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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DAS ATIVIDADES NUCLEARES PARA A
POLUIÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Por: Úrsula Soares Martins
Orientador
Prof. Francisco Carrera
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DAS ATIVIDADES NUCLEARES PARA A
POLUIÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Direito Ambiental
3
RESUMO
O objetivo dessa pesquisa é de forma ampla,
apresentar a contribuição negativa das atividades nucleares na poluição do
meio ambiente.
Nesse trabalho será abordada a recepção da lei
6453/77 que dispõe sobre a responsabilidade civil e criminal por danos
nucleares pela Constituição Federal, além do estudo da competência da União,
Estados e Municípios em matéria nuclear, será feito estudo ainda em relação
aos princípios fundamentais que sofrem abalos com o exercício dessas
atividades.
Por fim, será analisado o dano nuclear, a energia
nuclear e seus rejeitos nucleares.
4
METODOLOGIA
Foi utilizada a metodologia de leitura de livros sobre o tema, além de
reportagens de jornais e internet. Do material estudado, foi feita uma triagem
compatível com os pontos idealizados para a exposição do trabalho.
5
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................... 3
METODOLOGIA .............................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 6
CAPÍTULO I - A ENERGIA NUCLEAR NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ........................ 7
1.1. Recepção da Lei Nº 6453/77 pela Constituição Federal de 1988 .............................. 7
1.2. Competência da União em Matéria Nuclear ............................................................. 7
1.3. As Competências dos Estados e Municípios em Matéria Nuclear ............................ 8
1.4. O Brasil na Comunidade Nuclear Internacional ........................................................ 9
CAPÍTULO II - Princípios do Direito Ambiental nas Atividades Nucleares .................... 13
2.1. Os Princípios Estabelecidos pela Constituição da República Federativa do Brasil .. 13
2.2. Princípio da Prevenção, Precaução e as Radiações Nucleares .............................. 14
2.3. Princípio do Desenvolvimento Sustentável .............................................................. 15
2.4. Princípio do Poluidor-pagador ................................................................................. 15
2.5. Princípio da Atividade Controlada .......................................................................... 16
CAPÍTULO III DO DANO NUCLEAR ............................................................................. 18
3.1. Usinas que operam com reator nuclear .................................................................. 18
3.2. Zoneamento da Área ao Redor da Instalação Nuclear – Competência ................... 19
3.3. Localização do depósito e armazenamento de Rejeitos Radioativos ...................... 20
CAPÍTULO IV ENERGIA NUCLEAR .............................................................................. 22
CAPÍTULO V OS REJEITOS NUCLEARES .................................................................. 27
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 29
ANEXO 1 ....................................................................................................................... 30
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................................................... 36
6
INTRODUÇÃO
Segundo o entendimento de Cavallieri, a responsabilidade por dano
nuclear é objetiva para o seu causador, com fundamentação no risco
integral, dada a grandeza dos riscos decorrentes da exploração da atividade
nuclear.
Estão no art. 21, XXIII da CF as primeiras referências constitucionais à
energia nuclear. Esse artigo estabelece a competência da União, ao longo das
três alíneas do inciso XXIII o legislador constituinte definiu princípios a serem
observados pela Administração Pública quando esta exercitando as suas
atribuições concernentes à energia nuclear.
Segundo João Claúdio Garcia, desde a descoberta da fissão atômica,
nos anos 1930, passando pelo bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, na
segunda Guerra Mundial e chegando ao acidente em Chernobyl, em 1986, na
Ucrânia, a energia nuclear manteve o estigma de misterioso e estratégico ativo
no cenário internacional. Como recurso energético, a opção nuclear parecia
fadada a permanecia eternamente debaixo da poeira radioativa da antiga usina
ucraniana, sem encontrar novos espaços em um mundo que anseia ser mais
ambientalista sustentável.
7
CAPÍTULO I
A ENERGIA NUCLEAR NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
1.1. Recepção da Lei Nº 6453/77 pela Constituição Federal de 1988
Segundo Cavallieri, a responsabilidade por dano nuclear é objetiva para
o seu causador, fundada no risco integral, dada a grandeza dos riscos
decorrentes da exploração da atividade nuclear. Se essa responsabilidade
fosse fundada no risco administrativo, ela já estaria incluída no artigo 37, §6 da
CF, não sendo necessária uma norma especial.
O artigo 8 da Lei 6453/77, exclui a responsabilidade do operador pelo
dano resultante de acidente nuclear causado diretamente por conflito armado,
hostilidade, guerra civil, insurreição ou excepcional fato da natureza. A base
jurídica da responsabilidade do explorador da atividade nuclear, entretanto,
passou a ser a Constituição a partir de 1988, e esta, no artigo 21, XXIII, c, não
abre nenhuma exceção, pelo que entendemos não mais estarem em vigor as
causas exonerativas previstas na lei infraconstitucional.
Sendo ilimitada a responsabilidade do Estado, consoante o artigo 37, §6
da CF, não pode a lei ordinária estabelecer limites indenizatórios para os
danos decorrentes de acidente nuclear, de responsabilidade desse mesmo
Estado ou de entes privados prestadores de serviços públicos.
1.2. Competência da União em Matéria Nuclear
Estão no art. 21, XXIII da CF as primeiras referências constitucionais à
energia nuclear. Esse artigo estabelece a competência da União, ao longo das
três alíneas do inciso XXIII o legislador constituinte definiu princípios a serem
observados pela Administração Pública quando esta exercitando as suas
atribuições concernentes à energia nuclear. Estabelecidas as competências
8
administrativas, o próprio texto constitucional definiu uma principiologia a ser
obrigatoriamente observada no trato da questão, tais princípios são os
seguintes1:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para
fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob o regime de concessão ou permissão, é autorizada a utilização de
radioisótopos para pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e
atividades análogas;
c) a responsabilidade civil por danos nucleares independe de culpa.
Ao estabelecer as competências constitucionais privativas da União, a
Constituição Federal determinou que dentre estas se inclui a de legislar sobre
atividades nucleares de qualquer natureza, contida no artigo 22, XXVI da CF.
Observa-se no entanto, que o parágrafo único do referido artigo dispõe o
seguinte: “Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre
questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
O Congresso Nacional é dotado de competência exclusiva federal para
aprovar iniciativas do executivo referentes a atividades nucleares (art. 49, XIV
da CF), aprovação esta que independe de sanção do Chefe do Poder
Executivo (art. 48, caput da CF).
1.3. As Competências dos Estados e Municípios em Matéria Nuclear
A competência estabelecida pelo art. 21 da CF dá à União um amplo
campo de atuação em matéria de energia nuclear. Já o art. 23 da CF, que trata
da competência comum entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, dispõe, em seu inciso VI, que aos referidos entes políticos
compete: proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de
suas formas. É certo, ainda, que no campo legislativo, o artigo 24 da CF
1 Constituição da república Federativa do Brasil, art. 21, inciso XXIII, alíneas a, b e c.
9
determina que: “compete a União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: ... VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da
natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e
controle da poluição. Ademais, o inciso VIII do mesmo artigo, determina que
aos mesmos entes políticos cabe a competência legislativa concorrente em
matéria relativa a danos ao meio ambiente.
Registra-se que os quatro parágrafos do artigo 24 determinam que em
se tratando de legislação concorrente, a competência da União limita-se a
estabelecer normas gerais. Ocorre que a competência da União para legislar
sobre as normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
Na inexistência de lei federal que disponha sobre as normas gerais, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender às suas peculiaridades
regionais. Na hipótese de superveniência de lei federal disciplinadora daquilo
que deve ser atendido como norma geral em cada uma das hipóteses
definidas constitucionalmente, suspender-se-á a eficácia da lei estadual,
naquilo que implique violação das normas gerais estabelecidas pelo Poder
Legislativo da federação.
Em relação aos Municípios, há de se observar que suas competências
constitucionais foram estabelecidas pelo artigo 30 da CF. Sendo assim, aos
Municípios, por força do art. 30, VIII, compete: “Promover no que couber,
adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso,
do parcelamento e da ocupação do solo urbano”.
1.4. O Brasil na Comunidade Nuclear Internacional
O Brasil, como País-membro da comunidade internacional, participa de
diversos acordos multilaterais sobre energia nuclear, sendo que diversos foram
ratificados. Os documentos internacionais que o Brasil é signatário são os
seguintes:
10
a) Estatuto da Agência Internacional de Energia Atômica, ratificado aos 25
de Julho de 1957;
b) Emenda aos artigos VI (13/10/1971), VI a I (19/2/1985 aceitação) e VI a
3 (13/2/1985 da Agência Internacional de Energia Atônica (AIEA);
c) Tratado para a proscrição das armas nucleares na América Latina e no
Caribe – Tratado de Tlateloco (29/1/1968);
d) Tratado para a proscrição das experiências com armas nucleares na
atmosfera, no espaço cósmico e sob a água (4/3/1965);
e) Tratado sobre a proibição da colocação de armas nucleares e outras
armas de destruição em massa do leito do mar, no fundo do oceano e
em seu subsolo (15/08/1988);
f) Convenção sobre a proteção física de materiais nucleares (17/10/1985);
g) Convenção sobre a pronta notificação de acidente nuclear (5/12/1990);
h) Convenção sobre assistência no caso de acidente nuclear ou
emergência radiológica (5/12/1990).
Segundo João Claúdio Garcia, desde a descoberta da fissão atômica,
nos anos 1930, passando pelo bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, na
segunda Guerra Mundial e chegando ao acidente em Chernobyl, em 1986, na
Ucrânia, a energia nuclear manteve o estigma de misterioso e estratégico ativo
no cenário internacional. Como recurso energético, a opção nuclear parecia
fadada a permanecia eternamente debaixo da poeira radioativa da antiga usina
ucraniana, sem encontrar novos espaços em um mundo que anseia ser mais
ambientalista sustentável. Na década de 1990, governos da Europa passaram
a sustentar a tese de que usinas nucleares devem, sim, ser enquadradas como
fontes limpas de energia. Paralelamente, o planeta despertou para a carência
de radioisótopos, um subproduto da fissão nuclear usado em uma infinidade
de exames médicos. E a crise provocada pelo programa nuclear iraniano,
levou a um debate sobre quem pode e quem não pode dominar essa
tecnologia.
11
O Brasil chamou a atenção da comunidade internacional ao propor,
neste ano, com a Turquia, um acordo que pudesse frear o movimento –
impulsionado em Washington – por novas sanções ao Irã. Não teve sucesso
na tentativa de convencer outras potências, mas voltou os holofotes para um
tema tabu: qual o critério para decidir quem poderá usufruir da energia nuclear
nesse século? Além da discursão sobre a soberania e segurança global, há um
valioso mercado de urânio em fase de crescimento. O governo federal
pretende inserir o Brasil nesse contexto, mas parte da comunidade acadêmica
e muitos ambientalistas têm ressalvas.
De todo o mundo, o Brasil possui hoje a sexta maior reserva de minério
de urânio – matéria-prima do urânio enriquecido usado na geração de energia.
Apenas 30% das jazidas estimadas, entretanto, são conhecidas e mapeadas.
Caso as previsões, mas otimistas se confirmem, o país poderia assumir o
segundo lugar nesse ranking. “Prevemos que, até 2022, o Brasil tenha mais
quatro usinas nucleares. Além de produzir urânio enriquecido aqui dentro, há
um mercado internacional”, diz a Desafios do Desenvolvimento o ministro
chefe da secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Samuel Pinheiro
Guimarães.
A produção nacional atualmente, o urânio utilizado no Brasil sai apenas
da mina da Caetité, na Bahia, onde a reserva é de 100 mil toneladas do
minério. A produção é suficiente para abastecer as usinas Angra 1 e Angra 2,
mas não daria conta das outras quatro usinas com construção prevista até
2022. As Indústrias Nucleares do Brasil (INB) vai começar a explorar, também,
a jazida de Santa Quitéria, no Ceará, cujo urânio é associado ao fosfato. O
grau de pureza do minério encontrado no país é um dos argumentos que os
opositores da energia nuclear usam para denunciar os investimentos nessa
área.
"Por mais que tenhamos grandes reservas de urânio, ele está associado
a outros materiais que inviabilizam sua exploração", garante André Amaral,
12
coordenador do Greenpeace Brasil para o tema nuclear. Ele cita um estudo do
holandês Jan Willem Storm, publicado pelo Oxford Research Group, segundo
o qual o processo de geração de energia nuclear se tornará inviável em 55
anos caso o nível de consumo mundial permaneça igual e novas jazidas de
minério altamente concentrado não sejam descobertas. Tal processo passaria
a consumir mais energia que a quantidade por meio dele produzida.
Amaral2 afirma que boa parte do minério brasileiro não teria
concentração suficiente para que sua exploração econômica fosse viável.
Nesse ponto, ele é apoiado por José Goldemberg, ex-secretário de Ciência e
Tecnologia da Presidência da República e professor da Universidade de São
Paulo (USP). "Minério de urânio não é a mesma coisa que urânio natural e
muito menos urânio enriquecido. Para que o Brasil entrasse no mercado
exportador de urânio enriquecido, seriam necessários grandes investimentos,
de no mínimo US$ 1 bilhão. Além disso, existe urânio enriquecido abundante
no mundo. Não vejo espaço para entrar num mercado em que já existe
excesso de produção", critica Goldemberg.
Marília, do IPEA, discorda da afirmação de que o urânio brasileiro é de
baixa qualidade. "O que existem são minas com várias partes de minério por
milhão. Uma mina onde a concentração é maior dá mais lucro. Mas, quando o
minério é extraído, a separação dos elementos é feita por solvente químico,
então o urânio é o mesmo em qualquer lugar do mundo." Hoje, os maiores
extratores de minério de urânio são Canadá, Austrália, Cazaquistão e Rússia -
responsáveis por mais de 60% da produção internacional.
2 ipea.gov.br/desafios
13
CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL NAS ATIVIDADES
NUCLEARES
2.1. Os Princípios Estabelecidos pela Constituição da República
Federativa do Brasil
A Constituição Federal estabeleceu, no artigo 21, XXIII, a, b e c, os
princípios fundamentais para a utilização da energia nuclear no Brasil. Estes
princípios, contudo, não devem ser vistos como os únicos aplicáveis à
atividade nuclear. É fundamental que sejam incorporados aos princípios
especificamente voltados para a energia nuclear aqueles que dizem respeito à
proteção do meio ambiente e aos princípios fundamentais da República.
Merece ser observado que o artigo 21 não trata da competência
legislativa da União, mas de competência administrativa. Observa-se que, no
caso do inciso XXIII, trata-se de um conjunto de atividades ligadas entre si, que
vão desde a lavra de materiais radioativos até a sua industrialização e de seus
derivados. A norma constitucional possui um inequívoco conteúdo econômico,
mais precisamente, possui um evidente conteúdo de intervenção estatal na
ordem econômica.
A atividade nuclear no Brasil está submetida aos seguintes princípios
constitucionais:
a) Toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida
para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional (art.
21, XXIII, a da CF);
b) Sob o regime de concessão ou permissão, é autorizada a utilização de
radioisótopos para a pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e
atividades análogas (art. 21, XXIII, b da CF);
14
c) A responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de
culpa (art. 21, XXIII, c da CF).
A análise das alíneas do artigo 21, XXIII, demonstra que os preceitos contêm
as seguintes normas:
a) a atividade nuclear deve estar voltada para fins pacíficos;
b) o controle democrático da atividade nuclear;
c) a atividade nuclear encontra-se submetida ao controle do Estado;
d) a responsabilidade civil na atividade nuclear é objetiva.
2.2. Princípio da Prevenção, Precaução e as Radiações Nucleares
Os danos ambientais são irreversíveis e irreparáveis, desse modo,
segundo FIORILLO3, a principal finalidade da tutela ambiental é a prevenção.
O princípio da precaução visa manter a sadia qualidade de vida das
gerações futuras e a natureza existente no planeta. O princípio da precaução
incide na atividade nuclear, pois o Poder Público tem que atuar
preventivamente ante os riscos de dano para a pessoa humana e o meio
ambiente, decorrentes de tal atividade, assim como praticar medidas
precaucionais, visto que ao gerar danos, passa a ser co-responsável.
Segundo Maria Alexandre de Souza Aragão, o Princípio da Precaução
determina que a ação para eliminar possíveis impactos danosos ao meio
ambiente seja tomada antes de um nexo causal ter sido estabelecido com
evidência científica absoluta, logo, a precaução é anterior à manifestação do
perigo. Ao contrário do princípio da prevenção que estabelece que os perigos,
já comprovados, sejam eliminados.
3 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 4. Edição Ampliada, São Paulo, Saraiva: 2003.
15
2.3. Princípio do Desenvolvimento Sustentável
O Princípio do Desenvolvimento Sustentável deve servir como norte as
atividades nucleares, pois é necessário que haja uma coexistência harmônica
entre a economia e o meio-ambiente ecologicamente equilibrado, permitindo o
desenvolvimento, deforma planejada, sustentável para que os recursos que
hoje existem, não se tornem inócuos ou não se esgotem.
Esse princípio tem como fundamento legal o art. 225, caput, da
Constituição Federal, vejamos:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
á sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Em relação às atividades nucleares, esse princípio é utilizado no sentido
de reduzir o efeito do prejuízo que poderá ocorrer, pois na hipótese de um
dano nuclear, seus efeitos, na maioria das vezes são irreversíveis e
irreparáveis, podendo com isso, culminar na degradação total do meio
ambiente.
2.4. Princípio do Poluidor-pagador
O principio do poluidor-pagador abrange de maneira preventiva e
repressiva as atividades nucleares, pois envolve a responsabilidade e a
reparação específica do dano ambiental.
Tal princípio é utilizado para evitar a ocorrência de danos ambientais,
pois exige que o potencial poluidor saiba das responsabilidades decorrentes da
poluição que pode ser causada, e ao mesmo tempo, cuida de situações em
que o dano já ocorreu, ou seja, aplica-se nos casos concretos a reparação dos
danos ao ambiente.
16
A idéia que envolve o princípio do poluidor-pagador é a de evitar o dano
ao meio ambiente, ou pelo menos, de diminuir-lhe o impacto, e isso é feito
através da “imposição de um custo ambiental àquele que se utiliza do
ambiente em proveito econômico”. (ANTUNES, 2002, p. 222).
Destaca-se que o principio não é uma punição, já que ele pode ser
implementado mesmo que o comportamento do pagador seja totalmente lícito,
não havendo necessidade de ser provado que existem faltas ou infrações e o
pagamento efetuado não confere ao pagador o direito de poluir. A aplicação do
princípio em questão divide-se em dois momentos: o primeiro é o da fixação
das tarifas ou preços e/ou da cobrança de investimento na prevenção da
utilização do recurso ambiental e o segundo momento é o da
responsabilização residual ou integral do poluidor. (MACHADO, 2002, p. 52)
O principal objetivo do princípio do poluidor-pagador não é somente de
imputar um valor e reparar o dano, mas, sobretudo na atuação de maneira
preventiva, anterior á ocorrência do mesmo.
2.5. Princípio da Atividade Controlada
O princípio da atividade controlada está presente ao longo de todos os
artigos da Constituição Federal que dizem respeito à atividade nuclear. A
utilização de elementos nucleares no Brasil não se encontra dentre as
atividades econômicas que estão incluídas no modelo econômico da livre
iniciativa. As alíneas a, b e c do inciso XXIII do artigo 21 da Constituição
Federal determinam um rígido controle administrativo das atividades nucleares
em território brasileiro. Neste particular, o legislador constituinte reafirmou o
princípio de não-incidência do regime de economia de mercado em matéria
nuclear, seja qual for a finalidade em que esteja sendo empregada.
A concessão e a permissão são dois regimes jurídico-administrativos
pelos quais é possível a um particular exercer atividades que o Estado
17
pretende manter sob um padrão e certo grau de controle. Tais instrumentos
são, portanto, a expressão do poder estatal de configurar juridicamente o
exercício de determinados direitos. Concessão é designada genérica. Existem
várias subespécies de concessão. Celso Antônio Bandeira de Mello julga que
sob denominação tão ampla podem se esconder vários institutos até mesmo
conflitantes. As diferentes formas de concessão têm em comum o fato de
atribuírem ao concessionário em círculo de direitos subjetivos bastante amplos
em face da Administração Pública. Permissão é ato unilateral pelo qual a
Administração Pública faculta, a título precário, a um particular a prestação de
um serviço público. A Constituição Federal refere-se, ainda, a autorização.
Em decorrência do interesse social envolvido, a atividade nuclear está
submetida a licenciamento. As atividades supramencionadas estão submetidas
pelo controle administrativo da Comissão Nacional de Energia Nuclear, criada
pela Lei 4118/62, alterada pela lei 6189/74 e lei 7781/89.
As inovações trazidas pela Constituição Federal de 1988, sobretudo
com a atribuição de poder de fiscalização, em matéria nuclear, ao Congresso
Nacional, evidentemente impõem que se faça uma alteração nos Estatutos da
Comissão Nacional de Energia Nuclear, de forma que se possa estabelecer
um vínculo jurídico entre a autarquia e o Legislativo. Seria aconselhável que a
diretoria da Comissão Nacional de Energia Nuclear fosse aprovada pelo
Congresso e designada para mandato certo. Assim, a autonomia fiscalizatória
da Comissão Nacional de Energia Nuclear estaria enormemente ampliada e
fortalecida, subordinando-se única e exclusivamente aos aspectos técnicos e
constitucionais da questão, vez que a exoneração ad nutum de sua diretoria
seria afastada. Outra hipótese a ser pensada é a de simplesmente, transferir a
Comissão Nacional de Energia Nuclear para o Poder Legislativo. Nesta
hipótese poderia ser adotado um modelo semelhante ao do Tribunal de Contas
da União.
18
CAPÍTULO III
DO DANO NUCLEAR
3.1. Usinas que operam com reator nuclear
O art. 225, §6 da Constituição Federal determina que: “As usinas que
opere, com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal,
sem o que não poderão ser instaladas”.
A Constituição Federal é clara qual previne que nenhuma usina que
opere com reator nuclear seja instalada no pais, sem que haja lei federal
definindo anteriormente sua localização.
Importante destacar que é o Estado, no âmbito Federal, que possui o
regime de monopólio da energia nuclear e seu exercício compete à CNEN (
Comissão Nacional de Energia Nuclear) e a Eletrobrás Termonuclear S/A.
A União é a responsável pela exploração da atividade nuclear, assim
como tem a competência privativa e indelegável de legislar sobre o tema:
Art. 21 – Compete à União:
(..) XXIII – explorar os serviços e instalações
nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio
estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
reprocessamento, a industrialização e o comércio de
minérios nucleares e seus derivados, atendidos os
seguintes princípios e condições:
a) Toda atividade nuclear em território nacional
somente será admitida para fins pacíficos e
mediante aprovação do Conselho Nacional.
Art. 22 – Compete privativamente à União legislar
sobre:
19
(...) XXVI – atividades nucleares de qualquer
natureza.
Art. 49 – É da competência exclusiva do Congresso
Nacional:
(...) XIV – aprovar iniciativas do poder Executivo
referentes a atividades nucleares.
Sendo a atividade nuclear, uma atividade de altos e variados riscos, tal
medida legislativa é imprescindível para controlá-los e observá-los. A
implantação de uma usina nuclear está submetida a um controle prévio através
de lei (art. 225, §6 da CF) e um posterior (art. 21, XXIII, a e art. 49, XIV da CF).
(MACHADO, 2002)
Para que uma usina nuclear seja instalada, é necessário que o Poder
Executivo envie um projeto de lei ao Congresso Nacional, que depois de
votado, será submetido à sanção do Presidente da República. Caso seja
vetado, parcial ou totalmente, é necessário o “voto da maioria absoluta dos
Deputados e senadores, e, escrutínio secreto”. (art. 66, §4 da CF)
De acordo com o art. 68, §1 da CF, a matéria nuclear não pode ser
objeto de lei delegada.
3.2. Zoneamento da Área ao Redor da Instalação Nuclear – Competência
A competência federal ou municipal sobre o zoneamento nuclear
consiste em determinar “qual a autoridade incumbida de autorizar as
construções nas zonas urbanas e rurais, assim como aplicar as limitações ao
direito de propriedade no entorno da instalação nuclear”. (MACHADO, 2006, p.
833)
O zoneamento nuclear é uma matéria que não está claramente definida
na legislação, há lacunas quanto à competência de limitar o direito de
20
propriedade nas áreas ao redor da instalação nuclear e também de limitar o
direito de propriedade no entorno da mesma.
Segundo MACHADO4, a União é a única responsável pela expropriação
de imóveis que vierem a ter sua utilização interditada e havendo restrições ao
direito de propriedade, estabelecida somente pelo Município, o Município e a
União deveriam atuar conjuntamente, por meio de uma dupla autorização,
somando os interesses municipais e nacionais.
Há diferenças consideráveis quanto ao conteúdo e competência de se
legislar sobre a energia nuclear em si e legislar sobre o controle da poluição
nuclear. (FIORILLO, 2003)
Legislar sobre a energia nuclear abrange as regras sobre a segurança
dos reatores e o sistema de operação do mesmo. Já legislar sobre o controle
da poluição dessa atividade, significa medir as radiações nucleares, ou seja,
medir o que pode ter sido emitido como poluição.
Frisa-se que os Estados e Municípios podem obrigar as empresas
federais que tenham atividades nucleares, a realizar medidas da radiação,
assim como eles próprios podem fazê-las, embasados no art. 24, VI da CF.
(MACHADO, 2002)
3.3. Localização do depósito e armazenamento de Rejeitos Radioativos
Um dos principais problemas com os reatores nucleares é a disposição
final dos rejeitos radioativos de alta atividade, e que não foi resolvido
satisfatoriamente ainda em nenhum país do mundo. (GOLDEMBERG, 2008)
4 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14. Edição Ampliada, São
Paulo: Malheiros, 2006.
21
Apesar da Lei 10.308/2001 tratar dos depósitos de rejeitos radioativos,
não há nela um conceito definido. Dessa forma, o conceito de rejeito radioativo
é retirado da Lei 6453/77, em seu art. 1, III: Produtos ou rejeitos radioativos –
“os materiais radioativos obtidos durante o processo de produção ou de
utilização de combustíveis nucleares, ou cuja radioatividade se tenha originado
da exposição às irradiações inerentes a tal processo, salvo os radioisótopos
que tenham alcançado o estágio final de elaboração e já se possam utilizar
para fins científicos, médicos, agrícolas, comerciais ou industriais.
22
CAPÍTULO IV
RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO NUCLEAR E A
TEORIA DO RISCO
Dano nuclear é “o dano pessoal ou material produzido como resultado
direto ou indireto das propriedades radioativas da sua combinação com as
propriedades tóxicas ou com outras características dos materiais nucleares
que se encontrem em instalação nuclear ou dela procedentes ou a ela
enviadas”. (art. 1, VII da Lei Nº 6453/77)
A responsabilidade objetiva nas atividades nucleares decorre da própria
Constituição Federal, em seu art. 225 de forma direta e no art. 5 de forma
indireta.
A Constituição em seu art. 225, §3, não vinculou a culpa como sendo
elemento determinante para o dever de reparar o dano causado ao meio
ambiente, logo, o regime é o da responsabilidade objetiva quando se tratar de
reparação por dano ambiental. (FIORILLO; RODRIGUES, 1999, p. 125)
O art. 21, XXIII, d, da CF, determina que a responsabilidade civil por
danos nucleares independente da existência de culpa.
A responsabilidade pode ser tanto de pessoa física, como jurídica e
incide sobre o operador ou explorador de atividade nuclear e se houver mais
de um explorador, a responsabilidade será solidária e coletiva. O Estado, ou
seja, a União tem responsabilidade civil sobre todas as atividades exercidas
pelo regime de monopólio, então ele terá responsabilidade sobre as atividades
nucleares de uma usina geradora de energia. (MACHADO, 2002)
Há uma forte tendência mundial em se adotar a teoria do risco, origem
da responsabilidade objetiva. “Ao contrário, por todas as mudanças ocorridas e
23
pela tendência de efetivamente se valorizar a vítima do dano, acredita-se que,
em pouco tempo, a exceção será a teoria subjetiva e a regra a
responsabilidade nascida da teoria do risco”. (FIORILLO; RODRIGUES, 1999,
p.134)
A teoria do risco nada mais é do que a responsabilização civil não
apenas por danos, mas também pela produção de riscos ambientais
intoleráveis, ou seja, responsabilizar o explorador da atividade nuclear a
assumir medidas preventivas e precaucionais obrigatórias, decorrentes da
criação de riscos concretos, previsíveis e também os riscos abstratos,
imperceptíveis ao sentido humano e de repercurção global.
O Brasil, graças a investimentos no passado, desenvolveu tecnologias e
hoje está incluído no rol dos 10 países que dominam a tecnologia nuclear, em
todos os campos, inclusive de aplicação, médico e industrial. É também um
dos três países do mundo que dominam toda a tecnologia do ciclo de
combustível e também possuem urânio.
O Brasil adotou como tecnologia de reatores os reatores a água leve
pressurizada (PWR), que usam como combustível urânio enriquecido até
3,5%. O nível de enriquecimento para a aplicação bélica deve ser maior que
90%.
Usina de Carvão – Central Termoelétrica ou Usina Termoelétrica é uma
instalação industrial usada para geração de energia elétrica/eletricidade a partir
da energia liberada em forma de calor, normalmente por meio da combustão
de algum tipo de combustível renovável ou não renovável. Outras formas de
geração de eletricidade são energia solar, energia eólica ou hidrelétrica.
Como vários tipos de geração de energia, a termoelétrica também causa
impactos ambientais. Contribuem para o aquecimento global através do efeito
estufa e da chuva ácida. A queima de gás natural lança na atmosfera grandes
24
quantidades de oxidantes e redutores, que se entrar em contato com o ser
humano, pode acarretar doenças como diarréia, além de ser um combustível
fóssil que não se recupera. No Brasil é lançado por ano cerca de 4,5 milhões
de toneladas de carbono na atmosfera, com o incremento na construção de
usinas termelétricas esse indicador chegará a 16 milhões.
Como exemplo de usina de carvão temos a de Chernobyl que provocou
um dos maiores desastres que já aconteceu na história da utilização da
energia atômica em todo o planeta. Especialistas comentam que a proporção
do acidente nuclear foi tão grande porque a União Soviética, que governava a
Ucrânia e muitos outros países, tentou esconder o acidente durante algum
tempo, sendo que o mundo só ficou sabendo do desastre, dias depois, quando
a fumaça radioativa atingiu outros países: toda a União Soviética, Europa
Oriental, Escandinávia e Reino Unido. Até hoje não se sabe exatamente
quantas pessoas morreram em decorrência do acidente, nem se tem certeza
das causas, entretanto existem duas teorias:
(1) Essa teoria relata que quando uma equipe responsável pelo plantão no
reator que explodiu, chamado de Chernobil-4, começou a fazer um
experimento, que buscava verificar o que aconteceria com as bombas
de resfriamento caso ocorresse uma pane ou interrupção de energia.
Sendo que as bombas de resfriamento são as responsáveis por
bloquear e diminuir as temperaturas dos reatores, local onde fica
depositado o combustível nuclear.
Durante o experimento, a equipe desligou o sistema de segurança da
unidade, com a intenção de evitar que houvesse a interrupção de
energia no reator. Porém, tudo ocorreu de forma contrária e ao invés da
diminuição de energia do reator para 25%, houve um aumento muito
maior do que a estrutura poderia suportar, causando a explosão que
atingiu mais de 2000ºC de temperatura e impulsionou o incêndio do
grafite existente que moderava os nêutrons no reator. O grafite
permaneceu queimado por muito tempo, fazendo com que inúmeras
25
tentativas de cessar fogo e impedir mais liberação de material radioativo
fossem em vão.
(2) Já a segunda teoria diz que a explosão ocorreu por causa de defeitos
no projeto do reator que explodiu, mais especificamente nas hastes de
controle que ficavam dentro do reator Chernobil-4. Após o acidente,
uma estrutura de concreto e aço foi construída sobre o reator Chernobil-
4, essa estrutura tem o nome de Sarcófago e sua finalidade é impedir a
liberação dos 95% do combustível nuclear ainda existente no local. A
usina nuclear de Chernobil só foi desativada no dia 12 de dezembro de
2000.
Usina de energia a vapor – também chamada de central termo-elétrica
porque soa constituídas por duas partes, uma térmica onde se produz muito
vapor a altíssima pressão e a outra elétrica onde se produz a eletricidade.
Geralmente funciona com algum combustível fóssil como gasolina, petróleo,
gás natural ou carvão que é queimado na câmara de combustão com o ar que
aumenta sua pressão através de um compressor axial anteposto a câmara.
Com grande pressão (compressor) maior a temperatura (camara de
combustão) essa união é levada a turbina sendo transformada em pontência
de eixo, fazendo assim o giro da turbina. Dos gases provenientes da turbina,
ou seja, os gases de exaustão são direcionados a uma caldeira de
recuperação de calor que pode ser aquatubular ou flamotubular.Essa energia é
transformada por linhas de alta tensão aos centros de consumo. Uma das
vantagens desse tipo de instalação é a possibilidade de localização próxima
aos centros consumidores, diminuindo a extensão das linhas transmissoras,
minimizando as perdas de energia que podem chegar até a 16%.
A usina de Angra II utiliza o reator a água pressurizada para a remoção
do calor gerado pela fissão nuclear e para a desaceleração (moderação) dos
nêutrons (partes constituintes do núcleo atômico) liberados no processo da
fissão nuclear. A água é desmineralizada e tratada quimicamente para torná-la
um meio refrigerante apropriado pêra o reator.
26
A exposição do meio ambiente à radiação devida a usinas nucleares é,
de longe, muito mais baixa do que aquela causada pelo espectro de outras
fontes artificiais, sendo apenas cerca de 1% da exposição devida à radiação
natural.
Considerando que as usinas nucleares não exercem impacto sobre o
meio ambiente, pois não emitem poluentes químicos nem queimam oxigênio,
elas se incluem entre as centrais termoelétricas mais aceitáveis do ponto de
vista ecológico.
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CAPÍTULO V
OS REJEITOS NUCLEARES
Rejeito nuclear ou lixo nuclear é todo material contaminado cuja
produção seja resultado da atividade desenvolvida em uma instalação nuclear.
Atualmente, o rejeito produzido pelos 413 reatores nucleares em atividade em
todo o mundo é equivalente a algumas centenas de toneladas e cresce
constantemente, sendo o seu armazenamento e descarte extremamente
problemáticos. Os rejeitos nucleares podem se revestir de várias formas e
cada uma delas possui características bastante diversas das demais
modalidades. Os rejeitos radioativos podem ser classificados como de:
a) Alta Radioatividade – elemento combustível usado e depósito inicial em
piscina no interior da unidade
b) Baixa e Média Radioatividade – material que esteve em contato com
elementos radioativos como roupas, filtros; produtos de
descomissionamento, resíduos e fontes de atividades médicas e
industriais
No Brasil, atualmente, somente a Central Nuclear Almirante Álvaro
produz rejeitos de alta radioatividade.
Quaisquer que sejam os argumentos em favor da utilização da energia
nuclear, nenhum deles consegue apresentar uma solução adequada para o
descarte definitivo dos rejeitos nucleares de alta radioatividade, Anualmente,
toneladas de rejeitos radioativos são estocadas no mundo inteiro e, enquanto
isto, ainda não se logrou a chegar a uma conclusão definitiva sobre o destino
que deve ser dado a estas verdadeiras montanhas de lixo letal. Com efeito, o
nível atual de conhecimento científico demonstra que somente o processo
natural de desintegração é capaz de destruir os materiais radioativos. Isto
implica que, em nível da melhor tecnologia disponível, não há nada a fazer que
28
não seja esperar pacientemente pela perda de letalidade dos materiais
radioativos.
A incerteza é a única certeza em matéria de radioatividade e de seus
efeitos sobre o meio ambiente e a saúde humana. Até hoje não se sabe ao
certo quais são os efeitos da radiação. Ante uma realidade extremamente
complexa que é o manejo do lixo radioativo, os diversos países têm encontrado
inúmeras dificuldades para conseguir localizar os rejeitos nucleares de forma
segura. As dificuldades são de natureza técnica e política. As dificuldades
técnicas derivam das condições científicas que foram genericamente
mencionadas acima: as dificuldades políticas derivam do fato de que nenhuma
comunidade deseja ter o depósito de rejeitos nucleares em seu território.
Das sessenta exigências feitas pelo IBAMA para a concessão da licença
ambiental prévia para a construção da Usina Nuclear Angra 3, uma é a que
verdadeiramente importa, pois pode inviabilizar a obra. Como anunciou o
ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, uma condição imposta pelo IBAMA
para a expedição da licença ambiental definitiva é a apresentação, pela
Eletronuclear, a estatal responsável pelas usinas nucleares, de um projeto de
destino final e seguro para os rejeitos nucleares de Angra 3, diferente do
método utilizado nas usinas Angra 1 e 2. No entanto, nem o ministro, nem o
IBAMA sabe com precisão qual é a solução definitiva para os rejeitos das
usinas nucleares.
O programa energético prevê a operação de Angra 3 em 2014, desde
que as obras comecem em setembro de 2012. Mas o IBAMA só autorizará o
início das obras depois de a Eletronuclear apresentar um projeto adequado
para a destinação final dos rejeitos.
29
CONCLUSÃO
Restou demonstrado que a atividade de um reator nuclear irá confrontar
diretamente com o direito fundamental ao meio ambiente sadio,
ecologicamente equilibrado, e também com os direitos à segurança e à vida, e
os interesses do Estado não podem sobrepor a esses.
É imprescindível uma coexistência harmônica entre o dever econômico
e o meio ambiente, sendo que o Direito Ambiental tem o papel de garanti-la a
todos, assim como tem importante atuação na prevenção e precaução do dano
nuclear, pois garante que as futuras gerações também possam usufruir dos
mesmos recursos naturais que a geração presente usufrui.
Há inúmeras questões que norteiam a atividade nuclear e que
necessitam de atenção imediata pela parte do legislador, principalmente
porque é o próprio Estado Federal que tem o regime de monopólio da energia
nuclear.
O dano nuclear é continuado, cumulativo, e pode caracterizar a causa
de problemas futuros. Sendo assim, é fundamental ressaltar a importância do
Direito na atividade nuclear, pois permite a responsabilização do agente não
apenas pelos danos, mas também por exercer uma atividade tão
potencialmente perigosa e nociva. Cabe concluir que diante de todo o exposto,
e da gravidade dos efeitos decorrente desse tipo de dano, é imprescindível
uma maior atenção do legislador para com essa disciplina, que necessita
urgentemente de uma melhor regulamentação.
A produção de energia nuclear através das usinas nucleares encontra
barreiras científicas já conhecidas, como os altos custos, a insegurança, o
destino dos seus rejeitos altamente radioativos, e os riscos e danos que
envolvem tal atividade. Mas além delas, há também barreiras legais, lacunas
legislativas, pois a matéria carecer ser mais bem regulada pelo ordenamento
30
jurídico é preciso que haja uma passagem de um direito de danos para um
direito de riscos, enfatizando a prevenção e a precaução, e de forma a inserir o
futuro nas decisões a serem tomadas.
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ANEXO 1
Reportagens
Alemanha aprova fim das atividades nucleares até 2022
30/06/2011 - 14h35
Internacional
Da Agência Lusa
Brasília – O Parlamento da Alemanha aprovou hoje (30) um plano nacional que
fixa a meta de encerrar as atividades de todas as usinas nucleares no país até
2022. A decisão é resultado de pressão interna e esbarrou em críticas de
países europeus, como a França. Os franceses informaram que pretendem
manter em funcionamento suas 56 usinas.
Apesar das controvérsias, o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Norbert
Röttgen, elogiou a decisão, considerando-a “um sinal histórico”. Ambientalistas
e sociais-democratas informaram que pretendem desenvolver projetos
detalhando a exploração de energias renováveis por considerarem
insuficientes as medidas previstas.
Apenas o grupo que integra a legenda Die Linke votou contra a proposta.
Segundo esses políticos, a medida ideal é fixar as metas para 2014 e não
2022. No entanto, a chanceler Angela Merkel anunciou a antecipação do
fechamento de algumas usinas, informando que 17 reatores alemães terão
suas atividades encerradas em breve - oito deles até o fim deste ano.
A iniciativa da chanceler ocorreu logo depois dos acidentes nucleares
registrados na região da Usina de Fukushima Daiichi, no Nordeste do Japão.
Explosões e vazamentos ocorreram após o terremoto seguido por tsunami, em
11 de março.
Angela Merkel anunciou também a adoção de uma moratória de três meses
para que as centrais se adaptem às novas condições de segurança.
32
Paralelamente haverá ainda um programa financiado com 1,2 bilhão de euros
para melhorar o isolamento térmico de edifícios e poupar energia.
NOTÍCIA
No Brasil, um futuro sem energia nuclear é possível
April 30, 2011
Com grande potencial eólico e solar, país pode abrir mão de energia perigosa e
de alto custo
“Não há nenhuma justificativa para a energia nuclear no Brasil”, afirmou a ex-ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, durante o debate “De Chernobyl a Fukushima: A
Energia Nuclear não tem Futuro”, promovido pela Fundação Heinrich Böll, em parceria
com a Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (Sapê) e a Rede Brasileira de
Justiça Ambiental (RBJA), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O
evento aconteceu em 26 de abril, dia do 25º aniversário do desastre nuclear da usina
de Chernobyl, na Ucrânia.
Além de Marina Silva, participaram do debate o professor do Instituto de Biologia da
Universidade Federal Fluminense (UFF), Alphonse Kelecom; a relatora do Direito
Humano ao Meio Ambiente da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos
Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Dhesca), Marijane Lisboa; o presidente
da Associação dos Fiscais de Radioproteção e Segurança Nuclear (Afen), Rogério
Gomes; e o coordenador da pós-graduação em Energia do Instituto de Eletrotécnica e
Energia da Universidade de São Paulo (USP), Ildo Sauer.
Com palestrantes do meio acadêmico, da indústria nuclear e da sociedade civil, o
evento mostrou ser possível a produção de energia limpa e segura, abordou a
influência dos interesses políticos e econômicos na questão energética, e destacou a
falta de segurança das atividades nucleares.
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04/10/2011 | Escrito por admin
Brasil deve ter agência de energia nuclear por sugestão
da comunidade internacional
Sem pressa – O Brasil vai seguir os bons exemplos internacionais na
regulação da energia nuclear, segundo afirmou, hoje (4), no Rio de Janeiro, o
presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Angelo
Fernando Padilha. O engenheiro acredita que, com a aprovação do projeto que
cria a agência reguladora do setor, “todas as instalações nucleares, inclusive
as de propulsão nuclear, serão licenciadas e fiscalizadas por esta agência”.
A proposta original de criação da agência partiu de especialistas da
comunidade científica e recebeu contribuições, inclusive, da Agência
Internacional de Energia Atômica (Aiea) das Nações Unidas. O texto está,
agora, sob análise do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
“Pressa não é uma postura adequada, mesmo porque as atividades de
licenciamento e fiscalização vêm sendo bem realizadas pela Cnen. Não há
uma deficiência, uma falha que precisa ser corrigida com urgência. É um
processo de aperfeiçoamento”, avaliou Padilha.
A medida foi recomendada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) quando,
em 2009, realizou uma auditoria para avaliar as operações e instalações
nucleares. Os técnicos do tribunal alertaram para a concentração de
competências nas mãos da Cnen. De acordo com a auditoria, unidades
prestadoras de serviço a terceiros, por exemplo, estavam subordinadas à
diretoria responsável pela fiscalização e regulação do setor.
Outra recomendação que continua sendo monitorada pelo órgão de
fiscalização do Poder Executivo diz respeito à falta de servidores no quadro de
pessoal da comissão nuclear. Mesmo com o concurso público realizado para a
34
área, no ano passado, o TCU e a própria Cnen consideram alarmante a
defasagem dos quadros especializados.
“Hoje a Cnen tem 2.500 servidores. Há 20 anos, éramos 3.750. Nossa idade
média [dos servidores] está por volta de 55 a 56 anos. De modo que a situação
de reposição de pessoal na área nuclear é, particularmente, crítica”, lamentou
Ângelo Fernando Padilha.
Em coro com a preocupação do engenheiro, o ministro-substituto do TCU,
Augusto Sherman Cavalcanti, defendeu que é preciso agilizar o recrutamento
de profissionais, considerando que, além da formação superior ou técnica,
esses funcionários precisam ser treinados para as atividades específicas da
Cnen. “A deficiência, em termos de pessoal, já está na marca dos 796
servidores e, como a idade média é elevada, eles tendem a atingir idade para
aposentadoria em breve. A gente acha que esse problema pode se agravar.
De forma que, desde já, se comece a recrutar e treinar novos profissionais”.
Link para esta matéria: http://ucho.info/?p=47071
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16/6/2011 - 11h33
Rejeitos nucleares por Redação Agência Envolverde
A Câmara dos Deputados inicia hoje (16) os debates sobre a polêmica
transferência de rejeitos nucleares do Rio de Janeiro para Goiás. Deputados
federais e estaduais de Goiás, ambientalistas e os reitores da Universidade
Federal de Goiás e da Pontifícia Universidade Católica já estão mobilizados
para defender o arquivamento da proposta. Caso não tenham êxito, os rejeitos
nucleares serão removidos para um aterro sanitário de Abadia de Goiás, a 20
quilômetros de Goiânia, onde já se encontram partes do que restou de um
artefato de Cesio 137, protagonista de um grave acidente radiativo na capital
goiana, em 1987. (Envolverde)
(Agência Envolverde)
36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ANTUNES, Paulo de Bessa, Direito Ambiental, Revista, ampliada e atualizada.
4ª. Edição, Rio de Janeiro, Lumen Juris: 2000.
ANTUNES, Paulo de Bessa. Dano ambiental: Uma Abordagem Conceitual, 1ª
Edição. Rio de Janeiro, Lumen Juris: 2002.
FERREIRA, Ivete Senise. Tutela Penal do Patrimônio Cultural. Biblioteca de
Direito Ambiental. Volume III. São Paulo: RT, 1995.
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 4.
Edição Ampliada, São Paulo, Saraiva: 2003.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14. Edição
Ampliada, São Paulo: Malheiros, 2006.
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional, 4a ed., São Paulo:
Malheiros, 2002.
http://www.sfbbrasil.org/usina_carvao.htm
http://www.patentesonline.com.br/usina-de-energia-a-vapor-67937.html
www.nrcomentada.com.br
www.ipea.gov.br/desafios