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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
JOVENS APOSENTADOS E IDOSOS TRABALHADORES.
O IMPACTO DA LONGEVIDADE NA GESTÃO DE
PLANOS DE PREVIDÊNCIA
Por: Alexsandro de Barcelos Coelho
Orientador
Prof. JORGE VIEIRA
Rio de Janeiro
2011
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
2
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
O IMPACTO DA LONGEVIDADE NA GESTÃO DE
PLANOS DE PREVIDÊNCIA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Gestão
Empresarial
Por: . Alexsandro de Barcelos Coelho
4
DEDICATÓRIA
Dedico este estudo a minha família,
principalmente a meus pais que me
ensinaram a ser um homem de bem, a
minha esposa, que sempre acreditou na
minha capacidade me dando amor e
apoio nos momentos mais difíceis e a
meu Deus que com seu imenso amor e
misericórdia me deu sabedoria e
capacidade de vencer.
6
RESUMO
O presente estudo explora a problemática que reside em um dos
principais componentes do custo de um plano previdenciário: o tempo de
pagamento de benefícios. Os Planos de previdência são planejados fixando-se
uma tábua de mortalidade que servirá de parâmetro para determinação do
valor dos benefícios vitalícios, com possibilidade de reversão a pensão ou
outros benefícios, conforme a estrutura do plano. Entretanto, em função,
principalmente, da defasagem de tempo entre a data da contratação do plano e
a data de início de pagamento dos benefícios, as administradoras de planos
previdenciários se deparam com a exposição ao risco decorrente da tendência
de aumento da expectativa de vida.
Portanto, estudaremos como o aumento da longevidade da população
influencia a gestão de planos de previdência e impacta os recursos necessários
para garantir o pagamento dos benefícios. Veremos também que com políticas
sérias de determinação das fontes de custeio dos planos e com medidas
pautadas em estudos técnicos que apontem a necessidade de alteração nas
regras de concessão de rendas mensais vitalícias, podemos mitigar os riscos e
garantir o equilíbrio dos planos.
7
METODOLOGIA
O presente estudo foi fruto de um trabalho minucioso de análise, com
leitura de livros, revistas, artigos científicos e estudos que tratam do assunto da
longevidade e da gestão de planos de previdência. Foram apresentadas
tabelas explicativas e citações de diversos autores especialistas nos assuntos
abordados, propondo soluções para o problema apresentado.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I - O ENVELHECIMENTO NO BRASIL E NO
MUNDO 12
CAPÍTULO II - A PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA E A
QUESTÃO DA LONGEVIDADE 21
CAPÍTULO III – O AUMENTO DA EXPECTATIVA DE VIDA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS 29
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA 37
FOLHA DE AVALIAÇÃO 39
9
INTRODUÇÃO
Todo processo de gestão envolve tomada de decisões que
contemplam maiores ou menores graus de incertezas. Em geral, quanto maior
for o espaço de tempo em análise, mais tende a se intensificar o risco.
Nesse sentido, a natureza longínqua das obrigações futuras de um
plano de previdência dificulta a sua gestão. Todas as Entidades de Previdência
Complementar convivem com a atividade de modelagem de planos, o qual
consiste em determinar o arranjo de fluxo de recursos para fazer face aos
compromissos futuros. Para tanto, é necessário fazer projeções, as quais
requerem a assunção de certas premissas, tais como a taxa de mortalidade,
taxa de desconto, taxa de crescimento salarial, fator de capacidade etc.
O aumento da expectativa de vida e conseqüente decréscimo da taxa
de mortalidade é uma ótima notícia para a população que viverá mais tempo,
entretanto é uma preocupante questão para as administradoras de planos de
previdência de todo o mundo. Para agravar a situação, a evolução da
expectativa de vida da população não é uma situação estática, visto que é
influenciada, por exemplo, pelo desenvolvimento da medicina, das condições
de higiene e sanitária, do ambiente sócio-econômico, etc.
O tema deste estudo é: o impacto do aumento da longevidade na
gestão de entidades de previdência complementar. A questão central deste
trabalho reside em: como reduzir o impacto do aumento da longevidade na
administração de entidades de previdência complementar?
Desta forma, o objetivo deste trabalho consiste em discutir a
problemática do envelhecimento da população brasileira e os seus impactos na
administração de planos de previdência complementar e analisar os principais
mecanismos de diminuição destes impactos, buscando a solvência dos planos
de benefícios.
Vamos estruturar esse trabalho em três capítulos. No primeiro serão
apresentados dados que demonstram o grau de envelhecimento da população
mundial e como esse processo, rápido e continuo, influencia sensivelmente a
gestão e o processo de tomada de decisão na administração de planos de
10
aposentadoria e pensão que pagam benefícios vitalícios. No segundo capítulo
traçaremos um perfil da previdência social brasileira e como a diminuição da
taxa de mortalidade da população tem sido tema principal de constantes
debates sobre como garanti a viabilidade financeira e o pagamento dos
benefícios previdenciários e sociais as gerações futuras. No terceiro capítulo
serão apresentadas as novas tendências do mercado na busca de soluções
para minimizar os riscos que o crescente aumento da longevidade pode causar
em planos previdenciários.
11
CAPÍTULO I
O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL
“Somente os idiotas se lamentam de envelhecer” (Cícero, 44 a.C.)
Uma verdade incontestável da natureza humana é a fase da
maturidade. Nela que se perde o vigor físico, as melhores condições de saúde
e que precisamos de amparo, seja por doença ou pela incapacidade para o
trabalho. Nessa fase que se torna tão importante ter garantias de sobrevivência
e conforto financeiro proporcionados por uma aposentadoria.
Cada vez mais pessoas no mundo necessitam de cuidados especiais e
desse tipo de benefício. O mundo envelhece rapidamente devido vários fatores
que abordaremos neste capítulo.
Segundo Giambiagi e Tafner (2010), o mundo experimentou ao longo
do século 20 uma transição demográfica resultante de três forças: forte
elevação inicial da taxa de fecundidade logo após o término da segunda guerra
mundial e que se prolongou por duas décadas; pronunciada redução da taxa
de mortalidade entre os segmentos mais velhos da sociedade; a partir da
segunda metade da década de 1970, uma contínua queda na taxa de
fecundidade.
O resultado foi um progressivo envelhecimento da população, já que os
segmentos mais velhos não apenas começaram a se tornar numericamente
mais expressivos no conjunto da população, com, no extremo oposto, a
renovação da sociedade, dada a queda na taxa de fecundidade, tornou-se
cada vez menor. A tabela abaixo apresenta taxas médias anuais de
crescimento demográfico para o mundo e os diversos continentes.
12
ANO MUNDO ÁFRICA ÁSIA EUROPA
CARIBE
E
AMÉRICA
LATINA
AMÉRICA
DO NORTE
AMÉRICA
DO SUL OCEANIA
1950-1960 1,76 2,26 1,79 1,02 2,77 2,05 2,79 2,27
1960-1970 2,01 2,53 2,28 0,83 2,75 1,75 2,69 2,11
1970-1980 1,84 2,71 2,06 0,55 2,37 1,46 2,38 1,60
1980-1990 1,72 2,81 1,87 0,39 2,07 1,33 2,07 1,61
1990-2000 1,43 2,45 1,50 0,11 1,63 1,37 1,61 1,45
2000-2010 1,18 2,33 1,15 -0,04 1,32 1,07 1,33 1,42
2010-2020 1,05 2,16 0,97 -0,12 1,10 1,01 1,08 1,20
2020-2030 0,85 1,93 0,69 -0,25 0,85 0,89 0,82 0,96
2030-2040 0,67 1,75 0,46 -0,35 0,61 0,74 0,58 0,72
2040-2050 0,53 1,56 0,27 -0,45 0,38 0,64 0,34 0,54
Font: population division of the department of economic and social affairs of the united nations secretariat,
world population prospects: the 2008 revision united nations.
A taxa de fecundidade é influenciada principalmente pela preocupação
das nações em políticas de educação e planejamento familiar e a inserção
cada vez mais expressiva da mulher no mercado de trabalho, priorizando a
carreira ao invés da natalidade.
O envelhecimento da população brasileira está relacionado a esse
fenômeno mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em
seu relatório técnico “Previsões sobre a população mundial”, elaborado pelo
Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, nos próximos 43 anos o
número de pessoas com mais de 60 anos de idade será três vezes maior do
que o atual. Os idosos representarão um quarto da população mundial
projetada, ou seja, cerca de 2 bilhões de indivíduos (no total de 9,2 bilhões). No
critério da Organização Mundial da Saúde (OMS), é considerado idoso o
habitante de país em desenvolvimento com 60 anos ou mais e o habitante de
país desenvolvido com ou acima de 65 anos.
Em 2050, a expectativa de vida nos países desenvolvidos será de 87,5
anos para os homens e 92,5 para as mulheres (contra 70,6 e 78,4 anos em
13
1998). Já nos países em desenvolvimento, será de 82 anos para homens e 86
para mulheres, ou seja, 21 anos a mais do que os 62,1 e 65,2 atuais.
A mulher, sob a influência das mudanças sociais que ocorreram a partir
da década de 1960, alterou seu comportamento com conseqüências no
mercado de trabalho, no nível educacional e no casamento. A fecundidade
passou a integrar os direitos individuais. No século 21, a mulher tem a metade
dos filhos que a geração de sua mãe. Mas não só. A medicina preventiva e
programas voltados para a qualidade de vida contribuem para ampliar a
longevidade. Sem falar nas baixas taxas de mortalidade infantil ou prematura
que aumentam a esperança de vida, devido a uma nutrição adequada,
ampliação do saneamento básico e tratamento de água ou pelo uso de vacinas
e antibióticos.
O Brasil, até 2025, será o sexto país do mundo com o maior número de
pessoas idosas, segundo dados da OMS. Até o início dos anos 1980, a
estrutura etária da população brasileira, revelada pelos Censos Demográficos,
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vinha mostrando traços
bem marcados de uma população predominantemente jovem. Este quadro,
porém, vem sendo alterado. Em 1996, eram 16 idosos para cada 100 crianças
e, em 2000, há 30 idosos para cada 100 crianças.
Sob todos esses aspectos, o perfil etário da população brasileira tem
sido alterado sensivelmente, como se vê nas figuras abaixo:
16
O IBGE e o U.S Census Bureau consideram que o grupo de jovens
inclui pessoas de 0 a 19 anos, os adultos estão na faixa etária dos 20 a 59anos
e os idosos a partir dos 60 anos. A análise etária de uma população é
importante pelas implicações que a predominância de uma ou outra faixa etária
pode trazer vantagens ou preocupações para o planejamento econômico de
um país. Até alguns anos atrás, podíamos afirmar que os países desenvolvidos
possuíam elevada porcentagem de adultos e que os países subdesenvolvidos,
como o Brasil eram nações de jovens. Hoje o perfil demográfico do mundo
mudou, devido ao aumento de expectativas de vida e de diminuição da taxa de
natalidade. Projeções da ONU indicam que o número de pessoas com mais de
60 anos no mundo triplicará passando 606 milhões em 2000 para 2 bilhões na
metade do século XXI. O número de pessoas com mais de 80 anos, subira de
69 milhões para 379 milhões.
Desde 1998, o documento de Estimativas de População Oficiais nas
Nações Unidas usa projeções sobre grupos etários mais avançados dos 80,90
e 100 anos. De acordo com a ONU, esses grupos representam hoje uma
pequena parcela da população mundial, mas em contrapartida entre 1970 e
1998 aumentaram quase 60%. O outro fato destacado é que as mulheres
deverão compor a maior parte dos idosos em virtude da maior longevidade
feminina. Em 2002, havia cerca de 81 homens para cada 100 mulheres nas
faixas acima de 60 anos e 53 homens para cada 100 mulheres acima dos 80
anos. Estima-se que em 2050, a população acima de 60 anos será bem maior
que a de menos de 14 anos.
Em 2002, a ONU realizou em Madri a Assembléia Mundial das Nações
Unidas sobre envelhecimento, onde o objetivo era determinar medidas para
que o idoso seja visto positivamente e não como um encargo, o que resultou no
plano internacional de ação para o envelhecimento. Na verdade os idosos não
representam apenas problemas para a sociedade, de modo geral as pessoas
estão vivendo mais e melhor, assim, os idosos podem contribuir em suas
experiências assumindo papeis importantes no mercado de trabalho, pois
muitos aposentados continuam em plena atividade de trabalho.
17
A saúde e a qualidade de vida dos idosos, mais que em outros grupos
etários, sofrem a influência de múltiplos fatores físicos, psicológicos, sociais e
culturais. Assim, avaliar e promover a saúde do idoso significa considerar
variáveis de distintos campos do saber, numa atuação interdisciplinar e
multidimensional. O envelhecimento ativo depende de uma diversidade de
fatores determinantes que envolvem indivíduos, famílias e países. A
compreensão das evidências que temos sobre esses fatores irá nos auxiliar a
elaborar políticas e programas que obtenham êxito nessa área. Qualidade de
vida na velhice é uma avaliação multidimensional referenciada a critérios sócio
normativos e intrapessoais, a respeito das relações atuais, passadas e
prospectivas entre o individuo maduro ou idoso e o seu ambiente.
A qualidade de vida na velhice dependente de muitos elementos em
interação constante ao longo da vida do individuo. Isto é, depende das
condições físicas, ambiente, das condições oferecidas pela sociedade, relativas
à renda, saúde, educação formal e informal: da existência de redes de relações
de amizade e de parentesco, do grau de urbanização e das condições de
trabalho; das condições biológicas propiciadas pela genética, pela maturação,
pelo estilo de vida e pelo ambiente físico. A cultura é um fator determinante
transversal dentro da estrutura para compreender o envelhecimento ativo. A
cultura que abrange todas as pessoas e populações modela nossa forma de
envelhecer, pois influencia todos os outros fatores determinantes do
envelhecimento ativo. Os valores culturais e as tradições determinam muito
como uma sociedade encara as pessoas idosas e o processo de
envelhecimento. Quando as sociedades atribuem sintomas de doença ao
processo de envelhecimento, ela tem menor probabilidade de oferecer serviços
de prevenção, detecção precoce e tratamento apropriado. A cultura é um fator
chave para que a convivência com as gerações mais novas na mesma
residência seja ou não o estilo de vida preferido.
Para promover o envelhecimento ativo, os sistemas de saúde
necessitam ter uma perspectiva de curso de vida que vise à promoção da
saúde, prevenção de doenças e acesso eqüitativo a cuidado primário e de
longo prazo de qualidade. Os serviços sociais e de saúde precisam ser
18
integrados, coordenados e eficazes em termos de custos. Não pode haver
discriminação de idade na provisão de serviços e os provedores destes devem
tratar as pessoas de todas as idades com dignidade e respeito. A promoção da
saúde é o processo que permite às pessoas controlar e melhorar sua saúde. A
prevenção de doenças abrange a prevenção e o tratamento de enfermidades
especialmente comuns aos indivíduos à medida que envelhecem, por exemplo:
a vacinação de idosos contra gripe proporciona uma economia de 30 a 60
dólares em tratamento por cada dólar gasto em vacinas.
Os serviços de saúde mental, que desempenham um papel crucial no
envelhecimento ativo, deveriam ser uma parte integral na assistência em longo
prazo. Deve-se dar uma atenção especial aos subdiagnósticos de doença
mental (especialmente depressão) e às taxas de suicídio entre idosos (OMS,
2001). Fatores psicológicos que são adquiridos ao longo do curso da vida têm
uma grande influência no modo como as pessoas envelhecem. A auto-
eficiência (a crença na capacidade de exercer controle sobre sua própria vida)
está relacionada às escolhas pessoais de comportamento durante o processo
de envelhecimento e à preparação para a aposentadoria. Saber superar
adversidades determina o nível de adaptação a mudanças, como a
aposentadoria, e a crises do processo de envelhecimento (privação e o
surgimento de doenças). Homens e mulheres que se preparam para a velhice e
se adaptam a mudanças fazem um melhor ajuste em sua vida depois de 60
anos. A maioria das pessoas fica bem humorada à medida que envelhece e,
em geral, os idosos não diferem muito dos jovens no que se refere capacidade
de solucionar problemas.
O lazer é o conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar-
se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se, e
entreter-se, ou ainda, para sua informação ou formação desinteressada, sua
participação social voluntária ou livre capacidade criadora após se livrar ou
desembaraçar das obrigações profissionais, familiares e sociais, reunindo as
três funções do lazer: descanso; divertimento, recreação e entretenimento;
desenvolvimento pessoal. O bem-estar psicológico reflete na avaliação pessoal
sobre as três áreas precedentes, da capacidade do individuo para adaptar-se
19
às perdas e de sua capacidade de recuperar-se de eventos estressantes do
curso de vida individual e social, tais como desemprego, doenças, desastres,
motes em família, violência urbana, crises econômicas, guerras e da sua
capacidade para assimilar informações positivas sobre si mesmo.
A longevidade arrasta uma questão recente no mundo suscitada pelo
avanço tecnológico: o direito de morrer. Até quando a medicina pode prolongar
a vida por meio de tecnologias médicas? Esta é uma discussão global, pouco
explorada academicamente no Brasil. É, entretanto, um aspecto fundamental
para a Economia da Saúde pelo óbvio impacto nas despesas médicas. Diniz e
Costa (2004) apontam o desafio de respeitar as escolhas individuais de recusar
tratamentos prolongados a despeito da orientação médica. Neste aspecto, as
escolhas dependerão do grau de relacionamento do idoso com a família. Se a
pessoa deixou sua vontade expressa ou registrada sobre tratamentos, mas
também sobre transplantes ou doação de órgãos.
O maior desafio que enfrentaremos diante desta nova realidade é
descobrir a melhor maneira de adequarmos o mundo para a recepção e o
cuidado que essa nova população social e economicamente ativa ter uma
velhice feliz e tranqüila, sem deixarmos de lado o equilíbrio dos planos de
benefícios que proporcionarão essa estabilidade financeira.
Segundo Giambiagi e Tafner (2010, p.1) “a terceira idade é, em geral, a
época mais sombria no ciclo do ser humano, comparativamente aos sonhos e
planos que temos na juventude e à vida intensa que levamos na fase adulta”.
Desta forma, precisamos ter a constante preocupação de nos preparar para
esse momento.
20
CAPÍTULO II
A PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA E A QUESTÃO
DA LONGEVIDADE
A origem da previdência no mundo
As pensões por aposentadoria surgiram da Revolução Industrial, tendo
a Inglaterra como pioneira no mecanismo baseado puramente na
solidariedade: nos cargos estáveis quando um funcionário saia ao fim de certo
número de anos de serviço o funcionário que o substituía assumia o cargo de
lhe pagar uma renda enquanto o aposentado vivesse na esperança que,
quando chegasse as sua vez de se retirar , seu substituto procedesse da
mesma forma.
De acordo com o artigo de Mario Steenbock (2009), 1844 no Império
Austro-Húngaro e na Bélgica surgiram as primeiras previdências sociais mais
similares ao modelo atual, porém, não eram obrigatórios. A obrigatoriedade se
deu na Alemanha, através do Chanceler Otto Von Bismarck, em 1883, quando
foram promulgadas as primeiras leis sobre os seguros sociais obrigatórios –
contra doença, acidentes e invalidez - que passam a ser conhecidas com leis
de Bismarck. Alguns estudiosos consideram este momento como o marco da
história do previdencialismo.
De acordo com Aécio Pereira Junior (2004), logo após o término da
segunda guerra mundial, em 1941, o economista Willian beveridge foi
convocado pelo governo inglês para presidir uma comissão encarregada de
elaborar um relatório sobre a seguridade social da Inglaterra. Dessa
empreitada, foram elaborados dois relatórios, um no ano de 1942 e outro em
1944 denominados, respectivamente, “seguro social e serviços conexos” e
21
"pleno emprego em uma sociedade livre”, os quais tiveram incomensurável
influencia na evolução dos sistemas de proteção social vigentes no mundo.
Os planos Beveridge, como se tem chamado os relatórios
apresentados pela comissão formada pelo governo britânico e presidida por
Willian Beveridge, teriam sido influenciados pelas idéias de Roosevelt de
buscar a erradicação das necessidades de toda a população e, também, pelo
economista John Keynes na defesa da distribuição de renda.
Os dois relatórios partiram do pressuposto de que se devia assegurar a
eficaz proteção ao povo, não limitando sua abrangência apenas aos
trabalhadores cujas prestações estavam atreladas a excessivos critérios de
concessão.
A Previdência Social
O dicionário Aurélio define Previdência Social como o “conjunto de
normas de proteção e defesa do trabalhador ou do funcionário, mediante
aposentadoria, amparo nas doenças, montepios, etc.”
Portanto, todos os trabalhadores rurais e urbanos, desde que tenham
mais de 16 anos, podem se filiar a Previdência Social (todos os trabalhadores
com carteira assinada estão automaticamente filiados). Uma vez associado,
passam a ser considerados segurados da Previdência Social.
Esses segurados são divididos em obrigatórios e facultativos. O
primeiro grupo refere-se aos trabalhadores rurais e urbanos, os empregados
domésticos, os contribuintes individuais (incluído os autônomos e empresários),
no segundo estão as pessoas que não tem rena própria como as donas de
casa, estudantes e desempregados.
Vale lembrar que os trabalhadores que não contribuem para a
Previdência Social ficam desamparados no caso de algum infortúnio, pois não
tem direito a usufruir os benefícios oferecidos pelo Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), exceto em casos especiais como os cidadãos que são elegíveis
a benefícios assistenciais.
22
O trabalhador contribuinte tem sua renda mantida pela Previdência
Social quando fica impossibilitado de exercer suas atividades, seja por um
período ou em definitivo. Esta impossibilidade pode ser oriunda de eventos
como doença, acidente, gravidez, prisão, morte ou velhice, em todos estes
casos, o trabalhador e sua família tem sua renda garantida pelo INSS.
Ressalta-se que o Brasil possui dois tipos de regime: o Regime Geral
da Previdência Social (RGPS), que engloba o setor privado e os Regimes
Próprios de Previdência Social (RPPS), que é concernente aos servidores
públicos, ou seja, os funcionários dos estados, municípios, da União, alem dos
militares, segundo o artigo 40 da Constituição Federal, são instituídos e
organizados pelos respectivos entes federativos. As leis que gerem esses
regimes são diferentes.
Histórico das leis previdenciárias no Brasil
Pode-se afirmar que a Previdência Pública Brasileira, a qual se
denomina Previdência Social, se iniciou em 1835, com a criação do Montepio
Geral dos Serviços do Estado (MONGERAL) que funcionava baseado
puramente no mutualismo, isto é, os integrantes contribuíam com o objetivo da
formação de uma reserva matemática a ser utilizada no caso da ocorrência de
infortúnios.
Em 1888, começaram as medidas previdenciárias e assistencialistas
no Brasil, corrobora-se isto através da Lei nº 3397, que criou a “Caixa de
Socorro” para os trabalhadores das estradas de ferro, o Decreto nº 9912 do
mesmo ano, que regulamentou o direito a aposentadoria aos funcionários dos
correios. Nos anos posteriores, os ferroviários e os trabalhadores da imprensa
passaram a ter também este direito.
A aposentadoria por invalidez e a pensão por morte forma
estabelecidas no ano de 1892 para os operários do arsenal da marinha, pois
essa era uma profissão de alta periculosidade.
Contudo, podemos considerar o Decreto – Lei nº 4682 de 24/01/1923,
mais conhecida com Lei Eloi Chaves, como o marco inicial do sistema
23
previdenciário brasileiro. A referida Lei criou as Caixas de Aposentadoria de
Pensão (CAPs) nas empresas ferroviárias existentes na época. Estas Caixas
eram formadas pelas contribuições das próprias empresas e dos empregados
ferroviários, estes tinham direito a socorros médicos, medicamentos com
desconto, aposentadoria ordinária (desde que atingissem um determinado
tempo de contribuição e uma certa idade), aposentadoria por invalidez e
pensão aos seus dependentes em caso de morte.
Em 1933, as CAPs começaram a ser substituídas por Institutos de
Aposentadoria e Pensões (IAPs), que contemplavam várias categorias de
trabalhadores, como as que se citam a seguir:
• Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM),
criado através do Decreto nº 2872 de 29/06/1933;
• Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários
(IAPC), criado através do Decreto nº 24273, 22/05/1934;
• Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários (IAPB),
criado através do Decreto nº 24615, 08/07/1934;
• Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI),
criado através da Lei nº 367, 09/09/1936;
• Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários e
Empregados em Serviços Públicos (IAPFESP), criado através
do Decreto nº 34586, 12/11/1953, que agrupa Caixas de
Aposentadorias e Pensões.
Contudo, os IAPs, mesmo tendo atraído muitos participantes não
obtiveram pleno sucesso, pois os trabalhadores de ramos não filiados
acabavam por não serem beneficiados.
Em 1960, foi criada a Lei nº 3807, a Lei Orgânica Previdência Social
(LOPS), que unificou a Previdência Social, prevendo aos assegurados os
benefícios de auxilio doença; aposentadorias por invalidez, idade, especial,
tempo de serviço; auxilio natalidade; pecúlio e assistência financeira; além de
garantir aos dependentes desse segurados os benefícios e pensão por morte,
auxilio reclusão, auxilio funeral e pensão. O objetivo desta Lei era diminuir a
24
disparidade existente entre as categorias profissionais e integralizar a
previdência.
Em 1966 através do Decreto Lei nº 72, foi criado Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS) que unificou os Institutos. Assim, a LOPS teve partes
revistas, através do Decreto Lei nº 66 do mesmo ano.
Na década de 70 ocorreram várias mudanças na legislação
previdenciária. Em 1972, a Lei nº 5859 inclui os empregados domésticos na
Previdência Social. Já em 1973, a Lei n º 5890 alterou a LOPS; o decreto n º
72771 aprovou o Regulamento do Regime de Previdência Social, em
substituição ao Regime Geral da Previdência Social; a Lei nº 5939 instituiu o
salário de benefício do jogador de futebol profissional.
No ano de 1974 houve diversas alterações regulamentares, tais como: a
Lei nº 6036 que criou o Ministério de Assistência e Previdência Social (MPAS),
desmembrado do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS); a Lei nº
6125, que autorizou o poder Executivo a constituir a Empresa de
Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV); a Lei nº 6136
que incluiu o salário maternidade entre as prestações da Previdência Social; a
Lei nº 6179 que instituiu o amparo previdenciário para os maiores de 70 anos
ou inválidos, também conhecidos como renda mensal vitalícia; a Lei nº 6195
que estendeu a cobertura especial dos acidentes de trabalho ao trabalhador
rural.
Em 1975, a Lei nº 6205 estabeleceu a descaracterização do salário
mínimo como fator de correção monetária; a Lei nº 6260, que instituiu
benefícios e serviços previdenciários para os empregados rurais e seus
dependentes.
Em 1979 o Decreto nº 83080 aprovou o Regulamento de Benefícios da
Previdência Social; o Decreto 83081 aprovou o Regulamento de Custeio da
Previdência Social; o Decreto nº 83266 aprovou o Regulamento da Gestão
Administrativa, Financeira e Patrimonial da Previdência Social.
Porem, o grande marco da Previdência Social Brasileira atual ocorreu
com a promulgação da Constituição Brasileira no ano de 1988, onde se iniciou
25
o caráter de Seguridade Social, passando a ser dividida, segundo o artigo 194
da referida Constituição, em três sistemas: previdência, saúde e assistência.
Atualmente, os trabalhadores que estão inseridos no RGPS contribuem
com um percentual que varia de acordo com sua faixa salarial, limitado a um
teto conforme o quadro abaixo:
TABELA VIGENTE
Tabela de contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso, para pagamento de remuneração
a partir de 1º de Janeiro de 2011
Salário-de-contribuição (R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%)
Até R$ 1.106,90 8,00 De R$ 1.106,91 a R$ 1.844,83 9,00 De R$ 1.844,84 até R$ 3.689,66 11,00
Fonte: MPS, Portaria nº 568, de 31 de dezembro de 2010
TABELA VIGENTE Tabela de contribuição para segurados contribuinte individual
e facultativo para pagamento de remuneração a partir de 1º de Março de 2011
Salário-de-contribuição (R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%)
545,00 (valor mínimo) 11 De R$ 545,00 (valor mínimo)
até R$ 3.689,66 (valor máximo) 20
Fonte: MPS, Portaria nº 115, de 04 de março de 2011
Em 1999, a Lei 9876, na tentativa de elevar a idade média dos
benefícios concedidos, introduziu o fator previdenciário e alterou a base de
cálculo dos benefícios programados no Regime Geral de Previdência Social
(RGPS), além de mudar a fórmula de cálculo dos benefícios. Com isso, houve
uma redução significativa no valor dos benefícios de aposentadoria do RGPS,
sem o resultado esperado na elevação da idade média dos beneficiários.
26
Em 2003, através da emenda constitucional 41, foi criado um limite e um
teto para a aposentadoria, a média aritmética das contribuições desde 1994
passou a ser considerada para efeitos de cálculo de aposentadoria.
Um país jovem que envelhece
Nos sistemas previdenciários baseados no princípio da repartição ou
mutualismo, como o brasileiro, a geração que trabalha atualmente financia os
benefícios da geração que já se retirou do mercado de trabalho e será, no
futuro, financiada pela nova geração trabalhadora. Há, portanto uma lógica de
solidariedade intergeracional, quem paga hoje espera ser financiada e
recompensada do seu esforço no futuro.
Se os parâmetros que regulam o sistema estiverem bem calibrados e se
não houver alterações significativas na dinâmica demográfica nem sérias
restrições no mercado de trabalho, é possível que o sistema sobreviva sem
graves desequilíbrios e na haja déficits nem pressão fiscal. E se isso não
acontecer? Se, por acaso, os indivíduos passarem a viver mais que viviam
quando o plano de previdência foi feito.
Nessa situação surgiria um déficit no sistema e começaria uma disputa
peal forma de financiá-lo. Para os contribuintes e beneficiários, a melhor
solução seria um aumento geral de impostos, de modo a compartilhar os
custos com toda a sociedade. Por outro lado, para a coletividade, o melhor
seria que o déficit fosse equacionado por está diretamente envolvido no
sistema (contribuintes e beneficiários).
Esse problema ocorre no Brasil.
A Previdência Social acumula seguidos déficits e a situação se agrava a
cada ano. E, dentre os principais problemas, destaca-se a profunda alteração
demográfica vivida pelo país, tendo em vista a baixa idade média dos
beneficiários pelo INSS em comparação com outros países e as significativas
melhoras na expectativa de vida dos brasileiros sem contrapartida em
alterações nas regras para concessão de aposentadorias nos cálculos de
aposentadorias no Brasil. No Brasil não existe idade mínima para
27
aposentadorias por tempo de contribuição. Diferentemente do Brasil, outros
países já possuem uma idade mínima de aposentadoria e não fazem distinção
entre gêneros (homens e mulheres se aposentam com a mesma idade
mínima).
28
CAPÍTULO III
O AUMENTO DA EXPECTATIVA DE VIDA E
SUAS CONSEQUÊNCIAS
O AUMENTO DA EXPECTATIVA DE VIDA E SUAS
CONSEQUÊNCIAS
Há cerca de meio século, a expectativa de vida para os brasileiros era
em torno dos 50 anos. Hoje, as pessoas com essa idade são consideradas
ainda jovens e com grandes perspectivas de serem chamadas de
“centenárias”. Com efeito, em 2007 a esperança de vida ao nascer para os
brasileiros alcançou 73 anos, sendo de 69 anos para os homens e 76 anos
para as mulheres, e as projeções do IBGE (2008) para 2050 apontam que a
expectativa atingirá 81 anos. Esta longevidade é, sem dúvida, algo para ser
celebrado, mas também alerta para uma série de medidas que o governo, as
empresas, universidades e os próprios cidadãos terão que tomar para viver
melhor este acréscimo de vida.
Diante do fenômeno do envelhecimento, a Organização das Nações
Unidas – ONU, a Organização Mundial de Saúde – OMS e outras organizações
governamentais e não governamentais de quase todos os países realizaram
dois eventos com a finalidade de propor políticas e diretrizes para fazer frente a
este desafio: a Assembléia Mundial de Envelhecimento de Viena, em 1982, e a
Assembléia Mundial de Envelhecimento de Madri, em 2002. Neste último
evento, o conceito de envelhecimento ativo (WHO, 2002) foi lançado e
difundido pela mídia no mundo inteiro. O “Envelhecimento Ativo” é uma visão
(individual e coletiva) que busca garantir qualidade de vida à medida que a
população envelhece, considerando a otimização dos aspectos de saúde,
participação e seguridade, visando à independência, à dignidade e ao direito às
oportunidades. Dentro do quadro de envelhecimento ativo está o direito à
seguridade a todos os trabalhadores que dedicaram um tempo de vida ao
trabalho, contribuíram para um sistema de previdência e esperam contar com
29
esse recurso na época da aposentadoria. Entretanto, é preciso ressaltar que
pelo fato de os padrões de envelhecimento serem diferenciados, muitos
trabalhadores com condições sacrificantes, associadas ou não com uma
condição de saúde, poderão antecipar a aposentadoria.
Assim, a “mobilidade” e a “seguridade” devem ser asseguradas por uma
pensão que permita a sobrevivência digna e o atendimento na rede de saúde
pública, quando necessário. A “participação social” também deve ser
estimulada dentro do contexto familiar, no contato com a comunidade, ou na
frequência aos serviços sociais, de lazer e de educação que precisam estar
disponíveis para todos os idosos. No Brasil, instituições sociais como o SESC e
as Universidades Abertas da Terceira Idade contribuíram enormemente para o
desenvolvimento de serviços, projetos e pesquisas voltados para o bem-estar
das pessoas idosas. Em 1994, a Lei 8.842 dispõe sobre a Política Nacional do
Idoso e cria o Conselho Nacional do Idoso, sendo regulamentada pelo Decreto
1.948/96. Com relação especificamente ao mundo do trabalho, esta legislação
estabelece em seu artigo 10, como competência dos órgãos e entidades
públicas na área do trabalho e previdência, “criar e estimular a manutenção de
programas de preparação para aposentadoria, nos setor público e privado com
antecedência mínima de dois anos antes do afastamento.
Em 2003, foi criada a Lei 10.741 (Ministério da Saúde, 2003) que regula
o direito assegurado para as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, e
o Estatuto do Idoso. A lei dispõe claramente quanto à proibição da
discriminação de idade na contratação de empregados, dando preferência,
inclusive, em caso de empate, a quem for mais velho. Entretanto, ainda há
muito a fazer para que essas e outras leis sejam cumpridas, e para que a
redução do ageísmo – preconceito contra idade –, banido legalmente em
diversos países, possa de fato acontecer.
Não apenas o governo deve estabelecer políticas que garantam o
acesso aos serviços de educação, saúde e lazer para a população de idosos,
mas as organizações devem abrir espaço para projetos destinados a seus
trabalhadores mais velhos, visando à continuidade na organização por meio da
atualização e educação permanente, ou ao apoio na saída – programa de
30
preparação para a aposentadoria. Esses projetos devem ressaltar o bem-estar
das pessoas no futuro, e seria desejável que em alguns momentos os
programas misturassem faixas etárias, em propostas de qualidade de vida para
todos, independentemente da idade.
As aposentadorias antecipadas e suas conseqüências
O padrão do envelhecimento brasileiro não é apenas diferenciado por
gênero, mas por níveis de educação, saúde e renda, que se perpetuam num
círculo vicioso à espera de uma equidade social. Tomemos, por exemplo, a
aposentadoria e o fator previdenciário. Como corrigir as distorções para a
concessão da aposentadoria entre os residentes de uma cidade rica no Rio
Grande do Sul – com expectativa de vida de 75 anos – e os residentes de uma
cidade pobre em Alagoas – com expectativa de vida de 67 anos? No segundo
caso, a aposentadoria, enquanto um período merecido de descanso, liberdade
e lazer após anos de trabalho, pode ser uma utopia.
Essas e outras contradições põem em cheque o conceito de
aposentadoria no Brasil, e foram reforçadas quando, a partir de 1990, ocorreu o
boom das demissões voluntárias ou incentivadas. As empresas, compelidas
pelo processo de globalização, fusão ou privatização, estimulavam a
aposentadoria antecipada para que seus quadros de pessoal fossem
renovados ou reduzidos. Vale assinalar que as aposentadorias antecipadas
quando forçadas são ainda mais drásticas, uma vez que algumas pesquisas
(vide a seguir) indicam que a saúde após a aposentadoria irá depender da
capacidade do pré-aposentado em decidir se irá ou não continuar a trabalhar
ou se irá se aposentar mais cedo.
Henretta, Chan e O’Rand (1992) e Shultz, Morton e Weckerle (1998)
apontaram que a aposentadoria compulsória traz uma diminuição dos níveis de
saúde e de satisfação com a vida. Payne, Robbins e Dougherty (1991) também
encontraram um efeito negativo significativo na mortalidade pela aposentadoria
antecipada forçada, bem como a perda de atividade na aposentadoria.
31
Apesar das críticas acerca das aposentadorias antecipadas, alguns
trabalhadores, principalmente aqueles insatisfeitos com o trabalho ou com a
organização, admitem que os incentivos por vezes oferecidos representam
também uma oportunidade de saída da organização. Entretanto, apesar da
carência de pesquisas nesta área, é possível supor duas consequências com a
saída de um grande contingente de trabalhadores experientes nos planos de
demissão incentivadas, como a perda do conhecimento e da memória
organizacional; e a dificuldade de os trabalhadores mais velhos retornarem ao
mercado, principalmente aqueles que sentem necessidade de continuar
trabalhando na aposentadoria.
Se, por um lado, as aposentadorias antecipadas poderiam revelar um
comportamento discriminatório por parte de algumas organizações ao
descartarem seus trabalhadores mais velhos, substituindo-os por mais jovens,
por outro lado, muitos dos trabalhadores que antes concordaram com a saída
antecipada, após poucos anos de aposentadoria, podem sentir uma
ambivalência quanto à decisão ter sido ou não “voluntária”. Além disso, a
aposentadoria incentivada provocou, para os trabalhadores que sobreviveram a
ela, uma sombra de medo, um sentimento de estranheza e desconfiança em
relação à organização. Hoje, reduzidas as aposentadorias incentivadas e as
fusões nas organizações, algumas empresas, principalmente aquelas que têm
entre seus principais colaboradores trabalhadores altamente especializados,
não desejam antecipar a saída deles. Muito pelo contrário, estão cada vez mais
preocupadas em retê-los. Uma das formas para esta retenção é exatamente
mantê-los atualizados e satisfeitos, mesmo que isto implique uma redefinição
do trabalho, seja por meio da mudança dos métodos, ambiente ou da
flexibilização de horário. lembra que a redefinição do trabalho poderá conter a
saída dos trabalhadores mais velhos, e, assim, equilibrar a demanda de
trabalhadores especializados num futuro próximo, e propõe o aumento de
empregos temporários, por prazo determinado ou com horários reduzidos.
Contudo, Kim e Feldman (1998) alertam para o fato de que quanto mais
os trabalhadores se engajarem em empregos temporários (bridge
employment), menor será a possibilidade de desenvolverem atividades de
32
lazer. Como o lazer e o voluntariado provaram estar significantemente
correlacionados à aposentadoria e à satisfação com a vida (ELLIS, 1994; KIM
& FELDMAN, 2000), o desafio para os trabalhadores mais velhos será, então,
buscar um novo contrato que possa permitir tempo livre para atender a seus
interesses e necessidades pessoais. Assim, há uma demanda para que os
Programas de Preparação para a Aposentadoria assumam um novo formato,
pautados na livre escolha do trabalhador, que desenvolvam não apenas os
seminários informativos, mas oportunizem espaços para as reflexões e
discussões com os participantes sobre a qualidade de vida atual e o estilo de
vida que desejam para o futuro (FRANÇA, 2002, 2008). Nesta nova ótica de
preparar para a aposentadoria, ganham força os projetos de vida, a
continuidade ou a busca de um trabalho mais prazeroso que complemente a
renda ou que atenda à necessidade de uma poupança maior para o futuro.
Aposentadoria – saída do mercado de trabalho?
O trabalho para muitos pode estar intimamente relacionado a sua
identidade e a aposentadoria não deve representar o fim deste (ASHFORTH,
2001). Entretanto, há trabalhadores que gostariam de mudar de estilo de vida,
e fazer de seu trabalho um instrumento de ajuda ao próximo ou à sociedade.
Há aqueles que desejam dedicar mais tempo aos amigos, famílias, aos
estudos, ao lazer, ou mesmo ter tempo para o ócio. Stepansky & França (2008)
apontam para a atenção especial e o cuidado que os profissionais de Recursos
Humanos devem ter com trabalhadores obcecados pelo trabalho, a tal ponto
que, quando estão prestes a assumir o controle do tempo na aposentadoria,
sentem-se incapazes e com uma sensação de falta de propósito.
Assim, a idéia tradicional da aposentadoria como êxito final está
obsoleta (MOEN, KIM & HOFMEISTER, 2001). A aposentadoria e o trabalho
podem não ser tão antagônicos quanto parecem, e, não apenas para reter os
trabalhadores no mercado ou para permitir que os aposentados se envolvam
numa atividade laborativa pós-carreira, é fundamental a atualização
33
permanente dos trabalhadores, e discutir os preconceitos (cognitivos e sociais)
que são normalmente estabelecidos na organização.
o conhecimento e as habilidades são os fatores-chave para o
desenvolvimento da economia e cruciais para que os trabalhadores mais
velhos permaneçam competitivos no mercado de trabalho. A educação ao
longo da vida (LLL – Life Long Learning) se estende da infância até a pós-
aposentadoria, permitindo o acesso das pessoas à aprendizagem, ao
desenvolvimento pessoal, independentemente da idade. A educação ao longo
da vida pode ser uma das formas para reinserir trabalhadores de qualquer
idade no mercado de trabalho, como uma estratégia para os trabalhadores
mais velhos que queiram se atualizar e adquirir novas metodologias e
habilidades. Além disso, é um espaço para conhecer pessoas e estabelecer
novas parcerias.
Reter bons trabalhadores implica oferecer treinamentos e atualizações
constantes, numa perspectiva de desenvolvimento integral (FRANÇA &
STEPANSKY, 2005). Este é o papel das organizações, que também depende
do próprio trabalhador e do investimento que ele próprio deve fazer no seu
futuro por meio da busca pela educação. Governos e empresas precisam
considerar ainda a necessidade de uma campanha de sensibilização junto à
sociedade, perante o ageísmo e as possibilidades que não devem se limitar por
conta da idade. É preciso ainda considerar um debate entre os setores da
sociedade, de forma que sejam implementadas novas opções de contratos de
trabalho, em horários reduzidos. Nesta discussão, devem entrar em
consideração o desperdício no descarte de especialistas no auge de sua
formação profissional, a modificação da legislação trabalhista e a redução de
impostos que facilitem alternativas para trabalho parcial, temporário ou de
meio-período. Estas alternativas acomodariam não só a necessidade do
aposentado que deseja continuar no mercado, mas também do estudante que
precisa sustentar seus estudos e da mulher e do homem que têm sob sua
responsabilidade o cuidado e a criação dos filhos pequenos.
Estamos vivendo uma revolução nos conceitos e nas práticas
organizacionais com relação ao envelhecimento dos trabalhadores, em que a
34
prioridade é reforçar a atualização, o desenvolvimento pessoal e o bem-estar,
tanto daqueles que desejam continuar no mercado, como para aqueles que
desejam se aposentar. É importante ressaltar que a inserção e a participação
social das pessoas mais velhas não se restringem apenas ao seu engajamento
formal ou informal no mercado de trabalho, mas na sua atuação, quer na
família ou na comunidade.
Para que as organizações sejam parceiras do processo de crescimento
e mudança social do país, é fundamental que deem o exemplo e cuidem da
sua família organizacional. Isto inclui as oportunidades das equipes
intergeracionais, tanto para aqueles que recém-ingressam na empresa, e
representam o futuro, quanto para aqueles que estão saindo e que são os
guardiões da memória organizacional. A crescente extensão na amplitude das
faixas etárias nas equipes de trabalho trouxe ainda uma inquietação quanto às
possibilidades de conflitos intergeracionais, sobretudo quanto à otimização da
produtividade e à manutenção do clima motivacional entre os componentes das
equipes (FRANÇA, 2008). Se, por um lado, a organização estava imbuída com
o desenvolvimento e a especialização de seus jovens colaboradores, hoje ela
também tem consciência da importância em oferecer condições para que os
trabalhadores mais velhos se mantenham atualizados e assim permaneçam no
mercado.
Consequentemente, torna-se mais visível a formação de equipes com
trainees de 20 anos e seniores de 65 anos ou mais de trabalhadores, cada um
com sua função/responsabilidade/tarefa, mas envolvidos em um mesmo
projeto. Entretanto, é preciso que estes encontros sejam facilitados e reduzidos
os eventuais conflitos que possam surgir. As equipes intergeracionais são
bastante motivadoras pela troca que proporcionam e podem formar uma ponte
de conhecimento e apoio mútuo entre aqueles que detêm a experiência, a
memória da organização, o conhecimento e o contexto do trabalho; e os mais
jovens, que aprenderam as novidades tecnológicas, insumos metodológicos e
que podem facilitar as práticas de trabalho. De forma que facilite o
desenvolvimento e a capacitação das equipes compostas por duas ou mais
gerações, sugere-se a adoção de dinâmicas de trabalho, com temas escolhidos
35
pelos próprios trabalhadores. Além de facilitar o entrosamento entre as
equipes, estas técnicas poderão proporcionar o intercâmbio de conhecimentos
e da experiência entre os trabalhadores mais velhos e os mais jovens,
estimular a solidariedade e reduzir possíveis conflitos entre as gerações.
Um dos papéis dos gerentes de Recursos Humanos e dos gestores de
pessoas – aqueles que lideram equipes – é favorecer o processo do resgate e
registro da memória institucional e do trabalho. Os gestores podem identificar
aqueles que desejam e têm condições de saúde para continuar trabalhando
para a organização, de acordo com os critérios estabelecidos pelas políticas da
organização. Os gestores deverão apoiar os aposentáveis engajados em
projetos pós-carreira, ao mesmo tempo facilitar a troca de habilidades dos mais
velhos aos mais jovens; e o repasse das novas práticas e tecnologias dos mais
jovens para os mais velhos. Trabalhadores mais velhos, se estimulados,
ajudam a criar um sistema de “pertencer” que é muito importante para a
integração das equipes.
36
CONCLUSÃO
O Brasil tem um grande desfio pela frente: como garantir qualidade de
vida aos seus cidadãos mais velhos, garantindo qualidade de vida e o respeito
que merecem, sem deixar de lado as preocupações com o equilíbrio financeiro
e a solvência dos planos de previdência, a fim de garantir o pagamento de
benefícios para as futuras gerações? Muitas podem ser as respostas a esta
pergunta e esse trabalho apresentou todos os aspectos do problema e as
possíveis soluções na visão de diversos estudiosos e profissionais da área.
Concluímos que a Previdência Social Brasileira é bem abrangente no
que se refere ao pagamento de benefícios previdenciários, porém devido ao
grau de complexidade que o tema requer, nenhuma reforma significativa para o
INSS foi aprovada nos últimos anos e isso pode ser um grande problema para
as futuras gerações.
A longevidade influencia a vida de uma sociedade sob vários aspectos
e é de suma importância que o tema seja cada vez mais discutido em todas as
esferas a fim de que tenhamos condições de ter uma velhice segura e feliz
37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Janeiro: Elsevier, 2010
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Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada – Ipea
International Longevity Center – USA