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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A AÇÃO DA ARTE NA APRENDIZAGEM POR: APARECIDA ANTÔNIA DA SILVA MEDEIROS PROFESSORA ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ DA SILVA POSSE – GO JULHO / 2008

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · 6 RESUMO Este trabalho aborda questões importantes sobre a arte na alfabetização e sua contribuição para formação de cidadãos

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A AÇÃO DA ARTE NA APRENDIZAGEM

POR: APARECIDA ANTÔNIA DA SILVA MEDEIROS

PROFESSORA ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ DA SILVA

POSSE – GO

JULHO / 2008

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A AÇÃO DA ARTE NA APRENDIZAGEM

Monograf ia apresentada a Título de Especial ização Latu Sensu em Arteterapia em Educação pela Universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro com orientação de Projeto A Vez do Mestre.

POSSE – GO

JULHO / 2008

3

EPIGRAFE

“Somente se aproxima da

perfeição, quem a procura com

constância, sabedoria e,

sobretudo humildade”.

(Jigoro Kano)

4

Dedico este trabalho de

pesquisa aos meus alunos e

colegas de trabalho, com os

quais aprendi. E a todas

pessoas que contribuíram

direta ou indiretamente para a

elaboração deste trabalho.

5

Agradeço primeiramente a

Deus, pois sem ele nada é

possível. Aos meus f i lhos:

Márcio, Laiane e Mayra, pelo

incentivo e apoio e aos meus

pais: Joaquim e Maura pelo

carinho e paciência que por

mim tiveram.

6

RESUMO

Este trabalho aborda questões importantes sobre a arte na alfabetização e sua contribuição para formação de cidadãos aptos a viver no mundo letrado e cheio de novidades tecnológicas em que estamos inseridos. Em tempos de TV, computador, a arte não perdeu seu valor e sua necessidade, o grande desafio é conseguir mostrar isso. Abordamos assuntos pertinentes a uma proposta de interdisciplinaridade e como a escola pode resgatar a todas as formas de arte levando-a para a sala de aula de forma criativa, alegre, descontraída, dinâmica, diversif icada, promovendo a interação da criança com a aprendizagem. Abordamos o fascínio que a música, os contos, a dramatização de textos contextualizados e cheios de signif icados exercem sobre a criança, favorecendo a organização do pensamento, o desenvolvimento, a intel igência e o conhecimento, e como podem se transformar em ferramentas importantes para o desenvolvimento cognitivo das crianças. Através da pesquisa real izada em torno da arte e seu desenvolvimento, montamos um capítulo especial com diversif icadas propostas para trabalhar a arte em sala de aula. Ratif icamos neste trabalho a importância de saber trabalhar as diversif icadas formas de expressar a arte no contexto atual bem como a necessidade de elaborar o trabalho pedagógico voltado ao interesse da criança.

Palavras-chave: arte e desenvolvimento, Educação infantil e Arte, trabalho pedagógico.

7

METODOLOGIA

Este trabalho foi de suma importância e contribuiu para

melhorar os meus conhecimentos pedagógicos, pois a arte na

aprendizagem é um aparato para um mundo letrado onde as

crianças aprendem brincando.

Sabemos que a música, os contos e as dramatizações de

pequenos textos ou histórias, fábulas, exercem sobre as crianças o

prazer de aprender, o mundo contextualizado cheio de signif icados

para o saber favorecendo e organizando o pensamento das

crianças com gosto para o mundo letrado onde se transforma em

ferramenta importante para o desenvolvimento cognit ivo das

crianças.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................... 09

CAPÍTULO I

A EDUCAÇÃO INFANTIL E A ARTE .......................................... 11

1.1. Enfoque da Arte na Constituição do Sujeito ...................... 11

1.2. A Arte do Brincar ............................................................ 12

1.3. A Prát ica Docente frente a uti l ização da Arte na

Educação Infantil ............................................................ 14

CAPÍTULO II

TIPOS DE MANIFESTAÇÕES NA ARTE .................................... 18

2.1. A Importância da música na Educação Infantil .................. 18

2.2. A Dança como expressão Infantil ..................................... 23

2.3. A Dramatização e o seu Papel na Educação Infantil .......... 27

2.4. Expressão Corporal e Desenvolvimento ............................ 29

CAPÍTULO III

PESQUISA DE CAMPO ............................................................ 31

3.1. Atividades Aplicadas na Escola ....................................... 31

3.2. Metodologia e Elaboração da Atividade ............................ 33

3.3. Resultados e Discussões ................................................ 34

CONCLUSÃO .......................................................................... 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 40

9

INTRODUÇÃO

O ob je t i vo desse t raba lho é a busca pe lo sabe r como

a ação da a r te pode se r um impor tan te aux í l i o na

ap rend i zagem do educando e de que f o rmas e a té que pon to

essa ação da a r te pode con t r i bu i r na f o rmação educac iona l .

A a tua l s i t uação educac iona l es tá l onge de f avo rece r

a c r ia t i v idade . Man te r um a luno sen tado em uma ca r te i ra

du ran te t rês ou qua t ro ho ras segu idas , ouv indo o p ro f esso r

que f a la ou cop iando o que e le esc reve no quad ro , e s t imu la o

con fo rm ismo , a pass i v idade , a im i tação e a im i tação do que

os ou t ros f azem, podendo ge ra r compor tamen tos

es te reo t ipados .

Pa ra uma educação conso l idada , que p repa re os

a lunos a d i ve rs idade encon t rada ao longo da v ida esco la r e

a té mesmo após e la , se f az necessá r io es t imu lá - lo a

c r ia t i v idade , f a to r f undamen ta l pa ra o desenvo l v imen to

a f e t i vo e cogn i t i vo de uma c r iança e p r in c ipa lmen te aguça r

cu r io s idade e to rna r ma i s a t ra t i va e desa f iado ra a p rá t i ca

pedagóg i ca .

Pa ra que o a luno p roduza t raba lhos c r ia t i vos , i n ven te

novas mane i ras de es tuda r e ap rende r se f az necessá r ia uma

p repa ração . Pa ra i s so o rgan i za r a s p rog ramações esco la res

é impo r tan te , ab r indo ass im , espaço pa ra que os mesmos

desenvo l vam a t i v idades c r ia t i vas , de aco rdo com seus

in te resses , capac idade e f a i xa e tá r ia . Os p r inc ipa i s

obs tácu los à c r ia t i v idade são a d i s c ip l i na e o rdem exage rada ,

em p re ju í zo da in i c ia t i va ind i v idua l e da espon tane idade .

10

Partindo do exposto, é papel do educador encontrar e

integrar ao planejamento, práticas que envolvam as crianças e

desenvolvam sua criat ividade e seu raciocínio. As atividades

lúdicas têm sido apontadas por muitos pesquisadores como um

caminho para aprendizagens signif icativas um trabalho agradável,

desmistif icando a escola como um lugar cansativo, onde a principal

meta é a transmissão de conhecimentos, de at ividades rot ineiras

que não motivam o educando a aprendizagem.

A escola hoje vem inovando seus métodos de

alfabetização levando em conta os meios em que o aluno vive, e

com isso a aprendizagem se torna cada dia mais prazerosa e

signif icat iva. A arte-educação foi escolhida como instrumento de

mediação por se entender que esta favorece a expressão concreta

e particular de algo que se vive tanto no plano psíquico como no

plano social. Outro elemento destacado foram às relações

interpessoais, que enfatiza a necessidade da sensibi l ização para o

respeito entre os diversos atores presentes no espaço escolar.

Esta pesquisa tem como objetivo verif icar a integração

entre crianças, analisando de forma signif icativa e demonstrando a

arte e aprendizagens, como fonte contribuidora da aprendizagem

de forma atraente, sem esquecer o foco principal do

desenvolvimento que é o educando, demonstrando que a

aprendizagem pode ser de forma agradável e ef icaz através da

arte bem como um elemento essencial do comportamento humano

e também a atividade mais vital da infância.

11

CAPÍTULO I

A EDUCAÇÃO INFANTIL E A ARTE

1.1. Enfoque da Arte na Constituição do Sujeito

Vygotsky (1998) compreende a arte como um elemento

signif icativo na constituição do sujeito, no momento em que ela atua

sobre o plano emocional. Para Vygotsky (1998), a arte vive da

interação, agregando os princípios da percepção sensorial,

sentimento e imaginação todas as nossas vivencias fantásticas e

irreais transcorrem, no fundo, numa base emocional absolutamente

real. Deste modo vemos que o sentimento e a fantasia não são dois

processos separados em si, mas, essencialmente o mesmo

processo, e estamos autorizados a considerar a fantasia como

expressão central da reação emocional (VYGOTSKY, 1998, p. 246).

A arte nesta compreensão pode ser uma mediadora

qualificada para se atingir num sujeito a sua vivência subjetiva. A arte

possibilita, na compreensão de Vygotsky, (1998), a abertura para a

expressão de sentimentos e compreensões do mundo que revelam

aspectos da produção de sentidos de um sujeito que estão

entrelaçados com sua objetividade. Aquilo que o sujeito produz como

expressão artística estará de certo modo resgatando a compreensão

que o mesmo tem de sua existência no plano da materialidade.

A arte retrata a relação entre subjetividade e objet ividade,

uma vez que cria um campo de possibi l idades em que a real idade

pode ser transformada pela percepção singular revelando

conseqüentemente o impacto daquela sobre a formação da

12

consciência de si e do outro. Em contextos educativos infantis, a

arte pode contribuir para o desenvolvimento afetivo-emocional,

para mediar a compreensão da criança de seu contexto, para

favorecer o seu trânsito entre a realidade e a fantasia.

A arte no âmbito da educação formal configura-se como

um instrumento que oportuniza à criança o desenvolvimento de seu

potencial criador e ref lete sua convivência cultural, à medida que

ao se relacionar com a arte, a criança internaliza e externaliza

conhecimentos sobre o seu mundo. Na arte, a criança representa o

seu mundo. Pela arte, a criança pode elaborar conceitos e

expressar sua compreensão dos papéis sociais. Com a arte se

pode instrumentalizar o processo de aprendizagem para que este

esteja condizente com a capacidade cognit iva da criança.

Capacidade cognit iva para elaborar conceitos, compreender sua

posição no mundo, e se identif icar com papéis sociais que

desempenhará ao longo de sua vida.

A Arte é então um recurso pedagógico, que no âmbito

da psicologia passa a ser um disposi t ivo que pode forta lecer a

re lação entre a apropriação do conhecimento, o desenvolvimento

das funções psicológicas superiores (percepção, atenção,

l inguagem e pensamento, por exemplo) e o processo de

socia l ização infant i l .

1.2. A Arte do Brincar

Dentre as muitas tarefas urgentes colocadas hoje para a

escola está o desafio de serem superadas as visões reducionistas

e preconcebidas sobre a arte, bem como a de conferir ao trabalho

de arte um estatuto a altura da sua importância no mundo

13

contemporâneo. A hipótese de que, uti l izar a arte é de suma

importância para o indivíduo, levando-o a desenvolver a

aprendizagem de forma agradável e criat iva através da sua ação, e

descobrindo a aprendizagem com o uso da arte é o ponto de

partida da nossa comunicação que se propõe a abordar o trabalho

de arte na educação infantil.

O ensino da Educação Infantil não se caracteriza pela prática

da ludicidade, o que se torna um problema para o desenvolvimento do

educando em todos os seus aspectos na educação infantil. Como

também conhecimentos teóricos que ainda não estão bem esclarecidos

dentre eles o conceito de infância. O professor de educação infantil

deve conhecer teorias referentes ao desenvolvimento da infância para

que facilite a sua criatividade no desenvolvimento de atividades

educativas promovedoras do desenvolvimento em seus aspectos

físicos, afetivos, cognitivos e sociais.

Brincando a criança desenvolve as qualidades de

observação, coragem, iniciativa, sociabilidade, disciplina, capacidade

criativa, gentileza e enriquece os valores intelectuais e morais.

Para Vygotsky (2003) o aprendizado precede o

desenvolvimento das crianças e pode ser considerado como o

motor propulsor de vários processos de desenvolvimento que, de

outra maneira, seriam impossíveis de acontecer.

Para o autor, há dois t ipos de aprendizado: o pré-escolar

e o escolar, estes que diferem signif icat ivamente. Segundo

Vygotsky, o aprendizado escolar além de apresentar um caráter

sistematizado, “produz algo fundamentalmente novo no

desenvolvimento da criança” (Vygotsky; 2003; p. 95).

14

O autor acredi tava nisto por considerar que um

processo de ensino bem organizado, com a mediação de todos

os membros envolvidos, vol ta-se especi f icamente para as

capacidades dos suje i tos para a aprendizagem, que segundo ele,

são “funções não amadurecidas, que ainda estão em processo de

maturação, presentemente em estado embrionário”. Essas

funções poderiam ser chamadas de ‘brotos’ ou de ‘ f lores’ do

desenvolv imento, ao invés de f rutos do desenvolvimento”.

(Vygotsky; 2003; p.97).

A arte tem um papel muito importante nas áreas de

estimulação desde a pré-escola e é uma das formas mais naturais

da criança entrar em contato com a realidade. A arte faz parte do

cotidiano das pessoas, e as crianças, em especial, são

extremamente atraídas por todas as formas artíst icas.

Todas as manifestações em forma de arte, como o jogo,

apresentam significados distintos, uma vez que pode significar desde

os movimentos que a criança realiza nos primeiros anos de vida,

agitando os objetos que estão ao seu alcance até as atividades mais

ou menos complexas, como certos jogos tradicionais. Sendo um

instrumento rico e estimulador da aprendizagem e do desenvolvimento

social, cultural, físico-motor, cognitivo e afetivo da criança, pois

exercita a inteligência e o seu raciocínio.

1.3. A Prática Docente frente a utilização da Arte na

Educação Infantil

Alguns teóricos, entre eles Freitas (2002), enfatizam que

as reformas educativas atuais colocam os educadores em

confronto com dois desafios: reinventar a escola como local de

15

trabalho e reinventar a si mesmo como pessoas e prof issionais da

educação. Isto é um indicat ivo de que os educadores precisam não

apenas colocar em questão, o reinventar suas práticas educativas,

no sentido de repensar suas atitudes, concepções, métodos e

conhecimentos sobre o processo de aprendizagem do discente,

como também reinventar suas relações prof issionais que começa

com a observação de sua postura em relação ao outro.

A brincadeira é uma tendência inst int iva do ser humano, é

uma força da natureza, levando a infância ao desenvolvimento

f ísico, ao crescimento mental e a adaptação social, inf luencia

signif icat ivamente na construção do conhecimento infantil, pois

são fontes de prazer e descoberta. A contribuição das atividades

lúdicas no desenvolvimento da criança vai depender da concepção

que se tem de arte.

O professor deverá ter o papel de provocador da

participação colet iva, levando os alunos ao desafio da busca da

resolução dos problemas, despertando e incentivando a criança

para o espírito de companheirismo e de cooperação.

Apesar da brincadeira ser uma atividade espontânea nas

crianças, isso não signif ica que o professor não necessite ter uma

atitude ativa sobre ela, inclusive, uma atitude de observação que

lhe permit irá conhecer muito sobre as crianças com que trabalha.

O professor precisa estar atento à idade e às necessidades de

seus alunos para selecionar e deixar à disposição materiais

adequados. O material deve ser suf iciente tanto quanto à

quantidade, como pela diversidade, pelo interesse que despertam

pelo material de que são feitos. Lembrando sempre da importância

de respeitar e propiciar elementos que favoreçam a criatividade

das crianças.

16

Brincar é um componente crucial do

desenvolvimento, pois, através do brincar a criança

é capaz de tornar manejáveis e compreensíveis os

aspectos esmagadores e desorientadores do

mundo. Na verdade, o brincar é um parceiro

insubstituível do desenvolvimento, seu principal

motor. Em seu brincar, a criança pode

experimentar comportamentos, ações e percepções

sem medo de represálias ou fracasso, tornando-se

assim mais bem preparada para quando o seu

comportamento 'contar'. (GARDNER , 1995)

No processo da educação infantil o papel do professor é de

suma importância, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza

materiais, participa das brincadeiras, ou seja, faz a mediação da

construção do conhecimento.

A desvalorização do movimento natural e espontâneo da

criança em favor do conhecimento estruturado e formalizado ignora

as dimensões educativas da arte como forma rica e poderosa de

estimular a at ividade construtiva da criança. É urgente e

necessário que o professor procure ampliar cada vez mais as

vivências da criança com o ambiente f ísico, com brinquedos,

brincadeiras e com outras crianças.

NEGRINE (1994, p. 20), em estudos realizados sobre

aprendizagem e desenvolvimento infantil, af irma que "quando a

criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-história,

construída a partir de suas vivências, grande parte delas através

da atividade lúdica". Segundo o autor, é fundamental que os

17

professores tenham conhecimento do saber que a criança

construiu na interação com o ambiente familiar e sociocultural,

para formular sua proposta pedagógica.

É preciso que os prof issionais de educação

infantil tenham acesso ao conhecimento

produzido na área da educação infantil e da

cultura em geral, para repensarem sua prática,

se reconstruírem enquanto cidadãos e atuarem

enquanto sujeitos da produção de conhecimento.

E para que possam, mais do que "implantar"

currículos ou "aplicar" propostas à realidade da

creche/pré-escola em que atuam, efetivamente

participar da sua concepção, construção e

consolidação. (Kramer apud MEC/SEF/COEDI,

1996, p.19).

O professor precisa estar atento à idade e às

necessidades de seus alunos para selecionar e deixar à disposição

materiais adequados. O material deve ser suf iciente tanto quanto à

quantidade, como pela diversidade, pelo interesse que despertam

pelo material de que são feitos. Lembrando sempre da importância

de respeitar e propiciar elementos que favoreçam a criatividade

das crianças. A sucata é um exemplo de material que preenche

vários destes requisitos.

Vygotsky, citado por Lins (1999), classif ica o brincar em

algumas fases: durante a primeira fase a criança começa a se

distanciar de seu primeiro meio social, representado pela mãe,

começa a falar, andar e movimentar-se em volta das coisas. Nesta

fase, o ambiente a alcança por meio do adulto e pode-se dizer que

18

a fase estende-se até em torno dos sete anos. A segunda fase é

caracterizada pela imitação, a criança copia os modelos dos

adultos. A terceira fase é marcada pelas convenções que surgem

de regras e convenções a elas associadas.

19

CAPÍTULO II

TIPOS DE MANIFESTAÇÕES NA ARTE

2.1. A Importância da Música na Educação Infantil

FARIA (2001) Define que a música é um importante fator

de aprendizagem, pois a criança desde pequena já ouve música, a

qual muitas vezes é cantada pela mãe ao dormir, conhecida como

‘cantiga de ninar’. Na aprendizagem a música é muito importante,

pois o aluno convive com ela desde pequeno.

Segundo Bréscia (2003), a música é uma linguagem

universal, tendo participado da história da humanidade desde as

primeiras civil izações. Conforme dados antropológicos, as

primeiras músicas seriam usadas em rituais, como: nascimento,

casamento, morte, recuperação de doenças e ferti l idade. Com o

desenvolvimento das sociedades, a música também passou a ser

uti l izada em louvor a l íderes, como a executada nas procissões

reais do antigo Egito e na Suméria.

Atualmente existem diversas def in ições para música.

Mas, de um modo geral , e la é considerada ciência e arte, na

medida em que as re lações entre os e lementos musicais são

re lações matemát icas e f ís icas; a arte manifesta-se pela escolha

dos arranjos e combinações. Houaiss apud Bréscia (2003, p. 25)

conceitua a música como “[ . . . ] combinação harmoniosa e

expressiva de sons e como a arte de se exprimir por meio de

sons, seguindo regras var iáveis conforme a época, a c ivi l ização

etc”.

20

De acordo com Weigel (1988, p. 10) a música é composta

basicamente por:

• Som: são as vibrações audíveis e regulares de corpos

elásticos, que se repetem com a mesma velocidade, como

as do pêndulo do relógio. As vibrações irregulares são

denominados ruídos.

• Ritmo: é o efeito que se origina da duração de diferentes

sons, longos ou curtos.

• Melodia: é a sucessão rítmica e bem ordenada dos sons.

• Harmonia: é a combinação simultânea, melódica e

harmoniosa dos sons.

Cada um dos aspectos ou elementos da música

corresponde a um aspecto humano específ ico,

ao qual mobil iza com exclusividade ou mais

intensamente: o ritmo musical induz ao

movimento corporal, a melodia estimula a

afetividade; a ordem ou a estrutura musical (na

harmonia ou na forma musical) contribui

ativamente para a af irmação ou para a

restauração da ordem mental no homem.

(Wilhems apud Gainza (1988, p. 36)

As atividades de musical ização permitem que a criança

conheça melhor a si mesma, desenvolvendo sua noção de

esquema corporal, e também permitem a comunicação com o

outro. Weigel (1988) e Barreto (2000) af irmam que atividades

podem contribuir de maneira indelével como reforço no

desenvolvimento cognitivo/ l ingüístico, psicomotor e sócio-afetivo

da criança, da seguinte forma:

21

Desenvolvimento cognitivo/ l ingüíst ico: a fonte de

conhecimento da criança são as situações que ela tem

oportunidade de experimentar em seu dia a dia. Dessa forma,

quanto maior a r iqueza de estímulos que ela receber melhor será

seu desenvolvimento intelectual. Nesse sentido, as experiências

rítmico musicais que permitem uma participação ativa (vendo,

ouvindo, tocando) favorecem o desenvolvimento dos sentidos das

crianças. Ao trabalhar com os sons ela desenvolve sua acuidade

auditiva; ao acompanhar gestos ou dançar ela está trabalhando a

coordenação motora e a atenção; ao cantar ou imitar sons ela esta

descobrindo suas capacidades e estabelecendo relações com o

ambiente em que vive.

Desenvolvimento psicomotor: as atividades musicais

oferecem inúmeras oportunidades para que a criança aprimore sua

habil idade motora, aprenda a controlar seus músculos e mova-se

com desenvoltura. O ritmo tem um papel importante na formação e

equil íbrio do sistema nervoso. Isto porque toda expressão musical

ativa age sobre a mente, favorecendo a descarga emocional, a

reação motora e aliviando as tensões. Qualquer movimento

adaptado a um ritmo é resultado de um conjunto completo (e

complexo) de atividades coordenadas. Por isso at ividades como

cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés, são

experiências importantes para a criança, pois elas permitem que

se desenvolva o senso rítmico, a coordenação motora, fatores

importantes também para o processo de aquisição da leitura e da

escrita.

Desenvolvimento sócio-afetivo: a criança aos poucos vai

formando sua identidade, percebendo-se diferente dos outros e ao

mesmo tempo buscando integrar-se com os outros. Nesse

processo a auto-estima e a auto-realização desempenham um

22

papel muito importante. Através do desenvolvimento da auto-

estima ela aprende a se aceitar como é, com suas capacidades e

limitações. As atividades musicais coletivas favorecem o

desenvolvimento da socialização, estimulando a compreensão, a

participação e a cooperação. Dessa forma a criança vai

desenvolvendo o conceito de grupo. Além disso, ao expressar-se

musicalmente em atividades que lhe dêem prazer, ela demonstra

seus sentimentos, l ibera suas emoções, desenvolvendo um

sentimento de segurança e auto-realização.

Snyders (1992) comenta que a função mais evidente da

escola é preparar os jovens para o futuro, para a vida adulta e

suas responsabilidades. Mas ela pode parecer aos alunos como

um remédio amargo que eles precisam engolir para assegurar, num

futuro bastante indeterminado, uma felicidade bastante incerta. A

música pode contribuir para tornar esse ambiente mais alegre e

favorável à aprendizagem, af inal “propiciar uma alegria que seja

vivida no presente é a dimensão essencial da pedagogia, e é

preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados,

compensados e recompensados por uma alegria que possa ser

vivida no momento presente” (SNYDERS, 1992, p. 14).

Além de contribuir para deixar o ambiente escolar mais

alegre, podendo ser usada para proporcionar uma atmosfera mais

receptiva à chegada dos alunos, oferecendo um efeito calmante

após períodos de atividade física e reduzindo a tensão em

momentos de avaliação, a música também pode ser usada como

um recurso no aprendizado de diversas disciplinas.

O educador pode selecionar músicas que falem do

conteúdo a ser trabalhado em sua área, isso vai tornar a aula

23

dinâmica, atrat iva, e vai ajudar a recordar as informações. Mas, a

música também deve ser estudada como matéria em si, como

linguagem artíst ica, forma de expressão e um bem cultural. A

escola deve ampliar o conhecimento musical do aluno,

oportunizando a convivência com os diferentes gêneros,

apresentando novos estilos, proporcionando uma análise ref lexiva

do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais

crít ico.

[...] uma das tarefas primordiais da escola é

assegurar a igualdade de chances, para que toda

criança possa ter acesso à música e possa

educar-se musicalmente, qualquer que seja o

ambiente sócio-cultural de que provenha.

(MÁRSICO, 1982, p. 148)

As atividades musicais real izadas na escola não visam a

formação de músicos, e sim, através da vivência e compreensão

da linguagem musical, propiciar a abertura de canais sensoriais,

facil itando a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e

contribuindo para a formação integral do ser. A esse respeito

Katsch e Merle-Fishman apud Bréscia (2003, p.60) af irmam que

“[...] a música pode melhorar o desempenho e a concentração,

além de ter um impacto posit ivo na aprendizagem de matemática,

leitura e outras habil idades l ingüíst icas nas crianças”.

Gainza (1988) af irma que as atividades musicais na

escola podem ter objetivos prof i láticos, nos seguintes aspectos:

• Físico: oferecendo atividades capazes de promover o

alívio de tensões devidas à instabil idade emocional e

fadiga;

24

• Psíquico: promovendo processos de expressão,

comunicação e descarga emocional através do estímulo

musical e sonoro;

• Mental: proporcionando situações que possam contribuir

para estimular e desenvolver o sentido da ordem,

harmonia, organização e compreensão.

Para Bréscia (2003, p. 81) “[ ...] o aprendizado de música,

além de favorecer o desenvolvimento afetivo da criança, amplia a

atividade cerebral, melhora o desempenho escolar dos alunos e

contribui para integrar socialmente o indivíduo”.

Através das at ividades musicais o educador pode

perceber quais os pontos fortes e fracos das crianças,

principalmente quanto à capacidade de memória audit iva,

observação, discriminação e reconhecimento dos sons, podendo

assim vir a trabalhar melhor o que está defasado. Bréscia (2003)

ressalta que os jogos musicais podem ser de três t ipos,

correspondentes às fases do desenvolvimento infanti l:

• Sensório-Motor (até os dois anos): São atividades que

relacionam o som e o gesto. A criança pode fazer gestos

para produzir sons e expressar-se corporalmente para

representar o que ouve ou canta. Favorecem o

desenvolvimento da motricidade.

• Simbólico (a partir dos dois anos): Aqui se busca

representar o signif icado da música, o sentimento, a

expressão. O som tem função de ilustração, de sonoplastia.

Contribuem para o desenvolvimento da linguagem.

• Analít ico ou de Regras (a part ir dos quatro anos) : São

jogos que envolvem a estrutura da música, onde são

necessárias a social ização e organização. Ela precisa

escutar a si mesma e aos outros, esperando sua vez de

25

cantar ou tocar. Ajudam no desenvolvimento do sentido

de organização e discipl ina.

A duração das atividades deve variar conforme a idade da

criança, dependendo de sua atenção e interesse. Além disso, vale

lembrar que é preciso respeitar a forma de expressão de cada um,

mesmo que venha a parecer repetit ivo ou sem sentido. É

importante que a criança sinta-se l ivre para se expressar e criar.

2.2. A Dança como Expressão Infantil

A Educação Infant i l desempenha um papel pr imordia l no

desenvolvimento integral da criança. Lugar onde se oportuniza

situações desafiadoras, as quais permitam que as crianças possam

encontrar respostas por si mesmas, para suas indagações,

tornando-se pessoas autônomas e crí t icas.

A dança tem uma função pedagógica específica

na escola que se traduz na criação de

movimentos criativos e de livre expressão da

criança. Uma das finalidades da dança na escola

é permitir a criança evoluir em relação ao domínio

de seu corpo, assim desenvolverá e aprimorará

suas possibil idades de movimentação,

descobrindo novos espaços, formas, superação

de suas limitações e condições para enfrentar

novos desafios quanto aspectos motores, sociais,

afetivos e cognitivos (BARRETO, 2002).

Enquanto um processo educacional, a dança não se resume

26

em aquisição de habil idades, mas sim, contribui para o

aprimoramento de habilidades básicas, no desenvolvimento das

potencial idades humanas e sua relação com o mundo. Segundo os

PCNs ( 2003), a dança é uma forma de integração e expressão

tanto individual quanto colet iva, em que o aluno exercita a

atenção, a percepção, a colaboração e a sol idariedade.

Parale lamente às outras artes, a dança desenvolve uma

extensa área da capacidade inte lectual , que proporc iona às

cr ianças um modo especia l de usar sua imaginação para explorar

suas experiências no mundo, dando-lhes sent ido.

Evidentemente, o professor deve ter consciência de que, embora

se encontre para cada at ividade de dança uma determinação de

idade cronológica, is to não pode ser levado ao "pé da letra" , é

apenas um indicat ivo, uma vez que a maturação é o processo

que subsid ia muitas performances e não ocorre de maneira

absolutamente igual entre as cr ianças. Nosso corpo move-se

como nossa mente se move. As qual idades de qualquer

movimento são as manifestações de como a mente é expressa

através do corpo que está em movimento.

O aprendizado da Dança educativa integra o

conhecimento intelectual e a habil idade corporal e criativa do

aluno. Isto leva o professor a estar sempre em contato com o

envolvimento, o compromisso e a responsabil idade em conduzir o

aluno. A alfabetização é um processo pelo qual a criança codif ica

e decodif ica o mundo que a cerca, processo que não atinge

somente o aspecto cognit ivo do aluno, mas o aluno como um todo:

emocional, social e corporal. Um único movimento, ou uma

seqüência de movimentos deve revelar, ao mesmo tempo, o

caráter de quem o realiza, o f im pretendido, os obstáculos

exteriores e os conflitos interiores que nascem deste esforço.

27

A dança na escola não deve priorizar a execução de

movimentos corretos e perfeitos dentro de um padrão técnico imposto,

gerando a competividade entre alunos. Deve partir do pressuposto de

que o movimento é uma forma de expressão e comunicação do aluno,

objetivando torná-lo um cidadão crítico, participativo e responsável,

desenvolvendo a auto-expressão e aprendendo a pensar em termos

de movimento. Promover a construção do conhecimento, com as

histórias de vida de cada um e, na relação dialogal, construir um

saber que se traduz na conscientização dos modos como o homem se

relaciona com o mundo, na sua concretude histórico-social, na

produção da sua existência.

A dança é a mais completa das artes e deve estar em

perfeita e constante associação com a prát ica da escola, por que a

dança não é resposta apenas de cultura artíst ica, de gosto, de

ref inamento, mas meio de expressão poderosa.

O movimento tem uma relação absolutamente direta com

a imagem corporal. É formada através de um processo ininterrupto

de incorporações, resultante de laços afetivos visíveis e invisíveis,

por isso, decorrente da história pessoal de cada um, conclama

para a necessidade do respeito ao movimento livre, sem

compromisso de compulsões repetit ivas. Liberdade de movimento

é binômia de amor que se expressa. Ele diz que "a liberdade é

conquistada desde o interior, é daí que o movimento nasce l ivre

para expressar-se fora".

Ao referir-se às práticas de f ins educativos, apregoa que

os educadores não f iquem somente ao nível do corpo que escuta,

que sente, que grava, mas que fale através de sinais, símbolos, de

caracteres.

28

O reconhecimento da estrutura básica das aulas de

dança, sendo que essa estrutura, considerada por uns como

esquema de exercícios (...), pode ser ampliada para o sentido

global da dança com a integração de elementos expressivos e de

processos de desenvolvimento da criatividade.

Criatividade na dança signif ica demonstrar a qualidade de

experimentar. Existem no processo quatro aspectos importantes

que parecem explicar a criat ividade: estar o indivíduo aberto à sua

própria experimentação; focalizar sua experimentação; discipl inar

suas ações e levar a tarefa a uma conclusão: Se efetivamente a

criatividade é isso, identif ica-se facilmente a presença dessas

características na criança.

2.3. A Dramatização e o seu Papel na Educação Infantil

As primeiras relações sociais da criança ocorrem na

educação infantil . Muitos estudos indicam que a qualidade do

relacionamento que estabelecem com os pais, é fundamental no

desenvolvimento social da criança. A atenção e o afeto recebidos

na infância, tanto dos pais quanto dos professores e demais

adultos com os quais convive, ajudam-na a ver o mundo de forma

posit iva e a acreditar que a convivência com os outros também

será agradável. Na verdade, as crianças precisam de bons

modelos para desenvolver habilidades sociais.

Ao iniciar a sua adaptação na Educação Infantil, a criança

vive um momento de muitas mudanças de uma só vez. Afasta-se

parcialmente do convívio familiar e cria novas relações afetivas.

Para que essas mudanças sejam incorporadas de maneira

tranqüila pelas crianças, nós temos o cuidado de envolver os pais

29

nesse processo de adaptação, pois permanecendo na escola e

vivenciando a formação de vínculos de afeto com o professor e

com os demais colegas de seu f i lho, assim como observando a

implantação da rot ina pelo grupo, acreditamos que os pais f icam

seguros e naturalmente passam essa segurança para as crianças:

• Querem descobrir, conhecer, investigar o mundo que as

rodeia;

• Tem os sentidos aguçados: toca tudo o que vêem;

• Sentem, cheiram, são atentas aos ruídos, sons ritmados,

movimentos.

• Percebem e identif icam as cores e as formas;

• Habilidades para colher informações, para buscar

soluções simples e às vezes fantásticas para os

problemas;

• Tem grande capacidade de preservar histórias na

memória...

• Querem saber os por quês de tudo! Por que será?

• A imaginação e a fantasia ocupam grande parte de suas

brincadeiras!

• Nos jogos dramáticos, exercitam o comportamento de

imitar ações, revelando a sua criatividade e assim vão

entendendo como as coisas são na realidade.

As brincadeiras são muito mais do que momentos de

diversão descompromissados. Com o estímulo certo, ajudam a

criança a entender melhor o mundo. Entendemos que a recreação

tem papel fundamental no desenvolvimento infantil.

Uma criança que se distrai empurrando uma caixa, acaba

descobrindo a força de seu corpo e aprende a noções de causa e

efeito. Quando brinca, mesmo sozinha, ela ordena o pensamento,

estimula a criat ividade e aperfeiçoa a capacidade de resolver

30

problemas. As atividades lúdicas também ajudam a criar e a

consolidar a auto-estima.

As histórias de faz-de-conta representam experiências da

vida real e acabam trazendo à tona os desejos, as preocupações e

os medos infantis. Os jogos desenvolvem a linguagem e as

habil idades sociais, pois levam as crianças a negociar com os

colegas as regras e a divisão de papéis.

Em relação à formação de at itudes, desde cedo é possível

ensinar regras de conduta que os acompanharão por toda a vida.

Dar o exemplo, nesse caso, é tão importante quanto falar. As

crianças adquirem atitudes adequadas imitando os adultos que tem

como referência. A educação deve incluir não só o que se diz,

mas, sobretudo o que se faz.

Dramatizar a realidade é apropriar-se dela para poder

entender a vida, os diferentes papéis sociais e as relações entre

eles. O teatro na Educação Infantil trata-se mais de um grande

jogo dramático, onde brincando exercitam outros tons de voz,

testam a autoridade ou a submissão, a coragem e o medo.

Fantoches, marionetes, fantasias e maquiagens contr ibuem para

esse exercício de faz de conta e também compõem esse delicioso

cenário.

2.4. Expressão Corporal e Desenvolvimento

A Expressão Corporal consiste em um trabalho de

est imulação das potencia l idades cr iat ivas e expressivas da

cr iança (no caso, as de aproximadamente 7 anos de idade) por

meio da l inguagem do corpo. Não se l imita a codi f icação de

31

movimentos, mas sim, permite a expressão de individual idades.

“A dicotomia entre corpo e aprendizagem cognit iva prat icada na

escola, coloca a cr iança em um mundo di ferente, no qual e la não

part ic ipa e não apreende de maneira integrada“. (GONÇALVES,

1994, p. 32).

Conectar o aprendizado teórico transmitido pela escola

tradicional no processo de alfabetização com a vivência prática

concebida pela ação motora possibi l ita à criança um

desenvolvimento mais integral de suas possibil idades. Para tanto a

consciência do corpo, da individualidade, o desenvolvimento da

criatividade, da sensibi l idade e o entendimento das relações

humanas, são fundamentais.

Os conteúdos trabalhados tais como: consciência

corporal, noções rítmicas, relações espaciais, relação com o outro

e em grupo (coletividade) são aplicados de maneira lúdica,

associados à brincadeiras, jogos e elementos presentes no

cotidiano e aprendizado escolar das crianças. Uti l iza-se ainda,

recursos que est imulem os sentidos e a percepção como

instrumentos musicais, histórias infantis, imagens e objetos. A

criação por parte dos alunos é um dos aspectos fundamentais,

estimulado nos desenhos, pinturas e trabalhos com argi la e

materiais diversos.

32

CAPÍTULO III

LITERATURA E ATIVIDADE

3.1. Histórico da Literatura

O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem,

no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos

outros alguma experiência sua, que poderia ter signif icação para

todos. A célula máter da Literatura Infantil encontra-se na

Novelística Popular Medieval que tem suas origens na Índia.

Descobriu-se que desde essa época a palavra impôs-se ao homem

como algo mágico, como um poder misterioso, que tanto poderia

proteger, como ameaçar, construir ou destruir. São, também, de

caráter mágico ou fantasioso, as narrativas conhecidas, hoje, como

literatura primordial. Nelas foi descoberto o fundo fabuloso das

narrat ivas orientais, que surgiram séculos antes de Cristo e

difundiram-se por todo o mundo, através da tradição oral.

A primeira obra realmente direcionada ao público infanti l

foi uma coletânea de cantigas infantis publicada por Mary Cooper

em 1744. O seu sugestivo t ítulo era: Para todos os pequenos

senhores e senhoritas, para ser cantado para eles por suas babás

até que possam cantar sozinhos. Uma segunda coletânea era

intitulada Melodia da Mamãe Gansa, provavelmente do livreiro

John Newbery - 1760, por isso ele é considerado o precursor na

descoberta e exploração do mercado de livros para crianças.

A literatura infantil permite inter-relacionar diferentes

discipl inas estudadas em sala de aula. Dependendo do tema da

33

história e das metas do professor, propicia o desenvolvimento de

um ensino interdiscipl inar.

A obra li terária infantil t rabalha com a vida. Enquanto tal

apresenta-se como recurso de ensino não limitado ao ensino da

língua; daí a possibil idade de sua util ização integradora no ensino

de diferentes disciplinas. A interação poderá ocorrer com ciências,

matemática e principalmente com a Arte.

É na relação lúdica e prazerosa da criança coma obra

literária que se forma o leitor; é na exploração simbólica da

fantasia e da imaginação que desabrocha o ato criador e se

intensif ica a comunicação entre texto e leitor.

A l i te ra tura infant i l é um dos suportes bás icos para o

desenvo lv imento do processo cr iat ivo , po is e la oferece ao le i tor

uma bagagem de conhecimentos e informações capaz de

provocar uma ação cr iadora. No contato com h istór ias l idas ou

ouvidas, a cr iança va i adqui r indo novas exper iênc ias. Daí a

importânc ia de ler e contar h istór ias para cr ianças desde seus

pr imeiros anos de vida e est imular a le i tu ra para que, a lém de

ler e desf ru tar do prazer de ler , e las adqui ram os recursos

importantes para o desenvo lv imento de sua fantas ia e

cr ia t iv idade.

3.2. Atividades Aplicadas na Escola

Ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o

sair, o f icar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o l ivro,

o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra).

Af inal, tudo pode nascer part ido de um texto.

34

Ouvir histórias além de ser uma excelente oportunidade

para exercitar a arte, é viver um momento de gostosura de prazer,

de divert imentos dos melhores. É encantamento, sedução... O livro

da criança que ainda não lê é a história contada.

Pensando assim, foi preparado uma roda de histórias com

os alunos do primeiro ano do Ensino Fundamental da Escola

estadual...... ........ .. ..., onde a turma é composta por vinte e quatro

alunos, todos oriundos de famílias de classe média baix e que tem

pouco acesso a livros.

Explorado em forma de projeto, apresentando a cada dia

uma modalidade diferente de l iteratura.

No primeiro dia, a professora nos cedeu o primeiro

horário, de 13h00min até as 14: 00 h, onde selecionei o conto de

fadas conhecido dos alunos, chamado de Branca de Neve.

Organizamos a roda e com o avental de leitura contei a história

apresentando os personagens e colando no avental para que

f icasse exposto. Após, conversando com alunos, se eles já

conheciam a história, quem costuma conta-la, sobre os

personagens e em seguida como escribas fomos reescrevendo-a

conforme os alunos recontavam.

No segundo dia com o horário marcado após o recreio,

entrei na sala com uma caixa embrulhada para presente deixando

um espaço para que os alunos f izessem adivinhações sobre o que

estaria dentro. Passei então a dar detalhes:

• É um personagem conhecido;

• Faz parte de uma lenda;

• Tem um programa de televisão onde ele aparece;

35

• É muito traquino;

• Vive na f loresta;

• Assusta os caçadores...

Quando descobriram que era o saci pererê, já estavam

est imulados a escutar a lenda, então t i re i da caixa surpresa uma

f igura grande do saci e cole i na parede para começar a ler um

texto onde t razia a lenda do saci pererê. Embora todos a

conhecessem, pois fo i t rabalhada na semana do folc lore em

agosto, escutaram como se fosse à pr imeira vez. Como a turma

ao f inal do ano let ivo já está lendo, entreguei um texto para cada

colar no caderno e ler em casa também para os pais. Para

terminar a at ividade confeccionamos uma dobradura do saci .

Todos estavam eufór icos com a at ividade e interessados em ler o

texto que entregamos mesmo depois de contar-mos a lenda para

e les.

Constata-se com as atividades desenvolvidas na sala que

a maneira como uma história, um texto, entre outros é oferecido

para as crianças, ajuda a desenvolver o prazer pela leitura através

da arte.

3.3. Resultados e Discussões

Na escola pode ser feito um trabalho para levar a criança

a se interessar pelo tema da leitura através de canções, expressão

corporal, dança observação, contato com a realidade. Como

exemplo desta últ ima sugestão, temos que: se a história fala em

água, é possível, em sala de aula, conversar sobre a água, sua

util idade. Se a história fala em animais, pode-se fazer um

levantamento dos animais que as crianças conhecem...

36

Através da at ividade aplicada, percebeu-se que os

professores necessitam de metodologias apropriadas para

despertar o interesse pelas diversas áreas da Arte e nos leitores

que queremos formar. Estes métodos estão ligados ao professor,

mas não na perspectiva de f icar apenas nele, o docente é apenas

o mediador, as crianças têm que estar concentradas no que ele

explica. Por isso, o professor tem de provocar, colocar o

pensamento do educando em movimento, propiciar que o aluno

pense sobre o assunto estudado e/ou proposto. Propor atividades

de conhecimento, por exemplo, após a leitura de um livro infanti l,

fazer uma busca de todas as palavras desconhecidas e,

novamente ler o l ivro, para que as crianças f ixem o signif icado da

palavra, interpretar através do teatrar, desenvolver a expressão

corporal part indo de um tema lido. Assim, estará dispondo de

elementos e situações novas, isso possibil ita uma melhor

interpretação da obra e no desenvolvimento do potencial criat ivo

dos alunos. Mas também, é necessário que o professor, saiba

interagir com as crianças.

A prát ica do professor em sala de aula é tão importante.

Esse talvez seja o momento do professor rever a metodologia

uti l izada para ensinar seu aluno, através de métodos ou atividades

que envolvam a prática da Arte, ele poderá inclusive detectar

dif iculdades de aprendizagem, evitando os rótulos muitas vezes

colocados erroneamente, que prejudicam a criança trazendo-lhe

várias conseqüências, como a baixa-estima e até mesmo o

abandono escolar.

O papel do professor é tão importante. Suas atitudes para

com os alunos podem inf luenciar de maneira decisiva na

construção da auto-imagem dos mesmos, ou na sua maneira de ver

a si mesmo.

37

Cabe ao professor estimular o crescimento emocional de

seus alunos todos os dias, existem diversas maneiras que podem

contribuir nesse processo, a maneira como ensinar, as atitudes, o

jeito de relacionar-se com cada aluno, o interesse e o carinho que

demonstram até sem querer inf luenciam no desenvolvimento

afetivo e no processo de aprendizagem da criança.

38

CONCLUSÃO

Antes de escrever, o homem usou a arte como forma de

expressão. Nas cavernas, dissolveu pigmentos e pintaram

mamutes (elefantes), bisões, cervos. As imagens e os objetos

produzidos retrataram a sensibil idade visual e a capacidade

simbólica desses artistas de ultrapassarem a realidade e

expressarem o seu conhecimento e a percepção do mundo.

As imagens tinham um signif icado mágico e já ref letiam a

tendência inventiva do homem, ou seja, a sua capacidade de

conhecer, interpretar e expressar a realidade circundante. O

homem, portanto, uti l iza sistemas de representação para elaborar

e objetivar seus pensamentos e ordenar e dar sentido ao mundo a

sua volta.

A Arte é uma forma de linguagem composta por outras

linguagens específ icas: visual, musical, cênica e a dança, porém,

ainda é ato costumeiro tratar a arte sendo apenas a decoração da

escola para datas comemorativas e festivas e trazer essa

provocação à luz da ref lexão tornou-se oportuno e pertinente como

foco de pesquisa para o estágio em Educação Infanti l.

A infância é uma época de descobertas, aventuras e

magia para as crianças. É nesta fase, durante a educação infantil,

que elas terão seus primeiros contatos com as linguagens da arte,

cabendo ao professor valorizar os conhecimentos e a criat ividade

que elas trazem para a sala de aula e compreender a importância

existente no ato de elas explorarem, pesquisarem e criarem coisas

novas. O que realmente importa a elas é o brincar aprendendo, é

esperar curiosamente pelo inesperado, estar envolvida com o

39

lúdico e com a possibi l idade de sonhar, pois assim, ela aprende se

sentindo mais realizada e mais feliz.

As crianças sentem prazer em desenhar, pintar, rabiscar,

cortar e criar; é assim que elas se expressam. Elas uti l izam sua

imaginação para inventar ou transformar desenhos, criando sempre

o inusitado, o novo, o diferente.

As crianças desvelam-se e revelam-se por meio de

manifestações expressivas, cabendo as insti tuições de educação

infantil e aos professores, oportunizar a elas momentos de criação,

compreensão, imaginação e signif icação. Sendo fundamental que o

professor observe os limites da criança na arte de desenhar, e

compreenda também, a importância de a criança criar seu desenho

e titulá-lo l ivremente, sem se basear em modelos pré-

determinados, evitando assim, que esses modelos prontos

interf iram no imaginário da criança.

Devemos considerar ainda, que a arte e seus elementos

estão presentes em nosso dia-a-dia; não devendo ser vista como

meio de oportunizar prazer às crianças, para trabalhar a

coordenação motora ou para enfeitar as salas de aulas, mas ao

contrário, deve-se trabalhar a arte como contribuição para a

construção do conhecimento sensível da criança, já que contribui

também, para a educação do olhar desta, e ajuda a ampliar suas

leituras de mundo.

Esses são alguns dos motivos pelos quais pesquisei sobre os

assuntos abordados neste trabalho, para levantar a importância de

o professor agitar-se no movimento de mudanças e descobertas,

assim como, argumentar, cri t icar e fazer-se presente nas

40

mudanças, movimentando-se no sentido de oportunizar ao aluno

um melhor ambiente de trabalho e aprendizagem, ajudando-o a

ampliar suas visões de mundo e a não restringir suas idéias a

estereótipos.

41

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