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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA <> <> <> <> <> A LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIA DOS LIVROS, JORNAIS E PERIÓDICOS VEICULADOS POR PUBLICAÇÃO ELETRÔNICA. <> <> <> Por: Francisco Levy da Fontoura Louzada <> <> <> Orientador Prof. Anselmo de Souza Ferreira Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

<>

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A LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIA DOS LIVROS,

JORNAIS E PERIÓDICOS VEICULADOS POR PUBLICAÇÃO

ELETRÔNICA.

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Por: Francisco Levy da Fontoura Louzada

<>

<>

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Orientador

Prof. Anselmo de Souza Ferreira

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

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A LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIA DOS LIVROS,

JORNAIS E PERIÓDICOS VEICULADOS POR PUBLICAÇÃO

ELETRÔNICA.

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Apresentação da monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito Público e Tributário.

Por: Francisco Levy da Fontoura Louzada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, aos meus pais e a minha irmã

Eloá, sem eles o “sonho” não teria

tamanha dimensão.

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RESUMO

O presente trabalho monográfico visa analisar a possibilidade da

extensão da imunidade tributária contida no artigo 150, VI, alínea “d”, da

CRFB/88 aos livros eletrônicos.

Tal tema objetiva demonstrar que os meios de informação e difusão da

cultura se mostram em constante evolução, diante do grande avanço

tecnológico. Sendo assim, a hermenêutica constitucional, deve, igualmente,

acompanhar tal progresso.

O assunto na atualidade é deveras palpitante, tendo em vista que um

povo só evolui, caso lhe seja permitido o acesso à cultura, à educação e à

informação.

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5

METODOLOGIA

Ressalta-se a título de esclarecimento metodológico, que o método de

pesquisa a ser utilizado para o desenvolvimento da presente monografia, será

o bibliográfico, por meio de pesquisa na legislação nacional, livros doutrinários

e artigos científicos. Será, ainda, utilizada a pesquisa documental, por

intermédio de análise de arquivos públicos, dos quais podem ser mencionados

as decisões judiciais e os pareceres.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Evolução e tendências do livro 11

1.1 - A gênese do livro 12

1.2 – O livro eletrônico 15

CAPÍTULO II

A limitação constitucional tributária do livro 16

2.1 - A imunidade cultural 16

2.2 - A imunidade cultural na CRFB/88 22

CAPÍTULO III

A limitação constitucional tributária do livro eletrônico 26

3.1 - Interpretações quanto à imunidade cultural 26

3.2 - A imunidade cultural vista pela exegese extensiva 30

3.3 - Panorama do posicionamento dos Tribunais Regionais Federais 32

3.4 - A posição do Supremo Tribunal Federal 35

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ANEXO 43

ÍNDICE 48

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Abreviações Utilizadas

CD-ROM – Compact Disk

CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil

CTN – Código Tributário Nacional

DVD – Digital Video Disc

EC – Emenda Constitucional

ICMS – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços

ISS – Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza

IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

RE – Recurso Extraordinário

REsp – Recurso Especial

RMS – Recurso em Mandado de Segurança

TRF2 – Tribunal Regional Federal da 2ª Região

TRF3 – Tribunal Regional Federal da 3ª Região

TRF4 – Tribunal Regional Federal da 4ª Região

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INTRODUÇÃO

Hodiernamente, não se olvida que a evolução tecnológica e a

globalização têm influenciado sensivelmente a convivência humana. O ser

humano e a máquina encontram-se, intrinsecamente vinculados, de maneira

que os meios eletrônicos já ocupam de sobremaneira a nossa vida, sobretudo

no que concerne ao exercício de atividades profissionais, educacionais, bem

como de lazer.

Cabe ressaltar, por oportuno, que, diante da atual evolução digital, com

o surgimento de dispositivos eletrônicos de armazenamento de dados capazes

de conter e reproduzir arquivos de texto, imagem e vídeo, tais produtos têm

substituído gradativamente a forma tradicional de publicação de obras,

consistentes na impressão em papel. É nesse contexto que se insere o tema

da extensão da imunidade tributária de que trata o art. 150, VI, alínea “d”, da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, aos novos meios

eletrônicos de publicação de livros, jornais e periódicos.

Nesse ponto nodal, é que se pretende desenvolver a monografia de

final de curso, visando, pois, a analisar a aplicabilidade da imunidade dos

livros, jornais, periódicos e do papel destinado à sua impressão, aos livros

eletrônicos1.

Assim, buscou-se analisar, em primeiro lugar, a gênese histórica e a

evolução tecnológica no tocante ao conceito de livro.

Em seguida, buscou-se e compreender o conceito de imunidade

tributária existente no artigo 150, VI, da CRFB/88, abordando-se, ainda que de

modo sucinto, as diversas normas imunizantes que constam no referido

artigo, até a alínea “d”, tema do presente trabalho.

Ato contínuo, fez-se uma correlação entre a imunidade existente e a

eventual extensão aos livros eletrônicos, realizando-se interpretações jurídicas

sobre conceito de livro, imunidade e livro eletrônico.

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Posteriormente, realizou-se também uma pesquisa jurisprudencial

perante os Tribunais Regionais Federais e o Supremo Tribunal Federal, sobre

o tema.

Por fim, trouxe-se em anexo para enriquecer o debate o Projeto de Lei

nº 114/2010 de autoria do Senador Acir Gurgacz (PDT), o qual tramita no

Senado Federal, que faz constar expressamente uma nova conceituação de

livro, visando atender a realidade e o anseio do Constituinte.

1 As expressões livros eletrônicos, livros digitais e e-books, serão utilizadas, ao longo do trabalho, no sentido de livros, jornais e periódicos eletrônicos.

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CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO E TENDÊNCIAS DO LIVRO

1.1 - A gênese do livro.

A gênese do livro pode ter aproximadamente seis mil anos, tendo

nossos longínquos ancestrais utilizados os mais diversos materiais para

registrar a sua passagem pela Terra, como forma de explanar seus

conhecimentos e experiências, de modo que o conceito de livro não é e nunca

foi algo imutável, conforme será demonstrado, estando em verdadeiro

processo de evolução.

Antônio Houaiss conceitua livro como:

“Uma reunião de folhas em branco, manuscritas ou impressas, sobretudo, hoje em dia, de folhas impressas tipograficamente, elaborado e conservado com a finalidade de transmitir às gerações vivas, vivendas e vivituras o conhecimento passado e coetâneo já adquirido, para inserir-se na práxis social, como elemento de ação humana, factual, factiva e cognitiva”.2

Úrsula E. Katzentein, com grande precisão, leciona:

“Os livros transmitem informações por meio de escrita ou ilustração, ou ambos, e consistem de vários elementos, em geral reunidos. Tais elementos podem ser papiro, pergaminho, materiais têxteis, folhas de palmeira, madeira ou papel, costurados, colados, perfurados e unidos por paus, tiras de couro ou linha. A mais antiga e, por algum tempo, a única forma dos livros foi a tábua, seguida logo pelos rolos, não obstante o conceito, atualmente popular, de que um livro é um códice de folhas de papel”3

O nobre Laudelino Freire, por seu turno, na obra Grande e Novíssimo

Dicionário da Língua Portuguesa4, define livro como sendo “reunião de

cadernos manuscritos ou impressos, cosidos entre si e brochados ou

encadernados.”

2 HOUAISS, Antônio Elementos de Bibliologia . 1ª ed.. São Paulo: Hucitec, 1983. p. 27. 3 KATZENSTEIN, Úrsula E.A origem do Livro. 1ª ed.. São Paulo: Hucitec, 1986. p. 114.

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Segundo Arlindo Machado, o livro como o conhecemos vem do modelo

do códice cristão.

“O códice foi um formato característico de manuscrito em que o pergaminho era retalhado em folhas soltas, reunidas por sua vez em cadernos costurados ou colados em um dos lados e muito comumente encapados com algum material mais duro”.

Esse formato foi eleito no século IV, pelos cristãos, como padronização

das escrituras sagradas.

O supracitado autor bem define o livro como:

“todo e qualquer dispositivo através do qual uma civilização grava, fixa, memoriza para si e para a posteridade o conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas, de seus sistemas de crenças e os vôos de sua imaginação”.5

Já Lucien Febvre, aduz que o livro é o instrumento que uma civilização

utiliza para reunir o pensamento dos seus componentes e para divulgá-lo na

sociedade.6

Diante de tais lições, pode-se dizer que as cavernas, através das

pinturas em seus interiores rochosos, foram os primeiros livros da história da

humanidade. Posteriormente, a escrita ideográfica foi substituída pela escrita

fonética, com a criação e uniformização das letras em seus respectivos

alfabetos, onde símbolos representam fonemas.

Aponta-se os chineses como a civilização que iniciou a fabricação de

livros, feitos através de objetos naturais tais como pedras, casca de árvores,

folhas, peles e ossos de animais, e até em cascos de tartaruga. Mas cada um

desses objetos naturais tinha algumas desvantagens que dificultavam a função

de registrar a linguagem escrita.

Os indianos cultivavam técnica da produção de livros, sendo feitos

através de folhas de palmeira, que foi utilizada até o final do século XIX.

Os romanos usavam placas de madeira e de marfim, revestidas como uma

4 FREIRE, Laudelino. Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa. 3ª ed.. vol. IV. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio. p. 3.214. 5 MACHADO, Arlindo. O fim do Livro? Estudos Avançados. Vol.8 no. 21 São Paulo, Mai/Ago, 1994. 6 MARTIN, Henry Jean & FEBVRE, Lucien. O aparecimento do livro. São Paulo, Hucitec/Ed.Unesp, 1992.

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camada de cera, onde eram feitas as inscrições. Os egípcios usavam placas

de argila cozida.

Assim, até a criação pelo povo egípcio do papiro a mais de 2.500 anos

a.C, ocorreram inúmeras invenções pelo homem, na tentativa de eternizar e

transmitir sua cultura. Salienta-se que o papiro, certamente foi um dos suportes

mais importantes para o papel de hoje em dia.7

Após a criação do papiro, surgiu a confecção do pergaminho, entre os

séculos V e II a.C. Ele era retirado da camada intermediária da pele do

carneiro ou de outros animais.8 Nesse momento da história, o livro passou a

gozar do status de uma obra de arte, devido ao seu caráter artesanal,

manuscrito folha a folha em material orgânico e dispensando-se qualquer

tratamento químico.

No século X na China, ocorreu a criação do papel, confeccionado a

partir de fibras vegetais. A fabricação era realizada manualmente, por monges

e em latim, o que contribuiu para manter o livro com o status de artigo de

luxo, pouco acessível para o restante da população. Mas a invenção mais

importante se deu por Pi Sheng, que foi a impressão, no século XIV. Consistia

originalmente da gravação em blocos de madeira do conteúdo de cada página

do livro; os blocos eram mergulhados em tinta, e o conteúdo transferido para o

papel, produzindo várias cópias.9

Em 1455, Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, foi o

inventor que introduziu a forma moderna de impressão de livros - a prensa

móvel- o qual possibilitou a divulgação e cópia muito mais rápida de livros e

jornais.10

Desse modo, essa singela síntese histórica teve como intento,

demonstrar como ao longo dos séculos o material utilizado para a confecção

dos livros foi se aperfeiçoando, de modo que sofreu as devidas adaptações

para suprir as nossas necessidades.

7 http://pt.wikipedia.org/wiki/Papiro. Acessado em: 17 dez. 2011. 8 http://pt.wikipedia.org/wiki/Pergaminho. Acessado em: 17 dez. 2011. 9 http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro Acessado em: 17 dez. 2011. 10 http://pt.wikipedia.org/wiki/Johannes_Gutenberg Acessado em: 17 dez. 2011.

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Tais fatos históricos comprovam que o conceito de livro não deixou de

ser o que é por conta de mudanças nos materiais que o compõe, sendo estes

elementos meramente casuais, suscetíveis de variação de acordo com o

tempo e espaço na humanidade.

1.2 - O livro eletrônico.

É recente a incidência da informática na escrita, recaindo em constante

processo de evolução e aprimoramento. O sistema pioneiro de hipertexto foi o

“Augmentation System”, criado em 1960, tendo sido disponibilizado para o

público em 1980.

Por meio do mencionado sistema, tornou-se possível a invenção dos

“livros eletrônicos”, inicialmente com suporte apenas em disquetes e

posteriormente CD-ROMs.

O professor Tercio Sampaio Ferraz Júnior, didaticamente conceituou o

CD-ROM:

”O CD-ROM é um desses “magnetic media” – Compact Disk - Read Only Memory. Trata-se de um pequeno disco plástico onde o dado é armazenado na forma binária com orifícios na superfície e lidos através de “laser”, com um dispositivo de memória exclusiva de leitura (ROM), com capacidade de armazenamento suficientes para abrigar enciclopédias. 11

No mesmo espaço temporal, outra grande evolução foi vista com o

surgimento da Internet, uma rede de computadores conectados

mundialmente (network), desenvolvida em 1969 através de um programa

militar denominado “ARPANET”, o qual tinha como intuito permitir que

computadores manuseados por militares pudessem trocar informações entre

si.

Tendo em vista os avanços, depara-se com a alteração da

substancialidade com que o livro está sendo produzido, oriundo de uma

verdadeira revolução tecnológica no campo da informática. Transformando o

11 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. “Livro Eletrônico e Imunidade Tributária”. Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas . São Paulo: RT, nº 22, 1988. p.36.)

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suporte em mídias eletrônicas, criando-se o que usualmente chamamos de e-

book.

Assim, os livros eletrônicos, são arquivos lidos através de softwares12,

ou seja, programas voltados para computador, os quais possibilitam que um

arquivo digital com características próprias de um livro veiculado por meio de

um CD- ROM, disquete, DVD, seja lido em um computador.

Para ilustrar, convém trazermos o conceito de software, segundo sua

lei de regência13:

“Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.”

Os livros eletrônicos podem também ser comprados pela internet,

utilizando-se o download14, dito de outro modo, o livro pode ser retirado de um

banco de dados de algum site da rede mundial de computadores e

transportado para o computador daquele que executou a operação.

Cabe enaltecer que disquetes, CD-ROMs, DVDs, possibilitam a mesma

visualização de uma obra exposta em papel. Inexiste distinção quanto ao

conteúdo. A única diferença diz respeito à base física em que o conteúdo

intelectual é disponibilizado. O conteúdo eletrônico é desenvolvido em

software, que são lidos em computadores, enquanto que os livros tradicionais

são confeccionados em papel.

12 Segundo a Free Software Foudation (Organização sem fins lucrativos criada em 1985 que se dedica à eliminação de restrições sobre a cópia, redistribuição e modificação de programa de computadores), software é qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado e redistribuído sem restrições. http://pt.wikipedia.org/wiki/Free_Software_Foundation. Acessado em: 20 dez. 2011. 13 Artigo 1º, § único, Lei nº 7.646/87. 14 Marcelo Marins Motta Filho define de forma interessante o conceito de download: “A palavra de origem inglesa “download” quer dizer transportar programas (softwares) ou informações para um sistema de computador de um telefone ou de uma televisão. Todavia, na linguagem dos internautas, “download” significa baixar um “software” da internet para o computador. Vale dizer, pode-se copiar um “software” disponível na Internet diretamente para seu computador. Podendo ficar alocado no disco rígido, ou num disquete ou num CD-ROM”. MOTTA FILHO, Marcello Martins. “Imunidade Tributária de Publicações por Meios Eletrônicos”. Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, nº 22, São Paulo, 1998, p. 78/93.

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Ademais, as publicações literárias podem igualmente ser

confeccionadas em fitas magnéticas (cassetes ou audiovisuais), como forma

de assegurar a acessibilidade para um público portador de deficiência visual,

sendo a referida forma mais rápida, prática e econômica que a leitura em

braile, bem como servindo de grande valia para os não alfabetizados.

Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho, também distingue os livros

convencionais e os livros eletrônicos:

“Os livros eletrônicos diferem bastante do livro impresso em papel, pois podem conter não só a linguagem escrita, mas, também, a voz do próprio autor e a sua imagem, inclusive em movimento, bem como sons e imagens do objeto comentado e, quanto à utilização, permitem, por exemplo, a cópia e a colagem automáticas de trechos para um documento que está sendo elaborado”.15

Eurico Marcos Diniz de Santi também faz uma distinção entre os

livros eletrônicos e os livros de papel, quanto a forma mediata e imediata de

aprendizado:

“Com efeito, não obstante ambos enquadrarem-se como suportes comunicacionais, deve-se entrever que a forma de difusão da informação nos livros e nos CD-ROMs é totalmente distinta. O livro é suporte imediato da comunicação. O CD-ROM é suporte mediato. Ninguém, por mais expert que seja nos mistérios da informática, consegue ler, diretamente, um CD-ROM. Necessita de uma máquina, um computador, um interpretante mediato que possa decodificar as correntes e elos de bits gravados em código binário na superfície do suporte físico”.16

15 FILHO, Oswaldo Othon de Pontes Saraiva. Imunidade Tributária do Livro Eletrônico . São Paulo: IOB, 1998 . p. 170 . 16 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Imunidade Tributária Como Limite Objetivo e as Diferenças entre Livro e Livro Eletrônico . In: Hugo de Brito Machado . (Org.). Imunidade Tributária do Livro Eletrônico. São Paulo: Informação Objetiva, 1997, v. Único, pp. 54.

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CAPÍTULO II

A LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIA DO

LIVRO

2.1 - A imunidade cultural.

No Brasil, a competência quanto ao poder de tributar é partilhado entre

a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, diante da delimitação

contida na CRFB/88.

A lei tributária fundamental é a Constituição, pois é lá que constam as

diretrizes básicas incidentes sobre as espécies tributárias. Apenas as pessoas

jurídicas de Direito Público, detentoras de poder legislativo, merecem a outorga

da competência tributária, visto que esta somente se expressa por meio de lei.

Portanto, in abstrato, a competência tributária surge da possibilidade

de se criar tributos, descrevendo-os legislativamente, com as respectivas

hipóteses de incidência, sujeição ativa, passiva, bases de cálculo e alíquotas.17

Por outro giro, a competência tributária diz respeito à capacidade que a

Lei Maior confere a certas pessoas jurídicas de direito público, para que,

através de lei, tributem. Observa-se, que aquele que pode tributar (criar a

espécie tributária unilateralmente a partir dos parâmetros constitucionais),

pode, outrossim, majorar a carga tributária (aumentando a alíquota ou a base

de cálculo do tributo, ou ambas), diminuí-la (adotando o mesmo procedimento

a contrario sensu) ou, até suprimi-la, por meio da não-tributação simplesmente

ou do emprego de isenções. Pode, ainda, perdoar débitos tributários já

17 Da mesma forma leciona Sainz de Bujanda: “O poder tributário (competência tributária) refere-se aos entes públicos que estão facultados a estabelecer tributos, vale dizer, a editar normas tributárias.” BUJANDA, de Sainz, Poder financeiro , in Notas de Derecho Financeiro, t. I, vol. 2º, Universidade de Madri, Seção de Publicações e Intercâmbio, 1967, p. 5. Em seu turno, Paulo de Barros Carvalho acrescenta que ”Competência legislativa é a aptidão de que são dotadas as pessoas políticas para expedir regras jurídicas, inovando o ordenamento positivo. (...) A competência tributária, em síntese, é uma das parcelas entre as prerrogativas legiferantes de que são portadoras as pessoas políticas, consubstanciada na faculdade de legislar para a produção de normas jurídicas sobre

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17

nascidos ou parcelá-los, anistiando, se entender que é seria o caso, as

eventuais infrações tributárias perpetradas.

O conceito de capacidade tributária não se mistura com o de

competência. Esta é delimitada pela Carta Fundamental a um ente federado

dotado de poder legislativo. Exercita-se mediante a edição de lei. Já a

capacidade tributária é atribuída pela Constituição ou por uma lei, para um

ente federado, ainda que esse não detenha necessariamente poder legislativo.

A competência tributária abarca a competência legislativa, e por isso é

indelegável. Porém a capacidade tributária é delegável, podendo ser

transferida de um ente federado para outro, como por exemplo, no que diz

respeito às funções de arrecadar ou fiscalizar tributos ou de executar leis,

serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conforme

a disposição do artigo 7º do CTN18.

A competência tributária tem suas balizas estipuladas pela CRFB/88, a

qual, inclusive, apontou direta ou indiretamente, as regras mananciais dos

tributos em seus artigos 153 a 156.

Dispõe o artigo 153 que compete à União a instituição de impostos

sobre: i) importação de produtos estrangeiros; ii) exportação, para o

exterior, de produtos nacionais e nacionalizados; iii) rendas e proventos de

qualquer natureza; iv) produtos industrializados; v) operações de crédito,

câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; e vi)

propriedade territorial rural.

Já o artigo 155 dispõe que compete aos Estados e ao Distrito

Federal a instituição de impostos sobre: i) transmissão causa mortis e doação,

de quaisquer bens ou direitos; ii) operações relativas à circulação de

mercadorias e sobre a prestação de serviços de transporte interestadual e

intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se

iniciem no exterior; e iii) propriedade de veículos automotores.

tributos” CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário . São Paulo : Saraiva, 1985. p. 116-117. 18 “Art. 7º. A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos termos do § 3º do art. 18 da Constituição.”

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18

Por fim, o artigo 156 diz que compete aos Municípios instituir

impostos sobre: i) propriedade predial e territorial urbana; ii) transmissão

inter vivos , a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza

ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de

garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; e iii) serviços de

qualquer natureza, não tributados pelo ICMS, e definidos em lei complementar.

Salienta-se que a competência tributária para criar tributos e

arrecadá-los conferida pela CRFB/88 aos entes de direito público, também

sofre limitação por normas negativas, denominadas imunidades tributárias19.

Assim, pode-se afirmar que a competência tributária diz respeito a

uma autorização para a criação de tributos (prisma positivo), bem como em

um limite para a criação destes tributos (prisma negativo).

Fato é a Constituição não autoriza que determinadas pessoas

(imunidade subjetiva) ou coisas (imunidade objetiva) venham a sofrer

tributação, outorgando a estas, direito público subjetivo de não tributação.

A CRFB/88 descreve todos os casos de imunização, podendo tão

somente as normas infraconstitucionais aclarar e regulamentar aquilo que já

está descrito nas normas Constitucionais.

Tais normas constitucionais gozam de eficácia plena e aplicação

imediata, não restando possibilidade a valoração restritiva pelo legisladores e

magistrados, produzindo seus efeitos independentemente da edição de

normas infraconstitucionais. Até mesmo as emendas constitucionais não

19 Observou com bastante propriedade a respeito do tema Eduardo Domingos Botallo: “(...) o campo de incidência da norma é identificado mediante um processo de qualificação de fatos. Sob tal perspectiva, torna-se simples deduzir qual será, por oposição, a área de não-incidência. Esta corresponderá ao plano integrado pelo grupo de fatos que – apesar de existentes – não foram alcançados pela disposição normativa.(...). Pois bem. Quando a não-incidência decorre de expressa disposição constitucional, que vede ao legislador ordinário competente instituir determinado tributo, alcançando certa realidade, ou pessoa, estamos diante da figura da imunidade. Neste caso , a vedação – por estar contida no próprio texto da Lei Maior – apresenta-se como “limitação constitucional do poder de tributar” de que são titulares União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Este, pois, o campos das imunidades tributárias: hipóteses de não –incidência constitucionalmente qualificadas.” BOTALLO, Eduardo Domingos. Fundamentos do IPI . São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 107-108. Para Misabel Derzi a imunidade é “(...) regra expressa da Constituição (ou implicitamente necessária), que estabelece a não-competência das pessoas políticas da Federação para tributarem certos fatos ou situações, de forma amplamente determinada, delimitando negativamente, por meio de redução parcial, a norma de atribuição de poder tributário.” Notas ao BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar . 7ª ed.. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 16.

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19

gozam do condão de restringir os casos de imunidade albergadas pela Carta

Maior, visto que correspondem a cláusulas pétreas, conforme disposição

do artigo 60, §4º, IV, da CRFB/88.20

As hipóteses de imunidade acontecem antes da incidência tributária,

os entes federados não podem, mesmo por meio de lei, isentar situações que

já plasmadas pela imunidade. E muito menos seria possível através de

interpretações restritivas, atenuar o alcance das normas constitucionais que

preveem casos de imunidade.

A imensa gama de imunidades contidas na CRFB/88, especialmente a

prevista no artigo 150, inciso VI, decorre de máximas axiológicas tributárias,

limitadoras da exigência de tributos (igualdade, capacidade contributiva,

livre difusão da cultura e do pensamento, proteção à educação, etc.), não

por outra razão estão impossibilitadas de sofrer exegese restritiva.

O disposto no artigo 150, VI, da CRFB/88 aduz:

“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuintes, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) VI – instituir impostos sobre:

a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos

políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão”.

A alínea “a” diz respeito a imunidade tributária das pessoas

políticas, denominada como imunidade recíproca, decorrência natural do

princípio federativo com vistas a preservação da autonomia. Hipótese análoga

é ainda rechaçada pela CRFB/88, no artigo 60, § 4º, I.

Ademais, a imunidade recíproca é extensível a todos os impostos e

não somente a aqueles que recaem sobre o patrimônio, renda ou

serviços, e, apenas quando as pessoas políticas prestam efetivamente

serviços públicos, não existindo imunidade caso estes entes exploram

atividade econômica, agindo como se fossem empresas privadas ou quando

20 “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...) §4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais.”

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20

recebem preços ou tarifas pelos serviços que prestam. Também se aplica o

princípio da imunidade recíproca às empresas estatais (empresas públicas e

sociedades de economia mista) na condição de delegatárias de serviços

públicos, mesmo que sejam remuneradas por taxas (reguladas por lei) ou

preços e tarifas (regulados por ato do Poder Executivo), exceto quando

desempenham atividades econômicas, pois nesse caso atuam como longa

manus das pessoas políticas, conforme disposto no artigo 150, § 2º, da

CF/8821.

Quando a alínea “b” do artigo 150, VI da CRFB/88, menciona em

imunidade dos templos de qualquer culto, não quer fazer referência,

especialmente, ao templo propriamente dito, isto é, o local voltada para a

adoração de entidades religiosas, mas sim, a entidade mantenedora do

espaço, a seita. Consideram-se templos não apenas os locais destinados à

veneração pública dos ritos religiosos, mas também a todos os locais que

possibilitam o desenvolvimento de atividades essenciais ao culto, desde que

não sejam aplicados a fins econômicos, por força do artigo 150, § 4º da

CRFB/88.22

No que toca a alínea “c”, do artigo 150 da CRFB/88, deve-se atentar a

redação do artigo 9º, IV, alínea “c”, do CTN23, conjugada com a redação do

artigo 14 também do mesmo código. O artigo 14 determina que os partidos

políticos e suas fundações, os sindicatos de empregados e as

instituições educacionais ou assistenciais só poderão gozar de imunidade a

impostos se: a) não tiverem fins lucrativos; b) aplicarem todos os seus recursos

no País; e c) escriturarem suas receitas em livros próprios e de modo

adequado.

21 “§2.º A vedação do inciso VI, a, é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.” 22 “§4.º As vedações expressas no inciso IV, alienas b e c, compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.” 23 “Art. 9.º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) IV – cobrar impostos sobre: (...) c) o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive sua fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, observados os requisitos fixados na Seção II deste Capítulo.”

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21

A inexistência de fins lucrativos, diz respeito ao não repasse de lucros

ao patrimônio dos sócios. A remuneração dos empregados, inclusive

administradores, não retira a imunidade, contanto que haja razoável

equivalência pelos serviços, sob pena de ocorrer um repasse disfarçado de

dividendos.

A obrigatoriedade da escrituração em livros contábeis próprios, no que

diz respeito as suas receitas24, corresponde à obrigação complementar de

fornecer a autoridade fiscal mecanismos aptos a verificação dos requisitos

anteriormente citados para reconhecimento da imunidade.

O legislador, através de lei ordinária, não tem o poder de criar

requisitos diversos dos já elencados no artigo 14 do CTN, tendo em vista

que somente a lei complementar é possível dispor sobre imunidade, sob

pena de vício de inconstitucionalidade formal.

Além do mais, atente-se sobre o que dispõe o artigo 150, § 4º,

CRFB/88, pois estas instituições devem exercer os seus objetivos

institucionais, apontados em seus estatutos e atos constitutivos.

Especificamente no que diz respeito às instituições de educação e

assistencial social, a imunidade se faz imperiosa, diante dos serviços de

grande relevância que são prestados, insculpidos no artigo 6º da CRFB/8825,

os quais muitas vezes, não podem ser prestados somente pelo Estado, devido

a limitação orçamentária.

Os serviços sociais prestados por essas entidades, apresentam-se

como a concretização normativa da dignidade da pessoa humana (art. 1º,

24 A exigência de escrituração, em livros próprios, das receitas da instituição educacional não implica, conforme já reconheceu o próprio Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, “a adoção de escrituração comercial, segundo a boa técnica contábil, e com observância das normas constantes da legislação tributária, nos moldes em que é exigida das demais empresas submetidas ao regime de tributação, com base no lucro real ou presumido. A escrituração exigida objetiva, tão somente, a verificação pela Fiscalização do cumprimento dos requisitos nos incisos I e II do art. 14 da Lei 5.172, de 1966” (1º Conselho de Contribuintes, 3ª Câmara, Processo 10283.001362/96 -68, Acórdão 103-19.567, de 2 0.8.199 8, rel. Cons. Édson Vianna de Brito). 25 “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)”.

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22

III, da CF)26, e, por esta razão, tem relação com o teor do art. 60, IV, da

CRFB/88.

Ademais, tais entidades por não possuem finalidade lucrativa, não

podendo ser tributadas por meio de impostos, consoante artigo 145, § 1º

da CRFB/8827, o qual trata do princípio da capacidade contributiva.

Não dispor de finalidade lucrativa, não se confunde com a

impossibilidade de alcançar receitas positivas, de modo que o que se veda é a

aplicação de tais receitas em objetivos diversos dos seus fins institucionais.

2.2 - A imunidade cultural na CRFB/88.

Após uma rápida análise das imunidades previstas no artigo 150, VI,

da CRFB/88, cumpre atribuir maior atenção ao foco do presente trabalho

monográfico. É cediço que gozam de imunidade, “os livros, jornais e periódicos

e o papel destinado à sua impressão”.

Como ressaltado em outra passagem, a predominante definição do

conceito de livro pode ser entendida como um objeto elaborado com papel,

que contém, em várias páginas encadernadas e informações impressas

por meio de caracteres.

É evidente que os livros enquadrados nesta formatação quando

importados são imunes a tributação de imposto, excluindo-se a imunidade

quanto as espécies de taxas e contribuições.

Seria interessante se pudéssemos voltar no tempo e definir como livro

todos aqueles materiais utilizados para transmissão de conhecimento ao longo

da história pela imunidade, como bem se demonstrou no Capítulo I.

Diante da evolução tecnológica, a humanidade tem se afastado

diuturnamente de acepções rígidas quanto ao conceito de livro, o que permite

concluir que o conceito de livro está em constante metamorfose.

26 “Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III – a dignidade da pessoa humana”. 27 “Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: (...) § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para

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23

Diante do já delineado pela doutrina28, a CRFB/88, visa, através do

comando contido no artigo 150, VI, alínea “d”, assegurar a liberdade de

comunicação e de pensamento, facilitando assim, a difusão do

conhecimento, acesso à cultura e educação do povo, garantias estas já

constitucionalmente previstas.

Tal conclusão sob prisma da harmonia e plena eficácia constitucional

se impõe, tendo em vista todo a evolução sofrida pelo que conhecemos como

livro, presente no artigo 150, VI, “d”, da CRFB/88.29

Do contrário, ignorar-se-ia que os antigos povos se utilizaram de

materiais diferentes que o papel, visto que este não existia, para transmitir

seus conhecimentos ao longo da história. É evidente que o material utilizado lá,

bem diverso do usado atualmente, foge do conceito atual e predominante do

que seria livro, porém todos possuem a mesma finalidade.

Ademais, evidente que um povo só evolui de modo que seja

assegurado a possibilidade de acesso à educação, à informação e à cultura, à

liberdade de pensamento, valores estes expressamente consignados na

Magna Carta30.

Acerca do tema, Pontes de Miranda discorreu de forma brilhante:

“Se falta liberdade de pensamento, todas as outras liberdades humanas estão sacrificadas, desde os fundamentos. Foram os alicerces mesmos que cederam. Todo o edifício tem que ruir. Dá-se a tentativa de fazer o homem parar: voltar ao infracultural, ou ao infra-humano. Todo

conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.” 28 Assim entendeu Hugo de Brito Machado, ao dizer que “a imunidade do livro, jornal ou periódico, e do papel destinado a sua impressão, há de ser entendida em seu sentido finalístico.” MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário . 30ª ed.. São Paulo: Malheiros, 2009, p . 290. 29 Brilhantemente acompanhou Roque Antonio Carraza, observando que “a palavra livro está empregada no Texto Constitucional não no sentido restrito de conjunto de folhas de papel impressas, encadernadas e co m capa, mas, sim, no de veículos de pensamento, isto é, de meios de difusão da cultura” e “a Constituição, mais do que proteger objetos (livros, jornais, periódicos e papel de imprensa), quer salvaguardar valores (cultura, educação, divulgação de idéias, etc.).” CARRAZA, Roque Antonio . Curso de Direito Constitucional Tributário . 25ª ed.. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 795 e 808. 30 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (...) IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; (...) XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.”

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24

Prometeu, que descubra o fogo, será punido. Como toda ordem vigente foi feita no passado, apertam-se as consciências para apequená-las ao tamanho, que era o delas, ao tempo em que a ordem vigente se criou, ou antes dela, por força de queda, de toda regressão.”31

Nesse sentido, diante do manifesto sentido teleológico contido no

comando constitucional, necessário é considerar, ou não, a extensão desta

norma para outros meios de difusão de idéias e pensamentos, como os livros

eletrônicos, DVDs, CD-ROMs.

Para que seja possível o enquadramento dessas novas formas de

difusão de conhecimento no comando que impõe a imunidade tributária

constitucionalmente expressa no artigo 150, VI, alínea “d”, da CRFB/88, torna-

se necessário buscar as razões que fundamentaram a decisão Poder

Constituinte originário pelos “livros, jornais, periódicos e o papel destinado a

sua impressão.”

Salienta-se que a interpretação teleológica necessária para leitura

deste dispositivo constitucional, não pode se restringir aos olhos (leitura de

textos, DVDs, CD-ROMs), mas também deve abarcar os ouvidos e dedos

(Braille). O fundamental é que o conteúdo possa transmitido e decodificado

pelo cérebro, de modo que o suporte material seja indiferente.

O sentido finalístico da imunidade constitucional é ratificado, quando

se recorda que a referida imunidade não alcança livros pautados para escritura

contábil e diários em branco. Isto porque tais objetos não possuem a função

de difundir idéias e transmitir pensamentos.

Frisa-se que não é todo papel imune ao recolhimento tributário, mas

apenas quando este tem a finalidade de ser insumo na confecção de livros,

jornais e revistas.

Ponto interessante é saber que esta imunidade tem caráter objetivo e

que por isso não abarca sociedade empresária jornalística, editorial etc., os

quais, por exemplo, continuarão com o dever de pagar o imposto sobre os

rendimentos (IR) que obtiverem com o livro, o jornal e o periódico

comercializado. Impostos que incidem o patrimônio, como o IPTU, ITBI,

ITR, também continuarão a incidir se o fato gerador ocorrer. Desta forma, a

31 MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1967 . 2ª ed.. 2ª tir., t. V. São Paulo: Revista

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25

imunidade só alcança os impostos incidentes sobre os bens objetivamente

elencados no comando constitucional.

Tal premissa é fundamental para o princípio isonômico, especialmente

o da capacidade contributiva, visto que uma empresa que aufere renda

comercializando livros, equipara-se aquela que vende gêneros alimentícios,

diante da plena exploração da atividade econômica que exercem.

Não obstante tais empresas representarem atividade de interesse

público, ou seja, a difusão de conhecimento e acesso à cultura, quando

organizadas têm notória finalidade econômica, havendo distribuição de seus

dividendos aos seus sócios. Do contrário, organizar-se-iam em instituições

sem finalidades lucrativas, para fruírem da imunidade existente no artigo

150, VI, alínea “c” da CRFB/88.

A jurisprudência do STF se posiciona que a imunidade do livro é

se estende a materiais que se assemelhem ao papel, abarcando os filmes

e papéis fotográficos. Porém, não abrange os bens de uso e consumo,

maquinas existentes no parque industrial, bens do ativo permanente.

A doutrina32 vislumbra um problema, vez que o reconhecimento da

imunidade somente na última fase de produção, reduz de maneira substancial

a imunidade, majorando o custo final, de modo que se impossibilita o acesso à

cultura pelos mais carentes, inclusive quebrando a neutralidade do benefício

constitucional, beneficiando as empresas produtoras economicamente

privilegiadas, já que apenas essas suportariam a carga tributária nos

mencionados bens.

dos Tribunais, 1974. p. 155 -156. 32 Nota de Misabel Derzi em BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar . 7ª ed.. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 343-347.

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26

CAPÍTULO III

A LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIA DO

LIVRO ELETRÔNICO

3.1 - Interpretações quanto à imunidade cultural.

Ao tratar do tema imunidade tributária do livro eletrônico,

especialmente quanto à extensão do disposto no artigo 150, VI, alínea “d” da

CRFB/88, aos livros, jornais e periódicos, veiculados por meio diverso que o

papel, torna-se necessária a interpretação – restritiva ou extensiva – do

conceito de livro.

O Professor Humberto Ávila, no artigo Argumentação Jurídica e a

Imunidade do Livro Eletrônico33, aborda o assunto com propriedade,

dispondo sobre teses adotadas pela doutrina para a incidência da imunidade

nos denominados livros eletrônicos.

Tais teses, quando favoráveis à incidência da benesse constitucional,

dispõem: (a) os livros estão preservados pela imunidade; (b) as obras que

transmitem conhecimento e estão organizadas em seqüência racional,

enquadram-se como livro; (c) os livros eletrônicos transmitem conhecimento

em seqüência racional; (d) o livro eletrônico é uma espécie de livro; (e) o

livro eletrônico tem respaldo na imunidade do artigo 150, VI, alínea “d” da

CRFB/88.

Porém, teses divergentes a exposta acima é composta dos seguintes

argumentos: (a) os livros gozam da tutela imunizante; (b) as obras encapadas

33 ÁVILA, Humberto. Argumentação Jurídica e a Imunidade do Livro Eletrônico . In: Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ – Centro de Atualização Jurídica, Volume I, nº 5, 2001.

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27

e organizadas em papel, denominam-se livros; (c) o livro eletrônico não goza

do atributo papel; (d) o livro eletrônico não se enquadra como livro; (e) logo

não tem respaldo no disposto no artigo 150, VI, alínea “d” da CRFB/88.

Ocorre que por diversas vezes, tais premissas são frágeis no que

tocam a respectiva fundamentação, de modo que se torna importante realizar

no seio da hermenêutica jurídica, uma busca quanto ao real significado e

extensão da imunidade tributária.

As premissas que são voltadas à inclusão do livro eletrônico na

imunidade constitucional, dizem respeito à compreensão de que livro eletrônico

é uma modalidade de livro, de modo que a outorga da imunidade a essa

espécie, cumpriria comandos constitucionais fundamentais, mormente a

liberdade de expressão e acesso a cultura.

Ademais, há outras premissas que contemplam a tese de que o livro

eletrônico não se enquadra na imunidade, diante da expressão “papel

destinado a sua impressão”, a qual afastaria qualquer objeto que não tivesse

a sua composição de papel, de modo que o Poder Constituinte Originário teria

excluído propositalmente o livro eletrônico da benesse constitucional, diante de

possíveis perdas ao erário.

É fato que o professor Ives Gandra da Silva, na época da elaboração

da constituição tentou ampliar a abrangência da norma imunizante aos

produtos de informática e outros insumos que não só o papel, nestes termos:

“d) livros, jornais, periódicos e outros veículos de comunicação, inclusive audiovisuais, assim como papel e outros insumos, e atividades relacionadas com a produção e circulação”, porém tal tentativa não foi acatada pelos constituintes a época.

Tendo testemunhado que:

“A proposta que levei aos constituintes era mais ampla. Em face da evolução tecnológica dos meios de comunicação e daqueles para edição e transmissão, tinha sugerido, em minha exposição para eles, a incorporação de técnicas audiovisuais. Os constituintes, todavia, preferiram manter a redação anterior, à evidência, útil para o

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28

Brasil do pós-guerra, mas absolutamente insuficiente para o Brasil de hoje.”34

É cediço que as teses que caminham para a incidência ou não

imunidade cultural sobre os livros eletrônicos, deverão ser estudadas tendo

como parâmetro classificações pautadas pela ciência jurídica, afastando-se

arbítrios argumentativos e falácias.

Seria possível buscar uma interpretação sobre a imunidade cultural,

utilizando-se como base julgados do Supremo Tribunal Federal, os quais

caminham para uma leitura harmônica e ampliativa do texto constitucional

Apenas para ilustrar, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal

interpreta de modo sistêmico e finalístico as imunidades quando, ao analisar o

artigo que trata das “instituições de educação e de assistência social, sem

fins lucrativos”, abarcou na benesse constitucional a renda porventura

alcançada pela instituição assistencialista, através da cobrança de

estacionamento de veículos em área interna da entidade, destinada ao

custeio das atividades desta;35 bem como, quando compreendeu que o

vocábulo “patrimônio” deve ser interpretado de modo a alcançar o imposto

de importação e o imposto sobre produtos industrializados, ainda que eles não

sejam classificados pelo CTN como impostos incidentes sobre o patrimônio36.

De igual modo, a 2ª Turma daquela Corte segue a mesma exegese

ampliativa, ao não afastar da imunidade os valores obtidos pelo SESC na

realização de atividade de diversão pública, especificamente a venda de

bilhetes para sessões de cinema, a qual é revertida para seus objetivo

assistenciais37, ou quando a imunidade alcança até os imóveis utilizados

como moradia dos membros da entidade assistencial.38 A interpretação da

imunidade levou em consideração o objetivo de resguardar a manutenção das

serviços de assistencialistas.

34 SILVA, Ives Gandra da. Comentários à Constituição do Brasil . vol 6. t. I. São Paulo, 1990. p. 186. 35 STF, RE 144.900, Rel. Min. Ilmar Galvão, Brasília, 22 de abr. 1997. 36 STF, RE nº 89.590, Rel. Ministro Rafael Mayer, Brasília, 21 de out. 1979 37 STF, AgRg em AI nº 155.822 , Rel. Ministro Ilmar Galvão , Brasília, 2 0 set. 1994; 38 STF, RE nº 116.188, Rel. Ministro Sydney Sanches, Brasília, 20 fev. 1990.

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29

Mutatis mutandis sobre o que foi mencionado, cabe consignar quanto à

imunidade cultural, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal incluiu no sua

hipótese de incidência, não apenas o papel utilizado diretamente na fabricação

dos bens referidos, mas igualmente insumos diversos, como os filmes e

papéis fotográficos.39 O Pleno já reconheceu até mesmo imunidade as listas

telefônicas com fundamento no caráter de utilidade pública40, ainda que não

dispusessem de nenhum caráter literário.

Verificam-se por meio destas decisões, que o Supremo Tribunal

Federal visou conferir exegese ampliativa as expressões contidas dos

dispositivos da Constituição, mantendo-se a consonância com o princípio do

livre acesso à cultura. Neste diapasão seria possível a incidência da imunidade

dos livros em geral, aos livros eletrônicos.

No entanto, especificamente à imunidade dos livros, jornais e

periódicos, o Supremo Tribunal Federal tem julgados que se posicionaram

com base na exegese literal e restritiva. A 1ª Turma julgou que a tinta especial

utilizada em jornais não estaria acobertada pela imunidade.41

No mesmo sentido, a 2ª Turma compreendeu de modo literal as

imunidades, quando apreciou a expressão “papel”, deixando consignado que

só materiais diretamente relacionados (papel fotográfico, papel telefoto etc.)

é que estão contemplados pela imunidade tributária do artigo 150, VI, “d”,

da CF.42

Diante do demonstrado acima, poder-se-ia considerar que a orientação

adotada pelo Supremo Tribunal Federal, restringiu a imunidade, e assim

sendo, não seria possível contemplar o livro digital.

Como foi explicitado no Capítulo I, a definição conceitual de livro sofreu

verdadeira metamorfose ao longo da história. Assim, partindo-se de

argumentos históricos, o livro eletrônico significaria a evolução da noção

conceitual de livro, difundido no momento da elaboração da Constituição.

39 STF, RE nº 190.761, Rel. Ministro Marco Aurélio, Brasília, 26 set. 1996. 40 STF, RE nº 101.441, Rel. Ministro Sydney Sanches, Brasília, 04 nov. 1987. 41 STF, RE nº 215.435, Rel. Min. Carlos Velloso, Brasília, 30 mai. 1997.

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30

Tendo em vista o que foi exposto, resta saber quais serão os

argumentos utilizados para se concluir pela abrangência ou não dos livros

digitais no disposto no artigo 150, IV, alínea “d”, da CRFB/88.

Pode-se concluir que a utilização de qualquer argumento não poderá

ser rígida e sem qualquer variável, pois qualquer das teses aventadas, por

menor que seja o respaldo jurídico, estão fundamentadas. Ademais, o

recomendável do ponto de vista hermenêutico, diz respeito a interação de

argumentos, evitando-se a interpretação estanque ou segmentada.

Teses de ordem puramente linguísticas, podem apresentar

ambiguidade e inexatidão. Ora, transportando para o tema da imunidade dos

livros, poderia se dizer que a linguagem usual determinaria o único significado

para a definição de livros: os quais são feitos de papel.

Porém, é cediço que livros de plástico e pano, destinados em regra

para o público infantil, gozam do conceito de livro, logo são imunes. Além

disso, as encadernações de livros contábeis e escriturais, os quais são de

papel, não são considerados livros para fins de imunidade.

Assim, as teses calcadas na axiologia da norma constitucional, tendem

a caminhar a mesma direção, mesmo sendo autônomas entre si. Tal

característica mostra a tamanha coerência de nosso sistema jurídico. Neste

diapasão, a força dos argumentos é justificada pelos princípios constitucionais.

Nesse sentido, observa-se que existem mais razões constitucionais

para a extensão da imunidade aos livros digitais, os quais alcançam os fins

albergados pela Carta Magna de 1988, ou seja, auxilia na difusão da

cultura e no livre acesso às informações, mantendo idêntica finalidade com as

obras de papel.

3.2 - A imunidade cultural vista pela exegese extensiva.

42 STF, RE nº 177.657, Rel. Ministro Carlos Velloso, Brasília, 30 mai. 1997.

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31

Grande defensor da imunidade presente no artigo 150, VI, alínea “d”,

da CRFB/88, bem como quanto a sua extensão aos produtos de informática é

o professor Ives Gandra da Silva Martins43.

O nobre doutrinador entende que as imunidades constitucionais não

são uma renúncia fiscal, ou mesmo um favor do constituinte, sendo em

verdade uma vedação absoluta ao poder de tributar e objetivando assegurar,

de um lado, o regime democrático e, de outro lado, permitir uma participação

intensa da sociedade em ações de interesse plural.

Tratando-se da imunidade presente na alínea “d”, do inciso VI, do

artigo 150, o constituinte de 1988 cuidou claramente de quatro hipóteses de

imunidade: i) livros; ii) periódicos, iii) jornais e iv) papel de imprensa. Assim,

não consta do texto constitucional, que os livros, os jornais e os periódicos

apenas serão imunes quando forem feitos de papel.

Conforme bem colocado pelo nobre professor, caso o interesse do

constituinte fosse manter a imunidade restrita aos produtos confeccionados em

papel, este teria escrito: “livros, jornais, periódicos de papel, assim como o

papel destinado à sua impressão”.

Ademais, não seria qualquer papel sujeito à imunidade, mas apenas

aquele destinado à confecção de livros, jornais e periódicos, de modo que

seria imune apenas o papel na forma de insumo para a confecção desses

objetos.

Neste sentido, a correta hermenêutica do dispositivo constitucional

seria: o jornal de papel ou de outra conformação, o periódico de papel ou

de outra conformação e o livro de papel ou de outra conformação,

gozam da imunidade tributária.

Por fim, é relevante apontar que a redação do artigo 111 do CTN44

afirma que a outorga de isenção deve ser interpretada restritivamente. Ora a

43 SILVA, Ives Gandra da. Imunidade dos Meios Eletrônicos de Comunicação Social . Revista Dialética de Direito Tributário nº 175, Abril, 2010. p. 117-126. 44 “Art.111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I – suspensão ou exclusão do crédito tributário; II – outorga de isenção; III – dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.”

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isenção é uma desoneração, por força de lei, um favor fiscal, uma renúncia ao

pode de tributar feita por seu titular, e, por isso, deve ser interpretada

restritivamente.

No entanto, sabendo que as imunidades não se aproximam das

isenções, devendo aquelas serem interpretadas de forma extensiva, partindo-

se da premissa da máxima efetividade dos direitos fundamentais, constituindo-

se uma absoluta vedação ao poder de tributar.45

Neste trilhar é que o eminente Ives Gandra da Silva Martins, entende

por correto estender a imunidade do artigo 150, VI, alínea “d”, da

CRFB/88, também aos livros eletrônicos.

3.3 - Panorama do posicionamento dos Tribunais Regionais

Federais.

As Cortes Regionais Federais em sua esmagadora maioria estão

adotando posicionamento a favor da extensão da imunidade prevista no artigo

150, VI, alínea “d” aos livros eletrônicos, de modo que textos disponibilizados

através de uma base eletrônica (disquete, CD-ROM, DVD ou fitas),

igualmente visam garantir a liberdade de expressão, pensamento e difusão da

cultura.

Tal posicionamento foi adotado pela turma especializada em matéria

tributária do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, o qual ampliou a

imunidade do artigo 150, VI, alínea “d” da CRFB/88, aos produtos de

informática, com fito de resguardar o aspecto teleológico da referida

imunidade, por meio da liberdade de expressão, do acesso à cultura e à

informação.

45 “Não são as dimensões (variáveis segundo o método industrial adotado) que caracterizam o papel para impressão. Ao contrário da isenção tributária, cujas regras se interpretam literalmente, a imunidade tributária admite ampla inteligência”. RE n°. 80.603-SP, Min. Thompson Flores, DJU de 24/05/79, p. 4.090.

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“CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. IMUNIDADE DE LIVROS, JORNAIS E PERIÓDICOS. ACESSÓRIO. MATERIAL ELETRÔNICO. (...) 3. A imunidade do papel destinado à impressão de livros, periódicos e jornais foi instituída como forma de fomentar a liberdade de imprensa, estando positivada no art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal de 1988. 4. A jurisprudência consolidou-se no sentido de que a imunidade prevista no art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal deve ser interpretada ampliativamente, sem possibilidade de censura quanto ao seu conteúdo, que não poderá ficar atrelado a fatores subjetivos, intelectuais, morais e religiosos do intérprete, pois caso a publicação seja atentatória à ética e aos direitos fundamentais caberá, em juízo posterior, a sua retirada de circulação. 5. Dentro desta exegese, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a imunidade dos álbuns de figurinhas (RE 221230/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, D.J. 06/08/2004) e das listas telefônicas (RE 134071/SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, D.J. 15/09/1992), e os Tribunais Regionais Federais vem perfilhando o entendimento segundo o qual estão abrangidos pela imunidade os livros eletrônicos(e-books) e os cd-roms didáticos ou científicos, diante do evidente avanço tecnológico após a promulgação da Constituição Federal de 1988. (...) 9. Recurso da Impetrante improvido. Recurso do Estado provido. Recurso da União Federal e remessa necessária não conhecidos.”46

Ademais, esta Corte igualmente se posiciona no sentido de que os

materiais didáticos que seguem livros e fascículos, com o interesse de

complementação e auxílio ao aprendizado dos textos, também devem ser

incluídos na imunidade do artigo 150, VI, alínea “d” da CRFB/88:

“CONSTITUCIONAL, PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DO ARTIGO 150, VI, 'D' DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ABRANGÊNCIA. FASCÍCULO DE CURSO DE ELETRÔNICA. PEÇAS DE AMOSTRA DE LABORATÓRIO DE ELETRÕNICA. MATERIAL COMPLEMENTAR. EIXIGÊNCIA TRIBUTÁRIA QUE EMBARAÇA OS BENS JURÍDICOS PROTEGIDOS PELA NORMA CONSTITUCIONAL. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. (...) 5. A razão de ser da imunidade prevista no artigo 150, V I, “d” da Constituição Federal, conforme entendimento sufragado pelo Supremo Tribunal Federal, já se mostra suficiente para manutenção da sentença recorrida, tendo em vista que o material que acompanha o fascículo educativo referido tem, nitidamente, a função de complementar os ensinamentos nele contidos, sendo certo, ainda, que a separação dos componentes importados – um demonstrativo da parte teórica e o outro do desenvolvimento prático de um mesmo curso de

46 TRF 2ª Região, AMS 200351010021552, Des. Paulo Barata, Terceira Turma Especializada, DJU de 16.09.2008.

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eletrônica -, inviabilizaria o uso de qualquer deles para os fins propostos, nos termos já destacados. (...).”47

Curiosa é a posição do professor Ricardo Lobo Torres48, ferrenho

defensor da não aplicabilidade da imunidade tributária nas obras eletrônicas, o

qual sustenta que na hipótese das obras literárias estiverem com

acompanhamento de publicações eletrônicas, haverá imunidade caso haja

preponderância da publicação.

No mesmo sentido é a orientação do Tribunal Regional Federal da 3ª

Região, o qual se posiciona no sentido da equivalência dos livros eletrônicos

quanto a capacidade de explanar a cultura, merecendo assim a imunidade

tributária presente no artigo 150, VI, alínea “d”, da CRFB/88:

“CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. LIVROS ELETRÔNICOS E ACESSÓRIOS. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA E EVOLUTIVA. POSSIBILIDADE. (...) 5. Interpretar restritivamente o art. 150, VI, "d" da Constituição, atendo-se à mera literalidade do texto e olvidando-se da evolução do contexto social em que ela se insere, implicaria inequívoca negativa de vigência ao comando constitucional. 6. A melhor opção é a interpretação teleológica, buscando aferir a real finalidade da norma, de molde a conferir-lhe a máxima efetividade, privilegiando, assim, aqueles valores implicitamente contemplados pelo constituinte. (...) 8. Os livros são veículos de difusão de informação, cultura e educação, independentemente do suporte que ostentem ou da matéria prima utilizada na sua confecção e, como tal, fazem jus à imunidade postulada. (...) 10. Não há que se falar, de outro lado, em aplicação de analogia para ampliar as hipóteses de imunidade, mas tão-somente da adoção de regras universalmente aceitas de hermenêutica, a fim de alcançar o verdadeiro sentido da norma constitucional.11. Apelação e remessa oficial improvidas.”49

A jurisprudência acima se posiciona favoravelmente a imunização

dos livros eletrônicos com base no artigo 150, VI, alínea “d”, da CRFB/88.

Interessante foi o teor do voto vista de um dos integrantes daquele Tribunal, o

qual justificou seu voto com base na tese da “mutação constitucional”.

47 TRF 2ª Região, AMS 200151010148919, Des. Francisco Pizzolante, Terceira Turma Especializada, DJU de 14.08.2008. 48 Parece-nos que tais mercadorias são imunes, desde que haja a preponderância econômica e intelectual do texto sobre o disco compacto”. TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário . 3ª ed.. vol. III. Rio de Janeiro: Renovar, 20 05. p. 311. 49 TRF 3ª Região, AMS 2000610 400 528 14, Juiza Consuelo Yoshida, Sexta Turma, DJF3 de 03.11.2008.

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Afirma sua Exª., que diante da franca expansão de inovadores

métodos de divulgação da informação, da cultura e da educação, cabe ao

intérprete reconhecer a necessidade de se adaptar o texto constitucional.

Nas palavras de Gomes Canotilho, as transições ou mutações

constitucionais podem ser consideradas como “a revisão informal do

compromisso político formalmente plasmado na constituição sem alteração do

texto constitucional. Em termos incisivos: muda o sentido sem mudar o texto”.50

E, segundo leciona Inocêncio Mártires Coelho, as mutações constitucionais

são os “processos informais que, sem contrariar a Constituição, alterem ou

modifiquem o sentido, o significado ou o alcance da suas normas”.51

3.4 - A Posição do Supremo Tribunal Federal.

O Supremo Tribunal Federal, corte legítima para conhecer das

matérias de relevo constitucional, tem orientação quanto à possibilidade da

ampliação do teor do artigo 150, VI, alínea “d”, aos insumos apenas

congêneres ao papel, como os papéis fotográficos e filmes fotográficos,

afastando-se a imunidade as tintas, as maquinas do parque industrial e demais

insumos necessários à confecção de livros, revistas, jornais:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO - INSUMOS DESTINADOS À IMPRESSÃO DE LIVROS, JORNAIS E PERIÓDICOS - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA - LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL AO PODER DE TRIBUTAR QUE TAMBÉM SE ESTENDE A MATERIAIS ASSIMILÁVEIS AO PAPEL - RECURSO DO ESTADO DE SÃO PAULO IMPROVIDO - PROVIMENTO DO RECURSO DEDUZIDO PELA EMPRESA JORNALÍSTICA. - O Supremo Tribunal Federal, ao interpretar, restritivamente, o alcance da cláusula inscrita no art. 150, VI, "d", da Constituição da República, firmou entendimento no sentido de que a garantia constitucional da imunidade tributária, tratando-se de insumos destinados à impressão de livros, jornais e periódicos, estende-se, apenas, a materiais que se mostrem assimiláveis ao papel, abrangendo, em conseqüência, para esse efeito, os filmes e papéis fotográficos. (...)”52

50 CANOTILHO. José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 6 ed. Coimbra-Portugal: Almedina, 2002, p 1.214. 51 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 61. 52 STF, RE 327.414 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe de 12.02.2010.

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“ICMS. Tinta para impressão de livros, jornais, revistas e periódicos. Não ocorrência de imunidade tributária. - Esta Corte já firmou o entendimento (a título exemplificativo, nos RREE 190.761, 174.476, 203.859, 204.234, 178.863 e 267.690) de que apenas os materiais relacionados com o papel - assim, papel fotográfico, inclusive para fotocomposição por laser, filmes fotográficos, sensibilizados, não impressionados, para imagens monocromáticas e papel para telefoto - estão abrangidos pela imunidade tributária prevista no artigo 150, VI, "d", da Constituição. - No caso, trata-se de tinta para impressão de livros, jornais, revistas e periódicos, razão por que o acórdão recorrido, por ter esse insumo como abrangido pela referida imunidade, e, portanto, imune ao ICMS, divergiu da jurisprudência desta Corte. Recurso extraordinário conhecido e provido.”53

Em sentido diverso, aquela suprema corte ao utilizar a hermenêutica

na leitura do artigo 150, VI, alínea “d”, da CRFB/88, decidiu pela

impossibilidade de se realizar juízo de valor sobre o conteúdo dos livros,

revistas, jornais, por esta razão, entendeu por não excluir a imunidade dos

álbuns de figurinha e das listas telefônicas.

Especificamente quanto às listas telefônicas, justificou a imunidade

diante da notória utilidade pública que as caracteriza, não obstante a

inexistência do caráter literário ou da difusão científica:

“CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. ART. 150, VI, "D" DA CF/88. "ÁLBUM DE FIGURINHAS". ADMISSIBILIDADE. 1. A imunidade tributária sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão tem por escopo evitar embaraços ao exercício da liberdade de expressão intelectual, artística, científica e de comunicação, bem como facilitar o acesso da população à cultura, à informação e à educação. 2. O Constituinte, ao instituir esta benesse, não fez ressalvas quanto ao valor artístico ou didático, à relevância das informações divulgadas ou à qualidade cultural de uma publicação. 3. Não cabe ao aplicador da norma constitucional em tela afastar este benefício fiscal instituído para proteger direito tão importante ao exercício da democracia, por força de um juízo subjetivo acerca da qualidade cultural ou do valor pedagógico de uma publicação destinada ao público infanto-juvenil. 4. Recurso extraordinário conhecido e provido.”54

“TRIBUTÁRIO. MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. EXIGÊNCIA DE IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS (ISS) SOBRE A EDITORAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, PRODUÇÃO INDUSTRIAL E DISTRIBUIÇÃO DE LISTAS TELEFONICAS. INQUINADA OFENSA AO ART. 19, III, D,

53 STF, RE 265.025, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJ data 21.09.2001 54 STF, RE 221.239, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 06.08.2004.

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DA CARTA DE 1969. Orientação jurisprudencial do STF, no sentido de que não estão excluídos da imunidade constitucional as publicações "que cuidam de informações genéricas ou especificas, sem caráter noticioso, discursivo, literário, poético ou filosófico, mas de inegável utilidade pública, como e o caso das listas telefônicas". Recurso provido.”55

No tocante aos livros eletrônicos, o Supremo Tribunal Federal ainda

não possui posição tranqüila sobre a incidência da imunidade, porém

precedentes recentes, lamentavelmente caminham para não incidência da

norma imunizante para os referidos livros. Tais julgados se apóiam na

premissa de que, apenas materiais assimiláveis ao papel poderiam estar

contidos na imunidade do artigo 150, VI, alínea “d”, da CRFB/88, característica

não conferida ao livros digitais:

“DECISÃO : Trata-se de recurso extraordinário (art. 102, III, a da Constituição) interposto de acórdão prolatado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que considerou imune à tributação operações com livros eletrônicos, gravados em compact discs – read only memory (CD-ROM). Sustenta-se, em síntese, violação do art. 150, VI, d da Constituição. A orientação firmada por esta Corte interpreta o art. 150, VI, d da Constituição de forma a restringir a salvaguarda constitucional aos estritos contornos dos objetos protegidos: livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. Assim, embora a salvaguarda possa abranger diversas etapas do processo de elaboração e circulação do material protegido (RE 102.141 - RTJ 116/268), bem como comporte ampla interpretação a densidade do objeto (imunidade de álbum de figurinhas – cromos autocolantes - RE 221.239, rel. min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 06.08.2004 e das listas telefônicas - RE 101.441, rel. min. Sydney Sanches, Pleno, DJ de 19.08.1988), a imunidade não abrange elementos que fujam à estrita classificação como livros, jornais ou periódicos ou o papel destinado à sua impressão (cf. a interpretação conversa da Súmula 657/STF). Nesse sentido, não há proteção constitucional à prestação de serviços de composição gráfica (RE 229.703, rel. min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJ de 17.05.2002), às capas duras auto-encadernáveis utilizadas na distribuição de obras para o fim de incrementar a venda de jornais (RE 325.334-AgR, rel. min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 19.09.2003), à tinta para impressão de livros, jornais, revistas e periódicos (RE 265.025, rel. min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJ de 21.09.2001), às peças de reposição (RE 238.570 - RTJ 171/356 – cf., ainda o RE 230.782, rel. min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ de 10.11.2000) ou à importação de bens para montagem de parque gráfico (AI 530.911-AgR, rel. min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ de 31.03.2006). Dado que o suporte físico que funciona como mídia (“cd-rom”)

55 STF, RE 134.071, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ de 30.10.1992.

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não se confunde e não pode ser assimilado ao papel, o acórdão recorrido contrariou a orientação fixada por esta Corte (cf., e.g., o AI 530.958, rel. min. Cezar Peluso, decisão monocrática, DJ de 31.03.2005 e o RE 497.028, rel. min. Eros Grau, decisão monocrática, DJe 223 de 26.11.2009). Ante o exposto, dou provimento ao recurso extraordinário para denegar a segurança. Sem honorários (Súmula 512/STF). Publique-se. Brasília, 17 de dezembro de 2009. Ministro JOAQUIM BARBOSA Relator”56

Julgado recente que ratifica até então a posição adotado pelo Supremo

Tribunal Federal, data de março de 2010, onde Min. Dias Toffolli, invocando

dois precedentes da Corte Suprema, cassou a segurança concedida pelo

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que assegurava a imunidade do livro

eletrônico, sob o fundamento de que "a jurisprudência da Corte é no sentido de

que a imunidade prevista no artigo 150, inciso IV, alínea "d", da Constituição

Federal, conferida a livros, jornais e periódicos, não abrange outros insumos

que não os compreendidos na acepção da expressão „papel destinado a sua

impressão.”57

A presente questão, atualmente, ainda está em plena discussão no

Supremo Tribunal Federal, o qual reconheceu a necessidade de um

aprofundamento do debate diante relevância do tema, quando se reconheceu

a Repercussão Geral da questão58. No dizer do Ministro Relator "na era da

informática, salta aos olhos a repercussão geral do tema controvertido". Resta-

nos aguardar a posição que será adota pelo Pretório Excelso.

56 STF, RE 450.422, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 17.12.2009, DJe de 08.02.2010.

57 STF, RE 330.817 Rel. Min. Dias Toffolli, DJe de 5-3-2010.

58 STF, RE nº 595.676/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio.

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CONCLUSÃO

Ao longo desse trabalho, acredita-se ter demonstrado a possível

ampliação da imunidade prevista aos livros, revistas e jornais confeccionados

em papel aos livros digitais, diante do avanço tecnológico sofrido pelos meios

de difusão cultural.

Assim, observou-se que conceituação da noção de livros na

atualidade, difere bastante das existentes ao longo da história e espaço da

humanidade, diante da demonstração de que os livros foram confeccionados

de variados materiais. Porém, o livro jamais se descaracterizou da sua

principal finalidade, que é divulgar cultura e facilitar o acesso à informação.

Nesse sentido, é que em 1988 a palavra livro tinha um significado

estanque, é certo que atualmente a multiplicação de suportes físicos (mídias

digitais, arquivos eletrônicos, além do próprio papel) pelos quais é possível

manifestar a liberdade de expressão e garantir o acesso à cultura demandam

uma releitura de seu significado constitucional. Devemos interpretar a palavra

livro, para nela incluir toda e qualquer manifestação autoral por escrito,

impressa ou não, comercializável por qualquer suporte físico.

Desse modo, a imunidade tributária dos livros, jornais, periódicos e do

papel destinado à sua impressão, ou, simplesmente, imunidade cultural, tem

como finalidade precípua limitar a atuação do Estado, no âmbito de seu poder

de tributar; possui natureza jurídica de norma constitucional que estabelece

incompetência tributária, na medida em que veda que o legislador

infraconstitucional institua tributação dos livros, jornais, periódicos e do papel;

finalmente, tem como referencial os princípios constitucionais balizadores do

Estado Democrático de Direito, entre os quais podemos citar a liberdade de

expressão e de pensamento, o acesso à educação, à cultura e à informação,

todos esses consagrados nos artigos 5º, IV, VIII, IX e XIV, 6º, 205, 215, 218 e

220, da Constituição Federal.

Além disso, restou-se amplamente demonstrado que há mais razões

favoráveis que contrárias a ampliação da imunidade para os livros eletrônicos,

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pois a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, inclina-se em uma

hermenêutica ampliativa da imunidade de um modo geral.

Porém, recentes decisões daquela Corte, estavam por restringir. A

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal precisa refletir, quando deliberar

sobre o tema no Recurso Extraordinário n° 595.676/RJ, o qual já foi

reconhecida a repercussão geral, solucionando a questão com base no

fenômeno da mutação constitucional, como forma de continuar a atender o

interesse do constituinte nos dias de hoje.

Apenas para ratificar a necessidade uma interpretação condizente com

a realidade que nos cerca, tramita no Senado Federal o Projeto de Lei nº

114/2010 de autoria do Senador Acir Gurgacz (PDT) que altera os dispositivos

da Lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003, que instituiu a Política Nacional do

Livro, inserindo expressamente no conceito do art. 2º, que define o livro, o

formato digital, magnético ou ótico, ou impressos no sistema Braille.

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BIBLIOGRAFIA

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ANEXO

O PROJETO DE LEI 114/2010

PROJETO DE LEI DO SENADO FEDERAL Nº 114, DE 2010

Altera a Lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003, que institui a Política

Nacional do Livro, para atualizar a definição de livro e para alterar a lista de

equiparados a livro.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1º O art. 2º da Lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003, passa a

vigorar com a seguinte redação:

“Art. 2º Considera-se livro, para efeitos desta Lei, a publicação de

textos escritos em fichas ou folhas, não periódica, grampeada, colada ou

costurada, em volume cartonado, encadernado ou em brochura, em capas

avulsas, em qualquer forma e acabamento, assim como a publicação desses

textos convertidos em formato digital, magnético ou ótico, ou impressos no

Sistema Braille.

§1º São equiparados a livro os seguintes produtos, impressos,

inclusive no Sistema Braille, ou convertidos em formato digital, magnético ou

ótico:

I – fascículos, publicações de qualquer natureza que representem

parte de livro;

II – materiais avulsos relacionados com o livro;

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III – roteiros de leitura para controle e estudo de literatura ou de obras

didáticas;

IV – álbuns para colorir, pintar, recortar ou armar;

V – atlas geográficos, históricos, anatômicos, mapas e cartogramas;

VI – textos derivados de livro ou originais, produzidos por editores,

mediante contrato de edição celebrado com o autor.

§2º São também equiparados a livro:

I – periódicos impressos no Sistema Braille ou convertido sem formato

digital, magnético ou ótico;

II – matérias avulsas ou artigos autorais, originários de periódicos,

desde que impressos no Sistema Braille ou convertidos em formato digital,

magnético ou ótico;

III – equipamentos cuja função exclusiva ou primordial seja a leitura de

textos em formato digital ou a audição de textos em formato magnético ou

ótico, estes apenas para o acesso de deficientes visuais.” (NR)

Art. 2º Para os fins do disposto no art. 14 da Lei Complementar nº 101,

de 4 de maio de 2000, o Poder Executivo estimará o montante da renúncia de

receita decorrente da isenção prevista no art. 4º da Lei nº 10.753, de 30 de

outubro de 2003, e outras isenções referentes a livros importados previstas em

outras normas legais, e o incluirá no demonstrativo a que se refere o § 6º do

art. 165 da Constituição Federal, o qual acompanhará o projeto de lei

orçamentária cuja apresentação ocorrer depois de sessenta dias de publicação

desta Lei.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Parágrafo

único. A imunidade de impostos a novos produtos definidos como livros ou

equiparados a livros, estabelecida pelo art. 4º da Lei nº 10.753, de 30 de

outubro de 2003, e consoante o que determina o art. 150, inciso VI, alínea d,

da Constituição Federal, produzirão efeitos a partir do primeiro dia do exercício

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financeiro imediatamente posterior àquele em que for implementado o disposto

no art. 2º desta Lei.

JUSTIFICAÇÃO

É notório que os avanços tecnológicos das últimas décadas do século

XX transformaram o mundo de tal forma que prepararam estes primeiros anos

deste século a romper barreiras de comunicação e de gestão de conteúdo de

forma surpreendente.

Não cabe neste mundo globalizado e multimídia definir-se livro tão

somente como “publicação de textos escritos em fichas ou folhas, não

periódica, grampeada, colada ou costurada, em volume cartonado,

encadernado ou em brochura, em capas avulsas, em qualquer forma de

acabamento”, tal qual faz atualmente o art. 2º da Lei nº 10.753, de 30 de

outubro de 2003, que institui a Política Nacional do Livro. Submetemo-nos a

um atraso quando nos prendemos a esse conceito, numa realidade em que se

pode ter fácil acesso a áudiolivros ou mesmo armazenar uma biblioteca com

centenas ou milhares de obras em pequenas memórias USB flash drive, os

conhecidos pen drives, ou nas diversas mídias óticas, tais como o CD-ROM e

os vários formatos DVD gravável – todos esses, hoje, com valores acessíveis a

quase todos.

A digitalização de obras alcançou um patamar ímpar. Se, em 1996, o

Projeto Gutenberg (esforço voluntário para digitalizar, arquivar e distribuir obras

culturais através da digitalização de livros, fundado em 1971, sendo a mais

antiga biblioteca digital do mundo) comemorava o primeiro milhar de livros

digitalizados; hoje, em 2010, são mais de 100 mil obras disponíveis.

Aqui no Brasil, contamos com o sítio Domínio Público

(www.dominiopublico.org.br) desde novembro de 2004. Inicialmente com 1.015

livros em formato digital, contava em fevereiro deste ano com 137.945 de

textos digitalizados. Ademais, a Biblioteca Nacional do Brasil firmou acordo

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com a companhia Google para digitalização dos seus mais de 2 milhões de

livros.

Desde 2007, com o lançamento do Kindle produzido pela empresa

americana Amazon, os leitores de livros digitais ou e-books como são

conhecidos tornaram ainda mais fácil o contato essencial leitor-obra.

Hoje, com quase 2 milhões de e-readers vendidos no mundo, já se

nota que esses equipamentos também baratearam o acesso à leitura. A

diferença de preços varia de 15% a mais de 100% a favor dos e-books. Um

best seller como O Alquimista, do mais notório escritor brasileiro, Paulo

Coelho, é comprado, no sítio da Amazon, em brochura por US$ 34,95 (dólares

americanos) e digitalizado para o e-reader por US$ 8,40, diferença de mais de

315%.

Obviamente há o “amor táctil” pelo livro impresso, tão conhecido pelos

bibliófilos e cantado belamente pelo poeta Caetano Veloso em sua canção

Livros:

…Os livros são objetos transcendentes

mas podemos amá-los do amor táctil…

No entanto, entre as diretrizes da Política Nacional do Livro (PNL),

algumas merecem destaque e fundamentaram as alterações propostas nesta

proposição: assegurar ao cidadão o pleno exercício do direito de acesso e uso

do livro; fomentar e apoiar a produção, a edição, a difusão, a distribuição e a

comercialização do livro; promover e incentivar o hábito da leitura; apoiar a livre

circulação do livro no País; e capacitar a população para o uso do livro como

fator fundamental para seu progresso econômico, político, social e promover a

justa distribuição do saber e da renda (Lei nº 10.753, de 30 de outubro de

2003, art. 1º, incisos I, III, V e IX).

Com as mudanças feitas, passamos a incluir no rol dos produtos

imunes de impostos nos termos do art. 150, inciso VI, alínea d, da Constituição

Federal, e conforme ao art. 4º do PNL, a importação dos livros nos diferentes

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formatos hoje disponíveis: impressões tradicional e em Sistema Braille, e

conversões em formato digital, magnético ou ótico.

Também passam a ser inclusos: os periódicos e as matérias avulsas

ou artigos autorais originários de periódicos, desde que impressos no Sistema

Braille ou convertidos em formato digital, magnético ou ótico; e os

equipamentos cuja função exclusiva ou primordial seja a leitura de textos em

formato digital ou a audição de textos em formato magnético ou ótico. Esses

equipamentos podem ser comparados ao papel, com adiferença de serem

eletrônicos. Aqui, também cumprimos uma diretriz do PNL, assegurar às

pessoas com deficiência visual o acesso à leitura (art. 1º,XII).

Com a inclusão de novos produtos como livros ou equiparados a estes,

é necessário que se cumpra o que determina a Lei Complementar nº101, de 4

de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a

responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Segundo o que

assevera a Lei, o Poder Executivo deve estimar o montante da renúncia de

receita decorrente da isenção prevista no art. 4º da Lei nº10.753, de 30 de

outubro de 2003, e outras isenções referentes a livros importados previstas em

outras normas legais, e o incluir no demonstrativo a que se refere o § 6º do art.

165 da Constituição Federal, o qual acompanhará o projeto de lei orçamentária

cuja apresentação ocorrer depois de sessenta dias de publicação da Lei.

Por fim, deixamos claro que a isenção de produtos acrescidos à

definição de livro ou incluídos no rol de equiparados a livros, ainda não imunes

a impostos, e com esse direito devido à mudança proposta no art. 2º da Lei nº

10.753, de 30 de outubro de 2003, somente produzirão efeitos a partir do

primeiro dia do exercício financeiro imediatamente posterior àquele em que for

implementado o disposto na Lei Complementar nº 101, de 2000,

suprarreferrido no parágrafo anterior.

Por todo o exposto, acreditamos no apoio dos nobres Parlamentares a

este projeto de lei que ora apresentamos.

Senador ACIR GURGACZ

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ÍNDICE

AGRADECIMENTO 3

RESUMO 4

METODOLOGIA 5

SUMÁRIO 6

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Evolução e tendências do livro 11

1.1 - A gênese do livro 12

1.2 – O livro eletrônico 15

CAPÍTULO II

A limitação constitucional tributária do livro 16

2.1 - A imunidade cultural 16

2.2 - A imunidade cultural na CRFB/88 22

CAPÍTULO III

A limitação constitucional tributária do livro eletrônico 26

3.1 - Interpretações quanto à imunidade cultural 26

3.2 - A imunidade cultural vista pela exegese extensiva 30

3.3 - Panorama do posicionamento dos Tribunais Regionais Federais 32

3.4 - A posição do Supremo Tribunal Federal 35

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ANEXO 43

ÍNDICE 48