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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL FRENTE AO PROCESSO DE LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Rosilene de Souza Alves Lima ORIENTADOR: Flávia Cavalcanti NITERÓI 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · ... considera a pesquisa como : O procedimento racional e sistemático ... restringindo-se a definir objetivos e buscar mais

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL FRENTE AO PROCESSO DE

LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Rosilene de Souza Alves Lima

ORIENTADOR: Flávia Cavalcanti

NITERÓI

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL FRENTE AO PROCESSO DE

LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em orientação educacional e

pedagógica.

Por: Rosilene de Souza Alves Lima

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, Senhor de todas as coisas.

Criador amoroso, presente que tem na sua força o mais belo e verdadeiro

Amor que envolve tudo que somos e temos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha amada

e agraciada família, meu sustento,

minha força, sem vocês eu não

seria o que sou não teria

conquistado o que conquistei. A

vocês minha eterna gratidão e

minha maior expressão de Amor e

carinho.

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RESUMO

O presente estudo aborda o papel do orientador educacional na educação

infantil, suas funções e necessidades, considerando ser esta uma fase em que

a criança terá seu primeiro contato com a escola, agregará informações novas

ao seu cotidiano, terá novas experiências e conviverá com outras crianças e

pessoas diferentes. É ainda nesta fase que começa a se estruturar a

personalidade infantil e o conjunto de novidades adquiridas na escola vai

interferir neste processo. Neste sentido, a pesquisa busca compreender a

participação do orientador educacional nas atividades de letramento, tão

importantes para forjar uma personalidade pródiga em múltiplas habilidades e

competências necessárias ao desenvolvimento da tarefa educativa. O

orientador educacional faz parte da equipe pedagógica da escola e possui

grande responsabilidade na mesma, tendo que ajudar no processo de

planejamento do currículo escolar, auxiliar os professores no dia a dia de suas

funções, estar sempre atentos às necessidades e dificuldades dos alunos,

atender e conversar com os pais sobre o desenvolvimento de seus filhos no

decorrer do ano, atuando como um dinamizador de todas as tarefas escolares

buscando influenciar a equipe escolar no sentido de fazer da educação uma

atividade prazerosa. Neste contexto, como a orientação educacional pode

contribuir para que ocorram atividades de letramento na educação infantil?

Palavras-chave: Orientação. Educação infantil. Letramento

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METODOLOGIA

Neste ponto da pesquisa, apresenta-se a metodologia utilizada para

que esta fosse desenvolvida., salientando que esta se desenvolveu através de

pesquisa bibliográfica ,aaquela elaborada com fontes já existentes, livros,

artigos e documentos publicados em geral.

Gil (2008, p. 8) define método como “um caminho para se chegar a um

determinado fim”.

Quanto à pesquisa, Cervo e Bervian (1996), definem o termo como uma

atividade para soluções de problemas que surgirão através de uma dúvida e

que serão resolvidos por meio do emprego de métodos científicos.

Lakatos e Marconi (2001, p. 43), salientam que a pesquisa é “um

procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer

tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou

para descobrir verdades parciais”

Gil (1991, p. 19), por sua vez, considera a pesquisa como :

O procedimento racional e sistemático que tem como

objetivo proporcionar resposta aos problemas que são

propostos [...]. A pesquisa é desenvolvida mediante o

concurso de conhecimento disponível e a utilização

cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos

científicos.

Na presente pesquisa, a metodologia utilizada envolve o método

indutivo, os tipos de pesquisa exploratória e descritiva, os procedimentos

bibliográficos, finalizando com uma abordagem qualitativa.

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Em primeiro lugar, realizou-se pesquisa bibliográfica, realizando um

fichamento sobre o tem, de uma forma que permitisse inicialmente adquirir

conhecimentos a respeito da temática. Utilizou-se ainda o método indutivo, no

qual, de acordo com Gil (2008, p. 10) :

Parte-se da observação de fatos ou fenômenos cujas causas

se pretende conhecer. A seguir procura-se compará-los com a

finalidade de descobrir as relações existentes entre eles. Por

fim, procede-se a generalização, na relação verificada entre

fatos e fenômenos.

O método indutivo permitiu o aprofundamento da pesquisa por meio da

fundamentação teórica referente ao tema. Para isto, utilizou-se das técnicas de

pesquisa, possibilitando ainda uma análise aprofundada do tema, sanando

dúvidas e questionamentos existentes no presente estudo acadêmico e

científico.

Utilizou-se ainda dois tipos de pesquisa: a exploratória e a descritiva. As

pesquisas exploratórias, para Gil (2008, p. 27), “têm como principal finalidade

desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias [...], são desenvolvidas

com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de

determinado fato”.

De acordo com Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 63), “a pesquisa

exploratória não requer a elaboração de hipóteses a serem testadas no

trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre

determinado assunto de estudo”.

Outro tipo de pesquisa utilizada também foi à descritiva, que segundo

Cervo e Bervian (1996) busca estudar problemáticas que não se encontram em

documentos, e assumem vários aspectos, tais como: estudos exploratórios;

descritivos; de opinião; de motivação; estudo de caso e pesquisa documental.

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A pesquisa bibliográfica foi essencial para a construção deste trabalho

acadêmico e científico, pois a partir dela obteve-se um embasamento teórico

com fundamentação sólida sobre os assuntos referente à temática.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - 12

1- BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

1.1 -A Educação infantil no Brasil 20

CAPÍTULO I I

2- LETRAMENTO, APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO INFANTIL 23 2.1- Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem oral 29

CAPÍTULO III

3 – O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NAS PRÁTICAS DE

LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 33

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 40

ÍNDICE 43

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INTRODUÇÃO

Partindo do fato de que na atualidade, o acesso e a permanência do

aluno na escola é pressuposto para a inclusão social e diminuição das

desigualdades sociais, a Educação Infantil, parte integrante da Educação

Básica, assume uma função social de extrema importância.

Percebe-se cada vez mais a necessidade de estimular a criança

precocemente, visando o desenvolvimento das habilidades e competências

necessárias a aquisição da leitura, da escrita. Tais aprendizagens, porém,

precisam ser desenvolvidas em consonância com aquelas que antecedem a

prática escolar e com a própria vivência da criança a partir do momento em que

ingressa na escola.

Cabe a Educação Infantil o desenvolvimento integral da criança, ou seja,

o desenvolvimento de ordem física, emocional, psicológica, ética, estética,

social e afetiva.

Para tanto, é preciso permitir atividades variadas, desafiadoras,

dinâmicas através das quais desperte na criança a participação crítica e criativa

na sociedade. Tais atividades podem ser contempladas através de jogos,

brincadeiras, situações de leitura, ainda que a criança não decodifique o código

lingüístico, dentre muitas outras atividades capazes de contribuir para o

desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e

estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança,

e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade

social e cultural.

O trabalho monográfico que aqui se apresenta volta-se para o

entendimento do papel do Orientador Educacional, profissional a quem cabe

participar da construção coletiva de caminhos para a criação de condições

facilitadoras e desejáveis ao bom desenvolvimento do trabalho pedagógico,

participando de forma ativa de todas as atividades propostas pela escola no

sentido de traçar seus rumos, metas, objetivos, através da elaboração e

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avaliação de sua proposta pedagógica, de reuniões e do Conselho de Classe,

oferecendo subsídios para uma melhor avaliação do processo educacional.

Para desenvolvê-lo, utilizou-se de pesquisa bibliográfica relativa à

Educação Infantil e a Orientação Educacional disponível em diferentes

portadores, como artigos impressos e virtuais, revistas, livros e/ou outros

estudos disponíveis.

Para facilitar o entendimento acerca do tema proposto, optou-se por

dividir o trabalho monográfico em três abordagens, sendo o primeiro capítulo

referente a um breve histórico da Educação Infantil, no qual é descrito

brevemente o caminho feito entre o reconhecimento da infância e suas

especificidades até a inclusão da Educação Infantil na Educação Básica,

demonstrando sua importância para o pleno desenvolvimento escolar do aluno

inserindo-o com sucesso social na sociedade.

O capítulo II trata da concepção de letramento e aprendizagem,

buscando compreender a forma como estas se desenvolvem na educação

infantil, já que o aluno deste segmento ainda não domina o código lingüístico.

O terceiro capítulo relata as atribuições do Orientador Educacional no

processo pedagógico, salientando suas múltiplas possibilidades no contexto da

Educação Infantil.

Conclui-se por fim que a Educação Infantil finalmente foi reconhecida

como uma etapa essencial da Educação Básica na qual a escola pode se

aproveitar das características da infância para desenvolver de maneira lúdica e

dinâmica, as habilidades e competências envolvidas na aquisição das

aprendizagens futuras e que o Orientador Educacional, aliado aos demais

profissionais da escola, pode contribuir de forma significativa para integrar

todos os processos educacionais e todos os participantes destes, ou seja,

reuniões, planejamentos, projetos, metas, objetivos, professores, alunos,

familiares, diretores e demais profissionais da educação, com o objetivo de

garantir que a escola seja realmente eficaz e includente.

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CAPÍTULO I

1- BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

É impossível abordar a atual importância da Educação Infantil e a sua

prática em sala de aula sem antes contar a sua História, principalmente porque

a visão que se tem da infância tem uma construção histórica e social e que a

partir do reconhecimento desta enquanto uma fase da vida que merece

tratamento diferenciado é que vai aparecer o conjunto de necessidades desta

fase que dentre as quais, surge a necessidade de um segmento educacional

hoje denominado Educação Infantil.

É possível afirmar que o desenvolvimento social e econômico de uma

sociedade influencia a prática da Educação Infantil, visto que toda vez que

houver uma transformação na organização social que suscite uma nova

concepção de criança, certamente acarretará também numa nova identidade

nas instituições que trabalham com crianças.

Para Sônia Kramer (2006),

“Os estudos realizados pelo historiador francês Philipe Áries -

e a partir de documentos como antigos diários de família,

pinturas, testamentos, igrejas e túmulos, pesquisaram as

transformações dos sentimentos de infância e família, e as

conclusões acerca do surgimento da família nuclear e da

escola - contribuíram para um novo ângulo de análise para a

função que desempenham tais instituições, pois muitos ainda

pensam na família e na escola como instituições que sempre

existiram com a mesma estrutura e funções determinadas.”

(p.156)

A autora ainda salienta que estes estudos permitiram a compreensão da

“questão da criança” dentro do contexto histórico no qual ela está inserida. Se

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sociedade medieval a criança era tirada do lar para aprender atividades

domésticas e crescer depressa para poder participar do trabalho e de outras

atividades do mundo adulto, na idade moderna, a criança passa a ser vista

como um ser diferente e capaz de ser educado.

Áriès (1981, p. 99) explica que “sentimento de infância não é o mesmo

que afeição pelas crianças, mas sim a consciência daquilo que difere a criança

do adulto.” Entre outras palavras, o sentimento de infância caracteriza o modo

de agir e pensar próprio da criança.

O fato é que durante alguns séculos a criança era tratada como um

adulto em miniatura. Não existia, então, uma idéia de educação específica

para os pequenos. Nessa época, a educação e o cuidado das crianças era

papel exclusivo da família, principalmente da figura feminina, e, por isso, era

decidida dentro dos lares.

Ao nascer, a criança tinha suas necessidades supridas por um adulto,

mas tão logo sua independência em relação a essas necessidades era

constatada, iniciava-se a sua preparação para a fase adulta. Outro fator levado

em consideração era o alto índice de mortalidade infantil, citado por Kramer

(2006), que atingiu as populações até o século XVII.

As precárias formas de vida tornavam a expectativa de vida bastante

pequena, por isso, era necessário esperar que a criança chegasse a uma idade

menos perigosa para inseri-la mais diretamente no ambiente social. A partir

daí, era comum ver crianças ajudando os pais em seus ofícios ou sendo

levadas para outra família, a fim de aprender, longe do aconchego familiar, os

trabalhos domésticos e os valores humanos. Isso ocorria por volta dos 07 anos

de idade, independente da classe social.

O atendimento à criança fora do ambiente doméstico não era nada

comum, sendo a igreja a única responsável pelos poucos colégios da época,

frequentados exclusivamente por grupos clérigos.

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Ao longo da história foram criadas, também, algumas alternativas, com

perspectiva estritamente assistencialista para cuidados àquelas crianças em

situações desfavoráveis de pobreza e abandono.

Nas comunidades primitivas eram buscadas “redes de parentescos”,

assim, a criança era cuidada dentro da própria família. Na Idade Antiga,

apareceram as “mães mercenárias”, que não tinham vínculo algum com as

crianças. Já nas Idades Média e Moderna, foram criados cilindros ocos de

madeira, giratórios, conhecidos como “roda dos enjeitados”, normalmente

encontrados em muros de igrejas e hospitais de caridade. As crianças que

eram expostas ali ficavam sob responsabilidade de entidades religiosas que as

encaminhavam para lares substitutos ou as conduziam a um ofício.

Segundo Oliveira (2010),

As idéias de abandono, pobreza, culpa, favor e caridade

impregnam, assim, as formas precárias de atendimento a

menores nesse período e por muito tempo vão permear

determinadas concepções acerca do que é uma instituição que

cuida da educação infantil, acentuando o lado negativo do

atendimento fora da família. (OLIVEIRA, 2010, p.59)

Todas estas formas de atendimento, sem nenhum aspecto formal e

educativo, serviam apenas para acentuar o lado negativo de um atendimento

extra- familiar, uma vez que somente as crianças pobres e abandonadas

necessitavam desses atendimentos, embutindo aí as idéias de favor e

caridade. Além disso, grande parte dos cuidados com crianças era suprida por

pessoas leigas, não havendo necessidade alguma de qualificação profissional:

Outro exemplo da preferência pela família na educação infantil aparece

nas denominações que receberam as primeiras instituições de guarda e

atendimento a crianças pequenas: crèche, em francês, equivale a manjedoura,

asilo nido, em italiano, a ninho que abriga e “Escola materna”, todas com

referência ao aspecto familiar do atendimento.

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Oliveira aponta os séculos XV e XVI como um período de mudanças

nos “modelos educacionais”. Segundo a autora (2010, p.59), “o

desenvolvimento científico, bem como a expansão comercial e artística

experimentadas no Renascimento europeu estimularam novas visões sobre a

criança. “

Alguns estudiosos do período, dentre eles, Erasmo e Montaigne,

passaram, então, a defender uma educação que respeitasse a natureza infantil

e estimulasse a atividade da criança, associando o jogo à aprendizagem. A

partir daí, surgiram, gradativamente, algumas entidades filantrópicas que

tinham por objetivo dar condições para o desenvolvimento infantil, no entanto,

ainda sem proposta instrucional formal.

Como ainda nessa época não existia uma definição precisa do termo

“infância” e muitas crianças continuavam assumindo funções de

responsabilidade, não existiam motivos para investir em roupas para crianças

ou jogos infantis, embora já existisse diferença entre as vestimentas das

crianças de classes sociais diferentes. Somente a partir do século XVII a

criança de família nobre ou burguesa passou a vestir-se com traje reservado à

sua idade.

Aliás, o século XVII foi outro período de grandes transformações sociais.

As reformas católicas e protestantes foram de grande importância na

construção de um novo olhar sobre a criança, um novo sentimento de infância

e de família. Surge uma preocupação com a formação moral da criança que,

considerada “fruto do pecado”, precisava ser corrigida e direcionada para o

bem.

Além disso, a educação passou a ser valorizada e o trabalho com fins

educativos foi substituído pela escola. Agora, a aprendizagem, antes investida

através do contato da criança com os adultos e os afazeres domésticos, torna-

se papel da instituição de ensino. A afetividade passou a ser mais visível dentro

da família, que assume o papel que antes era destinado à comunidade: “O

reduto familiar torna-se, então, cada vez mais privado e, progressivamente,

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esta instituição vai assumindo funções antes preenchidas pela comunidade.”

(KRAMER, 2006, p.18).

É nesse mesmo momento que surgem dois tipos diferentes de

atendimento destinados à criança, um de caráter repressor e outro de caráter

compensatório. Assim, de um lado, a criança é vista como um ser inocente,

ingênuo, que precisa de cuidados, de outro, ela é considerada um ser

imperfeito, incompleto, que necessita de “moralização” e da educação de um

adulto.

Para Kramer (2006) , estes dois modelos de educação que objetiva, ao

mesmo tempo, preservar a criança da corrupção do meio, mantendo sua

inocência, e fortalecê-la, desenvolvendo seu caráter e sua razão são elementos

básicos que fundamentam o conceito de criança como essência ou natureza.

Kramer afirma que este conceito persiste ainda nos dias de hoje.

Segundo a autora, considerar a natureza infantil é negar toda e qualquer

condição de existência, classe social e cultura. Portanto, é o mesmo que

considerar todas as crianças idênticas, independente do seu contexto social,

cultural e econômico. Kramer explica, ainda, que esse ideal abstrato de criança

é concretizado na criança burguesa. Na verdade:

A idéia de uma infância universal foi divulgada pelas classes

dominantes baseada no seu modelo padrão de criança,

justamente a partir dos critérios de idade e de dependência do

adulto, característicos de um tipo específico de papel social por

ela assumido no interior dessas classes. (KRAMER, 2006,

p.19)

A idéia de infância nesse período passa, então, por um longo processo.

O alto índice de mortalidade infantil é, gradativamente, superado, graças ao

desenvolvimento científico e, em parte, às iniciativas dos pioneiros da

educação infantil que tinham por objetivo não apenas o ensino da obediência,

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da moralidade, da devoção e do valor do trabalho, pilares de uma proposta

instrucional fundada na idéia de autodisciplina, mas desempenhavam o papel

de guardiões daquelas crianças que viviam em ambientes menos favorecidos e

filhos de mulheres operárias.

Acerca da nova forma de organização social e a idéia de infância que ela

inaugurava na época, Kramer conclui:

A idéia de infância, como se pode concluir, não existiu sempre,

e nem da mesma maneira. Ao contrário, ela aparece com a

sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que

mudam a inserção e o papel social da criança na comunidade.

Se na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo

direto (“de adulto”) assim que ultrapassa o período de alta

mortalidade, na sociedade burguesa ela passa a ser alguém

que precisa ser cuidada, escolarizada e preparada para uma

atuação futura. Este conceito de infância é, pois, determinado

historicamente pela modificação das formas de organização da

sociedade. (KRAMER, 2006, p.19).

Uma vez disseminada uma nova idéia de infância, inicia-se, também,

uma nova etapa de construção da idéia de educação infantil. Na Europa, a

partir de meados da Idade Moderna, intensificou-se a discussão sobre a

escolaridade obrigatória e a sua importância para o desenvolvimento social.

Nesse mesmo momento, a criança passou a ser o centro das atenções e a

educação um investimento, um instrumento fundamental na preparação da

criança para o mundo adulto. Duas perspectivas pedagógicas se confrontam na

tentativa de propor uma educação que contribua no suprimento das

necessidades infantis.

A Pedagogia “tradicional” pensava numa educação baseada na

autoridade do adulto, na disciplina e na internalização de regras, conseguida

através da intervenção direta do adulto por meio da constante transmissão de

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modelos. Em oposição, a Pedagogia “nova” ou “moderna” acreditava que a

educação deveria proteger o natural infantil, ou seja, preservar a criança da

corrupção da sociedade. Assim, a prioridade não estava na transmissão de

regras ou na autoridade do adulto, mas sim, na liberdade da criança e na

expressão de sua espontaneidade.

Com base na pesquisa de GALLASSINI (2008, p. 23) apud BRASIL

(2006), cabe ressaltar Autores como Comênio, Rosseau, Pestalozzi, Decroly,

Froebel e Montessori como precursores desse sistema de ensino “ mais

centrado na criança e na sua liberdade de expressão.” Estes estudiosos

defenderam a educação como um direito universal e muitos iniciaram seus

trabalhos com crianças que vivenciavam situações sociais críticas,

principalmente por acreditarem que a pré-escola era uma boa oportunidade

para superar a miséria, a pobreza e a negligência das famílias.

A autora ainda afirma que: “Para eles, era possível criar atividades que

compensassem eventuais problemas de desenvolvimento.” (Gallassini, 2008,

p.23) apud BRASIL (2006) . Em sua proposta para a educação de crianças

menores de 06 anos, Comênio elaborou um plano que recomendava o uso de

materiais audiovisuais, como livros de imagens, e defendia a idéia de que o

cultivo das impressões sensoriais deveriam preceder o desenvolvimento do

lado racional. Daí a necessidade de um trabalho pautado na experiência do

manuseio de objetos e o estímulo através de bons materiais pedagógicos.

O filósofo genebrino Jean Jacques Rosseau foi outro que revolucionou a

educação de sua época ao defender uma educação não orientada pelo adulto,

mas, contrariando os dogmas religiosos, que respeitasse a liberdade

característica da natureza humana. Por isso, caberia ao professor afastar tudo

o que pudesse impedir a criança de viver plenamente. Os objetivos da

educação para Rosseau comportavam dois aspectos: o desenvolvimento das

potencialidades naturais da criança e seu afastamento dos males sociais.

As idéias do suíço Pestalozzi não eram muito diferentes daquelas

preconizadas por Rosseau. Pestalozzi também acreditava na idéia de prontidão

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presente em Rosseau e defendia uma educação que priorizasse o

desenvolvimento da percepção da criança, por intermédio de atividades de

música, arte e do contato com a natureza.

Mais adiante, o educador alemão Froebel levaria adiante as idéias de

Pestalozzi. Influenciado por uma época marcada por ideologias liberais e

nacionalistas, Froebel criou em 1837 um “Jardim de infância”. Nele, segundo o

educador, as crianças deveriam encontrar condições favoráveis para aprender.

Oliveira enfatiza:

O modo básico de funcionamento de sua proposta educacional

incluía atividades de cooperação e o jogo, entendidos como a

origem da atividade mental. Froebel partia também da intuição

e da idéia de espontaneidade infantil, preconizando uma

autoeducação da criança pelo jogo, por suas vantagens

intelectuais e morais, além de seu valor no desenvolvimento

físico. Elaborou canções e jogos para educar sensações e

emoções, enfatizou o valor educativo da atividade manual,

confeccionou brinquedos para a aprendizagem da aritmética e

da geometria, além de propor que as atividades educativas

incluíssem conversas e poesias e o cultivo da horta pelas

crianças. (OLIVEIRA, 2010, p.67-68).

Ainda no século XIX, alguns movimentos defenderam a

institucionalização da educação pré-escolar e a rede de jardins de infância

ampliou-se tanto na Europa, quanto nos Estados Unidos. A pré-escola era

encarada por esses pensadores como uma forma de superar a miséria, a

pobreza e a negligência das famílias, ou seja, a educação pré-escolar

funcionava para minimizar os efeitos das deficiências de saúde, nutrição,

educação e as do meio sócio cultural.( KRAMER,1992,p.26)

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1.1- A Educação infantil no Brasil

Ainda com base nos estudos de Kramer (2006), é possível afirmar que

no Brasil, que vivia o regime escravista, a criança escrava já possuía suas

tarefas como auxiliares dos negros adultos. Posteriormente, as ações voltadas

para a criança tiveram a intenção de controlar as doenças e as mortes

prematuras em dos nascimentos ilegítimos da união entre escravas e senhores

e a falta de educação física, moral e intelectual das mães.

A autora coloca que as mudanças com relação a esse pensamento só

começaram a se desenhar com a instalação da Proclamação da República. A

partir da década de 20 é criado o Departamento da Criança no Brasil, com a

função de fazer um levantamento da situação da criança, sobre as políticas de

proteção a infância, fomentar iniciativas de amparo à criança e à mulher

grávida pobre e concorrer para a aplicação das leis de amparo à criança.

(IDEM,pg.52)

Os processos de industrialização e urbanização, citados por vários

autores e complementados por Sônia Kramer (2006), tiveram lugar na década

de 30, no governo de Getúlio Vargas, com a política do estado de bem-estar

social em Vigência na Inglaterra e em outros países. Neste contexto, a infância

passa a ser valorizada e a criança passa a ser diferenciada do adulto.

A partir desse conceito, são criadas várias instituições de amparo

assistencial e jurídico para a infância, com inovações nas políticas sociais nas

áreas de educação, saúde, assistência social, previdência etc. em decorrência

dos desdobramentos desta concepção, surge algumas medidas visando um

aperfeiçoamento educacional.

Dermeval Saviani (2000), em seu estudo, traz a história do

desenvolvimento da Educação no Brasil, a partir do qual se pode afirmar que

depois dos anos 70, a educação pré-escolar gratuita foi instituída para

crianças de quatro a seis anos com o objetivo de desenvolver a cultura que a

família não tinha condições de promover, segundo os governantes, por

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pertencerem a uma classe social muito baixa. O autor ainda leva ao

pensamento de que a educação pré-escolar no Brasil, portanto, foi concebida

sob a concepção de uma educação compensatória, com objetivos assistenciais

direcionados às crianças pobres, resultando de política assistencial firmada na

oferta de alimentação, higiene e segurança física, sendo muitas vezes

realizado de forma precária e com baixa qualidade. Estas condições foram

extremamente agravadas com o regime militar e as políticas educacionais

repressivas e controladoras que faziam parte de suas práticas.

Em concomitância, os jardins de infância, privados, fundados para

atender as crianças de classe abastada, foram criados com base nos modelos

Europeu e Americano, que tinham como objetivo a socialização e a preparação

da criança para o ensino fundamental. Estes desenvolviam atividades

educativas, voltadas para desenvolver os aspectos cognitivos, emocionais e

sociais da criança.

A partir dos anos 80, em meio às diferentes reivindicações que tomam

lugar no Brasil, mediante a luta pela redemocracia, crescem as manifestações

pela melhoria do atendimento educacional. A partir de então, como fruto de

diversos debates, a educação pré-escolar passa a ser vista como necessária e

direito de todos, além de ser dever do Estado, devendo ser integrada ao

sistema de ensino.

A Constituição Brasileira de 1988 definiu em seu dispositivo legal, artigo

208, inciso IV, a obrigação e o dever do Estado com a educação e que isto

será efetivado mediante a garantia de atendimento em creche e pré-escola às

crianças de zero a seis anos de idade. Enfim, a Constituição de 1988, reafirma

a obrigação de gratuidade para todo o sistema educacional, que teve que se

equipar para dar respostas a esta nova responsabilidade, a qual foi confirmada

pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (LDB/1996).

Finalmente, na década de 90, a Educação Infantil se efetiva nos termos

da Constituição de 1988, sendo incluída na Educação Básica e tendo sua

concepção ampliada para o desenvolvimento integral da criança de 0 a 6 anos.

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Ampara-se também no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990, art. 54,

inciso IV), que trata a família como parte integrante e parceira da escola na

definição de propostas sociais e pedagógicas. Embora seja uma modalidade

nova e em transformação,

A educação Infantil desde então vem confirmando o pensamento de

Sônia Kramer quando a autora diz que a criança passa a ser compreendida

dentro de sua própria dinâmica, deixando de ser vista como um ser carente e

incapaz. ( 2006: 16-7)

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23

CAPÍTULO I I

2- LETRAMENTO, APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO

INFANTIL

O que é letramento? Em um primeiro momento e poeticamente é

possível responder a esta indagação com as palavras de Kate. M. Chong

MacLAUGHLIN (1996) apud Soares (1999, p.41), que diz assim:

Letramento não é um gancho

Em que se pendura cada som enunciado

Não é treinamento repetitivo

De uma habilidade

Nem um martelo

Quebrando blocos de gramática.

Letramento é diversão

É leitura a luz de vela

Ou lá fora, á luz do sol.

São notícias sobre o presidente

O tempo, os artistas da TV

E mesmo Mônica e Cebolinha

Nos jornais de domingo.

É uma receita de biscoito,

Uma lista de compras, recados colados na geladeira

Um bilhete de amor

Telegramas de parabéns e cartas

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De velhos amigos.

É viajar para países desconhecidos,

Sem deixar sua cama

É rir e chorar

Com personagens, heróis e grandes amigos.

É um Atlas do mundo,

Sinais de trânsito, caças ao tesouro,

Manuais, instruções, guias

E orientações em bulas de remédios

Para que você não fique perdido.

Letramento é, sobretudo,

Um mapa do coração do homem

Um mapa de quem você é,

E de tudo que você pode ser.

Porém, aprofundando a pesquisa acerca do tema, entende-se a

importância de entendê-lo em minúcias. A palavra “letramento” é versão para o

português da palavra da língua inglesa “literacy” que pode ser traduzida como a

condição ou estado que assume aquele que aprende a ler e escrever.

Segundo Soares (2000b: 17), o conceito de “literacy” transmite a idéia

de que a escrita traz conseqüências sociais, culturais, políticas,

econômicas, cognitivas, lingüísticas, tanto para o grupo social que

desenvolve tais praticas quanto para o indivíduo que aprenda a usá-la, visto

que um individuo letrado é capaz de envolver-se nas práticas sociais de leitura

e de escrita.

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Letramento é um conceito que vem se firmando nas duas últimas

décadas, com base nas necessidades de nomear e segmentar a escrita, em

suas diferentes aplicações sociais, que se encontram além do sistema

alfabético e ortográfico. A alfabetização nesta perspectiva ultrapassa os limites

da sala de aula, rompe com a estrutura professor que ensina / aluno que

aprende.

Ângela Kleiman ( 1995, p. 19) define letramento como um conjunto de

práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto

tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos. Para

SOARES, (1998) letramento é o estado ou condição de indivíduos ou de

grupos sociais que exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de

escrita, participam competentemente de eventos de letramentos.

TFOUNI ( 1998, p. 16) coloca que enquanto a alfabetização ocupa-se da

aquisição da escrita por um individuo, ou grupo de individuo, o letramento

focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por

uma sociedade. Nesta lógica, a autora ressalta o caráter individual da

alfabetização e o caráter social do letramento, considerando como letramento

as conseqüências sociais e históricas da introdução da escrita em uma

sociedade, que perpassa pelos impactos sofridos por uma sociedade quando

esta se torna letrada.

Diante disso, cabe indagar: qual a diferença entre ser letrado e ser

alfabetizado? Ser letrado não se trata apenas de saber ler e escrever.

Cabe ao professor auxiliar o aluno no desenvolvimento da capacidade de

utilizar a língua e suas variáveis nas diferentes situações em que esta se

aplique, buscando um desempenho adequado que lhe será exigido em

sociedade, Certamente, este estímulo deve começar ainda na Educação

Infantil, já que esta é uma fase na qual começa a se formar a personalidade e

toda atitude positiva vai interferir também positivamente sobre o futuro da

criança.

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Levar as práticas de letramento para o cotidiano pedagógico é uma ação

que a escola precisa praticar desde muito cedo, começando pelas séries

iniciais da Educação Infantil, pois a criança não precisa saber ler para interagir

com situações de escrita.

Nada impede o aluno que ainda não lê convencionalmente de participar

de atividades envolvendo leituras, como contação de histórias, leituras

compartilhadas, leituras imagéticas e outras. Ouvir um texto é também uma

forma de ler. Ouvir uma história, por exemplo, é também ler uma história, assim

como atribuir significados a imagens é também uma forma de ler. Confirmando

esta idéia, SOARES afirma que:

A alfabetização – a aquisição da tecnologia escrita- não

precede nem é pré-requisito para o “letramento”, ou seja,

para a participação nas práticas sociais de escrita, tanto é

assim que os analfabetos podem ter um certo nível de

“letramento”: sem que hajam adquirido a tecnologia da

escrita, utilizam a que tem para fazer uso da leitura e da

escrita, além disso, na concepção psicogenética de

alfabetização atualmente em vigor, a tecnologia da

escrita é aprendida não como em concepções anteriores

com textos construídos artificialmente para a aquisição

das “técnicas” de leitura e escrita e sim por meio de

atividades de “letramento” ou seja, de leitura de e

produção de textos reais de práticas sociais de leitura e

escrita.( SOARES, 1998, p.92)

Segundo Freire, uma das preocupações mais fundamentais que o

educador e a escola deve ter é desenvolver uma prática pedagógica que

promova a autonomia dos educandos [...] para que a prática pedagógica facilite

o processo de desenvolvimento humano e com ele o desenvolvimento da

autonomia, precisa estar fundamentada em relações que sejam dialógicas (

FREIRE, 2003).

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Após pesquisa, considera-se que tanto vigotsky quanto Piaget postulam

que a aprendizagem se dá como resultado da interação entre indivíduo e meio

em que se encontra inserido. Ou seja, para que a aprendizagem ocorra, além

dos processos cognitivos de elaboração individual, depende de um contexto

que forneça informações especificas ao aprendiz e torne concreto o que é

aprendido por meio das diversas possibilidades de aplicação que oferece.

A aprendizagem é desencadeada por situações de interação entre

aprendiz e meio que permitam ao primeiro elaborar hipóteses e refletir sobre

elas. Por isso que na sala de aula, a interação com amigos com conhecimentos

próximos, por exemplo, podem ampliar bastante as possibilidades de

aprendizagem, permitindo a comparação entre a produção deste e a testagem

suas hipóteses elaboradas.

É na relação travada entre o aprendiz e o universo da escrita, em contato

com o outro e com a intervenção do professor que a criança vai construindo e

aprimorando o sistema de escrita, atribuindo significados a este, percebendo o

que representa e como faz isso.

Para orientar esta prática, o professor tem que conhecer e compreender

seus alunos, Smolka orienta que é preciso investigar a realidade, analisar os

dados do cotidiano, saber como vemos a criança hoje? O que sabemos delas,

dos seus processos de desenvolvimento? Como essas crianças vêem o mundo

em que vivem? Quais suas condições de vida?[...] ( 2003, p 23)

Neste sentido o papel do Orientador Educacional se amplia pois precisa

apoiar o educador e o educando, o primeiro enquanto mediador do processo

de letramento e o segundo, enquanto aquele que participa ativamente das

atividades propostas. Cabe ao orientador educacional acreditar no potencial do

auxiliar o professor a planejar as atividades adequando aos alunos, incentivá-lo

nas iniciativas tomadas e, sobretudo, auxiliar o aluno nesta construção.

Segundo os PCN’s :

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A conquista da escrita alfabética não garante ao aluno a

possibilidade de compreender e produzir textos em linguagem

escrita. Esta aprendizagem exige um trabalho pedagógico

sistemático. Quando são lidas histórias ou noticias de jornal

para crianças que ainda não sabem ler e escrever

convencionalmente, ensina-se a elas como são organizados,

na escrita, estes dois gêneros: desde vocabulário adequado a

cada um até os recursos coesivos que lhes são

característicos. Um aluno que produz um texto escrito, isto é,

um texto cuja forma é escrita, ainda que a via seja oral. [ ... ] O

produtor de texto é aquele que cria o discurso,

independentemente de grafá-lo ou não. Essa diferenciação é

que torna possível uma pedagogia de transmissão oral para

ensinar a linguagem que se usa para escrever. (BRASIL,

2001, p.26-27)

Realizando um trabalho sistemático que desenvolva o letramento,

aprimore e desenvolva as possibilidades da criança de flexibilizar a linguagem

de acordo com a realidade de cada um, a escola oferece ao aluno as

possibilidades de aprimorar sua competência de lidar com uma sociedade

letrada.

Neste contexto, a escola precisa desenvolver suas práticas pedagógicas

numa visão voltada para a valorização dos saberes adquiridos antes do

ingresso do aluno na escola, pois estes saberes fazem parte da cultura em que

o aluno encontra-se inserido.

Neste sentido, a escola tem a oportunidade de apresentar a criança a

linguagem formal sobre a linguagem coloquial da criança, auxiliando-a na

construção do conhecimento necessário para que expressem seus

sentimentos e pensamentos em uma linguagem adequada a cada situação

vivenciada. Paulo Freire já dizia que “a leitura do mundo precede a leitura da

palavra”.

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Quanto maior for a oferta de textos de gêneros diversificados para

análise, interpretação e outras formas de interação, maior será a percepção do

aluno sobre a função social da linguagem e sua utilização no cotidiano.

Kleiman afirma que:

Quanto mais diversificada a experiência de leitura dos

alunos, quanto mais familiaridade eles tiverem com textos

narrativos, expositivos, descritivos, mais conhecida será

a estrutura deste texto, e mais fácil a percepção das

relações entre a informação veiculada no texto e a

estrutura do mesmo. (KLEIMAN, 1993)

Portanto, o trabalho pedagógico com os diversos gêneros discursivos

precisa ser uma pratica freqüente para oportunizar aprendizagem da leitura e

da escrita, devendo vir acompanhada sempre pela produção de escrita de

outros textos, que permitam a expressão pessoal ( bilhetes, cartas, diários,

receitas culinárias, etc) inclusive com o apoio de modelos.

2.1- Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem oral

A linguagem como manifestação presente em todas as esferas da

atividade humana apresenta-se de muitas maneiras, dentre elas, a linguagem

oral é uma das mais importantes, porque através dela tem-se garantido há

milhares de anos, que a história da humanidade seja preservada e que

ensinamentos sejam repassados de gerações a gerações.

Por outro lado, saber ler e escrever é condição básica para a inserção

social, portanto, é essencial trabalhar situações de linguagem escrita desde a

mais tenra idade com as crianças, criando as condições para que esta perceba

que o que é escrito pode ser falado e vice-versa.

Ou seja, trabalhar no cotidiano da prática escolar com os diferentes

gêneros textuais, que exponha o aluno a diversas experiências com a

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linguagem oral e e escrita, deve ser uma atividade que comece a ser

desenvolvida desde as séries iniciais da Educação Infantil, para permitir,

sobretudo, que os alunos convivam com bons modelos de textos verbais ( e

não verbais) , visando criar as situações em que este se torne apto a refletir

sobre as características especificas destes gêneros, internalizando-as, de

maneira que ao produzirem seus próprios textos, façam uso destas

características.

Todo o trabalho que tenha como base o texto escrito, em diversos

portadores textuais, que utilizem os variados grupos textuais, tendo o cuidado

de não privilegiar apenas um, como os contos de fadas, por exemplo. É

preciso observar sempre a qualidade do texto escolhido, lembrando que o

texto, principalmente para a educação infantil, tem que se voltar para ser visto,

lido de diversas formas, não apenas para ser lido formalmente pelo professor.

É possível, desejado e aconselhável que se promovam situações de

leitura regularmente na educação infantil, Desde os primeiros contatos com a

língua escrita, a criança manifesta interesse em compreender seu

funcionamento. A criança, ao participar de situações nas quais a leitura e a

escrita são instrumentos fundamentais para as interações, descobre

informações fundamentais sobre a linguagem escrita.

Sabe-se ainda que uma mediação adequada entre o sujeito e o objeto

do conhecimento promove desenvolvimento cognitivo. A atuação da professora

é, pois, fundamental para assegurar informações, incitar a curiosidade e o

desejo de conhecer, levar a criança a formular perguntas, a verbalizar e a

formular suas hipóteses.

A infância é um momento marcado por interações biológicas e culturais.

A criança está se construindo enquanto sujeito e encontra-se em pleno

processo de desenvolvimento da linguagem. Entre outras palavras, neste

momento, a criança cresce física e estruturalmente, desenvolve muitas

habilidades e forma várias competências, por isso, os trabalhos pedagógicos

envolvendo linguagem oral e escrita na educação Infanti devem respeitar a

ludicidade mas sem se tornar vazia de significado.

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Com base nos Referenciais Curriculares para a Educação Infantil (2010)

é possível trabalhar com:

Noticias, jornais, artigos, tirinhas, gibis, vídeos, poemas,

canções, quadrinhas, parlendas, adivinhas, trava-línguas,

entrevistas, debates, anúncios, piadas, provérbios, contos (de

fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares,

saudações, instruções, relatos, e muitos outros podem ser

trabalhados de forma lúdica, com utilização de personagens

que apresentem o texto e outras sugestões. (BRASIL, 2001,

p110)

Ainda que tenha o professor como escriba, na educação infantil, é muito

importante que se ofereça ao aluno o contato coma palavra escrita. Para tanto,

pode-se utilizar de estratégias que utilizem:

Receitas, instruções de uso, listas, textos impressos em

embalagens, rótulos, calendários, bilhetes, postais, cartões (de

aniversário, de Natal, etc.), convites, cartas, diários (pessoais,

da classe, de viagem, etc.), quadrinhos, textos de jornais,

revistas e suplementos infantis: títulos, slides, notícias,

classificados, slogans, cartazes, folhetos, parlendas, canções,

poemas, quadrinhas, adivinhas, trava-línguas, piadas, mitos e

lendas populares, folhetos de cordel, fábulas, textos teatrais;

(BRASIL, 2001, p111)

Ler poderia ser traduzido como o ato mesmo de viver, respiraração que

“não se esgota na descodificação pura da escrita ou da linguagem escrita, mas

que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo”, (FREIRE, 1986, p.11-3)

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Mesmo antes de codificar ou decodificar os signos do nosso código

lingüístico, a criança, em qualquer idade, já propõe formas de leitura e escrita,

criando seus próprios códigos. Isso precisa ser respeitado ao se propor

atividades com linguagem escrita na primeira infância.

“Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já

possuem anteriormente em conceitos gerais com os quais brincam”. (RCNEI,

p.27). O brincar para essa faixa etária propicia a interação com o outro, com o

mundo, com possibilidades infinitas de troca. E nesse brincar a escrita e a

leitura vem de forma implícita cumprindo suas funções sociais.

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CAPÍTULO III

3 – O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NAS

PRÁTICAS DE LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

O orientador educacional, até bem pouco tempo atrás, era um

profissional que não tinha reconhecimento legal e nem era muito aceito pela

comunidade escolar, talvez pelo fato deste profissional não apresentar suas

funções difundidas como pedagógicas, mesmo sendo de grande relevância

para o funcionamento da escola.

Entretanto, sabe-se hoje que o orientador educacional é uma das figuras

centrais em todo processo educacional, que possui múltiplas funções na

escola, trabalhando no sentido de formar cidadãos para atuar com dinamismo

e competência na sociedade.

A profissão de O.E sofreu diversas alterações no decorrer das últimas

décadas, para se adaptar as mudanças e necessidades da sociedade. Tais

mudanças ocorreram em face da complexidade da vida atual, da aceleração

técnico-científica, das transformações econômicas, e assim pouco a pouco, foi

se ampliando e modificando o papel da escola, dos seus agentes e a posição

do indivíduo dentro da escola e da sociedade.

Com isso, a inserção do Orientador Educacional foi se legitimando como

parte do processo pedagógico e se firmando no corpo da escola. Para facilitar

o entendimento a este respeito, cabe fazer um breve resgate sobre a função do

orientador educacional visando demonstrar a transformação e atual função do

tema proposto.

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Para GRINSPUN (1986), a evolução da orientação educacional no Brasil

teve cinco períodos marcantes:

Período Implementador (de 1920 a 1941); Período

Institucional, subdividido em Período Funcional (de 1942 a

1950) e Período Instrumental(de 1951 a 1960);Período

Transformador (de 1961 a 1970); Período Disciplinador (de

1971 a 1980); e Período Questionador (a partir de 1980). No

Período Implementador, o orientador educacional tinha como

papel o de técnico em seleções, ou seja, selecionava pessoas

para o treinamento profissional. O período Institucional por ter

tido um período longo fora dividido em período funcional e

instrumental, e como já havia a obrigatoriedade de orientação

educacional, o Ensino industrial foi o primeiro a utilizá-la, logo

após o ensino secundário, comercial e agrícola, gerando assim

a necessidade de formação profissional de orientação

educacional.( p.96)

A diferença entre o período funcional e o instrumental é que o primeiro

buscava solucionar o problema do aluno na dificuldade que vivia no momento,

fosse relacionado a doença ou a família, enquanto o instrumental voltava-se

para a prevenção de problemas, preferindo cuidar do aluno antes do problema

vir a acontecer.

Após o período institucional o novo período surge com o nome de

transformador, buscando no contexto da realidade brasileira, formar um campo

próprio da orientação educacional que abrisse mão dos métodos importados

que pouco significasse para a realidade brasileira.

De encontro a este período, promulga-se a Lei de Diretrizes e bases da

Educação – DB 2024/ 1961, que fortaleceu sua atuação através da

obrigatoriedade do curso e normas para o exercício da profissão. Acrescenta-

se a este fato, no final da década de 60 a lei 5562, no seu artigo 1º, traz para a

orientação educacional e sua atuação na escola um clima de maior seriedade.

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Para MORAES (2007) a Orientação Educacional a partir desta lei, volta-

se para realizar sua tarefa de maneira a integrar os elementos que exercem

influência na formação do indivíduo, preparando-o para o exercício das opções

básicas.

Hoje, atua nas escolas e possui suas funções legais, com funções

diversas que realidades, emoção diferente que deve a cada caso ser

observada e analisada de uma maneira para que juntamente com os

professores e pais dos alunos sejam encontradas as soluções adequadas.

Segundo GIACAGLIA e PENTEADO (2000) o Orientador deve

acompanhar o desenvolvimento do Currículo na parte que diz respeito ao seu

setor de trabalho, isto é, possibilitar a elaboração e o desenvolvimento dos

planos de ensino segundo os objetivos da sua área de trabalho, desenvolver

atividades especifica relacionado ao seu campo, organizar arquivos de dados

pessoais de alunos que sejam necessários para uma melhor desenvoltura do

seu trabalho e desenvolver atividades educativas (visitas, festas, programas

preventivos a saúde, higiene e segurança, atividades culturais, entre outras).

Um fato bastante comum na Educação Infantil é a criança se sentir

abandonada pela família nos primeiros anos na escola, varias razões a levam

ter esse sentimento negativo pelo ambiente escolar, principalmente quando

existe um irmão menor onde a mãe o deixa na escola para dar afeto e ficar

com o irmão. "Nesta circunstância, a escola adquire, para a criança, uma

conotação desagradável e ameaçadora, apesar dos esforços de professores e

funcionários para confortá-la, agradá-la e doa brinquedos e atividade

disponíveis". (GIACAGLIA; PENTEADO, 2006, p.97)

Vários são os problemas enfrentados pelos alunos na escola, não

apenas os novos alunos, mas os tímidos ou os de uma pequena minoria de

algum tipo de grupo (cor, religião, classe social ou necessidades especiais),

nesse momento o O. E. deve assisti-los, planejando e propondo atividades que

tenham por objetivo recepcionar, envolver, integrar, fazer com que estes alunos

sintam se pertencentes aquele espaço.

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A partir dai Giacaglia & Penteado (2006) avaliam que o orientador

Educacional deve recorrer às técnicas de aconselhamento para atender os

alunos vítimas de discriminação, deve também aproveitar este momento para

orientar a maioria que exerce discriminação, pois, alunos mais jovens

costumam ser cruéis em relação aos colegas diferentes por qualquer motivo.

Para que as atribuições do orientador educacional sejam bem realizadas

é necessário que o mesmo se integre com as orientações pedagógicas e

docentes, mantenha-se sempre num processo cooperativo e dinâmico, que

envolva cooperar com os professores, estar sempre em contato com eles

auxiliando-os na tarefa de compreender o comportamento dos alunos.

É preciso também que o O.E mantenha os seus professores informados

aos serviços de orientação educacional junto aos alunos, e quando esta atitude

tiver sido solicitada pelo professor deve informá-los das decisões tomadas.

Desta maneira, cabe ao O.E, para atuar nas práticas de letramento da

Educação Infantil, contribuir para decisões que se referem ao processo

educativo como um todo, visando um melhor atendimento à educação integral

dos alunos, que é o objetivo principal deste segmento, segundo a LDB- Lei de

Diretrizes e bases da Educação Brasileira.

E para que o orientador educacional desenvolva seu trabalho de

maneira que alcance os objetivos de todos, seja orientador, escola, professor,

alunos e pais é necessário entender melhor sobre a palavra ensinar.

Ou seja, o orientador educacional no âmbito escolar deve antes de tudo

acompanhar os alunos da educação infantil no seu processo de

desenvolvimento, com bom senso no seu trabalho e acima de tudo amor para

compreender as necessidades da criança nesta faixa etária, sua realidade, de

forma que escolha o referencial teórico e as ferramentas pedagógicas capazes

de promover o desenvolvimento das capacidades emocionais, cognitivas,

sociais e culturais dos alunos da Educação Infantil.

Paulo Freire (1996: 14-20), em seu livro pedagogia da autonomia relata

que ensinar exige pesquisa, rigorosidade metódica, respeito aos saberes dos

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educandos, criticidade, estética, ética, risco, aceitação, entre outras exigências

que o autor relata serem necessárias para ensinar.

A educação infantil deve ser vista como um espaço e tempo que os

alunos irão aprender brincando e se socializando, é a oportunidade das

crianças viverem com outras crianças não é preciso estipular regras ou

modelos a serem aprendidos.

Cabem ao professor e orientador sempre considerar os valores e

princípios presentes na realidade da criança, da sociedade, da educação que

recebem em casa e a cultura que lhes são transmitidos, só através dessa

contextualização que o orientador educacional pode ser considerado como um

educador crítico, reflexivo, pesquisador, criativo e comprometido com sua

responsabilidade na educação infantil.

Segundo Kroth (2008:39), Em toda a ação do Orientador Educacional é

necessária “ uma reflexão contínua sobre a realidade que o cerca,

possibilitando-lhe um posicionamento profissional mais adequado”. Ter sempre

presente em suas atividades os princípios que servem de suporte ao processo

de orientação, levando-o a uma ação mais consistente e coerente.

O sucesso da pratica da escolar certamente se encontra nas escolas

que adotam como conteúdo central a leitura e a escrita significativa para o

aluno, permitindo que o aluno construa sua aprendizagem num ambiente no

qual diariamente se possa manusear revistas, livros, jornais e os mais diversos

tipos de portadores textuais que sejam lidos pelo aluno ou pelo professor das

mais variadas formas possíveis, porque tais práticas tornam a aquisição da

leitura, escrita e letramento muito mais fácil.

Conferindo os estudos de Emília Ferreiro (2002:82), compreende-se

que:

A escola, a equipe pedagógica que pretende desenvolver uma

aprendizagem de sucesso, com alunos capazes de viver em

sociedade e interferir nesta utilizando as mais variadas

habilidades e competências desenvolve as atividades

pedagógicas de forma a permitir a interpretação e produção de

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uma diversidade de textos (inclusive dos objetos sobre os

quais o texto se realiza), estimulando diversos tipos de

situações de interação com a língua escrita e com as diversas

formas de comunicação permitida por esta, reconhecendo a

diversidade de problemas a serem enfrentados no decorrer

destas atividades e da construção destes saberes, criando

espaços para que sejam assumidas posições enunciativas,

assumindo, por fim, que a diversidade de experiências dos

alunos permite enriquecer a interpretação[...]

Neste contexto, considera-se que o grande papel do orientador

educacional nesta direção é caminhar ao lado dos professores nas escolhas

das ferramentas e estratégias adequadas ao letramento na Educação Infantil,

uma fase tão específica da Educação Básica, tendo um papel preponderante

no estímulo a formação permanente dos professores, tanto tecnicamente

quanto no que diz respeito a valores, atitudes, emoções e sentimentos,

promovendo as oportunidades de discussões pertinentes, analises criticas e

da criatividade do professor no sentido de facilitar a construção das

aprendizagens.

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CONCLUSÃO

Ao final desta pesquisa, considera-se que a Orientação educacional tem

um papel muito importante na escola atual, cujo compromisso é formar alunos

competentes nas mais diversas situações de uma sociedade mediada pela

leitura e pela escrita e que as práticas relacionadas a estas competências

devem ter inicio na Educação infantil, através de situações que permitam ao

aluno a interação com o texto lido e escrito mesmo antes deste dominar o

código lingüístico.

O aspecto da função do Orientador educacional de buscar sempre o

trabalho em grupo é muito importante para a educação infantil, pois tem

potencial para dinamizar a prática e mediar a relação entre a escola e a

família .

O orientador educacional hoje é imprescindível para o funcionamento da

escola de educação infantil, por ser um profissional de referência para

diretores, professores, pais e demais componentes da comunidade escolar.

Compreende-se que por ter esta característica de trabalhar em grupo e

por ser um membro da equipe pedagógica que circula por todos os espaços

escolares, o O.E pode facilitar muito as práticas de letramento, observando a

realidade e as necessidades da comunidade escolar, propondo temas para

projetos, elaborando situações de leitura, sinalizando ao professor inúmeras

maneiras de levar para o cotidiano da escolar as atividades que favorecerão as

práticas de letramento.

Respeitando os limites de um trabalho monográfico, espera-se que esta

pesquisa contribua para a reflexão com respeito ao tema , pois a questão do

letramento é muito importante em qualquer segmento da educação básica e

muito mais, na Educação Infantil, período de formação no qual deve se

promover o desenvolvimento integral da criança.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARIÉS, P. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaksman. 2.ed.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 09

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - 12

1- BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

1.2 -A Educação infantil no Brasil 20

CAPÍTULO I I

2- LETRAMENTO, APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO INFANTIL 23 2.1- Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem oral 29

CAPÍTULO III

3 – O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NAS PRÁTICAS DE

LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 33

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 40

ÍNDICE 43