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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE OS ASPECTOS RELEVANTES DO TRIBUNAL DO JÚRI Por: Marcia dos Santos Costa Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · comissão de inquérito, ou um conselho de julgamento, com a finalidade de investigar e julgar funcionários do Estado que tivessem

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

OS ASPECTOS RELEVANTES DO TRIBUNAL DO JÚRI

Por: Marcia dos Santos Costa

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

OS ASPECTOS RELEVANTES DO TRIBUNAL DO JÚRI

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito e

Processo Penal.

Por: . Marcia dos Santos Costa

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AGRADECIMENTOS

“... Aos professores que me transmitiram

grande conhecimento;

Ao meu amor, pelo apoio, pela

cumplicidade, pelo carinho e dedicação;

À Mila, pelo companheirismo e amizade

eterna;

E acima de tudo, a DEUS, por tornar isso

realidade, meus sinceros agradecimentos."

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DEDICATÓRIA

“... Dedico a DEUS que me deu condições

de realizar este trabalho. Ao meu amor, por

todo apoio e atenção nas horas difíceis e à

Mila, pela eterna e sincera amizade “.

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RESUMO

O presente trabalho tem por escopo mostrar de forma objetiva e

concisa, os aspectos relevantes da instituição denominada “Tribunal do Júri”.

Será abordado a origem, o conceito, a natureza e competência do

Tribunal, assim como os procedimentos e a atuação dos cidadãos leigos

enquanto jurados.

Palavras chaves: Tribunal do Júri – Procedimentos - Jurados

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METODOLOGIA

A metodologia abordada neste trabalho, apresenta referenciais teóricos

que consistem, especificamente, na pesquisa bibliográfica partindo da leitura

de livros, artigos de revistas e internet, jurisprudências, leis vigentes,

dissertações, além de conclusões pessoais frutos de estudos sobre o tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................09

CAPÍTULO I - Origem.............................................................................10

1.1 – Conselho de Anciões.....................................................................10

1.2 – Grécia.............................................................................................11

1.3 – Roma..............................................................................................12

1.3.1 – Os Períodos Procedimentais.......................................................12

1.3.2 – Quaestiones................................................................................12

1.4 – Tribunais Populares em outros povos............................................14

1.5 – Direito Comparado.........................................................................15

1.5.1 – Inglaterra.....................................................................................15

1.5.2 – América do Norte........................................................................16

1.5.3 – França.........................................................................................16

1.6 – Criação do Júri e a Constituição do Império...................................17

1.6.1 – Júri no Código de Processo Criminal de 1832............................18

1.6.2 – Júri na Constituição de 1891.......................................................23

1.6.3 – Constituição de 1934, Carta de 1937 e Decreto-Lei nº 167

de 1935...................................................................................................23

1.6.4 – Júri na Constituição de 1946......................................................24

1.6.5 – Lei nº 263, de 23 de fevereiro de 1948.......................................25

1.6.6 – Constituição do Brasil de 24 de fevereiro de 1967 e Emenda

de 17 de outubro de 1969.......................................................................26

CAPÍTULO II - O Conceito......................................................................28

2.1 – Previsão Constitucional..................................................................29

2.2 – Garantias Constitucionais...............................................................29

2.3 – Foro Especial..................................................................................31

CAPÍTULO III – Fases do Procedimento.................................................32

3.1 – Judicium Accusationis.....................................................................33

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3.1.1 – Pronúncia.....................................................................................34

3.1.2 – Impronúncia.................................................................................36

3.1.3 – Absolvição Sumária.....................................................................37

3.1.4 – Desclassificação..........................................................................37

3.2 – Judicium Causae............................................................................38

3.2.1 – Desaforamento............................................................................40

CAPÍTULO IV – Instalação da Sessão do Júri........................................42

4.1 – Atribuições do Presidente do Tribunal do Júri................................42

4.2 – Alistamento dos Jurados................................................................43

4.3 – Organização da Pauta....................................................................43

4.4 – Sorteio e Convocação dos Jurados................................................44

4.5 – Função de Jurado...........................................................................44

4.6 – Reunião e Sessões do Tribunal do Júri..........................................46

4.7 – Formação do Conselho de Sentença.............................................48

4.8 – Atos Instrutórios..............................................................................49

4.9 – Debates e Poderes do Juiz.............................................................50

4.10 – Formulação dos Quesitos e Votação............................................52

4.11 – Sentença e Ata de Sessão............................................................53

CONCLUSÃO..........................................................................................55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA..............................................................57

ANEXOS.................................................................................................59

ÍNDICE....................................................................................................85

FOLHA DE AVALIAÇÃO.........................................................................87

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INTRODUÇÃO

É no Tribunal do Júri em que cidadãos, previamente, sorteados,

escolhidos e sob juramento, decidem, de fato, sobre a culpabilidade ou não

dos acusados, na generalidade das infrações penais.

A origem do Júri é até hoje tema bastante polêmico e sem um consenso

entre os pesquisadores. Muito embora haja uma grande parte dos

historiadores que remetam a instituição á época das ordálias inglesas, a

verdade é que há muitos séculos atrás já existiam indícios do Júri enquanto

órgão de julgamento popular.

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CAPÍTULO I

ORIGEM

“O Júri não é instituição de caridade, mas de justiça. Não enxuga

lágrimas integradas no passivo do crime, mas o sangue derramado da

sociedade.” Roberto Lyra

O Tribunal do Júri é uma instituição de origem antiga e incerta, cujo

formato vem sendo moldado desde os povos primitivos: chineses, indús e

judeus (hebreus).

Alguns estudiosos defendem a origem do instituto, surgida entre os

judeus do Egito que, sob a orientação de Moisés, relatam a história da

antiguidade através do livro, o Pentateucho.

As leis de Moisés, ainda que subordinando o magistrado ao sacerdote,

foram, na antiguidade oriental, as primeiras que interessaram os cidadãos nos

julgamentos dos tribunais. Na velha legislação hebraica encontramos o

fundamento e a origem da instituição do Júri.

Moisés deu ao julgamento ao pares, através do Conselho dos Anciãos,

uma característica teocrática, uma vez que a decisão se dava em nome de

Deus.

1.1 – Conselho dos Anciões

O Conselho tinha suas regras definidas, descritas no Pentateucho, que

funcionava à sombra de árvores. A pena a ser fixada não possuía limites pré-

fixados.

O julgamento hebraico exigia ampla publicidade dos debates, relativa

liberdade do acusado para defender-se, garantia contra o perigo de falsas

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testemunhas e necessidade de duas testemunhas, no mínimo, para a

condenação. Era proibido ao acusado que se encontrasse detido, até definitivo

julgamento, sofrer interrogatório oculto. Só eram aceitas recusas motivadas.

Os tribunais eram subdivididos em três, em ordem hierárquica

crescente: o ordinário, o pequeno Conselho dos Anciãos e o grande Conselho

d’Israel.

O Tribunal ordinário era formado por três membros, sendo que cada

parte designava um deles e estes escolhiam o terceiro. Das decisões por eles

proferidas cabia recurso para o pequeno Conselho dos Anciãos, e destas

outras para o grande Conselho d’Israel.

1.2 - Grécia

O sistema de tribunais, na Grécia, era subdividido em dois importantes

órgãos: a Heliéia e o Areópago.

A Heliéia era o principal colégio de Atenas, formada por quinhentos

membros sorteados entre os cidadãos que tivessem, no mínimo, trinta anos,

uma conduta ilibada e que não fossem devedores do Erário. As reuniões

davam-se em praça pública, sendo presididas pelo archote, a quem cabia

decidir pela declaração da culpa de um cidadão.

Ao Areópago, cabia, unicamente, o julgamento de homicídios

premeditados e sacrilégios.

Nestes tribunais o voto não era secreto e, tampouco, admitiam-se

recusas.

Para alguns defensores, da origem grega do tribunal, o Areópago,

encarregado de julgar os crimes de sangue, era guiado pela prudência de um

senso comum jurídico. Seus integrantes, antigos arcontes, seguiam apenas os

ditames de sua consciência. A Heliéia, por sua vez, era um Tribunal Popular,

integrado por um número significativo de heliastas (de 201 a 2.501), todos

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cidadãos optimo jure, que também julgavam, após ouvir a defesa do réu,

segundo sua íntima convicção.

1.3 – Roma

1.3.1. Os Períodos Procedimentais

Foram três os períodos em que se desenvolveu o processo penal

romano: o processo comicial, o acusatório e o da cognitio extra ordinem.

O período comicial se subdividiu em duas partes, inicialmente o

procedimento inquisitório, que era fundado na cognição do órgão perseguidor e

caracterizado pela total ausência de formalidades, onde a coerção era usada

sem que houvesse limites. Posteriormente, veio o procedimento da inquisitio,

onde a coletividade era o órgão judicante, decidindo pelos próprios interesses

ou instituindo e elegendo agentes estatais para tanto.

No período acusatório surgiram as quaestiones perpetuae e a acusatio,

onde não havia um acusador particular.

Por terceiro e último, temos o período da cognitio extra ordinem,

quando, sobre os tribunais especiais das quaestiones, prevaleceram os órgãos

jurisdicionais constituídos pelo príncipe, e voltou a imperar, com o retorno da

cognição espontânea, o procedimento penal ex officio.

1.3.2. Quaestiones

Segundo Rogério Láurea Tucci, não se podia cogitar, até a época do

direito clássico, quando do surgimento das quaestiones, da implantação de um

verdadeiro sistema penal, o princípio da legalidade.

Assim, é no sistema acusatório, com o surgimento das quaestiones

perpetuae, que se vislumbra os traços da instituição do Júri como hoje a

conhecemos.

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A quaestio foi criada pela Lex Calpurnia, de 149 a.C. E era como uma

comissão de inquérito, ou um conselho de julgamento, com a finalidade de

investigar e julgar funcionários do Estado que tivessem prejudicado um

provinciano.

Diversas outras quaestios se seguiram, todas com a mesma finalidade

política e com característica temporária, até que foram se tornando

permanentes (quaestiones perpetuae), dando início à jurisdição penal em

Roma.

A quaestio era presidida por um praetor; este a reunia e formava

sorteando os cidadãos, dirigindo os debates, mantendo a ordem nas sessões,

apurando os votos e pronunciando o veredictum. O jurado ou membro deveria

ter a idade mínima de trinta anos, ser de livre nascimento e não ter sofrido

qualquer punição.

Os jurados eram sorteados através de listas oficiais que continham

cerca de mil nomes, todos colocados em uma urna, sendo possível a recusa

de indivíduos, tanto por parte da acusação como da defesa. Os escolhidos

deveriam estar presentes a todo o procedimento e, ao final, votar pela

condenação, absolvição ou, ainda, por um alargamento da instrução.

No sistema romano, qualquer cidadão poderia exercer o direito de

acusação, com exceção dos incapazes (as mulheres, os filiifamilias e os

libertos) e dos indignos (pessoas reprováveis, às quais se cominara a infâmia).

O acusador deveria oferecer o libelo apontando o crime imputado e a lei

violada pelo acusado. Na hipótese, de mais de um acusador, o presidente

deveria escolher o mais idôneo ou o mais interessado, permanecendo os

demais como subscritores. O titular da acusação era, ainda, obrigado a

permanecer no pólo ativo do processo até o final, não podendo dispor desse

direito, por ter assumido o papel de representante do interesse do povo.

Posteriormente, o acusado tinha seu nome publicado numa tábua, da

qual só saia quando fosse absolvido, enquanto que o libelo permanecia no

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erário público. A citação representava a abertura do prazo de um ano para a

apresentação, caso contrário haveria o confisco de bens do acusado.

Cabia ao acusador a investigação necessária para comprovar a

acusação, e o acusado tinha o direito de acompanhar toda a sua atividade ou

indicar um preposto para controlá-la.

Havia um tempo para discussão, onde cada parte tinha o direito de se

manifestar, inclusive com direito à réplica. Em seguida vinham as provas, as

quais compreendiam a forma documental, testemunhal e os demais meios de

prova. Cumprido o rito estabelecido, o quaesitor proclamava o resultado do

julgamento, o qual poderia ser a absolvição, a condenação, ou o alargamento

da instrução.

Sendo a decisão condenatória, a aplicação da pena era automática,

uma vez que a mesma já vinha determinada na lex que instituíra a quaestio. E

em se tratando de pena absolutória era instaurado novo processo, agora

contra o acusador, que deveria responder pelos seus atos.

1.4 - Tribunais Populares em outros povos

Nos séculos XIV e XV, o povo germânico também adotou a votação por

julgamento popular, através dos tribunais Wehmicos, que existiram na

Westphalia.

Segundo, Arthur Pinto da Rocha, embora tais tribunais retratassem a

rebeldia do direito germânico às instituições romanas e cristãs, revelavam a

tendência dos povos germânicos para a popularização dos juízos.

Contudo, eles eram secretos e desconhecidos juízes (homens livres que

exerciam grande influência em todas as classes e com poderes ilimitados), que

atuavam sob o comando de um Príncipe, designado para determinado cantão

para administrar a justiça.

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Os francos, também, constituíram um Tribunal Popular, o qual recebia a

denominação de Mall, sendo formado de cidadãos livres e homens hábeis, os

rachimburgos, cujo comparecimento era obrigatório, sob pena de multa. Havia,

ainda, uma classe especial de julgadores criada por Carlos Magno, os

scabinos, que tinham jurisdição permanente com a função de ajustar os

julgados e coibir os excessos.

No feudalismo se desenvolveu o julgamento pelos pares, o qual trazia

uma idéia de classes, de maneira que os senhores eram julgados pelos

senhores, e os vassalos pelos vassalos. Assim, deu início a ordem judiciária

moderna, cuja característica é ter feito da administração da justiça, uma

profissão distinta, a obrigação especial e exclusiva de uma ordem de cidadãos.

Em geral, o mesmo procedimento foi seguido pelos teutões e

dinamarqueses, variando apenas na forma de execução das penas. Os

normandos também adotaram esse modelo de julgamento e, como

colonizadores, foram os responsáveis pela implantação do instituto na

Inglaterra, onde o mesmo largamente se desenvolveu.

1.5 – Direito Comparado

1.5.1 - Inglaterra

Na Inglaterra, o Júri recebeu seus liames definitivos, perdendo a

aparência teocrática e tornando-se um ato realizado em nome do povo. Foi

tamanha a importância dada por este povo à instituição, que a mesma se

espalhou pela Europa e pela América.

Em princípio, o Júri inglês era formado por pessoas que, ao mesmo

tempo, testemunhavam e julgavam, formando um só Júri de acusação e

julgamento. Posteriormente, no século XVII, as duas fases passaram a ser

distintas, adotando-se o sigilo do julgamento, e consolidando-se o número de

doze jurados.

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Vale ressaltar que os elementos que fundamentaram o Júri inglês: a

natureza popular do Tribunal, a sua composição por sorteio, o juramento para

o exercício do mandato e o julgamento do cidadão pelos seus pares

concidadãos, de alguma forma, já haviam se manifestado nas civilizações

antigas.

1.5.2 - América do Norte

No século XVII, o Júri se consolidou na América do Norte, antes mesmo

que ali se constituísse uma nação independente, tornando-se um padrão

comum e abrangendo o julgamento geral de todas as causas.

De acordo com Ruy Barbosa, antes de passar das Ilhas Britânicas ao

continente, a velha inspiração do gênio legista dos anglo-saxônicos

estabelecera a sua segunda pátria no solo americano. O Júri foi uma das

instituições mais antigas das colônias inglesas na América do Norte. A patente

foi concedida, em 1629, aos colonos de Plymouth, os pais da América atual, e

assegurava-lhes o julgamento pelo Júri.

E quando se separaram da mãe pátria, segundo, ainda, Ruy Barbosa,

um dos agravos trovejados pelo Congresso Continental, como afronta

suficiente para justificar a revolta, foi o de que o governo de Jorge III os privara,

em muitos casos, do benefício do Júri.

Embora, a organização do Júri não seja idêntica nos diferentes Estados

americanos, os seus lineamentos mostram-se básicos, com todas as

formalidades revestidas de publicidade, em regime de plena oralidade, por sua

vez dotada de contraditoriedade real.

1.5.3 - França

No ano de 1789, a Revolução Francesa, baseada em idéias iluministas,

refletiu também sobre a organização judiciária, tanto que em 30 de abril de

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1790, foi baixado Decreto consagrando o Júri criminal como instituição

judiciária.

Portanto, assim como a França havia assimilado o modelo das colônias

inglesas para formulação da declaração dos direitos humanos, da mesma

forma assimilou o Tribunal do Júri, concedendo-lhe caráter, especialmente,

político.

Os votos do eleitor e do jurado eram os símbolos da soberania

exercidos pelo cidadão francês, sendo que o primeiro era um direito, enquanto

que o segundo constituía-se em obrigação.

Eram características do julgamento popular na França: matéria criminal;

publicidade dos debates; o cidadão deveria ser eleitor para alistar-se como

jurado; o indivíduo que não se inscrevesse na lista de jurados estaria impedido

de concorrer a qualquer função pública, pelo prazo de dois anos; o processo

penal era formado por três fases: a) instrução preparatória; b) Júri de

acusação, formado por oito membros, sorteados de uma lista de trinta

cidadãos; e c) debates e Júri de julgamento, formado por doze membros,

sorteados de uma lista de duzentos cidadãos, com direito de recusa de vinte,

pelas partes, isto é, tanto pelo acusador como pelo acusado; proclamação

individual do voto, sem necessidade de justificativa; para condenação fazia-se

necessária a votação da maioria (nove votos de um total de doze jurados). Ao

contrário do sistema inglês, onde a condenação dependia da totalidade dos

votos.

1.6 - Criação do Júri e a Constituição do Império

A criação do Júri no Brasil, com a Lei de 18 de junho de 1822, ocorreu

com a finalidade específica de atender aos casos de crimes de imprensa,

sendo que o mesmo era formado por Juízes de Fato, num total de vinte e

quatro cidadãos honrados, patriotas e cultos, os quais deveriam ser nomeados

pelo Corregedor e Ouvidores do crime, e a requerimento do Procurador da

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Coroa e Fazenda, que atuava como o Promotor e o Fiscal dos delitos. Os réus

podiam recusar dezesseis dos vinte e quatro nomeados, e só podiam apelar

clemência ao Príncipe, uma vez que só a ele cabia a alteração da sentença

proferida pelo Júri.

José Frederico Marques, acrescenta que coube ao Senado da Câmara

do Rio de Janeiro, em vereação extraordinária de 4 de fevereiro de 1822,

dirigir-se a Sua Alteza, o Príncipe Regente D. Pedro, solicitando a criação do

juízo dos Jurados, para execução da Lei de Liberdade da Imprensa no Rio de

Janeiro.

Mais tarde, na Constituição Política do Império, promulgada em 25 de

março de 1824, ficou estatuído o seguinte:

Art. 151 – O Poder judicial é independente e será composto de juízes e

jurados, os quais terão lugar assim no cível como no crime, nos casos e pelo

modo que os Códigos determinarem.

Art. 152 – Os jurados pronunciam sobre o fato e os juízes aplicam a lei.

1.6.1 - Júri no Código de Processo Criminal de 1832

O Código Criminal do Império deu à instituição do Júri uma abrangência

exagerada, imitando as leis inglesas, norte-americanas e francesas. Trouxe ao

Júri atribuições amplas, superiores ao grau de desenvolvimento da nação, que

se constituía, esquecendo-se, o legislador, de que as instituições judiciárias,

segundo observa Mittermaier, para que tenham bom êxito, também exigem

cultura, terreno e clima apropriados.

Segundo o estabelecido neste Código, em cada distrito havia um juiz de

paz, um escrivão, oficiais de Justiça e inspetores de quarteirão. Em cada termo

encontrava-se um juiz municipal, um promotor público, um escrivão das

execuções, oficiais de justiça e um Conselho de Jurados. No entanto,

poderiam reunir-se dois ou mais termos para formação do Conselho, sendo

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que a cidade principal seria aquela que proporcionasse maior comodidade para

a realização das reuniões.

A partir daquele momento estavam extintas quase todas as formas de

jurisdição ordinária, restando somente o Senado, o Supremo Tribunal de

Justiça, as Relações, os juízes militares, que tinham competência unicamente

para crimes militares, e os juízos eclesiásticos, para tratar de matéria espiritual.

Havia, também, os juízes de paz, aos quais cabiam os julgamentos das

contravenções às posturas municipais e os crimes a que não fosse imposta a

pena de multa de até cem mil-réis, prisão, degredo, ou desterro até seis

meses.

Todos os crimes restantes passavam à competência dos conselhos de

jurados, sendo que o primeiro deles era o Júri de acusação, com vinte e três

jurados, e o segundo era o Júri de sentença, com doze membros.

O conselho reunia-se sob a presidência de um Juiz de Direito, após o

juiz de paz da cabeça do termo ter recebido os autos de corpo de delito e

formação da culpa dos criminosos, também eram formulados por juízes de

paz.

Aptos a serem jurados estavam os eleitores com probidade e bom

senso, com exceção apenas dos: senadores, deputados, conselheiros e

ministros de Estado, bispos, magistrados, oficiais de justiça, juízes

eclesiásticos, vigários, presidentes, secretários dos governos das províncias,

comandantes das armas e dos corpos de primeira linha.

Das listas parciais, dos cidadãos aptos, recebidas dos distritos, as

câmaras municipais, os juízes de paz e os párocos formavam uma lista geral,

excluindo os que não gozassem de conceito público, por falta de inteligência,

integridade e bons costumes, lançando-se o nome dos escolhidos em um livro

próprio e nas portas da câmara municipal, por ordem alfabética. Os

interessados podiam reclamar, por terem sido inscritos ou omitidos na lista,

sendo do dever das câmaras corrigi-la, eliminando ou inscrevendo seus

nomes". Quinze dias depois da publicação da lista, as câmaras municipais

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transcreviam o nome dos alistados em pequenas cédulas, de igual tamanho,

que eram conferidas pelo promotor e lançadas em uma urna em público,

enquanto o secretário da câmara lia os nomes contidos na lista. A urna era

conservada na sala das sessões, depois de fechada com duas chaves

diversas, ficando, uma, com o presidente da câmara e, a outra, com o

promotor.

De acordo com J. C. Mendes de Almeida, as atividades do Júri se dava

da seguinte forma:

No dia do Júri de acusação, eram sorteados sessenta juízes de fato. O

juiz de paz do distrito da sede apresentava os processos de todos os distritos

do termo, remetidos pelos demais juízes de paz, e, preenchidas certas

formalidades legais, o juiz de direito, dirigindo a sessão, encaminhava os

jurados, com os autos, para a sala secreta, onde procediam a confirmação ou

revogação das pronúncias e impronúncias.

O conselho de acusação constituíam os jurados. Só depois de sua

decisão, podiam os réus ser acusados perante o conselho de sentença.

Formavam este segundo Júri doze: à medida que o nome do sorteado fosse

sendo lido pelo juiz de direito, podiam acusador e acusado ou acusados fazer

recusas imotivadas, em número de doze, fora os impedidos.

A excessiva liberalidade conferida pelo Código de Processo Criminal

não poderia durar por muito tempo, o que levou o próprio senador Alves

Branco, autor do Código, a propor uma reforma parcial da legislação, em

setembro de 1835, principalmente no que se referia ao Júri e aos juízes de

paz. Em 31 de janeiro de 1842, veio do Regulamento nº 120, trazendo sérias

alterações no Júri, bem como na organização judiciária nacional.

Pelo referido Regulamento foram criados os cargos de chefe de Polícia,

à época, ocupado por um desembargador ou um juiz de direito, e delegados e

subdelegados distritais, que poderiam ser quaisquer juízes ou cidadãos. Essas

autoridades receberam as funções outrora atribuídas aos juízes de paz,

somando à função policial também a judiciária.

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No que diz respeito aos juízes municipais, estes eram nomeados pelo

Imperador, que os escolhia entre os bacharéis em Direito com um ano de

prática, pelo menos, para exercerem a função por um período de quatro anos,

podendo ser removidos. A eles competia o julgamento do contrabando, quando

não houvesse flagrante. Quando necessário, os juízes municipais eram

substituídos por algum dos seis cidadãos notáveis escolhidos, ou pelo governo

da Corte ou pelos presidentes das províncias, também por quatro anos, com

essa finalidade.

O Júri de acusação foi extinto, passando para a competência dos juízes

municipais, ou das autoridades policiais, desde que com a confirmação

daqueles, a formação da culpa e a sentença de pronúncia.

Os delegados de polícia organizavam a lista de jurados e remetiam para

os juízes de direito, o qual, juntamente com o promotor e o presidente da

câmara municipal, formavam uma junta que conhecia das reclamações e fazia

a lista geral de jurados. Os nomes eram depositados na urna que deveria ser

fechada com três chaves diferentes, ficando cada uma com um membro da

junta.

O juiz de direito era o responsável pela convocação do Júri,

comunicando ao municipal. Qualquer um deles poderia presidir o sorteio dos

quarenta e oito jurados, mas somente ao juiz de direito cabia a aplicação da

pena, conforme as decisões dos jurados.

Foi mantida, pela Lei nº 261, de 03 de dezembro de 1841, a apelação

de ofício, feita pelo juiz de direito perante a Relação, órgão correspondente aos

nossos atuais Tribunais de Justiça. O recurso acontecia sempre que o juiz

entendesse que a decisão fora contrária à evidência das provas, caso em que

era ordenada a realização de novo Júri, onde não se repetiam os juizes e nem

os jurados.

A lei nº 261, em seu art. 66, extinguiu a exigência de unanimidade de

votos feita pelo Código de Processo Criminal para a aplicação da pena de

morte, determinando que a decisão do Júri fosse tomada por duas terças

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partes dos votos, sendo as demais decisões sobre as questões propostas

tomadas pela maioria absoluta, e no caso de empate, adotada a opinião mais

favorável ao acusado.

Com a reforma processual de 1871, foram novamente extintos os

cargos de chefe de polícia, delegado e subdelegado para a formação de culpa

e pronúncia nos crimes comuns. Apenas, permaneceu o chefe de polícia, nos

casos de crime extremamente grave, ou quando no crime estivesse envolvida

alguma pessoa que pudesse prejudicar a ação da Justiça com sua influência.

As pronúncias passaram para a competência dos juízes de direito, nas

comarcas especiais, e dos juízes municipais, nas comarcas gerais.

Com o Decreto nº 4.992, de 03 de janeiro de 1872, cada sessão do Júri

passou a ser presidida pelo desembargador da Relação do distrito, designado

pelo presidente segundo a ordem de antiguidade.

O Júri foi mantido com a Proclamação da República, em 15 de

novembro de 1890, advindo a promulgação do Decreto nº 848, de 11 de

outubro de 1890, o qual criou a Justiça Federal, bem como o Júri Federal,

composto de doze jurados, sorteados entre trinta e seis cidadãos do corpo de

jurados estadual da comarca.

Posteriormente, o Decreto nº 4.780, de 27 de dezembro de 1923,

proclamou a incompetência do Tribunal Popular para julgamento de peculatos,

falsidade, instauração clandestina de aparelhos, transmissores e

interceptadores, de radiotelegrafia ou de radiotelefonia, transmissão ou

interceptação de radiocomunicações oficiais, violação do sigilo de

correspondência, desacato e desobediência, testemunho falso, prevaricação,

resistência, tirada de presos do poder da Justiça, falta de exação no

cumprimento do dever, irregularidade de comportamento; peita, concussão,

estelionato, furto, dano e incêndio, quando afetos ao conhecimento da justiça

federal, por serem praticados contra o patrimônio da nação, interessarem,

mediata ou imediatamente, à administração ou fazenda da união. Restou para

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o Júri os crimes que a lei não houvesse retirado ou retirasse de sua

competência.

1.6.2 - Júri na Constituição de 1891

Com a promulgação da Constituição da República dos Estados Unidos

do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891, foi aprovada a emenda que dava ao art.

72, § 31, o texto "é mantida a instituição do Júri, com sua soberania".

Acerca da forma que teria a instituição, em consonância ao acórdão de

07 de outubro de 1899, o Supremo Tribunal Federal dispôs:

"São características do Tribunal do Júri: I – quanto a composição dos

jurados, a) composta de cidadãos qualificados periodicamente por autoridades

designadas pela lei, tirados de todas as classes sociais, tendo as qualidades

legais previamente estabelecidas para as funções de juiz de fato, com recurso

de admissão e inadmissão na respectiva lista, e b) o conselho de julgamento,

composto de certo numero de juizes, escolhidos a sorte, de entre o corpo dos

jurados, em numero tríplice ou quádruplo, com antecedência sorteados para

servirem em certa sessão, previamente marcada por quem a tiver de presidir, e

depurados pela aceitação ou recusação das partes, limitadas as recusações a

um numero tal que por elas não seja esgotada a urna dos jurados convocados

para a sessão; II – quanto ao funcionamento, a) incomunicabilidade dos

jurados com pessoas estranhas ao Conselho, para evitar sugestões alheias, b)

alegações e provas da acusação e defesa produzidas publicamente perante

ele, c) atribuição de julgarem estes jurados segundo sua consciência, e d)

irresponsabilidade do voto emitido contra ou a favor do réu".

1.6.3 - Constituição de 1934, Carta de 1937 e Decreto-lei nº 167, de

1938

Inovação importante adveio da Constituição da República dos Estados

Unidos do Brasil, de 16 de julho de 1934, com a retirada do antigo texto

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referente ao Júri das declarações de direitos e garantias individuais, passando

para a parte destinada ao Poder Judiciário, no art. 72, dizendo: "É mantida a

instituição do Júri, com a organização e as atribuições que lhe der a lei".

Adiante, com a Constituição de 1937, que não se referia ao Júri, houve

controvérsias no sentido de extingui-la face a omissão da Carta. Contudo, logo

foi promulgada a primeira lei nacional de processo penal do Brasil republicano,

o Decreto-lei n 167, em 05 de janeiro de 1938, instituindo e regulando Tribunal

do Júri.

As alterações, estas, bastante significativas, uma vez que foi extinta a

soberania dos veredictos de forma que, havendo injustiça na decisão, por

divergência com as provas existentes nos autos ou produzidas em plenário,

era aceita a apelação de mérito. Caso fosse dado provimento à apelação, o

próprio Tribunal era quem deveria aplicar a pena justa ou absolver o réu,

segundo os artigos 92, b e 96, do Decreto-lei 167, respectivamente.

Os resultados, com as modificações, foram positivos: houve diminuição

da criminalidade e dos abusos cometidos no Tribunal do Júri e, apesar das

inúmeras críticas sofridas pelo novo regulamento, muitos foram os que

elogiaram aquilo que entendiam como um grande avanço na legislação

processual penal brasileira.

Apesar das mudanças introduzidas pelo Decreto-Lei nº 167 coincidirem

com o período ditatorial, não há correspondência entre ambos, sendo que a

limitação aos poderes do Júri, que coadunaram perfeitamente com o modelo

brasileiro onde predominavam as provas escritas nos autos sobre o Tribunal,

foram menos arbitrárias do que a concessão de indultos absurdos, abrindo as

prisões para delinquentes perigosos.

1.6.4 - Júri na Constituição de 1946

Com a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro

de 1946, veio a restauração da soberania do Júri, inspirada no senso

democrático, na participação do povo no processo criminal. Surge, então, o art.

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141, § 28, onde o termo soberania não deve ser confundido com abuso de

decidir contra a própria evidência dos autos, condenando ou absolvendo

arbitrariamente.

Ao legislador ordinário restou a incumbência de regulamentar e

estruturar juridicamente a instituição, obedecendo a algumas limitações.

Quanto ao funcionamento, ficou vedado o cerceamento de defesa ou o

estabelecimento de julgamentos descobertos.

Quanto à organização, o conselho deveria ser formado por um número

ímpar de jurados, no mínimo três, contrariando o número par tradicionalmente

utilizado, em especial a formação com doze membros.

As últimas limitações impostas foram quanto à competência mínima,

sendo definido que, racione materiae, os crimes dolosos contra a vida eram

exclusivamente julgados pelo Júri, e que não caberia a quaisquer outros

órgãos judiciários reformá-los.

Só seria denominado de Tribunal do Júri o órgão julgador que

obedecesse, rigorosamente, os traços definidos pela constituição de 1946, nas

disposições do art. 141, § 28. Caso contrário, estaria configurada uma

inconstitucionalidade, uma vez que não era permitida à lei ordinária a criação

de tribunais ou juízes não antevistos pela justiça penal dentro da Carta Magna.

Com a Constituição de 18 de setembro de 1946, o art. 101, II, "c", dava

ao Supremo Tribunal competência para julgar em recurso ordinário os crimes

políticos, não poderia haver decisão soberana dos órgãos inferiores em relação

a estes crimes.

1.6.5 - Lei nº 263, de 23 de fevereiro de 1948

A Lei nº 263/48 resultou do Projeto de Lei apresentado em 03 de

outubro de 1946 por Olavo Oliveira, senador e professor de Direito no Estado

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do Ceará. Dos doze artigos contidos no Projeto, apenas o art. 3º, que versava

sobre a contrariedade ao libelo, não encontrou acolhida na Lei.

A referida legislação deu nova redação a vários artigos do Decreto-lei nº

3.689, de 3 de outubro de 1941, ou seja, o nosso Código de Processo Penal

que vige até os dias atuais.

Ficou definida, pelo art. 2º e 3º da Lei nº 263, a competência do Júri

Popular, tanto em razão da matéria, como pela conexão ou continência.

Também houve inovação com o art. 5º da Lei, o qual descreve o

procedimento de quesitação dos jurados a respeito das circunstâncias

agravantes e atenuantes. Já o art. 7º da lei prevê a nulidade por deficiência

dos quesitos ou das respostas, e contradição entre elas.

De relevante importância, porém, foi o art. 8º da Lei, inserindo a

apelação limitada, que visava controlar, através das jurisdições superiores,

para garantir o princípio da soberania das decisões do Júri, os veredictos

populares.

1.6.6 - Constituição do Brasil de 24 de fevereiro de 1967 e Emenda

de 17 de outubro de 1969

A Constituição do Brasil de 1967, em seu art. 150, § 18, manteve o Júri

no capítulo dos direitos e garantias individuais. Da mesma forma, a Emenda

Constitucional de 1969, manteve o Júri, todavia, omitiu referência a sua

soberania.

Diante desse fato, muitos alegaram que estava suprimida a soberania

dos veredictos, mas vários julgados entenderam que não se compreende a

instituição do Júri sem ser soberana, e que o disposto na Emenda

Constitucional não é auto-aplicável, carecendo de regulamentação.

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Como não houve qualquer regulamentação posterior do Tribunal do Júri,

o mesmo continuou com a mesma organização definida pelo Código de

Processo Penal.

Por fim, a Lei nº 5.941, de 22 de novembro de 1973, alterou em alguns

pontos o Código de Processo Penal, estabelecendo a possibilidade de o réu

pronunciado, se primário e de bons antecedentes, continuar em liberdade,

além da redução do tempo para os debates para duas horas e meia hora, para

a réplica e a tréplica, respectivamente.

Em 05 de outubro de 1988, foi promulgada a vigente Constituição da

República Federativa do Brasil, que reconhece a instituição do Júri popular no

capítulo destinado aos direitos e garantias fundamentais, conforme o art. 5º,

XXXVIII.

A lei 11.689, de junho de 2008, fez algumas alterações no Código de

Processo Penal. Agora, o interrogatório dos réus é feito após o depoimento

das testemunhas. Até então, os acusados do crime eram ouvidos primeiro.

Isso foi feito, segundo os juristas, para garantir a ampla defesa dos réus. Com

a mudança, o julgamento segue a seguinte ordem: sorteio dos jurados: sete

são sorteados, entre 40 possíveis. O promotor e o advogado de defesa podem

negar, sem justificativa, três jurados cada; depoimento das testemunhas

(primeiro são ouvidas as arroladas pela acusação, depois as da defesa); leitura

de peças: trechos do processo, como provas recolhidas por carta precatória;

interrogatórios dos réus (acusados do crime respondem a perguntas de defesa

e acusação),os jurados também podem fazer questionamentos, por intermédio

do juiz; debates (são disponibilizadas duas horas e meia para os argumentos

da acusação e o mesmo para a defesa). Depois, há duas horas de réplica e

o tempo igual de tréplica; voto em sala secreta (jurados vão até a sala secreta

e respondem a quesitos estabelecidos pelo juiz). Depois, o magistrado formula

e lê a eventual sentença.

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CAPÍTULO II

O CONCEITO

O conceito de Júri, imputado pelo dicionário Aurélio da língua

portuguesa, diz o seguinte: "Tribunal judiciário constituído por um juiz de

direito, que é o seu presidente, e certo número de cidadãos (jurados), entre os

quais se sorteiam os que formarão, como juízes de fato, o conselho de

sentença, para julgar os crimes de sua exclusiva competência; tribunal do júri”.

Por sua vez, o dicionário jurídico traz um conceito mais específico:

"Instituição judiciária composta de um juiz de direito, que é o presidente do

Tribunal, e de vinte e cinco jurados, sete dos quais constituem o conselho de

sentença, ao qual compete o julgamento de certos crimes com exclusividade",

e, ainda, "o Júri constitui um órgão do Poder Judiciário, com a função

atualmente limitada ao crime, não obstante aspirações constitucionais antigas

de estender sua função à solução de litígios entre os próprios indivíduos nas

questões cíveis.

Pesquisadores do direito averiguaram que a palavra “júri” tem conotação

religiosa, sendo derivada de “juramento” ou “o momento do julgamento

popular, no qual se invoca a Deus por testemunha”, daí o motivo de se “jurar

dizer a verdade, somente a verdade”.

O Tribunal do Júri é um órgão de primeira instância, ou de primeiro grau,

que faz parte da Justiça Comum, podendo ser estadual ou federal. O juiz-

presidente aplica o direito de acordo com os fatos que são julgados pelos

jurados. Aquele, o juiz do direito, aos jurados, o juiz dos fatos. Sobre aquele,

não vigora o princípio da soberania dos veredictos, pelo que o tribunal pode

reformar sua sentença, para majorar ou minorar a pena por ele aplicada. Já

quanto ao julgamento dos fatos pelos jurados, não cabe ingerência pelo órgão

de segundo grau de jurisdição.

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Não há hierarquia entre o juiz presidente e os jurados. Ambos tem

funções diversas e a conjugação de esforços faz a harmonia do tribunal.

O tribunal popular funcionará durante alguns períodos do ano. Desta

forma, a reunião do júri é o período do ano em que o mesmo opera, ao passo

que a sessão do júri concentra a realização do julgamento. Pelo alto número

de crimes dolosos contra a vida, não é raro que o tribunal, em algumas

capitais, opere durante todos os meses do ano.

A decisão por maioria de votos não é necessário, basta a obtenção de

quatro votos num determinado sentido, para que se tenha a majoritariedade na

votação de cada quesito.

2.1. Previsão Constitucional

A Carta Magna de 1988 reconhece a Instituição do Júri Popular no

capítulo destinado aos direitos e garantias fundamentais. Garantia de

sujeição ao tribunal popular, nos crimes de sua competência, para atendimento

ao devido processo legal. E direito, conferido de forma ampla, de participar da

atividade do Judiciário, na condição de jurado (juízes leigos).

Conforme dispõe o Art. 5º, XXXVIII da Constituição Federal:

“É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,

assegurados:

a) a plenitude de defesa;

b) o sigilo das votações;

c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

2.2. Garantias Constitucionais

São garantias constitucionais atribuídas ao Tribunal do Júri:

a) A plenitude de defesa: Revela uma dupla face, afinal, a defesa está

dividida em técnica e autodefesa. A primeira, de natureza obrigatória, é

exercida por profissional habilitado, ao passo que a última é uma faculdade do

imputado, que pode valer-se do direito ao silêncio. Prevalece no júri a

possibilidade não só da utilização de argumentos técnicos, mas também de

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natureza sentimental, social e até mesmo de política criminal, no intuito de

convencer o corpo de jurados.

b) O sigilo das votações: Envolve o voto e o local do voto. Para evitar

intimidação dos jurados, ao final dos debates e não havendo dúvida a ser

esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o

querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão

à sala especial a fim de ser procedida a votação (art. 485, CPP). Em

acréscimo, o seu § 1º preconiza que “na falta de sala especial, o juiz

presidente determinará que o público se retire, permanecendo somente as

pessoas mencionadas no caput deste artigo”.

Para assegurar o sigilo e cumprir a Constituição, é adequado que o juiz

suspenda a divulgação dos demais votos assim que se definir a votação de

cada quesito, evitando que seja o sigilo violado por uma eventual votação

unânime.

c) A soberania dos veredictos: Os jurados julgam os fatos. Esse

julgamento não pode ser modificado pelo juiz togado ou pelo tribunal que

venha a apreciar um recurso. Contudo, em hipótese de julgamento contrário à

prova dos autos, a apelação provida terá o condão de nulificar o julgamento e

mandar o acusado a um novo júri. Note-se que o tribunal não altera o

julgamento para condenar ou absolver o acusado, ou mesmo para acrescer ou

suprimir qualificadora. Como a existência do crime e de suas circunstâncias é

matéria fática, sobre ela recai o princípio da soberania dos veredictos, não

podendo seu núcleo ser vilipendiado, senão por uma nova decisão do tribunal

popular. Entretanto, em prol da inocência, tal princípio não é absoluto,

admitindo-se que o Tribunal de Justiça absolva de pronto o réu condenado

injustamente pelo júri em sentença transitada em julgado, no âmbito da ação

de revisão criminal.

d) A competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida,

tentados ou consumados: Cabe esclarecer, de antemão, que crimes dolosos

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contra a vida não são todos aqueles em que ocorra o evento MORTE. “Para

ser assim denominado, deve estar presente na ação do agente o animus

necandi, ou seja, a atividade criminosa deste deve se desenvolver com o

objetivo de eliminar a vida”.

Para evitar a extinção do instituto, o constituinte protegeu assim sua

competência mínima, em cláusula pétrea gizada no capítulo dos direitos

fundamentais. Além do homicídio (artigo 121), instigação ou auxílio ao suicídio

(artigo 122), infanticídio (artigo 123), aborto (artigos 124 a 127), vão também a

júri as infrações comuns conexas aos crimes dolosos contra a vida. Desta

forma, outros crimes comuns que não são dolosos contra a vida podem ser

apreciados pelos jurados, desde que exista conexão, e mesmo que a infração

conexa seja de menor potencial ofensivo, será atraída ao procedimento

escalonado do tribunal.

Importante destacar que o Latrocínio e o Sequestro com morte são da

competência do juiz singular e não do Tribunal do Júri.

Conforme dispõe o doutrinador Nelson Elias de Andrade: “o legislador

trilhou caminho seguro ao subtrair da apreciação do Tribunal do Júri tais

crimes, pois, embora exista substancialmente crime doloso e tenha havido

homicídio, não se pode dar o mesmo tratamento, motivado tão-somente pela

pesquisa prévia da intenção do agente, que nesse caso não tinha ou não teve

a intenção de matar, mas, tão-somente de roubar, furtar, subtrair, sequestrar,

com fins e para fins econômicos”.

2.3. Foro Especial

Algumas autoridades que possuem foro especial por prerrogativa de função

(que são julgadas originalmente por certos tribunais do Poder Judiciário), caso

pratiquem algum crime doloso contra a vida, não se submeterão ao tribunal do

júri, e sim ao respectivo foro especial. Essa hipótese só diz respeito aos casos

previstos pela Constituição Federal (Súmula nº 721 do STF).

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CAPÍTULO III

FASES DO PROCEDIMENTO

Para que se tenha início uma ação penal de forma válida e concisa é

necessário certos requisitos, entre eles o da justa causa para o seu

oferecimento. Os crimes dolosos contra a vida deixam, em regra, vestígios.

Isso leva a concluir que o exame de corpo de delito é quase sempre um

documento indispensável para a comprovação da materialidade delitiva. A

partir disto, antes do oferecimento da denúncia, ocorrerá um inquérito policial

prévio que a instruirá. Isso não descarta a possibilidade de denúncia com

outras peças de informação.

O entendimento do procedimento especial para o julgamento dos crimes

dolosos contra a vida deve partir da visão estrutural do seu processo. O seu

rito processual é escalonado, isto é, bifásico, com duas fases distintas:

Judicium accusationis e judicium causae. Na primeira é realizada uma análise

das provas e dos fatos sendo concluída com uma decisão de pronúncia,

impronúncia, desclassificação ou absolvição sumária. No caso de pronúncia,

segue uma segunda fase, na qual se efetiva o julgamento em plenário com a

participação dos jurados.

Como se depreende, o divisor de águas das duas fases é a decisão de

pronúncia. Havendo a pronúncia e ocorrida a sua preclusão, “os autos serão

encaminhados ao juiz presidente do tribunal do júri” (art. 421, caput, CPP com

redação determinada pela Lei nº 11.689/2008). O juiz, no prazo de cinco dias,

determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no

caso de queixa, e do defensor, para apresentação dos nomes das

testemunhas que irão depor em plenário.

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3.1. Judicium accusationis

A primeira fase será inaugurada com a denúncia ou queixa subsidiária,

podendo ser recebida ou rejeitada. O órgão da acusação poderá arrolar até

oito testemunhas. Recebida a denúncia, o juiz ordenará a citação do acusado

para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 dias. Esse prazo deve

ser contado a partir do efetivo cumprimento do mandado ou do

comparecimento em juízo do réu ou do seu defensor quando inválida a citação

ou realizada esta por edital. Em suma, o prazo é contado a partir da realização

da diligência.

O rol de testemunhas de cada acusado deve ser apresentado na sua

resposta preliminar escrita. Nos termos do § 3º, do art. 406, CPP, “na resposta,

o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo que interessa à sua defesa,

oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e

arrolar testemunhas, até o máximo de 8(oito), qualificando-as e requerendo

sua intimação, quando necessário”. As exceções serão autuadas e

processadas em apartado.

Caso não seja apresentada a defesa (resposta preliminar escrita), no

prazo legal, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, em até dez dias, abrindo-

lhe vista dos autos (art. 408, CPP). Depois da apresentação da mesma, o

Ministério Público ou o querelante será ouvido sobre as preliminares e dos

documentos carreados (art. 409, CPP).

Concluída essa fase preliminar do judicium accusationis, o juiz

designará audiência de instrução, para que sejam inquiridas testemunhas, e

determinará a realização de diligências requeridas pelas partes (art. 410, CPP).

Conforme dispõe o art. 411 do CPP: na audiência de instrução, será

tomada, se possível, as declarações do ofendido, bem como serão inquiridas

as testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem. As

diligências e perícias (se, previamente, requerido pelas partes e com o

deferimento do juiz) deverão estar concluídas quando da realização dessa

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audiência. Em seguida, será interrogado o acusado (pelo juiz e pelas partes),

com a realização dos debates orais ao final.

O desfecho do judicium accusationis acontecerá após as alegações

orais, apresentadas nos termos do § 4º do art. 411, CPP:”as alegações serão

orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo

prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez)”. Caso haja “mais

de 1(um) acusado, o tempo previsto para a acusação e a defesa de cada um

deles será individual” (§ 5º). A manifestação do assistente de acusação terá

lugar após a do Ministério Público, concedendo-se 10 (dez) minutos. Nesse

caso, será prorrogado por igual período o tempo de manifestação da defesa (§

6º).

A partir daí, pode o magistrado adotar as seguintes posturas:

1) Pronunciar o réu;

2) Impronunciá-lo;

3) Absolve-lo sumariamente;

4) Desclassificar a infração dolosa contra a vida.

3.1.1. Pronúncia

O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da

materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de

participação. Com a decisão de pronúncia, a denúncia passa a ser recebida e

o caso vai para julgamento em plenário.

Conforme dispõe o art. 413, caput e § 1º do CPP: é chamado de

“sentença de pronúncia” a decisão a ser exarada quando o juiz estiver

“convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de

autoria ou de participação”. A pronúncia conterá fundamentação que se limite

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“à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de

autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que

julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as

causas de aumento de pena”. A sentença de pronúncia não põe termo ao

processo, mas fixa os limites da imputação para que tenha início a segunda

fase, a judicium causae.

A sentença de pronúncia tem a natureza de uma decisão interlocutória

mista não terminativa. É mista porque encerra uma fase sem por fim ao

processo. É não terminativa por não decidir o mérito condenatório da ação

penal.

Na sentença de pronúncia não há juízo de certeza do cometimento do

crime, porém é mister que haja possibilidade da acusação.

Se o juiz vê que não há possibilidade de condenação válida por falta da

insuficiência probatória de autoria, não deverá pronunciar o acusado.

A pronúncia é uma decisão com fundamentação técnica, não deve

apreciar circunstâncias judiciais, atenuantes ou agravantes, nem tampouco de

privilégio que reduza a pena. Conterá um relatório e uma fundamentação que

aprecie as provas, sem aprofundar qualquer juízo de condenação. É uma

sentença sem mérito.

Se ocorrer erro de tipificação dos fatos narrados na inicial acusatória,

caberá ao magistrado corrigi-lo na pronúncia, dando a estes o enquadramento

adequado, valendo-se do instituto da emendatio libelli .

Se os fatos revelados na instrução da primeira fase forem distintos dos

narrados na denúncia, como a descoberta de qualificadora não contemplada

na descrição inicial, deve o magistrado, antes de proferir a pronúncia, abrir

vistas ao Ministério Público para que adite a inicial, e na seqüência, oportunizar

que a defesa se manifeste, em até três dias, podendo indicar até três

testemunhas para combater fatos novos.

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Se o acusado é pronunciado pelo crime contra ávida e foi denunciado,

também, por outro crime aquele conexo, o magistrado declarará levados ao júri

os delitos conexos.

Prolatada a pronúncia, devem ser dela intimados pessoalmente, por

publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca

ou por edital, o acusado, o defensor nomeado e o Ministério Público, conforme

arts. 370, § 1º e 420 do CPP.

Por fim, na pronúncia deve o magistrado decidir se o réu enfrentará a

segunda fase de julgamento em liberdade ou não. Só terá cabimento o

encarceramento se estiverem presentes os requisitos da prisão preventiva.

Contra a decisão de pronúncia caberá recurso em sentido estrito.

3.1.2. Impronúncia

Caso o juiz não se convença da existência do crime ou dos indícios da

autoria, deve impronunciar, fundamentadamente, o acusado (art. 414 do CPP).

Entretanto, enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser

formulada nova denúncia ou queixa se aparecerem novas provas.

A decisão por impronúncia não julga o mérito da denúncia, tendo, pois,

conteúdo terminativo. É autêntica sentença porque encerra o processo,

embora não aprecie os fatos com profundidade por deficiência probatória. A

impronúncia encerra o judicium accustionis sem inaugurar a segunda fase.

Para vergastar a impronúncia será cabível apelação, destacando-se sua

natureza de sentença terminativa. O recurso de apelo não tem efeito

regressivo (aquele que autoriza o juiz prolator da decisão se retratar e

modificar o mérito julgado).

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3.1.3. Absolvição Sumária

A absolvição sumária do crime contra a vida julga o mérito da ação

penal, em momento antecipado. A denúncia é julgada improcedente e, por

força da coisa julgada material formada, não pode ser reiniciada demanda

penal pelos mesmo fatos narrados na peça acusatória. A sentença de

absolvição sumária encerra a primeira fase do rito escalonado do júri, sem dar

seguimento à segunda. Como essa decisão afasta a competência do tribunal

popular, só é admissível sua prolação em casos onde não existam dúvidas da

ocorrência de excludente de ilicitude ou de excludente de culpabilidade.

De acordo com o art. 415 do CPP: “O juiz, fundamentadamente,

absolverá desde logo o acusado, quando (1) provada a inexistência do fato; (2)

provado não ser ele autor ou partícipe do fato; (3) o fato não constituir infração

penal e (4) demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime,

salientando contudo, em seu parágrafo único, que não será o caso de se

absolver sumariamente em caso de inimputabilidade prevista no caput do art.

26 do Decreto-Lei nº 2.848/40, salvo quando esta for a única teses defensiva.

É preciso fazer uma observação sobre os crimes conexos ao crime

doloso contra a vida abrangido pela absolvição sumária. Havendo crimes

conexos, o juiz que absolver sumariamente o acusado deve determinar a

extração de cópias dos autos, remetendo-as ao juízo competente.

Contra a decisão de absolvição sumária caberá apelação.

3.1.4. Desclassificação

O magistrado, apreciando os fatos, reconhece que o crime ali descrito é

diverso de quaisquer tipificações de delito contra a vida. Assim sendo, não

deve o juiz dizer o tipo que entende enquadrada a conduta descrita. A opinio

delicti é do Ministério Público. Ele deve apenas afirmar que não se trata de

crime contra a vida e que, por tal motivo, não é o júri competente para apreciar

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o processo. É uma decisão declinatória que assenta a incompetência do júri,

ou seja, é uma decisão interlocutória modificadora de competência.

A desclassificação é prevista no art. 419 do CPP: “quando o juiz se

convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso

dos referidos no §1º do art. 74 e não for competente para o julgamento,

remeterá os autos ao juiz que o seja”, ficando a disposição deste último

magistrado, o acusado preso.

Prolatada a decisão desclassificatória, o processo não segue de

imediato para o juiz declinado ou para o setor de distribuição criminal. Antes é

aguardado o decurso do prazo de recursos. No caso de desclassificação, é

cabível recurso em sentido estrito, a ser interposto tanto pela acusação quanto

pela defesa, por ser tratar de decisum que conclui pela incompetência do juízo,

a teor do art. 581, II do CPP. Só depois de transcorrido in albis o prazo recursal

de cinco dias é que este fato é certificado e o feito segue o destino declinado.

Remetido os autos ao juiz competente, será dada vista dos autos à

defesa, que poderá indicar testemunhas, desde que ainda não ouvidas. Após,

abre-se a possibilidade de requerimento de diligências complementares em 24

horas para a acusação e em igual prazo para a defesa, sucedendo-se às

alegações finais (art. 500 do CPP) e depois sentença.

3.2. judicium causae

Decidindo por pronunciar o réu, terá cabimento o início da segunda fase,

assim que precluso o julgado por ausência de interposição de recurso ou por

confirmação do tribunal ao apreciá-lo. Nas demais hipóteses, abrevia-se o rito,

não havendo início do juízo de mérito perante o tribunal.

Com o advento da Lei nº 11.689/2008, a pronúncia, por si só, delimita a

acusação. As agravantes poderão ser debatidas em plenário.

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Realizadas as diligências requeridas pelas partes, serão iniciadas os

preparativos para a sessão do tribunal do júri. O juiz deliberará sobre os

requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas no plenário do júri.

Adotadas as providências devidas, o juiz presidente: “ordenará as diligências

necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que interesse ao

julgamento da causa” e “fará relatório sucinto do processo, determinando sua

inclusão em pauta da reunião do Tribunal do Júri” (art. 423, I e II, CPP). Com a

previsão de lançamento de relatório prévio nos autos, não será mais impositivo

que o juiz faça a sua leitura durante a sessão de julgamento em plenário.

Até a sessão, documentos e objetos podem ser juntados ou apensados,

com antecedência mínima de três dias, dando-se ciência à outra parte, não

sendo permitida, durante o julgamento, “a leitura de documento ou a exibição

de objeto” que desatenda essa condição (art. 479, CPP).

Para a sessão plenária, se fará o sorteio de sete jurados, dentre os vinte

e cinco, com dezoito ou mais anos de idade, para compor o Conselho de

Sentença. O processo não será mais relatado pelo juiz, pois o relatório já

estará exarado nos autos previamente à sessão.

Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução

plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o

querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as

declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas

pela acusação (art. 473, caput, CPP). Quando da inquirição das testemunhas

arroladas pela defesa, “o defensor do acusado formulará as perguntas antes

do Ministério Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios

estabelecidos neste artigo” (§ 1º). Já os jurados formularão perguntas ao

ofendido e às testemunhas, por intermédio do juiz presidente.

Na sessão plenária é facultado às partes e aos jurados requerimentos

de “acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos

peritos, bem como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às

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provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou

não repetíveis” (§ 3º).

Ao final, será o acusado interrogado. Sua presença é obrigatória na

sessão de julgamento quando estiver preso por crime, caso em que a sessão

pode ser adiada, salvo se for apresentado pedido de dispensa de

comparecimento subscrito por ele e seu defensor (§ 2º, art. 457, CPP). Se

estiver solto, bastará sua intimação da data do julgamento. Durante o período

em que o réu permanecer no plenário do júri, não será permitido o uso de

algemas no acusado, salvo se necessário à ordem dos trabalhos, a segurança

das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes (art. 474,

CPP).

Vale ressaltar que o registro dos depoimentos e do interrogatório será

feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, eletrônica, estenotipia

ou técnica similar. Após a transcrição do registro, a mesma constará dos autos.

Depois de concluída a instrução e encerrados os debates, serão votados

os quesitos pelos jurados e proferida uma sentença, pelo juiz presidente, seja

de absolvição ou seja de condenação.

3.2.1. Desaforamento

É o deslocamento da competência do processo de crime doloso contra a

vida para a comarca mais próxima. Essa alteração do foro do julgamento é de

natureza excepcional, sendo necessário para o seu deferimento, a incidência

de um dos seus pressupostos específicos. A idéia que norteia o desaforamento

é a de que o júri não possa ser realizado no local do cometimento do delito

sem que haja risco para o julgamento, seja no tocante à parcialidade do júri,

seja quanto à segurança do acusado.

O desaforamento, via de regra, só pode ocorrer após a preclusão da

pronúncia do acusado. Não é o desaforamento admitido na pendência de

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recurso contra a decisão de pronúncia ou quando efetivado o julgamento, salvo

neste último caso, “quanto a fato ocorrido durante ou após a realização de

julgamento anulado (§4º, do art. 427 do CPP).

Vale ressaltar que o desaforamento pode ser, tanto, por iniciativa da

parte quanto do juiz, sempre perante o tribunal de segunda instância ao qual

está vinculado o juízo. Quando requerido pela parte, o juiz prestará

informações, sendo seguida de decretação do desaforamento ou seu

indeferimento pelo tribunal. Se a provocação para o desaforamento for por

iniciativa do juiz, mediante representação, não há que se falar em solicitação

de informações ao magistrado. Bastará a decisão do tribunal decretando ou

denegando o desaforamento.

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CAPÍTULO IV

INSTALAÇÃO DA SESSÃO DO JÚRI

Estando o processo maduro para o julgamento pelo tribunal do júri, o

juiz presidente providenciará os preparativos para a sessão. A sessão do júri é

uma reunião periódica do mesmo onde comentam as questões iniciais para a

organização da pauta júri, a começar pela listagem geral de jurados.

4.1. Atribuições do Presidente do Tribunal do Júri:

São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras

expressamente referidas:

►regular a polícia das sessões e prender os desobedientes;

►requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua exclusiva

autoridade;

►dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de

linguagem ou mediante requerimento de uma das partes;

►resolver as questões incidentes que não dependam de

pronunciamento do júri;

►nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso,

podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o

julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor;

►mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realização do

julgamento, o qual prosseguirá sem a sua presença;

►suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das

diligências requeridas ou entendidas necessárias, mantida a

incomunicabilidade dos jurados;

►interromper a sessão por tempo razoável, para proferir sentença e

para repouso ou refeição dos jurados;

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►decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a defesa, ou a

requerimento de qualquer destes, a argüição de extinção de punibilidade;

►resolver as questões de direito suscitadas no curso do julgamento;

►determinar, de ofício ou a requerimento das partes ou de qualquer

jurado, as diligências destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que

prejudique o esclarecimento da verdade;

►regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes,

quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos

para cada parte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.

4.2. Alistamento dos jurados

Antes da organização da pauta, do sorteio e da convocação dos jurados

para a reunião periódica ou extraordinária, será elaborada a listagem geral de

jurados, com a indicação das respectivas profissões. O alistamento dos

jurados é procedido pelo juiz presidente, nos termos do art. 425 do CPP. Os

jurados serão listados com base de informações prestadas por entidades

idôneas (públicas e ou privadas), de que reúnem as condições para o exercício

da função (exercício público relevante), mormente que sejam “cidadãos (estar

em gozo dos direitos políticos), maiores de 18 (dezoito) anos e de notória

idoneidade” (art. 436 do CPP).

O alistamento é anual. A cada ano, serão alistados pelo presidente do

Tribunal do Júri de 800 a 1.500 jurados nas comarcas de mais de um milhão

de habitantes, de 300 a 700 nas comarcas de mais de 100.000 habitantes e de

80 a 400 nas comarcas de menor população.

4.3. Organização da pauta

A organização da pauta do júri pressupõe o alistamento dos jurados em

uma lista geral. Estabelece o art. 429 do CPP: que ressalvado “motivo

relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão preferência:

(1) os acusados presos; (2) dentre os acusados presos, aqueles que estiverem

há mais tempo na prisão e (3) em igualdade de condições, os

precedentemente pronunciados” . “Antes do dia designado para o primeiro

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julgamento da reunião periódica, será afixada na porta do edifício do Tribunal

do Júri a lista dos processos a serem julgados”, conforme o caput do art.429

do CPP, “devendo o juiz presidente reservar datas na mesma reunião periódica

para a inclusão de processo que tiver o julgamento adiado” (§2º do artigo

acima mencionado).

Ainda na organização da pauta, conforme dispõe o art. 430 do CPP: “o

assistente somente será admitido se tiver requerido sua habilitação até cinco

dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar”. Estando o processo em

ordem, o juiz presidente mandará intimar as partes, o ofendido, se for possível,

as testemunhas e peritos, se existir requerimento neste último sentido, para a

sessão de instrução e julgamento.

4.4. Sorteio e Convocação dos Jurados

Após a organização da pauta e a teor do art. 432 do CPP, o juiz

presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do Ministério Público,

da Ordem dos Advogados do Brasil e da defensoria Pública para

acompanharem , em dia e hora designados, o sorteio dos jurados que atuarão

na reunião periódica. O sorteio será realizado a portas abertas, cabendo ao

juiz retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e cinco) jurados

para a reunião periódica ou extraordinária.

O mesmo será realizado entre o décimo quinto e o décimo dias úteis

antecedentes à instalação da reunião. O jurado não sorteado poderá ter seu

nome novamente incluído para as futuras reuniões. Já os jurados sorteados

serão convocados pelo correio ou por qualquer outro meio hábil para

comparecer no dia e hora designados para a reunião.

4.5. Função de Jurado

O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos

maiores de 18 anos de notória idoneidade. Nenhum cidadão poderá ser

excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou

etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau

de instrução. A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor

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de 01 a 10 salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição

econômica do jurado (CPP, art. 436). A recusa fundada em convicção

religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo,

sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço

imposto (CPP, art. 438).

Sem embargo, algumas pessoas, em razão do exercício de cargo,

função pública, mandato eletivo ou por situações particulares justificáveis, são

isentas do serviço do júri.

Estão isentos do serviço do júri (CPP, art. 437):

►o Presidente da República e os Ministros de Estado;

►os Governadores e seus respectivos Secretários;

►os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e

das Câmaras Distrital e Municipais;

►os Prefeitos Municipais;

►os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria

Pública;

►os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da

Defensoria Pública;

►as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública;

►os militares em serviço ativo;

►os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua

dispensa;

►aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento.

O exercício efetivo da função de jurado (não apenas a sua inclusão na

lista, mas o desempenho da função) configura um serviço público relevante e

traz certas vantagens ao jurado. Estabelecerá também presunção de

idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até

o julgamento definitivo (CPP, art. 439).

O jurado, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, será

responsável criminalmente nos mesmos termos em que o são os juízes

togados (CPP, art. 445).

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4.6. Reunião e Sessões do Tribunal do Júri

O dia do julgamento de um processo com um ou mais acusados da

prática de crime doloso contra a vida é iniciada com a conferência, pelo juiz-

presidente, das cédulas com os nomes dos vinte e cinco jurados sorteados

dias antes, mandando que o oficial de justiça faça o pregão quando verificar,

pela chamada feita com base na lista dos vinte e cinco jurados, que houve o

comparecimento de pelo menos quinze deles. São desses vinte e cinco

jurados que serão sorteados os sete que farão parte do conselho de sentença.

“Os jurados excluídos por impedimento ou suspeição serão computados

para a constituição do número legal”, conforme dispõe o §2º, do art. 463, CPP.

Caso não haja o número de quinze jurados, “proceder-se-á ao sorteio de

tantos suplentes quantos necessários, e designar-se-á nova data para a

sessão do júri” (art. 464, CPP), de tudo consignando em ata (art. 465, CPP).

As partes devem estar atentas ao andamento da sessão. Assim que o

juiz constatar o comparecimento de quinze jurados e com a abertura da

sessão, a parte interessada terá o ônus de alegar a nulidade que entende ser

arguida em seu favor. Sobre ela o juiz decidirá, consignando-se em ata. Pode-

se exemplificar com a juntada de provas novas por uma das partes. A rigor, o

documento sequer pode ser mencionado durante o julgamento, se não foi

juntado com antecedência mínima de três dias do início da sessão, dando-se

ciência à parte contrária.

O juiz deve se acautelar para que júri não seja adiado. Algumas faltas

podem inviabilizar a realização do julgamento.

A ausência do acusado solto que tenha sido intimado não justifica sua

condução coercitiva, nem o adiamento do júri. Já se estiver preso, sua

presença é obrigatória, ressalvado pedido expresso de dispensa subscrito pelo

réu e por seu advogado. Já a ausência injustificada do defensor constituído e

do membro do Ministério Público, impõe o adiamento para a data mais

próxima. Quanto às faltas injustificadas, cabíveis são as providências

disciplinares junto aos órgãos de corregedoria das respectivas instituições.

O tribunal popular deve se reunir “para as sessões de instrução e

julgamento nos períodos e na forma estabelecida pela lei local de organização

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judiciária” (art. 453). O juiz presidente, até o momento de abertura dos

trabalhos da sessão, “decidirá os casos de isenção e dispensa de jurados e o

pedido de adiamento de julgamento, mandando consignar em ata as

deliberações” (art. 454).

Se a falta, sem motivo legítimo, for do advogado do acusado, será

comunicado o fato ao presidente da seccional da Ordem dos Advogados do

Brasil, com a data designada para a nova sessão (art. 456). Se não houver

“escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o

acusado ser julgado quando chamado novamente”, caso em que “o juiz

intimará a Defensoria Pública para o novo julgamento, que será adiado para o

primeiro dia desimpedido, observado o prazo mínimo de 10 (dez) dias” (§§ 1º e

2º).

Ao teor do art. 457 do CPP: “o julgamento não será adiado pelo não

comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do

querelante, que tiver sido regularmente intimado”. O tratamento é diferenciado

de forma plausível, eis que, de um lado, o acusado solto é dispensado de

comparecer e, de outro, a figura do assistente não invalida a acusação, diante

da presença do Ministério Público. No que diz respeito ao querelante, sua

ausência enseja perempção caso se trate de ação penal de iniciativa privada.

Se a ação penal privada for subsidiária da pública, deve o Parquet retomá-la

para o fim de ser realizado o júri, sem que seja ele adiado.

As solicitações “de adiamento e as justificações de não comparecimento

deverão ser, salvo comprovado motivo de força maior, previamente submetidos

à apreciação do juiz presidente do tribunal do júri” (§ 1º, art. 457 do CPP). No

tocante ao comparecimento das testemunhas, o art. 458 do CPP, esclarece

que a ausência de testemunha, sem justo motivo, implicará a multa de no valor

“de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos (§ 2º, art. 436 do CPP), sem prejuízo da

ação penal pela desobediência (art. 458 do CPP). O julgamento não será

adiado se a testemunha deixar de comparecer, salvo se uma das partes tiver

requerido a sua intimação por mandado, na oportunidade de que trata o art.

422 do CPP, declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua

localização” (art. 461 do CPP).

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4.7. Formação do Conselho de Sentença

Comparecendo as partes, as testemunhas e o número mínimo de

jurados (15 jurados), será realizado o sorteio dos sete jurados que formarão o

conselho de sentença. “Antes de constituído o Conselho de Sentença, as

testemunhas serão recolhidas a lugar onde umas não possam ouvir os

depoimentos das outras” (art. 460 do CPP).

Nos termos do art. 463, § 1º do CPP, “o oficial de justiça fará o pregão,

certificando a diligência nos autos”.

É mister notar a existência de impedimentos, suspeições e

incompatibilidades legais previstos nos artigos 448 a 449 do CPP. Desse

modo, incompatibilidade, suspeição e/ou impedimento poderão existir, em face

de parentesco com o juiz, com o promotor ou com o advogado, bem como na

hipótese de servir no mesmo conselho marido e mulher, ascendente e

descendente, sogro e genro ou nora, irmãos e cunhados durante o cunhadio,

tio e sobrinho, bem como padrasto, madrasta ou enteado. Não poderá servir o

jurado que tiver manifestado prévia disposição em absolver ou condenar o

acusado. Todavia, se for realizada a sessão com tais nulidade, ela só será

reconhecida se o voto de um jurado tiver sido definidor do resultado do

julgamento.

O sorteio dos sete jurados se dá nome por nome, com possibilidade de

manifestação de recusa, primeiro pela defesa e, depois, da acusação. As

recusas podem ser com ou sem justificativa. O Código estabelece o número de

até três recusas sem motivação, isto é, as chamadas recusas peremptórias.

Além das recusas peremptórias, podem ocorrer recusas justificadas. As

recusas justificadas não têm número de limitação legal, já que estão vinculadas

ás hipóteses de suspeição e de impedimento. Se em face das recusas não

restar o número de jurados para compor o conselho de sentença, acontece o

que se chama de estouro de urna, marcando-se nova data para o julgamento

de um ou mais dos acusados, com separação de processos, com convocação

de suplentes.

Na forma do art. 469 do CPP: “se forem 2 (dois) ou mais os acusados,

as recusas poderão ser feitas por um só defensor”. Por sua vez, “a separação

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dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das recusas, não for obtido o

número mínimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença” (§

1º), uma vez “determinada a separação dos julgamentos, será julgado em

primeiro lugar o acusado a quem foi atribuída a autoria do fato ou, em caso de

co-autoria, aplicar-se-á o critério de preferência do art. 429”, a começar pelo

acusado que estiver preso, com mais tempo de prisão e, por derradeiro, os

precedentemente pronunciados (§ 2º).

Uma vez formado o conselho de sentença, todos os presentes devem

se posicionar de pé, juntamente com o juiz, para a tomada de compromisso

dos jurados, que prometerão julgar com imparcialidade e justiça a causa posta

em mesa, consoante os ditames da convicção íntima (art. 472, CPP). O

parágrafo único deste dispositivo estatui que “o jurado, em seguida, receberá

cópias da pronúncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram

admissível a acusação e do relatório do processo”.

4.8. Atos Instrutórios

Com o conselho de sentença completo, terá lugar a instrução em

plenário, no momento em que “o juiz presidente, o Ministério Público, o

assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão as declarações do

ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação”

(art. 473, caput do CPP). Para a oitiva “das testemunhas arroladas pela

defesa, o defensor do acusado formulará as perguntas antes do Ministério

Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios estabelecidos

neste artigo” (§ 1º). Já os jurados só “poderão formular perguntas ao ofendido

e às testemunhas, por intermédio do juiz presidente” (§2º).

Havendo testemunhas a serem ouvidas, serão tomados os respectivos

depoimentos de modo que uma não ouça o depoimento das outras. São

ouvidas primeiro as testemunhas arroladas pela acusação. Por último, são

ouvidas as indicadas pela defesa. É possível a oitiva de pessoas que não

tenham o dever de dizer a verdade, sendo consignada sua qualidade de

informante.

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De acordo com o § 3º, do art. 473, CPP, “as partes e os jurados poderão

requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento

dos peritos, bem como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às

provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou

não repetíveis”. Caso deseje ler alguma peça processual, a parte deverá assim

proceder durante sua sustentação oral.

Atualmente, o acusado pode silenciar-se, sem que isso possa ser

considerado um prejuízo de sua defesa, nos termos da Constituição do Brasil.

Ao final do interrogatório, as partes podem fazer reperguntas, para que o réu

esclareça algum ponto de suas declarações. Deve-se permitir que sejam feitas

diretamente, sem o intermédio do juiz presidente. No entanto, se este

interceder, haverá mera irregularidade.

O relatório do processo é lançado aos autos antes da sessão de

julgamento e o interrogatório é o ato de encerramento da instrução que

precede os debates orais. Na forma dos §§ 1º e 2º, do art. 474, CPP, “o

Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem,

poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado”, enquanto “os jurados

formularão perguntas por intermédio do juiz presidente”.

Por último, o art. 475 do CPP, já mencionado neste trabalho, aviva que

“o registro dos depoimentos e do interrogatório será feito pelos meios ou

recursos de gravação magnética, entre outros, destinada a obter maior

fidelidade e celeridade na colheita da prova”. “A transcrição do registro, após

feita a degravação, constará dos autos” (parágrafo único).

4.9. Debates e Poderes do Juiz

Depois de concluídos os atos de instrução, serão iniciadas as

sustentações orais, a começar pela da acusação. O promotor de justiça ou o

procurador da república – dividindo o tempo com o assistente de acusação, se

houver – terá até uma hora e meia para produzir a acusação, sendo acrescida

de uma hora se mais de um acusado estiver sendo julgado.

Na sua sustentação oral, o Ministério Público Ministério Público fará a

acusação “nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram

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admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de

circunstância agravante”. O assistente se manifestará oralmente depois do

Ministério Público (§1º). Caso se trate de “ação penal de iniciativa privada,

falará em primeiro lugar o querelante e, em seguida, o Ministério Público, salvo

se este houver retomado a titularidade da ação”.

Os jurados, que se manterão incomunicáveis entre si, sob pena de

multa na forma do art. 436, § 2º do CPP, poderão solicitar a indicação da

página dos autos ou do documento pelo orador, nos termos do parágrafo

único, do art. 480 do CPP.

A teor do art. 478 do CPP: “durante os debates as partes não poderão,

sob pena de nulidade, fazer referências”: (1) “à decisão de pronúncia, às

decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação

do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou

prejudiquem o acusado”; e, (2) “ao silêncio do acusado ou à ausência de

interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo”.

A defesa seguirá com sua sustentação, pelo prazo de uma hora e meia,

sendo aumentada de uma hora quando existir mais de um réu (art. 477, §2º,

CPP). Sendo vários os defensores, eles combinarão entre si a divisão do

tempo. O advogado do acusado responderá a acusação, definindo a tese de

defesa.

Após sua oratória, poderá haver réplica por parte do Ministério Público,

querelante e/ou assistente, pelo tempo de uma hora, elevado esse tempo ao

dobro se existirem mais de um réu. O tempo de réplica será dividido conforme

convencionarem os oradores. Havendo réplica, a defesa poderá apresentar

tréplica (resposta à réplica), pelo mesmo tempo de uma hora (se um acusado

estiver sendo julgado), sendo duplicado se o julgamento for de mais de um

acusado.

Se não houver réplica do acusador, não será oportunizada tréplica à

defesa. Durante os debates, o juiz presidente e os jurados não poderão se

ausentar. Caso haja necessidade, o julgamento deve ser suspenso, inclusive o

tocante à marcação do tempo para a sustentação respectiva. Aos jurados e ao

juiz presidente não é dado sinalizar favoravelmente a qualquer uma das teses.

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Havendo dúvida por parte de algum dos membros do conselho de sentença,

essa pode ser dirigida ao orador por intermédio do juiz.

O juiz regulará os debates, tomando as providências para que sejam os

respectivos tempos registrados e para que seja mantida a ordem da sessão.

Encerrados os debates, o juiz indagará se os jurados estão aptos a julgar os

fatos. Nesse momento, o conselho de sentença pode pedir esclarecimentos.

Tudo com o objetivo de que a conduta imputada e a tese de defesa tenham

sido bem compreendidas. Os jurados terão conhecimento, nessa altura, dos

quesitos a que deverão responder. Serão eles lidos em plenário, com

explicação dos significados correspondentes. Os debatedores também a eles

terão acesso, podendo apontar incorreções e a necessidade de ajustes.

4.10. Formulação dos quesitos e votação

A Lei n.º 11.689/2008 simplificou sobremodo a quesitação. Agora será

seguida a ordem do art. 483 do CPP, questionando-se o Conselho de

Sentença tão-somente sobre a matéria de fato e se o acusado deve ser

abolvido. Dessarte, “os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas,

simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com

suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente

levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que

julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes”

(art. 482, parágrafo único do CPP).

Decerto, os questitos serão formulados na seguinte ordem e

perguntando precisamente sobre: (1) a materialidade do fato (descrição do

crime); (2) a autoria ou participação (se o acusado executou a ação ou para o

seu resultado concorreu); (3) se o acusado deve ser absolvido; (4) se existe

causa de diminuição de pena alegada pela defesa; (5) se existe circunstância

qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em

decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

A resposta em sentido negativo, “de mais de 3 (três) jurados, a qualquer

dos quesitos referidos nos incisos I (materialidade do fato) e II (autoria ou

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participação) do caput do art. 483, CPP, encerra a votação e implica a

absolvição do acusado (§1º).

Uma vez que os jurados decidam pela condenação, o julgamento

prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre: (1) causa de diminuição

de pena alegada pela defesa; e, (2) circunstância qualificadora ou causa de

aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que

julgaram admissível a acusação (§ 3º, art. 483, CPP).

Se “sustentada a desclassificação da infração para outra de

competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser

respondido após o segundo ou terceiro quesito, conforme o caso” (§4º).

Também se “sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada

ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da

competência do tribunal do júri, o juiz formulará quesito acerca destas

questões, para ser respondido após o segundo quesito”.

Não há mais espaço para indagações sobre circunstâncias agravantes

ou atenuantes, sendo a apreciação destas de competência do juiz presidente.

Encerrada a votação do crime doloso contra a vida – e tendo sido ele

apreciado pelos jurados, sem que tenha sido desclassificado para delito de

competência diversa do júri –, será seguida a sequência da votação dos crimes

conexos. Em caso de mais de um acusado, a votação será tomada a começar

pelo que teve participação de maior importância. O juiz deve cuidar para

esclarecer os quesitos, de molde a evitar contradição que comprometa a

validade do julgamento.

4.11. Sentença e Ata de Sessão

Todas as ocorrências da sessão deverão ser registradas em ata. A parte

interessada ou que entender prejudicada por alguma decisão do juiz

presidente, deve consignar os seus protestos de imediato na ata, para que

reitere em eventual apelação. Caso não haja reclamação oportuna, haverá

preclusão sobre o ponto, notadamente quando se cuidar de nulidade relativa,

que depende de alegação tempestiva.

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Por sua vez, a sentença, não havendo desclassificação do crime contra

a vida, deve ser lavrada pelo juiz presidente em conformidade com o que

decidido pelos jurados alusivamente aos fatos. Destarte, a sentença poderá

ser: (1) de absolvição, caso em que o réu deverá ser posto em liberdade de

plano, caso esteja preso, relevando notar que “se houver absolvição imprópria,

ou seja, o reconhecimento da inimputabilidade, impõe-se, neste caso, medida

de segurança”; (2) de desclassificação do crime doloso contra a vida, quando o

juiz-presidente terá a competência para julgar os fatos de forma mais ou

menos ampla a depender da forma do quesito cuja resposta ensejou a

desclassificação, haja vista que se o juiz tiver maior liberdade para definir

juridicamente os fatos, a classificação é denominada doutrinariamente de

própria, enquanto se o júri indicar o crime que foi cometido – como se dá com

o reconhecimento de culpa no homicídio (homicídio culposo) –, a

desclassificação é imprópria. Caso a desclassificação implique no

reconhecimento que se trata de infração de menor potencial ofensivo, deve o

juiz presidente, aguardando a preclusão dos recursos, enviar os autos aos

juizados especiais criminais; e (3) de condenação, quando o juiz deverá narrar

o julgamento pelos jurados e, em seguida, aplicar e dosar a pena, justificando

a decretação ou a manutenção da prisão, se presentes os requisitos da prisão

preventiva (art. 492, I, “e”, CPP).

A decisão no júri é subjetivamente complexa, pois cabe ao juiz

presidente elaborar a sentença de acordo com a votação efetuada pelos

jurados, sendo decisão de um órgão colegiado heterogêneo. Acabada a

sentença, todos voltarão ao plenário, onde esta será lida pelo juiz, saindo as

partes já intimadas para apresentação de eventual recurso, encerrando-se a

sessão de julgamento (art. 493, CPP).

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CONCLUSÃO

O Tribunal do Júri tem competência para o julgamento dos crimes

dolosos contra a vida e segue o princípio do julgamento pelos seus pares.

A instituição do júri é reconhecida pela Constituição Federal em seu art.

5º, XXXVIII. É composta por um juiz presidente e vinte e cinco jurados, dentre

os quais sete constituirão o Conselho de Sentença. Somente podem ser

jurados cidadãos com mais de 18 anos e com notória idoneidade. O serviço do

júri é obrigatório.

A Judicium Accusationis é a primeira fase do rito escalonado e

compreende uma instrução sumária que antecede o recebimento da denúncia.

O juiz ouvirá as testemunhas, interrogará o acusado, determinará diligências e

em seguida decidirá. A decisão poderá ser de pronúncia: o juiz recebe a

denúncia (júri); impronúncia (quando não há elementos suficientes para

convencimento sobre a existência do crime ou indícios da autoria); absolvição

sumária ou desclassificação (não há júri).

O recurso contra a decisão de impronúncia ou absolvição é a apelação.

Contra a decisão de pronúncia é o recurso em sentido estrito.

A Judicium Causae é a segunda fase do rito, onde o Ministério Público

e o defensor tem o prazo de 5 dias para apresentar o rol de testemunhas (até

5).

O desaforamento é o afastamento do julgamento de seu foro natural. É

possível diante dos seguintes critérios: no interesse da ordem pública;

havendo dúvida sobre a imparcialidade do júri; havendo ameaça à segurança

pessoal do acusado; em razão de excesso de serviço.

A formação do Conselho de Sentença se dará a partir dos 25 jurados

sorteados. Estando presentes pelo menos 15, o juiz presidente dará início aos

trabalhos para a formação do Conselho com 7 jurados. Tanto a defesa, como o

Ministério Público, podem recusar imotivadamente até 3 jurados sorteados.

Após o compromisso dos jurados, inicia-se a instrução em plenário, com

a declaração do ofendido, inquirição das testemunhas e interrogatório do

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acusado. Após a instrução, ocorrem os debates e depois a votação dos

quesitos. Os quesitos devem ser formulados em ordem, indagando sobre: a

materialidade do fato; a autoria ou participação; se o acusado deve ser

absolvido; se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; se

existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena. Após a

votação dos quesitos o juiz proferirá a sentença.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1- Lei nº 11.689, de 09 de junho de 2008;

Anexo 2 - http://www.jefersonbotelho.com.br/2010/03/27/sentena-do-jri-caso-isabela - Sentença do Júri do Caso Isabela .

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ANEXO 1

Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.689, DE 9 DE JUNHO DE 2008.

Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o O Capítulo II do Título I do Livro II do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, passa a vigorar com a seguinte redação:

“CAPÍTULO II DO PROCEDIMENTO RELATIVO AOS PROCESSOS DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO

JÚRI

Seção I Da Acusação e da Instrução Preliminar

‘Art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a citação do acusado para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

§ 1o O prazo previsto no caput deste artigo será contado a partir do efetivo cumprimento do mandado ou do comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído, no caso de citação inválida ou por edital.

§ 2o A acusação deverá arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), na denúncia ou na queixa.

§ 3o Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.’ (NR)

‘Art. 407. As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código.’ (NR)

‘Art. 408. Não apresentada a resposta no prazo legal, o juiz nomeará defensor para oferecê-la em até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos.’ (NR)

‘Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias.’ (NR)

‘Art. 410. O juiz determinará a inquirição das testemunhas e a realização das diligências requeridas pelas partes, no prazo máximo de 10 (dez) dias.’ (NR)

‘Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem,

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bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se o debate.

§ 1o Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento e de deferimento pelo juiz.

§ 2o As provas serão produzidas em uma só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

§ 3o Encerrada a instrução probatória, observar-se-á, se for o caso, o disposto no art. 384 deste Código.

§ 4o As alegações serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez).

§ 5o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo previsto para a acusação e a defesa de cada um deles será individual.

§ 6o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.

§ 7o Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível à prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.

§ 8o A testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no caput deste artigo.

§ 9o Encerrados os debates, o juiz proferirá a sua decisão, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.’ (NR)

‘Art. 412. O procedimento será concluído no prazo máximo de 90 (noventa) dias.’ (NR)

Seção II Da Pronúncia, da Impronúncia e da Absolvição Sumária

‘Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.

§ 1o A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena.

§ 2o Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a concessão ou manutenção da liberdade provisória.

§ 3o O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.’ (NR)

‘Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado.

Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova.’ (NR)

‘Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:

I – provada a inexistência do fato;

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II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;

III – o fato não constituir infração penal;

IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.

Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva.’ (NR)

‘Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação.’ (NR)

‘Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de participação de outras pessoas não incluídas na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, determinará o retorno dos autos ao Ministério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no que couber, o art. 80 deste Código.’ (NR)

‘Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave.’ (NR)

‘Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.

Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso.’ (NR)

‘Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita:

I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério Público;

II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do Ministério Público, na forma do disposto no § 1o do art. 370 deste Código.

Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não for encontrado.’ (NR)

‘Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri.

§ 1o Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público.

§ 2o Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.’ (NR)

Seção III Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário

‘Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência.’ (NR)

‘Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas no plenário do júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente:

I – ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa;

II – fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em pauta da reunião do Tribunal do Júri.’ (NR)

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‘Art. 424. Quando a lei local de organização judiciária não atribuir ao presidente do Tribunal do Júri o preparo para julgamento, o juiz competente remeter-lhe-á os autos do processo preparado até 5 (cinco) dias antes do sorteio a que se refere o art. 433 deste Código.

Parágrafo único. Deverão ser remetidos, também, os processos preparados até o encerramento da reunião, para a realização de julgamento.’ (NR)

Seção IV Do Alistamento dos Jurados

‘Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de 100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor população.

§ 1o Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado o número de jurados e, ainda, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especial, com as cautelas mencionadas na parte final do § 3o do art. 426 deste Código.

§ 2o O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairro, entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as condições para exercer a função de jurado.’ (NR)

‘Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões, será publicada pela imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal do Júri.

§ 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva.

§ 2o Juntamente com a lista, serão transcritos os arts. 436 a 446 deste Código.

§ 3o Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais, após serem verificados na presença do Ministério Público, de advogado indicado pela Seção local da Ordem dos Advogados do Brasil e de defensor indicado pelas Defensorias Públicas competentes, permanecerão guardados em urna fechada a chave, sob a responsabilidade do juiz presidente.

§ 4o O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que antecederem à publicação da lista geral fica dela excluído.

§ 5o Anualmente, a lista geral de jurados será, obrigatoriamente, completada.’ (NR)

Seção V Do Desaforamento

‘Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas.

§ 1o O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e terá preferência de julgamento na Câmara ou Turma competente.

§ 2o Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá determinar, fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo júri.

§ 3o Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver sido por ele solicitada.

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§ 4o Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou quando efetivado o julgamento, não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a fato ocorrido durante ou após a realização de julgamento anulado.’ (NR)

‘Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia.

§ 1o Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se computará o tempo de adiamentos, diligências ou incidentes de interesse da defesa.

§ 2o Não havendo excesso de serviço ou existência de processos aguardando julgamento em quantidade que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reuniões periódicas previstas para o exercício, o acusado poderá requerer ao Tribunal que determine a imediata realização do julgamento.’ (NR)

Seção VI Da Organização da Pauta

‘Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão preferência:

I – os acusados presos;

II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;

III – em igualdade de condições, os precedentemente pronunciados.

§ 1o Antes do dia designado para o primeiro julgamento da reunião periódica, será afixada na porta do edifício do Tribunal do Júri a lista dos processos a serem julgados, obedecida a ordem prevista no caput deste artigo.

§ 2o O juiz presidente reservará datas na mesma reunião periódica para a inclusão de processo que tiver o julgamento adiado.’ (NR)

‘Art. 430. O assistente somente será admitido se tiver requerido sua habilitação até 5 (cinco) dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar.’ (NR)

‘Art. 431. Estando o processo em ordem, o juiz presidente mandará intimar as partes, o ofendido, se for possível, as testemunhas e os peritos, quando houver requerimento, para a sessão de instrução e julgamento, observando, no que couber, o disposto no art. 420 deste Código.’ (NR)

Seção VII Do Sorteio e da Convocação dos Jurados

‘Art. 432. Em seguida à organização da pauta, o juiz presidente determinará a intimação do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil e da Defensoria Pública para acompanharem, em dia e hora designados, o sorteio dos jurados que atuarão na reunião periódica.’ (NR)

‘Art. 433. O sorteio, presidido pelo juiz, far-se-á a portas abertas, cabendo-lhe retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e cinco) jurados, para a reunião periódica ou extraordinária.

§ 1o O sorteio será realizado entre o 15o (décimo quinto) e o 10o (décimo) dia útil antecedente à instalação da reunião.

§ 2o A audiência de sorteio não será adiada pelo não comparecimento das partes.

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§ 3o O jurado não sorteado poderá ter o seu nome novamente incluído para as reuniões futuras.’ (NR)

‘Art. 434. Os jurados sorteados serão convocados pelo correio ou por qualquer outro meio hábil para comparecer no dia e hora designados para a reunião, sob as penas da lei.

Parágrafo único. No mesmo expediente de convocação serão transcritos os arts. 436 a 446 deste Código.’ (NR)

‘Art. 435. Serão afixados na porta do edifício do Tribunal do Júri a relação dos jurados convocados, os nomes do acusado e dos procuradores das partes, além do dia, hora e local das sessões de instrução e julgamento.’ (NR)

Seção VIII Da Função do Jurado

‘Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade.

§ 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução.

§ 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado.’ (NR)

‘Art. 437. Estão isentos do serviço do júri:

I – o Presidente da República e os Ministros de Estado;

II – os Governadores e seus respectivos Secretários;

III – os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais;

IV – os Prefeitos Municipais;

V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública;

VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública;

VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública;

VIII – os militares em serviço ativo;

IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa;

X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento.’ (NR)

‘Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2o O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.’ (NR)

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‘Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado constituirá serviço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento definitivo.’ (NR)

‘Art. 440. Constitui também direito do jurado, na condição do art. 439 deste Código, preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoção funcional ou remoção voluntária.’ (NR)

‘Art. 441. Nenhum desconto será feito nos vencimentos ou salário do jurado sorteado que comparecer à sessão do júri.’ (NR)

‘Art. 442. Ao jurado que, sem causa legítima, deixar de comparecer no dia marcado para a sessão ou retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente será aplicada multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a sua condição econômica.’ (NR)

‘Art. 443. Somente será aceita escusa fundada em motivo relevante devidamente comprovado e apresentada, ressalvadas as hipóteses de força maior, até o momento da chamada dos jurados.’ (NR)

‘Art. 444. O jurado somente será dispensado por decisão motivada do juiz presidente, consignada na ata dos trabalhos.’ (NR)

‘Art. 445. O jurado, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, será responsável criminalmente nos mesmos termos em que o são os juízes togados.’ (NR)

‘Art. 446. Aos suplentes, quando convocados, serão aplicáveis os dispositivos referentes às dispensas, faltas e escusas e à equiparação de responsabilidade penal prevista no art. 445 deste Código.’ (NR)

Seção IX Da Composição do Tribunal do Júri e da Formação do Conselho de Sentença

‘Art. 447. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento.’ (NR)

‘Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho:

I – marido e mulher;

II – ascendente e descendente;

III – sogro e genro ou nora;

IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio;

V – tio e sobrinho;

VI – padrasto, madrasta ou enteado.

§ 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar.

§ 2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados.’ (NR)

‘Art. 449. Não poderá servir o jurado que:

I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa determinante do julgamento posterior;

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II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou o outro acusado;

III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado.’ (NR)

‘Art. 450. Dos impedidos entre si por parentesco ou relação de convivência, servirá o que houver sido sorteado em primeiro lugar.’ (NR)

‘Art. 451. Os jurados excluídos por impedimento, suspeição ou incompatibilidade serão considerados para a constituição do número legal exigível para a realização da sessão.’ (NR)

‘Art. 452. O mesmo Conselho de Sentença poderá conhecer de mais de um processo, no mesmo dia, se as partes o aceitarem, hipótese em que seus integrantes deverão prestar novo compromisso.’ (NR)

Seção X Da reunião e das sessões do Tribunal do Júri

‘Art. 453. O Tribunal do Júri reunir-se-á para as sessões de instrução e julgamento nos períodos e na forma estabelecida pela lei local de organização judiciária.’ (NR)

‘Art. 454. Até o momento de abertura dos trabalhos da sessão, o juiz presidente decidirá os casos de isenção e dispensa de jurados e o pedido de adiamento de julgamento, mandando consignar em ata as deliberações.’ (NR)

‘Art. 455. Se o Ministério Público não comparecer, o juiz presidente adiará o julgamento para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, cientificadas as partes e as testemunhas.

Parágrafo único. Se a ausência não for justificada, o fato será imediatamente comunicado ao Procurador-Geral de Justiça com a data designada para a nova sessão.’ (NR)

‘Art. 456. Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do acusado, e se outro não for por este constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão.

§ 1o Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o acusado ser julgado quando chamado novamente.

§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo julgamento, que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o prazo mínimo de 10 (dez) dias.’ (NR)

‘Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.

§ 1o Os pedidos de adiamento e as justificações de não comparecimento deverão ser, salvo comprovado motivo de força maior, previamente submetidos à apreciação do juiz presidente do Tribunal do Júri.

§ 2o Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu defensor.’ (NR)

‘Art. 458. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de comparecer, o juiz presidente, sem prejuízo da ação penal pela desobediência, aplicar-lhe-á a multa prevista no § 2o do art. 436 deste Código.’ (NR)

‘Art. 459. Aplicar-se-á às testemunhas a serviço do Tribunal do Júri o disposto no art. 441 deste Código.’ (NR)

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‘Art. 460. Antes de constituído o Conselho de Sentença, as testemunhas serão recolhidas a lugar onde umas não possam ouvir os depoimentos das outras.’ (NR)

‘Art. 461. O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de comparecer, salvo se uma das partes tiver requerido a sua intimação por mandado, na oportunidade de que trata o art. 422 deste Código, declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua localização.

§ 1o Se, intimada, a testemunha não comparecer, o juiz presidente suspenderá os trabalhos e mandará conduzi-la ou adiará o julgamento para o primeiro dia desimpedido, ordenando a sua condução.

§ 2o O julgamento será realizado mesmo na hipótese de a testemunha não ser encontrada no local indicado, se assim for certificado por oficial de justiça.’ (NR)

‘Art. 462. Realizadas as diligências referidas nos arts. 454 a 461 deste Código, o juiz presidente verificará se a urna contém as cédulas dos 25 (vinte e cinco) jurados sorteados, mandando que o escrivão proceda à chamada deles.’ (NR)

‘Art. 463. Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados, o juiz presidente declarará instalados os trabalhos, anunciando o processo que será submetido a julgamento.

§ 1o O oficial de justiça fará o pregão, certificando a diligência nos autos.

§ 2o Os jurados excluídos por impedimento ou suspeição serão computados para a constituição do número legal.’ (NR)

‘Art. 464. Não havendo o número referido no art. 463 deste Código, proceder-se-á ao sorteio de tantos suplentes quantos necessários, e designar-se-á nova data para a sessão do júri.’ (NR)

‘Art. 465. Os nomes dos suplentes serão consignados em ata, remetendo-se o expediente de convocação, com observância do disposto nos arts. 434 e 435 deste Código.’ (NR)

‘Art. 466. Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, o juiz presidente esclarecerá sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades constantes dos arts. 448 e 449 deste Código.

§ 1o O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2o do art. 436 deste Código.

§ 2o A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo oficial de justiça.’ (NR)

‘Art. 467. Verificando que se encontram na urna as cédulas relativas aos jurados presentes, o juiz presidente sorteará 7 (sete) dentre eles para a formação do Conselho de Sentença.’ (NR)

‘Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo retiradas da urna, o juiz presidente as lerá, e a defesa e, depois dela, o Ministério Público poderão recusar os jurados sorteados, até 3 (três) cada parte, sem motivar a recusa.

Parágrafo único. O jurado recusado imotivadamente por qualquer das partes será excluído daquela sessão de instrução e julgamento, prosseguindo-se o sorteio para a composição do Conselho de Sentença com os jurados remanescentes.’ (NR)

‘Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas poderão ser feitas por um só defensor.

§ 1o A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das recusas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de Sentença.

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§ 2o Determinada a separação dos julgamentos, será julgado em primeiro lugar o acusado a quem foi atribuída a autoria do fato ou, em caso de co-autoria, aplicar-se-á o critério de preferência disposto no art. 429 deste Código.’ (NR)

‘Art. 470. Desacolhida a argüição de impedimento, de suspeição ou de incompatibilidade contra o juiz presidente do Tribunal do Júri, órgão do Ministério Público, jurado ou qualquer funcionário, o julgamento não será suspenso, devendo, entretanto, constar da ata o seu fundamento e a decisão.’ (NR)

‘Art. 471. Se, em conseqüência do impedimento, suspeição, incompatibilidade, dispensa ou recusa, não houver número para a formação do Conselho, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido, após sorteados os suplentes, com observância do disposto no art. 464 deste Código.’ (NR)

‘Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presidente, levantando-se, e, com ele, todos os presentes, fará aos jurados a seguinte exortação:

Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.

Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão:

Assim o prometo.

Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá cópias da pronúncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo.’ (NR)

Seção XI Da Instrução em Plenário

‘Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação.

§ 1o Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado formulará as perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios estabelecidos neste artigo.

§ 2o Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às testemunhas, por intermédio do juiz presidente.

§ 3o As partes e os jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis.’ (NR)

‘Art. 474. A seguir será o acusado interrogado, se estiver presente, na forma estabelecida no Capítulo III do Título VII do Livro I deste Código, com as alterações introduzidas nesta Seção.

§ 1o O Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado.

§ 2o Os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz presidente.

§ 3o Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes.’ (NR)

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‘Art. 475. O registro dos depoimentos e do interrogatório será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, eletrônica, estenotipia ou técnica similar, destinada a obter maior fidelidade e celeridade na colheita da prova.

Parágrafo único. A transcrição do registro, após feita a degravação, constará dos autos.’ (NR)

Seção XII Dos Debates

‘Art. 476. Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.

§ 1o O assistente falará depois do Ministério Público.

§ 2o Tratando-se de ação penal de iniciativa privada, falará em primeiro lugar o querelante e, em seguida, o Ministério Público, salvo se este houver retomado a titularidade da ação, na forma do art. 29 deste Código.

§ 3o Finda a acusação, terá a palavra a defesa.

§ 4o A acusação poderá replicar e a defesa treplicar, sendo admitida a reinquirição de testemunha já ouvida em plenário.’ (NR)

‘Art. 477. O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora e meia para cada, e de uma hora para a réplica e outro tanto para a tréplica.

§ 1o Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, combinarão entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo, será dividido pelo juiz presidente, de forma a não exceder o determinado neste artigo.

§ 2o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado o disposto no § 1o deste artigo.’ (NR)

‘Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:

I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado;

II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo.’ (NR)

‘Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte.

Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.’ (NR)

‘Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.

§ 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros esclarecimentos.

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§ 2o Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos à vista dos autos.

§ 3o Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presidente.’ (NR)

‘Art. 481. Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como essencial para o julgamento da causa, não puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho, ordenando a realização das diligências entendidas necessárias.

Parágrafo único. Se a diligência consistir na produção de prova pericial, o juiz presidente, desde logo, nomeará perito e formulará quesitos, facultando às partes também formulá-los e indicar assistentes técnicos, no prazo de 5 (cinco) dias.’ (NR)

Seção XIII Do Questionário e sua Votação

‘Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido.

Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes.’ (NR)

‘Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre:

I – a materialidade do fato;

II – a autoria ou participação;

III – se o acusado deve ser absolvido;

IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.

§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:

O jurado absolve o acusado?

§ 3o Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre:

I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

§ 4o Sustentada a desclassificação da infração para outra de competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido após o 2o (segundo) ou 3o (terceiro) quesito, conforme o caso.

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§ 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.

§ 6o Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão formulados em séries distintas.’ (NR)

‘Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e indagará das partes se têm requerimento ou reclamação a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão, constar da ata.

Parágrafo único. Ainda em plenário, o juiz presidente explicará aos jurados o significado de cada quesito.’ (NR)

‘Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação.

§ 1o Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o público se retire, permanecendo somente as pessoas mencionadas no caput deste artigo.

§ 2o O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida qualquer intervenção que possa perturbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar da sala quem se portar inconvenientemente.’ (NR)

‘Art. 486. Antes de proceder-se à votação de cada quesito, o juiz presidente mandará distribuir aos jurados pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra sim, 7 (sete) a palavra não.’ (NR)

‘Art. 487. Para assegurar o sigilo do voto, o oficial de justiça recolherá em urnas separadas as cédulas correspondentes aos votos e as não utilizadas.’ (NR)

‘Art. 488. Após a resposta, verificados os votos e as cédulas não utilizadas, o presidente determinará que o escrivão registre no termo a votação de cada quesito, bem como o resultado do julgamento.

Parágrafo único. Do termo também constará a conferência das cédulas não utilizadas.’ (NR)

‘Art. 489. As decisões do Tribunal do Júri serão tomadas por maioria de votos.’ (NR)

‘Art. 490. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em contradição com outra ou outras já dadas, o presidente, explicando aos jurados em que consiste a contradição, submeterá novamente à votação os quesitos a que se referirem tais respostas.

Parágrafo único. Se, pela resposta dada a um dos quesitos, o presidente verificar que ficam prejudicados os seguintes, assim o declarará, dando por finda a votação.’ (NR)

‘Art. 491. Encerrada a votação, será o termo a que se refere o art. 488 deste Código assinado pelo presidente, pelos jurados e pelas partes.’ (NR)

Seção XIV Da sentença

‘Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:

I – no caso de condenação:

a) fixará a pena-base;

b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos debates;

c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às causas admitidas pelo júri;

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d) observará as demais disposições do art. 387 deste Código;

e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva;

f) estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da condenação;

II – no caso de absolvição:

a) mandará colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não estiver preso;

b) revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas;

c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabível.

§ 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

§ 2o Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1o deste artigo.’ (NR)

‘Art. 493. A sentença será lida em plenário pelo presidente antes de encerrada a sessão de instrução e julgamento.’ (NR)

Seção XV Da Ata dos Trabalhos

‘Art. 494. De cada sessão de julgamento o escrivão lavrará ata, assinada pelo presidente e pelas partes.’ (NR)

‘Art. 495. A ata descreverá fielmente todas as ocorrências, mencionando obrigatoriamente:

I – a data e a hora da instalação dos trabalhos;

II – o magistrado que presidiu a sessão e os jurados presentes;

III – os jurados que deixaram de comparecer, com escusa ou sem ela, e as sanções aplicadas;

IV – o ofício ou requerimento de isenção ou dispensa;

V – o sorteio dos jurados suplentes;

VI – o adiamento da sessão, se houver ocorrido, com a indicação do motivo;

VII – a abertura da sessão e a presença do Ministério Público, do querelante e do assistente, se houver, e a do defensor do acusado;

VIII – o pregão e a sanção imposta, no caso de não comparecimento;

IX – as testemunhas dispensadas de depor;

X – o recolhimento das testemunhas a lugar de onde umas não pudessem ouvir o depoimento das outras;

XI – a verificação das cédulas pelo juiz presidente;

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XII – a formação do Conselho de Sentença, com o registro dos nomes dos jurados sorteados e recusas;

XIII – o compromisso e o interrogatório, com simples referência ao termo;

XIV – os debates e as alegações das partes com os respectivos fundamentos;

XV – os incidentes;

XVI – o julgamento da causa;

XVII – a publicidade dos atos da instrução plenária, das diligências e da sentença.’ (NR)

‘Art. 496. A falta da ata sujeitará o responsável a sanções administrativa e penal.’ (NR)

Seção XVI Das Atribuições do Presidente do Tribunal do Júri

‘Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além de outras expressamente referidas neste Código:

I – regular a polícia das sessões e prender os desobedientes;

II – requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua exclusiva autoridade;

III – dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de linguagem ou mediante requerimento de uma das partes;

IV – resolver as questões incidentes que não dependam de pronunciamento do júri;

V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor;

VI – mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realização do julgamento, o qual prosseguirá sem a sua presença;

VII – suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização das diligências requeridas ou entendidas necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jurados;

VIII – interromper a sessão por tempo razoável, para proferir sentença e para repouso ou refeição dos jurados;

IX – decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a defesa, ou a requerimento de qualquer destes, a argüição de extinção de punibilidade;

X – resolver as questões de direito suscitadas no curso do julgamento;

XI – determinar, de ofício ou a requerimento das partes ou de qualquer jurado, as diligências destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o esclarecimento da verdade;

XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta última.’ (NR)”

Art. 2o O art. 581 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 581 ....................................................................

........................................................................................................

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IV – que pronunciar o réu;

.............................................................................................

VI – (revogado);

...................................................................................” (NR)

Art. 3o Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data de sua publicação.

Art. 4o Ficam revogados o inciso VI do caput do art. 581 e o Capítulo IV do Título II do Livro III, ambos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal.

Brasília, 9 de junho de 2008; 187o da Independência e 120o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Tarso Genro

Este texto não substitui o publicado no DOU de 10.6.2008

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ANEXO 2

Sentença do Júri "Caso Isabela" http://www.jefersonbotelho.com.br/2010/03/27/sentena-do-jri-caso-isabela/ 27 de March de 2010

VISTOS etc.

ALEXANDRE ALVES NARDONI e ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ, qualificados nos autos, foram denunciados pelo Ministério Público porque no dia 29 de março de 2.008, por volta de 23:49 horas, na rua Santa Leocádia, nº 138, apartamento 62, vila Isolina Mazei, nesta Capital, agindo em concurso e com identidade de propósitos, teriam praticado crime de homicídio triplamente qualificado pelo meio cruel (asfixia mecânica e sofrimento intenso), utilização de recurso que impossibilitou a defesa da ofendida (surpresa na esganadura e lançamento inconsciente pela janela) e com o objetivo de ocultar crime anteriormente cometido (esganadura e ferimentos praticados anteriormente contra a mesma vítima) contra a menina ISABELLA OLIVEIRA NARDONI.

Aponta a denúncia também que os acusados, após a prática do crime de homicídio referido acima, teriam incorrido também no delito de fraude processual, ao alterarem o local do crime com o objetivo de inovarem artificiosamente o estado do lugar e dos objetos ali existentes, com a finalidade de induzir a erro o juiz e os peritos e, com isso, produzir efeito em processo penal que viria a ser iniciado.

2. Após o regular processamento do feito em Juízo, os réus acabaram sendo pronunciados, nos termos da denúncia, remetendo-se a causa assim a julgamento ao Tribunal do Júri, cuja decisão foi mantida em grau de recurso.

3. Por esta razão, os réus foram então submetidos a julgamento perante este Egrégio 2º Tribunal do Júri da Capital do Fórum Regional de Santana, após cinco dias de trabalhos, acabando este Conselho Popular, de acordo com o termo de votação anexo, reconhecendo que os acusados praticaram, em concurso, um crime de homicídio contra a vítima Isabella Oliveira Nardoni, pessoa menor de 14 anos, triplamente qualificado pelo meio cruel, pela utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima e para garantir a ocultação de delito anterior, ficando assim afastada a tese única sustentada pela Defesa dos réus em Plenário de negativa de autoria.

Além disso, reconheceu ainda o Conselho de Sentença que os réus também praticaram, naquela mesma ocasião, o crime conexo de fraude processual qualificado.

É a síntese do necessário.

FUNDAMENTAÇÃO.

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4. Em razão dessa decisão, passo a decidir sobre a pena a ser imposta a cada um dos acusados em relação a este crime de homicídio pelo qual foram considerados culpados pelo Conselho de Sentença.

Uma vez que as condições judiciais do art. 59 do Código Penal não se mostram favoráveis em relação a ambos os acusados, suas penas-base devem ser fixadas um pouco acima do mínimo legal.

Isto porque a culpabilidade, a personalidade dos agentes, as circunstâncias e as conseqüências que cercaram a prática do crime, no presente caso concreto, excederam a previsibilidade do tipo legal, exigindo assim a exasperação de suas reprimendas nesta primeira fase de fixação da pena, como forma de reprovação social à altura que o crime e os autores do fato merecem.

Com efeito, as circunstâncias específicas que envolveram a prática do crime ora em exame demonstram a presença de uma frieza emocional e uma insensibilidade acentuada por parte dos réus, os quais após terem passado um dia relativamente tranqüilo ao lado da vítima, passeando com ela pela cidade e visitando parentes, teriam, ao final do dia, investido de forma covarde contra a mesma, como se não possuíssem qualquer vínculo afetivo ou emocional com ela, o que choca o sentimento e a sensibilidade do homem médio, ainda mais porque o conjunto probatório trazido aos autos deixou bem caracterizado que esse desequilíbrio emocional demonstrado pelos réus constituiu a mola propulsora para a prática do homicídio.

De igual forma relevante as conseqüências do crime na presente hipótese, notadamente em relação aos familiares da vítima.

Porquanto não se desconheça que em qualquer caso de homicídio consumado há sofrimento em relação aos familiares do ofendido, no caso específico destes autos, a angústia acima do normal suportada pela mãe da criança Isabella, Srª. Ana Carolina Cunha de Oliveira, decorrente da morte da filha, ficou devidamente comprovada nestes autos, seja através do teor de todos os depoimentos prestados por ela nestes autos, seja através do laudo médico-psiquiátrico que foi apresentado por profissional habilitado durante o presente julgamento, após realizar consulta com a mesma, o que impediu inclusive sua permanência nas dependências deste Fórum, por ainda se encontrar, dois anos após os fatos, em situação aguda de estresse (F43.0 – CID 10), face ao monstruoso assédio a que a mesma foi obrigada a ser submetida como decorrência das condutas ilícitas praticadas pelos réus, o que é de conhecimento de todos, exigindo um maior rigor por parte do Estado-Juiz quanto à reprovabilidade destas condutas.

A análise da culpabilidade, das personalidades dos réus e das circunstâncias e conseqüências do crime, como foi aqui realizado, além de possuir fundamento legal expresso no mencionado art. 59 do Código Penal, visa também atender ao princípio da individualização da pena, o qual constitui vetor de atuação dentro da legislação penal brasileira, na lição sempre lúcida do professor e magistrado Guilherme de Souza Nucci:

"Quanto mais se cercear a atividade individualizadora do juiz na aplicação da pena, afastando a possibilidade de que analise a personalidade, a conduta social, os antecedentes, os motivos, enfim, os critérios que são subjetivos, em cada caso concreto,

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mais cresce a chance de padronização da pena, o que contraria, por natureza, o princípio constitucional da individualização da pena, aliás, cláusula pétrea" ("Individualização da Pena", Ed. RT, 2ª edição, 2007, pág. 195).

Assim sendo, frente a todas essas considerações, majoro a pena-base para cada um dos réus em relação ao crime de homicídio praticado por eles, qualificado pelo fato de ter sido cometido para garantir a ocultação de delito anterior (inciso V, do parágrafo segundo do art. 121 do Código Penal) no montante de 1/3 (um terço), o que resulta em 16 (dezesseis) anos de reclusão, para cada um deles.

Como se trata de homicídio triplamente qualificado, as outras duas qualificadoras de utilização de meio cruel e de recurso que dificultou a defesa da vítima (incisos III e IV, do parágrafo segundo do art. 121 do Código Penal), são aqui utilizadas como circunstâncias agravantes de pena, uma vez que possuem previsão específica no art. 61, inciso II, alíneas "c" e "d" do Código Penal.

Assim, levando-se em consideração a presença destas outras duas qualificadoras, aqui admitidas como circunstâncias agravantes de pena, majoro as reprimendas fixadas durante a primeira fase em mais um quarto, o que resulta em 20 (vinte) anos de reclusão para cada um dos réus.

Justifica-se a aplicação do aumento no montante aqui estabelecido de um quarto, um pouco acima do patamar mínimo, posto que tanto a qualificadora do meio cruel foi caracterizada na hipótese através de duas ações autônomas (asfixia e sofrimento intenso), como também em relação à qualificadora da utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima (surpresa na esganadura e lançamento inconsciente na defenestração).

Pelo fato do co-réu Alexandre ostentar a qualidade jurídica de genitor da vítima Isabella, majoro a pena aplicada anteriormente a ele em mais 1/6 (um sexto), tal como autorizado pelo art. 61, parágrafo segundo, alínea "e" do Código Penal, o que resulta em 23 (vinte e três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão.

Como não existem circunstâncias atenuantes de pena a serem consideradas, torno definitivas as reprimendas fixadas acima para cada um dos réus nesta fase.

Por fim, nesta terceira e última fase de aplicação de pena, verifica-se a presença da qualificadora prevista na parte final do parágrafo quarto, do art. 121 do Código Penal, pelo fato do crime de homicídio doloso ter sido praticado contra pessoa menor de 14 anos, daí porque majoro novamente as reprimendas estabelecidas acima em mais 1/3 (um terço), o que resulta em 31 (trinta e um) anos, 01 (um) mês e 10 (dez) dias de reclusão para o co-réu Alexandre e 26 (vinte e seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão para a co-ré Anna Jatobá.

Como não existem outras causas de aumento ou diminuição de pena a serem consideradas nesta fase, torno definitivas as reprimendas fixadas acima.

Quanto ao crime de fraude processual para o qual os réus também teriam concorrido, verifica-se que a reprimenda nesta primeira fase da fixação deve ser estabelecida um pouco acima do mínimo legal, já que as condições judiciais do art. 59 do Código Penal

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não lhe são favoráveis, como já discriminado acima, motivo pelo qual majoro em 1/3 (um terço) a pena-base prevista para este delito, o que resulta em 04 (quatro) meses de detenção e 12 (doze) dias-multa, sendo que o valor unitário de cada dia-multa deverá corresponder a 1/5 (um quinto) do valor do salário mínimo, uma vez que os réus demonstraram, durante o transcurso da presente ação penal, possuírem um padrão de vida compatível com o patamar aqui fixado.

Inexistem circunstâncias agravantes ou atenuantes de pena a serem consideradas. Presente, contudo, a causa de aumento de pena prevista no parágrafo único do art. 347 do Código Penal, pelo fato da fraude processual ter sido praticada pelos réus com o intuito de produzir efeito em processo penal ainda não iniciado, as penas estabelecidas acima devem ser aplicadas em dobro, o que resulta numa pena final para cada um deles em relação a este delito de 08 (oito) meses de detenção e 24 (vinte e quatro) dias-multa, mantido o valor unitário de cada dia-multa estabelecido acima.

5. Tendo em vista que a quantidade total das penas de reclusão ora aplicadas aos réus pela prática do crime de homicídio triplamente qualificado ser superior a 04 anos, verifica-se que os mesmos não fazem jus ao benefício da substituição destas penas privativas de liberdade por restritivas de direitos, a teor do disposto no art. 44, inciso I do Código Penal.

Tal benefício também não se aplica em relação às penas impostas aos réus pela prática do delito de fraude processual qualificada, uma vez que as além das condições judiciais do art. 59 do Código Penal não são favoráveis aos réus, há previsão específica no art. 69, parágrafo primeiro deste mesmo diploma legal obstando tal benefício de substituição na hipótese.

6. Ausentes também as condições de ordem objetivas e subjetivas previstas no art. 77 do Código Penal, já que além das penas de reclusão aplicadas aos réus em relação ao crime de homicídio terem sido fixadas em quantidades superiores a 02 anos, as condições judiciais do art. 59 não são favoráveis a nenhum deles, como já especificado acima, o que demonstra que não faz jus também ao benefício da suspensão condicional do cumprimento de nenhuma destas penas privativas de liberdade que ora lhe foram aplicadas em relação a qualquer dos crimes.

7. Tendo em vista o disposto no art. 33, parágrafo segundo, alínea "a" do Código Penal e também por ter o crime de homicídio qualificado a natureza de crimes hediondos, a teor do disposto no artigo 2o, da Lei nº 8.072/90, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei n. 11.464/07, os acusados deverão iniciar o cumprimento de suas penas privativas de liberdade em regime prisional FECHADO.

Quanto ao delito de fraude processual qualificada, pelo fato das condições judiciais do art. 59 do Código Penal não serem favoráveis a qualquer dos réus, deverão os mesmos iniciar o cumprimento de suas penas privativas de liberdade em relação a este delito em regime prisional SEMI-ABERTO, em consonância com o disposto no art. 33, parágrafo segundo, alínea "c" e seu parágrafo terceiro, daquele mesmo Diploma Legal.

8. Face à gravidade do crime de homicídio triplamente qualificado praticado pelos réus e à quantidade das penas privativas de liberdade que ora lhes foram aplicadas, ficam

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mantidas suas prisões preventivas para garantia da ordem pública, posto que subsistem os motivos determinantes de suas custódias cautelares, tal como previsto nos arts. 311 e 312 do Código de Processo Penal, devendo aguardar detidos o trânsito em julgado da presente decisão. Como este Juízo já havia consignado anteriormente, quando da prolação da sentença de pronúncia – respeitados outros entendimentos em sentido diverso – a manutenção da prisão processual dos acusados, na visão deste julgador, mostra-se realmente necessária para garantia da ordem pública, objetivando acautelar a credibilidade da Justiça em razão da gravidade do crime, da culpabilidade, da intensidade do dolo com que o crime de homicídio foi praticado por eles e a repercussão que o delito causou no meio social, uma vez que a prisão preventiva não tem como único e exclusivo objetivo prevenir a prática de novos crimes por parte dos agentes, como exaustivamente tem sido ressaltado pela doutrina pátria, já que evitar a reiteração criminosa constitui apenas um dos aspectos desta espécie de custódia cautelar.

Tanto é assim que o próprio Colendo Supremo Tribunal Federal já admitiu este fundamento como suficiente para a manutenção de decreto de prisão preventiva:

"HABEAS CORPUS. QUESTÃO DE ORDEM. PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR. ALEGADA NULIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE. DECRETO DE PRISÃO CAUTELAR QUE SE APÓIA NA GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO SUPOSTAMENTE PRATICADO, NA NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA "CREDIBILIDADE DE UM DOS PODERES DA REPÚBLICA", NO CLAMOR POPULAR E NO PODER ECONÔMICO DO ACUSADO. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO NA CONCLUSÃO DO PROCESSO."

"O plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 80.717, fixou a tese de que o sério agravo à credibilidade das instituições públicas pode servir de fundamento idôneo para fins de decretação de prisão cautelar, considerando, sobretudo, a repercussão do caso concreto na ordem pública." (STF, HC 85298-SP, 1ª Turma, rel. Min. Carlos Aires Brito, julg. 29.03.2005, sem grifos no original).

Portanto, diante da hediondez do crime atribuído aos acusados, pelo fato de envolver membros de uma mesma família de boa condição social, tal situação teria gerado revolta à população não apenas desta Capital, mas de todo o país, que envolveu diversas manifestações coletivas, como fartamente divulgado pela mídia, além de ter exigido também um enorme esquema de segurança e contenção por parte da Polícia Militar do Estado de São Paulo na frente das dependências deste Fórum Regional de Santana durante estes cinco dias de realização do presente julgamento, tamanho o número de populares e profissionais de imprensa que para cá acorreram, daí porque a manutenção de suas custódias cautelares se mostra necessária para a preservação da credibilidade e da respeitabilidade do Poder Judiciário, as quais ficariam extremamente abaladas caso, agora, quando já existe decisão formal condenando os acusados pela prática deste crime, conceder-lhes o benefício de liberdade provisória, uma vez que permaneceram encarcerados durante toda a fase de instrução.

Esta posição já foi acolhida inclusive pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, como demonstra a ementa de acórdão a seguir transcrita:

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"LIBERDADE PROVISÓRIA – Benefício pretendido – Primariedade do recorrente – Irrelevância – Gravidade do delito – Preservação do interesse da ordem pública – Constrangimento ilegal inocorrente." (In JTJ/Lex 201/275, RSE nº 229.630-3, 2ª Câm. Crim., rel. Des. Silva Pinto, julg. em 09.06.97).

O Nobre Desembargador Caio Eduardo Canguçu de Almeida, naquele mesmo voto condutor do v. acórdão proferido no mencionado recurso de "habeas corpus", resume bem a presença dos requisitos autorizadores da prisão preventiva no presente caso concreto:

"Mas, se um e outro, isto é, se clamor público e necessidade da preservação da respeitabilidade de atuação jurisdicional se aliarem à certeza quanto à existência do fato criminoso e a veementes indícios de autoria, claro que todos esses pressupostos somados haverão de servir de bom, seguro e irrecusável fundamento para a excepcionalização da regra constitucional que presumindo a inocência do agente não condenado, não tolera a prisão antecipada do acusado."

E, mais à frente, arremata:

"Há crimes, na verdade, de elevada gravidade, que, por si só, justificam a prisão, mesmo sem que se vislumbre risco ou perspectiva de reiteração criminosa. E, por aqui, todos haverão de concordar que o delito de que se trata, por sua gravidade e característica chocante, teve incomum repercussão, causou intensa indignação e gerou na população incontrolável e ansiosa expectativa de uma justa contraprestação jurisdicional. A prevenção ao crime exige que a comunidade respeite a lei e a Justiça, delitos havendo, tal como o imputado aos pacientes, cuja gravidade concreta gera abalo tão profundo naquele sentimento, que para o restabelecimento da confiança no império da lei e da Justiça exige uma imediata reação. A falta dela mina essa confiança e serve de estímulo à prática de novas infrações, não sendo razoável, por isso, que acusados por crimes brutais permaneçam livre, sujeitos a uma conseqüência remota e incerta, como se nada tivessem feito." (sem grifos no original).

Nessa mesma linha de raciocínio também se apresentou o voto do não menos brilhante Desembargador revisor, Dr. Luís Soares de Mello que, de forma firme e consciente da função social das decisões do Poder Judiciário, assim deixou consignado:

"Aquele que está sendo acusado, e com indícios veementes, volte-se a dizer, de tirar de uma criança, com todo um futuro pela frente, aquilo que é o maior ‘bem’ que o ser humano possui – ‘a vida’ – não pode e não deve ser tratado igualmente a tantos outros cidadãos de bem e que seguem sua linha de conduta social aceitável e tranqüila. E o Judiciário não pode ficar alheio ou ausente a esta preocupação, dês que a ele, em última instância, é que cabe a palavra e a solução.

Ora.

Aquele que está sendo acusado, ‘em tese’, mas por gigantescos indícios de ser homicida de sua ‘própria filha’ – como no caso de Alexandre – e ‘enteada’ – aqui no que diz à Anna Carolina – merece tratamento severo, não fora o próprio exemplo ao mais da

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sociedade. Que é também função social do Judiciário. É a própria credibilidade da Justiça que se põe à mostra, assim." (sem grifos no original).

Por fim, como este Juízo já havia deixado consignado anteriormente, ainda que se reconheça que os réus possuem endereço fixo no distrito da culpa, posto que, como noticiado, o apartamento onde os fatos ocorreram foi adquirido pelo pai de Alexandre para ali estabelecessem seu domicílio, com ânimo definitivo, além do fato de Alexandre, como provedor da família, possuir profissão definida e emprego fixo, como ainda pelo fato de nenhum deles ostentarem outros antecedentes criminais e terem se apresentado espontaneamente à Autoridade Policial para cumprimento da ordem de prisão temporária que havia sido decretada inicialmente, isto somente não basta para assegurar-lhes o direito à obtenção de sua liberdade durante o restante do transcorrer da presente ação penal, conforme entendimento já pacificado perante a jurisprudência pátria, face aos demais aspectos mencionados acima que exigem a manutenção de suas custódias cautelares, o que, de forma alguma, atenta contra o princípio constitucional da presunção de inocência:

"RHC – PROCESSUAL PENAL – PRISÃO PROVISÓRIA – A primariedade, bons antecedentes, residência fixa e ocupação lícita não impedem, por si só, a prisão provisória" (STJ, 6ª Turma, v.u., ROHC nº 8566-SP, rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, julg. em 30.06.1999).

"HABEAS CORPUS . HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. ASSEGURAR A INSTRUÇÃO CRIMINAL. AMEAÇA A TESTEMUNHAS. MOTIVAÇÃO IDÔNEA. ORDEM DENEGADA. 1. A existência de indícios de autoria e a prova de materialidade, bem como a demonstração concreta de sua necessidade, lastreada na ameaça de testemunhas, são suficientes para justificar a decretação da prisão cautelar para garantir a regular instrução criminal, principalmente quando se trata de processo de competência do Tribunal do Júri. 2. Nos processos de competência do Tribunal Popular, a instrução criminal exaure-se definitivamente com o julgamento do plenário (arts. 465 a 478 do CPP). 3. Eventuais condições favoráveis ao paciente – tais como a primariedade, bons antecedentes, família constituída, emprego e residência fixa – não impedem a segregação cautelar, se o decreto prisional está devidamente fundamentado nas hipóteses que autorizam a prisão preventiva. Nesse sentido: RHC 16.236/SP, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJ de 17/12/04; RHC 16.357/PR, Rel. Min. GILSON DIPP, DJ de 9/2/05; e RHC 16.718/MT, de minha relatoria, DJ de 1º/2/05). 4. Ordem denegada. (STJ, 5ª Turma, v.u., HC nº 99071/SP, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julg. em 28.08.2008).

Ademais, a falta de lisura no comportamento adotado pelos réus durante o transcorrer da presente ação penal, demonstrando que fariam tudo para tentar, de forma deliberada, frustrar a futura aplicação da lei penal, posto que após terem fornecido material sanguíneo para perícia no início da apuração policial e inclusive confessado este fato em razões de recurso em sentido estrito, apegaram-se a um mero formalismo, consistente na falta de assinatura do respectivo termo de coleta, para passarem a negar, de forma veemente, inclusive em Plenário durante este julgamento, terem fornecido aquelas amostras de sangue, o que acabou sendo afastado posteriormente, após nova coleta de

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material genético dos mesmos para comparação com o restante daquele material que ainda estava preservado no Instituto de Criminalística.

Por todas essas razões, ficam mantidas as prisões preventivas dos réus que haviam sido decretadas anteriormente por este Juízo, negando-lhes assim o direito de recorrerem em liberdade da presente decisão condenatória.

DECISÃO.

9. Isto posto, por força de deliberação proferida pelo Conselho de Sentença que JULGOU PROCEDENTE a acusação formulada na pronúncia contra os réus ALEXANDRE ALVES NARDONI e ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ, ambos qualificados nos autos, condeno-os às seguintes penas:

a) co-réu ALEXANDRE ALVES NARDONI:

- pena de 31 (trinta e um) anos, 01 (um) mês e 10 (dez) dias de reclusão, pela prática do crime de homicídio contra pessoa menor de 14 anos, triplamente qualificado, agravado ainda pelo fato do delito ter sido praticado por ele contra descendente, tal como previsto no art. 121, parágrafo segundo, incisos III, IV e V c.c. o parágrafo quarto, parte final, art. 13, parágrafo segundo, alínea "a" (com relação à asfixia) e arts. 61, inciso II, alínea "e", segunda figura e 29, todos do Código Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional FECHADO, sem direito a "sursis";

- pena de 08 (oito) meses de detenção, pela prática do crime de fraude processual qualificada, tal como previsto no art. 347, parágrafo único do Código Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional SEMI-ABERTO, sem direito a "sursis" e 24 (vinte e quatro) dias-multa, em seu valor unitário mínimo.

B) co-ré ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ:

- pena de 26 (vinte e seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão, pela prática do crime de homicídio contra pessoa menor de 14 anos, triplamente qualificado, tal como previsto no art. 121, parágrafo segundo, incisos III, IV e V c.c. o parágrafo quarto, parte final e art. 29, todos do Código Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional FECHADO, sem direito a "sursis";

- pena de 08 (oito) meses de detenção, pela prática do crime de fraude processual qualificada, tal como previsto no art. 347, parágrafo único do Código Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional SEMI-ABERTO, sem direito a "sursis" e 24 (vinte e quatro) dias-multa, em seu valor unitário mínimo.

10. Após o trânsito em julgado, feitas as devidas anotações e comunicações, lancem-se os nomes dos réus no livro Rol dos Culpados, devendo ser recomendados, desde logo, nas prisões em que se encontram recolhidos, posto que lhes foi negado o direito de recorrerem em liberdade da presente decisão.

11. Esta sentença é lida em público, às portas abertas, na presença dos réus, dos Srs. Jurados e das partes, saindo os presentes intimados.

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Plenário II do 2º Tribunal do Júri da Capital, às 00:20 horas, do dia 27 de março de 2.010.

Registre-se e cumpra-se.

MAURÍCIO FOSSEN

Juiz de Direito

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO................................................................................02

AGRADECIMENTO................................................................................03

DEDICATÓRIA.......................................................................................04

RESUMO................................................................................................05

METODOLOGIA.....................................................................................06

SUMÁRIO...............................................................................................07

INTRODUÇÃO........................................................................................09

CAPÍTULO I - Origem.............................................................................10

1.1 – Conselho de Anciões.....................................................................10

1.2 – Grécia.............................................................................................11

1.3 – Roma..............................................................................................12

1.3.1 – Os Períodos Procedimentais.......................................................12

1.3.2 – Quaestiones................................................................................12

1.4 – Tribunais Populares em outros povos............................................14

1.5 – Direito Comparado.........................................................................15

1.5.1 – Inglaterra.....................................................................................15

1.5.2 – América do Norte........................................................................16

1.5.3 – França.........................................................................................16

1.6 – Criação do Júri e a Constituição do Império...................................17

1.6.1 – Júri no Código de Processo Criminal de 1832............................18

1.6.2 – Júri na Constituição de 1891.......................................................23

1.6.3 – Constituição de 1934, Carta de 1937 e Decreto-Lei nº 167

de 1935...................................................................................................23

1.6.4 – Júri na Constituição de 1946......................................................24

1.6.5 – Lei nº 263, de 23 de fevereiro de 1948.......................................25

1.6.6 – Constituição do Brasil de 24 de fevereiro de 1967 e Emenda

de 17 de outubro de 1969.......................................................................26

CAPÍTULO II - O Conceito......................................................................28

2.1 – Previsão Constitucional..................................................................29

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2.2 – Garantias Constitucionais...............................................................29

2.3 – Foro Especial..................................................................................31

CAPÍTULO III – Fases do Procedimento.................................................32

3.1 – Judicium Accusationis.....................................................................33

3.1.1 – Pronúncia.....................................................................................34

3.1.2 – Impronúncia.................................................................................36

3.1.3 – Absolvição Sumária.....................................................................37

3.1.4 – Desclassificação..........................................................................37

3.2 – Judicium Causae............................................................................38

3.2.1 – Desaforamento............................................................................40

CAPÍTULO IV – Instalação da Sessão do Júri........................................42

4.1 – Atribuições do Presidente do Tribunal do Júri................................42

4.2 – Alistamento dos Jurados................................................................43

4.3 – Organização da Pauta....................................................................43

4.4 – Sorteio e Convocação dos Jurados................................................44

4.5 – Função de Jurado...........................................................................44

4.6 – Reunião e Sessões do Tribunal do Júri..........................................46

4.7 – Formação do Conselho de Sentença.............................................48

4.8 – Atos Instrutórios..............................................................................49

4.9 – Debates e Poderes do Juiz.............................................................50

4.10 – Formulação dos Quesitos e Votação............................................52

4.11 – Sentença e Ata de Sessão............................................................53

CONCLUSÃO..........................................................................................55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA..............................................................57

ANEXOS.................................................................................................59

ÍNDICE....................................................................................................85

FOLHA DE AVALIAÇÃO.........................................................................87

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: OS ASPECTOS RELEVANTES DO TRIBUNAL DO

JÚRI

Autor: Marcia dos Santos Costa

Data da entrega: 21/08/2010

Avaliado por: Francis Rajzman Conceito: