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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO PARA TODOS: A PRÁTICA DESPORTIVA COMO MELHORA SOCIAL DOS PORTADORES DE ESPECTRO AUTISTA Por: Aline de Melo Batista Orientador Profª. Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO PARA TODOS: A

PRÁTICA DESPORTIVA COMO MELHORA SOCIAL DOS

PORTADORES DE ESPECTRO AUTISTA

Por: Aline de Melo Batista

Orientador

Profª. Mary Sue Pereira

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO PARA TODOS: A

PRÁTICA DESPORTIVA COMO MELHORA SOCIAL DOS

PORTADORES DE ESPECTRO AUTISTA

Apresentação de monografia à

Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Educação Inclusiva.

Por: Aline de Melo Batista

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida.

Aos meus pais que sempre acreditaram e

me incentivaram nesta caminhada. A

minha irmã, meu. tio Washington e meu

namorado que estiveram sempre ao meu

lado, me apoiando. E aos meus amigos

de turma e professores com quem pude

compartilhar a aprender muito.

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DEDICATÓRIA

Dedico a meus pais, minha

irmã, minha avó Conceição e

meu namorado.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo discutir como a disciplina

Educação física, no contexto da educação especial, pode contribuir no

processo de socialização do portador de espectro autista. De forma bem

simplificada pode-se dizer que o autismo é uma síndrome que se caracteriza

pela dificuldade para estabelecer relações com pessoas, desvios na linguagem,

na comunicação, no comportamento e, principalmente, nas relações

interpessoais. Ao trabalhar com crianças autistas deve ter como principal

objetivo ensinar, e a persistência é uma grande aliada, o ensino tem como

prioridade as atividades de vida prática, independência e à socialização,

através de atividades realizadas nas aulas de educação física, que respeitam a

individualidade de cada criança, suas características e limitações.

Identifica os benefícios da Educação Física na educação especial, para

portadores de espectro autista, a evolução da educação especial, com seus

avanços, conhecimento sobre o espectro autista e legislação vigente.

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METODOLOGIA

Para a realização deste estudo utilizou-se a pesquisa de cunho

bibliográfico pelo fato de ter como finalidade desenvolver, esclarecer e tentar

relacionar conceitos e idéias.

A pesquisa bibliográfica possibilita a composição de um diagnóstico da

situação investigada, além de ampliar as informações referentes ao tema

estudado.

O tema investigado partiu do interesse e da necessidade de conhecer a

inserção e a evolução da educação física na educação especial, para conhecer

como esta vem sendo abordada na atualidade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................ ....... 8

CAPÍTULO I - Educação Física no Brasil .................................................... ....... 10

CAPÍTULO II - Educação Especial ............................................................... ....... 26

CAPÍTULO III – Autismo .............................................................................. ....... 37

CAPÍTULO IV – Educação e Autismo .......................................................... ....... 49

CONCLUSÃO .............................................................................................. ....... 60

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ ....... 62

ÍNDICE ........................................................................................................ ....... 67

FOLHA DE AVALIAÇÃO .............................................................................. ....... 69

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INTRODUÇÃO

O autismo é uma síndrome que afeta gravemente o desenvolvimento da

criança, colocando sérias restrições à sua educação e integração social, ainda

que o grau de incapacidade varie muito de indivíduo para indivíduo e seja

altamente dependente da qualidade do trabalho educativo realizado (Navarro,

1997).

As crianças com autismo não apresentam o desejo natural de contato

social; a atenção e o reconhecimento dos outros não é igualmente importante

(Kirk et al, 1996).

O retraimento social é a característica destacada como principal

sintoma, daí a escolha do termo “autista” (em grego “autos” significa= si).

“Estar-se com uma criança autista, é olhar para a criança que se foi e que vive

em nós, é termos a proximidade necessária e a maleabilidade para

empatizarmos com o seu sofrimento” (Vidigal e Guapo, 1997, pp 211).

A Educação Física é uma disciplina que abrange tanto o

desenvolvimento do corpo como os aspectos afetivo, cognitivo e psicomotor.

Ela leva a criança a interagir com outras e com o ambiente. Através das aulas

de Educação Física os indivíduos aprendem uns com os outros, o que

Vygotsky chamou de Zona de Desenvolvimento Proximal.

A Educação Física tem importante relevância na população autista por

se tratar de uma área extremamente benéfica para fornecer à criança aquilo de

que tem necessidade para se manter em boa saúde, exercer a sua motricidade

por ela própria e facilitar a tomada de consciência da imagem do corpo no

espaço, favorecer o desenvolvimento das suas capacidades de adaptação e

cooperação e contribui também para a sua expansão pela alegria dos

obstáculos vencidos e da segurança conquistada.

Com o objetivo de obter um melhor desenvolvimento social e condições

físicas do autista a Educação Física auxilia também outros aspectos muito

importantes para um avanço significativo no convívio social e comportamental,

beneficiando uma melhora no estado emocional, diminuição das estereotipias,

melhora na atenção e concentração (diminuição da hiperatividade), diminuição

da agressividade devido ao aumento do nível da substância B-Endorfina e

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Adrenalina plasmática aumentando o apetite, melhora no sono e aumenta a

sensibilidade dos agentes farmacológicos.

Na Educação Física para deficientes o conteúdo não é diferente, mas

sim adaptado para cada tipo de deficiência.

A Educação Física Adaptada é uma parte da Educação Física cujos

objetivos são o estudo e a intervenção profissional no universo das pessoas

que apresentam diferentes e peculiares condições para a prática das atividades

físicas. Seu foco é o desenvolvimento da cultura corporal de movimento.

Atividades como ginásticas, dança, jogos e esportes, conteúdos de qualquer

programa de atividade física, devem ser considerados tendo em vista o

potencial de desenvolvimento pessoal (e não a deficiência em si) (Gorgatti;

Costa, 2005).

Através da Educação Física Adaptada o indivíduo tem possibilidades de

compreender suas habilidades e limitações, podendo assim ter uma melhor

adaptações ao meio.

A Educação Física Adaptada deve ensinar os alunos a fazer mudança

dentro de si, para conseguir isso, deve-se respeitar a individualidade de cada

um, respeitar suas diferenças e limitações, trabalhar suas potencialidades,

nunca subestima-los, vibrar com suas conquistas, motiva-los a dar novos

passos e oferecer oportunidades para que eles possam desfrutar da alegria

proporcionada pela prática recreativa e esportiva (Rosada, 1989).

Portanto, a Educação Física vem para, quando necessário, facilitar o

processo de inclusão e aceitação dos portadores do espectro autista em seu

grupo social, bem como facilitar sua independência e autonomia, através das

regras, disciplina e cooperação que essa favorece aos participantes.

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CAPÍTULO I

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL

Angelo Vargas destaca cinco momentos da Educação Física no Brasil,

que é considerado oportuno enfocar, com o intento de nortearmos, o tema em

questão.

EDUCAÇÃO FÍSICA HIGIENISTA: Surgiu no início do século XIX,

predominou até 1930, enfatizando a assepsia do corpo e da alma através da

atividade física, buscando na realidade impor a visão dos dominantes sobre a

população. Com um caráter médico embasando o discurso, os nobres

impunham ao povo, segundo Tolkmitt:

“O discurso sobre o corpo é constituído em cima de uma

visão médica, para que as cidades e as pessoas sejam

higienizadas. A burguesia precisava se diferençar como

classe. Então, o corpo passa a ser tomado como na

perspectiva da distinção, os gestos, o comportamento

tinham de ser distintos.” (1993, p.19).

Torna-se transparente a intenção de criar a visão de “corpo distinto”.

Esta tendência começa a perder força diante dos acontecimentos mundiais, os

conflitos externos começam a ameaçar a soberania nacional, emergindo então

uma nova probabilidade de se ver o corpo, surge a.

EDUCAÇÃO FÍSICA MILITARISTA: Tem um posicionamento claro de

que corpo forte deve ser disciplinado. Neste mesmo período é instituída a

obrigatoriedade da Educação Física nas escolas brasileiras. A introdução do

chamado método “francês” é, também, um fato marcante.

“Originário, ainda de ‘Joinville-le-point’, foi trazido por

militares franceses que vieram servir na missão militar

francesa (...) a sua obrigatoriedade foi estendida a esfera

escolar (1931), enquanto não foi criado o Método

Nacional de Educação Física”. (Oliveira, 1983, p.57).

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Na realidade o método francês - foi influenciado pela escola italiana -

que posteriormente seria inimiga dos aliados na II guerra mundial, e por

conseqüência do Brasil. Tal situação coloca em “cheque” o então governo

brasileiro: como poderíamos ter em nosso bojo educacional um método de

trabalho corporal que sofrera influencia direta daqueles a quem deveríamos

combater? Politicamente seria difícil de explicar. Mediante tal situação esta

tendência perde força, surgindo uma nova visão:

EDUCAÇAO FÍSICA PEDAGOGICISTA: Esta nova forma de se

conceber a Educação Física, tem seus pilares fincados na escola. O período é

outro, o pós-guerra alavanca os países para a reconstrução do mundo. Após a

bomba atômica, o olhar da humanidade não seria mais romântico, ingênuo.

Faz-se necessário correr contra o tempo. Surge um novo modelo econômico,

EUA e União das Repúblicas Soviéticas assumem o poderio do planeta. Japão,

Itália e Alemanha, além de assumir o ônus da guerra, começam a reconstrução

de seus territórios , sendo que a Alemanha dividida em Oriental e Ocidental.

Este modelo também atinge o Brasil. A necessidade de crescer alavanca o

processo pedagógico e a Educação Física, adere ao modelo americano.

Segundo, Ghiraldelli Júnior

“Todavia, essa nova concepção inaugura formas de

pensamento que, aos poucos, alteram a prática da

Educação Física e a postura do professor (...) vão

instaurar uma apologia da Educação Física enquanto

‘centro vivo’ da escola pública (...)”. (1988, p. 29).

Educação Física da época considerava-se a redentora da juventude.

O momento político no Brasil é de protestos e descontentamentos.

Seguindo o exemplo sul-americano, os jovens brasileiros passam a exigir um

posicionamento das autoridades quanto as condições de vida. Artista,

intelectuais, políticos de oposição, engrossam o coro. O governo pressionado,

dissolve o congresso, decreta o Ato institucional número 5 o “AI5”, caçando os

direitos políticos de seus opositores, matando muitos e exilando outros. Entre

outras medidas, “reestruturou” a educação no país, criando as escolas

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técnicas, um novo modelo escolar. A Educação Física também sofreu

mudanças e surgiu uma nova tendência.

EDUCAÇÃO FÍSICA COMPETITIVISTA

“O sustentáculo ideológico dessa concepção é a própria

ideologia disseminada pela tecnoburocracia militar e civil

que chegou ao poder em março de 1964.” (Ghiraldelli

Júnior, l988, p.30).

Buscando transparecer para o mundo a idéia de “Brasil Grande”, com

“slogans” como: “Brasil ame-o ou deixe-o”, utilizando várias frentes para

comprovar tal teoria. O esporte, neste sentido teve crucial importância, com

maciços investimentos em ginásios, estádios, instituições educacionais e

treinamentos de atletas de alto nível. Nas escolas também observamos uma

radical mudança nas aulas, objetivando preparar os “alunos-atletas” para

serem campeões . A Revista Brasileira de Educação Física, do Ministério da

Educação e Cultura (MEC) faz alusão, em um dos seus segmentos, à

Educação Física voltada para este fim:

“Se na escola aplicarmos uma atividade física adequada,

ajudamos os jovens a suportar os desajustes familiares.

Quanto mais quadras de esportes, menos hospitais e

menos prisões. Quanto mais calção, menos pijamas de

enfermos e menos uniformes de presidiários (...)”

(Ghiraldelli Júnior por Souza, 1988, p. 32).

Um exemplo destes investimentos é encontrado na cidade de “São

Paulo que sai dos parcos 41 ginásios em 1940 e chega a 561 em 1962.”

(Vargas, 1990, p. 13).

Essa política de Educação Física tem respaldo na teoria Competitivista,

tornando-se uma poderosa arma que atravessa nossa sociedade de uma forma

hegemônica. Vale ressaltar que a mesma mescla-se com as tendências

anteriores, fixando-se no inconsciente social do povo brasileiro. Enfatizamos

também que esta tendência está longe de possuir um caráter popular, pois

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prioriza o individualismo, o “Eu” acima de tudo. Ghiraldelli Júnior faz um

comentário que sintetiza a visão Competitivista:

“A idéia de ‘conquistar um lugar ao sol pelo esforço

próprio’ é ilustrada a todo momento com os ídolos do

desporto, principalmente aqueles provindos dos lares

mais pobres e que, em verdade, escondem a verdadeira

falta de oportunidade de enriquecimento material e

cultural em que vive a maior parte da população.” (1988,

p. 33).

Atletas como João Carlos de Oliveira, o “João do Pulo”, militar,

modalidade salto triplo, medalha de ouro nas olimpíadas do Canadá em 1976,

manifestavam a real face deste momento da história da Educação Física no

Brasil.

Em contrapartida, a população, que impedida de ter acesso as práticas

esportivas, em sua maioria trabalhadores, fundam movimentos organizados de

combate, criando assim uma nova tendência.

EDUCAÇÃO FÍSICA POPULAR: Surgida na década de 80, oriunda dos

Movimentos Populares Operários. Esta visão de Educação Física estrutura-se

simultaneamente com o Brasil, que passava por mudanças. A principal delas

aconteceu em 1984, quando o então Presidente, o general João Batista de

Figueiredo decretou a anistia, legalizando a volta dos exilados políticos do

regime militar.

Estes momentos foram propícios para mudanças em todos os setores do

País, a Educação Física não poderia ficar de fora, e a Educação Física Popular

tomou vulto. Vale ressaltar que - apesar deste aspecto popular - recebeu

algumas impressões das tendências anteriores, tais como: campeonatos de

futebol, atletismo e outros eventos meramente competitivos. Porém deve-se

evidenciar que a tendência popular, diferentemente das anteriores, era oriunda

de uma ansiedade do povo brasileiro. Ghiraldelli Júnior relata com propriedade

este momento:

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“No interior desses movimentos, forjou-se a concepção

de Educação Física Popular, privilegiando a ludicidade, a

solidariedade e a organização e mobilização dos

trabalhadores na tarefa de construção de uma sociedade

efetivamente democrática”. (1988, p. 34).

Esta maneira de conceber a Educação Física, adentrou as escolas,

principalmente públicas, provocando modificações substanciais na maneira de

promover o ensinamento da Educação Física Escolar. Costa denomina de

“perspectiva de transformação”, que a

“caracteriza pela atitude de reflexão da realidade,

modificando a percepção que o indivíduo tem de suas

experiências e do mundo que o cerca. Nesta perspectiva,

a Educação física é sempre um processo, realimentado

pela prática consciente dos sujeitos sobre a realidade

esportiva, numa concepção dialética, favorecendo a

aprendizagem e avaliação dos resultados.” (1987, p. 53).

E Costa vai mais além ao denominar

“Modelo de Reprodução a Educação Física que é

caracterizada pela atitude acrítica, tanto da realidade

interna, constituída pelas experiências que o aluno

adquire...Nele, o esporte é valorizado como paradigma

ideal de educação, reproduzindo os padrões sociais da

classe dominante. Nesse sentido, os objetivos

educacionais servem para conservar e reforçar as

diferenças entre as classes sociais.” (1987, p. 53).

Este paradoxo em que a Educação se encontra - e também a Educação

Física – denomina-se “ingenuidade educacional”, por se tratar de uma

encruzilhada, a qual se tem que transpor para chegar de fato ao que Costa

denomina “perspectiva de transformação”; e para tanto deve-se trabalhar pela

democratização do processo escolar, trazendo a tona a necessidade eminente

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de descentralização e desburocratização do ensino, com a participação das

comunidades e um maior comprometimento dos professores. A ingenuidade a

qual é referida passa por situações no mínimo curiosas, nas quais se encaixa,

e muitas vezes sequer dar-se conta. Torna-se imperioso que se note e se saiba

que toda vez que se intervem em uma comunidade se está lidando com hábitos

e costumes muito particulares, e quando esta comunidade é de escola pública,

destaca-se a cultura proletária - justamente aquela – a que foi referida neste

item, e não uma cultura erudita muito típica das classes dominantes.

Observam-se estes procedimentos no dia-a-dia das escolas, quando se

cai no “senso comum” e não se reflete sobre no trabalho no cotidiano escolar.

Foram separados alguns exemplos desta ingenuidade educacional:

Na Educação Infantil, trabalha-se com estereótipos para conceitos como

família, que basicamente tem o modelo europeu como patamar, e lembro-me

bem de um aluno negro que observando uma figura no livro, disse: - “minha

família não está aqui, não.”

Na 1a série do Ensino Fundamental a criança vê-se confinada a uma

carteira escolar tendo que abdicar de seu corpo, como preço a pagar pelo

aprendizado.

Nas séries mais avançadas o aluno aprende a ser conhecido pelo

número de chamada, que em muitas vezes seu professor sequer sabe o seu

nome, podendo comprometer a sua identidade e sua cultura.

1.1 - A educação física em uma perspectiva de mudança

A Educação Física Escolar encontra-se tão enraizada no cotidiano dos

alunos que chega a ser confundida com a própria atividade física, por ser o

primeiro contato sistematizado da maioria da população, principalmente a

comunidade escolar.

No Brasil, desde sua obrigatoriedade em 1931, a Educação Física

passou por várias alterações, porém ainda se apresenta como um componente

de capital importância para o processo de escolarização.

Acompanhando o aluno desde a mais tenra idade, a Educação Física

tornou-se um ponto de apoio fundamental na escolarização brasileira. Seu

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campo de atuação é tão abrangente que vai das qualidades físicas à

recreação, das regras desportivas ao folclore e da ginástica às lutas.

Quando se fala de qualidades físicas (Força, Velocidade, Resistência,

Agilidade, Flexibilidade e Coordenação de Movimentos), ressaltamos suas

propriedades fundamentais no desenvolvimento motor, que será colocado em

jogo nas atividades recreativas, nas práticas desportivas e nos movimentos

criativos das danças e expressividade da ginástica.

Cabe à Educação Física Escolar caracterizar-se como renovadora e

renovada, transformadora e transformada, objetivando aspectos que

privilegiem o aluno como parte integrante no contexto das aulas. Mello assim

define a participação do aluno na elaboração do projeto de Educação Física

Escolar.

“A participação no planejamento, execução e avaliação

das atividades oferece oportunidades aos alunos para

tomarem contato com noções de responsabilidade,

democracia e, ainda, de se sentirem autovalorizados.”

(1989, p.46)

.

Mas para que o aluno atinja este grau de desprendimento, a auto-

estima e a solidariedade devem ser valorizadas; e, para tanto, os objetivos das

aulas devem ser canalizados para este fim. Miranda, (1983, p. 54) levanta

alguns objetivos que permitem a democratização da Educação Física na

escola: “Viver e agir a consciência do corpo como um instrumento político-

pedagógico na transformação da realidade social e na valorização da

cidadania;

Resgatar o patrimônio cultural, através dos movimentos corporais nos

jogos, brinquedos, danças...;

Valorizar e estimular a auto-estima do aluno com atividades que lhe

possibilitem criar e recriar o movimento, afetivo e o cognitivo, respeitando a sua

cultura;

Integrar os alunos na expressão lúdica da sua região, proporcionando-

lhes uma vivência autêntica da realidade;

Desenvolver o esporte na sua condição lúdica de jogo e movimento,

bem como de estímulo à solidariedade e à não-discriminação;

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Integrar os conceitos gerais e os conteúdos básicos com as demais

áreas de conhecimento do currículo escolar, em constante integração.”

Moacir Gadotti acrescenta que o educador tem papel importante nesta

relação ao declarar que “Ele tem que se educar com cada educando. Isso não

o exime de sua função básica de coordenador, de dirigente político da

aprendizagem da educação.” (1981.p. 77).

Portanto esta relação deve ser pautada nestes aspectos. Na Educação

Física Escolar, especificamente, por características assim citadas por Miranda,

(p. 55): “São atividades orientadas pelo professor, dando liberdade de

interpretação de acordo com as possibilidades da criança;

Não há preparação técnica de como ensinar e aprender, o professor

sugere os exercícios, observa e corrige os alunos individualmente;

São exercícios e jogos espontâneos que buscam o seu estilo próprio de

ser;

A criação usa o corpo inteiro (olhos, boca, mãos, braços e pernas) para

comunicar o que sentem;

As atividades físicas exigem um trabalho mental para treinar a

‘percepção sensorial’. Para tanto, devem ser trabalhados pelo professor os

orgãos: a) sentidos – visão, audição, olfato, paladar e o tato, e também as

sensações térmicas de frio e calor.”

Para poder chegar a plenitude de uma prática libertadora, a criatividade

torna-se ponto fundamental e Taffarel, (1985, pp. 08, 09) citando Kneller,

Torrance e Cunha respectivamente, assim ilustra a importância da criatividade

nas aulas de Educação Física Escolar:

“(...) auto-realização, motivada pela premência do

indivíduo em realizar-se sendo o ato criador um

comportamento natural de um organismo que tem

tendências a se expandir.” (Kneller por Taffarel, 1985, p.

08).

Nesta citação o autor fala da criatividade como um fator comum a todos

e que se estimulado, tende a desenvolver-se, promovendo a expansão do

organismo.

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“(...) criatividade é um processo natural de todas as

pessoas, através do qual elas se conscientizam de um

problema, de uma lacuna nas informações, para a qual

ainda não aprendeu a solução; procura então as

soluções em suas experiências ou nas dos outros;

formula hipóteses de todas as soluções e comunica os

resultados.” (Torrance por Taffarel, 1985, p. 08).

Tal afirmativa nos leva a acreditar que a criatividade é aplicada na

resolução de problemas, para que o indivíduo diante de uma situação nova crie

novas alternativas ou reaproveite situações vividas por outros para estabelecer

as hipóteses e resolver a situação que a incomoda.

“(...) o conjunto de habilidades relacionadas à fluência, flexibilidade,

sensibilidade a problemas, pensamento divergente, capacidade de redefinição

de análise e síntese das informações.” (Cunha por Taffarel, 1985, pp. 08 e 09).

A afirmativa acima pode ser analisada pelo ponto de vista da reavaliação

das informações obtidas anteriormente, evidenciadas pela necessidade de

redefinição das hipóteses na busca da resposta adequada.

Estes aspectos podem e devem ser inseridos no contexto escolar,

entretanto o professor deve permitir ao aluno o direito da livre experimentação,

sem correr riscos. Tais como o medo de cometer erros, o medo de sofrer

censuras às suas respostas por parte dos colegas e do professor, que, por sua

vez deve incentivar o grupo. A descoberta de novas respostas às situações-

problema; e, para tanto, uma maior variedade de estímulos e elementos serão

propícios para desenvolver o poder inventivo do aluno.

Porém deve-se ter atenção para situações que, muitas vezes, passam

despercebidas pelo professor. Sikora, citado por Taffarel, chama de elementos

inibidores do ato criativo, definindo-os desta forma:

“Em relação à cognição: os bloqueios perceptivos, as estruturas rígidas

de pensamento, os crivos severos de percepção do meio, a má interação entre

o indivíduo e o meio, a falta de informações e experiências, a fixação na

solução de problemas, pensamento rígido de causa e efeito, os preconceitos e

as teorias dominantes.

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Em relação ao afetivo: o medo de cometer erros, a grande necessidade

de segurança, a falta de confiança na capacidade criativa, o interesse em

resolver problemas com muita rapidez;

Em relação ao meio físico e social: estruturas rígidas imutáveis (fixas e

pouco diversificadas/padronizadas) das coisas que nos rodeiam. Os ambientes

físicos limitados em espaços e elementos, principalmente os naturais, com

poucas possibilidades de manipulação;

Em relação ao ambiente sócio-cultural: todas as situações de

autoritarismo, alta diretividade, excesso de formalismo, críticas severas,

julgamentos estereotipados, indisciplina, diminuição dos canais de

comunicação...pressões do conformismo, as conseqüências de trabalhos

alienantes e mecanicistas, falta de lazer e o condicionamento imposto pelos

meios de comunicação social.” (1985, pp. 10,11).

Diante da infinidade de situações geradoras da inibição da criatividade, o

professor deve estar atento e acima de tudo sintonizado com as novas

tendências teórico-práticas da Educação. Também deve estar atento às

necessidades dos alunos quanto ao ambiente de trabalho, não só no que diz

respeito ao trato com eles, mas também ao espaço físico, para uma maior

fluência do trabalho; e, finalmente, contribuir de forma direta, encorajando o

poder criativo dos alunos.

Na difícil busca do caminho a ser seguido pela Educação Física, deve-se

fazer uma reflexão sobre como a Educação Física Escolar está sendo

trabalhada no Brasil.

No âmbito legal, a Educação Física não possui definição, mas a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação (9394/96), no Capítulo II, seção I, Art. 26,

parágrafo 3o, assim descreve sua função: “A Educação Física, integrada à

proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica,

ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo

facultativa nos cursos noturnos.” (1996, p. 16).

Nesta descrição, observam-se avanços e retrocessos no trato da

disciplina. Avança-se quando a legislação a integra à proposta pedagógica e

retrocedemos quando a faculta ao ensino noturno, pois, na prática, o que

acontece é o seu afastamento do programa pedagógico escolar, levando ao

questionamento da validade de quaisquer projetos que excluam segmentos,

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principalmente as instituições públicas. Esta conduta talvez explique

determinados comportamentos implícitos no inconsciente coletivo da população

sobre o valor e o gosto pela prática da Educação Física no Brasil.

Hugo Lovisolo desenvolveu uma pesquisa na qual submete as

disciplinas curriculares do Ensino Fundamental do Município do Rio de Janeiro

ao julgamento por parte dos alunos em dois aspectos: as “que mais gostam” e

as de “mais importância” para o público discente:

“A educação física obtém primeiro lugar entre as

disciplinas que os alunos mais gostam, entretanto cai

para sétimo lugar em importância. Os alunos distinguem,

portanto, entre o gostar, o prazer, que uma disciplina

pode lhes proporcionar e a utilidade que as outras

disciplinas podem ter para suas vidas no mundo do

trabalho.” (1995, pag. 56).

Analisando tal situação, remete-se aos valores universais destinados à

Educação. Werneck corrobora com as opiniões coletadas na pesquisa acima

citada e, assim, defina a Educação: “é o ato de transmissão não só de um

conhecimento instrucional, mas principalmente na transferência de uma escala

de valores (...)”. (1991 pag. 41).

Conseqüentemente, a Educação Física herda estes padrões e seu

histórico está diretamente ligado a este parecer. O Grupo de Trabalho

Pedagógico UFPe – UFSM faz o seguinte relato:

“Há mais de 120 anos, quando a aula de educação física

foi introduzida como matéria obrigatória nas escolas

brasileiras, a tarefa principal da aula era a de educar a

disciplina e a obediência (...) a tarefa principal da aula de

educação física é introduzir os alunos nos modelos

socialmente dominantes (...) Rendimento e competição

possuem uma dimensão objetiva, isto é, uma

comparação possível de mensuração de movimentos,

que são nada mais nada menos que concepções

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dominantes de normas e valores do esporte, oferecidas

cotidianamente nas escolas

e que são vistas como desejáveis para transmitir.” (1991

pag. 01).

Talvez esta realidade ainda predominante seja a razão deste

comportamento no mínimo curioso dos padrões estabelecidos para esta visão

da Educação Física. Porém acredita-se em uma maior humanização, através

da prática da Educação Física, buscando desta forma o respeito às

características e limitações individuais. Ausubel e outros, parafraseados por

Costa, citam a Educação Física como:

“A atividade física, na perspectiva de transformação,

surge inventada, modificada, como um sistema natural e

espontâneo de movimentos (...)favorece

comportamentos de auto-disciplina, isto é, os controles

externos de conduta, (...) e respeito mútuo’(...). Daí é

possível emergir um sujeito conscientizado, crítico,

autônomo, tendendo a orientar-se para si mesmo, para a

autenticidade.” (1987, pag. 58)

E um dos mecanismos que é considerado mais propício para se

aproximar desta perspectiva é a criatividade. Taffarel faz a seguinte menção

sobre o assunto:

“A ênfase a ser dada no desenvolvimento da criatividade

é uma exigência de nossa época e para o futuro em

nossa sociedade (...) o ato criativo integra, em um

esforço único de busca do inédito, todas as capacidades

da conduta humana-afetiva, cognitiva e corporal (...).

Entrelaçadas e inseparáveis, das habilidades estão as

motivações, emoções e valorizações, tudo isto

transparecendo, em uma forma global, através da

expressão corporal.” (1985 pag. 04).

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Diante de todo o exposto e da necessidade de ver a Educação Física

Escolar em seu real espaço dentro do contexto da escola, comprometida com a

perspectiva de transformação, é que se tem a expectativa de encontrá-la

atrelada aos princípios de uma Educação Física Popular, crítica e solidária,

contribuindo para a promoção de uma Educação Libertadora no Brasil.

Acrescenta-se que o trabalho de qualquer disciplina e, em especial, a

Educação Física Escolar, para ser satisfatório, deve buscar a formação geral

do alunado, exigindo do professor consciência, criatividade e condições para

criar e recriar com os alunos atividades dentro da sala de aula ou em espaços

alternativos no ambiente da escola, mesmo que estes não sejam os mais

adequados, sem nunca perder de vista a necessidade de exercer a cidadania,

reivindicando junto aos seus superiores melhores condições de trabalho.

Assumindo o papel de facilitador, o professor pode desempenhar o papel

de estimular e motivar, desenvolvendo assim a conscientização no grupo e

incentivando os “atores” do processo criativo. Estabelecer um relacionamento

franco e aberto também contribuirá decisivamente para uma produção

consciente do saber, gerando o crescimento de ambos.

1.2 - EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA

1.2.1 – Breve histórico

Historicamente, a origem da participação de pessoas com deficiência

que apresentam diferentes e peculiares condições para a prática das atividades

físicas ocorreu em programas denominados de ginástica médica, na China,

cerca de 3 mil anos a.C. (GORGATTI; COSTA, 2005).

No final do século XIX até a década de 1930, de acordo com Mazzotta

(2003), os programas de atividade física começaram a passar de treinamento

físico com orientação médica para Educação Física voltada ao esporte, e

surgiu a preocupação com a criança como um todo.

Após a Segunda Guerra Mundial, aumentou o uso de exercícios

terapêuticos em hospitais para a força e função muscular. Centros de

convalescença e reabilitação foram criados. Jogos e esportes adaptados para

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amputados, paraplégicos e outros com deficiências maiores tornaram-se

populares (ADAMS, 1985).

Em 1952, segundo Winnick, a American Association for Health Physical

Education and Recreation (Associação Americana de Saúde, Educação Física

e Recreação) constitui um comitê para definir a subdisciplina e ditar

orientações e diretrizes para os profissionais. Esse comitê definiu a Educação

Física Adaptada como um programa diversificado de atividade

desenvolvimentista, jogos, esporte e ritmos, adaptados aos interesses, às

capacidades e limitações dos alunos portadores de deficiência que não podem

participar com sucesso e segurança das rigorosas atividades do programa

geral de Educação Física. (WINNICK, 2004, P. 10).

1.2.2 – Conceitos e Objetivos

Educação Física Adaptada é um programa diversificado de atividades,

jogos, esportes e ritmos, adequados aos interesses, capacidades e limitações

do aluno com necessidades especiais.

A idéia da educação física adaptada é a de incluir o aluno com

necessidades especiais nas atividades físicas promovidas pelas escolas do

sistema regular de ensino, pois, muitas vezes, esses alunos são dispensados

devido a sua condição. A atividade motora adaptada é um dos meios que

proporciona ao aluno com necessidades especiais condições de aumentar o

repertório de movimentos. É através das atividades físicas que o indivíduo

portador de deficiência pode estabelecer um novo conceito de corpo, passando

a detectar e desenvolver os potenciais remanescentes, direcionando o

pensamento, os motivos e o comportamento diante da sua condição. Por mais

acentuada que seja sua limitação motora, pode-se conseguir com a educação

física adaptada uma parcial ou completa adaptação à sua limitação e às

solicitações do ambiente, em várias situações. Isto se torna possível porque o

indivíduo redimensiona o significado do movimento dos membros

remanescentes e, de alguma forma, elabora um vocabulário corporal próprio.

A Educação Física Adaptada é uma área do conhecimento em educação

física e esportes que tem por objetivo privilegiar uma população caracterizada

como portadora de deficiência ou de necessidades especiais, e desenvolve-se

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através de atividades psicomotoras, esporte pedagógico, recreação e lazer

especial, e técnicas de orientação e locomoção. (Rosadas 1994).

Esta área trabalha, ou direciona estudos às pessoas com necessidades

educacionais especiais. Estas são chamadas desta forma pelo fato de

apresentarem características físicas, psíquicas, de natureza genética,

auditivas, visuais e múltiplas diferentes das pessoas ditas "normais". São

pessoas que fogem do padrão de normalidade imposto pela sociedade.

Dentre as pessoas com necessidades educacionais especiais estão os

deficientes mentais, visuais, auditivos, físicos, com múltiplas deficiências, além

dos superdotados ou pessoas com altas habilidades, as que apresentam

síndromes típicas neurológicas, psiquiátricas, psicológicas e as pessoas com

dificuldades de aprendizagem. (Carvalho 1998).

Para Silva (1998) através de atividades lúdicas e de jogos esportivos

adaptados às condições específicas de cada grupo, durante a realização das

atividades de lazer, de recreação e de esporte com estas pessoas, sejam estas

aquáticas ou terrestres, "é importante explorar as possibilidades que estas

apresentam, trabalhar suas potencialidades, trabalhar na sua auto-valorização

e auto-estima e reconhecer suas limitações".

Acredita-se que através de atividades lúdicas e desportivas, os alunos

tiveram a oportunidade de organizarem-se em grupos, estabelecer regras de

convivência, vínculos sociais e afetivos, propiciam o contato físico

possibilitando o manuseio de diferentes materiais e o desenvolvimento de

habilidades (motoras, de percepção, de atenção e musicalidade). Assim,

conforme Marquezine (1998) "as atividades lúdicas e psicomotoras, sendo

espontâneas, livre de tensão, trazem sempre o prazer e, conseqüentemente, o

aprendizado".

Ainda, destaca-se que enquanto jogos, estes proporcionam "o aprender

fazendo". As pessoas com necessidades educacionais especiais se

desenvolvem através de sua interação com o ambiente que as rodeia e o nível

dessa relação depende do potencial intelectual que possuem.

Portanto, a recreação, o jogo, o brinquedo e as atividades psicomotoras,

são meios de exploração e de desenvolvimento global, visando também, uma

interação e integração social efetiva destas pessoas.

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Por isso, a prática pedagógica da Educação Física aliada às atividades

psicomotoras recreativas, vem comprovar a necessidade de sua aplicação

junto às pessoas com necessidades educacionais especiais, pois é uma

possibilidade de desenvolvimento e integração com diferentes grupos e

colaborando para a superação das dificuldades, pré-conceitos e das rotulações

impostas à deficiência.

É importante saber que na Educação Física Adaptada o conteúdo não é

diferente, mas sim adaptado para cada tipo de deficiência.

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CAPITULO II

EDUCAÇÃO ESPECIAL

Em se tratando de Educação Especial Mazzota a define como a

modalidade de ensino que se caracteriza por um conjunto de recursos e

serviços educacionais especiais organizados para apoiar, suplementar e, em

alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a

educação formal dos educandos que apresentem necessidades educacionais

muito diferentes das da maioria das crianças e jovens. Tais educandos,

também denominados de “excepcionais”, são justamente aqueles que hoje têm

sido chamados de “alunos com necessidades educacionais especiais”.

A Educação Especial na política educacional brasileira, desde o final da

década de cinqüenta deste século, até os dias de hoje, tem sido vista como

uma parte indesejável e, muitas vezes, atribuída como assistência aos

deficientes e não como educação de alunos que apresentam deficiência.

(MENDES, 2006).

2.1 - Breve histórico da Educação Especial

O conceito de Educação Especial está ligado ao conceito de deficiência,

que pode ser entendida como falta, insuficiência ou imperfeição em aspectos

biológicos da pessoa, podendo ser física, mental ou sensorial.

A Organização Mundial de Saúde define deficiência como o nome dado

a toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica,

fisiológica ou anatômica e, por este conceito, deficiente é todo aquele que tem

um ou mais problemas de funcionamento ou relação social.

A Educação Especial passou por diversos estágios, onde inicialmente os

deficientes sofreram extermínio até que se chegasse à intenção de inclusão,

mesmo que ainda hoje não aconteça em todos os lugares.

Inicialmente a Educação Especial é marcada pela negligência, na era

pré-cristã, em que havia uma ausência total de atendimento. Os deficientes

eram abandonados, perseguidos e eliminados devido às suas condições

atípicas, e a sociedade legitimava essas ações como sendo normais. Na era

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cristã, segundo Pessotti (1984), o tratamento variava segundo as concepções

de caridade ou castigo predominantes na comunidade em que o deficiente

estava inserido.

Num segundo momento, nos séculos XVIII e meados do século XIX,

encontra-se a fase de institucionalização, em que os indivíduos que

apresentavam deficiência eram segregados e protegidos em instituições

residenciais.

Já no terceiro estágio, no final do século XIX e meados do século XX, é

marcado pelo desenvolvimento de escolas e/ou classes especiais em escolas

públicas, visando oferecer à pessoa deficiente uma educação à parte.

No final do século XX, por volta da década de 70, que representa o

quarto estágio, observa-se um movimento de integração social dos indivíduos

que apresentavam deficiência, cujo objetivo era integrá-los em ambientes

escolares, o mais próximo possível daqueles oferecidos à pessoa normal.

2.2 – Educação Especial no Brasil

Num olhar dirigido a história da Educação Especial no Brasil, verifica-se

que a evolução do atendimento educacional especial irá ocorrer com

características diferentes das apresentadas de forma geral apresentada em

outros países.

A fase da negligência ou omissão, que pode ser observada em outros

países até o século XVII, no Brasil pode ser estendida até o início da década

de 50.

Entre os séculos XVIII e XIX pode-se identificar a fase da

institucionalização em outros países do mundo, marcada pela concepção

organicista, que tinha como pressuposto a idéia de a deficiência mental ser

hereditária com evidências de degenerescência da espécie. Assim a

segregação era considerada a melhor forma para combater a ameaça

representada por essa população. Nesta mesma ocasião, no Brasil, não existia

nenhum interesse pela educação das pessoas consideradas idiotas e imbecis,

persistindo, deste modo, a era da negligência.

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A história da Educação Especial no Brasil tem como marcos

fundamentais a criação do “Instituto dos Meninos Cegos” (hoje “Instituto

Benjamin Constant”) em 1854, e do “Instituto dos Surdos-Mudos” (hoje,

“Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES”) em 1857, ambos na cidade

do Rio de Janeiro, por iniciativa do governo Imperial.

A fundação desses dois Institutos representou uma grande conquista

para o atendimento dos indivíduos deficientes, abrindo espaço para a

conscientização e a discussão sobre a sua educação. No entanto, não deixou

de “se constituir em uma medida precária em termos nacionais, pois em 1872,

com uma população de 15.848 cegos e 11.595 surdos, no país eram atendidos

apenas 35 cegos e 17 surdos” (MAZZOTTA, 1996, p.29), nestas instituições.

Assim, a Educação Especial se caracterizou por ações isoladas e o

atendimento se referiu mais às deficiências visuais, auditivas e, em menor

quantidade, às deficiências físicas. Pode-se dizer que em relação à deficiência

mental houve um silêncio quase absoluto.

Em cada época, as concepções de deficiência mental refletiam as

expectativas sociais daquele momento histórico. Nesse contexto, a concepção

de deficiência mental, de acordo com Jannuzzi (1992), passou a englobar

diversos tipos de crianças que tinham em comum o fato de apresentarem

comportamentos que divergiam daqueles esperados pela sociedade e

conseqüentemente pela escola. Sob o rótulo de deficientes mentais, são

encontrados alunos indisciplinados, com aprendizagem lenta, abandonados

pela família, portadores de lesões orgânicas, com distúrbios mentais graves,

enfim toda criança considerada fora dos padrões ditados pela sociedade como

normais.

No Brasil, a deficiência mental não era considerada como uma ameaça

social nem como uma degenerescência da espécie. Ela era atribuída aos

infortúnios ambientais, apesar da crença numa concepção organicista e

patológica (MENDES, 1995).

Jannuzzi (1992) mostrou que a defesa da educação dos deficientes

mentais visava economia para os cofres públicos, pois assim evitaria a

segregação destes em manicômios, asilos ou penitenciarias.

Enquanto o movimento pela institucionalização dos deficientes mentais,

em vários países, era crescente com a criação de escolas especiais

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comunitárias e de classes especiais em escolas públicas, no nosso país havia

uma despreocupação com a conceituação, identificação e classificação dos

deficientes mentais.

Entre a década de 30 e 40 observa-se várias mudanças na educação

brasileira, como, por exemplo, a expansão do ensino primário e secundário, a

fundação da Universidade de São Paulo etc. Pode-se dizer que a educação do

deficiente mental ainda não era considerada um problema a ser resolvido.

Neste período a preocupação era com as reformas na educação da pessoa

normal.

Em 1967, a Sociedade Pestalozzi do Brasil, criada em 1945, já contava

com 16 instituições por todo o país. Criada em 1954, a Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais já contava também com 16 instituições em 1962.

Nessa época, foi criada a Federação Nacional das APAES (FENAPAES) que,

em 1963, realizou seu primeiro congresso (MENDES, 1995).

Nesta época, pode-se dizer que houve uma expansão de instituições privadas

de caráter filantrópico sem fins lucrativos, isentando assim o governo da

obrigatoriedade de oferecer atendimento aos deficientes na rede pública de

ensino.

Foi a partir dos anos 50, mais especificamente no ano de 1957, que o

atendimento educacional aos indivíduos que apresentavam deficiência foi

assumido explicitamente pelo governo federal, em âmbito nacional, com a

criação de campanhas voltadas especificamente para este fim.

A primeira campanha foi feita em 1957, voltada para os deficientes

auditivos – “Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro”. Esta campanha

tinha por objetivo promover medidas necessárias para a educação e

assistência dos surdos, em todo o Brasil. Em seguida é criada a “ Campanha

Nacional da Educação e Reabilitação do Deficiente da Visão”, em 1958. Em

1960 foi criada a “Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de

Deficientes Mentais” (CADEME). A CADEME tinha por finalidade promover em

todo território Nacional, a “educação, treinamento, reabilitação e assistência

educacional das crianças retardadas e outros deficientes mentais de qualquer

idade ou sexo” (MAZZOTTA, 1996, p. 52).

Nesse período, junto com as discussões mais amplas sobre reforma

universitária e educação popular, o estado aumenta o número de classes

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especiais, principalmente para deficientes mentais, nas escolas públicas. Sobre

isso, Ferreira (1989) e Jannuzzi (1992), esclarecem que na educação especial

para indivíduos que apresentam deficiência mental há uma relação diretamente

proporcional entre o aumento de oportunidades de escolarização para as

classes mais populares e a implantação de classes especiais para deficiência

mental leve nas escolas regulares públicas.

Ao longo da década de 60, ocorreu a maior expansão no número de

escolas de ensino especial já vista no país. Em 1969, havia mais de 800

estabelecimentos de ensino especial para deficientes mentais, cerca de quatro

vezes mais do que a quantidade existente no ano de 1960.

Enquanto que, na década de 70, observa-se nos países desenvolvidos,

amplas discussões e questionamentos sobre a integração dos deficientes

mentais na sociedade, no Brasil acontece neste momento a institucionalização

da Educação Especial em termos de planejamento de políticas públicas com a

criação do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), em 1973.

A prática da integração social no cenário mundial teve seu maior impulso

a partir dos anos 80, reflexo dos movimentos de luta pelos direitos dos

deficientes. No Brasil, essa década representou também um tempo marcado

por muitas lutas sociais empreendidas pela população marginalizada.

As mudanças sociais, ainda que mais nas intenções do que nas ações,

foram se manifestando em diversos setores e contextos e, sem dúvida alguma,

o envolvimento legal nestas mudanças foi de fundamental importância. Nesse

sentido, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 208, estabelece a

integração escolar enquanto preceito constitucional, preconizando o

atendimento aos indivíduos que apresentam deficiência, preferencialmente na

rede regular de ensino.

Pode-se dizer que ficou assegurado pela Constituição Brasileira (1988) o

direito de todos à educação, garantindo, assim, o atendimento educacional de

pessoas que apresentam necessidades educacionais especiais.

Segundo Bueno (1994), é mínimo o acesso à escola de pessoas que

apresentam deficiência mental, com o agravante de esse acesso servir mais a

legitimação da marginalidade social do que à ampliação das oportunidades

educacionais para essa população.

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No intuito de reforçar a obrigação do país em prover a educação, é

publicada, em dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional 9.394/96. Essa lei expressa em seu conteúdo alguns avanços

significativos. Pode-se citar a extensão da oferta da educação especial na faixa

etária de zero a seis anos; a idéia de melhoria da qualidade dos serviços

educacionais para os alunos e a necessidade de o professor estar preparado e

com recursos adequados de forma a compreender e atender à diversidade dos

alunos.

Constata-se que o capítulo V dessa lei trata especificamente da

Educação Especial, expressando no artigo 58 que a educação especial deve

ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino e, quando

necessário, deve haver serviços de apoio especializado.

É interessante considerar que os serviços especializados e o

atendimento das necessidades específicas dos alunos garantidos pela lei estão

muito longe de serem alcançados. Identificamos, no interior da escola, a

carência de recursos pedagógicos e a fragilidade da formação dos professores

para lidar com essa clientela.

Em lei, muitas conquistas foram alcançadas. Entretanto, precisa-se

garantir que essas conquistas, expressas nas leis, realmente possam ser

efetivadas na prática do cotidiano escolar, pois o governo não tem conseguido

garantir a democratização do ensino, permitindo o acesso, a permanência e o

sucesso de todos os alunos do ensino especial na escola.

Entretanto, não se pode negar que a luta pela integração social do

indivíduo que apresenta deficiência foi realmente um avanço social muito

importante, pois teve o mérito de inserir esse indivíduo na sociedade de forma

sistemática, se comparado aos tempos de segregação.

Ao revisitar-se a história da Educação Especial até a década de 90,

pode-se perceber conquistas em relação à educação dos indivíduos que

apresentam deficiência mental. Não é pouco avanço ir de uma quase completa

inexistência de atendimento de qualquer tipo à proposição e efetivação de

políticas de integração social. Pode-se falar, também, de avanços e muitos

retrocessos, de conquistas questionáveis e de preconceitos cientificamente

legitimados.

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Em meados da década de 90, no Brasil, começaram as discussões em

torno do novo modelo de atendimento escolar denominado inclusão escolar.

Esse novo paradigma surge como uma reação contrária ao processo de

integração, e sua efetivação prática tem gerado muitas controvérsias e

discussões.

2.3 – Amparo legal

A Educação Especial vem ganhando forças através de leis e

declarações elaboradas especialmente para os portadores de deficiência. Mas

vale ressaltar que apesar da intensa luta para garantir os direitos destes muitas

lacunas são deixadas, o que oportuniza o não cumprimento na íntegra das leis.

A educação é a área contemplada com o maior conjunto de leis e

também iniciativas, visando à inclusão das pessoas portadoras de deficiência

como se pode concluir em razão do fato de que já, na primeira Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional de 1961, constam dos artigos referentes à

educação dos “excepcionais”, objetivando a integração destes alunos na

comunidade.

A Declaração Mundial sobre a Educação para Todos enfatizou a

necessidade de uma abordagem centrada no aluno, objetivando a garantia de

uma escolarização bem-sucedida para todos os alunos.

A Constituição determina que o atendimento na Educação Especial deve

estar disponível em todos os níveis de ensino (do básico ao superior),

destinando-se à eliminação das barreiras que as pessoas com deficiência tem

para se relacionarem com o meio exterior.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) concorda no

entendimento da Educação Especial como modalidade de ensino

complementar ao oferecido em classes comuns e, portanto, os alunos com

deficiência, especialmente os que estão com idade de cursar o Ensino

Fundamental, devem obrigatoriamente ser matriculados e frequentar com

regularidade as turmas de sua faixa etária nas escolas comuns, além de ter

assegurado o atendimento educacional especializado complementar.

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Sousa e Prieto (2002:130) nos lembram que a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional de 1996 (art. 58, § 1º), “embora priorizando o

atendimento integrado às classes comuns do ensino regular, (...) prevê a

manutenção das classes, escolas ou serviços especializados para atender aos

alunos que deles necessitarem, em complementação ou substituição ao

atendimento educacional nas classes comuns”.

A Declaração de Salamanca (1994), em seu artigo 3º, preceituou:

[...] todas as escolas deveriam acomodar todas as crianças,

independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais,

emocionais, linguisticas ou outras. Deveriam incluir todas as crianças

deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de

origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias

lingüísticas, étnicas, ou culturais e crianças de outros grupos em desvantagem

ou marinalizados.

A Constituição de 1988 assegurou a igualdade de condições de acesso

e permanência na escola (art. 206, inciso I) e elegeu como fundamento a

cidadania e a dignidade da pessoa humana (art. 1º, incisos II e III) como um

dos seus objetivos fundamentais [...] a promoção do bem de todos, sem

preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de

discriminação (art. 3º, inciso IV).

A Constituição garante expressamente o direito à IGUALDADE (art. 5º) e

trata, nos artigos 205 e seguintes, do direito de TODOS à educação. Esse

direito deve visar ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o

exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205). Além disso,

foi taxativa, elegendo como um dos princípios para o ensino a igualdade de

condições de acesso e permanência na escola (art. 206, inciso I) e deixa claro

que a criança com necessidade educacional especial deve receber

atendimento especializado complementar, de preferência, dentro da escola.

Acrescenta ainda que [...] o dever do Estado com a educação será

efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino

da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um (art. 208,

V).

Quando garante a todos o direito à educação e ao acesso à escola, a

Constituição Federal não usa adjetivos e, portanto, toda escola deve atender

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aos princípios constitucionais, não podendo excluir nenhuma pessoa em razão

de sua origem, raça, sexo, cor, idade ou deficiência.

Outras leis complementares procuram esclarecer pontos obscuros ou

indevidamente interpretados ou acrescentar e suplementar alguns já contidos

tanto na Constituição quanto na LDB. São elas:

A Lei n.º 7.853/1989 define como crime recusar, suspender, cancelar ou

extinguir a matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em

qualquer caso ou nível de ensino, seja este público ou privado, e informa ainda

que a pena para o infrator pode variar de um a quatro anos de prisão, mais

multa.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)/1990 garante o direito à

igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, sendo o

Ensino Fundamental obrigatório e gratuito (também aos que não tiveram

acesso na idade própria); garante ainda o respeito dos educandos e o

atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular.

O texto da Declaração de Salamanca (1994), embora que não tenha

efeito de lei, afirma que também devem receber atendimento especializado

crianças e adolescentes excluídos da escola por motivos, como trabalho infantil

e abuso sexual, e que aqueles que têm deficiências graves devem ser

atendidos no mesmo ambiente de ensino que todos os demais alunos.

A redação do parágrafo 2º do artigo 59 da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional provocou confusão, dando a entender que, dependendo da

deficiência, o aluno só podia ser atendido em escola especial, mas, na

verdade, o texto diz que o atendimento especializado pode ocorrer em classes

ou escolas especiais, quando não for possível oferece-lo na escola comum.

O Decreto n.º 3.956/2001 põe fim às interpretações confusas da LDB,

deixando clara a impossibilidade de tratamento desigual com base na

deficiência.

O acesso ao Ensino Fundamental é um direito humano, e privar pessoas

em idade escolar dele, mantendo-as unicamente em escolas ou classes

especiais, fere tanto à Constituição e à LDB quanto aos tratados internacionais

firmados pelo Brasil.

A Convenção de Guatemala, de 2001, proíbe qualquer tipo de

diferenciação, exclusão ou restrição baseada na deficiência das pessoas e,

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assim, mantê-las fora do ensino regular é considerado exclusão e, portanto, é

crime.

A Lei n.º 9394/96, com inclusão de alunos portadores de necessidades

especiais educativas em salas de aulas regulares, culminou em várias

mudanças e adaptações na estrutura social e educacional, permitindo uma

revolução de valores, justificada pela concepção de que a idéia central da

inclusão é uma mudança na forma de entender a pessoa portadora de

necessidades especiais, proporcionando uma sociedade para todos.

O Tratado da Guatemala (1991) e a Declaração de Salamanca (1994)

declaram que todos os alunos devem ter a possibilidade de integrar-se ao

ensino regular, mesmo aqueles com deficiências sensoriais, mentais,

cognitivas ou que apresentem transtornos severos de comportamento,

preferencialmente sem defasagem entre idade e série. Segundo esses tratados

internacionais, a escola deverá adaptar-se para atender às necessidades

desses alunos a fim de que sejam inseridos em classes regulares.

A Constituição Brasileira (1988), a LDB (1996) e todos os tratados

internacionais são unânimes em preconizar que o atendimento dos alunos com

necessidades educacionais especiais deve ocorrer preferencialmente em

classes comuns das escolas, em todos os níveis, etapas e modalidades de

ensino, visando à implementação de uma política de inclusão e ruptura com a

ideologia da exclusão.

Para obtenção de êxito e resultados positivos, mais que legislar, o

Governo precisa oferecer infra-estrutura às escolas, recursos materiais,

humanos, tecnológicos etc., favorecendo a execução da lei.

Alguns artigos da Lei n.º 9.394/96 (LDB) vêm sendo sistematicamente

negligenciados, tais como: o art. 3º, inciso IX, que assegura a garantia de

padrão de qualidade do ensino; o mesmo ocorre com o inciso X, que trata da

valorização da experiência extra-escolar, bem como com o artigo 4º, que é

importantíssimo e que trata dos excluídos, abrangendo a educação de crianças

de zero a seis anos desde a creche, de jovens e adultos, dos portadores de

necessidades especiais e progressiva extensão da obrigatoriedade e

gratuidade ao Ensino Médio.

De relevância e que também têm sido negligenciados, são o art. 47, que

trata do aproveitamento extraordinário como forma de abreviar a duração dos

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estudos, e o art. 50 sobre ocorrência de vagas e matrícula em disciplinas para

alunos não regulares, capazes de cursá-los com proveito.

A Lei n.º 10.287 informa que a notificação de frequência inferior a 50%

deve ser feita ao Conselho Tutelar, ao juiz da comarca ou ao representante do

Ministério Público.

O parágrafo 2º do artigo 208 da Constituição Federal, além de relatar

qual a forma para exigir o cumprimento dessas leis, acrescenta que a ação

judicial correspondente é gratuita e de rito sumário.

Os sistemas educacionais federais, estaduais e municipais, assim como

a rede privada de escolas, têm envidado esforços para operacionalizar os

dispositivos legais que exigem ou amparam iniciativas no caminho da inclusão

escolar.

O número de estudantes com algum tipo de necessidade especial

cresce a cada ano na rede regular de ensino, e os dados do Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) não deixam

dúvidas de que o movimento de inclusão no Brasil é irreversível.

Segundo o Censo Escolar de 2005, existem 195.370 alunos com

necessidades especiais matriculados em 30.765 escolas regulares de rede

pública e particular – uma média de 6,35 alunos por escola, mas apenas 63,5%

dessas instituições (11.215 escolas) contam com o apoio pedagógico especial.

Pode haver, portanto, cerca de 124 mil alunos com necessidades especiais

estudando em escolas sem atendimento especial.

É de suma importância que a escola ofereça todos os recursos

necessários para a efetiva inclusão do aluno, assim como é preciso também

providenciar apoio pedagógico especial com o propósito de atender às

necessidades especiais dos alunos.

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CAPITULO III AUTISMO

O autismo é uma disfunção global do desenvolvimento. É uma alteração

que afeta a capacidade de comunicação do indivíduo, de socialização

(estabelecer relacionamentos) e de comportamento (responder

apropriadamente ao ambiente — segundo as normas que regulam essas

respostas).

Algumas crianças, apesar de autistas, apresentam inteligência e fala

intactas, outras apresentam sérios retardos no desenvolvimento da linguagem.

Alguns parecem fechados e distantes, outros presos a comportamentos

restritos e rígidos padrões de comportamento. Os diversos modos de

manifestação do autismo também são designados de espectro autista,

indicando uma gama de possibilidades dos sintomas do autismo.

3.1 – Evolução histórica

Desde o início do século XX foram relatados casos isolados de crianças

pequenas com perturbações mentais muito graves e que envolviam uma

marcada distorção do processo de desenvolvimento. Como antigamente a

terminologia e os conceitos clínicos eram aplicações diretas dos usados na

psiquiatria dos adultos, inicialmente estas perturbações foram classificadas

como “psicose”, assumindo-se que representavam alterações funcionais que

surgiam num organismo previamente saudável (Ruiloba, 1999).

Foi em 1943 que Leo Kanner, em Baltimore, nos Estados Unidos,

descreveu pela primeira vez de uma forma clara e incisiva uma síndrome a que

chamou de “autismo infantil”. Para este autor, o autismo seria uma

incapacidade inata para estabelecer contato emocional; surgia nos primeiros

anos de vida e caracterizava-se por um isolamento do qual resultava que a

criança ignorava, negligenciava e rejeitava qualquer estímulo externo;

finalmente havia um profundo desejo de deixar tudo imutável (Frith, 1989, cit.

Por Cottinelli Telmo e Rodrigues, 1995).

O termo autismo provém da palavra grega “autos” que significa “próprio”.

Foi esta caracterísitica essencial que Kanner quis destacar, ou seja, uma

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interiorização que o indivíduo manifesta, sendo difícil de se verificar uma

entrega à troca e participação social.

Kanner refere algumas características comuns relativas ao isolamento, à

comunicação, ao uso da linguagem e a uma perturbação do contato de

natureza sócio-afetiva; enfatizou os aspectos particulares e dificuldades nos

desenvolvimentos e adaptações sociais e prestou uma atenção especial aos

movimentos repetitivos e a aspectos, por vezes surpreendentes, do

desempenho e funcionamento intelectual e cognitivo.

Desde a primeira descrição do autismo desenvolveram-se duas

concepções desta síndrome:

Uma primeira corrente, iniciada há uns trinta anos e retomada por

Tinbergen (1972) e Richer (1978) defende que o afastamento social das

crianças autistas é consequência de uma angústia e temor extremo que

suprimem qualquer forma de comportamento social e exploratório. Segundo

esta concepção, os problemas cognitivos são secundários àquele.

Em oposição, a partir de 1970, desenvolveram-se investigações para

mostrar que o autismo tem por base um déficit cognitivo primário, responsável

pelas dificuldades no domínio afetivo e da motivação.

Hoje o termo “autismo infantil ou precoce” foi abandonado, na medida

em que se sabe que o autismo é uma deficiência que prevalece por toda a vida

e não na infância.

3.2 – Definição A definição do autismo oferecida por Kanner em 1943 continua vigente

ainda hoje, com seus três núcleos de transtornos:

1) qualitativo de relação;

2) alterações da comunicação e da linguagem; e

3) falta de flexibilidade mental e comportamental.

Essas são as três dimensões que se incluem nas definições

diagnósticas mais empregadas: o DSM-IV da Associação Americana de

Psiquiatria ( American Psychiatric Association-APA, 1994). Tais classificações

não devem ser utilizadas como fundamentos rígidos do diagnóstico clínico, que

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sempre deve basear-se em uma observação rigorosa das condutas da criança

e em uma interpretação fina de seu significado.

A classificação mais utilizada, o DSM-IV, diferencia entre o transtorno

autista-que equivale à síndrome de Kanner – e o transtorno de Asperger – a

síndrome de Asperger. O primeiro associa-se, em 75% dos casos, ao atraso

mental. O segundo que se diferencia principalmente porque não implica

limitações ou alterações formais da linguagem (mas sim outras alterações

pragmáticas e prosódicas), é acompanhado de quocientes intelectuais na gama

normal.

Autistas são pessoas que têm dificuldade em comunicar com os outros e

com o meio, desenvolvendo assim um código próprio, pertencente ao seu

histórico de vida (Pastallé, 1996); alguns têm possibilidades intelectuais,

podendo vir a estabelecer esse contato (Souza, et ai., 1994).

É uma deficiência grave, crônica, que compromete o desenvolvimento

normal de uma criança e manifesta-se tipicamente antes do terceiro ano de

vida. Caracteriza-se por lesar ou diminuir o ritmo do desenvolvimento

psiconeurológico, social e linguístico. Estas crianças apresentam, também,

reações anormais a sensações diversas como ouvir, tocar, ver, sentir, equilibrar

e degustar. A linguagem está afastada ou não se manifesta. Relacionam-se

com as pessoas, objetos e eventos de maneira não usual, levando a crer que

haja um comprometimento orgânico do sistema nervoso central em níveis os

mais diversos.

As principais características do autismo são as dificuldades no

estabelecimento de relações sociais, na comunicação verbal e não verbal. No

desenvolvimento do jogo simbólico e da imaginação e na resistência às

mudanças de rotina (APPDA, 2000).

A síndrome comportamental é única e consiste em distúrbios específicos

de relacionamento interpessoal incluindo distância emocional, ausência de

intencionalidade na comunicação verbal e não verbal formas desviantes na

linguagem, tais como reversão pronominal e ecolalia. Há uma reação a objetos

incluindo uma maneira estereotipada de enfileirar e arrumar brinquedos e

ausência de criatividade ao brincar. Existe uma motilidade anormal que inclui

movimentos oscilatórios e rotativos das mãos.

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O autismo é classificado como uma desordem aguda no

desenvolvimento, diferente de desordens específicas e de deficiência mental.

Peeters et ai., (1998) afirmam que o autismo não é doença mental nem

psicose.

3.3 – Etiologia A temática da causalidade ou da etiologia do autismo é uma questão

complexa, controversa e sempre incompleta, quando se entrecruzam aspectos

de natureza biológica e psicológica (Bhoyrub et ai., 1983).

Não há ainda hoje um consenso sobre a etiologia: será uma causa

orgânica um fator? Os pais serão causadores da problemática da criança?

Será um tipo de esquizofrenia e será que está inserida num grupo das psicoses

infantis?

Certamente que desde há muitos anos existem indivíduos perturbados

com autismo infantil, mas embora passado esse enorme período de tempo

ainda hoje nada de concreto se sabe sobre a etiologia e as alterações

biológicas desta patologia muito grave.

Pela primeira vez descrito por Kanner, em 1943, no livro “autistic

Disturbances of Affective Contact”, o autismo infantil foi então considerado

como secundário a uma causa psicogênica, uma relação inadequada pais-

criança; no entanto, é atualmente aceito ter uma base biológica, sendo a

expressão final de diferentes condições médicas que, na maior parte dos

casos, permanece ainda por identificar.

Quais são as suas causas? Todos parecem aceitar a importância das

interações e da complexidade dos fatores biológicos, muitos deles

desconhecidos e de fatores relacionais, frequentemente pouco específico. Mas

as especulações, as construções teóricas, as hipóteses, demasiadas vezes

tomadas como certezas, irão em geral a direções opostas.

As especulações sobre a origem psicógena, vieram juntar-se a

infelicidade do nome “autismo” que Kanner escolheu, a partir da influência de

Bleuber e isto fundamentalmente por sugerir nestes indivíduos uma recusa de

contatos com o exterior, concepções que, crescendo de popularidade,

prevaleceram nas décadas de 50 e 60, fornecendo e desenvolvendo a ideia de

que o autismo era uma perturbação do funcionamento social, de causa

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emocional, manifestamente observável nas respostas de reação da criança a

um meio dito desfavorável, em vez de algo caracterizado por déficits inatos e

deficiências de produção específicos.

As investigações efetuadas nos diferentes países, ao longo das últimas

décadas, são bastante sugestivas de que as origens do autismo se encontram

nas anomalias biológicas, enquanto que alguns estudos seriamente realizados

acerca dos fatores circundantes não conseguiram encontrar provas que

indicassem que, ao nível das causas, tivesse alguma importância o ambiente

familiar durante a primeira infância. Os estudos científicos ajudam pouco a

pouco a compreender os déficits das funções especificamente psicológicas que

dizem respeito às competências necessárias para a interação social, a

comunicação e a imaginação (Gonçalves, 1980; Bates, 1985).

Durante muito tempo persistiu a crença, defendida por alguns psicólogos

e psicanalistas, de que o autismo seria motivado por uma má relação maternal,

culpabilizando e penalizando assim a família pelo sucedido.

Hoje em dia, as causas das perturbações diversas que atingem as

pessoas portadoras de autismo, são consideradas como inerentes ao foro

neurobiológico (Shern1,1998). Igualmente associado ao autismo estará um

funcionamento diferente do cérebro e do S.N.C., relativamente ao padrão

considerado "normal" (Falcão, 1999).

A síndrome pode resultar de diferentes causas, genéticas, adquiridas,

neurobiológicas, metabólicas, virais, etc. (Cottinelli Telmo & Rodrigues, 1995,

Levy, 2000).

Há vários fatores que predispõem e podem contribuir para a disfunção

do sistema nervoso central. As causas exatas não são conhecidas, mas há

evidência conclusiva que o autismo é causado por uma disfunção cerebral

orgânica (Swaiman et ai., 1982), que pode estar associada a infecções virais

ou outras como a rubéola durante a gravidez ou na primeira infância, doenças

infantis que afetem o sistema nervoso central, disfunções metabólicas,

complicações pré, peri e/ou pós natais (hemorragia do 2o

semestre, infecções

congênitas, prematuridade, ACIU, asfixia, etc.) (Branco et ai., 1994), fatores

genéticos (Barthélémy et ai., 2000); o fato do autismo poder estar associado ao

síndrome X frágil (Levine et ai., 1983) ou à fenilcetonúria indica que há um

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subgrupo no qual os fatores genéticos desempenham um papel importante)

(Philip, 1995), e fatores imunológicos (Cottinelli Telmo & Rodrigues, 1995). A

investigação em curso e as modernas técnicas fornecem evidência, informação

e dados que mais claramente definirão as causas exatas da síndrome

(Bautista, 1997; Cottinelli Telmo & Rodrigues, 1995).

No autismo de Kanner raramente se encontram sinais neurológicos

patentes, mas é frequente a associação com várias patologias tais como:

fenilcetonúria, embriopatia da rubéola, espasmos infantis, em particular

psicomotores, esclerose tuberosa, neurofibromatose, síndrome de Moebius,

síndrome de Rett, anomalias do cromossomo X, encefalite herpética), outras

infecções virais, como a toxoplasmose; síndrome de Cornélia de Lange,

distrofia muscular de Duchenne, mucopolisacaridose, etc. (Vidigal & Guapo,

1997). Aproximadamente metade das crianças que têm comportamento autista

também sofre de alguma patologia grave afetando o sistema nervoso central,

tal como espasticidade ou epilepsia. As restantes parecem fisicamente

saudáveis, exceto o seu comportamento estranho; no entanto, um exame

especializado frequentemente mostra que têm dificuldades que podem ser

causadas por alguma anormalidade do cérebro (Gauderer, 1993).

Gillberg (1992) e outros autores consideram que o autismo está

frequentemente associado com os diagnósticos citados, havendo outros que se

referem às formas idiopáticas, quando não são encontrados fatores orgânicos.

A partir da década de 70 desenvolveram-se investigações cujos

resultados foram interpretados no sentido do estabelecimento de um nexo

entre o autismo e as dificuldades no domínio afetivo e da motivação, que teriam

por base uma perturbação cognitiva, reflexo de uma anomalia biológica: o

autismo decorreria de um problema de natureza orgânica ainda desconhecida -

para uns, uma alteração no sistema nervoso central, motivada por qualquer

desorganização bioquímica, para outros, uma predominância do hemisfério

direito do cérebro que controla as reações motoras e a apreensão das

sensações sobre o hemisfério esquerdo do córtex cerebral, responsável pela

linguagem e pelo raciocínio abstrato, gerador de um défice cognitivo primário e

das dificuldades no domínio afetivo e da motivação (Cox et ai. 1975, Wing,

1978, cit. por Bento, 1999).

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3.4 - O espectro autista e suas dimensões

O conceito de espectro autista pode nos ajudar a compreender que,

quando falamos de autismo e de outros transtornos globais, empregamos

termos comuns para pessoas muito diferentes. O rótulo “autismo” parece

remeter a um conjunto bastante heterogêneo de individualidades, cujos níveis

evolutivos, necessidades educativas e terapêuticas e perspectivas vitais são

bastante diferentes.

A idéia de considerar o autismo como um “contínuo”, mais do que como

uma categoria que defina um modo de “ser”, ajuda-nos a compreender que,

apesar das importantes diferenças que existem entre diferentes pessoas, todas

elas apresentam alterações, em maior ou menor grau, em uma série de

aspectos ou “dimensões”, cuja afecção se produz sempre nos casos de

transtorno profundo do desenvolvimento. A natureza e a expressão concreta

das alterações, que as pessoas com espectro autista apresentam nessas

“dimensões sempre alteradas”, dependem de seis fatores principais:

1- A associação ou não do autismo com atraso mental mais ou menos grave.

2- A gravidade do transtorno que apresentam. 3- A idade – o momento evolutivo – da pessoa autista. 4- O sexo: o transtorno autista afeta com menos frequência, porém com

maior gravidade de alteração, as mulheres do que os homens. 5- A adequação e a eficiência dos tratamentos utilizados e das

experiências de aprendizagem. 6- O compromisso e o apoio da família. Os sintomas específicos que as pessoas apresentam ou os traços autistas

associados a outros quadros dependem desses seis fatores, alguns dos quais

não são independentes entre si, mas que não podem ser reduzidos

completamente uns aos outros.

A idéia de um “espectro autista” teve sua origem em uma pesquisa

realizada por Lorna Wing e Judith Gould (1979), cujo objetivo era conhecer o

número e as características de crianças e jovens menores de 15 anos que

apresentavam algum tipo de deficiência importante nas capacidades de relação

social. O resultado dessa pesquisa foi a descoberta de que a prevalência de

déficits sociais graves era mais de quatro vezes superior ao do transtorno

autista, e também que em todas as crianças com esses déficits concorriam os

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principais sintomas do espectro autista: transtorno de relação, das capacidades

de ficção e de jogo simbólico, das capacidades linguísticas e comunicativas e

da flexibilidade mental e comportamental. A presença desses traços era tanto

mais provável quanto menor era o QI das crianças estudadas.

Pela importância do conceito de espectro autista, desenvolveu-se um

conjunto mais amplo de doze dimensões que se alternam sistematicamente

nos quadros de autismo e em todos aqueles que envolvem espectro autista.

Para cada dimensão, estabeleceram-se quatro níveis: o primeiro é o que

caracteriza as pessoas com um transtorno significativo, um quadro mais grave,

níveis cognitivos mais baixos e frequentemente crianças menores. Também os

casos que não receberam um tratamento adequado. O quarto nível é

característico dos transtornos menos graves e define de modo muito

característico pessoas que apresentam a síndrome de Asperger. As doze

dimensões que diferenciamos são as seguintes:

1) Transtornos qualitativos da relação social.

2) Transtornos das capacidades de referência conjunta (ação, atenção e

preocupação conjuntas).

3) Transtornos das capacidades intersubjetivas e mentalistas.

4) Transtorno das funções comunicativas.

5) Transtornos qualitativos da linguagem expressiva.

6) Transtornos qualitativos da linguagem compreensiva.

7) Transtornos das competências de antecipação.

8) Transtornos da flexibilidade mental e comportamental.

9) Transtornos do sentido da atividade própria.

10) Transtornos da imaginação e das capacidades de ficção.

11) Transtornos da imitação.

12) Transtornos da suspensão (da capacidade de criar significantes).

Deve-se assinalar que, embora exista uma alta correlação entre os

níveis das pessoas autistas nas diferentes dimensões, essa correlação não é,

de modo algum, perfeita. Assim, a pessoa X pode estar no nível 3 da primeira

dimensão, no 2 da segunda, no 3 da terceira, etc. a descrição do nível em que

se situa uma pessoa com espectro autista em cada dimensão constitui um

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julgamento sintético, muito útil para definir seu quadro e estabelecer uma idéia

inicial dos propósitos e das estratégias com que uma pessoas deve ser tratada.

Transtornos qualitativos das relações sócias

Na maioria das explicações do autismo, a “solidão”, a incapacidade ou a

dificuldade de relação, é considerada a raiz essencial do transtorno. Algumas

pessoas com espectro autista oferecem a impressão clínica de carecer

completamente de motivações de relação e de estar submersas em um

profundo isolamento, outras chegam a sentir subjetivamente a necessidade de

relação e estabelecem interações complexas com as pessoas.

Transtornos qualitativos das capacidades de referência conjunta (ação,

atenção e preocupação conjuntas)

Essa dimensão refere-se a aspectos sutis da qualidade das relações

interpessoais.

Em todo espectro autista, EA, manifesta-se uma dificuldade

característica de compartilhar focos de interesse, ação ou preocupação com as

outras pessoas. Atenção conjunta são aquelas atividades de comunicação

social pré-linguística que implicam o emprego de gestos para compartilhar o

interesse com respeito a situações, objetos, etc. dar-se um sentido muito mais

geral a essa dificuldade de compartilhar: nas pessoas com níveis mais altos do

EA também há uma dificuldade característica de compartilhar preocupações

comuns; uma dificuldade que constitui um prolongamento sutil das limitações

iniciais das crianças menores com EA de “coletivizar” com outras pessoas a

atenção – e também a ação – com respeito aos objetos.

Transtornos das capacidades intersubjetivas e mentalistas

As dificuldades das pessoas autista de “compartilhar o mundo”, assim

como seus transtornos qualitativos da relação e suas deficiências

comunicativas, foram explicadas, na última década do século XX, recorrendo a

dois conceitos, que correspondem a tradições diferentes e ênfases teóricas

distintas no estudo dos fundamentos da interação humana: as noções de

intersubjetividade e Teoria da mente. Essas categorias constituem, por assim

dizer, o destilado de dois enfoques. Para o primeiro, o autismo seria

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essencialmente um transtorno das pautas de relação afetiva. Essa foi a

formulação original de Kanner e Asperger, e que herdam, de forma mais ou

menos fiel, os defensores do autismo como um transcurso de intersubjetividade

primária. No segundo enfoque, o autismo é considerado como um transtorno

cognitivo. A alteração de uma capacidade cognitiva muito essencial: a de

atribuir mente e inferir os estados mentais das pessoas.

As duas descrições dos transtornos, embora aparentemente contrárias,

obviamente têm muito de acerto. Por um lado, os autistas “não compreendem

bem que tipo de seres são as pessoas”: literalmente “não sabem o que fazer

com elas”. Por outro, têm dificuldades de empatizar com as pessoas, de sentir

com elas: dificuldades que não parecem ser meramente cognitivas.

Transtornos qualitativos das funções comunicativas

Para as pessoas com espectro autista, comunicar-se constitui um

problema, às vezes insolúvel. Nos níveis mais afetados, não sabem sequer

como manejar as pessoas para conseguir efeitos desejáveis no mundo físico.

Nos intermediários, carecem da competência necessária para desenvolver as

atividades comunicativas cuja finalidade essencial é compartilhar experiência, a

comunicação é uma atividade difícil: não se produz com a flexibilidade

espontânea nem com a facilidade fluida, como se dá com outras pessoas.

Transtornos qualitativos da linguagem expressiva

As crianças autistas têm uma dificuldade extrema para desenvolver a

linguagem em seu período crítico de desenvolvimento, por carecer dos inputs

intersubjetivos que “disparam” ou põem em prática os mecanismos específicos

de aquisição lingüística. Quando essa dificuldade não é tão insuperável a ponto

de deixa-las submersas no mutismo, tendem a desenvolver uma linguagem

pouco funcional e espontânea, com alterações peculiares, como a ecolalia, a

inversão de formas dêiticas, a literalidade extrema dos enunciados e das

formas de compreensão, o laconismo, a presença maciça de formas

imperativas, a emissão de verbalização semanticamente vazias, irrelevantes ou

pouco adequadas às situações interativas e uma limitação extrema das

competências de conversa e discurso.

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Transtornos qualitativos da linguagem receptiva

No transtorno autista sempre há anomalias e deficiências na

compreensão da linguagem.

As dificuldades e as anomalias de compreensão são muito variáveis: há

autistas que nunca respondem à interação verbal ou, nos casos mais sérios,

comportam-se como se não ouvissem. Nos níveis mais altos do EA pode haver

dificuldades sutis para captar o significado profundo de enunciados que

implicam dupla semiose (metáforas, ironias, refrões, etc.)

Transtornos qualitativos das competências de antecipação

O conjunto de transtornos qualitativos das capacidades de antecipação

nos quadros com EA fazem parte da mesma subsíndrome que os distúrbios

que afetam as dimensões da inflexibilidade e dos transtornos do sentido da

própria atividade. Todas elas contribuem para oferecer essa imagem de

exigência inflexível de um mundo sem mudanças completamente previsível, de

uma “espécie de mundo parmenídeo”, em que “o ser se sente imutável, sempre

idêntico a si mesmo”, tão característica da síndrome de Kanner, mas que

também se apresenta em outras alterações que são acompanhadas de

espectro autista.

Transtornos qualitativos da flexibilidade mental e da flexibilidade

comportamental

As estereotipias motoras, a realização de rituais repetitivos, a obsessão

por certos conteúdos mentais, a inflexível oposição a mudanças ambientais às

vezes mínimas configuram um estilo mental e comportamental característico do

transtorno autista, mas que afeta também outros quadros que incluem espectro

autista.

Transtornos do sentido da atividade própria

A dedicação inflexível a condutas invariáveis ou a conteúdos mentais

reiterativos, a dificuldade de aceitar as mudanças e as limitações nas

competências de antecipação estão relacionadas claramente com uma das

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características terapeuticamente mais relevantes do espectro autista: em tudo

isso há uma marca característica da dificuldade de dar sentido à ação própria.

A limitação ou a ausência de finalidade na conduta é um dos traços que

definem o espectro autista.

Transtornos qualitativos das competências de ficção e das competências

de imaginação

A ausência de jogo de ficção demonstrou ser uma das três “marcas”

mais específicas e precoces – junto com a ausência de protodeclarativos e de

olhares de referência conjunta – para a detecção da síndrome de Kanner.

Crianças com EA, diferentemente das que apresentavam atrasos ou anomalias

sem riscos autistas, apresentam carências específicas no desenvolvimento do

jogo simbólico.

Transtornos qualitativos das capacidades de imitação

Alguns modelos teóricos do desenvolvimento, como o de Piaget (1959),

a imitação é decisiva para o desenvolvimento das capacidades simbólicas ao

definir o mecanismo pelo qual se constituem os significantes. Desse modo, a

incapacidade de imitar é, ao mesmo tempo, um reflexo e uma condição das

limitações simbólicas e intersubjetivas das pessoas autistas.

Transtornos da suspensão (da capacidade de criar significantes)

As pessoas com espectro autista têm dificuldades para realizar

diferentes espécies de atividades ou de funções que são aparentemente

heterogêneas, mas que parecem exigir em diferentes graus o funcionamento

de um mecanismo mental de grande importância para criar e compreender

significantes. Esse mecanismo consiste simplesmente em deixar em suspenso

ações ou representações com a finalidade de criar significados que possam ser

interpretados por outras pessoas ou pelo próprio indivíduo.

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CAPITULO IV

AUTISMO E EDUCAÇÃO

O autismo requer do sistema educacional duas coisas importantes:

1. Diversidade

2. Personalização

Os sistemas homogêneos e os modelos pouco individualizados do

processo de ensino-aprendizagem são incapazes de atender às necessidades

das crianças cujo modo de desenvolvimento se afasta mais do “modelo padrão

de desenvolvimento humano”. Por outro lado, dada a enorme heterogeneidade

dos quadros de autismo, a avaliação específica e concreta de cada caso é que

deve indicar as soluções educativas adequadas. O mero rótulo de autismo não

define por si mesmo um critério de escolarização. É preciso uma determinação

muito concreta e particularizada, para cada caso, de vários fatores, que devem

ser levados em conta para definir a orientação educativa adequada. Os

critérios são importantes no momento de decidir qual deve ser a solução

educativa adequada para as crianças com traços próprios do espectro autista.

Estabelece-se uma distinção entre fatores da criança e da escola.

Fatores da criança

1. Capacidade intelectual (em geral, devem integrar-se as crianças com QI

superior a 70. Não se deve excluir a possível integração na faixa de 55-70).

2. Nível comunicativo e linguístico (capacidades declarativas e linguagem

expressiva como critérios importantes para o êxito da integração).

3. Alterações de conduta (a presença de auto-agressões graves,

agressões e ataques de cólera incontroláveis pode levar a questionar a

possível integração, se não houver solução prévia).

4. Grau de flexibilidade cognitiva e comportamental (pode exigir

adaptações e ajudas terapêuticas nos casos integrados).

5. Nível de desenvolvimento social: é um critério importante. De maneira

geral, as crianças com idades de desenvolvimento social inferiores a 8 ou 9

meses só têm oportunidades reais de aprendizagem em condições de

interação um a um com adultos especialistas.

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Fatores da escola

1. São preferíveis as escolas de pequeno porte e número baixo de alunos,

que não exijam interações de grande complexidade social. Devem-se evitar

as escolas excessivamente ruidosas e “despersonalizadas”.

2. São preferíveis as escolas estruturadas, com estilos didáticos diretivos e

formas de organização que tornem “previsível” a jornada escolar.

3. É imprescindível um compromisso efetivo do conjunto dos professores e

dos professores concretos que atendem a crianças com autismo.

4. É importante haver recursos complementares e especialmente

psicopedagogos com funções de orientação e de logopedia.

5. É muito conveniente proporcionar pistas aos colegas da criança autista

para compreender e apoiar suas aprendizagens e relações.

Os fatores devem ser levados em conta para decidir, em cada momento,

a opção escolar adequada: pode ser uma escola regular, sempre que possível;

uma classe especial, mas não específica de autismo; ou uma escola

específica. Nenhuma destas soluções deve ser excluída a priori por razões

puramente ideológicas. Em todo caso, há várias observações que devem ser

consideradas.

A solução escolar que se encontra para uma criança em uma

determinada fase de seu desenvolvimento não precisa ser permanente.

Devem ser evitadas, porém, as mudanças freqüentes. Há muitos casos em que

são convenientes as soluções que implicam a passagem de escolas especiais

para regulares ou – em menos casos – o contrário. A opção educativa em um

determinado momento do desenvolvimento da criança não deve ser entendida

como uma sentença para toda a vida escolar.

4.1 - Educação Física e portadores de espectro autista

A implantação da educação física, no programa de ensino para autistas

possibilita um melhor desenvolvimento das habilidades sociais, melhora na

qualidade de vida. No início da aprendizagem é necessário conhecer cada

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aluno individualmente, suas habilidades motoras, interesses e capacidades

comunicativas.

O ensino deve ser reestruturado com características para desenvolver a

independência, também manter uma relação positiva com o aluno, saber

distrair e divertir, respeitar a rotina de atividades.

A utilização de atividades não coerentes com a cultura da comunidade e

complexa como, jogos desportivos com regras, gincanas e jogos imaginários

dificultam a aprendizagem e causa frustração no aluno, em função da tríade

autística.

O local de atividade física poderá ser aberto, mas com algumas

restrições, pouco estímulo visual e auditivo para que o aluno não se distraia e

perca o interesse na atividade. Ao término ou intervalo de cada atividade é

necessário que o aluno tenha um momento dele dentro de um espaço indicado

podendo ficar sentado, fazendo uma atividade de interesse.

O programa de educação física não deve se concentrar no ensino do

movimento técnico, mas na aprendizagem social no auxilio para o avanço

motor e qualidade de vida é essencial conversar com a família pra compartilhar

interesses e expectativas em relação a atividades, saber como o aluno se

comporta em casa o que gosta de fazer e como se movimenta, obtendo uma

avaliação do comportamento em sua casa e proporcionar situações na escola

para coleta de informações como: exploração da capacidade motora do aluno o

estímulo cognitivo, os níveis de segurança em resolver problemas motores,

níveis estruturais necessários para outra orientação, grau e atenção sem muita

ajuda do instrutor, níveis de pensamento concreto motivação e interesses

direto (LABANCA, 2000; VATAVUK, 1996).

A seleção de atividades deve ser adequada à idade cronológica,

resultados das avaliações e compatível com a cultura social, o método de

circuito com obstáculo como subida e descida transposição de objetos (plintom,

pneu e arcos), mudanças de direção, equilíbrio dinâmico e estático, saltos,

lançamentos, jogos de bolas (chute ao gol, arremesso a cesta de basquete,

arremesso ao gol de handebol, voleibol, rolar, agarrar, esquivar e quicar, ente

outras) com começo meio e fim indicados auxiliam na aquisição de habilidades

motoras (LABANCA, 2000).

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A resolução de problemas do ambiente, percepção visual, auto

percepção e estimulo cognitivo e outros métodos, com características a

desenvolver e estimular a aprendizagem devem ser inseridos no ensino como:

situações em grupos e proximidade com o professor, cooperação, situações

livres com exploração de materiais, estímulo a comunicação e sensações é

necessário para auxiliar no desenvolvimento. Mesmo que essa comunicação

não seja verbal, pois através da educação física a comunicação acontece

corporalmente.

4.1.1 - Contribuições da Educação Física no desenvolvimento do

relacionamento e afetividade

O principal objetivo da educação física para autistas é proporcionar

possibilidades do uso social das habilidades e aumentar sua qualidade de vida.

É essencial conhecer em primeiro lugar e individualmente cada aluno no

contexto geral do autismo. Os dois primeiros passos para o desenvolvimento

de uma boa e significativa habilidade motora é conhecer com detalhe as

capacidades motoras atuais, o interesse e o nível de comunicação, para ter

segurança de que a criança autista será bem sucedida nas tarefas propostas

para a construção da motivação, obediência, auto-estima e desempenho. Em

segundo lugar, para que isso seja eficaz, é decisiva a facilidade de

compreensão do que é esperado. Os professores têm de saber ensinar, distrair

e divertir, mantendo uma relação positiva com cada aluno.

Programas de Educação Física não devem concentrar-se no ensino de

movimentos como fim em si, mas na utilidade da sua aprendizagem,

destacando as possibilidades de avanços em adaptação, usos sociais das

atividades promovidas e aumento na qualidade de vida.

A Educação Física, pela natureza dos seus efeitos e implicações, tem

incidência em amplos aspectos do desenvolvimento global da criança autista,

sobressaindo a contribuição específica que traz nos domínios da aquisição de

competências, estruturação de espaço e tempo e imitação, tornando-se um

meio essencial e obrigatório nas adaptações sociais e aprendizagem sócio-

cognitivas (Summerfield, 1976).

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A imitação tem influências positivas sobre a conduta, o comportamento e

a atitude, permitindo a estruturação do esquema corpora. Durante as aulas de

educação física a criança observa o educador e os pares, imitando e

identificando-se com eles; inicialmente imita os comportamentos mais simples

para posteriormente poder imitar os mais complexos.

Diversos estudos recentes demonstram que as crianças com

autismo podem ser extremamente sensíveis à imitação por parte dos

adultos e este pode ser um ponto de partida importante para o

estabelecimento de um maior relacionamento interpessoal, tão difícil de

alcançar mas ao mesmo tempo tão fundamental para a posterior intervenção a

outros níveis (Lord, 1984; Dawson et al. 1987; Hughes, 1996).

A sistematização de ações desta natureza e outras com objetivos de

lazer e de fomento da interação social, promove que todo um processo

simbólico-linguístico-emocional alterado se vá, paulatinamente, modificando e

tornando mais funcional (Pereira, 1990).

As atividades físicas têm como finalidade fornecer à criança aquilo de

que tem necessidade para se manter em boa saúde, exercer a sua motricidade

por ela própria e facilitar a tomada de consciência da imagem do corpo no

espaço. Favorecem o desenvolvimento das suas capacidades de adaptação e

de cooperação. Contribuem, também, para a sua expansão pela alegria dos

obstáculos vencidos e da segurança conquistada. Cada atividade é

determinada em função de prioridades:

- Atividades de motricidade global, que incitam à produção de movimentos de

uma certa amplitude que, por vezes, requerem velocidade, capacidade de

resposta a uma instrução, capacidade de ultrapassar um obstáculo, de reagir a

um sinal como andar, correr, saltar, rastejar, trepar, arremessar, transportar e

manter o equilíbrio;

- Atividades de coordenação motora que propõem encadeamentos de gestos

ou de ações já dominadas como ritmos, jogos de destreza e oposição, danças

e rodas cantadas;

- Atividades de expressão corporal que levam as crianças a procurar

representar, com recurso ao seu repertório gestual, temas e ritmos inventados

por elas próprias ou que lhes são propostos (Rogé, 1998).

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Ajudar a criança a aproximar-se de um estado físico mais harmonioso

vai permitir-lhe tomar consciência de si mesma e adquirir estima e confiança

em si própria.

No que à educação motora concerne, a criança com autismo,

inicialmente receosa e alienada, vai desenvolvendo o equilíbrio corporal, a

autoconfiança e a socialização, esperando a sua vez, imitando movimentos,

adaptando-se às regras de jogos. Regras que poderão ser reaproveitadas na

vida diária.

A educação física tem sido um meio fundamental para reduzir os

comportamentos estereotipados característicos desta perturbação.

Assim, o educador, individualmente com a criança e também em grupo,

se bem que mais dificilmente, vai dando sentido às agitações ritualizadas, às

manifestações ecolálicas, ajudando-a a pouco e pouco a sair de uma relação à

partida dual e a estabelecer ligações com os seus pares (Wall, 1980; Vidigal &

Guapo, 1997).

É neste contexto que surge a noção de parceria em que uma criança

não autista toma individualmente a seu cargo um autista da sua idade. O

parceiro participa com ela numa atividade física e dá-lhe as ajudas necessárias

para a realizar. Este nível de ajuda pode variar consideravelmente, em função

do nível de competência da pessoa autista e do objetivo traçado. Com efeito, o

parceiro pode simplesmente desempenhar o papel de acompanhante na

realização das atividades físicas. Pode ser útil dar alguns conselhos ao par que

vai jogar com a criança autista. Por vezes, é interessante explicar-lhe que vale

mais não falar muito ou gritar e sim mostrar como fazer, chamar a atenção,

batendo palmas e fazendo movimentos amplos com os braços em vez de

gritar. Os encorajamentos tais como, sorrisos ou um bom aperto de mãos,

podem ser muito importantes para estimular a criança autista. Tudo isso

dependerá da pessoa em causa, das suas capacidades de comunicação e das

suas possibilidades de compreensão. Essas informações são muito

importantes e devem se dadas a conhecer à criança não autista (Magerotte et

ai., 1994a).

O papel do educador é também o de intervir para fazer valer as normas,

isto é, as regras que se estabelecem para todos, aquelas que permitem uma

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interação fraterna, onde a liberdade de ação de cada um não provoque invasão

do espaço ou que venha a limitar o direito do outro.

4.1.2 - O jogo e as atividades desportivas no desenvolvimento da criança

autista

O jogo desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da

criança autista. Permite o exercício das funções cognitivas, da linguagem e das

capacidades motoras e ainda desenvolver a socialização, dado que implica a

tomada de consciência de um parceiro. É a primeira forma de participação

social e possibilita o início e a manutenção das relações sociais (Rogé, 1998).

Os comportamentos de jogo dependem da idade, mas também de outros

parâmetros - os fatores do meio, como a experiência anterior de contatos com

pares, a presença da mãe, a estrutura de acolhimento, tal como a escola e

brinquedos disponíveis.

De um modo geral, mesmo que as anomalias no contato social sejam

discretas ou flutuantes nos primeiros tempos de vida, tornam-se marcantes

entre os 2-3 anos e os 5-6 anos. É neste período que se verificam as reações

de retraimento mais claras. Este estádio do desenvolvimento corresponde aos

primeiros momentos em que há um confronto com a vida coletiva no contexto

escolar.

Na criança autista predomina o isolamento; quando confrontada com os

seus pares, geralmente, não entra em interação.

As características do seu comportamento não permitem aos seus pares

iniciar e manter a interação; não há olhar, não há aproximação, não existem

gestos ou mímica adaptados ao contexto, não há interesse simultâneo pelos

objetos ou situações de jogo. Aparecem, antes, comportamentos que, aos

olhos dos outros, surgem como estranhos, estereotipias, atividades repetitivas

que não admitem qualquer intromissão (Mazet et ai. 1981; Perrot et ai., 1990;

Libbyetal., 1998; Rogé, 1998).

Observam-se reações emocionais que podem ser violentas sempre que

os outros tentam, apesar de tudo, entrar em contato ou participar em jogos e

atividades nas quais a criança autista está empenhada.

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Quando existem, os comportamentos sociais são preferencialmente

orientados para o adulto conhecido. A criança mostra-se a maior parte das

vezes muito dependente desse adulto, sem que possa entrar em interação com

os seus pares.

Devido às suas deficiências básicas de desenvolvimento, crianças

autistas não são capazes de tomar parte na gama usual de atividades lúdicas.

Elas têm facilidade e gostam de brinquedos de montar, mas as suas

brincadeiras sociais são muito limitadas. Brincadeiras envolvendo imaginação

raramente se desenvolvem. Elas não modificam a forma da brincadeira para se

acomodar a outras crianças e tendem a repetir as mesmas ações

indefinidamente.

Em geral, a preocupação com a as necessidades recreativas das

crianças autistas não é tão grande como a que existe em relação a outros

membros da sociedade. Se privarmos as crianças deficientes de todas as

experiências e atividades que favorecem a formação de amizades duradouras,

o contato restrito com os meios habituais irá impedi-las de desenvolverem

gostos, interesses e talentos que poderiam preencher os seus tempos livres. A

segregação e o isolamento social que lhes é imposto acentuarão as suas

deficiências, senão tentarmos contrariar esta tendência (Magerotte, 1994a).

As crianças com autismo têm muita dificuldade em participar em jogos

de equipa, como o futebol, que exigem alguma compreensão social e cultural.

De fato, a participação num jogo de futebol exige saber que fazemos parte de

uma equipe, compreender que o jogo implica tanto de competição como de

colaboração, processar rapidamente uma informação constantemente mutável,

reagir depressa, etc. No autismo todas estas capacidades são problemáticas.

O trampolim parece ter um grande impacto junto destas crianças. São

também usados com bons resultados práticos os patins, skates e bicicletas,

representando os primeiros movimentos de liberdade da criança, uma vez

ultrapassadas a ansiedade e timidez iniciais.

Estes alunos beneficiam muito com o contato com a água e com a areia,

nomeadamente em atividades como a natação em piscina e na praia. Muito útil

também é a corrida lenta, porque reduz algumas das alterações

comportamentais como a agressividade, a hiperatividade e alterações do sono;

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as atividades efetuadas em ambiente relaxante ao som de música são

extremamente úteis, exercitando comportamentos socialmente adequados.

Para a criança mais velha, é mais importante desenvolver as habilidades

funcionais, ao contrário dos mais novos em que o destaque da educação física

é para o desenvolvimento das capacidades motoras mais básicas (Auxteretal.,

1993).

Atividades como a ginástica, basquetebol e o judô, além das

modalidades supracitadas, são também atividades desportivas mencionadas

na literatura que favorecem o desenvolvimento psicossocial da criança autista.

4.1.3 - Materiais didático desportivos indicados

Se o trabalho é realizado com pessoas que necessitam de uma

coerência central, com dificuldade de fazer uma percepção do mundo exterior,

então os objetos irrelevantes que puderem ser manipulados devem ser

removidos, enquanto os objetos que são usados numa determinada tarefa

devem ser modificados para acentuar ou incrementar a atração para serem

manipulados.

A permanência dos mesmos objetos no espaço habitual, ao longo dos

tempos, é muito importante para as crianças autistas, pois a criança vive num

mundo de rituais de que tem necessidade e que lhe conferem segurança. É,

unicamente, quando a criança chega a crer na permanência dos objetos que

ela organiza o espaço, o tempo e a causalidade (Defontain, 1981).

Os materiais desportivos devem ser fáceis de manipular e não devem

ser fornecido mais do que um de cada vez, pois pode provocar confusão e

dispersão pelas tarefas propostas.

Neste tipo de trabalho o material que se usa é importante; geralmente

dá-se preferência a um material que seja de fácil utilização e que permita as

mais variadas possibilidades de emprego.

Para desenvolver a flexibilidade e ajudar a generalização, o professor

deve tentar tanto o uso dos mesmos materiais para diferentes propósitos, como

o uso de diferentes materiais para o mesmo propósito.

Esse material, dada a sua simplicidade, favorece o jogo espontâneo e

até mesmo a possibilidade de uma produção de caráter simbólico.

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Os materiais desportivos que podem ser utilizados maior freqüência para

um melhor desenvolvimento e aprendizagem:

- Bolas coloridas, que estimulam a criança, tanto através do dinamismo que se

expressa pelo próprio ato de manipulá-las, como pelo uso que se pode fazer

através do lançamento e da troca. Favorecem a implicação individual e

coletiva, constituindo um objeto que, através da sua elasticidade e maciez,

permite uma relação com o próprio corpo através de contatos agradáveis,

afetivos e sensoriais; pela sua maneabilidade permite jogos e permutas com o

outro capazes de veicular a colaboração.

A bola pode servir de intermediário para uma melhor relação ou ser o

ponto de partida de uma comunicação com o outro. Através deste objeto, a

criança poderá, talvez, aceitar melhor a presença do outro (Defontaine, 1982).

- Os bastões, de vários comprimentos, permitem também facilitar o jogo e a

colaboração pela boa manipulação e favorecem deste modo à criatividade e a

construção.

- Arcos de cores variadas favorecem o dinamismo e o jogo. De fato, podem ser

utilizados para rodar, saltar, capturar o outro, etc. Representam um espaço

fechado simbólico, do qual se pode à vontade sair ou entrar (Vecchiato, 1989).

- Os colchões geralmente utilizam-se para exercícios no solo. São feitos de

espuma e recobertos com um forro macio. Além dos exercícios formais que se

realizam no colchão, como rolar, rastejar, saltar, etc., os colchões são utilizados

para cobrir o corpo das crianças. Depois se desenvolvem situações mais

dinâmicas de jogo, transformando-se em obstáculos que devem ser vencidos.

- Os bancos suecos, presentes permanentemente na sala para exercícios

específicos de caminhar sobre eles, transpô-los, etc., assim como colocar o

material para repouso, demonstram-se úteis também como material específico

para as sessões de educação física.

- A música permanece como característica presente em todas as aulas. A

presença da música assume um significado particular. A opção de utilizá-la tem

como finalidade criar um ambiente acolhedor e de facilitar o relacionamento

(Furneaux et ai. 1979).

Nas aulas de educação física quanto mais material de apoio houver

tanto melhor. Estimula o aluno e o professor, fornecendo uma estrutura sobre a

qual a criança autista trabalhará. E qualquer que seja o método escolhido, o

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importante é manter as crianças ocupadas durante a maior parte do tempo

(Gauderer, 1993).

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CONCLUSÃO

Como todo ser humano, o autista também pode ser sociável, embora

apresente dificuldades de comunicação. As pessoas necessitam de motivação,

porém os autistas respondem a ela positivamente quando interagem durante as

atividades de estimulação.

A brincadeira é a linguagem das crianças. Pelas brincadeiras se pode

aprender a interação social, trabalhar atenção, as seqüências, a lateralidade, a

coordenação motora, habilidades, solucionar problemas, explorar sentimentos,

desenvolver causa e efeito e estimular a criatividade. Com a falta de interação

social e problemas no comportamento, muitas crianças autistas vão necessitar

de ajuda para estabelecer uma relação com outras crianças. Por isso, o

professor de educação física entra nesse processo como mediador. Para tanto

deve estar envolvido no processo de aprendizagem e socialização, não

devendo priorizar questões do aprimoramento físico, mas auxiliar no vasto

conjunto de interações sociais, comunicação e comportamento.

Pessoas com deficiência têm direito à prática da educação física na

medida idêntica às pessoas ditas “normais”. Neste sentido, acredita-se que as

crianças com autismo são beneficiadas grandemente com a prática da

educação física, na medida em que a mesma lhe garantirá o desenvolvimento

global, sendo este entendido em seus aspectos afetivo, sensorial, motor e

cognitivo (Araújo, 1999).

A aprendizagem promove o desenvolvimento e ela é um momento

necessário e universal para que se desenvolvam na criança as características

humanas, não naturais, mas formadas historicamente.

Deixar uma criança em um ambiente repleto de estímulos não é

suficiente para que ela se desenvolva. Para isso é necessário que haja um

mediador, um elo entre ambiente, material e crianças autistas e as ditas

“normais”.

Permitir às crianças com autismo ter atividades em que sejam

independentes é uma forma de ajudá-las a ultrapassar as suas dificuldades a

nível das relações sociais. Algumas crianças passam a realizar sozinhas

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algumas das atividades quanto mais aquisições for possível elas adquirirem no

decurso das intervenções.

O fato crucial é que a aptidão de lidar com uma pessoa autista não

depende basicamente da teoria ou do estudo e compreensão de determinadas

leis. Essa aptidão assenta, sobretudo, na aprendizagem em contato direto e

contínuo, no exercício da própria interação e no juízo dos seus resultados. Mas

tudo só poderá se concretizar caso haja afeto pelo trabalho, amor pelo que está

realizando. Crianças autistas são muito sensíveis, e como qualquer outra

criança, sente se quem está lhe educando tem amor e gosta do que está

realizando.

Trabalhar com crianças especiais, em especial com as portadoras de

espectro autista, requer dedicação, paciência, motivação e conhecimento. É

estar preparado muitas vezes para a rejeição das atividades e do próprio

professor, é saber se realizar com as pequenas mudanças e avanços na

aprendizagem do aluno, é seguir em frente por mais difícil que pareça a

caminhada.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ...................................................................................... ....... 2

AGRADECIMENTO ...................................................................................... ....... 3

DEDICATÓRIA ............................................................................................. ....... 4

RESUMO ..................................................................................................... ....... 5

METODOLOGIA ........................................................................................... ....... 6

SUMÁRIO..................................................................................................... ....... 7

INTRODUÇÃO ............................................................................................. ....... 8

CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL ........................................ ....... 10

1.1 – A educação física em uma perspectiva de mudança .......................... ....... 15

1.2 – Educação Física Adaptada ................................................................. ....... 22

1.2.1 – Breve histórico ................................................................................ ....... 21

1.2.2 – Conceitos e Objetivos ....................................................................... ....... 23

CAPÍTULO II - Educação Especial .............................................................. ....... 26

2.1 – Breve histórico da Educação Especial ............................................... ....... 26

2.2 – Educação Especial no Brasil .............................................................. ....... 27

2.3 – Amparo legal ...................................................................................... ....... 32

CAPÍTULO III – Autismo ............................................................................. ....... 37

3.1 – Evolução histórica .............................................................................. ....... 37

3.2 – Definição ............................................................................................ ....... 38

3.3 – Etiologia .............................................................................................. ....... 40

3.4 – O espectro autista e suas dimensões.................................................. ....... 43

CAPÍTULO IV – Educação e Autismo ......................................................... ....... 49

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4.1 – Educação Física e portadores de espectro autista ............................. ....... 50

4.1.1 - Contribuições da Educação Física no desenvolvimento do

relacionamento e afetividade........................................................................ ....... 52

4.1.2 - O jogo e as atividades desportivas no desenvolvimento da criança

autista .......................................................................................................... ....... 55

4.1.3 - Materiais didáticos desportivos indicados ......................................... ....... 57

CONCLUSÃO .............................................................................................. ....... 60

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ ....... 62

ÍNDICE ........................................................................................................ ....... 67

FOLHA DE AVALIAÇÃO ....................................................................................... ......... 69

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Faculdade Integrada AVM

Título da Monografia: A educação física na educação para todos: a

prática desportiva como melhora social dos portadores de espectro

autista

Autor: Aline de Melo Batista

Data da entrega:

Avaliado por: Mary Sue Pereira Conceito: