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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES P ÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE DEMONSTRAÇÃO DO V ALOR AD ICIONADO E S UA IMPORTÂNCIA PARA EM PRESAS E SOCI ED ADE Por: Rena ta Lourenço de Morais Orientad or Prof.ª Mary Sue Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO E SUA

IMPORTÂNCIA PARA EMPRESAS E SOCIEDADE

Por: Renata Lourenço de Morais

Orientador

Prof.ª Mary Sue

Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO E SUA

IMPORTÂNCIA PARA EMPRESAS E SOCIEDADE

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Finanças e Gestão Corporativa

Por: Renata Lourenço de Morais

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que soberano em todos os momentos,

deu-me oportunidade de estudar.

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RESUMO

O objetivo principal da Demonstração do Valor Adicionado é informar o

valor da riqueza criada pela empresa e a forma de sua distribuição. Não deve ser

confundida com a Demonstração do Resultado do Exercício, pois esta tem suas

informações voltadas exclusivamente os sócios e acionistas, principalmente na

apresentação do lucro líquido, enquanto a Demonstração do Valor Adicionado está dirigida

para a geração de riqueza e sua respectiva distribuição pelos fatores de produção (capital e

trabalho) e ao governo. O valor adicionado demonstra, ainda, a efetiva contribuição da

empresa, dentro de uma visão global de desempenho, para a geração de riqueza da

economia da qual esta inserida, sendo resultado do esforço conjugado de todos os seus

fatores de produção.

A Demonstração do Valor Adicionado, que também pode integrar o Balanço

Social, constitui, desse modo, uma importante fonte de informações à medida que apresenta

esse conjunto de elementos que permitem a análise do desempenho econômico da empresa,

evidenciando a geração de riqueza, assim como dos efeitos sociais produzidos pela

distribuição dessa riqueza.

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METODOLOGIA

A pesquisa será de natureza bibliográfica com fundamentação teórica e sua

coleta de dados será organizada através da leitura e análise dos documentos e

livros que constam das referências bibliográficas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................... 7

CAPÍTULO I –Balanço Social...................................................................9

CAPÍTULO II – Demonstração do Valor Adicionado................................20

CONCLUSÃO..........................................................................................48

ANEXO...................................................................................................50

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA...............................................................59

ÍNDICE......................................................................................................61.

FOLHA DE AVALIAÇÃO......................................................................... 63

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INTRODUÇÃO

Pode-se perceber, que gradativamente a Contabilidade vem cumprindo seu papel,

enquanto Ciência Social, à medida que vem possibilitando a ligação da entidade com a

sociedade através de algumas demonstrações financeiras.

Considerando essa evolução, notou-se a necessidade em desenvolver estudos

pautados em aspectos sociais, abrangendo a responsabilidade das empresas com a

sociedade da qual esta inserida.

Objetivo desenvolver uma discussão teórica, identificando a necessidade da

Demonstração do Valor Adicionado apresentada em recente Resolução do Conselho

Federal de Contabilidade.

Através deste trabalho, pretendemos identificar quais os aspectos principais da

Demonstração do Valor Adicionado, cuja finalidade é a de divulgar e identificar de

forma quantitativa o valor da riqueza gerada pela empresa. Abordaremos sua

importância e aplicabilidade, sendo ela um instrumento poderoso e auxiliar do Balanço

Social, de suma importância para empresas e sociedade, e través dela é possível

identificar riquezas geradas e como foi distribuída nos diversos setores, sendo um grande

aliado na tomada de decisão.

Pretendo com este trabalho desenvolver um estudo que venha apresentar de forma

concisa e de fácil entendimento a referida demonstração.

Estarei abordando a execução do tema através de desenvolvimento de pesquisa

bibliográfica, com alguns aspectos introdutórios do Valor Adicionado e tudo que o

abrange, justificando alguns pontos discutíveis na elaboração da Demonstração do Valor

Adicionado, seus componentes, seu cálculo em algumas atividades específicas, uma

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8breve comparação com a Demonstração do Resultado do Exercício e seus aspectos sob o

ponto de vista econômico e contábil.

Tratarei também o Balanço Social, pois o mesmo, assim como a Demonstração do

Valor Adicionado, são relatórios recentes e de cunho social.

O intuito deste trabalho é não desmerecer os demais relatórios contábeis, mais apresentar

a Demonstração do Valor Adicionado como parte integrante de um novo grupo de

relatórios desenvolvidos pela Contabilidade para evidenciar o papel social das empresas.

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CAPÍTULO I

1.0 - BALANÇO SOCIAL

Para atender a nova realidade em que as empresas passaram a ter

responsabilidade social perante os componentes da sociedade, tais como: investidores,

fornecedores, financiadores, consumidores, empregados, Estado e também a incumbência

de preocuparem-se com a proteção ao meio ambiente, surge o Balanço Social (BS).

Para Luca1, o Balanço Social surgiu para atender ás necessidades de

informação dos usuários da contabilidade no campo social. É um instrumento de medida

que permite verificar a situação da empresa no grupo social, registrar as realizações

efetuadas neste campo e principalmente avaliar as relações ocorridas entre o resultado da

empresa e a sociedade.

A este respeito Nunes escreveu:

“o Balanço Social é um documento que reúne um conjunto de informações sobre as atividades da empresa orientadas para melhor gerência dos recursos humanos e naturais e das relações com seu público externo (…)”2.

1 Márcia M.M.Luca. Demosntração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1998;3a tiragem. São Paulo: Atlas, 1998 p.23

2 Antoni Carlos Nunes.Balanço Social:Responsabilidade Social e Ambiental,Pensar Contábil.Rio de Janeiro,n.09,p.71.

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Segundo Tinoco,3 o Balanço Social é um instrumento de gestão e de

informação que visa reportar, da forma mais transparente possível, informações

econômicas, financeiras e sociais do desempenho das entidades, aos mais diferenciados

usuários da informação, dentre estes usuários, os trabalhadores.

As questões sociais decorrentes das atividades das empresas passaram a ser

questionadas por volta da década de 60. Foi nos Estados Unidos que se questionou pela

primeira vez a questão da responsabilidade social das empresas.

Tinoco4 ressalta que os “pesquisadores fizeram exigências no sentido de que

as empresas deveriam preocupar-se menos com os aspectos financeiros na divulgação de

suas demonstrações contábeis tradicionais, passando, todavia, a dar acolhida ás relações

sociais na empresa, dentro e fora dela. Surgiram a partir daí as primeiras informações

sociais, que passaram a ser publicadas junto com o balanço patrimonial”.

Em 1977, a França já possuía uma lei5 que obrigava as empresas com 300 ou

mais empregados a publicar o Balanço Social. Os principais méritos da Lei Francesa foram:

1) reconhecer, de forma institucional, a importância dos empregados como usuários da

informação contábil;

2) o tipo de informação – enfoque para os empregados:

a) emprego; remuneração e encargos acessórios;

b) condições de segurança do trabalho; 3 João Eduardo P.Tin Balanço Social: uma abordagem sócio-econômica da contabilidade. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 1984. P.1084 João Eduardo P.Tinoco. Balanço Social e contabilidade de recursos humanos. Revista NIFE, ano 3, n’3, São Paulo, nov./1996, p.325 Lei n’ 77.769 du 12 juillet 1977 relative au bilan social de l̀ entreprise.

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11c) formação profissional;

d) outras condições de vida relevantes na empresa.

3) Aspecto de comparabilidade: o balanço social é acompanhado de informação relativa

aos dois últimos anos.6

Neste contexto, no Balanço Social, as entidades estarão fornecendo

informações que permitam ao usuário externo aquilatar a profundidade e a qualidade de sua

atuação social, entre elas:

1) folha de pagamento bruta da empresa;

2) número de empregados no inicio e final do período;

3) valor médio dos salários pagos;

4) despêndios realizados com trabalhadores, relativos a:

a) programa de alimentação;

b) programa de assistência médica e previdenciária;

c) programas de treinamento;

d) segurança no trabalho;

e) participações nos lucros;

f) ações destinadas à proteção dos consumidores;

g) valor dos tributos pagos;

h) dispêndios com a preservação do meio ambiente;

i) contribuições para entidades beneficentes;

j) patrocínios a atividades culturais e preservação de áreas municipais.7

6 Márcia M.M.Luca. Demosntração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1998;3a tiragem. São Paulo: Atlas, 1998 p.

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1.1 – Surgimento do Balanço Social

Desde o início do século XX registram-se manifestações a favor deste tipo

de comportamento. Contudo, foi somente a partir dos anos 60 nos Estados Unidos e no

início da década de 70 na Europa, particularmente na França, Alemanha e Inglaterra que a

sociedade iniciou uma cobrança por maior responsabilidade social das empresas e

consolidou-se a própria necessidade de divulgação dos chamados balanços os relatórios

sociais.

A idéia de responsabilidade social das empresas popularizou-se, nos anos

70, na Europa. E foi a partir desta idéia, que em 1971 a companhia alemã STEAG produziu

uma espécie de relatório social, um balanço de suas atividades sociais. Porém, o que pode

ser classificado como um marco na história dos balanços sociais propriamente dito,

aconteceu na frança em 1972: foi o ano em que a empresa SINGER fez, assim , o primeiro

Balanço Social da história das empresas.

Na França várias experiências consolidaram a necessidade de uma

avaliação mais sistemática por parte das empresas no âmbito social. Até que em 12 de

julho , de 1977, foi aprovada a Lei 77.769, que tornava obrigatória a realização de

Balanços Sociais periódicos para todas as empresas com mais de 700 funcionários. Este

número caiu posteriormente para 300 funcionários.

7 Silvério das Neves i Paulo E.V.Viceconti. Contabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.São Paulo, ed.Frase,p.308-9

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131.2- Surgimento no Brasil

No Brasil os ventos desta mudança de mentalidade empresarial já podem ser

notados na “Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas” desde a sua publicação,

em 1965, pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil). Na

década de 80, a Fundação do Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES)

chegou a elaborar um modelo. Porém, só a partir do início dos anos 90 é que algumas

empresas - muito poucas – passaram a levar a sério esta questão e divulgar

sistematicamente em balanços e relatórios sociais as ações realizadas em relação a

comunidade, ao meio ambiente a seu próprio corpo de funcionários.

Desta forma, o BS da Nitrofértil, empresas estatal situada na Bahia, que foi

realizada em 1984, é considerado o primeiro documento brasileiro do gênero, que carrega o

nome de Balanço Social. No mesmo período, estava sendo realizado o BS do Sistema

Telebrás, publicado em meados da década de 80. O da Bonespa, realizado em 1992,

compõe a lista das empresas precursoras em BS no Brasil.

Há muito fala-se de responsabilidade social da empresa. E, de fato, pode-

se observar que algumas empresas, aqui no Brasil, têm levado a sério suas relações com

a comunidade, com o meio ambiente e próprio corpo de funcionários. Até porque, nos

últimos anos, estas relações tornaram-se uma questão de estratégia financeira e de

sobrevivência empresarial, quando pensamos a longo prazo. Isto sem falar, é claro, do

lado ético e Humano que a responsabilidade social desenvolve, e por sua vez, pode

desenvolver.

Em 1997, o Sociólogo Herbert de Souza (1935-1997), levantou a bandeira

do Balanço Social e lançou uma campanha nacional pela sua publicação, divulgando assim,

amplamente, a idéia do Balanço Social e promovendo grande debate entre as associações

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14das empresas e empresários, tais como como Abrasca (Associação Brasileira

de Capital Aberto), PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresárias) e CVM.

No mesmo ano, em maio, as deputadas federais Marta Suplicy, Maria da

Conceição Tavares e Sandra Starling, do Partido dos Trabalhadores, apresentaram o Projeto

de Lei nº 3.116, que criava, assim, a obrigatoriedade da elaboração e publicação anual do

Balanço Social para as empresas privadas que possuíssem 100 empregados ou mais, no ano

anterior à sua elaboração, e para as empresas públicas também, independentemente do

número de empregados. O Projeto de Lei foi apresentado com a justificativa de aflorar a

consciência sobre a responsabilidade da comunidade e os distintos núcleos que se

relacionem com a entidade para que possam avaliá-la, comprendê-la e, se entenderem

oportuno, criticá-la.

O referido projeto define Balanço Social da seguinte forma:

“Balanço Social é o documento pelo qual a empresa apresenta dados que permitam identificar o perfil da atuação social da empresa durante o ano, a qualidade de suas relações com os empregados, o cumprimento das cláusulas sociais, a participação dos empregados nos resultados econômicos da empresa e as possibilidades de desenvolvimento pessoal, bem como a forma de sua interação com a comunidade e sua relação com o meio ambiente.” 8

Em resumo, as principais informações requeridas no projeto de lei são as

seguintes:

a. faturamento bruto, lucro operacional e folha de pagamento bruta da empresa;

b. número de empregados do início e do final do período;

8 Márcia M.M.Luca. Demonstração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1.ed.1998.p.26

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15c. número de admissões durante o período;

d. impostos pagos;

e. alimentação;

f. encargos sociais compulsórios;

g. previdência privada;

h. saúde;

i. segurança no trabalho;

j. educação;

k. participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados;

l. outros benefícios;

m. contribuições para a sociedade;

n. investimento em meio ambiente.9

Paiva faz uma observação pertinente quanto à cidadania empresarial: “uma

organização, a partir de sua constituição legal, adquire personalidade jurídica própria e,

dessa forma , passa a usufruir direitos e a ter deveres a cumprir, comparáveis aos de uma

pessoa física. Nesse sentido, pode-se dizer que a organização adquire cidadania”10 .

Desde os meados de 1997 o sociólogo Herbert de Souza (O Betinho), e o

Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) vêm batendo na mesma 9 Op.cit.p.26

10 Simone Bastos Paiva. Cidadania Empresarial: aspectos sociais e contábeis. Revista Brasileira de Contabilidade, ano XXX, nº 129, maio/junho 2001, p.25-29.

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16tecla e chamando à atenção dos empresários e de toda a sociedade para a importância e a

necessidade da realização do BS das empresa em um modelo único e simples. E este

modelo foi desenvolvido no Ibase com parcerias de diversos representantes de empresas

públicas e privadas, a partir de inúmeras reuniões e debates com setores da própria

sociedade.

O IBASE no ano de 1997, realizou um amplo seminário no Rio de

Janeiro, em parceria com diversas empresas públicas e privadas, onde a discussão em

torno da importância da realização do BS e da própria responsabilidade social

reacendeu-se e voltou a pautar a agenda de empresas, da imprensa, de organizações não

governamentais, de institutos de pesquisa e até de instâncias de governo. Para dar

prosseguimento a este último grande desafio lançado pelo sociólogo Herbert de Souza,

realizou-se outro seminário em setembro de 1998, onde destacou-se a importância do

reconhecimento e fortalecimento do “Selo Balanço Social” que é fornecido às empresas

que publicam seu BS anualmente.

1.3 - Balanço Social e Meio Ambiente

Luca ressalta que,um dos aspectos de maior importância que deve ser evidenciado no

Balanço Social é o que se refere aos projetos da empresa relacionados à proteção e à

preservação do meio ambiente.11 Para Tinoco, o acesso à informação de boa qualidade é um

pré-requisito para o exercício de cidadania, vale dizer, condição essencial para que os

problemas socioeconômicos sejam debatidos e resolvidos a partir do convívio democrático

entre os grupos sociais.12

11 Márcia M.M.Luca. Demosntração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1.ed.1998;3a tiragem. São Paulo: Atlas, 1998 p.26

12 João E.P.Tinoco. Balanço Social: balanço da transparência corporativa e da concertação social. Revista Brasileira de Contabilidade, nº 135,p.58,2002

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17 O Balanço Social contempla, também, uma série de informações de caratér

qualitativo. Dentre os mais importantes, destacam-se:

a) informações relativas à ecologia, onde se evidenciam os esforços que as empresas vêm

realizando para não afetar a fauna, a flora e a vida humana (vale dizer as relações da

entidade com o meio ambiente);

b) informações concernentes ao treinamento e à formação continuada dos trabalhadores;

c) condições de higiene e segurança no emprego;

d) relações profissionais;

e) contribuições das entidades para a comunidade, explicitando a responsabilidade social e

corporativa das organizações.13

1.4 - Balanço Social – Um Enfoque Econômico

Para Tinoco14 gestão de pessoas que possuem competência, combinada com

a gestão de recursos físicos e tecnológicos, quando realizada com eficácia e eficiência,

agrega valor para uma entidade, ou seja, provoca acréscimo de lucros e, por conseguinte,

acréscimo no patrimônio líquido e no ativo. O alvo visado por qualquer entidade lucrativa é 13 Márcia M.M.Luca. Demosntração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1.ed.1998;3a tiragem. São Paulo: Atlas, 1998 p.26

14 Op.cit.p.58

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18maximizar, no tempo e no espaço, o patrimônio líquido e o ativo em termos de valor

presente. Em outras palavras, investem-se recursos físicos e humanos que gerarão bens e

serviços, no presente e no futuro, e que, confrontados com os desembolsos, trarão ganhos

que beneficiarão a entidade, os acionistas, os investidores, os credores, o governo e os

trabalhadores, bem como a comunidade que terá bens e serviços com qualidade para serem

usufruídos.

Dentre outras questões importantes, realçam-se os tributos que são

recolhidos pelas empresas ao fisco. Inclusive, a esse respeito, pode-se encontrar,

diariamente, notícias nos meios de comunicação fazendo mensão à alta carga tributária

imposta às empresas, sem que, contudo, consigam apontar, detalhadamente, quanto arca

uma empresa /setor com impostos em relação à sua receita ou ao valor agregado para a

empresa.

Decorre, daí, a necessidade da elaboração do demonstrativo do valor

adicionado gerado pelas organizações. Esta demonstração evidencia, de forma transparente,

esse valor gerado e sua repartição aos segmentos beneficiários, que são: o pessoal, os

acionistas, o estado e os financiadores externos.

Pode-se citar como áreas de atuação social das empresas:15

a) responsabilidade na geração e manutenção de empregos;

b) responsabilidade no pagamento de salários condignos e seus trabalhadores;

15 Silvério das Neves i Paulo E.V. Viceconti.Contabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.p.308

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19c) responsabilidade de assegurar condições de higiene e segurança no ambiente de

trabalho;

d) papel supletivo ao do Estado de fornecimento de educação e capacidade tecnológica e

gerencial de seus trabalhadores;

e) papel supletivo ao do Estado de fornecimento de planos de previdência e assistência,

que assegurem tratamento de saúde e aposentadoria adequadas aos trabalhadores;

f) respeito aos consumidores, providenciando serviço de atendimento e assistência técnica

adequadas;

g) responsabilidade pelo recolhimento de tributos;

h) responsabilidade supletiva à do Estado na preservação do meio ambiente;

i) fornecimento de alimentação aos trabalhadores;

j) assegurar participação dos trabalhadores em seus lucros

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CAPITULO II

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

2.0 – Aspectos Introdutórios

Com o advento da Responsabilidade Social sendo inserido no contexto das

organizações empresariais, viu-se a necessidade através da Resolução do Conselho Federal

de Contabilidade (CFC) nº 1.010/0516, demonstrar para o público interno e externo a

distribuição da riqueza gerada pela empresa.

O Conselho de Valore Mobiliários (CVM) incentiva a divulgação voluntária

dessa demosntração e através de seu Ofício-Circular CVM/SNC/SEP nº 01/0517 recomenda

que a DVA seja elaborada conforme modelo desenvolvido pela Fundação Instituto de

Pesquisa Contábeis, Atuarias e Financeiras (FIPECAFI). Várias empresas vêm seguindo

esse incentivo da CVM, divulgando a DVA voluntariamente, e muitas vezes auditada18.

16 Anexo1 Silvério das Neves i Paulo E.V. VicecontiContabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.cap.11,p.299 117

18 FIPECAFI, 6ª ed.,2003, p.32

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21Garcia19 ressalta que, o Balanço Patrimonial busca representar a situação

estática do patrimônio da empresa, demonstrando a composição deste e os resultados

financeiros auferidos nos respectivos exercícios.

A Diferença: o lucro torna-se cada vez mais necessário para a sobrevivência

da empresa e o crescimento da nação, com a sua contribuição na remuneração do governo,

porém não se deve nele se ater como único objetivo. Os objetivos, após o resultado do

DVA, demonstram o grau de comprometimento da empresa com a natureza e a sua

biodiversidade, constituída por espécies racionais e irracionais, bem como pelos vegetais,

que se explorados de forma irracional, poderão não ser mais recuperáveis.

O somatório da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) de uma empresa

representa o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) produzido por ela, dentro do total

da produção agregada nacional.

A DVA ou Valor Agregado representa a riqueza criada por uma entidade

num determinado período de tempo, (um ano). Pode-se afirmar que a soma das

importâncias agregadas representa, na verdade, a soma das riquezas criadas.20 É um

instrumento poderoso e auxiliar do Balanço Social, pois, a empresa estará mostrando à

sociedade o quanto contribui para a geração de riquezas no país e como as parcelas por elas

agregadas são distribuídas pelos diversos agentes econômicos que ajudaram a efetivar a

produção.

19 Professora Carolina Garcia, Trabalho de Dissertação apresentada ao curso de pós-graduação Stricto Sensu em sistemas de Gestão da Universidade Fluminense, p.33

20 Silvério das Neves i Paulo E.V. VicecontiContabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.cap.11,p.299

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22Surgiu por influência da França e Alemanha como forma de mensuração da

participação da empresa neste contexto social, abordando um conceito puramente

econômico, evidenciando quanto de valor a empresa agrega durante seu processo

produtivo.

Para Luca21 é um conjunto de informações de natureza econômica. É um

relatório contábil que visa demonstrar o valor da riqueza gerada pela empresa e a

distribuição para os elementos que contribuíram para sua geração.

Estreitamente relacionada com o conceito de responsabilidade social, a DVA

surgiu para atender às necessidades de informações dos usuários sobre o valor da riqueza

criada pela empresa e sua utilização.

O valor adicionado de uma empresa representa o quanto de valor ela agrega

aos insumos que adquire num determinado período e é obtido, de forma geral, pela

diferença entre as vendas ou produção e o total dos insumos adquiridos de terceiros. Este

valor será , ainda igual à soma de toda a remuneração dos esforços consumidos nas

atividades da empresa.22

Trata-se de uma visão diferente em termos de demonstração contábil. Em

geral, as tradicionais demonstrações contábeis estão preocupadas em evidenciar para os

investidores qual o lucro da empresa e como ele é calculado. A Demonstração do Resultado

do Exercício (DRE), por exemplo está mais voltada para um determinado tipo de usuário: o

proprietário da empresa que quer conhecer o valor do seu lucro final. A DRE avalia a parte

da riqueza criada pela empresa (o valor adicionado) que se destina ao proprietário; é o

enfoque do proprietário. E para ele, os salários, juros, impostos etc. são tratados como

despesas, pois na realidade representam reduções de sua parte da riqueza criada, ou seja, do 21 Márcia M.M.Luca. Demonstração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib..p.28, 1998.8 Op.cit.p.28

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23seu lucro. A demonstração do valor adicionado vem evidenciar, além do lucro dos

investidores, a quem pertence o restante da riqueza criada pela empresa.

Isto não significa dizer que a demonstração do resultado do exercício é

incorreta. A DRE atende adequadamente ao seu principal objetivo, que é o de evidênciar o

resultado da empresa aos seus investidores. Entretanto, devido a algumas transformações

socioeconômicas, surgiram diferentes tipos de usuários de informações econômicas-

financeiras, com diferentes tipo de necessidades, também. A demonstração do valor

adicionado surgiu para evidênciar o quanto de valor a empresa adiciona aos insumos que

adquire, bem como sua distribuição aos elementos que contribuíram para essa adição,

atendendo a esses diferentes tipos de usuários.23

A elaboração e a divulgação, pelas empresas, da DVA em muito enriquece a

informação contábil e social, sendo de importância vital para todos que se dedicam à

atividade de analisar demonstrações contábeis/financeiras das organizações.

VALOR ADICIONADO

2.1 - Conceito

Ao subtrair das vendas todas as compras de bens e serviços, obtém-se o

montante de recursos que a empresa gera para remunerar salários, juros, impostos, e

reinvestir em seu negócio. Esses recursos financeiros gerados permitem contemplar o

23 Márcia M.M.Luca. Demonstração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1.ed., p.32-3, 1998

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24montante de valor que a empresa esta agregando (adicionando em conseqüência de sua

atividade). É o Produto Interno Bruto da empresa.24

Uma das formas que ampliam a capacidade de se analisar o desempenho

econômico e social das organizações é por meio do valor econômico agregado aos bens e

serviços adquiridos de terceiros, valor este denominado valor adicionado (valor total da

produção de bens e serviços de um determinado período, menos o custo dos recursos

adquiridos de terceiros, necessários a esta produção), bem como a forma pela qual este está

sendo distribuído entre os diferentes grupos sociais que interagem com suas atividades.25

A esse respeito Tinoco afirmou:

(…)as contas nacionais no Brasil são hoje elaboradas tomando por base dados estatísticos, muitas vezes estimados, que podem estar enviesados. Na medida em que as entidades fossem obrigadas a publicar nos seus relatórios contábeis o valor adicionado ter-se-ia informação mais fidedigna e mais equitativa. Seria um grande passo para o reconhecimento da importância crescente, que a Contabilidade vem tendo, ultimamente, como ciência da comunicação.26

Santos, em trabalho sobre a importância da DVA na relação entre as

empresas multinacionais e os países hospedeiros do capital estrangeiro, afirma o

seguinte:

Há muitas vantagens em se apresentar a Demonstração do Valor Adicionado de uma empresa multinacional em um país que a hospeda. As vantagens apóiam-se no fato de que essa demonstração para estabelecer o interesse da comunidade e de seus legisladores num país qualquer. Isso

24 Sérgio de Iudicibus. Introdução à Teoria da Contabilidade. 2a.ed., São Paulo, p.78, 200025 João E.P.Tinoco. Balanço Social: balanço da transparência corporativa e da concertação social. Revista Brasileira de Contabilidade, nº 135, P.66, 2002.

26 João E.P.Tinoco.Balanço Social: uma abordagem sócio-econômica da contabilidade. Dissertação (Mestrado) – FEA/USP,1984, p.40.

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25daria à empresa a oportunidade para formação de goodwill27, expansão do mercado, redução de conflitos com o governo local e outros grupos da sociedade, e evitaria diversos desgastes políticos. Como conseqüência disso, a empresa provavelmente alcançaria maior crescimento e estabilidade de seus lucros.28

Do ponto de vista dos agentes sociais, importa saber como o valor

adicionado gerado pela entidade é repartido e quais são os segmentos beneficiários.

Estas são:

a) pessoal, que aporta seu trabalho à empresa, recebendo em contrapartida salários e

benefícios sociais;

b) os acionistas, que ao integralizarem o capital da empresa recebem em troca uma

remuneração repartível, o dividendo e outra de caráter não repartível, as reservas;

c) o Estado, via imposto de renda, e outros impostos diretos, indiretos e taxas;

d) os financiadores, aqueles que aportam recursos à empresa a título de financiamento,

sendo remunerados por juros.29

2.2 Importância da Demonstração

Algumas nações exigem que as empresas internacionais que desejem se

instalar no país demonstrem qual o valor adicionado que pretendem gerar. Para estes

27 é comumente definido, de forma não perfeita, como um Ativo Intangível que pode ser identificado pela diferença entre o valor contábil e o valor de mercado de uma empresa.28 Ariovaldo dos Santos. Demonstração do valor adicionado – DVA – um instrumento para medição da geração e distribuição de riqueza nas empresas. São Paulo: Tese de Livre Docência, FEA/USP, 1999, p.100.

29 João E.P.Tinoco. Balanço Social: balanço da transparência corporativa e da concertação social. Revista Brasileira de Contabilidade, nº 135, p.67, 2002.

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26países não é interessante a empresa produzir muito importando muito, o fundamental é

medir a nova riqueza gerada pela empresa (valor adicional no país), bem como a forma

de distribuição dessa riqueza.

A DVA indica de forma clara e precisa a parte da riqueza que pertence

aos sócios ou acionistas, a que pertence aos demais capitalistas que financiam a entidade

(capital de terceiros), a que pertence aos empregados e finalmente a parte que fica com

o governo.

Na Demonstração do Resultado do Exercício à parte de terceiros

(capitalistas, empregados, governo) é considerada como despesas ou custo, porque, do

ponto de vista dos proprietários, esses valores distribuídos representam redução do lucro

e consequentemente redução da parcela que cabe a cada proprietário.

Como se pode observar, a DRE e a DVA têm enfoques bem diferentes e

objetivam fornecer informações sob distintos pontos de vista, o que as torna

complementares e imprescindíveis, pois a elaboração e divulgação de ambas atende de

forma eficaz a necessidade que os usuários possuem de informações adicionais às atuais

demonstrações contábeis obrigatórias30.

2.3 - Empresas Pioneiras na Elaboração da Demonstração do Valor Adicionado

O início da elaboração da DVA deu-se a partir das publicações pioneiras da

Telebrás e de algumas de suas controladas, no exercício de 1990; da Companhia Municipal

30 Silvério das Neves i Paulo E.V. VicecontiContabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.cap.11,p.300

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27de Transportes Coletivos de São Paulo (CMTC), em 1991; e do Banespa, no exercício de

1992. 31

Todas estas demonstrações que têm sido publicadas em jornais econômicos

especializados e divulgadas aos mais diferenciados usuários da informação número 1.010

de 2005, aprovou a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC) termo 3.7, sobre a

Demonstração do Valor Adicionado, como sendo de obrigatoriedade pelas empresas, assim

como as demais demonstrações contábeis.

2.4 - Estrutura e Elaboração da Demonstração do Valor Adicionado

A necessidade de elaboração da DVA surgiu tendo em vista que:

a) A Demonstração do Resultado do Exercício identifica apenas qual a parcela da

riqueza criada que efetivamente permanece na empresa na forma de lucro, logo não

identifica as demais gerações de riquezas;

b) as demais demonstrações financeiras também não são capazes de indicar quanto de

valor (riqueza) a entidade está adicionando ou agregando às mercadorias ou insumos

que adquire; e

c) as demonstrações mencionadas não identificam, ainda, quanto e de que forma foram

distribuídos os valores adicionados ou agregados, ou seja, não identificam de que

forma

foram distribuídas as riquezas criadas pela empresa.32

31 Márcia M.M.Luca. Demonstração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1.ed., p. , 199832 Silvério das Neves i Paulo E.V. VicecontiContabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.cap.11,p.299

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28A Demonstração do Valor Adicionado está estruturada em duas partes, as

quais possuem propósitos diferentes, porém complementares.

A primeira parte da DVA é destinada ao cálculo do Valor Adicionado. Ela

apresenta a Receita Operacional Bruta, o Valor Adicionado Bruto, Valor Adicionado

Líquido, o Valor Adicionado oriundo de terceiros e o Valor Adicionado Total. A diferença

entre o Valor Adicionado Bruto e o Valor Adicionado Líquido é o montante de

depreciação, amortização ou exaustão. Valores que, existindo, devem ser subtraídos do

Valor Adicionado Bruto, evitando-se dupla contagem.

A segunda parte da DVA destina-se a demonstrar a distribuição do Valor

Adicionado Total, apresentando subdivisões de acordo com os grupos a quem se destinou

as parcelas da riqueza gerada.

Ao longo de suas operações, as empresas destinam parcelas da riqueza que

geram, o Valor Adicionado, para alguns grupos sociais, que exercem diferentes influências

sobre suas operações. Tais grupos são:

a) Empregados: na forma de salário, ordenados, comissões, participações nos lucros,

benefícios e encargos sociais;

b) Financiadores: na forma de juros;

c) Governo: na forma de tributos;

d) Acionistas: na forma de dividendos e lucros retidos.33

33 Edmilson P. Souza. Demonstração do Valor Adicionado – evidenciando a distribuição da riqueza gerada pela empresa. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, ano XXXII, n142, jul/ago 2003, p.24.

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29Um esquema geral, porém não exaustivo, da estrutura da DVA é:

QUADRO1 – Geração e Distribuição do Valor Adicionado

Geração do Valor Adicionado

Receita Operacional Bruta – Devoluções e Abatimentos

(-) Materiais e serviços adquiridos de terceiros

(=) Valor Adicionado Bruto

(-) Depreciação, amortização e exaustão

(=) Valor Adicionado Líquido

(+) Receita Financeira/Equivalência Patrimonial (Valor Adicionado oriundo de terceiros)

(=) Valor Adicionado Total

Distribuição do Valor Adicionado

Remuneração do Trabalho:

Direta: Salário, ordenados, etc.

Participação nos lucros

Indireta: Encargos sociais

Financiadores: Juros

Governo: Impostos, contribuições, taxa

Acionistas: Dividendos, lucros retidos

Soma

Fonte: Revista Brasileira de Contabilidade, n’ 142

Para Martins, alguns autores defendem que a depreciação deva ser tratada na

parte referente à Distribuição do Valor Adicionado, como sendo uma retenção. Todavia, a

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30forma apresentada acima é a que vem sendo utilizada, principalmente pelos países

europeus, notadamente os escandinavos (salientando-se aí a Suécia).34

Considerando que no exemplo abaixo não há valores relativos a depreciação,

juros, equivalência patrimonial e outros, a DVA seria:

TABELA 1 – Demonstração do Cálculo do Valor Adicionado

Demonstração do Valor Adicionado (em $ 1,00)

Cálculo do Valor Adicionado

Receita Operacional Bruta – Devoluções e Abatimentos............................14.000

(-) Materiais e serviços adquiridos de terceiros...........................................(5.400)

(=) Valor Adicionado Bruto........................................................................8.600

Distribuição do Valor Adicionado

Empregados...................................................................................................2.900

Mão-de-obra..................................................................................................2.900

Governo.........................................................................................................1.500

Impostos........................................................................................................1.500

Sócias/Acionistas...........................................................................................4.200

Dividendos.....................................................................................................3.200

Lucros retidos................................................................................................1.000

Soma.............................................................................................................8.600

Fonte: Revista Brasileira de Contabilidade, n’ 142

Pode-se verificar que a primeira parte da DVA é dedicada à informação de

natureza econômica. Ela não esta preocupada em demonstrar quem se beneficiou da riqueza

gerada, mas em apurar quanto de riqueza foi gerado.

34 Eliseu Martins. Demostração do valor adicionado. Temática Contábil e Balanços. 1993, p.130

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31Já a segunda parte da DVA promove a junção da informação econômica com

a informação social, na medida em que evidencia quem foi o beneficiário da riqueza

gerada, e em que medida beneficiou-se dela.

A primeira parte da DVA é introdutória, preparativa da seguinte. A segunda

parte contém informação relevante, de natureza socioêconomica.

Quando uma sociedade efetua a produção cria riqueza, a qual é

representada pela diferença entre o valor da renda e o valor pago a terceiros a título de

insumos para a obtenção dos produtos, mercadorias ou serviços. Na verdade, os

fornecedores de insumos também geraram riquezas quando os produziram.

Esta é a razão pela qual são diminuídos, na parte inicial da DVA, o valor

pago a terceiros para a aquisição das mercadorias e serviços vendidos e pela utilização de

insumos e materiais (de limpeza, de escritório, de propaganda e publicidade), bem como

pelos demais consumos administrativos.

É de se notar que a transferência da riqueza aparece na parte inferior da

demonstração, evidenciando a sua efetiva distribuição na forma de pagamento de impostos

para a administração pública (tributos), ou como remuneração do trabalho ou do capital (de

terceiros, pela obtenção do capital sob a forma de empréstimo ou próprio, na forma de risco

assumido pelos proprietários).

Segundo Silvério, a DVA fornece uma visão bem abrangente sobre a real

capacidade de uma sociedade produzir riqueza (no sentido de agregar ou adicionar valor em

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32seu patrimônio) e sobre a forma como distribui essa riqueza entre os diversos fatores da

produção (trabalho, capital próprio ou de terceiros, governo).35

2.5 - Pontos Discutíveis na Elaboração da DVA

2.5.1 - Dificuldades com Valores Totalizados

Uma das grandes dificuldades para a elaboração dessa demonstração por

profissionais externos ao estabelecimento é que existem vários itens nas demonstrações

financeiras tradicionais que não separam o que representa valor adicionado do que

representa compra de insumos de terceiros.

Como exemplo, pode-se mencionar:

a) O Custo dos Produtos Vendidos (CPV), onde não se demonstra o que representa

mão-de-obra e o que são insumos adquiridos de terceiros;

b) O grupo de Despesas Operacionais (Despesas de Vendas, Administrativas/Gerais e

Outras), que não separa o que representa gastos com pessoal do que representa

gastos com materiais e demais insumos adquiridos.36

35 Silvério das Neves i Paulo E.V. VicecontiContabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.cap.11,p.301.36 Silvério das Neves i Paulo E.V. VicecontiContabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.cap.11,p.301.

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332.5.2 - Venda Parcial do Estoque

Na Demonstração do Resultado do Exercício são computados como CPV

todos os gastos referentes à produção do bem vendido. Inclui-se portanto neste

montante mão-de-obra, matéria-prima e gastos gerais de fabricação.

Na DVA estes custos deverão estar perfeitamente discriminados uma vez

que parte deles são considerados como insumos adquiridos de terceiros. A depreciação

deverá ser perfeitamente identificada, os gastos com pessoal e os encargos são

considerados como distribuição do valor adicionado não fazendo parte do cálculo do

Valor Adicionado.

Para que se tenha uma correta mensuração do valor agregado é

necessário que a contabilidade adeque a necessidade de geração desta nova

informação37.

2.5.3 - Depreciação de Bens Reavaliados

As empresas que efetuarem reavaliação de bens de acordo com as normas

legais aplicadas para este fim registrarão a reserva e, em contrapartida, os aumentos

atribuídos aos bens reavaliados. Deverão também, reconhecer a parcela do imposto de

renda e contribuição social gerados em decorrência desta reavaliação como obrigação em

contrapartida do Patrimônio Líquido.

37 Ariovaldo dos santos. Trabalho realizado pela USP-Departamento de Contabilidade e Atuária, 2000,p.16

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34Ressalta Santos que a depreciação dos bens reavaliados provoca a realização

proporcional da reserva de reavaliação constituída bem como o reconhecimento da parcela

devida do imposto de renda para efeito de recolhimento38.

2.5.4 - Ativos Construídos pela Própria Empresa

No momento em que a empresa constrói o seu próprio ativo todos os gastos

incorridos na produção destes bens serão lançados no ativo da entidade e, desta forma, não

compõe o resultado da empresa e em decorrência a empresa deixa de evidenciar esta

riqueza criada.

Uma das alternativas para a resolução deste problema seria a de evidenciar

todos os gastos na construção do bem nas respectivas contas, pessoal, encargos, material,

serviços e reconhecendo em seguida estes valores como distribuição ou retenção do valor

adicionado em um item que poderia ser intitulado como bens destinados ao consumo39.

2.5.5 - Demonstração do Valor Adicionado de Bancos

A DVA das instituições financeiras é diferente da DVA de empresas não

financeiras. Antes de se abordar os aspectos práticos relacionados às diferenças entre os

dois modelos é importante analisar o aspecto conceitual de valor adicionado para essas

instituições.

38 Op.cit.p.2239 Op.cit.23

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35Inicialmente, observa-se que as receitas dos Bancos se originam basicamente

da atividade de intermediação financeira, além de uma parcela menos significativa, relativa

à prestação de serviços.

As receitas de intermediação financeira, receitas financeiras, não constituem

valor adicionado, pois refletem os juros recebidos pelos Bancos, os quais representam parte

do valor adicionado gerado por empresas não financeiras e distribuídos na forma de “juros

do capital de terceiros”.

Sob esse prisma, pode deduzir que os Bancos não geram valor adicionado

pelas receitas financeiras, mas, tão somente, pelas receitas de prestação de serviços. As

receitas financeiras seriam um “valor adicionado recebido em transferência”, tal como são

enquadradas no modelo de DVA proposto pela FIPECAFI40.

As diferenças básicas entre o modelo da DVA para instituições financeiras e

não financeiras são as seguintes:

a) as receitas financeiras são apresentadas como geradoras do valor adicionado e não

como valor adicionado recebido em transferência, (modelo FIPECAFI);

b) as despesas financeiras são apresentadas como redução das receitas financeiras e não

como distribuição do valor adicionado (juros do capital de terceiros)41.

40 Anexo B41 op.cit.p.23

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362.6 - Componentes da Demonstração

2.6.1 - Cálculo do Valor Adicionado (Agregado):

De maneira genérica, o valor adicionado pode ser calculado pela

diferença entre o valor das vendas brutas (já deduzido o valor das devoluções de vendas

e dos descontos incondicionais concedidos) e o valor total dos insumos adquiridos de

terceiros (custo das mercadorias revendidas, matéria-prima e demais insumos

consumidos, serviços adquiridos de terceiros etc.).

2.6.2 - Distribuição do Valor Adicionado (Agregado):

Como distribuição do valor agregado, devem ser considerados os

seguintes valores:

a) mão-de-obra de terceiros (sem computar o valor dos engargos sociais);

b) encargos sociais (INSS e FGTS);

c) impostos e contribuições (valores devidos ao governo municipal, estadual e

federal);

d) juros, aluguéis e outras remunerações a terceiros;

e) lucro líquido (inclusive a parcela não distribuída)42.

42 Silvério das Neves i Paulo E.V. VicecontiContabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.cap.11,p.301-2.

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37

2.7 - Cálculo do Valor Adicionado: Algumas Atividades Específicas

Para alguns setores da atividade econômica, em virtude de suas

particularidades, o cálculo do valor adicionado necessita de análise especial para o seu

cálculo. Abaixo algumas peculiaridades de alguns dos principais setores:

a) Agropecuária: na indústria rural, calcula-se o valor adicionado pela diferença positiva

entre o valor da produção e o valor da matéria-prima transformada. Deve-se levar em

consideração o valor consumido em itens como: adubos e corretivos, defensivos, semente e

mudas, aluguel de máquinas e equipamentos, rações, etc;

b) Indústria da Construção Civil: inclui-se no valor da produção todos os serviços e

obras realizadas no período, incluindo-se as não concluídas. Neste setor, consumo

intermediário refere-se à soma de materiais típicos da construção, insumos de uso geral e

despesas diversas;

c) Aluguel: determina-se pela diferença entre o valor bruto da produção de aluguéis e os

gastos com manutenção, conservação e seguros;

d) Instituições Financeiras: Convencionou-se que, para este setor de atividade, os juros

não serão tratados na sua forma habitual de remuneração de serviços prestados, pois, caso

isso ocorresse, o valor adicionado deste setor seria próximo de zero, ou até negativo. Para

Luca a diferença entre os juros recebidos e os juros pagos, denominada imputação dos

serviços de intermediação financeira, é somada à produção efetiva da atividade. Dos juros

recebidos, subtraí-se o dos dividendos de títulos de participações e outras rendas

provenientes da conta investimento da instituição. A produção efetiva é, então, obtida pela

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38soma das receitas por prestação de serviços e imputação dos serviços de intermediação

financeira43.

2.8 - A DVA e a Demonstração de Resultado do Exercício

A Demonstração de Resultado do Exercício é um relatório cuja ênfase está

no lucro líquido, parcela da riqueza gerada que está destinada aos proprietários, enquanto a

DVA busca evidenciar a própria geração do Valor Adicionado e a sua distribuição. Ambas

tratam da riqueza gerada pela empresa, contudo, sob óticas diferentes.

Como exemplo, cita-se uma pequena doceria, dedicada a produzir compotas

de frutas, em que as proprietárias trabalhem com mais duas funcionárias e, no primeiro ano

de atividade, tendo vendido tudo o que foi por elas produzido, apresentou a seguinte DRE,

profundamente simplificada:

TABELA 2– Cálculo da Demonstração do Resultado do Exercício

Demonstração do Resultado do Exercício (em R$ 1,00)

Receita de Vendas…………………………………………….14.000

(-)Frutas e outros ingredientes………………………………..(4.900)

(-)Mão-de-obra……………………………………………….(3.400)

Mão-de-obra própria……………………………………….(2.900)

Serviços de terceiros………………………………………..( 500)

(-)Impostos……………………………………………………(1.500)

Lucro Líquido………………..……………………………….4.200

Fonte: Revista Brasileira de Contabilidade, n’ 142

43 Márcia M.M.Luca. Demonstração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1.ed., p. , 1998

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39

No presente caso, o destaque do relatório está no Lucro Líquido de $ 4.200,

correspondente à parcela da riqueza gerada pela empresa para as sócias.

Verifica-se, entretanto, que a empresa adquiriu de agentes externos produtos

e serviços num total de $ 5.400 (frutas e outro ingredientes + serviços de terceiros), agregou

seu trabalho, e vendeu sua produção por $ 14.000, ou seja, o valor de suas vendas é $ 8.600

maior que os produtos e serviços adquiridos de seus fornecedores e prestadores de serviços.

Esta diferença, a riqueza gerada internamente na empresa, é o seu Valor Adicionado.

Pode-se então afirmar que, apesar de o Lucro Líquido ter sido de apenas $

4.200, o Valor Adicionado pela empresa foi de $ 8.600, ou seja:

TABELA 3 – Valor Adicionado

Receita de vendas………………………………………….14.000

(-)Frutas e outros ingredientes…………………………….(4.900)

(-)Mão-de-obra de terceiros……………………………….( 500)

Valor Adicionado…………………………………………..8.600

Fonte: Revista Brasileira de Contabilidade, n’ 142

Souza ressalta que, o Valor Adicionado é quantitativamente representado

pela diferença entre a receita total e os produtos e serviços intermediários adquiridos de

terceiros, denominando-se este último agregado de consumo intermediário, cuja subtração

é pertinente, em virtude de os valores adquiridos de agentes externos à empresa

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40representarem o Valor Adicionado por seus fornecedores. Caso tais não fossem subtraídos

daqueles gerados internamente, dariam lugar a uma dupla contagem.44

Existem duas formas de reconciliarmos a DVA com a DRE:

a) Subtraindo o Valor Adicionado constante da DVA todos os recursos gastos

internamente na geração da riqueza, os quais apresentam-se na DRE com a

denominação de Custos dos Produtos/Mercadorias Vendidos ou Despesas45 ,

encontraremos o valor do Lucro Líquido demonstrado na DRE;

b) Pode-se também chegar ao Lucro Líquido pela soma das parcelas de Dividendos e

Lucros Retidos constantes da DVA46.

Segundo Martins 47, deve ser entendido que, no fundo, a Demonstração do

Valor Adicionado nada mais é do que uma readaptação dos próprios itens da Demonstração

do Resultado.

É conveniente destacar a dificuldade que terá quem, externamente à

empresa, tenta elaborar a DVA a partir da DRE por ela apresentada.

Normalmente na DRE não ocorre a segregação dos recursos consumidos em

função de sua origem (interna ou externa à empresa).

44 Edmilson P. Souza. Demonstração do Valor Adicionado – evidenciando a distribuição da riqueza gerada pela empresa. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, ano XXXII, n 142, jul/ago 2003, p.23.

45 Márcia M.M.Luca. Demonstração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1.ed., p.48 , 199846 Op.cit.p. Márcia M.M.Luca. Demonstração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib.1.ed., p. , 199847 Edmilson P. Souza. Demonstração do Valor Adicionado – evidenciando a distribuição da riqueza gerada pela empresa. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, ano XXXII, n 142, jul/ago 2003, p.26.

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412.9 - Valor Adicionado sob o Ponto de Vista Econômico e Contábil

Pelo fato da contabilidade montar a DVA a partir da DRE é que passa a

existir uma diferença entre o conceito de valor adicionado puro da economia e o conceito

contábil. Na ciência econômica, o conceito de valor adicionado é em função da produção e

não da venda.

Segundo Santos48, o valor adicionado sob o ponto de vista econômico é

calculado a partir da produção, enquanto na contabilidade utilizam-se as vendas, que são

registradas com base no regime de competência dos exercícios.

Para Rossetti49, o valor adicionado em cada unidade produtora é a

contribuição desta para o Produto Interno Bruto, medida em valor de produtor. O PIB

representa a contribuição ao produto social das diversas atividades econômicas, não

incluindo o consumo intermediário absorvido por essas atividades, bem como os impostos

indiretos líquidos de subsídios.

A Demonstração Contábil do Valor Adicionado na forma como está sendo

utilizada no Brasil não oferece condições de forma concreta para que se faça uma análise

sobre a contribuição de cada entidade para a formação do PIB. Assim sendo, mesmo que a

entidade publique esta demonstração não poderá correlacionar com o PIB do país no ano

pelo fato do modelo atual da contabilidade apresentar a Demonstração do Valor Agregado

partindo da Demonstração do Resultado do Exercício, que evidencia apenas a produção

48 Ariovaldo dos Santos i Claudia M.Parmezzano, temática Contábil de Balanços – IOB TC 1/9949 José P.Rosseti, Contabilidade Social, São Paulo, 1992

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42vendida. Portanto, se a empresa produzir e não vender, não apurará valor adicionado, mas

economicamente o valor adicionado surgirá, pois ocorreu uma produção.

Imaginemos que a produção total de uma empresa no mês de dezembro não

seja vendida permanecendo no estoque com a seguinte composição

TABELA 4 – Estoque da Produção

GASTOS DE PRODUÇÃO $

Salários 10.000

Encargos Sociais e Trabalhistas 8.500

Matéria Prima 20.000

Serviços de Terceiros 1.500

Depreciação 5.000

Outros Gastos de Produção 25.000

Total 70.000

IPI e ICMS a recuperar sobre matéria-prima 5.000

Vamos supor também, que a empresa não possua estoque inicial no mês de

dezembro e que o estoque final seja representado unicamente pelo produto acabado em

31/12/XX no valor de R$ 65.000.

No cálculo tradicional da contabilidade, como a empresa não efetuou venda

em dezembro, pelo princípio da competência, não gerou receitas nem despesas, assim a

DRE só demonstra as vendas efetuadas de janeiro a novembro. A DVA constituída partindo

da visão contábil em seus dados originados da DRE, neste caso também a DVA só

apresenta a riqueza gerada no período de janeiro a novembro.

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43A empresa apresentou a seguinte Demonstração do Resultado do Exercício

findo em 31/12:

TABELA 5 - Demonstração do Resultado do Exercício

$

RECEITA BRUTA 635.000,00

(-) Impostos s/vendas (63.500,00)

RECEITA LÍQUIDA 571.500,00

(-) CPV (265.000,00)

LUCRO BRUTO 306.500,00

(-) Despesas Operacionais (202.350,00)

Comissões 10.350,00

Propaganda 18.500,00

Salários e Encargos 36.400,00

Depreciações 23.500,00

Energia e Comunicações 47.800,00

Juros 65.800,00

LUCRO OPERACIONAL 104.150,00

(+) Outras Receitas não Operacionais 3.500,00

LUCRO ANTES DO IR (imposto de renda) 107.650,00

(-) Provisão para IR (26.912,50)

LUCRO LÍQUIDO 80.737,50

A partir da DRE acima a empresa apresentou a seguinte DVA:

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44TABELA 6- Demonstração do Valor Adicionado

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO DO EXERCÍCIO

DESCRIÇÃO Em milhares de reaisLEGISLAÇÃO SOCIETÁRIA

%

1- Receitas 638.5001.1- Vendas de mercadorias, produtos e serviços 635.0001.2 – Não Operacionais 3.5002- INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS 271.300(inclui os valores dos impostos - ICMS e IPI)

2.1 – Matérias-primas consumidas 205.0002.2 –Matériais, energia, serviços de terceiros e outros 66.3003- VALOR ADICIONADO BRUTO (1-2)

367.200

4- RETENÇÕES 73.5004.1 – Depreciação, amortização e exaustão

73.500

5 – VALOR ADICIONADO LÍQUIDO

293.700

PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3-4)6 - VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR 293.700 (5+6) (RIQUEZA CRIADA PELA EMPRESA)

7-DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO 293.7007.1 – Pessoal e encargos 86.750 29,54%7.2 – Impostos, taxas e contribuições 60.413 20,57%7.3 – Juros e alugueis 65.800 22,40%7.4 – Juros s/capital pp e dividendos 30.000 10,21%7.5 – Lucros retidos / prejuízos do exercício

50.738 17,28%

De acordo com o exemplo acima o valor adicionado com base nas vendas é

equivalente a R$ 293.700, utilizado para despesa com pessoal, impostos, juros, aluguéis,

dividendos e retenção de lucros.

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45Para que efetivamente a contabilidade contribua para a identificação e a

participação de cada empresa no PIB, é necessário que seja evidenciado na Demonstração

do Valor Adicionado a riqueza efetivamente gerada pela entidade em termos econômicos.

Uma alternativa para a aproximação deste valor seria a elaboração da DVA considerando o

conceito de produção considerando-se as vendas e a produção do período estocada.

Desta forma utilizando os dados já discriminados poderíamos elaborar a

seguinte DVA:

TABELA 7 – Novo Exemplo da Demosntração do Valor Adicionado

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

1- RECEITAS 638.500

1.1)Vendas de Mercadorias, produtos e serviços 635.500

1.2) Não Operacionais 3.500

2- VARIAÇÃO DO ESTOQUE DO PERÍODO 70.000

3- INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS 322.000

(inclui os valores dos impostos – ICMS e IPI)

3.1) Matérias-primas consumidas 230.000

3.2) Materiais, energia, serviços de terceiros e outros 92.800

4- VALOR ADICIONADO BRUTO (1+2-3) 385.700

5- RETENÇÕES 78.500

5.1) Depreciação, amortização e exaustão 78.500

6- VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA

ENTIDADE (3-4) 307.200

7-VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5+6) –

(RIQUEZA CRIADA PELA EMPRESA) 307.200

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468- DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO 307.200

8.1) Pessoal e Encargos 105.250 34.26%

8.2) Impostos, taxas e contribuições 55.412 18,04%

8.3) Juros e Aluguéis 65.800 21,42%

8.4) Juros s/capital próprio e dividendos 30.000 9,77%

8.5) Lucros retidos/prejuízos do exercício 50.738 16,52%

Este modelo reflete melhor o valor adicionado pela empresa, podendo assim,

ser um parâmetro para composição do PIB neste período.

Para chegarmos a um valor adicionado de R$ 307.200, acrescentamos no

item 3.1 o valor da matéria-prima consumida nos produtos estocados – R$ 25.000 (20.000

+ 5.000 referente aos impostos), no item 3.2 os serviços de terceiros e gastos gerais – R$

26.500, no item 5.1 acrescentamos R$ 5.000

A economia baseada em estudos estatísticos divulga anualmente através do

Produto Interno Bruto o nível em todos os seus setores, ou seja, a produção de todos os

serviços e mercadorias finais.

O PIB divulgado anualmente é calculado através do somatório da produção

do país no ano indicado, desta forma, o que foi produzido e o desempenho da economia.

Para Simonsen, denomina-se valor adicionado em determinada etapa de

produção, à diferença entre o valor bruto da produção e os consumos intermediários nessa

etapa. Assim, o produto nacional pode ser concebido como a “soma dos valores

adicionados, em determinado período de tempo, em todas as etapas dos processos de

produção do país”.

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47A Demonstração do Valor Adicionado, que também pode integrar o Balanço

Social, constitui, desse modo, uma importante fonte de informações à medida que apresenta

esse conjunto de elementos que permitem a análise do desempenho econômico da empresa,

evidenciando a geração de riqueza, assim como dos efeitos sociais produzidos pela

distribuição dessa riqueza.50

50 http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/demonstracaodovalor. Acesso em 10/05/05

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CONCLUSÃO

A Contabilidade possui ferramentas que capacita na tomada de decisões, que

causam impacto no processo decisório do usuário das suas informações. Os relatórios

contábeis são seu produto final, e traduzem da forma mais clara possível a realidade

financeira e econômica da empresa.

Não desmerecendo as demais demonstrações, a Demonstração do Valor

Adicionado, que têm finalidade quantitativa, é de grande utilidade neste contexto, por se

tratar de um relatório de cunho social, na forma quantitativa e evidenciando toda geração de

riqueza e sua distribuição aos elementos que contribuíram para sua formação.

Pode ser utilizada também como fonte para fins de avaliação

macroeconômicas como aplicação no cálculo do PIB.

O modelo aplicado neste trabalho foi desenvolvido pela FIPECAFI (em

anexo) que pode servir de base como incentivo para sua elaboração a todas as empresas. O

Conselho Federal de Contabilidade tomando consciência de sua importância no contexto

social, até mesmo por se tratar de uma demonstração que compõe o Balanço Social, sendo

este um instrumento adequado para representar as variações ocorridas na empresa, do ponto

de vista social. É nesse contexto que se manifesta à necessidade de se ter uma

demonstração econômico-financeira que propicie informações que resultem compreensíveis

e transparentes a qualquer categoria de usuário, mesmo que possua conhecimentos básicos

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49em matéria contábil. Assim surge a Demonstração do Valor Adicionado, (apresentada em

recente Resolução do CFC) denominada DVA, que assume o papel de demonstração

contábil complementar, visando informar sobre a participação de todos os fatores

econômicos que intervieram na criação de valor para a empresa.

No decorrer deste estudo foram observados alguns pontos positivos, no

sentido de permitir obter uma dupla visão da realidade empresarial, além de possibilitar o

desenvolvimento de um efetivo sistema de avaliação dos gestores e empresas. O trabalho

concluiu, através de uma discussão teórica que os aspectos principais da Demonstração do

Valor Adicionado é fornecer dados para a tomada de decisão e sistema de controle de

desempenho, permitido o conhecimento da contribuição econômica da empresa para a

renda nacional ou para seu ambiente econômico ou social, demonstrando ainda a riqueza

gerada pela empresa como também sua distribuição.

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ANEXO 1

Resolução CFC nº 1.010/05

Aprova a NBC T 3.7 – Demonstração do Valor Adicionado

O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais,

CONSIDERANDO que as Normas Brasileiras de Contabilidade e suas Interpretações Técnicas constituem corpo de doutrina contábil que estabelece regras de procedimentos técnicos a serem observadas quando da realização de trabalhos;

CONSIDERANDO que a forma adotada de fazer uso de trabalhos de instituições com as quais o Conselho Federal de Contabilidade mantém relações regulares e oficiais está de acordo com as diretrizes constantes dessas relações;

CONSIDERANDO que o Grupo de Trabalho das Normas Brasileiras de Contabilidade, instituído pelo Conselho Federal de Contabilidade, atendendo ao que está disposto no Art. 1º da Resolução CFC nº 751, de 29 de dezembro de 1993, elaborou a NBC T 3.7 – Demonstração do Valor Adicionado.

CONSIDERANDO que por se tratar de atribuição que, para o adequado desempenho,

deve ser empreendida pelo Conselho Federal de Contabilidade em regime de franca, real

e aberta cooperação com o Banco Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários,

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51o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, o Instituto Nacional de Seguro Social,

o Ministério da Educação, a Secretaria Federal de Controle, a Secretaria da

Receita Federal, a Secretaria do Tesouro Nacional e a Superintendência de Seguros

Privados,

RESOLVE:

Art. 1º Aprovar a NBC T 3.7 – Demonstração do Valor Adicionado.

Art. 2º Esta Resolução entra em vigor a partir da data de sua publicação.

Brasília, 21 de janeiro de 2005.

Contador JOSÉ MARTONIO ALVES COELHOPresidente

Ata CFC nº 867/05.

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NORMA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE

NBC T 3.7 – DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

3.7.1. CONCEITUAÇÃO E DISPOSIÇÕES GERAIS

3.7.1.1. Esta norma estabelece procedimentos para evidenciação de informações econômicas e financeiras, relacionadas ao valor adicionado pela entidade e sua distribuição.

3.7.1.2. Demonstração do Valor Adicionado é a demonstração contábil destinada a evidenciar, de forma concisa, os dados e as informações do valor da riqueza gerada pela entidade em determinado período e sua distribuição.

3.7.1.3. As informações devem ser extraídas da contabilidade e os valores informados devem ter como base o princípio contábil da competência.

3.7.1.4. Caso a entidade elabore Demonstrações Contábeis Consolidadas, a Demonstração do Valor Adicionado deve ser elaborada com base nas demonstrações consolidadas, e não pelo somatório das Demonstrações do Valor Adicionado individuais.

3.7.2. ESTRUTURA DA DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

3.7.2.1. A Demonstração do Valor Adicionado deve ser apresentada de forma

comparativa mediante a divulgação simultânea de informações do período

atual e do anterior.

3.7.2.2. A demonstração referida no item anterior, quando divulgada, deve ser efetuada como informação complementar às Demonstrações Contábeis, não se confundindo com as notas explicativas.

3.7.2.3. A Demonstração do Valor Adicionado deve evidenciar os componentes

abaixo:

a) a receita bruta e as outras receitas;

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53

b) os insumos adquiridos de terceiros;

c) os valores retidos pela entidade;

d) os valores adicionados recebidos (dados) em transferência a outras entidades;

e) valor total adicionado a distribuir; e

f) distribuição do valor adicionado.

3.7.2.4. No grupo de receita bruta e outras receitas, devem ser apresentados:

a) as vendas de mercadorias, produtos e serviços, incluindo os valores dos tributos incidentes sobre essas receitas, ou seja, o valor correspondente à receita bruta, deduzidas as devoluções, os abatimentos incondicionais e os cancelamentos;

b) as outras receitas decorrentes das atividades afins não-constantes da letra “a” deste item, acima, ou não constantes do item 3.7.2.8, a seguir;

c) os valores relativos à constituição (reversão) de provisão para créditos duvidosos;

d) os resultados não-decorrentes das atividades-fim, como: ganhos ou perdas na baixa de imobilizado, investimentos, etc., exceto os decorrentes do item 3.7.2.8 a seguir.

3.7.2.5. No grupo de insumos adquiridos de terceiros, devem ser apresentados:

a) materiais consumidos incluídos no custo dos produtos, mercadorias e serviços vendidos;

b) demais custos dos produtos, mercadorias e serviços vendidos, exceto gastos com pessoal próprio e depreciações, amortizações e exaustões;

c) despesas operacionais incorridas com terceiros, tais como: materiais de consumo, telefone, água, serviços de terceiros, energia;

d) valores relativos a perdas de ativos, como perdas na realização de estoques ou investimentos, etc.

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543.7.2.6. Nos valores constantes dos itens “a”, “b” e “c” acima, devem ser

considerados todos os tributos incluídos na aquisição, recuperáveis ou não.

3.7.2.7. Os valores retidos pela entidade são representados pela depreciação, amortização e exaustão registrados no período.

3.7.2.8. Os valores adicionados recebidos (dados) em transferência a outras entidades correspondem:

a) ao resultado positivo ou negativo de equivalência patrimonial;

b) aos valores registrados como dividendos relativos a investimentos avaliados ao custo;

c) aos valores registrados como receitas financeiras relativos a quaisquer operações com instituições financeiras, entidades do grupo ou terceiros, exceto para entidades financeiras que devem classificá-las conforme descrito no item 3.7.2.4; e

d) aos valores registrados como receitas de aluguéis ou royalties, quando se tratar de entidade que não tenha como objeto essa atividade.

3.7.2.9. No componente relativo à distribuição do valor adicionado, devem constar:

a) colaboradores – devem ser incluídos salários, férias, 13º salário, FGTS, seguro de acidentes de trabalho, assistência médica, alimentação, transporte, etc., apropriados ao custo do produto ou ao serviço vendido ou ao resultado do período, exceto os encargos com o INSS, SESI, SESC, SENAI, SENAT, SENAC e outros assemelhados. Fazem parte desse conjunto, também, os valores representativos de comissões, gratificações, participações, planos privados de aposentadoria e pensão, seguro de vida e acidentes pessoais;

b) governo – devem ser incluídos impostos, taxas e contribuições, inclusive as contribuições devidas ao INSS, SESI, SESC, SENAI, SENAT, SENAC e outros assemelhados, imposto de renda, contribuição social, ISS, CPMF, todos os demais tributos, taxas e contribuições. Os valores relativos a ICMS, IPI, PIS, Cofins e outros assemelhados devem ser considerados os valores devidos ou já recolhidos aos cofres públicos, representando a diferença entre os

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55impostos incidentes sobre as vendas e os valores considerados dentro do item "Insumos adquiridos de terceiros". Como os tributos são, normalmente, contabilizados no resultado como se devidos fossem, e os incentivos fiscais, quando reconhecidos em conta de reserva no patrimônio líquido, os tributos que não forem pagos em decorrênciade incentivos fiscais devem ser apresentados na Demonstração do Valor Adicionado como item redutor do grupo de tributos;

c) agentes financiadores – devem ser consideradas, neste componente, as despesas financeiras relativas a quaisquer tipos de empréstimos e financiamentos com instituições financeiras, entidades do grupo ou outras e os aluguéis (incluindo os custos e despesas com leasing) pagos ou creditados a terceiros, exceto para entidades financeiras que devem classificá-las conforme descrito no item 3.7.2.5;

d) acionistas – incluem os valores pagos ou creditados aos acionistas, a título de juros sobre o capital próprio ou dividendos. Os juros sobre o capital próprio apropriados ou transferidos para contas de reservas no patrimônio líquido devem constar do item "Lucros retidos";

e) participação dos minoritários nos "Lucros retidos" – deve ser incluído neste componente, aplicável às Demonstrações Contábeis Consolidadas, o valor da participação minoritária apurada no resultado do exercício, antes do resultado consolidado;

f) retenção de lucro – deve ser indicado neste componente o lucro do período destinado às reservas de lucros e eventuais parcelas ainda sem destinação específica.

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56

3.7.3. DISPOSIÇÕES FINAIS

3.7.3.1. Além das informações contidas nos itens 3.7.2.4 a 3.7.2.9, a entidade deve acrescentar ou detalhar outras linhas na Demonstração do Valor Adicionado quando o montante e a natureza de um item ou o somatório de itens similares forem de tal magnitude que a apresentação em separado ajuda na apresentação mais adequada da Demonstração do Valor Adicionado.

3.7.3.2. A Demonstração do Valor Adicionado deve ser consistente com a

demonstração do resultado e conciliada em registros auxiliares mantidos

pela entidade.

3.7.3.3. A Demonstração do Valor Adicionado deve conter representação

percentual participativa.

3.7.3.4. As informações contábeis contidas na Demonstração do Valor Adicionado

são de responsabilidade técnica de contabilista registrado no Conselho

Regional de Contabilidade.

3.7.3.5. A Demonstração do Valor Adicionado deve ser objeto de revisão ou auditoria se a entidade possuir auditores externos independentes que revisem ou auditem suas Demonstrações Contábeis.

3.7.3.6. Segue modelo exemplificativo da Demonstração do Valor Adicionado.

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57DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO DOS EXERCÍCIOS FINDOS EM 31 DE DEZEMBRO, EM MILHARES DE REAIS

20X1 % 20X0 %

1-RECEITAS

1.1. Vendas de mercadoria, produtos e serviços xxx xxx

1.2. Provisão para devedores duvidosos xxx xxx

1.3. Resultados não-operacionais xxx xxx

2-INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS

2.1. Materiais consumidos (xxx) (xxx)

2.2. Outros custos de produtos e serviços vendidos (xxx) (xxx)

2.3. Energia, serviços de terceiros e outras despesas operacionais

(xxx) (xxx)

2.4. Perda na realização de ativos (xxx) (xxx)

3 – RETENÇÕES

3.1. Depreciação, amortização e exaustão (xxx) (xxx)

4 -VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE

xxx xxx

5 - VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA5.1. Resultado de equivalência patrimonial e dividendos

de investimento avaliado ao custoxxx xxx

5.2. Receitas financeiras xxx xxx

5.3. Aluguéis e royalties xxx xxx

6 - VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR xxx 100% xxx 100%

7 - DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO

7.1. Empregados

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58Salários e encargos xxx Y% xxx Y%

Comissões sobre vendas xxx Y% xxx Y%

Honorários da diretoria xxx Y% xxx Y%

Participação dos empregados nos lucros xxx Y% xxx Y%

Planos de aposentadoria e pensão xxx Y% xxxY%

7.2. Tributos

Federais xxx Y% xxx Y%

Estaduais xxx Y% xxx Y%

Municipais xxx Y% xxx Y%

Menos: incentivos fiscais (xxx) Y% (xxx) Y%

7.3. Financiadores

Juros xxx Y% xxx Y%

Aluguéis xxx Y% xxx Y%

7.4. Juros sobre capital próprio e dividendos xxx Y% xxx Y%

7.5. Lucros retidos/prejuízo do exercício xxx Y% xxx Y%

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59

BIBLIOGRAFIA

Balanço Social e Contabilidade de Recursos Humanos. Revista NIFE, n’3, São Paulo, nov./1996.

Balanço Social: uma abordagem sócio-econômica da contabilidade. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 1984.

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Demonstração do Valor Contábil. Disponível em:http://www.portaldacontabilidade/tematica/demonstracaodovalor. Acesso em:06/05/05.

GARCIA, Carolina, Trabalho de Dissertação apresentada ao curso de pós-graduação Stricto-Sensu em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense – A Importância da Qualidade do Balanço Social na Gestão de Negócios: Um contribuição para aplicação em instituições educacionais privadas de ensino superior.

IUDÍCIBUS, Sérgio de i MARION, José Carlos. Introdução à Teoria da Contabilidade, 2.ed.,São Paulo:Atlas, 2000.

LUCA, Márcia M.M.. Demonstração do Valor Adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do pib. São Paulo: Atlas, 1998 .

NEVES, Silvério das i VICECONTI, Paulo E.V. Contabilidade Avançada e Análise das Demonstrações Financeiras. 12ª ed.São Paulo:Frase Editora, 2003.

NUNES, Antoni Carlos.Balanço Social:Responsabilidade Social e Ambiental,Pensar Contábil.Rio de Janeiro,n.09,p.27,ago/out,2000.

PAIVA, Simone Bastos. Cidadania Empresarial: aspectos sociais e contábeis. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, ano XXX, nº 129, maio/jun, 2001.

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60PETRELLI, Cristina Melim. O Balanço Social como uma ferramenta gerencial no processo de transparência entre universidade e sociedade: cidadania empresarial. Revista Brasileira de Contabilidade, ano XXXIII, nº 146, p.50-1, mar/abr, 2004.

SANTOS, Ariovaldo dos. Demonstração do Valor Adicionado – DVA – um instrumento para medição da geração e distribuição de riqueza nas empresas. São Paulo: Tese de Livre Docência, FEA/USP, 1999.

SILVA, Valter Roberto i SOUZA, Marcelo Erédia. – Demonstração do Valor Adicionado: A importância de conhecer a entidade e seu valor de contribuição na sociedade. Revista Pensar Contábil. Rio de Janeiro, p.26/33, fev/mar/abr, 2005.

SOUSA, Edmilson Patrocínio. Demonstração do Valor Adicionado – evidenciando a distribuição da riqueza gerada pela empresa. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, ano XXXII, n 142, p.21-6, jul/ago, 2003.

TINOCO, João E.Prudêncio. Balanço Social: balanço da transparência corporativa e da conservação social. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, ano XXXI, nº 135, maio/jun, 2002.

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61

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO...........................................................................................2

AGRADECIMENTO .........................................................................................3

RESUMO............................................................................................................4

METODOLOGIA ..............................................................................................5

SUMÁRIO ........................................................................................................6

INTRODUÇÃO .................................................................................................7

CAPÍTULO I

BALANÇO SOCIAL ........................................................................................9

1.1 -Surgimento do Balanço Social................................................................. 12

1.2 -Surgimento no Brasil..................................................................................13

1.3-Balanço Social e o meio ambiente..............................................................16

1.4-Balanço Social – um enfoque econômico...................................................17

CAPÍTULO II

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO.........................................20

2.1. – Conceito..................................................................................................23

2.2 – Importância da Demonstração............................................................... 25

2.3 – Empresas pioneiras na Elaboração da Demonstração do

Valor Adicionado.............................................................................................26

2.4 – Estrutura e Elaboração da Demonstração do Valor Adicionado.............27

2.5- Pontos discutíveis na Elaboração da DVA...............................................32

2.5.1- Dificuldade com valores totalizados..................................................32

2.5.2 – Venda Parcial do Estoque................................................................33

2.5.3 - Depreciação de bens Reavaliados...................................................33

2.5.4 – Ativos Construidos pela própria empresa.......................................34

2.5.5 – Demonstração do Valor Adicionado de Bancos............................34

2.6 – Componentes da Demonstração.............................................................36

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62 2.6.1- Cálculo do valor Adicionado (Agregado).........................................36

2.6.2 – Distribuição do Valor Adicionado (Agregado).............................36

2.7- Cálculo do Valor Adicionado: Algumas Atividades Específicas..........37

2.8 – A DVA e a Demonstração de Resultado do Exercício........................38

2.9 – Valor Adicionado sob o ponto de vista Econômico.............................41

CONCLUSÃO.................................................................................................. 48

ANEXO 1 .........................................................................................................50

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.................................................................. 59

ÍNDICE............................................................................................................ 61

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO E SUA

IMPORTÂNCIA PARA EMPRESAS E SOCIEDADE

Autor: RENATA LOURENÇO DE MORAIS

Data da entrega: 22/11/06

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