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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A LATERALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL AUTORA Maria de Lourdes Ribeiro ORIENTADOR Prof. Ms. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A LATERALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

AUTORA

Maria de Lourdes Ribeiro

ORIENTADOR

Prof. Ms. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA LATERALIDADE NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Apresentação de trabalho monográfico

apresentado à Universidade Cândido Mendes

como condição prévia para a conclusão do Curso

de Pós-Graduação “Lato Sensu” em

Psicomotricidade.

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AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu marido Celso, às minhas amigas e professores, que colaboraram de forma fundamental para realização desta monografia.

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RESUMO

A educação física, por meio da educação psicomotora, incentiva a

prática do movimento durante a existência do ser humano. Tal concepção

fundamenta-se nos conceitos da educação permanente, como uma nova

forma de evento educativo que, atualmente, tende a revolucionar os

sistemas educacionais de todo o mundo. Ela diversifica-se em função das

relações sociais, das idéias morais, das capacidades e da maneira de ser de

cada um, além de seus valores.

A psicomotricidade educa o movimento, ao mesmo tempo em que põe

em jogo as funções da inteligência. A partir desta posição é que a presente

monografia pretende ressaltar a importância do desenvolvimento da

lateralidade na educação infantil, a relação intrínseca das funções motoras

cognitivas e, também, a importância da afetividade e emoção integradas ao

movimento.

Por sua vez, a lateralidade é a bússola de nosso corpo. É através dela

que o mesmo se situa no meio ambiente, manifestando-se ao longo do

desenvolvimento e das experiências. De acordo com esse ângulo de visão, a

Educação física desempenha um papel de relevante importância na vida

escolar da criança, pois pode realizar a mediação entre a prática e o

processo de aprendizagem utilizando o corpo como instrumento de

construção real do conhecimento.

A exploração do corpo é proposta com o objetivo de uma tomada de

consciência para que haja melhor uso e conseqüentemente maior

possibilidade de expressão.

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METODOLOGIA O trabalho foi fundamentado pesquisa bibliográfica e observação em campo,

buscando analisar a aplicação dos princípios e conceitos da

psicomotricidade na educação infantil, especialmente, nas crianças entre

quatro e seis anos.

O trabalho de campo foi realizado no CIEP Chanceler Willy Bradt,

localizado no bairro do Jacaré, Rio de Janeiro, onde estudam crianças na

faixa de idade citada anteriormente.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................ 07

CAPÍTULO I - A Psicomotricidade .................................................. 08

CAPÍTULO II - A Lateralidade no Desenvolvimento Psicomotor

da Criança ............................................................. 16

CAPÍTULO III – . Psicomotricidade na Educação Infantil .............. 28

CONCLUSÃO ................................................................................ 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................... 43

ÍNDICE ......................................................................................... 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO............................................................... 46

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INTRODUÇÃO

A pré-escola é a base da formação de uma criança, pois é nela que

depositamos todas as nossas esperanças para uma boa aprendizagem nas

áreas motoras e cognitivas. Esperamos desfrutar desta fase com a mais

absoluta certeza de ampliarmos nossos conhecimentos.

Nesta faixa-etária, suas habilidades ainda se apresentam em total

ajuste e sintonia com o próprio corpo. É nesta fase que o profissional de

Educação Física pode desenvolver um trabalho grandioso na área da

lateralidade. Através de jogos, contestes e brincadeiras que estimulem o

trabalho da lateralidade. Este trabalho estará ligado com a parte psicomotora

da criança, juntamente com outras áreas.

Se a criança não obtiver um mínimo de coordenação motora que irá

auxiliá-la na aquisição de uma melhor lateralidade, e com isto um melhor

equilíbrio, coordenação motora, controle muscular, orientação espacial,

temporal, atenção, percepção visual e memória.

Terá dificuldades posteriormente de realizações de tarefas motoras e

cognitivas. O desenvolvimento psicomotor, bem como sua lateralidade

definida é muito importante para um aprendizado escolar.

Se a criança não vivenciar todas as experiências necessárias no seu

crescimento, poderá apresentar dificuldades futuras que provavelmente

aparecerão em diversas áreas, como a da linguagem, a da fala a motora, a

escrita entre outras inteligências.

O desenvolvimento de uma criança está relacionado com a interação

do próprio corpo, com o meio e as pessoas com quem convive e estabelece

algum tipo de ligação sejam elas afetivas ou emocionais.

Este trabalho visa verificar a importância da lateralidade na educação

infantil, uma vez estabelecido este contato e o autoconhecimento do próprio

corpo a criança estará apta a enfrentar situações que irão surgir ao longo de

suas vidas e com certeza apresentarão um saldo muito positivo, para suas

vidas.

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CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE

1.1. Breve Histórico da Psicomotricidade

Historicamente o termo “psicomotricidade” aparece a partir do discurso

médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do

século XIX, nomear as zonas do córtex situadas mais além das regiões

motoras.

Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a

constatar-se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja

lesionado ou que a lesão esteja claramente localizada.

São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica.

Portanto, o “esquema anátomo-clínico” que determinava para cada sintoma

sua correspondente lesão, já não podia explicar alguns fenômenos

patológicos. Foi a partir necessidade de identificar a nova área de pesquisa

que se nomeia, pela primeira vez, a palavra PSICOMOTRICIDADE, no ano

de 1870.

As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor

correspondem a um enfoque eminentemente neurológico. Somente, em

1925, Henry Wallon, médico psicólogo, ocupa-se do movimento humano

dando-lhe uma importância fundamental como instrumento na construção do

psiquismo. Esta diferença fez Wallon relacionar o movimento ao afeto, à

emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo.

Na década de 70, diferentes autores definem a psicomotricidade como

a motricidade da relação. Começa então, a ser delimitada uma diferença

entre postura reeducativa e uma terapêutica que, ao despreocupar-se da

técnica instrumentalista e ocupar-se do corpo em sua globalidade, vai dando

progressivamente, maior importância à relação, à afetividade emocional.

Para o psicomotricista, o conceito de unidade ultrapassa a ligação entre

psico e soma, pois é visto dentro de uma globalidade e não num conjunto de

suas inclinações.

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1.2. O que é Psicomotricidade

Hoje, a psicomotricidade é o relacionar-se através da ação, como um

meio de tomada de consciência que une o ser corpo, o ser mente, o ser

espírito, o ser natureza e o ser sociedade. A psicomotricidade está

associada à afetividade e à personalidade, estudando como e porque o

indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente e a pessoa com

dificuldades motoras passa a apresentar, também, problemas de expressão.

A psicomotricidade conquistou, assim, uma expressão significativa, já

que se traduz em solidariedade profunda e original entre pensamento e

atividade motora, concebida como a integração superior da motricidade,

produto de uma relação inteligível entre o indivíduo e o meio. É um

instrumento privilegiado através do qual a consciência se forma e se

materializa.

Objetiva uma melhor organização do desenvolvimento das capacidades

intelectivas, psíquicas e adaptativas, tornando o ser humano mais ajustado

ao meio ambiente em que vive.

A psicomotricidade também tem como objetivo melhorar ou normalizar

o comportamento geral do indivíduo, desenvolvendo também um trabalho

constante sobre as condutas motoras, neuromotoras e perceptivo-motoras,

aonde através dessas condutas o indivíduo vai se conscientizar de seu

próprio corpo, desenvolver seu equilíbrio, controlar sua coordenação global e

fina (segmentar), organizar e estruturar a orientação espaço-temporal.

1.3. Os Caminhos da Psicomotricidade

O pedagogo Guilmain, sempre com a preocupação de melhorar as

crianças das classes de aperfeiçoamento, estudou a Psicomotricidade

acreditando que poderia intervir para servir de impacto, propondo exercícios

físicos motores ou psicomotores adaptados às crianças especiais. Assim ele

pode realizar a síntese entre os dados da medicina e os da pedagogia,

observando a ligação da educação física com a psicomotricidade.

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Não podemos esquecer que a educação física tradicional está na base

do interesse pela psicomotricidade, tornando-se científica no início do século

XIX, pelo método de Ling e outros, integrando conhecimentos anatômicos,

fisiológicos, psicológicos e sociológicos, aperfeiçoando-se nos séculos XIX e

XX. A busca do equilíbrio de um corpo e espírito sadio, através de atividades

físicas ao ar livre, mostrou a importância de sua utilização.

Através de filosofias orientais e as concepções unitárias nas quais se

baseiam se integram à nossa civilização, influenciando a educação física

atual. Até o interesse da dança que era uma atividade reservada e

unicamente teatral, transformou-se no século XX, sob influência de Isadora

Duncan e Dalcrose despertando o interesse de todas as classes sociais,

enfatizando a educação rítmica e assim integrando-a nos programas

escolares.

Sintetizando, todas as técnicas de dança, ginástica e de esporte

surgiram, aos olhos dos pedagogos, a partir de um interesse para que as

pessoas se conhecessem através de seus corpos, melhorando seu

desenvolvimento.

Outros estudiosos se interessaram pelo desenvolvimento motor da

criança, como psicólogos e médicos, tais como, Wallon, Piaget e Zazzo

colocando a sensoriedade na evolução da criança.

Jacobson, através de seu método, buscou a tomada de consciência

mais sutil das sensações proprioceptivas, controlando a tonicidade, fazendo

de que forma se pode usar a energia e enfatizando a atenção.

A afetividade permite melhorar a seqüência da evolução no decorrer da

reeducação, facilitando a abordagem corporal. Na psicomotricidade temos

como objetivo primordial trabalhar para educar e reeducar o indivíduo que

apresenta distúrbios psicomotores, debilidades motoras, inabilidades,

atrasos psicomotores, instabilidades psicomotores, inibição psicomotora,

diminuição, hipercontrole e retenção.

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1.4. Aspectos Relevantes do Desenvolvimento Psicomotor

Os estágios são o resultado de um processo reacional e relacional

complexo, e não fixos segundo um quadro de maturação automática.

Segundo Wallon podemos destacar os seguintes estágios:

a) Estágio impulsivo, que é relativo a descargas automático-reflexas;

b) Estágio emotivo, cuja base é tônico-postural e onde as situações

somente são conhecidas por suas repercussões nesse domínio;

c) Estágio sensório motor, que é a coordenação geral;

d) Estágio projetivo, cuja mobilidade é intencional e dirigida para o

objeto em questão.

1.5 Características Gerais do Desenvolvimento Motor

Com ingresso na escola, modificam-se muito as relações de meio

ambiente das crianças, e a partir do ensino fundamental uma parte

considerável do tempo dos alunos pertence agora à aprendizagem e aquelas

tarefas que estão ligadas com a ida à escola.

O brincar sem orientação esta grandemente subordinado a restrições

temporais. Especialmente importante é que sejam dadas às crianças aulas

de Educação Física objetivas. Além disso, muitas delas participam de

atividades e treinamentos esportivos extra-escolares. A formação e a

educação no esporte escolar e extra-escolar tornam-se fatores decisivos

para o desenvolvimento motor das crianças.

Uma habilidade fundamental consiste na vivacidade ou flexibilidade

expressa. Ela é a expressão da satisfação forte e desinibida de movimento.

Quase todos os estímulos do meio são imediatamente transformados em

movimentos pelas crianças, de modo que elas são constantemente “móveis”

e em movimento.

Outras componentes do comportamento motor são a acessibilidade a

solicitações de rendimento esportivo e o desejo de rendimento, no início do

ensino fundamental, geralmente se verifica um interesse prazeroso na

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solução de tarefas de movimento esportivo. Seu desejo de rendimento ainda

é desequilibrado e também, individualmente expresso, de diferentes

maneiras. A maioria das crianças já mostra com satisfação uma prontidão de

rendimento.

Por outro lado, são observados alunos que se saem bem no

comportamento global do dia e, por exemplo, em competições apresentam

um desejo mínimo de rendimento este comportamento também pode ser

causado por deficiência na formação da aula e especialmente pela

insuficiência na proposta das tarefas, bem como sua motivação.

As crianças entusiasmam-se rapidamente por qualquer tipo de esporte

ou jogo (brincadeira) e dão a essa satisfação uma expressão desinibida; no

entanto, a satisfação e a atenção paralisam-se de maneira relativamente

rápida reconhecidas tendências evidente de uma objetividade maior e de

maior capacidade para condução do movimento.

Outra tendência de desenvolvimento na condução do movimento, no

início do ensino fundamental, é o aumento considerável de força e

velocidade. Ela se torna mais evidente, sobretudo, em movimentos de

locomoção.

Este aumento ocorre nos dois sexos, porém é especialmente forte nos

meninos. Ele é, ao mesmo tempo, o lado da condução de movimento em

que se tornam mais evidentes e mais acentuadas as diferenças específicas

do sexo. (Meinel, K. Rio de Janeiro, 1984)

1.6 Desenvolvimento das Habilidades Motoras

1.6.1 Habilidade de Condicionamento Físico

O desenvolvimento das habilidades de força decorre relativamente

lento no início do ensino fundamental, quando não é especialmente

promovido. Isto atinge primeiramente a força máxima. As diferenças

específicas do sexo em geral ainda não são substanciais. A força dos grupos

musculares nos movimentos diários e nas brincadeiras é pequena. Esta

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afirmação é válida, sobretudo, para habilidades de força dos braços e da

musculatura abdominal.

Substancialmente mais bem desenvolvidas são as capacidades de

força dos membros inferiores. Ali, os amplos e múltiplos movimentos de

locomoção, principalmente na forma de corrida, saltitos e saltos, cuidam dos

estímulos de desenvolvimento correspondentes.

Ao contrário da força muscular, as habilidades de velocidade

desenvolvem-se de maneira consideravelmente rápida no inicio do ensino

fundamental. As altas cotas de crescimento anuais duram até

aproximadamente os 10 anos para a partir de então diminuírem

gradativamente.

Apesar destas altas cotas de crescimento, verifica-se que um bom nível

de velocidade de reação praticamente não é alcançado antes do décimo ano

de vida. Esta afirmação constate-se na aula de educação física ou no

treinamento, sobretudo onde é necessária uma reação rápida e variada às

situações alternadas, como, por exemplo, nos jogos esportivos ou nas

modalidades de luta.

Especialmente claros são progressos no desenvolvimento da

freqüência de movimento.O primeiro ponto alto do aumento de rendimento

anual assinala-se nas crianças de sete a nove anos.Estes aumentos de

rendimento no desenvolvimento da freqüência dos movimentos são

constatados no sprint e nos valores obtidos em diferentes grupos

musculares.

Com reforçada diferenciação que atinge o ‘’repertorio de movimento’’

infantil como um todo, tornam-se claras determinadas modificações na

condução de movimento. As formas de movimento esportivo mais

trabalhadas começam a estabilizar-se na sua forma de decurso espacial e

dinâmico. (Meinel, K. Rio de Janeiro, 1984)

1.6.2 Habilidades de Coordenação

O rápido aumento da habilidade e aprendizagem motora é bem

característico no início do ensino fundamental. Ele é percebido de modo

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mais evidente na segunda série e especialmente na terceira, uma vez que

está ligado a requisitos bem específicos. Importante para o desenvolvimento

da habilidade de desempenho motor é o aumento da capacidade de

concentração, a passagem da posição anterior da percepção dirigida para a

global, a mais analítica e a detalhada, e a capacidade crescente para

compreensão verbal e mental da realidade.

Não menos importantes são os progressos no desenvolvimento físico

das crianças e sua crescente experiência de movimento.Os requisitos para o

rápido aumento da habilidade motora citados desenvolvem-se no resultado

da formação e educação escolares.

O rápido crescimento da habilidade de aprendizagem motora

corresponde ao desenvolvimento da habilidade motora de direção e

combinação. Na primeira série, o nível dessa habilidade aparece pouco

desenvolvido quando comparado com a terceira série do ensino

fundamental.

Em especial, a combinação fluente e a mais rápida possível das

diferentes solicitações motoras (por exemplo, correr, rolamento para frente,

continuar a correr, ultrapassar uma parte do plinto, etc...) ainda apresenta

grandes dificuldades para muitas crianças. (Meinel, K. Rio de Janeiro, 1984)

1.7 Desenvolvimento de Diferentes Formas dos Movimentos Esportivos

CORRER

O correr, pertence às atividades de desenvolvimento predominantes e

mais cuidadas das crianças.Ela é, por isso, uma forma de movimento que,

em comparação, por exemplo, com o saltar e o arremesso, é mais bem

dominada, na especificidade da idade.

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SALTAR

É uma forma de movimento que, embora executado com satisfação

pelas crianças, não é praticado na mesma proporção que a corrida.

No início do ensino fundamental, verifica-se ampla multiplicidade dos

saltos. Falta-se para o movimento firmado, a Constancia típica no decurso

espacial, temporal e dinâmico, e no rendimento.

LANÇAR

O desenvolvimento do lançar é caracterizado, no início do ensino

fundamental, por consideráveis diferenças individuais e específicas de

sexo.Isto é válido tanto para o desenvolvimento da técnica de lançamento

como também para o desenvolvimento do rendimento.

PEGAR

O pegar faz parte daquelas formas de movimento que dependem

especialmente de treino, de praticar. De modo geral, verifica-se que no início

do ensino fundamental (1ª série), as crianças estão em condições de pegar

com êxito bolas lançadas à altura do peito; também os lançamentos à altura

dos joelhos e dentro do alcance são quase todos pegos, desde que não

sejam lançados com muita força.

Geralmente, ocorre uma reação objetiva à pequenas inexatidões do

lançamento, uma vez que as crianças antecipam a trajetória de vôo da bola,

podendo pegá-las na sua maioria. Com atividades de pegar e jogos de bola,

constata-se que as crianças aprendem cada vez mais a antecipar rápida,

correta e variavelmente a trajetória da bola, a reagir e adaptar-se

correspondentemente a ela, e o pegar requerido torna-se cada vez mais

seguro e variado. (Meinel, K. Rio de Janeiro, 1984)

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CAPÍTULO II

A LATERALIDADE NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DA CRIANÇA

2.1. A Lateralidade na Educação Física

A lateralidade, cujo termo vem do latim e quer dizer “lado”, tem sido

tema para muitos autores que se dedicam ao estudo da psicomotricidade, da

linguagem e das dificuldades de aprendizagem. Para Negrine (1986), é

durante o crescimento que a lateralidade da criança se define naturalmente,

podendo, também, ser determinada por fatores sociais ainda muito

marcantes nos dias de hoje em nossa sociedade.

Não é raro, por exemplo, encontrarmos famílias fazendo tentativas para

influenciar a criança a utilizar a mão direita no lugar da esquerda, bem como

pessoas adultas bem lateralizadas na infância, como os canhotos, que se

tornaram destras.

Buscamos mostrar a importância que a Educação Física tem dentro do

contexto educacional e a maneira como pode contribuir para que problemas

de má lateralização sejam contornados, sempre com o intuito de facilitar o

aprendizado da criança. A ação educativa é fundamental para colocar a

criança nas melhores condições para que a aprendizagem lhe permita

organizar e consolidar seu desenvolvimento.

Autores como Negrine, Freire, Romero e Fischer são unânimes em

ressaltar que o desenvolvimento do domínio corporal é um dos fatores

fundamentais no processo de aprendizagem do ser humano, em especial no

período em que está na escola. Por essa razão, justamente nesse período

em que está na escola, à criança devemos possibilitar todas as

experimentações possíveis, inclusive a do corpo. E isso pode ser feito

conduzindo a criança de forma que descubra o movimento como elemento

mediador nas construções sobre ela mesma, sobre o outro e sobre o mundo.

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2.2. Lateralidade e suas Definições

O tema lateralidade tem sido estudado desde a abordagem sobre a

dominância cerebral feita por Paul Broca em 1965. A partir da referida

abordagem foram obtidas importantes informações que contribuíram para o

desenvolvimento dos estudos neurológicos.

Segundo Fonseca (1989, p. 69), a lateralidade constitui um processo

essencial às relações entre a motricidade e a organização psíquica

intersensorial. Representa a conscientização integrada e simbolicamente

interiorizada dos dois lados do corpo, lado esquerdo e lado direito, o que

pressupõe a noção da linha média do corpo. Dessa noção vão decorrer, as

relações de orientação face aos objetos, às imagens e aos símbolos, razão

pela qual a lateralização vai interferir nas aprendizagens escolares de uma

maneira decisiva.

A lateralização, além de ser uma característica da espécie humana em

si, põe em jogo a especialização hemisférica do cérebro, reflete a

organização funcional do sistema nervoso central. A conscientização do

corpo pressupõe a noção de esquerda e direita, sendo que a lateralidade

com mais força, precisão, preferência, velocidade e coordenação participa

no processo de maturação psicomotor da criança.

A capacidade de a criança ascender à simbolização passa pela

dominância cerebral, pois, caso contrário, resulta em distúrbios quer na

linguagem falada, quer na linguagem escrita. Sabemos que a metade

esquerda do corpo é controlada pelo hemisfério direito, ao passo que a outra

metade é controlada pelo hemisfério esquerdo. Quando há dominância do

hemisfério esquerdo, temos o indivíduo destro; quando ocorre a dominância

do hemisfério direito, temos o indivíduo canhoto.

É legítimo, porém, admitir que haja colaboração dos dois hemisférios

na elaboração da inteligência. A literatura nos mostra que o sinistro é o

inverso do destro, que isso implica uma organização cerebral diferente, e

que o desenvolvimento neurológico é diferente tanto nos dois hemisférios

cerebrais quanto nos seus territórios neurossensomotores.

Conforme Romero (1988, p.7), o predomínio lateral é funcional e

relativo, não significando a existência da mesma proporção de destros e

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canhotos. Além disso, a lateralidade complementa uma função coordenada

com a dominante; trata-se de uma direção assegurada por um dos membros

ao realizarmos uma série de movimentos ou ao entrar em jogo um conjunto

neuromuscular.

A literatura científica tem mostrado que o destro não é aquele que

utiliza somente a mão direita, pois, em vários atos motores, serve-se das

duas mãos normalmente. Entretanto, a esquerda tem nos movimentos

habitualmente coordenados uma função de apoio no jogo complementar de

ambas. O predomínio motor pode mudar de acordo com a atividade a ser

desempenhada. O destro bem lateralizado apresenta dominância do

hemisfério esquerdo, o que parece não ser totalmente aceito para o caso

oposto.

Pesquisas apontam que, aproximadamente, 98% da população,

incluindo nessa percentagem pelo menos a metade dos sinistros, têm

dominância do hemisfério esquerdo. Como seqüência, são poucos os casos

de sinistros ou de dominância cerebral direita.

Buscamos em vários autores uma definição para o termo lateralidade e

encontramos várias delas e, mesmo com terminologias diferenciadas,

parecem que, em sua essência, são concordantes entre si.

Para melhor definirmos a lateralização, utilizamos colocações de

diversos estudiosos do assunto. Le Bouch (1986, p.118), assegura ser a

lateralização “uma tradução de um predomínio motor referido ao segmento

direito ou esquerdo do corpo”. Para Negrine (1986, p.29), “a lateralidade é,

por um lado, uma bagagem inata e, por outro, uma dominância espacial

adquirida”.

Já Quirós & Schrager (apud Negrine, 1986, p.21), dizem que o termo

lateralidade se refere a “prevalências motoras de um lado do corpo”. Essa

lateralização motora coincide com a predominância sensorial do mesmo lado

e com as possibilidades simbólicas do hemisfério cerebral oposto.

Dessa maneira, é possível aceitar a idéia de que a lateralização não se

manifesta somente por meio de aferências sensoriais e sensitivas e por meio

da diferenciação funcional de ambas as metades do cérebro. Dolle (Apud

Romero, 1988, p.8) define a lateralidade “como apreensão da idéia de direita

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– esquerda”. Enfatiza o autor que a automatização da lateralização tanto é

necessária quanto indispensável e afirma que esse conhecimento deve ser

automatizado o mais cedo possível e que a detecção deve ser feita o quanto

antes, se possível quando a criança ainda estiver no jardim de infância.

Alguns autores dizem que a lateralidade está relacionada ao

conhecimento corporal, o qual é de grande importância nas relações entre o

eu e o mundo exterior, o que, segundo Wallon, é um elemento indispensável

na constituição da personalidade do ser humano. O conhecimento do corpo

não depende unicamente do desenvolvimento cognitivo. Depende, também,

da percepção formada tanto de sensações visuais, táteis, sinestésicas

quanto, em parte, da contribuição da linguagem.

Faria (2001, p. 84) classifica, em relação à lateralidade, os sujeitos da

seguinte forma:

• Destros – são aqueles nos quais não existe um predomínio claro

estabelecido do lado direito na utilização dos membros e órgãos;

• Sinistros ou canhotos – são aqueles nos quais existe um predomínio claro

estabelecido do lado esquerdo na utilização dos membros e órgãos e;

• Ambidestros - são aqueles nos quais não existe predomínio claro

estabelecido, ocorrendo o uso indiscriminado dos dois lados.

Coste (1992, p.63) define quatro tipos de lateralidade:

a) Destralidade verdadeira - a dominância cerebral está à direita;

b) Sinistralidade verdadeira - a dominância cerebral está à direita;

c) Falsa sinistralidade - caso em que o indivíduo adota a sinistralidade em

conseqüência de uma paralisia ou de uma amputação, que impossibilitou a

utilização do braço direito e;

d) Falsa destralidade - caso em que a organização é inversa da observada

na falsa sinistralidade.

É relevante considerarmos, ainda, as grandes variações dentro da

lateralidade. Estão inclusos nessa categoria os sinistros contrariados, ou

seja, aqueles que têm sua dominância discordante entre um membro e outro

(lateralidade cruzada).

Quando falamos em lateralidade cruzada, nos referimos ao indivíduo

que nasce com potencial para ser sinistro, mas que, em virtude da pressão

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exercida sobre ele, acaba utilizando a mão direita. Assim, esse indivíduo

sinistro contrariado acaba tendo sua lateralidade cruzada. A predominância

cerebral pode ser patológica.

Dessa forma, um indivíduo pode ser sinistro porque houve lesão num

hemisfério, e o outro assumiu o comando. O mesmo pode ocorrer com a

destricidade, que pode se apresentar como normal ou patológica.

Estudos científicos mostram que o cérebro humano está continuamente

fortificando ou enfraquecendo suas conexões conforme a experiência,

graças a uma propriedade que está permanentemente ativa em cada

neurônio.

É a plasticidade neural que confere ao cérebro a habilidade para

assumir funções específicas como resultado da experiência, ou seja, os

neurônios podem modificar suas conexões conforme o uso ou o desuso de

determinados circuitos neurais.

Assim, é possível testemunhar a recuperação de funções corticais após

uma lesão em determinada área do cérebro pela utilização de áreas corticais

adjacentes (Thomas et al. Apud FOZ et al.2001). A plasticidade diminui

conforme a idade, tornando-se limitada ou até inexistente após a

adolescência.

Broca e Wernicke estabeleceram uma relação muito estreita entre

lateralidade destra e linguagem. O fato dos centros da linguagem se

encontrarem localizados no hemisfério esquerdo explicaria, assim, os

transtornos apresentados nessa esfera.

Segundo Romero (1988, p.9), várias pesquisas e estudos vêm

estabelecendo relações entre os transtornos de lateralidade e a

aprendizagem. Harris, por exemplo, em 1957, relacionou a confusão na

dominância cerebral com inabilidades para leitura. Barreto, em 1971,

encontrou relação entre a lateralidade cruzada e as dificuldades para a

aprendizagem.

Rebello, em 1967, comentou haver certa freqüência de crianças com

lateralidade cruzada ou mal estabelecida concomitantemente com disfunção

cerebral mínima em clínica neuropediátrica. Fez constar em seu trabalho

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21

uma percentagem significativa de crianças com lateralidade cruzada e com

dificuldades para a aprendizagem.

2.3 Possíveis Problemas de Aprendizagem Relacionados

com a Lateralidade

Fischer (1997, p.27) classifica os problemas de aprendizagem em

dislexia, disortografia e discalculia.

A dislexia caracteriza-se por dificuldades de aprendizagem

relacionadas à identificação, compreensão, interpretação dos símbolos

gráficos e por leitura defeituosa, lenta e silabada. A criança disléxica não é

capaz de soletrar palavras, mesmo que reconheça as letras. Troca as

sílabas, substitui letras, omite letras ou palavras, inverte letras e, algumas

vezes, tenta ler de trás para frente, confundindo, inclusive, letras com

simetria semelhante.

A dislexia consiste na dificuldade de aquisição da leitura na idade

habitual, executando toda debilidade ou deficiência sensorial; a ela se

associam dificuldades de ortografia e, em alguns casos, distúrbios

psicomotores e de linguagem.

A disortografia consiste na dificuldade para memorizar as regras

ortográficas e sintáticas, para usar adequadamente as letras SS, S, Ç, RR,

R, CH e X, para diferenciar gênero de número, para inverter termos, para

evitar erros gramaticais considerados grosseiros por especialistas da área.

A discalculia é a dificuldade na identificação de símbolos visuais, em

cálculo, em concepção de idéias e em aspectos verbais ou não verbais.

Para Romero (1988, p.9), os transtornos psicomotores – como a

lateralidade e a estruturação do esquema corporal – são, de certa forma,

responsáveis pela síndrome da dislexia.

Há alterações psicomotoras que interferem nas tarefas escolares, com

reflexos diretos na escrita, dentre os quais podem ser citados e

considerados:

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• Falta de maturidade motora, a qual se manifesta através de uma debilidade

motora na realização dos movimentos gráficos, na lentidão e na dificuldade

de maneira geral;

• tonicidade alterada para menos ou para excesso: as crianças hipotônicas

fazem traço débil e letras mal acabadas ou incompletas, e as crianças

hipertônicas realizam o traço com demasiada pressão, sendo freqüentes as

sincenesias e os movimentos espasmódicos:

• descoordenações psicomotoras que, isolada ou juntamente com as

alterações neurológicas ou emocionais, se manifestam através de

dificuldades mais ou menos graves, em alguns casos, para segurar o lápis e

controlar os movimentos.

Negrine (1986, p.32) afirma que as dificuldades de aprendizagem

demonstradas pelas crianças de seis a sete anos, quando estas chegam à

escola formal para a alfabetização, são resultantes de toda uma vivência

com seu próprio corpo e não apenas de problemas exclusivos de

aprendizagem da leitura e escrita. O autor diz que o desenvolvimento do

domínio corporal é um fator essencial para as aprendizagens cognitivas.

Enfatiza que as dificuldades de aprendizagem podem começar a se

manifestar entre os três e os cinco anos de idade, sendo que, após os cinco

anos, a freqüência dessas dificuldades em crianças em idade escolar

aumenta consideravelmente.

Ainda para o mesmo autor, a lateralidade é um dos aspectos mais

importantes para o desenvolvimento das capacidades de aprendizagem.

Isso não quer dizer que todas as crianças que tenham dificuldades de

aprendizagem também tenham alterações na lateralidade”.

Romero (1988, p.9) faz as seguintes considerações relacionando a

lateralidade com a aprendizagem:

a) os problemas de leitura e de escrita apresentam relação espacial entre o

eu da criança e o seu meio dentro da formação do seu universo, sendo

que o fator lateralização unido ao de orientação e de estruturação dos

esquemas corporal e temporal, interage diretamente nesses problemas;

b) a consciência da lateralidade e da discriminação direita/ esquerda pode

auxiliar a criança a perceber movimentos do corpo no espaço e no

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tempo, sendo através da educação do corpo que a mesma pode afirmar

definitivamente a lateralidade;

c) para o desenvolvimento adequado da criança é fundamental não forçá-la

a lateralização esquerda ou direita, uma vez que muita criança tem a

tendência à esquerda;

d) o número de indivíduos sinistros diminui com a idade;

e) o destro possui uma série de privilégios manuais dentro da sociedade,

como o uso de tesouras, de abridores, de maçanetas de portas e de um

incontável número de objetos que reforçam o uso do lado direito;

f) a lateralidade não tem conseguido provar, por si só, que é responsável

pelas dificuldades de aprendizagem.

Sincenesia é a reação parasita que traduz um esboço de reprodução,

limitação de movimento pelo membro contralateral ou concentração

hipertônica no membro oposto. São exemplos de sincenesia: mão em garra

ou a reação da “boca aberta” em que a língua acompanha a execução do

movimento da mão.

De acordo com Fonseca (1988, p.129), “inúmeros autores afirmam que

a não preferência manual pode levar a problemas de dominância

hemisférica, aos quais se unem os problemas de linguagem com confusões

posteriores das funções simbólicas”.

O corpo é o ponto de partida de todas as possibilidades de ação da

criança, e é direta a relação dele com a organização das sensações relativas

ao seu próprio corpo e à informação do mundo exterior.

Essa organização implica a percepção e o controle do próprio corpo, o

equilíbrio postural, a lateralidade bem definida, a independência de

diferentes segmentos em relação ao tronco e aos outros membros bem

como o controle da respiração. Tomando como referência as considerações

feitas até agora neste artigo, acreditamos na necessidade da educação

psicomotora baseada no movimento.

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24

2.4. Como a Educação Física e a Escola podem Contribuir para Diminuir as Dificuldades de Aprendizagem.

A escola ao desenvolver os seus educandos em sua totalidade –

orgânica, intelectual, social e política – viabiliza um aprendizado capaz de

possibilitar a inserção de um número cada vez maior deles na sociedade e

na cultura das quais fazem parte.

Nesse sentido, a Educação Física pode dar a sua contribuição para o

processo de formação humana, sugerindo aos pedagogos de sala de aula

que utilizem o movimento e a linguagem corporal, seja através do jogo, da

brincadeira ou de outras atividades dinâmicas, para possibilitar que o aluno

aprenda a se relacionar com o mundo exterior.

Nessa perspectiva, começa a proliferar a idéia de uma educação de

“corpo inteiro” que leve em consideração o ser humano por inteiro. Essa

forma de pensar é definida por Freire, o qual diz não ser possível provar que

“uma pessoa aprende melhor quando está imóvel e em silêncio” (1989 p.12).

Portanto, é preciso oportunizar a criança o espaço adequado para que

possa se expressar também através de seu corpo, movimentando-se,

falando e, é claro, brincando. A escola precisa reestruturar sua ação para

que possam existir crianças inteiras. Freire (1994, p. 14) sugere que “a cada

início de ano letivo, por ocasião da matrícula, também o corpo seja

matriculado”.

No contexto atual, a Educação Física apresenta vários objetivos,

estando entre eles um que é específico para as séries iniciais: buscar

desenvolver as potencialidades da criança e, conseqüentemente, auxiliar na

aprendizagem. Proporcionar a aprendizagem das crianças em vários

esportes, criar o hábito da atividade física e mental bem como buscar o

equilíbrio sócio-afetivo são outras finalidades da Educação Física.

Guiselini (1985, p.33) conclui que o “movimento corporal é um agente

educacional por excelência”.

Acreditamos que um programa de Educação Física bem estruturado,

voltado para o aluno pode garantir um desenvolvimento harmonioso. Nesse

programa deveriam constar atividades e exercícios direcionados para a

afirmação de lateralidade, coordenação estática e dinâmica, equilíbrio,

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dissociação de movimentos, percepção temporal, relaxamento e pequenos

jogos.

Da mesma forma, acreditamos que a boa dosagem das atividades, o

bom senso do professor e, sobretudo, a colaboração de todos os envolvidos

no processo de ensino-aprendizagem da criança poderão contribuir de forma

significativa para o seu pleno desenvolvimento e para que atinja um bom

rendimento escolar nas atividades desenvolvidas em sala de aula.

2.5. Sugestões de Atividades para Ajudar a Evitar Possíveis

Problemas de Aprendizagem.

Para dificuldades na leitura, relacionadas à identificação, compreensão,

interpretação dos símbolos gráficos, sugere:

• Exercícios de esquema corporal;

• Trabalho com diferentes ritmos;

• Relaxamento;

• Brincadeira e jogos de construção;

• O uso do corpo pela criança no desenvolvimento de atividades, o que a

levará a tomar conhecimento do próprio corpo, de suas partes e do mundo.

O Jogo das Partes do Corpo e Brincar de Robô são dois exercícios que

podem ser indicados para o esquema corporal.

No Jogo das Partes do Corpo, as crianças, a um sinal do professor se

movimentam, andando ou correndo pelo espaço da aula. De repente, o

professor fala uma parte do corpo, momento em que cada criança, sem

parar de se movimentar, procura encostar a parte do corpo mencionada na

parte correspondente do corpo de um colega. Assim, se o professor disser

“mão”, o aluno encosta sua mão na mão de algum colega e continua o

movimento de deslocamento combinado (por exemplo, andar). Devem ser

feitas poucas solicitações, pois estamos indicando essa brincadeira para

crianças bem novas.

Brincar de Robô é uma atividade desenvolvida da seguinte maneira:

parada e em movimento, uma criança é o robô, e seu parceiro é o guia.

Auxiliados pela professora, combinam sinais de movimentação do robô. Por

exemplo, se o guia tocar o lado esquerdo da cabeça do robô, esse vira para

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a esquerda; se tocar o lado direito, vira à direita; se tocar o alto da cabeça, o

robô abaixa, e assim por diante.

Algum tempo depois, invertem-se os papéis, sendo que o guia vira

robô, e o robô vira guia. Depois disso, a brincadeira é feita com

deslocamentos. As duplas combinam os sinais de movimentação. Por

exemplo, um toque na parte de trás da cabeça é sinal para o robô ir adiante;

um toque nos ombros é sinal para que ele pare.

Em relação às dificuldades de aprendizagem da escrita, as sugestões

são:

• Exercícios de fortalecimento da lateralidade com manipulação de

materiais diversos;

• Trabalhos com corda para formar letras com as mesmas e andar

sobre elas;

• Confecção de instrumentos musicais;

• Exercícios de orientação do esquema corporal.

Para a lateralidade, propomos Seguir o Guia e Zerinho. Na atividade

Seguir o Guia, o guia orienta o parceiro com sons, e a criança que é guiada

tem os olhos vendados. O percurso a ser seguido é combinado entre a

professora e as crianças. Os sons utilizados são combinados entre as

crianças das duplas. Ao final da aula, cada criança pega uma folha de papel

e tenta desenhar o mapa do território percorrido.

Zerinho é uma brincadeira de corda, só que, em vez de pularem corda,

as crianças devem passar sob ela de modo que os movimentos da corda

não sejam interrompidos. Isso pode ser feito andando ou correndo,

dependendo da habilidade das crianças.

O nome Zerinho foi escolhido porque o professor, verificando que todos

já conseguem passar por baixo da corda sem tocá-la, os desafia para que

passem um a um, sem interromper a corda e sem deixar que ocorram

batidas vazias, isto é, movimentos da corda sem que passe alguma criança

em cada batida. Se isso ocorrer, a contagem da seqüência que vem sendo

feita volta para o zero.

Para as dificuldades de compreensão, identificação e organização do

cálculo, sugerimos:

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• Exercícios de imagem corporal;

• Jogos de atenção;

• Brincadeiras que envolvam concentração e atenção;

• Atividades de percepção;

• Brincadeiras e jogos que envolvam cálculos;

• Exercícios de orientação espacial.

Dentre jogos de atenção, destacamos: Par e Ímpar e Jogo dos

Números e Dando as Mãos.

No jogo Par e Ímpar, os alunos se organizam em duas ou mais colunas

distantes entre si cerca de três metros. A professora combina qual a coluna

é par, e qual coluna é ímpar e lateralmente traça uma linha a uns 15 metros

de cada coluna. Se a professora gritar um número par, os alunos da coluna

par fogem e são perseguidos até o limite pelos alunos ímpares, e vice-versa.

Aos poucos, acrescentam-se cálculos, somas, diminuições, multiplicações,

divisões etc.

No Jogo dos Números e Dando as Mãos, são formadas pelas crianças

quatro colunas com igual número de componentes. Cada coluna deve fazer

uma numeração de forma que cada um tenha um número que corresponda

ao mesmo do aluno da outra coluna. Quando a professora chamar um

número (por exemplo, quatro), os dois números quatro das duas primeiras

colunas dão-se as mãos, os dois números quatro das outras duas colunas

fazem o mesmo, e as duas duplas correm, de mãos dadas, até um certo

ponto, fazem o contorno e voltam ao seu lugar na coluna, marcando ponto a

dupla que chegar primeiro.

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CAPÍTULO III

PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

3.1 Educação do Movimento

Mesmo em meio a tantos conceitos, pode-se dizer que existe uma

coerência na ciência. No momento em que a psicomotricidade educa o

movimento, ela ao mesmo tempo coloca em jogo as funções da inteligência.

A partir dessa posição, observa-se a relação profunda das funções motoras

cognitivas com a afetividade que encaminha o movimento.

Fonseca (1988) comenta que “O movimento humano é construído em

função de um objetivo. A partir de uma intenção como expressividade íntima,

o movimento transforma-se em comportamento significante”. O movimento

humano é a parte mais ampla e significativa do comportamento do ser

humano.

É obtido através de três fatores básicos: os músculos, a emoção e os

nervos, que interagem e atuam de forma coordenada. O cérebro e a medula

espinhal enviam ordens para comandar a contínua atividade de movimento

com específica finalidade. Essas ordens sofrem influências do meio e do

estado emocional do ser humano (BARROS: NEDIALCOVA, 1999).

As unidades básicas do movimento, que abrangem a capacidade de

equilíbrio e asseguram as posições estáticas, são as estruturas

psicomotoras. As estruturas psicomotoras definidas como básicas são:

locomoção, manipulação e tônus corporal. Essas estruturas interagem com a

organização espaço-temporal, as coordenações finas e amplas,

coordenação óculo-segmentar, o equilíbrio, a lateralidade, o ritmo e o

relaxamento.

Elas são traduzidas pelos esquemas posturais e de movimentos, como:

andar, correr, saltar, lançar, rolar, rastejar, engatinhar, trepar e outros

considerados superiores, como estender, elevar, abaixar, flexionar, rolar,

oscilar, suspender, inclinar, além daqueles que se relacionam com os

movimentos da cabeça, pescoço, mãos e pés. Baseiam-se nos diversos

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estágios do desenvolvimento psicomotor, assumindo características

qualitativas e quantitativas diversas (BARROS, 1972).

O movimento refere-se, geralmente, ao deslocamento do corpo como

um todo ou dos membros produzido como uma conseqüência do padrão

espacial e temporal da contração muscular. Movimento é o deslocamento de

qualquer objeto, porém na psicomotricidade o importante não é o

movimento, mas a ação corporal em si.

Os movimentos podem ser involuntários ou voluntários. Movimentos

involuntários são os atos reflexos comandados pela substância cinzenta da

medula antes dos impulsos nervosos chegarem ao cérebro. Os movimentos

involuntários são os elementares inatos e adquiridos. Os inatos são aqueles

com os quais nascemos e são representados pelos reflexos, que são

respostas caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de sua produção e

execução.

Movimentos e expressões involuntários, muitas vezes, estão presentes

em determinadas ações sem que o executante os perceba.Esses

movimentos são desencadeados e manifestados pelo corpo no momento

que determinados atos voluntários ocorrem.

Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados que

ocorrem devido à aprendizagem e que formam os hábitos, os quais, quando

bons, poupam tempo e esforço, caso contrário, se exagerados eliminam a

criatividade.

Os hábitos podem ser passivos (adaptação biológica ao seu

ecossistema) ou ativos (comer, andar, tocar instrumentos). Os reflexos

condicionados são produzidos desde as primeiras semanas de vida. Esses

reflexos condicionados geralmente começam como atividade voluntária e

depois de apreendidos são mecanizados.

Para a execução do ato voluntário exige-se um certo grau de

consciência e reflexão sobre finalidades, entretanto, a maior parte dos atos

executados na vida diária é relativamente automática. Para a atividade

voluntária cotidiana faz parte uma série de reflexos automáticos e instintivos,

os quais, na prática, não podem ser bem diferenciados. A freqüente

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repetição de atitudes voluntárias acaba por transformar-se em atos

automáticos.

3.2. Psicomotricidade e Afetividade na Educação Infantil

Associada à psicomotricidade está a afetividade. A criança utiliza o

corpo para demonstrar o que sente. Desde o nascimento, a criança passa

por diferentes fases nas quais adquire conhecimentos e passa por diversas

experiências até chegar a sua vida adulta. As primeiras reações afetivas da

criança envolvem a satisfação de suas necessidades e o equilíbrio

fisiológico.

Segundo Lapierre e Aucouturier (1984), “Durante o seu

desenvolvimento aparecem os fantasmas corporais que limitam suas

expressões devido à falta de contato corporal dos pais e filhos. A afetividade

é indispensável para o desenvolvimento da criança e equilíbrio

psicossomático”. Como esse contato corporal tende a diminuir com o passar

do tempo cria-se um grande problema para o desenvolvimento da criança.

É recomendado aos pais que mantenham o contato corporal através do

toque durante toda a vida da criança (CHICON, 1999), pois isso certamente

levará a uma evolução psicomotora e cognitiva da criança. É necessário que

toda criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento.

Henri Wallon (1971) diz que o movimento humano surge das emoções,

que a criança é pura emoção durante uma longa fase de sua vida. A

afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, as

emoções, as paixões, e reflete sempre a capacidade de experimentar

sentimentos e emoções.

É ela quem determina a atitude geral da pessoa diante de qualquer

experiência vivenciada e determina sentimentos que oscilam entre dois

pólos, a depressão e a euforia. A forma do indivíduo de se relacionar com a

vida, se dá através da tonalidade de ânimo com a qual a pessoa perceberá

o mundo e a realidade. Direta ou indiretamente, a afetividade exerce

profunda influência sobre o pensamento e sobre a conduta do indivíduo.

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A psicomotricidade tem o objetivo de trabalhar o indivíduo com toda sua

história de vida, social, política e econômica. Essa história se retrata no seu

corpo e trabalha, também, o afeto e desafeto do corpo, desenvolve seu

aspecto comunicativo, dando-lhe a possibilidade de dominá-lo, economizar

sua energia, de pensar seus gestos, a fim de trabalhar a estética, de

aperfeiçoar o seu equilíbrio. Psicomotricidade é o corpo em movimento,

considerando o ser em sua totalidade. Engloba várias outras áreas:

educacionais, pedagógicas e da saúde, por ter o homem como objeto de

estudo.

Psicomotricidade é corpo, ação e emoção. É o corpo em movimento

trabalhando e permitindo ser trabalhado. “O exercício físico estimula a

respiração, a circulação, o fortalecimento dos ossos, músculos e aumenta a

capacidade física, dando ao corpo pleno desenvolvimento” (Fátima Alves,

2003, p. 137).

O bom desempenho mental aliado ao motor poderá levar a criança à

exploração do mundo exterior, saindo de si e começando a observar e

explorar o mundo através de experiências concretas.

O desenvolvimento é crescente tanto no aspecto físico, intelectual e

afetivo e tudo depende de influências comuns. As fases do desenvolvimento

são comuns a todas as crianças, mas as diferenças de ambiente familiar e

meio social em que vivem vão definir o seu comportamento. Assim,

observamos crianças com a mesma idade e comportamentos diferentes, o

que vem provar que cada criança é única e deve ser respeitada.

Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento

psicomotor infantil. É preciso estar atento para que nenhuma perturbação

passe despercebida e seja tratada a tempo, para que a capacidade futura da

criança não seja afetada e prejudique a aprendizagem da leitura e da escrita.

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3.3. Influências no Processo do Desenvolvimento Psicomotor da Criança

Se quisermos que haja uma maturação normal na criança e que sua

inteligência seja desenvolvida, é necessário que haja um ambiente favorável.

Por isso é preciso que os responsáveis sejam orientados e tomem

consciência de sua importância como primeiros educadores.

Desde o nascimento até por volta dos cinco ou seis anos, os teóricos

da educação psicomotora concluem, através de observações e pesquisas,

que as interações entre pais e educadores servem de base para o adequado

desenvolvimento social, afetivo e motor da criança, o que irá favorecê-la na

aprendizagem futura.

Neste sentido, é oportuno apresentar as fases do desenvolvimento da

criança.

a) Fase Oral – 0 aos 18 meses.

b) Fase Anal – 18 meses a três anos.

c) Fase Fálica – quatro aos seis anos.

3.4. Fase Fálica

É a fase lúdica, parece que a criança é dotada de uma energia

interminável, extravasada através de atividades motoras como: correr com

velocidade, pular, subir e descer.

Já percebe que é capaz de fazer e imaginar o que será capaz de fazer

futuramente. Parece que está em todos os lugares, quer saber tudo,

participar de tudo. Brinca sozinha e com poucas companhias.

A criança toca o seu corpo e o corpo do outro, encontra no outro as

semelhanças e diferenças corporais, percebe seu próprio corpo através do

outro e começa a conhecer a sua composição. Percebe que além de si tem

outras pessoas e objetos que fazem parte da história de sua vida. É a fase

do tocar, encontrar e conviver.

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É o início da aceitação de si e do outro, da convivência e da

socialização. Aprende a partilhar as brincadeiras, a dar para receber,

encontrar no outro a alegria e reconhecer que o mundo é de todos e que a

professora é para todos e assim começam a dividir também as atenções. A

fantasia deve ser trabalhada para mais tarde se tornar uma pessoa criativa.

Nessa idade já fazem parte de turmas de Educação Infantil.

As crianças que chegam às escolas, na maioria das vezes, convivem

com adultos, que pela vida atribulada, quase não têm tempo para elas.

Geralmente, vivem em apartamentos ou em casas onde quintais foram

substituídos por áreas cimentadas. Passam a maior parte do tempo em

frente à televisão e brincando com brinquedos eletrônicos, com brincadeiras

estáticas, ao invés de correr, subir em árvore, pular amarelinha, jogar bola,

brincar de boneca; brincar se movimentando e com outras crianças para

desenvolver a sua capacidade criadora.

Isto é, colocar em movimento o corpo e a mente. Mas, geralmente, em

vez de ativas são passivas perdendo a oportunidade de explorar as próprias

capacidades para crescer. São crianças que não foram devidamente

estimuladas em sua primeira escola: a família. Portanto, caberá ao professor

suprir a falta de desenvolvimento motor, intelectual e afetivo das crianças.

Para tal, deverá observar a criança em suas atividades, criando

situações de descontração. Na brincadeira livre está uma excelente

oportunidade para essa observação. O professor organizará atividades

individuais e coletivas para fazer uma avaliação psicomotora com suas

crianças, detectando as falhas, organizará atividades de reeducação

psicomotora com o objetivo de superá-las. O professor precisa ter

conhecimento para preparar os exercícios. É importante que haja variedade,

pois crianças que parecem ter adquirido uma habilidade, revelam-se

incapazes de refazer um mesmo exercício com material diferente.

Devem ser empregados quebra-cabeças, jogos, cantigas de roda,

desenhos, exercícios físicos etc. A educação psicomotora deve ter funções

preventiva e terapêutica e deve estimular a fantasia, tão importante nessa

fase da vida da criança. Bom, também, é solicitar a participação da criança

na organização de exercícios.

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Se a maioria das crianças cursa a Educação Infantil pelo período de

dois anos que é específico para favorecer o desenvolvimento global da

criança e o seu fortalecimento, facilitar a construção de sua unidade corporal

e afirmar sua identidade e autonomia intelectual e afetiva; porque há tanta

dificuldade, posteriormente, na aprendizagem da leitura e da escrita? “A lei

de Diretrizes e Bases no 9394/96, art 9, define como finalidade da Educação

Infantil, o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em

seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social…” ( Revista Mosaico,

1998).

A escola reconhece a necessidade do emprego das condutas

psicomotoras da Educação Infantil para a função de preparar a criança para

aprendizagens futuras. A forma, porém, de como realizam os exercícios, não

permite que os objetivos sejam alcançados. Os mesmos são aplicados para

aperfeiçoamento da mecânica motora.

A relação entre a construção destes domínios e as dimensões afetiva,

relacional e histórica são esquecidas. É no processo da autoconstrução que

a criança chega à escola. A função do professor é trabalhar no aluno cada

uma das dimensões, para levá-lo à construção da unidade corporal e

afirmação da identidade. O educador não pode continuar investindo apenas

em seu intelecto e em seu corpo como instrumento de aprendizagem. A

psicomotricidade tem ação educativa e preventiva.

Segundo Lapierre e Aucouturier, para aprender, a criança necessita de:

a) uma organização de si, do espaço e do tempo que permita aprender;

b) uma organização mental que permita compreender;

c) uma organização psicoafetiva que lhe permita desejar aprender.

O desenvolvimento psicomotor quando acontece harmoniosamente

prepara a criança para uma vida social próspera, pois, já domina seu corpo e

utiliza-o com desenvoltura, o que torna fácil e equilibrado seu contato com os

outros. As reações afetivas e as aprendizagens psicomotoras estão

interligadas. A psicomotricidade é abrangente e pode contribuir de forma

plena para os objetivos para com os objetivos da educação.

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35

3.5. Como Avaliar a Criança em suas Dificuldades

3.5.1. Observando o desenvolvimento psicomotor

A criança na Educação Infantil tem necessidade de brincar, correr,

pular, livremente ou dirigida, mas sempre sob o olhar educador do professor.

Não levar para brincar por brincar. Através de exercícios que envolvam

todos os elementos da psicomotricidade, a criança deve ser avaliada. O

ideal é que, a cada dia, seja observado um determinado elemento básico da

psicomotricidade.

3.5.2. Observando o desenho

Através da observação do desenho da criança, o professor começa a

conhecer e entender a história de vida da criança, sua relação com o mundo,

à relação que ela tem dentro de casa com os pais, os irmãos, a afetividade,

os traumas, os problemas emocionais, o estágio de conhecimento de seu

próprio corpo, do corpo do outro, se ainda está formando ou se já formou

sua imagem corporal, muito importante para o desenvolvimento do esquema

corporal, o conhecimento das partes do corpo tudo isso com a ajuda da

própria criança. Os desenhos deverão ser guardados e pelo menos de dois

em dois meses, novos desenhos devem ser realizados pela criança e

comparados com o anterior para verificar se houve progresso.

3.5.3. Observando o comportamento social

Ninguém vive sozinho. A criança precisa se desenvolver, aprender,

crescer, no meio de outras crianças. Por isso é tão importante freqüentar a

Educação Infantil, para partilhar a sua vivência. Brincadeiras livres são

importantes, mas é hora de introduzir os jogos com regras fáceis para serem

obedecidas. Os jogos ajudam a impor limites, respeitar o colega e ter

cuidado com ele, estruturando o convívio social.

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36

3.6. A Educação Física através da Psicomotricidade na Formação da Criança em Idade Escolar

O trabalho da educação psicomotora com as crianças deve prever a

formação de base indispensável em seu desenvolvimento motor, afetivo e

psicológico, dando oportunidade para que, por meio de jogos, de atividades

lúdicas, se conscientize sobre seu corpo. Através da educação física, a

criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do

comportamento psicomotor.

Para que a criança desenvolva o controle mental de sua expressão

motora, a educação física deverá realizar atividades considerando seus

níveis de maturação biológica. A educação física, na sua parte recreativa,

proporciona a aprendizagem das crianças em várias atividades esportivas

que ajudam na conservação da saúde física, mental e no equilíbrio socio-

afetivo.

A educação física escolar não deve ser totalmente dissociada do

esporte, já que um de seus objetivos consiste em promover a socialização e

a interação entre seus alunos, proporcionadas reconhecidamente pelo

esporte. O grande questionamento que se faz a respeito do esporte na

escola é que ele muitas vezes transfere para o aluno uma carga de

responsabilidade alta em relação à obtenção de resultados, o que afeta a

criança psicologicamente de uma forma negativa.

Por isso, as atividades recreativas e rítmicas poderiam ser

consideradas como meios mais eficazes para promover essa socialização

dos alunos que a educação física escolar tanto apregoa, uma vez que

normalmente são realizadas em grupos, os quais obedecem ao princípio da

cooperação entre seus componentes, estimulando assim a criança em sua

apreciação do comportamento social, domínio de si mesmo, autocontrole e

respeito ao próximo.

Segundo Barreto (2000), “O desenvolvimento psicomotor é de suma

importância na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação

do tônus, da postura, da direcionalidade, da lateralidade e do ritmo”. A

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educação da criança deve evidenciar a relação através do movimento de

seu próprio corpo, levando em consideração sua idade, a cultura corporal e

os seus interesses.

Essa abordagem constitui o interesse da educação psicomotora. A

educação psicomotora para ser trabalhada necessita que sejam utilizadas as

funções motoras, cognitivas, perceptivas, afetivas e sociomotoras.

A educação física pode ser definida como ação psicomotora exercida

pela cultura sobre a natureza e o comportamento do ser humano. Ela

diversifica-se em função das relações sociais, das idéias morais, das

capacidades e da maneira de ser de cada um, além de seus valores.

É um fenômeno cultural que consiste em ações psicomotoras exercidas

sobre o ser humano de maneira a favorecer determinados comportamentos,

permitindo, assim, as transformações. A diversificação das condições sociais

em cada nível escolar e o respeito à individualidade das crianças em cada

processo de aprendizagem de gestos e movimentos estão sujeitos ao ritmo

de aprendizagem e às peculiaridades das relações sociais que existem entre

os integrantes de cada grupo ou classe escolar.

As bases da aprendizagem das atividades físicas de forma consciente,

intencional e sensível são estabelecidas e solidificadas na educação física.

Essas atividades acompanham o ser humano de maneira contínua, atuando,

sobretudo, nos níveis psicomotor, afetivo e no aprimoramento do rendimento

nos estágios de desenvolvimento subseqüentes.

A educação física escolar está baseada nas necessidades da criança.

Tem como objetivo principal, por meio da educação psicomotora, incentivar

a prática do movimento em todas as etapas de sua vida.

Falar da importância da educação física para a criança é o mesmo que

falar da importância de ela se alimentar, dormir, brincar, ou seja, suprir todas

as suas necessidades básicas. O desenvolvimento global da criança se dá

através do movimento, da ação, da experiência e da criatividade, levando-a

a conseguir plena consciência de si mesma; da sua realidade corporal que

sente, pensa, movimenta-se no espaço, encontra-se com os objetos e

gradativamente distingue suas formas; e que se conscientiza das relações

de si mesma com o espaço e o tempo, interiorizando, assim, a realidade.

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38

A educação psicomotora na pré-escola e séries iniciais do ensino

fundamental atua como prevenção. Com ela podem ser evitados vários

problemas como a má concentração, confusão no reconhecimento de

palavras, confusão com letras e sílabas e outras dificuldades relacionadas à

alfabetização. Uma criança cujo esquema corporal é mal formado não

coordena bem os movimentos.

Suas habilidades manuais tornam-se limitadas, o ato de vestir-se e

despir-se fica difícil, a leitura perde a harmonia, o gesto vem após a palavra

e o ritmo de leitura não é mantido ou, então, é paralisado no meio de uma

palavra.

As noções de esquema corporal – tempo, espaço, ritmo – devem partir

de situações concretas, nas quais a criança possa formar um esquema

mental que anteceda à aprendizagem de leitura, do ritmo, dos cálculos. Se

sua lateralidade não está bem definida, ela encontra problemas de ordem

espacial, não percebe diferença entre seu lado dominante e o outro lado,

não é capaz de seguir uma direção gráfica, ou seja, iniciar a leitura pela

esquerda.

Muitos fracassos em matemática, por exemplo, são produzidos pela má

organização espacial ou temporal. Para efetuar cálculos, a criança necessita

ter pontos de referência, colocar números corretamente, possuir noção de

coluna e fileira, combinar formas para fazer construções geométricas.

Segundo Staes e De Meur (1984), o intelecto se constrói a partir da

atividade física. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas

do desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da

afetividade (emoções e sentimentos).

Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é

indispensável o domínio de habilidades a ele relacionado, considerando que

essas habilidades são fundamentais manifestações psicomotoras.

Educação psicomotora é a educação da criança através de seu próprio

corpo e de seu movimento. A criança é vista em sua totalidade e nas

possibilidades que apresenta em relação ao seu meio-ambiente.

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Assim, a educação física e a psicomotricidade completam-se, pois a

criança ao praticar qualquer atividade usa o seu todo; mesmo sendo regida,

predominantemente, pelo intelecto. A educação psicomotora atinge a criança

na sua totalidade.

Staes e De Meur (1984) comentam que “no início da escolaridade

aparecem dificuldades escolares de muitas crianças. O problema não está

no nível de classe em que elas se encontram, mas no nível da base. A

estrutura da educação psicomotora centra-se no nível da base, onde estão

os elementos básicos ou pré-requisitos que são as condições mínimas para

uma boa aprendizagem”.

Através da educação psicomotora, a criança explora o ambiente, passa

por experiências concretas, indispensáveis ao seu desenvolvimento

intelectual, e é capaz de tomar consciência de si mesma e do mundo que a

cerca.

A importância da educação física para alunos de pré-escola até a

quarta série do ensino fundamental levou Le Boulch (1982) a justificar a

introdução da educação psicomotora no ensino fundamental.

“Nos casos em que as perturbações do relacionamento fundamental entre o

eu e o mundo são evidentes, a reeducação psicomotora às vezes permite

obter resultados espetaculares. O que é bem-sucedido com os deficientes

poderia se impor também às pessoas normais durante o período de

estruturação do seu esquema corporal: a psicocinética, que toma o aspecto

de uma educação psicomotora, quando se aplica a crianças menores de

doze anos pode ser considerada como uma forma eletiva de educação física

nesta idade”.

Relacionar-se com o outro na escola, através do ensino, é fundamental.

Esse relacionamento deve ser bem proporcionado para que haja uma

relação entre professor-aluno, aluno-aluno e aluno-professor.

Nesse aspecto as atividades psicomotoras propiciam para a criança

uma vivência com espontaneidade das experiências corporais, criando uma

simbiose afetiva entre professor-aluno, aluno-aluno e aluno-professor,

afastando os tabus e preconceitos que influenciam negativamente as

relações interpessoais.

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O desenvolvimento psicomotor caracteriza-se por uma maturação que

integra o movimento, o ritmo, a construção espacial; e, também, o

reconhecimento dos objetos, das posições, da imagem e do esquema

corporal.

As atividades propostas na educação física através da educação

psicomotora devem ocorrer com espontaneidade, pois quando se

desenvolvem essas atividades com as crianças nota-se uma grande

receptividade por parte delas, visto que ainda não adquiriram tonalidades

preconceituosas.

As atividades que envolvem o toque de uma criança com a outra

devem ser elaboradas e pensadas, pois não é tão simples executá-las, até

porque muitos educadores têm dificuldades de tocar alguém ou deixar-se

tocar.

Bons exemplos de atividades físicas são aquelas de caráter recreativo,

que favorecem a consolidação de hábitos higiênicos, o desenvolvimento

corporal e mental, a melhoria da aptidão física, a socialização, a criatividade;

tudo isso visando à formação da sua personalidade. 92

Diante desses aspectos, entende-se que a educação física é

imprescindível no ensino pré-escolar e no fundamental, uma vez que nessa

fase a criança começa a sistematizar os seus conhecimentos, e a educação

física, com suas atividades diferenciadas, diminui dificuldades, diferenças de

ritmo de aprendizagem.

3.7. Aplicação à Formação e à Educação Física

Para as crianças no período escolar, é importante dar-se a máxima

consideração à expressa necessidade de movimentos. No pátio escolar e

em casa elas deveriam ter, por esta razão, suficiente liberdade de

movimento e ser orientada para manter-se ao ar livre, bem como para

brincar e mover-se.

Estas medidas são muito necessárias para a saúde, o desenvolvimento

físico e motor, e também para o bem estar psíquico das crianças. Algum

comportamento inoportuno das crianças (por exemplo, nervosismo infantil,

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birra, inquietação etc.) pode ser causada pelo fato de que sua necessidade

de movimento e atividade é pouco considerada ou excessivamente

conduzida e regulamentada.

As aulas na escola também devem ser ligadas, tanto quanto possível a

movimentos. Especialmente no tratamento oral da linguagem, no escrever,

calcular e cantar, podem ser usados movimentos correspondentes e diretos

como auxiliar a aprendizagem.

Além disso, para “descontrair” a aula, por exemplo, atividades

recreativas, quando a atenção e a capacidade de trabalho das crianças se

esgotarem, por ficarem muito tempo sentadas quietas.

Especialmente importante, contudo, é aproveitar otimamente a aula de

Educação Física e, além disso, ganhar-se, o mais rapidamente possível, as

crianças para a atividade extra-escolar.

É necessário considerar-se o forte impulso de movimento, a

necessidade de imitação, a oportunidade de variação, bem como o poder de

concentração desequilibrado e o desejo de rendimento.

Isto é alcançado, da melhor maneira, por uma aula de Educação Física

intensiva de movimentos e ricamente variada. Além disso, o professor de

Educação Física deve esforçar-se para aplicar tarefas de movimentos

estimulantes e injetar sua correspondente motivação.

Enfim, somente uma educação variada das capacidades condicionais e

habilidades de coordenação, pode ser alcançada a otimização do

desenvolvimento físico e motor das crianças, e um fundamento seguro para

futuros rendimentos esportivos.

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CONCLUSÃO

A criança percebe seu próprio corpo por meio de todos os sentidos.

Descobre que o seu corpo ocupa um espaço no ambiente em função do

tempo, que capta imagens, que recebe sons, que sente cheiros e sabores,

dor e calor, que se movimenta. O corpo é o centro, o referencial, a relação

entre o vivido e o universo. É o espelho afetivo-somático da imagem de nós

mesmos, dos outros e dos objetos.

Por sua vez, a lateralidade é a bússola de nosso corpo. É através dela

que o mesmo se situa no meio ambiente, manifestando-se ao longo do

desenvolvimento e das experiências. De acordo com esse ângulo de visão, a

Educação Física desempenha um papel de relevante importância na vida

escolar da criança, pois pode realizar a mediação entre a prática e o

processo de aprendizagem utilizando o corpo como instrumento de

construção real do conhecimento.

Trabalhar com um corpo relacionando-o com pensamentos e

sentimentos da à criança uma sensação de integridade que atende à

natureza do indivíduo que é a unidade psicofísica. Os estímulos sensoriais e

perceptivos e a própria atividade física promovem um estado de prazer.

O objetivo do trabalho foi ressaltar a importância do desenvolvimento

da lateralidade e a atuação da Educação Física no contexto corporal da

criança.

A psicomotricidade atuando como uma terapia corporal, trabalha

basicamente com o prazer, de sentir o próprio corpo, sua liberdade de

expressão, tornando-se fundamental para o crescimento e amadurecimento

da criança.

A exploração do corpo é proposta com o objetivo de uma tomada de

consciência para que haja melhor uso e conseqüentemente maior

possibilidade de expressão.

Vivenciar um corpo livre, solto e relaxado é prazeroso para qualquer

um. Para a criança é ainda muito mais, pois ela é toda a nossa esperança de

um mundo muito melhor, para o qual nós trabalharemos para atingir esta

totalidade. Pois a criança é única com limites experiências adquiridas, onde

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sua consciência e seu corpo sofrem influências pela sociedade e pelo

próprio meio em que vivem.

Assim, a educação física, pela suas possibilidades de desenvolver a

dimensão psicomotora das pessoas, principalmente em crianças e

adolescentes, em conjunto com os domínios cognitivos e sociais, e de

grande importância no ensino pré-escolar e fundamental.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

RESUMO 04

METODOLOGIA 05

SUMÁRIO 06

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE 08

1.1. Breve Histórico da Psicomotricidade 08

1.2. O que é Psicomotricidade 09

1.3. Os Caminhos da Psicomotricidade 09

1.4. Aspectos Relevantes do Desenvolvimento Psicomotor 11

1.5. Características Gerais do Desenvolvimento Motor 11

1.6. Desenvolvimento das Habilidades Motoras 12

1.6.1 Habilidade de Condicionamento Físico 12

1.6.2 Habilidades de Coordenação 13

1.7. Desenvolvimento de Diferentes Formas dos

Movimentos Esportivos 14

CAPÍTULO II

A LATERALIDADE NO DESENVOLVIMENTO

PSICOMOTOR DA CRIANÇA 16

2.1. A Lateralidade na Educação Física 16

2.2. Lateralidade e suas Definições 17

2.3. Possíveis Problemas de Aprendizagem Relacionados

com a Lateralidade 21

2.4. Como a Educação Física e a Escola podem Contribuir

para Diminuir as Dificuldades de Aprendizagem 24

2.5. Sugestões de Atividades para Ajudar a Evitar Possíveis

Problemas de Aprendizagem 25

CAPÍTULO III

3.1. Educação do Movimento 28

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3.2. Psicomotricidade e Afetividade 30

3.3. Influências no Processo do Desenvolvimento

Psicomotor da Criança 32

3.4. Fase Fálica 32

3.5. Como Avaliar a Criança em suas Dificuldades 35

3.5.1 Observando o Desenvolvimento Psicomotor 35

3.5.2 Observando o Desenho 35

3.5.3 Observando o Comportamento Social 35

3.6. A Educação Física através da Psicomotricidade

na Formação da Criança em Idade Escolar 36

3.7. Aplicação à Formação e à Educação Física 40

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44

ÍNDICE 46

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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