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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA IDENTIFICAÇÃO,
INTERVENÇÃO E REDUÇÃO DO BULLYING ESCOLAR
Por: Viviane Matos
Orientador
Prof. Dayse Serra
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA IDENTIFICAÇÃO,
INTERVENÇÃO E REDUÇÃO DO BULLYING ESCOLAR
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Psicopedagogia.
Por: Viviane Matos
3
AGRADECIMENTOS
....aos amigos e futuros colegas de
profissão, em especial à Roberta que
muitas vezes “puxou minha orelha”, me
impedindo de faltar as aulas...
4
DEDICATÓRIA
....Dedico este trabalho ao meu esposo
Marcelo Weiler e a minha amada filha
Marianna, por todo apoio e compreensão
de minha ausência. Amo vocês!!!
5
EPÍGRAFE
Se uma criança vive sendo criticada
Aprende a condenar.
Se uma criança vive com hostilidade
Aprende a brigar.
Se uma criança vive envergonhada
Aprende a sentir-se culpada.
Se uma criança vive com tolerância
Aprende a confiar.
Se uma criança vive valorizada
Aprende a valorizar
Se uma criança vive com igualdade
Aprende a ser justa.
Se uma criança vive em segurança
Aprende a ter fé.
Se uma criança vive com compreensão
Aprende a acreditar em si própria.
Se uma criança vive com amizade e carinho
Aprende a encontrar amor no mundo.
6
RESUMO
O presente estudo se refere às configurações do fenômeno bullying e
suas implicações psicológicas, nele procuro analisar as manifestações da
agressão escolar configurada no fenômeno bullying, buscando compreender
as nuances psicológicas acarretadas por ele, assim como seu possível
tratamento psicopedagógico. Nesta direção, os pressupostos da pesquisa
defendem que o fenômeno bullying é extremamente multifacetado e altamente
doloroso para as partes envolvidas, destacando que várias são as causas que
o geram, mas as conseqüências muitas vezes, culminam em tragédias sociais
como assassinatos, suicídios e anulação do sujeito em relação a sua auto-
estima. Destaca-se ainda que o tratamento psicopedagógico deve ser
personalizado e analisado em cada caso, pois as características do bullying
desencadeiam problemas diferentes em cada indivíduo, por isso é preciso
muita acuidade no seu trato. Defende-se também neste, que a principal forma
para combater-se o bullying é a conscientização baseada no respeito mútuo,
na ética e na cidadania, ou seja, o respeito entre os indivíduos.
Palavras-chave: Bullying, Psicopedagogia, Instituição escolar
.
7
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa teórica, de abordagem bibliográfica. Os
dados foram coletados através de livros, artigos e documentos.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - Bullying, a brincadeira que não tem graça 11
CAPÍTULO II - O papel do psicopedagogo, frente a esse mal invisível 19
CAPÍTULO III – Conclusão 24
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 27 ÍNDICE 29 FOLHA DE AVALIAÇÃO 30
9
INTRODUÇÃO
Neste trabalho procuro analisar o papel do psicopedagogo na
intervenção, redução e identificação do Bullying escolar.
Através deste estudo pretendo perseguir o seguinte problema: Em que
medida a atuação do psicopedagogo na escola pode facilitar a identificação,
intervenção e redução do Bullying escolar?
A escolha deste tema como marco de investigação se deve à realidade
na qual presenciamos com constância na prática docente, e que infelizmente
vem crescendo de forma alarmante e assustadora. Todos os dias, alunos no
mundo todo sofrem com um tipo de violência que vem mascarada na forma de
“brincadeira”. E esse comportamento, que até há bem pouco tempo era
considerado inofensivo e que recebe o nome de bullying, pode acarretar sérias
conseqüências ao desenvolvimento psíquico dos alunos, gerando desde queda
na auto-estima até, em casos mais extremos, o suicídio e outras tragédias.
O Fenômeno Bullying vem se disseminando nos últimos anos, tendo como resultado, os nefastos massacres em escolas localizadas nas mais diversas partes do mundo e ultimamente no Brasil. O que antes ocorria de forma esporádica, após a década de 90, transformou-se numa seqüência de trágicos assassinatos e suicídios nas escolas. (FANTE, 2005).
Pesquisei a atuação do psicopedagogo na identificação, redução e
intervenção do Bullying escolar, por considerar de suma importância tanto
pessoal, quanto para os demais atuantes da área, algumas reflexões acerca
deste tema. Temos visto que muitos estudantes sofrem com este tipo de
agressão e para os pais, professores e demais profissionais da escola, nem
sempre esta violência é explícita.
10
De acordo com Fante (2005, p.11), as crianças vitimizadas pelo
comportamento bullying sofrem terrivelmente ao longo dos anos, muitas vezes
sob a vista de seus professores no ambiente escolar, nas salas de aula.
Trata-se de uma pesquisa teórica, de abordagem bibliográfica. Os
dados foram coletados através de livros, artigos e documentos.
Esta pesquisa foi fundamentada principalmente em Fante (2005),
FANTE e Pedra (2008), Middelton-Moz (2007), Calhau (2009), Beauclair
(2004). Para discutir bullying me fundamentarei em Fante (2005), FANTE e
Pedra (2008), Middelton-Moz (2007) e Calhau (2009). Para conceituar a
psicopedagogia, me basearei em Beauclair (2004).
Este trabalho está organizado em 3 capítulos, sendo que no primeiro
conceituarei o de acordo com Fante (2005) “Fenômeno” bullying e suas
diferentes formas de atuação. No segundo capítulo farei um breve histórico
sobre a psicopedagogia e suas abordagens, e o terceiro capítulo será a
conclusão desta pesquisa monográfica.
11
CAPÍTULO I
BULLYING, A BRINCADEIRA QUE NÃO TEM GRAÇA
Tem gente que lhe arranca o coração e tem gente que o coloca de volta em seu lugar.
Elizabeth David
Começarei meu trabalho com uma pequena história, que marcou muito
o início de minha pesquisa.
Houve um tempo em que nosso planeta era habitado somente por animais. Era um tempo de grande harmonia entre as espécies. Querendo registrar em livros essa época da história, a bicharada resolveu criar a escola. Todos se empenharam em descobrir como participar da sua construção. Resolveram, então, dividir as tarefas, para que todos colaborassem. Os elefantes, os camelos e os pássaros ficaram responsáveis pelo fornecimento de água. Os leões, os rinocerontes, os búfalos e as zebras foram encarregados de fornecer toda a madeira necessária. Já os porcos, os hipopótamos e os jacarés cuidaram da confecção dos tijolos. Os castores, os veados e as hienas, com o apoio dos joões-de-barro, se comprometeram em levantar as paredes. Como o trabalho exigia altura e agilidade, as girafas e os macacos se propuseram a construir o telhado. Os camaleões, os pavões e as borboletas cuidaram da pintura e da decoração. Depois da escola pronta, fizeram uma grande festa, para comemorar o resultado dos seus esforços. Descobriram que, graças à solidariedade e à cooperação de todos, poderiam finalmente, estudar todos juntos. As boas relações entre as diferentes espécies favoreciam tanto os que ensinavam quanto os que aprendiam. Porém, numa manhã fria de inverno, surgiu na escola um bicho muito estranho. Seu olhar de valentão dava medo, causava até arrepios! Ninguém sabia de onde ele tinha vindo e a que espécie pertencia.Não se parecia com nenhum habitante do planeta. Por suas características e pelo tipo de influência que provocou em outros bichos, chamaram-no de BULLYING. Os animais que com ele tiveram contato mudaram o comportamento e a maneira de agir com os colegas. Tornaram-se agressivos, prepotentes e perversos. Adotaram formas de “brincar” muito diferentes das adotadas até então. Suas “brincadeiras’ geravam sofrimento, chateação, vergonha e constrangimento aos colegas, inibindo o aprendizado e a maneira de ser de cada espécie. Suas atitudes tornaram-se hostis com os mais fracos e indefesos. As diferenças existentes entre eles, que antes eram consideradas normais, passaram a ser motivo de chacotas e ridicularizações. Os que apresentavam dificuldades de aprendizagem eram apelidados, e muitos desistiram da escola. Outros sofriam calados, temendo represálias. A maioria dos bichos presenciava o comportamento dos colegas, mas, por alguma razão, nada faziam. Essas mudanças de comportamento provocaram sérios problemas de convivência na escola e o interesse pelos estudos ficou prejudicado. Assim, o leão tornou-se o valentão da escola, agindo de maneira dominadora e
12
procurando impor sua autoridade. A cobra, que até então era amiga e conselheira, começou a espalhar boatos difamando a galinha, dizendo que esta era namoradeira. Como tinha habilidade para desenhar, retratava a galinha em situações constrangedoras e passava para os colegas. O cachorro, que antes protegia a todos, também mudou seu comportamento e passou a agir com perversidade rosnando e fazendo ameaças. A hiena, temendo tornar-se a “próxima vítima”, ria da maldade que os colegas faziam. Como estratégia, passou a criticar a gralha, responsável pelo sinal da troca de aulas, devido ao seu tom de voz estridente. A gralha sentindo-se humilhada, foi aos poucos se retraindo, até que desenvolveu uma gagueira e não pode mais tocar o sinal da escola. A anta, cheia de dúvidas, evitava fazer perguntas para a professora, pois se sentia envergonhada pela “zoação” que recebia, prejudicando sua aprendizagem. Com a preguiça algo semelhante aconteceu. Aos poucos foi excluída do grupo. Tão chateada ficou que perdeu a motivação e suas notas despencaram. Nem o alegre e estudioso pingüim escapou aos maus tratos. Sofria perseguição porque estava sempre bem vestido e elegante. Depois de algum tempo tornou-se estressado e mal humorado. Com o veado, os valentões da escola pegaram pesado: excluíram-no do time de futebol, dizendo que era demasiadamente sensível para os esportes. O tucano tornou-se agressivo por causa das piadinhas que faziam com seu bico, e durante o recreio procurava os galhos mais altos e afastados para comer sozinho o seu lanche. O gambá decidiu abandonar a escola porque implicavam com o seu cheiro. O sapo com medo do jacaré acabou adoecendo. Em conversa com sua mãe, ele contou que sentia muita raiva dos seus colegas, que não queria voltar para escola e que pensava em se vingar. O elefante, coitado, ia para escola de casaco, num calor danado, para disfarçar sua gordura. Um dia, cansado das chacotas dos colegas, decidiu emagrecer, mas acabou desenvolvendo anorexia (perdeu a vontade de se alimentar) e teve que interromper seus estudos para tratamento. A mãe coruja, notando que sua filha chegava da escola agressiva, com ar de superioridade, querendo intimidar seus irmãos mais novos, resolveu ficar atenta. Procurou a direção da escola e contou o que estava acontecendo, querendo saber se lá ela agia assim. Nessa época, vários pais procuraram a escola para tentar entender os problemas apresentados por seus filhos. Outros ameaçavam tirar os filhos da escola. Até os professores não agüentavam tanta violência. Após reunir a equipe de professores e analisar os problemas enfrentados, a direção da escola percebeu que toda essa mudança de comportamento foi promovida por aquele bicho estranho, que haviam chamado de BULLYING. Assim, a escola resolveu convocar todos os seus profissionais, os pais e os alunos para uma grande reflexão. O grupo concluiu que o medo, a insensibilidade, a dificuldade de compreender e se colocar no lugar do outro e a intolerância às diferenças individuais de cada um estavam prejudicando o ensino, a aprendizagem, as relações sócias entre as espécies, e a violência crescia no ambiente escolar. O papai búfalo lembrou a todos que, na construção da escola, cada um contribuiu conforme as suas habilidades e o resultado foi extraordinário. Todos cooperaram com alegria, e a amizade foi fortalecida entre eles. O diretor considerou que a maior dificuldade dos alunos não estava na aprendizagem das disciplinas curriculares, mas sim na convivência, e disse que, doravante, todos na escola se empenhariam em educar os alunos para a paz, a fim de que a escola se tornasse um lugar onde todos pudessem ser incluídos. Por isso, resolveram ensinar sobre a importante participação das diferentes espécies na história da
13
evolução e da manutenção do planeta. Dessa forma, os alunos aprenderam que as diferenças sempre existirão, mas são os diferentes que fazem a diferença. E não encontrando mais espaço para suas maldades, o BULLYING sumiu para sempre daquele lugar...” (FANTE E PEDRA, 2008).
Esta história traz à tona um questionamento sobre toda a dor e
sofrimento que o bullying causa. De acordo com a literatura pesquisada, pude
ter um amplo panorama de como realmente é o bullying escolar, e de como
sua ação maléfica traumatiza sua vítima, acarretando uma série de danos em
seu psiquismo.
Para os alvos de tamanha brutalidade, as conseqüências podem ser
depressão, angústia, baixa auto-estima, estresse, absentismo ou evasão
escolar, atitudes de autoflagelação e suicídio, enquanto os autores dessa
prática podem adotar comportamentos de risco, atitudes delinqüentes ou
criminosas e acabar tornando-se adultos violentos.
Para Fante e Pedra (2008), bullying é um problema epidêmico,
específico e destrutivo, motivo pelo qual deve ser considerado questão de
saúde pública.
De acordo com Rabelo Jr. (2007), o bullying começou a ser pesquisado
cerca de vinte anos atrás na Europa, quando se descobriu o que estava por
trás de muitas tentativas de suicídio entre adolescentes. Sem receber a
atenção da escola ou dos pais, que geralmente achavam as ofensas bobas
demais para terem maiores conseqüências, o jovem recorria a uma medida
desesperada. Porém, descobriu-se que bullying é um fenômeno mundial tão
antigo quanto a própria escola. Apesar dos educadores terem consciência da
problemática existente entre agressor e vítima, poucos esforços foram
14
despendidos para o seu estudo sistemático até princípios da década de 80.
Um dado alarmante, é que este mal vem se disseminando largamente nos
últimos anos, atingindo faixas etárias cada vez mais baixas, como crianças dos
primeiros anos de escolarização.
A palavra bullying é de origem inglesa, e adotada em muitos países para
definir “ o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e
colocá-la sob tensão. (Tatum e Hebert, 1999 apud Fante e Pedra, 2008) Porém
o conceito é o mais variado, em geral, é descrito como atitudes de intimidação,
agressão física e psicológica e abuso sistemático do poder. Segundo Ballone
(2005), o termo bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas,
intencionais e repetidas, que ocorre sem motivações evidentes, adotadas por
um ou mais estudantes contra outro(s), executadas dentro de uma relação
desigual de poder.
Para a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e
à Adolescência (ABRAPIA), por não existir uma palavra na língua portuguesa
capaz de expressar todas as situações de bullying, as ações que podem estar
nele presentes são: colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear,
humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir,
assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar,
empurrar, ferir, roubar e quebrar pertences. Pode também ser praticado por
meios eletrônicos. Mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulam por e-
mails, sites, blogs (os diários virtuais), pagers e celulares.
De acordo com Leite (1999), alguns sinais são comumente observados
na manifestação da prática do bullying: roupas excessivamente sujas, livros
15
rasgados, hematomas não justificados, objetos em falta, necessidade de mais
material escolar ou de dinheiro extra.
Outros indicadores como demonstrar falta de vontade de ir à escola,
sentir-se mal perto da hora de sair de casa, pedir para trocar de escola, revelar
medo de ir ou voltar da escola, pedir sempre para ser levado à escola, mudar
freqüentemente o trajeto entre a casa e a escola são também muito comuns.
O bullying é disseminado por todas as classes sociais, em escolas públicas e
privadas, podendo se manifestar verbalmente, fisicamente e psicologicamente,
e de forma diferenciada entre gêneros.
Para Rabelo Jr. (2007), bullying é diferente de uma brincadeira inocente,
sem intenção de ferir. São atitudes hostis, que violam o direito à integridade
física e psicológica e à dignidade humana. As vítimas se sentem indefesas,
vulneráveis, com medo e vergonha, o que favorece o rebaixamento de sua
auto-estima e a vitimização continuada e crônica. Essa forma de violência,
muitas vezes interpretada como brincadeiras próprias da idade, traz uma série
de danos, que se refletem não apenas no processo de aprendizagem e
socialização, mas, sobretudo, na saúde do individuo.
Os meninos estão mais envolvidos com o bullying, tanto como autores
quanto como alvos, observa Leite (1999). Nos meninos o bullying é mais físico.
Já entre as meninas se caracteriza, principalmente, como prática de exclusão
ou difamação.
É usual os alunos envolvidos no bullying serem da mesma sala ou do
mesmo ano. Quando em idades diferentes, o praticante tende a ser mais velho
16
que suas vítimas. Normalmente existem três tipos de pessoas envolvidas
nessa situação de violência: a vítima, o agressor e a testemunha.
Conforme Ballone (2005), os autores são comumente indivíduos que
têm pouca empatia, são antipáticos, arrogantes e desagradáveis.
Freqüentemente pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco
relacionamento afetivo entre seus membros.
A vítima costuma ser a pessoa mais frágil, com algum traço destoante
do “modelinho” culturalmente imposto pelos seus pares, traço este que pode
ser físico (uso de óculos, obesidade, alguma deficiência, muitas espinhas),
emocional (timidez, introversão) ou relacionada a outros aspectos culturais,
étnicos ou religiosos.
Sem esperanças quanto às possibilidades de se adequarem ao grupo e
com dificuldades para novas amizades, algumas vítimas crêem ser
merecedores do que lhes é imposto. Têm poucos amigos, são passivas e não
reagem aos atos de agressividade sofridos.
O agredido costuma ser uma pessoa que não dispõe de habilidades
físicas e emocionais para reagir, tem um forte sentimento de insegurança e um
retraimento social suficiente para impedi-lo de procurar ajuda.
Não são poucas as vítimas de bullying que, por medo ou vergonha, sofrem em
silêncio. A barreira do silêncio ajuda a perpetuar o bullying. As vítimas relutam
em contar o que estão sofrendo por terem medo de represálias e por achar
que suas experiências podem não ser levadas a sério.
17
Em termos gerais, são normalmente rejeitadas pelos pares, ficam
isoladas, sem amigos e sem proteção pessoal, sendo mais expostas à rejeição
e à agressão social.
Os espectadores, representados pela grande maioria dos alunos,
convivem com a violência, se sentem incomodados, mas se calam em razão
do temor de se tornarem as próximas vítimas. Sua omissão pode estar
também relacionada ao prazer com o sofrimento da vítima e pelo medo de
assumir a identidade de agressor.
“ Crianças que repetem atos de intolerância e de violência
para com o outro podem estar sendo reforçada pelos pais
que a vêem positivamente como esperta, machões,
bonzões, ou por grupos que usam a intolerância, a
discriminação e a violência como meios de expressão e
de afirmação da identidade narcísica. Os que praticam o
bullying têm grande probabilidade de se tornarem adultos
com comportamentos anti-sociais e/ou violentos, podendo
vir a adotar, inclusive, atitudes delinqüentes e criminosas.”
(Calhau, 2009)
Esses conflitos quando não bem resolvidos nos anos iniciais do
desenvolvimento do indivíduo podem se perpetuar, pois como já é sabido,
ainda na infância, inscrevem-se como um modelo padrão de relação que
iremos estabelecer na idade adulta, então é comum percebemos pessoas que
assumem a condição de agressor ou de vítima em vários ambientes onde
exista relação de mando – obediência, ou de quem estabelece/monitora as
18
regras e de quem tem por função cumpri-las. Nesse caso, é possível perceber
tais aspectos em empresas, família, instituições diversas, até mesmo entre
diretor-professor, professor-aluno, professor-professor, etc..
De acordo com Calhau (2009), bullying trata-se de um verdadeiro mal
invisível, que desestrutura vidas, destruindo famílias e carreiras, afetando
pessoas das mais diversas classes, fazendo com que sofram calados com o
temor gerado em suas vidas, não encontrando, por muitas vezes, ajuda em
pessoas próximas, especialistas ou autoridades públicas, principalmente diante
da falta de informação veiculada.
CAPÍTULO I I
19
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO, FRENTE A ESSE MAL
INVISÍVEL.
Individualmente, os flocos de neve são uma coisa frágil, mas veja só o que são capazes quando se juntam.
Fernando Bonaventura
Começarei este 2O capítulo sobre a importância do psicopedagogo,
frente a esta árdua batalha contra o bullying escolar. Todos sabem que o
docente tem uma enorme influência sobre seus alunos. A este docente,
Middelton-Moz (2007, p. 59), denomina de “cuidador”. Ainda com o autor, a
interação da criança com seu principal cuidador na escola, é a maior proteção
contra comportamentos agressivos posteriores. Esse relacionamento é o
alicerce para o desenvolvimento de vínculo e de empatia, regulando e
equilibrando as emoções e a capacidade de aprender.
Porém, trago a tona uma questão visível em muitas realidades
educacionais, que é a de que apesar de reconhecerem a existência do
bullying, muitos professores e diretores de escolas públicas e privadas ainda
têm dificuldade em lidar com o problema. A falta de tempo e a grande
quantidade de estudantes nas salas de aula não permitem que esses
profissionais façam um acompanhamento individual de cada aluno.
De acordo com minha pesquisa, minha experiência de 13 anos na área
de educação e todo o conteúdo assimilado no curso de psicopedagogia,
considero que cada escola deveria contar com uma equipe de psicopedagogos
que pudesse atuar junto aos estudantes. Vejo que algumas instituições
privadas já contam com esses profissionais, mas na rede pública, infelizmente,
20
esse acompanhamento ainda não é o adequado. Diretores e coordenadores
muitas vezes não se mostram preparados para agir nesses casos.
Conforme Beauclair (2004), o psicopedagogo cuida de questões que
transversalizam os diferentes momentos do aprender, que devem envolver as
famílias e o meio sócio-cultural. A psicopedagogia se posiciona em observar o
sujeito aprendente como um organismo biológico, afetivo, cognitivo, social e
cultural. Com isso, busca conhecer o sujeito como ser transcendente que se
constitui como pessoa, a partir do biológico e de suas múltiplas interações com
o mundo, com o saber, com o conhecimento.
De acordo com Oliveira, o saber enxergar e aceitar a diversidade do
outro, assim como encontrar tempo para e espaço para escutá-lo, vem a ser
condição de aprendizagem e de desenvolvimento saudável. Neste sentido
também, a construção da própria identidade da Psicopedagogia e do
psicopedagogo depende do valor que é dado à aprendizagem em equipe,
sempre aberta às transformações do seu tempo.
Sendo assim, na escola, o psicopedagogo deve ter o entendimento do
Projeto Político Pedagógico, do Regimento e de toda a estrutura física e
documental da instituição, intervindo nas diferentes instâncias que veiculam o
conhecimento, como este transita, como é apresentado aos alunos, avaliado,
transformado, enfim, analisando os processos e as modalidades de ensinar e
de aprender. Além disso, deve observar como ocorrem as relações de poder, o
que interfere nas relações interpessoais dos diferentes grupos e como estes
procuram dar conta dos conflitos do dia-a-dia.
21
“ A psicopedagogia se envolve no desenvolvimento
cognitivo, com o claro objetivo de conhecer como o
sujeito aprende, buscando compreender, também, os
motivos que fazem com que alguns sujeitos não
aprendam.” (BEAUCLAIR, 2004, p. 43).
Ainda com Beauclair (2006), a Psicopedagogia por ser um campo do
conhecimento interdisciplinar pode contribuir, seja no sentido de promover a
aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios, nesses processos instalados na
própria instituição, a qual cumpre uma importante função de socializar os
conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a
construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo.
Em síntese, a atuação do psicopedagogo na escola deve ser feita frente
aos educadores e deve visar uma conscientização da problemática existente
entre agressor e vítima, encontrando soluções para prevenção do bullying e
intervenção deste fenômeno, a fim de conter sua disseminação.
Muitos profissionais da educação se assustam quando “aquela simples
brincadeira” entre grupos é sinalizada como bullying. Então é papel do
psicopedagogo atuar com intervenções que minimizem este ato de crueldade
tais como, projetos ou miniprojetos na escola sobre valores, respeito mútuo,
paz, tolerância, ser diferente, etc. Oficinas, teatro, ações que permitam aos
alunos exporem seus medos, suas opiniões sobre o assunto, como uma
espécie de terapia ocupacional, ou seja, transformar os alunos em aliados
contra esse mal. Monitorar os vários espaços da escola, mesmo fora dos
intervalos entre as aulas. E policiar as formas de ações, tendo cuidado, por
exemplo, com a forma como um professor se dirige a um aluno, evitando
22
apelidos, termos de menosprezo, etc., pois o educador é quem está na linha
de frente, quem estabelece contato direto com o aluno e, muitas vezes por
falta de cuidado com essa questão, o aluno teme conversar preferindo se
calar.
Termino este 2o capítulo com uma história de Dennis Saddleman1 apud
Middelton-Moz (2007, p. 29), que julguei ser de grande relevância para o
entendimento da dor sentida aqueles que sofrem desta “perseguição”
desenfreada, e qual seria o papel do Psicopedagogo frente à crueldade
desmedida do bullying escolar. Nós enquanto futuros psicopedagogos,
devemos vislumbrar um futuro de paz, via educação, desde os primeiros anos
de escolarização. As crianças têm grande poder de propagação de idéias, são
multiplicadoras de toda educação que recebem. Por isso, devemos ensiná-las
a respeitar e a valorizar as diferenças individuais, resolver seus conflitos e
conviver em harmonia, disseminado em seus corações, sementes da paz.
A BATALHA DAS PALAVRAS BOAS CONTRA AS PALAVRAS MÁS
Lá fora no campo de batalha Havia uma guerra... Havia uma batalha Entre as palavras boas e as palavras más Todas as palavras espirituais se ajoelhavam De cabeça baixa Murmuravam palavras silenciosas e de oração As palavras fortes ficaram ali, paradas, com suas lanças As palavras fortes eram guarda costas do chefe das palavras O chefe das palavras falou palavras corajosas aos guerreiros das palavras “Hoje, lutamos por boas palavras
1 Dennis Sandleman é um sobrevivente do sistema de escolas residenciais do Canadá, que eram dirigidas pelo Igreja Católica e financiadas pelo estado, destinadas a resolver “o problema indígena” do país. Milhares de crianças de origem indígena no Canadá e nos Estados Unidos foram tiradas de seus lares e forçadas a freqüentar essas escolas, muitas delas dos 5 aos 17 anos. Muitas foram abusadas mental, emocional, espiritual e sexualmente, nas mãos de pessoas a quem se confiou seu cuidado.
23
Lutamos por bons pensamentos Lutamos por nossa língua.” Do oeste vinham as palavras obscuras Palavras ofensivas Palavras raivosas Palavras do mal Palavras violentas As palavras líderes fizeram o primeiro enfrentamento As palavras boas lutaram contra as palavras más No campo de batalha, havia palavras cortantes, Palavras açoitantes E depois houve muitas palavras caídas Em pouco tempo... o campo de batalha estava coberto de palavras sangrando Palavras doendo E palavras morrendo E a batalha chegara ao fim Palavras sobreviventes cantavam palavras de vitória Chegaram palavras de cura Que trataram as palavras lesionadas E sepultaram as palavras mortas E então, entre amigos Entre muitas famílias Em todo o território Houve boas palavras Bons pensamentos E boas línguas.
24
CAPÍTULO I I I
CONCLUSÃO
Há duas maneiras de enfrentar dificuldades. Podem-se alterar as dificuldades ou pode-se alterar a si mesmo para enfrenta-las.
Phyllis Bottome
O presente estudo permitiu a partir do referencial teórico selecionado,
analisar as manifestações da agressão escolar configurada no fenômeno
bullying, buscando compreender as nuances psicológicas acarretadas por ele,
assim como, possíveis programas psicopedagógicos.
Pude concluir, que muitas escolas ignoram os casos de violência, por
medo de perder seus alunos-clientes. Outro aspecto preocupante é que muitas
instituições de classe, ao sugerir apoio psicopedagógico, tentam reforçar a tese
de que crianças agredidas podem ter uma propensão a isso – como se o
problema estivesse na vítima e não na instituição. É um mecanismo sutil dos
colégios se distanciarem do problema. Temos visto muitos casos onde a
escola transfere a culpa para a família e vice-versa. Não adianta os pais
colocarem a culpa nas más companhias e o colégio dizer que é o aluno que
não sabe se defender e que a culpa é dos pais.
A escola, em seu Projeto Político-Pedagógico, deve prever e aplicar, em
sua prática, uma intenção na construção de um projeto de vida, no qual as
relações interpessoais saudáveis entre professores, alunos e famílias sejam
privilegiadas. Às vezes, investe-se muito no planejamento de conteúdos e
objetivos, mas acabam se esquecendo das relações afetivas, e do acolhimento
25
daquele aluno que chega pela primeira vez à escola, cheio de sonhos e
expectativas. Até então ele estava acostumado a ser quase o centro das
atenções; a partir dali vai ter que dividir isso com 20 ou 25 ou 40 colegas. Essa
criança vai ter que se adaptar ao jeito de ser do professor e dos colegas, aos
comentários, às piadas. Sendo assim, o psicopedagogo na escola, exerce um
papel fundamental na criação e no aperfeiçoamento do clima relacional entre
professores, alunos, funcionários e famílias, muitas vezes, sendo necessário
desmistificar a manifestação de sentimentos primitivos como a inveja, a
competição, que impedem a prática educativa.
Finalizando, gostaria de enfatizar que o Psicopedagogo pode fazer
muita diferença numa instituição, com uma escuta e um olhar mais sensível
quanto às demandas de professores, alunos e famílias. Não esquecendo que
uma grande parte das crianças e dos adolescentes reconhecem a escola como
um lugar gostoso de estudo e de encontros com colegas e professores.
É unânime que a criança que apresenta este problema (bullying) deve
ser tratada e não punida, pois lidamos com jovens que sofrem, que não
encontram formas de se aproximar de seus iguais, que se percebem tão
frágeis que têm de mostrar o contrário e provar todo o tempo que são
destemidos.
Acabar definitivamente com o bullying, de acordo com Calhau (2009),
pode parecer uma utopia, em uma sociedade capitalista e individualista, onde
o ter acaba tendo mais valor do que o ser, mas é um desafio que nos inspira a
lutar por um mundo melhor, por uma sociedade mais justa, por um mundo
melhor para deixarmos para as gerações futuras e isso só poderá ser
26
conseguido quando mais nenhuma vítima do bullying se esconder por trás de
suas lágrimas, de seu sofrimento, de seu silêncio.
Concluo, portanto, que é preciso dar um basta nesta forma de violência,
para que os agressores juvenis de hoje não se tornem os criminosos de
amanhã.
27
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e a
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Acesso em: 12 de fev. de 2010.
29
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
EPÍGRAFE 5
RESUMO 6
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
Bullying, a brincadeira que não tem graça 11
CAPÍTULO I I
O papel do psicopedagogo frente a esse mal invisível 19
CAPÍTULO I I I
Conclusão 24
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 27
ÍNDICE 29