o "Advogado

indispensável à administração da Justiça". O preceito da Lei Maior, como se vê,

não excetuou dessa regra geral, abrangente, obrigatória a Justiça do Trabalho.

Sem essa expressa exclusão, não pode a CLT dispor em contrário, ou seja, que

nesse ramo especializado do Judiciário a intervenção do advogado é prescindível.

A emenda constitucional 45 e a Instrução Normativa 27 do TST

Igualmente importante destacar nesta justificativa, que, com o advento

da Emenda Constitucional 45 de 8 de dezembro de 2004, foi ampliada a

competência da Justiça do Trabalho, e com isto nas relações de trabalho, como

por exemplo, em ações indenizatórias ou monitórias, aplica-se a regra dos

honorários advocatícios de sucumbência do processo civil, tendo inclusive o

Tribunal Superior do Trabalho regulamentado tal previsão, através da Instrução

Normativa 27, de 16 de fevereiro de 2005, o que consolida ainda mais a

discriminação para com os advogados trabalhistas que patrocinam demandas

oriundas das relações de emprego, ou seja, numa mesma esfera do Judiciário se

aplicam duas regras para o advogado da parte processual vencedora da

demanda, quando da prolação da sentença.

A negativa de honorários e o Código Civil

Ademais, obrigado a desembolsar dinheiro para honorários de seu

advogado particular, retirado do montante reconhecido por sentença judicial, a

reparação obtida pelo trabalhador, conquanto considerada de natureza alimentar,

é parcial, incompleta. Esse desfalque dos direitos do pleiteante contraria o art.

389 do atual Código Civil (de aplicação subsidiária à Justiça do Trabalho), o qual

dispõe que, não sendo cumprida a obrigação, o devedor responde "por perdas e

danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente

estabelecidos, e honorários de advogado". Por sua vez, o art. 404 do mesmo

Código estabelece que as perdas e danos nas obrigações de pagamento em

dinheiro compreendem "juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da

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pena convencional". Se, para obter a recomposição do prejuízo sofrido o

reclamante teve de contratar profissional, é irrecusável o direito de ser

integralmente ressarcido por quem o levou a essa contratação.

Sabendo-se desonerado de honorários de sucumbência, o empregador

pouco escrupuloso sente-se estimulado a sonegar direitos trabalhistas, a litigar,

protelar o processo, com o que aumenta a quantidade de reclamações, tornando,

mais congestionado e mais lento o Judiciário trabalhista. Com o assim proceder,

contraria a garantia constitucional da "duração razoável do processo", o que

também implica dificultar o acesso à Justiça. Pois a morosidade, não apenas

traz prejuízo ao Judiciário e ao trabalhador, mas, muitas vezes, induz este a

desistir de ingressar na Justiça, quando não a firmar acordo lesivo a seus

interesses.

Reconhecer honorários sucumbenciais ao trabalhador quando pleiteia

e vence na Justiça comum, e não fazê-lo na Justiça do Trabalho, na qual o objeto

do pedido é de natureza alimentar, além de gritante incongruência e injustiça,

contravém o princípio constitucional da isonomia. O direito do trabalhador, na

Justiça do Trabalho, contratar advogado de sua confiança é direito fundamental

de acesso à Justiça, como assegurado no inciso XXXV do art. 5º da CF.

Inexiste vedação legal à concessão de honorários

A recusa à concessão da verba honorária neutraliza o princípio basilar

de toda a legislação do trabalho, a qual, para contrabalançar a superioridade

econômica do empregador, outorga superioridade jurídica ao assalariado. Com o

transferir tal ônus a este , retira-se o caráter tutelar e protecionista do trabalhador

que informa o Direito do Trabalho.

O mestre Victor Russomano, ao defender a revogação do art. 791 da

CLT, assim conclui: "Não há porque fugirmos, no processo trabalhista, às linhas

mestras de nossa formação jurídica. Devemos tornar obrigatória a presença do

procurador legalmente constituído, em todas as ações de competência da Justiça

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do Trabalho, quer para o empregado, quer para o empregador". "Comentários à

CLT, Vol. IV, 5ª d., pág. 1350, Ed. José Konfino.

Comungando com esse entendimento, escreve José Afonso da Silva:,

a propósito do art. 133 da CF: " o princípio da essencialidade do advogado na

administração da Justiça é agora mais rígido, parecendo, pois, não mais se

admitir postulação judicial por leigos, mesmo em causa própria, salvo falta de

advogado que o faça". ("Curso de Direito Constitucional Positivo, Malheiros

Editores, 9ª ed., pág. 510.

Também não comporta dúvida, no caso da adoção integral dos

honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho, ser perfeitamente aplicável a

regra já existente da gratuidade de justiça no processo trabalhista, acaso vencido

o trabalhador sem recursos econômicos.

Alguns juízes e Tribunais Regionais, ultimamente, vêm reconhecendo a

indispensabilidade do advogado e honorários na Justiça do Trabalho. É pois

chegado o momento de eliminar a anacrônica, figura do jus postulandi, hoje

prejudicial ao trabalhador quando por ele exercitado, pois também fere

frontalmente o devido processo legal, outro consagrado princípio constitucional da

Carta Política da República.

Entre as iniciativas nesse sentido, inclui-se a da OAB/RJ, que criou

uma Comissão Especial de Estudos sobre Honorários de Sucumbência na Justiça

do Trabalho, presidida pelo Conselheiro Nicola Manna Piraino e integrada, entre

outros ilustres advogados trabalhistas de várias gerações do Estado do Rio de

Janeiro, pelo Ministro Arnaldo Sussekind e pelo advogado Benedito Calheiros

Bomfim, que muito trabalharam sobre relevante matéria jurídica, destacando,

ainda, a enorme participação da classe advocatícia, com o oferecimento de várias

sugestões de advogados militantes não só do Rio de Janeiro, mas também de

outros Estados, além do excelente resultado colhido sobre o tema num grande

seminário realizado no ano de 2008 na Seccional da Ordem, e que contou com a

presença de vários juristas brasileiros, além de magistrados, resultando na

aprovação do presente anteprojeto instituindo a indispensabilidade do advogado

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e honorários de sucumbência na Justiça do Trabalho, e que será levado ao

Congresso Nacional visando a sua transformação em norma legal.

Assinam a presente:

1) Arnaldo Lopes Sussekind

2) Benedito Calheiros Bomfim

3) Nicola Manna Piraino

4) Wadih Nemer Damous Filho

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ÍNDICE

RESUMO.................................................................................................................3

METODOLOGIA......................................................................................................4

SUMÁRIO................................................................................................................5

INTRODUÇÃO.........................................................................................................7

CAPÍTULO I

O JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO E A ESSENCIABILIDADE

DO ADVOGADO....................................................................................................10

CAPÍTULO II

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS..........................................................................16

2.1 – HISTÓRIA DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS......................................16

2.2 – CONCEITO...................................................................................................16

2.3 – ESPÉCIES DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS........................................16

2.3.1 – CONVENCIONADOS OU CONTRATADOS.............................................17

2.3.2 – FIXADOS OU ARBITRADOS....................................................................18

2.3.3 – DE SUCUMBÊNCIA..................................................................................19

CAPÍTULO III

A POSSIBILIDADE DA CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

NO PROCESSO DO TRABALHO ..................................................................... 22

CAPÍTULO IV

O JUS POSTULANDI NOS TRIBUNAIS DO TRABALHO...................................27

CONCLUSÃO...................................................................................................... 30

BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 33

ANEXOS.............................................................................................................. 37