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noções de DIREITO PROCESSUAL CIVIL
STJ
TEORIA GERAL DO PROCESSO – I
Livro Eletrônico
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Teoria Geral do Processo – I
Prof.ª Lisiane Brito
www.grancursosonline.com.br
SUMÁRIO
Teoria Geral do Processo – I .........................................................................5
Introdução ao Estudo do Direito Processual Civil ............................................5
Apresentação do Curso ................................................................................5
Apresentação da Professora .........................................................................7
Introdução ao Direito Processual Civil ...........................................................8
Direito Material e Direito Processual ...........................................................10
Instrumentalidade do Processo ...................................................................11
O Processo Civil Moderno ..........................................................................13
Direito Processual Civil Constitucional .........................................................15
Normas Processuais contidas na Constituição Federal ....................................16
Princípios Gerais do Processo Civil na Constituição Federal .............................16
Princípio do Devido Processo Legal ..............................................................17
Devido Processo Legal Substancial e Formal .................................................17
Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição ...................................................18
Princípio do Contraditório ...........................................................................19
Contraditório e Prova Emprestada ...............................................................22
Princípio da Duração Razoável do Processo ...................................................24
Princípio da Isonomia ................................................................................26
Isonomia Formal e Isonomia Real ...............................................................27
Princípio da Imparcialidade do Juiz (Juiz Natural) ..........................................30
Requisitos para a Caracterização do Juiz Natural ...........................................31
Princípio da Publicidade dos Atos Processuais ...............................................31
Princípio da Motivação das Decisões Judiciais ...............................................33
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Princípios Infraconstitucionais do Processo Civil ............................................34
Princípio Dispositivo ..................................................................................34
A Disponibilidade do Direito Material ...........................................................35
O Princípio Dispositivo e a Propositura da Demanda ......................................35
Princípio do Impulso Oficial ........................................................................36
Princípio da Oralidade ...............................................................................37
Subprincípio da Imediação .........................................................................37
Subprincípio da Identidade Física do Juiz .....................................................38
Subprincípio da Concentração ....................................................................39
Subprincípio da Irrecorribilidade em Separado das Decisões Interlocutórias ......39
Princípio da Persuasão Racional (ou Livre Convencimento Motivado) ................40
Princípio da Boa-Fé ...................................................................................41
Princípio da Cooperação ............................................................................43
Jurisdição ................................................................................................43
Conceito de Jurisdição ...............................................................................44
Modalidades de Jurisdição ..........................................................................45
Jurisdição Contenciosa e Voluntária .............................................................45
Classificação da Jurisdição quanto ao Objeto ................................................46
Classificação da Jurisdição quanto ao Tipo de Órgão que a Exerce ...................46
Classificação da Jurisdição quanto à Hierarquia .............................................47
Poderes da Jurisdição ................................................................................47
Poder de Decisão ......................................................................................48
Poder de Coerção .....................................................................................48
Poder de Documentação ............................................................................48
Princípios da Jurisdição ..............................................................................49
Princípio da Investidura .............................................................................49
Princípio da Indeclinabilidade ou da Inafastabilidade ......................................49
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Princípio da Indelegabilidade ......................................................................50
Princípio da Improrrogabilidade ..................................................................50
Princípio da Inércia da Jurisdição ................................................................50
Princípio da Correlação ..............................................................................51
Princípio da Definitividade ..........................................................................51
Princípio do Juiz Natural ............................................................................52
Órgãos – Noções sobre a Estrutura do Poder Judiciário ..................................53
Legenda do Organograma ..........................................................................55
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TEORIA GERAL DO PROCESSO – I
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Apresentação do Curso
Caro(a) aluno(a),
Iniciamos agora o Curso de Direito Processual Civil para o concurso público do
STJ, cargo de Técnico Judiciário/Área Administrativa.
Para nossa disciplina, o CEBRASPE/CESPE não exigiu um conteúdo muito exten-
so do CPC/2015.
No entanto, é necessário dedicar atenção aos conceitos e institutos jurídi-
cos, já que a banca, tradicionalmente, alia a doutrina à jurisprudência em suas
questões.
Nosso curso será ministrado em duas aulas, sendo nessa primeira aula aborda-
do o seguinte conteúdo:
• Introdução ao Direito Processual Civil:
– Direito Processual e Direito Material;
– Instrumentalidade do Processo;
– O Processo Civil Moderno;
– Direito Processual Civil Constitucional;
– Princípios Gerais do Processo Civil na Constituição;
– Princípios Infraconstitucionais do Processo Civil.
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• Jurisdição:
– conceito;
– modalidades;
– poderes;
– princípios;
– órgãos.
Na segunda aula, abordaremos os seguintes tópicos do seu edital:
• Ação:
– conceito;
– natureza jurídica;
– condições;
– classificação.
• Sujeitos do processo:
– partes e procuradores;
– juiz;
– ministério público;
– serventuários da justiça e oficial de justiça (funções, deveres e responsa-
bilidades).
– atos processuais.
Ao final, você terá a oportunidade de testar seus conhecimentos, por meio da
resolução de questões da banca.
Então, vamos lá!
Aproveite a aula!
Lisiane Brito
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Apresentação da Professora
Sou a professora Lisiane Brito.
Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental desde 2005, ano em
que iniciei minhas atividades de docente.
Ministro aulas nos principais cursos preparatórios para concursos públicos de
Brasília, bem como nos mais importantes cursos do país há mais de treze anos,
além de atuar como instrutora em cursos de formação de servidores públicos e do-
cente em programas de pós-graduação.
Ao longo de todo esse período, venho acompanhando e comemorando o sucesso
dos milhares de alunos que conquistaram a tão sonhada vaga no serviço público,
com aproveitamento máximo nas provas.
Busco cada vez mais aprimorar a didática empregada nas aulas, lançando mão
desse “dom” de transmitir o conhecimento de maneira clara e simples, de modo
que o Direito se torne uma disciplina acessível até mesmo àqueles que não têm
formação nessa área de conhecimento. Penso que isso é um dos maiores atrativos
das aulas.
Foi a partir dessa experiência em sala de aula e com o emprego da mesma
didática que desenvolvi nossas aulas de Direito em PDF. Todo o material foi elabo-
rado com muito cuidado, utilizando uma linguagem simples, clara e objetiva, sem
abrir mão do devido cuidado em trazer às aulas o necessário aprofundamento ao
conteúdo abordado.
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Introdução ao Direito Processual Civil
Sabemos que incumbe ao Estado zelar pela paz social e, para tanto, por meio da
função legislativa, são editadas diversas normas, com vistas ao estabelecimento
dos direitos e deveres dos membros da sociedade. Se todos esses direitos fos-
sem respeitados e todos os deveres fossem cumpridos, de acordo com o que a lei
estabelece, não surgiriam conflitos e, consequentemente, não haveria necessidade
de processos.
Só que não é dessa forma que a vida em sociedade transcorre. Primeiramente,
porque nem sempre existem regras claras e adequadas para gerir as relações e,
quando essas existem, geralmente não são suficientes para conter os impulsos hu-
manos que frequentemente se manifestam.
Na dinâmica social, são frequentes, infelizmente, as situações em que o mais
forte quer lesar o mais fraco, ou que aquele que não se esforçou tenta usurpar
o produto do esforço alheio, ou ainda que o mais astuto procura enganar o mais
ingênuo. Quando isso ocorre, as normas de conduta previstas abstratamente pela
lei, com vistas ao regramento de situações genéricas, são violadas, surgindo um
conflito de interesses.
Esse conflito, por si só, é um fenômeno sociológico, não se configurando em um
fenômeno processual. Isso porque, se os envolvidos fizerem um acordo, ou se um
deles renunciar à sua pretensão, não haverá processo.
Entretanto, pode ocorrer determinada situação em que não se consiga encontrar
uma solução. Quando isso acontece, qualquer um dos envolvidos poderá buscar o
Estado-Juiz, para que esse apresente uma solução imparcial (proferida por alguém
que não está envolvido no conflito), dotada de força coercitiva.
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No momento em que um dos envolvidos nessa lide busca a tutela jurisdicional,
o processo se inicia e, nesse instante, deverá atuar a ciência processual, que tem
por finalidade estudar os instrumentos de atuação do Estado-Juiz para dar solução
aos conflitos a ele apresentados. É fácil deduzir que, se não houvesse o instrumen-
to do processo e a possibilidade de se recorrer ao Poder Judiciário, a força iria pre-
valecer. Seria o império da “Lei do Mais Forte”. Daí, surge a necessidade de haver
um procedimento, previamente estabelecido em lei, apto a pôr fim aos conflitos de
interesses trazidos à apreciação do Estado-Juiz.
Pois bem, amigo(a). Feitas essas considerações preliminares, vamos definir o
Direito Processual Civil.
�O Direito Processual Civil é o ramo do direito que contém as regras e os princípios
que tratam da jurisdição civil, isto é, da aplicação da lei aos casos concretos, para
a solução dos conflitos de interesses pelo Estado-Juiz.
Já vimos que uma condição necessária para que exista o processo é o conflito
entre sujeitos. Entretanto, o conflito de interesses não é, isoladamente, suficiente
para que as normas relativas ao processo sejam aplicadas. É necessário que uma
das partes envolvidas recorra ao Poder Judiciário, trazendo a ele uma pretensão.
Diante disso, conclui-se que, para que exista o processo, é necessário que exis-
ta um conflito posto em juízo.
O PROCESSO CIVIL é, portanto, consequência de um conflito de interesses,
mais uma pretensão levada ao Estado-Juiz.
Aí reside a diferença entre a relação processual e as relações interpessoais, das
quais podem até mesmo resultar eventuais conflitos. Nessas últimas, há um sujei-
to que figura na relação processual: o juiz, cuja atribuição é aplicar a lei ao caso
concreto, na busca da paz social.
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Para que se compreenda o Direito Processual Civil, como ramo autônomo do
Direito, é necessário que se saiba distinguir as relações de pessoas envolvidas
em conflitos não levados a juízo daquelas cujos conflitos são levados ao Poder
Judiciário.
Na verdade, no primeiro caso, temos relações bilaterais, lineares, ao passo em
que nos processos teremos relações triangulares.
Veja:
Relação de Direito Material
As partes se confrontam diretamente.
Relação de Direito Processual
Perceba que aqui o Estado-Juiz se posiciona entre as partes.
Direito Material e Direito Processual
Diante dos direitos atribuídos pela lei aos membros da sociedade, temos o sur-
gimento de várias normas de direito material, que são as que indicam os direitos
de cada indivíduo ou grupo de indivíduos. Assim, por exemplo, há uma norma legal
que estabelece o direito a postular alimentos. Temos aqui uma norma de direito
material, que confere ao titular um interesse primário.
Por outro lado, as normas processuais são instrumentais, pois só existirão se
houver um titular de direito material desrespeitado, ou que ele julgue que tenha
sido desrespeitado e, diante disso, recorra ao Judiciário para que o garanta.
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Pode ocorrer, na vida em sociedade, de um direito ser espontaneamente respei-
tado, como pode ocorrer de não o ser. Nessa hipótese, se o lesado quiser compelir
aquele que violou seu direito a respeitá-lo, terá de recorrer ao Estado, resultando
disso a instauração de um processo.
O processo não é um fim em si mesmo, é um instrumento, um meio de buscar
a satisfação de um direito material desrespeitado. Assim, as normas de direito pro-
cessual regem o instrumento adotado pelo Estado-Juiz para fazer valer os direitos
daqueles que a ele recorreram.
Instrumentalidade do Processo
Já vimos que o processo é o instrumento de que se vale o juiz para aplicar a lei
ao caso concreto. Podemos, então, concluir que o processo é o instrumento da
jurisdição.
Sabemos também que o processo não é um fim em si próprio, já que um
cidadão não procura o Judiciário, peticionando, sem ter uma pretensão a ser sa-
tisfeita. O que esse sujeito busca é a prestação jurisdicional, a fim de proteger
um direito material lesado ou ameaçado, solucionando com isso um conflito de
interesses.
Diante disso, o processo goza de relativa autonomia, em relação ao direito
material que nele se discute. Dizemos que a autonomia é relativa pelo fato de que
não existe processo sem que exista uma situação material concreta, posta em juí-
zo. Assim, só será efetivo um processo se ele funcionar como instrumento adequa-
do à solução do conflito.
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Da instrumentalidade do processo, decorre a instrumentalidade das formas,
pela qual o desatendimento à forma prescrita na lei processual não importa a nuli-
dade de ato que tenha atingido o fim visado. Um exemplo disso é a previsão legal
de formalidades a serem observadas na citação do réu. Se tais formalidades não
forem cumpridas, mas o réu comparecer a juízo, o ato será considerado válido. É o
que dispõe o Art. 239, § 1º do NCPC. Veja:
Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado,
ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar
do pedido.
§ 1º O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade
da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de contestação ou de
embargos à execução.
Isso ocorre porque a finalidade da citação é chamar o réu ao processo e, haven-
do o comparecimento desse, o objetivo foi atingido. O princípio da instrumentalida-
de das formas foi explicitamente previsto no art. 188 do CPC:
Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada salvo
quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de ou-
tro modo, lhe preencham a finalidade essencial.
Concluindo, é necessário que alguns institutos do direito processual sejam ana-
lisados em compatibilidade com o direito material. É o que ocorre com a ação e
suas condições, por exemplo. Não se pode examinar a legitimidade ad causam dos
litigantes, sem que se faça referência ao direito material alegado.
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O Processo Civil Moderno
Embora o surgimento do Direito Processual, como ciência autônoma, seja re-
sultado de uma lenta evolução, para a qual contribuíram vários estudiosos, a dou-
trina costuma apontar o ano de 1868 como o marco do seu surgimento. Nesse
ano, Oskar von Bülow publicou, na Alemanha, seu trabalho sobre a teoria dos
pressupostos processuais, no qual desenvolveu a ideia de processo como relação
jurídica processual e procedimento. A partir daí se consolidou a autonomia
do direito processual face ao direito material, firmando-se o entendimento da
relação jurídica processual, com sujeitos, objeto e pressupostos próprios.
Pois bem, amigo(a), essa célebre obra é tratada como o marco inicial da auto-
nomia do Direito processual, pelo fato de que por meio dos estudos de Oskar von
Bülow se evidenciou claramente que o processo não se confunde com o exercício
do direito e que a ação não é a mesma coisa que o direito material em movimento.
Deixe-me esclarecer esse ponto.
Nos primórdios do estudo do processo, tivemos a fase denominada de “praxis-
mo”, ou “fase sincretista”. Nesse momento, entendia-se que havia um único
corpo, que agregava o direito material e o processual.
Nesse momento inicial, o processo era visto como um conjunto de formas, que
existiam para que o direito pudesse ser exercido. O processo se confundiade com
o próprio direito material. Na verdade, naquele momento, o processo era apenas
o direito material “em movimento”. Nessa linha de raciocínio sincretista, se
alguém tivesse um direito e encontrasse resistência, poderia movimentar esse di-
reito, para vê-lo garantido por meio de um processo.
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Esclarecido o raciocínio da fase praxista, anterior à obra de Oskar von Bülow,
voltemos agora a esse doutrinador e ao produto de seu trabalho: a fase do pro-
cessualismo.
Nesse momento da evolução dos estudos, ficou evidenciado que a relação jurí-
dica processual não se confunde com a relação material que se discute. A partir daí,
o processo ganhou autonomia, sendo superado o pensamento sincretista.
O principal mérito do processualismo foi a conquista da autonomia do proces-
so, em relação ao direito material, destacando o Direito Processual como disciplina
autônoma. Entretanto, um aspecto prejudicial da busca pela autonomia do proces-
so foi seu distanciamento do direito material. O processo, como sabemos, existe
para garantir o direito material e solucionar questões a ele referentes. O primeiro é
instrumental em relação ao segundo e, portanto, não há como isolar um do outro.
Os estudos evoluíram e a fase que sucedeu o processualismo foi a do instru-
mentalismo. Essa nova concepção tentou compatibilizar a autonomia do Direito
Processual com o Direito Material. Foi nessa fase que se chegou à conclusão de que,
se o direito processual concretiza e torna efetivo o direito material, esse confere
sentido àquele. Os dois coexistem, sendo o segundo instrumental ao primeiro.
A importante evolução teórica levou ao estabelecimento dos princípios e dos
institutos jurídicos que permitem a qualificação de uma ciência como tal. O
instrumentalismo evoluiu mais e chegou-se ao Neoprocessualismo, também
conhecido como formalismo valorativo, formalismo ético ou modelo cons-
titucional de processos. Temos aqui várias expressões que designam a mesma
fase. Diferentes doutrinadores usam diferentes termos para concluir a mesma
coisa: as normas de Direito Processual têm sua origem na Constituição.
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O neoconstitucionalismo levou à valorização dos princípios, que assumem
status de norma. Consequentemente, o Direito Processual Civil deve valorizar a
força normativa da Constituição, consagrando os direitos fundamentais. Isso
se revela nos artigos iniciais do NCPC, as denominadas “normas processuais civis
fundamentais”. Além disso, todas as normas processuais previstas em leis devem
observar os preceitos constitucionais. E, como sabemos, o texto da Constituição
Federal traz vários princípios processuais.
A conclusão a que se chega, diante disso, é que, pelo fato de ser a Constituição
da República a norma suprema do ordenamento jurídico, os princípios nela contidos
têm força normativa, devendo tanto orientar a interpretação das demais normas
quanto a fundamentação das decisões.
Veja o que dispõe o art. 140, do NCPC:
Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.
Direito Processual Civil Constitucional
Sabemos que é na Constituição Federal que se fundamenta toda a estrutura hie-
rárquica do ordenamento jurídico brasileiro. Todas as normas são criadas a partir
dos preceitos e valores constitucionais e o Direito Processual Civil não foge a essa
regra. Na verdade, esse ramo do Direito precisa estar em permanente sintonia com
a Constituição Federal, respeitando sua supremacia, sob pena de nos depararmos
com uma norma processual inconstitucional.
Diante disso, é necessário que aqueles que pretendem estudar as regras do
NCPC tenham prévio conhecimento do modelo processual delineado pela Constitui-
ção Federal.
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A doutrina aponta quatro grupos de regras constitucionais que atuam direta-
mente na esfera processual. Vejamos, a seguir, quais são esses grupos.
Normas Processuais contidas na Constituição Federal
• Princípios constitucionais do Direito Processual Civil;
• Regras de Organização Judiciária;
• Funções Essenciais à Justiça;
• Procedimentos Jurisdicionais Constitucionalmente diferenciados.
Princípios Gerais do Processo Civil na Constituição Federal
O art. 1º do CPC determina a subordinação do Processo Civil à Constituição Fe-
deral.
Veja:
Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
Perceba que esse dispositivo estabelece que o processo civil deverá ser discipli-
nado e interpretado de acordo com a Constituição Federal, observadas as disposi-
ções contidas no próprio Código. Essa regra, prevista no primeiro artigo do NCPC,
orienta os que vão interpretá-lo a tomar conhecimento dos valores e das normas
fundamentais da Constituição Federal, sem o que não há como aplicá-lo adequa-
damente. Deverá haver observância e subordinação, não apenas aos princípios
fundamentais, mas aos valores e às normas constitucionais.
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O legislador do NCPC, depois de trazer explícito no artigo 1º a obrigatoriedade
de submissão à Constituição, repetiu nos artigos seguintes alguns dos princípios
fundamentais do processo civil previstos no texto constitucional, como o do con-
traditório, da ampla defesa, da demanda, da duração razoável do processo
e da isonomia.
Essa reiteração tem uma finalidade didática, já que funciona como uma adver-
tência de que, na aplicação e na interpretação do código, tais princípios devem ser
observados.
Princípio do Devido Processo Legal
Também denominado de princípio da legalidade, é inspiração para todos os
demais. Se origina do Art. 5º, LIV, da Constituição Federal:
Art. 5º, LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido pro-cesso legal
Perceba que a Constituição assegura a liberdade e os bens, garantindo que seus
titulares não os percam por atos que não sejam judiciais e emanados do Estado. O
Judiciário, por sua vez, deverá observar as garantias próprias do Estado de Direito,
respeitando a Lei e garantindo a cada um o que é seu.
Devido Processo Legal Substancial e Formal
O devido processo legal formal diz respeito à própria tutela processual, ou
seja, ao processo, às garantias que esse processo deverá respeitar e ao regramen-
to legal a que deve obedecer.
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O devido processo legal substancial ou material, por sua vez, é uma forma
de autolimitação do poder do Estado, na medida em que veda a edição de normas
que violem a razoabilidade e agridam o regime democrático.
Ao nosso estudo interessa, nesse momento, o aspecto formal, que diz respeito
às normas processuais.
Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição
Também denominado princípio do acesso à justiça, tem sua origem no art.
5º, XXXV, da Constituição Federal:
Art. 5º, XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito
O NCPC também o traz estampado no Art. 3º, caput.
Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
Esse princípio garante a todos o direito à efetiva proteção judicial. Sua aplicação
deverá ser feita conjuntamente com os princípios da inafastabilidade da jurisdição
e do contraditório.
Temos aqui o direito de ação, no seu sentido mais amplo, qual seja o direito de
obter uma resposta do Judiciário às petições a ele dirigidas. Trata-se de um direito
amplo e incondicional, já que o Poder Judiciário não pode se eximir de examinar
e responder os pedidos que lhe forem dirigidos. Pode até acontecer de a resposta
se limitar a avisar ao autor que sua pretensão não pode ser atendida, por faltarem
condições essenciais para tal. Mas, de qualquer forma, essa informação será dada
por um juiz, com a devida fundamentação, após a análise do processo.
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Embora a constituição assegure o direito à apreciação jurisdicional, no caso de
lesão ou ameaça de lesão a direito, a solução consensual dos conflitos deverá
ser, sempre que possível, promovida pelo Estado, devendo a conciliação, a me-
diação e outras formas de solução consensual ser estimuladas. Não há nisso
ofensa ao princípio da inafastabilidade da jurisdição, nem há que se falar em in-
constitucionalidade. O STF, inclusive, já decidiu nesse sentido.
O NCPC, nos parágrafos do Art. 3º, prevê métodos alternativos (arbitragem,
conciliação, mediação e outros meios de solução consensual). A Lei n. 9.307/1996,
que trata da Arbitragem, permite que os conflitantes confiram a um árbitro a so-
lução do conflito. Nesse caso, um árbitro deverá proferir a decisão, com força de
sentença, sem haver necessidade de posterior homologação judicial.
Princípio do Contraditório
Esse princípio foi explicitamente estampado no texto da Constituição Federal de
1988, no Art. 5º, LV:
Art. 5º, LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes
O contraditório exige que sejam cientificados da existência do processo os réus,
os interessados e os executados. Da mesma forma, os litigantes deverão ser infor-
mados acerca de tudo o que ocorre no procedimento, tendo o direito de se manifes-
tar, apresentar suas razões e se opor à pretensão do adversário. Ao juiz, incumbe
ouvir o que as partes têm a dizer e, para que isso ocorra, é necessário que lhes seja
dada a oportunidade de se manifestarem e a ciência do que se passa no processo.
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O NCPC deixa clara a importância conferida ao contraditório no texto do Art. 9º:
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida.
As exceções à regra do Art. 9º são as hipóteses de tutela provisória de ur-
gência e de tutela de evidência prevista no Art. 311, incisos II e III, bem como
a decisão prevista no Art. 701, que trata da expedição de mandado de pagamento,
de entrega de coisa ou execução de obrigação de fazer ou não fazer, quando já es-
tiverem preenchidos os requisitos para o processamento da ação monitória.
Veja o que dizem esses dispositivos:
Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:I – ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte;II – as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa.
Muito bem, amigo(a). A importância de observância do contraditório no pro-
cesso se manifesta também na vedação em que os litigantes sejam surpreendidos
por uma decisão judicial, sem terem tido a oportunidade de se manifestarem. Veja
o que diz o Art. 10 do NCPC.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em funda-mento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
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Esse artigo proíbe a “decisão-surpresa”, na qual o juiz se vale de fundamento
que pode ser conhecido de ofício, que não tinha sido anteriormente suscitado, sem
dar às partes a oportunidade de se manifestar.
É importante frisar que a vedação do Art. 10 se dirige a todos os juízos e tribu-
nais, como fica evidente na expressão “em grau algum de jurisdição”, grifada no
texto acima transcrito. É vedado a qualquer juiz proferir decisão-surpresa, que
tenha por base um fundamento sobre o qual as partes não foram ouvidas.
Vamos esclarecer melhor esse ponto.
Existem algumas matérias, de ordem pública, que podem ser conhecidas de
ofício pelo juiz, mesmo que nenhuma das partes as alegue. O juiz poderá conhe-
cê-las; mas, antes de decidir com base nelas, deverá ouvir as partes, conferindo a
elas a oportunidade de se manifestar.
Se as partes não suscitaram a questão de ordem pública, o próprio juiz deverá
suscitá-la, a fim de obter a manifestação das partes a seu respeito.
Vamos imaginar uma situação hipotética, para facilitar sua compreensão. Ima-
gine que, no curso do processo, o juiz verifique que há carência de ação, o que
implica a extinção do processo sem julgamento do mérito. Trata-se de matéria de
ordem pública, que deve ser conhecida de ofício. Caso o réu a tenha suscitado, o
juiz deverá ouvir o autor, antes de decidir. Mas, caso ninguém a tenha suscitado,
o juiz, antes de extinguir o processo sem resolução de mérito, deverá suscitar a
questão da carência, determinando que as partes sobre ela se manifestem. Nesse
caso, o que vai ocorrer, provavelmente, é que o autor trará argumentos para afas-
tá-la; e o réu, para confirmá-la. O juiz, após ouvir ambos, poderá proferir a decisão.
Se esse procedimento for observado, terá sido respeitado o princípio do contra-
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ditório, sem o que a decisão, caso fosse prolatada, seria nula. As partes não serão
surpreendidas pela decisão, seja ela para acolher, seja para afastar a carência.
Além disso, o juiz terá decidido com mais segurança, após ter ouvido as partes.
Vamos em frente.
Contraditório e Prova Emprestada
Sabemos que, pelo princípio do contraditório, deve ser oportunizado aos litigan-
tes o direito de participar ativamente na produção das provas. No caso de prova
testemunhal, por exemplo, as partes podem formular perguntas às testemunhas
ou apresentar contradita, se quiserem suscitar suspeição ou impedimento. No caso
de prova pericial, os litigantes terão o direito de formular quesitos, indicar assisten-
tes técnicos, impugnar o laudo e solicitar esclarecimentos.
Diante da obrigatoriedade de respeito ao contraditório no processo, uma ques-
tão importante que surge é a utilização de prova emprestada.
Isso porque não é raro ocorrer de, no curso de uma Ação, uma das partes pre-
tender utilizar prova produzida em outro processo. Ocorre que não é sempre que
o juiz pode admitir isso.
Daí, surge um questionamento: quando será permitida a prova emprestada?
Vamos esclarecer isso.
Quando uma das partes traz prova emprestada, o juiz só poderá deferi-la se a
outra parte tiver participado, no processo anterior, da produção dessa prova. Essa
regra é decorrência do disposto no Art. 372 do NCPC.
Art. 372. O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atri-buindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o contraditório.
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Vamos criar uma situação hipotética, a título de exemplo, para que você com-
preenda como isso se aplicaria na prática.
Pois bem, imagine que alguém sofreu um acidente de trabalho, do qual resulta-
ram lesões. Esse sujeito ajuizará duas ações.
Na primeira, em face do INSS, ele busca receber benefícios acidentários. Essa
Ação deverá ser ajuizada na Justiça Estadual, em uma Vara de Acidente de trabalho
ou, caso essa não exista no local, em uma Vara Cível. Em momento posterior, ou-
tra Ação será ajuizada em face do empregador, na Justiça do Trabalho, pleiteando
indenização.
Então chegará um momento em que a prova da incapacidade decorrente do
acidente de trabalho será necessária para duas ações distintas: uma acidentária,
na qual o autor pleiteia benefícios previdenciários; e outra indenizatória, na Justiça
do Trabalho.
O autor deverá comprovar, em ambas as Ações, a incapacidade para o trabalho.
Para tanto é necessária prova pericial. Vamos imaginar que na Ação contra o INSS
seja produzida essa prova. Chegamos ao ponto que nos interessa.
Poderá a perícia da Ação acidentária ser utilizada, por empréstimo, na Ação In-
denizatória movida contra o empregador?
A resposta é: depende. Se essa prova for beneficiar o autor, o juiz da segunda
Ação deverá, antes de deferi-la, ouvir o empregador. Se esse não concordar com a
utilização da prova emprestada, o juiz não poderá deferir, pois o patrão não partici-
pou da Ação contra o INSS. Não teve direito ao contraditório, não formulou quesi-
tos, não indicou assistente técnico. Se o juiz permitir que essa prova seja utilizada
na nova Ação, sem o consentimento do empregador, estará ofendendo o princípio
do contraditório. A perícia só poderá ser utilizada como prova emprestada se o réu
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(empregador) concordar. Por outro lado, no caso de a perícia não ser favorável ao
autor, pode ocorrer de o réu extrair cópias da Ação anterior e trazê-las, para usar
como prova emprestada. Nesse caso, o autor não poderá se opor, pois ele parti-
cipou do processo anterior e, nessa ocasião, teve oportunidade de requerer o que
tinha direito. Para ele, houve o respeito ao contraditório.
Amigo(a), com esse exemplo, penso que ficou claro que só será possível a uti-
lização de prova emprestada quando, à época de sua produção, em processo an-
terior, aquele contra quem será utilizada tenha participado ou, caso não o tenha,
mediante sua concordância.
Princípio da Duração Razoável do Processo
A E.C. n. 45/2004 incluiu no art. 5º da Constituição Federal de 1988 o inciso
LXXVIII, que traz os seguintes dizeres:
Art. 5º, LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a ra-zoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Esse dispositivo constitucional é o fundamento legal para o princípio da dura-
ção razoável do processo.
É interessante reparar que o NCPC, no seu art. 4º, repetiu o texto da Constituição,
esclarecendo que a regra é extensível à atividade satisfativa. Veja:
Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.
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Antes mesmo da inclusão do inciso LXXVIII no Art. 5º da CF/1988, nosso or-
denamento jurídico já consagrava esse princípio, na medida em que ele é um dos
aspectos do devido processo legal (o processo só atingirá seu objetivo se for
concluído em um prazo razoável).
Os dispositivos legais supracitados vieram a evidenciar a preocupação do legis-
lador constitucional em prevenir um dos mais sérios problemas relativos à presta-
ção jurisdicional: a demora excessiva no julgamento dos processos.
Na verdade, a maioria das mudanças ocorridas nas leis processuais, nos últimos
tempos, teve a finalidade de dar uma solução mais célere para os conflitos.
Nesse sentido, há vários exemplos de medidas que foram adotadas para tornar
o processo mais eficiente: a ampliação das hipóteses de cabimento de tutelas de
urgência, a viabilidade de solução concentrada de casos idênticos e repetitivos, as
súmulas vinculantes, a utilização de meios eletrônicos nos processos, a redução
do número de recursos cabíveis, principalmente os dotados de efeito suspensivo,
dentre outros.
Os destinatários do princípio da razoável duração do processo são o legislador,
o administrador e os juízes.
Primeiramente o legislador, a quem incumbe elaborar leis que venham a acele-
rar e não atravancar o andamento dos processos.
Em segundo lugar, o princípio se dirige ao administrador, a quem cabe dar ma-
nutenção adequada aos órgãos judiciários, aparelhando-os a dar efetividade à nor-
ma constitucional.
Por fim, dirige-se aos juízes, que, ao exercerem suas competências, devem atu-
ar de forma diligente, a fim de que o processo caminhe para uma solução rápida.
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Princípio da Isonomia
Esse princípio, que foi um dos ideais da revolução francesa, está previsto na
nossa Constituição Federal, no Art. 5º, caput e inciso I.
Vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantin-do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Consti-tuição;
Vista sob a ótica processual, a isonomia indica a necessidade de que seja confe-
rido tratamento igualitário às partes, tanto no que se refere ao exercício de direitos
e faculdades processuais, quanto no que tange aos meios de defesa, aos ônus, aos
deveres e à aplicação de sanções processuais. Veja o que diz o Art. 7º, do CPC:
Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direi-tos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
O princípio da isonomia deverá orientar o legislador, no momento de editar as
leis, que devem dar tratamento igualitário aos litigantes; também deverá nortear
os julgamentos, orientando o juiz no momento da condução do processo.
É necessário lembrar que a isonomia pode ser analisada sob dois diferentes en-
foques: Isonomia Formal e Isonomia Real.
Em um primeiro momento, buscava-se a isonomia formal, mas o conceito evo-
luiu, e hoje se exige a isonomia material ou real.
Vale a pena nos determos alguns instantes nesse ponto.
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Isonomia Formal e Isonomia Real
Quando falamos em isonomia formal, estamos nos referindo a um tratamento
igualitário a todos, sem que se leve em consideração possíveis diferenças entre os
indivíduos ou, no que tange ao processo civil, aos sujeitos do processo.
Com o passar do tempo, ficou evidente que, a pretexto de conferir tratamento
igualitário a todos, a isonomia formal acabava por salientar as diferenças e eter-
nizar os privilégios. Sim, pois é mais do que sabido que as pessoas não são todas
iguais. Existem fracos e fortes, existem os mais poderosos economicamente e os
menos, existem homens e mulheres.
Ora, se isso não for considerado pela lei, essa será formalmente isonômica, na
medida em que trata todos da mesma maneira, mas, por outro lado, irá criar situ-
ações profundamente injustas.
Daí, surgiu a necessidade de evolução, partindo-se para uma noção de isonomia
real, na qual o legislador, ao editar as normas, e o juiz, no momento de aplicá-las,
levem em conta as peculiaridades de cada sujeito.
“Tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, dentro de suas desi-
gualdades”, traduz a isonomia real. Significa dizer que, quando as pessoas estive-
rem em situação de igualdade, devem receber tratamento igualitário; no entanto,
quando forem diferentes, e estiverem em situação de desequilíbrio, tal diferença
deve ser considerada. A lei só criará situações reais mais justas quando, verificando
que realmente há diferenças e desequilíbrios entre as pessoas, proteger as menos
favorecidas, tentando dessa forma “aplainar” as diferenças.
A título de ilustração, trago a você alguns exemplos de tratamento formalmente
desigual, para a obtenção da isonomia real.
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São situações em que a lei dá a um litigante aparentes privilégios, sem que com
isso haja qualquer ofensa ao princípio da isonomia. Isso se deve ao fato de que, do
ponto de vista da isonomia real, é necessário que se criem mecanismos que visem
a alcançar uma autêntica igualdade entre os litigantes.
Se, no entanto, analisarmos tais situações exclusivamente sob a ótica da isono-
mia formal, equivocadamente iremos considerar que estão sendo conferidos privi-
légios a uma das partes.
Veja alguns exemplos:
1. Prazo em Dobro para o Ministério Público e a Fazenda Pública se manifes-
tarem nos autos, nos termos dos arts. 180, caput, e 183, caput, do CPC. Essa
concessão de prazo maior se deve ao fato de que os beneficiários têm uma
quantidade de processos muito maior do que os litigantes comuns.
2. Prazo em Dobro deve ser concedido à Defensoria Pública e àqueles que
gozam do benefício da justiça gratuita, desde que sejam patrocinados por
entidades públicas, organizadas e mantidas pelo Estado (nos termos do art.
5º, § 5º, da Lei n. 1.060/1950).
Atenção a esse detalhe: não são todos os beneficiários da justiça gratuita que
recebem o benefício do prazo em dobro, mas somente aqueles representados
pela Defensoria Pública e pela Procuradoria do Estado (a jurisprudência tem
entendido que o benefício deve ser extensivo a Centros Acadêmicos de entida-
des públicas de ensino superior que prestam serviço gratuito de assistência).
Por outro lado, os litigantes beneficiários da justiça gratuita assistidos por
advogado que não pertença a essas entidades não terão o benefício. Não há
que se falar em ofensa ao princípio da isonomia, pela mesma razão anterior:
as entidades públicas atuam em quantidade maior de processos do que o liti-
gante comum.
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3. Remessa Necessária se trata de benefício concedido à Fazenda Pública,
pelo qual as sentenças proferidas contra ela, em que haja sucumbência, não
transitam em julgado, senão depois de reexaminadas pela instância superior.
Mesmo que não haja recurso voluntário das partes, a eficácia da sentença
depende de tal reexame. Esse privilégio se mantém no sistema, não tendo
sido declarada sua inconstitucionalidade.
O fundamento é o fato de que, como os bens da Fazenda são públicos, seria
conveniente que as sentenças que lhe impõem sucumbência fossem exami-
nadas por juízes mais experientes.
4. a Execução em face da Fazenda, que não segue o procedimento comum,
pelo fato de seus bens serem impenhoráveis. A execução se processa com a
expedição de precatório, e não por meio de penhora.
5. a Prioridade de tramitação e desnecessidade de ser observada a
ordem cronológica de conclusão, para que seja prolatada sentença ou acór-
dão, nos casos de prioridade legal, nas hipóteses previstas nos art. 1.048 e
art. 12, VII, ambos do CPC.
Observe que, enquanto o caput do art. 12 determina que juízes e tribunais
observem a ordem cronológica de conclusão, para proferir sentenças e acór-
dãos, o § 2º estabelece algumas exceções. A Lei estabelece prioridade de
tramitação para a parte que tenha idade superior a 60 anos, ou que seja
portadora de doença grave. Essa prioridade afasta a aplicação do disposto no
caput do art. 12. Não há ofensa ao princípio da isonomia nesse caso, já que
as circunstâncias pessoais das partes o justificam.
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Muito bem, amigo(a),
Vimos aqui exemplos de tratamento diferenciado conferido por lei a pessoas que
se encontram em situações de desigualdade, a fim de dar efetividade à isonomia real.
Além desses casos, poderá o juiz, caso verifique que as partes se encontram em
situação de desigualdade, adotar medidas necessárias para equilibrar o processo.
Princípio da Imparcialidade do Juiz (Juiz Natural)
Esse importantíssimo princípio veio estampado nos incisos LIII e XXXVII do art.
5º da Constituição Federal.
Art. 5º, XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;(...)LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
O legislador teve o cuidado, com a edição desses dispositivos, de conter possível
arbítrio do poder estatal e assegurar a imparcialidade do juiz.
O juiz natural é aquele cuja competência é apurada segundo regras previamen-
te estabelecidas pelo ordenamento jurídico, não podendo ser modificada a poste-
riori. Todos nós sabemos o quão perigoso seria se o Estado pudesse criar juízos ou
tribunais de exceção.
Seria uma porta aberta para o arbítrio, pois se isso fosse possível, o Estado po-
deria retirar uma causa de seu juiz natural.
Imagine o que seria se não houvesse regras previamente estabelecidas de com-
petência. Um litigante poderia, por exemplo, escolher o juízo em que a demanda
deveria ser proposta. Bastaria procurar um juízo no qual houvesse um juiz com
convicção alinhada com os seus interesses.
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A necessidade de regras definidoras da competência, previamente estabeleci-
das, impede que isso aconteça. O juiz natural não é escolhido aleatoriamente, mas
por regras prévias.
Requisitos para a Caracterização do Juiz Natural
São três:
1. o julgamento deve ser proferido por alguém investido de jurisdição;
2. o órgão julgador deve ser preexistente, vedada a criação de juízos ou tribu-
nais de exceção, instituídos após o fato, com o intuito específico de julgá-lo;
3. a causa deve ser submetida a julgamento pelo juiz competente, de acordo
com regras postas pela Constituição Federal e por lei.
Princípio da Publicidade dos Atos Processuais
Aqui, temos um princípio estampado em dois artigos da Constituição Federal:
Art. 5º, LX e Art. 93, X.
Vejamos:
Art. 5º(...)LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;Art. 93.(...)X – as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sen-do as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;
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O CPC, por sua vez, em seu Art. 11, caput, primeira parte, estabelece o seguinte:
Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e funda-mentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
A publicidade é um grande instrumento de controle da atividade judicial. A socieda-
de precisa ter conhecimento das decisões, para que possa fiscalizar juízes e tribunais.
No entanto, a própria Constituição reconhece que, em alguns casos, a ampla
publicidade pode ser prejudicial e, caso isso ocorra, será restringida por lei. É por
essa razão que o CPC, no Art. 189, menciona as hipóteses de segredo de justiça. Lo-
gicamente, o segredo só diz respeito a terceiros, e não aos que atuam no processo.
Veja as hipóteses de segredo de justiça nos processos:
Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos:I – em que o exija o interesse público ou social;II – que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união es-tável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;III – em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;IV – que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.
Quando houver um processo que tramita em segredo de justiça, será restrito
às partes e seus procuradores o direito de consultar os autos e pedir certidões.
Caso um terceiro demonstre interesse jurídico, poderá requerer ao juiz certidão
do dispositivo da sentença, ou de inventário e de partilha resultantes de divórcio e
separação. É o que estabelecem os §§ 1º e 2º do Art. 189. Veja:
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Art. 189(...)§ 1º O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores.§ 2º O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dis-positivo da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação.
Princípio da Motivação das Decisões Judiciais
O art. 93, IX, da Constituição Federal, prevê esse princípio, ao determinar que
serão públicos todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário e fundamenta-
das todas as decisões, sob pena de nulidade.
Art. 93.(...)IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamen-tadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em de-terminados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
Diante disso, o juiz, ou tribunal, quando da prolação das decisões, deverão jus-
tificá-las, expondo as razões que determinaram a medida adotada ou o julgamento
proferido.
Na falta de fundamentação, tanto as partes, quanto os órgãos superiores e a
própria sociedade desconheceriam os motivos que levaram o julgador a proferir
aquela decisão. A fundamentação é indispensável, não só para propiciar a fiscali-
zação da atividade judiciária, mas também para que a transparência seja assegu-
rada. Em caso de ausência de motivação, qualquer dos litigantes poderá utilizar os
embargos de declaração, solicitando ao juiz que explique os fundamentos de sua
decisão ou, se preferir, poderá valer-se do recurso adequado para postular a nuli-
dade da decisão.
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Apenas os despachos, que são atos sem conteúdo decisório, dispensam a fun-
damentação, desde que com isso não exista prejuízo às partes do processo. Se
existir risco de prejuízo, não haverá despacho, mas decisão, que nesse caso deverá
ser fundamentada.
O CPC, atendendo à determinação da CF/1988, dedica atenção especial à fun-
damentação das decisões judiciais.
O Art. 489, § 1º, do NCPC dispõe que não serão consideradas fundamentadas
as decisões judiciais, de qualquer tipo, nas hipóteses ali arroladas. Veja:
Art. 489.(...)§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fun-damentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
Princípios Infraconstitucionais do Processo Civil
Já analisamos os aspectos constitucionais do Processo Civil.
A partir de agora, passamos a ver os princípios do processo que têm estatura
infraconstitucional.
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Princípio Dispositivo
Para que possamos compreender adequadamente esse princípio, é necessário
que tenhamos a adequada compreensão acerca da diferença existente entre a rela-
ção processual de natureza pública e a relação de direito material, que tanto pode
envolver interesses públicos quanto os interesses privados.
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A Disponibilidade do Direito Material
Entenda que há processos nos quais a relação material versa sobre interesses
disponíveis; e há outros nos quais a relação material trata de direitos indisponíveis.
Diante disso, se o direito que se discute é disponível, as partes podem transigir.
Nesse caso, o autor pode, se quiser, renunciar ao direito em que se funda a ação,
assim como o réu pode reconhecer o pedido inicial. Em ambas as hipóteses, o
processo será extinto com julgamento de mérito. Mas, se o conflito que provocou
a instauração do processo versar sobre interesse indisponível, nada disso poderá
acontecer.
Na hipótese de direito disponível, se o réu optar por não se defender, o juiz
presumirá verdadeiros os fatos narrados na petição inicial e proferirá o julgamento
antecipado da lide.
Por outro lado, em se tratando de direito indisponível, a falta de defesa não
gerará essa consequência, sendo necessário que o autor prove os fatos por ele
alegados.
O Princípio Dispositivo e a Propositura da Demanda
Esse princípio, também denominado “princípio da inércia”, é aquele pelo qual in-
cumbe à pessoa que se diz titular de um direito que necessita proteção provocar o
Poder Judiciário, para que este traga uma solução concreta para a lide trazida a juízo.
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Em sede de direito processual civil, o Poder Judiciário é inerte, só se manifes-
tando por provocação do interessado.
Assim, incumbe ao interessado ingressar em juízo, provocando a jurisdição.
Isso se dá com o ajuizamento da Ação, sem o qual o processo não se inicia.
O Processo estabelecido no Código de Processo Civil se baseia no princípio dis-
positivo, conforme demonstra o Art. 2º
Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial,
salvo as exceções previstas em lei.
A exigência de propositura da Ação é manifestação do poder dispositivo: cabe
à parte interessada decidir se ingressa ou não em juízo, cabendo-lhe ainda verificar
qual o momento adequado para fazê-lo. O titular do direito pode, se o preferir, não
ingressar com ação nenhuma e sofrer as consequências de sua inércia.
Princípio do Impulso Oficial
Outro importante princípio é o do impulso oficial, pelo qual, tendo sido ins-
taurado o processo, por iniciativa da parte (de acordo com o princípio dispositivo),
esse deverá se desenvolver de ofício, pelo juiz, ainda que não haja nova manifes-
tação das partes.
Incumbe ao Estado-Juiz promover e determinar que os atos processuais sejam
promovidos, de maneira que o processo se desenvolva, rumo à solução prevista
pelo ordenamento jurídico para aquela lide. O artigo 2º, supratranscrito, traz esse
princípio incluído na sua parte final.
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Princípio da Oralidade
Esse princípio, originalmente, trazia a ideia de que é necessário que o processo
inclua manifestações orais das partes, especialmente durante a audiência de ins-
trução, a fim de que se alcance o julgamento com o menor número possível de atos
processuais, com a possibilidade de ser obtido um resultado melhor, de acordo com
a verdade dos fatos.
Atualmente, essa ideia de oralidade, tal qual foi desenvolvida por Chiovenda,
está bastante enfraquecida. Basta citar que, mesmo os atos praticados oralmente,
como a oitiva de testemunhas, depoimento das partes e ouvida dos peritos, duran-
te a audiência, deverão ser reduzidos à forma escrita.
Nos Juizados Especiais, há uma maior quantidade de atos orais. Mas, mesmo
nesse caso, é necessário que se faça o registro de tudo o que acontece no processo.
Nos dias atuais, o princípio da oralidade se traduz na necessidade de o juiz se
aproximar o máximo possível da instrução e das provas realizadas no processo.
Em relação à coleta de provas, há outros quatro princípios, que se originam da
regra da oralidade. Todos eles visam a manter uma proximidade entre o juiz e a colhei-
ta de provas, partindo do princípio de que aquele que as colhe está mais apto a julgar.
Subprincípio da Imediação
Estabelece que é de competência do próprio juiz do processo colher diretamente
a prova oral, sem intermediários.
Em alguns casos, entretanto, esse juiz contará com o auxílio de outros magis-
trados, como ocorre, por exemplo, quando a prova tiver de ser colhida por carta
precatória ou rogatória.
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Subprincípio da Identidade Física do Juiz
O CPC de 1973 trazia esse princípio explícito no art. 132, nesses termos:
Art. 132. O juiz titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, caso em que passará os autos ao seu sucessor.
O CPC atual não repetiu o artigo 132 do Código de 1973, o que provocou dú-
vidas sobre as consequências dessa omissão, no sentido de que teria ou não sido
excluído do ordenamento jurídico brasileiro o princípio da identidade física do juiz
e, caso houvesse ocorrido a supressão dessa regra, se teria deixado de haver vin-
culação, por parte do juiz que colheu a prova oral em audiência, ao julgamento do
processo.
Atualmente, o que predomina é o entendimento de que, embora a lei atual não
tenha repetido o art. 132 do CPC/1973, o princípio da identidade física do juiz per-
manece no ordenamento jurídico pátrio, não como lei expressa, mas como regra
principiológica.
Assim, o CPC atual continua acolhendo o princípio da oralidade, sendo mantido
o subprincípio da identidade. O juiz que colheu a prova oral está mais apto a julgar,
pelo contato direto que teve com as partes e as testemunhas. Caso esse juiz se des-
vincule e passe os autos ao seu sucessor, esse, se julgar necessário, poderá mandar
repetir as provas já produzidas. Tem-se aqui uma faculdade conferida ao juiz suces-
sor, que deverá, em cada caso, verificar a necessidade de adotar essa medida.
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O princípio da identidade física do juiz não é absoluto, mas relativo. A consequên-
cia disso é que, se o processo tiver um juiz vinculado à sentença e essa for proferida
por outro, só haverá nulidade relativa, que deverá ser alegada na primeira oportu-
nidade e que só será reconhecida se importar algum prejuízo ao contraditório e à
ampla defesa.
Subprincípio da Concentração
Esse subprincípio determina que a audiência de instrução deve ser una e
concentrada, a fim de propiciar ao juiz uma visão sistemática e unificada dos fa-
tos que precisará recordar no momento do julgamento. Entretanto, em situações
concretas, poderá haver a necessidade de desdobramento da audiência em mais
de uma data. É o que ocorre, por exemplo, quando falta uma das testemunhas, ou
quando não é possível a oitiva de todas no mesmo dia.
Se isso ocorrer, ainda assim, será considerada apenas uma audiência, sendo
que a segunda data será tão somente a continuação da audiência já iniciada.
Subprincípio da Irrecorribilidade em Separado das Decisões
Interlocutórias
O CPC de 1973 dispunha que todas as decisões interlocutórias seriam recorrí-
veis em separado. Poderia ser interposto contra cada uma o recurso próprio, de
agravo retido, em regra, podendo ser o agravo de instrumento em alguns casos.
O CPC atual promoveu uma alteração nessa situação, dando aplicação efetiva ao
princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias.
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Apenas um pequeno número de decisões interlocutórias justifica a interposição
de recurso em separado, ou seja, de recurso específico contra elas. São aquelas
previstas no rol do art. 1.015.
Você deve estar se perguntando: qual é a relação que existe entre a irrecorribi-
lidade em separado das interlocutórias e o princípio da oralidade? Em que medida
esse subprincípio ajuda o juiz sentenciante, no sentido de estar mais próximo da
colheita de provas?
Eu explico. É que, caso fosse possível recorrer em separado de todas as deci-
sões interlocutórias, o processo correria o risco de acabar por retardar demais o
julgamento, se fossem interpostos muitos recursos, o que poderia dificultar a me-
morização, por parte do juiz, das provas relativas aos fatos de interesse da causa.
Princípio da Persuasão Racional (ou Livre Convencimento
Motivado)
Esse princípio está relacionado ao anterior, no que diz respeito à instrução do
processo e à colheita de provas.
Por outro lado, enquanto os subprincípios anteriores tratavam da colheita de
provas, esse que vamos agora analisar se refere à sua avaliação.
O livre convencimento motivado é visto como uma conquista dos sistemas ju-
diciários modernos. Por ele, cumpre ao juiz formar seu convencimento livremente,
diante do exame das provas produzidas. No entanto, esse convencimento deverá
estar embasado e fundamentado nos elementos constantes dos autos.
Veja o que dispõe o Art. 371 do NCPC:
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Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento.
Esse princípio se relaciona diretamente ao princípio da fundamentação das de-
cisões judiciais, previsto na Constituição Federal, no Art. 93, IX
Art. 93.(...)IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamen-tadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em de-terminados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
O juiz deverá indicar os motivos que formaram seu convencimento, e esses mo-
tivos devem ser resultado das provas colhidas, que por sua vez serão livremente
valoradas, para a prolação da decisão.
Princípio da Boa-Fé
O NCPC conferiu à exigência da boa-fé o status de princípio, de norma funda-
mental do processo civil. Com isso, fica demonstrada a preocupação do legislador
com a observância da boa-fé nos processos.
O art. 77 enumera outros deveres daqueles que participam do processo, en-
quanto o art. 80 arrola os casos de litigância de má-fé.
Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procu-radores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo:I – expor os fatos em juízo conforme a verdade;II – não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são desti-tuídas de fundamento;
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III – não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito;IV – cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação;V – declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residen-cial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva;VI – não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:I – deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;II – alterar a verdade dos fatos;III – usar do processo para conseguir objetivo ilegal;IV – opuser resistência injustificada ao andamento do processo;V – proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;VI – provocar incidente manifestamente infundado;VII – interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
Além disso, o CPC traz outros dispositivos que dão realce à exigência da boa-fé,
como os artigos 322, § 2º, e 489, § 3º, que estabelecem que o pedido e a sentença
sejam interpretados de acordo com o princípio da boa-fé.
Art. 322.(...)§ 2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé.Art. 489.(...)§ 3º A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé.
A boa-fé está relacionada à lealdade processual e ao respeito a todos os que
participam do processo.
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Princípio da Cooperação
Esse princípio está expressamente previsto no art. 6º do CPC.
Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
Temos aqui um desdobramento do princípio da boa-fé e da lealdade processual
que vai além, na medida em que exige que as partes contribuam para o desenrolar
normal do processo.
O artigo 357, § 3º, por exemplo, cuida do saneamento do processo, que incum-
be ao juiz, sem necessidade da participação dos litigantes. No entanto, se a ação
envolver complexidade em matéria de fato ou de direito, caberá ao juiz convocar
uma audiência, para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes.
Nessa ocasião, o juiz as convidará a esclarecer suas alegações.
Caro(a) Aluno(a),
Concluímos aqui o estudo dos princípios que informam o Direito Processual Civil.
Dando continuidade ao nosso programa, iniciaremos agora o estudo da Jurisdição.
Jurisdição
Sabemos que o poder do Estado é um só. Sabemos também que esse poder
é exercido por meio de diferentes funções. Uma delas é a função jurisdicional,
por meio da qual o Estado busca solucionar os conflitos que surgem na vida em
sociedade.
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Nos primórdios dos Estados, ou mesmo antes do surgimento desses, os confli-
tos de interesses eram resolvidos pelos próprios interessados. Cabia aos envolvi-
dos, seja por meio da força ou da esperteza, solucionar os conflitos em que se en-
volviam. Evidentemente essa não é a solução mais legítima, pois é sempre parcial.
À medida que os Estados foram se fortalecendo, passaram a trazer para si o
poder-dever de solucionar os conflitos de interesses, com exclusividade, aplicando
a casos concretos as leis gerais e abstratas.
Essa evolução imprimiu imparcialidade à solução dos conflitos, que a partir daí
passou a ocorrer de acordo com a vontade geral, que se manifesta no momento em
que os representantes do povo criam as leis.
A jurisdição é inerte, pela própria natureza. Para que ela aconteça, é necessário que
a parte interessada a provoque. Quando isso ocorre, deverá ser instaurado um proces-
so, que instituirá uma relação triangular, entre juiz-autor-réu. Essa relação perdura por
certo tempo, dependendo do procedimento estabelecido previamente pela lei.
Assim, o poder jurisdicional é atribuído ao Estado-Juiz, que impõe suas decisões
de forma coercitiva. A lei conferiu ao julgador poderes para fazer cumprir suas de-
cisões, em caráter coativo.
Conceito de Jurisdição
Humberto Theodoro Junior1 nos dá a seguinte lição:
(...) jurisdição é a função do Estado de declarar e realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica controvertida.
1 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito pro-cessual civil e processo de conhecimento, v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
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Então, podemos dizer que a jurisdição é a função do Estado de compor os
litígios, de declarar e realizar o Direito.
Modalidades de Jurisdição
Sabemos que a jurisdição, que é emanação do poder estatal, é uma só. Entre-
tanto, inobstante essa unidade, os doutrinadores, por razões meramente didáticas,
elaboraram uma classificação, em diversas espécies. Como nosso edital incluiu o
tema “modalidades de jurisdição”, vamos examiná-las a seguir.
Jurisdição Contenciosa e Voluntária
O CPC trata de jurisdição civil contenciosa e voluntária, sendo essa última pre-
vista no Art. 719.
Art. 719. Quando este Código não estabelecer procedimento especial, regem os proce-dimentos de jurisdição voluntária as disposições constantes desta Seção.
A diferença entre ambas é que, no caso de jurisdição contenciosa, a parte quer
obter uma decisão judicial que obrigue a parte contrária, enquanto na jurisdição
voluntária o que se busca é uma situação que valha para si próprio. Na primeira,
a sentença sempre favorecerá uma das partes, em detrimento da outra, pois há
um conflito entre ambas. Na segunda, por outro lado, pode ocorrer de a sentença
beneficiar ambas as partes.
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Na jurisdição contenciosa, o que se pede é que o juiz profira uma decisão, solu-
cionando o conflito de interesses que lhe é apresentado para julgamento.
Na jurisdição voluntária, mesmo que exista uma situação conflituosa, não será
ela posta diretamente em juízo para apreciação judicial. Isso porque a jurisdição
voluntária não pede ao juiz que diga quem tem razão, mas que tome providências
necessárias para a proteção de um ou ambos os sujeitos da relação processual.
É o que ocorre, por exemplo, quando alguém quer se separar, ou interditar um
parente, ou alterar o regime de bens do casamento e a solução dessa situação será
dada mediante a intervenção do judiciário.
Resumindo:
JURISDIÇÃO CONTENCIOSA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
Há lide Não há lide
Existem partes Existem interessados
Há coisa julgada Não há coisa julgada
Juízo de Legalidade estrita Juízo de equidade
Classificação da Jurisdição quanto ao Objeto
Essa classificação leva em consideração a matéria (objeto) do conflito apresen-
tado ao Poder Judiciário.
Sob esse aspecto, a jurisdição pode ser civil ou penal.
A rigor, não se trata propriamente de jurisdições distintas, mas de distinções
referentes aos órgãos integrantes da justiça, que podem ser incumbidos exclusiva-
mente do julgamento de questões penais ou civis.
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Classificação da Jurisdição quanto ao Tipo de Órgão que a Exerce
Quando a Constituição Federal dispõe sobre normas de organização judiciária,
estabelece distinção entre as justiças especializadas e a justiça comum.
As justiças especiais são a trabalhista, a militar e a eleitoral.
A competência de cada uma será determinada em razão da matéria discutida no
processo. Lembre-se de que a competência da justiça comum será sempre suple-
tiva, pois lhe cabe julgar tudo o que não for da competência da justiça especial. A
justiça comum poderá ser estadual ou federal.
JUSTIÇA COMUM OU ORDINÁRIA JUSTIÇA ESPECIAL OU EXTRAORDINÁRIA
Federal Eleitoral
Estadual Trabalhista
Penal Militar
Classificação da Jurisdição quanto à Hierarquia
Pode ser jurisdição inferior ou superior, conforme o órgão incumbido de
exercê-la integre as instâncias inferiores ou superiores.
Poderes da Jurisdição
Na prestação da jurisdição, existem três poderes a serem desempenhados pelo
órgão jurisdicional, na lição de Moacyr Amaral Santos2:2 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. v. 2. 22. ed. São Paulo; Saraiva.
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• poder de decisão;
• poder de coerção;
• poder de documentação.
Nesse sentido, o mestre conceitua os três poderes jurisdicionais:
Poder de Decisão
Consiste no poder de conhecer, prover, recolher os elementos de prova, para
então decidir. Aqui, estão compreendidos tanto o poder de decidir definitivamente
a lide, nos termos da lei aplicável ao caso concreto (decisões de mérito), como o
poder de decidir em relação aos limites e modos do exercício da própria atividade
jurisdicional. No primeiro caso, o juiz aplica a lei material e, na segunda hipótese,
será aplicada a norma processual.
Poder de Coerção
Esse se manifesta com mais evidência no processo de execução, quando o juiz adota
medidas para compelir o vencido a cumprir a decisão. Também nos processos cautelares
e no processo de conhecimento podemos identificar o poder de coerção. Tomemos por
exemplo a ordem judicial para que as partes ou testemunhas sejam ouvidas.
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Poder de Documentação
Esse poder resulta da necessidade de que os atos processuais sejam devida-
mente documentados.
Princípios da Jurisdição
Princípio da Investidura
Sendo o Estado uma pessoa Jurídica de direito público, é necessário que se
utilize de pessoas naturais para o exercício da função jurisdicional. Essas pessoas
deverão estar regularmente investidas e no exercício pleno do cargo de juiz, para
que possam exercer a jurisdição.
Aquele que não foi investido na autoridade de juiz não pode exercer o poder de
julgar e, consequentemente, está impossibilitado de desempenhar a função jurisdi-
cional. Se o fizer, nulos serão o processo e a sentença, devendo o usurpador de fun-
ção responder criminalmente pelo delito, previsto no artigo 328 do Código Penal.
Somente o juiz investido regularmente no cargo, de acordo com a lei, poderá
exercer a função jurisdicional.
Princípio da Indeclinabilidade ou da Inafastabilidade
O Art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, dispõe que “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
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Com isso, a Constituição assegura acesso ao Poder Judiciário a todos os que vi-
rem seu direito violado ou ameaçado. O Estado-Juiz não pode eximir-se de prestar
a jurisdição a todos os que o procuram para obter uma solução.
Assim, pelo princípio da indeclinabilidade, o juiz não pode esquivar-se da função
jurisdicional, devendo proferir uma decisão sempre que for solicitado.
Princípio da Indelegabilidade
Esse princípio é decorrência do anterior. O juiz não pode delegar sua jurisdição
a outro órgão. Se fizesse isso, estaria violando indiretamente o princípio da ina-
fastabilidade e a garantia constitucional do juiz natural, prevista no Art. 5º, LIII da
CF/1988, que determina que “ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente”.
A Constituição Federal estabelece todas as atribuições do Poder Judiciário. Essa
distribuição de competências não pode ser alterada pelos membros desse Poder.
Princípio da Improrrogabilidade
Também chamado de princípio da aderência ao território, o princípio da impror-
rogabilidade proíbe que o juiz exerça a função jurisdicional fora dos limites deline-
ados pela lei. Assim, por exemplo, um juiz não poderá julgar uma ação de compe-
tência de outro juízo, mesmo que haja concordância expressa das partes. Diante
disso, mesmo que os interessados façam um acordo, não pode um juiz invadir a
jurisdição de outro, julgando uma causa sem ter jurisdição e competência para tal.
Esse princípio admite algumas exceções. Em alguns casos, é possível haver prorroga-
ção de competência, como ocorre nas hipóteses de conexão ou continência, por exemplo.
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Princípio da Inércia da Jurisdição
Esse princípio tem por fundamento a natureza da jurisdição, o que leva à con-
sequência de que os órgãos jurisdicionais somente podem aplicar a lei ao caso con-
creto quando devidamente provocados pela parte interessada, diante da existência
de uma pretensão resistida ou insatisfeita e amparada pelo ordenamento jurídico.
Esta provocação se faz por meio da ação.
Os órgãos jurisdicionais devem ser imparciais e desinteressados e, para que
seja resguardada a imparcialidade na solução do conflito, é melhor que o Estado só
intervenha quando provocado, por meio da ação.
Mais uma vez vamos encontrar exceções. No caso do princípio da inércia, por
exemplo, o juiz pode, sem ter sido provocado (ex offício), declarar a falência, no cur-
so de um processo de concordata, se verificar a falta de algum requisito para essa.
Princípio da Correlação
Esse princípio estabelece a necessidade de correspondência entre a condenação
e a imputação, ou seja, o fato descrito na petição inicial de um processo deve guar-
dar estrita relação com o fato constante na sentença.
Princípio da Definitividade
Apesar de a definitividade ser citada como princípio, parte dos doutrinadores a
considera uma característica dos atos jurisdicionais, diante da possibilidade de a sen-
tença judicial se tornar imutável, a partir da ocorrência do fenômeno da coisa julgada.
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Entenda-se coisa julgada como sendo a
[...] imutabilidade dos efeitos de uma sentença, em virtude da qual nem as partes po-dem repropor a mesma demanda em juízo, ou comportar-se de modo diferente daquele preceituado, nem os juízes podem voltar a decidir a respeito, nem o próprio legislador pode emitir preceitos que contrariem, para as partes, o que já ficou definitivamente julgado3.
Cintra, Grinover e Dinamarco (2010), célebres autores da obra “Teoria Geral do
Processo”, nos ensinam que “no Estado de Direito só os atos jurisdicionais podem
chegar a esse ponto de imutabilidade, não sucedendo o mesmo com os administra-
tivos ou legislativos”.
Princípio do Juiz Natural
Esse princípio compareceu desde o início nas Constituições da República.
Por ele, fica assegurado a todos o direito de não ser privado de seu Juiz Natural,
que é aquele pré-constituído por lei para exercer validamente a função jurisdicional.
A Constituição Federal garante expressamente que “ninguém será processado
nem sentenciado senão pela autoridade competente” (artigo 5º, inciso LIII) e que
“não haverá juízo ou tribunal de exceção” (artigo 5º, inciso XXXVII). Além disso,
a Carta Magna determina que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
qualquer lesão ou ameaça a direito” (artigo 5º, XXXV).
Diante disso, órgão que não tenha o poder de julgar, amparado na Constituição
Federal, não poderá exercer a jurisdição. Há uma dupla garantia nesse princípio: a
3 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São
Paulo: Malheiros, 2010.
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proibição de tribunais de exceção e a vedação a que seja retirado do tribunal com-
petente o julgamento da causa.
São desdobramentos do princípio do juiz natural:
a) só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição Federal;
b) ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;
c) entre os juízes pré-constituídos, há uma ordem taxativa de competências.
Vicente Greco Filho4 leciona que
[...] não se admite a escolha de magistrado para determinado caso, nem a exclusão ou afastamento do magistrado competente; quando ocorre determinado fato, as regras de competência já apontam o juízo adequado, utilizando-se até o sistema aleatório de sorteio, para que não haja interferência na escolha.
Órgãos – Noções sobre a Estrutura do Poder Judiciário
A Constituição Federal, nos arts. 92 a 126, trata do Poder Judiciário. Alguns ar-
tigos tratam da estrutura do Poder, com os órgãos que o integram, dispondo sobre
a forma de composição e investidura de cada um, competências, garantias e prer-
rogativas, bem como das restrições impostas aos seus membros.
Dessa forma, é a própria Constituição da República que dispõe sobre os órgãos
judiciários, estabelecendo suas competências.
Ao Poder Judiciário, incumbe exercer a função jurisdicional, sendo que seus in-
tegrantes compõem a magistratura nacional e seus órgãos são os juízos e tribunais.
4 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 2. 22. ed. São Paulo: Saraiva.
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Ao estabelecer a estrutura do Judiciário, a CF faz distinção entre a justiça co-
mum e as especiais, que são a trabalhista, tratada no art. 111; a eleitoral, nos arts.
118 e seguintes e a militar, no art. 122.
• Justiça do Trabalho é composta pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST),
pelos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e pelos juízes do trabalho.
• A Justiça Eleitoral é composta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os Tri-
bunais Regionais Eleitorais, os Juízes Eleitorais e as Juntas Eleitorais.
• A Justiça Militar é dividida em Justiça Militar da União e dos Estados, sendo a da
União composta pelo Superior Tribunal Militar e os Conselhos de Justiça, Especial
e Permanente, nas sedes das Auditorias Militares, enquanto a dos Estados, Distri-
to Federal e Territórios integra o Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar,
nos Estados em que o efetivo for igual ou superior a 20.000 integrantes, e pelos
juízes auditores e pelos Conselhos de Justiça, com sede nas Auditorias Militares.
A competência das justiças especiais é apurada de acordo com a matéria
discutida (competência ratione materiae).
A competência das justiças comuns, por sua vez, é supletiva, abrangendo to-
das as causas que não forem de competência das especiais.
A justiça comum pode ser federal ou estadual.
A Justiça Federal tem competência definida em razão da pessoa (ratione perso-
nae), ou seja, sempre que houver participação, no processo, como parte ou interve-
niente, de Pessoas Jurídicas de Direito público federais e empresas públicas federais
(art. 109, I, da CF). Mas pode ser definida também em razão da matéria (ou ratione
materiae). Nesse caso, o art. 109 da CF/1988 enumera as matérias de competência dos
juízes federais. A Justiça Federal é composta por juízes e Tribunais Regionais Federais.
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O que não for de competência das justiças especiais, nem da Justiça Federal,
será atribuído, supletivamente, à Justiça Estadual. Cabe-lhe o julgamento de todas
as ações que não se incluem na competência daquelas.
Os Estados devem organizar sua respectiva justiça, respeitando as regras esta-
belecidas pela CF: em cada estado-membro haverá os juízos e tribunais estaduais,
cuja competência é definida de acordo com as Constituições Estaduais e leis de
organização judiciária.
Tanto a Justiça Federal quanto a estadual terão ainda os seus respectivos juiza-
dos especiais e colégios recursais.
Acima dos órgãos de primeiro e segundo graus de jurisdição, tanto estaduais
como federais, há o Superior Tribunal de Justiça, criado pela CF de 1988 (arts.
104 e ss.), cuja função principal é resguardar a lei federal infraconstitucional.
E, acima de todos, o Supremo Tribunal Federal, guardião máximo da Consti-
tuição Federal, cuja competência é estabelecida no seu art. 102.
Veja, abaixo, o quadro esquemático da estrutura do Poder Judiciário
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Legenda do Organograma
1ª Instância: Juiz de Direito, Juiz Federal, Juiz do Trabalho, Juiz Eleitoral e Juiz
Militar.
2ª Instância: Tribunal de Justiça (TJ), Tribunal Regional Federal (TRF), Tribunal
Regional do Trabalho (TRT), Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e Junta Militar (JM).
Instâncias Superiores: Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior do
Trabalho (TST), Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Superior Tribunal Militar (STM).
Instância Extraordinária: Supremo Tribunal Federal (STF).
Caro(a) aluno(a), concluímos a primeira parte do nosso estudo.
Bom estudo para você!
Lisiane Brito
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