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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A Escola e as ações didático-pedagógicas que propiciam a construção de atitudes de liderança do aluno Antonio Cesar Bacchim Orientadora Prof. Flávia Duarte Rio de Janeiro - 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · uma reciprocidade com o aprendiz nos bancos escolares. A qualidade da formação acadêmica dos professores em nosso país, ainda

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A Escola e as ações didático-pedagógicas que

propiciam a construção de atitudes de liderança do

aluno

Antonio Cesar Bacchim

Orientadora

Prof. Flávia Duarte

Rio de Janeiro - 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A Escola e as ações didático-pedagógicas que

propiciam a construção de atitudes de liderança do

aluno

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Orientação Educacional e Pedagógica

Por: Antonio Cesar Bacchim

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AGRADECIMENTOS

Ao Frei Jesus Florêncio Izaguirre Roitegui

Diretor do Colégio Santo Agostinho,

Unidade Leblon, por incentivar-me a

prosseguir na incansável tarefa do

educador: estudar sempre!

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DEDICATÓRIA

Aos meus estimados pais, geradores da

vida e propiciadores das sendas que me

levaram ao campo do conhecimento, da

dignidade e da valoração do ser humano.

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RESUMO

A instituição escolar, desde suas origens, tem a finalidade e a

missão de educar o aluno em todas as suas dimensões humanas, visando

desenvolver as habilidades cognitivas e competências através da Orientação

Educacional e por todos os envolvidos no processo educacional da escola. Na

fase da adolescência, quando conclui o segundo segmento do ensino

fundamental, os alunos estão no período das descobertas da formação e

internalização de atitude, de valores morais e sociais. As ações didático-

pedagógicas organizadas intra ou extramuros da escola, de maneira

sistemática e orgânica, são os instrumentos que levam ao desenvolvimento das

atitudes humanas como a liderança, valor conquistado e aprendido. A

sociedade na contemporaneidade espera e deseja receber alunos-cidadãos

preparados para o mercado de trabalho competitivo, exigente e seletivo. A

liderança é a leitura-chave para uma convivência salutar e prazerosa, quer no

mundo do trabalho, quer nas relações humanas.

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METODOLOGIA

O trabalho apresentado se fundamenta em atribuir à escola um

papel que vai além das fronteiras dos conteúdos programáticos e da

aprendizagem dos saberes. Libâneo e Cortella são os intercolutores escolhidos

para apontar e fundamentar o papel e a função da escola na

contemporaneidade. A abordagem apresentada pelos teóricos da educação

afirma que o professor e as demais instâncias da escola materializam a função

dessa escola, como agente transformador no campo social, político e da

cultura crítica.

O aluno, como sujeito da sua individualidade, tem a oportunidade de

desenvolver valores éticos e morais e, dessa maneira, fortalece a

subjetividade, como a liderança, objeto central do trabalho proposto. A

liderança é, pois, um valor humano, constituído de desdobramentos éticos. A

centralidade do processo de desenvolvimento dessa atitude está nas diversas

ações didático-pedagógicas proporcionadas pela escola.

A ética e a liderança, segundo afirma Cortella, resultam na sua

função vital: atingir a autonomia do ser humano. Essa autonomia permite lhe

conviver com os seus semelhantes, de modo a construir uma sociedade

equitativa e ecologicamente sustentável.

A entrevista realizada na instituição privada escolhida para a

realização do trabalho atesta que, por meio de ações sistematizadas, tanto

intra como extramuros da escola, garante-se o desenvolvimento dos valores

éticos e da liderança dos alunos do segundo segmento do ensino fundamental.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A função da escola 10

CAPÍTULO II - A Orientação Educacional 14

CAPÍTULO III - Gestores pedagógicos 19

CAPÍTULO IV - Liderança e ética 24

ANEXOS 33

BIBLIOGRAFIA CITADA 38

ÍNDICE 40

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INTRODUÇÃO

Desde a Antiguidade, a educação formal teve sempre um papel

preponderante nos diversos contextos sociais vividos pelo ser humano. Hoje

não se pensa um cidadão, uma pessoa sem a formação mínima de

conhecimento acadêmico. Porém, ao afirmarmos essa verdade conceitual, nos

deparamos com desdobramentos que nos levam a questionar essa afirmação e

sobre ela refletir de forma mais criteriosa. Partimos, por exemplo, da

conceituação ou da função que hoje a sociedade espera da Escola e de como

isso vem sendo exigido por gestão e políticas públicas.

A sociedade espera e acredita no professor, na escola, ao mesmo

tempo que delega a eles funções que muitas vezes não lhes são pertinentes.

Entretanto, é dentro do ambiente escolar que se formam o caráter, a

personalidade e as habilidades das crianças e dos jovens. E isso ninguém

questiona ou disso duvida. A escola tem em seu quadro de serviços internos a

Orientação Educacional, cujo objetivo é o de ajudar o aluno a buscar o

autoconhecimento e a viver com autonomia e responsabilidade. Ao mesmo

tempo, existe uma linha ou orientação política exigida pelas demandas

educacionais e curriculares. A escola não é neutra em suas decisões e em sua

maneira de ensinar. A sua postura, a visão de mundo e de sociedade são

apresentadas, muitas vezes, nas entrelinhas do currículo oculto, mas nem

sempre esse conteúdo é explicitado na gestão e na administração de uma

escola.

Sabemos que o papel de uma instituição escolar é de grande

importância na formação de cidadãos conscientes e autônomos. Por isso, o

tema de investigação do presente trabalho é a abordagem da escola como

espaço de formação de liderança dos alunos do Ensino Fundamental II.

Trata-se de assunto relevante, pois a nossa sociedade tem exigido

uma formação mais ampla, holística dos alunos quanto ao seu processo de

formação integral. Dessa maneira, desloca a escola de seu interesse apenas

sobre o conteúdo do ensino e dirige seu olhar mais para a formação de

pessoas.

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Pretende-se aqui também redefinir o conceito de formação da

pessoa (aluno) e o papel dos agentes dentro da escola: professores, gestores e

família.

Os objetivos são: definir os papéis dos “atores” envolvidos no

processo de formação da liderança dos alunos, com destaque para a

Orientação Educacional; conceituar a sociedade em que estamos inseridos,

quais as exigências do mundo do trabalho globalizado e como este apela para

uma escola que busca formar líderes.

O trabalho será desenvolvido por meio de estudos de casos

(conhecimento empírico) de uma escola da rede particular de ensino do Rio de

Janeiro. Sua fundamentação teórica ocorrerá por meio de consulta bibliográfica

que comprovará sua hipótese.

Dois autores nortearão essa pesquisa: Libâneo e Friederberg. A

função da escola ultrapassa o ato de ensinar conteúdos, pois, segundo afirma

Libâneo (2004), a criança internaliza os meios cognitivos para compreender e

transformar o mundo, no qual o jovem ingressará pelo mercado de trabalho.

Mercado mais exigente, competitivo e, ao mesmo tempo, desafiador. Tem-se o

intuito de estudar e pesquisar como a escola pode desenvolver em seus alunos

elementos que os ajudem a conviver melhor, a tomar decisões. Muito além de

obter informação e conhecimento, deve-se instigar o aluno a desenvolver

habilidades e competências.

A liderança, quer individual ou coletiva, é entendida como uma das

formas explícitas do fazer participativo na escola. A gestão e a organização são

chaves de leitura para averiguar o processo de construção desse valor. No

entender de Friederberg (1993), a liderança empreendedora tem um papel

fundamental na aprendizagem organizacional.

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Capítulo I

A função da escola na Contemporaneidade

Hoje a psicologia afirma que o ser humano é multifacetário, aberto

ao novo, consciente de suas ações e promotor da vida. Dotada de talentos e

de capacidades, a pessoa é capaz de inovar, criar, crescer e construir.

A dicotomia da pessoa, a corporeidade e a alma são questionadas, e

da crença nessa conceituação decorrem sérios danos à própria

pessoa e ao meio em que ela está inserida. Por isso, o conceito de

pessoa nos dias atuais é mais abrangente, mais complexo e mais

profundo.

Para Morin (2003),

O ser humano é complexo e traz em si, de modo bipolarizado, caracteres antagonistas: sapiens e demens (sábio e louco), faber e ludens (trabalhador e lúdico), empiricus e imaginarius (empírico e imaginário), economicus e consumans (econômico e consumista), prosaicus e poeticus (prosaico e poético). pág. 58

Essas afirmações nos fazem repensar a educação como proposta

apenas de aprender e obter conhecimento, ou seja, com uma perspectiva de

que o professor fornece o conteúdo e o aluno o recebe, de maneira passiva

e ingênua. A concepção dessa visão de escola é a daquela que está

sempre muito preocupada com os conteúdos e com a mensuração dos

saberes do aluno.

Os temas fundamentais apresentados nos currículos oriundos dos

órgãos governamentais nem sempre vêm ao encontro dos projetos pessoais

dos discentes. Muitas vezes, ao contrário, os desestimula e os desorienta,

pois não veem sentido em aprender ou desenvolver tais habilidades

propostas.

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A visão holística do mundo e do ser humano nos conduz a um

diálogo verdadeiramente interessante e instigante e, nesse sentido, faz-se

necessário repensar a função da escola na contemporaneidade.

Falar atualmente de novas tecnologias e novos instrumentos de

conhecimento, sem se referir a uma mudança de paradigmas para a educação,

é algo que tem deixado lacunas e preocupações nos diversos setores da

sociedade como empresas, universidades, instituições de economia, do mundo

da arte, da poesia entre outros.

Como o ser humano tem aprendido a lidar com os conflitos, com as

crises, como a perda do sentido da vida?

Ao matricular seu filho na escola, a família certamente carrega

consigo questionamentos não verbalizados, sonhos e desilusões, pois naquele

espaço, naquele tempo único e existencial deverá dar conta de todas as

dimensões das quais o ser humano é constituído.

A escola recebe, pois, nesse momento histórico uma carga bastante

intensa, pesada e com um grau de cobrança por parte de diferentes setores da

sociedade: família, empresas, mundo do trabalho e da economia.

Os educadores e professores são formados em faculdades e

universidades, onde não lhes ensinam a prática do ensino-aprendizagem, uma

vez que essas instituições têm em vista a heterogeneidade dos alunos. Os

docentes tampouco apresentam a mínima preparação para enfrentar ou manter

uma reciprocidade com o aprendiz nos bancos escolares.

A qualidade da formação acadêmica dos professores em nosso

país, ainda bastante deficitária, é fruto de uma visão estreita e reducionista dos

projetos e de políticas publicas dos governantes, o que, por conseguinte,

acarreta um engessamento das potencialidades, das habilidades humanas dos

alunos.

A sociedade muda, contudo temos ainda uma escola do início da

Modernidade, uma escola sem forças para a renovação, para a ousadia, para o

novo. E os alunos sabem disso e, nesse sentido, ela é tida como, infelizmente,

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um espaço do desprazer e do desconforto, do “corpo presente”, onde o aluno é

um mero espectador.

A verdade é que para garantir a qualidade da educação faz-

se necessário que esteja diretamente ligada à qualidade dos professores. Isso

consiste na integral participação dos docentes em todo o processo de

construção de ação pedagógica e metodológica, pois são eles os executores

das ideias.

Se consultar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei

nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996),

Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º. Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.

Constata-se que já década de 90, no século passado, a Educação

recebe uma nova roupagem, ou seja, uma nova proposta é apresentada pelo

Governo, como projeto e ação que devem estar presentes nas Secretarias e

no Projeto Político Pedagógico das escolas brasileiras. O conjunto de

relações do ser humano faz parte dos processos formativos da educação.

Dessa maneira, toda a sociedade contribui para melhorias e avanços

na Educação. Exatamente isso é o que deseja e contempla o PPP, quando

apresenta a escola na sua missão, em seus valores e em suas estratégias de

ensino-aprendizagem.

Para Libâneo (2005),

A escola com que sonhamos é aquela que assegura a todos a formação cultural e c ient í f ica para a vida pessoal, prof iss ional e c idadã, poss ib i l i tando uma re lação autônoma, crítica e construtiva com a cultura em suas várias manifestações: a cultura provida pela ciência, pela técnica, pela estética, pela ética, bem como pela cultura paralela (meios de comunicação de massa) e pela cultura cotidiana. E para quê? Para formar cidadãos participantes em todas as instâncias da vida social contemporânea, o que implica articular

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os objetivos convencionais da escola - transmissão-assimilação ativa dos conteúdos escolares, desenvolvimento do pensamento autônomo, crítico e criativo, formação de qualidades morais, atitudes, convicções - às exigências postas pela sociedade comunicacional, informática e globalizada: maior competência reflexiva, in teração cr í t ica com as mídias e mul t imíd ias, conjunção da escola com out ros universos culturais, conhecimento e uso da informática, formação continuada (aprender a aprender), capacidade de diálogo e comunicação com os outros, reconhecimento das diferenças, so l idar iedade, qual idade de vida, preservação ambienta l . P. 24, 25, 26

Contextualizando a escola, pergunta-se: que escola se almeja? Qual

escola se tem hoje? Como a escola pode atuar no desenvolvimento e na

capacidade dos seus alunos enfatizando os valores e as atitudes? Quais os

setores da escola que desempenham essas ações?

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Capítulo II

A Orientação Educacional: especificidades das ações

Na escola, o aluno deve ser o foco principal da função e da missão

do educador. A escola existe em função dele e, portanto, para ele. Sua

organização, em quaisquer dos seus aspectos, deve ter em vista a

consideração do fim precípuo a que a escola se destina: a criação de

condições e de situações favoráveis ao bem - estar do aluno e ao seu

desenvolvimento em todos os sentidos tais como cognitivo, psicomotor e

afetivo a fim de o mesmo adquirir habilidades, conhecimentos e atitudes que

lhe permitam fazer face às necessidades vitais e existenciais. Quanto a esse

quesito, dentro da escola existem setores que desenvolvem as ações

educacionais e têm objeto de cuidados e direcionamentos bastante peculiares

Um deles é o setor que chamamos de Orientação Educacional. No Brasil,

temos um processo de criação de conceituação e aplicabilidade dos seus

objetivos nas escolas. Em 1931, é inserida a Orientação Educacional,

começando pelo Estado de São Paulo, com a explosão das indústrias e

a mudança da economia, centrada na agroexportação de café. Tal modelo

orientador foi importado dos Estados Unidos e, portanto, inadequado para o

Brasil.

A orientação ficava nas mãos da classe elitista que delimitavam aos

filhos dos operários os espaços de atuação. O propósito maior era

a profissionalização. Somente a partir de 1940, a Orientação Educacional

passa ser divulgada em âmbito nacional, através do Decreto Lei 4.073/42, e

pela lei orgânica do ensino industrial, no Decreto 4.424/42

que contextualiza pedagogicamente sua importância para a escola e os

educadores.

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Já em 1946, a lei 4.024/61 mantém a importância da Orientação

Educacional, porém sem muito sucesso por não ter

pessoal especializado nesta área. Para tentar resolver tais dificuldades,

estabelece provas de suficiência nos locais onde não houvesse pessoas

preparadas e habilitadas.

As leis 5.564/64 e 5.568 têm como o teor o desenvolvimento integral

e harmonioso da personalidade do educando e, ao mesmo tempo, a formação

do orientador educacional deve abranger conhecimento na área de humanas.

A lei 5.692/71 e a regulação no Decreto lei 72846/73 defere

a obrigatoriedade da Orientação Educacional, em colaboração com

educadores, familiares e a comunidade em geral. Normatiza na escala

superior o profissional orientador, que se torna instrumento útil ao ideal

tecnicista também idealizado pelo modelo americano. Portanto, nada mais

politicamente correto do que a obrigatoriedade prevista em lei. Assim, foi

publicado o Código de Ética dos Orientadores do Brasil em 05/03/1979.

Os deveres fundamentais do Orientador Educacional são

apresentados, no artigo 1º:

a. Exercer suas funções com elevado padrão de competência, senso

de responsabilidade, zelo, discrição e honestidade;

b. Atualizar constantemente seus conhecimentos;

c. Colocar-se a serviço do bem comum da sociedade, sem permitir

que prevaleça qualquer interesse particular ou de classe;

d. Ter uma filosofia de vida que permita, pelo amor à vontade e pelo

respeito à Justiça, transmitir segurança e firmeza a todos àqueles com quem

se relaciona profissionalmente;

e. Respeitar os códigos sociais e expectativas morais da

comunidade em que trabalha.

Contudo, sabemos que a Escola sempre é fruto do meio. As

concepções que as leis e diretrizes apontam também estão imbuídas de

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ideias, posturas políticas e, consequentemente, ações que tendem a libertar o

aluno ou a engessá-lo nos moldes do sistema vigente.

Ao aluno que frequenta a escola, lhe são propostos mecanismos que

desenvolvam suas qualidades de habilidades pessoais. Essas têm como

objetivo suprir as demandas de mercado de trabalho da sociedade capitalista

e competitiva. A escola, portanto, tem a missão de educar o aluno em todas

as suas dimensões.

A Orientação Educacional deve atingir o máximo de pessoas

envolvidas no processo educacional: família, professores e demais serviços

que a escola vivencia e possui.

Duas características fundamentais que a escola deve apresentar são

a participação e o acompanhamento dos pais durante o processo de ensino-

aprendizagem do aluno.

Convidar e esperar que os pais venham à escola tem sido, nos dias

atuais, uma tarefa e uma demanda que exige muita criatividade.

Sem a presença e a comunicação de informações do aluno junto à

Orientação Educacional, certamente o trabalho proposto não chegará a bom

termo.

As informações dadas pelos pais são importantes pois ajudam na

elaboração de projetos a partir de concepções, valores e prioridades que a

família ensina e vivencia.

Outra demanda que a Orientação Educacional se propõe é o resgate

da qualidade de vida e da visão de mundo que a família possui. Ensinar e

aprender são ações que se desdobram em outras dimensões humanas. A

família orienta e coloca como valores e paradigmas as suas relações com os

objetos e com as pessoas que a cercam. As crenças e as prioridades são

vivenciadas a partir dos modelos oferecidos pelos pais e familiares. Ao falar

em resgate da qualidade de vida, quer isso significar uma atitude diante da

existência. Uma concepção de homem que não seja visto como o

desbravador e o dominador, mas como o administrador dos bens dados e

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produzidos pelo homem. A ganância e o consumismo na contemporaneidade

são atitudes e visões que deflagram consequências sem limites.

Um viés ainda pouco pesquisado no Brasil é a Orientação

Vocacional voltada para o campo do gênero (Nogueira, Departamento de

Psicologia, Universidade do Minho).

Os papéis sociais estão hoje sendo revistos e criticados, entretanto é

intensa e longa a luta para a igualdade de direitos da mulher, especialmente

em ambientes culturalmente masculinos: gestão empresarial, lideranças das

multinacionais etc.

O desafio da contradição parece infinitamente mais criativo que o

conforto do compromisso. Esse espaço precisa estar garantido e ser

conquistado na discussão dos temas abordados pela Orientação Vocacional.

Os dados e vivências culturais de um bairro ou de uma classe social,

ou mesmo de outras vivências nos fazem sempre atuar em consonância aos

contextos ali apresentados.

Esses dados são, pois, fornecidos, observados e coletados através

de encontros sistemáticos e de reuniões convocadas pela Orientação da

escola.

Faz-se necessária uma convocação fundamentada no interesse da

escola pela família. Quando os pais sentem-se respeitados e valorizados

através da preocupação com seus filhos, certamente a presença será mais

eficaz e ativa.

A busca dessa parceria e mobilização é sempre estimulada pelos

programas dos conteúdos e das propostas de trabalho aos alunos. Entra em

cena o professor, “dialogando” com a Orientação Educacional. O trabalho do

orientador encontra-se numa condição de atuação diferente do professor em

sala de aula, mas essa diferença não implica desigualdade de condições para

pensar o trabalho em que ambos estão envolvidos e para o qual convergem

suas ações. Assim, é preciso assumir que a tarefa de orientador se insere

num projeto coletivo, em que os trabalhos, sem perda da especificidade das

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funções e serviços, articulem-se em vista da mesma finalidade e dos mesmos

objetivos educacionais. Essa parceria é fundamental na elaboração dos

projetos e das ações didático-pedagógicas visando ao despertar dos valores

constitutivos do aluno.

A ação solidária do orientador educacional com a docência é fruto de

uma concepção de escola não fragmentária, ou seja, o conjunto da

pluralidade se faz pelos elos comuns. Não será certamente um trabalho

estanque ou contraditório das ações propostas pela Orientação Educacional

com as ações do professor em sala de aula.

Com que linha de ação o setor da Orientação Vocacional vai

trabalhar? O planejamento e a estratégia das ações delinearão o processo a

ser construído, nunca perdendo de vista o caminho da observação além dos

muros escolares, pois lá se “bebe” e se abastece do cheiro da vida, do cantar

das vozes, dos gritos recônditos e dos olhos que não enxergam.

A escola é, sem dúvida alguma um laboratório, não de experimentos

ou de alunos cobaias manipulados pelas sórdidas políticas do descaso com o

social e com o bem - estar da população, mas a escola entendida como

espaço de “labor” da pesquisa, do pensar crítico e da liberdade e autonomia.

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Capítulo III

Gestores pedagógicos: a formação da

liderança em sala de aula

A formação dos alunos tem como ponto inicial a relação que se

desenvolve entre eles e os professores em sala de aula e toda a equipe

acadêmica. A relação dos professores com os alunos, no que se refere à

aprendizagem, é um dos medidores na troca de experiências e no diálogo

com os alunos.

Muitos consideram a gestão da sala de aula desgastada e

desnecessária, especialmente professores, que veem esse tema como

enfadonho e creem não trazer nenhuma vantagem ou nada acrescentar à

formação integral dos alunos. Porém, é a partir da gestão da sala de aula que

o planejamento e as ações e suas consequências tomarão uma roupagem,

uma concretude, capazes, portanto, de alavancar as potencialidades do

aluno.

Hoje, a família, célula mater da sociedade tem outras maneiras e

formas de configurar uma instituição secular.

Os alunos que frequentam a escola carregam suas histórias, as de

suas famílias, seus medos e suas ansiedades. Para muitos, a separação dos

pais, o problema do álcool e das drogas desencadeiam um quadro bastante

desolador e fecundo para o professor, que tem como missão ensinar e fazer

com que o aluno pense e reflita sobre os seus contextos. O aluno é o centro

das ideias e dos conceitos, das atitudes.

Para Schnekenberg (2008)

“A integração entre família e escola torna-se imprescindível para atender às necessidades de democratização da sociedade e da escola, pela necessidade de entender diferentes perspectivas sociais e modos de vida”.

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Desse modo, os gestores escolares têm um papel decisivo na formação de líderes na escola. São eles os promotores que apresentam aos alunos uma identidade humana, que os leve a superar obstáculos, a ver o mundo com um olhar de esperança.

Afirma Lück (2002) que

o professor é a figura central na formação dos educandos. É ele quem forma no aluno o gosto ou o desgosto pela escola, a motivação ou não pelos estudos; o entendimento da significância ou insignificância das áreas e objetos de estudo; a percepção de sua capacidade de aprender, de seu valor como pessoa. P. 28.

Novamente, destaca-se a missão do professor na formação da

liderança dos alunos. Como a escola é para todos, nasce assim uma nova

orientação escolar, ou seja, não mais centralizada, burocrática e cobradora.

As novas relações da sociedade e a própria sociedade vêm se

apresentando hoje mais exigentes e não se aceita uma pessoa autoritária e

com qualidades que dificultam relacionamentos e trabalhos de equipe.

Como fica, pois, a escola? Ela deve dar conta da condução de

ações mais eficientes e com resultados bem-sucedidos. Outras pessoas dentro

da escola são chamadas a dirigir ações desejadas, nas quais se acredita e

delas muito se espera.

Lück (2002) considera a liderança como um valor e algo a ser

desenvolvido.

A liderança é inerente à dinâmica que envolve ensino e aprendizagem. Afinal, no jogo da Educação, os protagonistas são os estudantes. Além de oferecer ensino de qualidade, é obrigação da escola fazer com que eles se sintam parte integrante do processo educacional e participantes de uma comunidade de aprendizagem, o que só se consegue com uma metodologia participativa, sempre sob a orientação do professor. Os jovens sempre se mostram colaboradores extraordinário nas escolas em que lhes é dado essa oportunidade, podendo assumir papéis importantes inclusive na gestão e na manutenção do patrimônio escolar, nas relações da família com a escola e dessa com a comunidade. (Entrevista Revista Escola)

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De fato, quando se percebe a atuação de uma gestão

democrática, participativa universal, ou seja, todos podem e são bem acolhidos

no ambiente escolar, novas e inusitadas experiências são vivenciadas.

Os jovens querem atuar e participar, e os espaços de atuação são

múltiplos. Desde uma representação de turma à presidência de um grêmio

estudantil, eles necessitam de atuação e de novas aberturas. Outro dado

relevante é a relação de confiança que se propõe ao aluno, que não pode ser

visto como o inimigo do professor e da escola.

Ao sentir-se respeitado como pessoa, ao perceber algo capaz de

fazer com sucesso, ou até mesmo que supere as suas deficiências ou limites, o

aluno revigora suas forças, seus talentos. Aparece, dessa maneira, o aluno

participativo, coerente, aplicado e dedicado. Tudo isso é possível a partir do

momento em que o professor não é mais o detentor dos saberes e da última

palavra.

Pode-se até conceber que a última palavra é a do professor,

entretanto, depois de se ter escutado o outro, na sua inteireza e na sua

presentização.

Um conteúdo a ser apresentado em sala de aula pelo professor

deve estar imbuído de respostas e de questões singulares, pois o universo da

sala de aula está assim constituído. O conteúdo programático que é eleito

carrega em seu interior ideias, posições e relações de poder. Ao escolher um

determinado tema ou assunto, ou mesmo ao ser adotado determinado livro

didático ou paradidático, a escola quer enfocar, ensinar e transmitir algo. Pode-

se esperar que o aluno, ao receber determinado conceito ou concepção de

objetos ou dados científicos ou históricos, certamente se desdobrará em ações

e atitudes.

O discurso de um professor em sala de aula, suas convicções

diante da vida, do mundo e da sociedade serão de modo inconsciente ou não

explicitados no cotidiano escolar. Todo conhecimento é uma prática política,

pois serve de orientação para tomadas de decisões simples ou complexas.

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A postura ética de um professor diante de um conflito em sala de

aula diz muito mais no sentido de formação política do que uma aula de

História, analisando a queda de poder de um governo autoritário na Europa.

A liderança de um professor em sala: eis a chave-mestra para

entender o processo de formação do aluno ao longo de sua vida escolar. A

ação política de um professor permeia os conteúdos preparados e eleitos, o

que comumente chamamos de “currículo oculto”. Embora esse discurso do

professor não esteja apontado ou registrado nos planos de aula ou no seu

conteúdo programático, ele, de modo enfático e transparente, delineia a sua

“cartilha” diante do mundo e das suas relações e que estão presentes no

sistema vigente. O aluno reproduz de modo imperceptível os efeitos de poder

no seu modus operadis.

Como então formar um aluno que tenha o desejo de liderar,

coordenar, orientar, escolher, decidir?

Isso se dá ao longo de todo o processo de formação escolar do

aluno. Pedro Demo elabora de maneira profunda essa relação entre o

conteúdo apresentado em sala pelo professor e suas repercussões na vida

futura do aluno.

Para Demo (2002),

o conhecimento é tomado como “lente” teórica que filtra a realidade, considera os fenômenos mais ou menos reais, enquadra expectativas da realidade de acordo com a inserção sócio-histórica. Não se vê tudo, nem o que se quer, mas o que se pode e somos levados a ver dentro da respectiva sociedade. p. 39

Educar significa transformar. Esse axioma precisa ser bem

entendido e assumido de modo consciente, pois novamente aqui é retomado o

papel que exerce o professor na formação da consciência do aluno. Pode – se

dizer do papel exercido pelo professor, no que se refere à política do

conhecimento, que é tão decisivo para a qualidade de vida e de como ser e

estar no mundo a partir de tais concepções que libertam ou castram o

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indivíduo. A construção de atitudes de liderança deve ser entendida de forma

mais ampla e complexa.

Outras demandas e outras virtudes devem estar ligadas ao líder e

às suas vivências ao atuar como dirigente ou protagonista.

Pode - se perguntar: quais as outras atitudes ou posições, além da

liderança, o indivíduo necessitaria para exercer uma liderança justa, equitativa,

honesta, responsável? Que outras competências são exigidas do professor

para que o aluno exerça com sabedoria ou com responsabilidade a liderança?

O professor não encerra a sua formação ou adquire a sua

habilitação ao receber o seu diploma universitário. O exercício do ato de

ensinar requer atualização permanente, no mundo em permanente mudança.

Os gestores pedagógicos exercem um papel decisivo nesse

momento. Além da carga de função específica no que diz respeito ao cotidiano

interno da escola: elaboração de calendário letivo, atendimento aos pais, aos

professores, reuniões pedagógicas, atendimento e acompanhamento dos

alunos com baixo rendimento escolar, o coordenador ou o gestor pedagógico

deve elaborar um projeto de estudos com os professores durante o ano letivo

vigente.

Como se faz e se realiza mais essa tarefa dentre as tantas do

professor? Como conquistar o professor desanimado e sem esperança,

desmotivado e sem perspectivas no mundo da educação?

Planejamento e organização são as palavras mágicas para se obter

algum resultado satisfatório dos projetos incrementados pelos gestores

pedagógicos e educacionais. Atualmente, com certas facilidades e com atalhos

impressos na era virtual, muito pode ser feito para agilizar o processo proposto:

indicação de textos, referências bibliográficas, propostas de encontros de

estudos e discussão de livros são uma das muitas opções para não cair no

senso comum: “não tenho tempo”. Essa ação é suficiente para responder às

necessidades do aluno do século XXI?

Não! Mas essa abordagem e reflexão são para o capítulo seguinte.

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Capítulo 4

Liderança e ética: as duas faces para a construção de valores

A desafiadora e emblemática ação humana - educar - , ao longo de

milhares de anos de mudanças adaptativas e às vezes inclusivas ou não,

jamais concedeu ao próprio homem a satisfação plena.

Isso leva a muitas inquietações permanentes. Nas relações

humanas, buscando entender as interpelações e os conflitos, tentando

responder aos mistérios e às dúvidas do Homem, o ato de educar vem

tentando ajudar a responder a essas inquietações humanas, transformando e

dando pistas concretas aos desafios da contemporaneidade.

Hoje, por exemplo, a tentativa dos povos e das nações em torno da

ONU, organismo que articula e planeja o evento realizado recentemente na

cidade do Rio de Janeiro, de 20 a 22 de junho, é uma ação educativa, ou seja,

através da reflexão das ideias, da discussão, de pontos de vista distintos,

buscar possíveis soluções a médio e a longo prazo para a sustentabilidade da

vida do nosso planeta pelos acordos dos Chefes de Estados e Delegações.

A Conferência Internacional Rio + 20 estuda conteúdos

transformados em ações concretas, discursos, conhecimento científico e

propõe projetos de cunho político global. Existe uma simbiose entre o ser

humano e todos os seres vivos criados.

Parece simples, mas essa afirmação requer aprofundamentos e

sérias decisões que vão eclodir no presente e no futuro. Como atua a escola?

Como prepara cidadãos cônscios de sua participação e atuação? Como pode o

professor atuar na formação de líderes e não de chefes, de líderes honestos e

transparentes?

Quanto à dedicação do professor, espera-se sempre que sua

vitalidade, sua energia e seu desejo de ensinar não se dissipem ao longo da

trajetória extensa, penosa do cotidiano do magistério para que ele, assim,

possa dar respostas às habilidades, às competências e ao perfil das pessoas.

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O professor, na sua práxis diária ou quando convocado pelo diretor

ou gestor escolar, poderá apresentar certas predisposições internas ou

internalizadas, as quais poderão originar ou abortar ideias e ações propostas.

Muitas vezes, a proposta da escola é tímida e engessada, ou seja, o

tema é estreito e empobrecedor no sentido de abrir novas perspectivas e novos

horizontes ao professor.

A formação universitária precisaria passar por uma nova e ousada

revisão, de modo a ampliar o conceito das atividades pedagógicas executadas

pelo professor. As dimensões da pessoa humana tais como a afetividade, a

estética, a sensibilidade, o humor, a alegria, os sentimentos devem ser objeto

de cuidado e de preocupação do fazer acadêmico. O professor, na sala de

aula, é inteiro, completo no sentido amplo do termo pois ele se apresenta na

sua intereza para o aluno. Ele se vale da linguagem, dos termos usados no

cotidiano do aluno, das gírias, do filme mais visto, da música mais ouvida, do

yotube mais visitado etc.

Liderar ou dirigir um grupo ou uma empresa, dirigir uma escola,

coordenar o conhecimento dos conteúdos ministrados em sala requer outras

competências. Liderar não é um dom, é uma virtude, que se constitui, pois, de

aprendizes e educadores. Partindo desse pressuposto, Cortella (2011) afirma

que

a liderança é uma virtude que está em qualquer pessoa, do ponto de vista virtual. O virtual precisa ser atualizado ou realizado. (...) ora, se a liderança é uma virtude – portanto – uma força intrínseca -, qualquer homem e qualquer mulher em qualquer lugar, ou função, pode desenvolvê-la. A liderança é sempre circunstancial. Qual é a diferença entre líder e liderado? É a circunstância. Ou seja, a ocasião ou a situação. (p. 67 e 69)

Ter clareza quanto à dinamicidade da liderança faz do educador um

profissional ainda mais consciente de seus limites, de suas fragilidades, uma

vez que passa a discernir como deve agir um líder em determinado momento.

Cortella ainda nos indica cinco competências essenciais para a arte de liderar:

abrir a mente, elevar a equipe, recrear o espírito, inovar a obra e empreender

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o futuro. Essas competências são valores apreendidos pela observação ao

entorno da escola, fora de seus muros. Ampliam-se o horizonte e o ângulo de

atuação, da pertença como objeto e como sujeito na relação professor-aluno-

ensino-aprendizagem. Uma janela a ser aberta e permanecer aberta é a da

política. A mídia tem destacado e apresentado uma dimensão da sociedade

como aquela que é frágil, injusta, corrupta e corporativista. O aluno vive nesse

contexto ao ouvir e ao tomar conhecimento de como as relações de

lideranças são vivenciados pelos gestores políticos, especialmente em nosso

país.

A ética, ciência da moral, não é uma novidade, mas pela falta de seu

exercício torna-se desvirtuada de seu conceito. Como a sua expressão não

mostra a verdade e pela insistência do erro, pode - se conceber como

verdade ensinada o que é perigoso para o presente e, consequentemente,

para o futuro.

Qual o papel da ética na esfera da competência da liderança dos

professores e no seu ensino? Que lugar ela ocupa e como o ocupa? A

convivência é a chave para entender a ética pois é na relação, na partilha e

na companhia que ela é vivenciada, percebida e sentida.

Comumente afirmamos que a ética é um conjunto de princípios

básicos, os quais orientam os deveres, os desejos e as possibilidades dos

seres humanos.

Essas atividades humanas estão presentes em cada pessoa e de

per si somente se confrontam e existem na relação com o outro, diferente e

único.

Como apostar numa ética real, concreta e viável nos contextos da

contemporaneidade? Trata-se de desafios para educadores ousados,

corajosos, plenos eticamente.

Como foi afirmado na entrevista concedida pela orientadora

educacional do Colégio Santo Agostinho, a esperança deve prevalecer diante

dos olhos do educador, daquele que se propõe inovar, transformar, viver

diferente e deixar algo para a posteridade.

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Educar, ensinar, liderar nunca foi concebido ao longo da história da

educação como algo fácil, como algo estabilizador e equilibrado.

O desafio para o professor que se propõe a ensinar o aluno a

desenvolver liderança está em jamais se esquecer de que junto e intrínseca a

ela está a ética.

Ela fará a diferença de um líder que age com o senso da justiça, da

verdade e da reflexão, distinto daquele que age por interesse próprio, sem se

preocupar com o outro, desejando levar vantagens e justificando os meios

para atingir seus objetivos e seus objetos de prazer e bem - estar.

A integridade da pessoa humana é outra chave de leitura e de

conceituação para que a liderança seja posta em prática. Integridade é

também um princípio ético que baliza o educador em suas propostas

acadêmicas.

Sem esse viés, pouco se faz, muito se estraga e bastante tempo

levará para se reconstruir o deteriorado. Contudo, o professor não vive

isolado das realidades múltiplas, ele é fruto e semente histórica, um ser

coletivo com sua história pessoal e familiar, sua história cultural e social.

Quais as outras faces, os outros rostos que compõem o professor?

4.1. Outros personagens no entorno da escola

A humanidade é compartilhada e, isso significa que a ação humana

e o ato de existir como ser humano fazem um ser coletivo e social. A ética é a

capacidade de amparar e de cuidar das relações coletivas. Quando nos

referimos ao professor na sala de aula, na sua função educativa e de

articulador e motivador do conhecimento, é preciso pensar que esse professor

é um ser coletivo. Há que se pensar no outro, ter- se visão de alteridade, ou

seja, ver o outro como companheiro, que caminha junto e busca ser feliz, e

não como o inimigo e como o estranho no caminho.

O professor, ao deparar-se com o aluno em um primeiro contato,

muitas vezes já está imbuído de preconceitos, traumas, inseguranças e já

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inicia o encontro com o outro, o aluno, como com um estranho, aquele que

não deseja, não quer, que sonha e não aprende. É preciso despir-se dessa

velha roupagem, eliminar esse odor que incomoda e que não faz crescer ou

produzir novas roupagens, mas tão somente engessa a relação entre os

protagonistas do conhecimento.

Faz parte do imaginário coletivo, por exemplo, que o aluno não

aprende porque possui algum transtorno, ou não desenvolveu certas virtudes,

ou não tem capacidade para superar o desânimo, o cansaço. Essa concepção

mórbida tem acarretado sérias consequências para o desenvolvimento e o

potencial do aluno.

Esses equívocos estão presentes no cotidiano escolar e no discurso

de pais, professores, catedráticos e experientes no campo da educação.

O discurso da ética no meio acadêmico das escolas precisaria ser

impregnado por gentileza, simplicidade, companheirismo, esperança, e acima

de tudo, crença no ser humano.

O discurso feito pela mídia e por tantas vozes que se elevam aos

quatro cantos dos muros da escola representa uma dialética capaz de fazer

crescer o mal - estar na relação professor/aluno e seus coadjuvantes. Do

porteiro ao diretor, da mãe à babá, do motorista da van ao policial que zela

pela segurança das crianças, todos pressupõem atitudes éticas nas relações

interpessoais com alunos.

Os olhares ávidos das crianças pequenas, que aprendem muito com

a observação e com silêncio ativo nos devem fazer pensar na qualidade de

nossos gestos e nossas atitudes.

Os personagens que vivem “fora dos muros da escola” contribuem

de maneira singular na formação da ética e, por conseguinte, da liderança de

nossos alunos. Os adjetivos “público”, “democrático”, “participativo” ganham

amplitude e força fora dos muros e “longe do alcance” dos professores.

É urgente que o professor amplie o seu olhar e o seu horizonte para

entender e conhecer as realidades que permeiam a vida dos alunos. A visão

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que se pretende dar ao professor de hoje é a de que ele deve ser o indivíduo

que traduz aquilo que é observado, ouvido, falado e sentido pelos seus

alunos. Não se entende a função de professor nos dias de hoje como mero

reprodutor do enciclopedismo e da memorização de datas e fatos.

Para PERRENOUD (2002),

Praticamente todo mundo concorda hoje em dia que os objetivos de alto nível são os desafios de formação mais importantes e que fazem parte de um desenvolvimento duradouro da pessoa. Se “aprender a aprender” e “saber documentar-se e informa-se” figuram entre os objetivos de alto nível, todos os que atingirem esses objetivos supostamente saberão, em caso de necessidade, a data de algumas batalhas. p. 39

O desenvolvimento da pessoa ao longo de seu processo de

maturidade exige permanente ação externa, ou seja, os contextos sociais e

culturais darão a tonalidade e a textura da personalidade e do ser da

pessoa. Obviamente, as escolhas e as opções de cada um sempre são

singulares, mas inexoravelmente fruto social e coletivo. O desenvolvimento

duradouro da pessoa ultrapassa e supera a “pedagogia bancária”, expressão

cunhada por Paulo Freire, mas leva o aluno a uma permanente busca pelos

saberes e, por meio desses saberes, a aprender a refletir de forma

autônoma e crítica; a raciocinar, interpretar e fazer escolhas responsáveis.

Há outros espaços em que o aluno está situado como na família,

cujo papel ganha outra dimensão ao afirmar que é dela e nela que a criança

se estrutura como ser individual e social, a partir de limites, regras e

condutas.

Hoje, a estrutura familiar vem ganhando matizes diferentes dos que

tínhamos nas décadas passadas. A organização familiar tem outros

personagens, cujos papéis são os mesmos da que havia antes, a família

patriarcal ou matriarcal.

Aos poucos, se justapõe e se ajusta para, dessa forma, haver o

respeito às diferenças e às configurações da contemporaneidade. É o que

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se deseja com esse olhar sobre o papel que exerce a família sobre as

crianças, se há vivências éticas, relacionamentos vividos com alegria,

respeito, companheirismo, valorização do outro e, acima de tudo,

reciprocidade pela alteridade.

Essa é a base, o alicerce que se espera das novas configurações

familiares.

4. 2 . As competências do líder

Segundo Cortella (2011), ser líder significa cultivar cinco

competências na arte da interação: abrir a mente, elevar a equipe, recrear o

espírito, inovar a obra e empreender o futuro. Quais os desdobramentos que

devem existir dentro da escola, quando são apresentadas ações

pedagógicas na formação dos alunos líderes?

Passamos a investigar as atitudes propostas e os resultados

esperados pela Orientação Educacional:

I - Abrir a mente: trabalhar a alteridade. Mostrar ao aluno como ser

singular e constituído de potencialidades. Todos os demais colegas da turma

merecem ser ouvidos, respeitados. Abrir a mente é despir de preconceitos e

maus tratos aos demais, extirpar o bullying e o ciberbulliyng do ambiente

escolar.

II - Elevar a equipe: ter o sentido do trabalho cooperativo e

construído em grupo. Todos com seus valores e qualidades contribuem para

atingir a meta. Assim, o sucesso é de todos. A visão individualista

egocêntrica não tem espaço nesse momento de superação do individualismo

e de negação do outro.

III - Recrear o espírito: desenvolver a virtude de conviver com prazer

e alegria. O sentido de pertença a um grupo é fundamental na fase da

adolescência, entre 12 a 14 anos. Esse sentimento valorizado e reconhecido

no processo de desenvolvimento da ação pedagógica fortalece o espírito e

os sentimentos de todos os membros do grupo. O conflito existirá ao longo

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do processo, entretanto será avaliado pela ótica da compreensão e da

compaixão.

IV - Inovar a obra: buscar e encontrar a solução para todo problema

ou desafio. O pessimismo e a falta de perspectiva não ganham espaço

nesse processo de construção. O otimismo é incentivado frente às

superações pessoais e/ou coletivas. Para muitos, o caminho mais curto, a

resposta imediata é a violência física, como se fosse o recurso que

encerrasse o mal- estar, a perda, o insucesso, a derrota. Inovar a obra é dar-

lhe outro sentido para enfrentar as contradições da vida.

V - Empreender o futuro: analisar as condições e as possibilidades.

O aluno é chamado a raciocinar, a pensar de forma crítica e sensata sobre

os fatos e as situações. O percurso está por fazer, cada um pode dar sua

contribuição, sem eximir ou denegrir a colaboração do outro, mesmo que

ínfima e sem valor quantitativo. Nessa competência trabalha-se a construção

do indivíduo, conceitua-se a pessoa, a sociedade, o ser humano. A

capacidade de crescer com o outro, não como ilha, na soberba e no

isolamento, mas na troca recíproca de valores e virtudes, gestos e atitudes,

que somente delinearão o grupo e suas qualidades.

Com essas ações propostas pela escola, traçando como instrumento

e como meta essas competências, acredita-se que o aluno aberto ao novo e

às descobertas provará da seiva que edifica, vitaliza, renova e faz crescer as

potencialidades de cada ser humano, individual e sociável.

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CONCLUSÃO

A potencialidade e as possibilidades do ser humano não têm limites

quando lhes são oferecidas condições educacionais adequadas. A escola

tem um papel preponderante no processo de desenvolvimento das

habilidades e competências dos alunos. Contudo, a função do professor

ganha um novo conceito no cotidiano escolar, pois, além da sua

competência profissional, outros quesitos lhe são exigidos: atitude, exemplo,

modelo e acima de tudo o indicador de novos horizontes, visando ao mundo

de mercado competitivo, excludente e exigente.

A sala de aula, espaço de poder e de relações de saber, garante ao

aluno e ao professor desenvolver conceitos políticos e culturais. Educar

significa transformar o ser humano,a fim de construir relações mais

saudáveis e livres. Educar é um ato político, portanto nunca é uma ação

neutra ou isenta de intencionalidades.

Na escola, há outros serviços além dos realizados pelo professor,

que vão colaborar nessa construção de valores humanos, especialmente a

Orientação Educacional, cuja função é despertar o interesse pela formação

ética e de liderança dos alunos, em parceria com diferentes configurações

familiares, tão presentes nos dias de hoje.

Entender e constatar que, por meio de ações sistemáticas,

adequadas e livres, o aluno orientado por profissionais competentes

desenvolve posturas e atitudes de liderança. Porém, a escola não tem todas

as chaves que permitam abrir todas as portas e janelas da

contemporaneidade. Por isso, ela contata outros espaços da sociedade para

que juntos desenvolvam técnicas e dinâmicas que atinjam os seus objetivos.

As atividades propostas pela escola fora dos seus muros têm sido uma

grande janela aberta para que novos ares e um novo “pulmão humano”,

sedento de vida e de esperança, possam concretizar e realizar, dessa

maneira, a função da escola que não é outra, senão a de transformar.

A liderança é um valor humano, não congênito que, entretanto, pode

ser aprendido, desenvolvido e vivenciado no âmbito escolar.

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ANEXO

Orientadora Educacional

Na gestão educacional, a peça chave para que haja diálogo com o

aluno e se consiga sua aproximação é a abertura e a confiança da parte dos

gestores, no caso especifico, o Orientador Educacional. Como já citado

anteriormente, a relação entre escola e família deve ser “costurada” e

construída ao longo do processo ensino-aprendizagem. Quando os pais e os

alunos se sentem acolhidos e há uma projeção de encaminhamentos e de

ações, certamente o aluno começa a produzir e a desenvolver suas

potencialidades.

Por isso, a entrevista realizada no Colégio particular, confessional

católico, da Zona Sul do Rio de Janeiro denota a necessidade do

estabelecimento de relação de confiança, abertura e construção de valores.

Entrevistou-se a senhora Edna D’elia Thomé e Souza, atuante há mais de 38

anos como orientadora educacional do Ensino Fundamental 1 e 2 do Colégio

Santo Agostinho, Unidade Leblon.

ENTREVISTA

1. Qual a função da Orientadora Educacional e como os pais veem

essa função?

Quando fui convidada para trabalhar na Comunidade Agostiniana

com os freis, percebi que não bastavam competência e habilidade. Sentia que

necessitava fazer um trabalho envolvendo todas as dimensões: alunos, pais e

professores. Atualmente, essa integração acontece na mesma proporção,

uma vez que as famílias acreditam na educação a que o Colégio se propõe. A

maneira como os pais são acolhidos é a marca do meu trabalho desenvolvido

durante todos esses anos.

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Saber ouvir e, às vezes, não tecer nenhum comentário ou dar

orientação ou “conselho” para os pais tem sido a mola propulsora da

confiança que se estabelece entre eles e a instituição.

2. E os alunos, sentem-se acolhidos? Como é desenvolvido o

trabalho de orientação?

Diante dessa mesma perspectiva de respeitar a individualidade e

evitar fazer qualquer tipo de julgamento a priori, os alunos se sentem bem,

pois se abrem para relatar seus conflitos e questionamentos diante da vida.

Nem sempre, em casa, os pais proporcionam essa confiança e essa

liberdade aos filhos. Em diversos momentos durante o ano, são realizados

trabalhos em sala de aula. A orientação em sala tem um projeto de fichas

para cada aluno, nas quais eles relatam suas características físicas, suas

emoções e seus desafios. Raramente, encontro um aluno reticente para se

abrir ou responder a tais questionários. Quando me deparo com algo que o

incomoda ou perturba, ele é chamado para uma conversa pessoal.

3. Como é a integração da equipe de professores e o processo de

formação continuada?

A permanente preocupação com a formação do professor do século

XXI é relevante, uma vez que ele não recebe o diploma de conclusão do

processo de formação de gente. Nesse sentido, acontecem momentos fortes

de atualização com temas vigentes na sociedade e no entorno escolar. A

coordenação precisa estar “antenada” com os acontecimentos e demandas

da sociedade e com o mundo em constante mudança. A abertura dos

professores para esse momento nem sempre acontece de modo satisfatório,

contudo não se pode desistir dessa premissa básica que é a formação de um

agente da educação atual, eficaz e, acima de tudo, promissora.

4. Quais as atividades sistematizadas durante o ano, quando o aluno

desenvolve atitudes de lideranças?

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Essas atividades acontecem em diversos momentos quando

ocorrem eleições dos representantes de turmas e do Grêmio Estudantil;

reuniões após cada período escolar; organização da festa junina. Todas

essas atividades propiciam ao aluno a formação da responsabilidade, do

trabalho em equipe e, acima de tudo, do respeito pelo outro, condição

prioritária para exercer a liderança.

5. Como a sociedade contemporânea colabora na construção da

cidadania e dos valores humanos?

Hoje com a integração dos meios de comunicação de massa, rádio,

internet, redes sociais entre outros o cidadão está mais cônscio de que seus

atos sempre têm uma intenção. A sociedade vem atingindo estágios

promissores em comunicação. Sou uma pessoa otimista e, por isso, vejo

esperança numa criança de 6 anos, iniciando a sua vida escolar e com desejo

de crescer. Muitas famílias estão abertas para a discussão sobre a educação

dos filhos. A cidadania vem sendo colocada em pauta no cotidiano das

mídias, e os valores humanos também têm sido recorrentes nas falas dos

educadores e pensadores. Creio que cada ação honesta e justa, por exemplo,

executada pelos Três Poderes Públicos recai em nossas consciências e

modifica as nossas atitudes e valores. Contudo, há muito a se fazer e a se

modificar em nossa sociedade.

6. Quais as dificuldades ou barreiras encontradas com os alunos

diante da proposta de reflexão e de ação coletiva?

Trabalhar em grupo é um aprendizado. Ninguém nasceu pronto para

conviver com prazer e com respeito. Na fase da adolescência, os alunos

passam por uma crise profunda do crescimento e o sentido de pertença de

grupo ganha de qualquer iniciativa mais ousada ou inovadora. Aqui entra uma

atitude de observação por parte dos professores e da equipe que está

propondo a reflexão. De acordo com minha experiência, nada que é imposto

ou exigido sem diálogo dá o resultado esperado. De fato, existem barreiras,

mas são quase todas superadas. A pouca experiência de partilhar e de ouvir

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o outro são as barreiras encontradas também para o desânimo e a pouca

iniciativa diante das coisas mais simples do cotidiano. Como trabalhamos com

uma clientela da classe média alta, pequenos esforços e enfrentamentos

naturais da vida são realizados por outrem. Essa atitude leva o adolescente

ao fechamento em si mesmo e à pouca abertura ao outro, ao diferente e esse

mesmo jovem necessita também ser acolhido e amado.

8. Quais as ações que o Colégio propicia para a formação de líderes

autônomos, conscientes e responsáveis?

A partir do 4º ano do Ensino Fundamental – 1º Segmento –, há a

iniciativa da representação de turma. Os alunos são eleitos, de forma

democrática por turma, após as devidas preliminares dos professores e da

coordenação educacional e pedagógica. Essa ação é excelente para incutir

no aluno a necessidade de se pensar no outro, no grupo e no coletivo. O

representante não tem aqui a função de “dedurar” um colega da sala, quando

esse comete um deslize comum em um adolescente: grita na sala fala mal do

colega, esqueceu de fazer o dever de casa, conversa demais em sala, e

tantas outras atitudes pertinentes à faixa etária. O representante procurará

zelar pela boa convivência da turma e, acima de tudo, ajudar o colega nos

mais diferentes momentos da vida escolar.

9. Há outras atividades extracurriculares que permitem aos alunos

momentos de convivência significativa?

Outra ação que o colégio desenvolve é a do voluntariado a partir do

9º ano. Com a participação do Departamento de Pastoral, os alunos visitam o

INTO – Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, na Zona Portuária do

Rio. Mensalmente, 15 alunos são levados àquele local como uma presença

de esperança e solidariedade. Os pais estão apoiando muito essa iniciativa.

Sistematicamente, os alunos realizam essa ação, pois além de dar-lhes

condições para superar os medos e as frustrações, eles adquirem atitudes de

autonomia e liderança, pois no INTO são realizados trabalhos de cooperação

e participação nos trabalhos propostos. Acredito que esse seja um dos

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caminhos para se construir a liderança, preparando, assim, o jovem cidadão,

creio um pouco mais para se tornar um indivíduo mais feliz.

Os alunos do 9º ano estão fazendo essa experiência de vida ao

conhecer gente diferente, lugares diferentes, eles assumem valores e

constroem relações humanas tão fortes que os deixam robustos,

interiormente.

Esses valores jamais se apagarão de suas mentes e em seus

gestos e atitudes brotarão a esperança e a solidariedade.

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BIBLIOGRAFIA CITADA

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Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002 – Coleção Prospectiva: v. 6.

LÜCK, Heloísa. Liderança em gestão escolar. Ed. Vozes, Petrópolis.

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Ciências Humanas.

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INDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A função da escola na contemporaneidade 10

CAPÍTULO II

A Orientação Educacional: especificidades das ações 14

CAPITULO III

Gestores pedagógicos: a formação da liderança

em sala de aula 19

CAPÍTULO IV

Liderança e ética: as duas faces para a construção de valores 24

4.1 - Outros personagens no entorno da escola 27

4.2 – As competências do líder 30

CONCLUSÃO 32

ANEXOS 33

BIBLIOGRAFIA CITADA 38

ÍNDICE 40