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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA INDISCIPLINA Por: Cássia Calil Carneiro da Silva Orientadora Profª Ms. Ana Cristina Guimarães Rio de Janeiro 2009

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA INDISCIPLINA Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA INDISCIPLINA

Por: Cássia Calil Carneiro da Silva

Orientadora

Profª Ms. Ana Cristina Guimarães

Rio de Janeiro

2009

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FOLHA DE ROSTO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA INDISCIPLINA

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Orientação Educacional e

Pedagógica.

Por: Cássia Calil Carneiro da Silva

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AGRADECIMENTOS A Deus, por me dar força de vontade

para continuar estudando e cada vez

mais me qualificando

profissionalmente. A minha família que

está presente em todos os momentos

da minha vida.

Muito Obrigada!

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a educadores,

pais, e em especial a meu filho e

alunos, para que possam refletir sobre

a importância de estabelecer e

respeitar limites para uma vida em

sociedade procurando buscar um

mundo melhor.

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"A principal meta da educação é criar

homens que sejam capazes de fazer

coisas novas, não simplesmente repetir

o que outras gerações já fizeram.

Homens que sejam criadores,

inventores, descobridores. A segunda

meta da educação é formar mentes

que estejam em condições de criticar,

verificar e não aceitar tudo que a elas

se propõe. "

(Jean Piaget)

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RESUMO

Este estudo buscou analisar o papel da Orientação Educacional e suas

atribuições, e como o Orientador Educacional pode contribuir na relação

professor-aluno, já que esta pode levar a questões indisciplinares. Verificou-se

que a indisciplina pode ser causada por diferentes fatores: a escola, a família, a

sociedade. Observou-se que a ação do Orientador Educacional é de suma

importância na relação professor – aluno, pois os incentiva e promove ações de

humanização das relações, do aluno e do ato de educar.

Palavras chave: Orientador educacional – Indisciplina – Aluno - Professor

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METODOLOGIA

Esta pesquisa objetivou investigar o papel da Orientação Educacional, com a

questão da sua relação e intervenção nos casos de indisciplina, abordando a situação do

aluno, professore família. e como a ação do Orientador Educacional pode auxiliá-los.

Optou-se por uma pesquisa bibliográfica com abordagem de cunho qualitativo e caráter

exploratório. Dentre os autores pesquisados destacam-se Içami Tiba, Tânia Zagury,

Paulo Freire, Celso Vasconcellos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

CAPÍTULO I – INDISCIPLINA.......................................................................... 15

1.1...– O que é indisciplina?...........................................................................15

1.2 – Implicações de alguns fatores na indisciplina no ambiente escolar .... 20

1.3 – Indisciplina e a relação professor / aluno ............................................ 24

1.4 – Limites, regras e indisciplina ............................................................... 27

1.5 – Indisciplina na escola e violência ........................................................ 31

CAPÍTULO II – AS DIFERENTES CAUSAS QUE A INDISCIPLINA PODE

TER....................................................................................................................34

2.1 – Família ................................................................................................ 34

2.2 – Alunos ................................................................................................. 35

2.3 – Grupos e turmas.................................................................................. 36

2.4 – A Escola .............................................................................................. 36

2.5 – Programas........................................................................................... 37

2.6 – Regulamentos disciplinares ................................................................ 38

2.7 – Professores ......................................................................................... 38

2.8 – Sociedade ........................................................................................... 39

CAPÍTULO III – POSTURA DO ORIENTADOR EM RELAÇÃO À

INDISCIPLINA................................................................................................... 40

3.1 – Preparo do Orientador para lidar com alunos-problemas.................... 40

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3.2 – Importância da orientação para melhoria comportamental dos alunos

em relação aos professores: ........................................................................ 45

CAPÍTULO IV – A CONTRIBUIÇÃO DO ORIENTADOR PARA UMA

EDUCAÇÃO COM LIMITES............................................................................. 49

CAPÍTULO V – ALTERNATIVAS DESENVOLVIDAS PELO ORIENTADOR

EDUCACIONAL ............................................................................................... 55

5.1 – Ações preventivas da indisciplina e agressividade através de temas

transversais.................................................................................................. 59

CONCLUSÃO................................................................................................... 63

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 67

ÍNDICE ............................................................................................................. 70

FOLHA DE AVALIAÇÃO .................................................................................. 72

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INTRODUÇÃO

A indisciplina escolar não representa somente um desafio ao trabalho

dos orientadores, mas um convite para se repensar a própria idéia de

educação. Nessa última perspectiva, as questões de indisciplina poderiam nos

impulsionar a repensar encaminhamentos pedagógicos que sejam capazes de

relacionar de um modo diferente a diversidade de atores, recursos e ambientes

educacionais, a rever as finalidades do trabalho de orientação educacional, e

sobre tudo a buscar novas fontes de significado para a experiência pedagógica.

A expansão da indisciplina escolar tem sido observada nos diferentes

níveis educacionais. Esse cenário parece alertar sobre a importância de uma

mudança de perspectiva, sobre a necessidade de pensar a diversidade das

expressões de indisciplina como expressão de uma constelação complexa de

aspectos em crise na escola, tais como o próprio sentido da escolarização, o

papel dos professores, as formas de aprendizagem, a relevância do que está

no currículo, e a própria idéia de escola como um local de muito ensino e nem

tanto de emancipação.

Em resposta à pergunta sobre o que fazer diante da indisciplina dos

alunos, destacava-se como fundamento do trabalho pedagógico a autoridade

formal dos professores, a sua posição hierárquica e conhecimento. Nesse

contexto a idéia de disciplina assumia um caráter sobre tudo de controle e

punição. Diante daquela mesma pergunta, está claro que precisamos buscar

respostas diferentes.

As instituições de ensino, os currículos e de um modo geral a vida nos

ambientes escolares, apresentam diferentes desafios, outras possibilidades e

exigências mais complexas. Os atos disciplinadores característicos dos anos

50, baseados em controle comportamental, hoje parecem pouco pedagógicos,

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atrativos e mesmo efetivos. Há também a questão da ilegalidade de

determinados procedimentos punitivos que eram praticados nas escolas.

Questiona-se as formas de agir diante da indisciplina, precisa-se de

novas concepções, que sustentem ações novas, que façam sentido nas

circunstâncias atuais e diante dos dilemas com os quais os educadores estão

se defrontando. No interior de muitas instituições de Educação Básica, tem se

verificado uma tendência de elevação no volume e diversidade das expressões

de indisciplina. Tais expressões estariam não somente se intensificando, mas

também se complexificando, de tal forma a sugerir uma espécie de "evolução"

na indisciplina escolar. Diante desse cenário, parece sobressair a necessidade

de se pensar em mudanças amplas na escola, mudanças de paradigma, e não

somente buscar um novo conjunto de ações específicas - de sanções

disciplinares mais efetivas para o aluno.

Subjacente à idéia de mudar paradigmas, reside o desejo de encontrar

novas respostas a certas perguntas que tem sido colocadas aos educadores,

há séculos, tais como: o que é disciplina e indisciplina?; qual o papel dos

orientadores; o que se espera deles?; quais estratégias empregar?, e assim

por diante. Para essas mesmas velhas perguntas, precisamos tecer respostas

novas, que sejam capazes de sugerir diferentes linhas de ação pedagógica, e

transformar cenários, criar novas possibilidades e originar melhores soluções.

Assim, tendo em vista a necessidade de transformar o tecido mais

amplo e complexo que sustenta e orienta as decisões e ações sobre o que se

vai se fazer antes e diante da indisciplina escolar encontramos a necessidade

de repensar paradigmas, e, em particular, considerar a perspectiva ampla da

orientação educacional como via para avançar as ações coletivas nas escolas.

Isso implica, por exemplo, pensar a indisciplina segundo novas perspectivas de

orientação educacional, seguindo um trabalho não somente coordenado e

sistematizado, mas fortalecido por significados compartilhados. Para isso

destaca-se a construção de uma visão compartilhada entre os educadores,

através do diálogo. Uma visão baseada em significados compartilhados para as

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ações pedagógicas. Assim, é preciso elaborar sentido pedagógico para as

ações, e não somente procedimentos formais, normativos. Será a partir da

visão do orientador educacional que se vai elaborar um tecido de orientações,

ações e responsabilidades que perpassa a escola. Esse tecido precisa estar

articulado e resistir aos tantos incidentes de indisciplina no cotidiano escolar.

Sua ausência implica impasses diante das expressões de indisciplina, e um

processo anual de desperdício de tempo e energia de diversos profissionais.

Um outro aspecto a destacar reside no avanço necessário em direção

a práticas preventivas, que devem assumir um papel de predominância no

trabalho disciplinar. Para isso, os orientadores precisam repensar ou introduzir

programas de formação. Lidar com a indisciplina na atualidade requer um

trabalho baseado em novas competências profissionais.

A idéia aqui reside nem tanto em trabalhar para evitar problemas, o que

também é algo a se considerar, mas atuar no sentido de melhorar o ambiente

educacional e o engajamento dos estudantes à vida escolar. Deste modo é

também necessário repensar o currículo, pois sua qualidade pode significar

uma das melhores respostas preventivas aos problemas de indisciplina.

Também é preciso repensar a dinâmica da relação escola-casa, a qual,

embora costume ser considerada um elemento central do trabalho disciplinar,

nem sempre está bem articulada e desenvolvida para atender a esse mesmo

papel. Embora a crença histórica de que muitos problemas de indisciplina

tenham início (e solução) no ambiente familiar, os orientadores ainda precisam

avançar na percepção dos mecanismos que estariam importando essa

indisciplina (e sua solução?...) para dentro da escola, bem como mantendo sua

vitalidade. Se é preciso romper com alguns circuitos, mais fundamental seria

tecer um trabalho conjunto, educacional, entre escola e família, respeitando

suas atribuições, limites e possibilidades.

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É desejável que as ações relacionadas à disciplina na escola

expressem um entendimento sobre o que seja educar. O trabalho disciplinar

revela, sempre, em alguma medida, a visão pedagógica que a escola está

exercendo, o que entende por educar.

Na ausência de tradições pedagógica que enfatizem pensar e exercer

o trabalho disciplinar sob uma perspectiva de orientação educacional, as

escolas costumam distribuir de forma bastante assimétrica as ações e

responsabilidades relativas aos encaminhamentos necessários. Assim, a

proposta de considerar as questões de indisciplina escolar segundo uma

perspectiva da orientação educacional deve ser capaz de ampliar não somente

o quadro dos recursos práticos a favor dos educadores, mas, sobretudo de

transformar culturas institucionais que pressupõe a indisciplina como o

fundamento da ação.

É preciso pensar diferente para perceber alternativas diferentes, e para

agir diferente. Precisamos revisar e reconsiderar de um modo diferente o

próprio conceito de indisciplina escolar. Aprender com suas múltiplas

expressões, e encontrar ações mais efetivas, que estejam pedagogicamente

sintonizadas com o que entendemos por educar.

Pode-se aprender inúmeras lições ao longo da jornada de orientador.

Não é difícil imaginar que aprende-se muito sobre indisciplina escolar, e com

ela. Com suas expressões, aprender a repensar o sentido, as formas e a

qualidade do trabalho de orientação. Para sua superação, aprender a educar

melhor, a viver melhor juntos. Mas será que conseguiremos aprender novas

formas de aprender, dentro e fora da escola, com essa inquietação persistente

que temos denominado indisciplina?

O primeiro capítulo abordará o tema “indisciplina” dando enfoque aos

diferentes conceitos de indisciplina segundo alguns estudiosos e também as

interações do indivíduo no estabelecimento de limites.

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O segundo capítulo dará ênfase as diferentes causas da indisciplina:

família, alunos, professores, grupo e turmas, escola, programas, regulamentos,

sociedade.

O terceiro capítulo monta um retrato do papel do orientador e a sua

postura diante de cada causa geradora de fatos indisciplinares.

O quarto capítulo do presente estudo tratará da postura do orientador

educacional como orientador e dinamizador da prática docente, a relação

existente entre disciplina e aprendizagem e a importância da criação de regras

coletivas no ambiente escolar.

O quinto e último capítulo trará alternativas desenvolvidas pelo

orientador na busca de soluções para os casos de indisciplina.

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CAPÍTULO I

INDISCIPLINA

1.1 – O que é indisciplina?

O conceito de indisciplina envolve múltiplas interpretações. Um aluno

indisciplinado é em princípio alguém que possui um comportamento desviante

em relação a uma norma. Corresponde a um ato que contraria alguns

princípios do regulamento interno ou regras básicas estabelecidas pela escola.

A indisciplina é uma resposta à autoridade do professor, o aluno contesta

porque não está de acordo com as normas estabelecidas, o professor não

consegue motivá-lo suficientemente, problemas familiares, ausência dos pais,

exposição a ídolos violentos, problemas de relacionamento interpessoal entre o

professor e o aluno.

Verificando-se os sentidos que a língua portuguesa reserva para os

conceitos de indisciplina, encontraremos algumas definições, tais como: "todo

ato ou dito contrário à disciplina que leva à desordem, à rebelião".

Segundo Guimarães:

“a escola, enquanto espaço de indisciplina, é percorrida por um movimento ambíguo: de um lado, pelas ações que visam ao cumprimento das leis e das normas determinadas pelos órgãos

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centrais, e, de outro, pela dinâmica dos seus grupos internos que estabelecem interações, rupturas e permitem a troca de idéias, palavras e sentimentos numa fusão provisória e conflitual.” (GUIMARÃES, 1996, p. 67)

Segundo Tiba:

“o aluno é também peça-chave para a disciplina escolar e o sucesso de aprendizado. Atualmente, a maior dificuldade que encontra para estudar é a falta de motivação. Estudar para quê? Para passar de ano? Para ganhar presente? Para ter sabedoria? Para os pais não “pegarem no pé”? Entretanto, quando estão interessados em alguma coisa (computação, música, esporte, coleções, etc.), são os mais animados, empreendedores e disciplinados.” (TIBA, 1996, p. 65)

A questão ainda é colocada, mas não com acuidade que antes

conheceu. Os atributos da escola para a indisciplina são agora outros.

Tanto pais como educadores, concordam em alguns pontos.

Acreditam, por exemplo, que os meios de comunicação, principalmente a TV,

influenciam os jovens para o lado negativo e que a sociedade atual banaliza a

violência e estimula a impunidade. Enquanto a discussão se desenvolve por

esse lado e emperra sempre nos mesmos pontos, a bagunça em sala de aula

continua. Mas a escola não pode abrir mão de sua responsabilidade em

relação á disciplina.

A indisciplina constitui-se em um desafio e representa um dos

principais obstáculos ao trabalho pedagógico, demonstra a ausência de regras

e limites por parte da criança. Existe a necessidade de uma postura

compartilhada em relação à indisciplina, investindo na prevenção. A escola

deve funcionar através de espaços e tempos geridos com critérios adequados

à participação e ao diálogo entre os alunos e destes com os professores, onde

o problema deve ser contextualizado, analisando as suas causas profundas e

favorecendo a mobilização de ações alternativas, desenvolvidas pelo

orientador educacional.

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Tornou-se comum ouvir em conversas de professores que está muito

difícil manter a disciplina na sala de aula, que práticas como jogar bolinha de

papel, ofender com palavras e gestos professores ou colegas, colocar alfinetes

na cadeira, arranhar os carros dos professores, pichar os muros da escola,

dentre tantos outros atos, é freqüente no cotidiano das escolas e salas de

aulas.

É importante destacar que a indisciplina não é um fenômeno que

ocorre apenas nas escolas públicas do país, onde se concentram o maior

número de crianças e adolescentes pertencentes às classes menos

favorecidas economicamente, mas que a escola privada onde na maioria das

vezes encontram-se os favorecidos, a elite do país, também tem sofrido com a

questão da indisciplina.

Zagury (1999) relata através de uma pesquisa realizada entre

educadores, que a indisciplina é o maior problema enfrentado por eles hoje em

sala de aula e que muitos são os fatores apontados como causa desse mal que

sofre a educação.

Os professores enxergam a indisciplina como sendo um reflexo da

pobreza e da violência que existem em nossa sociedade; outros acreditam que

a falta de limite dentro da família é a grande causa; outros consideram o

comportamento indisciplinado como questão de personalidade, e existem

aqueles que consideram o desinteresse e a falta de compromisso como fatores

que acarretam a indisciplina.

É importante neste momento salientar a opinião dos alunos que

também são sujeitos do processo de aprendizagem, como destaca Rego:

“É importante observar que, do ponto de vista do aluno indisciplinado, os motivos alegados costumam ser um tanto diferentes. Com bastante freqüência, dirigem suas críticas ao sistema escolar. Reclamam não somente do autoritarismo ainda tão presente nas relações escolares, mas também da qualidade das aulas, da maneira que os horários e os espaços são organizados, do pouco tempo de recreio, da quantidade de matérias incompreensíveis, pouco

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significativas e desinteressantes, da aspereza de determinado professor, das aulas monótonas, da obrigação de permanecerem sentados, da escassez de materiais e propostas desafiadoras, da ausência de regras claras etc.” (REGO, 2006, p. 90)

Percebe-se através desses pontos destacados na citação, que a

educação mudou de maneira significativa, que os tempos são outros e que as

perspectivas dos alunos em relação à instituição escolar são outras, que não

as feitas em tempos passados, portanto é preciso uma discussão profunda

acerca desses conflitos.

Nesse contexto fica claro perceber que o assunto é bastante polêmico

e que há considerações divergentes sobre o tema e da forma como lidar com

tal situação, mostrando que ainda falta muito para se chegar a uma opinião

consensual acerca do assunto.

Segundo Tiba:

“A palavra “disciplina” carrega em si um ranço de autoritarismo e de falta de diálogo, que era comum no comportamento das gerações anteriores. Os pais dos adolescentes e das crianças de hoje sentem um certo mal-estar diante dessa palavra, a ponto de praticamente a banirem da educação dos filhos. É difícil dar nova noção a uma palavra cujo significado já está consagrado.” (TIBA, 1996, p. 192)

De acordo com esse trecho é possível entender que o conceito de

disciplina já está impregnado com valores do passado, o que torna ainda mais

difícil sua compreensão nos tempos atuais, o que conseqüentemente gera uma

discussão polêmica no campo educacional, visto que hoje se busca uma

educação pautada no diálogo e no respeito às diferenças individuais.

Os professores veem a disciplina como sendo uma relação de

subordinação do aluno ao mestre e submissão a um regulamento, o que

remete ao tempo em que o aluno devia permanecer quietinho na sala de aula,

afinal, o poder estava todo centrado nas mãos do professor. Para esses

professores, naquela época o ensino era muito melhor, pois segundo eles,

havia mais respeito e as regras estabelecidas eram rigorosamente respeitadas

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pelos alunos. Nessa época o aluno era visto como uma folha de papel em

branco, vazia e pronta a receber o conhecimento que seria transmitido pelo

mestre.

Sobre isso, vale abordar o que menciona Vasconcellos:

“Se o professor pensa simplesmente em conseguir o silêncio de seus alunos para poder falar, está tendo uma visão muito estreita. O professor, por pressão, pode conseguir certas atitudes dos alunos, mas que se esvaem quando não estão mais em sua presença; trata-se da grande farsa colocada pelo sistema de educação: não se está preocupado com o futuro do educando, mas em apenas sobreviver como instituição ou como educador, não tendo, de preferência, sua imagem muito abalada pelas eventuais falhas na disciplina (garantir a aparência).” (VASCONCELLOS, 2003, p.47- 48)

Esse conceito de disciplina é defendido por muitos professores, mas

por outro lado existem aqueles que vêem a disciplina como uma espécie de

relação de respeito e cordialidade entre professores e alunos que possibilita a

integração desses sujeitos no processo de ensino-aprendizagem e favorece a

construção do conhecimento não só pelo aluno, mas também pelo professor,

visto que a pedagogia atual valoriza o conhecimento que o professor deve ter

do processo que os alunos percorrem para adquirir tal conhecimento.

Essa forma de ver a educação só se torna possível a partir de uma

relação de respeito mútuo, onde democraticamente cada qual pode expor suas

idéias e opiniões sobre elas. Nesse processo, a disciplina torna-se

fundamental, pois como afirma Vasconcellos (2003, p.45): ”Sem disciplina não

se pode fazer nenhum trabalho pedagógico significativo”.

Nesse sentido também é importante destacar a visão de Tiba:

“Disciplina não é obediência cega às regras, como um adestramento, mas um aprendizado para saber fazer o que deve ser feito,independente da presença de outros. Aliada à ética, a disciplina gera confiança mútua nas pessoas – um dos fortes componentes do amor saudável que traz progresso à humanidade.” (TIBA, 1996, p. 15)

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A escola vista e entendida como instituição responsável pela formação

de um cidadão crítico e participativo, consciente de seus direitos e de suas

obrigações, precisa ter claro o conceito de disciplina que se deseja alcançar

para que cumpra de fato o seu papel na sociedade atual, e para isso é preciso

reconhecer sua história e sua realidade.

1.2 – Implicações de alguns fatores na indisciplina no ambiente

escolar

Ao pensarmos sobre a questão da indisciplina na escola é preciso nos

remeter à reflexão de algumas mudanças ocorridas na sociedade, visto que,

não é possível pensar a escola como sendo uma instituição independente de

contexto sócio-histórico, pois esta está ligada diretamente às transformações

sofridas pela sociedade, e por sua vez, é necessário ressaltar que a disciplina

ou indisciplina vem refletir nas escolas os nossos dias atuais.

Um dos fatores que faz parte dessa discussão é a própria estrutura

familiar, que no decorrer da história sofreu várias transformações relevantes e

que estavam ligadas à estrutura sócio-econômica e política do país.

As famílias eram numerosas e cabia a mãe zelar pela educação dos

filhos e cuidar da casa enquanto o pai trabalhava fora para manter o sustento.

O pai era autoridade máxima, bastava que ele olhasse para o filho para que

este o obedecesse. E este era o modelo de família que existia.

Verifica-se que não existe um modelo único de família, encontramos

diversos tipos de relações familiares convivendo simultaneamente em nossa

sociedade. A mãe que antes vivia para a família e para os serviços domésticos,

hoje precisa trabalhar fora para ajudar o marido no sustento da casa, e em

muitos casos, é a única fonte de renda da família, precisando submeter-se a

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uma dura jornada de trabalho para assim poder sustentar os filhos, tendo com

isso, menos tempo para se dedicar a própria família.

A educação dos filhos, em alguns casos, fica a mercê da sorte, pois

muitos destes necessitam ficar em casa, sozinhos, enquanto os pais trabalham,

sendo dessa forma, negados a eles o direito a uma infância digna, É importante

destacar que esta é uma realidade que se faz presente em muitas famílias

brasileiras.

Outro fator relevante nessa discussão é sobre o papel da escola e do

professor na sociedade, que por sua vez também vem sofrendo grandes

mudanças, como aborda La Taille (2000, p.10): “Anteontem, o professor falava

a alunos dispostos a acatar; ontem, a certos alunos (pré) dispostos a discordar

e propor; hoje, tem auditório de surdos”.

Percebe-se uma profunda mudança na relação professor / aluno e na

relação sociedade / escola, pois se antes tínhamos uma valorização social da

escola, valorização do professor com uma remuneração condizente com sua

função, onde a escola era vista como fonte privilegiada de informações e havia

apoio incondicional da família, nos dias atuais o que podemos verificar é uma

crescente desvalorização do professor, de seu salário e de suas condições de

trabalho e a escola deixou de ser vista como instituição responsável pela

ascensão social.

O modelo tradicional de ensino, no qual o professor era o dono do

saber e superior a seus alunos, podendo até impor castigos, abre espaço para

uma escola mais humana, na qual o professor deixa de ser o sabe tudo e

passa a ser o mediador do conhecimento, havendo neste processo a alteração

da relação professor e aluno.

Também vale apontar que uma das conquistas e transformações da

nossa sociedade em relação à escola é o fato de que, antigamente a escola

tinha um caráter conservador e elitista e destinava-se prioritariamente as

classes sociais privilegiadas e que hoje, encontramos as classes populares

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freqüentando as escolas, ou seja, hoje há uma preocupação com o quantitativo

crianças na escola, porém a qualidade não tem sido a almejada por

educadores e pais, e nesse momento cabe refletir sobre o que escreve Zagury:

“No Brasil, as mudanças educacionais têm sido “de papel”, ocorrem na “lei”. Mas lá na sua sala de aula, o professor não recebe o treinamento de que necessita para efetivar com segurança o novo modelo. Muito menos chegam a ele os suportes necessários de infra-estrutura física, material, ou os equipamentos que poderiam ao menos possibilitar alguma chance de sucesso.” (ZAGURY, 2002, p. 45)

A citação da autora nos leva a pensar sobre a desvalorização do papel

da educação no nosso país, pois criar leis não é o suficiente, é preciso ir além,

é necessário que haja governantes comprometidos e com real interesse na

melhoria da educação.

Vivemos na sociedade da informação, com cinema, televisão, internet,

a mídia que de maneira avassaladora levam muitos ao consumismo

desenfreado e inconseqüente, e a idéia de que o importante é o ter e não o ser,

como bem destaca Vasconcellos:

“Este processo fortíssimo de indução ao consumismo vai levando a uma infantilização da sociedade, onde a busca de satisfação imediata do prazer, baixando a capacidade de tolerância e frustração, aumentando a agressividade, a violência.” (VASCONCELLOS, 2003, p. 29)

É evidente que não podemos negar a importância dos meios de

comunicação na formação dos indivíduos, mas é preciso um olhar crítico

desses meios, a favor de quem e do que eles trabalham, pois o que importa em

uma sociedade capitalista é exatamente o consumismo, a degradação de

valores fundamentais para a formação de um cidadão crítico.

Não podemos cair em um ingênuo saudosismo, idealizando o passado,

considerando que em tempos remotos era melhor para se viver,

desconsiderando fatos e conquistas importantes para o desenvolvimento de

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nosso país, e que são de grande relevância em uma sociedade em que a

democracia é vista como princípio da cidadania, como interroga La Taille:

“Será que alguns de nós desejaria viver na Idade Média, quando, sem problemas legais, se torturavam os presos para que confessassem? Será que alguns de nós desejaria viver no século XVII, com o perigo de ser encarcerado apenas pelo bel-prazer do rei? Será que alguns de nós desejaria viver no século XIX, como escravo? E será que alguns de nós desejaria viver no começo do século XX, e ter atividades profissionais proibidas em razão de certas opções sexuais ou de pertencimento a certas etnias?” (LA TAILLE, 2000, p. 11-12)

Há uma necessidade de refletirmos sobre os fatores e transformações

mencionadas, para então buscarmos uma reflexão acerca do assunto em

pauta, pois se há mudança social e política, concomitantemente a isto, haverá

uma mudança de perspectiva de vida, de comportamento dos indivíduos para

buscar sua realização e se adequar à sociedade, tanto que os que vão contra

as regras estabelecidas, na sua maioria, são vistos como “loucos”.

Presencia-se as mudanças a olhos nus; na família, os papéis se

inverteram, muitas vezes os filhos mandam nos pais; na escola, os alunos

afrontam os professores, usam de violência; e alguns valores como respeito

mútuo, ética, vêm aos poucos se diluindo. A indisciplina por sua vez toma lugar

de destaque nas reuniões pedagógicas, vira alvo de conflitos e discussões, por

isso é de suma importância repensar sobre a construção da moral e da ética na

formação de um indivíduo pleno.

Analisar a história para entender a realidade que nos cerca nos nossos

dias é prioridade para educadores conscientes e dispostos a investir em uma

educação de qualidade, visando buscar soluções para melhorar as situações

que se tornam cada dia mais freqüentes na escola e na sala de aula como é o

caso da indisciplina.

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1.3 – Indisciplina e a relação professor / aluno

Assim como a escola vem sofrendo profundas modificações

metodológicas ao longo dos últimos anos, a relação professor / aluno por sua

vez, vem paralelamente a isto sendo transformada, pois se antes o professor

era o centro do processo e nele estava todo o poder de transmitir

conhecimento, hoje a escola tem como personagem central o aluno.

É importante salientar que aluno e professor são protagonistas da

instituição escolar e é preciso repensar sobre esta relação, principalmente ao

que se refere à questão da indisciplina, visto que está tem sido alvo de

angústia dentro no ambiente escolar.

Os professores esgotados e desacreditados preferem, frente a esta

atual situação, desistir do magistério e optar por algo menos doloroso e

desgastante, já que a dificuldade de enfrentamento é legítima.

Antigamente, a relação professor / aluno era pautada na obediência e

subordinação, e dessa forma a disciplina era entendida como submissão do

aluno ao professor e este por sua vez podia impor castigos severos e dessa

forma manter a ordem na sala de aula. Zagury (2002) faz uma reflexão sobre

as mudanças ocorridas na relação professor / aluno e menciona que nos dias

atuais o bom professor é visto como aquele que é amigo dos alunos, o que

segundo a autora tem sido encarado como prioridade na função do professor

ser compreensivo e aceitar as diferenças de cada um, sendo sempre bonzinho,

e dessa forma o professor tornou-se sinônimo de “especialista em relações

humanas”.

A autora deixa claro que não desmerece a importância do respeito às

individualidades, e nem tampouco a compreensão, mas acrescenta que é

preciso agir de forma efetiva para superar as diferenças, principalmente a

respeito da aprendizagem, já que cabe ao professor, segundo Zagury:

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“Preparar o aluno (e, por meio dele, a sociedade), para crescer intelectual, reflexiva e tecnicamente para poder enfrentar o mundo tal como ele nos apresenta hoje, com todas as dificuldades de emprego, exigências de qualidade etc. Focar, única ou prioritariamente, o aspecto emocional é trabalho para psicólogos e terapeutas, não para quem tem compromisso com a qualidade da aprendizagem”. (ZAGURY, 2002, p.46/47)

Zagury (2002) continua e afirma que os jovens devem sim ser

compreendidos, porém não deixando de sanar suas dificuldades de

aprendizagem, pois acredita que para haver mudança é preciso partir dessa

perspectiva e que a relação professor / aluno é importante, mas não deve ser o

fator mais importante dentro da escola, pois dessa forma o professor estará

negando sua função principal que é ensinar.

De acordo com o que aborda a autora, precisamos refletir sobre o

verdadeiro papel da escola nos nossos dias. Vivemos em um mundo onde as

desigualdades sociais são alarmantes, o índice de criminalidade é enorme e as

perspectivas de vida das classes menos favorecidas tem sido cada vez mais

derrubadas por esses fatores já citados.

Antes de tudo o professor tem que ter claro sua postura, pois suas

ações comprometerão seu julgamento, e precisa exercer sim sua autoridade,

mas não autoridade entendida como autoritarismo, mas como domínio da

situação e perceber que tanto professor como aluno faz parte do processo.

Aquino afirma:

“A saída possível está no coração mesmo da relação professor / aluno, isto é, nos nossos vínculos cotidianos e, principalmente, na maneira com que nos posicionamos perante o nosso outro complementar. Afinal de contas, o lugar do professor é imediatamente relativo ao de aluno, e vice-versa. Vale lembrar que, ambos são parceiros de um mesmo jogo. E o nosso rival é a ignorância, a pouca perplexidade e o conformismo diante do mundo.” (AQUINO, 1996, p. 50)

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Para Vasconcelos:

“O relacionamento professor-aluno deve partir de um “contrato”, no sentido de acordo, pacto, compromisso, quando docentes e discentes, conhecendo os objetivos e estratégias instrucionais, assim como as normas pré-estabelecidas institucionalmente e aquelas ajustadas, mediante certas condições, com a turma, garantam uma relação harmoniosa entre as partes. A observância desse acordo, por parte de todos os envolvidos, produzirá solidariedade e ganho de confiança e aumento de produtividade. Por outro lado, subterfúgios, omissões, infrações, de qualquer uma das partes, terá como tradução deslealdade, negligência, desrespeito e, se a quebra tiver ocorrido por parte do professor, o resultado mais provável será o enfrentamento, a “indisciplina”.” (VASCONCELLOS, 2003, p. 20)

Depara-se com uma supervalorização da relação entre professor /

aluno e é evidente que houve uma grande conquista em acabar com o

autoritarismo dando preferência ao entendimento e ao diálogo, mas não se

pode distorcer a interpretação do que é uma relação saudável entre professor /

aluno, deixando com que atitudes desrespeitosas tomem lugar na relação que

se faz prioritária no processo de aprendizagem.

A situação da indisciplina na sala de aula é bastante polêmica e vem

dificultando o relacionamento entre figuras principais do processo de

construção da aprendizagem, ou seja, professor e aluno. De um lado estão os

professores que acreditam que sem disciplina não é possível realizar um

trabalho pedagógico eficiente; e de outro, os alunos, acreditando que podem

tudo e cheios de autoridade.

Enquanto os professores reclamam da falta de limites, omissão dos

pais, desrespeito; os alunos por outro lado questionam as aulas e a postura do

professor. E diante desta situação, por vezes o professor fica sem saber o que

fazer, como destaca Vasconcelos:

“Temendo não ser respeitado e entendido, o docente assume, muitas vezes, uma atitude autoritária, de superioridade, monologando diante de uma turma de alunos que pode reagir tanto com o silêncio requerido, como com agressividade desafiadora, traduzida em “indisciplina”. Em outros casos, na ânsia de angariar a simpatia de seu alunado, o professor, buscando uma relação mais positiva, mais

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cooperativa, despe-se da autoridade própria de seu papel profissional, praticamente se igualando aos seus alunos, que não mais conseguem percebê-lo como uma liderança natural do processo.Neste segundo caso, a turma reage com indiferença, algumas vezes; outras, com dispersão e desinteresse e, muitas vezes, com “indisciplina”.” (VASCONCELLOS, 2003, p. 18)

Essa citação acima nos remete a uma reflexão pautada segundo

Vasconcellos (1996) que diz que é de suma importância que o professor tenha

consciência de sua ação pedagógica, e que a postura do educador reflete em

suas ações, e destaca duas posturas: autoritária e espontaneísta. Na primeira,

encontramos uma tendência tradicional, que privilegia o aspecto repressivo de

controle, alegando que apenas com “mão de ferro” é possível haver disciplina e

respeito, Na postura espontaneísta, há o inverso da primeira, a liberdade é

privilegiada de forma que se permitem todo o tipo de manifestação do aluno, o

professor teme o título de repressor e acaba abrindo mão de sua autoridade e

faz com que haja a falta de compromisso com os estudos.

Partindo de tais reflexões, fica claro que é uma questão bastante

complexa a relação professor / aluno quando a indisciplina toma conta do

cenário, porém, é necessário que todos tenham definidos o seu papel dentro do

contexto escolar, para que dessa forma possa haver respeito mútuo entre os

protagonistas e assim ser realizado um trabalho significativo no campo da

aprendizagem.

1.4 – Limites, regras e indisciplina

Quando o assunto em pauta é a indisciplina na escola, é forte e

relevante o discurso que traz à tona a questão do limite e das regras.

Vive-se em um período de mudanças no processo educativo que têm

gerado incertezas quanto a melhor maneira de conduzir a educação de nossas

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crianças e jovens a fim de se construir uma sociedade mais ética e justa,

principalmente no que diz respeito à questão da disciplina, limites e regras.

Muito se ouve falar que as crianças e adolescentes do mundo atual

estão perdendo a noção de limite, ou ainda, que não tem nenhum limite, que a

instituição familiar vem se tornando cada vez mais permissiva, o que reflete

diretamente no comportamento das crianças que chegam às escolas sem

noções mínimas de respeito às regras e ao próximo.

Alguns educadores dizem que a falta de limites tem contribuído e muito

para a indisciplina dos alunos, que não mais reconhecem no professor sua

autoridade e lhes tratam com agressividade e desrespeito. Esses educadores

alegam que a família vem abrindo mão de sua responsabilidade de educar, que

é da família o papel de primeira socializadora da criança, e que cabe a ela criar

limites, pois quando as mesmas chegam à escola já traz consigo uma

bagagem do que foi aprendido no seio familiar.

De acordo com Tiba:

“As crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio de imitação, da experimentação e da invenção. Se os pais permitem que os filhos, por menores que sejam, façam tudo o que desejam, não estão lhes ensinando noções de limites individuais e relacionais nem lhes ensinando noções de limites individuais e relacionais nem lhes passando noções do que podem ou não podem fazer.” (Tiba, 1996, p. 21)

É importante salientar que neste processo de socialização também a

escola tem seu papel a cumprir e que ela pode colaborar com os pais, porém

nunca poderá substituí-los, já que cabe a família a tarefa de ensinar os

primeiros passos, e que na família a criança encontra suas primeiras

referências, sendo esta a primeira formadora da identidade social, e neste

sentido deve atuar como mediadora entre o indivíduo e a sociedade, é na

família que o indivíduo aprende e tem os primeiros contatos com o mundo, e

devem aprender as regras e valores que vigoram na sociedade.

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Segundo Tiba:

“Um dos mais importantes motivos para os pais tentarem delegar a educação dos filhos à escola é preferirem omitir-se do que errar com os filhos. Os pais contemporâneos perderam suas referências educativas, pois o que eles viveram quando crianças não serve mais, e ainda não adquiriram novos recursos para educar estas “criancinhas” tão independentes, cheias de argumentos, alta prontidão nas respostas e reivindicadoras com fortes enfrentamentos.” (Tiba, 1996, p. 193)

Outro questionamento que fundamenta a discussão do limite e

indisciplina nos leva a pensar sobre a autoridade dos pais, que muitas vezes é

confundida com autoritarismo, mas é preciso ter claro a posição da autoridade,

como afirma Zagury:

“Autoritário é aquele que exerce o poder utilizando como referencial apenas o seu ponto de vista( que é sempre visto como o único correto), a força física ou o poder que lhe confere sua posição ou o cargo que ocupa, nunca levando em conta o que o outro deseja ou pensa. Também poucas vezes age em prol do bem do outro, o que conta o mais das vezes é o seu próprio interesse. Assim, um pai autoritário é aquele que não deixa o filho entrar na sala porque naquele dia ele está de mau humor, mas num outro, de bem com a vida, não só permite como até exige a presença do menino... O pai que tem autoridade, por outro lado, ouve e respeita seu filho, mas pode, por vezes, ter de agir de forma mais dura do que gostaria, ás vezes até impositivamente, mas sempre o objetivo será o de respeitar o filho...” (Zagury, 2002, p. 31 – 32)

Os pais são as primeiras referências de autoridade para a criança,

entendendo que a autoridade é algo próprio e natural da relação entre um

adulto e uma criança.

Os pais, na vontade e ânsia de fazer o melhor e acertar sempre e não

desagradar os filhos, acabam cometendo erros, adquirindo sentimento de

culpa, o que leva a permissividade, apresentando um caráter compensatório e

devido à insegurança causada pelo receio de não estar fazendo o melhor pela

educação de seus filhos terminam por delegar essa função à escola.

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Os professores apesar de não se sentirem a vontade com esta nova

atribuição têm buscado pesquisar sobre o assunto, promovendo no espaço

escolar reflexões sobre o tema, procurando estreitar relações entre a família e

a escola, repensando a constituição familiar nos dias de hoje, visando

promover um ambiente adequado ao desenvolvimento integral do educando.

Nesse espaço de discussão percebe-se que há entre os professores

um consenso de que um dos maiores obstáculos enfrentados por eles é a falta

de limites e o descumprimento de regras básicas para que haja um bom

convívio social no ambiente escolar.

Parte dos professores acredita que a melhor maneira de lidar com a

situação é punindo o aluno que não está apresentando o comportamento visto

como adequado ao fazer pedagógico, pois a sociedade também estabelece

punições a quem descumpre as regras sociais e sendo assim a escola estará

preparando para a vida.

Contrários a essa posição estão alguns professores que acreditam que

a melhor forma de preparar o aluno para a vida em sociedade é através do

diálogo e da prevenção a partir da construção coletiva de formas de

cooperação que busquem o desenvolvimento do respeito mútuo. Segundo La

Taille (2000, p.19):

“A cooperação pressupõe a coordenação das operações de dois ou mais sujeitos. Não há mais a assimetria, imposição, etc. Há discussão, troca de ponto de vista, controle mútuo dos argumentos e das provas, vê-se que a cooperação é o tipo de relação interindividual que representa o mais alto nível de desocialização.”

Conforme Rego (2006, p.86):

“A vida em sociedade pressupõe a criação e o cumprimento de regras e preceitos capazes de nortear as relações, possibilitar o diálogo, a cooperação e a troca entre membros deste grupo social (sobretudo numa sociedade complexa como a nossa). A escola, por sua vez, também precisa de regras e normas orientadoras do seu funcionamento e da convivência entre os diferentes elementos que nela atuam. Nesse sentido, as normas deixam de ser vistas apenas

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como prescrições castradoras, e passam a ser compreendidas como condição necessária ao convívio social.”

Tendo como referencial teórico Piaget diz que o caminho da relação

das crianças com as regras inicia-se com a fase da anomia onde há ausência

de regras; passa pela heteronomia, onde a criança já percebe a existência de

regras, mas sua fonte é variada; e finalmente tem-se a autonomia, onde o

sujeito sabe que existem regras para viver em sociedade, mas a fonte dessas

regras está nele mesmo.

É importante salientar que a autonomia não significa que o indivíduo

cria suas próprias regras e sim que há por parte dele a percepção de que

existem regras que são universais e que devem ser respeitadas para que

prevaleça o respeito à dignidade do homem e da humanidade.

É certo que as regras e os limites são fundamentais para a convivência

em sociedade, por isso é preciso refletir sobre como lidar com essas questões

que se tornam cada dia mais pertinente tanto no âmbito escolar quanto na

convivência familiar, entendendo que para que haja um bom trabalho

pedagógico é fundamental que professores e pais se comprometam com a

educação das crianças, adolescentes e jovens.

1.5 – Indisciplina na escola e violência

A escola vem sofrendo um desgaste nos últimos anos devido a

políticas públicas impostas a ela, sem uma ampla discussão na sociedade.

Muitos responsáveis acreditam que tem sido mais fácil passar de série

atualmente e que essa facilidade tem prejudicado o desenvolvimento intelectual

dos educandos, sendo uma das causas do seu desinteresse pela escola, pois

os mesmos não vêem no ensino ministrado relação com o mundo do trabalho,

que seria capaz de contribuir para mobilidade dos mesmos na estrutura de

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classes que caracteriza a sociedade, o que de certa forma gera a indisciplina

na escola, assim como a atos de violência.

Essa situação tem gerado reflexos na relação entre os alunos e a

escola.

Encontram-se diversas matérias publicadas em jornais sobre a

violência nas escolas.

Os jornais destacam tanto a violência que ocorre na escola, dentro da

própria sala de aula, como também aquela que se manifesta ao seu redor, nas

vizinhanças,o que tem levado muitos professores a viver a base de remédios,

sendo forçados pela situação a entrarem de licença: “segundo o Sindicato

Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE), 61% dos professores da rede

pública que pediram licença médica na Superintendência de Saúde e

Qualidade de Vida no Trabalho alegavam sofrer de estresse, depressão,

síndrome do pânico e ansiedade”.

As agressões se tornam cada vez mais comuns nas escolas, fazendo

dos professores “reféns do medo”, como aborda a reportagem: “houve um

tempo em que os profissionais sofriam apenas com problemas nas cordas

vocais ou alergias a giz. Hoje eles se tornam vítimas de doenças inerentes a

pressões como a da violência, a que estão expostos, muitas vezes devido a

profissão”.

Parece absurdo perceber que alguns professores sofrem agressões

apenas por cumprirem seu papel, cobrar do aluno que se esforce, que se

dedique.

De acordo com Tiba (1996, p. 160), a família e a sociedade é que

coloca na criança a semente da violência, pois se o ambiente familiar for um

“terreno fértil” da violência esta criança a expandirá para a escola e

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conseqüentemente para a sociedade e ainda o autor considera que “a violência

é o descontrole da agressividade”.

O mesmo autor ainda afirma que se no ambiente familiar os pais fazem

todo desejo e vontade da criança, sem impor-lhe limites e regras, ela passa

acreditar que seus desejos são leis e que as pessoas precisam acatá-los, e

caso ela seja contrariada, poderá chegar ao extremo, partindo para a violência.

Aponta ainda que existem pais que usam de violência o tempo todo em

casa ensinando dessa forma os filhos a serem violentos, pois se é violência

que percebem na relação dos pais, acabam acreditando que é por meio dela

que se pode solucionar problemas e conflitos.

Com tudo isso, a escola aparece neste contexto com um papel

importante na vida dessas crianças, sejam as mimadas ou as agredidas e

violentas, porque na escola “as regras seguem teoricamente as leis” (Tiba,

1996, p. 161).

No entanto, não descarta a idéia e necessidade da ajuda de um

“profissional especializado trabalhando no princípio educativo da coerência,

constância e conseqüência” (Tiba, 1996, p. 161).

Os responsáveis em geral não sabem o que fazer quando o filho vai

mal na escola, mas há um consenso entre os próprios responsáveis, os

professores e os teóricos do assunto de que o caminho para a construção de

uma escola transformadora deve ser construído coletivamente com a união de

todos os envolvidos no processo, e sem dúvida a família tem uma participação

primordial nisso tudo.

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CAPÍTULO II

AS DIFERENTES CAUSAS

QUE A INDISCIPLINA PODE TER

Não é fácil fazer o inventário das causas da indisciplina na escola, já

que seu número não para de aumentar, quase sempre tendo como suporte

sólidas argumentações científicas.

2.1 – Família

As causas familiares da indisciplina são muito relevantes. É aí que os

alunos adquirem modelos de comportamento, exteriorizando-os nas aulas. Em

outros tempos, a pobreza, a violência doméstica e o alcoolismo eram

apontados como os principais problemas que minavam o ambiente familiar.

Aponta-se também à desagregação dos casais, às drogas, à ausência de

valores, à permissividade, à omissão dos pais na educação dos filhos, etc.

Quase sempre, alunos com maiores problemas de indisciplina provém de

famílias onde limites não existem.

A novidade está, contudo, na participação direta dos pais na violência

que ocorre nas escolas. Impotentes por lidar com a violência dos próprios

filhos, muitos pais culpam professores de incentivar a indisciplina, acusando-os

de não saberem educar os alunos. Freqüentemente, responsáveis estimulam e

legitimam a falta de disciplina na escola. Alguns vão mais longe e agridem

física e / ou verbalmente professores e funcionários.

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2.2 – Alunos

O que faz com que um aluno seja indisciplinado? É preciso dizer que,

muitas vezes as razões de fundo não são do foro da educação. Em muitos

casos, trata-se de questões que deveriam ser cuidadas no âmbito da saúde

mental infantil e adolescente, da proteção social ou até de foro jurídico. O

grande problema é que muitas vezes as escolas não conseguem fazer essa

triagem. Tentam resolver problemas para os quais não estão preparadas ou

que sequer são da sua competência.

Todos os alunos são potencialmente indisciplinados, pois a escola é

sempre sentida como uma imposição por parte do Estado ou da família. É por

isso que as aulas são locais de constrangimento e de regressão de desejos.

Freud e Foucault dissecaram esse problema.

Nesta, perspectiva, o que acaba por diferenciar os alunos entre si é a

atitude que assumem perante essas obrigações. Numa classificação de

inspiração weberiana, são distinguidos três tipos de alunos: os obrigados-

satisfeitos, que representam uma minoria conformada com que a escola lhes

impõe; os obrigados-resignados, que representa uma maioria adaptada ao

sistema, procurando tirar partido de situações para alcançar dois principais

objetivos supremos: “gozar a vida” e “passar de ano”; os obrigados-revoltados,

que representa uma minoria de inconformados (ou maioria, conforme as

circunstâncias socioeconômicas do meio). Da família à escola e desta

sociedade, colocam tudo em causa: valores, normas estabelecidas, autoridade,

etc.

Não é fácil explicar as razões que levam uns assumirem-se

conformistas e outros como revoltados. A “falta de afeto” ou a “vontade de

poder” são, por exemplo, duas destas motivações. Há quem aponte também às

tendências próprias de cada idade, que transformam uns em “revoltados” e

outros em “conformistas”.

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2.3 – Grupos e turmas

O grupo, enquanto conjunto estruturado de pessoas, tem uma enorme

importância nos processos de socialização e de aprendizagem dos

adolescentes. A sua influência acaba por ser decisiva para explicar certos

comportamentos que os jovens demonstram e que são resultados de

processos de imitação de outros membros do grupo. Certas manifestações de

indisciplina não passam, muitas vezes, de meras manifestações públicas de

identificação com modelos de comportamento característicos de certos grupos.

Através de tais manifestações, os jovens procuram obter a segurança e a força

que lhes é dada pelos respectivos grupos, adquirindo certo prestígio no seio da

comunidade escolar. Nada que o professor não conheça. A turma também é

um grupo, sem que, todavia, faça desaparecer todos os outros aos quais os

alunos estejam ligados dentro e fora da escola.

Numa sociedade em que os grupos familiares estão desagregados, o

espaço do aluno é cada vez mais preenchido por estes grupos formados a

partir de interesses e motivações muito diversas.

2.4 – A escola

“A visão, hoje romanceada, da escola como lugar de florescimento das potencialidades humanas pode ter sido substituída, às vezes pela imagem de um campo de pequenas batalhas civis; pequenas mas visíveis o suficiente para incomodar.” (Aquino, 1996, p.42)

A organização escola está longe de ser um modelo de virtudes.

Funciona, em geral, de modo pouco eficaz e eficiente.

No passado, a contribuição dada pelas escolas para a indisciplina

assentava-se na questão da seleção que operavam. As escolas eram

acusadas de discriminar os alunos à entrada e na constituição das turmas. Ao

fazê-lo, criavam focos de revolta por parte daqueles que legitimamente se

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sentiam marginalizados. A questão ainda é colocada, mas não com a acuidade

que antes conheceu.

Há muito que a escola deixou de ter um papel integrador dos alunos.

Embora seja um espaço onde estes passam grande parte do seu tempo, nem

sempre nela chegam a perceber quais são os valores, regras de

funcionamento, etc.

Na verdade, as escolas estão mal preparadas para enfrentar a

complexidade dos problemas atuais, nomeadamente os que se prendem com a

gestão das suas tensões internas. A crescente participação dos alunos, pais,

entidades, públicas e privadas nas decisões tomadas nas escolas tornou-se

uma fonte de conflitos, que não raro acabam por gerar climas propícios à

indisciplina.

As associações de pais, quando funcionam, encaram muitas vezes os

professores como um bando de incompetentes que aproveitam todas as

ocasiões para se furtarem às aulas. Repetem-se por todo o país os casos de

membros destas associações que, tirando partido da sua posição, exercem

pressão junto aos professores para beneficiar seus filhos.

2.5 – Programas

A motivação é um dos fatores fundamentais para o sucesso da

aprendizagem. E para que a motivação exista nas escolas, é necessário que os

programas sejam próximos da realidade vivenciada pelos alunos e com temas

agradáveis.

Qualquer programa escolar deverá ser bem empregado pelos

profissionais envolvidos. Caso isso não ocorra, poderá haver situações de

frustração, desmotivação, potencializando situações de crescente indisciplina.

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2.6 – Regulamentos disciplinares

“O que é disciplina? O que é sua negação, indisciplina? Não é tão simples. Se entendermos por disciplina comportamentos rígidos por um conjunto de normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: a revolta contra essas normas, o desconhecimento delas.” (Taille, 2000, p.44)

Um regulamento disciplinar é tudo e não é nada. Os professores

imaginam-se com ele a salvo de muitos problemas de disciplina, e por isso

procuram torná-lo o mais completo possível. O aumento de sua extensão

cresce na mesma proporção direta de sua inaplicabilidade. A questão é,

todavia, meramente ilusória. Os professores partem do pressuposto de que

será acatado por seus alunos, dado que foi aprovado pelos representantes, e

que, esta maneira, se conformarão ao que nele estiver prescrito. Para os

alunos, contudo, o regulamento não existe. O que impera na escola é a

vontade dos professores e do Conselho Executivo. O regulamento será sempre

mais um instrumento do seu poder discricionário.

2.7 – Professores

“Disciplina evoca silenciamento, obediência, resignação. Porém de

acordo com o trabalho do professor, pode provocar movimento, força

afirmativa, vontade de transpor obstáculos.” (Lajonquière, 1993, p.17)

Há professores que provocam mais indisciplina que outros. As razões

porque isso acontece são variadas, mas quatro delas são geralmente citadas: a

falta de capacidade para motivar os alunos; o despreparo para lidar com

situações de conflito; a forma agressiva como tratam os alunos, estimulando

reações violentas; a estigmatização e a rotulagem dos alunos.

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A estas razões, junta-se a crescente feminização do corpo docente,

que se não estimula, certamente não facilita a questão da indisciplina, afirmam

alguns especialistas.

2.8 – Sociedade

Há séculos que se aponta uma série de nefastas influências sociais

para explicar certos comportamentos violentos dos jovens. As práticas de

diversa estão, em geral, à cabeça neste inventário das fontes de uma cultura

de violência. No passado referiam-se aos combates e touradas. Mas o

problema ultrapassa a diversão. As nossas cidades são particularmente

violentas. A única forma de sobreviver é assumindo essa cultura de

conturbações. E a tudo isto, junta-se um outro elemento de peso: o

individualismo hedonista. Obter o máximo prazer no mais curto espaço de

tempo, não importando os meios.

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CAPÍTULO III

POSTURA DO ORIENTADOR

EM RELAÇÃO À INDISCIPLINA

Começam a adquirir maior importância os problemas de disciplina e

convivência nas escolas, especialmente no período das séries superiores do

ensino fundamental. Sem perder de vista que esta problemática faz parte de

um momento de crise que invade nossas sociedades e está afetando

instituições educadoras tradicionais como a família, e igreja e a escola,

entendemos a tal problemática pode ter um tratamento curricular indo além do

simples agravamento das medidas regulamentares punitivas. Como diz Tiba

(1996, p.179): “Um desrespeito aos pais pode ser relevado, aos professores já

implica em advertência, e às autoridades sociais, há punição.”

A indisciplina e a agressividade constituem-se em um desafio para os

orientadores, representa um dos principais obstáculos ao trabalho pedagógico,

demonstra a ausência de regras e limites por parte da criança. Necessita-se de

uma postura compartilhada em relação à indisciplina, investindo na prevenção.

A escola deve funcionar através de espaços e tempos geridos com critérios

adequados à participação e ao diálogo entre os alunos e destes com os

professores, onde o problema deve ser contextualizado, analisando as suas

causas profundas e favorecendo a mobilização de ações alternativas.

3.1 – Preparo do Orientador para lidar com alunos-problemas

Vive-se um momento de desafio em nossas escolas, assistimos um

aumento considerável da indisciplina e atos violentos, bem como as

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preocupações de professores e pais em relação ao comportamento escolar dos

alunos, precisando ser melhor refletido e enfrentado.

O problema é complexo e muitas vezes os orientadores buscam

"receitas prontas" que se revelam ineficazes quando aplicadas à situação

concreta. Um dos maiores problemas que o orientador educacional enfrenta é a

criação de um clima favorável à aprendizagem na sala de aula, onde se integra

a análise de situações indesejáveis e a gestão do comportamento do professor.

“A disciplina escolar não consiste em um receituário de propostas para enfrentar os problemas de comportamentos dos alunos, mas em um enfoque global da organização e a dinâmica do comportamento na escola e na sala de aula, coerente com os propósitos de ensino. [...] Para isso é preciso, sempre que possível, antecipar-se ao aparecimento de problemas e só em último caso reparar os que inevitavelmente tiverem surgido, seja por causa da própria situação de ensino seja por fatores alheio à dinâmica escolar.” (Gotzens, 2003, p. 22)

É preciso incentivar comportamentos de trocas, diálogos, estimulando

a análise, criticando os alunos sobre situações variadas. Para isso precisa-se

gerir adequadamente os alunos , levando em consideração que muitos vivem

em contextos familiares desestruturados. É, portanto, necessário incentivar as

famílias a acompanhar a educação de seus filhos.

Os professores não têm recebido formação inicial que lhes permita

gerir de forma eficiente os conflitos, torna-se necessário que a formação

contínua desenvolvida nas escolas proporcione uma reflexão pautada em

subsídios teóricos e autores recentes na área da educação, que possibilite uma

intervenção esclarecida. Cabe à escola impor regras de maneira coerente,

prevenindo tratamento desigual e trabalhando os conflitos emergentes.

É necessário entender que a construção de uma nova disciplina é

tarefa de todos, pais, alunos, professores e orientadores, por meio de um

planejamento participativo, que tenha a ação de todos, de forma ética,

lembrando que é um processo que vai se construindo de forma gradativa e

necessita de acompanhamento. O orientador precisa desempenhar seu papel,

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o que inclui disposição para dialogar sobre objetivos e limitações e para

mostrar ao aluno o que a escola (e a sociedade) espera dele. Só quem tem

certeza da importância que da mudança e domina várias metodologias

consegue desatar esses nós. De acordo com Zagury (1999, p. 48), “quando há

relacionamento de afeto e um professor atencioso, qualquer caso pode ser

revertido em pouco tempo.”

Acredita-se que esses alunos-problemas têm um porquê e um para quê

e nós precisamos nos ajudar, porque sozinhos não conseguiremos ser uma

escola de fato. Uma escola que pensa na vida, partindo da vida das pessoas...

Está na hora de repensar o processo, a teoria que nos embasa, o currículo, a

gestão e o conselho escolar; de repensarmos se estamos apenas brincando de

democracia.

Ser Orientador nunca foi uma tarefa simples. Hoje, porém, novos

elementos vieram tornar o trabalho da orientação ainda mais difícil. A disciplina

parece ter-se tornado particularmente problemática. Na escola são vistas como

alunos problemas, em casa como bagunceiras ou, dependendo do caso,

distraídas. Essa é a realidade de crianças com sintomas de inquietação, baixo

rendimento escolar, dificuldade nos relacionamentos, ansiedade, agressividade

e resistência a receber ordens.

São necessárias algumas diretrizes básicas, dentre as quais estão: a

autonomia da escola, incluindo uma gestão democrática, a valorização dos

profissionais de educação e de suas iniciativas pessoais. Oportunizar uma

escola de tempo integral para os alunos, bem equipada, capaz de lhe cultivar a

curiosidade e a paixão pelos estudos, a curiosidade e a paixão pelos estudos, a

valorização de sua cultura, propondo-lhes a espontaneidade e o

inconformismo. Inconformismo traduzido no sentimento de perseverança nas

utopias, nos projetos e nos valores, elementos fundadores da idéia de

educação e eficazes na batalha contra o pessimismo, a estagnação e o

individualismo.

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O preparo e bom senso do orientador é o elemento chave para que

essas questões possam ser melhores abordadas. A problemática varia de

acordo com cada etapa da escolarização e, principalmente, de acordo com os

traços pessoais de personalidade de cada aluno. De um modo geral, há

momentos mais estressantes na vida de qualquer criança, como por exemplo,

as mudanças, as novidades, as exigências adaptativas, uma nova escola ou,

simplesmente, a adaptação à adolescência. As crianças e adolescentes como

ocorrem em qualquer outra faixa etária, reagem diferentemente diante das

adversidades e necessidades adaptativas, são diferentes na maneira de lidar

com as tensões da vida. É exatamente nessas fases de provação afetiva e

emocional que vêem à tona as características da personalidade de cada um, as

fragilidades e dificuldades adaptativas.

Erram alguns, ao considerar que todas as crianças devessem sentir e

reagir da mesma maneira aos estímulos e às situações ou, o que é pior,

acreditar que submetendo indistintamente todas os alunos às mais diversas

situações, quaisquer dificuldades adaptativas, sensibilidades afetivas, traços de

retraimento e introversão se corrigiriam diante desses “desafios” ou diante da

possibilidade do ridículo. Na realidade podem piorar muito o sentimento de

inferioridade, a ponto da criança não mais querer freqüentar aquela classe ou,

em casos mais graves, não querer mais ir à escola.

Rumo ao 3º milênio é imprescindível que vivenciemos o paradigma da

inclusão social, que objetiva uma sociedade para todos, incluindo a inserção

escolar de pessoas com diversos tipos de deficiências em todos os níveis de

ensino. A escola precisa se reestruturar para atender às necessidades de seus

alunos, respeitando e acolhendo todo aspecto da diversidade humana.

Reconhecemos que é um desafio. Um desafio necessário para o

reconhecimento do aluno em potencial, que exige uma nova postura

pedagógica frente à relação desenvolvimento aprendizagem. A partir de uma

visão sócio-histórica que compreenda as diferenças enquanto construções

culturais, percebendo como lidar com o indivíduo que se relaciona e expressa o

movimento da sociedade em que vive.

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Com algum preparo e sensibilidade o orientador estaria mais

apetrechado do que os próprios pediatras, dispondo de maior oportunidade

para detectar problemas cruciais na vida e no desenvolvimento das crianças.

Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os

orientadores podem atuar tanto beneficamente quanto, consciente ou

inconscientemente, agravando condições emocionais problemáticas dos

alunos. Os alunos podem trazer consigo um conjunto de situações emocionais

intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer para escola alguns

problemas de sua própria constituição emocional (ou personalidade) e,

extrinsecamente, podem apresentar as conseqüências emocionais de suas

vivências sociais e familiares.

Como se sabe, a escola é um universo de circunstâncias pessoais e

existenciais que requerem do educador, ao menos uma boa dose de bom

senso, quando não, uma abordagem direta com alunos que acabam

demandando uma atuação muito além do posicionamento pedagógico e

metodológico da prática escolar. O tão mal afamado "aluno-problema", pode

ser reflexo de algum transtorno emocional, muitas vezes advindo de relações

familiares conturbadas, de situações trágicas ou transtornos do

desenvolvimento, e esse tipo de estigmatização docente passa a ser um fardo

a mais, mais um dilema e aflição emocional agravante.

Para esses casos, o conhecimento e sensibilidade dos orientadores

podem se constituir em um bálsamo para corações e mentes conturbados,

essas crianças geralmente são incompreendidas tanto em casa como na

escola. Também costumam ser marginalizadas e isoladas pelos colegas.

Nesse caso, é importante que a escola ofereça atendimento e

acompanhamento personalizado, para estimular o crescimento pessoal e social

dessas crianças, educação deve ser uma parceria, senão não funciona.

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3.2 – Importância da orientação para melhoria comportamental

dos alunos em relação aos professores:

Quando imaginamos uma sala de aula, pensamos em um lugar onde

os alunos estejam em silêncio, prestando atenção ao professor, que está

dando aula, onde os alunos, quando querem perguntar, levantam a mão e só

podem falar após autorização do professor. Nessa relação valorizam-se mais o

professor, como se o ensino-aprendizagem partisse do mais sábio para o

menos sábio, do mais experiente para o menos experiente.... E como se sabe

na relação na sala de aula todos aprendem. E o professor deve principalmente

aprender como se relacionar melhor com seus alunos e desenvolver sua

aprendizagem. Este desnível provocado pela idéia de que o professor sempre

sabe mais sobre tudo pode dar maior poder ao professor.

Esse poder, muitas vezes, gera alunos passivos, e obedientes, mas

pouco envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Sobre isso os

conhecimentos da área de psicologia nos ensinam que:

• É importante, na sala de aula, estabelecer uma relação que

favoreça a construção conjunta do conhecimento.

• O professor é mediador no processo de aprendizagem e

responsável pelas condições para que ela ocorra.

• O conhecimento prévio, trazido pelo aluno, deve ser valorizado e

utilizado na construção do conhecimento.

O que nota-se na relação professor-aluno é uma diversidade muito

grande, própria das diferenças existentes entre os sujeitos.

Mas, você pode perguntar: o que seria de uma sala de aula onde não

houvesse diferenças, onde todos pensassem iguais?

Provavelmente estaria comprometida a interação social responsável

pelo alargamento do conhecimento, pelo processo de ensino-aprendizagem.

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A riqueza da aprendizagem está no fato de poder contar com cada

aluno, com colegas partilhando de experiências, de iniciativas, de

potencialidades, onde cada um atua com elemento formador do outro.

Um aluno que tenha uma auto-imagem negativa, que se considera um

fracassado, mesmo reconhecendo a sua dificuldade, provavelmente vai buscar

nas outras pessoas que estão ao seu redor responsabilidade pelo seu

fracasso? Dirá que o professor é chato, ou que a matéria não serve para nada

ou mesmo que os colegas é que são ruins. Esse aluno acaba por desenvolver

comportamentos problemáticos na sala de aula, ou torna-se indisciplinado.

Para lidar com a indisciplina, em primeiro lugar, é importante que o

professor garanta em sua relação com os alunos condições igualitárias de

participação, proporcionando diferentes contribuições para o processo de

aprendizagem. Na verdade, a questão da indisciplina ou da disciplina tem sido

muitas vezes utilizada para justificar práticas autoritárias por um lado e, de

outro, estimular uma espécie de domínio por parte os aluno, o que prejudica o

projeto pedagógico da escola.

Em segundo lugar, fazer da inquietação, da agitação e da

movimentação elementos que possibilitem o ato de conhecer. Transformar o

que aparentemente denominamos indisciplina em disciplina poderá estar

construindo, na interação da sala de aula, o surgimento da criatividade e o

nascimento do novo.

Você pode observar que tanto o aluno “problema” como o aluno

“excelente” possuem uma característica comum, que é o querer se mostrar, ou

tornar-se visível. Eles se tornam visíveis, nos fazendo felizes ou nos fazendo

sofrer. É importante notar que, enquanto esses tipos de aluno aparecem mais,

os outros, considerados “normais”, correm o risco de cair em uma zona

sombria, do esquecimento. Não podemos nos esquecer de que cada aluno é

singular, único, diferente do outro.

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O fato de dar importância apenas aos aspectos considerados negativos

ou positivos do comportamento de um aluno pode fazer com que não

prestemos atenção na relação que estamos construindo com ele dia-a-dia.

Essa postura provavelmente fará com que evidenciamos uma prática muito

comum, que é a superficialidade com que a escola ou cada um de nós se

relaciona com os outros, com o saber e com a própria vida. Dessa maneira,

aquilo que consideramos problema, na nossa relação com os alunos, deve ser

transformado em um momento de reflexão sobre nossa prática, sobre as

dúvidas que aqueles alunos-problema fazem nascer em nós a respeito de

nosso papel de professores-educadores. Cabe então, ao professor, enquanto

educador, participar da formação de seus alunos, garantindo uma relação que

evite que uns se calem, outros apenas obedeçam e outros dominem,

estabelecendo condições para a colaboração, a compreensão mútua e uma

boa comunicação.

A intervenção do orientador é fundamental para que as interações

sociais que acontecem na sala de aula façam parte da formação de todos os

que dela participam. É importante fornecer aos alunos referencias que

possibilitem uma relação de confiança e respeito mútuo para que as questões

afetivas, emocionais, presentes no processo de aprendizagem, possam ser

discutidas e ressignificadas.

O papel do professor é desafiador: estimular e mediar o conhecimento

com seus alunos. Para exercer esse papel, é necessário:

• Que sejam criadas atividades que promovam reflexão coletiva.

• Que a relação professor-aluno seja parte do conhecimento a ser

construído na sala de aula.

• Que sejam utilizados os recursos existentes em sua região, no

desenvolvimento de atividades pedagógicas que promovam a disciplina

necessária ao processo de aprendizagem.

• O professor não pode esquecer que, antes de mais nada é um

agente cultural, um pesquisador e um contínuo aprendiz.

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Como disse Guimarães Rosa: “Professor é quem, de repente,

aprende”, e em sua prática escolar ficam alguns desafios, tais como:

• Transformar os problemas identificados nas relações com seus

alunos em condições para se trabalhar a formação da cidadania.

• Sair do lugar de autoridade detentora do saber e do poder, e

aprender a lidar com as indisciplinas presentes na sala de aula.

• Possibilitar que as relações professor-aluno e aluno-aluno sejam

uma relação de confiança que dê conta das questões afetivas que permeiam o

processo de ensino-aprendizagem.

• Resgatar, juntamente com seus alunos, o papel de autores que

elaboram escreve e constrói a história.

• Realizar intervenções que propiciem aos alunos saber respeitar

as diferenças, estabelecer vínculos de confiança e uma prática cooperativa e

solidária.

Concordamos com o Mestre Paulo Freire, quando ele diz que a

educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade

muda.

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CAPÍTULO IV

A CONTRIBUIÇÃO DO ORIENTADOR

PARA UMA EDUCAÇÃO COM LIMITES

Encontra-se cada vez com mais freqüência, em sala de aula, no dia-a-

dia, jovens a espera que algo lhe seja proibido para que possam transgredir.

Qualquer lei, mandamento ou regra, as quais possam desobedecer ou infringir,

representa para muitos destes jovens (crianças ou adolescentes), um atrativo

para que possam marcar sua presença e fazer-se notar como indivíduo.

Através da transgressão o adolescente busca sua identidade. A agressão é

parte do desenvolvimento normal e a transgressão é necessária para o

desenvolvimento da identidade, então os limites são fundamentais para a

obtenção do equilíbrio. A agressão pode ser manifestada em forma de

provocação, insultos, ofensas, chegando ao extremo da investida física com

ferimento, surra, demonstração de violência e maus tratos.

Na sala de aula a agressão significa em certos casos, por exemplo,

quando um aluno agride algum colega sem motivo, ou nega-se a cumprir as

normas, uma busca de limites e atenção. O gesto agressivo do jovem é uma

necessidade de reivindicar por seus objetivos, buscar a comunicação, de se

fazer notar. Observando-se o comportamento de alguns jovens em sala de aula

percebe-se um certo grau de irritabilidade gratuita e desnecessária, podendo

lançar sobre qualquer colega um insulto ou ação maldosa sem maiores motivos

ou justificativa. Isto ocorre inclusive em relação aos professores, pelos quais os

jovens muitas vezes demonstram desagrado e desprazer em colaborar ou

seguir as normas estabelecidas.

Por sua vez, o orientador / professor precisa fazer o seu papel,

procurando manter a ordem e a disciplina, cobrando a obediência às regras e

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normas do grupo ou da escola, mas também tem o dever de compreender e

interpretar estas manifestações, buscando dar segurança ao jovem, para que

obtenha um equilíbrio em suas ações. Na sala de aula os professores

representam muitas vezes uma segurança para alguns alunos que se sentem

perdidos e desamparados, sem limites. O jovem que não teve momentos de

carinho, limite e equilíbrio no seio familiar busca-os na escola. Por isso o

orientador não deve deixar impune uma agressão, pois a melhor forma de

demonstrar afeto por um aluno é saber dizer-lhe não na hora certa. O jovem

deve ter em mente que toda regra estabelecida ou limite imposto deve ser

respeitado.

Porém não basta apenas cobrar e castigar o jovem, é muito importante

dar atenção a um aluno que está perdido, bagunçando, transgredindo normas,

mesmo que seja lhe outorgando alguma tarefa, ou seja, algum trabalho a

concluir em prazo determinado, que lhe exija responsabilidade na execução,

pois assim estaria demonstrando que se percebe sua existência, que se

preocupa com ele e que este é importante no meio ao qual pertence.

Assim, se estaria ajudando na formação de sua identidade, e

estimulando sua capacidade de tornar-se um indivíduo realizado e confiante.

O orientador não pode ser mais apenas aquele que resolve os

problemas e sim um amigo, companheiro, educador, desta forma vai exercer

com sucesso sua função de construtor de conhecimentos. Deve servir como

um referencial seguro no qual o jovem possa se apoiar, deve representar uma

figura significativa de referência, ou seja, alguém que exprima com clareza

informações e diretrizes, tão necessária ao sujeito em formação.

Muitos pais e educadores temem ao impedir os filhos ou alunos de

satisfazer determinadas vontades, estar contrariando boas e até sábias

opções. Os adultos não têm mais tanta certeza, não sabem mais ao certo quais

os caminhos que levam seus filhos à felicidade. Talvez, por isso, colocam-lhes

menos limites. Esta omissão pode tratar-se de uma posição covarde, pois

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deixando de assumir a responsabilidade pelo direcionamento dos filhos ou

alunos, pais e educadores estarão abandonando-os à própria sorte e jogando a

responsabilidade por qualquer “erro” ao próprio jovem.

O não estabelecimento de limites pode tanto ser prova de humildade

como descompromisso em relação aos filhos e ao futuro do mundo. Muitos

jovens, acabam se queixando da posição ausente de seus pais e educadores,

pois estes enfrentam o dilema de como dar liberdade aos filhos, aos alunos,

sem ser ausentes e omissos, sem abandonar o papel de adulto, de guia.

Temendo ser intolerantes ou injustos muitos adultos hesitam a respeito da

imposição de limites aos jovens.

Esta falta de limites gera um problema que está presente de maneira

muito acentuada nas famílias, nas escolas e em qualquer instituição de ensino,

que é a dificuldade de mostrar às crianças e jovens a importância da

obediência às normas e o respeito à moral e a ética. Isto acarreta muitas

vezes, problemas de identificação dos jovens, dificuldade de diálogo, desvios

de condutas, busca de refúgio nas drogas e outros tipos de vícios.

No trabalho cotidiano, é possível presenciar, diariamente, cenas de

indisciplina das crianças e questionamentos às regras da escola. Algumas

escolas têm como princípio educacional o “é proibido proibir” e as crianças

tornam-se verdadeiras “donas” de suas atitudes deixando os professores com

poucos recursos para impor sua autoridade.

Assim fala Mielnik (1982):

“Crianças excessivamente inquietas, agitadas, com tendências à agressividade, se destacam no grupo pela dificuldade de aceitar e cumprir as normas, às vezes, não conseguindo produzir o esperado para sua idade. Estas crianças representam um desafio para suas famílias e escola, cabendo a estes estabelecer os métodos de orientação mais condizentes a cada situação e estabelecer os níveis de regimes necessários para obtenção da disciplina.” (Mielnik, 1982, p. 60).

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A escola enfrenta grandes dificuldades para estabelecer normas aos

jovens, revelando-se uma instituição em crise gerada talvez pela negação ao

diálogo e a impossibilidade de alcançar uma integração entre jovens e adultos

no interior da sociedade.

Colocar limites ao comportamento do educando continua a ser muito

importante para o desenvolvimento da personalidade e para a formação da

cidadania. Porém não o limite no sentido negativo, lembrando “repressão”

proibição, mas sim no sentido da criação de um espaço protegido dentro do

qual o jovem poderá exercer sua espontaneidade sem receios e riscos. Faz-se

necessário na escola, o estabelecimento de regras as quais serão cobradas e

cumpridas por todos, evitando que o orientador responda sozinho pelo

comportamento do aluno, e que ao mesmo tempo possibilite que o aluno sinta-

se seguro e orientado nas atitudes que deverá tomar, tendo consciência do

comportamento desejado e por seus educadores.

O papel da família na educação dos jovens é fundamental. A criança

traz para a escola valores que já estão estabelecidos por sua família e pela

sociedade a qual pertence. Portanto, se desrespeitar os professores, brigar na

escola, agredir os colegas, desvalorizar o ensino e a educação, não representa

para a família um valor, o jovem não sentirá culpa por seu comportamento

indesejável, pois sente vergonha daquilo que para ela não representa um valor.

A relação do aluno com a escola é afetada pela significação que os pais dão a

ela, aos estudos de seu filho e a relações dele com os demais.

Os pais estão sempre cansados, ocupados ou apressados deixando os

filhos muitas vezes sem orientação e sem limites. Na ânsia de compensar esta

falha alguns “mimam” os filhos, por acreditar que por dedicar tão pouco tempo

a eles, não lhe podem dizer não ou cobrar algo. Outros devido ao corre-corre

diário não têm paciência com os filhos e o único gesto de aproximação que a

criança recebe, muitas vezes, é a agressão.

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Quando se vê uma criança maltratando um colega, agredindo física ou

verbalmente qualquer pessoa, percebe-se que isto se deve muitas vezes ao

fato de esta criança sofrer maus tratos ou assistir situações violentas em casa.

A primeira recomendação para sanar este mal é não usar de violência, procurar

conhecê-la e oferecer-lhe segurança não estimulando a culpa.

A criança submetida, durante toda a infância, a um longo período de

aprendizagem da obediência, quase sempre autoritário, às vezes imposta com

violência, dificilmente chegará a ser uns adultos autônomos, capazes de

assumir suas próprias responsabilidades e de responder com firmeza por seus

atos e suas conseqüências.

Por tanto é necessário direcionar, conduzir, orientar as crianças. Um

orientador autoritário não humaniza, mas desumaniza, jamais chama os

educandos a pensar. A escola deve tentar fazer um trabalho individualizado,

conhecer os alunos e não tratá-lo como apenas um número ou como mais um

problema.

A escola, muitas vezes, pode detectar dificuldades no processo de

desenvolvimento do aluno, pois a escola não oportuniza somente a relação

com o saber, tem também funções de socialização. Na busca de sua

identidade o educando encontre na escola um sistema de forças que atiram

sobre ele, reproduzindo um sistema social.

É muito importante, também, que exista uma “relação de confiança”

entre a família e a escola escolhida para auxiliar os pais a educar seus filhos.

Deve ser evitada as criticas a filosofia pedagógica da escola na presença doa

filhos, assim também, como a escola não deve jogar na família todas as

responsabilidades pela falta de colaboração de limites, falta de participação,

etc. Devendo haver uma comunicação operante na relação família-escola

tornando-a mais integrada.

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Freqüentemente a escola procura buscar uma maior participação dos

pais inteirando-os de qualquer problema que ocorre na escola com seus filhos.

Assim como a família à comunidade deve estar inserida na escola e na vida

escolar do jovem buscando a solução para a resolução dos problemas, para

uma integração satisfatória do jovem na sociedade.

A imposição de limites é uma preocupação comum a todo o sistema

educacional. Pais, familiares, escola, comunidade e a sociedade de um modo

geral compartilham da responsabilidade pela educação de nossos jovens.

Deve-se ter sempre em mente que quem educa a criança é o adulto, e portanto

o tipo de educação dado à criança vai depender do adulto. Este adulto deverá

ser seguro e confiante em si mesmo, certo de sua iniciativa e atitudes.

Principalmente deverá amar a criança, procurando compreendê-la e aceitá-la

sem exageros em suas exigências.

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CAPÍTULO V

ALTERNATIVAS DESENVOLVIDAS

PELO ORIENTADOR EDUCACIONAL

A indisciplina e a agressividade representam um dos principais

fenômenos que geram dificuldades no contexto escolar. Esse fato vem se

agravando de tal forma que nem a escola, nem a família conseguem solucionar

o problema. Tal fenômeno é caracterizado de diversas formas, porém, as idéias

acerca desse tema estão longe de serem consensuais. Procuramos discutir os

sentidos atribuídos por alunos do ensino fundamental ao fenômeno “indisciplina

e agressividade escolar”, as causas que são consideradas por eles como

geradoras desse fenômeno e a avaliação das medidas que estão sendo

tomadas para resolver ou amenizar o problema. Partimos do pressuposto que,

se desejamos intervir na realidade educacional, devemos conhecer, de

antemão, a forma como os sujeitos que estão envolvidos nessa realidade

compreendem os dilemas que vivenciam e as alternativas de modificação

dessa situação. Piaget (1973, p. 435) define as normas morais "como regras

racionais de acordo mútuo”. Uma norma é boa quando satisfaz as "leis da

reciprocidade" e para reconhecer se uma norma é boa, a criança "terá de

colocar-se numa perspectiva que se harmonize com outras perspectivas."

Os sentidos atribuídos pelos alunos ao fenômeno refletem uma

pluralidade de terminologias. Não é um problema que poderá ser resolvido de

forma isolada, somente abrangendo a esfera escolar. Faz-se necessário uma

aproximação maior entre a escola, a família e as esferas públicas, como o

conselho tutelar, as promotorias de infância e de adolescência, as

universidades (professores e, principalmente, os acadêmicos que estão em

formação em diferentes áreas), visando um trabalho integrado, não apenas

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discutindo as dificuldades existentes no contexto escolar, mas com a inserção

desses novos olhares possibilitarem uma ressignificação das formas e modelos

de intervenção nesse contexto.

A prevenção não depende só da inteligência ou da quantidade de

informação recebida, mas do crédito dado a essa informação. (Tiba, 1996, p.

189)

Em nossas atividades preventivas junto aos professores e aos pais de

diversas escolas, temos notado diversas queixas e inabilidades no que tange a

temática da disciplina de alunos, principalmente crianças e pré-adolescentes,

Educadores em geral, tanto professores quanto coordenadores e diretores, têm

se queixado bastante em função de falta de disciplina e comportamentos

inadequados de alunos nas salas de aulas e nas demais atividades educativas

realizadas nas escolas. Inicialmente, convém destacar que os seres humanos

são bastantes diferentes uns dos outros e muito complexos. Assim, uma

criança ou um pré-adolescente apresenta diferentes comportamentos conforme

o ambiente e a situação em que se encontra. Muitas vezes, o aluno

"excessivamente agitado" não se apresenta assim em todos os ambientes. É

bastante comum que surjam queixas realizadas por professores de uma escola

e que não apresentam respaldo de todos os educadores da entidade. Há

alunos que são agitados e inconvenientes para uns professores e apresentam-

se de forma bastante distinta em outras aulas. Resta-nos avaliar se o fator que

faz com que a falta de atenção e o comportamento inadequado do aluno não

provém do próprio comportamento do professor.

Há professores que por terem dificuldades de lidar com a disciplina ou

por cansaço e desesperança na profissão, acabam elegendo alguns alunos

para bodes expiatórios. Assim, a responsabilidade por todos os problemas que

possam ocorrer durante as aulas, são sempre dos mesmos alunos. Cria-se

assim um grupo de alunos que são considerados como "terrivelmente

agressivos", em geral liderados por um líder que é visto como "muito maléfico"

(segundo as expressões usadas por professores).

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Convém analisarmos que os professores, muitas vezes, não se

encontram bem preparados para lidar com a indisciplina e com os conflitos que

possam surgir de disputa de poder com os alunos. Ressaltamos não ser um

bom caminho entrar em choque direto com os alunos e tentar impor-se,

apenas, de forma ditatorial. Nunca é demais lembrar: autoridade e

autoritarismo são conceitos muito distintos.

Além disso, há muitos professores que fazem questão de passar uma

imagem muito negativa, de alguns alunos ou mesmo de uma sala inteira, aos

seus colegas de profissão. Sabe-se a influência que um pré-conceito pode

gerar em novas situações. Desta maneira, os novos professores já vão àquela

sala esperando lidar com uns "delinqüentes mirins", não dando chances para

que as novas relações entre educadores e alunos possam ser estabelecidas de

maneira distinta. De quem é a responsabilidade então? Infelizmente, dos

adultos, professores que não conseguem lidar com as dificuldades docentes e

que passam a influenciar os colegas de profissão em sua "cruzada pelo bom

comportamento", contra as crianças.

Não se fala que os alunos em questão sejam fáceis ou anjinhos e os

professores os únicos culpados, muitas vezes, a proposta educacional, ou seja,

o plano pedagógico da escola não dá margem ao diálogo. Os alunos nunca

têm voz ativa e pouco participam de decisões. Assim, os alunos mais

"sensíveis" (de acordo com uma visão que tenta ser politicamente correta de

alguns educadores, mas que reforça o preconceito) reagem negativamente,

causando boicotes e tornando-se inadequados. Os educadores, por sua vez,

não podem usar criatividade e tentar incluir, da melhor maneira possível, os

alunos tidos como "problemáticos" em suas aulas.

Evidentemente, os alunos devem aprender desde a mais tenra infância

a abrir mão, em alguns momentos, da realização direta de seus desejos, para

que possam estar em grupo e viver numa comunidade (no caso as classes de

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aula). Todavia, um dos papeis de educador não é exatamente o de possibilitar

esse crescimento e amadurecimento para as relações pessoais por parte dos

alunos? O que ocorre que impede essa realização?

Pode-se dizer que a educação e os ensinamentos de limites são papéis

das famílias. Têm razão os que assim pensam. Acontece que as famílias têm

tido pouco tempo e não conseguem exercer o seu papel de educação das

crianças. Além disso, a televisão ainda exerce uma influência negativa no que

tange à aquisição de limites pelas crianças. Então, o "problema" estoura na

escola, dentro e fora das salas de aulas.

Indisciplina, agressividade, inquietação e mau-humor são sintomas que

podem indicar problemas psicológicos de crianças e adolescentes, como no

caso da hiperatividade e de outros transtornos psíquicos apresentados por

alguns alunos.

Entretanto, antes de enviar-se "todos os alunos de um determinado

grupinho" aos divãs de psicólogos, devemos analisar se os problemas não

estão mais relacionados aos adultos, à equipe de educadores das escolas,

enfim, ao plano pedagógico e às relações estabelecidas pelos adultos e os

seus alunos. "Deve-se ser como os geógrafos, que sobem à montanha para

conhecer a planície e descem à planície para melhor ver a montanha”

(Napoleão Bonaparte).

Sabe-se da importância de uma análise da equipe e de qualificações

constantes para melhor desempenhar o papel de educadores. A reciclagem é

uma das principais ações que as escolas deveriam ofertar aos seus

profissionais (incluindo os funcionários que, diga-se de passagem, exercem

importantes papeis de educadores). Enfim, a questão da disciplina e dos

relacionamentos entre professores e alunos não deixa de ser um tema de

Educação Preventiva. Assim, deve estar em constante pauta de trabalho e

aperfeiçoamento pelas equipes docentes das entidades de ensino. Lutar pela

alegria na escola é uma forma de lutar pela mudança no mundo.

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5.1 – Ações preventivas da indisciplina e agressividade através

de temas transversais

Entre as medidas que deveriam ser adotadas em uma escola para

enfrentar os problemas de convivência, sem renunciar por isto aos princípios

de compreensividade e de escola educadora, está à medida de dar maior

ênfase aos aspectos preventivos do que aos meramente punitivos. Entre as

medidas preventivas está a criação de um currículo que seja negociado com os

interesses dos alunos, para o qual uma via adequada e ao alcance dos nossos

sistemas educativos é a de trabalhar com os temas transversais, que se trata

apenas de desenvolver a declaração retórica de todos os sistemas educativos

de perseguir uma educação integral das pessoas, tais como:

a) Educação para a paz: como tema que promove o valor-meta

desenvolvendo o conhecimento, as atitudes e as destrezas para a solução

dialogada, não-violenta dos conflitos interpessoais, tão freqüentes em

coletividades onde convivem pessoas diferentes.

b) Educação emocional: um tema transversal visando uma questão que

está muito relacionada aos problemas de convivência, especialmente na

adolescência, como o controle das próprias emoções, o respeito e a atenção às

emoções dos outros.

c) Educação intercultural: perante o fato de que, de forma crescente,

nossas salas de aula vão se tornando cada vez mais multiculturais, às vezes

surgem conflitos derivados da falta de tolerância e de assunção de valores

xenófobos aprendidos fora da escola. Uma educação intercultural promoverá

um maior conhecimento e integração de outras culturas, promovendo a noção

de enriquecimento mútuo.

d) Educação democrática: devido a que grande parte da atitude violenta

ou indisciplinada de determinados alunos representa uma ponta de iceberg de

mal-estar, pela imposição autoritária de normas por parte da instituição escolar.

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Diante disto, a educação democrática promoverá a participação a partir do

estabelecimento das próprias normas de convivência e seu controle, até o

planejamento do currículo no contexto de uma negociação que leve em

consideração as exigências da sociedade e seus próprios interesses.

e) Educação moral: como transversal de todos os temas, uma vez que

promove a reflexão e o julgamento moral em torno de determinadas situações

dilemáticas que estão presentes no desenvolvimento de todos os temas.

Procura melhorar o conhecimento dos valores-meta e o desenvolvimento de

uma ética pessoal para se movimentar em sociedade.

Assim através destes temas transversais, será mobilizada uma série de

estratégias-chave para a prevenção da disciplina nos centros comunitários e

nas escolas: o trabalho cooperativo, a participação, ações solidárias etc., tudo

isso dentro de um clima comunitário, no qual a ação do Orientador será

primordial. Isto pressuporá tomar medidas em diferentes escalas. Se seguir

uma ordem dedutiva (desde o geral até o particular), deve-se começar por

entrar em consenso em nível de comunidade educativa (conselho escolar)

sobre os valores–meta relacionados com a pacificação do centro (não-

violência, democracia, tolerância, controle, respeito etc.), transformando-os em

finalidades educativas e selecionar os temas transversais para que melhor

sejam desenvolvidos. Também devem ser tomadas decisões organizacionais

que promovam um clima propício no centro e nas salas de aula: diálogo,

tolerância, igualdade, e principalmente, participação.

O Departamento de Orientação é adequado para coordenar pelo

menos dois destes temas transversais: a educação democrática e a educação

emocional. A primeira começará promovendo a compreensão e elaboração de

normas de convivência, através das Coordenações, criando comissões de

convivência para o controle democrático dos problemas de convivência,

dispositivos de participação (por exemplo, assembléias) etc. A educação

emocional, que requer uma formação psicológica mínima, deverá ser

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impulsionada pelo orientador, porém suas estratégias devem ser desenvolvidas

por coordenadores e professores de turmas.

Há um ditado chinês que diz que, ‘se dois homens vêm andando por

uma estrada, cada um carregando um pão, e, ao se encontrarem, eles trocam

os pães, cada homem vai embora com um; porém, se dois homens vê andando

por uma estrada, cada um carregando uma idéia e, ao se encontrarem, eles

trocam as idéias, cada homem vai embora com duas’. Quem sabe é esse

mesmo o sentido do nosso fazer: repartir idéias, para todos terem pão...

(Cortella, 1998, p. 159).

Os demais temas transversais poderão ser integrados em unidades

didáticas centradas em determinadas temáticas acordadas com os alunos e

que solicitem a contribuição de conhecimentos e destrezas das diferentes

disciplinas. Isto pode supor a reorganização dos horários tradicionais, para

garantir blocos de horários mais longos do que os módulos tradicionais, nos

quais se pode trabalhar um tema integrado de uma maneira mais continua.

Esta proposição não pressupõe eliminar as disciplinas acadêmicas, mas os

seus conteúdos e destrezas serão utilizados no momento em que sejam

requeridos e não quando solicitado pela estrutura e lógica disciplinar. Ao

mesmo tempo, as disciplinas disporão de alguns tempos exclusivos para

abordar com maior dedicação aqueles temas que não tenham sido abordados

ou que solicitem uma abordagem mais detalhada devido às suas

complexidades. Trata-se, pois, de um currículo integrado em torno de valores-

meta e desenvolvido através de eixos transversais, sob o prisma da educação

integral.

O orientador e o professor desempenham neste processo o papel de

modelo, guia, referência (seja para ser seguido ou contestado); mas os alunos

podem aprender a lidar com o conhecimento também com os colegas. Uma

coisa é o conhecimento “pronto”, sistematizado, outro, bem diferente, é este

conhecimento em movimento, tencionado pelas questões da existência, sendo

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montado e desmontado (engenharia conceitual). “Aprende-se a pensar, ou, se

quiserem, aprende-se a aprender.” (Vasconcellos, 2003, p.127)

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CONCLUSÃO

Precisamos conhecer o que fomos, para compreender o que somos e

decidir sobre o que seremos. (Freire apud Grinspun, 2006, p.23)

A escola é o primeiro lugar de socialização da criança depois de sua

família. Nesta instituição aprende-se a dividir e/ou negociar idéias, vontades,

brinquedos, etc. Também é papel desta transmitir os conhecimentos de uma

geração/ cultura aos seus herdeiros mais novos. Portanto o papel social da

escola é promover a melhoria da comunidade pela educação de seus filhos. Ou

seja, é através da educação que haverá melhoria das condições sociais,

econômicas e políticas de uma determinada comunidade.

Educar vem do termo educare que significa guiar, nortear, orientar o

indivíduo; e da palavra educere que é buscar as potencialidades do indivíduo,

no sentido de trazer de dentro para fora (Grinspun, 2006). A educação é,

portanto uma orientação do educando sobre as suas potencialidades e é dentro

desta perspectiva que trabalha o orientador educacional.

Cabe ressaltar que também é papel da escola “preocupar-se com a

transmissão de valores humanistas, como por exemplo, a solidariedade, a

tolerância, o respeito às diferenças individuais e ao bem comum” (Fante, 2006,

p. 195). Desta forma, pode-se concluir que o papel da escola não se restringe à

transmissão de conteúdos, como acreditava-se na educação tradicional, onde o

papel dos alunos era memorizar e repetir o que foi “ensinado” pelos docentes.

A escola e os professores deixaram de ser os detentores do saber e

passaram a ser mediadores entre a informação e o conhecimento, de forma

que é o aluno que deve transformar informações em conhecimento. Contudo,

também é dever da escola oferecer subsídios aos educandos para que eles

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sejam cidadãos conscientes, críticos e participantes da sociedade onde vivem

e isso incluir trabalhar valores, cidadania, dentre outros aspectos.

É na escola que as crianças e os adolescentes passam grande parte

do seu tempo,ficando cerca de quatro horas por dia e aproximadamente nove

anos para concluir o ensino fundamental que é o nível obrigatório no Brasil.

Portanto, é importante que a mesma se“constitua em um ambiente interessante

e agradável” (Giacaglia & Penteado, 2003, p. 87). Isto pressupõe que o que é

ensinado pela escola deve ser significado para que o aluno, além de haver um

clima favorável entre professores, alunos e demais funcionários.

Embora a escola deva ser uma espécie de segundo lar da criança e do

adolescente, tendo em vista o período que estes passam nela, nem sempre

isso acontece. A violência nas escolas é um fenômeno que sempre existiu. É

sobre este fenômeno que esta pesquisa buscou investigar tendo como

problema a ser investigado qual a função do orientador educacional frente a

indisciplina e a hipótese de que a atuação do orientador educacional diminui os

riscos deste fenômeno ocorrer na escola e, onde ele já está instaurado

diminuiu as suas conseqüências e incidências.

Preocupado não somente em resolver o problema da falta de disciplina,

por exemplo, mas sim em tentar identificar as causas que levam os alunos a

apresentarem determinado problema.

Com relação ao combate e a prevenção da indisciplina a atuação do

orientador educacional também é influenciada pelas tendências pedagógicas.

Entretanto, como constatou-se independente da tendência ao qual o orientador

siga o importante é que este realize algum projeto visando a prevenção ou o

combate da indisciplina.

Portanto é preciso que haja empatia entre alunos e o orientador, caso

contrário todas as atividades e propostas que o orientador educacional trouxer

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não terão significado para os discentes e não funcionarão uma vez que não

terão a adesão destes.

Neste trabalho pretendeu-se apontar as diferenças e possibilidades de

atuação deste profissional frente aos casos de indisciplina. Entretanto cabe

ressaltar que não há uma atuação considerada correta, todas são válidas e

dependem do memento no qual o orientador, a escola e os alunos estão; o

grau de conhecimento/ informações sobre o tema; as possibilidades de atuação

considerando os recursos materiais, físicos e humanos. Todos esses aspectos

precisam ser considerados pelo Orientador Educacional no trabalho de

prevenção a falta de limites.

Entretanto uma característica torna-se fundamental para o sucesso dos

casos de indisciplina, o diálogo. Sem ele o orientador educacional não

conseguirá conscientizar os alunos para a importância deste programa e da

sua participação neste, tornando o programa ineficiente e ineficaz.

Como é possível notar uma habilidade fundamental ao orientador

educacional é a relação interpessoal, uma vez que ele vai trabalhar

diretamente com pessoas, com as suas particularidades (diferenças e

dificuldades) e necessitará escutar as diferentes vozes tentando não só

identificar os problemas, mas as possíveis causas destes.

Não se pretendeu nesta pesquisa apontar qual a atuação mais eficiente

ao orientador, mas mostrar-lhe quais são os caminhos que podem ser

seguidos, de onde ele pode partir para atingir seu(s) objetivo(s).

Tendo como objetivo melhorar as relações internas na escola, ela vai

além pretendendo que os alunos possam multiplicar o conhecimento e a

experiência adquiridos para a comunidade onde vivem, visando uma

transformação no comportamento desta.

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Entretanto para ser eficaz é preciso que este trabalho seja realizado de

forma interdisciplinar e conjunto com os professores, pais e alunos, incluindo

todos da escola.

Não é um trabalho fácil, pois exige que todos estejam conscientes da

existência da indisciplina, de suas conseqüências e da importância do combate

e sua prevenção.

Isso exige do orientador educacional habilidades como boa relação

interpessoal, organização, capacidade de argumentação, etc, mas o mais

importante é gostar e acreditar no seu trabalho uma vez que sem amor e

prazer esta profissão provavelmente estará fadada ao fracasso.

Que a leitura deste trabalho possa além de incentivar outras pesquisas

na área seja um instrumento encorajador para aqueles que ainda acreditam no

papel e na importância do orientador educacional.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO............................................................................................ 2

AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 3

DEDICATÓRIA................................................................................................... 4

RESUMO............................................................................................................ 6

METODOLOGIA................................................................................................. 7

SUMÁRIO........................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

CAPÍTULO I INDISCIPLINA............................................................................. 15

1.1 – O que é indisciplina?.............................................................................15

1.2 – Implicações de alguns fatores na indisciplina no ambiente escolar .... 20

1.3 – Indisciplina e a relação professor / aluno ............................................ 24

1.4 – Limites, regras e indisciplina ............................................................... 27

1.5 – Indisciplina na escola e violência ........................................................ 31

CAPÍTULO II AS DIFERENTES CAUSAS QUE A INDISCIPLINA PODE

TER....................................................................................................................34

2.1 – Família ................................................................................................ 34

2.2 – Alunos ................................................................................................. 35

2.3 – Grupos e turmas.................................................................................. 36

2.4 – A escola .............................................................................................. 36

2.5 – Programas........................................................................................... 37

2.6 – Regulamentos disciplinares ................................................................ 38

2.7 – Professores ......................................................................................... 38

2.8 – Sociedade ........................................................................................... 39

CAPÍTULO III POSTURA DO ORIENTADOR EM RELAÇÃO À

INDISCIPLINA................................................................................................... 40

3.1 – Preparo do Orientador para lidar com alunos-problemas.................... 40

3.2 – Importância da orientação para melhoria comportamental dos alunos

em relação aos professores: ........................................................................ 45

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CAPÍTULO IV A CONTRIBUIÇÃO DO ORIENTADOR PARA UMA

EDUCAÇÃO COM LIMITES............................................................................. 49

CAPÍTULO V ALTERNATIVAS DESENVOLVIDAS PELO ORIENTADOR

EDUCACIONAL ............................................................................................... 55

5.1 – Ações preventivas da indisciplina e agressividade através de temas

transversais.................................................................................................. 59

CONCLUSÃO................................................................................................... 63

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 67

ÍNDICE ............................................................................................................. 70

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA

INDISCIPLINA

Autor: Cássia Calil Carneiro da Silva

Data da entrega: 07/02/209

Avaliado por: Profª Ms. Ana Cristina Guimarães Conceito: