63
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO DO CONSUMIDOR PROJETO A VEZ DO MESTRE HUMBERTO ALVES DE PAULA JUNIOR O Dano Moral e o Inadimplemento Contratual Rio de Janeiro 2004

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO DO CONSUMIDOR

PROJETO A VEZ DO MESTRE

HUMBERTO ALVES DE PAULA JUNIOR

O Dano Moral e o Inadimplemento Contratual

Rio de Janeiro

2004

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO DO CONSUMIDOR

PROJETO A VEZ DO MESTRE

HUMBERTO ALVES DE PAULA JUNIOR

OO DDaannoo MMoorraall ee oo IInnaaddiimmpplleemmeennttoo CCoonnttrraattuuaall

Monografia apresentada para

obtenção do título de Pós

Graduado em direito do

Consumidor na Universidade

Candido Mendes, através do

Projeto A Vez do Mestre.

Orientador: Professor Sergio

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Rio de Janeiro 2004

HUMBERTO ALVES DE PAULA JUNIOR

O Dano Moral e o Inadimplemento Contratual

Monografia apresentada para

obtenção do título de Pós

Graduado em direito do

Consumidor na Universidade

Candido Mendes, através do

Projeto A Vez do Mestre.

Orientadora: Professor Sergio

Aprovado em / /

Banca Examinadora

_________________________________ 1ºExaminador

_________________________________

2º Examinador

_________________________________ 3º Examinador

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Deus, o agradecimento por tudo o que

tens feito em toda a minha vida.

“Em ti, Senhor, confio; nunca me deixes

confundido, livra-me pela tua JUSTIÇA!.

Porque tu és minha rocha e a minha FORTALEZA;

assim, por amor do teu nome, guia-me e

encaminha-me pela vida toda.”

Dedico a monografia a minha família por estimula a

busca pela sabedoria

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

RESUMO:

Este trabalho tem a finalidade de trazer a discussão do estudo sobre o

dano moral focando mais especificamente sobre os casos mais freqüentes

em nossa sociedade, que seria o já mencionado dano ligado às relações de

consumo, no caso a quebra de um contrato. Estudaremos um breve

antecedente histórico sobre a responsabilização do dano, o posicionamento

e o seu ramo no Direito, ou seja, a responsabilidade civil, o amparo legal na

nossa legislação, os principais problemas na tipificação e na liquidação do

dano, além de um estudo mais específico do dano moral a luz do Código de

Defesa do Consumidor, com uma análise de algumas decisões. Importante

destacar que o resumo histórico e as noções preliminares de

responsabilidade civil são de extrema relevância para uma melhor

compreensão do que é o dano moral e, principalmente, para entender a

razão de sua polêmica no mundo acadêmico, tanto na sua tipificação

quanto na sua liquidação. Importante destacar os princípios que regem os

Contratos para que no momento da indenização, haja um melhor

embasamento, principalmente no que tange a boa-fé objetiva, o equilíbrio

contratual entre as partes e a função que o contrato deve exercer na nossa

sociedade. Estes princípios devem nortear a previsão legal de uma

indenização por um inadimplemento contratual, assim como já o faz com o

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Código de Defesa do Consumidor. Também ressalta-se o cuidado de expor

algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional

de relações de consumo, para compreender a razão porque a reparação por

danos morais é quase sempre presente nas demandas pautadas no código

de defesa do consumidor, principalmente em sede de juizado especial cível.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

SUMÁRIO

Introdução.......................................................................................................8 Capítulo 1- Do Dano Moral...........................................................................13 1.1 Antecedentes e Aspectos Históricos.......................................13 1.2 O Dano Moral e a Responsabilidade Civil..............................18

Capítulo 2- Princípios Norteadores do Dano Moral......................................24 2.1 O Amparo Legal.......................................................................24 2.2 O Dano Moral e Suas Controvérsias.......................................29 Capítulo 3 - Contratos....... ..........................................................................32 3.1 Princípios.................................................................................33 3.1.1 Função Social do Contrato ..................................................34 3.1.2 Boa-fé objetiva......................................................................37 3.1.3 Equilíbrio Contratual.............................................................39 3.2 Liberdade Contratual ..............................................................41 Capítulo 4 - O Dano Moral e as Relações de Consumo .............................46 4.1 O Dano Moral e a Defesa do Consumidor..............................46 4.2 O Caráter Pedagógico Punitivo..............................................51 4.3 Os Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade........55 Conclusão....................................................................................................58

. Referências..................................................................................................62

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

INTRODUÇÃO

A fixação do valor do dano moral é uma das questões mais

complexas em sede de responsabilidade civil, face à existência de

controvérsias sobre a sua tipificação e para os poucos parâmetros

definidos para o seu arbitramento.

Vários critérios têm sido adotados, sempre na busca de uma correta

fixação do quantum indenizatório devido a título de dano moral: algumas leis

especiais, tais como a Lei de Imprensa ( Lei 5252/67 ), o Código Brasileiro

de Telecomunicações ( Lei 4117/62 ), e mesmo o Código Eleitoral ( Lei

4737/65 ), estabelecem escalas para a indenização por danos desta

espécie, em valores que têm variado entre 50 ( cinqüenta ) e 200 ( duzentos

) salários mínimos.

Aliados aos critérios legais acima referidos, sempre em busca do

valor a ser fixado a título de dano moral, recomendam ainda a doutrina e

jurisprudência que a condição econômica das partes não possa ser

olvidada, bem como a intensidade do dolo, ou, ainda, o grau de culpa do

agente. Da mesma forma, a repercussão social do fato deverá influir na

fixação do valor devido.

Consoante estes aspectos, importante ressaltar os princípios que

regem os contratos em geral, bem como os tutelados pelo Código de

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Defesa do Consumidor, para embasar e confirmar o que a doutrina segue,

que é perfeitamente possível que um inadimplemento contratual gere um

prejuízo passível de indenização.

Este estudo se presta a um aprofundamento da matéria do dano na

esfera civil, mais especificamente do dano moral. Este instituto, muito em

moda, atualmente, visa proteger um bem jurídico que não pode ter seu valor

estimado. Pretende-se mostrar o dano moral como um prejuízo que não

afeta o patrimônio econômico da vítima ou do lesado, mas sim a mente e a

reputação dela assim como a evolução histórica do dano moral no direito

brasileiro, a cumulatividade no pedido com outros tipos de dano, os meios

de prova ou presunção do prejuízo moral e os parâmetros para aferição da

dor moral entre outras questões do controverso instituto.

Pretende-se, ao longo deste estudo, analisar a natureza do dano

moral no ordenamento jurídico, bem como os fundamentos de sua

reparabilidade, ou seja, qual é, efetivamente, o seu objetivo, sua finalidade,

que o levou a ser aceito como valor devido em determinadas ações de

responsabilidade civil.

Partindo-se do pressuposto que esta espécie de tipificação de dano

não tem a mesma caracterização atribuída aos danos materiais ( restitutio

in integrum ), mas prioritariamente conferir ao lesado meios que

possibilitem a amenização da dor sofrida, será demonstrado que o caráter

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

apenas punitivo do dano moral não pode ser utilizado como parâmetro para

a fixação da indenização.

Com efeito, faz-se necessário investigar a própria origem da

responsabilidade civil, gênero dentro do qual encontra-se alojada a espécie

reparação por dano moral, para que possa ser também evidenciada a

origem do próprio fenômeno indenizatório, nascido geminado ao direito

penal.

No segundo capítulo deste trabalho, será feita uma análise do amparo

legal, deste instituto, na legislação pátria passando pelo Código Civil de

1916 até o atual, assim como a garantia Constitucional da Carta Magna de

1988.

Será também exposto neste capítulo, a controvérsia jurídica da

tipificação do dano moral e da complicada liquidação do seu valor.

No terceiro capítulo os princípios norteadores da teoria dos contratos

será exposto, bem como a teoria da boa fé objetiva, função social do

contrato e o equilíbrio contratual entre as partes, para melhor entender as

conseqüências de um inadimplemento contratual.

Da mesma forma, ao término do trabalho é também abordada a

natureza da reparação do dano moral nas relações de consumo,

convidando a uma reflexão sobre sua finalidade reparatória no âmbito da

Lei 8078/90, bem como seus contornos, que podem vir a apresentar alguma

diferença em se tratando de relação entre fornecedor e consumidor, além

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

do que serão expostos alguns critérios mais utilizados pelos magistrados

para o balizamento da indenização, principalmente em sede de Juizado

Especial Cível.

Com efeito, nestes casos, o caráter preventivo-pedagógico do dano

moral se avultaria de tal forma, que, para parte da doutrina estaríamos

diante de verdadeira punição ao fornecedor de serviços ou de produtos que

apresentem algum vício ou venham a causar algum acidente de consumo (

fato do produto ou do serviço ).

Neste trabalho, foi feita uma pesquisa bibliográfica com base na

doutrina, jurisprudência, documentos, estudo de alguns casos específicos e

pesquisa.

Pretende-se através de uma pesquisa explicativa entender as causas

da banalização do ressarcimento por danos morais, assim como balizar

uma referência para a sua tipificação e a sua liquidação.

A jurisprudência tem sua devida importância na concepção deste

trabalho, pois muitas decisões são baseadas nela. Uma uniformização das

sentenças é importante para a lógica e o bom senso das decisões; Porém é

importante ressaltar que cada caso pode ter fatos e variantes diferentes.

A doutrina serve para um melhor embasamento das decisões

proferidas pelos juízes. Com o estudo da legislação vigente e com suas

diferentes opiniões é que podemos ter uma melhor visão do instituto do

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

dano moral. Com as diferentes visões sobre o mesmo assunto, temos um

melhor embasamento para fazermos comparações e chegarmos a

conclusões.

Está sendo feita também uma pesquisa baseada nas decisões em

sede de juizado especial cível, onde as maiorias das questões envolvendo

relação de consumo são resolvidas. Assistindo algumas audiências de

instrução e julgamento, temos uma visão mais prática de como os juízes

estão pondo em prática, tipificando ou não o dano moral e como está sendo

convertido em valores este ato.

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

1- DO DANO MORAL

1.1- ANTECEDENTES E ASPECTOS HISTÓRICOS

O dano moral encontra guarida no âmbito da responsabilidade civil,

que há séculos agasalha o princípio geral de direito sobre o qual se funda a

obrigação de indenizar. O fundamento da responsabilidade civil é a razão

por que alguém deve ser obrigado a reparar o dano causado a outrem.

Na primeira fase do processo histórico1 foi a culpa e, posteriormente

o risco de um dano, como conseqüência de certas atividades produtivas

desenvolvidas pelo agente causador do prejuízo, o que identificava a

responsabilidade.

1 AMARAL, Francisco. Introdução ao Direito Civil. 2.ed. Rio de Janeiro:Renovar,1998. P. 533

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

No processo histórico-evolutivo da responsabilidade civil podem-se

constatar três fases distintas: O direito romano, a idade moderna,

culminando com o código civil francês, e a fase contemporânea.

O direito romano caracterizava-se pela ausência de um sistema de

responsabilidade civil individualizada. Nos tempos primitivos, a

responsabilidade era coletiva, objetiva e penal. Coletiva porque as ofensas

pessoais e patrimoniais reparavam-se com a vingança privada contra o

ofensor ou seu grupo social. Era a fase da vingança privada, que poderia ter

como conseqüência a morte do lesante, ou mesmo a sua redução à

escravidão.

Posteriormente, esse procedimento foi substituído pela entrega à

vítima, pelo ofensor, de certa quantia em dinheiro, a título de pena (poena).

O estado passa a intervir nesses conflitos particulares, fixando o valor do

prejuízo e obrigando a vítima a aceitar a composição. A responsabilidade

era simultaneamente de caráter penal e civil e independente da existência

de culpa, donde a sua denominação de objetiva.2

É a lei das XII Tábuas que marca a transição entre a fase da

composição voluntária e a da composição obrigatória, obrigando a vítima a

renunciar à vingança privada e a aceitar a indenização fixada pelo Estado,

2 AMARAL, op cit, p.534

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

como pena privada e como reparação, não se distinguindo a

responsabilidade penal da civil.

Compreende-se assim por que o primitivo direito romano não teve um

sistema ou até um princípio geral sobre a matéria. Outra justificativa para a

ausência legal sobre a matéria no direito romano foi a existência de

inúmeros delitos especiais, com suas correspondentes ações. Na medida

que evoluía o direito, surgia a previsão e a disciplina de distintas hipóteses

de ato ilícito, o que levava ao casuísmo na solução dos conflitos.

Há notícia3, ainda, de vários instrumentos jurídicos que tinham o

intuito de regular a punição do dano, como o código de Hamurabi (onde era

consagrada a idéia de punir o dano, instituindo contra o causador um

sofrimento igual), o código de Manu e algumas regras consagradas pelo

Direito Hebreu.

Com o cristianismo interpretando os textos à luz da moral cristã,

separando o aspecto penal do civil, chega-se a uma síntese das soluções

romanas com os princípios da moral cristã, e elabora-se o princípio clássico

segundo o qual cada um deve responder pelos atos culposos que praticar e

que produzam um dano injusto a outrem.

3 ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano, 2ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1972, vol. 2, p. 231

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Já na época moderna, Domat, um dos maiores juristas franceses de

todos os tempos, à luz do pensamento jusnaturalista, estabelece o princípio

que vem a ser expresso no código civil, fonte de todo o direito moderno

sobre o assunto: o fundamento da responsabilidade civil é a culpa, a

negligência ou a imprudência. .Fica assim estabelecida a noção de

responsabilidade e o seu fundamento, a culpa, tipicamente consubstanciada

no ato ilícito praticado fora de uma relação jurídica preexistente (ilícito

extracontratual).

Nesse contexto passou-se a considerar ato ilícito o que afetava

apenas os direitos absolutos de outrem, enquanto a ofensa a direitos

relativos caracterizaria o inadimplemento contratual, levando à clássica

distinção entre responsabilidade extracontratual ou aquiliana e

responsabilidade contratual. Na primeira, a relação obrigacional surge, pela

primeira vez, ao verificar-se o dano, enquanto que, na segunda, decorre de

relação obrigacional preexistente.

Na fase contemporânea, com a revolução industrial e tecnológica, a

difusão dos meios de transporte, a complexidade crescente das relações

sociais, o desenvolvimento da civilização, enfim, surgem novas condições

de vida e, com isso, a proliferação dos acidentes de consumo e a

multiplicação das demandas judiciais. O princípio da culpa mostra-se

insuficiente como fundamento da obrigação de indenizar.

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Surge a concepção de que o dano deve ser indenizado,

independentemente de culpa do agente, ampliando-se os casos de

responsabilidade civil não decorrente de fato do próprio sujeito, mas

proveniente do risco derivado da sua atividade econômica e produtiva. Este

breve relato histórico4, posiciona o dano, na esfera da responsabilidade civil,

no processo histórico.

Dano seria uma lesão ao patrimônio de alguém, como os

doutrinadores costumavam conceituar. Hoje em dia, em uma definição mais

atual , dano seria a lesão à um bem jurídico. O dano pode ser patrimonial,

quando afeta um bem jurídico que tem valor expresso em dinheiro, ou pode

ser extrapatrimonial quando o bem jurídico afetado não pode ter seu valor

estimado em espécie, como por exemplo o dano moral.

O dano moral é presumido. O dano moral é a lesão a direito

personalíssimo produzida ilicitamente por outrem. Não afeta , a priori, o

patrimônio do lesado, embora nele possa vir a repercutir. A questão de

saber se é ou não indenizável leva a posições antagônicas, embora

prevaleça o ponto de vista de sua ressarcibilidade. Aceitando-se, porém, a

responsabilidade civil como sanção, não há por que se recusar o

ressarcimento do dano moral, misto de pena e de compensação.

4 AMARAL, op cit., p.535

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Wilson Melo da Silva5, aduz em sua obra: “O que afirmam é que

dada a natureza toda particular e toda subjetiva dos danos morais, a sua

reparação jamais poderia ser feita, objetivamente, pelo critério da

equivalência econômica”.

Modernamente, em linhas gerais, é lícito afirmar que o direito pátrio,

seguindo a tendência mundial que domina a matéria, consagra ao lado da

responsabilidade subjetiva, a responsabilidade objetiva, calçada na noção

do risco criado. Podemos citar como exemplos de responsabilidade objetiva

o artigo 37 § 6º da Constituição Federal, e a lei 8078/90 ( Lei de Proteção e

Defesa do Consumidor ), dentre vários outros diplomas legislativos.

1.2- O DANO MORAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL

A existência do dano dá ao lesado o direito de exigir a respectiva

reparação, que pode ser a reconstituição do status quo anterior (sanção

direta) ou uma indenização (sanção indireta). Consiste esta no pagamento

em dinheiro (prestação pecuniária), cujo valor deve ser fixado, por acordo

entre as partes, pela lei ou pelo juiz.

A expressão “responsabilidade civil” pode compreender-se em sentido

amplo ou em sentido estrito. Em sentido amplo, tanto significa a situação

5 Wilson Melo da Silva, O Dano Moral e Sua Reparação, 2ª ed. Rio de Janeiro, Forense, 1969, p.431.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

jurídica em que alguém se encontra de ter que indenizar outrem quanto a

própria obrigação decorrente dessa situação, ou , ainda, o instituto jurídico

formado pelo conjunto de normas e princípios que disciplinam o nascimento,

conteúdo e cumprimento de tal obrigação.

Em sentido estrito, designa o específico dever de indenizar nascido o

fato lesivo imputável a determinada pessoa. É civil porque a relação se

estabelece entre particulares, deixando-se ao direito administrativo o

problema da responsabilidade do estado pelos resultantes do

funcionamento dos serviços públicos.

O instituto da responsabilidade civil traduz a realização jurídica de um

dos aspectos do personalismo ético, segundo o qual ter responsabilidade,

ser responsável, é assumir as conseqüências do próprio agir, em

contrapartida ao poder de ação substanciado na autonomia privada. A

responsabilidade civil traduz, portanto, o dever ético-jurídico de cumprir uma

prestação de ressarcimento.

Modernamente, é correto afirmar que, a responsabilidade civil tem se

revelado um dos campos mais fecundos da evolução do direito, criando-se

progressivamente cada vez mais mecanismos de responsabilização por

danos causados, sempre objetivando satisfazer aquele que teve seu

patrimônio (material ou moral) lesado, chegando-se mesmo, em casos de

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

responsabilidade objetiva, a desprezar-se a culpa do causador do dano,

mola mestra, no passado, da imposição do dever de indenizar.

É certo, porém, afirmar, que, malgrado os esforços dos estudiosos do

assunto em sistematizar um conceito, uma teoria permanente da

responsabilidade civil, tal fato tem se revelado impossível, face às

constantes transformações sociais que têm ocorrido. Com efeito, visa a

responsabilidade civil o restabelecimento do equilíbrio desfeito por ocasião

do dano, através da busca de um equivalente a ser entregue ao lesado,

equivalente este que tem variado em cada tempo.

Quanto à sua natureza, a responsabilidade civil é sanção indireta, de

função preventiva e restauradora. Indireta porque, na impossibilidade de se

restabelecer a situação anterior ao evento lesivo, a lei determina a

reparação do prejuízo causado. Preventiva, porque, como toda sanção,

destina-se a garantir o respeito à lei, e restauradora no sentido de que,

violado o preceito jurídico e configurado o dano, o infrator se obriga a

indenizar o lesado.

É, portanto, e simultaneamente, uma sanção e uma garantia de

ressarcimento. Logo a responsabilidade civil é uma importante fonte de

obrigações, ao lado dos contratos, das declarações unilaterais de vontade e

das demais hipóteses que a lei estabelece para esse fim.

A responsabilidade civil pode ser dividida em responsabilidade

contratual e extracontratual. Na responsabilidade contratual há a

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

necessidade de um vínculo jurídico pré-existente (como exemplo o artigo

389 do código civil vigente). Na responsabilidade extracontratual, também

chamada de responsabilidade aquiliana, não há a existência de um vínculo

jurídico (como exemplo o artigo 186 do código civil vigente).

Também pode-se distinguir a responsabilidade civil em objetiva e

subjetiva. A responsabilidade subjetiva necessita como pressuposto do

dever de indenizar pela conduta culposa, o nexo de causalidade e o dano.

Na responsabilidade objetiva existe o nexo de causalidade e o dano, como

exceção da teoria do risco integral, porém não há a necessidade de uma

conduta culposa.

Há também outras subdivisões da responsabilidade civil como a

responsabilidade por fato lícito que seria a possibilidade de penalização

por um ato lícito (com exemplo o artigo 921, I do código civil vigente) e a

responsabilidade nas relações de consumo.

Com esta delimitação pode-se ter uma melhor compreensão e

também6 serve para situar melhor o instituto do dano moral. No âmbito da

responsabilidade civil, junto com o advento do código de defesa do

consumidor (com sua criação prevista na constituição federal de 1988) tem-

se então a delimitação necessária para um aprofundamento deste estudo.

6 CAVALIERE FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil . 4.ed. Rio De Janeiro: Malheiros,2003 p.36/40

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

A ninguém é lícito causar dano a outrem, sob pena de vir a ser

responsabilizado por seu ato danoso, que assim será conceituado, toda vez

que a conduta humana vier a infringir alguma das regras de convivência

estabelecidas pelo ordenamento jurídico.

Dano seria uma lesão ao direito de alguém, como os doutrinadores

costumavam conceituar. Hoje em dia, em uma definição mais atual , dano

seria a lesão à um bem jurídico. O dano pode ser patrimonial, quando afeta

um bem jurídico que tem valor expresso em dinheiro, ou pode ser

extrapatrimonial quando o bem jurídico afetado não pode ter seu valor

estimado em espécie, como por exemplo o dano moral.

O dano moral é presumido. O dano moral é a lesão a direito

personalíssimo produzida ilicitamente por outrem. Não afeta , a priori, o

patrimônio do lesado, embora nele possa vir a repercutir. A questão de

saber se é ou não indenizável leva a posições antagônicas, embora

prevaleça o ponto de vista de sua ressarcibilidade.

O que se pretende com o ressarcimento do dano moral não é a

restitutio in integrum do dano causado, até porque impossível na espécie;

mas, tão somente, a procura de uma forma de compensação quanto a

intranqüilidade e ansiedade sofridas injustamente, reparando de maneira

indireta, suas conseqüências.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Inegável, desse modo, a lesão a bens jurídicos inseridos na

personalidade do ofendido, atingindo, também, sua moral, a merecer

rigorosa punição por parte do judiciário.

Não se olvidem os aspectos identificadores do dano moral,

consubstanciados na subjetividade que atingem a intimidade e

consideração pessoal do lesado, e, ainda, na sua valoração ante o meio

em que atua, ou por outro lado, sua reputação, sua consideração social.

Existem também alguns tipos de dano morais que são mais fáceis de

serem tipificados que são o dano estético e o dano à imagem.

O dano estético é aquela lesão que deixa seqüela. Geralmente é uma

ligada às deformidades física, porém é admitido o dano estético também

nos casos de marcas e outros defeitos físicos que causem à vítima

desgosto ou complexo de inferioridade.

O tipo acima é facilmente exemplificado no caso de uma pessoa

pública que contrai uma cicatriz no rosto. Porém o entendimento de nossos

tribunais é que o dano estético está englobado pelo dano moral, apenas

ressaltando que a sua gravidade e intensidade devem ser arbitrado em

quantia mais expressiva quando a vítima sofre deformidade física.

O dano à imagem é a característica que individualiza a pessoa

perante a sociedade. Esse tipo de dano pode também gerar dano material.

O dano à imagem pode acarretar dano material e moral se, ao mesmo

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

tempo, a exploração da imagem der lugar à perda econômica e à ofensa

moral.

No caso acima, o dano pode afetar uma pessoa jurídica, quando a

honra ou a imagem da empresa forem manchados por determinada

exploração da estampa ou do logotipo da empresa, por exemplo. A súmula

227 do S.T.J. diz que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

2-PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DANO MORAL

2.1-O AMPARO LEGAL

A reparabilidade do chamado dano moral, conquanto tenha

encontrado fortes resistências no passado, sob os mais diversos pretextos,

como, por exemplo, o de que a dor sofrida não teria preço, não sendo, pois,

passível de avaliação econômica, encontra-se já hoje pacificada, tendo sido

a matéria, inclusive, elevada a categoria de princípio constitucional.

O dano moral era tratado de uma maneira muito tímida no código civil

de 1916, ora revogado, como por exemplo, no artigo 1.548 onde previa que

a mulher agravada em sua honra tinha o direito de exigir do ofensor

“um dote correspondente à sua própria condição e estado”.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Porém, na Constituição Federal de 1988, mais precisamente no artigo

5º-Dos Direitos e Garantias Fundamentais- há a recepção e o tratamento de

forma autônoma deste dano, para efeito de sua reparação. O texto

constitucional (art. 5º, inciso X) assegura expressamente o direito à

indenização pelo dano moral decorrente da violação da intimidade, da vida

privada, da honra e da imagem das pessoas.

No inciso V do mesmo dispositivo legal, é assegurado o direito de

resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material,

moral ou à imagem. Foi então a constituição federal de 1988 que acolheu,

de forma explícita, um instituto que até então era tratado de maneira tímida,

quase sempre na forma jurisprudencial. A jurisprudência de nossos tribunais

firmou posição neste sentido, merecendo destaque as seguintes ementas:

A nova carta da república conferiu ao dano moral status constitucional

ao assegurar, nos dispositivo sob referência, a sua indenização quando

decorrente de agravo à honra e à imagem ou de violação à intimidade e à

vida privada.

A indenização por dano moral independe de qualquer vinculação com

o prejuízo patrimonial ou dependência econômica daquele que a pleiteia, por

estar diretamente relacionada com valores eminentemente espirituais e

morais. 7

7

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

No Código Civil, o dano extrapatrimonial é tutelado nos artigos 953 e

954 onde é previsto que a ofensa será reparada mesmo se a vítima não

puder provar o prejuízo material.

O dano moral, que pode ser proveniente de qualquer tipo de vínculo

jurídico, acompanha de uma maneira quase sempre presente os problemas

oriundos das relações de consumo. A lei 8.078/90 (Código de Defesa do

Consumidor) visa à proteção e defesa do consumidor, criando normas que

possibilitam a fiscalização e o cumprimento de regras que harmonizem as

relações, reconhecida a vulnerabilidade do consumidor em face do mercado

de consumo.

As relações de consumo foram tuteladas pelo Estado quando na

Constituição Federal de 1988 foi previsto a intervenção do estado na defesa

do consumidor, no inciso XXXII do artigo 5º, no inciso V do artigo 170º e nas

suas disposições transitórias ( artigo 48) . Logo a lei 8.078/90 criou o código

de defesa do consumidor com o intuito de estabelecer normas de proteção

e defesa do consumidor.

Mister salientar que o mesmo artigo (Dos Direitos e Garantias

Fundamentais) que previu a criação de um sistema de proteção ao

consumidor (artigo 5º da constituição federal) tutelou também o instituto do

BRASIL. Supremo Tribunal Federal-1º turma-relator Ilmar Galvão- re 192.593-j. 11/05/1999-rjtj

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

dano moral (no inciso X) trazendo assim para o direito positivo um tipo de

dano que não era tratado especificamente em nossa legislação.

Contudo, repita-se, esta modalidade de dano, agora já reconhecido

em sede constitucional, nem sempre foi aceito em nossa legislação, bem

como na doutrina estrangeira.

A polêmica que sempre cercou o dano moral. foi campo fecundo para

inúmeras discussões entre os juristas, cujas opiniões variavam desde a sua

irreparabilidade, até a sua aceitação por si só. Saliente-se, ainda, que, entre

estes dois pólos, haviam correntes tidas como intermediárias, dentre as

quais podemos citar, por exemplo, aquela que preconizava a reparabilidade

do dano moral, apenas quando este tivesse produzido conseqüências

danosas para o patrimônio material do lesado ( a qual, na verdade, não

reconhecia, de forma concreta, a possibilidade de indenização autônoma do

dano moral).

Com efeito, depois de refutada a teoria da inadmissibilidade de

reparação dos danos morais, sob o argumento de que a dor humana não

seria passível de valoração econômica, como já antes referido, passou-se a

admitir a reparação de tais espécies de danos desde que, acompanhados

de conseqüências patrimoniais : era o reconhecimento do dano moral

reflexo. Apesar de não reconhecer de forma direta a existência do dano

moral, abriu esta teoria espaço para o reconhecimento do dever

indenizatório a título de dano moral, antes repelido com veemência.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Atualmente, a reparação da violação ao dano moral, como antes

afirmado, é pacificamente aceita. Contudo, Inobstante o já consagrado

reconhecimento do instituto, é lícito afirmar, que , existem ainda uma série

de controvérsias a seu respeito, A confusão reinante em doutrina e

jurisprudência inicia-se mesmo na própria definição do que seja, ou melhor,

do que constitua, efetivamente o dano moral.

Ao que parece, o entendimento mais correto acerca da definição do

dano moral é aquele que concebe que os danos se qualificam em morais ou

materiais, não pela causa que os determine, mas sobretudo, pelos efeitos

finais que venham a causar. Com efeito, há danos materiais que são

originados pela violação de um aspecto da personalidade do indivíduo, ou

seja, uma causa moral, chamada pela doutrina de danos morais indiretos.

Atualmente, em razão das inúmeras atividades realizadas na

sociedade, o homem esta sujeito à toda sorte de acontecimentos que

poderiam enfadá-lo, todavia, essas situações, em regra, não geram

qualquer verossimilhança de uma indenização, ou seja, não configura-se o

dano moral.

Certo é porém, que não se pode reconhecer a existência do dano

moral de forma indiscriminada, mas, apenas em hipóteses nas quais,

efetivamente, se verifique ofensa ao patrimônio moral fora dos limites do

razoável, ou da própria tolerabilidade do meio social em que veio a mesma

ocorrer.

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

2.2- O DANO MORAL E SUAS CONTROVÉRSIAS

Com a modernização e o crescimento do consumo, é quase inevitável

um aumento na complexidade e uma quantidade cada vez maior de

problemas provenientes ou relacionados com o mercado de consumo.

Depara-se então com a questão mais importante a ser debatido

neste estudo que é como reparar o prejuízo proveniente dos problemas

causados pelas relações de consumo.

Em sede de dano moral, como não poderia ser diferente, há uma

grande controvérsia com relação ao tema. São dois os principais

problemas, sendo que um é sucessivo ao outro. Primeiramente a questão

mais polêmica é como tipificar a conduta ou prática que gera um dano

passível de ser indenizado na esfera moral e depois de tipificado, a

segunda questão seria como quantificá-lo.

Quanto aos critérios que devem nortear determinação do quantum

debeatum indenizatório no concernente ao aspecto do dano moral,

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

consubstanciam-se, atualmente, em três parâmetros: primeiramente o grau

de culpa ou o dolo, considerada na sua intensidade máxima, quando

provém de imperícia, imprudência ou negligência do agente; segundo a

intensidade do sofrimento do ofendido, em razão da repercussão do fato

desta gravidade, conjugada com a situação profissional e social da lesada;

e ,por último, o mais importante: o caráter punitivo da indenização, de sorte

que o valor fixado seja suficientemente elevado, desestimulando, por

completo, a repetição de fatos semelhantes, seja pelo próprio ofensor ou

por terceiros.

É justamente neste ponto da matéria, ou seja, no estudo dos critérios

que devem nortear o intérprete da norma jurídica, que com mais nitidez se

manifesta a questão objeto deste estudo, a saber, o caráter punitivo do

dano moral. Isto porque, para parte da doutrina, quando do estabelecimento

do quantum indenizatório a título de dano moral, dever-se-ia levar em conta

a duplicidade funcional do instituto: o dano moral deveria, ao mesmo tempo,

compensar, de alguma forma, a dor sofrida, e, ao mesmo tempo, servir de

punição ao infrator.

Parte de doutrina entende ser a indenização por danos morais8 uma

maneira de não só reparar, mas também quando o que se tem em vista é

unicamente “dar a pessoa lesada uma satisfação que lhe é devida por uma

8 LIMA, Zulmira Pires de, Responsabilidade Civil por Danos Morais, Revista Forense, vol 83, p. 217.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

sensação dolorosa que sofreu”, sem que tenha havido qualquer diminuição

patrimonial em contrapartida, Em se tratando de reparação de danos morais

o que se tem em mente é a função satisfatória do instituto, e não a função

de equivalência, mais peculiar em sede de reparação de danos materiais.

Há que se afirmar, em sede de dano moral, a prevalência da tese da

responsabilidade plena, aplicando-se a pena indenizatória ao agressor, com

base nos critérios acima elencados, de forma a, por um lado, satisfazer

totalmente o lesado, abrangendo-se qualquer prejuízo, e, por outro lado,

punir o lesante, desestimulando mais práticas ilícitas.

Orientação essa que alcança vigor, dia após dia, na doutrina e

jurisprudência pátria; que consiste em atribuir à condenação pecuniária por

danos morais, um caráter de real punição ao agressor, de forma a destituí-lo

de novas atitudes semelhantes, fornecendo exemplo positivo ao restante da

sociedade.

O segundo problema é diretamente ligado ao primeiro, pois passado

o entendimento que alguma prática gerou um dano passível de ser

indenizado moralmente, esbarra-se agora na liquidação do dano, ou seja,

qual a quantia que o juízo vai fixar para a reparação.

Não há fórmula matemática ou entendimento uniforme quanto ao

valor do ressarcimento. É natural esta confusão, já que se não há ponto

pacífico na tipificação do dano, não seria na liquidação dele que haveria

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

consenso. Também tem uma conseqüência negativa na nossa economia,

pois com a crescente “indústria do dano moral”, já se vê empresas

repassando um possível prejuízo com sentenças negativas , nos seus

preços e no seu planejamento anual.

Quanto ao pretium doloris a reparabilidade pedagogica do dano moral

tem merecido a investigação de nossos juristas.

Mas o debate acerca dos danos morais indenizáveis é acirrado em

torno da problemática da mensuração ou quantificação das indenizações.

Trata-se de um ponto bastante polêmico e controverso pois não há

nenhum critério uniforme determinado e estabelecido do qual o magistrado

possa se valer na hora de materializar a sentença indenizatória, além

daquelas já mencionadas.

A fixação do quantum indenizatório dos danos morais encontra

obstáculo na dificuldade de arbitramento de sua valoração , buscando a

doutrina basear-se em alguns princípios que regem a matéria, observando

de início que a reparação por dano moral deve abranger uma

compensação para o ofendido ou lesionado e constituir em pena ao ofensor

ou lesionante para coibir a prática reiterada do ato lesivo.

3-CONTRATOS

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Os negócios bilaterais, isto é, os que decorrem de acordo de mais de

uma vontade, são os contratos. Portanto contratos é uma espécie do gênero

negócio jurídico.9 O contrato se aperfeiçoa pela coincidência de duas ou

mais vontades. Se estas se externarem livre e conscientemente, se foram

obedecidas as prescrições legais, a lei as faz obrigatórias, impondo a

reparação das perdas e danos para a hipótese de inadimplemento.10

3.1- PRINCÍPIOS

Dentre os princípios chamados liberais incluem-se aqueles sobre os

quais a doutrina civilista vem discorrendo há muito tempo. São eles: a) a

autonomia privada; b) o pacta sunt servanda; e c) a relatividade subjetiva do

contrato (eficácia inter partes).

Já no rol dos denominados princípios sociais, pode-se relacionar: a) a

função social do contrato; b) a boa-fé objetiva; c) o equilíbrio contratual.

Estes últimos mais importantes para o foco deste estudo.

9 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 28.ed. Rio de Janeiro: Saraiva. 2002. P. 9 10 Rodrigues. Op cit. P.13

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

3.1.1. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO

O art. 421 do Código Civil prescreve que "a liberdade de contratar

será exercida em razão e nos limites da função social do contrato". A

disposição legal do CCB evidencia a funcionalização do contrato.

Ao atribuir-se ao contrato uma função (social), acometendo a seu

titular um poder-dever, traz-se para o direito privado algo que

originariamente sempre esteve afeto ao direito público, que é o

condicionamento do poder a uma finalidade..11

Isto significa que o contrato deve ser socialmente útil, de maneira que

haja interesse público na sua tutela.

A referência à função social do contrato significa, de outro lado, "a

aproximação do direito com as demais ciências sociais, como a sociologia,

a economia, a ciência política, antropologia, em um processo interdisciplinar

11 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do contrato no Estado Social. Maceió: Edufal, 1983, p. 41.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

de resposta às questões que a sociedade contemporânea coloca ao jurista",

de quem passou a exigir "uma postura crítica em prol de uma ordem mais

justa na sociedade".12

No Estado Social exige-se que a ação dos poderes públicos se

desenvolva em favor de uma maior justiça social13. O legislador há de

elaborar textos que permitam edificar uma ordem social mais justa, em

benefício dos menos favorecidos, de modo a minorar a desigualdade de

chances, tão característica de uma sociedade liberal. Como primeira

conseqüência da função social do contrato tem-se que com base no

princípio da autonomia da vontade não se poderá estabelecer pactos

contrários aos ideais de justiça .

Ao Judiciário cumprirá, quando instado pela parte interessada,

exercer um controle efetivo sobre o conteúdo contratual, sempre que

determinada estipulação impeça que o contrato exerça a função social

exigida em lei.

Neste passo, dispõe o parágrafo único, do art. 2.035, do Código Civil,

que "nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem

pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a

função social da propriedade e dos contratos".

12 . GOMES, Orlando. Contratos. 17 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 20. 13 AMARAL,op cit, p.20

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Percebe-se, assim, que a função social do contrato deve apresentar

um matiz ativo, consistente em comportamentos positivos (prestações de

fazer), de modo a impor, aos figurantes daquele negócio jurídico um dever

de atuação em benefício de outrem e não, tão-somente, um dever de não

causar prejuízo a outrem.

A idéia de ‘função social do contrato’ está claramente determinada

pela Constituição, ao fixar, como um dos fundamentos da República, ‘o

valor social da livre iniciativa’ (art. 1º, IV), essa disposição impõe, ao jurista,

a proibição de ver o contrato como um átomo, algo que somente interessa

às partes, desvinculado de tudo o mais. O contrato, qualquer contrato, tem

importância para toda a sociedade e essa asserção, por força da

Constituição, faz parte, hoje, do ordenamento positivo brasileiro.

De resto, o art. 170, caput, da Constituição da República, de novo,

salienta o valor geral, para a ordem econômica da livre iniciativa.

No direito brasileiro, o status constitucional da função social do

contrato veio tornar mais claro, reforçar, o que, em nível da legislação

ordinária, já estava consagrado como comportamento a ser adotado por

terceiros diante do contrato vigorante entre as partes. Esse dever de

respeito já existia por força do art. 159 do Código Civil de 1916, preceito que

constitui verdadeira "cláusula geral" no nosso sistema, que é tanto mais

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

forte, na exigência de um comportamento socialmente adequado, quanto

mais longa e conhecida e pública a duração do contrato, porque tudo isto

agrava a culpa pelo desrespeito.

Vale ressaltar que o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078,

de 11 de setembro de 1990), que, em consonância com a tábua axiológica

unificante da Constituição de 1988, não só prestigiou a regra da boa-fé em

seus artigos (arts 4º, III, e 51, IV, como exemplos), como também a tutelou

implicitamente em muitos outros dispositivos esparsos em seu texto.

Seja como for, a análise ora realizada, referente aos contornos

dogmáticos da boa-fé objetiva anteriores à Constituição de 1988 e à Lei nº

8.078, de 11 de setembro de 1990, serve não só para demonstrar a difícil

trajetória percorrida pela boa-fé objetiva até o declínio das convicções

liberais, mas também para a constatação das suas grandes perspectivas,

sobretudo após a entrada em vigor do "Novo" Código Civil, que a consagra

nos arts 112, 113, 421 e 422.

3.1.2 BOA-FÉ OBJETIVA

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

O princípio da boa-fé objetiva encontra assento nos artigos 113 e 422

do Código Civil.

Em face do primeiro, "os negócios jurídicos devem ser interpretados

conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração"; de acordo com o

segundo, os contratantes, "são obrigados a guardar, assim na conclusão do

contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé"14.

Ao comentar o art. 1.443 do Código Civil de 1916, Clóvis Beviláqua,

no longínquo ano de 1926, já sustentava que "todos os contractos devem

ser de boa fé".

A boa-fé objetiva desempenha no campo obrigacional três funções

distintas: a) cânone hermenêutico-integrativo do contrato; b) norma de

criação de deveres jurídicos; c) norma de limitação ao exercício de direitos

subjetivos .

Como cânone hermenêutico-integrativo, a boa-fé objetiva propicia,

inicialmente, uma melhor especificação do "plano legal de ordenação do

contrato", atuando, enquanto via para uma adequada realização, pelo órgão

jurisdicional, do plano de valoração do legislador15 .

14 AMARAL. Op cit, p. 357.

15 MARTINS-COSTA, Judith. A Boa-Fé no Direito Privado. São Paulo: RT, 1999, p. 427-428.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Ao atuar como norma de criação de deveres jurídicos, a boa-fé

objetiva explicita a natureza processual da obrigação, onde as posições dos

credores e devedores às vezes se aluem, ensejando que ambos possam

exigir da contra-parte atuações positivas frente à outra .

Não se trata de enfraquecer a posição do credor, o qual continuará a

ser o titular do direito, podendo exigi-lo coercitivamente do devedor, mas de:

atribuírem-lhe determinados deveres de conduta em face do sujeito passivo,

os quais deverão estar presentes antes, durante e após o cumprimento das

prestações reciprocamente acordadas; e limitar-lhe o exercício de

determinados direitos subjetivos, sempre que estes direitos, quando

exercitados, revelem-se, afinal, abusivos.

Tal como ocorre com o dever de prestar, imposto ao sujeito passivo

da obrigação, o dever de boa-fé se aplica a todos os credores,

independentemente da fonte do seu direito de crédito .

3.1.3 EQUILÍBRIO CONTRATUAL

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

A República Federativa do Brasil possui como objetivo fundamental,

dentre outros, "construir uma sociedade livre, justa e solidária". É o que

reza o inciso I, do art. 3.º, da Constituição Federal de 1988.

A eqüidade, ou o equilíbrio nas relações contratuais, há de se

constituir num dos princípios de que se valerá o sistema para alcançar

aqueles escopos traçados na Carta Magna.

Embora se tutelem, enquanto princípio fundamental, os valores

sociais do trabalho e da livre iniciativa (CF/88, art. 1.º, inciso IV), o

estabelecimento das convenções deverá pautar-se de acordo com ideais de

justiça e eqüidade a fim de que se não avilte, de outro lado, a dignidade da

pessoa humana , também princípio fundamental (CF/88, art. 1.º, inciso III) –

em verdade o mais importante deles todos.

Equilíbrio entre as prestações contratuais, de modo que contratantes

não aufiram, em face um do outro, vantagem manifestamente excessiva,

responde ao ideal de justiça contratual que permeia nosso ordenamento

jurídico.

Esse ideal de justiça contratual pode ser aferido quando se veda a

prática do ato jurídico lesionário (CCB, art. 157, c/c o art. 171, inciso II) ou

se admite possa o magistrado reduzir eqüitativamente, a pena convencional

estipulada pelos contratantes , quando parte da obrigação principal tiver sido

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

adimplida pelo devedor, ou quando a penalidade se mostrar excessiva, em

vista da natureza e finalidade do negócio ( Código Civil Brasileiro, art. 413).

Ele também está presente na legislação de defesa da concorrência,

quando se proíbe, no bojo da Lei n.º 8.884, de 11 de junho de 1994, a

imposição de preços excessivos, ou o aumento injustificado do preço de

bens ou serviços (inciso XXIV).

A justiça contratual impõe que o contrato não destrua o equilíbrio

existente anteriormente entre os patrimônios daqueles que o tiverem

firmado. Cada uma das partes, portanto, deve receber o equivalente daquilo

que haja dado .

É essencial que o contrato, ao permitir a satisfação das necessidades

das partes, o faça em conformidade com a justiça comutativa .

A incidência do princípio dar-se-á nas convenções em que uma das

partes, por ser suficientemente forte, possa ditar seu conteúdo à outra, não

importando a natureza profissional ou não de seus partícipes .

3.2- LIBERDADE CONTRATUAL

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

A liberdade contratual depende conceitualmente da chamada

autonomia privada, ou autonomia da vontade, a qual, por sua vez, é o

reflexo da liberdade econômica .

O princípio da liberdade contratual pode ser apreendido sob uma

dupla dimensão: a) de fundo; e b) de forma .

Quanto ao fundo, a liberdade contratual se expressa através de uma

tripla faculdade: a) contratar ou não contratar; b) escolher livremente seu co-

contratante; c) estabelecer livremente o conteúdo do contrato.

A liberdade de contratar é reconhecida no Novo Código Civil

Brasileiro (art. 421). Em princípio, portanto, e ressalvadas as exceções cada

vez mais freqüentes, o ato de contratar, a escolha do respectivo parceiro e o

estabelecimento do conteúdo do contrato sujeitam-se à vontade dos

contratantes, os quais poderão estabelecer novos tipos contratuais, além

dos já existentes, desde que observadas as normas gerais legalmente

prescritas (NCCB, art. 425).

Quanto à forma, a liberdade contratual postula o consensualismo. A

troca de consentimentos é suficiente à conclusão do contrato, pouco

importando a forma através da qual eles são constatados .

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Assim, preceitua o NCCB que "a validade da declaração de vontade

não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a

exigir" (art. 107).

A falta de igualdade material entre os contratantes impede que se dê

realce a um princípio que não mais reflete tal característica. Surge, então, a

necessidade de uma maior intervenção do Estado, através da edição de

normas imperativas, capazes de minorar aquela desigualdade.

Atualmente, em muitas hipóteses, não se pode mais assegurar aos

partícipes de qualquer relação contratual a plena liberdade de contratar ou

de não fazê-lo; de estipular livremente o conteúdo do contrato; de escolher

seu co-contratante, recusando-se a estabelecer o vínculo com outrem por

razões de ordem particular. A validez do contrato privado passa, muitas

vezes, a depender do assentimento de uma autoridade .

Há casos em que se atribui a alguém o dever de contratar com

outrem, desde que presentes determinada forma. A recusa poderá implicar

responsabilidade civil do faltoso ou ensejar a execução coercitiva da

prestação que se não contratou em favor do lesado .

Observe-se o Código de Defesa do Consumidor (CDC), por exemplo.

Em seu art. 39, diz-se constituir em prática abusiva o fornecedor "recusar a

venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de

intermediação regulados em leis especiais" (inciso IX).

A mesma restrição encontra-se na Lei n.º 8.884, de 11 de junho de

1994 , desta feita nas relações jurídicas estabelecidas ainda que entre

profissionais. Seu art. 21 dispõe caracterizar-se infração à ordem

econômica – dentre outras condutas – "recusar a venda de bens ou a

prestação de serviços, dentro das condições de pagamento normais aos

usos e costumes comerciais" (inciso XIII).

Constata-se, então, que um dos sujeitos da relação jurídica

obrigacional não poderá escolher o outro parceiro, estando obrigado a

celebrar contrato com quem lhos requeira, desde que mediante pronto

pagamento (CDC), ou pagamento dos produtos e serviços em conformidade

com os usos e costumes comerciais (Lei 8.884/94).

A estipulação do conteúdo contratual, em verdade, nunca esteve

submetida ao exclusivo talante dos interessados.

Mesmo em códigos fortemente influenciados pelo subjetivismo

jurídico, e toda a ideologia que lhe é subjacente, sempre existiu alguma

limitação de ordem objetiva ao conteúdo contratual.

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

A liberdade contratual, assim, exerce-se dentro dos limites fixados

pelo legislador. O espaço deixado ao livre jogo das vontades individuais

será reduzido ou aumentado de acordo com os interesses que se queira

tutelar .

Mesmo a liberdade de forma, a reclamar o simples consenso para a

conclusão dos contratos, já não dispõe do espaço legislativo de outrora. A

tutela da parte mais débil na relação negocial conduz ao retorno de um

certo formalismo, não apenas no domínio do Direito do Consumidor, mas

igualmente em outras situações onde a desigualdade contratual se

apresente com certa freqüência .

Assim, por exemplo, o consumidor poderá requerer em juízo a

modificação das cláusulas predispostas pelo fornecedor e que estabeleçam

prestações desproporcionais, ou postular a sua revisão em face da

ocorrência de fatos supervenientes que as tornem excessivamente

onerosas (CDC, art. 6.o, inciso V).

Embora concluído o contrato, tal circunstância não se constituirá em

óbice à atuação dos órgãos jurisdicionais, sempre que ocorrentes hipóteses

tais quais as descritas na legislação consumerista.

Não estará o juiz adstrito, portanto, à vontade dos contratantes,

estando autorizado a conformá-la aos ditames legais.

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

O respeito à boa-fé objetiva e à ordem pública, do mesmo modo, tem

sido um instrumento de que se têm valido os operadores do direito para,

afastando o princípio da força obrigatória dos contratos, permitir

modificações em seu conteúdo, a partir da atuação dos órgãos jurisdicionais

.

4-O DANO MORAL E AS RELAÇÕES DE CONSUMO

4.1- O DANO MORAL E A DEFESA DO CONSUMIDOR

O dano moral está quase sempre presente nas relações processuais

que tramitam em sede de juizado especial cível. Também é certo que a

maioria destas ações versam sobre alguma relação de consumo, mais

precisamente de algum inadimplemento contratual.

Com a Lei 8.078/90, que criou o Código de Defesa do Consumidor, a

indenização por dano moral muito evoluiu. Porém é importante destacar

alguns aspectos da política nacional de relações de consumo.

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

A lei acima mencionada trouxe uma tutela, até então inédita na

legislação pátria, que beneficiou e procurou harmonizar as relações

comerciais em nossa sociedade.

Convém mencionar alguns benefícios que este dispositivo legal trouxe

como a inversão do ônus da prova, o reconhecimento da vulnerabilidade do

consumidor no mercado de consumo e a repressão aos abusos praticados

no mercado de trabalho.

Como Contrato, a relação de consumo deve também ser regida pelo

seus principais pilares, ou seja a boa-fé objetiva, o equilíbrio contratual entre

as partes e a função social do contrato.

O artigo 6° dispõe que são direitos básicos dos consumidores, dentre

outros, a proteção contra a publicidade enganosa, a modificação de

cláusulas abusivas e o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com

vista à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais. Este artigo

embasa então, as sentenças condenatórias de caráter reparatório moral.

Quando se fala em “prevenção de danos”, fala-se certamente, em

primeiro lugar, nas atitudes que as próprias empresas fornecedoras de

produtos e serviços devem ter para que não venham a ocorrer danos ao

consumidor ou a terceiros.

No âmbito das relações de consumo, os lineamentos da

responsabilidade objetiva foram logo acolhidos e denominados

“responsabilidade pelo fato do produto”: não interessava investigar a

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

conduta do fornecedor de bens ou serviços, mas somente se deu causa ao

produto ou serviço, sendo responsável pela sua colocação no mercado de

consumo.16

Passados estes primeiros esclarecimentos, cumpre direcionar-se o

foco para a problemática da tipificação do dano. A tênue linha entre um

mero aborrecimento do cotidiano com um fato gerador de dano moral

acarreta uma grande controvérsia entre os juristas e doutrinadores, com

reflexo nas decisões proferidas nos tribunais.

O caráter deste dano, como já descrito anteriormente, é

extremamente subjetivo o que dificulta o seu arbitramento.

Mister esclarecer que o mero inadimplemento contratual não

configuram por si só o dano moral, porque não agridem a dignidade

humana. O s aborrecimentos deles decorrentes ficam subsumidos pelo

dano material, salvo se do inadimplemento contratual, por sua natureza ou

gravidade, exorbitarem o aborrecimento normalmente decorrente de uma

perda patrimonial também repercutirem na esfera da dignidade da vítima,

quando então, configurarão o dano moral.17

Logo, conforme descrito acima, é importante analisar a conduta do

infrator e a repercussão do ato para um melhor arbitramento da

indenização.

16 GRINOVER, Ada Pellegrini. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: Comentado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 159 17 CAVALIERE, op cit, p.99

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

É certo, porém, que há decisões em vários sentidos, ora sendo

adotados determinados critérios, ora outros, revelando sempre uma

incansável busca dentro do ordenamento em vigor, de parâmetros que

melhor atinjam o objetivo da reparação por dano moral.

O artigo 4° da lei de introdução ao código civil dispõe que quando a lei

for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e

os princípios gerais de direito. Logo, por força deste dispositivo legal, a

sentença pode dispor dos parâmetros usados, por exemplo, nas já citadas

Lei de Imprensa ( Lei 5262/67 ), Código Brasileiro de Telecomunicações (

Lei 4117/62 ) e no Código Eleitoral ( Lei 4737/65 ).

Tendo como exemplo de inadimplemento contratual, a falha na

prestação de serviço de empresa de transportadora aérea, seja com o

atraso do vôo ou no extravio de bagagem, temos um exemplo de como a

indenização por danos morais pode ser aplicada.

O transporte aéreo é regido pela Lei nº 7.565 de 19/12/1986 (Código

Brasileiro de Aeronáutica), a convenção de Varsóvia de 12/10/1929,

promulgada pelo Decreto nº 20.704, de 24/11/1931, e o Protocolo de Haia,

de 28/09/1955, promulgado pelo decreto nº 56.463, de 15/06/1965, que

procedeu as alterações naquela convenção.

Segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, em

consonância com a Constituição Federal, o tratado se incorpora ao direito

interno no mesmo nível hierárquico da Lei Ordinária, rejeitando-se o

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

princípio consolidado em caso de conflito, prevalecendo a norma posterior

sobre a anterior, por representar esta, a última vontade do legislador.

Antes mesmo da vigência do Código de Defesa do Consumidor, o art.

269 do Código Brasileiro de Aeronáutica, que estabelece responsabilidade

limitada pelos danos causados a terceiros, já havia perdido sua eficácia a

partir da Constituição de 1988. E assim é porque, o artigo 37, § 6º da nossa

Carta Magna, estendeu às pessoas jurídicas de direito privado, prestadora

de serviço público, responsabilidade objetiva, idêntica a do Estado, pelos

danos causados por seus agentes, nessa qualidade, à terceiros.

Essa extensão, a Constituição não estabeleceu qualquer limite para

indenização, como aliás, não há limite para a responsabilidade do Estado.

Logo, em matéria de defesa, esta limitação de indenização prevista no

tratado, não pode ser usada para o não reconhecimento de uma conduta

geradora de dano moral.

Civil – Transporte aéreo –Atraso de vôo internacional – Dano Moral – Convenção de Varsóvia – Código de defesa do Consumidor – Aplicabilidade – Precedente da Turma –Orientação do Supremo Tribunal Federal – Agravo Desprovido. I – Nos termos da orientação firmada em precedente da Turma, “o dano moral decorrente de atraso em viagem internacional tem sua indenização calculada de acordo com o código de defesa do consumidor” ( Resp 235.678-SP, DJU 14 de fevereiro de 2000 ). II – Segundo decidiu o Supremo Tribunal Federal, a propósito de extravio de mala, a indenização por danos morais, no transporte aéreo,

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

merece reparação sem qualquer limitação. ( RE 172.720 – RJ, DJU 12 de novembro de 1999 )18

Como não poderia deixar de ser, o novo Código Civil adotou esse

mesmo posicionamento no seu artigo 732. As convenções internacionais só

são aplicadas aos contratos de transporte quando não contrariarem as

disposições do Código Civil.19

Ultrapassadas estas considerações, entende-se então que o Dano

Moral pode ser caracterizado por uma turbação no ânimo do ofendido, em

reações desagradáveis, desconfortáveis ou constrangedoras20, além da já

mencionada ofensa a honra e dignidade humana.

4.2- O CARÁTER PEDAGÓGICO / PUNITIVO

O ordenamento jurídico atua na prevenção do dano de duas formas:

através do estabelecimento de determinadas medidas que visem impedir

que o mesmo se verifique, como por exemplo através da fixação de normas

de segurança para o desenvolvimento de certas atividades laborais, e, em

segundo lugar através do exercício de pressão psicológica sobre os

18 BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça – 4ª turma – relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. AG 209.763 – MG – 18 de abril de 2000 19 CAVALIERE, op cit, p.323. 20 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais, 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,1993, n. 5, p.31

Page 52: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

indivíduos, que cientes das conseqüências advindas do descumprimento de

certos preceitos, devem abster-se de praticá-los.

Contudo, tal não impede a produção de atos ilícitos no corpo social, o

que levará, então, a surgimento de uma reação contra o dano, função esta

exercida pela responsabilidade civil.

Na atualidade, a indenização pelo dano moral é largamente utilizada

pelos juízes, inclusive nas relações contratuais, principalmente nas de

consumo. Qualquer indenização não pode ser tão mínima a ponto de nada

reparar, nem tão grande a ponto de levar à penúria o ofensor, criando para

o Estado mais um problema social.

Não há nenhuma fórmula matemática ou dispositivo legal que dê um

valor econômico ou transforme o prejuízo causado pelo dano moral em uma

quantia que repare o problema. No dano moral não há reparação do

prejuízo, porém mais propriamente uma compensação que teria a função de

minorar esse sofrimento.

Por outro lado, há um grande número de demandas pleiteando uma

indenização por danos morais, principalmente em sede de juizado especial

cível (Lei 9.099/95), onde não há uma uniformização no pensamento dos

magistrados, gerando sentenças totalmente disformes, ou seja, por ser uma

reparação de um direito subjetivo não há um entendimento pacífico quanto

Page 53: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

a qual tipo de conduta, ou omissão geraria um prejuízo cabível de ser

indenizado a título de dano moral.

Outrossim, o dano moral deve ter um caráter punitivo/pedagógico,

visando regularizar e pacificar as relações de consumo, tentando evitar um

futuro problema. Segundo a lição de Caio Mário da Silva Pereira21, através

da obrigação de compensar o dano moral, o réu sofre um natural

desestimulo a reiteração da conduta lesiva. Deve servir para que o ofensor

sinta no próprio bolso que os contratos devem ser respeitados para que o

equilíbrio entre as partes não seja desrespeitado.

O valor da indenização deve ser arbitrado levando-se em conta um

valor que sirva não só para reparar o dano em si, mas também para servir

de punição ao ofensor para que assim , se evite que situações semelhantes

se repitam.

Também deve ser levada em conta a repercussão da

indenização sobre o patrimônio do ofensor, para que de fato cause algum

efeito. Antônio Lindbergh C. Monteiro sobre este assunto escreveu:

Embora a reparação do dano moral apareça como uma idéia incluída

entre as tendências do direito civil moderno, indisfarçável é o seu caráter

21 PEREIRA, Caio Mário. Instituições de Direito Civil. V. II.. Rio de Janeiro: Saraiva. P. 176

Page 54: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

exemplar, expiatório, como ensina Ripert. A soma em dinheiro paga pelo

agente é para que ele sinta de alguma maneira o mal que praticou. 22

O que se pretende com o ressarcimento do dano moral não é a

restitutio in integrum do dano causado, até porque impossível na espécie;

mas, tão somente, a procura de um forma de compensação quanto a

intranqüilidade e ansiedade sofridas injustamente, reparando de maneira

indireta, suas conseqüências . Necessário se faz impor uma pena ao

causador do dano moral, para não passar impune a infração,

desestimulando, assim, novas agressões.

Aqui a diferença básica, portanto, entre a reparação do dano moral e

a reparação do dano patrimonial: no primeiro se busca a equivalência e no

segundo apenas a compensação e se o contrato da relação de consumo

gera um efetivo prejuízo para a parte mais fraca, ele deve ser indenizado,

visto que o equilíbrio contratual entre as partes é um dos pilares da teoria

geral dos Contratos.

4.3-OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE

22 MONTEIRO, Antônio Lindbergh. Ressarcimento de dano. 3. ed.. Rio de Janeiro: Malheiros, 1997, p.21

Page 55: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

A reparação do ilícito causado poderá se dar através do

restabelecimento da situação jurídica que se encontrava o bem lesado

anteriormente ao dano (reparação in natura), ou através do pagamento de

uma soma indenizatória.23

Apesar de ser a reparação in natura, a princípio, o meio mais

recomendável, em ocorrendo o ilícito, de reparar-se o dano causado, não foi

estabelecido pelo legislador brasileiro como preponderante em relação à

recomposição do prejuízo através do pagamento de uma soma monetária,

capaz de recompor, através de um equivalente, o bem jurídico lesado.

É lícito, assim, afirmar que, inobstante as críticas em contrário, não

consagrou o ordenamento brasileiro o princípio da primazia da reparação

natural, conforme se constata pela leitura do artigo 947 do Código Civil.

É importante, para a autoridade judicial, que no momento da fixação

da reparação pecuniária do dano moral leve-se em conta alguns princípios

ou teorias, que podem ser aplicadas a fim, de se evitar qualquer disparidade

entre o ilícito moral e a sentença judicial.

Pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, a

indenização não pode ser fixada num valor tão alto que vire uma causa de

23 AGUIAR DIAS, Da Responsabilidade Civil, 5ª ed., Rio de Janeiro : Forense,1973 , vol. 2, p.353

Page 56: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

enriquecimento ilícito, mas também não pode ser tão baixa que o autor da

prática que configurou dano a outrem não sinta no bolso a conseqüência de

ato. Deve haver uma paridade entre a prática geradora do dano moral e sua

indenização.

O dano deve ser provado por quem o alega. Esta é a regra geral.

Porém no caso do dano moral, como em regra não se presume o dano,

podem haver decisões no sentido de desacolher a pretensão indenizatória

por falta de prova do referido dano.

Todavia, por se tratar de algo imaterial a prova do dano moral não

pode ser feita através dos mesmos meios utilizados para a comprovação de

outros tipos de danos. Neste ponto a razão do dano moral está ínsito na

própria ofensa, ou seja, apenas há a necessidade de se provar o fato.

Neste tocante, os objetivos da política nacional de relação de

consumo são explícitos, tanto que o código de defesa do consumidor, prevê

em seu capítulo III, artigo 6º, VI como direito básico de todo consumidor a

efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais.

Por outro lado, temos a inversão do ônus da prova, dispositivo legal

criado para facilitar a defesa dos direitos do consumidor, diante da

hipossuficiência contra as empresas. È previsto no inciso VIII do artigo 6º

do Codecon, e consiste, como o nome mesmo diz, em inverter a

responsabilidade de provar.

Page 57: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Este dispositivo foi criado para tentar equilibrar a relação jurídica entre

os consumidores e as empresas e para diminuir a sensação de

hipossuficiência técnica e econômica que os consumidores sofrem ao tentar

pleitear seus direitos perante as grandes empresas.

CONCLUSÃO

Conclui-se então que o dano moral, apesar de ser um instituto

bastante discutido, é largamente utilizado em nossos tribunais,

Page 58: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

principalmente em sede de Juizado Especial Cível onde são ajuizadas a

maioria das ações proveniente das relações de consumo.

É de extrema relevância o estudo do tema, pois a modernização da

vida humana trás inúmeros benefícios, porém, conseqüentemente, a carga

de fatos novos gera a cada dia problemas que não existiam

anteriormente.

É de extrema importância a tutela do dano moral pelo Estado, a fim

de indenizar e coibir práticas que não eram tipificadas em nenhuma norma

existente. É muito válido, porém o estudo detalhado deste instituto para que

haja decisões cada vez mais sensatas e uniformes a fim de que o

consumidor, pólo mais fraco da cadeia de consumo não seja prejudicado

Mister destacar, também que assim como esse, outros estudos

tragam elementos para esclarecer quaisquer dúvidas para que não haja

uma banalização de tal instituto, que não pode ser instrumento de

enriquecimento ilícito ou parte de uma engrenagem, hoje alcunhada de

“indústria do dano moral” que inviabilizaria a prática comercial e

conseqüentemente traria conseqüências negativas para a economia

nacional.

Deve-se ver a tutela do dano moral, pelo Estado, como um progresso

do direito, seja ele doutrinário, legislativo ou jurisprudencial, assim com o

código de defesa do consumidor é

Page 59: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

Os princípios norteadores dos Contratos não podem ser esquecidos

na hora da fixação da pena, bem como o caráter da Boa-fé objetiva que

deve reger os contratos. Assim sendo o inadimplemento contratual deve e

pode ser passível de indenização, seja ela de caráter patrimonial ou

extrapatrimonial.

E se hoje já se pode afirmar haver concordância na doutrina acerca

da plena reparabilidade do dano moral, o mesmo não se pode dizer quanto

ao exato fundamento jurídico dessa reparabilidade, bem como acerca da

forma como deve esta mesma reparação ser feita.

Importante, porém, é que haja um critério na hora da fixação da

indenização, seja ele pelo princípio da razoabilidade, da proporcionalidade,

pelo caráter pedagógico/ punitivo ( a fim de que a empresa não repita a

prática ) ou por analogia usando o Código Brasileiro de Telecomunicações (

Lei 4117/62 ), o Código Eleitoral ( Lei 4737/65 ) ou a Lei de Imprensa ( Lei

5262/67).

Consoante estes aspectos balizadores, tem-se então alguns

parâmetros para a liquidação do dano, ou seja, a fixação da quantia devida

pela conduta lesiva. Deve-se também ressaltar que quando da sentença,

pode o juiz também se valer de provas testemunhais, para no caso concreto

aplicar a sanção.

Em relação a indenização por danos morais proveniente de um ato ou

omissão que gere uma conduta lesiva a algum contrato, percebe-se que os

Page 60: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

contratos regidos pela Lei 8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor,

são aqueles que mais freqüentemente sofrem com esta questão.

Deve o julgador diante do caso concreto utilizar-se daquele que

melhor possa representar os princípios de eqüidade e de Justiça, levando-

se em conta as condições latu sensu do autor e do réu, como também a

potencialidade da ofensa, a sua permanência e seus reflexos no presente e

no futuro; devendo, no entanto, ter o cuidado de não fixar valores ínfimos

que não sirvam para desestimular as práticas ofensivas, como por exemplo

o arbitramento de valores de até 100 (cem) salários mínimos, nos casos em

que o réu seja detentor de grande patrimônio econômico, uma vez que

neste caso, o quantum fixado perderá sua função educativa, posto que não

servirá como meio de coibir e desencorajar a prática de novos atos ilícitos,

uma vez que a pessoa humana como centro do direito na responsabilidade

civil, necessariamente precisa ter sua integridade física, sua imagem e

personalidade integralmente preservadas.

Por derradeiro, evidentemente, é indispensável determinada cautela

àqueles que movem a "máquina" judiciária pleiteando indenizações por

danos morais. Esta espécie de ação não compreende demasiados esforços

para motivar um possível sucesso a final, contudo é indubitável que, para se

obter uma verossímil decisão favorável é exigível do profissional certa

prudência e, principalmente, bom senso ao operar a Justiça.

Page 61: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

REFERÊNCIAS: AGUIAR DIAS, Da Responsabilidade Civil. 5. ed. Rio de Janeiro:

Forense,1973, vol. 2.

Page 62: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

AMARAL, Francisco. Introdução ao direito civil. 2.ed. Rio de Janeiro:

Renovar,1998.

ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,1972.

BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. 2. ed.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 2. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1998.

CAVALIERE FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 4.

ed. Rio de Janeiro: Malheiros, 2003.

GARCIA, José Augusto. O princípio da dimensão coletiva das

relações de consumo. Revista de direito do consumidor, n.28, agosto/99.

GOMES, Orlando. Contratos. 17 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

GRINOVER, Ada Pellegrini. Código Brasileiro de Defesa do

Consumidor Comentado. 7. ed. Rio de Janeiro. Forense,2001.

LIMA, Zulmira Pires de. Responsabilidade Civil Por Danos Morais.

Revista Forense, vol.83.

Page 63: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO DE DIREITO … ALVES DE PAULA JUNIOR.pdf · algumas noções de direito do consumidor, assim como a política nacional de relações de

LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do contrato no Estado Social. Maceió:

Edufal, 1983.

MARTINS-COSTA, Judith. A Boa-Fé no Direito Privado. São Paulo:

RT, 1999.

MONTEIRO, Antônio Lindbergh. Ressarcimento de dano. 3. ed. Rio

de Janeiro: Âmbito Cultural , 1997.

PEREIRA, Caio Mário. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro.

Saraiva. Vol. II.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 28.ed. Rio de Janeiro: Saraiva. 2002.

SILVA, Wilson Melo. O Dano Moral e Sua Reparação. Rio de Janeiro.

Forense. 1969.

WALD, Arnoldo. Obrigações e contratos. São Paulo: Revista dos

Tribunais 1994.