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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
OS JOGOS COOPERATIVOS E A PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA IDADE ESCOLAR (7 a 10 anos)
Por Claudia Simone Karkow do Amaral
Orientador
Vilson Sérgio de Carvalho
Rio de Janeiro
2007
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
OS JOGOS COOPERATIVOS E A PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA IDADE ESCOLAR (7 a 10 anos)
Investigar a relação existente entre os Jogos
Cooperativos e a Psicomotricidade Relacional na
Idade Escolar (7 a 10 anos)
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, a minha família,
Marcelo, Francisco e Ana, pela espera
em muitas ausências, aos professores
do curso, aos amigos e parentes, que
me incentivaram e cooperaram para a
concretização deste trabalho.
DEDICATÓRIA
Este trabalho dedica-se aos familiares,
parentes, amigos e profissionais da área
de Educação e Saúde.
RESUMO
As crianças na idade escolar, dos sete aos dez anos, estão em pleno desenvolvimento cognitivo – início da escrita, da leitura, dos cálculos –; desenvolvimento motor – aquisição do equilíbrio, da dominância lateral, das coordenações globais e finas, do reconhecimento do corpo no tempo e no espaço, do esquema corporal. Está ainda no período da formação da personalidade e da socialização. Neste sentido, o estudo defende a idéia de que nas aulas de Educação Física, a prática dos Jogos Cooperativos, juntamente com as vivências proporcionadas pela Psicomotricidade Relacional, com o objetivo de educação psicomotora, torna-se essencial para o crescimento e desenvolvimento destas crianças, pois tanto os Jogos como a Psicomotricidade procuram trabalhar o indivíduo de forma global, sem dissociar o corpo da mente e estes do ambiente social.
METODOLOGIA
O presente trabalho apresenta um estudo de análise com enfoque
teórico a respeito dos temas Jogos Cooperativos e Psicomotricidade
Relacional, abordando a relação entre eles e suas respectivas contribuições na
formação de crianças de sete a dez anos. Esta análise foi realizada a partir de
pesquisa bibliográfica feita a partir de livros em geral especializados, no
assunto proposto, bem como artigos e notícias com os mesmos temas,
retirados na Internet.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
8
CAPÍTULO I JOGOS COOPERATIVOS
10
CAPÍTULO II PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL
16
CAPITULO III A RELAÇÃO ENTRE OS JOGOS COOPERATIVOS E A PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA IDADE ESCOLAR
22
CONCLUSÃO
31
BIBLIOGRAFIA
34
ANEXOS
36
8
INTRODUÇÃO
A pesquisa realizada aborda temas como os Jogos Cooperativos, a
Psicomotricidade Relacional e a relação entre ambos no trabalho com
crianças na faixa etária de sete aos dez anos no ambiente escolar.
Este tema foi escolhido devido à importância de seu conhecimento a
todos os profissionais ligados à área da Educação, em especial os professores
de Educação Física, que trabalham diretamente com Jogos, na escola, numa
abordagem psicomotora devido à idade escolhida. O profissional da área da
Saúde também poderá aproveitar o estudo, principalmente no trabalho com
reeducação e terapia, devido à amostra de 20 (vinte) jogos cooperativos, que
apresentam, dentre as habilidades psicomotoras, um teor simbólico,
importante para este trabalho.
O desenvolvimento deste trabalho foi feito a partir de um enfoque
teórico, através de pesquisa em livros e artigos retirados na internet, com o
objetivo de investigar a relação existente na prática dos Jogos Cooperativos e
da Psicomotricidade Relacional no desenvolvimento de crianças na idade de
sete a dez anos.
O primeiro capítulo descreve uma reflexão sobre o que são os Jogos
Cooperativos, quais são os seus objetivos e as contribuições de sua prática,
principalmente, em crianças na idade escolar, dos sete aos dez anos. Percebe-
se atualmente um aumento de atitudes violentas nas escolas e na sociedade
como um todo e acredita-se que estas atitudes podem estar relacionadas
também com a prática educativa das crianças na escola como, por exemplo, o
caráter competitivo dos jogos trabalhados, que estimulam este tipo de
comportamento. Os Jogos Cooperativos vêm trazer uma nova proposta de
educação imprimindo, em sua prática, valores que estimulam a igualdade de
oportunidade, a solidariedade, o prazer de jogar e a participação de todos.
9
O segundo capítulo apresenta um estudo sobre o surgimento da
Psicomotricidade Relacional associado ao seu conceito, a forma de atuação na
educação psicomotora, que possibilita a criança vivenciar as relações, no que
se aplica às habilidades psicomotoras, de uma forma globalizada, ou seja, sem
dissociar o aspecto cognitivo e motor do aspecto emocional, buscando assim
compreender melhor as possíveis limitações nas habilidades e também no
processo de ensino-aprendizagem que a criança venha a apresentar na escola.
O terceiro capítulo procura analisar a relação existente entre a prática
dos Jogos Cooperativos e da Psicomotricidade Relacional, no que compete às
semelhanças entre as duas práticas e respectivas contribuições para o
crescimento e desenvolvimento em todos os aspectos físicos, cognitivos,
psíquicos, emocionais e sociais das crianças dos sete aos dez anos. Para
traçar este paralelo foram descritos em torno de vinte Jogos Cooperativos e as
habilidades psicomotoras trabalhadas em cada um deles e após foram feitas
observações a respeito de se considerar todos os aspectos no trabalho de
Educação Psicomotora, que é uma das competências da Psicomotricidade
Relacional, aplicada no ambiente escolar.
Considerando que na prática dos Jogos Cooperativos o objetivo principal
é o acolhimento dos jogadores através do incentivo a solidariedade, a
ludicidade, a inclusão e a satisfação e que no trabalho de Psicomotricidade
Relacional, como Educação Psicomotora, são incentivadas principalmente os
aspectos emocionais e relacionais do indivíduo torna-se praticamente evidente
que haja uma relação estrita entre ambos, no sentido de contribuírem
profundamente no desenvolvimento global das crianças dos sete aos dez anos.
10
CAPÍTULO I
JOGOS COOPERATIVOS
Os jogos sempre fizeram parte da vida humana. “Encontramos o jogo na
cultura, acompanhando-a e marcando-a desde as mais distantes origens até a
fase de civilização em que agora nos encontramos” (HUIZINGA, 1996, p.6).
O jogo no desenvolvimento de crianças de 7 (sete) a 10 (dez) anos,
segundo Piaget, é chamado de “jogo de regras”. Estes são jogos de
combinações sensório-motoras ou intelectuais, regulamentados ou por códigos
transmitidos de geração em geração, ou por acordos entre os participantes,
sendo a regra uma ordem ou regularidade que se não cumprida vira uma falta.
Nesta fase as crianças saem da fase do egocentrismo e entram na fase da
socialização. O jogo infantil pode ser trabalhado sob os enfoques sociológico,
educacional, psicológico, antropológico e folclórico. (FRIEDMAN apud
BROTTO, 2001).
Os jogos cooperativos já existem há muito tempo e vêm sendo
pesquisado e praticado em diversas áreas e países do mundo. No Brasil a
proposta dos jogos cooperativos, apesar de já existir até competições em
alguns lugares, ainda está recente e a intenção é a de caracterizá-los como um
exercício de convivência fundamental para um saudável desenvolvimento
humano, pois compreende as dimensões da linguagem, da cognição, da
motricidade, da moral e da afetividade. Os jogos cooperativos visam promover
a interação e a participação de todos com espontaneidade e alegria .
Conforme Brotto (2001):
“Na medida que melhoramos a qualidade de nossas relações interpessoais e sociais, aperfeiçoamos nossas competências para gerar soluções benéficas para problemas comuns e aprimoramos a qualidade de vida
11
na perspectiva de melhorá-la para todos.” (BROTTO, 2001, p.3).
Os componentes do jogo cooperativo são valorizados pelas pessoas que
são e não pelos pontos que marcam ou pelos resultados que conseguem. E
este exercício de convivência, que não valoriza o vencer ou o perder, facilita o
processo de aprendizagem, por proporcionar a experiência do viver em
comunidade ou “Comum-unidade”, mostrando que o que separa os seres
humanos e provoca altos problemas de convivência é esta idéia de indivíduo
único que temos de nós mesmos, separados uns dos outros e “a cooperação
libera uma força vital de energia criativa que proporciona benefícios muito mais
amplos do que uma pessoa sozinha poderia conseguir” (TULKU apud
BROTTO, 2005, p.67). O processo de aprendizagem deve levar em conta
todas as descobertas presentes nas interações cooperativas. Seguindo esta
linha o desafio que permeia a prática dos jogos cooperativos está exatamente
em buscar promover ações e relações na área educativa que diminua as
barreiras e as distâncias entre as pessoas, as sociedades e as nações.
Os jogos cooperativos proporcionam diversão e sentimento de vitória
para todos; todos participam e ninguém é rejeitado; os jogadores aprendem a
ter um senso de unidade e compartilham o sucesso; Todos desenvolvem auto-
confiança porque todos são bem aceitos; há um fortalecimento da habilidade
de perseverar diante das dificuldades; o jogo é um caminho de “co-evolução”
para cada jogador. Nos jogos cooperativos todos jogam, todos cooperam e
todos ganham. Com isso há uma eliminação do medo e sentimento de
fracasso. A pessoa reforça em si a confiança de ser uma pessoa digna e de
valor. (ORLICK apud BROTTO, 2005).
Para se tornar mais presente os jogos cooperativos torna-se necessário
combater aos poucos o individualismo, a desconfiança, a falta de clareza de
objetivos, a ausência de comunicação, a competição; a pressa; a falta de
organização e planejamento e a ausência de liderança. Essas características
12
impregnadas nos seres humanos, por serem todos os dias incentivadas pelos
meios de comunicação social e por uma parcela da população que acredita
somente nesta forma de viver e que as passam como a única forma de relação
existente na face da terra, dificultam a existência do princípio da cooperação
entre as pessoas, tornando comum a prática de jogos competitivos em escolas,
clubes, associações como exclusiva forma de lazer e de ação educativa. Nos
jogos competitivos os times têm como objetivo um time ganhar do outro, que se
torna o seu adversário. A relação entre eles se torna de rivalidade aonde o
clima é de tensão e a motivação para isso é o medo de perder. O sentimento
dos que perdem é de raiva e o de todos os jogadores é de solidão.
Como o próprio nome diz o que diferencia os jogos competitivos dos
jogos cooperativos é a consciência da cooperação que pode ser definida como
um processo onde os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os
benefícios nos resultados são para todos. A relação criada através destes
jogos é de amizade, bondade, compreensão, compaixão e amor. Para que a
relação entre os seres humanos seja uma relação realmente afetiva, e não de
desafetos, a necessidade de se praticar os valores que a permeiam através de
pensamentos, sentimentos e atos é visível. Conforme Brotto (2001): “Não
bastam apenas as boas intenções, elas não se constroem sozinhas, é
necessário e urgente que suas correspondentes boas ações, sejam
arquitetadas e operadas no dia-a dia e em cada segmento da sociedade.”
(BROTTO, 2001, p.41)
Os jogos cooperativos apresentam como princípios sócio-educativos na
sua concretização a convivência, como forma de cada indivíduo poder “re-
conhecer” a si mesmo e aos outros; a consciência, como forma de reflexão
sobre como modificar sentimentos, comportamentos e relacionamentos e
também o próprio jogo caso necessário para alegria, participação e
aprendizagem de todos; e a transcendência, como forma de incentivo ao
diálogo, as decisões em consenso e as experimentações no jogo e na vida
referentes a essa vivência de todos (ID, 2001, p.63).
13
Considerando a importância do aprendizado de esportes, brincadeiras e
jogos para o desenvolvimento infantil, em especial, na idade escolar, dos sete
aos dez anos, é que se torna indispensável a prática dos jogos cooperativos
nas aulas ministradas pelo professor de educação física nas escolas. Nesta
fase a criança está informando, reformando e formando conceitos, habilidades,
capacidades para sua vida, e além do desenvolvimento físico, proporcionado
por experiências motoras, há o desenvolvimento emocional proporcionado pela
convivência humanizadora em suas relações afetivas na escola. E os jogos
cooperativos contêm em seus objetivos a promoção dos aspectos motores,
psicológicos, emocionais, sociais e afetivos.
Os aspectos motores nos jogos cooperativos ficam evidentes quando
estes trabalham, a resistência, a força, a flexibilidade, a agilidade, o
metabolismo anaeróbico e aeróbico, sem a intenção de treinamento desportivo,
já que o treinamento em crianças de sete a dez anos, sob estes aspectos, não
produz resultados relevantes. Segundo Farinati (1995):
“A maior parte das crianças desta faixa etária domina habilidades motoras fundamentais suficientes para progredir nas habilidades necessárias para a participação em atividades desportivas organizadas (WEINECK,1986). Seus padrões de equilíbrio e postura estão praticamente pelos 7 anos, com gradual melhora até o período pubertário (NELSON,op.cit.). Manter o equilíbrio torna-se algo automático, permitindo maior atenção para o domínio de outras habilidades, como lançar, correr ou agarrar. No entanto, devido a impulsos subcorticais ainda intensos, não é uma idade em que devamos exigir fixação de gestos específicos, mas trabalharmos visando uma base psicomotora, evitando a especialização (HIRTZ,1979).” (WEINECK, NELSON E HIRTZ apud FARINATI,1995, p.38).
Conforme a citação, crianças nesta idade devem ser incentivadas em
sua motricidade à luz da psicomotricidade. E esta relação entre os jogos
14
cooperativos e a psicomotricidade será detalhada no capítulo III (três) deste
trabalho.
Os aspectos psicológicos são trabalhados na medida em que se procura
aumentar a confiança em si mesmo, a auto-estima, o limite, através de
praticamente todos os jogos cooperativos citados (anexo 1, p.37).
Os aspectos emocionais são resgatados no momento em que são dados
espaços nos jogos cooperativos descritos (anexo 1, p.37), aos quais a criança
pode expressar espontaneamente suas emoções, o prazer em detrimento do
desprazer vivenciado em jogos competitivos, sem perder a vontade de ser e
fazer o melhor no jogo, mas aumentando mais o seu envolvimento no jogo.
Os aspectos sociais ficam caracterizados quando se tem a noção nos
jogos cooperativos de que quando um perde, todos perdem. Comparando esta
característica com o que acontece nas Sociedades Capitalistas, percebe-se
que há um antagonismo de pensamentos e ações. A base destas sociedades é
a dos mercados competitivos, dos quais o mais capacitado, o mais eficiente, o
melhor vence e os outros perdem. Uma das conseqüências drásticas desta
forma sócio-econômica de organização é uma péssima distribuição de renda,
como é o caso do Brasil, onde uma minoria da população detém a maior
parcela na renda do país, “os vencedores”, e, uma maioria da população, com
a menor parcela de renda, “os perdedores”. Se levarmos isso para a área do
esporte e do jogo competitivo, perceberemos que o mesmo acontece em
dimensões menores. Alguns jogadores se destacam no futebol, no voleibol, no
basquetebol, na natação, no atletismo, não somente porque são os melhores,
mas porque há uma estrutura social que permite isso e os demais ficam como
perdedores ou como platéia, na exclusão. Dentre os diferentes objetivos dos
jogos cooperativos está a promoção da inclusão social. Nestes todos os
participantes do jogo podem. Todos são capazes desde que queiram. Existe a
oportunidade para todos. Todos são jogadores e todos são platéia. Segundo os
pesquisadores Filho e Schwartz (2006) em artigo:
15
“Autores como Bee (1986) e Goleman (1995) salientaram que, tanto a realidade social (família, escola, amigos), quanto os estímulos gerados pela mídia, especialmente a televisão, podem interferir sensivelmente na formação de indivíduos agressivos, os quais utilizam a violência como estratégia de resolução de problemas cotidianos dentro e fora do ambiente escolar.” (FILHO e SCHARTZ, 2006, p.1e2 )
Os aspectos afetivos são trabalhados de forma objetiva e subjetiva nos
jogos cooperativos. Na medida em que objetivamente são criados espaços
para vivência da solidariedade, do companheirismo, da cumplicidade, enfim do
bem-querer que levam as crianças a se afetar e se sentirem afetados no jogo.
A questão subjetiva deste aspecto é que todas estas demonstrações de afeto
possibilitam na criança uma transformação de comportamento não só em
relação ao jogo, mas também em relação a outras situações da vida.
16
CAPÍTULO II
PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL A Psicomotricidade Relacional é um método proposto por André La-
pierre, um educador francês, e difundido no Brasil a partir de 1983. Tem seus
fundamentos na teoria de Henri Wallon, um médico e filósofo, que dedicou seu
estudo a área do movimento humano analisando-o sob o aspecto psíquico,
“(...) daí as freqüentes inserções da psicologia, na corrente do pensamento
ocidental até às origens gregas e também a preocupação permanente com a
infra-estrutura orgânica de todas as funções psíquicas que investiga.” (DE LA
TAILLE, OLIVEIRA & DANTAS, 1992, p.35). Além do aspecto psíquico, Wallon
imprimiu em seus estudos a questão social, por não acreditar na dissociação
desta com o conjunto do funcionamento do ser humano.
“A motricidade humana, descobre Wallon em sua análise genética, começa pela atuação sobre o meio social, antes de poder modificar o meio físico. O contato com este, na espécie humana, nunca é direto: é sempre intermediado pelo social, tanto em sua dimensão interpessoal quanto cultural” (ID, 1992, p.38)
André Lapierre observando os fundamentos da teoria Walloniana
estudou as relações do homem consigo mesmo e com o mundo com uma
abordagem psicomotora. Seu estudo teve como base a psicanálise no qual
imprimia significado para cada ação motora. O movimento significava vida e
esta é feita de prazeres e frustrações que geram fantasias e conflitos
inconscientes no indivíduo. Lapierre acredita que o movimento é sustentado
pelo tônus e que a comunicação entre as pessoas acontece por meio de um
diálogo tônico-afetivo. Por isso seu trabalho contempla como conteúdo temas
como a agressividade, o limite, o poder, a sexualidade, assuntos de estreita
relação com os seres humanos, com criatividade e espontaneidade,
valorizando as habilidades da comunicação não-verbal, as quais o
17
psicomotricista disponibiliza à criança ou ao grupo a expressão de seus
desejos, utilizando diferentes materiais e objetos para isso. (TORRES, 2007)
Nesta linha de pensamento é que começou a surgir a Psicomotricidade
Relacional que busca compreender o ser humano de forma global enfatizando
os aspectos cognitivos, psicológicos, sociais, físicos, emocionais e afetivos,
procurando percebê-los através do corpo. Corpo este que é utilizado pelo
sujeito para demonstrar o que sente, o que pensa, como age através do
movimento. É o corpo que produz e é produzido por uma linguagem.
O psicomotricista realiza o seu trabalho através do oferecimento de
jogos espontâneos, onde a criança possa se expressar e resgatar o prazer
corporal, reconhecer o seu corpo e utilizá-lo segundo suas necessidades e
desejos. Este estipula juntamente com a criança os limites do jogo e o deixa
acontecer sem cobrança, sem emitir juízo de valores, escutando, observando,
sentindo e percebendo apenas as relações que as crianças estabelecem com
os objetos, com as outras crianças, com o espaço, o tempo e com o próprio
adulto, após recolhe dados que o permitirão conhecer melhor o comportamento
de cada criança nas diversas situações.
A psicomotricidade relacional preocupa-se não só com o esquema
corporal em si, mas também e, principalmente, com a imagem corporal do
sujeito. O esquema corporal “(...) é o que se pode dizer ou representar do
próprio corpo(...)” (LEVIN, 2002, p.72), ou seja o esquema corporal de uma
pessoa pode ser medido, comparado com o de outra pessoa. Já a imagem
corporal do indivíduo foge das possibilidades de mensuração e de comparação,
pois é única. Em relação à imagem corporal Levin escreve:
“Justamente a diferença fundamental não reside no esquema corporal, mas em que cada um foi marcado, tatuado, mapeado, de forma diferente. A imagem corporal é singular, própria de cada sujeito, é incomparável e incomensurável e neste sentido torna singular o próprio esquema.” (LEVIN, 2002, p.72)
18
Diante desta afirmação pode-se perceber que imagem e esquema são
duas concepções distintas na psicomotricidade, porém se relacionam
estreitamente, já que a imagem corporal contribui na organização e
estruturação do esquema corporal de cada ser.
A imagem do corpo está ligada ao sentimento, a auto-estima e ao
equilíbrio. Ela expressa o nível de organização atingido pelas diferentes
funções psicomotoras durante o desenvolvimento da criança, como a
lateralidade, a coordenação estática e dinâmica, coordenação global e fina, a
estruturação no espaço e no tempo e ao próprio equilíbrio corporal, fazendo
com que esta tenha uma ligação direta entre o interior e exterior, o real e o
imaginário, o eu e o mundo.
O desenvolvimento psicomotor é o ponto de referência para se avaliar e
diagnosticar qualquer atraso na motricidade infantil. Ele tem início no
nascimento da criança e estende-se até a adolescência, passando por diversas
fases, sendo que cada fase, marcada por determinada faixa etária, as crianças
apresentam características semelhantes em suas relações afetivas e
emocionais, no meio social em que vivem. Elas expressam essas relações
através dos movimentos. E os movimentos tornam-se essenciais para a
formação da personalidade da criança, a qual cria sua imagem de corpo, seu
esquema corporal e o seu elo de comunicação com o meio exterior e constitui
com isso a sua individualidade. Este desenvolvimento psicomotor pode ser
trabalhado na escola.
“A escola é um dos ambientes mais importantes deste ambiente social. Ela não pode continuar a eludir sua responsabilidade neste domínio. A EDUCAÇÂO no sentido amplo do termo não consiste apenas em adquirir CONHECIMENTOS, ela deve também se preocupar com a FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE nos seus aspectos mais profundos.” (LAPIERRE, 1984, p.50).
19
No ambiente escolar, o (a) profissional de Educação Física tem a
possibilidade de criar alguns espaços semelhantes ao do psicomotricista não
para fazer o trabalho deste, mas para contemplar uma educação à luz da
psicomotricidade e não somente da motricidade. O (a) professor (a) de
Educação Física, para obter um melhor resultado no processo de
desenvolvimento da criança, necessita colocar como um dos objetivos as
questões relacionais como ponto de observação, pois a criança traz para a
escola as limitações existentes na sua relação consigo mesma e com o outro
como, por exemplo, as reações agressivas, a inibição, a apatia, a dependência
excessiva e outras características que acabam dificultando na sua
aprendizagem escolar. O ensino-aprendizagem dos aspectos psicomotores
referentes às dimensões do esquema corporal é fundamental para o
desenvolvimento infantil, porém a não observância das dimensões emocionais
e afetivas pode afetar negativamente na hora da avaliação escolar, já que uma
limitação em qualquer habilidade psicomotora pode ser fruto de uma baixa
qualidade de vivências afetivas-emocionais e acabam afetando o
desenvolvimento cognitivo no que se refere ao processo de escrita, de leitura,
na interpretação de textos, na resolução de cálculos matemáticos, etc.
“Nossa experiência com crianças de todas as idades e com adultos prova que estes conflitos têm sua origem na infância e, particularmente na primeira infância. Quanto mais eles são ignorados, culpabilizados, reprimidos, mais se lhes recusa um exutório através do jogo simbólico ou fantasmático, mais eles se tornam patógenos. Eles não têm outros meios de expressão a não ser sintomas neuróticos.” (ID, 1984, p.50)
A função da Psicomotricidade Relacional é justamente a de incorporar a
dimensão emocional-afetiva à intelectual.
A criança até formar sua imagem corporal precisa passar pelas etapas
que Le Boulch (1992) chama de “corpo vivido” que vai do nascimento aos três
anos, “corpo percebido”, que vai de três a sete anos, na qual ocorre a
organização do esquema corporal para chegar a fase de “corpo representado”,
20
dos sete aos doze anos, período em que ela estruturará seu esquema corporal
e já apresentará a noção do todo e das partes de seu corpo em relação ao seu
meio . Em relação à imagem corporal Le Boulch (1992) afirma:
“Nossa hipótese de trabalho faz da educação psicomotora um meio prático de ajudar a criança a dispor de uma imagem do corpo operatório, a partir da qual poderá exercer sua disponibilidade. Esta conquista passa por vários estágios de equilíbrio, que correspondem aos estágios da evolução psicomotora.” (LE BOULCH, 1992, p.18)
A educação psicomotora deve criar condições à criança de chegar ao
equilíbrio psíquico, fazendo coincidir o espaço e o tempo com o ego, ligando-se
com a realidade. A descoberta da própria identidade e a organização do ego
auxiliam a criança no estabelecimento da relação com a consciência, com a
aceitação e o entendimento de regras tão necessárias na faixa etária
contemplada neste trabalho, já que é a partir de 7 (sete) anos que começa a se
inserir as regras nos jogos e nas brincadeiras presentes nas aulas de
Educação Física.
Conforme Le Boulch (1983), no período de sete aos dez anos devem
ser incentivados os exercícios de Coordenação – dinâmica geral e óculo-
manual: os exercícios de percepção e de conhecimento de seu próprio corpo –
fixação da lateralidade, orientação do esquema corporal, conscientização dos
diferentes segmentos corporais em várias posições, incluindo aqui exercícios
de respiração e relaxamento na posição deitada, e conscientização da
globalidade em deslocamentos segmentários; Exercícios de ajustamento
postural; Exercícios de percepção temporal e Exercícios de percepção do
espaço e de estruturação espaço-temporal, havendo diferença de trabalho nos
exercícios de coordenação motora e de estruturação espaço-temporal para
crianças de seis a oito anos em relação às crianças de nove a doze anos.
Le Boulch (1983) ainda considera que um esquema corporal mal
estruturado acarreta em limitações na relação criança-meio externo no plano
21
da percepção, traduzindo-se num déficit na estruturação espaço-temporal, no
plano motor, que leva a um desajustamento postural e descoordenação, além
de más atitudes e, no plano das relações sociais, causadas por insegurança e
conseqüentemente por perturbações afetivas.
Se for considerar o exame psicomotor descrito pela autora Fátima Alves
as crianças de 6 (seis) a 12 (doze) anos estão inseridas na fase do “Estágio de
Aperfeiçoamento e Diferenciação no qual se avalia a Coordenação dinâmica
manual, a Coordenação dinâmica geral, o Equilíbrio, a Organização do espaço
e a Rapidez de execução” (ALVES, 2005, p.20).
Todas essas habilidades examinadas não dependem somente do
desenvolvimento cognitivo, mas primeiramente do desenvolvimento perceptivo,
iniciado no nascimento, com as experiências sensório-motoras até a
construção da imagem corporal que inclui também as experiências sociais na
família e na pré-escola. Nenhuma destas experiências deve ser ignorada pelo
profissional de educação física em suas aulas e em suas avaliações, sobre as
habilidades psicomotoras, devendo, portanto, ter a consciência da importância
de se priorizar o desenvolvimento psicomotor nos jogos, brincadeiras e
esportes trabalhados para crianças de sete a dez anos que estão ainda
formando o seu esquema corporal, além de orientar os pais ou responsáveis a
encaminharem a criança a uma reeducação psicomotora ou uma terapia com
um psicomotricista, quando detectar atraso significativo, difícil de ser
trabalhado em aula, em qualquer habilidade referente a faixa etária citada,
dificultando assim problemas de aprendizagem e possíveis fracassos
escolares.
22
CAPÍTULO III
A RELAÇÃO ENTRE JOGOS COOPERATIVOS E A
PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA IDADE
ESCOLAR
Dentre os vários jogos considerados “cooperativos”, neste capítulo serão
analisados em torno de 20 (vinte) jogos sob à luz da Psicomotricidade
Relacional objetivando esclarecer a relação existente entre ambos e sua
contribuição para crianças de 1a. (primeira) à 4a. (quarta) série. Para esclarecer
a análise dos Jogos Cooperativos serão colocados abaixo os conceitos de
cada habilidade citada como forma de ratificar o estudo feito.
Coordenação motora ampla = “É a coordenação existente entre os
grandes grupamentos musculares. (...). Para uma criança, interromper
subitamente um movimento é difícil, mas esse controle muscular é
indispensável para, futuramente facilitar a sua caligrafia e concentração
necessária à aprendizagem escolar.” (ALVES, 2005, p.58)
Coordenação motora fina = “É uma coordenação segmentar,
normalmente com a utilização das mãos exigindo precisão nos
movimentos para a realização de tarefas complexas, utilizando também
os pequenos grupos musculares.” (Id, 2005, p.58)
Coordenação viso-motora = “É a habilidade de coordenar a visão com
movimentos do corpo. Na ausência de uma adequada coordenação viso-
motora, a criança se mostra desajeitada em todas as suas ações,
apresentando dificuldades na escola. O desenvolvimento de uma boa
coordenação geral é indispensável como pré-requisito.”(Id, 2005, p. 58)
Coordenação audiomotora = “É a capacidade de transformar em
movimentos um comando sensibilizado pelo aparelho auditivo.” (Id,
2005, p.58)
23
Coordenação facial = “A coordenação facial é o primeiro e mais
importante modo de comunicação interpessoal (RILL,1984). (...) As
expressões faciais são fontes inesgotáveis de comunicação não verbal
(CNV).(...) A contração voluntária da musculatura facial tem muita
importância, pois é o começo da expressão de estados mais abstratos
(medo,negação, ansiedade). Com o enriquecimento da mímica,
aparecem os primeiros rudimentos de uma comunicação ao nível
simbólico.” (RILL apud ALVES, 2005, p.58 e 59)
Equilíbrio = Pode ser classificado em dois tipos:
• Equilíbrio estático = “São movimentos não locomotores como,
por exemplo, ficar em pé, apenas com a ponta dos pés
tocando o solo, com elevação dos calcanhares e os pés
unidos.” (ALVES, 2005, p.61)
• Equilíbrio dinâmico = “São movimentos locomotores como, por
exemplo, o andar em marcha normal sobre uma linha pré-
delimitada.” (Id, 2005, p.61)
Lateralidade = “(...) a definição de lateralidade está relacionada com o
conhecimento corporal. O conhecimento do próprio corpo é de grande
importância nas relações entre o eu e o mundo exterior, (...)” (BAROJA,
PARET & RIESGO apud ALVES, 2005, p. 62 e 63)
Estruturação espacial = “Primeiro, a criança percebe a posição de seu
próprio corpo no espaço. Depois a posição dos objetos em relação a si
mesma e por fim, aprende a notar as relações das posições dos objetos
entre si. (...) A lateralização é a base da estruturação espacial e é
através dela que uma criança se orienta no mundo que a rodeia.”
(ALVES, 2005, p.69).
Orientação temporal = “O espaço é um instantâneo tomado sobre o
curso do tempo e o tempo é o espaço em movimento (...) o tempo é a
coordenação dos movimentos: quer se trate dos deslocamentos físicos
ou movimentos no espaço, quer se trate destes movimentos internos
que são as ações simplesmente esboçadas, antecipadas ou
24
reconstituídas pela memória, mas cujo desfecho e objetivo final é
também espacial...” (PIAGET apud ALVES, 2005, p.74).
Discriminação tátil = É a habilidade de distinguir as diferentes texturas e
formas através do tato. (Harrow, 1983)
Memória visual = Consiste na habilidade de recordar experiências
visuais passadas. (Id, 1983).
Memória auditiva = É a habilidade de reconhecer e de reproduzir
experiências auditivas anteriores. (Id, 1983).
Seguimento auditivo = É a habilidade do aluno para distinguir a direção
do som e seguí-lo. (Id, 1983).
Agilidade = É a habilidade de mover-se rapidamente. Envolve: Rapidez
na troca de direção; Início e paradas imediatas; Rapidez de reação e
destreza manual. (Id, 1983).
Esquema corporal = “O esquema corporal pode ser considerado como
uma intuição de conjunto ou conhecimento imediato que temos do nosso
próprio corpo, seja em posição estática ou em movimento, em relação
às diversas partes entre si e, sobretudo, nas relações com o espaço e os
objetos que o circundam.” (LE BOULCH apud ALVES, 2005, p.48).
Comunicação não-verbal = Refere-se aos movimentos expressivos e
aos movimentos interpretativos. (Harrow,1983)
Afetividade ou Afeto-atividade = “Na passagem da passividade (reação)
para a atividade (ação) surge o afeto. O afeto é uma variação intensiva.
Um afeto ativo deriva das ações, enquanto um afeto passivo deriva das
paixões. Os afetos de alegria aumentam a potência e os afetos de
tristeza diminuem a potência. (...) O afeto, que é a própria pulsão interna
do indivíduo, matiza a motivação e envolve todas as relações do sujeito
com os outros, com o meio e consigo mesmo.” (LEVY apud FERREIRA,
2000, p.164 e 165).
Os jogos estão identificados pelos seus respectivos nomes e se
encontram descritos em anexo (Anexo1, p.37). Dentre as habilidades
25
analisadas nos jogos abaixo estão citadas as mais importantes para a
faixa de idade contemplada no trabalho. Eis os jogos:
• No jogo ”Tato Con-Tato” (anexo1, p.37) são trabalhadas a
discriminação tátil, a comunicação não-verbal, o esquema corporal e
a afetividade;
• No jogo “Dança das Cadeiras Cooperativas” (anexo1, p.37) encontra-
se o trabalho de equilíbrio e a afetividade;
• Já no jogo “Salve-se com um Abraço” (anexo1, p.37) percebe-se a
presença do trabalho de coordenação motora ampla, da coordenação
viso-motora, da agilidade e da afetividade;
• Em ”Vôo dos Gansos Selvagens” (anexo1, p.38) são trabalhados o
esquema corporal, o equilíbrio e a afetividade;
• Em “Confraternização dos Bichinhos” (anexo1, p.38) estão presentes
o esquema corporal, a comunicação não-verbal, a memória e
seguimento auditivo, e a afetividade;
• No jogo “Volençol” (anexo1, p.39) trabalha-se a coordenação viso-
motora , a estruturação espacial, a orientação-temporal e a
afetividade;
• No jogo “Futpar” (anexo1, p.39) dá-se ênfase no trabalho da
coordenação motora ampla, coordenação viso-motora, lateralidade e
a afetividade;
• Em “Eco-Nome” (anexo1, p.39) encontra-se o trabalho da
comunicação não-verbal, memória visual, memória auditiva e a
afetividade;
26
• Em “Olhos de Águia” (anexo1, p.40) há o trabalho do esquema
corporal, da estruturação espacial, a orientação temporal e da
afetividade;
• Em “Cadeira Livre” (anexo1, p.40) percebe-se o trabalho da
lateralidade, da estruturação espacial, a orientação temporal, e a
agilidade;
• No jogo “Golfinho e Sardinha” (anexo1, p.41) são trabalhadas a
coordenação motora ampla, a estruturação espacial, a orientação
temporal, a agilidade, e a afetividade;
• O jogo “Pessoa pra Pessoa” (anexo1, p.42) trabalha a comunicação
não-verbal, o esquema corporal, a agilidade e a afetividade;
• Em “Navegar é (IM) Possível Para Todos” (anexo1, p.42) estão
presentes a comunicação não-verbal, o equilíbrio, a estruturação
espacial, a afetividade e dependendo das “condições de navegação”,
ou seja, das necessidades da turma, pode-se explorar outras
habilidades além destas ;
• Nos jogos “Um Time “Zoneado”“ (anexo1, p.43) e “Queimada
Invertida” (anexo1, p. ) são trabalhadas a estruturação espacial, a
coordenação viso-motora, a lateralidade, a agilidade e a afetividade;
• O jogo “Basquetebalde” (anexo1, p.43) promove o trabalho da
coordenação viso-motora, da agilidade e da afetividade;
• Em “Ajudando Seus Amigos” (anexo1, p.43) estão presentes o
equilíbrio, o esquema corporal e a afetividade;
• Em “Eu Me Amarro em Você” (anexo1, p.43) percebe-se o trabalho
de discriminação tátil, esquema corporal e afetividade;
• Em “Murmurando” (anexo1, p.44) são trabalhados o seguimento
auditivo, discriminação tátil e a afetividade;
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• Em “Passar o Ferro” (anexo1, p.44) trabalha-se a comunicação não-
verbal e a afetividade;
• Em “Duas Pessoas, uma Bexiga” (anexo1, p.44) são incentivados o
trabalho de esquema corporal, de equilíbrio e de afetividade.
Partindo da Análise de alguns dos jogos cooperativos, à luz do
desenvolvimento psicomotor, em crianças de 7 (sete) aos 10 (dez) anos,
percebe-se que nos Jogos Cooperativos são incentivadas e trabalhadas as
habilidades motoras, perceptivas e sociais, necessárias para uma boa
formação do esquema corporal e um desenvolvimento cognitivo e afetivo
saudável em crianças desta faixa etária.
As habilidades motoras como parar, andar, correr, saltar, agachar,
rastejar, equilibrar-se e equilibrar objetos são fundamentais na formação
motora e cognitiva da criança.
As habilidades perceptivas de poderem reconhecer-se no espaço e se
situarem no tempo auxiliam muito no processo de interação consigo mesmo,
com os objetos , com as outras pessoas, com a realidade que a cerca.
As habilidades sociais, como por exemplo, o exercício pleno da
afetividade, colabora essencialmente na formação da identidade, da
personalidade, da individualidade e da sociabilidade, a partir das experiências
positivas de se afetar e ser afetado.
Tanto os Jogos Cooperativos como a Psicomotricidade Relacional
trabalham, cada qual, em seus espaços de atuação com o toque, o olhar, o
sentir, o perceber, o se emocionar. Procuram se ocupar das subjetividades da
criança, o que está nas entrelinhas do processo de reconstrução das relações
tão afetadas atualmente pelo individualismo, pelo consumismo, pelo “racional”
que interfere substancialmente no “emocional”, pela busca da eficiência, da
28
competência padronizada, que não percebe as desigualdades nas condições
sócio-econômicas e a diversidade, princípio este que pode ser subdividido em
situações de inclusão e exclusão.
A teoria e a prática dos jogos cooperativos estão de encontro com os
objetivos presentes no processo de ensino-aprendizagem ou de “ensinagem”
conforme Brotto (2001), da escola, enquanto instituição responsável pelo
desenvolvimento saudável de seus alunos e na preparação para a vida em
sociedade, pois para a construção da sociedade não são necessárias somente
teorias e sim ações que estejam de acordo com estas teorias propostas em
busca de resultados. De acordo com Vásquez (1977),
“Ao Afirmar-se que a atividade teórica por si só não é práxis, afirma-se, também, que enquanto a teoria permanece em seu estado puramente teórico não se passa dela à práxis e, por conseguinte, esta de certa forma é negada. Temos, portanto, uma contraposição entre teoria e prática que tem sua raiz no fato de que a primeira, em si, não é prática, isto é, não se realiza, não se plasma, não produz nenhuma mudança real. Para produzir tal mudança não basta desenvolver uma atividade teórica; é preciso atuar praticamente.” (Vásquez, 1977, p. 209)
A “práxis” dos Jogos Cooperativos relaciona-se estreitamente com as
condições da Educação da “práxis” da Psicomotricidade Relacional;
primeiramente porque propõe prioritariamente o trabalho do corpo. Este
trabalho acontece pelo movimento. O movimento é trabalhado através do jogo;
No jogo trabalha -se todos os aspectos essenciais ao ser humano.
Em qualquer situação de jogo competitivo a tendência do jogador é a de
sentir estresse provocado pela incerteza do resultado do jogo, pela falta de
habilidades específicas necessárias para o próprio jogo ou, pela pressão do
grupo em fazer o melhor para ganhar o jogo. São muitas as questões
intrínsecas e subjetivas para que o momento seja mais de tensão, do que
propriamente de prazer. A própria aceitação da criança pelo seu grupo
29
acontece em maior proporção quando esta obtém um êxito. Os valores
trabalhados nos jogos competitivos são o da competência, da eficiência, do
individualismo, do vencer a custos físicos, psíquicos e até sociais altos. Vê-se
este exemplo constantemente nos jogos transmitidos pelos meios de
comunicação de massa (MCM). O adversário, ás vezes, dependendo de como
o jogador sente e expressa estes valores recebidos, é tratado como um
inimigo, vide exemplo da notícia veiculada no portal eletrônico do Terra
(www.terra.com.br): “Atacante Fred pode ser suspenso por cotovelada” (anexo
4, p.54), no qual o atacante citado deu uma cotovelada no nariz do outro
jogador, Chivu, que o estava impedindo de prosseguir, tendo como
conseqüência, a fratura do nariz de Chivu.
A cumplicidade, a solidariedade, a união, a satisfação, a alegria, enfim, a
amorosidade presente entre os participantes, incentivada pela proposta dos
jogos cooperativos, influencia diretamente numa modificação nos valores
trabalhados nos jogos tradicionais, dificultando a presença de sentimentos
destrutivos em relação ao time oponente, pois faz parte das regras do jogo
cooperativo a empatia.
A psicomotricidade apresenta como proposta um trabalho de melhora na
qualidade de vida, através do movimento, que trabalhe o tônus de forma a
equilibrá-lo, no qual encontram-se os jogos, Se observarmos a realidade das
crianças nos dias atuais e principalmente nos centros urbanos, perceberemos
que estas passam mais por períodos de estresse do que de prazer. O índice de
desestrutura familiar é alto. Os fatos de violência real, escutados nos
noticiários, ou presenciados nas próprias comunidades as quais as crianças
moram e estudam e; os momentos de lazer impregnados de atitudes violentas
presentes nos desenhos infantis, jogos eletrônicos e nas brincadeiras e jogos
com os colegas em casa ou na escola, são diários. Em todas essas situações,
vividas em comunidade, percebem-se algumas características específicas de
um ambiente competitivo como a angústia, o medo, o estresse de ganhar ou
perder, que acabam afetando de forma considerável as crianças em suas
30
habilidades físicas, psíquicas, motoras e sociais. Conforme Soler (2006):
“Competir e Cooperar são possibilidades de agir e ser no mundo. Cabe
escolhermos” (SOLER, 2006, p.24).
Neste sentido há uma necessidade de se proporcionar oportunidades
de eutonia, “(...) tonicidade harmoniosamente equilibrada, em adaptação
constante e ajustada ao estado ou à atividade do momento.“ (ALEXANDER,
1983, p.9), trabalhadas no ambiente escolar com as vivências dos Jogos
Cooperativos e da Psicomotricidade Relacional, no que cabe à parte
educacional, para que haja mais qualidade no crescimento e desenvolvimento
das crianças de sete a dez anos.
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CONCLUSÃO
Um dos espaços de ensino-aprendizagem mais reconhecidos
socialmente é a escola. É neste espaço que a criança passa grande parte de
sua vida, e que deveria ter a oportunidade de viver com os colegas as
experiências da família, dos parentes e dos amigos, e vice-versa. São
momentos únicos de poder olhar, tocar, perceber, sentir e Ser com os outros.
Momentos esses que podem ser experimentados com a prática dos Jogos
Cooperativos e vivências de educação psicomotora à luz da Psicomotricidade
Relacional.
A prática dos jogos tem uma importância especial na vida humana.
Desde a antiguidade os homens aproximam-se e se inter-relacionam,
comunicando sua inteligência, sua motricidade, suas emoções, sua forma de
viver a realidade que os cercam, através do jogo. Por esse motivo, os jogos
foram inseridos na prática escolar no sentido de trabalhar os aspectos físicos
(as habilidades motoras e as valências físicas) e sociais (as habilidades de
convivência por meio das regras). A partir das conseqüências individuais e
sociais proporcionadas pela prática dos jogos Competitivos, é que surgiu a
idéia de se jogar cooperativamente, surgiram os jogos cooperativos, que ainda
estão acontecendo em uma minoria de instituições, espalhadas pelo Brasil.
As experiências pessoais muitas vezes não são consideradas pelos
professores, na escola, no processo de ensino-aprendizagem, pois este já tem
regras muito bem definidas e vistas como fundamentais para uma boa
convivência social. Estas regras são aplicáveis a todas as disciplinas
pertencentes ao currículo escolar como base para uma exclusiva e básica
comunicação entre as pessoas dos mais diversos lugares.
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Remetendo isto para a prática dos jogos nas aulas de educação física,
surgem as seguintes questões: - As regras vivenciadas nos jogos e nas
brincadeiras que são essenciais para o desenvolvimento psicomotor das
crianças estão de acordo com as regras que almejamos para nossa vida em
comunidade e em sociedade? – Será que nas regras dos jogos escolares estão
de fato sendo consideradas as questões referentes às habilidades físicas de
todos os alunos nos jogos incluindo aí os mais baixos, os gordinhos, os mais
fracos, os mais lentos, os mais rápidos, os mais fortes e os altos, os meninos e
as meninas? Ou são regras impostas por uma estrutura social que privilegia a
competição em todos os sentidos? – Será que nos jogos estão sendo
considerados os aspectos sociais de todos os alunos, a classe, a cor, o sexo?
Ou os diferentes do padrão “jogador” não são contemplados no jogo por conta
das regras já existentes? – Será que nos jogos estão sendo realmente
considerados todos os aspectos emocionais de todas as crianças? Ou, é
vivenciado o prazer de poucos, os que ganham e o desprazer de muitos, os
que perdem, ou talvez, o desprazer de todos os que ganham e os que perdem?
– Será que a competição tão abordada como questão fundamental de ser
trabalhada no processo educativo está sendo de fato uma vivência de
educação para o relacionamento social desejado para todos? Ou indivíduo é
indivíduo e sociedade é sociedade? É só uma questão individual e institucional
que não forma uma estrutura social? – E o afeto tão objetivado pela
psicomotricidade relacional e também tão citado nos objetivos dos jogos na
escola e na vida em sociedade está de fato incluída como uma afeto-atividade,
ou um ato de afeto? Ou essa questão, a do afeto, é só uma questão teórica
muito bonita, idealista, altruísta, mas na prática não funciona? – As regras que
ditam nos jogos estão de acordo com o desenvolvimento psicomotor tão
necessário nesta fase da vida de todas as crianças? Ou as regras,
independente da realidade aplicada, servem só para serem cumpridas?
Todas estas questões servem como pontos de reflexão e para reforçar
a hipótese, neste trabalho, da importância da prática dos Jogos Cooperativos e
da Psicomotricidade Relacional no ambiente escolar. A relação entre ambos
33
consiste na pré-ocupação destes com as questões subjetivas, transcendentais,
da imagem corporal, que fazem parte do ser humano, e que são essenciais
para as vivências objetivas, reais e para a formação do esquema corporal. A
família, a escola, a comunidade e a sociedade necessitam da prática do toque,
do olhar, do afeto e, portanto, da solidariedade, da fraternidade, do respeito à
diversidade, da igualdade. E nada melhor do que vivenciar
CORPORALMENTE estes conceitos e as teorias educativas idealizadas, e
começar este trabalho na Infância, marcando e tatuando o CORPO das
crianças com sentimentos, sensações, emoções e ações baseadas no AFETO
consigo mesma e com os outros.
34
BIBLIOGRAFIA ALEXANDER, Gerda. Eutonia: Um Caminho para a Percepção Corporal. São
Paulo, SP: Martins Fontes, 1983.
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BROTTO, Fábio O. Jogos Cooperativos. O Jogo e o Esporte como um
Exercício de Convivência, Santos, SP: Projeto Cooperação, 2001.
BROTTO, Fábio O. Jogos Cooperativos. Se o Importante é Competir, o
Fundamental é Cooperar, Santos, SP: Projeto Cooperação, 2005.
DE LA TAILLE & outras. Teorias Psicogenéticas em Discussão. São Paulo,
SP: Summus ,1992.
FARINATTI, Paulo de T. V. Criança e Atividade Física. Rio de Janeiro, RJ:
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FERREIRA, Carlos A. de M. Psicomotricidade. Da Educação Infantil à
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HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. O Jogo como Elemento da Cultura. São
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LAPIERRE, André. Anais do II Congresso Brasileiro de Psicomotricidade.
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35
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Seis Anos. A Psicocinética na Idade Pré-Escolar. Porto Alegre: Artes
Médicas,1992
LE BOULCH, Jean. A Educação pelo Movimento. A Psicocinética na Idade
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LEVIN, Esteban. A Clínica Psicomotora. O Corpo na Linguagem. Petrópolis,
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VÁSQUEZ, Adolfo S. Filosofia da Práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
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Notícia retirada da internet. Portal Eletrônico do Terra. Atacante Fred pode ser
suspenso por cotovelada. www.esportes.terra.com.br/futebol/europeu2006.
1p., acessado em 07/03/2007.
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ANEXOS
Índice de Anexos
Anexo 1 – 20 Jogos Cooperativos retirados de livros especializados. Anexo 2 – Artigo: “Jogos Cooperativos e Condutas Violentas: visão do Professor de Educação Física” retirado da Internet. Anexo 3 – Artigo: “Psicomotricidade Relacional: um enfoque educativo e profilático” retirado da internet. Anexo 4 – Notícia “Atacante Fred pode ser suspenso por cotovelada” veiculada e retirada do portal eletrônico do Terra (www.terra.com.br).
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Anexo 1
Jogos Cooperativos (Brotto, 2005) 1. Tato Con-Tato (p.75) Jogamos em trio. Um como “escultor”, outro como”imagem” e o terceiro como “bloco de mármore”. O propósito é que o “escultor” passe a “imagem” para o “bloco de mármore”.Todos permanecem de olhos fechados, do início ao fim do jogo. Iniciamos com a “imagem” assumindo uma pose(como uma estátua) que transmita para o grupo algo de sua essência. O “escultor” sente a “imagem”, tocando-a com tato, percebendo-a em todos os seus detalhes(postura, expressão facial, temperatura, aromas e outras sensações), tornando-se UM com ela. Em seguida, passa – através do con-tato- para o “bloco de mármore” a “imagem” que ele percebeu. Por sua vez, o “bloco de mármore” em plena e serena disponibilidade se entrega ao “escultor” para receber a “imagem”. Quando o “escultor” concluir a obra, ele avisa e então, todos podem abrir os olhos e desfrutar da beleza da criação. O processo se reinicia com a troca de papéis e o jogo prossegue até que todos tenham vivenciado os três diferentes papéis. 2. Dança das Cadeiras Cooperativas (p.85) Colocamos em círculo, um número de cadeiras menor que o número de participantes. Em seguida propomos um “objetivo comum”: Terminar o jogo com todos os participantes sentados nas cadeiras que sobrarem! Colocamos música e todos dançam. Quando a música pára, TODOS devem sentar usando os recursos que estão no jogo – cadeiras e pessoas. Podem sentar nas cadeiras, nos colos uns dos outros, ou de alguma outra maneira criada pelos participantes. Em seguida, todos levantam e tiramos algumas cadeiras, ninguém sai do jogo e continuamos a dança. Questiona-se se dá para continuar e a o jogo prossegue até onde o grupo desejar. Em geral, a motivação é tão intensa que mesmo depois de sentarem TODOS em uma única cadeira, o jogo continua com uma cadeira imaginária. Daí em diante , é só dar asas a imaginação e... dançar em comum-unidade. 3. Salve-se com um Abraço (p.93) Este jogo é um tipo de “pega-pega”, onde o objetivo é que todos se salvem. O pegador, com uma bexiga (balão de encher), tenta tocar o peito de alguém, se conseguir ele passa a bexiga e invertem-se os papéis. Para não serem pegos, os participantes têm que se abraçar aos pares, encostando o peito um no outro, salvando-se mutuamente. Conforme a dinâmica do grupo, pode-se ter mais que um pegador, maior número de bexigas e propor abraços em trios e/ou em grupos maiores. Os abraços podem durar apenas 3 segundos. É para evitar algum compromisso maior, não é?!!!
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4. Vôo dos Gansos Selvagens (p.95) Começamos cada um em pé e, individualmente, verificando nosso potencial de vôo. Mantendo, pelo menos, um dos pés fixado no chão, “voamos” para frente, para trás, para os lados. Assim, checamos os limites do vôo individual. Com o propósito de diluir esse limite e ampliar o vôo, trabalhamos, agora,em pares. Um de frente para o outro, pés unidos e fixos no solo. As mãos colocadas à altura do próprio peito, tocam as do parceiro. Depois de um breve contato,cada um dá um passo para trás. Mantendo a posição inicial dos pés e mãos, inclinam o corpo para frente, procurando tocar as palmas das mãos, um do outro. Conforme adquirimos conforto e estabilidade, continuamos o exercício aumentando a distância entre os parceiros, gradualmente, até onde for possível. Depois em trios transformamos o conhecido ”João Bobo” em “João Confiança”. Um dos participantes fica no centro, entre os dois parceiros. Com os pés unidos e fixados no chão ele se deixa “voar” para frente e para trás. Sendo apoiado com segurança pelo parceiro correspondente que, após recebê-lo com segurança, gentilmente, o conduz para o centro, ao ponto de equilíbrio inicial. O jogo prossegue até que os três tenham experimentado o vôo. Obs.: Pode-se formar grupos-círculos de 5 à 7 “voadores”. Um por vez vai ao centro e sem tirar os pés do chão, “voa” em todas as direções, sendo apoiado pelo grupo. 5. Confraternização dos Bichinhos (p.103) Formamos uma grande roda e numeramos, de 01 à 04, todos os participantes (a quantidade dos números varia de acordo com o tamanho do grupo). Pedimos a um representante de cada grupo que escolha uma espécie de BICHINHO para caracterizar o seu respectivo grupo. Por exemplo: O representante do número (1), escolhe ser “carneiro”, O representante do número (2), escolhe ser “gato”, o do número (3), “boi” e o do número (4), “pato”. A partir desse momento, todos os números (1) serão “carneiros”, os números (2) serão “gatos”, os números (3) serão “bois” e os números (4), “patos”. O objetivo deste jogo é reunir todos os BICHINHOS da mesma espécie (gatos com gatos, patos com patos, etc). Para facilitar a confraternização todos devem se comunicar. Quanto mais “falarem”, melhor(e mais engraçado)! Mas, atenção! Todos são BICHINHOS e devem se expressar de acordo com as características de cada espécie.
- Qual é o som que os carneirinhos fazem? - MMÉÉHÉHÉ. - E como se comunicam os gatos? - Miau, Miauuu. Após cada “espécie” ter se manifestado, damos início ao jogo. - Ah! Esperem um pouco. Esqueci de avisar que os BICHINHOS têm uma
cegueira temporária. Por isso, fiquem todos de olhos fechados até o final da brincadeira, tá? Quando um BICHINHO encontrar um companheiro, ambos se abraçam e
continuam procurando o restante do seu grupo, permanecendo de olhos fechados. A brincadeira segue até que cada espécie tenha re-encontrado todos os seus membros. Como ninguém vive sozinho e nenhuma espécie evoluiu isolada das outras, terminamos
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o jogo com todas as “espécies” se agrupando num grande abraço de Confraternização Universal.
6. Volençol (p.107)
Vamos começar jogando em duplas. Cada uma com um pequeno “lençol” (um tecido similar, como uma camiseta ou, um cobertor) e uma bola. O desafio é lançar e recuperar a bola utilizando o “lençol”. Os parceiros podem criar inúmeras formas para dinamizar a atividade: fazer uma cesta; arremessar numa parede; lançar a bola, correr até um ponto e voltar; lançar e rolar no chão e outras tantas. Depois de algum tempo, as duplas são incentivadas a interagir umas com as outras, trocando passes de “lençol” para “lençol”. Pode ser com uma ou duas bolas simultaneamente. O desafio pode evoluir para um “volençol” (um jogo de voleibol com lençóis). Colocamos as duplas com “lençóis” em cada lado da quadra de voleibol e desenvolvemos o jogo propondo a realização de metas comuns e respeitando o grau de habilidade que os participantes vão, gradualmente, alcançando: -Vamos tentar o maior número de lançamentos seguidos do grupo todo? -A dupla que lançar a bola para o outro lado, muda de lado também, passando por baixo da rede. O uso de bolas com tamanho e peso variados, “lençóis” maiores para formação de grandes grupos, entre outros, são elementos que podem aumentar o grau de motivação e envolvimento no jogo.
7. Futpar (p.121) É um jogo de futebol normal. Porém, cada equipe é formada por duplas(ou trios) que devem permanecer de mãos dadas. Jogamos sem goleiros e ampliamos ao máximo as dimensões do campo (ou quadra). Dependendo do número de participantes usamos mais de uma bola simultaneamente. A cada gol estimulamos novas parceiras, o que propicia um constante desafio de “boa convivência”. Ah! Já que falamos nisso, como ficam nossos “vizinhos”, lááá... da outra equipe? Para alargar o grau de cooperação a ponto de promovê-la entre as diferentes equipes- Cooperação Intergrupal – e diluir as fronteiras que as separam, temos experimentado os “jogos de inversão” propostos por Terry Orlick(1989). Propusemos a “inversão do goleador”. Desta forma, a dupla que faz o gol, marca ponto para sua equipe, mas em seguida, muda de lado, indo para o outro time. Ao final do jogo, todos terão jogado com todos, ora na equipe “A”, ora na equipe “B”. 8. Eco-Nome (p.73) Formamos um círculo para que todos sejam vistos e ouvidos. Cada um, em sua vez, fala o nome completo e conta um pouquinho da história dele. Quem escolheu o nome? Qual a origem, o significado? E o sobrenome, de onde vem? O grupo pode ajudar. Depois, escolhemos um nome para o grupo.
- Como gostaríamos de ser chamados? Com o que parecemos? Antes disso, que tal “ver” o nome de cada um ser “mostrado” pelos outros?
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Uma pessoa do grupo vai ao centro do círculo, fala o primeiro nome em voz (bem) alta e, simultaneamente, realiza um movimento qualquer que expresse como se sente naquele momento. Depois, volta para seu lugar e observa todo o grupo (indo ao centro) repetir o nome e o movimento dele. Algumas vezes acontece um certo intervalo entre uma e outra apresentação. Mas, assim,como as pausas fazem de uma música, devemos aprender a integrar o silêncio e respeitar o ritmo de cada um em nossos jogos. Depois da apresentação de todos, o grupo escolhe um nome e um movimento para o grupo. Se houver necessidade podemos fazer sugestões, por exemplo:
- Combinar a letra inicial do primeiro nome de cada participante. - Uma qualidade, um sentimento, ou, uma vontade que represente o grupo naquele
momento. E então, que tal ecoá-lo por aí?
9. Olhos de Águia (p.79) Ficamos um de frente para o outro, bem pertinho, quase tocando nariz com nariz . E, como se fôssemos uma linda águia, fazemos contato com o outro, através do olhar. Trocamos nosso desejo de viajar e encontrar algo especial, sem palavras. Apenas pelo olhar. O objetivo é permanecer durante todo o tempo com olhos nos olhos. Assim, saberemos sempre de onde partimos e para onde queremos ir. Vamos viajar! Mantendo olhos nos olhos, nos movemos devagarinho, em câmera lenta. Este é nosso primeiro vôo. Começamos dando um passinho para trás... Mais um... Agora um grande passo para a esquerda... E dois passos para trás... Não importa a distância, mantenha o contato de olhos. Um pulo para a direita... E uma cambalhota... Chegamos! Olhando para nosso parceiro, perguntamos para a gente mesmo: - O que estou vendo? Como estou me sentindo? - Para que vim, qual meu propósito?
Tudo bem! Olhos nos olhos e começamos a voltar, sem pressa. Uma cambalhota... Um pulo para a esquerda... Dois passos para a frente... Um grande passo para a direita... Um passinho para a frente, prepare-se. Mais um passo e... Voltamos! Olhem e sintam bem. A si mesmo e ao outro. Percebam o encontro. Compartilhem a viagem: - Alguma coisa mudou? - Há algo diferente desde nossa partida no início do jogo? Agora, podem fazer o que der vontade! Fique aberto e desfrute da emoção de um feliz re-união. 10. Cadeira livre (p.83)
Formamos um círculo com cadeiras, totalizando uma a mais que o número de participantes. Todos sentam voltados para o interior do círculo deixando, obviamente, uma “Cadeira Livre”. O jogo tem início com os participantes que estão sentados,
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imediatamente, à direita e à esquerda, da “cadeira livre”, disputando o assento. Aquele que sentar primeiro, fica e fala em voz alta: - “Eu sentei...” O outro volta para sua cadeira. Dando sequência a esse primeiro movimento, os dois participantes mais próximos daquele que “sentou” na “cadeira livre”, mudam um assento indo na direção dele – como se fossemos puxados por ele. Enquanto sentam, devem falar em voz alta, respectivamente: - “...no jardim...” - “...com meu amigo... Carlos” (chama pelo nome outro participante) O amigo chamado, sai de seu lugar e vai sentar-se ao lado daquele que o chamou, deixando, consequentemente, a cadeira que ele ocupava – livre. A partir daí, o jogo continua repetindo todo o processo para ocupar a “Cadeira Livre” e completar a frase: “Eu sentei...no jardim...com meu amigo...” Com um grande número de participantes pode-se usar mais que uma “Cadeira Livre” para incentivar trocas mais dinâmicas e desafiadoras. Jogos Cooperativos (Brotto, 2001)
11. Golfinho e Sardinha (p.129) Este jogo está baseado no pega-corrente. Começamos com todos os participantes (menos 1) agrupados numa das extremidades do espaço. Este é o “Cardume de Sardinhas”. Aquele 1 separado das “Sardinhas”, será o “Golfinho” e ficará sobre uma linha transversal demarcada bem no centro do espaço. Ele somente poderá se mover lateralmente e sobre essa linha. O objetivo das “Sardinhas”é passar para o outro lado do oceano (linha central) sem serem pegas pelo “Golfinho”. Este por sua vez, tem o propósito de pegar o maior número possível de sardinhas (bastando toca-las com uma das mãos). Toda “Sardinha” pega, transforma-se em “Golfinho” e fica junto com os demais golfinhos sobre a linha central. Lado a lado e de mãos dadas, formando uma “corrente de golfinhos”. Na “corrente de golfinhos” somente as extremidades podem pegar. O jogo prossegue assim até que a “corrente de golfinhos” ocupe toda a linha central. Quando isto acontecer, a “corrente” poderá sair da linha e se deslocar por todo o “oceano” para pescar as sardinhas. ATENÇÃO: Quando a “corrente de golfinhos” for maior que a quantidade de “sardinhas” restantes, propomos a seguinte ação: Agora, as “sardinhas” poderão SALVAR os “golfinhos” que desejarem ser salvos. Como? Basta a “sardinha” passar por entre as pernas do “golfinho”. Daí o “golfinho” solta-se da “corrente” e vira “sardinha”, de novo.
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12. Pessoa pra Pessoa (p.131) Inicia-se incentivando as pessoas a caminhar livre e criativamente pelo ambiente (andar com passo de gigante; de formiguinha; andar como se o chão tivesse pegando fogo; com um tique nervoso etc.). Depois de alguns poucos minutos, fala-se em voz bem alta, 2 partes do corpo (mão na testa; dedo no nariz; orelha com orelha; cotovelo na barriga etc.). A este estímulo, todos deverão formar uma dupla e tocar, um no outro, as partes faladas pelo Focalizador, o mais rápido possível! Por exemplo: - “Mão na testa”. Cada pessoa deverá encontrar um par e tocar sua mão na testa do outro e vice-versa. Quando todos estiverem em duplas e tocando as partes faladas, o focalizador reinicia o processo, propondo a caminha livre e criativa... Após 2 ou 3 dessas combinações o Focalizador pode dizer em voz alta o nome do jogo: “Pessoa pra pessoa”. Nesse momento, todos – inclusive o Focalizador – devem formar uma nova dupla a abraçar um ao outro, bem agarradinho para garantir o encontro. Com a entrada do focalizador diretamente no Jogo, haverá um desequilíbrio numérico: alguém irá ficar sem par. “E o que a gente faz com quem sobra?!!” Diferente dos Jogos tradicionais, aquele que sobra não será castigado, nem excluído. Quem sobrou virá Focalizador e re-inicia o Jogo servindo ao grupo, ao invés de ser servido por ele. 13. Navegar é (IM) Possível Para Todos (p.133) É importante criar uma atmosfera lúdica desde o início. Para isso, pode-se criar um enredo, um cenário adequado ao momento. Por exemplo, imaginando um grupo de velejadores sendo desafiados a realizar diferentes manobras para aperfeiçoar sua co-opetências de navegação. 1o. Desafio: Cada barco deverá sair de seu “porto seguro” (posição de partida) e chegar no “ponto futuro”. Isto é, navegar para o outro lado do quadrado, imediatamente à frente de cada respectivo barco. Todos os tripulantes devem chegar levando o próprio barco (as próprias cadeiras). Quando todos os barcos alcançarem seu “ponto futuro”, o desafio é vencido por todos! Condições de Navegação: Imaginando que todo o piso do ambiente corresponde às águas de um Oceano muito frio e povoado por tubarões, todos os barcos deverão navegar respeitando 2 condições: a) Nenhuma parte do corpo pode tocar a água (o piso). Incluindo calçados, roupa e qualquer outro tipo de material. Afinal, a água é muuuito fria e cheia de TUBARÕES!!!; b) O barco (as cadeiras) não pode ser arrastado. 2o. Desafio: Depois de todos os barcos terem alcançado o “ponto futuro” e celebrado essa conquista, desafiamos o Grupo, como um único Time, a se posicionar em ordem alfabética... respeitando as mesmas Condições de Navegação!!! Comemoração: Um aspecto fundamental do Jogo Cooperativo é a comemoração de cada pequena-grande realização do Grupo. Ao final do 2o. Desafio, convidamos todos os “tripulantes” (que a essa altura, provavelmente, estarão em pé sobre as cadeiras) a darem as mãos e “mergulharem” no oceano... agora com as águas aquecidas pelo calor compartilhado durante toda a Navegação (im)possível!
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14. Um time “Zoneado” (p.141) Partindo do Andebol, este jogo é literalmente uma “zona”. Todos jogam dentro de uma “zona” determinada e conforme o desenrolar da atividade, promovem uma interação muito dinâmica, com participação total e sem fronteiras. Todos percebem que são um só time. Os participantes são distribuídos nas 08 “zonas” espalhadas pela quadra alternadas entre “zona” A e “zona” B, ficando 02 (ou 3) em cada uma delas. Somente poderão jogar dentro da “zona” que ocupam no momento. O “time” A deve tentar fazer gol no “time” B e vice-versa. A bola deve ser passada para a “zona” mais próxima, correspondente ao respectivo “time”. Feito o gol, promove-se um rodízio, onde todos trocam de “zona”, passando a ocupar a próxima “zona”.(ex.: A dupla que estava no gol da “zona”B, vai para o gol da “zona” A, “empurrando” a dupla que estava no gol da “zona” A para a próxima “zona” B, esta por sua vez, “empurra” a dupla que ocupava essa “zona” B para a próxima “zona” A, e assim sucessivamente até completar a troca lá na “zona” do gol B). E reinicia-se o jogo. Jogos Cooperativos (Soler, 2006) 15. Basquetebalde (p.111) Duas equipes com 6 ou mais integrantes, cada equipe tem um representante segurando um balde, que pode correr pela linha lateral (direita e esquerda), sem entrar na quadra. Os integrantes da equipe devem passar a bola entre si, tentando jogar a bola dentro do balde. O jogador, de posse da bola, pode passá-la ou tentar acertar o balde, porém não pode andar segurando a bola. A outra equipe procura interceptar a bola (sem contato pessoal) e tenta acertar o seu balde. Cada vez que um jogador acerta o balde, converte ponto e deverá jogar um dado. Se cair número ímpar, o ponto vale 1, 3 e 5 pontos a favor... as tirar números pares, o ponto vale 2,4 e 6 pontos contra a sua equipe. 16. Ajudando Seus Amigos (p.112) Cada participante com um saquinho em cima da cabeça mantendo o equilíbrio, todos devem passear pelo espaço destinado para o jogo. Quando um saquinho cair, a pessoa que não conseguiu equilibrá-lo deve ficar “congelada”. Outra pessoa então deve tentar pegar o saquinho ajudando seu amigo a “descongelar-se” e seguir o jogo. Quando abaixar para pegar o saquinho do amigo, se o seu cair, também estará “congelado”. 17. Eu Me Amarro em Você (p.102) Todos à vontade, pelo espaço destinado para o jogo. Todos fecham os olhos e começam a se misturar. Cada pessoa tem que encontrar a mão do outro e segurar nela. Quando todos estiverem segurando duas mãos, o grupo abre os olhos e todos devem trabalhar juntos para tentar remover os nós.
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18. Murmurando (p.114) Todos de quatro, murmurando com as vendas nos olhos. O facilitador deve escolher algumas pessoas para serem os seguranças. O objetivo é evitar que as pessoas batam nas paredes. O jogo começa com o facilitador dando um toque nas costas de alguém que está de quatro, este fica de pé com as pernas abertas (olhos abertos). O objetivo do grupo será achar a pessoa de pé, e passar por entre as suas pernas (assim evoluirá).Quem vai passando levanta, abre as pernas e segura na cintura do primeiro. Continuar o jogo até que todos tenham evoluído. 19. Passar o Ferro (p.107) Todos formando pares. O facilitador explica que nossa roupa precisa ser passada a ferro, mas com alguns ferros especiais que temos. Passa-se a roupa passando as mãos lentamente pelo corpo do parceiro. Logo se invertem os papéis, para que todos tenham as suas roupas passadas. 20. Duas Pessoas, uma Bexiga (p.100) Formando pares. Cada par com uma bexiga. As duas pessoas devem tentar segurar a bexiga sem o auxílio das mãos e, para isso, devem criar formas divertidas e criativas. O facilitador pode sugerir as partes do corpo onde a bexiga deva estar, como por exemplo: cabeças, barrigas, de lado, nos pés, joelhos etc., e também pedir formas diferentes de deslocamentos, como: andar de quatro, olhos fechados, dançando, correndo etc.
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ANEXO 2
(www.efdeportes.com.br/efd96/violent.htm - acessado em 21/09/2006)
Jogos cooperativos e condutas violentas: visão do Professor de Educação Física
Sandro Carnicelli Filho* Profª Drª Gisele Maria Schwartz**
[email protected] (Brasil)
*Mestrando em Ciências Da Motricidade pela Unesp - Rio Claro
Membro pesquisador do LEL - Laboratório de Estudos do Lazer - DEF/IB/UNESP Campus Rio Claro.
**Livre docente e coordenadora do LEL Laboratório de Estudos do Lazer
DEF/IB/UNESP - Campus Rio Claro.
Resumo O aumento da violência e da agressividade entre as crianças durante as aulas de Educação
Física começam a se tornar visíveis. Dentro do mesmo ambiente nota-se, também, um exacerbado aumento do individualismo e da competição, corroborando para uma falta de
atitudes e condutas de companheirismo e de cooperação. É nesse cenário que os Jogos Cooperativos podem se inserir e colaborar para a formação e
inserção de valores positivos nos alunos. Porém, para isso, é necessário que professores estejam devidamente capacitados e aptos para promoverem tais atividades, possuindo uma
visão diferenciada e crítica das relações pessoais. Através da aplicação de Jogos Cooperativos e da reflexão sobre o assunto junto aos futuros
profesores de Educação Física, procurou-se solidificar uma conscientização sobre a importância do uso deste recurso em ambiente escolar.
Unitermos: Jogos Cooperativos. Lazer. Educação Física.
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 96 - Mayo de
2006
Introdução
O aumento da violência na atual sociedade vem sendo discutido há muito tempo, porém poucas ações são tomadas para que esse quadro se reverta. Quadro este que começa a atingir também os profissionais de Educação Física e suas atividades didáticas.
Na escola, professores relatam o aumento da agressividade e da violência, que são, em muitos casos, utilizados para promover atos de exclusão e marginalização de crianças que não conseguem interagir dentro de grupos específicos. Esta deficiência no processo de inclusão pode ser provocada por características individuais ou sociais de certos alunos.
Lucinda; Nascimento; Candau (1999) apresentam dados em que os professores acreditam que a violência dentro das escolas está aumentando, não só, quantitativamente, mas também qualitativamente, sendo considerados atos que se apresentam como reflexo de uma violência
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social, já que os próprios professores não identificam formas de violência geradas pela própria cultura escolar.
Dentro do mesmo ambiente nota-se, também, um exacerbado aumento do individualismo e da competição, corroborando para uma falta de atitudes e condutas de companheirismo e de cooperação. Tais atitudes tendem a se incrementar ainda mais com o passar dos anos, devido, principalmente, ao modo frenético de vida que a sociedade impõe, exigindo sempre mais das pessoas e incentivando uma perspectiva competitiva de se ter sempre a necessidade de ser melhor que os outros.
As aulas de Educação Física escolar e de iniciação esportiva, por suas características, deveriam ser um espaço diferenciado, onde, através de suas propostas e estratégias pedagógicas, representasse um ambiente de possibilidades mais concretas de interação e de aprendizagem, em que o conviver e o divertir-se com o outro pudessem ser valorizados, assimilando, inclusive, as regras sociais de convivência. Porém, infelizmente, não é o que necessariamente ocorre, ficando esta perspectiva associada e dependente do esclarecimento do próprio profissional envolvido.
A própria falta de estímulos positivos, de conscientização e o profundo desconhecimento do universo lúdico transformam esses ambientes em verdadeiros "campos de batalha", fomentando atos agressivos e o exagero da competitividade, que vão, por sua vez, conduzir as crianças e os jovens a atitudes de rebeldia.
Autores como Bee (1986) e Goleman (1995) salientaram que, tanto a realidade social (família, escola, amigos), quanto os estímulos gerados pela mídia, especialmente a televisão, podem interferir sensivelmente na formação de indivíduos agressivos, os quais utilizam a violência como estratégia de resolução de problemas cotidianos, dentro e fora do ambiente escolar.
Uma educação autoritária dentro do ambiente familiar também pode causar danos à criança, podendo transformá-la em um adulto revoltado, como apontam os estudos de Roberton; Halverson (in LONGSDON et al, 1984).
Para a realização de um processo de conscientização e de redução desta agressividade é necessário que algumas estratégias, relativas ao universo de atuação profissional e pessoal referentes a uma melhor estruturação social e de mudanças dos valores disseminados, sejam repensadas.
Neste âmbito, aparece como elemento decisivo, as fundamentações das atividades profissionais do professor de Educação Física, os quais, por meio de uma adequada seleção dos objetivos e conteúdos pedagógicos, podem sugerir atividades de conscientização, integração e cooperação, que sejam mais efetivas e preventivas no combate destas ações de violência.
Este profissional tem inúmeros recursos para incentivar atitudes inclusivas e fomentar a interação social entre os alunos, pelo fato de lidar com o corpo em movimento, o que vai ao encontro das expectativas e necessidades biopsíquicas e sócias de todas as faixas etárias e pela riqueza de exploração do universo lúdico, capaz de estimular mudanças dentro e fora do contexto escolar, conforme evidenciam inúmeros estudos, dentre eles os de Lucon; Schwartz, 2003; Cerri, 2001 e Lucon; Schwartz; Carnicelli Filho, 2004.
É neste contexto que aparecem os Jogos Cooperativos como um dos recursos sugeridos, possível de serem implementados na Educação Física, por apresentarem uma estrutura alternativa aos jogos formais, os quais são baseados apenas em atitudes antagonistas, como ganhar e perder.
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Os Jogos Cooperativos apresentam a necessidade de ações onde os participantes colaboram entre si, para que um objetivo comum seja alcançado. Existe a necessidade de jogar uns COM os outros, superar desafios conjuntos, compartilhar sucessos, vencer juntos e quebrar as barreiras do individualismo. O confronto é minimizado e dá lugar ao encontro, à união das pessoas em prol da mesma finalidade, visando à eliminação do medo e do fracasso individual.
A idéia de Brotto (2001), em que ninguém joga ou vive sozinho, e de que ninguém joga ou vive tão bem em oposição e competição contra outros, como se jogasse ou vivesse em sinergia e cooperação com todos, catalisa a necessidade de se refletir sobre as atitudes diárias como seres humanos e como profissionais da Educação e da Saúde.
Um dos principais objetivos dos jogos cooperativos, enfatizado por Brotto (2001), é o de levar as pessoas a vencer os desafios, limites e medos pessoais, ultrapassando a idéia de que o importante é superar os outros. Este autor, sendo um dos pioneiros na publicação de textos sobre esta temática no Brasil, baseando seus estudos em Brown (1994), lança o livro que se torna um dos marcos iniciais para publicações sobre esse assunto em território nacional, e que tem em seu título a representação da principal característica desta atividade: "Jogos Cooperativos: se o importante é competir o fundamental é cooperar" (1995).
Outro elemento bastante importante sobre a filosofia implementada nos jogos cooperativos é que, dentro destes conceitos não se pode traçar uma linha divisória entre cooperação e competição tornando esses termos equivocadamente antagônicos, sendo que, na concepção original, definida em ORLICK (1989) e Brown (1994), os jogos cooperativos e competitivos podem e devem se relacionar, promovendo a união para se alcançar a vitória, a qual, não necessita ser de uma equipe, apenas, mas de todos os envolvidos, sem ganho individual, mas com retorno positivo a todos.
Incentivar as pessoas a integrarem valores adequados ao jogo em grupo e a controlarem a competitividade, a qual é inerente ao ser humano e não precisa ser estimulada, ao invés de serem controladas por ela, é fator fundamental para que os ideais se relacionem. Outros aspectos importantes são o de se valorizar a presença do adversário, sem o qual o jogo ficaria descaracterizado e sem motivação, e o de se aprimorar os valores e a conscientização de que a vitória sobre alguém deve ser vista apenas como parte do prazer de jogar.
Neste sentido, a aula de Educação Física, parecer ser uma excelente oportunidade de se implementar tais estratégias pedagógicas, que devem ser utilizadas pelo professor com a finalidade de ampliar a reflexão dos alunos sobre a idéia de que se pode ganhar sempre, mesmo sem ter que, necessariamente, vencer, e propiciar a implementação de atitudes éticas durante as relações, lançando desafios que extrapolam os muros das instituições escolares e refletem, inclusive, no âmbito do lazer.
Partindo destes pressupostos é que se estruturou este estudo, que visou observar o posicionamento dos alunos e futuros professores de Educação Física em relação às problemáticas apresentadas e à possível inserção dos Jogos Cooperativos no contexto escolar.
Método
Este estudo tem uma natureza qualitativa e foi desenvolvido por meio de uma pesquisa exploratória, para a qual utilizou-se como instrumentos para a coleta de dados a observação e o depoimento oral de 30 alunos de ambos os sexos e idades entre 18 e 28 anos, regularmente matriculados no curso de Licenciatura em Educação Física, oferecido pelo Departamento de Educação Física, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro, SP.
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Como procedimento para o estudo, inicialmente, foram ministradas aulas teórico-práticas sobre Jogos Cooperativos aos 30 alunos do curso, com o intuito de se promover uma reflexão e fomentar discussões sobre a utilidade deste tipo de atividade na formação profissional dos alunos de Educação Física e na sua utilização em ambiente escolar. As aulas foram divididas de maneira trifásica, sendo que a primeira fase relacionava-se à exposição de referencial teórico sobre o assunto, a segunda a uma vivência prática e a terceira a uma discussão aberta sobre o tema, onde foram colhidos os depoimentos orais dos sujeitos, posteriormente agregados aos indicadores da observação, ocorrida durante todo o processo, os quais evidenciavam o interesse, as condutas cooperativas e a inclusão.
O conteúdo da parte teórica versava sobre a origem e evolução dos jogos cooperativos, seu histórico no Brasil, os principais acontecimentos propulsores da divulgação destas atividades, as possíveis relações pedagógicas e as principais referências bibliográficas sobre o assunto. Para incrementar a fundamentação teórica utilizou-se uma tabela publicada por Broto (2001), onde se observa uma comparação entre as características dos jogos cooperativos e competitivos, com seus respectivos benefícios e dificuldades.
Dentro da parte teórica abordou-se, ainda, a idéia de consciência cooperativa no esporte, seja para sua realização, quanto para o resultado final, além da perspectiva fundamentada na concepção de Freire (1998) sobre os jogos cooperativos como uma pedagogia do esporte, sendo que o esporte é o jogo de quem é capaz de cooperar.
Dentro dos aspectos de atuação profissional focalizou-se a premência da intervenção no âmbito escolar, procurando disseminar atitudes cooperativas e utilizar estratégias baseadas em conteúdos lúdicos, visando a uma importante e substancial redução da violência e ao aumento da solidariedade entre os alunos, como evidenciado nos estudos de Lucon; Schwartz; Carnicelli Filho (2004). Desta forma, procurou-se disseminar estas estratégias na promoção de eficazes melhorias no relacionamento interpessoal dentro e fora das aulas, com ressonâncias nos ambientes do recreio e também extra-escolares.
Após a parte teórica, foram realizadas as atividades práticas. À guisa de exemplo, em uma das atividades os alunos foram divididos em três equipes e tinham como objetivo o resgate de uma pessoa que, supostamente, estaria seqüestrada, para isso, eles teriam um tempo cronometrado de 30 minutos, onde cada equipe teria uma função, e o objetivo final dependeria do êxito de cada grupo. Uma das equipes deveria descobrir quem era o criminoso, a segunda teria que desvendar o local onde estaria a vitima e a terceira equipe deveria saber qual arma seria mais apropriada para a ação. Além disso, as equipes teriam que encontrar os dados do criminoso, a autorização para o uso da arma e a liberação para entrar no local onde estava o refém.
Porém, para que cada equipe obtivesse sucesso, seria necessário que elas trocassem informações, já que algumas dessas informações que serviriam para uma equipe seriam encontradas pelas outras. Para tanto, foram fornecidos cartões telefônicos às equipes e o número dos orelhões dispersos no local.
No final do jogo os grupos deveriam se encontrar, trocar informações para irem juntos libertarem o refém. Esta atividade proposta tinha o intuito de mostrar aos alunos de Educação Física que é possível se divertir, aprender sobre regras e fundamentalmente cooperar, em prol de um único objetivo, usando os jogos cooperativos como meio.
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Resultados
Através da observação e dos argumentos apresentados no momento de discussão e reflexão, pode-se perceber o grande interesse que verteu dos alunos sobre o assunto e sua vivência prática. Os alunos participaram de forma ativa das atividades propostas, usando a atenção e a alegria para a resolução dos problemas que, a priori, eram fictícios, atentando, também, para que houvesse o processo de inclusão de todos do grupo na brincadeira.
Baseando-se nos relatos apresentados durante a reflexão, os alunos demonstraram-se favoráveis à utilização destas técnicas em seus futuros ambientes de trabalho, prevendo uma possível disseminação de valores e atitudes positivas incutidas por este tipo de atividade. Os alunos evidenciaram, inclusive que propiciar uma atmosfera lúdica e cooperativa pode auxiliar no processo de formação destes valores e aperfeiçoar o enfoque das regras sociais vigentes, rejeitando idéias de dominação e imposição, em prol de ações mais afetivas e sensíveis.
Os alunos puderam perceber que se pode, efetivamente, aliar aspectos competitivos aos jogos cooperativos, já que na situação proposta, existia uma certa "competição", contra o elemento tempo. Mas, enfatizaram que o fundamental foi a colaboração de todos para que o objetivo fosse alcançado, sendo que o sucesso foi de todo o grupo e não só de uma ou de outra equipe.
Um ponto importante da discussão foi o empobrecimento da formação profissional quando a temática é a cooperação, enfatizando a urgência da inclusão de propostas semelhantes, não só no curso de Licenciatura em Educação Física, mas também, em outras áreas da Educação, visando conscientizar o profissional envolvido da importância da promoção de valores e condutas morais, para que se consiga construir uma sociedade mais justa e mais humana e que tais valores têm sua principal fundamentação na educação, seja escolar, quanto familiar ou no lazer.
Considerações finais
Observando-se o atual momento da sociedade, existe, ao mesmo tempo, uma exacerbada luta pelo sucesso individual, que gera altos índices de competitividade, mas, também, uma grande necessidade para que se promovam valores e atitudes conscientes de interação pessoal, ensinando e aprendendo a trabalhar em equipe, destacando-se, neste ponto, a atuação dos profissionais da área educacional, juntamente com os outros segmentos institucionais.
Estes profissionais, sendo parte do processo de socialização de um indivíduo, devem apresentar suas contribuições para que se aprimorem essas relações no seu campo específico de ação, procurando propiciar experiências significativas, capazes de interferir no processo de ensinar as pessoas a compartilhar e a confiar umas nas outras, criando um senso de unidade, aumentando a autoconfiança, a conscientização ética sobre o outro, intervindo para que todos sejam bem aceitos, mas, principalmente, favorecendo caminhos para que todos possam crescer e se desenvolver com qualidade.
Pela sua função educativa, o professor de Educação Física, tem o compromisso de difundir valores positivos para que seus alunos entendam que a verdadeira vitória não necessariamente depende da derrota dos outros e que o fundamental é a oportunidade de se desenvolverem, através do mútuo conhecimento e da compreensão das habilidades e potenciais de cada um, para que todos tenham importantes papéis na realização das tarefas conjuntas.
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Através de uma nova ressignificação desta temática, propõe-se que novas condutas sejam tomadas, em toda área da educação, mas, especialmente na Educação Física, para que os futuros professores possam transcender a mera função de transmissão do conhecimento, visando a uma nova dimensão de ações pedagógicas e educativas, capazes de homologar seu compromisso e seu papel social.
Referências
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BROTTO, F.O. Jogos Cooperativos: O jogo e o esporte como um exercício de convivência, Santos:Projeto Cooperação, 2001.
____.Jogos Cooperativos: se o importante é competir o fundamental é cooperar, São Paulo: Cepeusp, 1995.
BROWN, G. Jogos Cooperativos: Teoria e Prática. São Leopoldo: Sinodal, 1994.
CERRI, M.F. O lúdico como recurso para o professor de Educação Física atuar sobre a agressividade e a violência dos alunos nas aulas do ensino fundamental. 2001.78 f. Monografia (trabalho de conclusão de curso de Educação Física), Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2001.
FREIRE, J.B. Pedagogia do Futebol. Rio de Janeiro: Ney Pereira, 1998.
GOLEMAN, D. Inteligência emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 15.ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
LUCINDA, M.C; NASCIMENTO, M.G, CANDAU, V.M. Escola e violência. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
LUCON, P.N.; SCHWARTZ, G.M. A sensibilização por meio do lúdico: um diferencial para diminuir a violência, In: XV Encontro Nacional de Recreação e Lazer,2003,Santo André, Anais...Santo André: Sesc, 2003. Cd rom.
LUCON P.N ; SCHWARTZ.G.M ; CARNICELLI FILHO, S. . Educação Solidária: Compartilhar é divertido. In: Encontro Nacional de Recreação e Lazer, 2004, Sesi, Salvador. Anais Enarel, 2004.
LUCON P.N ; SCHWARTZ.G.M . Jogos cooperativos e suas ressonâncias na diminuição da violência e no processo de inclusão no ambiente escolar. In: XVI Encontro Nacional de Recreação e Lazer - ENAREL, 2004, Salvador. Anais do XVI Enarel, 2004.
ORLICK, T. Vencendo a competição. São Paulo: Círculo do Livro, 1989.
ROBERTON, M. A; HALVERSON, L E. Developing children, Their changing movement, a guide for teacher, IN: LONGSDON, B. J et al. Physical Education for children: a focus on the teaching process. Philadelphia: Lea e Febiger, 1984.
SCHWARTZ, G.M. (Org.) Dinâmica Lúdica: novos olhares. Barueri:Manole, 2004. 217 p.
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ANEXO 3
(www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=766 - acessado em 11/03/2007)
PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL: um enfoque educativo e profilático
FÁTIMA TÔRRES - Profa. de Educação Física e Psicomotricista Relacional A temática deste trabalho fundamentou-se tomando por base livros especializados na Psicomotricidade Relacional, confrontados com outras obras, não de ficção, mas baseadas nos conhecimentos profissionais de reconhecido saber, quando afirmam, nos diálogos desenvolvidos, que o olhar convence melhor do que qualquer outro tipo de pesquisa social. A Psicomotricidade Relacional é um método criado pelo eminente educador francês André Lapierre, com fundamentos na teoria de Henry Wallon. Difundido no Brasil desde 1983, tem seu alicerce na comunicação não-verbal, enfatiza os aspectos relacionais, psicofísicos, socioemocionais, cognitivos e afetivos do ser humano. É uma ciência que lida com o ser humano e suas variadas formas de manifestação. É uma práxis que procura dar espaço de liberdade onde a criança aparece inteira: com seu corpo, suas emoções, sua fantasia, sua inteligência em formação. A Psicomotricidade Relacional destaca-se como uma ferramenta essencial para a compreensão do ser humano em sua globalidade. Atualmente, é um diferencial na atuação profissional, tornando-se indispensável em vários segmentos, a exemplo de escolas, clínicas, empresas, centros de segurança social, dentre outros. É através do nosso corpo que mostramos nossos desejos, nossas frustrações, nossas necessidades, desde a mais tenra idade. Como nos diz André Lapierre, “A qualidade da vida é a qualidade do ser, e não do ter”. Segundo os grandes educadores, é quando vencemos nossas dificuldades que nos tornamos livres para a aprendizagem e, conseqüentemente, para a vida. Vivemos num momento social, econômico e político muito delicado, em que percebemos e sentimos muito próximos de nós a discriminação, a violência, o descaso com os valores morais e éticos, a falta de limites ou o excesso deles. Na prática escolar, presenciamos constantemente relatos de pais e professores de que muitos filhos e alunos apresentam dificuldades na aprendizagem e no relacionamento, não conseguem se expressar adequadamente. Segundo André Lapierre, “A Educação Infantil é a fase escolar que tem maior importância, pois é quando ainda é possível melhorar a estrutura para uma boa
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adaptação à realidade, com menos defesas neuróticas. O ideal seria uma educação psicomotora relacional numa seqüência, da Educação Infantil até a quarta série do Ensino Fundamental”. A Psicomotricidade Relacional vem ao encontro dos alunos como prevenção, levando-os a alcançar o equilíbrio no seu desenvolvimento... Por meio de trabalhos em grupo em que se privilegia a comunicação não-verbal, a Psicomotricidade Relacional na escola proporciona:
• Despertar para o desejo de aprender. • Prevenir dificuldades de expressão motora, verbal e gráfica. • Estimular a criatividade. • Facilitar a integração social, elevando a capacidade da criança para enfrentar
situações novas e criar estratégias positivas em suas relações. • Estimular para o ajuste positivo da agressividade, inibição, dependência,
afetividade, auto-estima, entre outros distúrbios do comportamento.
É ainda um espaço de desenvolvimento pessoal e interpessoal, de estruturação da criança como ser, de investimento não em dificuldades e sintomas, mas nas suas possibilidades de crescimento. Trabalhar com a psicoprofilaxia é tutelar a saúde sem necessariamente ocupar-se da patologia ou do problema já instaurado e identificado, o que torna o campo preventivo um espaço privilegiado da Psicomotricidade Relacional. A Psicomotricidade Relacional é importantíssima para se compreender o desenvolvimento humano, por nos apontar uma perspectiva contemporânea. Isto é, o seu método está alicerçado num conjunto de teorias, que podem nos apontar o sofrimento psíquico sem, com isso, ter que enquadrá-lo em uma única teoria; o que está em foco é o ser humano, e não o seu sintoma. A partir dessa teorização, procura-se potencializar as soluções ativas de cada criança, tendo como intenção, portanto, ajudá-la a construir e conservar um equilíbrio pessoal dinâmico. Essa construção acontece à medida que a criança vai, através do jogo espontâneo, integrando as suas dificuldades, necessidades e linguagem, de forma harmônica, com a realidade familiar e socioeducativa, ou seja, com o meio em que está inserida. Em grandes linhas, as crianças são encaminhadas a um trabalho com a Psicomotricidade Relacional por três motivos principais: Comportamento: excessiva agressividade, inibição, falta de limites, baixa tolerância à frustração, hiperatividade, etc. Aprendizagem: queda de rendimento, dificuldade de expressão verbal ou gráfica, problemas de orientação espaço-temporal, dificuldades de assimilar novos conteúdos apesar de apresentar um desenvolvimento cognitivo normal, distúrbios de atenção, entre
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outros. Socialização: dificuldade de integração no grupo, recusa em participar em atividades grupais, dificuldades de enfrentar situações novas, etc. Lapierre nunca esqueceu de salientar a máxima da Psicomotricidade Relacional: movimento é vida, e vida é relação. E foi justamente na compreensão dos significados e simbolismos contidos nos movimentos e nas interações humanas (o eu e o outro) que o fisioterapeuta francês estruturou essa forma interessante de abordagem sobre o ser humano. No Recife (PE), o Ícone – Desenvolvimento Psicomotor, localizado na Rua Pe. Anchieta, no bairro da Torre, que tem como Diretor Científico Ibrahim Danyalgil, é o representante do método Psicomo-tricidade Relacional. Nesse centro de pesquisa, dentre outros serviços prestados, se desenvolve o curso de especialização em Psicomotricidade Relacional, com duração de três anos.
Fátima Tôrres é Graduada em Ed. Física pela UFPE e Pós-graduada em Psicomotricidade Relacional pelo Ícone – Desenvolvimento Psicomotor. Professora de Ed. Física e Coordenadora de Esportes no Colégio Fazer Crescer. Psicomotricista Auxiliar no Ícone – Desenvolvimento Psicomotor.
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ANEXO 4
(http://esportes.terra.com.br/futebol/europeu2006/interna/0,,OI1459015-EI7490,00.html- acessado em 07/03/2007)
Copa dos Campeões
Quarta, 7 de março de 2007, 15h19 Atacante Fred pode ser suspenso por cotovelada O brasileiro Fred, do Lyon, deverá ser duramente suspenso pela Uefa por ter dado uma cotovelada em Chivu, zagueiro da Roma, que fraturou o nariz e terá de passar por cirurgia para solucionar o problema.
Embora Fred não tenha sido expulso pelo árbitro espanhol Mejuto Gonzalez, a Uefa irá analisar o incidente e o atacante brasileiro poderá ser suspenso por até oito jogos das competições européias.
Reuters
A cotovelada dada por Fred quebrou o nariz do zagueiro romeno Chivu
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