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Memórias de um aprendiz 1 Memórias de um aprendiz Autor: Dijavan Luis Santos de Brito (Dija Darkdija) Conteúdo Memórias de um aprendiz ..............................................................................................................1 Parte 1 ........................................................................................................................................4 Capítulo 1 Uma velha história ................................................................................................4 Capítulo 2 A lenda antiga .......................................................................................................8 2.1 Esferas, deuses e gigantes .................................................................................................8 2.2- Gigantes, Titãs e as duas raças .........................................................................................11 2.3- A arrogância dos gigantes, a insolência de Mizushi e o nascimento dos dragões ............12 2.4- Os dois reinos, a árvore e a horda .....................................................................................14 2.5- Guerra e calmaria, pacto e caos. .......................................................................................14 2.6 Eldonis, Keltur e a foice..................................................................................................15 2.7 O nascimento do Darklord, os continentes, algo a respeito. ...........................................17 2.8- O mago, o soldado e a raposa ...........................................................................................17 2.9 A lenda esquecida ...........................................................................................................19 Capítulo 3 O verdadeiro final é apenas o começo.................................................................20 Capítulo 4- O aprendiz e a conselheira ....................................................................................21 Capítulo 5- Montris ..................................................................................................................22 Capítulo 6 Namikaze Yumi ..................................................................................................25 Capítulo 7 Omni Raitun ........................................................................................................27 Capítulo 8 Cumulus Nimbus .................................................................................................29

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Memórias de um aprendiz

1

Memórias de um aprendiz

Autor: Dijavan Luis Santos de Brito (Dija Darkdija)

Conteúdo

Memórias de um aprendiz ..............................................................................................................1

Parte 1 ........................................................................................................................................4

Capítulo 1 – Uma velha história ................................................................................................4

Capítulo 2 – A lenda antiga .......................................................................................................8

2.1 – Esferas, deuses e gigantes .................................................................................................8

2.2- Gigantes, Titãs e as duas raças .........................................................................................11

2.3- A arrogância dos gigantes, a insolência de Mizushi e o nascimento dos dragões ............12

2.4- Os dois reinos, a árvore e a horda .....................................................................................14

2.5- Guerra e calmaria, pacto e caos. .......................................................................................14

2.6 – Eldonis, Keltur e a foice. .................................................................................................15

2.7 – O nascimento do Darklord, os continentes, algo a respeito. ...........................................17

2.8- O mago, o soldado e a raposa ...........................................................................................17

2.9 – A lenda esquecida ...........................................................................................................19

Capítulo 3 – O verdadeiro final é apenas o começo.................................................................20

Capítulo 4- O aprendiz e a conselheira ....................................................................................21

Capítulo 5- Montris ..................................................................................................................22

Capítulo 6 – Namikaze Yumi ..................................................................................................25

Capítulo 7 – Omni Raitun ........................................................................................................27

Capítulo 8 – Cumulus Nimbus .................................................................................................29

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Memórias de um aprendiz

2

Capítulo 9 – Otellus .................................................................................................................31

Capítulo 10 – O primeiro Ataque .............................................................................................32

Capítulo 11 – A raposa e o aprendiz ........................................................................................34

Capítulo 12 – Luminus .............................................................................................................36

Capítulo 13 – Os personagens em um caderno ........................................................................37

Capítulo 14 – Quatro rios, Quatro templos, Um reino. ............................................................39

Capítulo 15 – Siegfried, a primeira lição .................................................................................41

Capítulo 16 – Fatos interessantes .............................................................................................43

Capítulo 17 – Chá de pingentes ...............................................................................................46

Capítulo 18 – Tensão ...............................................................................................................48

Capítulo 19 – Para o sul. ..........................................................................................................51

Capítulo 20 – Lilith, a segunda lição .......................................................................................53

Capitulo 21 – “Assuntos pendentes” ........................................................................................59

Capítulo 22 – Para o norte. ......................................................................................................63

Capítulo 23 – Um encontro não tão amigável ..........................................................................63

Capítulo 24 – Lição pós contrato .............................................................................................67

Capítulo 25- Enigma pós lição .................................................................................................68

Capítulo 26 – Frustração, Renovação e Frustração ..................................................................72

Capítulo 27 – Coisas estranhas ................................................................................................74

Capítulo 28 – O caminho a seguir ............................................................................................80

Parte 2 ......................................................................................................................................83

Capítulo 1 – Hora do over hit ..................................................................................................83

Capítulo 2 – Um inseto entre bestas antigas ............................................................................87

Capítulo 3 – Duplas problemáticas ..........................................................................................90

Capítulo 4 – Algo bom e Nada bom ........................................................................................94

Capítulo 5 – Muito sugestivo ...................................................................................................97

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Memórias de um aprendiz

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Capítulo 6 – Aquela história continua ......................................................................................99

Capítulo 7 – Punição dupla ....................................................................................................102

Capítulo 8 – Outra história .....................................................................................................104

Capítulo 9 – A marca da foice ...............................................................................................106

Capitulo 10 – Conselhos da Matriarca ...................................................................................108

Capítulo 11 – Brincadeiras .....................................................................................................110

Capítulo 12 – O festival .........................................................................................................113

Capítulo 13 - Caos .................................................................................................................118

Capítulo 14 – Esquina dos ventos ..........................................................................................123

Capítulo 16 – Preparativos .....................................................................................................125

Capítulo 17 - O “lu-“ é nomeado. .........................................................................................127

Capítulo 18 – Uma ideia ........................................................................................................128

Capítulo 19 – Discurso ...........................................................................................................132

Capítulo 20 – Contra-ataque ..................................................................................................135

Capítulo 21 – Matança ...........................................................................................................137

Capítulo 22 – Brincadeiras sérias...........................................................................................139

Capítulo 23 – Separação ........................................................................................................144

Capítulo 24 – Encontro ..........................................................................................................148

Capítulo 25 – Ajuda ...............................................................................................................150

Capítulo 26 – Reviravolta ......................................................................................................152

Capítulo 27- Por quês .............................................................................................................155

Capítulo 28 – Informação confidencial ..................................................................................159

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Memórias de um aprendiz

4

"Olá. Se você não gosta de livros de fantasia ou que falem de magia, elfas, orcs, anões,

guerras, amores, garotos carecas, criaturas mágicas, poderes ainda mais mágicos, coisas

exóticas e afins, não sei se você vai gostar da história que eu vou contar. Provavelmente

não, mas ainda assim, por que não testar? Talvez você goste dessa em especial. E se você

não sabe ainda o que um aiodrome ou qualquer uma dessas coisas que eu falei, estou lhe

convidando a conhecê-las agora. Aliás, agora não, daqui a pouco, nas próximas páginas.

Que tal?"

Ass: Aquilo que conta.

P.S.: Espero que você aceite o convite e eu não tenha contado tudo em vão, por nada do que

conto aconteceu em vão, sabe... e o motivo é...bem... “informação confidencial”.

Parte 1

Capítulo 1 – Uma velha história

37 minutos após as 7, britanicamente. É o que dizem as palavras. Nós e elas somos as pa-

lavras. E enquanto eu sou o que não digo, elas são as dizem por si. Espero que seja a hora certa

de dizer isso a vocês. Afinal, temos não sei quanto tempo para lhes contar não sabemos ainda o

que. O que eu vou lhes contar? Em memórias de um aprendiz de artes da viajosidade, uma his-

tória, claro. E de que tipo? E quem seria o aprendiz? E que artes ele aprendeu? Informação con-

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Memórias de um aprendiz

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fidencial, o que quer dizer que saberemos tudo em breve(ou não) em meio à chuva e a tempes-

tade, roupas encharcadas e uma fogueira à frente. Ah, longa... Loooonga história, que conta

sobretudo...sobre...Tudo. E sobre Ninguém. Antes de qualquer coisa, devo lhes pedir perdão.

Tudo ainda é muito confuso, eu sei, mas irei lhes contar pouco a pouco tudo com o máximo de

detalhes que possuo, porém, não sei de onde a história veio, e quando foi contada pela primeira

vez, muito menos quando foi feita. Eu sou apenas aquilo que conta, não posso ser dono do que

conto. O que posso lhes contar é algo que parece problemático de entender, mas não o é. Espero

que seja algo interessante e útil para vocês. Nos próximos momentos, apenas... Viaje comigo no

mundo das palavras por alguns instantes, e você entenderá... uma... uma...(o que eu deveria di-

zer agora mes- ah sim!)

Uma velha história que começa dessa maneira...

Uma jovem que deve ter lá seus 18 anos estava andando. Ela gostava de andar, princi-

palmente sob a proteção da chuva. Costumava dizer que a tal lhe lembrava uma pessoa. Após

um pouco de caminhada, resolveu por fim andar por entre as cerejeiras que existiam por ali

perto. Árvores que faziam uma espécie de corredor, como se estivesse convidando a garota a

andar entre elas. A propósito, ela adorava o cheiro das cerejeiras em flor. Era inebriante, era

algo que a deixava leve e andando como se não tivesse que chegar a lugar algum. Porém na

chuva ela não conseguia sentir o cheiro das cerejeiras. Mal podia vê-las, por causa do escuro e

da chuva, e o conjunto fazia um cenário de certa forma sombrio e acolhedor para ela, que gosta-

va desse tipo de coisa. Um cenário que para muitos seria certamente de um filme de suspense ou

terror, para aquela garota chegava até a ser romântico. O cheiro da chuva, as silhuetas das árvo-

res em penumbra, e um corredor sem fim que tinha o cheiro da chuva impregnado nele. Talvez

o cheiro da chuva também a lembrasse da tal pessoa, ela parou muito, antes de chegar ao fim do

corredor. Sorrindo, abrindo os braços, fechando os olhos e sentindo cada gota caindo sobre seu

rosto. E finalmente, ao término do corredor, uma surpresa em meio à chuva e à noite escura:

Uma crepitante fogueira resistindo às lágrimas que caíam do céu, e bancos feitos com troncos

em volta desta. Isso intriga a garota, isto a preenche com um misto de excitação e medo. “Como

em meio a essa chuva o fogo arde tão calorosamente, como que me convidando a ficar um pou-

co?” deve ser o que ela perguntou a seu interior naquele momento. Estranhamente, ela aceita o

convite, e senta-se em frente à fogueira, observando o vai e vem das labaredas. Ela chegou a

ficar tão concentrada no momento, que diria eu que ela é o tipo de garota que se perde em pen-

samentos por qualquer detalhe interessante achado em qualquer coisa considerada simples para

o resto do mundo. Porém o transe dela é quebrado por algo que, de tão simples e óbvio (e ao

mesmo tempo tão impensável) chega a dar calafrios na pobre garota: havia alguém do outro

lado da fogueira, também sentado em um banco. Talvez ela não a tivesse visto por causa de suas

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Memórias de um aprendiz

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vestimentas... Convenhamos que seja problemático perceber de noite alguém que usa um capuz

preto que o cobre por completo. E novamente a garota se vê perdida em pensamentos de quem é

aquela pessoa, da sua origem e motivos para estar ali, exatamente à sua frente. Antes que ela

esboce qualquer reação, o tal alguém o faz.

– Interessante, não é?–Diz a figura. Revela, pelo tom da voz, ser um homem com certa

idade... E certa rouquidão. É uma rouquidão tão profunda que faz a garota paralisar por instantes

antes de lembrar que ele havia feito uma pergunta.

– A- ah... Sim... É interessante. – responde com voz trêmula.

– Você poderia me dar uma pequena ajuda de grande importância? Se essa fogueira apa-

gar, morreremos de frio, concorda? Poderia pegar um pouco de lenha para a generosa fogueira

que está nos mantendo aquecidos? Eu ficaria muito grato.

A garota não responde nada, apenas se levanta e some em meio às árvores. Algum tempo

depois ela volta com alguns gravetos, um pouco suja e ofegante. E também mais cheia de ques-

tionamentos. “Por que esse pedido? Ele estava me esperando? Por que eu atendi imediatamen-

te?” Ela não sabia os porquês, mas aquele senhor encapuzado e a fogueira em meio à chuva

prenderam de alguma forma sua atenção.

– Não precisava se esforçar tanto. – Diz o senhor, e limpa o rosto da garota, que tinha se

manchado de alguma forma. Após isso, ele continua. – Contudo, agradecemos a generosidade.

Posso recompensá-la pelo esforço de alguma forma?

– Se o senhor souber alguma maneira de fazer isso, pode sim.

– Isso foi realmente algum tipo de desafio?

– Talvez seja- responde a garota.

– Então, talvez eu saiba como recompensá-la. É mais eficiente perguntar antes com os jo-

vens, eles cada vez mais têm pressa e mais pressa, porém quando envelhecerem irão implorar

para que toda a pressa que eles tinham se converta em atraso ou reversão do tempo.

– Faz sentido... Acho que nunca somos plenamente satisfeitos então.

– Exatamente, humanos nunca se satisfazem plenamente. E aquilo foi ou não um desafio?

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Memórias de um aprendiz

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– Foi. Espero que você consiga superar o desafio que eu fiz.

– Ele já está resolvido... Caso você queira escutar a resposta...

– Qual a resposta?

– A resposta é que para recompensá-la, irei contar-lhe uma história, caso você queira es-

cutar, é como posso lhe retribuir o favor. E assim estaríamos fazendo companhia um ao outro

por um tempo, e à fogueira.

–Faz sentido... E o que conta a sua história?

–Não, não é minha. É uma lenda muito antiga... Que há muito tempo foi contada por uma

antiga e poderosa sacerdotisa, a um sagaz e prodigioso aprendiz da vida.

– Hmm... E sobre o que exatamente ela fala?

– Sobre magia, mitologia, deuses, seres fantásticos, e a linha tênue que separa bem e mal,

alguns ensinamentos para a vida. – A garota tomou um choque nesse momento, porém não foi

por causa das palavras, ou do jeito que ele falou. O que fez a garota fixar mais ainda seus olhos

na fogueira foi a própria fogueira. Como se as chamas tivessem vida própria, aos olhos da garo-

ta elas se moveram, e formando várias figuras, pareceram ter ilustrado o que o ancião lhe falara

há pouco. No momento, a vida ainda estava presente nelas, e parecia haver uma mulher ajoelha-

da com um homem deitado em seu colo em meio às chamas da fogueira. Ela não entendeu aqui-

lo, e muito menos se estava assustada ou curiosa para saber do que se tratava aquilo que aconte-

cia. Após um tempo observando aqui, seu inconsciente resolveu lembrar ao consciente que ela

podia falar, mesmo perplexa.

– Velho... Você é uma espécie de deus, mago, bruxo ou coisa do tipo?

– Creio que não... Nenhum destes. Ainda curiosa pra escutar sobre a história? – Indaga

ele, quando por instantes a fogueira volta a ser apenas uma fogueira comum, que resistia brava-

mente à chuva.

– Sim... Apesar de estar com uma impressão de que não vou acreditar nela. – Diz a garo-

ta, se deitando no banco feito de troncos.

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Memórias de um aprendiz

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– Parece cansada... Um banco não é bem uma cama aconchegante, mas deve ser melhor

deitar-se assim. Faz bem, a história é grande.

Ao deitar-se no banco ela pensa: “Bem... já que tudo já está estranho, é melhor confiar

nele de uma vez. Espero que seja uma boa história, pelo menos”. O ancião tira de dentro de seu

capuz um livro, e novamente vem de dentro da garota o sentimento de que algo está estranho.

Primeiramente, o livro não parecia se molhar... E apesar de não conseguir ler o que havia em

sua capa, notou que havia um desenho que lembrava um olho em sua capa... Com uma pupila

vertical.

O velho começa novamente aquela velha história, porém, para uma nova pessoa.

Capítulo 2 – A lenda antiga

2.1 – Esferas, deuses e gigantes

– Há um longo tempo atrás... Uma poderosa sacerdotisa ouviu essa lenda de um ancião

encapuzado.

– Assim como você? - Pergunta a garota.

– Talvez... Ninguém presenciou o momento... Certo tempo depois, ela estava com o a-

prendiz em seu colo, algo como a fogueira lhe mostrou... E ela resolve contar-lhe a antiga lenda.

Então, estão lá ela, o aprendiz, e uma terceira pessoa... Uma conselheira que apenas observava e

ajudava a ilustrar as coisas... Como a nossa fogueira. Ela começa assim:

“– Lembra da história? – Diz a sacerdotisa

–Que história, aquela cheia de coisas místicas?

–Exato... Posso te contar... Ou melhor, dizendo, vou contar agora... É o momento propício

–Conte então... – Responde o aprendiz

–Para realmente entender o agora, às vezes é necessário rever o que se passou, assim vol-

tamos o pêndulo e revemos algo talvez nunca visto. –Diz a voz da conselheira do aprendiz, invi-

sível desde o princípio, observando os dois.

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Memórias de um aprendiz

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–Então, vamos à história. – Repete o aprendiz

–Ok, here we go. If you turn back the pendullum, you'll discover new hide things. (Tudo

bem, Se você voltar o pêndulo, descobrirá novas coisas ocultas. Ou algo do tipo foi o que ela

disse.) – Diz a sacerdotisa.”

O ancião adiciona um comentário a mais após isso.

–Talvez o aprendiz não tivesse entendido as palavras, mas soube o significado de cada

uma delas pela expressão da meiga sacerdotisa. Dizem que 60% de tudo que fazemos é entendi-

do por gestos corporais, 30% é do tom de nossa voz, 10% o que falamos. Não há princípios

básicos para isso, mas quem sabe se podemos fazê-lo vendo a história da história?Certo, aqui

vamos nós. Se você voltar o pêndulo, irá descobrir novas coisas ocultas... Ou algo assim. Enten-

de? – Pergunta o senhor à garota

– Entendo... Como ela continuou?

– De uma forma muito elegante. A conselheira começou a fazer as “ilustrações” através

de magia, enquanto a sacerdotisa falava:

“Há incontáveis anos atrás, existia apenas um ser. Este ser dotado de onipotência, onisci-

ência e onipresença é algo tão poderoso que apenas sabemos de sua existência. Nenhum mortal,

semideus ou titã sabe mais do que isso. Ele criou várias dessas... "esferas" (dizia referindo-se às

“ilustrações” que a conselheira fazia. Havia lá várias esferas, assim como a fogueira mostra.), e

quis ver o desenvolvimento de cada uma. E uma em particular lhe prendeu a atenção, pois nela

duas entidades começaram a tomar consciência. E entre elas haviam som, palavra, cor, harmo-

nia, ainda despercebida, mas pairando entre eles, unindo-os em uma partitura de um destino

inevitável e invisível. E houve entre eles uma música. E suas notas foram as mais poderosas e

harmônicas de todas as notas, e suas palavras constituíram o mais colossal e épico poema já

criado. E qualquer melodia ou palavra vinda depois dessa grande música é nada mais que mero

eco da própria primeira grande canção. O criador das esferas resolveu observar o que iriam fazer

dessas notas e palavras de poder. Uma delas parecia a personificação da própria luz, e se cha-

mava Hikari. O outro, profundo e assustador como as próprias trevas, se chamava Yamith. Ya-

mith e Hikari ouviram com a alma o poema-canção do destino inevitável, coabitaram, e tiveram

três filhos. O mais velho se chamava Kagutsuchi, tomou para si o domínio da magia do fogo. A

filha do meio se chamava Mizushi ,e ganhou o domínio sobre as águas. À filha mais nova, Shi-

rohime, não restou nenhum elemento a dominar, então ela dedicou o tempo, a magia e a inspira-

ção divina à música"

–Só existiam dois espíritos? Isso não deveria funcionar como os quatro elementos, água, terra,

fogo e ar? – Pergunta a garota

–Cale-se, criança insolente, e deixe que uma história ouvida por uma de um ancião encapuzado

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Memórias de um aprendiz

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seja contada.

– É assim que um velho encapuzado me pede sua atenção? Já não basta tudo o que está

acontecendo e ainda tenho que ouvir impropérios de um desconhecido? O ancião se retém em

alguns momentos de silêncio, e após um leve suspiro responde.

– É uma boa colocação. Não foi uma forma adequada de pedir o seu foco em minhas pa-

lavras: porém também não foi adequado parar repentinamente uma história tão antiga e mágica,

então mais uma vez os humanos erraram. Como você acha que devemos nos redimir?

– Depois de escutar aquilo não estou a fim de interromper de novo e escutar algo daquele

tipo novamente. Acho que devemos esquecer isso, e continuar a história. Muitas vezes quando

não conseguimos reparar os erros, tentamos não errar mais. Acho que devíamos fazer isso.

– Ótima resposta! Vejo que você tem uma boa mentalidade no fim das contas. Onde pa-

ramos... Ah, aqui! Continuando:

“Apenas sobrou a música e poesia para Shirohime, a deusa dos elfos. A mãe terra, já ha-

via sido dominada por Hikari, e essa era a base da criação e sustento dos seres ali viventes. Até

hoje o é. Os ventos gélidos do norte haviam sido dominados por Yamith. A brisa pode ser agra-

dável, mas nada mais destrutivo que uma tempestade para ser usado por ele (a não ser a sua

arma). Após criar a terra, montanhas, florestas e muitas outras coisas através da mãe terra, Hika-

ri ainda sentia falta de algo naquele lugar. Ela resolve criar mais uma forma de vida, dessa vez

"à semelhança dos deuses". E assim nascem os gigantes, criados para povoar e tomar conta da

esfera. Os gigantes eram grandes, conforme o nome sugestivo, mas a sua grandeza não era ape-

nas o tamanho: eram fortes, habilidosos, justos e bons de coração. Logo construíram uma forte,

sólida e evoluída sociedade, graças ao domínio da magia, que eras depois teve sua essência dis-

torcida, e seu nome talvez passe a ser conhecido como ciência."

–Os únicos seres "humanóides" da história são os gigantes? O decorrer disso é uma chati-

ce e isso é o "fim"? Essa é a grande história?– Indaga novamente a garota.

– Seu julgamento precipitado é a causa de sua derrota, e sua afobação ainda a levará a um

"encontro de negócios" com a morte. Sabe, dizem por aí que é preciso dois anos para um huma-

no aprender a falar algo com relativa fluência, e 60 para aprender a ficar calado. Então, jovem

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Memórias de um aprendiz

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precipitadamente insolente, peço que se cale mais uma vez, escute a história. Prove ser a exce-

ção dessa regra. – Comenta o ancião.

2.2- Gigantes, Titãs e as duas raças

– Estamos progredindo um pouco, dessa vez você pediu em vez de ordenar. Continue me-

lhorando e me dando informações importantes sobre a fisiologia dos humanos.

– Você também está melhorando, respondeu ironicamente em vez de reclamar. Talvez

você não vire alguém como eu quando estiver no fim de seus dias. Talvez.

Após outro suspiro que faz um som estranho e talvez disfarce algum incômodo em sua

garganta, o velho resolve abrir seu livro e continuar.

“Hikari não quis deixar os gigantes sozinhos, então fez da terra e da luz várias outras cria-

turas (quem sabe algumas não existem até hoje?) e pediu a colaboração de seus filhos para po-

voar a esfera, e assim também iria medir a habilidade de seus filhos. Kagutsuchi usou o podero-

so fogo, e com ele criou os orcs. Os orcs eram fortes, mas não mais fortes que os gigantes. Tal-

vez questão de que o fogo não era mais poderoso que a luz. Mizushi tomou as águas, e com elas

criou os elfos. E os elfos eram habilidosos em magia, mas não tão bons quanto os gigantes, pro-

vando assim, que a água também não era mais forte que a luz. Shirohime, como não detinha

espírito nenhum, ensinou a todos o dom da música. Diante da criação de seus filhos, ódio e o

ciúme tomaram conta de Yamith, queria ele não ter o dom de apenas julgar, destruir e aniquilar.

Queria criar. Sendo assim, ele dialogou com Hikari, e a negativa iminente veio no formato:

"Mantenhamos os nossos trabalhos de criação e destruição. “São as nossas missões, missões

dadas pelo criador de tudo.”. É dessa maneira que a saga continua, e ele pede ao seu filho que o

deixe usar o fogo, e este recusa veementemente: "Nossa mãe não nos permite, e o seu destino

resume-se a destruir”. Como Shirohime não possuía espírito algum, sobra a ele recorrer ao po-

der de persuasão que tem sobre Mizushi. A filha reluta, depois resolve atender ao pedido, e en-

trega a ele a água, já usada e pútrida. Yamith toma a água usada em suas mãos, rouba um pouco

do que sobrou de cada elemento e com isto cria os humanos. Os humanos nasceram frágeis, e

sem habilidades. Não eram fortes como os orcs, não eram habilidosos em magia como os elfos.

Os humanos foram então fadados a escravidão. "Humanos inúteis, servirão apenas para serem

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Memórias de um aprendiz

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nossos escravos, seres inferiores. Não que estejamos esperando que cumpram essa tarefa como

se deve." O criador dos humanos foi tomado por uma intensa fúria, primeiramente, por ter cria-

do uma raça tão desprezível e inútil como aquela, e depois por ver que ela seria subjugada às

outras. Como pôde ele, mais poderoso que seus filhos ter criado algo que não nascera com ne-

nhum dom? Na verdade, ele não percebera que também tinha o poder de criar. Porém, até a sua

criação era voltada para o ato de destruir. Da sua fúria por ter dado vida as chamadas “coisas

desprezíveis” surgiram os titãs, que eram seres elementais gigantescos. Seres que começaram a

destruir tudo. Os gigantes travaram muitas batalhas com os titãs, mas somente com a ajuda dos

deuses conseguiram obter vitórias expressivas sobre aqueles seres de destruição massiva. E

agora lhe conto mais um dos incontáveis paradoxos existentes nesse universo. Como sempre

existem exceções, existia algo bom no grande mal representado pelos titãs: alguns poucos eram

bons, ou tornaram-se assim com o tempo. E um titã da terra estava entre eles... se chamava Gai-

atos. Nos domínios desse titã, debaixo de seus pés e seus cuidados, nascia uma nova raça: os

anões. Os anões eram inteligentes, e usaram o subsolo como fonte de sustento, sendo acolhidos

depois pelos gigantes e os ajudando em construções, invenções e metalurgia. "

–Uau... A história é maior do que pensei... – Comenta a garota.

2.3- A arrogância dos gigantes, a insolência de Mizushi e o nascimento dos dragões

– A historia é algo em crescimento contínuo... Vamos recapitular para o melhor entendimento

caso você não tenha entendido bem. Um ser superior de mais para ser definido ou nomeado

criou tudo, Yamith e Hikari deram origem aos três deuses, Hikari aos Gigantes, os deuses meno-

res aos Orcs e Elfos, Yamith aos Humanos e Titãs, e do domínio dos Titãs surgiram os Anões.

Tudo bem até aqui?

– Sim, eu acho. Continue

“Os anos se passaram, e os gigantes se fortaleciam. Viviam por tanto tempo que até pare-

ciam ser imortais... essa mentalidade acabou fechando seus corações. “Somos fortes, habilidosos

e praticamente imortais. Porque temos de nos submeter aos deuses? Eles não têm o direito de

estar em um suntuoso palácio nas alturas!”“. Essa, com a mais absoluta certeza, foi a maior

tolice que a sagaz mente dos gigantes poderia pensar. Os gigantes declararam guerra aos deuses,

e começaram a ser dizimados por Yamith. Hikari teve compaixão de suas criaturas, e impediu a

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Memórias de um aprendiz

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perseguição de Yamith. "Apesar de terem cometido o pecado de saírem do devido lugar, são

nossos filhos... deixe-os viver." Yamith atendeu ao pedido, já que não podia superar Hika-

ri(ambos era do mesmo nível) e a deusa escondeu os gigantes que sobreviveram em um lugar

onde o deus da destruição não os alcançou. A grande perda de todos os gigantes ensinou-os que

mesmo que algo cresça, chega a um determinado limite, onde para de crescer. Aliás, não só a

eles, isto serviu de exemplo para as outras raças. A única a não apoiar a atitude foi Mizushi.

Enciumada com o carinho demasiado pelas criaturas, Mizushi se revolta, escondendo-se no

submundo.

De alguma maneira, Mizushi havia conseguido atrair e seduzir seu pai antes de esconder-

se, e de Yamith e Mizushi nasceram os filhos do ódio, os poderosos e orgulhosos dragões. Ati-

tude reprovável para os seus irmãos, para sua mãe, para seu pai. Como castigo, Mizushi é tran-

cada no submundo para sempre. Seu ódio e lamentos trouxeram à vida todas as criaturas das

trevas conhecidas e desconhecidas. Os filhos de Mizushi começaram a causar o caos na terra e

depois formaram um poderoso exército liderado pela própria Mizushi, de dentro do submundo.

O exército dos dragões de Mizushi subiu à morada dos deuses, e uma dura batalha começou.

Uma lendária batalha entre panteão e dragões. Muitos dos filhos de Mizushi foram extermina-

dos. Alguns fugiram, alguns se renderam, poucos mudaram de lado, e três foram aprisionados

junto com sua mãe: Ayenth, o primogênito, Loth e seu filho Pyth. Dizem que foi um ato de

compaixão, outros falam que os três dragões eram muito poderosos e feriram os deuses o sufici-

ente para que eles não pudessem persegui-los, ou que foi uma espécie de trégua. Os que fugiram

se mantêm escondidos, esperando um novo chamado de sua mãe. Alguns poucos se comprome-

teram a proteger os deuses e suas criaturas. E assim os gigantes e dragões "desapareceram" da

terra. Com a prisão de Mizushi o espírito da água ficou sem um tutor. Tristeza e solidão levaram

o espírito abandonado a provocar o caos: muitas catástrofes, maremotos e tsunamis se seguiram.

Para conter o espírito, Hikari elege sua filha mais nova:, Shirohime. Até então triste por não ter

elementos em sua posse, apenas a música, agora sentiu a pura essência do medo, pois teria agora

uma responsabilidade dupla. O medo a fez fugir e se esconder, enquanto o caos tomava forma e

conta do mundo. Sua mãe após achá-la lotada de medo, indaga: "Ora, por que temer algo bom

como a água? A água é poderosa, assim como qualquer outro elemento bem usado". Na verda-

de, o que ela temia era ser mais importante que o irmão, mas acaba entendendo o propósito da-

quilo antes que sua mãe a explique. "Meu irmão já possui o fogo, e meus pais, as enormes res-

ponsabilidades de criar e destruir. Então isso é algo que no momento apenas eu posso fazer...".

Com essa mentalidade, Shirohime assume o controle das águas. Graças a esse pensamento a paz

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Memórias de um aprendiz

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retorna ao mundo. Pequenas decisões podem realmente mudar tudo. Após esses acontecidos, os

deuses resolvem interferir o mínimo possível, e resumem-se a observar o mundo. Sem as pre-

senças dos deuses e dos gigantes, as quatro raças restantes começaram a reconstruir seus mun-

dos dentro daquela esfera, daquele mundo. "

– Essa história vai até os dias atuais?

– A história é um resumo dos fatos mais importantes até a nossa situação atual da sacer-

dotisa. Contar os detalhes em sua totalidade até os nossos dias levaria um tempo maior do que o

tempo gasto para a história ser feita.

2.4- Os dois reinos, a árvore e a horda

–Entendo. Continue.

– “Os humanos se instalaram na costa leste, aproximadamente na metade do continente.

Humanos nasceram frágeis (ainda nascem frágeis), mas dotados da capacidade de aprender e

evoluir. É essa capacidade que os tornaram realmente humanos, e que os fez evoluir até o estado

de hoje. Os anões se instalaram perto dos humanos, e os dois reinos acabaram se fundindo e

formando o reino de Montris, e as duas línguas acabaram se misturando, formando a língua dos

armeiros, falada por aqui. Um língua onde todos se entendiam. Os elfos diziam ser superiores

em magia, inteligência e ciência [realmente eram na época, pois sempre foram os mais próximos

dos gigantes], e se instalaram nas florestas do sul, depois tomaram para si a responsabilidade de

proteger Yggdrasil, a árvore da vida, cujo cimo [dizem as lendas] toca e sustenta as moradas dos

deuses, e cujas raízes são tão profundas que atingem o submundo. Dizem que a árvore protege

todo aquele continente. Os orcs se julgaram mais fortes que as outras raças e foram se instalar

na outra costa, perto da parte de cima, onde era frio. Lá desenvolveram sua arte da guerra e cria-

ram um exército numeroso. Existem histórias interessantes sobre essas raças, que de certa forma

se interligam.”

– O ancião contou essas histórias? O que ainda tens a me contar?

– O ancião deve ter contado muitas histórias e essa continua assim...

2.5- Guerra e calmaria, pacto e caos.

“Os orcs aumentaram seu exército... e a horda, como ficou conhecido o exército do mal,

planejou expandir seu território, atacando os elfos. Estes, por sua vez, pediram ajuda aos huma-

nos. "A raça inferior tem grande número e possibilidade de aprender magia e manejo de armas,

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Memórias de um aprendiz

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serão de relativa utilidade." Assim os humanos começaram a servir o rei dos elfos. Já os anões,

grandes comerciantes, não ficaram de nenhum lado, apenas negociaram. Com ambos, é claro (o

que talvez lhes rendeu a fama de trapaceiros por muitos anos. A tal fama agora é de goblins e

gnomos). Após anos de guerra, os anões ameaçados e acusados de traição se juntaram ao enor-

me exército de humanos e elfos, assim a aliança de humanos, elfos e anões venceu a horda... era

a calmaria antes da tempestade."

– Ora, continue...o que foi a tempestade?

– Também se interessa por tempestades? Bem, espero que esteja lembrada sobre a promessa de

proteção dos elfos.

“Havia uma ramificação de elfos, os elfos marrons (também eram chamados de elfos es-

curos, se não me falha a memória.). Ao contrário dos outros, eles viviam mais isolados, e eram

discriminados. Não por serem necessariamente marrons ou diferentes, e sim por que a grande

maioria se recusava a manter a promessa de proteger Yggdrasil, além de não aprovarem a alian-

ça com humanos e anões. "Não fomos consultados em tais assuntos, então, nós, elfos excluídos,

não manteremos promessas nem alianças que foram feitas por elfos da floresta". No meio da

revolta, um mago humano vai encontrar-se com o rei dos elfos marrons: "Ó grande rei dos elfos,

soube de sua situação, e venho oferecer-te algo de grande ajuda". A "ajuda" seria ensinar a anti-

ga e proibida magia negra aos elfos marrons. A grande maioria aceita, alguns se escondem. Os

elfos agora habilidosos em magia negra agora buscam aniquilar os elfos da floresta e os huma-

nos. O mago maléfico também tinha outro objetivo: destruir Yggdrasil. Para isso, os magos

elfos mais poderosos e o mago humano conjuravam uma poderosa magia que começara a apo-

drecer aos poucos a árvore antiga. Acreditavam eles que as raízes de Yggdrasil prendiam Mizu-

shi, e o mago queria trazer a terra novamente o terror e o caos, libertando-a. Como a guerra civil

dos elfos acabou por envolver um dos deuses, os outros não poderiam ficar parados. E com a

benção divina, surgiram guerreiros usuários de poderes sagrados: assim apareceram os paladi-

nos. "

– O ancião parava a historia na metade como você?

– Provavelmente, sim. Ele também era velho, afinal das contas.

2.6 – Eldonis, Keltur e a foice.

“Os paladinos vieram combater o mal e coube a um deles impedir que Yggdrasil fosse

destruída: o mais poderoso paladino já visto, Eldonis. E o mago supera as expectativas de todos,

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Memórias de um aprendiz

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pois materializa uma foice de um deus da morte, a lendária Foice de Tuurem. Usando ela e sua

magia, invoca uma legião de mortos vivos: os Cavaleiros da morte. E o paladino, brilhando

como uma estrela começa a atravessar a legião do mal. Existe até uma lendária piadinha (muito

infame, por sinal) sobre o brilho dos paladinos... algo como "O paladino estava totalmente i-

merso no mal, e brilhava como o sol... Seu fiel escudeiro lhe pergunta: "Sir, por que estás bri-

lhando de tal forma?" e o paladino responde: “– Onde está presente o mal é necessária a presen-

ça de uma luz forte o suficiente para ofuscar as trevas. Espero que o inimigo não seja cego.”

Mas, são informações relativamente inúteis, relevantes e fúteis. Para a salvação do reino de

Montris, aparece uma ajuda inesperada. O paladino estava ocupado com o exército do mago

portador da foice. O plano maligno estava de acordo com o esperado: as forças de oposição

sobre controle enquanto os magos elfos escuros conjuravam a magia. "Onde esta a tal ajuda

inesperada?" vocês devem estar se perguntando. Bem, ela não é tão pontual, mas quando tudo

realmente parecia perdido e o paladino achava que não podia mais cumprir seu destino, ouve-se

apenas um grito interrompido (e uma conjuração de magia também): o rei dos elfos escuros

havia sido decapitado. Talvez nem mesmo ele esperasse algo como isso no pior de seus sonhos.

Keltur, o general chefe dos orcs aparecera repentinamente e cortara fora a cabeça do rei com o

seu machado duplo de guerra. Eldonis aproveita a abertura causada pelo choque e fere mortal-

mente o mago das trevas, porém o reflexo do mago era relativamente rápido, e a foice amaldi-

çoada também atinge o paladino. Parte da aristocracia élfica é tomada pelo desespero e foge

floresta obscura adentro, outros morrem com orgulho, e os alienados ao bem indagam o orc:

"Por que os orgulhosos orcs envolveram-se nisso?" e Keltur respondeu, enquanto limpava o

sangue de seu machado: "Odiamos vocês, raças inferiores, não negaremos tal. Por isso mesmo

não poderíamos deixar um elfo destruir o mundo inteiro e a eles mesmos por ambições idiotas.

Nós mataremos vocês. Só viemos aqui por uma ordem direta do grande Kagutsuchi, grande

senhor do fogo." No entanto, não era a única missão incumbida ao orc: a segunda era enviar o

sinal para o início da invasão da horda. De alguma forma (quem sabe mais uma intervenção

divina?) Eldonis prevê o plano, e rapidamente tira a foice de seu corpo, partindo pra cima com

ela na intenção de destruir Keltur. A batalha daqueles dois guerreiros épicos foi a mais intensa

já vista dentro da história dos habitantes daquele lugar. Talvez apenas os deuses consigam lutar

com mais intensidade... Após uma ardilosa e grandiosa batalha, Eldonis consegue matar Keltur,

por pouquíssimos detalhes. Um outro detalhe até agora não mencionado é que aquela foice era

uma maldição que havia tomado conta do mago desconhecido e feito ele fazer o que fez. Um

outro detalhe é que agora o paladino havia sido infectado pela mesma maldição ao ser ferido e

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segurar a mesma foice."

–Interessante... como se desenrolou a maldição?

2.7 – O nascimento do Darklord, os continentes, algo a respeito.

–"Eldonis sabia que o mal começara a tomar conta de seu corpo, e enquanto ainda tinha

consciência de seus atos, faz uma longa travessia, indo para a parte mais gélida do continente, o

norte. Tu me perguntas o porquê disso se atualmente a parte gelada se situa ao sul, correto?

Simples: o sul é o norte. Sempre foi, sempre será. Eldonis planejava se autodestruir longe de

todos, porém a demora na execução do plano foi a verdadeira causa de sua destruição: a Foice

de Tuurem corrompeu Eldonis mais cedo do que ele esperava. A foice se tornara um machado

de cabo longo, sua armadura se tornara negra como a escuridão, seus poderes agora eram ini-

magináveis, e seu nome passara a ser "Rag-Finnaros, the Darklord": ele virara um Cavaleiro da

morte. Os planos de Rag-Finnaros eram mais ambiciosos e inteligentes que os do antigo porta-

dor da Foice de Tuurem: o mais poderoso dos Cavaleiros da morte planejava agora subjugar aos

outros com seus poderes e virar o soberano total. Para tal, precisava de tempo, e prevendo a

intervenção da aliança, resolve testar seus poderes com uma complicada magia, que resultou em

seu isolamento: O Darklord divide assim o continente em três partes. Antartia, a porção norte, é

agora território do Darklord. Montris, a porção à direita, dos humanos, dwarfs, elfos e night

elfos (elfos noturnos).Kwarmore, a porção da esquerda, virou morada de orcs e elfos escuros."

– A aliança de humanos e anões fez algo a respeito disso?

2.8- O mago, o soldado e a raposa

–Ah, sim sim... A aliança fez algo a respeito... antes de contar o que, preciso contar quem.

A história do mago, do soldado e da raposa.

–Então, pode começar.

– “Eldonis foi ajudado por eles na guerra contra os elfos escuros. Na época, eles eram

como os três Lordes Imperiais, então merecem ser lembrados (não estou afirmando que outros

não mereçam gratidão, mas prioridades antes de tudo). O mago era o mago mais poderoso do

reino, e ainda é exemplo para todos. Muitos dizem que seu nome é Merlin, porém seu verdadei-

ro nome era Stormael. Ele conseguiu atrasar sozinho a magia que apodrecia Yggdrasil, e depois

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Memórias de um aprendiz

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foi quem a reverteu. O soldado se chamava Dielm Stirp, ele que criou o exército dos sorudiuns,

e aprendeu sozinho todos os macetes em combinar armas e mana. O terceiro, diziam que era a

perfeição em forma de aprendiz. Além de manipular duas espadas e os raios, ele também con-

trolava livremente uma transformação em uma raposa enorme de nove caudas. Poderia facil-

mente virar a tal raposa mística ou invocá-la para lutar a seu lado. Este era Kitsuyoshi. Kitsuyo-

shi, o aprendiz raposa. Estes eram o mago, o soldado e a raposa. Os elfos estavam debilitados

com a guerra civil, e reconstruindo e reforçando a proteção de Yggdrasil. Mesmo com força

total, a decisão seria a mesma: mandar o trio com a missão de selar o Darklord. Você deve estar

se perguntando: “por que selar?”Seria mais prudente destruí-lo de vez em vez de apenas selar

seu corpo, seu espírito ou seus poderes. O problema que o trio enfrentou era o fato de que Rag-

Finnaros era virtualmente invencível: habilidoso em magias, artes proibidas, combate. A única

alternativa que o trio teve foi fechar seus corações, cria uma barreira mística em volta de si e

rumar para o norte, mais exatamente Antartia, o domínio do ex-paladino Eldonis. Mesmo com a

união do time de selamento, divergências surgiram na questão "como ir até ele". Cada um resol-

veu ir a sua maneira: o mago se teleporta diretamente ao local combinado e resolve esperar os

outros dois, que iriam disputar uma corrida até o local. Kitsuyoshi vai usando sua forma de ra-

posa, enquanto Dielm vai montado em seu veículo estranho onde guardava suas espadas.

Rapidamente os dois chegam ao destino, e o mago dá o veredito:

"Empatados, e atrasados. Poderíamos estar terminando se minhas sugestões fossem se-

guidas... espero eu que as escutem essa vez, pode ser a última. Eldonis criou uma barreira em

volta do continente, e está em algum lugar dele congelado. Vocês poderiam romper brutalmente

a barreira, com certa facilidade diria eu. Porém, não temos noção do poder dele, perder o ele-

mento surpresa poderia causa uma falha completa na nossa missão. Agora, escutem e mante-

nham nossa sincronia, assim a estratégia será executada com perfeição. Vamos burlar a barreira

em vez de destruí-la. Abrirei um portal para lá, e um dos dois ou qualquer um entra, usando uma

armadura de mana. De preferência a raposa, que é habituado a fazer invocações. Habilidoso

como é em invocar inúmeras raposas, dois meros humanos não deve ser nada de mais. Os três lá

dentro, procuramos e executamos o plano de selar a o Cavaleiro negro." Eles não sabiam o mo-

tivo do sono de Rag-Finnaros, por isso não arriscaram na possibilidade de ser um sono eterno. O

trio acorda Rag-Finnaros, e se a batalha entre Eldonis e Keltur foi a melhor um contra um da

história, a batalha do trio de selamento contra Rag-Finnaros mostrou o melhor trio em trabalho

de equipe e poder. Há um erro na história original. Nela, enquanto as sacerdotisas oravam aos

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deuses pelo sucesso da missão, o mago e o soldado procuravam criar uma abertura para a raposa

executar o selamento. A oração foi verdadeira, e graças a ela os deuses viram a situação crítica

em que trio se encontrava. O trio criou a abertura para o selamento divino. Rag-Finnaros foi

posto junto de Mizushi. Essa notícia foi recebida pelas sacerdotisas, essa lenda, contada por

muitos. “A verdade se perdeu, assim como nunca mais foram vistos o mago, o soldado e o a-

prendiz.”

– A história finalmente acabou... É, gostei...

– Correto dessa vez... Porém preciso contar mais uma. Uma ultima lenda esquecida com o

tempo...

2.9 – A lenda esquecida

“A paz voltou ao mundo, e assim como tudo que é passado, esta lenda também foi esque-

cida. Diziam as histórias que quatro raças foram criadas. Diriam os deuses “que criaturas equi-

vocadas!”“. Na verdade foram cinco. Todos os deuses teriam se juntado e criado a "perfeição", e

se cada raça representava um elemento, esta seria o quinto elemento... Pois controlava algo a

mais: os raios e os ventos, as luzes e as trevas, que eram os espíritos que ainda guardavam mais

energia, por não terem sido usados. Os deuses temeram que uma criatura tão esbelta e poderosa

se revoltasse contra eles, assim como os gigantes o fizeram. Por causa do medo dos deuses eles

foram isolados em um lugar desconhecido, e foram chamados de os Duraenai, que significa

rejeitado na língua dos deuses. Dizem também que um Duraenai poderoso ajudou a selar um

grande mal conhecido por Rag-Finnaros. Outra história é de que eles andam disfarçados entre os

humanos, avaliando a sociedade deles. Também não se sabe ao certo sua aparência. Considera-

mos o fato de que a "perfeição" ganhou um pouco de cada elemento, então talvez tenha um pou-

co de cada raça ou algo que represente cada elemento. Não se sabe ao certo o que são e para que

vieram. Não sabemos o que exatamente eram, mas graças a eles a tempestade de caos que asso-

lava o mundo se foi. Pobres humanos... Não distinguem as coisas "certas" dos mitos, e se per-

dem facilmente. Outra coisa que deve ser ressaltada: diz a história que o poder especial deles era

justamente poder ter todos os poderes, a capacidade de aprender uma ampla quantidade de ma-

gias. Talvez por isso eles tenham sido isolados. O poder pode trazer a paz e a destruição, a ale-

gria e a solidão, muitas, ou não, pode não trazer nada. Tudo depende de como o portador do

poder o usa. Por terem confiado nos gigantes e terem sido traídos por seu coração que outrora

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Memórias de um aprendiz

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fora bondoso, os deuses perderam a confiança em toda e qualquer criatura. Esse foi o único

motivo pelo qual os Duraenai ganharam um nome com tal significado. Esse nome era o nome

dado a eles pelos deuses, que tinham medo de usar até o nome que eles usavam para se referir a

si próprios. Poucos viram, poucos Duraenai revelaram sua identidade, porém eles não tentaram

se revoltar; continuaram gentis, e há séculos não se vê uma dessas injustiçadas criaturas. “Essa é

a historia dos esquecidos e injustiçados excluídos, os Duraenai.”

– Pobres criaturas... Entendo em parte a dor deles. – Comentou aquele aprendiz após es-

cutar tudo aquilo.

– É, deve ser horrível... – responde a sacerdotisa, agora fitando o aprendiz que mal tirava

os olhos dela para olhar as ilustrações da maga.

– O que o ancião fez após contar a história?

– Sumiu sem que percebêssemos, e a fogueira se apagou.

– Interessante... Por que ainda não anoiteceu?

– Aqui não existem dias e noites definidas... Apenas existe o tempo púrpuro, onde tudo

pode acontecer. "Nome estranho" é o que tu me dirias... Bem, penso eu ser "púrpura" porque

vermelho seria muito quente e azul muito frio. Talvez devido a tudo puder acontecer que te-

nhamos as "quatro estações" dentro do reino.

– Entendo. Sabe... Achei estranho o final da história...

– E o que vais fazer em relação a isso?

– Modificar... Estamos em evolução contínua.

Capítulo 3 – O verdadeiro final é apenas o começo

– Como vai ficar o final?

– Do mesmo jeito... No final acrescento algo como "E eis as criações dos deuses, por ve-

zes modestas a ponto de se dizerem meros animais, por vezes pretensiosas a ponto de crerem ser

os senhores do mundo, a todo o momento inseridos no duelo do bem e do mal e no conceito

metafísico da vida e da morte. Tão pequenos em sua esfera negra agora coloridas por relevos,

tão grandes em seu espírito... em seus lugares na história, no espaço e no tempo, no meio da

uma história que ainda não parou de nos surpreender. Apareceram divergências nas lendas, mas

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os sábios concordariam em dizer que isto não é o fim. Não chega nem a ser o princípio do fim.

Mas é talvez, o fim do princípio. Os fins justificam os meios pelos quais a história se desenrolou

até onde estamos? Se são os deuses, ou os gigantes, ou os humanos, ou elfos, ou orcs, anões,

titãs, ou os Duraenai o ou os possuidores dessa resposta, ou se ao menos existe realmente uma

resposta... temo eu que seja meramente uma esquecida, épica e arcaica informação confidencial.

Sore wa dake.”

– Realmente muito bom, coisa fofa. As últimas palavras não são de sua língua, pelo que percebi.

– São em japonês. O Japão é algo... Incrível, indescritível... E essa é uma expressão que diz algo

como "então é isso”... Então, é isso o que posso fazer.

– Podes fazer mais... Estás em processo de constante aprendizado e evolução e a um nível rela-

tivamente elevado. Você é a perfeição em forma de aprendiz, e esta foi a melhor forma para um

mero aprendiz encontrar ao acaso e lapidar o fim de algo que não se sabe ser apenas uma lenda

ou a mais pura verdade. Bom trabalho, raposa. – Responde a sacerdotisa, enquanto envolve o

aprendiz em seus braços da forma mais aconchegante possível.

As palavras de reconhecimento, o calor daquela mulher e um abraço aconchegante. Tudo

parecia ter roubado as palavras voltadas a qualquer agradecimento. Resolveu ele apenas se en-

tregar aos braços daquela sacerdotisa élfica de beleza indescritível, mergulhando naquele pro-

fundo sentimento misto de paz, alegria e inquietação. Se sentimentos não podem ser descritos

com precisão por palavras, diria ele que aquela sensação não seria descrita nem pelos sentimen-

tos. Com a sensação sentida pelo surpreendente aprendiz e a benção da grande Sacerdotisa, a

história cresce e continua... O ciclo recomeça, desta vez, será completamente diferente do ante-

rior. A noite finalmente cai sobre o casal e a maga espiã, e o incansável trio se rende ao cansaço,

caindo assim os três em um sono tranquilo e profundo... “Mal sabiam eles que a morte usa uma

poderosa e lendária foice.”

Capítulo 4- O aprendiz e a conselheira

Ouve-se apenas a chuva caindo e a fogueira após aquilo. E a garota já impaciente volta à

sessão de perguntas.

– O que foi isso? A história acaba do nada?

– Não, ela tem realmente começo, meio e fim.

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Memórias de um aprendiz

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– Então, o que houve? Conte-me o que houve depois, e quem demônios eram esses dois

aí, essa sacerdotisa e esse aprendiz...

– Ok. O apren-

– Espere! – Diz a garota. Ela se levanta, e dá a volta por fora dos bancos, talvez assustada

com aquela estranha fogueira ainda. Depois ela faz um sinal para o homem de afastar para uma

das pontas, e deita no mesmo banco que ele está.

– Agora pode contar... Quero ouvir bem o que vai acontecer nessa história aí de sacerdo-

tisa e aprendiz.

– O aprendiz tinha a sua idade, ou por volta disso. E era alguém que graças a conversas e

contatos, descobriu que gostava de escrever... A história começa em um desses contatos com as

palavras... Com uma... conselheira... Era como uma amiga dele que era... mais velha e o aconse-

lhava. O ciclo recomeça desta forma:

“– Conselheira, acho problemático fazer isso... não seria melhor apenas pensar?

– Concordo plenamente, padawan, mas escrever é interessante, é uma forma de “gravar”

os pensamentos.

– Ok, Srta Hitch, começarei exatamente por esse diálogo. E assim o garoto, mais garoto

que nunca, (porém ao mesmo tempo mais homem, física e mentalmente), continua a pensar por

alguns instantes. Por fim, acaba concluindo que deve apenas pensar, para depois escrever e, por

conseguinte, guardar seus pensamentos.

– Padawan? Padawan? Estarei aqui caso precise.

O garoto não a escuta mais, há tempos já havia se perdido em sua mente alienada. E as-

sim começa a trilhar o seu caminho, iniciado em sua mente, e interrompido bruscamente, quan-

do de alguma forma ele cai no chão. Porém, não mais o chão de seu quarto, e sim de um reino

distante. Os meios para tal acontecimento ser possível não importam, afinal, o importante para

um aprendiz é conseguir superar o desafio imposto por seu mestre. O meio pelo qual se conse-

gue depende apenas das habilidades e vontade de cada um.

Capítulo 5- Montris

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Memórias de um aprendiz

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–Onde diabos eu estou?– Pergunta ele, se levantando ainda atordoado com o que aconte-

ceu, e ao mesmo tempo curioso para saber o que o destino lhe reserva.

–No fantasticamente interessante Império de Montris. – Replica a Srta Hitch, após apare-

cer subitamente atrás do curioso garoto. E após recuperar-se do susto, o garoto continua.

– Império de... Montris... Ok... Estou vendo-o, sentindo–o, mas, o que exatamente seria

esse tal império?

– Boa pergunta, padawan.

–Hora do sarcasmo, Hitch?

– É, não é a hora para se fazer isso. Bem, basicamente, aqui é um reino mágico, longín-

quo e distante, ou seja, desconhecido da maioria das pessoas de seu mundo. Já o porquê de es-

tarmos aqui, é outra história. De algum jeito, você nos transportou até aqui.

– Eu? Eu trans... portei?! – Diz ele atordoado, e continua mergulhado em dúvidas e mais

dúvidas que caem como pingos de uma chuva torrencial. E após isso continua. – É o que parece.

Então... Eu nos transportei para este lugar estranho, e vamos... ei, peraí...como você sabe tanto

sobre esse reino?

– Informação confidencial.

– Ótimo... De novo isso. Quando perguntei sobre seu nome você me veio com essa histó-

ria, e eu dei a você esse apelido. Você vai me contar o que diabos está acontecendo por aqui?

– Informação confidencial. – A cada resposta a expressão da conselheira tornava-se mais

séria e preocupante. E mesmo assim o garoto continuava o interrogatório.

– Alienada, problemática e estranha conselheira, que aparece subitamente em minha pre-

sença, realmente não irás me contar nada sobre estes fatos estranhos? – Dessa vez era o garoto

que mantinha a expressão séria, percebendo que a situação não era das melhores, e começando a

ficar preocupado com o que poderia estar acontecendo.

– Informação confidencial. – E desta vez aparece um sorriso no rosto da mulher. Qual se-

ria o motivo disso agora? “O que foi tão engraçado?” Se pergunta o aprendiz.

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Memórias de um aprendiz

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– Ah, dane-se – Responde o garoto com um gesto brusco, talvez mais irritado com o sar-

casmo do que com a falha em conseguir respostas. A moça pega na sua mão e sai puxando o

mesmo em meio a uma rua, onde passando humanos, e luzes. Na verdade, para ser mais especí-

fico, pequenos pontinhos de luz. E o garoto logo percebe que aqueles não são apenas humanos,

e que mesmo os que são não parecem nada comuns.

– Ei, pra onde estamos indo?

– Informação confidencial.

–Ok. Ok... – A essa altura, o garoto parece desistir de indagar, e apenas se deixa ser leva-

do, afinal, mesmo com tanta “informação confidencial”, ele confia na mão que lhe puxa. En-

quanto olha distraidamente, tem um estalo e para subitamente, lembrando também do fato de

que era a única que ele tinha pra lhe ajudar naquele lugar. Neste momento a corrente de pensa-

mentos sobre o que está acontecendo é interrompida por uma lembrança que lhe vem à mente.

– Choveu hoje.

– E...?!

– E a chuva me lembra uma pessoa.

– Quem?

– Alguém importante.

– E o tal “alguém importante” tem nome?

– Informação confidencial. – E o garoto começa a rir, como se cantasse vitória por ter re-

tribuído todas as frustrações recebidas com um único golpe. Apenas ri, também por se lembrar

da tal pessoa.

– E por que ela é tão importante?

– Pelo simples fato de existir. Se ela é a chuva, eu sou a tempestade, e somos insepará-

veis, fazemos estragos imensuráveis quando juntos, e brincamos com o mundo.

– Interessante... Seria crucial e adorável ouvir a continuação dessa sua história com a pes-

soa importante, porém, ainda não é o momento certo.

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Memórias de um aprendiz

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– Onde estamos agora?– Pergunta o padawan, extremamente curioso, observando cada

detalhe da construção que está erguida à sua frente. Uma enorme mansão, tão grande que mais

parece um palácio está diante de seus olhos. Tinha uma arquitetura um pouco antiga a seus o-

lhos, porém era bem conservada. E admirando os detalhes da mansão ele nota que ali há um

fluxo maios dos tais pontinhos de luz que vira antes. Eles entram e saem por qualquer fresta do

lugar.

Capítulo 6 – Namikaze Yumi

– Que estranho...

– Concordo, mas alguém lhe espera ali. Vamos. – Responde Hitch, cortando mais uma

vez os pensamentos do garoto. Os adentram na mansão, passando pelos antigos, e enormes cor-

redores cheios de pontos de luz. E logo de tanta fascinação, ele paralisa com uma visão do lugar.

Eles haviam entrado em uma sala enorme, com o teto e as paredes cheias de ornamentos. Do

outro lado, sentada em um trono, com um vestido tão grande e cheio de detalhes quanto a sala,

uma garota. Também segurava um báculo muito ornado, e tinha aparência jovem. Longos cabe-

los negros, olhos castanho escuros, pele clara. Isso logicamente chama sua atenção, e o garoto

começa a pensar: “Nossa... ela é realmente linda. E parece ter a minha idade, e também parece

ser bem importante, então devo controlar os modos... mas o que diabos são esses benditos ponto

de luz que rodeiam tudo quanto é lugar? Principalmente essa mansão... estão rodeando a, como

se a obedecessem... como se ela mandasse em cada um deles. Quem é ela afinal?” E como sem-

pre, seus milhares de pensamentos são interrompidos por alguém, dessa vez, a garota.

– Sou a Arquiduquesa dos aiodromes Namikaze Yumi, uma dos três Lordes Imperiais de

Montris. – O garoto se ajoelha em sinal de respeito e toma a palavra.

– Perdoe-me então, não tenho conhecimento de sua importância, Grande Arquiduquesa.

Vim aqui, porém não por vontade própria, fui trazido até sua residência por uma conselheira,

uma mulher que parece conhecer este lugar, e... que por algum estranho motivo, acabou de su-

mir... – Diz o garoto, quando nota que a presença de Hitch havia se esvaído como a fumaça se

dissipa a céu aberto. “Ótima hora” deve ter pensado ele.

– Ela tem coisas a fazer.

– Vocês se conhecem?

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Memórias de um aprendiz

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– Esta seria uma informação... Confidencial! – E ela, notando a curiosidade do garoto em

acompanhar as luzinhas, comenta: – Hum... “o que são essas luzinhas”, correto?

– Completamente correto, nobre arquiduquesa. Perdoe-me novamente, pois sou apenas

um aprendiz, um mero vassalo que acabou de chegar sem ter sido anunciado.

– Equivocadas essas últimas palavras, Sir. És também de alto nível, e tão valioso quanto

eu. Diria que é até mais.

– Como assim, Senhorita Arquiduquesa?

–Bem... Temo que vá ser um choque receber uma notícia dessas desse jeito, mas você é o

Lu- – e com um “Não conte minha senhora! Pare!” Uníssono, várias vozes interrompem a no-

bre. Isso assusta o garoto, que pensava estar sozinho na sala com ela. Procurando agora em

qualquer fresta sinal de vida, escuta mais uma das vozes

– Ainda não é a hora, mestra.

“Se apenas a vejo, quem mais está aqui?” Se pergunta o garoto, enquanto olha para osla-

dos com a testa franzida, pensando nas prováveis respostas hipotéticas para a pergunta. Neste

momento, aproxima-se dele um ponto de luz de cor azul-clara, e ao brilhar um pouco mais do

que já brilhava, produz mais uma voz (estranha, porém doce e até bondosa).

– Eu estou aqui, Sir. Aliás, todos nós estamos aqui.

– Entende agora, Sir? Todos nós! – Respondem várias vozes novamente em uníssono, en-

quanto vários dos pontos também brilham mais intensamente.

“O ponto... os pontinhos de luz... falaram.” pensa o garoto, antes de desabar no chão co-

mo um saco de batatas. A Arquiduquesa se levanta do trono e vai até o jovem, porém ao perce-

ber que o jovem estava apenas deitado e olhando para o teto, a garota da nobreza perde por ins-

tantes sua postura.

– Uau, nem desmaiei e já comecei a ver seres angelicais...

– Idiota, achei que estava desmaiado! – E a nobre bate com tudo a ponta de seu báculo

que é apoiada no chão diretamente no abdômen do garoto.

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– Perdão... É que... Eu gosto de olhar o teto ou o céu quando viajo de mais em meus pen-

samentos... – É o que consegue dizer o garoto, em tom baixo e se contorcendo de dor. A nobre,

de braços cruzados e virada de costas para ele, é interrompida em seu breve momento de fúria

por um dos pontos.

– Mestra, recomendo-lhe que continues a audiência e que comece o ritual. Ah, e perdão

sir, nós todos somos aiodromes, prazer.

– Prazer, meu nome é – O recomposto garoto se cala imediatamente ao ver a ponta de ci-

ma do báculo a centímetros de seu rosto.

Capítulo 7 – Omni Raitun

– Esse nome não nos importa. Seu nome é o que eu irei lhe dar, esta é a minha função.

Aqui, ele será o seu nome.

– T-tá... Mas, qual?– E antes da resposta, vem mais uma interrupção do coral de Aiodro-

mes.

– Mestra, mestra, é chegada a hora!

– Exatamente, exatamente, iniciando ritual! – Diz ela sorrindo docemente.

A Arquiduquesa bate com o báculo no chão, e começa a emanar um brilho próprio, como

se fosse uma aura. Um círculo se desenha no chão, contendo várias letras estranhas e incompre-

ensíveis para o garoto. Dessa circunferência, saem cinco linhas distintas, como uma estrela,

cujas pontas formam uma circunferência maior. Nesta circunferência maior agrupam-se os Aio-

dromes, formando assim uma meia esfera, que recobre os dois. O Aiodrome azul de antes se

posiciona acima da cabeça do garoto.

– Ajoelhe-se, ou curve-se, se preferir. – “Você é alto” Pensa ela. E após ele se curvar, ela

estende o báculo acima de sua cabeça e continua: – Eu, a Arquiduquesa dos Aiodromes Nami-

zake Yumi, uma dos três Lordes Imperiais de Montris, neste momento lhe dou o seu nome. A

partir deste momento, seu nome é Omni Raitun.

– Yes, my Lady!

– Agora, alguns presentes que serão indispensáveis, tuntun.

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–Lady, não entendi a motivação de me chamar assim se eu tenho um nome. Ebu bateria

em você agora, se isso não fosse considerado algo tão rude. E o Aiodrome azul responde ao

recém nomeado no lugar da nobre.

– Péssima ideia, Sir Raitun.

– É eu sei... Arquiduquesa, quais são os tais presentes?

– Primeiramente, esse Aiodrome é seu, afinal todos aqui têm o seu próprio Aiodrome.

Você não é exceção.

– E quais as Utilidades de um Aiodrome?

– Basicamente, a comunicação, sir. Temos várias utilidades a mais, porém, aconselho que

deixe para mais tarde o aprofundamento nesse assunto. – Responde o Aiodrome.

– Vou seguir seu conselho, parece que esses aconselhamentos tem alguma utilidade, no

final das contas.

– Agora, hora de dar-lhe vestes apropriadas e dignas. Feche os olhos, tuntun! – Diz a no-

bre, rindo dessa vez.

– Lady, quer mesmo apanhar?

– Oh, não faça isso, por favor...

– Então, não me chame assim se me deu um nome!

– Assim é mais prático, menor, fácil de decorar e também... É bonitinho oras! – É o que

responde Yumi, um pouco sem jeito ao dizer aquilo.

– Em minha opinião, aprendizes não deveriam ser chamados por algo “bonitinho oras!” –

Responde o garoto, imitando a voz da Arquiduquesa na última expressão.

– Então, aqui vai algo em troca, espero que seja equivalente. “E o que seria”, você vai

perguntar, não é? Uma permissão especial. Permito que você me chame apenas de Yumi, sem

obrigações de etiqueta... isso será justo.

- Eu não poderia ser simplesmente chamado pelo nome?

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- Não!

– Considerando isso como um presente sem recusa, eu aceito então. E quantos têm essa

permissão de ser tão diretos com a Yumi?

– Apenas os Lordes, e poucas pessoas de nível equivalente.

– Mestra, por favor, mantenha o foco. – Sim, é novamente um Aiodrome interrompendo o

que seria uma longa e agradável conversa.

– Verdade, foco. Foco... Foco... Hora das vestes. – Após falar isso, Yumi encosta seu bá-

culo em Raitun, que percebe sua roupa se modificando. E agora, finalmente as tais vestes apro-

priadas: Uma calça longa e branca, com um hakama por cima, também branco. (hakama é um

tipo de “calça” japonesa que é colocado por cima da roupa normal, possuía pregas e eram bem

largas, ajudava a dificultar a leitura dos pés em uma luta, era muito usada por samurais.) Uma

camisa acinzentada, que aparece pouco, pois há por cima dela um, sobretudo branco, com uma

letra ômega maiúscula (Ω) inscrita na parte das costas, tomando as quase por completo. O so-

bretudo era longo, tanto nas mangas, compridas e largas, encobrindo suas mãos (agora revesti-

das por luvas pretas), como em comprimento, descendo até um pouco depois do joelho, onde

parecia ter um efeito de rasgado/desfiado. Para segurar a calça e o hakama, ou talvez apenas

para compor, uma faixa preta. Também usava botas agora, quase que totalmente escondidas

pelo hakama (era pra isso que o hakama servia principalmente) e que eram pretas.

O garoto se olha, como se não reconhecesse mais, e exclama: – Incrível!

– E agora, o principal.

Capítulo 8 – Cumulus Nimbus

– O que é “principal” pra vir antes de um nome?

– Uma alma, é claro...

– Como assim?

– É melhor que eu lhe mostre. Presumo que goste de espadas, não? Vocês homens ado-

ram espadas! Aquele homem, principalmente e... vamos lá! – Antes de dar chance de resposta,

Yumi movimenta seu báculo, e “puff”, espadas de vários tamanhos e modelos aparecem por

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todos os lados da sala. Flutuando, pelo chão, nas paredes... A grande sala vazia agora era mais

parecida com um salão de armas.

– Devo escolher uma delas?

– Não, elas que irão lhe escolher. Sente algo diferente vindo de alguma espada?

– Hum... Ainda não. O que eu deveria sentir?

- A alma das espadas. Concentre-se.

- Bem, talvez se... – Raitun fecha os olhos, estendendo os braços, e se concentrando. Nes-

sa posição começa a ouvir duas vozes sussurrantes que dizem: “Liberte-me... liberte-me...”

– Duas vozes me chamando... Parecem vir das espadas... É algo desse tipo?

– Duas?!

- Sim, duas.

- Isso é estranho...

- É?

- Duas... Nada comum. Chame-as até você.

– Vozes desconhecidas, peço-lhes que venham até mim! Não posso afirmar que posso

cumprir vosso desejo. Atrapalhado como sou, irei tentar!– Ele sente duas presenças se aproxi-

mando, mais perto, mais perto. Após isso, ele se vê com uma espada em cada mão. As duas o

escolheram. Apesar de iguais, lhe passavam diferentes sensações, são iguais por foras, mas no

fundo eram duas espadas diferentes. “Cumulus Nimbus, as katanas gêmeas de fio negro... úni-

cas. Ele é mesmo diferente..” é o que pensa Yumi naquele momento.

– Agora sua iniciação está terminada. – Diz a Arquiduquesa com um sorriso.

– Finalmente, padawan tuntun! – O garoto além de ter se assustado, se irritara com a dona

daquela voz, e se vira rapidamente desferindo uma espadada na mesma, que se esquiva sem

maiores dificuldades.

– Maldição, não me chame assim Hitch. E não apareça assim do nada!

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– Que seja... Mas a Cumulus e a Nimbus não te escolheram para acabarem como brin-

quedo.

– Cumulus e Nimbus... Elas me falaram sobre. Sabe, elas também me lembram a chuva.

– E...?! – dessa vez era a Arquiduquesa indagando.

– E a chuva me lembra alguém.

– E lá vai ele lembrar de novo disso... “Ela”... – Comenta Hitch

– Quem é “Ela”?– Pergunta Yumi

– Ela é a chuva, e eu a tempestade, somos inseparáveis, fazendo estragos imensuráveis.

Sempre juntos, rindo dos humanos. Talvez um par perfeito, brincando com a humanidade tão

saturada de defeitos. – E em meio a essas palavras, Raitun apenas sorriu como não havia feito

até aquele momento dentro do tal reino mágico. Deitou–se no chão após isso, fechando os olhos

e saboreando a felicidade.

“Pirralho, quer saber mais sobre nós?” Diziam as espadas, interrompendo seu transe. A-

penas ele podia escutá-las, Era como escutar seus pensamentos, era como se elas estivessem

agora dentro dele. O garoto responde um “sim” mentalmente, porém como um círculo vicioso

sempre se repete tudo conspira para que haja uma quebra de pensamentos no aprendiz. O empe-

cilho da vez eram as portas do salão onde estavam se abrindo, revelando um velho homem, com

uma capa roxa que lhe cobria por inteiro.

– Pontual como sempre... – Comenta Hitch.

Capítulo 9 – Otellus

– De fato, pontualidade é algo imprescindível, principalmente se tratando de um profes-

sor. – Responde ele (o que entra) cordialmente.

– Ainda mais se tratando de Otellus, o mais sábio dentro os Rikies. – A cada fragmento

do diálogo o ancião se aproximava. Raitun se levanta, guardando suas espadas em duas bainhas

que misteriosamente se materializaram no meio do diálogo entre os três (“Como?” é Informação

confidencial).

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– Quem és tu, ancião?– Pergunta o aprendiz

E este responde: – Que rude. Que petulância. Sua única função no momento é tentar me

dar respostas corretas, entendido? Vamos começar com... “Quem/O que é você?”

– Sou apenas um jovem aprendiz da vida.

– Da vida... Interessante. Ela é se não a melhor, uma das melhores, uma excelente profes-

sora. O fato lamentável é ela matar seus alunos. Nunca saberemos em que instante ela o fará.

Sou o mais antigo dos Rikies. Estes ensinam os Lupos, que são os devem ser chamados no seu

mundo de professores. Então, sendo eu o mais antigo dos Rikies, e você um mero aprendiz,

conclui-se que...?

– Que ou você veio fazer uma simples visita à Arquiduquesa, ou veio para me ensinar al-

go. Pergunto-me como soube das notícias.

–Bom uso do lógico. Eu devo estar lhe subestimando. – O aprendiz após o comentário do

ancião, percebeu algo interessante: ele também tinha um Aiodrome. As espadas gêmeas também

lhe parabenizam: “Boa percepção. Ele soube graças à habilidade dos Aiodromes em se comuni-

car. Alguma mensagem provavelmente enviada pela Hitch ou pela Yumi. Não sabemos ao certo

o que, mas tem algo acontecendo aqui. Prepare-se”

–Pergunto-me agora por qual dos motivos se encontra aqui.

– Considere o fato de que a Arquiduquesa é... Digamos um pouco calada e antissocial. –

“E não apenas ela pelo visto, parece ser a nova tendência jovem” pensa o ancião.

Capítulo 10 – O primeiro Ataque

– Então, qual ensinamento me trazes?

– Qual não, quais. Muitos por sinal... E o primordial é a essência da frase “Conhecimento

é poder”.

- Qual o problema com a essência dessa frase?

- Nenhum. Mas você precisa entender que a essência é verídica.

– Como pretende me provar a veracidade dessa frase?

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Memórias de um aprendiz

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– Ataque-me e terá a sua prova.

– Não compreendo... Farei, espero que não o acerte acidentalmente.

– Não se contenha. – O garoto atende ao pedido, e sacando a Nimbus, investe furiosa-

mente contra o ancião. Este não demonstra nenhum movimento ou esboço de defesa. Quando a

lâmina está prestes a o atingir, ele simplesmente murmura palavras rápidas e ininteligíveis. Uma

esfera invisível toma forma em volta de Otellus, como um campo de força. Além de proteger o

Rikie, lança o padawan para trás com grande violência. O garoto praticamente voa por alguns

metros, caindo com as costas no chão. E já não bastasse o ancião tê-lo feito voar para trás ape-

nas com palavras, certa espada de fio negro e nome de nuvem quase atravessa sua cabeça, po-

rém ele a segura entre as palmas das mãos antes que tal fatalidade ocorra. Após certo tempo

paralisado por quase ter morrido no primeiro contra-ataque, ele se recompõe e puxa a segunda

espada.

– Vamos, use seu conhecimento, ele é poder. – Mal terminara de falar e já estava se pre-

parando para a próxima defesa, por que a ira do garoto fez com que ele aprendesse uma nova

habilidade. Além de ter invocado algumas pequenas raposas (que pareciam ter se materializado

a partir de nuvens que apareceram no chão do local), seus olhos agora eram idênticos aos de

uma raposa. O aprendiz começa a rosnar e se põe em posição de ataque.

Vocês devem estar se perguntando como um garoto aparentemente normal que acabou de

receber espadas pode fazer tudo isso, correto? Nem ele nem os outros, de olhos atentos e arrega-

lados, sabiam a resposta. Se perguntou em um momento “como iria atacar”, as espadas respon-

deram que era só seguir o caminho da tempestade, e quando menos percebeu, ele estava fazendo

o que estava fazendo. Não dominava muito menos entendia aquilo, mas parecia estranhamente

acostumado, como se já tivesse feito aquilo tudo há muito tempo atrás.

–Raitun! Continue lutando! – Grita Yumi

– Bravo! Bravo! Continue tentando até entender! – Diz o ancião. Enquanto falava se des-

viava das investida, terminando mais uma rodada com a mesma técnica da barreira que usou

antes. “Ele aprende rápido demais...” Pensa o ancião, e após mais investidas sem efeito Raitun

percebe algo: Quando duas raposas foram lançadas para trás e a terceira atacou, esta última ul-

trapassou a barreira e forçou Otellus a desvia. Abrindo um sorriso, e girando as espadas (as gê-

meas sorriram junto com ele) pra voltar à posição de ataque, Raitun pergunta: – De novo?

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Memórias de um aprendiz

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– Sim, sim. Espero que seja a última vez. Isso se torna cansativo após certo tempo.

O garoto usa toda a força que possui e lança as duas espadas no ancião, como se atirasse

duas lanças. Em conjunto com uma das raposas, isso obriga Otellus a repelir o ataque. Neste

momento, as duas raposas restantes imobilizam os pés do ancião, e o aprendiz segura com uma

mão o capuz do inimigo. A mão livre desce como um ataque, em forma de garra. Ao encostar-se

ao alvo, ainda faz com que suas unhas cresçam instantaneamente, como garras gigantes de um

predador em sua presa. Infelizmente, foi um ataque inútil. Raitun se dá conta que possuía apenas

o capuz entre suas unhas, e uma nuvem de fumaça havia saído de dentro dele rapidamente, to-

mando a forma do sábio quando chega ao lado da Arquiduquesa. Esta por sinal estava assistindo

com muita apreensão e ansiedade à luta. Raitun olha novamente o ancião, e vê que este estava

com seu capuz, rapidamente torna a olhar sua mão, e percebe que este realmente não estava

mais entre suas unhas. Ele guarda na memória a estranha habilidade de “virar fumaça” e as ou-

tras informações adquiridas na luta: suas habilidades e as do inimigo, o que aconteceu e como

ele conseguiu atacar. Apesar de não entender tudo o que aconteceu, percebeu que de alguma

forma, ele podia fazer muita coisa, e que outros poderiam fazer muito mais coisas que ele. Que-

ria entender e aprender mais sobre aquelas coisas.

– Muito bom. Diria até que foi surpreendente. – Comenta Otellus.

– Acho que ele deveria começar aperfeiçoando a habilidade com as espadas.

– Boa colocação, Srta Arquiduquesa. Estou de acordo. Então, essa foi a primeira lição...

Caso surjam dúvidas futuras, estarei a lhe esperar na esquina dos ventos. – Novamente o ancião

se transfigura em fumaça, dessa vez de forma mais lenta, e a fumaça apenas se dissipa, como

uma fumaça qualquer. A presença que o aprendiz sentia do ancião faz o mesmo. Após isso Rai-

tun guarda suas espadas e seus olhos voltam a ser olhos de um humano comum.

Capítulo 11 – A raposa e o aprendiz

– Ele se esqueceu de explicar onde fica a tal esquina dos ventos.

– O próprio vento lhe dirá onde ele faz a curva. – Responde Yumi.

– E o que me sugere sobre “aperfeiçoar a habilidade com as espadas”?

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Memórias de um aprendiz

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– Nós três – ela incluiu a Hitch na contagem – iremos providenciar isso, mas antes disso

você precisa de uma montaria.

– E como devo proceder pra conseguir uma?

– Você já tem uma... Caro familiar, requisito a sua presença! – Responde a Arquiduquesa.

Após as últimas palavras uma luz começa a brilhar atrás dela, e a luz toma a forma de um uni-

córnio rosa, com patas e crina flamejantes. A Srta Hitch repete a expressão, e em meio a um

redemoinho de penas aparecido do nada sai um pássaro de penas roxas, da altura do cavalo. O

aprendiz entende o esquema, e recebe uma dica das espadas antes que pronuncie algo. “Não

chame como um humano comum. Chame como uma raposa.” O aprendiz não entende bem o

que é “chamar como uma raposa”, mas acaba revelando novamente seus olhos de raposa, e diz:

– Nobre familiar, requisito a sua presença!

Chamar como uma raposa não deve trazer um mero cavalo. E não trouxe. Uma forte raja-

da de vento invade o lugar, obrigando todos a fecharem seus olhos. O aprendiz sente escuta uma

respiração a mais, e próxima a ele. Ao olhar pra cima, um focinho. Atrás dele, uma raposa bran-

ca, um pouco maior que o unicórnio.

– Há quanto tempo, Arquiduquesa. Quem me chamou? – Diz a raposa em alto e bom

som, para o espanto do aprendiz. Um unicórnio, um pássaro gigante, e agora uma raposa branca

que mais lembrava um lobo gigantesco. “As surpresas não param de aparecer” pensa ele.

– Fui eu quem chamou. Você tem nome?

– ... Você? – respondeu a raposa em tom incrédulo - Hm... então foi realmente você... Me

chame de Kitsu.

– Sem tempo para confraternizações de raposas, devemos nos apressar – Diz Hitch.

– Yes, my Lady. – Respondem os dois juntos.

– Vocês ainda estão conversando? – Diz Yumi, já irritada com a demora dos preparativos.

Raitun e Hitch montam (Yumi já estava montada) e ele vai seguindo as duas. Após saírem das

propriedades da Arquiduquesa as duas saem em disparada, como que apostando corrida. E o

aprendiz abre um sorriso, segurando-se mais forte em Kitsu. Eles mal se conheceram, mas pare-

ciam se entender de alguma forma, afinal, eram uma raposa, e um aprendiz meio raposa. E os

dois rapidamente as alcançam. Saem correndo os três em meio àquele reino de luzes e criaturas

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Memórias de um aprendiz

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estranhas. Saindo da cidade principal, continuam correndo por um campo, tudo passando absur-

damente rápido por eles... Ou eles passando absurdamente rápido por tudo, se preferir assim. A

Arquiduquesa vai à frente, e lado a lado vão Hitch e Raitun, um pouco atrás. Raitun sentiu algo

estranho. O clima do lugar mudou rapidamente, e as raposas são peritas em pressentir o perigo.

Capítulo 12 – Luminus

– Mesmo que alguém morra, não saiam da formação. – Adverte Yumi, exatamente quan-

do três nuvens negras rapidamente tomam a forma de três homens de capuz preto, usando más-

caras que lembravam lobos.

– Pergunta: a ordem ainda está em vigor? – Pergunta o jovem aprendiz, sentindo o vento

passar, preparando se para sacar sua espada.

– Em situações adversas, a única ordem completamente válida é improvisar. – Retruca a

Arquiduquesa, abrindo sua mão direita. Na mão direita de Yumi seu báculo se materializa len-

tamente, das pontas para o meio. Apesar dos dois estarem com armas em mãos, quem faz o pri-

meiro movimento é Hitch, puxando da manga uma varinha de cor roxa, bem trabalhada.

– Baku-hatsu! – Diz ela, em alto e bom som. O chão em frente a um dos inimigos explode

violentamente, e isso acaba servindo de distração para os outros fazerem seus movimentos. A-

proveitando a poeira suspensa que atrapalhava a visão dos inimigos, Yumi envia incontáveis

Aiodromes para cercarem o lugar. E Raitun que havia fechado os olhos por alguns instantes,

abre-os lentamente, com as pupilas verticais, íris amarelas. Olhos de raposa, preparativos termi-

nados. “Modo de combate?” Perguntam suas lâminas. “Algo assim” ele responde, antes de pular

no meio do cerco de Aiodromes, ainda montado na raposa. Raitun pula de Kitsu diretamente no

inimigo que havia sido atacado com a magia da explosão. Este movimenta sua mão, dando a

entender que vai atacar com algum estilo de luta desarmada, e o golpe seria efetivo, mas uma

barreira de Aiodromes aparece entre o aprendiz e o inimigo, que é capturado pelos servos da

Arquiduquesa. Raitun voa um pouco para trás, enquanto as outras duas assistem como ele irá se

sair. Antes mesmo que possa pensar em algo, outro do trio de inimigos mira sua cabeça, atacan-

do-o com um martelo de duas mãos, a força do golpe é tanta que o aprendiz é levado ao chão,

porém cruzado as espadas em forma de x ele consegue absorver o golpe. Sem defesa, este ini-

migo é atacado pela raposa, que pula vorazmente em cima deste, imobilizando-o com as patas.

O martelo havia ficado no lugar, e o aprendiz o lança no terceiro inimigo, que puxa uma varinha

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Memórias de um aprendiz

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e explode a arma apenas apontando para ela. Antes que pudesse usar a próxima magia do reper-

tório, um raio vindo da varinha de Hitch atira sua varinha para longe. O aprendiz aproveita a

brecha, e antes que o inimigo esboce reações Raitun rapidamente se movimenta e deixa-o sem

ter caminhos para andar. Se ele se movesse teria a cabeça arrancada por duas espadas. Por fim,

todos os três acabam sendo imobilizados pelos Aiodromes. Após certo tempo esperando ali,

chega uma tropa de soldados do reino: os sorudiuns. Os sorudiuns levam os inimigos mascara-

dos para um interrogatório. O grupo anda para baixo de uma árvore ali perto, e o aprendiz se

deita por lá mesmo, usando a pata da raposa como travesseiro.

– Quem eram aqueles?

– Luminus, um clã renegado que planeja trazer as trevas para esse reino.

- Curioso... Ser um clã que deseja trazer as trevas e se chamar “Luminus”.

- Curioso de mais.

Ao falar aquelas palavras, a expressão de preocupada volta, e dessa vez está presente no

rosto das duas. Yumi se vira para Raitun um instante depois, sorrindo e diz.

– Mas não iremos deixar, não é tuntun?

– É... Assim espero. Espero também que você pare com isso algum dia.

– E eu espero que você pare de ser idiota desde que te conheço. A propósito, isso é seu.

Você deve estar cheio de pensamentos que quer guardar, não? – Comenta Hitch, entregando-lhe

o caderno de antes.

Capítulo 13 – Os personagens em um caderno

– Hitch, poderia emprestar sua varinha por alguns momentos?

– Por que deveria?

– Empreste-me logo, não vou correr com ela. – A conselheira entrega a varinha e o grupo

se abriga embaixo de uma árvore próxima. Ele apenas passa o objeto na lateral do livro, que

começa aos poucos a mudar de forma. Aparece um desenho que lembra um olho na capa, e al-

gumas palavras ilegíveis para as duas, e para outros muitos. Não é uma escrita que possa ser lida

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Memórias de um aprendiz

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por qualquer um. Após isso ele entrega a varinha de volta, se recosta mais na raposa, puxa uma

pena do pássaro de Hitch e começa a escrever, descrevendo o que havia acontecido até então.

Acabou descrevendo também a si e aos outros, mais ou menos dessa forma: “Hitch aparentava

ter 22 anos, porém tinha um pouco mais, e logicamente, não revela a idade. Com 1,62m de altu-

ra e algo em torno de 60 kg (ninguém revela nada preciso aqui), está é Hitch. Olhos castanho-

escuros, boca pequena e delicada, cabelos negros, levemente encaracolados. Uma amiga e con-

selheira fiel, quem provocou a história a acontecer. Yumi (Namikaze Yumi, Arquiduquesa dos

Aiodromes e uma dos três Lordes Imperiais de Montris) nos deixa maravilhados com sua pre-

sença, mas também pode ser descrita. Yumi é aparentemente da idade do garoto, apesar de pare-

cer mais experiente. Tem olhos castanho-claros, e cabelos castanho escuros, ondulados, com o

dobro do tamanho dos de Hitch (que passavam por pouco dos ombros), pele branca, tanto quan-

to a de Hitch, boca e nariz pequenos. Parece ser extremamente cuidadosa com todos, e evitando

ao máximo atacar ou ferir alguém, mesmo que seja um inimigo. Sempre com um (ou mais) Aio-

drome(s) junto de si, afinal, eles são seus servos. Aliando isso ao apego por coisas fofas e nomes

estranhos, essa é Yumi. Otellus era um homem muito sábio de 1,71m que tinha seus 150 anos,

ou algo em torno disso. Possuía uma barba branca e trançada, pele negra, e olhos que curiosa-

mente eram verde-escuros. Vive a usar citações, provérbios, metáforas, e uma linguagem difícil.

O mais problemático, conta a Arquiduquesa, é que ele também não admite muitos erros de lin-

guagem a seu redor, o que a meu ver, parece normal vindo de um mestre ancião que ensina ma-

térias, artes, e esconde-se em lugar que se chama esquina dos ventos. Quanto ao garoto, aparen-

tava ter 18, mas talvez tivesse menos. 1,80, olhos castanho-escuros, quase pretos. Parecia ser

careca por opção própria, e apesar de ter uma face um pouco irritadiça, abria rapidamente um

largo sorriso caso quisesse. Era mais forte do que aparentava, sendo muitas vezes subestimado

pelos inimigos. Outro fato que também surpreendia os outros era que usava principalmente a

mão esquerda, e não a direita, como a maioria. Um aprendiz da vida, com uma mente anormal-

mente estranha. Agora, vamos às roupas. Yumi usa um vestido longo, lilás, a parte de cima era

um tomara que caia, mas tinha alças caídas. Dessas alças saem as mangas, coladas na parte de

cima e bem largas na ponta, e semitransparentes do pulso ao cotovelo. A parte de baixo é uma

saia godê até os pés, com detalhes de flores em relevo e as folhas das flores bordadas. Passando

para Hitch. Sua combinação predileta é preto e roxo, e isso se transmite em suas roupas, logi-

camente. A parte de cima é uma blusa com mangas, completamente fechada, e geralmente o

estilo das mangas de roupas femininas assemelha-se ao da Arquiduquesa. Também na blusa há

uma gola que lhe cobre o pescoço, sendo a gola e a parte larga da manga preta. A parte de baixo

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Memórias de um aprendiz

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é uma calça franzida e larga, semelhante a dos samurais e sacerdotes do Japão feudal. Tirando

detalhes da blusa e uma faixa na cintura pretas, o resto dessa roupa é roxa. A roupa do ancião

não pude ver detalhadamente por causa do capuz, parecia ser uma túnica. E relembrando por

último a roupa de Raitun: camisa cinza, por cima dela um sobretudo branco, de mangas longas e

coladas. Esse sobretudo também tinha um ômega maiúsculo (Ω) em preto nas costas e ia até os

joelhos, com efeito de rasgado no final. Usava também luvas pretas, que não cobriam seus de-

dos. Nelas havia também o ômega, desta vez em branco e minúsculo (ω). A parte de baixo era

uma calça com um hakama por cima, totalmente branca, era presa por uma faixa larga e negra.

Nos pés, botas pretas, simples e diferentes das sandálias que os outros usavam. É problemático

descrever pessoas com precisão, por ser impossível descrever sensações e sentimento. Vamos às

espadas do aprendiz: Duas katanas de aproximadamente 1,5 m. Tinham a lâmina negra, e eram

incrivelmente afiadas. Tinha também o cabo de couro, cabo que era branco e na ponta possui

esculpido em metal a cabeça de um dragão (a boca do dragão ainda prendia uma pequena argo-

la, que era ligada a um pedaço de corrente. Cada espada tinha o seu pedacinho). A guarda (parte

que impede a mão de escorregar para a lâmina) tinha a forma de um kanji chamado ban (卍), e

um símbolo em cada ponta dessa forma, como que representando os quatro elementos, os quatro

ventos, solstícios e equinócios, as quatro direções". Como eram katanas gêmeas, Cumulus e

Nimbus eram idênticas, pelo menos em aparência..."

– É, acho que terminei por agora. – Comenta o aprendiz.

– Devia ter feito isso antes, sabia?– Comenta Hitch

– Concordo. Pelo menos pude fazer. Voltemos ao que importa. – O tempo das descrições

foi o suficiente para todos descansarem, mas eles resolvem conversar um pouco mais.

Capítulo 14 – Quatro rios, Quatro templos, Um reino.

– Arquiduquesa, poderia me explicar direito sobre os locais e detalhes desse reino?

– Como já disse antes, aqui todo mundo tem um Aiodrome. E em cada fronteira temos

um rio. Ou seja, são quatro: Articus, Setentrius, Nefirus, Katonirus. Em cada rio há um templo,

e cada templo é guardado por alguém importante.

– Irei ver essas pessoas algum dia.

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– Assim espero.

– Também espero... Continue.

– Aqui a maioria dos seres são bem espirituosos, tanto que muitos emanam “partículas”

de seus espíritos, digamos assim, e muitos fazem uso dessas partículas convertendo-as em pode-

res especiais. É um poder espiritual chamado “carinhosamente” de “MANA”. Dizem alguns

sábios que “mana” significa “Magia/Mágica Ativada Na Alma”. Pra mim “mana” é muito mais

do que uma mera sigla. É um mistério profundo de Montris. Dependendo da sua habilidade em

usar o MANA pode-se ficar mais forte, mais rápido, andar em paredes verticais, por cima da

água, ou em pleno ar, entre outras, muitas outras coisas. Mas isso é assunto para ser relembrado

depois. Voltemos aos rios.

Setentrius é o rio do norte, de águas transparentes, onde podemos respirar mesmo imersos

na água. Articus, o rio do sul, possui águas frias e neve em volta, e seria particularmente agra-

dável para você em minha opinião. Nefirus, o rio do oeste, tinha águas escuras e era onde os

habitantes de Montris lamentam seus mortos. Lá vivem os celtamorfos, que parecem um híbrido

de elfo e centauro e costumam dar valiosos conselhos. Katonirus é um rio de águas termais,

ótimo para relaxamento e reflexão. Sobre campos florestas e criaturas, não há pressa em conhe-

cê-los, não é nossa prioridade.

– Qual o nome daquela cidade de onde saímos?

– Informação confidencial. Vamos? Nosso tempo de descanso foi mais que suficiente. –

Diz Hitch, interrompendo os dois. Estes obedecem às ordens da mais velha do time, e entram

novamente em formação, correndo contra os ventos do norte, em meio a muita brincadeira e

descontração. Após um tempo se movimentando, chegam à porta do que parece ser uma fortale-

za militar, cujos portões se abrem para acolhê-los sem nenhuma cerimônia. Todo o barulho de

espadas se batendo que inundava o lugar cessa, todo som de martelo forjando espadas para ime-

diatamente. Apenas se viu uma legião de soldados curvada aos pés da Arquiduquesa por onde

ela passava. Um sinal de respeito que ela não admirava muito por sinal. E o aprendiz a segue,

mesmo que não se ache digno disso. O trio se aproxima da instalação principal, e antes que a-

dentre na cabana sem nem sair de suas montarias, um susto faz o aprendiz suar frio.

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Capítulo 15 – Siegfried, a primeira lição

– Resolveu levantar do trono, Yumi?

– Sim, de certa forma fui forçada a isso, já que você não é bom o suficiente para a missão

que me deram. – Responde a arquiduquesa, observando a ponta de uma espada que lembrava

uma katana, porém bem mais larga que uma espada comum. Ao mesmo tempo, esperando o

dono da voz que saia da cabana se revelar, apesar de já conhecê-lo. Os olhos de Raitun entram

em “modo de combate”, e calculam o golpe, mas antes que ele saque sua espada é impedido por

Yumi.

– Não, péssima ideia fazer isso. Você não é páreo para ele. – “Por enquanto” Pensa a Ar-

quiduquesa em meio a um discreto sorriso.

– Parece que meus soldados ainda têm mais medo do seu jeito fofinho do que da minha

Zanbatou – Diz o dono da espada enorme, maior do que a maioria das pessoas. As katanas de

Raitun explicam a ele que zanbatou é o tipo de espada que ele está vendo. “Zanbatou significa

“espada para cortar cavalos”, e a zanbatou deste homem é estupidamente grande, larga e pesada

para cortar dragões. Mesmo assim, ele consegue usá-la com apenas uma das mãos quando quer.

Ele é tão forte quanto a Arquiduquesa. E mais cruel. Tome cuidado.”

– Eles aprenderam bem a usar o cérebro, eu diria. Acho que trouxe mais um desafio para

ti.

– Um desafio, não? Mostre-me. –Respondeu a tal voz. A espada se retira da presença da

jovem, e finalmente seu dono se revela. Saiu da cabana um meio orc, com um pouco mais de 2

metros de altura, pele cinza, musculoso como um orc puro, com um rosto de humano. Se não

fosse pela pele cinza e os olhos verde-escuros, seria um humano estupidamente alto e forte,

carregando uma espada estupidamente grande e larga. Usava seu cabelo como um rabo de cava-

lo para cima, e vestia um kimono azul, velho e desbotado, com um colete por cima, e um haka-

ma puído na parte inferior. Não usava nada nos pés. Carregava o suporte da espada nas costas,

devido ao tamanho anormal da mesma.

– Grão-Mestre Grey Sigfried. Um dos três Lordes Imperiais. Há quanto tempo não a vejo!

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– Tsc, formalidades idiotas essas, Yumi. – Responde o meio orc à Arquiduquesa, com um

olhar de desprezo acompanhando as palavras.

– Perdoe-me pela intromissão, mas o que seria Grão-Mestre?

– Grão-Mestre é o comandante supremo do exército de Montris, um general e mestre de

armas. Ele manda em todos os sorudiuns, os ensina certas habilidades especiais, e logicamente é

o componente mais forte do exército. Pelo menos até algum maluco desafiar esse demônio, ga-

nhar e reivindicar seu posto. – Comenta Hitch, e ela mesma continua: – Viemos lhe trazer ele. –

E aponta para Raitun. – Ah, e também, por que quisemos vir, logicamente.

– Para eu ensiná-lo sobre Espadas e mana? E ele aguentaria a minha espada?

– Correto, Sig. Você é o mais indicado para essa função. Ao menos, para essa... E por que

não testa você mesmo se ele aguenta? Diz a Arquiduquesa, entrando novamente na conversa.

Enquanto isso, o terceiro componente do trio apenas os observa.

–Acho melhor descer da raposa, caso não queira ser cortado junto com ela. – Diz o trucu-

lento meio orc, apontando sua espada monstruosa para o garoto. Este acata ao conselho, e saca

suas katanas. Após um momento se entreolhando eles percebem um fato interessante: a presença

das mulheres e de suas montarias havia sumido, simplesmente sumido como se não tivessem

passado por ali. O Orc se põe em posição de ataque, e sorri.

– Grey Sigfried, Grão-mestre de armas. Um dos três Lordes Imperiais. General do exérci-

to Montrisiano.

– Hã?

– Diga seu nome, garoto retardado. E a sua profissão, ou posição. É o costume se dizer o

nome a quem você vai lutar, assim você saberá o nome da pessoa que você matou ou que mor-

reu. Claro que numa guerra não podemos ficar fazendo isso, mas em duelos é como uma das

regras de etiqueta da Arquiduquesa. Temos que segui-la.

– Omni Raitun, aprendiz da vida.

– Você precisa melhorar isso primeiro. É importante. E pra você, vai ser Poderoso Senhor

Grão-Mestre Grey Sigfried. – O eco de suas espadas é o estopim para a sinfonia das lâminas

explodir novamente. O aprendiz havia aguentado o primeiro golpe, apesar de ter sido a muito

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custo. Começou um não tão longo (porém muito árduo) treinamento. Talvez, graças ao prodigi-

oso talento do garoto em aprender muito rápido, a coisa tenha saído melhor que o esperado. Os

outros, enquanto isso, exerciam suas atividades normais. Enquanto o aprendiz treina com o orc e

observa o exército, ocorrem fatos mais interessantes em outros lugares do reino. No castelo do

imperador, por exemplo, ocorreu uma audiência que parece normal, mas é digna de registro.

Capítulo 16 – Fatos interessantes

– Perdoe-me pela visita inesperada, meu senhor. Venho trazer a seu conhecimento um fa-

to de suma importância. Diz um homem bastante alto e magro, de cabelos amarrados e roupa

que lembra a de mordomos, se curvando diante do trono do imperador.

– Ah, há quanto tempo Stradomus, deve ser algo muito sério, afinal você deixou a man-

são da Yumi e atravessou a cidade.

– É necessário fazer coisas do tipo algumas vezes, e Midgard tem suas coisas que devem

ser apreciadas. – Responde Stradomus, observando o monarca vir a seu encontro. O imperador

tinha cerca de um metro e meio. Aparentava ser forte. Sua barriga, porém, mostrava que gostava

de uma boa bebida, como todo anão que se preze. Era careca, e tinha uma barba relativamente

longa, que se apresentava trançada quase sempre. Usava um manto azul por cima das roupas de

monarca. O detalhe mais peculiar era que tinha orelhas muito grandes pra um anão (Dizem que

era por que o imperador deveria escutar muito bem o que lhe dizem para não responder errô-

neamente). E nelas ficavam os brincos que provavam seu status. Esses brincos eram alargadores

dourados, por onde passavam argolas. Nas argolas ficavam penduradas longas penas de Fênix.

– Então meu caro, o que tens a relatar?

– O clã dos Luminus voltou a atacar.

– Ah, já tenho conhecimento sobre tal fato.

– Eles atacaram a mestra, a feiticeira e o forasteiro.

– Já sobre esse fato eu não tinha conhecimento. – E o imperador, o mordomo e alguns

conselheiros chamados depois continuando dialogando sobre o ocorrido. Enquanto eles chegam

a um consenso, nós pulamos para outras memórias. Um fato estranho e incomum, ou melhor,

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mais um fato estranho e incomum. Todos os Lupos e Rikies, reunidos em uma taberna de Mid-

gard próxima da esquina dos ventos.

– E então, quem vai pagar?– Pergunta o anão dono da taberna, enquanto limpa um copo

de cerveja.

– Cada um paga o seu! – E os risos e conversas mostram que a confraternização se inicia

a todo vapor.

– Concordo! Concordam também em conversar sobre algo mais trivial e óbvio?

– A Lampirerin Hatsumomo, que no momento ocupa o cargo de substituta do Lorde Im-

perial?

– Ótima pauta, por onde começamos?

– Começamos promovendo o Otellus a Lorde, e acabando com isso. Ele com certeza é o

mais qualificado para o cargo. – A essa altura, o dono da taberna resolve se intrometer na con-

versa

– Ele não está muito velho para tal cargo?

– Dizem que pra ser o Lupuoskirus é preciso ser sábio como uma raposa de nove caudas...

– Lendas, lendas...

– Não acho que ele está muito velho pra isso...

– Também não. Ele tem apenas... Quantos anos ele tem mesmo?

– Só uns 150. – O riso geral toma conta do lugar, e após algum tempo alguém se lembra

de retornar para o foco.

– É fato que a Hatsumomo não tem aptidão para o cargo, porém ela ficou obcecada com

um cargo que não é dela. Isso é um problema. – Após a observação todos começam a fazer críti-

cas ou discutir sobre o assunto, quase em unanimidade em relação a colocar outra pessoa no

cargo. A discussão rola solta, até aparecer uma aura sombria inundando o lugar. Apreensivos, os

professores olham a porta, reconhecendo a sombria aura da pessoa que adentrava. Tinha por

volta 1,60, e usava uma capa com capuz, além de uma máscara negra em forma de cabeça de

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lobo. Carregava consigo uma foice de cabo branco e longa, com uma lâmina curvada e negra.

Tal figura se aproxima do balcão e faz seu pedido com uma voz rouca e imponente, ainda assim

feminina.

– Leite.

O riso geral toma conta da taberna novamente, mais alto e incontrolável do que antes. Pe-

lo menos até um dos professores perceber que uma certa foice está quase arrancando seu pesco-

ço.

– Deveria lhe matar por caçoar dos seus superiores, por ter uma risada horrível, por essa

cara feia ou por ser tão medroso?

– Você é realmente superior? – Replica outro

– Como ousa... – Antes que ela realmente corte o pescoço de alguém, Otellus se materia-

liza dentro da taberna.

– Aquiete-se, criança. E me pergunto que alvoroço idiota é esse que vocês todos. Que tipo

de mestres e sábios são vocês? Não sou eu quem vai assumir um posto alto como esse. – Co-

menta o ancião. “Se você não fosse meu professor, eu lhe mataria” é o que ela deve ter pensado,

em meio a um sorrisinho sarcástico por baixo da máscara. Esse tempo todo de alvoroço foi o

suficiente pra o dono da taberna se recuperar da crise de riso, e ele interrompe novamente as

coisas.

– Desculpe senhorita, mas não temos leite aqui.

– Acho que eu não ouvi direito. – Responde a mulher, já do outro lado do balcão, passan-

do a foice por perto do pescoço do anão.

– Realmente, não deve ter ouvido. Eu disse que não temos leite, ele acabou há pouco. Eu

já estava até pensando em mandar meu criado repor o estoque. Monstrinho! (referia-se a um

goblin) Vá repor o estoque de leite! – A essa hora a mulher já havia saído do estabelecimento, e

invocado um enorme lobo negro apelidado carinhosamente de Fenrir. Em meio a outro ataque

de risos vindo da taberna ela sai em disparada, correndo pelos campos. Talvez nunca saibamos

se o motivo da graça era a velha piada do paladino, a do pintinho chamado relam ou a senhorita

que veio pra uma taberna tomar leite. O que sabemos é que um pouco após isso, veio a nosso

conhecimento mais um fato interessante.

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Capítulo 17 – Chá de pingentes

Na floresta do norte, próxima a árvore da vida, Yggdrasil, outra reunião está para come-

çar. Em certa parte dessa floresta existem as Trwillows, árvores antigas e sábias, que aconselha-

vam os visitantes que iam até elas. Em meio a uma clareira, em volta de uma mesa baixa e qua-

drada de pedra, estava prestes a se iniciar a reunião das sacerdotisas guardiãs. Havia quatro sa-

cerdotisas guardiãs: Alexis, Lilith, Mary Anne e Louise. Alexis era uma elfa de 1,70m, pele

clara, olhos claros e cabelos castanho-claros, e era a guardiã do norte. Lilith era uma elfa notur-

na, de pele difícil de descrever, parecia azulada, acinzentada, dependendo do ponto de vista.

Tinha olhos de íris branca, cabelos brancos, quase prateados, que desciam até a cintura. Sua

roupa se diferenciava das outras, enquanto a das outras era um simples vestido ou um kimono

com hakama a de Lilith era um vestido longo, com duas fendas na parte da frente, que subiam

da borda inferior do vestido até a parte superior da coxa. Na parte de trás e na parte entre as

fendas havia outra "saia", curta e feita de escamas brancas e brilhantes. Essas escamas eram

também presentes nos ombros, como adorno. O vestido era branco, de seda, e caia na parte da

frente como um leve e discreto decote. Mais alguns detalhes: tinha 1,72 e carregava um pingen-

te com a forma de um floco de neve, pendurado no pescoço. Mary Anne e Louise eram huma-

nas, porém, tão poderosas quanto as elfas. Mary Anne tinha 1,69 m e Louise tinha 1,55 m, ti-

nham pele morena clara e olhos castanhos, sendo os de Louise mais escuros. Em questão de

cabelos, os de Mary eram mais claros e ondulados, porém ainda castanhos. Essa guardava o

oeste de florestas negras e lamentações, a outra o leste do raiar do sol e águas quentes. Alexis

tinha o dever de proteger a floresta do norte, e Lilith a porção gelada do sul. Em meio à clareira

da floresta, as sacerdotisas vão chegando e se sentando em volta da mesa quadrada. Lilith chega

primeiro, depois as Louise e Mary. Elas deveriam meditar em silêncio por alguns momentos,

mas algo incomoda muito o espírito delas.

– Por que ela sempre se atrasa?– diz Mary

– Não é mania dela, ela tem a natureza calma dentro de si.

– Esse é o território dela, ela deveria ser a primeira a estar aqui! – Responde ainda indig-

nada.

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Acalmem se, as duas, ela já está por perto – é o que diz Lilith, interrompendo as duas sa-

cerdotisas humanas. Elas se calam em respeito à Lilith, que era considerada a que tinha maior

poder de ataque, senso de liderança e beleza. Sem querer desmerecer as outras sacerdotisas,

afinal, eram as próprias falam isso em opinião unânime.

– Olá meninas! – grita Alexis, indo ao encontro das outras três com um sorrido no rosto.

– Atrasada– sussurra Mary, em tom de reprovação aos atos dela.

– Cumpra seus horários, idiota! – grita Louise, tomando agora o papel de indignada.

Também joga uma pedrinha em Alexis, porém esta não chega ao destino: é interceptada por

uma flecha de luz. "Mihawk estraga prazeres" pensa ela. Antes de mais reações incomuns, Lilith

se pronuncia.

– Presumo que tenhas um bom, um excelente motivo para se atrasar. Ou talvez não, de-

pendendo da psique e da falta de vontade dela... – diz a paciente "Líder", em tom sério e pensa-

mentos altos.

– Estava vendo o estado das Trwillow, conversando com elas... É muito bom fazer isso! –

talvez pela resposta ter soado como uma desculpa inventada, Alexis se senta no lado vazio da

mesa que foi convocada com a seguinte maneira fina: Sem mais nenhuma palavra.

–Então, comecemos. Mary, faça. – Diz Lilith, ignorando a desculpa apresentada, já que

era comum o atraso da elfa do norte. E Mary tira de seu pescoço um cordão cujo pingente era

uma perola negra que se transforma em um copo preto quando posto no meio da mesa. Agora

Lilith faz o mesmo, e o pingente de floco de neve derrete dentro do corpo, enchendo-o de água

límpida e pura. Louise tinha uma chama em seu pingente, e ao comprimi-lo entre as mãos, as

deixa vermelhas. Assim, as mãos vermelhas esquentam o copo da escuridão do oeste, com o

calor do sol vindo do leste. Esquentam um pouco a gélida água do sul, por consequência. Por

ultimo, o pingente de folha da ultima. Essas viram refinadas ervas da floresta do norte, e tudo,

assim como todas são interligadas. Cada uma toma um gole do chá de pingentes, e depois de

uma mesura sincronizada, atam suas mãos umas as das outras. Naquele momento sentem se

revigoradas, e fecham os olhos, mergulhadas em orações mentais e paz profunda. Assim fora

descrito por Lilith o ritual de purificação e renovação das sacerdotisas, que prefiro apelidar de

ritual do chá de pingentes. E novamente os eventos mudam de “brisa” para "vendaval assobia-

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dor irritante". Ainda em plena concentração, Alexis murmura, como que profetizando: "o lobo

negro se aproxima”.

Capítulo 18 – Tensão

Mal acabara de falar e sua pequena profecia já estava cumprida: O Fenrir do episódio da

taberna e sua dona agora estão rondando o quarteto de sacerdotisas.

– Você já sabe o que acontece a quem quebra as regras e profana terra sagrada, não sabe,

pirralha estúpida? – Após dizer essa frase em tom ameaçador Lilith põe a mão sobre o copo do

chá de pingentes. É quando se ouve uma risada descarada vinda da dona do Fenrir

– Você tem mesmo poder pra me matar? Você vai me matar mesmo só por eu ter atrapa-

lhado um chazinho?

– Não duvide do poder sagrado que tu desconheces, pirralha estúpida. Nem do poder de

quem não conheces.

– Reapresente-mo-nos então, para que possamos duvidar uma da outra. – Diz Hatsumomo

sarcasticamente, fazendo uma reverência, após isso continua:

–Lampirerin Mizumi Hatsumomo, Substituta temporária do Lupuoskirus.

Lilith se levanta com o pingente na mão, e de forma elegante, retribui a reverência.

– Grã Sacerdotisa Lilith, guardiã da fronteira do sul, o templo do rio Articus. Irei te puri-

ficar do seu maior pecado: sua existência.

A única coisa em que as duas concordavam era no “arrogante” que usavam para se referir

a outra. Acabavam sempre lutando (e empatando) quando se encontravam. Hatsumomo faz o

primeiro movimento, materializando sua foice. E o fez em uma boa hora, já a usando para de-

fender-se de uma flecha de luz. A elfa resolve quebrar o breve silêncio, ainda com o pingente

em mãos.

– Mantenha o foco, Mihawk. – O momento a seguir é breve, e complexo de descrever. Ao

dizer “mantenha o foco, Mihawk”, uma intensa luz vinda do pingente, e este toma a forma de

um arco enorme. Ao cessar da luz é que se podem ver seus detalhes: Lilith porta na mão esquer-

da uma espécie de Daikyu.

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O Daikyu (Daikyu é um tipo de Arco longo japonês, por volta de 2,20 m de comprimento,

segundo a enciclopédia das espadas gêmeas.) de Lilith era um pouco mais grosso que um arco

normal, com alto relevo de penas por sua extensão. No meio do arco um alto relevo que tem a

forma da cabeça de um pássaro, como uma espécie de proteção para a mão. Ela posiciona a mão

livre junto da outra, produzindo uma esfera de luz branca, e puxando a mão transforma a esfera

em uma flecha. Com o Mihawk na horizontal e uma flecha pronta para ser atirada, terminamos a

descrição do breve e complexo momento e começamos a do contra ataque.

– Flecha Ártica. – A oponente vê apenas seus pés congelando junto com o solo, isso gra-

ças a seu reflexo em rebater a flecha, e se vê obrigada a quebrar o gelo imediatamente e sumir

aos olhos de Lilith, para prevenção de algum ataque inesperado. Hatsumomo reaparece em sua

posição de decapitação de sempre, porém antes que ela faça cabeças rolarem a elfa consegue se

abaixar e provocar um pequeno corte em Hatsumomo com seu arco, sumindo após o golpe da

mesma maneira que a outra havia feito.

– Agilidade MANA? Espero que seja rápida o suficiente pra me alcançar. – Diz a outra, e

dá um sorrisinho, antes de entrar na corrente de sumiços. As duas começam uma dança de guer-

ra, movendo-se rapidamente com a tal “agilidade mana”. Que parece ser uma técnica onde con-

centram mana nas pernas, pés e solas dos pés principalmente. A única prova de que lutaram era

que os mais habilidosos podiam acompanhar sua velocidade com os olhos (e com a aura). Os

outros apenas viam aqui e ali uma flecha bater contra uma lâmina de energia, faíscas no ar, raja-

das de vento em vários lugares. As outras três sacerdotisas apenas acompanhavam minuciosa-

mente a luta, por não serem poderosas o suficiente para pará-las. Apenas podiam esperar algo

acontecer, e orar em silêncio, tentando manter o estado de espírito, mesmo inseridas em meio à

pressão espiritual de duas mulheres com um nível maior de poder. Pareciam se contrapor ao

estado de excitação das duas, pareciam querer balancear o ambiente, assim como o contraste

entre o vento e uma pedra. Talvez apenas pedissem para que elas não manchassem aquele lugar,

mas os ventos sempre ignoram e passam pelas pedras, e as duas fazem o mesmo, continuando

seu embate brutal e feroz. A certa altura, as duas “param no tempo”, cada uma com a chance de

aniquilar a outra. Antes que alguma das duas completar seu movimento, outro movimento mais

rápido para as duas.

– Desarme! –Diz a voz de Hitch, para alívio das sacerdotisas. Estas pareciam felizes ao

ver Hatsumomo desarmada. A entrada só não foi perfeita por que a foice foi parar apenas quan-

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Memórias de um aprendiz

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do se fincou em uma Trwillow. Lilith ainda mantinha o arco em posição de ataque, até vir mais

interrupções.

– Prisão do crisântemo!

– Arte secreta de contenção. Muito bom Yumi. –Diz Lilith sorrindo, mesmo presa na tal

arte de contenção. 16 hastes de luz em formato de pétalas rodeiam a sacerdotisa e impedem que

ela se mova. Hatsumomo tenta fugir, porém a Arquiduquesa é superior em velocidade.

– 16 em flor a um só prenderão. Linda flor, arte de prisão. Arte secreta de contenção, pri-

são do crisântemo!

– Você já mostrou que não precisava recitar as palavras de liberação, maldita exibida. –

São as palavras ensopadas de ódio que a Lampirerin diz após ser capturada. A Lampirerin era

poderosa, porém compará-la a um Lorde Imperial era o mesmo que comparar ondas que batem

em um rochedo num dia comum as mesmas ondas que fazem o mesmo em meio a uma tempes-

tade torrencial. Nem esta e nem a sacerdotisa juntas faziam frente ao poder total de um dos Lor-

des. Alexis finalmente sai do seu estado de meditação, se levanta e vai ao encontro das recém

chegadas, parando para uma breve reverência. Hitch desce de Gonduriel [era o nome do pássaro

dela] e retribui a mesura feita por Alexis. Yumi também acaba fazendo o mesmo.

– Usando técnicas proibidas?

– Bem, há suas vantagens em um Lorde Imperial. E se ficassem soltas continuariam o du-

elo até a matar a elas mesmas ou a alguém que não tem nada a ver com isso tudo.

– É, faz sentido se olharmo por esse lado.

– O que houve para a Lilith ter se rebaixado a tal ponto? – Pergunta a Arquiduquesa.

– Profanar um local sagrado é mais que suficiente para irritá-la por completo. –Explica

Alexis, sendo logo interrompida por Louise. Esta apontava a Trwillow com a foice fincada em

seu tronco.

– Um ser de sua responsabilidade foi atingido.

– Ah, agradeço pela preocupação em avisar... Eu já estava indo cuidar disso. – Após as

palavras Alexis vai até a árvore e arranca a foice.

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Memórias de um aprendiz

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– Tiro ao alvo? – Sugere Hitch com um sorriso no rosto

– Boa ideia. – Responde a elfa, lançando a foice para o alto

– Suna! – Grita Hitch, atirando uma magia na foice. Esta cai no chão não mais como foi-

ce, e sim como um punhado de areia. Enquanto Alexis começa a usar suas técnicas de regenera-

ção na Trwillow, Hatsumomo grita desesperada por sua ceifadora, e as outras conversam, vol-

temos ao treinamento do jovem promissor. No meio tempo ele assimilou o manejo das duas

katanas. Dizem que foi graças a ser um prodígio, ter “olhos diferentes”, ser ágil como uma rapo-

sa. Além dessas coisas eu acrescentaria o medo de morrer fatiado ao meio pela Zanbatou do

general. Diria também que exatamente agora virão mais parte particularmente problemáticas de

escrever (e alguém me perguntaria “como tudo nesse livro?” se não fosse informação confiden-

cial).

Capítulo 19 – Para o sul.

– Parabéns, a primeira parte foi um sucesso total.

– Como assim, temos mais outras partes? Quantas?

– Não “temos” mais nada. VOCÊ tem. Para o sul soldado, para o sul!

– Kitsu! – Diz Raitun, e o vento traz a raposa de volta.

– Olá, raposa idiota. Diz o general, com a Zanbatou em mãos.

– Ah, poupe-me dessa ladainha. Você é o meio orc e eu sou o idiota? Não é melhor admi-

tir que sente saudades de brincar comigo?

– A melhor defesa é o ataque, Gran! –A pressão espiritual do general torna-se maior, até

insuportável para o aprendiz. Outra coisa que se torna maior com isso é a já enorme espada.

Raitun achava que ela era estupidamente grande, mas ela conseguiu ficar um pouco maior e bem

mais larga após as palavras do meio orc. Além de maior estava rodeada por uma aura azul vinda

de seu dono, não da própria espada. Isso é mais que suficiente para assustar o aprendiz, porém,

como tudo pode piorar, ele fica sem reação quando Sigfried lança uma lâmina de mana em sua

direção e na de Kitsu. Não se sabe se isso foi um alívio ou mais um susto, mas Raitun escuta a

voz de sua raposa, que está por um momento apenas nas patas traseiras.

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– Kitsuhi!– Após a palavra, as patas da raposa voltam para o chão e ela cospe uma rajada

contínua de mana contra o ataque do general, como se um dragão cuspisse fogo. Porém o fogo

da raposa parecia ser gelado, era azul claro, e raios apareciam aleatoriamente ao seu redor de

tempos em tempos.

Foi um breve instante que deve ter soado como eternidade para o aprendiz, uma aprecia-

ção única. Contam as histórias que ao olhar Kitsu, viu que esta parecia dizer “monte”. Ele o fez

e a raposa retirou-se para o sul. Faz muito sentido, considerando que raposas se entenderiam

olhando nos olhos umas das outras. Sentiu apenas uma onda de vento batendo em suas costas,

imaginou que “após os ataques disputarem forças devem ter explodido”, e havia acertado. Lem-

brando-se depois que tinha ainda o dom da comunicação e seu corpo estava inteiro em meio

àquilo, ele diz:

– Não achei que tinha uma raposa tão poderosa como aliado.

– Aquilo? Apenas brincadeira. Não subestime o inimigo, depende da derrota dele pra

vencer. Nunca pense em subestimar seus amigos, eles podem surpreender você acima do espe-

rado. Por fim e não menos importante, não pense que sou idiota em subestimar seus amigos e

nunca tenha a ideia de subestimar uma raposa. Ali acaba o diálogo. Raitun põe seu capuz e se-

gue para o sul, montado na raposa. Enquanto eles caminham livremente, as memórias voltam

para o término da conversa das meninas, afinal há mais coisas interligadas nesse mundo do que

a rica imaginação de alguns possa imaginar. Essa vai ser uma ligação cármica para toda a vida

[ou talvez por toda a morte].

– Nosso chá foi completamente violado. Melhor irmos embora.

– Verdade Louise. Você também Lilith, você deve receber o novato. –Diz Yumi.

– É o forasteiro? – Se intromete Mary.

– O tal famoso forasteiro... Bem coisa fofa, você vai me soltar ou eu quebro sua magia a

força? – Comenta Lilith

– Oh, me desculpe. Havia esquecido esse detalhe. – Ao soltar a sacerdotisa essa começa a

rir, e seu pingente volta sozinho para o lugar original no pescoço, enquanto Lilith ajeita seu

vestido aqui e ali.

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–O que, gostou da aura dele?Fofinha não? – Pergunta Yumi, mais curiosa do que as ou-

tras em saber o motivo do riso.

– Muito, amo raposas da neve, principalmente em sua... "casa natural", digamos assim.

Amo raposas do ártico próximas ao Articus, e adoro usar esses divertidos trocadilhos. – Diz

Lilith, fazendo uma breve mesura enquanto seu corpo se desfaz em vários flocos de neve que

são levados pelo vento.

Capítulo 20 – Lilith, a segunda lição

Raitun indo cada vez mais para o sul, já começa a ver de longe o templo em moldes ori-

entais e coberto de neve, assim como todas aquelas terras em volta. Avista também uma mulher,

segurando um gigantesco arco. Exatamente no instante em que pisca os olhos sente duas coisas

afiadas raspando seu rosto em cada lado: eram flechas, que fazem cortes superficiais e retiram

seu capuz. Eles percebem que é algo relativamente sério, porém continuam avançando, até que

parem em uma posição na qual possam se comunicar/atacar. Talvez o aprendiz não tenha notado

esse diálogo a seguir por estar hipnotizado pela estonteante imagem de Lilith.

– Há quanto tempo, raposa. Que rude de sua parte sumir repentinamente e me deixar so-

zinha.

– Perdoe-me Lilly, mas sabemos que foi necessário. – Neste momento o alienado apren-

diz tira as suas espadas das bainhas, parecia realmente não ter entendido o que aconteceu e a

familiaridade que havia entre os dois. Raitun e Kitsu fitam o “alvo”, preparando-se para um

duelo que parece desigual. Ao trocarem de posição com a agilidade mana em ação, o silencio é

quebrado apenas pelo som das katanas gêmeas caindo no chão. O arco vai sumindo aos poucos,

até virar o inofensivo pingente do pescoço da elfa noturna.

– Duplo tiro, duplo acerto. Adoro e odeio olhos prateados.

– Interessantes são os olhos das raposas, acompanhando meus movimentos com tanto a-

finco. – Responde Lilith, com um amável sorriso, enquanto o aprendiz, mesmo aparentando

estar envergonhado ou desanimado, dirige suas primeiras palavras à sacerdotisa.

– De nada me adiantam, minha Lady. Meu corpo não consegue acompanhar os meus o-

lhos.

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Memórias de um aprendiz

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– Talvez o motivo seja o conjunto estar trabalhando de forma errada. Talvez, enquanto o

corpo queira lutar, os olhos estejam se focando aqui – Diz isso arrumando seu decote – e não

aqui – diz fazendo o gesto de disparar uma flecha, enquanto o aprendiz faz o gesto de esquiva.

Esquiva até o olhar após entender as entrelinhas. Ao levantar o olhar para a elfa e os dois se

encararem por instantes, o gelo é quebrado quando a raposa derruba o aprendiz das suas costas,

o que provoca o riso geral.

– Sua missão é ensiná-lo sobre mana, e algumas técnicas básicas... Depois detalhes apro-

fundados.

– Por que eu devo aprender sobre mana? – Pergunta o aprendiz. Lilith se prontifica a res-

ponder.

– Perguntas... Um ótimo jeito de adquirir informações. Que tal começarmos com uma

conversa cheia de perguntas?!

– Eu aceito.

– Qual o seu nome? Refiro-me ao nome que a Yumi lhe deu.

– Omni Raitun.

– É um bom nome. Omni parece ter alguma relação com ômega, e provavelmente tem,

olhando as vestes dadas por ela. Ômega pode significar o fim, mas muitas vezes é preciso che-

gar ao fim para recomeçar, sabia? Raitun me lembra raios, que me lembram tempestades, que

me lembram força. Então, seu nome talvez seria algo como “a força do fim”? Só saberemos

quando chegarmos lá, acho. Você também pode me perguntar coisas caso queira.

– Qual o seu nome?

– Lilith. Dizem que é um nome raro, e forte, e antigo usado para mulheres fortes.

– Você realmente não parece ser forte, porém, sinto que você é.

– Sente. É um bom começo. Confie em tudo o que sente quando não houver em quem

confiar.

– Você sabe por que eu vim parar aqui em seu mundo?

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– Talvez eu tenha alguma ideia, porém nem isso eu posso contar agora. Cada coisa tem

seu tempo. Você aprendeu isso em seu mundo?

– Sim, muitas pessoas mais velhas dizem isso lá.

– O que mais elas dizem por lá?

– Dizem... “aproveite a juventude”. Dizem que nada dura para sempre, e algumas dizem

para aproveitar cada momento que tiver. Também dizem muitas coisas problemáticas e tristes,

principalmente tristes.

– Apesar de tudo, parece ser um bom mundo, existem seres que dizem coisas boas. Você

havia me perguntado o que mesmo... Ah, “por que aprender sobre mana”. Você está em nosso

mundo agora. E como você viu, existe um clã sombrio que vai tentar destruir você se achá-lo

por aí. Caso você não fique forte para combatê-los, vai acabar morrendo, e se sua pretensão é

voltar para seu mundo e encontrar tudo que procura, você precisa estar vivo e ter poder suficien-

te para isso. Aqueles que lhe atacaram são meras formigas, existem dragões a espreita para de-

vorar-nos. Um mero inseto pode conseguir muita coisa, mas só se trabalhar muito para isso.

– O que aconteceria se o clã sombrio fosse aniquilado?

– Não sei lhe dizer, mas presumo que os seres daqui iriam continuar morrendo, porém de

forma natural e não destroçadas por forças do mal.

– Então, você deve ter ficado forte, e se o fez, foi por um bom motivo. Considerando o

que você descreveu, se eu tivesse sido “acolhido” por eles, estaria... Como você disse... “destro-

çado pelas forças do mal”. Então, acho que devo alguma coisa a vocês. Ficar forte e ajudar vo-

cês é uma boa maneira de pagar a dívida?

– Sim, é um bom jeito de se pagar uma dívida.

– Então, vamos começar.

– Vamos. Talvez se terminarmos com antecedência possa dar uma volta por aí. – Diz ela,

enquanto se aproxima lentamente do aprendiz. Lilith passa os dedos sobre as feridas que provo-

cou, e instantaneamente elas cicatrizam deixando marcas em suas bochechas. – Agora ficou

melhor – Diz ela, e leva um dedo manchado de sangue à boca, enquanto com os dedos da outra

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mão ela dá um leve piparote com o indicador na testa do aprendiz. Após isso, continua: – Vol-

temos ao nosso foco, jovem raposa aprendiz.

– Ok Srta.

– Não, me Chame apenas de Lilith, ou Lilly.

– Tudo bem, grande Lady.

– Que garoto problemático, heim, Kitsu! Bem, você já usou algum “poder estranho” neste

mundo ou no seu mundo? – Em vez de palavras, o aprendiz mostra a ela seus olhos de raposa e

Lilly acena positivamente com a cabeça, continuando a linha de raciocínio. –Você sente alguma

sensação diferente ao usá-los, não sente? É essa sensação que você vai aprender a controlar. O

poder verdadeiro vem de dentro de você, da sua alma, e também pode vir de fora, das partículas

espirituais ou dos espíritos desse mundo. Existem vários poderes vindos de dentro de alguém,

porém, esse em específico, nós chamamos de mana. Não sei o que você sente, porém, tente au-

mentar a densidade dessa sensação, torne-a pesada, densa e pesada a ponto de sentir cada milí-

metro do chão abaixo de seus pés. Procure a sua forma de fazer isso. – A explicação talvez não

tenha terminado. Caso tenha sido o caso, não houve tempo suficiente, pois a sacerdotisa teve

que desviar de um ataque de Raitun, que agora rosnava como uma raposa raivosa, e se apoiava

nas mãos e pés. E ela pensa: “Mais problemático do que pensei, como esperado. Cresça, apren-

da, e proteja o que é importante.

– Raposa idiota. – Comenta Kitsu.

–Mantenha o foco, Mihawk. – A sacerdotisa atira apenas uma flecha, atingindo o apren-

diz. Este agoniza por alguns instantes, e após isso volta ao seu estado normal. Ele se levantaria

se uma pata da raposa gigante não tivesse vindo ao encontro do seu peito. Em uma breve con-

versa de olhares entre raposas, Raitun entende que fez do jeito mais errado que conseguiria.

– Raposas são assustadoras... – Diz quando volta a respirar.

– Assustadoras, ágeis, espertas, exuberantes, “fofinhas” e... Mortais, melhor definindo. –

Após uma breve pausa, continua: – Bem, agora aprenda o jeito certo. Raposas usam o seu poder

de um jeito ágil e esperto, leve e elegante, esse é o jeito para uma raposa se tornar forte. –Kitsu

começa a diminuir e juntar o mana nas patas. Raitun aos poucos, além de sentir, começa a poder

ver. Era como se suas patas pegassem fogo. Kitsu sobe em uma árvore próxima, como se esti-

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vesse andando pelo chão, e para em um galho fino do topo, que curiosamente não se curva dian-

te de seu peso. Talvez ele se curvasse diante da imponência da raposa. Falando na raposa, esta

começa a usar a agilidade mana, parando várias vezes sentada em pleno ar, e uma ultima vez

andando atrás da sacerdotisa, sem marcar suas pegadas na neve. Após voltar à sua forma origi-

nal e ganhar um afago de Lilith, continua o raciocínio.

– Entendeu agora? Concentramos nosso poder na agilidade e força dos membros, sem

perder o estilo e porte do qual nos orgulhamos.

– Algo mais?

– Sim, você conseguir fazer isso tão bem quanto ele. Apenas se aprender bem a manejar o

mana, logicamente. –Diz Lilly, aparecendo sentada em um dos galhos mais altos da árvore.

Sorrindo, continua. – Pode começar, seu trabalho é subir andando pelo tronco até onde eu estou.

Boa sorte.

– Uh... Melhor eu me deitar. –Diz a raposa, deitando a cabeça sobre as patas cruzadas, e

observando o que vai acontecer. O aprendiz não comenta nada, apenas fixa o tronco da árvore

com seus olhos de raposa. Ele tenta subir correndo, mas apenas ganha um impulso para se jogar

para trás depois de três passos brutos. Mais tentativas, nenhum sucesso. O aprendiz acaba pau-

sando as tentativas por algum tempo para recuperar o fôlego.

– Ora, se não é um aprendiz sem persistência! Estou vendo um aí embaixo?! Não, ainda

não... Achei que aprendizes aprendiam várias coisas, e continuavam sempre aprendendo. Achei

que eles aprendiam antes de tudo a não desistir de continuar aprendendo, por isso continuavam

tentando. Achei também que eles analisavam as coisas que não davam certo para achar e conser-

tar erros. Analisavam coisas e o ambiente... Bem, que pena que me enganei profundamente...

Pelo menos estou comodamente sentada, e está batendo um vento fresco aqui em cima, assim

posso aproveitar o tempo. – Diz Lilith, pensando seriamente em se deitar. Após escutar tudo o

aprendiz resolve observar melhor a sacerdotisa, sabe-se lá o porquê. E observando melhor a

sacerdotisa, ele percebe que ela também usava o mana em volta dela para estar na posição que

se encontrava. O olhar entediado da raposa estava apenas contemplando o vento afagar a grama

enquanto isso, e observando um e outro, o garoto resolve optar pela “inspiração” que Lilith lhe

deu com palavras e coisas para serem observadas, sacando Cumulus de sua bainha. De olhos

fechados, movimentando lentamente sua katana, ele começa a se concentrar na sensação, porém

mantendo o controle e a serenidade que a sacerdotisa demonstra no topo da árvore. Ele abre os

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Memórias de um aprendiz

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olhos e gira a espada, que agora começa a criar uma aura prateada e brilhante em volta de si.

Nota que a aura vem de sua mão, e não da espada. O próximo passo foi manter a concentração,

e transferir a aura para os pés e todo o corpo. Fazendo isso, a aura se intensifica, e com movi-

mentos rápidos o aprendiz começa a subir deixando um rastro de mana e leves marcas no tronco

da árvore. Para sua surpresa, aproximadamente na metade do caminho ele muda o olhar do topo

da árvore para a sacerdotisa, talvez por puro reflexo, e perde a concentração, por que um fio de

luz feito de mana vem em sua direção para chicoteá-lo. Isso faz o garoto perder sua concentra-

ção, e o custo disso é uma queda. Antes de cair o aprendiz ainda consegue marcar até onde che-

gou com a katana: aproximadamente metade do caminho. Após um suspiro o aprendiz se levan-

ta e recomeça o ritual, dessa vez com as duas katanas. De armas em mãos e mana em volta de si,

o aprendiz começa a subir de olhos fechados dessa vez. Dessa vez a raposa maior abre um dos

olhos e resolve observar de onde está. Dessa vez, sem alterações na grama ou na árvore, Dessa

vez, com as lâminas das katanas para trás como se ele as arrastasse. Dessa vez, não sobe de

maneira corrida como um macaco fugindo de um leão, e sim como uma raposa, a passos lentos

e leves, como se estivesse flutuando.

As lâminas tocam tão suavemente a árvore que o único rastro de sua passagem por ali é o

brilho da marca feita no meio do tronco. Novamente, a sacerdotisa tenta chicoteá-lo usando o

mana de forma pura, porém o aprendiz defende ou rebate usando um método parecido com o da

sacerdotisa. Uma das chicotadas quase atinge suas pernas, mas um pequeno salto é suficiente

para desviar e ultrapassar a marca no meio da árvore, que se desfaz. É nesse ritmo que o apren-

diz de raposa continua, até chegar ao topo, que permanece imóvel mediante sua presença. Sabe-

se lá o porquê, mas ele resolve ir além do objetivo, equilibra uma katana em cima da outra [tal-

vez nem ele saiba como] e equilibra-se em cima das katanas, mantendo-se relativamente parado.

Após sorrir, ele indaga a sacerdotisa.

– Aqui está bom o suficiente? – E pula de lá com as duas espadas, parando agachado no

ar atrás de Lilith com as katanas em volta do pescoço da sacerdotisa – Ou assim é melhor?

– De qualquer uma das maneiras, além de uma enorme falta de respeito, não condizem

com sua verdadeira posição. Minha visão mostra que você não será apenas a sombra de uma

sacerdotisa, um equilibrista ou bobo da corte.

– Sua visão mostra o futuro?!

– Algo do tipo... Nunca duvide das crenças e do almanaque de uma sacerdotisa.

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– A tarefa terminou ou a sacerdotisa-san ainda reserva alguma surpresa para um reles a-

prendiz?

– Algumas, e o treinamento ainda não acabou. Você aprendeu a usar seu mana, mas use-o

para algo de futuro, em vez de ficar apenas atrás de mim!

– Ora, falando desse jeito parece que a sacerdotisa-san não gosta de raposas atrás dela. –

Diz Kitsu, com palavras lotadas de sarcasmo.

– Ora, parece que a raposa resolveu sair do estado de tédio e do soninho de beleza somen-

te para me aborrecer! E para melhorar a situação ainda aderiu ao adorável sufixo japonês de

tratamento?!

– Acontece, Lilith. Qual a próxima etapa?– Indaga Raitun

– Materialização.

Capitulo 21 – “Assuntos pendentes”

– Das armas? Que nem a Yumi fez? Fazer suas armas aparecerem do nada? Sabe... Certas

pessoas iludem os outros fazendo isso acontecer de forma enganosa no meu mundo, lá isso é a

“magia”. Mas, aqui realmente é possível?

– Sim, e também fazer o mesmo com os espíritos contidos nelas. – “Que magos fracos e-

xistem no mundo dele”– Pensa Lilith

– “Espíritos contidos nelas”?

“– Sim, idiota, achou que éramos sua consciência enciclopédica ou algo do tipo? Achou

que éramos algum tipo anormal de alucinação?!” – Gritam as gêmeas katanas indignadas em sua

mente.

– Ah, entendo... Espíritos... Não é? – Diz o aprendiz em voz alta.

– Isso seria um tanto demorado se não tivéssemos um fato interessante como carta na

manga. – Diz Kitsu.

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– Verdade, esta carta. – Diz Lilith, e libera novamente o arco. Junto dele aparece uma alta

e desconhecida figura de kimono branco e estranhas asas de falcão nas costas. O mais estranho

era que sua aura parecia familiar.

– Mantenha o foco, Mihawk! – Ela e o estranho começam a alvejar o aprendiz com uma

rajada de flechas, e este desvia as primeiras puramente por reflexo, as restantes graças a seus

olhos e katanas.

– Raitun, apresento-lhe o maldito Mihawk. – Diz uma voz familiar atrás dele, com uma

aura também atrás dele.

– Quer ajudar-nos a matá-lo? – Diz outra voz familiar, se apresentando da mesma manei-

ra.

– Ou seu código de honra prefere que nós o façamos ser reduzido a pó sozinhas? – O a-

prendiz olha para trás, reconhecendo as vozes e estranhando o cheiro de tempestade atrás dele.

Eram as gêmeas katanas, que se materializaram com a provocação de Mihawk. A única dife-

rença visível era em suas roupas, As duas usavam um kimono cujos detalhes eram raios, e uma

das mangas era maior e rasgada na ponta, chega a dar impressão de que não havia nada sendo

coberto por aquela manga, ou que o que estava ali coberto por aquela manga não queria se mos-

trar de jeito nenhum. Enquanto na roupa de Cumulus a base era branca, os detalhes eram negros

e a manga maior era a direita, em Nimbus as coisas eram invertidas (a base, os detalhes, e o lado

da manga). Tirando a aura e a roupa, eram iguais: tinham 1,55m, um rabo de cavalo que prendia

um cabelo que lembrava a cor da aura de Raitun, um símbolo incompreensível estampado na

testa, e camuflado por uma franja. Olhos e pele relativamente claros. O susto foi inevitável, a

dúvida sobre o que ocorria também, mas quase tudo foi rapidamente assimilado. O que faltava

era saber por que Mihawk, o arco de Lilith pareceu provocar as duas, e por que elas atenderam

tão prontamente se materializando. As duas katanas de lâmina negra agora eram duas mulheres

de aspecto magnífico, e de presença magnífica e ao mesmo tempo assustadora. E a lâminas que

estavam em posse do aprendiz liberam faíscas se chocando com o arco de Mihawk. As armas

agora estavam nas mãos dos espíritos, e não dos donos.

Enquanto as armas tentam se matar, os seus donos se aproximam para tentar retomar a

conversa.

– Explique-se. – diz Raitun

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Memórias de um aprendiz

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– Simples, Mihawk provocou as gêmeas fofas, e elas caíram, se materializando e aceitan-

do um suposto duelo.

– E ficamos olhando até a mana delas acabar?

– Não, isso iria demorar muitas eras, afinal, eles têm muitos “assuntos pendentes” para

resolver.

– “Assuntos pendentes”...como assim?

– Bem, é que o Mihawk se ligou a elas há muito tempo atrás, e até agora não decidiu se

iria casar com uma delas, com as duas ou nenhuma.

– Ah... entendi...Que problemático. O que vamos fazer, já o improvável acerto de contas

não virá nem tão cedo?

– Eu chamo o Mihawk de volta, você materializa suas espadas e chama as gêmeas de vol-

ta.

– A sacerdotisa-san tem uma mania de dizer algo complicado do mesmo jeito que diz

“respire”, não concorda, Kitsu? – O aprendiz suspira irritadiço, pelo fato da raposa novamente

ter sumido. Após mais um suspiro, continua. – É uma tradição aqui no reino os seres sumirem

quando vão ser chamados/acionados?

– Quem sabe? Apesar de ser uma representante importante, não sigo a risca a maioria dos

hábitos daqui. Digamos que assim como você, sou um pouco diferente.

– E por qual motivo?

– Sigo meus próprios sentimentos e princípios, “siga seu coração antes de tudo, para tudo,

e sobretudo, sobre tudo”, é uma frase que me acompanha há muito tempo.

– Então, pelo visto teremos um bom relacionamento daqui em diante. A Srta um pouco

diferente poderia fazer as honras? Acho que eles já gastaram energia suficiente. – Realmente as

armas já estavam ofegantes, e pareciam se apoiar na mais pura teimosia. Lilith estende a mão, e

murmura algumas palavras inaudíveis, o que provavelmente foi a causa de Mihawk se transfor-

mar em puro mana e retornar ao pingente da sacerdotisa. Após isso ela faz um aceno de cabeça

para Raitun, que estende a mão e grita:

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Memórias de um aprendiz

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– Retornem as suas lâminas! Chega disso! – E Lilly balança a cabeça em sinal de desa-

provação, parecia ter visto o que aconteceria a seguir.

katanas – Esta é a maneira de tratar alguém do nosso nível?

– Como ousa tratar as damas da tempestade de maneira tão vulgar? Quem é você para fa-

zer isso?– E as duas investem furiosamente contra o próprio mestre. Este, sem as lâminas, usa

sua forma híbrida de raposa e humano e consegue ao menos desviar os golpes.

– Prove-nos que é digno de ser nosso mestre, seu retardado! Prove que não é apenas um

humano fraco, que aprendeu alguma coisa em seus treinamentos! Mostre-nos que a sua alma

realmente está conectada com a nossa antes que a gente destroce com nossas lâminas e procure

um mestre melhor! – Gritavam as gêmeas, enquanto atacavam vigorosamente o aprendiz.

– Alma? Não. MANA. – Foram as palavras do mestre das lâminas negras. Estas parecem

não ter escutado, e formam um X cruzando suas lâminas. Das lâminas sai uma lâmina de mesmo

formato feita de mana e indo direto em direção ao aprendiz.

– Ora, ora, suas gêmeas INSOLENTES! – e o poder de Raitun cresce dessa vez, em de

desviar-se do ataque ele apenas tenta segurá-lo com suas mãos, sendo arrastado por alguns me-

tros até contê-lo. Ao fazer isso, começa a rosnar olhando as gêmeas, e faz as espadas se materia-

lizarem a partir das duas lâminas que o atacaram em forma de X.

– Retornem ao seu lugar, gêmeas insolentes, a alma de seu mestre lhe ordena! – Diz ele,

com um timbre de voz que espantou Lilly. Ela pareceu ter se lembrado de algo familiar vendo a

cena, as gêmeas e os vestígios do ataque retornando lentamente a sua forma “inofensiva” de

katana.

– Uma raposa é tão assustadora... Não me lembrava que era tanto assim... – Diz Lilith a-

pós um breve suspiro.

– Como disse a grande raposa, “não subestime o inimigo, não pense em subestimar seus

aliados, e nunca tenha a ideia de subestimar uma raposa”. – Diz ele, para sua surpresa em dueto

com Kitsu, que havia reaparecido. Continua sozinho – Pode ser MORTAL.

O trio cai em risos após a cena, e olhando para Lilith e para a raposa, Raitun diz: – Consi-

derando que você reapareceu, minha missão aqui acabou, correto?

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– Sim, precisamos ir até outro lugar. Espero que tenha aprendido o suficiente.

– Até o próximo encontro, raposas! – Diz Lilith após outro suspiro. Acabou dizendo isso

ao vento, as raposas já estavam bem à frente. Ela se vira e vai andando de volta ao seu templo. –

Assim começa o inferno. Que ele congele, destrua e purifique coisas impuras. Que sejam retira-

dos os empecilhos do seu caminho, aprendiz. Volte aqui são e salvo. – E ela balança a cabeça,

como que querendo cortar a linha de pensamento – Hora de voltar à triste, solitária e gélida roti-

na.

Capítulo 22 – Para o norte.

–“Sacerdotisas são interessantes” hein? Pense mais alto, e mais forte, quem sabe um dia

os pensamentos chegam até ela? – Diz a raposa gigante, com o aprendiz montado em suas cos-

tas.

– Maldição, Kitsu, você pode ler mentes?

– Mentes não, já impressões espirituais... Acho que o reino todo já percebeu a sua.

– E isso é bom ou ruim?

– Mantenha o foco.

– Tá, perdão, melhor mesmo manter o foco. Para onde estamos indo?

– Para o norte, e cansei de brincar de correr como uma raposa comum, melhor se segurar.

– E ele o faz assustado com a já espantosa “velocidade de raposa comum”, não queria ver o que

viria a seguir. E mal conseguiu ver mesmo, a raposa concentra o mana em volta de si, e passa

literalmente como um raio de luz direto para o norte, assustando um ou outro desavisado de

Midgard.

– O que diabos você fez?

– Apenas achei as meninas. Olhe. – Realmente, lá estavam Yumi, Hitch e outras mais que

o aprendiz não conhecia.

Capítulo 23 – Um encontro não tão amigável

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– Ah, finalmente o forasteiro... Posso dar-lhe as boas vindas apropriadas? – Diz Hatsu-

momo, ainda presa na magia de contenção.

– Ora, ora, hora do jantar. –Diz o Lobo de Hatsumomo reaparecendo repentinamente.

– Cale-se filhote, você sabe perfeitamente bem que não tem chances contra o nosso nível.

– Responde Kitsu, e Yumi interfere na conversa tentando aliviar as tensões.

– Ora, mostrem respeito, estamos em um local sagrado. Por conta dessas infantilidades

ela está ali. – Diz apontando a Lampirerin – Quer perder seu orgulho de raposa se rebaixando

àquele nível?

– Falando sobre ela... Quem é ela mesmo? –Pergunta Raitun, observando a pessoa enca-

puzada a quem a Lorde se referia

– Ah garoto, se fizerem a bondade de me soltar talvez eu diga quem eu sou.

– Irei me arrepender disso. – Diz a Arquiduquesa antes de libertar Hatsumomo. Esta se

levanta, vai caminhando lentamente até Raitun, em passos calmos, acompanhados pelos olhares

atentos das outras. Ao chegar mais perto do aprendiz esta passa a mão em seu rosto, tira seu

capuz e sua máscara. Isso estranhamente o deixa paralisado.

– Sou a Lampirerin Mizumi Hatsumomo, Substituta temporária do Lupuoskirus. – Após a

apresentação ela leva os lábios ao pescoço de Raitun, e antes que encontre a pele do aprendiz,

acaba por tomar um choque. Assim é que seu plano acabara de falhar miseravelmente. Em meio

aquela trocas de olhares ela entra em um campo vazio em meio a uma tempestade, ou melhor

dizendo, uma projeção de seu espírito é que o faz. Ela(ao menos na tal projeção) havia entrado

no mundo interior de Raitun. Cada um tem em seu interior um mundo privado, para onde corre

quando precisa se refugiar ou meditar. E o de Raitun e de certos guerreiros era compartilhado

pelos espíritos de suas armas. Guerreiro e arma eram apenas um, e o mundo em que viviam era

apenas um. Porém Hatsumomo acabara de invadir este mundo, a privacidade daquele garoto. E

a cena novamente se repete: Hatsumomo caminha até Raitun, e tenta mordê-lo. O aprendiz imó-

vel pergunta a si mesmo apenas o porquê daquela mulher estar ali em seu mundo, tentando fazer

algo tão íntimo sem nem mesmo ter lhe conhecido, apesar de que tanto ela quando Lilith pareci-

am ter algo diferente, como se ele as conhecesse há muito tempo. Para a infelicidade de Hatsu-

momo, a sua mordida é interrompida por um par de mãos que estrangulam aos poucos seu pes-

coço.

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– Quem diabos sois tu, para achar que tem direito de entrar em nossos domínios e encos-

tar tua boca impura em nosso mestre? – Dizem as gêmeas em uníssono, em um assustador unís-

sono. Apertaram com tanta força que forçaram Hatsumomo a se desfazer em nuvem de chuva e

reaparecer a uma distância que ela mesma julgou segura.

– Então ainda não fizeram o contrato, que grave... O que será que acontece se eu o fizer

mesmo?

– Retire-se de nossa presença, existência corrompida.

– Ora, não mesmo. Isso se tornou algo bem mais interessante do que já era antes. – diz a

invasora com um sorriso angelical.

– Mestre, liberte-nos. Com sua permissão iremos retirar essa presença impura que dese-

quilibra nosso mundo.

– Pobre garoto. Indefeso, em choque, e sem entender o que está acontecendo. Só tenho

uma forma de responder às suas perguntas e às “grandes espadas de fio negro”. – a aura dela

repentinamente se torna mais forte, e ela continua: – A chuva cai, e o deus dos céus chora.

Quando os espíritos vêm, a deusa do submundo ri. Traga as almas, Ceifadora! – e com estas

palavras um mana escuro toma conta da foice da mulher. Esta curva mais a lâmina e aumenta

um pouco de tamanho. E assim ela parte para cima das gêmeas, que não conseguem fazer muita

coisa além de bloquear ou esquivar com dificuldade os golpes. Finalmente seu apelo é atendido,

e os olhos da raposa aprendiz despertam em meio a trovões e a uma aura que fortalece repenti-

namente.

– Como diabos um mero aprendiz tem tanto poder? É quase equiparável ao meu? Imper-

doável! – Pôde-se notar mais um detalhe da Ceifadora nesse momento. Uma corrente ligava a

arma à sua dona, e graças a isso e a consciência que ela tinha em ter uma arma extensível ela a

lança em Raitun. Novamente para sua infelicidade, raposas apenas aparentam ser frágeis. O

aprendiz apara o golpe com uma das katanas, e com a outra parte a corrente.

– Temo lhe dizer isso, Senhorita... Hatsumomo, não é? Raposas realmente odeiam visi-

tantes não autorizados em suas tocas, mas especialmente para você, direi minha frase especial

de boas-vindas. – diz se pondo em posição de ataque. – Quatro ventos sopram em minha defesa,

todos os raios destroem junto à minha lâmina. Destrua, Cumulus Nimbus! –Ao terminar a frase

as gêmeas se misturam ao vento, e se transformam e uma única guerreira com vestes similares

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as de Raitun, porém cores invertidas. Suas katanas diminuem um pouco de tamanho, e tem uma

nítida corrente de raios percorrendo suas lâminas. Falando na lâmina, esta fica branca como a

neve em volta do Articus. E a guerreira com um chute afasta consideravelmente a substituta.

Após o chute, Cumulus Nimbus junta mana à eletricidade da tempestade na ponta de uma kata-

na, e envia tudo para a sacerdotisa fazendo um movimento de corte que despeja uma descarga

de mana e eletricidade na invasora. A invasora se desfaz por completo dessa vez, junto com sua

arma.

– Ela morreu em um golpe?

– Não a matamos, – dizem as gêmeas, novamente separadas, porém com as katanas ainda

transformadas. – apenas a expulsamos de nossos domínios.

– Irmã, o contrato deve ser feito agora, não podemos arriscar esperar outro acontecimento

do tipo.

– Sobre que contrato vocês tanto falam?– diz Raitun, fazendo as katanas voltarem ao

normal e acalmando seu mana.

– Iremos explicar, confie em nós. – diz Cumulus. Cada uma segura uma mão do aprendiz

com a boca, e colocam um dedo próximo a boca dele, pedindo que ele morda as duas simultane-

amente. Após a troca mútua de mordidas e a intensificação da tempestade, elas mordem o pes-

coço do seu mestre, e guardam suas katanas nas bainhas que ele carrega.

– Terminamos.

– Agora expliquem-se.

– Fizemos um contrato de almas. Com este contrato, lhe juramos obediência e cooperação

mútua, como um só guerreiro. Na condição de mestre, você dá as ordens, e não é obrigado mais

a cumprir ordens. Não contra sua vontade.

– Por que tanta urgência?

– Não há urgência, mestre, isso foi um tanto atrasado. Deveria ter sido feito antes, para

que insetos não lhe mordessem primeiro. Ela poderia forçá-lo a obedecer, e nós por conseqüên-

cia também teríamos o mesmo destino. Agora não mais. – Após isso, o “transe” dos dois termi-

na, e Hatsumomo se afasta e some, não antes de fazer uma mesura.

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– Perdão pela falta de controle, raposinha. Até a próxima.

Capítulo 24 – Lição pós contrato

– E você, já está pronto para a próxima, garoto? – indaga Alexis.

– Espero que sim.

– Senhoritas, este é Omni Raitun. – diz Yumi, e continua – Raitun, estas são Alexis, Mary

Anne e Louise.

– A aura de vocês lembra um pouco a da Lilith. Vocês são sacerdotisas?

– Sim, apesar do nível dela ser superior, somos todas sacerdotisas. – diz Louise.

– Hora da próxima lição. – diz Alexis, já tendo regenerado a Trwillow a essa altura. –

Despertar seus poderes de regeneração.

– E como fazemos isso?

– Concentrando seu poder no local a ser regenerado. Dependendo da gravidade do feri-

mento, isso pode gastar muito tempo e energia. Espero que você os tenha, e que sua habilidade

seja tão boa quanto às das Kyuubi. Você sabe o que é uma Kyuubi?

– Bem, em meu mundo, é uma espécie de entidade espiritual de um país... Um...reino,

chamado Japão. Lá as Kyuubi são tratadas como uma espécie de lenda, mito. “Kyuubi no Kitsu-

ne: Raposa de nove caudas. As raposas são entidades espirituais poderosas, com poderes de

criar ilusões e se transformar-se em humanos, geralmente mulheres e velhas. Existem raposas

boas e más. Dizem que elas têm de uma a nove caudas, e que demora 100 anos para uma cauda

se desenvolver por completo. Dizem também que quando a raposa tem as nove caudas sua pela-

gem fica prateada ou dourada e ela ganha a sabedoria infinita, e o poder de ver e ouvir qualquer

coisa em qualquer lugar do mundo.” Ou seja, para eles, quanto mais caudas, mais poder elas

tem. No caso, seria a raposa mais sábia e poderosa. Aqui as regras também se aplicam?

– Sim, é algo desse tipo por aqui também. Claro que existem algumas poucas diferenças,

que não influenciarão tanto. Você realmente sabe muito sobre raposas.

– Agradeço. Aqui as Kyuubi existem?

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– Ora, em um mundo onde árvores dão conselhos você acha que não existiriam raposas

oniscientes de nove caudas?

– Reino realmente estranho. Havia me esquecido por um momento. O que devo fazer afi-

nal?

– Um corte, antes de tudo. Em si mesmo, claro. Ou prefere que uma de nós o faça?

– Quê? – Após relutar um pouco, ele acaba fazendo o corte. No final das contas, essa é a

vida de um aprendiz. Se seu mestre disser “siga-me”, você o segue. Se ele diz “faça um corte”,

você faz, pois seu mestre sabe o que faz, e ensina que a disciplina é um atalho para o conheci-

mento. “Conhecimento é poder”.

– Com a outra mão você concentra mana em cima do corte. Quando se tem a técnica do-

minada, isso não é necessário.

– Entendido. – O aprendiz começa a praticar, e após algum tempo e sangue derramado ele

finalmente consegue fechar o corte. Alexis faz um sinal de aprovação, e todos menos eles dois

somem do local.

Capítulo 25- Enigma pós lição

– Parabéns Raitun. Continue levando seus ensinamentos em frente, você tem um futuro

promissor à frente. Lutas, amores, infelizmente, fatos tristes. Lembre-se de cada frase bonita que

lhe disserem, talvez elas ajudem bastante em seu aprendizado. Lembre-se dessa junto com as

outras: “Sempre existe alguém que tentará e às vezes conseguirá lhe ferir. Quase sempre haverá

alguém para curar suas feridas, porém só você conseguirá ter a real noção de quão profundas

são as suas cicatrizes”. Infelizmente, não temos mais tempo. Poderíamos confraternizar pelo seu

aprendizado, conversar. Continue praticando tudo, Raitun, e dirija-se ao nascer do sol, pois lá

renasce a esperança e a vida. – depois do breve discurso a elfa também some aos olhos do a-

prendiz.

– Acho que isso era algum tipo de enigma...

– Primeira dedução correta. Próxima? – Diz Kitsu, reaparecendo.

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– Maldita mania de vocês, heim... Passam a vida sumindo, aparecendo, sumindo, apare-

cendo...

– Sem choro, continue.

– Ela falou algo sobre o nascer do sol, então suspeito que é algo que vou ver no leste. O

que há no leste?

– O templo do rio Katonirus

– Que venha o templo então. – diz o aprendiz, e dispara como uma técnica que lembra a

da raposa maior. Esta logicamente não fica atrás, e diz “Você é quase tão rápido quanto eu.

Quase!” ao passar direto por ele.

– Olá Louise. Há quanto tempo– Diz Kitsu, em meio a uma reverência.

– Olá. Deixou o pobre aprendiz para trás?

– Na verdade, ele apenas me mostrou que sou quase tão rápido quanto ele – diz o apren-

diz, tendo acabo de chegar.

– Ora, e agora são esses os modos de um aprendiz? Curve-se aprendiz de raposa, siga o

exemplo de seu tutor, aprenda a demonstrar o devido respeito.

– Perdoe-me por tal insolência, sacerdotisa Louise. –diz Raitun em meio a uma funda me-

sura que se mantém até que o seu tutor interceda por ele.

– Ele não chegou aqui há muito tempo. Então, quem seria melhor para ensinar-lhe modos

do que um antigo dragão do leste?

– Então as raposas ainda mantêm o respeito pelos dragões. Continuam sagazes e astutas

de mais, sempre conseguindo uma maneira de se sair bem de situações problemáticas.

– Logicamente mantemos também nosso respeito, graciosidade, orgulho e ironia, ó reles

exemplar orgulhoso de dragão.

– Assim como nossas amigas em comum. Elas serão de grande ajuda.

– Temos gueixas de passagem por aqui? Em um momento oportuno como esses? Os deu-

ses estão mexendo em algo lá em cima.

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Memórias de um aprendiz

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– Temos, temos. – e uma exuberante gueixa sai do interior do templo, observando o a-

prendiz em profundo silêncio na sua respeitosa reverência. – bela mesura, para um cavalo, ou

um sapo... Você é mesmo uma raposa?

– Sim, srta. Gueixa, e se não sou bom o suficiente, então rogo que me ensine como devo

fazer. – diz ele, ainda imóvel. Ela se aproxima do aprendiz, e começa a dar suas dicas

– Ao menos sabe pedir... Não encoste a cabeça no chão, e junte as pontas dos dedos. Co-

loque os cotovelos para dentro, e não ponha seu peso nas mãos... Isso! Agora é uma mesura

perfeita para uma raposa aprendiz!

– Fico profundamente grato. – diz Raitun, repetindo a mesura aprendida.

– Ora, que graciosa mesura! Eu lhe adotaria como irmãozinho mais novo, mas parece que

você já tem família.

– Infelizmente, você perdeu esse pupilo há uns dois mil anos, ou mais. – diz Louise rindo

– Me disseram “temos gueixas de passagem”. Não temos gueixas, e sim a grande Sayumi.

Muito melhor do que eu esperava. Será uma honra para meu pupilo aprender modos com a

grande Sayumi, e espero que ele se comporte.

– Não me deve tantas honras, deve? Eu que devo muito à grande Kitsu. – E a Srta. que

acabara de aparecer de forma graciosa, mais graciosamente faz uma profunda mesura como a do

aprendiz. Em outro nível de graciosidade, pois apesar de ser uma jovem, era experiente em seu

trabalho e a melhor no que fazia. O quimono que tinha detalhes de galhos em meio à seda preta

complementava a beleza da gueixa (mais parecida com algum quadro disposta em uma mesura

como aquela). Mas ao se levantarem a atenção do aprendiz logo se voltou aos olhos da mulher.

Eram de uma cor praticamente impossível de se descrever. Seriam cinza-azulados? O aprendiz

só consegue dizer: – Que olhos exóticos...

– Obrigado. Soube que você também tem olhos interessantes.

– Devem ter falado sobre isso então. – o aprendiz lhe mostra seus olhos de raposa por al-

guns instantes, e depois os faz voltar a serem apenas olhos quase pretos e comuns.

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– Olhos da noite preenchidos de luz e raios em uma face, olhos comuns do dia com muita

madeira em outra face. Isso é uma combinação explosiva, pode causar devastações se misturado

na medida certa.

– Você tem água o suficiente para controlar isso, não tem Sayumi? – Diz Kitsu

– A água irá conduzir os raios até o chão e regar as terras onde as raízes poderão se fixar.

– complementa Louise.

– Irei lhe contar uma história que não deve ser repassada sem minha permissão. Você pa-

rece ser de confiança, e se eles confiam em você, eu também o farei. – e a grande Sayumi come-

ça a contar a história de sua vida. Após tudo, o aprendiz recapitula para não esquecer-se de ne-

nhum detalhe importante.

– Então, em resumo você não tinha esse nome, e ele lhe foi dado após virar uma gueixa. E

para virar uma gueixa, a Sayumi-san foi retirada de seu lar forçadamente, sofreu trabalhando em

uma casa onde gueixas moram. Após sofrer muito conseguiu entrar em uma escola onde elas

aprendem as coisas e ser adotada por uma irmã mais velha, que protegeu e ajudou você a ser

uma gueixa prodigiosa.

– Tirando os enormes detalhes, restará mais ou menos isso. Lembre-se: vendemos a nossa

arte, e não o nosso corpo, e a nossa arte é entreter o cliente. Servir bebida, dançar, recitar poe-

mas. Dar alegria, talvez até flertar graciosamente seja trabalho de uma gueixa. Ganhar dinheiro

apenas com sexo é trabalho de uma prostituta. Não vendemos sexo, algumas têm algo com al-

gum cliente e o praticam, e isso não significa que todas façam isso. Estamos aqui para cicerone-

ar nossos convidados. Suavemente, aos sussurros. Sempre. E como raposas, somos sempre leves

e graciosas. Infelizmente, raposas e gueixas têm caminhos tristes. Leves, graciosas, porém soli-

tárias. Lembre-se, você que escolhe qual caminho quer seguir, você então quem deve aguentar

todas as consequências disso. Em um caminho solitário muitas vezes não terá quem te apoie

quando você cair. Mas se você quer realmente seguir algo, deve se levantar e continuar cami-

nhando, sem desistir de ir até o fim.

– Posso continuar treinando, irmã? – Com esse pedido começa o desenrolar dos treinos de

modos do aprendiz, enquanto voltamos às memórias para outra que possui a ambiguidade in-

crustada em sua testa.

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Memórias de um aprendiz

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Capítulo 26 – Frustração, Renovação e Frustração

– Destruí-lo vai ser mais problemático do que pensei. – diz Hatsumomo com sua foice no

ombro e seu capuz sobre a cabeça, observando sua conselheira.

– A defesa dele é boa, não é? Ele tem belas espadas, é educado, bonito, alto e forte... Mas

dane-se isso, esqueça ele e vamos beber! – diz a conselheira com um copo de alguma bebida em

mãos.

– Eu por acaso pedi alguma droga de bebida? – e tenta bater na conselheira, porém essa

desvia de uma forma estranha e impensável ao jogar o corpo para trás mantendo os pés no chão,

e em velocidade espantosa aparece atrás da substituta segurando-a por trás. Sendo praticamente

esmagada, Hatsumomo continua – Por isso sempre te odeio, por que você sempre bebe.

– Se a defesa dele é tão boa quanto você diz o melhor a fazer é se afastar desse forasteiro.

– Se quer me aconselhar por que não aconselha a como fazer em vez de aconselhar a não

fazer?

– Por que de maneira nenhuma você deve fazê-lo.

– EU não, heim... Finalmente a grande bêbada Karen Li disse algo proveitoso!

– Nem sabia que por aqui existia alguém com um nome igual com o meu. Quando ela vi-

er novamente chame ela para beber com a gente, tá?

– Idiota... Realmente odeio você bêbada, porém nada é mais odioso do que essa ventania

da tempestade batendo de frente comigo, me afastando de meus objetivos. – nesse momento ela

interrompe sua fala e uma névoa aparece em frente a ela, posteriormente tomando forma de um

clone de Hatsumomo.

– Espero que eu o faça bem. Como combinamos?

– Sim. Vá. – o clone desaparece. Isso e outros fatos no reino levam o tempo necessário

para Raitun aprender o suficiente, agora o garoto aprecia um revigorante banho nas fontes ter-

mais próximas ao templo. Pelo menos, até uma visita chegar.

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– Olá, tempestade. – diz a mulher de capuz preto, deixando o capuz na beira da fonte e

entrando no banho junto com ele.

– Não poderia apenas pedir para eu me retirar?

– Não faço ideia do por que de pedir isso. Quero ficar um pouco mais perto por sinal.

– Por quê?

– Ora, eu sou a chuva, você é a tempestade. Somos inseparáveis.

– Ahn...oi? A chuva me lembra alguém como você, mas não acho que seja exatamente

você, porém não lembro exatamente quem é que me lembra e...bem, eu não quero você mais

per-.

– Claro que sou a chuva, tempestade. E você não existe sem mim... – diz Hatsumomo, a

mulher que deixou seu capuz no lado de fora das águas termais. E lentamente vai aproximando

seu rosto ao de Raitun. Em vez de aparecer um cupido que selasse o beijo de um provável casal,

outro tipo de arqueiro completamente diferente acerta o alvo. Com uma flecha na cabeça, duas

no peito e mais uma próxima a Raitun, Lilith faz o clone de Hatsumomo se desfazer completa-

mente, e alerta o aprendiz.

– Lilith, o que fazes tão longe de seu templo a esta hora?

– Digamos que eu li meu almanaque direito hoje. “No leste os cupidos precisam de um

substituto”. Algo do tipo. Quando cheguei aqui, resolvi parar a desgraça antes que ela começas-

se.

– Como assim “parar a desgraça”?

– Já ouviu falar em “beijo da morte”? Não? É simples: ela iria lhe beijar e sugar sua mana

até você morrer. Quer dizer, o clone dela.

– Aquilo era um clone?

– Sim, você não notou a diferença por que está usando esses olhos normais de humano.

Os olhos dos elfos são os melhores para a função a eles atribuída.

– Não entendi muito bem, mas acho não posso ignorar suas superstições.

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– Não deve. Posso entrar?

– Não, deve. – a sacerdotisa faz uma mesura e entra no banho.

– Ela não pediu permissão, não é?

– Não, e pelo jeito não deve! Às vezes as pessoas esquecem os bons modos. E o que a sa-

cerdotisa da terra gelada faz em um banho quente? – diz em tom irônico

– Dizem por aí que faz bem para a pele. De quebra, eu lhe privo de más companhias que

entrarem sem pedir permissão.

–Agradeço a dupla preocupação. A Sacerdotisa-san deve realmente cuidar da sua inco-

mum beleza.

– Por você está agradecendo em relação a isso?

– Por ter o prazer de rever sua beleza.

– Ora, além de querer me deixar sem palavras ainda continua com isso? Quer ficar aqui

sozinho novamente?

– Não faço ideia, devido à situação e ao cenário, meu pobre vocabulário não me permite

responder a essa pergunta.

– Uh... Acho que é por isso que eu amo e odeio as raposas.

– A neve irá se derreter por um mero aprendiz ou pelo calor das águas termais?

– Quem sabe? – diz ela, beijando a bochecha do aprendiz e sumindo, misturando se com

o vapor. Ainda no meio tempo o tempo de dizer “até sempre, raposa”.

Capítulo 27 – Coisas estranhas

– Coisas estranhas, mundo estranho... E mulheres estranhas. Acho que essas águas ter-

mais não fazem tão bem para a pele quanto ela disse. – e mesmo com a conclusão formada,

continua a relaxar, ou a tentar. Após um tempo, volta ao templo e é chamado pela sacerdotisa.

Ajoelha-se em frente à porta, abre-a, entra, ajoelha-se novamente e a fecha.

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Memórias de um aprendiz

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– Aprendeu mesmo as coisas com a Sayumi. Mas, não lhe chamei pra treinar isso. Acon-

teceu algo estranho.

– Dependendo do ponto de vista, concordo plenamente. – diz Raitun fazendo uma mesu-

ra. Se aproxima e senta à mesa. Assim como no templo de Lilith, as mesas e tudo mais tinham

estilo japonês. Isso às vezes o faz pensar o que é realmente aquele mundo, com tanta coisa “fa-

miliar” (e tanta coisa nada familiar, mas ainda assim familiar). Volta-se novamente à mesa,

depois de um breve devaneio. As mesas japonesas são baixas, por que os japoneses sentam no

chão ou ajoelham em uma posição chamada seiza para comer nelas ou tomar chá... Como a

maioria das mulheres, Louise se ajoelhava, e Raitun, como a maioria dos homens, sentava com

as pernas encolhidas. Espadas geralmente ficavam no colo ou ao lado do dono. Presume-se que

outras armas tenham o mesmo tratamento, afinal as armas são parte do guerreiro nesse mundo.

– Me pergunto como você soube.

– Ah, agora entendi. Não estamos falando do mesmo assunto. – Constata a sacerdotisa,

um pouco tarde talvez.

– E qual seria o seu? – indaga o aprendiz.

– Nosso aprendizado será interrompido prematuramente. Você deve ir ao próximo tem-

plo. – O aprendiz pensa em retrucar, mas lembra-se do respeito.

– Como desejar.

– Para o oeste jovem, para o oeste. E uma informação adicional importante: No reino de

Montris, os caminhos vão por VOCÊ! – E a respeito do jovem foi uma mesura e a sua retirada

do local, montado em Kitsu e rumo a oeste, como prometida.

– O que foi aquela última frase da sacerdotisa Louise?

– Informação confidencial – resmunga a raposa enquanto corre.

– Que irritante esse monte de informação confidencial! – após uma pausa, continua – Ei,

o que acontece se eu descobrir alguma informação confidencial?

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Memórias de um aprendiz

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– Informação confidencial. Primeiro: fique forte. Depois, cresça e aprenda. Por último, fi-

que realmente sábio e verdadeiramente forte. – O aprendiz por hora apenas se segura na raposa,

mantendo os olhos fechados. De repente toma um susto, é arremessado contra uma árvore.

– Isso dói, raposa maldita! – Só então ele se dá conta do verdadeiro choque: estava em

uma densa floresta negra, uma névoa embaçava tudo que se encontrava à sua volta e a “raposa

maldita” não estava lá. O desespero e o medo tomam conta do aprendiz, apesar de tudo ainda

era um humano. Um humano perdido em lugar que não sabia onde ficava, onde era ou se existi-

a. Tomado por desespero, em um lugar sombrio onde a esperança diminui, e os passos apertam.

E após um tempo o aprendiz finca as katanas no chão, vencido pelo cansaço.

– As gêmeas me pareciam tão sábias e seguras. Ah, se as gêmeas estivessem aqui comigo

nesse momento...

– Raitun...

– Ah, gêmeas...

– Raitun...

– Se vocês estivessem por aqui...

– Raitun!

– Gêmeas?! As gêmeas! Ei, onde vocês estão?

– Estamos dentro de você, seu estúpido. Somos uma existência só, lembra?

– Ah, verdade.

– Mestre idiota. Por que demônios o escolhemos mesmo? Temporada de caridade? – di-

zem as gêmeas katanas, enquanto suas lâminas brilham e elas se materializam. – Pronto, esta-

mos aqui na sua frente.

– E onde seria “aqui” no momento?

– A floresta negra do oeste.

– E era até aqui que queriam que eu viesse?

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– Um pouco mais além daqui.

– Por que vocês gostam de falar juntas?

– Apesar de sermos duas, formamos um conjunto perfeito funcionando como um só. Por

isso falamos sempre juntas. Mestre idiota.

– Tá, tá... E como eu saio daqui?

– Mestre, palavras nunca são ditas em vão. Não em Montris, e provavelmente, no seu

mundo também não.

– Como assim? – Antes da resposta ele faz um movimento pedindo para que elas não fa-

lem. Bem a tempo de escutar as vozes delas ecoando pela floresta: “em Montris”, e isso lembra

a ele da frase estranha da sacerdotisa, que tinha algo parecido com esse fragmento.

– Ah, e por que vocês só apareceram agora?

– Não fomos requisitadas por nosso mestre antes.

– Já que não foram antes, que sejam agora. O que a sacerdotisa disse antes de sairmos?

– “No reino de Montris, os caminhos vão por você!” ou algo do tipo.

– E o que isso significa?

– Sabemos, e ao mesmo tempo não sabemos. Se as palavras foram ditas a você, você

quem tem que encontrar a resposta.

– Vocês são parte de mim ou não? – O silêncio toma conta do lugar naquele momento,

até que ele suspira e diz: – Que o caminho venha até mim...

– “Caso eu peça com a minha alma”?! É uma boa ideia.

– Que o caminho venha até mim, caso eu peça com a minha alma – diz ele, usando um

pouco de mana. A aposta pareceu bem sucedida, algumas árvores se afastam, e mostram a ele

um caminho em meio à floresta escura. A essa altura, as gêmeas já voltaram pras bainhas.

Mesmo hesitante, resolve seguir seu caminho, até bater literalmente de cara em algo, que pare-

cia bem real e sólido, porém invisível. Raitun usa seus olhos de raposa, e vê que na coisa invisí-

vel com a qual bateu circula uma imensa quantidade de mana, como uma parede.

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– Uma barreira. Por que tem uma barreira no meio da floresta?

– Para afastar visitantes que não devem visitar este local, é claro.

– Quem é você?– Pergunta ele à voz feminina que veio de dentro da barreira

– Quem mais estaria em um templo protegido por uma barreira?

– Ah, então você deve ser a sacerdotisa Mary Anne.

– Correto. Atravesse a barreira para conversarmos melhor dentro do templo.

– A barreira não me deixa passar.

– Então morra aí fora, aprendiz incapaz. Não falo com quem não consegue atravessar essa

barreira.

– Mas...! – o aprendiz suspira, resolve ponderar as palavras e se focar em atravessar a bar-

reira. Após algumas tentativas falhas, ele tenta usar seus poderes para quebrar a barreira.

– Essa não é a maneira certa. – diz Kitsu de dentro da barreira.

– Raposa maldita! – o aprendiz avança tentando atingir a barreira, porém é cada vez mais

rejeitado por ela, dessa vez é jogado para trás e bate em uma das árvores.

– Você é realmente idiota. Você quer atravessar uma barreira defensiva dela com esse ní-

vel de ataque? Dessa maneira?

– E que nível de ataque eu devo usar? O poder dos deuses?

– Use a sua mana para proteção, não para atacar. Idiota.

O aprendiz concentra mana em volta do corpo, como uma armadura, uma segunda pele. E

finalmente, após algumas tentativas, consegue atravessar a barreira indo com as katanas de en-

contro à raposa. Porém não consegue acertá-la, apesar de tentar várias vezes. A sacerdotisa ob-

serva um pouco os dois.

– Você veio aqui pra brincar de pega-pega com a raposa?

– Me mandaram vir até aqui, porém eu não sei o porquê. Se puder me fazer o favor de

explicar, eu agradeço. – comenta o aprendiz.

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Memórias de um aprendiz

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– “Não sei o porquê”, heim? – a sacerdotisa põe a mão na testa do aprendiz e fecha os o-

lhos por instantes – Você está um pouco confuso. Aconselho-o a ir meditar um pouco ao lado do

Nefirus. O clima parece obscuro, mas isso irá clarear relativamente as coisas dentro da sua men-

te. – O aprendiz responde com uma mesura, se dirigindo ao rio. Ao chegar, se senta na margem

e fica observando as águas escuras passando. Suas lembranças vêm à tona. Lembranças do

quando estava em seu mundo verdadeiro, e era um garoto fechado em seu quarto que aos pou-

cos foi evoluindo, e aprendendo a viajar em suas ideias. Conseguiu algumas valiosas amigas e

conselheiras, e aprimorou tanto essa habilidade que de alguma forma estava realmente em via-

gem dessa vez. As águas pareciam um espelho de sua alma, e elas começam a mostrar cenas,

não do mundo original dele, e sim de quando ele chegou. Os pequenos aprendizados e lições.

“Nunca desista, pelo menos não até conseguir o que quer”. “Conhecimento é poder”. “Fique

sábio, assim você ficará realmente forte.”. “Mesmo que seu caminho seja solitário, se é o que

você escolheu, siga-o até o fim, e supere todos os obstáculos que aparecerem.”. Vozes femininas

lhe vêm aos ouvidos, vozes doces, conhecidas. Lilith e Hatsumomo eram quem falavam naque-

las cenas.

– Confuso entre duas? Sobre o que elas querem? – Diz uma voz desconhecida. O apren-

diz se vira rapidamente e depara com um ser desconhecido. Logo que o viu veio a sua mente a

descrição de um centauro: meio homem, meio cavalo. Porém ele não era meio homem. Parecia

ser meio elfo noturno. Apesar de bem mais forte que os outros elfos que Raitun viu por Mid-

gard, o ser era com certeza meio elfo.

– Quem é você?

– Você não me perguntou o que, e sim quem. Interessante, isso não é muito comum. Meu

nome é Ácades, sou um celtamorfo, e a minha tarefa é lhe aconselhar.

– Ah, verdade. Disseram isso antes. E como você aconselha os que vêm até aqui?

– Não sei lhe dizer exatamente como faço, apenas faço. Existem coisas que não podem

ser explicadas ou deixariam de sê-lo. Meus conselhos talvez sejam uma dessas coisas. Existe

algo melhor que conselhos para abrir a mente e clarear as ideias?

– Se existe, não conheço. Que venham os conselhos...

– Cuidado com os reflexos de um espelho, muitas vezes eles distorcem a realidade. Não

posso lhe dizer mais que isso.

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– Agradeço assim mesmo. Sei que isso é algum tipo de enigma, porém tentarei decifrar. –

Diz enquanto o estranho ser da floresta negra se afasta rapidamente. Raitun volta ao templo para

tomar chá e conversar um pouco com a sacerdotisa. E novamente no caminho do mundo, o a-

prendiz indaga à sua montaria sagaz e falante: – Kitsu, qual a próxima parada?

Capítulo 28 – O caminho a seguir

– O caminho.

–Como assim?

– O caminho de um aprendiz. Hora de por suas habilidades em prática.

– Como farei isso?

– Você irá fazer trabalhos, missões para o reino, assistido por mim.

– Quando e onde começamos?

– Agora. Sua primeira missão é apanhar aquele gato preto à nossa frente. Ele definitiva-

mente não é daqui. – O garoto ia perguntar algo, porém o medo dos olhos amarelos da raposa é

maior e o impede. A única opção que lhe resta é tentar em vão pegar o tal gato. E falhar inúme-

ras vezes. Logicamente, o gato não era dos mais comuns. Saltava, mudava de direção no ar e

por vezes até sorria debochadamente de orelha a orelha de Raitun, sumindo e virando fumaça

quando Raitun tocava seu corpo. Finalmente a irritação supera a paciência e os olhos amarelos

da raposa aprendiz fixam o alvo da missão.

– Gato idiota!– diz Raitun, enquanto as raposas invocadas por ele rapidamente (e final-

mente) capturam o gato.

– Você entendeu o que disse sobre "usar suas habilidades" ou é o aprendiz mais idiota

desse reino?

– Acho que apenas não me acostumei a ter "habilidades".

– Perder para um gato, lamentável.

–Ora, cale-se! Raposa maldita.

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– Exijo respeito de fracos que perdem para gatos. Devem me chamar no mínimo de

"Grande Raposa".

– Qual a próxima missão, ó grande e honorável raposa?

– Eu deveria condenar a virar escravo quem falha miseravelmente a honra das raposas

perdendo assim para um gato. Lamento não poder fazer isso dessa vez. – Logicamente, tal frase

levanta a questão "por que dessa vez não?”, mas perguntas desse tipo são sufocadas por qual-

quer coisa, a todo custo. Você também acaba de ter a impressão de que tais perguntas voltarão

com o vento? Então estás realmente imerso em nossas memórias. O caminho do aprendiz acaba

de começar, e seu tamanho é relativo, assim como tudo o é, não importando em qual mundo

estamos. Não lembro onde ou quando, mas aprendi que esse conjunto de relações e coisas de

certa forma garante nossa sobrevivência nossa alegria e nossa dor. Basicamente o caminho do

aprendiz seria absorver o máximo dessas relações, usando o aprendido para aprender. Aprender

várias lições de vida, para ter recursos para sair de várias situações problemáticas, e ajudar ou-

tros com suas dúvidas. Resumidamente, funciona como mais um círculo vicioso como muitos

outros existentes, e o complicado é explicar o que alimenta essas coisas estranhas que os huma-

nos sentem. Alguns poderiam dizer que o motivo para trilhar este ou outro caminho é a vontade

própria, o que neste caso podemos chamar de "sede de aprendizado". Não considero um motivo

algo forte o suficiente para uma prática ou tradição ser mantida de forma eterna ou duradoura.

As coisas mais importantes são feitas sem motivos específicos na maioria das vezes. Relacio-

namentos, laços, memórias e coisas duradouras de qualquer tipo são mantidas sem motivos ne-

nhum, construídas sem motivo nenhum, e consideradas coisas extremamente importantes sem

motivo nenhum em especial. É como dizer algo como "Vou fazer isso com todas as forças, juro

pela minha alma!", é como dizer “Espero que eu guarde aquelas palavras, aquele sorriso, aquele

gesto, aquele cheiro para sempre. Se isso não for possível, que eu o faça pelo maior tempo pos-

sível.”

– Chega de escrever por hoje, pirralho estúpido!

– Cale-se, raposa maldita!

O caminho do aprendiz havia continuado. Algum tempo havia se passado, e agora Raitun

ganha mais fama e suas habilidades chegam a ser superestimadas a ponto de Kitsu, seu tutor,

fazer uma aposta com o próprio Imperador do reino, Crossmusse Del Alfarroz II em pessoa. E a

aposta foi apoiada pelos Lordes Imperiais e sacerdotisas, todos do lado de Raitun. Isso ocorreu

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em uma ocasião onde Raitun foi chamado para entreter a corte (Herança gueixa. Interessante

não é?). Em meio às conversas saiu um “Se ele não pagar suas dívidas com o reino nos próxi-

mos três meses seremos seus escravos, nos rebaixaremos a simples cães fiéis. Porém, caso ele

consiga, eu tenho direito total sobre os ganhos futuros dele, vossa majestade devolve metade do

que ele ganhou nos três meses a nós dois, e ele tem direito a um desejo, qualquer um.” Os ga-

nhos citados são relacionados com as missões e caçadas. Grande parte ia para o reino, em forma

de impostos e manutenção de estragos feitos em alguma luta. Como um aprendiz no começo da

vida faz muitas coisas erradas antes de aprender, toma tempo, equipamentos e outras coisas ele

forma uma dívida maior do que o que ele ganha nas missões. Uma oferta tentadora para o anão.

Aprendizes ganham muito pouco, afinal, são fracos demais para fazer missões mais perigosas,

só conseguem saldar suas dívidas após anos, caso tenham sucesso. E é quando deixam de ser

aprendizes. Ninguém ficou mais feliz com isso do que Hatsumomo, cujo ódio pelo aprendiz

crescia, rancor e escuridão engoliam tudo aos poucos. Muitos dizem que ódio e amor são muito

próximos, mas isso é história para outro momento. A raposa tinha desde um início um plano

arquitetado, afinal, raposas não entram em apostas sem ter certeza de que vão ganhar (ainda

mais se falando em uma aposta que coloca seu orgulho e honra em jogo).

“Olá. Sim, sou eu de novo. Não, não importa quem eu sou, você que é importante aqui.

Você e o Raitun. Espero que não tenham se espantado por ele ser careca. Dizem por aí que

ele simplesmente não gosta muito do próprio cabelo, ou que ele é uma espécie de guerrei-

ro-mago-monge, ou qualquer coisa do tipo. Eu não digo nada, apenas conto e pergunto:

você gostou? Espero que sim, sabe... e... bem, apesar de ainda ter muita coisa pra contar,

pelo menos você já sabe agora o que é um aiodrome e essas coisas do tipo. E quem é o Rai-

tun. Bem, pelo menos agora vocês acham que sabem. Eu também acho que sei. Quem sabe

um dia enquanto eu vou contando e vocês ouvindo não descobrimos a verdade sobre ele?

Ah sim, o que eu sei até agora é: é verdade que ainda não aconteceram muitas guerras e

batalhas tão épicas, mas elas estão mais perto do que longe. Caso você queira continuar a

ouvir o que eu conto, vai dar de cara com elas daqui a pouco, assim como deu de cara com

Montris. ‘Puf’!!!”

Ass: Aquilo que conta

P.S.: Espero que você continue, assim não vai ter sido em vão eu ter contado que aiodro-

mes são mais interessantes do que se imagina. E um protagonista careca também!

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Parte 2

Capítulo 1 – Hora do over hit

– Vamos, pare de escrever, pirralho insolente. Eu tenho a sua libertação entre meus dentes

e assim é que eu sou tratado?

– Como assim raposa? Qual a armação da vez?

– Chegou a hora de aplicarmos o over hit.

– Over hit? O que será que é um over hit?

– Será o golpe final que de bônus trará a vitória de nossa aposta. E como efeito adicional

pode até arrancar a máscara daquela substituta.

– A Hatsumomo não é má, Kitsu, você está se enganando nisso.

– Sem tempo para discussões bobas e assuntos triviais. Lembra sobre aquela previsão de

Alexis do dragão mais poderoso?

– Lembro, dizem que ela quase sempre acerta. Mas o que tem a previsão dela?

– Matando ele o over hit será efetuado com sucesso.

– Matar o dragão mais poderoso que já existiu? Como vou matar o dragão mais podero-

so, se no último precisei de sua ajuda, e você ainda disse que ele era um lixo?

– Agora além de se subestimar quer fazer o mesmo comigo? Suas habilidades guiadas pe-

la minha inteligência serão suficientes.

– Sir Raitun, relatando problemas. – diz o aiodrome do aprendiz, interrompendo a con-

versa. – Um dragão muito poderoso invadiu o reino pelo sul. A sacerdotisa Lilith está em com-

bate contra ele no momento.

– Pyth. Nada bom... Não achei que ele vinha tão cedo. Raitun, temos de executar o over

hit agora. Lilith não tem poder suficiente para derrotar Pyth.

– Quem é Pyth?

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Memórias de um aprendiz

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– Pyth é um dragão de verdade, filho da primeira geração pura de dragões nascido há

muitos anos. Um dragão vermelho de seis asas, filho de Loth. É um dos dragões mais podero-

sos, ao Lado de Loth e Ayenth, o primogênito. Dizem que domina mais do que fogo e que mora

próximo ao submundo. É mais do que suficiente para ganhar um desejo, não acha?

– E como você sabe quem é ele? Como você sabe como ele é?

– Não temos tempo para isso, preciso liberar suas habilidades, precisamos dar assistência

a Lilith.

– Até agora você não me explicou como vai “liberar minhas habilidades”. –

A raposa toma forma de um aiodrome, e entra no corpo da Raitun. Voltamos ao mundo

espiritual do aprendiz.

– Ei, como você entrou aqui? Por que você está aqui?

– Liberando selo do modo Kyuubi. – O aprendiz não tempo de perguntar o significado da

frase. A mana da raposa invade o local, e um símbolo estranho dentro de um círculo aparece no

chão.

– Uma barreira mística circular. – continua a raposa. – Sabia que ele tinha esse recurso

no meio de suas habilidades e contratos. – O aprendiz continua a não entender, e se resume a

observar. Havia nove figuras fora do círculo, que por acaso se move e deixa o aprendiz dentro

dele. As novas figuras lembravam chamas, e um chama se acende em cima de uma figura. Ao

passo que uma acende, uma cauda da raposa faz o mesmo. Um fio de mana atravessa a barreira

e atinge o aprendiz dentro do círculo envolto pela barreira, formando uma espécie de ligação

ente os dois.

– “Agora entendo” – pensa o aprendiz.

– “Então faça logo, antes que a Lilith morra.”

– “Liberando modo Kyuubi, primeira cauda.” – Agora o susto é dar gêmeas ao ver seu

mestre se transformando. Agora havia duas raposas gigantes liberando um poder monstruoso

enquanto estão ligados por um fio de mana.

– O que eles pretendem fazer afinal? Uma explosão gigantesca?

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– Não, vão exterminar o dragão.

– E o que eles estão fazendo?

– Kitsu está funcionando como um selo para o poder de Raitun. Ele está suprimindo o

poder dele, para que Raitun mantenha seu foco e não se descontrole. Ele não consegue controlar

tanta mana ainda.

– Esses mestres estranhos que nós temos... – em meio à conversa das gêmeas, o corpo fí-

sico de Raitun toma a forma da raposa gigante e se dirige para o sul no intuito de ajudar a sacer-

dotisa. Esta, no decorrer da luta com o dragão percebe que suas flechas não causam muito dano

ao dragão, pela rápida regeneração dele. Apreensiva com a demora da chegada de reforços,

apenas se desvia dos golpes. Era o máximo que poderia fazer aproveitando-se de sua velocidade

e agilidade. Sua expressão mostra apenas relativa calma e confiança quando sente a aura aliada

nas suas costas: uma raposa gigante, quase do tamanho do dragão, patas e cauda em chamas,

olhos amarelos fixos no inimigo.

– Onde está a sua pontualidade? – indaga Lilith

– Sincronizar e controlar isso não são tão coisas tão fáceis de fazer quanto parecem ser. –

respondem em coro as vozes de Raitun e Kitsu.

– “Você não tinha mencionado que nossas vozes ficariam juntas. Agora ela sabe que es-

tamos unidos.”

– “Aprendiz idiota. Ela sempre soube disso e do plano. Por que você acha que foi desig-

nado para fazer isso? Um problema desses é resolvido por alguém do nível de Lorde imperial!”

– Porém o momento de diálogo é um descuido que acaba custando caro. O dragão finalmente

consegue acertar a sacerdotisa, e esta é lançada para longe com a patada certeira. Depois de se

certificar que realmente a sacerdotisa está agonizando, ele olha com desprezo a raposa que está

se preparando para atacá-lo.

– Agora raposas querem se comparar aos dragões? Meu pai gostaria de perder tempo es-

magando vermes insolentes como vocês.

– Quem sabe não sejamos superiores a dragões que falam de seu reflexo usando nomes

alheios? Quanto a seu pai, uma pergunta: ele realmente se incomoda com nós, ou o filho do qual

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ele tanto se orgulha é fraco a ponto de precisar da ajuda do pai para esmagar uma “reles rapo-

sa”?

A arte das ilusões é praticada com maestria por raposas, e usar palavras para tal propósito

não é algo fora de cogitação, afinal, palavras tem o poder, detêm a vida e o sentimento de quem

as usa.

– Toda e qualquer existência desse reino será desintegrada graças à existência maldita,

raposa! Aliás, por que não começamos com as penas da arqueira de curvas perigosas?

A primeira baforada do dragão é direcionada para Lilith, porém a raposa se transporta

para a frente da sacerdotisa a tempo de criar uma barreira de fogo como proteção. A ira do a-

prendiz começa a ser canalizada em poder, e mais uma chama se acende. Mais uma cauda apa-

rece.

– Ora, então terei o “grande prazer” de esmagar a “lendária” Kyuubi?!

– Tocar no orgulho de uma raposa. Imperdoável. Kitsuhi!

O fogo gelado da raposa bate de frente com a baforada de fogo do dragão, e em disputa

de fogo contra fogo, o dragão é forçado a se desviar antes de ser atingido. Esse movimento dá

tempo suficiente para a raposa pular com garras e dentes em cima do dragão, e as duas criaturas

começam um embate feroz e destruidor. Cada vez mais a ira do garoto aumenta, e ela se acumu-

la em quantidade suficiente para libertar uma terceira cauda. A terceira cauda dá leve vantagem

em poder de ataque para a raposa, o que não faz diferença, pois mesmo que as duas criaturas se

dilacerem também se regeneram muito rápido. O céu começa a se fechar com nuvens negras, e o

aprendiz nota que uma nova aura se aproxima. Seus olhos amarelos rapidamente varrem o local

procurando o portador da aura, enquanto seu corpo reage e desvia por reflexo. Finalmente acha

algo: alguém afastado do local da luta, alguém que usava um capuz e uma foice parecia manipu-

lar as nuvens. Porém não tem tempo para refletir sobre o portador da aura, está no meio de uma

luta, e uma luta que pode mudar sua vida (afinal, “um desejo concedido” é algo bem poderoso,

sendo utilizado da maneira correta). Lágrimas do céu caem sobre duas bestas em fúria, e logi-

camente, a água toda enfraqueceria teoricamente o fogo do dragão, principalmente. Infelizmente

a aparente vantagem acaba se tornando um grande problema: com a mudança de cenário o dra-

gão muda também seu elemento. Ser atingido por uma técnica de raio em meio a uma chuva

torrencial, quando se está ensopado é uma péssima ideia, não importando o fato de você ser um

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garotinho ou uma raposa mística com um terço do seu poder liberado. As primeiras descargas

liberadas pelo dragão são desviadas/defendidas com certa dificuldade. Depois veio uma rajada

contínua de raios e mana, que acaba derrubando a raposa. Quando uma bola de neve começa a

rolar, tende inevitavelmente a aumentar de tamanho.

– “Raposa, vamos liberar a próxima cauda.”

– “Não. Muito perigoso, se você perder o controle vai acabar ajudando ele a destruir o

reino.”

– “Irei destruir o dragão! Não posso deixá-lo impune pelo que ele fez a Lilith, iremos re-

duzi-lo a pó!”

– “Isso tudo pela Lilith?!”

– “Cale-se, raposa maldita! Ajude-me de uma vez!”

– “Responda, pirralho estúpido!”– Enquanto a discussão e o caos acentuam a tempestade

do mundo espiritual de Raitun, mais uma presença aparece quando o dragão preparava seu gol-

pe de misericórdia.

Capítulo 2 – Um inseto entre bestas antigas

– O que veio fazer aqui humana? O que você é para querer entrar em nossa luta?

– Ah, apenas um inseto. Diria até que sou... Um grilo falante, quem sabe. Porém, como

será que ficaria o orgulho de um dragão que foi vencido por um grilo falante?

– Uh, e o “poderoso grilo falante” pretende me esmagar?

– Ora, como diria uma sacerdotisa de nosso reino, No reino de Montris, o inseto pode es-

magar VOCÊ!!!

– Você é a próxima da lista então – o dragão se vira para a raposa, juntando mana e os

raios em volta das asas. Canaliza tudo em um único ataque em lança na raposa de três caudas. A

“intrusa” aparece entre a raposa e o ataque, tocando uma música em um violino. Uma barreira

mística se levanta à sua frente, e o ataque é parado com facilidade, sem surtir nenhum efeito.

– Defense sonata.

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– Você usou uma música para criar uma barreira... É assim que pretende me esmagar?

Vai invocar uma orquestra como seu exército?

– Requiem of Dreams. – A música tocada muda, e o dragão desaba. Dormindo em sono

profundo. –Vocês dragões tem o ego muito grande. E a boca também.

– Quem é você, e como fez isso?

– Ah, então não é a Kitsu de verdade, por isso estava apanhando. Fiz isso exatamente do

jeito dragão disse. Uma música. Se palavras têm poder, imagine quando inseridas em uma me-

lodia? A música tem seu poder se tocada da maneira certa.

– Você pode me ensinar?

– Não, ainda não. Hora de acordar o dragão. Vá.

– Acordar aquele dragão que estava prestes a me matar a alguns instantes atrás?

– É exatamente aquele. Não tem outro aqui, tem? Não questione aprendiz, apenas faça o

que estão lhe mandando. – diz Lilith, que acabara de recobrar os sentidos, com uma voz fraca.

Com alguns ataques a raposa finalmente consegue acordar o dragão, mas pela reação deste, ele

não estava tendo uma boa noite de sono com bons sonhos.

– Maldita sejais tu, pirralha anã! Serás reduzida a cinzas!

– Pirralha? Anã? – a garota com o violino começa a rir – me reduzir a cinzas... –o riso se

torna uma gargalhada debochada, que para repentinamente. – Depois do sono de beleza, o choro

e a piada. Está na hora de voltar para debaixo da asa de seu papai.

– Toque, pequena mestra. – diz o aprendiz raposa.

– Requiem of fear. Além da mudança de música, agora há um mudança de instrumento. O

violino se transforma em uma guitarra roxa, e a música calma se transforma em uma música

realmente assustadora, que parecia ter como acompanhamento as vozes dos que já se foram. A

misteriosa pessoa encapuzada some junto com a chuva, deixando o céu nublado vigiar as duas

bestes e as duas mulheres. O pavor da música toma conta do dragão, e este trata de fugir, como

se fugisse do seu maior medo em sua essência.

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– Primeiro um violino, e agora uma guitarra. E ainda por cima, só a guitarra. Mundo re-

almente estranho. Mas, por que você fez aquilo?– indaga o aprendiz

– Para que ele não lhe matasse. Você ainda é fraco. – O comentário atiçou o fogo da ra-

posa novamente. Ao perceber que a quarta chama está quase acendendo, a garota puxa da man-

ga uma flauta de bambu e troca novamente de melodia. As chamas começam a se apagar, e o

nome da melodia se revela: Sealed flute. Kitsu volta ao mundo físico e o aprendiz, em sua forma

original inicia mais um questionário.

– Habilidade interessante. Você consegue tocar algo que traga comida? Lutar me deixou

faminto.

– Não, ainda não achei esta partitura.

– Qual o seu nome?

– Hana.

– Um nome do tamanho dela, não concorda? – comenta Kitsu.

– Vá se danar, raposa estúpida. – respondem os dois a Kitsu

– E você se fizer alguma piadinha está morto. – diz Hana, agora bem próxima a Raitun.

– Entendido. A senhorita se incomoda em tirar um pouco o capuz?

– Acho que me incomoda mais ser chamada desse jeito. –diz ela, tirando o capuz

– Hum... Aproximadamente um metro e meio, cabelos e olhos castanhos... Pele negra, ah,

e seios volumosos... – diz ele, pensando alto enquanto escreve as coisas no seu caderno de ano-

tações. Alto de mais. Alto o suficiente para ser interrompido por um murro da musicista, agora

de costas para ele e recolocando o capuz.

– Mais uma palavra sobre eles e lhe garanto uma morte lenta e dolorosa, bem dolorosa.

– Tuntun, que tal então falar dos meus e ficar vivo? –Diz Lilith, enquanto o aprendiz es-

creve algo e tenta responder (Talvez tenha sido alguma reação a dois volumes que lhe pressio-

navam as costas).

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– I-isso lá é coisa para uma sacerdotisa ficar dizendo? –grita o aprendiz, tentando se des-

vencilhar do abraço por trás dado por Lilith. –Ah, quanto à minha morte, seria uma honra mor-

rer em suas mãos, porém sinto que não posso morrer ainda.

– “Como você se recuperou?”– pergunta mentalmente para Lilly

–“Tenho meus truques garoto.”

– Não pode morrer ainda, por...?– indaga Hana

– Por que preciso ganhar a aposta!

– Você é fraco.

– Então me ensine como colocar as músicas em minha lâmina! – “ou, algo do tipo” pensa

ele.

– Como diria a Louise, No reino de Montris, a música aprende sobre VOCÊ!

– Pare de imitar a Louise, é muito repetitivo.

– Nessas horas me lembro da estranha sabedoria dela, apenas isso.

– Mas, e então...

– Então você deve aprender sozinho o que deve aprender sozinho.

Capítulo 3 – Duplas problemáticas

– Sir Raitun! Lady Hana! – Mais problemas: Pyth voltou. Dessa vez junto de seu pai, e

estão rumando para Midgard. A nossa mestra está segurando os dois com uma barreira e sendo

auxiliada pela sacerdotisa Mary Anne. Elas não irão suportar por muito tempo.

– Precisamos ajudar. Algo mais a relatar?

– No momento não, Sir Raitun.

– Por que Yumi não entra em combate? E o que diabos Sigfried faz por perto sem ajudá-

la? Indaga o aprendiz após sentir as auras do lugar.

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– Querem nos ajudar a ganhar a aposta. Vamos nos apressar, aprendiz estúpido. –

Responde Kitsu.

– Ainda não. Indo com corpo e alma avariados não vão poder fazer muita coisa.

– Alexis, a mestra em artes de cura. Sendo você quem diz, devemos realmente esperar.

Diz a raposa, enquanto a recém aparecida Alexis começa seu trabalho. Envolvendo os alvos em

escudos de mana e luz ela começa a recuperar não apenas as feridas físicas, como as espirituais,

além de recuperar o mana dos guerreiros. Isso leva algum tempo, considerando a quantidade de

alvos da magia e a quantidade de mana perdida. Após severos minutos gastos com a sessão de

cura, o time de quatro pessoas (ou três pessoas e uma raposa, como preferir) se dirige ao campo

de batalha. A elfa sacerdotisa retorna para seu templo, e reza por uma vitória sem maiores danos

ao reino e seus habitantes. No caminho a raposa volta a se fundir com o aprendiz, e o time agora

composto por uma raposa montada por duas mulheres estonteantes se põe novamente a cami-

nho, planejando destruir os ameaçadores dragões.

– É, até que é confortável montar no aprendiz, não acha?

– Dessa vez eu concordo, tem algo de bom nele.

– Será que é confortável montar na forma original dele? – Pergunta Lilith com uma ligei-

ra malícia em seu sorriso

– Não sei... Mas dá vontade de testar.

– Sei como é isso, também tenho.

– Parem de falar essas coisas pervertidas como se estivessem sozinhas! Diz o aprendiz in-

terrompendo as duas.

– Mas estamos sozinhas, e montadas em uma raposa gigante.

– Dessa vez não temos culpa. Você quem foi ver o lado pervertido da situação, seu per-

vertido.

– Calem-se. – A raposa abaixa as orelhas e ganha velocidade rapidamente, Com o impul-

so Lilith Se desequilibra e abraça Hana para não cair.

– O que houve? Indaga Hana

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– É que eu tive que me segurar para não cair.

– E foi segurar exatamente meus seios?

– Ah, foram as primeiras coisas que encontrei. Perdão.

– Você ainda está apalpando-os.

– São bem volumosos, assim como o aprendiz constatou. E macios. Bem macios.

– Pare com isso! Assim você vai acabar me deixando com vontade de... Pegar nos seus!

– Você quer coisa fofa?

– Posso mesmo? Diz Hana com os olhos cintilando

– Não, não pode! Grita o aprendiz interrompendo as duas – Parem com isso!

– Ora... Ataque de ciúmes. E olhe que nem começamos nada. – diz Lilith, na mais pura

intenção de provocar o aprendiz. A raposa dessa vez foi mais esperta, e o foi suficiente para

fugir da armadilha.

– Vulpes agilita! – Dizendo as palavras certas, a raposa se move para o destino como um

raio de luz.

– “Parabéns... aprendeu a minha técnica. Aliás, fez algo mais: aprendeu o nome da técni-

ca. Saiba que existe um abismo de diferença em saber ou não saber o nome.”

– “Deu para perceber pelas espadas. Elas eram apenas espadas até eu conseguir ouvir seus

nomes.”

– Finalmente chegou, diz a voz de Lilith.

– Raposas são tão desligadas a ponto de chegarem atrasadas nas suas missões? –Indaga

Hana

– “Não, já os aprendizes pervertidos cujo mestre raposa não tem controle da velocida-

de...”

– “Dane-se, raposa estúpida.”

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– “Olhe para frente e responda, aprendiz idiota.”

– “Perdão pelo atraso”, responde o aprendiz. Só após isso nota que apesar do peso de suas

costas se manterem igual, as duas mesmas mulheres sorriam à sua frente.

– Estranho... Algum tipo de ilusão?

– Não, tente novamente. – respondem as quatro juntas.

– Ahn... Aqui a matéria pode ocupar dois lugares simultaneamente?

– Não, aqui nós podemos fazer clones. – Dizem as originais, enquanto os clones se desfa-

zem em fumaça.

– Explique-se.

– Treinamento. Você deveria estar atento, perceber que eram clones e se apressado. Fique

sempre alerta Raitun, pessoas podem se transformar em algum aliado seu, mas se você estiver

alerta pode detectar que é um impostor. – Explica Hana

– Há quanto tempo... Quem é você mesmo? – diz Lilith

– Esqueceu meu nome agora?

– Mentira! Era brincadeira, coisa fofa. Após uma pausa, ela continua: estive te esperando.

– Como assim?

– Há muito tempo... Estive te esperando.

– Do que você está falando?

– Te esperei muito... Muito, muito... Por muito tempo. – Lilith abraça o aprendiz, o mais

forte que pode, mesmo que ele não esteja em forma humanóide. O aprendiz em sua forma de

raposa, sendo esquentado pelo calor do corpo da sacerdotisa responde

– Não entendo... Mas sinto que são palavras tristes... Muito... Muito tristes. Farei o que

puder para entender... Portanto, tente me ajudar com isso.

– Ajudarei no que for necessário, coisa fofa.

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– O casal pode parar com o namoro e se concentrar?

– Não somos namorados! Dizem os dois ao mesmo tempo, em sincronia perfeita

– Ainda não... – Comenta Yumi.

– Abra a barreira, fala a raposa, e a Arquiduquesa atende prontamente o pedido. Assim

recomeça o embate das bestas. Pyth contra a raposa, Hanna e Lilith contra Loth. Sem paciência,

e talvez para contrariar a última batalha, o primeiro dragão é fácil e rapidamente vencido com

uma mordida no pescoço. O grande problema agora era Loth. O pai do dragão morto, que além

de poderoso era arrogante, estava “apenas esmagando insetos”.

– As suas flechas são a única das nossas habilidades que causa algum dano nele.

– Mas não são poderosas o suficiente.

– E se elas fossem poderosas o suficiente?

– Como você pretende causar um dano tão maciço e derrubar um dragão com uma flecha?

– Usando meu mana além do seu, diz o garoto voltando à forma original. Vamos unir

nossos poderes assim como fiz com a raposa.

– Não nos resta nada a não ser tentar. Kitsu, Hanna, criem uma abertura. Yumi, Mary, fi-

quem na cobertura, assim não se esforçarão tanto.

– Graciosa até nas mínimas ordens, comenta Raitun.

– Galante como sempre. – Responde a sacerdotisa, e após a situação acena para o apren-

diz, este põe sua mão sobre o ombro dela e transfere um pouco do seu poder para ela, que lança

os dois poderes no coração do dragão.

– Vocês (se referindo também a Kitsu que havia ajudado no último golpe) não precisa-

vam ter dado tanto poder para minha flecha, o de um só é suficiente. Acho.

– O que importa é que ganhemos nossa aposta, ou talvez um pouco mais.

Capítulo 4 – Algo bom e Nada bom

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– Nada bom. Algo mais poderoso está vindo, comenta Yumi com uma expressão preocu-

pada.

– Mais poderoso quanto?

– Mais do que os outros dois juntos. Não entendo, a existência dele havia sido apagada há

tanto tempo, não acredito que seja realmente ele.

– Quem é esse “ele”? Pergunta o garoto.

– Ayenth.

– Ayenth?! Indaga um coro incrédulo.

– Quem diabos é Ayenth?

– Temos tempo para isso? Pergunta a grande raposa. Após receber uma resposta positiva

retoma as palavras. Preste atenção garoto, pois tenho uma história antiga e dominada por magias

para lhe contar. Embebida em coisas épicas, excentricidades e valores. Um breve silêncio tomou

conta do local naquele momento.

– Por que a hesitação Kitsu? Pergunta Raitun, afinal em vez de história escutou silêncio

após aquelas palavras.

– Tempus levitatus... É o que ela responde.

– O tempo voa, em uma língua morta do seu mundo. Para os personagens de uma história

tudo parece ter acontecido ontem, ou estar acontecendo, diz Lilith.

– Voltando os ponteiros, você vai descobrir muitas coisas ocultas. – Talvez a raposa tenha

dito isso como forma de traduzir algo que Lilith resmungou de forma não compreensível. A

sacerdotisa continua.

– Deixe isso comigo. Não é o momento certo de se ficar contando histórias épicas. Quan-

do for faço bom uso do recurso.

– Concordo. E antes de tudo, é uma sugestão da grande Lilith, comenta Yumi. Hanna a-

cena positivamente, mostrando concordar também.

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– Já que todas as meninas concordaram, o seu desejo mútuo será uma ordem. Lembre-se

de todos os detalhes se possível.

– Um detalhe muito importante é o local do seu túmulo: aqui.

– E você é...?! Pergunta Lilith, fitando o encapuzado que acabar de proferir e rase e apa-

recer em meio a eles. Em vez de responder verbalmente, este se transforma em um dragão. Um

enorme dragão. Negro, maior que os outros dois e com uma aura terrível, realmente densa e

assustadora para o aprendiz.

– Holy Arrow! São as primeiras palavras da batalha proferidas por Lilith, invocando uma

flecha de luz sagrada. A flecha causa um dano considerável na asa do dragão, infelizmente ele

também tem uma regeneração estupidamente rápida. O aprendiz puxa suas katanas e começa a

tentar atacar o dragão. Apesar do empenho e da quantidade de golpes, os ataques físicos do a-

prendiz são inúteis em relação a regeneração quase instantânea. Os ataques com a música vin-

dos da guitarra de Hanna também não surtem efeito. Canções de ninar não fazem demônios

terem pesadelos, a melodia dos trovões não traz nenhum medo aos orgulhosos serem acostuma-

dos a rotineiramente aniquilar cavaleiros: Uma flecha sagrada abre mais um furo em sua asa, e é

o que o grupo precisava para matar a charada do ponto fraco do inimigo.

– Use novamente seu poder! Grita Raitun. E dessa vez, mantenha o foco no coração!

– A marca inscrita nesse coração orgulhoso é muito grande para este simples inseto que

vocês chamam de sacerdotisa arranhá-lo. Nossa escuridão é mais densa que a sua luz, e por isso

este lugar seu túmulo.

– Como diria a Louise... No reino de Montris o inseto esmaga VOCÊ! Gritou o aprendiz e

continuou a mensagem diretamente dirigida para a mente da sacerdotisa.

– “Por que ainda não atirou?”

– “Por que meu poder é suficiente. Você viu que não é, que a regeneração dele é muito al-

ta. Se eu quisesse atirar duas flechas no meio tempo ele teria se regenerado.”

– “Eu já sei, e já disse para você usar o meu poder junto do seu se preciso. Confie em

mim”

– Vamos?

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– Vamos.

Capítulo 5 – Muito sugestivo

Raitun passa o braço pela cintura da sacerdotisa, abraçando a firmemente por trás. A mão

livre encontra a mão da elfa que segura o arco com facilidade, e enquanto o resto do grupo dis-

trai o dragão, eles reiniciam a conversa.

– “Posição sugestiva, não é?” Comenta Lilith

– “Deve ser exatamente isso que os outros estão pensando. Quase posso ouvi-los pensan-

do isso. Perdoe-me pela insolência, mas na resisti á oportunidade”.

– “Isso quer dizer que além de tudo está tentando me seduzir?”

– “Temo dizer que é o contrário, Grande Lilith.”

– “Com quem aprendeu tanto?”

– “Com a melhor. Ela é tão boa que talvez me ensine como se mate dragões."

– “Ah, vai sim. E com todo o prazer, coisa fofa.”

O casal abraçado toma posição e uma flecha de luz toma forma no arco. Mas não era mais

apenas uma flecha de luz como as que Lilith costuma usar. Adicionando seus poderes ao poder

do aprendiz o mana em volta dos dois toma forma, e sua aura combinada tem uma presença tão

poderosa quanto à do dragão. O mana dos dois tomou literalmente forma. Diria que posso des-

crever como um gigantesco arqueiro alado feito de pura mana, com duas asas gigantescas. Não

era como uma entidade invocada, e ao mesmo tempo era como uma. Rodeava o casal, como se

eles tivessem tomado a forma daquele arqueiro. A entidade materializa um arco de seu tamanho,

muito parecido com o da sacerdotisa, e enquanto este começa a reunir mais mana usando o

mesmo processo de Lilith para fazer flechas os outros continuar a atacar e distrair o dragão.

Porém diante da ameaça do arqueiro o dragão volta atenção para os dois que estão invocando

algo tão poderoso quando ele. Ele tenta atacá-los várias vezes, e os golpes são defendidos pelo

grupo, mas um dos golpes acaba atravessando a defesa, e uma rajada de fogo é lançada sobre os

dois, sem surtir efeito, a entidade envolta de mana maciça os protege e não sofre danos. Após

receber o ataque a entidade contra ataca com uma flecha, que encontra no caminho uma rajada

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de mana vinda da boca do dragão. A flecha atravessa isso facilmente e destrói uma das seis asas

do demônio em forma de dragão. Com um tiro na cabeça e um último no coração o grotesco

dragão é derrubado, e partes de seu corpo começam a se desfazer, até que ele suma por comple-

to. A entidade faz o mesmo, dela sobra apenas o original Mihawk, que se encontra na mão de

Lilith, que se encontra deitada por cima do aprendiz, que no momento foi encontrado deitado na

grama (com a sacerdotisa ainda em cima dele), exaustos por terem usado muito mana.

– Estão melhores do que eu esperava... O uso de poder espiritual causa cansaço físico, e é

preciso uma enorme resistência física para aguentar uma grande quantidade de poder e aumentar

a duração de uso desse poder. – é o que Yumi comenta.

– É verdade, concordo... O que aconteceu?

– Não consegue se lembrar ou não entendeu o que acaba de acontecer? Perguntou Hanna

–...

– Deixe-me ver como posso explicar-lhe de forma convincente. Ela pediu seus poderes,

correto?

– Não, eu os ofereci.

– Dá quase no mesmo.

– Há uma diferença colossal entre um e outro.

– Ora, por que você não a deixa continuar? Interrompe Yumi.

– É coisa fofa... Deixe-a continuar... Sussurrou Lilith, fechando os olhos e se aconche-

gando em cima do aprendiz.

Hanna retomando o assunto: – Então você OFERECEU os seus poderes para que ela pu-

desse derrotar Ayenth. Ela aceitou e em vez de repetir o ataque usado no primeiro dragão, inte-

ligentemente fez uso de algo mais poderoso: Ancient mana. Magia poderosa e antiga de nossos

ancestrais.

– Um dos anjos usa o poder dos dois, e estes se convertem em um único, proporcionando

a vitória dos dois, completa Yumi.

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– Interessante. Mais interessante seria obter mais detalhes sobre isso. Correto?

– Correto... Mas... Me leve para casa... – sussurra de novo (Lilith)

– Vamos... – Diz o aprendiz, levantando se e pondo a sacerdotisa nos braços.

– Enquanto você a carrega, eu vou cobrar nossa aposta, diz a raposa antes de sumir.

– Então, acho que esta é minha deixa, diz a musicista guardando seu instrumento. Espero

que as boas melodias o acompanhem e sejam levadas junto com os ventos que correm para vo-

cê. E que a brisa traga as notas certas.

– Isso é um enigma junto de uma despedida para na mais voltar?

– Informação confidencial.

A garota se põe a caminho, a musicista e seu instrumento juntos em um saem em busca

de novas melodias.

– Nos veremos novamente, Srta de seios volumosos...

– Eu quebraria cada osso seu em sete lugares se ainda me restasse energia.

– Então, recupera-te e faça isto.

Capítulo 6 – Aquela história continua

Yumi pensou em chamar a sacerdotisa Alexis, porém antes de fazê-lo olha novamente pa-

ra Raitun e Lilith, e tem algo a ideia fixa na mente de deixá-los a sós. Também é interessante

para o aprendiz treinar suas habilidades de cura. A arquiduquesa resolve chamar a Srta. Hitch e

em breves sinais e palavras lhe dar uma mensagem. Ela pretendia manter os olhos no casal e

para tal envia Hitch com os olhos neles e magia em volta dos três. Enquanto o aprendiz está em

forma de raposa e Lilith está em suas costas, deitada, abraçada em seu pescoço, a maga faz seus

preparativos. Eram uma poção de invisibilidade mostrada anteriormente ao aprendiz e uma pe-

quena mochila (logicamente como era algo como uma “missão de espionagem” ela faz o possí-

vel para não ser percebida, talvez não com sucesso e eles a tivessem ignorado) onde guarda

alguns frascos vazios.

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A partir desses momentos avançamos um pouco o tempo, após uma conversa sussurrante

entre os dois no caminho, a sacerdotisa está sendo curada de seus ferimentos pelo aprendiz. Um

clone do aprendiz, melhor dizendo. Lilith se posiciona de forma que Raitun possa ser acolhido

em seu colo. Relativamente bem, ela própria puxa assunto.

– Parabéns por ter ganhado a aposta.

– Graças a sua ajuda.

– Nada disso. Graças aos seus poderes, seu suprimento espiritual interminável... Que fô-

lego garoto!

– Graças à cooperação de todo o grupo, conseguimos purificar o mal contigo naquela cri-

atura, correto sacerdotisa-san?

– Correto, coisa fofa plagiadora de frases enormes que falam de coisas santas.

– E é preciso algo desse tamanho para ficar me definindo?

– Quer apenas uma palavra?

–Quero.

–Chato.

–Menos.

–Desajuizado.

– Não?!

– Estranho?

–Talvez...

– Obscuro.

– Relativamente.

– Misterioso!

– Sim!

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– Não.

– Qual?

– Anormal.

– Perfeito. Um ataque de riso conta dos dois no momento.

– Lembra da história?

– Aquela cheia de coisas místicas e deuses, e algo do tipo?

– “Exato.”

A garota interrompe a leitura do ancião, dizendo: “Para realmente entender o agora, é

preciso rever o que se passou”. Então foi por isso que ela resolveu contar a tal história para o

aprendiz.

– Exatamente. Ainda lembra-se da história do começo de tudo?

– Lembro, lembro muito bem.

– Então podemos continuar pulando a história que está na história?

–Podemos sim, assim economizamos tempo.

–Onde ela continua... – diz ele folheando o livro, até apontar algo em uma página. Aqui,

em “o incansável trio se rende ao cansaço...”... “caindo assim os três em um sono tranquilo e

profundo...”.

Em meio a sonhos e devaneios que levam ao delírio profundo, em meio às sombras, uma

foice negra se prepara para ceifar a alma do aprendiz. A morte dessa vez foi falha, e falha mise-

ravelmente. Aprendizes dormem, elfas dormem, mas entidades não dormem. As irmãs katanas

aparam o golpe, e enquanto se materializam a sacerdotisa desperta e aponta o arco para a pessoa

encapuzada que tentou tirar a vida do garoto. Rapidamente ela nota os detalhes da foice.

– Essa foice... Você é realm-

– Desarme! Diz a Srta Hitch, saindo de seu “esconderijo”. Como as katanas, a foice e o

arco estavam praticamente disputando o mesmo espaço, as quatro armas são lançadas para lon-

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ge. A única que se mantém no lugar é a varinha da maga. A esta altura, já estava imobilizando a

invasora com magia.

O aprendiz levanta-se do colo da sacerdotisa e se espreguiça (e a sacerdotisa por algum

motivo tapa os olhos com as mãos durante esse momento) e indaga ao invasor:

– Ora Amy... Há quanto tempo. É um costume seu visitar regularmente os forasteiros?

– É um costume teu nunca me acordar cedo? Quase perdi a parte divertida da festa, inter-

rompe Hitch.

–Não lhe desperta algo essa minha comum situação? Nenhuma lembrança?

– Ah, muitas... Inesquecíveis, afinal, a chuva me lembra uma pessoa.

– Como a tempestade descobriu minha presença em meio a tal desordem? Alguma habili-

dade especial de perceber auras mesmo que elas estejam escondidas?

– Não... Algo infinitamente simples: reconheci-te pelo cheiro. Lembro-me fielmente dos

cheios de pessoas importantes... Impossível confundir um com outro, diz ele franzindo o nariz.

– Agora você tem algo a mais para lembrar-se dela. Mais uma vez, ela tentou lhe matar.

Na nossa frente, como fator agravante.

...

Capítulo 7 – Punição dupla

O aprendiz paralisa diante das palavras da sacerdotisa, e Hitch toma a palavra.

– Ela estava premeditando isso há muito tempo, e você sabe. Só não sabíamos que al-

guém de seu nível seria pega tão rapidamente por uma armadilha óbvia como essa.

– Dane-se, sua meretriz. Ceifarei suas almas, e a liberdade virá.

– Infelizmente, o quadro ainda é pior, diz Yumi aparecendo em frente ao quarteto (as gê-

meas sumiram quando atingidas pela magia)

– Se não tens algo mais belo que o silencio a dizer, cale-se, retruca Raitun.

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– Não é belo o que tenho a dizer. Além de tentar lhe matar várias vezes, e tentar fazer o

mesmo com pessoas do reino, ela traiu o nosso reino servindo de espiã para os Luminus. Levava

informações de nossas tropas e afins.

– E a punição para seus crimes...

– É a morte.

O aprendiz se dirige á porta, em forma de raposa.

–Não concordo com a morte dela, ou com mortes de pessoas próximas, aliadas ou outra

qualquer. Algumas delas acontecem, outras são “necessárias”... Não concordo, porém um mero

aprendiz não pode fazer nada contra as leis de seu reino. Muito menos contra as de um reino do

qual não é filho. Que seja feita a sua lei. Não posso me meter nisso... Não me cabe o direito...

Ainda não. Após essas palavras ele sai correndo em forma de raposa.

– Maldita sejais tu, substituta, por profanar locais sagrados e trair nosso reino de tal for-

ma. De si, que os deuses tenham misericórdia. Que a luz a acompanhe até a morada de seus

ancestrais nessa despedida, é o que Lilith diz.

– Infelizmente o arrependimento virá Lilith, e a marca feita em ti te levará junto comigo.

– Belas palavras, belas e equivocadas. Estas aqui serão as últimas. –ela aponta a Kaleido

para o rosto de Hatsumomo – Dai Bakuhatsu.

A maga desintegra o corpo da substituta com essas palavras. Substituta que seria agora

conhecida como traidora caso essa informação vazasse. A essa altura o aprendiz estava longe,

decerto pensando no ocorrido. Paralisa novamente. Sente que uma aura está se esvaindo diante

de seus sentidos, como se alguém importante que estivesse lhe tocando estivesse se afastando e

se desfazendo, se despedindo naquele exato momento, lento e duradouro, que se estende até a

eternidade. Tudo aquilo e a corrente de pensamentos que toma conta de seu ser começa a escor-

rer sobre ele como as gotas da chuva que começa a cair. Lentamente, lentamente, mais fortes,

mais rapidamente, agora várias e várias. Uma chuva torrencial. São gotas profundas, penetram

nas mais profundas profundezas da terra, e mais profunda parece ser a dor da raposa, e ainda

mais profunda parece estar a localização da alma da Hatsumomo. O tempo passa, sabe-se lá

quanto. Ora, pra que noção de tempo? Aos poucos começa a se mover, lenta e cabisbaixa rapo-

sa. O que se passa em sua sábia cabeça, só ela poderia nos dizer. Ou melhor, só ela que não

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pode nos dizer. Não agora, não daqui a dois dias. Não até que apagasse de dor e cansaço mental,

físico, metafísico, espiritual. A raposa em sua aura de melancolia adentra na floresta negra, en-

volta em flashbacks e instantes de relembrar momentos. Alguns deles ocorridos ali mesmo.

Outros em sua terra natal. Todos essencialmente importantes para tê-lo feito chegar ao seu atual

estágio de angústia. Todos sem importância nenhuma diante daquilo que tomou conta de seu

coração. O luto se materializa como um fardo pesado para ele, e mesmo assim a raposa apenas

caminha, caminha, e caminha, e caminha, e é finalmente vencida, após toda a resistência. Estava

em desvantagem numérica contra angústias, lembrança antiga, sentimentos, cansaço. Quem vem

em seu socorro nos momentos de total perdição é parte de si mesmo. Só assim a “salvação da

imersão em melancolia” pode ser efetiva. As gêmeas katanas, unidas na guerreira semelhante a

seu mestre chamam pelo seu nome. Inicia-se dessa maneira um diálogo a quatro em seu mundo

espiritual, o mundo das tempestades agora completamente tomado por uma chuva de dor e tris-

teza.

Capítulo 8 – Outra história

– “O que querem de mim? Vocês já sabem o que está acontecendo...”

– “Queremos o seu poder.”– responde a guerreira de katana dupla. Voz dupla também ela

tinha, e com voz dupla continua. “Graças a seu poder, eu e aquela raposa branca existimos. Não

queremos morrer, assim como qualquer ser vivente. Queremos seu poder, o de nos dar vida.”

–“Seu coração tomado pala tristeza acabará apagando a nossa existência, essa chuva aca-

bará varrendo de seu interior a nossa existência!” Era a raposa continuando.

–“A chuva, que nunca deixa de me lembrar uma pessoa...”

–“Mestre... A Hatsumomo se foi, nem mesmo a mais poderosa das criaturas desse lugar

pode restaurar uma vida perdida” Dizem as katanas

– “Não... não era ela, não era exatamente ela... era algo que eu pensaria muito antes de

contar até a mim mesmo.”

– “Ora filhote, nós somos você. Em parte... nossos contratos feitos... comigo, um selo de

minha vontade própria, com elas, um pacto. Nos dois casos, união e submissão a você.”

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–“Sábias raposas e entidades... com as colossais capacidades de argumentação. A Hatsu-

momo era como a chuva... por isso me lembrava alguém. Alguém que foi importante na minha

vida. Vivi por muito tempo no escuro e na ignorância, no frio, na solidão. E essa pessoa apare-

ceu e me tirou disso, era alguém que mantinha longe do frio da solidão, e desta última propria-

mente dita. E o que verdadeiramente se chama solidão aparece na ausência de amor, foi o que

ela ensinou. Mas ela, aquela pessoa me manteve longe disso. A pessoa que por momentos me

deixou de forma aconchegante em seus ombros. Quando ela fazia isso apagava toda angústia,

tristeza, cansaço ou ansiedade que residia em mim. A pessoa que algum tempo depois não me

recebeu mais em seus braços, nunca mais me iluminou com um sorriso, nunca mais me fez en-

tender inúmeras palavras com um simples olhar, nunca mais me guiou puxando-me pelo pulso...

nunca... Fiquei feliz mesmo assim, mesmo com a distância tornando isso tão triste e drástico.

Antes de ir ela me ensinou outra coisa. Mais vale a ausência sincera do que a presença falsa e

incompleta. E após me ensinar aquilo... reticências. Tentei ler aquelas reticências, aqueles olhos

eram vagos por natureza, ela foi o maior mistério que eu tive em mãos. Costumo dizer que as

personalidades parecem enigmas. E quanto mais deciframos o enigma de alguém, mais sabemos

da personalidade daquele alguém. As existências ficam nesse eterno jogo, liberando partes de

seus enigmas propositadamente, escondendo outras para que não sejam vistos por certas pesso-

as. É certo que não dá pra decifrar totalmente a outra pessoa, mas eu sempre gostei de ver o

máximo que conseguia. E apesar de tudo, apesar dela dizer “até que você me entende”, ela foi o

enigma mais complexo que eu tive pra decifrar. E antes que ela me acolhesse mais uma vez, se

foi. E assim até a chama eterna da esperança perdeu forças e apagou.”

–“Você só se preocupa com os problemas dos outros. Se você arrumar só a vida dos ou-

tros, quem vai arrumar a sua vida? A solidão não provém da falta de companhia, ela nasce da

falta de amor, assim como ela ensinou. A sua “pessoa importante”... por isso chove nesse mun-

do, e nós sentimos frio, assim como você, filhote. ”Responde a raposa gigante, acolhendo a

pequena raposa entre as patas.

–“Raitun... Raitun! A sua voz é a que alcançou as nossas almas. Ela que nos uniu e nos

aconchegou... deu-nos um ombro para nos sustentarmos. Por isso queremos ouvir novamente

sua voz. Sempre. Não somos muito fãs da chuva, não neste mundo. Neste mundo também cho-

ve. Quando você enfrenta problemas, quando está com a calma tomada pela melancolia, o céu

aqui se fecha e começa uma chuva que nós odiamos. Odiamos essa chuva, e temos medo de nos

molhar nessa chuva, nesse mundo solitário. Queremos parar essa chuva, e vamos emprestar a

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você todo o poder que precisas, mostraremos a você o quão poderoso é a perfeição em forma de

aprendiz. Vamos nos acolher uns nos ombros dos outros, e cooperar, e não deixar o outro com

frio. Você compreende o pavor que tenho dessa chuva? Não queremos mais que chova aqui,

queremos apenas nossos ventos assustadores e tempestuosos. Se você acredita em mim, digo-lhe

que não deixar um pingo de chuva nesse mundo. Se chamar os nossos nomes, atenderemos ao

seu chamado, até destroçar nosso inimigo! Acredite em nós, mestre. Você não é o único que

está lutando para arrumar os problemas dos outros, e seus próprios problemas. O poder de acre-

ditar é seu.”

–“Acredite em nós, e reacenda o fogo da raposa. Acredite que não é o único que luta para

arrumar problemas alheios, e seus próprios problemas. Você tem o poder de acreditar.”

Capítulo 9 – A marca da foice

– Cumulus Nimbus... Tenko Kitsune-bi...

– Finalmente acordou, comenta Mary Anne acolhendo a raposa no colo.

– Entrei em seus domínios?

– Está dentro do templo. Não poderia lhe deixar jogado na floresta debaixo daquela chu-

va. Lilith me mataria quando soubesse. “E ela não está em condições de ficar se estressando

com isso” Pensou ainda.

– Detalhes.

– Ainda não posso... Aliás, você também não pode. Não pode desistir de seu caminho a-

gora.

– Quando a presença de Hatsumomo se foi senti a presença de alguém importante toman-

do o mesmo rumo. Preciso voltar verificar, ajudar aquela pessoa.

– Alguém está precisando muito da sua ajuda, e está bem a sua frente.

– Quem seria?

– Lilith.

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– Detalhes. O garoto toma a forma de garoto e se senta, ainda mantendo as orelhas de ra-

posa.

– Em alguma das lutas com Hatsumomo Lilith foi ferida por aquela foice. Não foi uma

ferida comum, aquela foice não era comum, e estava pior do que já era antes. Do ferimento bro-

tou um mal antigo, uma magia negra chamada shi no shirushi.

– Shi no shirushi?

– Sim. “Marca da morte”. Essa marca é como uma doença, se ela crescer e se completar,

Lilith morrerá. O que precisamos, o que você precisa é descobrir junto com Alexis a cura ou o

contra feitiço, ou algo que a salve. Você parte amanhã ao nascer do sol. É perigoso à noite com

os Luminus se infiltrando no reino.

– Vou agora. Raposas têm boa visão.

– Tome cuidado. Cautela, porém urgência. Como você sabe, o rio em meus domínios é o

lugar onde se lamenta pelos mortos. Se não houver acordo com a morte, acabaremos tendo mais

alguém por quem lamentar... Meus domínios não são regidos pela alegria, por isso você quem

precisa fazer isso por ela.

– Explique-se.

–Vá.

–“Lamentar os mortos”... – O aprendiz faz um gesto com a mão, invocando Kitsu.

– Ora, você não era uma raposa independente? Diz a raposa ao aparecer

– Se você já está ciente dos fatos, e sei que está, sabe que não deveria estar arrumando

pretexto pra discutir.

O aprendiz se dirige ao Nefirus, onde para, se ajoelha e lamenta por alguns momentos a

morte de Hatsumomo. Pede que Lilith não tenha o mesmo destino. Não agora. Acaba até ga-

nhando certa atenção dos celtamorfos com a oração fervorosa. Além disso, consegue uma breve

conversa com Ácades, o celtamorfo que lhe aconselhara outrora em sua primeira visita ao local.

O conselho dado dessa vez foi “Mantenha seu caminho sem se importar com nada, mantenha

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sua escolha sem se importar qual é.”. Depois da parada no rio os dois partem em direção ao

templo do norte. Lá as respostas das perguntas não são tão animadoras quanto ele esperava.

Capitulo 10 – Conselhos da Matriarca

– A única coisa que purificaria algo poderoso como aquilo seria uma pena da cauda de

uma fênix. E há muito, muito tempo elas sumiram. Além de que demora muito tempo para pre-

parar uma pena de fênix adequadamente. Infelizmente, minhas mãos estão atadas. Mas não as

suas: tenho uma missão especial para te dar. Amanhã, mais ou menos a essa hora estaremos em

um grande festival que acontece em Midgard. Quando estivermos lá você irá entretê-la como se

o imperador fosse seu vassalo. Sua sacerdotisa está com a morte marcada, mas você dará a ela

uma morte digna e feliz. Por agora, descanse aqui. Amanhã você irá ajudar a Louise com os

preparativos do festival.

Ouviu as ordens da elfa, depois resolveu sair do templo e dirigir-se para a floresta. A flo-

resta das Trwillow. Anda um pouco por ali, e acaba se deparando com a majestosa e enorme

Yggdrasil. Após uma breve prece ele continua andando por entre as árvores, e em frente à maior

delas faz uma nova parada ao escutar uma voz densa que ecoa por ali. Vinha da maior Trwillow

da floresta, a que estava diante de seus olhos. Seria uma árvore comum, se não fosse pelo porte

e por vários galhos que se mexiam como se tivessem vida e mobilidade de dedos. E por certa

parte do tronco lembrar um rosto. Novamente o som da gigantesca árvore ecoa quebrando a

contemplação do garoto.

– Olá filhote. O que você veio procurar por aqui?

– Paz... Conselho... Algo. Não sei. Perdão por estar andando por aqui repentinamente e

não ter me apresentado, e peço perdão novamente por não saber quem é você.

– Me chame de Tatsuy. Sou a mais antiga das Trwillow.

–Então você seria algo como uma “vovó Trwillow?”

– Não me chame assim... Pareço uma velha desse jeito. Que tal um meio termo. Chame-

me de Matriarca ou Tatsuy.

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– São nomes interessantes. O primeiro é poderoso, o segundo é... Exótico.

– Como se você pudesse falar de nomes exóticos, tuntun. Então filhote, o que você real-

mente veio fazer diante de mim? Mergulhado em dúvidas?

– Não acho que seja exatamente isso Tatsuy.

– Que intimidade... Então, você veio me dizer que já decidiu o que vai fazer?

– Algo do tipo. Mais precisamente, vim lhe dizer o que eu decidi. Acho que acabei demo-

rando mais que o devido pra me decidir. E que tudo acabou influindo nisso. Seria problemático

escolher apenas uma. Pensei em retornar ao frio e á solidão. Continuei pensando, e me decidi.

Não queria que alguém pensasse que era a “alternativa”. Acho que aos escolher, percebi que

mesmo diante de milhares de alternativas, se a sua alma, sua personalidade e seu desejo não

mudar, a escolha não irá mudar. Não quero mudar a mim mesmo, nem o que escolhi. Ela foi

quem eu escolhi.

– Então seria por que “a tempestade faz um enorme estrado, uma tempestade com uma

nevasca faz um estrago infinitamente maior”?

– Diria que é algo do tipo. É ótimo fazer grandes estragos.

– É verdade. A tempestade não depende da chuva para ser tempestade. Ela provoca a

chuva. Vire uma nevasca, não vá contra a natureza dizer que depende da chuva.

– Agradeço pelos conselhos Matriarca Tatsuy. Algo a mais pra me dizer?

– Ah, sim! Você vai entretê-la, não é? A sacerdotisa da neve?

– Correto. Alguma recomendação em relação a isso?

– Atenção total a ela. E cuidado redobrado. Sinto que a calmaria está para acabar. Se esti-

ver certo de sua escolha, conte a ela.

– Pensarei nisso com cuidado...

– Descanse agora filhote. Amanhã grandes coisas vão acontecer. O vento está me contan-

do.

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– Agradeço novamente, grande matriarca. Agora vou olhar o teto, espelho que reflete

meus devaneios, até o que o sono tome conta de meu ser.

– Vá em paz, com a benção de Lilith, diz a grande Trwillow ao aprendiz. Este se retira da

presença da matriarca e vai se deitar no chão do templo. Acha algo como um colchonete ao

lado, chamado no Japão de futon. Era de se esperar, considerando toda a fachada do lugar. Tal-

vez seja apenas um colchonete devido às religiões de lá pregarem certo apego ao materialismo.

O garoto pensou nessa questão, e em muitas outras. Acabou pensando que ainda estava acorda-

do, mas já estava dormindo. Estava há momentos atrás olhando o teto, que de certa forma sem-

pre lhe parece um espelho, sempre mostra um resumo do que aconteceu. As visões da sacerdoti-

sa se mostravam mais nítidas. Porém agora ele finalmente dormiu. Do nada, assim como qual-

quer um.

Capítulo 11 – Brincadeiras

No outro dia, após o desjejum o garoto se dirige ao templo de Louise. Os dois se focam

no festival, sem uma palavra sobre Lilith. Aliás, com poucas palavras.

– Você é realmente um dragão transformado em mulher ou uma mulher que se transforma

em dragão?

– Sou o contrário de você. Um dragão que se transforma em humano. Dragões de alto ní-

vel conseguem manter essa forma por um bom tempo.

– Então por que precisa da minha ajuda?

– Sou uma mera sacerdotisa agora. Se eu usar minha forma de dragão e entrar pela porta

da frente de Midgard, vou acabar assustando alguém. Se eu entrar como uma sacerdotisa que é

forte como um dragão, assustarei alguém. É aí que você entra.

– Uma raposa gigante é algo gracioso e de menos impacto. Entendo. Então eu vim só pra

carregar isso tudo? Diz apontando para as coisas que juntaram.

– Preciso mesmo responder? O aprendiz se transforma em raposa e a sacerdotisa começa

a empilhar e arrumar pacotes em suas costas. Sai andando na frente, seguido pela raposa, e al-

gum tempo depois chegam à cidade. Após ter o peso retirado de suas costas o aprendiz volta ao

normal. Assim o aprendiz, a sacerdotisa e as raposas começam a decoração de Midgard, sendo

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ajudados por moradores e aiodromes. A arquiduquesa aparece pouco tempo depois, ajuda em

algumas coisas mais leves. Os seres do reino adornam toda a cidade com balões japoneses, fitas,

barracas de brincadeiras e guloseimas, placas. Louise pede uma pausa para consultar seu alma-

naque, que seguia tão a risca quanto um islâmico a um alcorão.

– Atenção nas luzes, e cuidado com as máscaras, disse Louise.

– Tá... Como assim Louise?

– Não sei, assim que interpretamos o almanaque. Ele sempre lhe dá uma “charada” para o

dia, respondeu Yumi.

– Revisem os equipamentos! Grita Raitun. Todos começam a acatar a ordem o mais rápi-

do que podem. Tempos depois acabam dando-se conta da falta dos fogos de artifícios e dos

cata-ventos. E logo começa um tumulto, pois se duas coisas são de valor em um festival são

fogos de artifício e cata-ventos. O alvoroço de todos é intenso, comentários, lamentos, frases de

seres estupefatos. O garoto indaga: Alguma ideia? Antes da resposta ele continua sua linha de

pensamento, se ajoelhando. – Atenderei como for possível à sua decisão e necessidades. Como

iremos proceder?

– Silêncio! Não consigo pensar com esse alvoroço que vocês fazem... Resmunga Yumi,

referindo-se aos seus aiodromes e aos outros seres. O aiodrome pessoal dela toma a palavra,

com algo útil como sempre.

–Mestra, temos evidência claras de que os Volladnes são os culpados.

– Mas será possível?! Em nosso evento mais importante os idiotas vêm me aprontar a ve-

lha brincadeira de esconder coisas.

–Estamos procurando o paradeiro dos artefatos, porém até agora não encontramos nada.

– Volladnes... Aquelas criaturas invisíveis que tem mania de fazer brincadeiras? Bem,

vou ajudar, diz Raitun

– Sozinho?

– Ora minha cara... – e ao dizer aquilo o aprendiz chama raposas de volta, e invoca outras

e outras mais. – Suficiente?

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– Aceitável.

– É relativamente razoável, diz Louise. O aprendiz se junta ao bando de raposas como

uma delas e todos começam a procurar junto de aiodromes pelos objetos desaparecidos. Acredi-

tavam que os aiodromes poderiam perceber/ver os seres invisíveis e ajudar a colocá-los nos

eixos. Após certo tempo de varredura Raitun reaparece na praça central de Midgard, em frente à

Louise. Em seguida aparecem suas raposas com os objetos roubados.

– Até que raposas são eficientes... Não é Louise? Diz Yumi

–Tenho que concordar. Que tal continuarmos? Diz Louise. Raitun concorda com a cabeça

e eles retomam os preparativos. Após tudo estar terminado Louise e as outras duas sacerdotisas

(Alexis e Mary) junto de Yumi se posicionam nas entradas da cidade, juntas de algumas elfas,

para fazer a recepção adequada dos visitantes. Após entrar e serem recebidos por elas, os recém

chegados passavam por um corredor de cata ventos que dava acesso ao meio da cidade, onde a

festa fervia. Enquanto caía a noite e Midgard começava a lotar, o aprendiz se dirige ao tempo

para de Lilith. E se depara com esta mesma sacerdotisa, usando um modelo de vestido parecido

com o que usa sempre. A diferença principal eram os detalhes negros e um enorme dragão bor-

dado.

–... ... O que houve? Por que me olhas desse jeito?

– Não sei...

– Então já que não sabe, melhor ir se trocar também. E ela aponta um aposento. Entrando

no lugar o aprendiz encontra roupas semelhantes às suas, porém negras e com detalhes doura-

dos. E um dragão em uma das mangas. Saindo dos aposentos, ele pergunta:

– como estou?

– Extraordinariamente comum... Para um acompanhante.

– Pareço um acompanhante?

– Parece uma gueixa.

– Ou algo do tipo... Após uma reverência à Lilith, Raitun invoca uma raposa do tamanho

de Kitsu. Só o fato interessante é que esta usava uma armadura. Era uma armadura negra que

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cobria a cabeça e as costas, como uma sela para duas pessoas. E na armadura havia suportes

para as armas. Espadas à esquerda, o arco à direita, e vem após os preparativos uma pergunta.

– Vamos? A sacerdotisa responde sentando na raposa, na parte de trás e de lado. Como

uma dama de vestido senta em um cavalo sendo levada por um cavaleiro. Após uma cruzada de

pernas e um aceno para o aprendiz, este também sobe na raposa. Agora eles caminham enquanto

começam o que podemos realmente chamar de uma longa e boa conversa... Informações confi-

denciais, sorrisos confidentes.

– Estamos chegando... Não vá me decepcionar heim, acompanhante ou algo do tipo de

uma gueixa.

–Como desejar, minha Lady.

Capítulo 12 – O festival

O vento começa a soprar de forma diferente, anunciando a chegada do casal mais espera-

do. Raios e trovões param todos. Parecia que uma tempestade levava toda a distração para lon-

ge, e focava a atenção neles. A entrada dos dois até o corredor a parte principal cala uma cidade

inteira.

– Ora, estamos em um festival, não em um desfile. Deixem as estrelas para os astrólogos

e os heróis para os historiadores, vamos nos divertir! Vamos, bebam e divirtam-se! Diz Alexis,

finalmente quebrando o silêncio e o clima de expectativa. Após isso tudo retorna aos poucos ao

estado que estava antes da chegada dos dois.

– Uh, agradeço. Lembra-se de nós? Indagam os dois (no caminho resolveram usar másca-

ras. E mesmo assim causaram um enorme alvoroço. As máscaras eram ovais e brancas, assim

como algumas usadas em apresentações orientais de teatro. Cobrem completamente seus rostos.

A de Raitun lembrava uma raposa, enquanto a de Lilith remetia a uma face triste.). Após uma

breve conversa com a sacerdotisa eles se misturam à multidão e começam a olhar e participar do

festival, apreciando as barracas e brincadeiras. Param em algumas barracas para comer, em ou-

tras para ver os outros brincando.

A todo o momento Raitun diz estar sendo alertado por cheiros estranhos (e raposas confi-

am muito nos cheiros) E Lilith confirma estar sentindo algo diferente no ar. Disse também que

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via por vezes pessoas de capuz preto que pareciam estar seguindo–os (e elfos confiam muito nos

olhos). Porém os dois acabam se entretendo com o festival e na alegria da conversa. Nos sorri-

sos mútuos. No clima festivo. E tudo fazia com que eles esquecessem rapidamente tudo e todos,

menos um ao outro.

Havia um palco na praça principal, onde aconteciam encenações, peças de teatro, apre-

sentações que contaram histórias de dragões, heróis e inúmeras outras coisas.

O que chamou a atenção dos dois e fez muitas pessoas rir aconteceu durante uma apresen-

tação de uma dupla de comédia. Esta era comporta por um elfo vestido de bobo chamado Jefen-

sael e um humano chamado Alek, que parecia uma criança de cinco anos crescida de mais [e

sensata de menos, segundo o aprendiz.]. Apesar de ser uma dupla de comédia, a única graça

vista foi observar e apreciar como eles eram ridiculamente ruins em contar piadas. Isso se tor-

nou uma comédia na sua pura essência. Em uma das piadas eles quase foram pra o outro mundo

[sem transporte de volta, lógico]. “Quantos gnomos são necessários pra acender uma lamparina?

Não vou nem contar, se os anões não conseguem imagina os gnomos!”. Lógico que certas pes-

soinhas não gostaram nada das piadinhas. Porém o que uniu todos em um riso foi quando o hu-

mano contou uma piada terrível e a completou dedicando-a a sua “mana sacerdotisa”. A “mana”

era Alexis. Está, aliás, respondeu gritando (já em meio a risadas) “Não dedique essas piadas

idiotas a ninguém! E nunca mais me chame assim!”

Yumi teve compaixão, mas acabou sendo contagiada pelo riso. Algumas pessoas (muitas,

melhor dizendo) já haviam saído dali por causa da “falta de carisma” da dupla. Apenas se per-

guntaram o porquê daqueles risos, ou devem ter pensado que contaram a piada do paladino, que

beberam de mais e coisas do tipo. Enfim, muitas pessoas não ligaram. Muitas outras criaturas

fantásticas apareceram. Celtamorfos, alguns poucos elfos noturnos, criaturas não-identificáveis,

youkais diversos, muitos visitantes com máscaras lúdicas compradas ali mesmo. Hana começara

a ensinar sobre música, e depois fez uma apresentação no palco. Ela sai após isso, dando lugar a

Hitch. Esta faz algo do tipo, porém usa magia em vez de música. O ancião fez mais uma edição

da “caça à esquina dos ventos”, mas parece que os ventos a sopraram para longe, ninguém nun-

ca a encontra nesses eventos. Enquanto isso Raitun acompanha Lilith pra cima e pra baixo pelo

festival. Esta para em frente à mansão da Arquiduquesa e faz um sinal (logo após entrar) para

que Raitun entre.

– Podemos realmente? Fomos convidados?

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– Não, mas temos permissão. – Diz ela, adentrando e puxando o aprendiz pela mão. A

mansão parecia diferente da última vez, parecia que os corredores haviam mudado de lugar, que

algumas portas haviam mudado de estilo. O que nunca mudava era o fluxo de aiodromes pelo

lugar. Após passar por estranhos corredores, finalmente os dois chegam a algum lugar. Um pe-

queno apostando em estilo japonês. Lembra um aposento do templo. Estava apenas com uma

mesa no meio, e as paredes tinham inúmeras pinturas decorativas de raios, árvores, animais e

youkais. A sacerdotisa se deita, como que completamente exausta, e demonstra todo o cansaço.

– Raitun...

– Sacerdotisa?

– Traga sake!

– Que?! Você já bebeu duas garrafas, fora o resto das guloseimas...

– Se não souber o caminho da cozinha, deixe ele te guiar- aponta o aiodrome.

– Sim senhora, Grande Lady Lilith. “É melhor levar algo para acompanhar o sake” pensa

ele, andando pelos incontáveis corredores, que estranhamente lhe parecem maiores em número e

extensão. Corredores, corredores, corredores, corredores tortos, retos, curvos, inclinados, como

que querendo explodir a paciência do aprendiz.

– Lady Lilith está enviando uma mensagem: “QUERO BEBEEEEEEEEEER!” diz o aio-

drome após certo tempo.

–Precisava reproduzir a mensagens com os detalhes de timbre e altura? Retruca, com a

mão no ouvido e um olhar de apreensão dirigido ao pontinho de luz. Continua assim, alienado

da noção de espaço por um breve momento que lhe custa uma queda por um buraco circular.

Uma espécie de poço profundo. Ele não descobre se o poço tem fundo, saca uma katana e a

finca em uma parede. Começa a subir, até que algum espírito passante o faz perder a concentra-

ção e cair novamente, até bater com as costas no “fim do poço”: uma sala sem nada. Melhor

dizendo, sem mobília, afinal havia algo lá. Cabeças voadoras de caveiras flamejantes atravessa-

vam constantemente a parede da sala fechada e vazia. O garoto atravessa a sala, com menos

paciência a cada passo. Com um som estranho sendo feito a cada passo, som que por sinal era

irritante em sua concepção de sons. Sons mais rápidos, passos rápidos e a paciência se esvaindo

como areia de relógio. E tudo chega ao fim, o espaço da sala, a paciência de Raitun, e a parede

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explodida por uma de suas magias. Finalmente a dispensa, finalmente a cozinha! Infelizmente

ainda um longo e tortuoso caminho de volta. Ele não sabe o que aconteceu com a mansão da

Arquiduquesa, mas definitivamente não é o lugar para se andar sem um mapa. Para sua sorte o

aiodrome lhe indica os caminhos e ele não se aliena novamente. Após duas longas caminhadas

lotadas de coisas estranhas e curvas impensáveis, o aprendiz entra novamente no aposento “se-

guro”, com sake e aperitivos, com suas habilidades de entreter. Começa a usar cada uma que

fora aprendida anteriormente com a grande Sayumi. Cantar, dançar, servir, conversar, encantar,

cuidar.

– Você realmente evoluiu...

–Graças a você, sim.

– Bem... Nosso tempo está acabando, correto?

– Sim... Ainda temos coisas a dizer... Correto?

– Não sei por quanto tempo estaremos assim. Se você teremos a oportunidade de fazer is-

so de novo. Fico feliz por ter feito você evoluir.

–Também estou feliz por isso, triste por aquilo. Temos mesmo de fazer essas despedidas

formais e problemáticas e melancólicas e...

– Tenho pelo menos o direito de pedir isso?– suspira a sacerdotisa.

– Tem...

– Vamos resolver logo essa despedida.

– Como resolveremos isso?

– Com você dizendo o que diabos você quer dizer de uma vez por todas.

– Eu quero que você me ensine uma última coisa.

–E o que seria?

–Quero que você me ensine... A amar... A sentir aquela sensação novamente... Ficar nos

seus braços em cada instante que tivermos...

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A sacerdotisa abraça o aprendiz, olhando-o nos olhos, mantendo os dois rostos próximos

a ponto dos dois sentirem a respiração do outro, e em diz em tom meigo como sempre.

– Achei que nunca iria pedir... Desde que começamos nossa história esperava por isso.

– E depois que acabar a história? –suspira– Terei de voltar ao meu mundo algum dia...

– Mal confessa ter esperanças no amor e já pensa no dia da separação... Tinha mesmo que

ser a perfeição em forma de aprendiz.

– Não fuja do foco.

Manterei o foco... Assim como meu arco o faz. Não sei o quanto irei durar com essa mar-

ca, diz ela, pondo a mão no lugar. Não faço ideia de quando você terá de voltar. O fato é que um

dia isso irá sumir... Sou uma elfa que viveu muito, mas o dom da clarividência não me foi confi-

ado. Porém tenho força, destreza e intuição, e ela me diz isso. Então, quero que façamos uma

promessa. Não importa em que circunstância, não nos esqueceremos de tudo que aconteceu e

vai acontecer entre nós, de tudo que passamos aqui.

– Farei o que puder para mantê-la. Essa será a nossa promessa, diz o aprendiz. Após a-

cordar do “transe”, aproxima o rosto da elfa, e encosta os lábios na boca dela, falando na mente

dela um tentador “como fazemos para selar essa promessa?”.

Um longo e profundo beijo começa. Suas respirações conversam. Suas línguas sem entre-

laçam em um misto de desejo, carinho, volúpia. Como se não fossem suficiente os olhares con-

versando tão eloqüentes e precisos quando um debate intelectual, a palavra falada vem à tona.

– Já que nossos segredos não serão esquecidos, que tal lembrarmos-nos do início da con-

versa e começarmos a “aula”

– Ah... Aula - Diz a sacerdotisa. A elfa sempre elogiada por sua força fora do comum a-

gora estava indefesa e entregue ao forasteiro que começara a mordiscar levemente seu pescoço.

–... Isso é avidez em aprender... Raposas gostam mesmo de morder no fim de tudo... Diz pala-

vras desconexas a cada toque, cada toque e carícia se intensificam, O que acontece após isso:

Informação confidencial (ou seja, todos sabem ou acabam por descobrir alguma hora.). E por

fim os dois dormem devidamente cobertos, juntos e felizes em ter completado mais uma etapa.

O que eles não lembraram foi que o show estava prestes a começar.

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Memórias de um aprendiz

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Capítulo 13 - Caos

Yumi estava encenando uma peça onde uma sacerdotisa e um guerreiro apaixonaram-se

em meio a uma guerra. Ela era a sacerdotisa, e Sigfried o guerreiro. Havia uma cena onde eles

deveriam se declarar e se beijar, e nessa cena (que estava quase se concluindo) ocorre uma mu-

dança inesperada no roteiro: três homens de capuz preto pulam para o palco.

– Ora, suposto poderoso casal, não sabeis vós que é proibido o que pretendes? Diz um

dos três

– Quem és tu, e o que podes falar com tal autoridade? Tens a coragem de entrar em as-

suntos alheios, porém por que esta não está contigo quando deves revelar sua face? Responde o

meio orc, em um tom desafiador e agressivo.

– Se é isso que o perturba, reles inseto, sua inútil preocupação será dissipada. É o que re-

truca ele, aumentando de tamanho e modificando rapidamente sua forma. Chifres, escamas, asas

aparecem. As criaturas tentam fugir, causado um enorme tumulto. O homem encapuzado mostra

ser um dragão, e não qualquer um: era Ayenth, que voltara ainda mais assustador. Pensando

logicamente, os outros dois só poderiam ser Loth e Pyth. As baforadas, porém não vieram pri-

meiramente deles.

– Definitivamente... Vocês ao sairão ilesos daqui. Não, não, não, não, não, não... Comen-

ta Sigfried.

– Não após destruírem meu festival... Assustar a todos... E impedir eles dois de se beija-

rem! Grita Louise furiosa em plena metamorfose. Ela também retornou à sua forma de dragão...

E a primeira baforada foi literalmente a dela. Apesar de ser teoricamente mais fraca do que

qualquer dos três lendários dragões da lenda, ela mantêm a luta em um nível consistente graças

à ajuda dos dois Lordes.

Enquanto isso os aiodromes do casal restante começam a brilhar da forma mais intensa

possível, até finalmente conseguirem acordar os dois.

– Sir Raitun. Lady Lilith, sérios problemas! Os dragões voltaram, e Louise e os dois lor-

des não poderão derrotá-los sem sua ajuda!

– Está insinuando que eles não têm poder suficiente?

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– Não, confirmando aquilo que vimos: só poder sagrado funciona neles. E O de Louise

não é tão forte. Além disso, ela provavelmente se transformou em dragão, tem mais poder nessa

forma.

–Você sabe que quanto mais usar seu poder, mais rapidamente a marca toma conta do seu

corpo.

– Sabemos também sobre os meus deveres, não sabemos? O garoto responde apenas com

um suspiro.

– Yumi não poderia erguer um campo de repulsão?

– Sobre todo o reino? Impossível manter isso para sempre, seria algo que precisaria de

uma quantidade insanamente grande de mana. Ah, falando em arquiduquesa, preciso dizer algo

a respeito dela.

– E o que seria?

– Não deveria falar-lhe tal coisa, mas prefiro te machucar agora enquanto posso te curar,

do que fazer o mesmo em escala maior e sem cura depois. Sei que nesse pouco tempo você a

considerou muito, como a outras pessoas, eu entendo isso, ela lhe recebeu educadamente, lhe

deu vestes e nome, mas... Infelizmente, para ela isso foi apenas uma missão, era apenas a função

dela. Você para ela não é alguém tão especial, porém não é tão comum... Em resumo, não a

superestime. Aliás... Não superestime nenhum contato. Trata-se isso como informação confi-

dencial, ok? E lembre-se de manter-se como um espelho, único como um espelho, porém ainda

um espelho.

– Entendido. Irei separar raposas e falsas raposas da melhor maneira possível.

– Você vai ajudar alguém que não te considera especial?

– Sim, vou. Ajudaria até os dragões e seres das trevas caso eles pedissem, por favor.

– Desse jeito? Diz a sacerdotisa em meio a risos, em meio às roupas sendo colocadas.

Raitun ri e começa a fazer o mesmo. Vestidos e revigorados, espreguiçados, arrumados, se bei-

jando, sorriem e o aprendiz pergunta:

–Vamos?

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– Vamos.

– Saem lentamente da mansão, observando o caos que rola solto pela cidade. A praça

principal e o palco em chamar, criaturas de todos os tipos, tamanhos, formatos correndo para

todos os lados. Andam naturalmente, praticamente apreciando aquilo. Parecem... Excitados com

aquilo. Chegam ao local onde as lutas ocorriam sorrindo.

– Começaram a peça sem os atores principais?

– Que feio, não é Lilly? Completa o aprendiz.

– Mui feio coisa fofa, muito feio mesmo.

–Então, hora de fatiar os dragões. Só aí Raitun se dá conta do importante fato que não é

nada bom: ele não estava com as armas.

– Raitun...

– É... As armas ficaram na raposa, só invocando-a novamente.

– Sobrevivam antes, insetos! Ruge Pyth, atacando os dois com uma parada. O ataque é

aparado com o aprendiz, por uma das mãos. Este olha de lado e aponta dois dedos da mão livre

para o dragão. As unhas que seguravam a pata crescem e perfuram as escamas, e o aprendiz

recita:

– Arte secreta da destruição, raio branco! E recitando isso atira realmente um raio branco,

saído da ponta dos dois dedos, atingindo em cheio e perfurando o olho direito do dragão. Em

meio aos urros de dor da criatura bestial o garoto levanta e joga para longe o dragão com as

duas mãos. Assim ele o tira por um tempo de combate, o jogo para fora da cidade praticamente.

Os olhos amarelos encontram os da sacerdotisa, e ambos escutam a voz do meio-orc.

– Kagutsuchi lhes deu uma grande benção.

– Hora de aprender um pouco mais garoto... – Diz Loth, se elevando a uma determinada

altura, e de lá lançando uma rajada de fogo nos recém-chegados. Fazendo alguns movimentos e

apontando as palmas das mãos para o alto, Lilith prepara a defesa.

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– Primeiro elemento: água. Daisuijin Heki! Proferindo isso a elfa levanta para sua prote-

ção uma barreira semi-esférica de água completamente efetiva contra o ataque. O dragão desce

em vôo rasante enquanto ela continua os encantamentos.

– Quatro ventos, quatro direções, quatro garras te prenderam, assim te manterão. Arte da

contenção, Prisão em 37 pilares! A arte dos 37 pilares, como o nome diz, prende o inimigo com

37 pilares gigantescos descidos dos céus diretamente sobre o corpo do alvo. Com este devida-

mente preso, ela dá continuação aos encantamentos.

– Oh, grande imperador! As nove caudas despertaram! A sabedoria me é concedida, o es-

pírito se torna um com o corpo. Fonte da vida, chama que não queima, eleva-se ao poder máxi-

mo! Arte da destruição, canhão de fogo gélido! Esse é executado com as duas palmas das mãos.

Há um feitiço do mesmo tipo, em menor escala, que é feito com apenas uma das mãos. Logica-

mente, menor dano. Das palmas das mãos é atirada uma verdadeira rajada de fogo azul no ad-

versário, fogo que lembra o fogo das raposas. Fogo que na situação provoca uma explosão ao

atingir o alvo. Explosões provocam barulho e...? Fumaça. O terceiro [ou o primeiro, afinal ele

quem se revelou antes] dragão se aproveita da fumaça para alçar vôo, e é quando o casal final-

mente resolve voltar às armas. Lilith é abraçada novamente por Raitun, e recorre mais uma vez

ao uso da entidade invocada e não invocada, o uso da Ancient mana. A entidade materializa seu

arco, refletindo a atitude de Lilith, e surge o problema: como matar três dragões se diante do

primeiro eles precisaram usar todo o seu poder? O entrosamento entre os dois responde a per-

gunta. Era como se ela pudesse extrair mais poder de Raitun, e como se Raitun pudesse dar mais

poder a Lilith. Era o que sentiam. O garoto materializa a máscara novamente em seu rosto (ela

não estava com ele, parecia ter ficado na mansão) e faz aparecer três caudas brancas, mantendo

ainda assim sua forma humana. A máscara parecia até parte de seu corpo, as caudas certamente

eram parte de seu corpo. Após isso diz a Lilith mentalmente:

– “Você tem 37 segundos.”

– “Então, vamos destruí-los em 30.

– A entidade aponta seu arco e começa a disparar uma rajada massiva de flechas em A-

yenth, que desvia algumas, e é atingido de raspão por outras. Rapidamente a sacerdotisa muda o

alvo e destroça Pyth, tendo a sacerdotisa, a inteligência de dissipar a fumaça usando uma flecha.

Loth foi outro alvo fácil. Apesar de não estar mais preso pela técnica dos pilares, estava atordo-

ado com a explosão. Faltava um, e outro problema surge: apesar do tamanho, ele era estupida-

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mente rápido. O trio que lutou anteriormente e agora se resumia a observar a “luta” é feliz em

rapidamente bolar uma estratégia. Talvez ele estivesse apenas tomando fôlego ou esperando o

momento certo. O que menos importa em uma luta é como se derrota o inimigo, no final das

contas (porém é a parte mais interessante de se contar).

Louise ainda estava em sua forma de dragão. E com essa forma ela tenta imobilizar A-

yenth agarrando-o com patas e dentes. Aiodromes fazem uma redoma em volta dos dois, o meio

orc joga a Gran em algum ponto da redoma, como que fazendo uma marcação em um ponto

especial.

– Atirem! Gritam os três. E a entidade, sabendo que seu tempo estava acabando, atira sua

última flecha dizendo com uma voz assustadora.

– Greater Arrow of Light! Assim como o nome, o ataque era poderoso. E a enorme flecha

de luz tem efeitos bem distintos nos dois dragões que ela atravessou: enquanto a flecha regenera

Louise, começa a desintegrar Ayenth. O tempo havia sido tão bem calculado que junto com o

dragão se desintegram também a máscara de Raitun e a entidade invocada por Lilith.

Antes de ir-se completamente, o dragão ainda encontra forças para dizer:

–Ah, malditas serão as raposas. Maldita também és tu, sacerdotisa marcada. Seus esforços

inúteis apenas atrasam a vinda do Darklord. Ele virá e trará consigo a escuridão. Vocês dois

serão os primeiros a serem engolidos pelo lobo negro.

–Não enquanto eu tiver flechas para destroçar o lobo. Após dizer isso e esperar o dragão

sumir, Lilith se vira para agradecer a Raitun. Esteve estava caído no chão, novamente exausto.

– Achamos outra coisa que esgota sua energia, hein coisa fo-

A sacerdotisa interrompe a frase, leva a mão ao ombro e a voz aos quatro cantos do reino

com um grito de dor, caindo de joelhos em terra. Os outros podem não ter percebido, mas Rai-

tun viu que a marca crescera. Mesmo exausto e sem forças, ele de alguma forma se senta e a

abraça.

– Não quero seus dias terminem na sombra e sofrimento. E farei o que puder para que is-

so seja mudado. A luz voltará pra você, nem que ela seja a minha. – diz Raitun, concentrando

seu mana nas mãos e usando as técnicas de cura aprendidas com a elfa branca, Alexis.

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Capítulo 14 – Esquina dos ventos

– Precisamos do Otellus aqui... Ele certamente saberá o que fazer.

– Tsc, e onde aquele mago idiota se enfiou? Rosna o meio orc, limpando o sangue de dra-

gão da sua monstruosa espada.

–“Mago? Não... apenas um velho professor... encontre-me virando a esquina.” Sussurra o

vento no ouvido de Raitun.

– A esquina dos ventos! Grita o aprendiz.

– E você vai até lá acabado desse jeito? Diz Louise. E novamente aparece Alexis, inter-

rompendo como sempre.

– Você acha mesmo que eu vou deixar eles se levantarem e irem a algum lugar nesse es-

tado?

–Alexis, os sorudiun cumpriram a missão?

– Sim, ajudaram a levar todos em segurança para o abrigo. Os “planos de fuga” ainda são

efetivos no final das coisas. E eles não sairão da fortaleza subterrânea dos anões por enquanto.

Ela faz uma pausa para recitar as palavras da arte de cura, e enquanto a mantêm continua: –

Essa foi apenas... A “declaração de guerra”

– Nada bom... diz Yumi, olhando para o sul.

– Não mesmo. Eles virão pelo sul, atravessando o mar.

– Então precisamos mesmo de todos para montar uma estratégia forte. Comenta o garoto.

– E você precisa parar de esquecer suas armas. – Diz Kitsu, com a Srta Hitch montada ne-

la. Esta toma a palavra.

– Tempus levitatus... Ah, afiei suas espadas. Vamos à guerra, e eu e Kitsu estamos pron-

tos. Após isso é que ele percebe que a raposa estava com uma armadura parecida com a da rapo-

sa invocada para transporte no festival. Nesse meio tempo Alexis tinha regenerado os dois, e o

aprendiz impaciente se levanta de olhos fechados, aumentando a pressão espiritual da sua aura.

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– Quero ver o velho... Mostre sua forma, esquina dos ventos! O mana circula de forma

tão monstruosa em volta do aprendiz que isso acaba perturbando o vento, que começa a se agitar

em várias direções, revelando uma porta com inscrições. Estranhamente ela desaparecia com o

vento, então Raitun volta a perturbá-lo e a criar ventania e pergunta:

– O que diabos está escrito? Não consigo ler!

– Fale amigo, sozinho, com suas palavras e... Entre. – Hitch continua– Então, só dizer a

senha... Qual será a senha da vez?

– Dracus Levitatus! Grita Yumi encostando o báculo na porta, Nada acontece com a por-

ta. Raiva sobe em Yumi. Os outros tentam os mesmo com outras prováveis e improváveis se-

nhas, e nenhuma delas surte efeito.

– Espere... Fale ‘amigo’... Como é amigo na língua dos elfos?

–Será? Vamos tentar... –A sacerdotisa encosta o báculo na porta e diz: – Fulien! Nada a-

contece mais uma vez.

–Entendi. Diz Lilith, aparentemente recuperada pelo aprendiz.

–Posso quebrar essa maldita porta. Comenta Sigfried

– Posso ajudar? Pergunta o garoto com olhos brilhando e orelhas de raposa em pé.

– Pode me ajudar parando de me matar de vergonha. Diz Hitch

–Parem todos, eu entendi a chara. Raitun, encosta sua espada na porta e diga a palavra

“amigo” ao seu modo.

– As suas ordens, Lady. Raitun recebe uma das katanas de Hitch e fica observando a lâ-

mina, enquanto pergunta: Lilly, por que eu?

–Por tudo que você é? O aprendiz olha a aporta após a resposta da sacerdotisa, e indaga

novamente: “por que eu?”

– Por que os ventos do norte o escolheram para nos liderar à vitória.

– Se irei liderar você vai me auxiliar nisso. E o aprendiz segura a mão da sacerdotisa, en-

costa a lâmina na porta e grita: – Nakama!Hitori Nakama! “A senha era ‘amigo sozinho’, sabi-

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a?”, pensa ele sorrindo, e a porta se abre, e ele passa junto de Lilith. Após isso os ventos cessam

e a porta some novamente. Os outros não sabem o que houve, porém antes que discutam o as-

sunto uma voz os interrompe.

Capítulo 16 – Preparativos

– Por que essas faces? Ouviram o violino desafinado da Karen ou os tambores?

– Eu não toco violino Hana... –Diz Karen, que veio junto com Hana. Esta dá uma tapa no

bumbum de Karen, e rindo diz: – É, até que estão afinados agora...

– Ora sua... O que tem de pequena e peituda tem de pervertida.

– Você também é peituda, é quase da minha altura, também é pervertida, bebe até não a-

güentar, mas gosta da mesma música que eu.

– A musicista pervertida e o híbrido de gueixa e lutadora pervertida porem parar por cin-

co minutinhos? Estamos diante de uma crise aqui. – Diz Louise preparando uma baforada.

– Enquanto a raposa e o velho não voltam, precisamos reunir todas as tropas disponíveis

aqui. Diz Sigfried.

– Por que aqui?

– Será uma boa fortaleza. Os moradores estão protegidos.

– E podemos criar uma barreira forte o suficiente aqui. Não sabemos o que eles querem,

mas sabemos de onde eles vêm. Do sul, que na verdade é o norte. – termina Alexis.

– E enquanto vocês falam da cevada, eu vim com a cerveja!– Grita Mary Anne, chegando

montada em Ácades.

– Como estão nossos exércitos? Pergunta o imperador, que chegara ali há pouco. (ou che-

gara há muito tempo e ninguém percebeu, não sei.)

– Prontos para morrer, majestade! Respondeu o general.

– A guarda imperial fica à sua disposição.

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– Agrade-lho profundamente, majestade. Alexis, as Trwillow entrarão nessa guerra?

– Não faço ideia. Acho que elas ainda terão uma longa conversa... Após isso talvez deci-

dam algo. Como sempre.

– Yumi, aiodromes a postos?

– Sempre estiveram.

– Louise?

– Desde quando um dragão precisa de exército?

– Hitch?

– Se só magia derrota magia, os magos estão à disposição.

– Todo o reino está pronto? Pergunta o general, e os montrisianos respondem em frenesi,

com gritos, com armas levantadas, com disposição para morrer por uma causa maior que eles

nem fazem questão em saber qual é. Enquanto os preparativos continuam, o casal procura o

mago em seu refúgio. Ao atravessarem a porta bateram de frente com uma biblioteca de dimen-

sões colossais, porém sua única alternativa era procurar e procurar. Os dois começam a andar

pelos corredores. E encontram livros, livros, livros... Mais livros. Então, não vendo nada mais

do que estantes e estantes de livros, acabam perdendo a paciência que já estava se evadindo de

suas mentes. Raitun bate as mãos, e libera outra rajada de vento, atingindo em seu raio o interior

do lugar, derrubando e desarrumando prateleiras e estantes (e revelando onde estava o ancião).

Os olhos da raposa fixam o ancião, que a todo tempo os seguia de forma oculta ali na biblioteca.

Antes que ele resolva começar uma nova brincadeira as mãos da sacerdotisa seguram seu man-

to.

– Não estamos com tempo pra isso, velho idiota!

–Não importa quanto tempo se tem, e sim o que se faz com ele.

– E o que vamos fazer com nosso pouco tempo? Indaga Lilith.

– Vamos armar uma boa estratégia. E preparar o nosso líder, claro. Responde Otellus fi-

tando as pupilas cansadas em seu pupilo. Este olha em volta (da biblioteca em ruínas) e pergun-

ta:

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–Quem é o nosso líder? É a Grande Lilith?

–Não eu, você é o líder – Responde ela.

– Ah... Quê? Eu vou liderar um exército inteiro?

– Não só um exército, um reino inteiro. Ou algo do tipo. O talento, a inteligência e os

dons de cada um nascem com cada um, e isso você tem de sobra. Não será difícil.

– E... – suspira– por que eu?

–Você foi escolhido para isso. É o seu destino. Apenas isso, ponto.

– Com a bênção da grande Lilith, aceito o destino. Condição: Ela é a sub-líder!

– Quando começamos? Perguntam eles.

Capítulo 17 - O “lu-“ é nomeado.

O ancião materializa seu cajado e os livros começam a girar em volta deles. Quando a

“dança” cessa, eles então dentro do castelo imperial. Os três atravessam o enorme salão princi-

pal, em uma ponta contendo a cadeira do imperador. Era cheio de colunas e estruturas, como

também de esculturas. Otellus abre as portas, mostrando a todos o casal de futuros líderes. E

todos se curvam diante deles, menos o imperador. Este, ao contrário de todos, vai de encontro

aos três.

– Garoto, mostre o devido respeito. Comenta o imperador. O aprendiz se senta e cruza as

pernas, com as espadas sobre seu colo. Otellus e Lilith colocam as armas sobre a cabeça do

aprendiz. O imperador chama os dois Lordes, que fazem o mesmo: Sigfried põe Gran acima de

Raitun, Yumi repete o gesto com seu báculo. O imperador saca seu machado duplo de guerra e

põe em cima das outras armas. A arma começa a brilhar envolta pelo mesmo fogo das patas das

raposas. Ele põe o machado sobre os ombros de Raitun e diz:

– Eu, Crossmusse Del Alfarroz II, Imperador do Grande Reino de Montris, portando a

Frozen Flame o nomeio Sir, Trigésimo Sétimo Lupuoskirus Omni Raitun, terceiro Lorde Impe-

rial, comandante e aprendiz dos aprendizes, portador das armas e artes antigas. Lupuoskirus

levante-se. O cavaleiro de Montris tem uma ordenação a fazer, não tem?

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O novo Lorde se levanta, obedecendo as ordens. Lilith, que assistia a tudo tira seu arco e

Raitun, juntando suas espadas às outras armas, diz:

– Demonstre o respeito apropriado, nobre sacerdotisa.

– Eu, Crossmusse Del Alfarroz II, Imperador do Grande Reino de Montris, portando a

Frozen Flame a nomeio Lady, trigésima sétima Lampirerin Lilith no Yume, companheira fiel de

Omni Raitun, 37° Lupuoskirus.

A sacerdotisa se levanta e o imperador continua – Agora homens, com as últimas peças

nos devidos lugares, a vitória será nossa!

Capítulo 18 – Uma ideia

As palavras do imperador provocam um novo êxtase no reino, que vibra com os gritos

dos soldados, até todos entrarem em um coro:

– Longa vida ao Imperador! Por Montris!

– Montrisianos! Afiem as lâminas enquanto fazemos nós uma reunião estratégica. – Após

o breve pronunciamento, o nobre anão entra no castelo seguido por Raitun, Lilith, Yumi, Loui-

se, Mary, Hitch, Sigfried, Otellus, Hanna, Alexis, Karen e Kitsu (não necessariamente nessa

ordem). Grupo reunido, Otellus toma a palavra.

– Raitun, Lilith, alguma recomendação?

– Sim, tivemos uma ideia. –responde.

– Não, você teve. Uma ideia insana.

– Uma ideia insana que vai dar certo.

– Discutam depois –diz o imperador– Qual a ideia?

–Todo mundo irá defender Midgard, enquanto eu atravesso o exército com ela– aponta

Lilith, de forma displicente por sinal– e vou direto para Rag-Finnaros.

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– Você é louco? Grita ela, batendo na mesa em volta da qual todos estavam reunidos, so-

bre a qual havia um mapa mágico que mostrava em alto relevo detalhado a região. Um tipo de...

Holograma super realista, digamos assim. Raitun abre seus olhos de raposa, e fixa os olhos pra-

teados da elfa, invadindo descaradamente seu mundo espiritual. Uma floresta gigantesca e aco-

lhedora, de árvores antigas. Em uma pequena clareira estavam ele e a sacerdotisa (que estava

meditando).

– “Preciso do seu apoio”.

–“Precisa parar para meditar e pensar direito.”

– “Preciso parar de me espelhar em certa pessoa que carrega consigo a marca da morte e

ainda assim ruma pra ela? Não, não vou deixar você ir assim enquanto eu tiver com o controle

de meu espírito.

– “...”– O garoto se desfaz no mundo espiritual.

Voltando ao mundo real, Lilith toma a palavra.

– Ele não vai desistir de um plano arriscado que pode dar certo. É o único com alguma

chance de sucesso, o melhor que nós temos. Cabe a vocês decidirem se vão nos seguir, ou per-

der mais tempo em vão tentando achar alguma outra maneira.

– Então, quem vocês vão querer? Indaga o imperador.

– Sigfried.

– Minha espada está ao seu serviço. E se o serviço é matar ou morrer, torna a coisa ainda

mais gloriosa.

– Hitch?

– Ora garoto, a magia está ao seu alcance. Como diz a profecia, só magia derrota magia!

– Yumi.

– Os aiodromes estão prontos tuntun!

– Sacerdotisas?

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– Enquanto contigo, curar-te-ei as feridas. –responde Alexis.

– Vamos lá. Guerras são interessantes para coletar material. – comenta a outra humana.

–Gran Imperador?

– O destino de Montris está em suas mãos.

– Então está decidido: o selo octeto acaba de tomar a forma definitiva. – Diz Otellus ob-

servando os oito.

– Talvez a nossa última grande missão... – comenta Yumi.

– Então, vamos cumpri-la ou morrer com honra tentando. A última grande campanha. –

Responde com um sorriso quase assassino o general meio-orc, ainda assim com um ar de orgu-

lho.

– Otellus, o seu trabalho é proteger a cidade e cuidar da fortaleza subterrânea, com os e-

xércitos a disposição e suas habilidades não será tarefa difícil. – Diz Lilith– Karen, Hana, po-

dem ajudá-lo.

– Ajuda motivacional ou espiritual? – pergunta Hana

– Se meus velhos olhos não me enganam, suas ajudas motivacionais colossais, e redon-

das. Motivacionais por serem quatro ajudas por serem das duas.

– Ótimo, o modo tarado do velho voltou... E olha que ele nem bebeu comigo hoje. – Res-

ponde Karen, espalhando-se com uma risada geral

– Ácades e o exército de celtamorfos estão a seu dispor.

–Ótimo. Agradeço Srta Sacerdotisa.

– Alguém quer um dragão?– Indaga Louise.

– Sim, já temos “ajuda motivacional” de mais.

– Então, os exércitos ficam como adição no poder de ataque/defesa?

– Concordo com o Sig... Atacar é ótimo. – responde Karen

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Memórias de um aprendiz

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–Que bom! – Exclama Alexis

– Estranho ver uma curandeira excitada com o derramamento de sangue.

– Não é isso. As Trwillow estão a caminho.

– Outra previsão?

– Não, ela sente as Trwillow – comenta alguém.

– Chamarei os magos restantes. Nossas forças estão contadas, precisaremos muito do pla-

no de ataque/defesa.

– O plano de ataque/defesa é exatamente esse: nós oito vamos direto a Rag-Finnaros, o

resto protege a cidade. Tenho uma leve impressão de que o exército imortal marca ao nosso

encontro.

– Não é apenas impressão. – Diz Raitun apontando o mapa em cima da mesa. Este mos-

trava todo o continente, construções, florestas, templos, e uma mancha negra gigantesca onde

deveria estar Antartia. Raitun percebe nitidamente com seus olhos de raposa a legião de pontos

pretos atravessando continente.

– Estão vindo... Não estão? – Diz Lilly, encarando o espanto estampado em Raitun ao ob-

servar o mapa.

– A escala desse mapa está correta?

– Infelizmente sim... – Responde Alexis, dirigindo-se para a porta. – Não temos tanto

tempo quanto esperávamos.

– Hora de mostrar como uma raposa ganha a guerra. – Diz Kitsu.

O grupo sai do castelo, e novamente o imperador toma a frente e a palavra:

– Todos em suas posições, o inimigo está vindo!

– Os exércitos tomam a posição na correria, recebendo ordens pelos seus aiodromes (é

mais fácil do que gritar para todos.). O ancião levanta o cajado e diz algumas palavras na sua

velha língua estranha. A esta altura o exército discípulo de Hermes para em frente à Midgard,

com seus soldados, monstros e catapultas. Pareciam estar analisando o território, os muros, a

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Memórias de um aprendiz

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posição dos arqueiros. O aprendiz faz o mesmo com seus olhos de raposa. Os montrisianos

estavam em enorme desvantagem numérica. O que ele estranha é uma mulher de vestido preto

que estava à frente do exército fazer uma expressão que demonstrava certo espanto: Midgard

sumira aos olhos do inimigo.

– Ancião, o que diabos você fez? Lançou uma alucinação no comandante inimigo? – In-

daga o incipiente garoto.

– Não, algo bem mais elaborado.

– Uma barreira-espelhada. – Diz Mary

– Exato. Aliás, foi ela própria que criou a técnica. Resumidamente, os ataques de fora

voltam para quem os lançou, e o espanto deles é que poder ver o que está dentro da barreira. É

como se não existisse Midgard. O que eles estão vendo lá atrás são as árvores ancestrais.

– As Trwillow estão vindo! Diz Alexis Radiante.

– Tudo pronto sir! – Diz um oficial ao ancião.

– Raitun, as escolhas agora dependem de você. – Diz Otellus.

– Até onde estendeu a barreira?

– Um pouco além dos limites da cidade.

– Eles nos ouvirão de lá?

– Não podem perceber nada que estiver na barreira. – Diz ele, sorrindo confiante.

– Abram os portões.

Capítulo 19 – Discurso

O aprendiz e a sacerdotisa montam em Kitsu, sendo seguidos pelos outros seis para o lado

de fora da cidade-fortaleza.

–Vocês vão andando? – Diz ele ao meio orc e aos outros. Cada um invoca sua montaria

após o ‘puxão de orelha’. Raitun e Lilith em Kitsu, Sigfried em Zumbula, seu bisão azul. Hitch

em Gonduriel, seu pássaro roxo, Yumi em Equus, seu unicórnio, Alexis em um cavalo branco,

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Memórias de um aprendiz

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Mary em um cavalo preto (se chamavam Purydon e Grifoidius, e eram os dois melhores cavalos

do reino), ambos com armaduras e estandartes de guerra. Assim os oito são dispostos em sete

montarias (a última é a do imperador, um leão chamado Avalon, de armadura, assim como as

outras.). Raitun na frente, Atrás o general e o imperador, atrás destes Alexis e Mary, e por últi-

mo Hitch E Yumi. Após sair pelos portões formam uma linha. O lorde imperial e sua parceira

tinham à esquerda o anão imperador, a sacerdotisa humana e a arquiduquesa. À direita estavam

então o general meio orc, a sacerdotisa élfica, e a maga humana. Raitun sai da fila e começa a

correr na frente desta, gritando com vigor:

– Reino de Montris, estamos diante de um inimigo monstruoso e tenebroso. Diante da

guerra. Diante da fera, a mercê do lobo e da morte. Soldados e magos acordam seus espíritos e

preparam suas armas, porque vamos à guerra! E se vamos à guerra, ponham seus corações nis-

so! Suas vidas dependem disso! A vida da sua família depende disso! Ponha o coração, a alma,

o mana, o corpo, o espírito do guerreiro em tudo que fizerem. Se o fizer vão entender o que não

explicamos, mas sabemos que existe, o chamamos de magia e milagre! Não é o mais forte que

vence, e sim o que não desiste até que sua última gota de sangue não circule mais em suas veias

e seu coração dê a última batida! O vencedor é o que está de pé ao final da batalha! Se estiver-

mos indo morrer, que morramos com honra! Se iremos abrir o caminho para a vitória, que seja

ela feita com honra! Se o inimigo possui mais armas, soldados e poder de ataque, vençamos pela

garra, persistência, habilidade, honra, magia, astúcia e estratégia! Acredite, uma raposa pode

vencer um lobo, e nós podemos vencer o clã das trevas que traz consigo a morte. Acreditem,

seus ancestrais lutaram para que você estivesse aqui. Então, lute para seus descendentes terem a

oportunidade de lutar e conhecer um reino fantástico! Lutar para que mais forasteiros tenham

oportunidade de conhecer Montris! Lute por ter encontrado algo tão incrível após ter viajado

tanto! Lute para poder mais uma vez, nem que seja uma vez mais tomar um belo malte e comer

uma boa carne! Lute para poder rezar novamente para seus deuses! Lute para mostrar o quão

bom você é manejando uma arma! Lute para mostrar o quão bom você é no uso da magia! Lute

para mostrar o quanto você aprendeu em seu caminho para a especialização! Lute para matar o

dobro que o companheiro ao lado! Para contar novamente a piada do paladino! Ataque o inimi-

go ofuscando-o como aquele paladino! Lutar para ver novamente seios volumosos e de todos os

volumes, olhos verdes e todas as cores!Lute para ver o sol nascer e mostrar todas as cores no

tempo púrpuro de amanhã! Lute para mostrar que o poder de um de vocês é de todos vocês e o

poder de todos vocês irá esmagá-los como um só! Lute para continuar a ver e aprender coisas, e

por todos os laços importantes que você fez! Por tudo que procura! Por todos que ama! Por to-

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das as lembranças! Por memórias e coisas lembradas e esquecidas! Lutem para sorrir novamen-

te!Lutem para esmagar o oponente! Lutem para continuar a evoluir e expandir seu universo

como eternos aprendizes!Lutem contra a morte e contra a vida! Lutem e acreditemos, nós po-

demos! Que o sangue dos nossos inimigos seja a prova da força do nosso império, Montris!

As palavras vigorosas do aprendiz surtem efeito imediato: o Lupuoskirus levanta o exér-

cito de um reino com um discurso. A cidade treme com gritos e batidas, que acabam se homo-

geneizando. Os soldados batiam duas vezes nos escudos e gritavam: Mon-tris! “bate, bate”

Mon-tris! Isso foi inteligentemente aproveitado pela musicista, que em meio ao exército não

deve ter sido escutada, mas disse “Montrisian Unisono”. A música eufórica e forte dos soldados

para de ser dissipada e é totalmente convertida em mana, e transferida para a camada interna da

barreira.

– As peças negras avançaram, e as brancas fizeram seu movimento. Resta agora superar

os ataques e ter fé no garoto. – comenta o ancião.

–Preparem-se para contra atacar!Preparar armas! – Grita Raitun. Todos começam a sacar

e libertar as entidades de suas armas, menos os oito, ou melhor, dizendo, os seis. Yumi se resu-

me a fazer uma barreira de Aiodromes com seu báculo, Hitch não possui entidade em sua vari-

nha.

– Ilumine os aliados e desintegre os opositores, Frozen flame! – Anões sempre são apres-

sados no assunto guerra, e o machado duplo estava com uma pressa enorme de ser banhado a

sangue. Ao ser liberado aumenta de tamanho e brilha em volta de sua lâmina uma chama gelada

muito parecida com a das raposas brancas e algumas inscrições ilegíveis.

– A melhor defesa é o ataque, Gran!

– Se não vês as trevas não reconhecerás a luz, Shadowform! – Era Mary, e seu pingente

vira um cajado negro, e este produz uma densa aura também negra.

– A vida que protege Fukai Mori. – Agora era Alexis, transformando seu pingente em um

cajado com temas de folhas.

– Mantenha o foco, Mihawk!

– Quatro ventos sopram em minha defesa, todos os raios destroem junto à minha lâmina.

Destrua, Cumulus Nimbus!

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Capítulo 20 – Contra-ataque

Enquanto isso, do lado de fora da barreira, a tal mulher na frente do exército toma a pala-

vra.

– Temos apenas uma ordem a cumprir: procurar e destruir! Apaguem a última chama de

esperança deles, façam com que as trevas profundas e o caos reinem sobre este lugar, pela or-

dem do grande Darklord!

–Ou! – O exército dos Luminus começa a bater escudos enquanto Raitun observa a eles e

a seu comandante. Sua no caso.

Aproximadamente 1,60, e relativamente esbelta em seu vestido negro medieval. Carre-

gando um escudo redondo e estupidamente grande e um machado que lembra uma foice. Não

parecia ter muitas primaveras a comandante. A análise minuciosa é interrompida pela própria

que grita:

– Arqueiros? Apontar! – Após as linhas de frente o aprendiz vê apenas uma gigantesca

quantidade de arcos levantados.

– Atirem!

– Espero que você seja tão bom no que faz quanto penso que é velhote... – é o que mur-

mura o Lupuoskirus quando vê a chuva de flechas vinda em sua direção.

– Observe... – Diz Lilith com um sorriso no rosto. As flechas aos olhos da mulher somem,

mas apenas param flutuando no escudo da cidade.

– Coisa fofa, quem é aquela? – Indaga Raitun.

– O comandante do exército inimigo, Condessa Elissa Darkbeth. Espero que aquele escu-

do esteja ali apenas como adorno.

– Arqueiros, contra-ataquem! – gritam ele e Lilith, e os arqueiros de Midgard respondem

atirando uma chuva de flechas nos Luminus: suas flechas mais as disparadas por eles próprios.

Este primeiro contra-ataque derruba uma parte considerável da linha de frente, que se reagrupa

com as ordens da Condessa. Todos esperavam que a guerra fosse estourar e se preparavam para

os próximos movimentos, porém eles continuavam se analisando.

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– Kitsune no me! – Diz ele, eram as palavras que tinha aprendido para usufruir ao máxi-

mo de seus olhos de raposa. E seu olhar se aprimora, percorre o exército inteiro. Na retaguarda,

em um nível acima do exército (talvez sobre uma pedra), Raitun via uma figura encapuzada com

uma foice. Figura peculiar, ao mesmo tempo familiar. Acaba desistindo de ligar as peças e vol-

tando a se concentrar para seu plano.

– Bom... Interessante eu diria. Isso é armação daquele velho ancião... – diz a tal figura en-

capuzada. Levanta a sua foice, o céu começa a se fechar, e uma fina e reveladora chuva começa

a cair.

– A chuva está dissolvendo a camuflagem da barreira. Garoto... Esperamos a sua deixa! –

Diz o ancião.

– Okydoky! Diz Raitun, ficando em pé em cima da raposa, enquanto Lilith juntada seu

poder em uma flecha e permanecia sentada sobre a mesma raposa.

– Ainda não... Da pouco mais chega a hora... – diz Otellus.

–“Da pouco mais...” essa é mais antiga que a minha lenda. – Comenta Lilith em tom de

desprezo.

– Concordo plenamente. Isso lá é coisa pra alguém do nível dele dizer? E ainda mais nes-

sa altura... – Diz Yumi, e Alexis complementa a retórica.

– Uhum, se quer dizer algo, que diga algo como...

– Octeto da perfeição, hora de contra atacar!!!

– Finalmente. – diz Raitun sorrindo na mesma posição. Estende o braço, abre a palma da

mão e diz: Arte da destruição, Canhão do dragão de vento destruidor dos céus!

– Taka no me: Nevasca!– diz Lilith, atirando uma enorme flecha que logo vira algo como

uma avalanche. Isso se combina com o ataque de Raitun (uma massiva rajada de mana). Os

ataques só atravessam a barreira quando a camuflagem cai de vez e mais ataques da linha de

frente vão se juntando aos dois primeiros.

– Imperius Earthquake!–diz o anão do grupo, batendo a lâmina de seu machado no chão,

direcionando assim uma onda sísmica ao exército inimigo. O meio orc faz algo parecido, porem

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a onde dele é de mana e sai levantando um rastro de pedras por onde passa. Yumi aponta o bá-

culo para frente, juntando mana na ponta.

– Drome, drome Cannon Ball!– diz ela ao lançar uma rajada de mana e aiodromes. Is ata-

ques vão atingindo o inimigo um por um, junto com uma rajada de flechas provida pelos solda-

dos de Midgard.

– Abrimos caminho, avancem!– exclama o novo lorde, sentando-se na raposa enquanto

esta começa a correr. Em meio à corrida, Lilly comenta:

– Destruímos quase 1/3 do exército... É uma pena que ele se refaça tão rápido. Ah, para-

béns por usar aquele nível de magia sem recitar nenhuma frase de ativação. Digno de um Lupu-

oskirus. Desse jeito em breve você se torna mais forte que os outros dois juntos.

– Não é meu objetivo se tornar o mais forte. Quero apenas continuar aprendendo as coi-

sas, mas para isso preciso ficar mais forte.

– Ficar forte é conseqüência, não requisito. Aprender é seu jeito de ficar forte por isso vo-

cê precisa sempre aprender mais.

Capítulo 21 – Matança

– Agora começa a parte interessante: matança. – diz o general.

– Você é obcecado por lutas, precisa se tratar. – comenta Hitch.

Enquanto fala já começa a acertar os que entram no alcance da magia da Kaleido.

–Alexis, cuide da comandante, ela será um problema livre! – grita Raitun com a campa-

nha a ponto de bater de frente com o enorme exército vindo a toda velocidade na direção oposta.

– Palavra de poder: Rizomus! – grita a sacerdotisa. Inúmeras raízes e troncos brotam do

chão, envolvendo e prendendo rigidamente a condessa. Ela livra-se da magia rapidamente, mas

antes que consiga atacar é paralisada por uma magia de Hitch.

– Mary? Sua vez! – diz Alexis para a colega de sacerdócio, que atende prontamente e ra-

pidamente, levantando o cajado e dizendo:

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– Palavra da sombra: Empower! – Após a magia de Mary Raitun cria uma barreira de re-

pulsão, que devasta uma área bem maior que o esperado.

– O que foi isso?– pergunta ele.

– Empower aumenta a potência das próximas magias. Minha habilidade mágica é de as-

sistência. Em meio à conversa e à corrida frenética da guerra, os olhos de Lilith vêem um dos

soldados pulando direto para o pescoço de Raitun.

– Raitun! – grita ela no susto.

– Palavra de poder: Aegis!– Grita Alexis, materializando assim vários escudos de mana

em volta do grupo, escudos que por sinal livraram o aprendiz de tomar um possível golpe mor-

tal.

– Não é hora de relaxar idiota! Apenas de inferiores em habilidades, o número em que e-

les estão é preocupante! Quase... Infinitamente maior! – Diz Kitsu. Depois disso o grupo conti-

nua correndo, abrindo espaço em meio à colossal e infindável horda de soldados do auto-

proclamado Darklord.

Enquanto os oito correm contra a maré o exército continua avançando e finalmente alcan-

ça Midgard. Ali iniciam uma série de ataques. Sem muito efeito eu diria, pois a barreira se man-

teve firme. E a barreira abria um enorme espaço e certa tranqüilidade para o contra ataque dos

arqueiros montrisianos. Não apenas eles. As Trwillow, recém chegadas ali, também começam a

fazer sua parte. Em “modo de combate” elas mais pareciam humanos gigantescos com galhos,

pele de árvores e folhas do que propriamente árvores. Deveria até ser usado o termo “gigante”,

considerando a estatura... Ou o termo “híbrido”... O que importa é que elas deram sua grande e

furiosa contribuição. As Trwillow vieram ser catapultas vivas e naturais de Montris. Posicio-

nando fora da barreira e ao lado contrário da linha de frente inimiga, garantem sua proteção.

Posição privilegiada para elas, de onde começam a lançar pedras que passam voando por cima

da barreira, como se realmente fossem lançadas de uma catapulta, que visam destruir o máximo

possível do inimigo. A palavra da guerra não é nada esperançosa: destruir, matar, esmagar...

Algumas ainda faziam uma espécie de ataque surpresa: Usavam as raízes. Perfuravam secreta-

mente a terra criando buracos onde prendiam os inimigos, atravessavam soldados com as raízes

como se estas fossem as lanças afiadas da linha de frente. E assim a resistência se mantinha,

pondo uma boa palavra na guerra: esperança. Esperança de que aquela resistência que servia de

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distração fosse vitoriosa em seu objetivo. E de que aqueles “meros oito” conseguissem adentrar

o exército inimigo. A condessa estava mais preocupada em destroçar a barreira, e isso dava cada

vez mais margem ao plano de nosso aprendiz. O que eles não esperavam, ou fingiam que não,

era que viessem mais intervenções da figura de foice.

– Hora de aumentar um pouco o nível. – Diz a figura citada de antemão, pulando enquan-

to gira sua foice acima da cabeça, caindo com esta raspando uma pedra.

– O ceifador vai atacar novamente... – diz o aprendiz, de certa forma seduzido pela criatu-

ra da foice. Enquanto este prediz, ela diz:

– Dark summoning: Reminiscent of Ancient Drakes (Invocação obscura: Reminiscência

dos Dragões Ancestrais) – foi o que a figura disse. E da pedra começa a brotar fumaça, que co-

meça a se materializar atrás da invocadora, como os três lendários dragões sobreviventes. As

asas daquelas criaturas cobriam o sol, seu rugido levava o medo aos montrisianos, e a campanha

continuava a lutar, mesmo que na sombra. Mas não por tanto tempo, afinal, sacerdotisas sempre

intervém a favor com seus cajados élficos.

Capítulo 22 – Brincadeiras sérias

– Palavra de poder: Lucio! – a palavra de poder é proferida por Alexis, criando imediata-

mente uma poderosa luz na ponta de seu cajado. Luz por sinal forte o suficiente para afastar os

dragões, que já preparavam sua investida contra a campanha. Os dragões fogem atordoados e

sés recobram a consciência perto de Midgard. Assim resolvem trocar de alvo e começar a bom-

bardear a cidade.

– Hora de brincar! – diz Karen, se alongando com um sorriso confiante no rosto.

– Vai lá... Boa sorte. – responde Hana

Hana puxa o capuz que Karen usava no momento, revelando que por baixo dele existia

uma mulher com um kimono de artes marciais negro. Karen investe furiosamente contra o co-

mandante, e esta após defender, desviar alguns golpes e arranhá-la com seu machado, golpeia a

lutadora com o escudo, jogando-a de volta para dentro da barreira. Ao notar o corte provocado

pelo machado, Karen grita freneticamente, fazendo dos gritos companhia da sua cara de pavor.

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– Oh! Meus deuses! – grita novamente com a mão no corte da testa – preciso de uma de-

sintoxicação e uma sutura, urgente! Isso está infeccionando, vai tomar conta do meu corpo em

breve! Não, não vai NE? Sua foi é envenenada com alguma droga que causa uma parada cardi-

orrespiratória, não é? 30 segundos após a injeção da droga as vitimas morrem estranhamente,

não é?

– Se a última alternativa fosse válida você não chegaria a mencioná-la, seu ser...

– “Profundissimamente hipocondríaco”? Tou sabendo...

– Hm, interessante... – retruca a condessa.

– O que? – pergunta Karen.

– O único verso decassílabo com duas palavras dessa língua, não é? Realmente uma arte.

Mas no seu caso... É isso demonstra um pouco de paranóia– diz o ancião, interrompendo.

– De que lado você está finalmente? – pergunta Karen

– Exatamente do lado no qual deveria estar. Agora vá.

– Velho estranho... – resmunga ainda, ajeitando a roupa, limpando aqui e ali. Depois sai

da barreira, com uma face mais séria.

– Hora de brincar de verdade. Quer? – diz ela oferecendo uma garrafa. Antes de qualquer

esboço de resposta põe-se a sorver o conteúdo da garrafa, e rapidamente aparece perto da con-

dessa, chutando-a para o alto.

– Primeiro limite: corpo! – diz Karen. A técnica converte a mana para o corpo, fortale-

cendo músculos e aumentando a velocidade do usuário. Karen pula, quase instantaneamente está

acima do nível ao qual a condessa foi lançada, e isso lhe dá margem para sua próxima técnica.

– Zan'nin na kobushi!(punho brutal) – Mais uma técnica física: juntando uma quantidade

absurda de mana para despejar em um único soco. Já na segunda metade do caminho, Raitun

escuta uma explosão e sente os choques de auras.

– O que foi isso? – pergunta.

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– A Karen sentando a mão em alguém sem sorte. Acho que... Na condessa. Vai ser uma

boa diversão para ambas– responde sua parceira, com um sorriso que se fecha logo depois de

falar.

– Dark summoning: Winged Legion. – é a figura encapuzada mais uma vez “aumentando

a dificuldade”. A invocação da vez é uma legião de pequenos demônios alados.

– Por que temer trevas se temos a luz, não é? – diz Alexis levantando seu cajado – Pala-

vra de poder: Barreira iluminada! – logo após as palavras proferidas uma barreira de luz se er-

gue em volta do grupo. E é suficiente para segurar os demônios... Por certo tempo.

–Invocação poderosa... Minha barreira vai acabar quebrando.

– Então vamos nos defender de um jeito melhor: atacando. – profere Raitun, sempre de pé

em cima da raposa. De sua posição pula o mais alto que pode (ou seja, muito alto), parando no

ar em um pé, assim como ele via a raposa fazer (concentrar mana nas patas... interessante). Sua

aura imediatamente se torna mais intensa, um círculo com inscrições antigas instantaneamente

se materializa abaixo da linha de seus pés.

– Primeira dança: Valsa das lâminas gêmeas. – A técnica do aprendiz em nada se parece

com uma valsa. Lembra alguma dança com espadas. Raitun começa a girar as katanas gêmeas

em vários sentidos, e depois, ao encostar os dois pés no “chão”, começa a girar no interior do

círculo, mantendo os movimentos com as espadas. Era como se estivesse treinando. A diferença

é que cada movimento projeta uma lâmina de mana maciça nos inimigos, seja ele demônio voa-

dor, soldado ou refém dos Luminus. Após limpar completamente a área ele toma um impulso no

ar e vai direto de encontro à figura misteriosa. Não há medo, nem deve haver piedade na bata-

lha. E é um mistério o que há naquele par de olhos. A surpresa é bem maior que o esperado: O

ataque de Raitun cessa a centímetros do inimigo... Em uma barreira.

– Ainda não. Que tal um último desafio?

– Que seja. Pode man- AH! – a resposta impetuosa é interrompida para desviar de um

golpe que realmente por pouco não o atinge. Ao levantar-se vê que apareceram três humanóides

gigantescos em volta da campanha. Realmente monstruosos. Como diria a maioria dos montrisi-

anos se os vissem, o que tinham de grandes, tinham de feios.

– Alguém pode me explicar quem ou o que diabos são essas coisas?

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– Trolls selvagens gigantes. Também muito chamados de Ogros, monstros... São derrotá-

veis, é o que importa. – diz o meio orc.

– Muito resistentes. Tanto a magia quanto a dano físico. Aliás, magia quase não funciona

neles.

– São derrotáveis. – repete o general.

– Pff, Ataquem! –diz a figura dona da foice.

– Ao ataque! – retruca o meio orc com um sorrido no rosto. Rapidamente avança e come-

ça a retalhar o da esquerda. O imperador avança com seu machado no do meio, e Raitun resolve

observar os dois. Logo percebeu que quanto mais era retalhado mais o ogro da esquerda crescia.

Acontecia a mesma coisa com o do meio, de forma mais lenta. Ele se prende tanto às analises

que quase é atingido pelo inimigo, ou especificamente, pela clava monstruosa que o inimigo

segurava. Seu reflexo o livra da infelicidade.

– Cuidado! Eles são poderosos!– alerta uma sacerdotisa. Após o alerta ela e as outras ga-

rotas montam uma espécie de barricada, atacando quem entrasse em seu perímetro. O exército

(ou o que sobrou dele) estava se juntando em volta deles novamente. Essa era a parte ruim da

coisa. A boa era que isso os empurrava para a borda do continente, o destino que queriam.

– O que há com esses trolls? Estão crescendo e ficando poderosos a cada instante! E mais

feios... Como isso é possível?

– Ira de ogro. – comenta o anão do grupo.

– Ahn... Detalhes? Ah! – retrucou o garoto, não se sabe se ele parou por aí por que queria

ou para desviar uma sequência de golpes.

– Quanto mais ira eles acumulam, maior o tamanho/poder deles. Também chamam esse

tipo de poder de berseking...

– Ah, e por que estamos brincando em vez de tentar atacar os pontos vitais mesmo? – Se

esta fosse uma pergunta a si mesmo, o vácuo seria a resposta, já que ele é obrigado a saltar para

trás tentando sair do alcance do troll. Irritado, comenta. – Ótimo, além de feio, grande e forte

esse ainda é irritante... Parece até um goblin gigante!

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– Garotos, dá pra agilizar a luta aí? Precisamos andar, lembram? – comentam elas, e co-

mentam outras coisas. Reclamações logicamente.

– Bem... Foi divertido, mas hora de acabar... –diz o meio orc, aumentando o fluxo de ma-

na em volta do corpo. – Desculpas aí, mas exterminamos por ordem de feiúra. – após uma leve e

breve risada Sigfried pula até a altura da cabeça do troll e o parte de cima pra baixo em dois.

– Depois os ogros são os monstros... – comenta Hitch

O som da colisão de Gran com o chão coincide com outro som (não muito bom, por si-

nal): o som do inimigo jogando Raitun para o alto depois de uma sequência de golpes. Após cair

o aprendiz ainda é soterrado por um golpe de clava.

– Acho que agora ele aprendeu... – comenta o imperador.

Alguns instantes de silêncio tomam conta do barulhento ambiente de guerra.

– Raitun?! – grita Lilith com certo tom de desespero.

– É, acho que ele realmente aprendeu. – comenta o general.

– Aprendi algo mais interessante... – diz a voz de Raitun ainda lá dentro. Uma aura aver-

melhada toma conta da cratera.

– A ira dos ogros?! Como... – diz Lilith, agora com certo tom de surpresa.

– Bingo. – responde ele, saindo da cratera, envolto por uma aura avermelhada.

– Segunda dança: corte sônico das lâminas gêmeas! – [A técnica em si é tão problemática

de explicar de ser executada quanto de ser descrita. O usuário se agacha apontando as lâminas

para o inimigo, uma com o braço reto, outra por cima da cabeça. Nessa posição lança uma lâmi-

na de mana e corre para o inimigo, batendo nele junto com a lâmina. Feito isso, o usuário para

em frente ao inimigo e desfere uma série de golpes no inimigo (por volta de trinta e sete. Isso

tudo é feito muito rapidamente, tornando difícil o aprendizado e a leitura dos golpes. Detalhe

adicional: todos os golpes são perfurantes.). Após a sequência ele ainda pula girando no ar, gol-

peando o alvo dessa maneira mais algumas vezes e finaliza caindo no chão, juntando as espadas

em forma de cruz e lançando uma lâmina nesse formato diretamente no inimigo já perfurado.

Difícil, rápido, destruidor.] O golpe é executado com perfeição e atinge o inimigo, no caso, um

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gigantesco troll que é jogado na barreira e cai no chão, retalhado e morto. A aura do aprendiz se

estabiliza após o ataque, e ele vira-se a tempo de ver o imperador degolar o troll restante com

um único golpe.

– Simples e rápido, não?! Mas parece que os lordes precisam enfeitar e ter uma “linda vi-

tória”... Contra isso – aponta os trolls.

– Sir, já ouviu falar em aquecimento?– pergunta o meio orc

– Sir, já ouviu falar em “o plano é descer o cacete”, perdoando a linguagem rude?

– Sou um anão, não um elfo nobre pra me preocupar com que tipo de linguajar usam co-

migo. Bem, a próxima criatura a morrer é você, coisa de capuz.

Capítulo 23 – Separação

– Se você conseguir me seguir, até pensarei no assunto, ó “grande” imperador! – diz a

misteriosa pessoa, e pula em seguida para dentro da barreira que protege o continente gelado.

Teoricamente ela deveria cair no mar, mas começa a atravessar uma ponte negra de nuvens que

se materializa abaixo de seus pés e a sua volta. O grupo fica impedido de prosseguir pela barrei-

ra e pelos soldados que alcançam e cercam novamente o grupo.

O aprendiz tem uma ideia, e sente que deve colocá-la em prática o mais rápido possível.

Ele faz uma rápida mesura e guarda as katanas.

– Palavra da sombra: controle. – Diz ele, fitando os aiodromes, que vão se posicionando

em volta deles, como se fossem seus. – Perdão Srta, mas é preciso.

– Vá, a missão é sua. – diz Yumi.

– Na verdade, nossa. – retruca ele, montando na raposa, dessa vez atrás da sacerdotisa. Os

aiodromes se posicionam em volta deles e abrem um buraco na barreira, assim o trio tem espaço

para correr para o continente gelado. Após atravessar a barreira, uma ponte de aiodromes se

forma embaixo da raposa, e à medida que estes passam a ponta se desfaz e refaz mais a frente.

Uma ponte que apenas eles podem atravessar. Após atravessar a ponte (com alguns estranhos

espectros facilmente derrotados pelo caminho) o aprendiz desfaz a técnica de controle e os aio-

dromes rapidamente são invocados pela arquiduquesa.

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– Podemos parar de brincar agora ou você ainda precisa se aquecer? – pergunta Yumi.

– A verdadeira forma irá revelar-se. As garras de Gran! – grita o meio orc. Sua aura se

torna imensuravelmente densa e assustadora, e sua espada se divide em duas lâminas arredon-

dadas, que parecem extensões de suas mãos. Como se fossem arras, as “novas armas” propor-

cionam mais agilidade e potência nos ataques do general, que começa a devastar o séquito ini-

migo. Enquanto a devastação começa, o casal finalmente chega ao continente gelado.

– Acho que não viemos a caráter... Mas também acho que não temos tempo para trocar

nossas roupas por roupas brancas de frio – comenta Raitun.

– Infelizmente, não. Odeio usar preto quando está nevando. – responde Lilly.

– Kitsu, vá ajudar os outros.

– Como se eles precisassem. Bem, vou competir com o meio orc.

– Vamos – diz Raitun, pegando a mão de Lilith, segurando uma espada na outra mão.

– Solte a minha mão e use as duas espadas. Estamos prestes a encontrar o inimigo mais

poderoso já visto...

– Se eu largar sua mão, ou essa espada, não poderei te proteger. Se eu segurar uma espada

a mais, não poderei te segurar, te abraçar.

Lilith mostra novamente seu doce sorriso para o aprendiz raposa após aquelas palavras.

Ela puxa a segunda katana do jovem e a pousa sobre a sua mão, dizendo?

– Lute com tudo. Use até três espadas e nove caudas se preciso. Nosso amor nos protege-

rá, e nosso amor nos manterá unidos.

– Bonito... Comovente... E clichê! – diz a figura misteriosa, que avança flutuando rapi-

damente. Raitun toma posição defensiva, porém Lilith toma a sua frente e defende a investida

da foice com o Mihawk. Após se afastarem, ela retruca.

– Sabia que era você – diz sorrindo – há quanto tempo, não é?

– Como você soube quem era?– pergunta o aprendiz, mais confuso do que nunca.

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– Ressonância. Quando duas pessoas de alto nível estão lutando e suas armas se chocam

elas ressoam, e é possível saber um pouco do que o outro sente; um pouco da sua história, um

pouco de seu coração. Grandes amigos são ótimos rivais, vice versa.

– Exatamente, elfa. – comenta a figura enquanto tira seu capuz, e ao fazer isso revela o

que o garoto temia ser apenas um fantasma do passado: um fantasma chamado Mizumi Hatsu-

momo.

– Como... –balbucia o aprendiz de alguma forma.

– Ressuscitada pelo Darklord Rag-Finnaros. – diz Hatsumomo

– Magia negra...

– Hora de continuar a historinha... E na minha história, você morre! – diz Hatsumomo

sorrindo diabolicamente, pondo-se em posição de ataque. Logo ela começa a atacar. Começa

uma nova luta entre as duas mulheres. Elas sabem que tempo para pensar em uma luta de tal

nível é algo que não deve ser dado ao inimigo.

– Raitun!

– O que ordenas, minha Lady?

– Sem tempo para gracejos, ou para mais nada. – diz ela, segurando Hatsumomo com um

golpe – Tempo de mostrar como uma raposa vence um lobo.

O garoto inspira, por instantes hesita, e por fim suspira.

– Como desejar... –diz finalmente, fitando seus olhos de raposa em uma silhueta distante

e embaçada por uma névoa. Porém é daquele lugar que vem uma presença perversa. É o tipo de

lugar que seus instintos de sobrevivência pedem para não chegar perto. Aperta mais do que nun-

ca as katanas nas mãos, andando de encontro ao seu tão esperado [por outros] destino, com um

misto de medo e excitação. Enquanto ele apenas caminha, os outros dão duros lutando com

tudo. Em Montris, a estratégia ainda está contendo os números, e Karen e Elissa estão em um

belo combate. Apesar do escudo enorme, a comandante não consegue defender todos os golpes,

bem como Karen apesar de ágil não consegue desviar todos os golpes do machado de Elissa.

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– Vamos para os golpes finais de uma vez? Se continuarmos assim cairemos sem fôlego e

em empate. Odeio empates... – comenta Karen

– Boa ideia.

– Segundo limite: Alma! – grita Karen de forma devastadora. Com razão, a quebra do li-

mite da alma é devastadora. Seu corpo sofrerá danos contínuos, sua mana chegará ao nível de

um Lorde imperial. E rapidamente ela se dirige para a condessa, porém é essa a que ataca pri-

meira. Seu escudo aumenta de tamanho e é posicionado na direção do alvo, a tempo de defender

um chute de Karen tão poderoso que arrasta a condessa para trás com escudo e tudo (e provoca

uma onda de choque que afasta tudo em volta). Após isso ela junta todo o seu poder restante no

escudo.

– Canhão Elissia. – todo o poder concentrado no escuro é lançado como uma rajada de

mana pura e densa. Karen consegue conter de certa forma o ataque cruzando seus braços na

frente do corpo (isso faz com que ela sofra mais danos, o ataque foi contido, não refletido). A

rajada era tão massiva e destruidora que o pouco que não foi contido arrasa algumas dezenas de

soldados como formigas. Realmente assustador o jeito como os guerreiros de alto nível eram

tão... “superiores”, “diferentes” dos outros. E o susto continua: Karen finalmente acha a falha na

guarda do inimigo, agarra Elissa e arrasta de encontro à barreira.

– Elas não vão agüentar... Todas elas. – comenta o ancião. Com todo aquele dano recebi-

do Karen sabe que não pode manter-se de pé por muito tempo, e como combinado, parte para o

golpe final.

– Mil e uma palmas da alma de um punho bêbado! – o golpe era uma sequência de golpes

com a palma da mão muito rápida, não tem como se dizer se eram realmente mil golpes. A parte

importante e realmente assustadora aconteceu depois da última palma ser depositada com todas

as forças sobre o corpo da condessa.

Se o comandante não fosse o ancião, e sim algum comandante qualquer, teria mergulha-

do em desespero e desistido diante da situação. E tinha um ótimo motivo: a barreira em volta da

cidade foi quebrada com o golpe de Karen, e os ataques dos dragões não o deixariam refazê-la.

Midgard tinha agora o inimigo batendo à sua porta. Porém se há sombra, é por que existe luz em

algum lugar. Kitsu trouxe o restante do octeto para dentro da cidade.

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Capítulo 24 – Encontro

– Precisamos segurá-los aqui. É o ponto do qual eles não passam.

E o inimigo passou. As portas de defesa da cidade foram derrubadas e o inimigo adentrou

a cidade. Para alguns, medo. Para outros, o sangue finalmente começa a jorrar e encharcar aque-

las terras. Para meio-orcs e raposas, começa a competição.

– 20, 21, 22 – diz Sigfried, contando as cabeças rolando diante de suas lâminas.

– 24, 25... – retruca Kitsu.

– Você não vai me vencer nem tão cedo, raposa idiota! – e ambos continuam a matança, e

em meio a um descuido um soldado tão truculento quanto o próprio general meio orc transpassa

uma espada na barriga do nosso destruidor de exércitos. Um fato tão raro e inesperado que tudo

e todos pareciam ter parado no tempo. Todos menos uma.

“Por estarmos nos contendo alguém importante se machucou. Não. Não irei mais me con-

ter.” Pensa ela. Era a arquiduquesa. No instante em que tudo parou apenas uma voz foi ouvida

naquele lugar.

– Kono chikara de... Taisetsu na koto wo mamoru! Aiodus! (“Com este poder protegerei

as coisas importantes”. Não sei por que ela falou em outra língua, talvez seja preciso.) O grito

eleva sua mana e libera sua arma. Seu báculo agora é uma adornada e monstruosa maça, com a

qual ela começa a esmagar o inimigo, fazendo-o recuar até a porta da cidade. De lá eles podem

proteger efetivamente e impedir novas invasões.

– Sem vacilar! Sem se conter! Vamos proteger este lugar com cada pedaço das nossas

almas! – grita ela. I aprendiz nesse momento escuta aquele grito que também quebrou o silêncio

do continente gelado.

– “Com este poder vou proteger as coisas importantes, Aiodus.” Palavras nobres, perfei-

tas para liberar aquela arma.

– Você deve saber muito sobre palavras nobres, garoto. Espero que essa sabedoria tenha

alguma serventia. – diz uma voz masculina, densa e rouca, vinda de uma presença que o faz

tremer. Um espírito lotado de ódio em seu coração. Sentado em um trono de gelo estava o alvo

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do aprendiz: Rag-Finnaros. Raitun toma coragem e pula em cima do lorde das trevas diretamen-

te. Este aponta para o garoto, lançando uma rajada de mana que obriga o aprendiz a se defender

pulando para o lado.

– Interessante, porém muito mal educado. Atacar antes que eu termine de falar, realmente

mal educado. Seus amigos são fortes. Se eu não tivesse a habilidade de continuamente reviver

meus exércitos eles já teriam sido dizimados com um golpe conjunto deles. – o lorde se levanta

do trono (que se desfaz atrás dele) e o medo em Raitun é o que se refaz, maior do que nunca.

Rag-Finnaros era tão alto e musculoso quanto o general meio orc, e em adicional tinha seu cor-

po revestido por uma armadura negra lotada de detalhes que lembravam lobos.

– Eu sou o senhor de Antartia, sou o Darklord Rag-Finnaros. Tenha a educação de me di-

zer seu nome, já que veio até mim. Antes de ser destroçado, diga-me qual o seu nome.

– Sou o trigésimo sétimo Lupuoskirus de Montris, Omni Raitun. – responde o aprendiz,

se colocando em posição de ataque. Rag-Finnaros materializa seu machado de guerra antes de

fazer o mesmo. Aos olhos do garoto, uma lança com lâmina de machado gigante, por ser maior

que o próprio cavaleiro das trevas. Na ponta do machado estava pendurado um elmo, que lem-

brava o formato da cabeça de um lobo. Rag-Finnaros faz o que parecia impossível para o garo-

to? Ficar mais assustador, cingindo e fechando seu elmo. Um machado gigante portador por um

gigante de armadura antropozoomórfica, este era o inimigo de Raitun.

– Mostre do que você é capaz garoto, mostre se é realmente digno desse título ou se ape-

nas quis andar muito antes de morrer.

“Espero que você seja lento com esse tamanho todo” pensa o garoto, e finalmente decide

atacar. Raitun ataca usando a segunda dança, e após duas lâminas de uma sequência de golpes o

aprendiz percebe que seus medos deveriam ser maiores do que ele conseguiria sentir. Nenhum

dano no inimigo após o golpe, nenhum centímetro movido após o golpe. Nada. O garoto não

tem muito tempo para pensar naquela cena assustadora, precisa desviar dos golpes do cavaleiro

do machado. Consegue com certa dificuldade e esforço, mas se sente até feliz por isso. E em

meio a uma luta que parece começar com o fim pré-escrito, as indagações surgem. “Por que

meus ataques não surtem nenhum efeito?”. E desvia de mais um golpe. “Só isso é o que eu con-

sigo fazer? Eu vim apenas para morrer? A diferença entre nós é tão grande assim? Vou morrer

nem ao menos conseguir arranhar o inimigo?” E vem mais e mais golpes que não deixam o

aprendiz pensar, tomar fôlego.

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Capítulo 25 – Ajuda

Não era apenas Raitun que estava em desvantagem. Apesar da superior habilidade do

grupo liderado pelo ancião Otellus, o número de inimigos continua aumentando, e tende a au-

mentar mais e mais. O poder deles também. Ataques vindos por cima e por todos os lados, gri-

tos de dor ecoando em todas as direções. A defesa de Midgard não vai suportar isso tudo por

muito tempo. Lilith quis muito ajudar a todos em uma situação como essa. Talvez até sonhasse

com isso. Infelizmente era ela quem mais precisava de ajuda no momento. A marca do mal cau-

sa dores inimagináveis, e ela não conseguia muito espaço para atirar, por que a velocidade do

inimigo era equivalente a sua. Não é possível esquivar e atirar ao mesmo tempo. A virada do

lado branco da força começa com uma ótima ideia de sacerdotisa. Lilith puxa um punhal de uma

bainha em sua coxa, e uma cabeça de dragão feita de gelo aparece dentro da neve. Mais uma,

mais uma. Várias delas prendem os membros inferiores de Hatsumomo, dando finalmente a

distância necessária à sacerdotisa. Lilith começa a juntar uma quantidade colossal de poder em

volta do seu arco. Faz isso seu próprio mana e o que está presente em volta do lugar. Uma asa

espiritual aparece nas suas costas, brilhando tanto quanto um ser feito de luz.

– Perdão por isso, querida. Preciso plantar a semente da luz nas trevas.

– Também peço perdão por isso, querida. Apesar de você ser a coisa mais próxima de

uma amiga que eu tive, tenho ordens para lhe matar.

Hatsumomo concentra seu poder na sua ceifadora e as duas ficam apenas esperando e es-

tudando, preparando-se para o golpe final, o golpe sem misericórdia. Apenas o vento, a neve e o

nada em volta observam aquela luta. O sinal para o fim aparece quando a presença de Raitun é

praticamente engolida pela de Rag-Finnaros. A sacerdotisa atira sua flecha, provavelmente com

o dobro da potência prevista, aumento proporcionado por dor e fúria. A substituta lança sua

foice em direção ao alvo. Suas almas, últimos recursos foram lançados uma sobre a outra com

todas as suas forças. Os ataques passam um pelo outro, e instantes após se ‘cumprimentarem’, a

luta finalmente acaba; A foice de Hatsumomo atinge a marca em Lilith, e a sacerdotisa cai ajoe-

lhada. Hatsumomo é atingida por uma flecha incomum. Além de atravessar o alvo parece ter

purificado este alvo. E em adicional, invocado três fontes de luz branca que lembravam aiodro-

mes. Uma delas se dirige para o local onde Raitun está lutando, as outras para Midgard. Luzes

fortes e antigas, iluminando uma nova geração. Uma destas para em cima do aprendiz, como um

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aiodrome. As luzes não apelam, iluminam caminho ou renovam o ânimo, mudam completamen-

te o jogo, por que elas tomam forma que espanta e alegra o reino de Montris.

– Olá grande sábio, quatro braço e um pouco de mana e magia são de alguma ajuda por

aqui? – diz uma das luzes ao tomar forma. A forma de um humano, nitidamente um mago com

um simples cajado.

– Você pode cuidar do nosso céu, para o maior dos magos vai ser tarefa fácil. – apesar de

apenas ouvir as lendas, o ancião teve certeza que aquele era Stormael, o maior dos magos. O

mago não veio sozinho, e notou-se nitidamente que o guerreiro que veio com ele era o também

lendário Dielm. Segurando duas espadas enormes e destruindo o inimigo junto ao portão de

entrada da cidade.

– Ele vai dar conta... – comenta o mago recém chegado.

– Percebe-se – responde Otellus.

– Olá mestre de armas meio orc. Soube que você é bom. Quantos?

– 200, 201, 205! – responde o general.

– Uh, muito bom! – o recém chegado soldado de preto diz. Após a breve conversa junta

uma quantidade massiva de mana nas gigantescas espadas e lança várias lâminas que passam

rente ao chão, atravessando exércitos, cavalos, armaduras.

– 300 – diz ele sorrindo e entrando na competição.

O exército de Montris consegue aos poucos reverter e manter o quadro da guerra, porém

do outro lado a coisa piora cada vez mais. O aprendiz sentiu a presença de Lilith se enfraque-

cendo, e enquanto isso a ira tomava conta de seu próprio corpo. A ira dos ogros. Preenchido

pela ira dos ogros o garoto começa a atacar insanamente Rag-Finnaros, e um guerreiro sem ra-

zão perde a noção da sua luta. As katanas se encontrar furiosamente com o machado de Rag-

Finnaros várias e várias vezes sem resultado. O inimigo parece se cansar da atitude do garoto

em fúria e revida o golpe. A raiva de Raitun se converte em desespero: o golpe acaba quebrando

as duas katanas de Raitun e a sequencia dos golpes de Rag-Finnaros quase parte o aprendiz em

dois. Ele desvia os golpes, não sabe como (coisas de raposa). Puro medo talvez, o medo leva a

fazer o “impossível”. Um aprendiz novato tem medo, porém uma velha raposa não.

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– “Garoto, o que estás fazendo?”

– “Eu é que pergunto o que você está fazendo me convocando aqui, preciso desviar os

golpes, preciso sobreviver.”

– “Você está desviando por puro reflexo. Você precisa atacar... Não defender. Por isso

você foi destinado a usar aquelas espadas. Onde estão suas espadas filhote idiota?”

–“Quebraram.”

– “Elas quebraram por que você não soube controlá-las. Sua raiva fez o fia delas cegar,

seu medo o faz acreditar em sua derrota. Você vai desistir de lutar depois de ter prometido ven-

cer? Confie em nós mais uma vez, confie no nosso pacto.”

–“Ajude-me, não posso vencer sozinho!”

– “Ajude a si mesmo.”

Capítulo 26 – Reviravolta

O aprendiz toma a forma de raposa e contém o golpe de Rag-Finnaros mordendo a mão

do guerreiro das trevas. O cavaleiro sacode a raposa e a joga para longe, direto em uma pedra.

– Obrigado... Garoto. Raitun, correto?

– De nada. Por que diabos está agradecendo? – diz a raposa gigante se recompondo.

– Há muito tempo eu não lutava. Há muito tempo eu não tinha uma luta tão divertida para

lutar. Por isso estou agradecendo.

– Entendo. É realmente uma boa luta.

– Quando se é poderoso é difícil achar um rival a altura. Chega de conversa, e ataque-me

com tudo o que tiver.

– Espero que esteja preparando, ó grande lorde das trevas.

A raposa avança contra o lobo. Avança contra a morte, seu inimigo. Avança contra seu

medo, seu aliado. Ainda é uma luta desequilibrada, a raposa ainda não é forte o suficiente para

atacar um lobo. Apesar do tamanho e do aparente peso da armadura, ele consegue se mover tão

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ou mais rápido do que Raitun, e desviar a maioria dos ataques talvez o cavaleiro se divirta mais

com a insistência do garoto do que propriamente com sua força. Cansado de desviar, muda para

o modo de ataque e rebate a raposa com o cabo de seu machado (não seria divertido matá-lo

com um único corte.). Segurando o que antes era uma foice e agora é um machado como se

fosse uma lança, Rag-Finnaros atravessa o corpo de raposa do garoto. O lobo finalmente conse-

guiu (ou resolveu) morder a raposa.

Só quando sentimos o quanto uma mordida dói é que tomamos realmente cuidado para

não sermos mordidos. Infelizmente não se precaver com antecedência pode trazer graves conse-

quências.

– Não me decepcione. Eu sei que raposas são boas em se curar. Solitários precisam ser

bons. – e o lorde segurava o outro lorde na ponta de sua lança, uma mera presa acuada– Você

ainda pode lutar, não é? Se ainda tem mais do que isso a me mostrar, espero que morra mos-

trando tudo o que tem em vez de morrer sem mostrar seu verdadeiro poder. Se você fizer isso eu

terei que lhe matar no outro mundo também. Não sem antes te forçar a usar seu poder total,

claro. Se não se esqueceu de morrer, levante-se e mostre o que diabos você tanto guarda!

O cavaleiro joga Raitun para cima, e com um chute despreza-o, joga para longe o corpo

do aprendiz (agora um mero corpo normal voando para longe) sem nenhuma reação deste. O

garoto passa um instante imóvel, em silêncio. Queria gritar de dor, queria muito gritar o mais

alto que pudesse. Na tinha esse direito. Aos poucos começa a tentar se levantar da poça de san-

gue e neve vermelha onde se encontrava. Ainda tinha uma promessa a cumprir.

– O que houve garoto? Morreu e esqueceu que tem que ir para o mundo dos espíritos?

Sabe, ainda tenho vagas lembranças de quando era um paladino. Talvez por isso eu não mate de

uma vez. Lembro de algum sábio dizendo boas palavras. “Se alguma existência pode lhe ferir,

alguma outra existência pode curar suas feridas”... Foi algo do tipo o que ele disse? Se você

aprendeu tanto, responda: se você for um ser solitário e que não pode ser ferido, mas que já está

ferido. Quem vai curar você?

O aprendiz ainda estava em silêncio, mas com alguma dose de esforço com se ajoelhar,

assim como a sacerdotisa estava naquele momento. Naquele momento, antes de cair, Lilith es-

crever algo no ar, suas últimas palavras para aquele momento. Antes de cair, Lilith atira sua

última flecha, carregando esta mensagem.

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Memórias de um aprendiz

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“Espero que eu te alcance, pelo menos dessa vez. Mantenha nossa promessa. Até que ela

se cumpra, não solte suas para me abraçar. Confio minha última flecha a você, meu amor, meu

lugar, minha raposa, minha coisa fofa, o que sobra de minha vida.”

Lilith cai em paz, com um tímido sorriso no canto da boca. Com o mesmo sorriso, Raitun

está ajoelhado, sangrando e quase morto. Abrindo os braços Raitun abaixa sua guarda.

– Não estou sozinho ainda. Isso só acontece quando se evolui de aprendiz para sábio, ou

para andarilho, eremita. Na qualidade de aprendiz, aprendi que a sabedoria traz a solidão. O

sábio tem consciência de que a solidão serve para se dar valor à companhia.

Uma flecha de luz atravessa Raitun, e assim a luz retorna a seus olhos.

– Sabe Rag-Finnaros, eu também devo agradecer. Acabo de agradecer- enquanto falava

as feridas se regeneravam- por tudo. Agradeço pela luta com o inimigo mais forte que já enfren-

tei, e a luta mais divertida que já tive. Agradeço ainda mais por que graças a você acabo de re-

ceber a mensagem mais linda de toda a minha vida.

– Espero que me retribua à altura pelo... “presente”.

– Lupuoskirus Omni Raitun, o último e atual, Lorde imperial e aprendiz-raposa eterno.

– Darklord Rag-Finnaros, o cavaleiro negro, senhor das terras geladas.

– “Em retribuição pelo presente, mostraremos a ele o nosso verdadeiro poder. A força da

tempestade de mil lâminas.” – dizem as katanas gêmeas, materializando-se nas mãos do garoto.

O aprendiz levanta uma das lâminas e finca a outra no chão. Nuvens de tempestade tomam con-

ta do lugar. Um raio cai sobre a espada levantada, atravessa o garoto e forma um gigantesco

círculo no chão. O círculo fecha o lugar em uma meia esfera. Assim é a arena do combate.

– A verdadeira forma da tempestade de mil lâminas, Megalocumulus Nimbus.

– Truque interessante. Um ambiente obscuro de tempestade para um garoto tempestuoso.

– Esta é a última e verdadeira face destas lâminas. Todas as mil lâminas – duas katanas

estão nas mãos do garoto. Muitas outras se materializam no contorno da “arena”.

– Realmente um bom truque.

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Agora espadas não quebram mais, espadas não mais são largadas e o som das armas cho-

cando-se e de ondas de choque é escutado durante um longo tempo. Quando dois guerreiros de

condições iguais e alto nível colidem suas armas, não existe ataque ou defesa. Apenas ressoa o

som das armas, apenas reluzem as faíscas, apenas a ressonância dos choques responde pelos

dois. Atacar com tudo é apenas ver o que o inimigo consegue defender. Desviar de maneira

considerada impossível era apenas esperar o próximo golpe certo. Se movimentar como se pu-

desse voar era apenas esperar ansiosamente as armas ressoarem novamente. Ao ouvir aquele

ressoar de armas o garoto podia aprender um pouco mais sobre seu inimigo. Aquilo era a tão

falada “ressonância”?

Por instantes o garoto larga a sua arma. Lança ambas para o alto. Rag-Finnaros aproveita

a suspeita, porém convidativa abertura e ataca de cima para baio. Raitun apara o golpe entre as

mãos e chuta o machado para o alto com um confiante e escancarado sorriso.

– Mutoryu Omnikire: Odayakana kobushi, Sanjuunana Kitsune (corte Omni, estilo sem

lâminas: punho gentil, trinta e sete raposas) apesar do nome, os punhos não foram nada gentis

com o cavaleiro. Atacaram em uma rápida e devastadora sequência de trinta e sete golpes, todos

com a palma da mão envolta por mana. Para o último golpe o garoto junta seu poder entre as

mãos e golpeia com as duas palmas ao mesmo tempo. O golpe é poderoso o suficiente para lan-

çar o cavaleiro para longe, muito longe. Não tão longe quanto ele queria, o alvo é detido pela

barreira de espadas e raios, a meia esfera criada anteriormente. O golpe do aprendiz foi aplicado

de forma rápida e efetiva. Talvez agora uma raposa possa vencer um lobo.

– Parece que nosso poder está nivelado agora.

– Ótimo golpe. Ainda tem algo a mais para mostrar? Dizem que os Lupuoskirus apren-

dem mais de mil técnicas entre magias e golpes diversos.

– Não tenho tantas. Mas ainda tenho algumas. – duas katanas descem do alto da meia es-

fera para as mãos do aprendiz – Pegue sua arma, Darklord, se não vou acabar partindo você em

dois, e isso não teria muita graça, teria?

Capítulo 27- Por quês

Várias lutas rolavam ao mesmo tempo em que aquela se desenrolava. Cada um lutava por

sua vida, sua família, seu reino, seus valores, seus princípios. Por que o aprendiz lutava? Por

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Memórias de um aprendiz

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que se sacrificava tanto quanto os outros, se não tinha família, se não era daquele reino? O que

fazia Raitun ser tão forte? Essas eram as perguntas feitas várias vezes por várias criaturas até

então. Rag-Finnaros não fugia dessa regra.

– Por que você está lutando comigo?

– Por que você não é meu aliado. Isso é motivo suficiente.

– Por que você e não qualquer outro? Já deve ter descoberto essa resposta, presumo.

– Ainda não. O que vai ocorrer primeiro: sua morte ou minha descoberta?

– Morte? Huhuhu! Eu já estou morto garoto! Diz o cavaleiro em meio a risos, pratica-

mente uma crise.

Mais uma vez fazendo uso das habilidades de uma raposa, o aprendiz conseguiu distrair o

lobo.

– Digo isso para elas! Grita Raitun enquanto golpeia de cima para baixo, partindo o elmo

de Rag-Finnaros ao meio. Ótima estratégia, péssimo golpe. O contra ataque quase partiu o a-

prendiz ao meio. A agilidade de uma raposa o livrou de um destino cruel, mas não completa-

mente.

– Perdão garoto. Vou contar o que você deve ter percebido. Meu elmo era uma espécie

de... Limitador. E agora, ele se foi, então será difícil me conter. Você vai manter essa cara de

espanto até o fim? Ou finalmente largará suas espadas e se ajoelhará pedindo perdão? Pense

rápido, esse corte no seu peito não vai deixar você viver por muito tempo para escolher.

O vento que sopra no momento traz apenas longínquos e inaudíveis gritos de dor a Rai-

tun. Nada de dicas, nada de respostas. O cavaleiro aponta sua arma para o aprendiz e dela vez

saem vários chicotes de mana negra, que enroscam e apertam o aprendiz.

– Death Strike! Grita Rag-Finnaros ao pular em cima de Raitun, pronto para aplicar-lhe

uma sentença de morte em um golpe. Isso não foi feito com sucesso, uma luz branca forte o

repeliu, criou uma barreira mística entre ambos e dissipou os chicotes, apenas brilhando.

– Eu... Morri?!

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Memórias de um aprendiz

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– Não largue as suas espadas ainda. A luta não acabou. Na verdade, agora é que ela irá

realmente começar.

– Sua voz... Parece-me familiar. Você é algum tipo de deus ou entidade protetora deste

lugar? Eu não morri, mas estou curado, e com as roupas brancas que usava antes.

– Não, nem deus, nem entidade. Kitsuyoshi, a perfeição em forma de aprendiz. Podemos

dizer que sou... Uma espécie de... Ancestral ou vida passada, ou algo do tipo.

– Temos tanto tempo assim? Explique-se logo.

– Em seu mundo você é um humano, um “mero humano”. Aqui você é um Duraenai. Por

isso as raposas, e o aprendizado prodigioso. Sua alma nasceu como a alma de um Duraenai, com

um grande destino. De alguma forma se materializou em um corpo humano. Em seu mundo. Na

verdade, naquele mundo. Então na prática, você não é de nenhum dos dois. Eu quis manter você

seguro, e essa acabou sendo uma boa forma. Seu destino é continuar minha missão.

– Destruir Rag-Finnaros.

– Exato. “Por que eu?!” Alguém tão poderoso só pode ser derrotado por um grande poder.

Você ainda não o tem, mas já pode... Canalizá-lo, e no momento é o único que pode fazer uso

desse poder. A voz toma forma. Parecia um humano esbelto, alto e forte como um meio orc.

Pele humana, orelhas e olhos élficos, barba malfeita. Uma espada larga em mãos, uma roupa

que lembra a do aprendiz.

– Duraenai, a raça que foi desprezada.

– Hora de terminar o que não deveria ter começado.

As folhas caem, a floresta cresce. O futuro está em você.

Não largue suas espadas. Junte as três.

– Só uso duas espadas.

– Esta é Norimitsu, sua... Ou melhor, nossa terceira espada. – diz ele entregando a espada

que segurava ao garoto. Com três espadas juntas e fundidas em uma o aprendiz agora carrega

uma nova espada larga chamada Arashi. Uma espada larga e tão pesada quanto o fardo que seu

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Memórias de um aprendiz

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portador carrega. Em sua lâmina branca de fio negro, inscrições diziam “conhecimento é po-

der”.

– Não vou conseguir usar esta espada com a maestria necessária. Ainda não sou digno de

usar uma espada desse porte.

– “Como se você fosse usá-la sozinho. Kitsuyoshi confia Arashi a você. Confie nela.”–

diz a raposa antiga que mora no coração do garoto.

– Hora de manter nessas promessas.

A luz intensa se desfaz. Reduz a um “segundo aiodrome” que havia sido até pouco tempo

atrás. Rag-Finnaros ataca Raitun. Outro Raitun. Um que era um humano poderoso. Um que era

um Duraenai poderoso. Um que tinha a mesma altura e capacidades dele, e para controlar seu

poder fazia uso de um ótimo recurso, mostrava uma cauda de raposa.

Uma luta de armas e portadores de armas gigantes e em outro nível. Eles não eram apenas

guerreiros. Cada golpe produzia uma onda de choque e a mandava por todo o reino, mandava

também uma aura de tensão e medo.

– Mais algum truque?

– Sim. Um original dessa vez. E espero que seja o último.

– Será honroso morrer por um bom truque, se este for poderoso. Use-o, me surpreenda se

tem poder para tal!

– Ittoryu Omnikire: Arashi no Kitsune! (corte Omni, estilo de uma espada: raposa da

tempestade)

Este foi o nome do último golpe desferido em Rag-Finnaros. Ou revendo com bons olhos,

a última sequência rápida. Tão rápida quanto um raio, e não há imprecação em latim, japonês,

língua nova ou antiga, existente ou abolida para descrever aquela velocidade. Foi rápido o sufi-

ciente para pegar cada uma das mil espadas e desferir um poderoso golpe no cavaleiro, preso

por uma raposa e fios de mana saídos do chão. Em instantes. Mil espadas, mil golpes são desfe-

ridos, e para quebrar e esmagar a presença do mal o aprendiz segura Arashi, sua última espada.

Com ela se fixa de cabeça para baixo na parte mais alta da redoma, de lá toma um impulso dire-

to para baixo. Direto para cima do cavaleiro agora livre, e direto para o tal último golpe. Em

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Memórias de um aprendiz

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forma de redemoinho, o golpe quebra arma, armadura e alma de um antigo cavaleiro negro.

Novamente vem o silêncio. Tudo foi tão rápido e complexo que o último suspiro tarda a vir,

assim como espectros e sombras de cada golpe do aprendiz tardam a sumir. O cavaleiro negro

tomba, se desfaz aos poucos. Agora é um humano caído, derrotado, e livre.

– Meus sinceros agradecimentos, bom menino paladino. Agora Rag-Finnaros se foi, e El-

donis, que é quem vos fala isto, também não ficará por muito tempo. Você não é humano, tam-

pouco um Duraenai, porém tem um coração nobre e uma boa mente, assim como os antigos

paladinos. Continue evoluindo, e não seja corrompido pelo mal, não cometa meu erro. Desejo-

lhe sorte. Hora de voltar para junto d meus ancestrais e minhas pessoas importantes. Minhas

últimas palavras para o garoto Raitun, coração de paladino. – diz o paladino Eldonis

– Também devo fazer o mesmo. Boa sorte em sua jornada. Você também precisa voltar

para quem ama, filhote. Cuide bem dessa espada.

Estas foram as últimas palavras dirigidas a ele por Eldonis e Kitsuyoshi. Os dois se desfa-

zem, assim como o pó lançado ao veto. Desta maneira também se vão os espíritos dos exércitos

malignos e todas as influências controladoras sobre os viventes. O reino comemora o fim da

guerra e treme com o grito da legião de soldados montrisianos.

Capítulo 28 – Informação confidencial

Quase todos riem. O herói não conseguia sorrir, e ao se aproximar de Midgard todos se

calam, percebendo que o motivo de sua expressão de dor não estava era as cicatrizes visíveis e

sim o que estava em seus braços: Lilith.

– Abram passagem! – grita algum guarda.

– Ela já sabia que isso ia acontecer, não sabia?

– Provavelmente– responde Alexis, e continua: – Ela era uma de nós, antes de tudo. Ela

se foi, porém deixou um legado imensurável para este reino.

– Ainda não. – os soldados se espantam com aquele comentário, cochicham algo, mas é o

garoto que continua a falar, o herói. Põe Lilith no chão com tanto cuidado que se seu corpo fos-

se feito de cristal não sentiria o impacto. Se ajoelha de sua Amanda, dizendo: – Ela ainda não

está perdida, e eu ainda tenho um desejo pendente.

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Memórias de um aprendiz

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– E o que você vai pedir? “Ressuscite ela”?! Você por acaso é um deus? Existe alguém

entre nós que pode cumprir tais pedidos e eu não fui avisada?

– Não sou um deus, nem um de vocês o é. Não posso ressuscitar, nem vocês o podem.

Mas ainda me resta um desejo, e vocês me devem isso!

– Qual o seu desejo, nobre cavaleiro? Pergunta o anão imperador, ainda com seu macha-

do em mãos. Raitun vira-se para este e faz uma mesura profunda, muito profunda.

– Quero as penas de fênix que estão em seus brincos.

Pedido feito, porém considerado um ultraje pelos montrisianos. Rumores e sussurros por

todos os lados.

– Você realmente é louco, diz Louise ao tomar parte da situação. Essas penas estão com

os imperadores desde o início dos tempos, representam a capacidade dos montrisianos renasce-

rem após uma iminente destruição. Você não pode simples pedir “desejo o seu trono” e ser a-

tendido, pode? Isso é algo inadmissível e não passível de ponderação!

– Não quero o reino de vocês. Não me importo em ser ou vassalo tendo a condição de a-

prendiz, e podendo estar próximo a alguém importante. Eu aprendi sobre a capacidade de seu

reino, e a adquiri graças a vocês. Sou grato por isso. O que quero agora é salvar a Lilith, ou não

desistir dela até recorrer à última alternativa. Os montrisianos vão sacrificar sua sacerdotisa por

algo de valor simbólico? Eu devo ter dormido por muito tempo então, devo ter sonhado que

encontrei um reino onde aprendi que a maior das forças reside dentro de cada um, que um guer-

reiro não deve largar espada até o fim da batalha, mas que não é a espada que faz o guerreiro ser

guerreiro. Acabei acordando neste lugar estranho, onde enquanto vários corações se fecham, a

visão de uma sacerdotisa escurece cada vez mais. E onde nenhum entre nós sabe ressuscitar os

mortos.

– Seu coração é forte, sua intenção, sincera. Não perca mais tempo– diz o imperador ao

entregar-lhe as penas.

O aprendiz realmente tinha tempo. Não podia manter-se naquele modo de combate por

muito tempo, estava quase sem forças. Aquele seria o verdadeiro “último golpe”. O aprendiz

segura o arco de Lilith e transforma Arashi, as suas bainhas e as penas em uma flecha de luz e

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mana pura. Em suas costas aparece uma asa esquerda, também de luz, grande o suficiente para

levantar o aprendiz a uma boa altura.

– Mantenha o foco, Mihawk – diz o garoto nas alturas, apontando a flecha para a sacerdo-

tisa. Um laço nos une, e após tudo, após tempo e distância nos separarem, apenas ele irá perdu-

rar. Este é a flecha de meu último desejo. Levante-se, Lilith! Daikyu, Omnikire: Yakuso-

ku!(grande arco corte Omni: promessa.)

O aprendiz libera a flecha e acerta o coração de Lilith. Flecha que depois de cravada no

peito da elfa vai perdendo seu brilho, enquanto todo o reino se mantém apreensivo. A esperança

vem como a aurora: brilhante, de leve, mansa. A marca em Lilith começa a se dissipar aos pou-

cos. Porém os tímidos sorrisos radiantes logo se transformam em expressões vazias e fúnebres.

O corpo da sacerdotisa começa a desintegrar-se e vira algo brilhante carregado pelo vento. O

vento que leva e traz.

Montris retorna ao silêncio. Silencio e luto profundo, até ouvir o velho e bom som de du-

as armas ressoando no ar. Acima deles, onde estava Raitun Lilith reapareceu segurando a larga e

monstruosamente ignorante Arashi. Com ela a elfa ataca a raposa, e o reflexo desta permite que

se vire e apare o golpe com o arco da sacerdotisa.

– Roubar a arma de um guerreiro enquanto este agoniza é inadmissível, além de ser uma

falta de educação.

– Usar a arma de um guerreiro para atacá-lo pelas costas é um impropério de mesmo ní-

vel.

– Você não devia ter feito isso. Você sabe que coisas terríveis acontecem quando se usa

poder de mais.

– Sei sim, e você quase me mostrou um exemplo prático.

O garoto recolhe a cauda e a asas em seu limite, ao mesmo tempo é recolhido pelos bra-

ços de Lilith

Nenhuma palavra a mais é dita pelos dois. Não através da fala. Os dois resumem-se a en-

treolhar-se. Entendem-se assim. Raitun dá um suave beijo no canto da boca de Lilith, lentamen-

te percorre seu pescoço, beijando-lhe ali, beija-lhe a testa. Cada um dos beijos fora retribuído

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lentamente por ela, e esta toma a iniciativa dando-lhe um último beijo. Enquanto isso, Yumi

comenta.

– Que interessante. Parece que eles passaram um longo tempo sem se ver.

– Aquele não é um beijo de reencontro– retruca Hatsumomo, aparecendo por ali. É um

beijo de despedida.

De alguma forma Hatsumomo também sobreviveu, livre agora das impurezas do cavalei-

ro negro.

– “Você realmente desequilibrou este mundo, Raitun.”

– “E talvez não devesse, e talvez nem faça parte dele. Aprendi muito aqui, mas sabemos

que eu tenho que voltar.”

– “O tempo e a distância irão nos separar. Agora que não preciso mais me preocupar com

você, a quem vou ensinar?”

– “Você saberá a quem ensinar. Até sempre, meu amor. Mantenha a nossa promessa.”

– “Até sempre, meu anjo.”

Lilith pendura um cordão em Raitun e eles se beijam uma vez mais, ao passo que o corpo

do aprendiz começa a se desfazer lentamente. Desfaz-se o corpo de um aprendiz, até o ponto de

parecer nunca ter estado ali. Em troca do cordão ficam lembranças, lágrimas, laços e um livro

deixado nas mãos de Lilith. Em sua capa havia um olho prateado de uma raposa e o nome

“Memórias de um aprendiz”.

– O tempo e a distância irão separá-los, no fim restarão apenas os laços. – diz Alexis. Li-

lith volta ao chão com o livro em mãos.

O aprendiz ainda escuta algumas coisas: lembra-se de ter ouvido Louise tomar a palavra.

– Continue evoluindo garoto. No reino de Montris, a história é feita por você.

– Mantenha vivas essas memórias, meu anjo.

Memórias, apenas alguma destas foram as contadas. Memórias de um aprendiz de artes

da viajosidade. E a tal viajosidade até agora não explicada, o que é? Informação confidencial

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Memórias de um aprendiz

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que eu poderia contar (pra torna-la assim ainda mais confidencial). Seria talvez, tudo aquilo que

eles viram até agora, tudo que você pensa em ver neste exato momento e tudo que ninguém

sonha em acontecer daqui pra frente. É o inevitável que move tudo que nós contamos. E esta é

uma estranha história, como deu pra perceber. E o garoto, sem saber se esta foi ilusão ou reali-

dade retorna a sua humanidade com uma boa e longa, longa, muito longa história. Talvez não

possa contá-la a muitos, como outras coisas. Como sempre, não liga também para estes fatos.”

– Uma longa história... Ainda inacabada – comenta a garota observando a fogueira.

– Pensas que ela está inacabada? Então como você acha que ela continua? – indaga o an-

cião, agora curioso para saber o que se passa na mente jovial daquela garota.

– Informação confidencial – diz a garota, enquanto sai andando pelo corredor de cerejei-

ras, pela chuva, pela estrada da vida.

“Olá. Bem, vocês já sabem quem sou eu, né? Não sei quanto tempo se passou desde que

você me encontrou pela última vez, se muito ou pouco. Só sei que deve ter se passado mui-

to tempo história daquele aprendiz. Mesmo assim vou estar sempre por aqui em cada pau-

sa pra perguntar se vocês ainda querem continuar a ouvir o que acontece em um mundo

paralelo chamado Montris quando um garoto careca vai pra lá, aprende um monte de

coisas exóticas e mágicas, luta com um monte de gente, ganha de um guerreiro superpode-

roso meio na marra, meio na sorte, e volta pra o lugar de onde veio. Como se tudo isso não

fosse nada, ainda por cima. História maluca essa do aprendiz, não? Então se você não

gosta tanto assim de maluquices e magias e coisas exóticas, perdoe-me por ter contado

todas essas pra vocês. Se ainda acha que aguenta mais algumas, elas aparecerão em breve

nas memórias do aprendiz. Aliás, perceberam que nunca falaram o nome verdadeiro do

aprendiz e depois que ele foi chamado de Raitun nunca mais se preocuparam em saber

qual era o nome dele? Dizem que é uma das informações mais confidenciais dessa história.

E nem eu sei qual nome ele tinha antes disso tudo acontecer. E não é por ele ter saído de lá

que a história acabou, é claro. É só que isso também era “informação confidencial”, lem-

bra? Pra deixar claro, “Informação confidencial” significa duas coisas: ou que tenho al-

guma coisa pra contar, mas não é o momento certo, ou que não sei o que responder nem

tenho mais nada pra contar e quis parecer sábio e misterioso. É óbvio que quando uma

informação confidencial é de um tipo ou de outro é uma informação confidencial (o que

significa que vocês podem descobrir qual é qual se continuarem me ouvindo, ou não).”

Ass: Aquilo que conta

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Memórias de um aprendiz

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P.S.: Espero que não tenha sido em vão ter contado o que aconteceu com os aiodromes e

todos os outros monstrisianos. E com o cabelo do Raitun. Ah, e com o coração dele também,

sabe...

Parte 3 – O mestre-aprendiz em Montris

1 - Recomeço do ciclo

Eu sou aquilo que conta. Conto que o ciclo recomeça, nunca igual ao anterior. Fatos consuma-

dos, fatos regrados e sem regras, assim como a fogueira à minha frente. Se você está me escu-

tando em algum lugar aí dentro, você deve ter ouvido falar de mim em algum lugar. Alguém ou

eu mesmo disse “tenho uma história estranhamente interessante para lhe contar”. Contei para

uma garota uma interessante história sobre um aprendiz que escreveu um livro, sobre magia e

mitologia, sobre raposas e aiodromes. E ela me disse que a história continuava. E que ela sabia a

continuação. Talvez ela estivesse lá... talvez. Eu com certeza estou aqui, de frente a uma foguei-

ra de chamas azuladas que resiste a chuvas torrenciais. A garota aparecerá em breve, para contar

a vocês o resto da história. Então, viaje comigo novamente, para um lugar onde a dualidade

mistura a realidade. Escuto passos, escuto o vento... Quinze passos... treze, doze, onze...não, já

presenciei coisas de mais para ficar nervoso com a chegada de uma garota bonita, e vocês?

Três... dois...

- Você realmente fica aqui o tempo todo?

- Você aprendeu, mas não está usando o conhecimento. Primeiro, os cumprimentos, garo-

ta.

- Olá, ancião. O que ainda fazes aqui?

- É a minha sina, garota. O que te traz aqui é a curiosidade, presumo?

- Presume certo, nobre contador de histórias. Sim, eu sou curiosa, e minha curiosidade me

atormenta sempre e todas as horas que penso em como essa história continua.

- Você já sabe como a história continua, não sabe?

- Talvez... quero ter certeza de minhas suspeitas.

E nesta hora escutou-se um raio ao fundo. Sombria e felizmente, a chuva voltou. A velha

chuva que persegue a história e os peões do jogo. O ancião deu novamente um de seus exóticos

“pigarros”, e estendeu o livro mais exótico ainda para a garota.

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- Por que você está me estendendo o livro?! Pergunta ela com ar de surpresa e pitadas de

indignação

- Ora, por que você quer conhecer a história, é claro. Que outra maneira é melhor do que

ler com seus próprios olhos que não veem?

- “Olhos que não veem”... e... você estava me esperando de novo? Tu és por acaso algum

tipo de...vidente, já que não és deus ou bruxo?

- Nem deus, nem mago, nem vidente.

- Também fico curiosa em saber o que demônios você é...

- Demônios... Demônios são problemáticos. Não sou um deles. E você saberá quem sou

eu, se tiver de saber.

A garota toma o livro, o ancião a observa e a chuva cai sobre ambos. A fogueira, revolta-

da, reclama um pouco e logo se acostuma. Os seres da terra dificilmente conseguem ganhar

brigas com os seres dos céus.

- Consegue entender o que está escrito? Pergunta o encapuzado

- Sim... – responde a garota. Espantada. Maravilhada. Um pouco assustada, por ter visto

símbolos estranhos, e agora entender os símbolos estranhos perfeitamente.

- Isso é...interessantíssimo, disse o ancião enquanto observava os olhos da garota. Antes,

comuns. Agora, exóticos e fascinados com aquele mundo codificado. “Se olhos refletem almas,

algo despertou dentro da alma dela” pensou ele.

- O que? Pergunta ela

- Coisas interessantes nem sempre são importantes. Vamos, leia pra nós.

- Ok... “O ciclo começa mais uma vez, porém não igual ao anterior.”...

Alguns anos se passaram desde que o ciclo terminou e aquela coisa incrível aconteceu. O

garoto já não é mais garoto, e não sabe se aquilo tudo foi ou não real. Não se importa mais com

isso, o tempo acabou apagando essa lembrança e sua mente, essa e muitas outras.

O que se sabe é que tempos depois o aprendiz estava no quarto onde supostamente tudo

começou. E que uma chuva torrencial e curiosa se debulhava em lágrimas sobre a janela do seu

quarto. O que ele sabia é que os dias de chuva, frio ou neve eram nostálgicos. E o aprendiz re-

solve pegar um capuz e sair. Gostava de sair andando nesses dias, como se estivesse procurando

algo, sem ao menos saber o que realmente procurava. Andava mecanicamente como qualquer

um dos outros, apesar de ser bem diferente de todos. Seus pés precisam ser bem vigiados, disse

um sábio, quando se resolve simplesmente andar. Por que eles tendem a lhe levar para locais

problemáticos. Felizmente, nada de problemático no caminho. Apenas uma escola a sua frente.

Entremos com ele pelos corredores. Corredores, corredores, passos lentos. Uma virada aqui e

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ali, corredores, sem pressa nenhuma. Abre uma porta qualquer, dá de cara com vários alunos.

Vários jovens com uma idade abaixo da sua (e parecida com a sua na época de sua viagem épi-

ca. Ou com a sua, que está lendo. Ou não.).

- Bom dia, aprendizes, diz ele se apoiando em um birô na frente da sala.

“Bom dia”, responderam alguns. “Bom dia, professor/mestre”, responderam outros. Salvo

engano, ouviu-se um “e aê véi” que perdeu-se no ar.

Sim, sim, após tudo o garoto tornou-se homem, e o homem tornou-se professor em seu

mundo. Detalhes sobre isso são informações confidenciais, e nem todas elas são importantes (ou

são?). Breve pausa, um suspiro quase invisível. Ele observa a janela ou a chuva do lado de fora,

fixamente, como que admirando um quadro.

- O professor tá aéreo hoje – comenta baixo alguém do fundo.

- Realmente estou... Perdão. Sobre o que íamos dissertar?

- Acho que sobre livros, comenta alguém.

- Livros, livros... é, são um bom tema. Porém o livro já é o nosso estágio final. Que tal

voltarmos um pouco o pêndulo? A escrita? É a escrita. Dizem sensatamente, na minha opinião,

que o homem aprendeu a falar, depois a escrever e por último a juntar seus escritos em livros.

- Ei professor, qual o primeiro livro feito?

- Manuscrito ou impresso?

- Sei lá, o senhor sabe?

- O primeiro livro impresso foi a bíblia em latim. Não faço ideia de qual o primeiro ma-

nuscrito. Depois pesquisarei sobre isso, mas suspeito que seja algo perdido no tempo.

- Acho que isso se perdeu mesmo de tão antigo, comenta algum aluno.

- Isso é bem provável. Não é fácil conservar livros antigos, e é muito mais difícil achar

pesquisas sobre esse assunto. Voltando aos escritos, a escrita começou a ser desenvolvida lá por

volta de 3500 a.C, pelos sumérios, diz a nossa história moderna. Ou pelo menos, junto com os

hieróglifos, é um dos tipos de escrita mais antiga já encontrada até agora.

Depois dos suportes em argila dos sumérios vieram os papiros, desenvolvidos pelos egíp-

cios, por volta de...dois mil...2500 a.C. O primeiro...como podemos chamar... agrupamento feito

consistia em rolos de papiro de 6 ou 7 metros, que eram logicamente enrolados para facilitar o

transporte. Sabe aqueles filmes em que o Faraó manda um carinha desenrolar aquele troço e-

norme e começar a ler? Aquilo é um papiro... e se o bonitão ali atrás parar de falar assuntos

irrelevantes talvez ele até contribua em algo. Talvez.

- É...desculpa aí... disse o aluno, e não disse mais nada.

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Memórias de um aprendiz

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-“Pobres mortais... bem, o problema não é meu se ele não quer estudar, não é?” pensou o

aprendiz. “Exatamente...mortais são...esquisitos” pensou o outro lado do aprendiz.

- Pra motivo de informação adicional, – continuou o nosso aprendiz-professor – os gregos

chamavam os rolos de papiro de volumen. Aos poucos ele foi caindo em desuso e dando lugar

ao pergaminho.

- Ei, profê!!! Pergaminho é um nome tão...esquisito, né? Né? De onde veio esse nome?

Por que pergaminho? É que...sei lá, nada a ver com couro.

- Provavelmente de uma cidade da Ásia chamada Pérgamo. Reza a lenda que teriam in-

ventado o pergaminho lá e usado muito por lá também.

- É uma viagem total isso dos nomes, comenta outro. Realmente nada a ver com couro.

- E o senhor sabia que quando faziam pergaminhos com couro de bezerro chamaram eles

de velinos?

- Ah, soube quando estava preparando a aula. “Ou seja, ontem.” Então, os pergaminhos e

velinos abriram espaço para mais um passo na evolução até o livro moderno: começaram a

substituir o volumen por pergaminhos costurados, como um livro atual, e chamaram esse “novo

modelo” de codex, diz o professor apoiando a mão na mesa e batendo o dedo na mesma freneti-

camente, como se este quisesse atravessá-la.

“O que houve?” pergunta um. Os olhos da sala se voltam para o “aluno problemático de

antes”. Este, por sua vez estava profundamente concentrado (na matéria errada), fazendo cálcu-

los com tanta avidez que chegava a sussurrá-los. Um mórbido silêncio toma conta da sala, sendo

quebrado pelo calculador. Todas as atenções estão focadas nele, até um giz acertar sua caneta e

outro sua testa (quase ao mesmo tempo), o que fez o garoto pular de susto e cair para trás com

sua cadeira e tudo mais. Após um breve ataque de risos tomar conta da sala e algum comentário

como “toma! Quem manda ser viciado em cálculo?”, o professor espera pacientemente o aluno

se recompor.

- Os cálculos são importantes, mas... pergunta: como você vai demonstrar BEM suas futu-

ras teses? Escrever e se expressar bem são coisas necessárias, não importando o lugar. Um es-

critor não precisa saber calcular bem (apesar disso, ganhará pontos por saber calcular bem, por

que não vai levar calote nas suas vendas), mas um calculador precisa saber escrever bem (e

também ganhará pontos com isso, por saber expor os seus cálculos). Precisamos sempre de ver-

satilidade. Poderíamos até arriscar um pouco e dizer que “os mais versáteis sobrevivem”. E isso

vale para todos. Voltando a viagem no tempo, chegamos ao codex, correto? Códices, códex...

Era mais fácil costurar pergaminhos, e assim fizeram. Imaginem só: imaginem um livro gigan-

tesco com o seu peso, capa de madeira maciça e folhas de pergaminho escritas à mão. Isso era

um codex. E nessa hora a linha do professor foi interrompida por alguém que bate na porta per-

guntando se lá era a sala 337. Começam os rumores, principalmente por que após atender a por-

ta o professor começou a conversar com alguém. “Deve ser alguém muito importante pra ele

parar a aula”. “Quem será que é?”. O que não perceberam é que ele não estava conversando.

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Memórias de um aprendiz

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Com a cabeça pra fora da sala, ficou paralisado com a pessoa que estava na sua frente. Lhe era

exoticamente familiar, e parecia a ele que tinha encontrado alguma coisa que havia perdido há

muito, muito tempo, que havia procurado desde sempre e de repente tinha ido de encontro a ele.

Mas tudo isso passou pela sua cabeça muito rápido e a sensação que lhe restou foi “você me

lembra alguma pessoa...”. Após expressar sua iluminação com um esboço de sorriso e acenar

afirmativamente, o professor vira e se dirige para o seu birô, seguido por uma jovem esbelta e

quase da sua altura.

- Temos uma nova colega hoje. Seu nome é Arashiko Akemi. Bem...exótico, não acham?

- Se quiserem me chamar só de Akemi... é... teoricamente mais fácil.

- Ok. Então, Akemi, Estávamos falando sobre a história do livro. Você tem algo pra

compartilhar conosco?

- Ah... acho que sim! Acho que sei alguma coisa.

- Ah, é um bom começo. Conte nos sobre isso. Sobre o que você sabe. Ah, antes disso

sente-se por favor – diz ele apontando um lugar vago na sala.

Devidamente acomodada, a garota começa.

- Bem, acho interessante dividirmos em duplas. A “surgimento da escrita” e os suportes

de barro, os hieroglifos e papiros, os pergaminhos e os códices, e o papel e livro atuais.

- É um jeito interessante de analisar. Acho que destrinchamos tudo agora, então na pró-

xima iremos para os tipos de texto. Sore wa dake!

A garota lembra de algo com aquelas palavras. O nosso professor ainda não consegue i-

dentificar o que exatamente mas considera que seja algo importante. Dias passam, aulas passam

e a novata segue impressionando com uma capacidade de aprendizado superior. Após uma das

aulas (depois de certo tempo) ela é designada para levar alguns livros para a biblioteca. O que

ela acha estranho é ter que andar tanto dentro de uma biblioteca que aparentemente era pequena

comparando a outras. E o mais estranho é ela esbarrar com um exótico (mas de certa forma,

esperado) leitor lá dentro: o professor.

- Olá Akemi, o que faz por aqui? – diz ele sem tirar os olhos do livro (e ele estava de pé, e

ela passando por suas costas).

- Olá...professor. – responde intrigada, mas continua – Vim deixar alguns livros aqui.

- Então...realmente gosta de livros.

- Apenas os que contam as lendas e as histórias dos heróis! E os romances deles com as

damas, é claro. Sempre com romance... – diz ela com um sorriso, que rapidamente se fecha ao

ver a reação ( ou é melhor dizer “a não-reação”?) daquele á sua frente.

- Estas são as verdadeiras histórias, e isso prova que você tem bom gosto.

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Memórias de um aprendiz

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- Você parece conhecer muitas histórias... pode contar ou ler alguma para mim?

- Sente-se.

Ela se senta em uma das mesas de leitura, bem próxima. E tem um estalo repentino.

- Ah! Bem... é que...me mandaram até aqui para entregar uma mensagem. Provavelmente

é pra você, considerando que essa kuda-kitsune debaixo do seu casaco seja sua. – diz ela segu-

rando um bilhete. Uma raposa de corpo grande e delgado (como o de uma serpente) sai da man-

ga do sobretudo do professor, pega o bilhete e leva de volta a seu mestre. Este vira de frente

para ela, encosta na prateleira e joga o livro em cima da mesa. Depois se põe a observar o bilhe-

te fechado.

“Que vergonha... agora uma raposa do seu nível é detectada por meros adolescentes? On-

de está o “vou esconder meus poderes?” “

“Você me detectava na idade dela.”

“O que queres dizer com isso?”

“Ela não é comum, apesar da aparência”

“Eu percebi isso. E a aparência dela não é comum. Ela parece... Ela realmente parece...diferente

das outras pessoas. Ainda não sei o porquê, mas é uma garota interessante. Como é a aura de-

la?”

“Tão difícil de descrever quanto a sua.”

“Hmm...entendido. Bem... vamos ao bilhete:

"O tempσ e α distαncia irãσ seραrá-los, nσ finαl de tudσ restarão αρenαs laços".

Foi exatamente como pensamos.

Logo você, que tinha uma "história impossível", desistiu dela.

O que virá quando sua chama se apagar? O gélido e impiedoso frio? Me encolher no es-

curo?

O que eu posso fazer? Ser uma heroína e fazer algo impossível? Esse não é o meu papel na his-

tória.

Não temos culpa...apenas aumentou o abismo...a distância...as coisas...os empecilhos...as car-

gas...

O que virá agora? Mais idas e vindas de uma espada que fica me atravessando?

Não sei, mas não temos culpa.

Será um bilhete de despedida?Algo como:

"Adeus...não tem tanto valor...afinal, nos separamos tanto que não nos alcançaremos mais. E em

meio a esse abismo enorme, ainda pudemos ficar juntos e manter nossas promessas. Incrível.

Não te culpo. Você cresceu. Que a benção dos elfos esteja contigo, que os quatro ventos o prote-

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Memórias de um aprendiz

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jam e o acompanhem.

Lilith, a Lampirerin."

E o aprendiz mantêm os olhos fixos no bilhete, dizendo: - Exato, e não exatamente. Aprendi que

para pessoas como nós raramente existem finais felizes. Aprendi que as nossas vidas são amal-

diçoadas e nos obrigam a usar máscaras, aprendi que somos apenas marionetes do inevitável. "A

mais pura verdade"...é o que você diria. Segundo você, não temos culpa disso. O tempo... com

ele, acabei perdendo a crença. Logo eu que tinha uma bela história impossível, cresci. E não

temos culpa disso. Correto, e ainda assim errado em certo ponto: Não será um bilhete de despe-

dida. Nunca nos encontramos realmente, no fim das contas. E a chuva ainda me lembra alguma

pessoa. Não é você... pareceu, mas não foi... - respondeu o então aprendiz-professor, sem saber

qual lado no momento era o predominante. E continuou:

- Ainda não foi...- O bilhete já amassado em suas mãos agora está desfocado, atrás das lentes

dos óculos, e em meio a lágrimas, para ele são tão raras quanto o mais raro elemento do univer-

so.

- Professor?

- Ah, perdão...

- Posso contar-lhe uma história, já que você não está muito bem.

O professor se senta do outro lado da mesa de leitura e a raposa-cachimbo vai para o pes-

coço da garota.

- Bem, ele vai gostar de escutar. E eu também, acho.

- Nos tempos bons em que dragões e humanos andavam juntos, conta-se a história de um

mago. O mago mais poderoso que já existiu. Ah, um fato peculiar é que ele era canhoto.

- Interessante. Também sou. E alguns outros humanos muito inteligentes são canhotos.

Bem, não que eu seja muito inteligente mas...

- Não interrompa, ou cabeças irão rolar. E você é sim. É um ótimo professor. O mago,

apesar de muito poderoso e tão esperto quanto uma raposa, não era mais poderoso que a ceifa-

dora de almas. Assim como as raposas, ele sabia a hora da sua morte, mas respeitava isso. As-

sim como todo humano tem noção, sabia que estava muito velho. Diferente dos outros magos,

este mago canhoto não tinha um aprendiz para passar seus conhecimentos, sua arte da magia.

- Que fato lamentável...

- Concordo, mas como o mago era sábio teve uma boa ideia. Ou melhor colocando, uma

ideia mágica. Acendeu uma fogueira (mágica, é claro), se sentou e resumiu-se a esperar. Come-

ça a chover algum tempo depois, mas o fogo continua aceso. E um passante que andava sob a

chuva resolve pedir abrigo.

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- Lhe darei a habilidade de criar seu próprio abrigo, se quiser. – disse ele, e continuou-

Mas preciso que me dê algo equivalente em troca. Uma resposta... uma resposta correta, perfei-

ta...e mágica. – foi o que ele disse.

- Tentador, porém desafiante – diz o professor, analisando – e o jovem aceitou o desafio?

- O que você acha? “Faça a pergunta. Não posso garantir a resposta. Atrapalhado como

sou, posso tentar.” Foi o que ele respondeu.

- Vê esta fogueira?

- Sim.

- Por que ela não se apaga?

- Uma resposta correta, perfeita e mágica?

- Exatamente. Pode começar, se quiser.

- Está chovendo, mas o fogo no momento é mais forte que a chuva e por isso persiste. Ou

isso é um equilíbrio natural exótico, ou alguma arte mágica feita por um grande mago.

- Correto... e o que você pode dizer sobre a magia?

- Diria que a magia é um dom concedido a alguns de transformar coisas simples em ou-

tras fantásticas. Acho que deveria ser usada sabiamente, por ter alguma consequência pesada

demais se usada do jeito errado. Por isso os sábios são ótimos magos e os magos tolos ou sim-

plesmente astutos, mas não sábios viram escravos de sua magia. É transformar o metafísico,

ilógico e impossível em algo usável e compreensível por uma lógica diferente, que só alguns

poucos agraciados tem. Nem sei se realmente se explica o que é magia, mas é o que eu diria que

ela é.

- Gostei da resposta dele – comenta o professor.- Sem dúvidas, correta, perfeita e mágica.

- Já sabe o que aconteceu?

- Imagino...

- O mago deixou sua magia, seu legado e fama para esse jovem, que superou o mestre e

herdou o título de mago mais poderoso. Diziam por aí que seu nome era Merlin, mas seu nome

verdadeiro era..

- Stormael. Esse era o nome. Merlin é como chamaram ele quando um dia ele passou por

este mundo cinza.

- Como você sabe disso?

- Temo não ter tempo para explicar agora – disse ele. Sem olhar para a garota. Estava

concentrado em outra coisa.

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Memórias de um aprendiz

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- Por...?

- Olhe.

Ele estava apontando uma prateleira. E os livros estavam tremendo, como se quisessem

atacá-los. Realmente queriam. Um livro quase acerta eles, e depois de desviar aparece mais um.

A garota seria acertada pelos próximos se o professor não tivesse virado a mesa como “escudo”

e a puxasse pro chão.

- Ok, o que tá havendo aqui?

- Informação confidencial, receio, porém uma ótima pergunta.

- E.. o que faremos agora?

- Tentar sair. Mas precisa ser pela mesma porta que entramos.

- Não entendo o por que, mas...acho que tive uma ideia.

A garota olha para um corredor onde um dos lados está sem livros. Levanta uma mesa

pequena como escudo e sinaliza que eles devem passar por ali. Aparecem mais livros pra testar

o “escudo”. Ele passa no teste, mas não defende as costas da garota. Isso fica para o professor,

que rebate alguns livros com uma perna de mesa em cada mão. É nessa formação que eles co-

meçam a atrevessar os corredores. E cada corredor a quantidade de livros sobre eles aumenta, a

ponto das proteções não serem suficientes. Eles estão chegando perto, mais livros estão seguin-

do os dois. Livros de mais, se eles não tivessem uma raposa. A garota deixa a mesa como uma

barreira e a raposa cria uma barreira adicional. Eles conseguiram finalmente chegar na porta,

ofegantes. Sem muito tempo.

- Muito bom, kuda-san. Aguente mais um pouco. Garota, abra a porta.

- P-por que você não abre?

- Obedeça logo! Ou que morrer com um livro decepando sua cabeça?

Ela fez um gesto negativo ao ver sua cabeça caindo mentalmente, e pôs a mão na maçane-

ta.

- Hitori Nakama! – gritou ele. Ela abre a porta e os dois, aliás, os três ( a raposa) pulam

para dentro. Ou seria melhor dizer para fora? Não havia mais o chão da escola. Havia terra. Sem

teto, havia um céu. Um assustador céu escuro de tempestade. Cai um raio ao longe. A porta -

agora uma porta antiga - desaparece com o vento.

2 – Finalmente de volta

- Finalmente de volta. – diz ele, se levantando e dando um profundo suspiro.

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- Não pode ser. Mas isso é...

- Montris. – diz ele, com uma alegria imensurável e contida por sabe-se lá o que.

- Como você sabe sobre Montris?

- Informação confidencial. Ih, já vimos esse roteiro, não vimos? Mas está diferente. E não

só o roteiro... – diz olhando ao redor.

- O que diabos você é? Você não é um humano comum.

- Bingo. E onde você acha que humanos comuns teriam uma kuda-kitsune dentro do ca-

saco e receberiam recados esquisitos de seres daqui? Aquele mundo cinza não tem dessas coi-

sas. Você também não é uma humana comum, é? Humanos não tem a pele tão branca, nem o-

lhos prateados e orelhas pontudas. Nem aqui em Montris, nem naquele maldito mundo cinza.

“Mas... fica ainda mais bonita assim, parando pra olhar”, pensou ainda, depois da fala.

- O-o que diabos você é!? – Dizendo isso, deu um pulo para trás e pensou “S-será me irri-

tei e descontrolei? Só sei que mostrei minha verdadeira aparência.”.

- Sou...uma criatura daqui. Mas também sou do mundo cinza. Ao mesmo tempo, sou mui-

ta coisa e quase nenhuma. Vai ver eu sou ninguém, no fim das contas.

- Por que insiste nisso de chamar aquele lugar de mundo cinza? Ele é le-

- Legal? Não. Não é. Lá são poucas as pessoas que acreditam realmente em magia. Cha-

mam essas coisas por lá de fantasia, de sonho ou loucura, dizem que não é real, que é ficção.

Chamam de “essas coisas”. Pobres almas que não entendem nem acreditam só por não poder ver

e perceber o que está a sua volta. Mas ainda assim, existem pessoas que acreditam em magia.

Chamo essas pessoas de “auras coloridas”. Há cada vez menos auras coloridas. Por isso chamo

aquele lugar perdido de mundo cinza. Um mundo onde as cores tendem a desbotar por culpa das

criaturas ali viventes, onde a magia tende a se extinguir. Mal sabem estes que as poucas auras

coloridas são as que sustentam aquele mundo, e que a após certo tempo, se continuar nesse rit-

mo, sua autodestruição será inevitável. – Após isso, o aprendiz-professor para pra olhar em vol-

ta. Viu apenas ruínas do que antes foi uma enorme cidade.

- Parece que os ventos não tem sido muito generosos...

- Minha tutora dizia que há muito atrás isto era uma enorme cidade chamada-

- Midgard. É reconhecível, mesmo em ruínas.

- Você está querendo dizer que você conheceu Midgard quando ela não estava em ruínas?

- Sim, era realmente uma cidade-fortaleza incrível.

- Isso é realmente assustador. Nunca ouvi falar de um humano que tenha vivido por mais

de 2 mil anos.

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Memórias de um aprendiz

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- Não que eu seja um humano comum, mas...se passaram mais de 2 mil anos por aqui? Lá

no mundo cinza só se passaram pouco mais que 20.

- Permite que eu tente dar-lhe uma explicação, sir? – Diz uma voz conhecida em forma de

ponto de luz

- Oh, há quanto tempo. Que agradável é rever um aiodrome! – comenta Raitun

- É raro um aiodrome ser visto assim. Só as “criaturas da elite” possuem um. Não se sabe

o porquê. – comenta a garota, juntando no pensamento “o que quer dizer que ele é alguma cria-

tura “da elite”...mas...será? ele é esbelto e parece forte, mas...é tão surrado e parece tão estranho,

ao mesmo tempo...”.

- Ou não se quer dizer qual o porquê. Bem, você pode contar o que aconteceu por aqui, eu

permito. – diz o aprendiz.

- Há mais de dois mil anos atrás, Sir Raitun lutou contra o Darklorde Rag-Finnaros. De-

pois de purificar o espírito do mal, Sir Raitun voltou para seu mundo. 337 anos a partir deste se

passaram em paz. 337 anos após a suposta destruição do Darklorde –

- Como assim “suposta destruição”?

- As forças das trevas tomaram Montris, e os sobreviventes se escondem há muito tempo

debaixo de uma barreira.

- Na floresta das Trwillow. Ainda sinto algo de bom lá.

- Você é algum tipo de demônio... – comenta a garota

- Não considero que seja um exatamente, mas já fui chamado assim algumas vezes – diz

ele,com uma esquisita... “expressão séria que sorri”, digamos assim.

- Sir Raitun, precisamos ir antes que eles nos encontrem.

- S-SIR RAITUN? AQUELE SIR RAITUN!?!- grita a garota, estupefata

- Sh! Você escutou o que ele disse? – responde Raitun, falando baixo.

- Como assim “Sir Raitun”? Você nunca disse seu nome.

- Não mesmo. Eu nem lembro do meu nome de lá. Esse é meu nome aqui. Omni Raitun.

- QUE? VOCÊ NÃO PODE SER O- ...ei, o que foi esse som?

- Seus ouvidos estão melhores que os meus no momento. Não ouvi nada.

- Quem está aí?

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Memórias de um aprendiz

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Silêncio mórbido. O lugar mais escuro do que nunca. E das nuvens de tempestade descem

à toda velocidade três espectros negros, mistura de criaturas encapuzadas com nuvens de fuma-

ça. Forma disforme digna de espectro.

- Idiota, chamou a atenção deles! Use alguma magia de luz.

- Eu não sei usar magia! – responde gritando e começa a correr, seguida pelo aprendiz.

- E o que diabos ensinam para as crianças hoje em dia?

- Magia! Mas não ensinam nada a mim!

- Como as- lá vem eles! – grita ele, e pula em cima de Akemi, levando a garota ao chão.

Eles se levantam olhando em volta (depois de se encararem por um momento longo demais para

quem está sendo perseguido por figuras desconhecidas). O medo e a tensão de antes voltam a

tomar conta deles.

- A kuda kitsune... ela pode fazer outra barreira – sugere ela.

- Não agora. É muito desgastante usar seus poderes naquele mundo.

- Então, o que faremos mesmo?

- Esperar que a benção da sacerdotisa nos proteja.

- Como... de novo! –Raitun abraça Akemi e estende uma das mãos para o alto. Espectros

surgem em maior número, dos céus, do chão, em todos os lados. A garota estranha os sons. Ou-

viu o barulho de coisas congelando instantaneamente. Não vê nada além de uma forte claridade

com os olhos fechados. Só aí ela resolve abrir os olhos. Seus olhos prateados encontram algo

brilhante flutuando. Um pingente que estava no pescoço de Raitun. Um pingente realmente

nostálgico.

- Esse pingente...

- Te traz lembranças?

- Sim. Parece que é algo que... sei lá... era meu, mas... E como o pingente afastou eles?

- Além de outras utilidades... parece ser uma barreira de luz e gelo. Quando os espectros

conseguem suportar a luz são transformados em cristais de gelo.

- Então a dona do pingente era mesmo poderosa...

- Eu acho que a nova dona do pingente também é poderosa, sabe. Espero que minhas sus-

peitas estejam corretas. – Diz Raitun, tirando o pingente do pescoço e colocando-o no pescoço

da garota.

- P-por que você me deu isso?

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Memórias de um aprendiz

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- Por que eu acho que deve ficar com você. Não sei os motivos, devem ser informação

confidencial.

- Mas...a dona era poderosa, e...era alguém importante, não?

- Bem...sim, e não. Era poderosa, mas só “era” alguém importante. Não é mais. E em

questão de poderes você não está tão atrás, tem muito potencial. Foi seu poder que ativou a bar-

reira. “E não parece ser um poder qualquer. Talvez você a supere muito em breve... eu que devia

estar me perguntando “o que diabos é você”, que veio daqui me resgatar daquele mundo cinza,

não?”, penso ainda.

- Não entendi isso. Eu não aprendi a usar magia.

- Isso não quer dizer que você não possa. Você pode mudar de forma, por exemplo. Isso é

magia. Estranhamente...meus poderes...parece que estão dormindo. Ou que sumiram... não en-

tendo. Não consigo usá-los. Porém quando encostei em você pude ativar a barreira (pra nossa

sorte).

- Então, para onde ir agora?

- Visitar o imperador.

- O imperador não existe mais nem deixou sucessores...foi para junto de seus ancestrais,

Sir.

- Entendo...

Ficou ali parado, olhando novamente as ruínas. O vento lhe trouxe uma frase antiga que

flutuou por longos poucos anos. “Tempus levitatus”

- Sir, passou-se muito tempo após sua luta com Rag-Finnaros. Mas suspeitamos que ele

não tenha sido destruído por completo, pois seres malignos tomaram conta de Montris. Houve

muito sangue derramado. Este foi o palco dos massacres, guerras, da queda do imperador e dos

lordes imperiais.

“Sua luta”...”como assim “sua luta”, pensou a garota enquanto falava o aiodrome.

“Eu deveria estar aqui. Eu poderia ter evitado isso...eu poderia, não poderia? Eu não sei

bem se eu poderia, mas...eu deveria estar aqui” pensa o último Lorde Imperial enquanto isso.

- Existem sobreviventes pelo menos...há esperança. Onde exatamente estão os sobrevi-

ventes? Escuto vozes, suspeito de onde venham, mas não sei de onde. Algumas...parecem fami-

liares.

- Ergueram uma barreira de proteção na floresta das Trwillow.

- Eu sei onde é o lugar exato, Sir.

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Memórias de um aprendiz

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- Precisamos chegar até lá. Aion, ainda pode usar seus poderes?

- Quem é Aion? – pergunta ela

- O aiodrome, é claro – responde ele. Tens olhos élficos e ainda assim não enxergas direi-

to? Eu pus esse nome nele. Ganhei ele de presente, junto com meu nome. Se os poderes dele

ainda estão ativos, ele pode nos teleportar até o lugar exato. Qual era mesmo o custo?

- Sir, era uma condição. Só podemos usar essa habilidade a cada três dias.

- Entendo. Por qual motivo isso acontece mesmo?

- É uma habilidade que usa muita energia. Ficamos fracos e precisamos de descanso após

usá-la.

- Entendo. Use-a, é preciso.

O aiodrome começa a brilhar cada vez mais. Uma redoma de luz engole Raitun e Akemi. Ao

sumir a redoma, os dois olham o cenário a sua volta: prateleiras de livros empoeiradas. Longos

corredores. Um lugar que parece estar abandonado. Raitun percebe que o aiodrome está quase

apagando e o guarda em um dos bolsos do sobretudo.

- Onde estamos? Aqui não é o refúgio, diz a garota.

- Não é o refúgio, e é. É um esconderijo ainda mais escondido. Não entendo por que vie-

mos parar aqui, mas deve ter algum motivo. Essa é a esquina dos ventos – um vento forte sus-

surra passando por eles nesse momento.

- A...esquina dos ventos. Onde morava o sábio Otellus e onde Raitun...quer dizer, você

foi procurar instruções para a guerra?

- Sim. Se o velho estivesse vivo, poderia nos guiar. Mas pergunto-me por que viemos pa-

ra aqui e não onde queríamos ir.

- Talvez os ventos queiram que você veja algo aqui antes de ir até onde deve ir – diz a ra-

posa, saindo do sobretudo de Raitun e tomando a forma de uma raposa (com patas) pequena,

que pula para o ombro de Akemi para receber alguns afagos. Akemi percebe algo ao longe, no

fim dos longos corredores empoeirados.

- Alguma coisa se mexeu.

- Seus olhos são realmente bons. Onde?

- No fim do corredor.

- Kuda, prepare o fogo, talvez seja preciso.

Nesse momento várias tochas presas nas paredes começam a acender e iluminam melhor

o lugar.

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Memórias de um aprendiz

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- Oh, que interessante! Será que alguém vai vir nos atender agora? Diz o aprendiz olhan-

do para a aluna, que responde com um gesto de desaprovação.

Eles esperam um pouco. Nenhum movimento, nem vento. Esperam outro momento. Na-

da. Resolvem atravessar o corredor.

- Espero que eles não nos mordam... diz a garota ainda traumatizada com a sua última

passagem pela biblioteca.

- Não, acho que esses não vão morder. E por que você parou?

- Por que aquele senhor a frente pediu.

Raitun olha para frente. Vê um pequeno salão com um pedestal e um livro grande e ve-

lho.

- Seus olhos são tão bons que você está vendo algo que eu nem sinto. Então, há um se-

nhor à frente?

- Há.

- E como ele é?

- Ele é...negro, quase da sua altura...

- Acho que o conheço. Mas que tal tentar falar com ele?

- O-olá, senhor...quem é o senhor?

E o senhor responde na mente da garota, como que em alto e bom som: “- Olá garota. Meu no-

me é Otellus. Você é Akemi, correto? E ele é o Raitun.”

“- Sim – responde ela, sem perceber que usava o mesmo artifício. – Sou Akemi e este é

Raitun.”

“ - Sim...realmente são vocês. Um pouco diferentes do que eu esperava, mas nada grave.”

“- E o senhor nos esperava?”

“- Sim, e não... Eu esperei. Mas quem vos espera de verdade é Montris”

“ – Como assim? E o que o senhor quer de nós?”

“ – Quando o pêndulo voltar, tu irás lembrar.”

“ – Como assim? Vocês antigos tem mania de falar por enigmas.”

“ – Então ele finalmente aprendeu... Bem garota, você entenderá no devido tempo. Agora,

venham até aqui e leiam o livro. É o que vocês precisam. Saberão o que fazer.”

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- Ele disse que é Otellus – diz a garota virando-se para Raitun – e que devemos ler o livro

“e outras coisas esquisitas...” (pensou, pra variar, no final da fala)

O aprendiz fica parado, olhando de longe o livro.

- Espere. Esse espírito é realmente de Otellus? Espírito, se és quem és, saberás prová-lo.

Silêncio. O livro grande e velho se fecha sozinho, e os ventos se revoltam. Os cabelos da

garota e os pelos da raposa acompanham a dança. Raitun continua parado, pensa: “ainda não é o

suficiente para me convencer, apesar de ser bom...”. Nisto um livro aparece flutuando. O vento

cessa e um graveto flutuante aparece junto do livro. O graveto se posiciona como uma caneta e

começa a se mexer como se fosse uma governada por mão invisível. Assim, escreve os dizeres

no livro:

“Vocês ainda não possuem o poder. Ainda”

- “Se és quem és, poderá prová-lo” – repetiu ele mentalmente, e o graveto respondeu pas-

sando a ponta contrária no livro (o que apagou a frase acima), depois escreveu:

“SE ÉS QUEM ÉS, SABERÁS QUE É AO REVÉS”

Após isso o livro se fechou e sumiu lentamente no ar (e o graveto não fez o mesmo por

que Raitun o segurou antes).

A garota olha Raitun e pergunta por que ele estava segurando um graveto.

- Isso não é um graveto, Akemi. – Respondeu ele.

- Claro que é um graveto! Eu estou vendo.

- Seus olhos são bons, mas você precisa usá-los melhor. E não é por isso que deves confi-

ar apenas neles. Isso não é apenas um graveto. É a varinha do maior mago de todos os tempos:

Stormael. Não sente a magia emanando dela, garota? Talvez não sinta... as varinhas em Montris

tem uma peculiar mania de serem apenas disfarces de outras armas. E por raras vezes, são dis-

farces de si mesmas. Talvez seja uma destas vezes...não sente a magia disfarçada, ao menos?

- Sinto algo vindo de você – disse a raposa-, mas pode muito bem ser sua idiotice ema-

nando pela ponta do graveto.

A garota riu, Raitun girou a varinha (ou o graveto, como preferir o leitor) e apontou para

Kitsu. Nada aconteceu, a não ser mais uma risadinha da garota.

- Ah! Lembro-me qual o problema... E quando for resolvido, vocês não duvidarão – disse

ele, com a varinha na mão esquerda. Dirigiu-se para perto do livro, pigarreou de uma forma

exótica, virou, girou o pulso e começou a entoar:

Para a primeira magia

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Memórias de um aprendiz

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É preciso poesia

Que a vitória seja minha

Segurando esta varinha

Pra qualquer outra magia

é preciso maestria,

pra ver que razão eu tinha

quero agora outra varinha!

E dizendo isso, faz outro movimento e aponta a varinha-graveto para o corredor. O silên-

cio impera por alguns momentos. Antes, porém, de qualquer reação de deboche por parte dos

outros dois algo passa voando e para na mão de Raitun. Preciso dizer o que?

- Uau. Então Stormael tinha uma varinha que parecia um graveto...então tá aí uma coisa

pra não subestimar mais: os gravetos.

- Pois é, Akemi. Talvez esse ditado que a varinha ensina seja mais antigo que ela: não

julgar pela aparência. Um dos que ninguém respeita, por sinal. Pergunto-me que tipo de brinca-

deira ou lerdeza foi a da Kuda ao não perceber o poder da Persona.

- Persona é a varinha mais poderosa de todas, criada e possuída originalmente pelo mago

mais poderoso que já existiu. Aquele confundido com o lendário título druida de Merlin no seu

mundo cinza, Stormael (e vejo com asco essa comparação tosca, salvo a felicidade da importân-

cia desse título para os humanos, que pode ser comparada com a de Stormael para Montris). Era

impossível que eu não percebesse – diz a raposa -, mas é interessante te ver como idiota nas

raras vezes atuais que isso acontece.

- Bem, não importam as ironias e brincadeiras exóticas. O que importa é que agora temos

mais um elemento para nos proteger. Akemi, - e ao dizer isso joga para ela a segunda varinha –

esta é Kaleidos, a varinha da minha conselheira. Cuide bem dela.

- A...Hitch!? Tendi, cuidarei. – diz a garota, olhando a varinha e achando-a terrivelmente

familiar.

- Ok. Que tal testar se ela ainda está inteira?

- E como fazemos isso mesmo?

- Um duelo, é lógico. – diz a raposa – Você parece ser tão idiota quanto ele. Espero que

seja apenas impressão. “Ou que você evolua tanto quando ele”

- Cale-se, raposa.

- Mas eu não sei usa magia, lembra? Muito menos controlar uma varinha...eu nem sei...

- Você não controla a varinha. Você controla a si mesmo. Uma varinha não tem poder so-

zinha. Uma varinha não faz magia sozinha. Ela tem algo de mágico na confecção, mas só poten-

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Memórias de um aprendiz

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cializa o nosso poder. A magia, o poder, a força estão dentro de você. Isso é o que pode te fazer

realmente poderoso, o que vive e permanece dentro de você. Isso é algo que só você tem e os

outros não podem tirar. Podem roubar suas armas, seus membros, mas não sua alma, Akemi.

Esse é o verdadeiro poder que reside em nós. Isso já hibernou muito tempo, hora de acordar.

Acorde, Akemi. – disse Raitun, e colocou-se em posição de combate/duelo. – Ou melhor dizen-

do, mostre o ‘fogo da juventude’ para mim.

- Ok, lá vai seu fogo da juventude:

Para primeira magia

Eu invoco grande fogo

-Que não seja em demasia-

Um duelo está em jogo

Se eu erro na medida

Sai encanto errado e torto

Aí vai minha atitude,

O dragão da juventude!

E assim a garota gira a sua varinha na mão direita e aponta para Raitun, que tinha tomado

alguma distância. Depois de recitar o encanto-magia-poema a garota lançou um dragão de fogo

da ponta da varinha, em forma e tamanho parecidos com uma serpente. Raitun manipula o dra-

gão usando Persona e faz com que o ataque vá de encontro ao chão, se desfazendo em várias

faíscas que se espalham e somem.

- Interessante...o fogo era azul. Fogo de raposa – comenta Kuda.

- Isso é bom ou ruim, Kuda-san?

- Isso foi magnífico, Akemi.

- Se você diz, não direi o contrário.

“Não só digo como atesto...você realmente tem algo de diferente. A questão principal é ‘o

quê’...”

- Agora que está testada, guarde a varinha.

A garota obedece ao professor, e os dois se aproximam do livro. Na capa havia um “oito

deitado”, dito símbolo do infinito no mundo cinza onde Raitun viveu. O único problema era o

livro não abrir. Raitun tentou abri-lo de várias maneiras usando a varinha e recitando coisas

ininteligíveis. A garota passa a ponta da varinha no símbolo, que se acende por certo tempo e

apaga com um novo toque.

- Enigma interessante – comenta Kuda – Talvez esteja relacionado com os outros, afinal,

Otellus nunca diz nada solto no ar, apenas pela vontade de dizer.

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Memórias de um aprendiz

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- E o que ele disse mesmo? “Se és quem tu és, saberás ir ao convés”?!

- Ótimo, está regredindo. Não sabia que suas mentes entravam em decadência tão rápido,

respondeu a raposa ao aprendiz.

- “Se és quem és, saberás que é ao revés” repete a garota.

- “Ao revés”. Isso, Akemi, isso. Ao contrário... então... eu que tenho que provar quem eu

sou?

Após o pensamento alto, Raitun passa a varinha no livro e o símbolo acende novamente.

- Abra, grande livro, ocultador dos segredos de Montris, Omni Raitun ordena!

Dito isso, faz um revés com a varinha, e os ventos se agitam novamente. O livro se abre e

as páginas começam a virar sozinhas, e param por si próprias junto com o vento.

- Ah, acho que deu certo! – Raitun olha para o livro – Mas...interessantemente, não con-

sigo ler nada. Talvez você consiga, afinal, seus olhos são bons.

- A garota se aproxima do livro, porém vê apenas símbolos e não consegue entendê-los.

- Não consigo ler.

- Não com esses olhos.

- Eu não tenho outros.

- Mas tem o poder – diz Raitun, pondo as mãos nos ombros dela.

A garota fechou os olhos com o toque, abrindo-os lentamente. Antes eram olhos huma-

nos, apesar da cor. Agora são olhos de raposa. Agora os símbolos começam a fazer sentido.

- “Parece uma história em versos”, foi o que ela disse. Então as letras gravadas no livro se

rearranjaram de forma a dizer o seguinte: “São memórias distantes, criatura escolhida.” Ela leu

em alta e os dizeres intrigaram o aprendiz. As letras se rearranjaram e foram lidas mais uma vez,

agora dizendo “O que querem de mim, garotos-quimera, excluídos por deuses e feras, filhotes

de reles humanos?”

- O que eu desejo há anos é saber de onde vim, se chega-me um dia o fim e o que mais for

necessário, respondeu o mestre, após escutar as palavras lidas pela garota. As letras mais uma

vez se arranjaram. A superfície do livro começou a brilhar, a garota respondeu-lhe com uma voz

feminina poderosa e profunda, e enquanto falava seus olhos tornaram-se completamente bran-

cos, seus cabelos prateados esvoaçaram em uma imagem linda, poderosa e bizarra. Assim res-

pondeu a garota, como se ecoasse por ela a voz da magia presente em Montris:

Raitun, Omuni Raitun,

Quimera de nove em um,

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Memórias de um aprendiz

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Que destino é o teu!

Tu mesmo o escreveu,

Tu, de uma e nenhuma,

Face, persona e bruma.

Te direi apenas algo,

Meu guerreiro-mestre-mago:

Quando se encontram no fim

Neve, chuva e tempestade

são lacaios das deidades,

um ciclo termina assim.

Encerra em tua memória

Esta réstia que me resta

No fim do trio da festa

do fechamento do circo

Na luz, tudo e ninguém

vão despertar o divino

E digo-te algo mais

Apenas direi-te isso.

Após estas palavras a garota desmaia e é amparada por seu mestre. Na verdade, muitas

outras coisas foram ditas, mas apenas esta foi escrita aqui pelo garoto aprendiz que tornou-se

mestre.

A raposa ficou cuidando da garota, e Raitun agitou novamente Persona. Apareceu uma fi-

gura no chão, um círculo com vários símbolos e pontas em seu interior, e algo que parecia um

olho de raposa ao centro. O círculo cercou o livro antigo, que neste momento havia se fechado

novamente. Em cima dele surgiu outro livro menor, também aparentando ser antigo. Em sua

capa havia a figura de um olho fechado.

- “Tu mesmo o escreveu”, entendo... Às vezes chega o momento em que é preciso acordar

velhas memórias.

O “olho” do livro se abre. O livro e as roupas de Raitun mudam. Ele relembra das lutas

com Rag-Finnaros e suas roupas mudam para as da última batalha, rasgadas e surradas.

- Entendo... Como imaginava, não recuperei muito de meus poderes, apenas o mínimo...

Deve ser o suficiente por agora. Espero...

Raitun aproximou-se da garota e esperou até que acordasse. Isso demorou algum tempo.

- O que...houve? – Perguntou Akemi, ainda de olhos fechados.

- Nada... acho que você usou magia demais. Você vai aprender a reconhecer seus limites.

Vou ensiná-la isso. E o que eu puder.

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Memórias de um aprendiz

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- Roupas bonitas...mas bem acabadas. Aliás, você tá bem acabado heim... o que aconte-

ceu? – disse ela ao abrir olhos, e riu-se do ‘novo figurino do mestre.

- Quer acompanhar a moda? Eu acabo com você um pouco, caso queiras.

- Não, agradeço.... então, você vai mesmo me ensinar sobre magia?

- Sim,aos poucos...sem pressa...irei sim. Por ora, precisamos ir imediatamente ao sobrevi-

ventes.

- Por que? Ninguém nunca me ensinou...então por que vo-

- Informação confidencial. Nem eu sei, mas sinto que preciso fazer isso. – disse Raitun, e

levantou-se, e começou a andar entre as prateleiras. Chegou em outro salão. Havia um mapa ali,

exatamente no meio do salão, um enorme mapa de Montris que magicamente parecia mostrar

tudo que se passava no lugar. As ruinas no meio do lugar. A floresta. Os templos. Uma enorme

mancha negra ao sul, que era o norte. A garota o seguiu e ficou a observá-lo.

- Ah, esse mapa? – disse ele ao ver o interesse da garota – Esse mapa era o meio pelo qual

o velho Otellus sabia de tudo.

- E ele foi junto com os outros...né..?! – resmungou a garota – Então, como vamos até os

sobreviventes?

- Deve haver alguma passagem direta daqui até lá, afinal os ventos dobram onde lhe con-

vêm – diz ele, olhando uma estante colada na parede.

- Sim, há. E estamos em frente a ela, mas não sei como essa passagem abre. – disse a ra-

posa na forma de ‘cobra’, flutuando perto de Raitun e olhando a mesma estante.

Tentaram abrir a passagem com várias palavras mágicas, senhas, encantamentos. Tenta-

ram até usar a força. Nada adiantou.

- Hitori...Nakama!? – disse a garota numa última tentativa. A passagem não abriu. Não a

que eles queriam que abrisse, pelo menos. Ouviram um barulho após as palavras da garota, pas-

saram algum tempo procurando sua origem e encontraram uma porta escancarada. Ao atravessá-

la saíram do lado de fora de Midgard.

- É, parece que vamos ter de fazer uma caminhada...das longas. – disse ela, olhando as ru-

ínas da cidade.

- Caminhar? Garota, você não tem mesmo noção do que tem, não é? – disse Raitun entre

risinhos

- Ahn...não. E...o que eu tenho?!

- Um familiar.

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Memórias de um aprendiz

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- Certo, e o que demônios é um familiar?

- ‘Demônios’ é? Bem, esse é um tipo de familiar, mas não o nosso. Realmente não apren-

deu nada sobre magia... não entendo como não... você tem tanto talento... Um familiar é...isso. –

diz ele apontando a raposa, que rapidamente se mistura com os ventos, transformando-se em

uma majestosa raposa branca e prateada, com fogo azul nas patas e nas pontas de suas nove

caudas.

- Ah... isso... E-eu tenho poder pra invocar um desses? – diz a garota, estupefata com a

raposa.

- Vamos descobrir agora. Sua vez. Você também tem um familiar. Só precisa chamá-lo

adequadamente.

- Meu nobre familiar ainda desconhecido, apareça, estou pedindo!

As sombras do lugar tomam a forma de uma raposa menor que a de Raitun, negra, de o-

lhos amarelos e duas caudas.

- Chamou, Baby? Disse a raposa negra.

- Baby!? – disseram os três outros indignados

- Sou Kitsuhayai, seu servo e montaria, mon cherry – disse virando-se para a garota, e fa-

zendo algo como uma reverência.

- Hora de correr, novato. – disse a raposa maior – Raitun?

- Sim, a floresta das Trwillow. Sem nenhum imprevisto (o que geralmente é impossível),

chegaremos bem rápido – respondeu Raitun, montando na raposa maior – Vamos, garota, não

temos o dia todo.

- Não temos “dia” e “noite” aqui....temos? – indaga a garota após montar na raposa negra.

Antes da resposta as duas raposa começam a correr como dos raios sobre a relva.

- Não, não temos. Costumes do mundo cinza não valem aqui. Aquele mundo se prende a

muitas coisas. As coisas de Montris tem auras livres. Por isso há tanta magia.

- Ainda me pergunto... o que você é, Raitun, um sábio? Um filósofo do fantástico?

- Longe disso, garota. Falando em longe, estão perto.

- Ahn? Perto? Quem?

- Olhe para a frente – disse o mestre assim que as raposas pararam. No meio do caminho

tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho (e dois homens encapuzados).

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Memórias de um aprendiz

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- Olá... você parece meio...hmm....surrado!? – comentou um dos mascarados, seguido de

uma gargalhada dos dois

- Não tanto quanto vocês se não começarem a contar o que os trás até esse notável...nada,

não é, senhores?

- Nossa general deseja que nos acompanhe para que discutamos sua reabilitação e diz que

seria ótimo contar com seus serviços.

- Entendo... e supondo que... Suponhamos, ok? Eu sei que com algum esforço vocês con-

seguem. Supondo que eu me recuse a tal, o que aconteceria?

Apareceram mais encapuzados. Quantos? Informação confidencial. Três deles pularam

em Raitun. Um foi atravessado por uma lança branca: a cauda de Kitsu. Raitun, já em pé nas

costas de seu familiar, repeliu os outros dois com as barreiras de dizeres indizíveis tão bem usa-

das pelo velho Otellus. A garota conseguiu (e não soube como) derrubar o primeiro deles com

um primeiro movimento varinha que lançou uma bola de fogo. Depois disso caiu da raposa para

desviar de um raio branco que passou perto de seu rosto. As raposa sumiram e deixaram as ar-

mas se entenderem. Um deles tentava arranhar Raitun com algo parecido com garras, mas só

conseguia alcançar o escudo que Raitun conjurava usando Persona quando cansava de desviar

dos golpes. A garota tinha (por sorte ou sangue?) uma agilidade tão notável quanto a de Raitun e

conseguia desviar todos os golpes direcionados a ela. Ao contrário da defesa, seu ataque estava

falhando miseravelmente. Ela ainda não havia se entendido com Kaleidos, que ora lançava po-

derosas magias de ataque ora calava-se completamente. Por fim todos os encapuzados tiveram a

ideia de usá-la como refém e conseguiram desarmá-la. Os inimigos da raposa só esquecem de

contar o ‘fator Raitun’ nos seus planos. Entre o instante do desarme e o da captura Raitun encos-

tou em Akemi, que ativou de alguma forma o pingente de Lilith e criou uma barreira de gelo em

volta da garota. As garras, armas e magias das criaturas encapuzadas não conseguiram penetrá-

la, e boa parte deles acabou como blocos de gelo.

- Que pena que vocês falharam, não é? – Disse o mestre, fazendo um movimento com a

varinha que trouxe a outra varinha para sua mão livre. Depois ainda disse: - Bem senho-

res....peço desculpas pela...rispidez, mas....tenho uma viagem a terminar. Garota, aprecie o

show.

Os frustrados (e irados) encapuzados pularam como lobos em Raitun (por todos os lados).

Pobres coitados. Pelo visto não tinham a real noção de como o garoto-raposa havia sido adestra-

do. Raitun transformou as varinhas em chicotes de fogo azul e com álbuns movimentos girató-

rios partiu muitos deles ao meio (inclusive os congelados). Alguns transformaram-se em som-

bras e sumiram. O paradeiro dos restantes é informação confidencial. Raitun ainda usou os chi-

cotes para quebrar a barreira que protegeu Akemi (por sinal, pareceu tê-la deixado congelada de

estupefação). Raitun joga Kaleidos para Akemi e diz:

- Suspeito que eu tenha que te dar algumas instruções de uso... mas ainda não está na ho-

ra. Nem temos tempo... o que é uma pena, claro. Kitsu!

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Memórias de um aprendiz

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- Você esqueceu um rato, filhote. – diz a raposa ao aparecer.

- Estava apenas esperando ele sair da toca, raposa idiota.

O aprendiz virou para trás rapidamente e paralisou o último encapuzado apontando apon-

tando uma varinha para a cabeça e outra para o peito do inimigo.

- Sore wa dake.. Bakuhatsu Doble.

O ultimo inimigo foi explodido em pedaços. No meio do processo a garota conseguiu in-

vocar a outra raposa.

- Por que vocês sumiram? – perguntou a garota.

- Raposas só caçam ratos quando estão famintas, garota – disse Kitsu, a raposa branca. –

Hora de ir.

Os humanos montam na raposa e prosseguem viagem. Não parecem novos empecilhos

(não nessa parte, ao menos). Depois de certo tempo de viagem chegaram nas fronteiras da flo-

resta onde se abrigavam os sobreviventes.

- Estão aqui. Posso ouvi-los. – diz Raitun pondo a mão em uma barreira invisível. As ra-

posas somem novamente, Raitun e a garota atravessam a barreira.

Um homem e uma garota atravessaram a barreira onde se refugiam os últimos Montrisia-

nos que sobreviveram a Rag-Finnaros. Eles tinham olhos que lembravam os de uma raposa.

Ambos prateados. Ele usava uma roupa negra com detalhes dourados, manchada de sangue e

rasgada de cortes de armas de combate. Ela usava um simples vestido branco, Ela escondeu-se

rapidamente atrás dele após perceber vários Sorudiuns aproximando-se. Rapidamente o casal se

viu rodeado de armas. Uma delas tentou avançar, mas o homem mexeu um graveto e aparece-

ram duas katanas em volta dele. Os sorudiun recuaram, e o que parecia ser o líder adiantou-se,

perguntando:

- Quem és tu, forasteiro? Como nos achou e atravessou nossa barreira? E mais importan-

te, quais as suas intenções? Exijo que fales.

O homem fechou os olhos por alguns instantes, segurou as espadas e as guardou nas bai-

nhas que faziam um X nas suas costas diante dos olhos desconfiados dos soldados ( e de algu-

mas criaturas curiosas, daquelas que sempre querem descobrir o que está havendo em cada can-

to do lugar onde vivem).

- “Exige”, é? Interessante. Sou um forasteiro, mas fui o forasteiro. Sou um dos três Lor-

des Imperiais: 37º Lupuoskirus de Montris, Omni Raitun. Vim conversar com aquela que go-

verna os sobreviventes.

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Memórias de um aprendiz

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- Quem? Não pode ser. Dizem que existiu alguém com esse nome há muito tempo atrás.

Dizem também que ele lutou de igual para igual com o Darklord Rag-Finnaros. Dizem muito

sobre ele, mas o que mais dizem é que ele sumiu e a culpa de nosso atual estado é dele.

- “Não pode ser...” comentou baixo algum ouvinte. Não baixo o suficiente, já que está re-

gistrado aqui.

- É, não mesmo...olha pra ele...parece um assassino ou caçador de recompensas.

- Não pode ser mesmo... – retrucou o não-mais-garoto, com um sorriso tímido e cínico no

rosto – Já está sendo. Já que dizem tantas coisas sobre Omni Raitun, façam um favor a ele e

digam que ele voltou a Montris para terminar de resolver o que ficou pendente. Caso alguém

tenha alguma dúvida, peço que perguntem para as minhas acompanhantes, que por sinal, fize-

ram o favor de aparecer em ótima hora.

Um batalhão de Sorudiuns abriu caminho para o homem acompanhado de cada lado por

uma mulher com uma katana. Uma garota muito esbelta seguia os três, e apesar de não estar.

Um quarteto parou a cidadela élfica de sobreviventes por instantes. Em uma taberna, outros

homens discutiam e se re-embriagavam. Uma discussão estava acontecendo quando o quarteto

passou em frente ao local. Algumas criaturas pararam para observar o homem, a garota e suas

duas espadas flutuantes que estavam em frente a taberna cortando e desviando copos, canecas

cheias de hidromel e algumas mesas que voavam porta afora. Um dos bêbados foi jogado em

cima do quarteto ( e jogado de volta antes de trombar com eles. Uma barreira invisível conjura-

da com palavras ininteligíveis, como sempre).

- Heh, e depois dizem que “o ciclo de renova, nunca igual ao anterior” não significa na-

da...

Ninguém ousou interromper o caminho do quarteto. Não até chegarem onde queriam, pe-

lo menos.

- Hmmm...então é aqui? Interessante... – disse Raitun olhando uma espécie de palacete

branco.

Raitun deu um passo para dentro do palacete. Dois machos quase cortaram sua cabeça (as

espadas impediram).

- É assim que me recebes depois de tanto tempo, Alexis?

- É assim que recebo forasteiros que ousam usurpar o nome de nossos grandes senhores,

mesmo os menos prestigiados.

Quem respondeu a Raitun foi uma senhora élfica de vestes, cabelos e cetro muito bran-

cos, coração duro,feições de ódio e voz ríspida. Assim estava Alexis após esse anos todos. As-

sim disse a Raitun:

- Então, forasteiro, o que queres comigo?

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Memórias de um aprendiz

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- Quero conversar e entender o porquê de muitas coisas. Bem, preciso abrir seus olhos an-

tes disso. Como posso provar que sou quem sou? – disse retoricamente, e deu uma olhada em

volta. Haviam muitos sorudiuns, poucos aiodromes e um dragão-sacerdotisa. – Hmm... tive uma

ideia.

Raitun agarrou suas katanas flutuantes, fincou uma no chão do salão, colocou a outra em

cima e equilibrou-se com um pé em cima das duas. Depois encarou a elfa com seus olhos prate-

ados e disse:

- Que tal o seguinte? Se algum de seus soldados conseguir me arranhar, você corta a mi-

nha cabeça. Se nenhum deles acertar, você acredita em mim. Estamos combinados?

A elfa não respondeu. Deu sinal de liberdade para os Sorudiuns. Alguns ainda estavam

assustados com o ocorrido anterior. Outros resolveram arriscar-se e atacar. Você acham mesmo

que algum deles acertou? Não, é claro. O aprendiz saltou de uma forma tal que desviou dos

golpes e agarrou uma espada, caindo com o pé na outra. O segundo movimento afastou os sol-

dados. O terceiro completou o primeiro compasso e iniciou uma das notáveis valsas das raposas.

Um sorudiun tentou aceirtar as pernas de Raitun, mas tudo que conseguiu foi fazer o aprendiz

saltar para trás e fincar a outra espada no chão antes de cair em cima dela. Enquanto dançou

com os soldados, Raitun não foi atingido. Um golpe inesperado parou a dança: uma raposa

branca derrubou a outra.

- Kitsu! Finalmente alguém melhor que esses soldados inúteis.

- Elfa, o que aconteceu com seus olhos? Perguntou o aprendiz – Essa criatura é a última

que poderia ser uma raposa.

Raitun chuta a raposa para o outro lado do salão e rosna mostrando garras e dentes. Com

os olhos prateados focados no novo-velho inimigo, Raitun rosna:

- Vai ser um prazer desossar-te novamente, Fenrir.

A raposa branca avançou em cima do homem como um lobo faminto. Com um pequeno

(e até que gracioso) desvio Raitun se livrou do golpe e arrancou um pedaço da “raposa” com

suas garras. No chão, sangue e pelos negros.

- Kitsu, como toda raposa, não ataca o mestre como um lobo faminto no inverno.

A raposa falsa urrou de dor e tentou morder Raitun. Sua boca parou aberta nas mãos do

aprendiz.

- Ah, e Kitsu, como nenhum raposa, não perderia para mim. Não no meu estado atual, pe-

lo menos.

Raitun materializou uma das espadas para dar o golpe final, mas não conseguiu matar o

lobo. A espada se desfez antes de atingir o alvo.

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“Tsc, meus poderes estão tão instáveis assim?” pensou ele.

- Então, lobo.... ou volta correndo para sua dona, ou terei de te partir ao meio aqui e ago-

ra. – disse, estalando os dedos e mexendo as garras - O que não seria nada agradável, né? – sus-

surrou. Depois largou Fenrir, que sumiu nas sombras.

- Então... ainda preciso passar por alguma prova, elfa? Disse o aprendiz, e continuou após

olhar para o lado e fazer uma majestosa reverência. – Então você sobreviveu, dragão. É bom

revê-la, Louise. Espero que seus olhos estejam melhores que os da elfa.

Ao lado da regente estava uma mulher trajes de sacerdotisa vermelhos e face serena.

- Olá, raposa. Você está realmente atrasado. Apenas nós fomos os que sobrevivemos a

Rag-Finnaros, e ao contrário de você, ele se fortaleceu ainda mais, mesmo que nós achemos isso

algo difícil de visualizar. Não sei por quanto tempo vamos resistir. De qualquer forma, bem-

vindo de volta a Montris. Meus olhos veem que sua volta será importante. Curioso... por que

essa garota está junto de você?

- Informação confidencial – responderam os dois olhos de raposa.

- “Informação confidencial” ... então estás aprendendo a lábia das raposas, Akemi? – per-

guntou a elfa.

- Ela ainda tem muito a aprender, elfa. Falando em aprendizado, quero perguntar a ti o

porquê de ela não ter aprendido nada sobre magia.

- Ensinar um sangue maldito a controlar magia tratia ainda mais desgraças a nós, impos-

tor. – Disse a elfa. A frase quase custou sua cabeça naquele momento. Raitun tentou arrancá-la,

mas foi parado por uma das garras de Louise, que se transformou parcialmente para contê-lo

contra a parede, rosnando.

- Largue-me, dragão! Não irei permitir insultos de nenhuma natureza!

- Acalme-se, Raitun. Já não tivemos perdas demais? Os olhos de Alexis talvez estejam

perdidos para sempre, mas cuido de sua vida por não ter perdido de todo as esperanças. Acalme-

se. – disse Louise, e soltou Raitun aos poucos. O aprendiz esticou-se um pouco e fez uma das

antigas mesuras aprendidas com Sayumi aquela gueixa.

- Perdão, Louise. Perdi o controle. Imperdoável para um Lorde Imperial, não?

- Então as habilidades enferrujaram e os modos não? Interessante como sempre...

- Você sabe por que voltei, dragão?

- Não faço a mínima ideia, raposa.

- Preciso descobrir Isso. E como recuperar o resto dos meus poderes. – disse ele enquanto

se levantava. Olhou ainda pra garota e pensou “e quem é ela...”

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- Você foi informado do que aconteceu?

- Sim, mas se tiver detalhes a contar, pode começar

- Houve 337 anos de paz após sua ida, Raitun. E os comandantes baixaram a guarda. En-

tão eles vieram, intensos como o desespero de um eclipse. Não estaríamos aqui se os grandes

não tivessem se sacrificado por nós. Otellus nos deixou essa barreira. Siegfried... O imperador...

Yumi... os aiodromes, celtamorfos, os magos, as Sacerdoti-

- Lilith, que, sabe-se lá como, me mandou um recado depois de morta. – interrompeu o

homem-raposa.

- Lilith?? Ela foi a última. Deu a ordem de retirada. Segurou os inimigos por muito tem-

po. Acho que era a mais poderosa abaixo de você, no fim das contas.

- Afinal, ela não seria uma Lampirerin se não fizesse algo do tipo. Mas existiam outros

mais poderosos que ela.

“A questão é: se ela morreu, como me mandou um recado?”

- Enterramos ela no templo do Articus. Encontramos o corpo dela cheio de marcas da

mor-

A sacerdotisa interrompeu sua fala para observar um brilho azul no bolso de Raitun.

- Aion. O que aconteceu? Suas forças já voltaram?

- Sir, ainda não. Há um recado urgente a transmitir.

- Há uma general de Rag-Finnaros lá fora – disse o aiodrome da elfa.

- Pela descrição, Sir, é a condessa Elissa von Darkbeth.

- Ah, a condessa... Devia ter imaginado que ela iria aparecer uma hora ou outra. E com

quem ela deseja uma audiência?

- “Com o notável aprendiz Omni Raitun”, sir.

- Ah, esse... Ah sim, eu. Então ela veio até aqui só para me ver? Que seja. Elfa, provarei a

ti que sou quem sou. – Disse Raitun, dirigindo-se à saída do palacete acompanhado de um aio-

drome azul (que entrou no seu bolso), uma garota de olhos prateados e duas katanas flutuantes

Ninguém ousou incomodar a garota, o homem e as duas espadas enquanto estes saiam.

Pararam diante de uma mulher que portava um machado e um escudo enorme, acompanhada de

alguns espectros, daqueles que com seus espectros sombrios engolem até a noite e fazem sumir

as cores que dão vida ao mundo.

- Olá condessa, é formidável revê-la – disse Raitun, fazendo em seguida uma profunda

reverência.

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Memórias de um aprendiz

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- O quão poderosa é a fraqueza, que faz o arrogante e todo poderoso Omni Raitun curvar-

se como servo diante de mim? – Indagou Elissa com um sorriso sarcástico.

- Ótima pergunta, condessa. Temo dizer que a resposta seja uma informação confidencial.

O que queres deste pobre e fraco servo? Se puder atender os desejos de suas mestras, isto fica

feliz em ser útil.

- Venho até aqui com uma proposta de meus superiores.

- Oh, uma proposta! Interessante...digai, e nós ouçaremos vossa proposta. O que não ga-

rante de forma nenhuma que eu vá aceita-la, é claro.

- Não se preocupe. Vim precavida para propostas negativas.

- Percebo. Trouxe alguns lobos para caçar uma raposa velha e fraca. Extremamente cora-

joso, como sempre. Então, qual proposta tens para fazer a mim, condessa?

- “Junte-se aos Luminus, e te daremos poder”.

“Luminus?”, pensou a garota. “Aqueles da lenda? Por que querem a força dele?”

- “Poder”? Hm... todos os que eu tinha?

- Muito mais, velha raposa, muito mais.

“Não. Ele não vai fazer isso não, né?”

- Interessante... proposta interessante...maaasssss...eu não perdi meus poderes, para início

de conversa. Eles só estão... ‘enferrujados’, ‘hibernando’, ou como queira dizer melhor. Ah, e

tenho muita coisa pra ensinar a uma aprendiz aqui em Montris, não é, Akemi-chan? Então, este

pobre e surrado servo terá de recusar veemente e insistentemente a vossa proposta. Quais as

providências que os seus superiores mandaram tomar caso isso acontecesse mesmo? – Raitun

talvez fosse provocar mais, mas calou-se diante da aura negra da condessa.

“Ainda bem que ele recusou. Ele não pode aceitar... não sei porquê, mas....ele não pode”

- Ah, isso...

Raitun segurou as Katanas e pulou para o lado a tempo de livrar-se da primeira investida

dos espectros. Tentou atacar outros dois mas não conseguiu acertá-los. As Katanas sumiram

antes disso. Os espectros continuaram tentando acertar Raitun, que mesmo ‘surrado’ ainda tinha

agilidade suficiente para desviar. Pouco a pouco os espectros vão sendo derrotados pelas garras

da meia-raposa de olhos prateados.

- “O demônio de olhos prateados, Omni Raitun”. Que tal? Venha para o nosso exército,

Raitun! Junte-se a nós ou junte-se aos seus ancestrais! Gritou a condessa antes de enviar mais

espectros.

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Memórias de um aprendiz

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Os espectros caem em cima de Raitun novamanete, e novamente não conseguem acertá-

lo, pois de alguma forma o aprendiz havia sumido e aparecido em pé no ar. Não, ele não recupe-

rou suas habilidades de uma forma misteriosa e milagrosa, meu caro leitor Ainda não. Ele ape-

nas estava em pé no topo da barreira, que era invisível. O resto é informação confidencial. Ao

ver que a horda de espetros aumentava cada vez mais Raitun resolveu tentar resolver o proble-

ma de uma vez.

A raposa resolveu dançar com os espectros.

- Cumulus, Nimbus, não me decepcionem agora. Venham. – disse ele, e invocou suas du-

as Katanas, depois entrou na sua antiga posição de batalha. Sua aura ficou mais viva e clara, as

vezes azul, as vezes branca. Quando os espectros resolveram se aproximar um círculo cheio de

inscrições antigas apareceu sob os pés do aprendiz e ele disse:

“O que ele vai fa- uau...”

- Omniraiken, primeira dança: valsa sônica da trovoada – disse ele. Você lembra das dan-

ças do nosso aprendiz de raposa? Ele usou duas na guerra contra Rag-Finnaros e havia esboçado

uma terceira no palacete de Alexis. A valsa da trovoada era uma mistura: ele desferiu uma se-

quencia de golpes perfurantes/dilacerantes muito rápidos, porém não em um único oponente e

sim nos vários espectros, que foram totalmente aniquilados.

“Uau...que poder...é esse o verdadeiro poder dele, então? Ou ainda é maior que isso?”

Após isso as espadas sumiram, e o aprendiz, após ofegar um pouco, disse:

- Perdão, garotas, exigir demais de vocês. – e tirou Persona do bolso. – Agora o assunto é

entre nós, condessa.

- Condessa Elissa von Darkbeth, general do exército Luminus.

- Persona oculta, revello. – disse, e o graveto virou um grande e adornado cetro que ema-

nava uma aura misteriosa. – Irei te maltratar um pouco, Persona – disse olhando o cetro. Se

pondo em posição de ataque, levantou a voz para a condessa

- Omni Raitun, 37º Lupuoskirus, portador do cetro de Stormael. – e pulou para o seu pri-

meiro ataque.

O primeiro ataque de Raitun parou no escudo da condessa, que contra-atacou girando seu

machado. Raitun desviou por pouco, e teve sua roupa ainda mais rasgada durante essa luta. Os

detalhes como quem levou que golpe com que força e para onde o sangue jorrou? Informação

confidencial.

Um fato importante: um dos golpes jogou Raitun contra a barreira. Este foi o último gol-

pe que a condessa acertou em Raitun. “E o que aconteceu depois?” você deve estar se pergun-

tando. A condessa quis finalizar seu adversário e lançou seu machado contra Raitun, depois

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Memórias de um aprendiz

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começou a preparar seu “Final Elyssia”. Akemi postou-se na frente de Raitun para tentar parar a

luta e foi atingida de raspão pelo machado de Elissa. Essa foi a última coisa que Raitun

viu/lembrou-se nessa luta. Realmente interessante é o que Akemi viu. Ao contrário do que pen-

sou, não foi atingida pelo golpe final da condessa. Ao mesmo tempo em que esse golpe foi libe-

rado, Akemi foi envolvida por uma aura negra e escutou uma voz rouca e sombria, porém pode-

rosa. Em um instante, viu-se atrás de uma grande criatura de manto negro, portadora de uma

enorme gadanha. Um instante depois, a criatura golpeou a condessa, que teve que fugir para não

ser aniquilada. Akemi então piscou duas vezes. Na primeira vez viu alguém parecido com Rai-

tun maior e com uma asa esquerda segurando a gadanha. Na segunda o próprio Raitun, surrado

e cansado, no mesmo local e pose, segurando Persona. A garota ficou espantada com a cena e

não entendeu o que havia acontecido, ficando ainda mais confusa com a pergunta de Raitun.

- Garota, o que aconteceu? E...onde está a srta Condessa?

- Eu é que deveria perguntar isso. – “ou melhor, o que foi aquilo” Akemi perguntou a si

mesma, depois de responder a esquisitíssima pergunta de Raitun. O próximo a perguntar foi

Kitsu:

- Vamos voltar para dentro da barreira agora?

- Sim. – disse Raitun ainda ofegante, e o grupo se dirigiu de volta ao palácio de Alexis. O

lugar estava totalmente silencioso. Nenhum dos montrisianos ousou olhar a luta, mas a notícia

dada pelos Aiodromes de que aquelas pessoas eram poderosas o suficiente para fazer uma gene-

ral de Rag-Finnaros recuar trouxe ainda mais receios aos sobreviventes. O medo dos caninos

dos lobos impedia os olhos de Montris de ver que havia uma rota de fuga. O medo parecia con-

densado em uma figura: Alexis.

- Voltou rápido, impostor. Fez algum tipo de acordo para pouparem sua vida? Não deve-

ria ter se preocupado muito com isso, já que não terei piedade de ti. – disse a elfa assim que viu

Raitun.

- Então ainda não sou de confiança... parece que apesar de espantar os lobos cheguei tarde

e as marcas dos dentes ficaram muito profundas. O que aconteceu contigo, elfa? – respondeu

Raitun

- Tu, como impostor, não teria a mínima chance de compreender. Vai-te agora, e pouparei

tua vida, impostor.

- Não, elfa. Não irei até que reconheças e comeces a ensinar magia à Akemi, ou jure que

o fará o mais rápido possível. Sinto que ela é extremamente importante para as próximas bata-

lhas, e tem um enorme potencial. Ativou o pingente de Lilith sem esforço algum, coisa que nem

sempre a própria Lilith conseguia fazer.

- Não o farei a um impostor. E não o faria nem que o verdadeiro Raitun me ordenasse.

A afirmação incomodou o Lorde, mas não foi tudo que a elfa disse naquele momento:

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Memórias de um aprendiz

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- Diria que nem por ordem do imperador ensinaria ou deixaria que ensinassem magia a

ela. Por que? Por que o sangue dela é amaldiçoado, impostor, você ainda não percebeu? Foi do

sangue dos pais dela que vieram as trevas que caíram sobre Montris. Ela ativou o pingente de

Lilith? Uma prova a mais de que o sangue dela é maldito. É culpa de Lilith que estamos aqui,

escondidos e acuados diante do clã de lobos. Não agradeço-a, amaldiçoo-a.

- Não permitirei tal blasfêmia, elfa, mesmo vinda de ti. Essa garota me salvou do mundo

cinza.

- Exatamente, existência maldita. Lilith, você e essa garota são existências malditas, sal-

vam os que deveriam morrer e matam os que deveriam estar aqui! Você deveria estar morto por

ser um impostor, e essa garota a qual você protege nunca deveria ter existido! Eu matarei você,

e mataria a ela também se não tivesse feito uma maldita promessa àquela maldita deusa filha das

tre-

Essa foi a última fala de Alexis. Uma fala incompleta. Interrompida por um rápido, mas

enorme pensamento. E dois olhos. O pensamento foi “O é essa sensação? As roupas deles são

trapos, as armas dele estão gastas, e ele parece quase-que morto, alguém que sobreviveu por

milagre a alguma guerra...mas...esses olhos...são os olhos de alguém que pode dizimar um exér-

cito com um brandir de espada!”. Os olhos eram os olhos prateados de Raitun, que a olharam

por um instante com a imponência de tempos antigos. Falando em olhos, Akemi piscou os dela

após escutar a fala. Viu à sua frente a cabeça de uma elfa decapitada caída no chão, um corpo

sentado em um trono cortado horizontalmente no pescoço, e...aquela criatura da foice. A criatu-

ra pareceu fixar os olhos em Akemi. Encararam-se por instantes os olhos prateados da garota e

os olhos esbranquiçados da criatura. A garota não conseguiu ver nada além disso sob o capuz do

‘ceifador’, mas ouviu duas vozes. A primeira, bastante conhecida, a segunda, recém-conhecida.

- Eu disse que não permitiria tais impropérios de maneira nenhuma, elfa. – disseram duas

vozes ao mesmo tempo: a de Raitun e a da criatura com a foice. Os guardas ficaram sem reação,

paralisaram. O dragão observava sem esboçar reações. Akemi olhava fixamente a criatura aos

poucos voltar a ser Raitun. Ela não sabia mais o que fazer, ou o que dizer. Ele havia matado a

governante Alexis, que mantinha a ordem entre os sobreviventes. Ele havia matado a governan-

te Alexis, que mantinha a ordem sobre os sobreviventes. Ele havia...O que diabos era Raitun e

por que ela teve que ir busca-lo? Ele era mesmo um mal? Um impostor? Ela tinha mesmo sido

responsável por trazer a desgraça a Montris? Ela perguntou a si muitas dessas e outras coisas,

mas não teve tempo de perguntar o que queria. Outra coisa aconteceu.

- Ela é minha aprendiz agora, e não permitirei nenhum dano a ela. Nem verbal, Elfa. Ela

vai aprender tudo o que deveria ter aprendido. Ainda está me ouvindo, Alexis?

O aiodrome que acompanha Alexis começou a brilhar e tomou a forma da própria Alexis.

Porém, era uma espectral apenas. A Alexis espectral começou a falar ao olhar para o aprendiz:

- Sim, ainda ouço, mas preciso falar, não ouvir. Olá, Raitun. É bom revê-lo. É com pesar

que vejo que ainda não tens todos os teus poderes. Recupere-os o mais rápido possível, Montris

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Memórias de um aprendiz

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precisará de sua força em breve, para que mais dos nossos não caiam nas mesmas presas que

caí. Peço-vos por perdão por tudo que disse. Havia uma maldição muito poderosa em mim. Um

descuido que, pelo visto, custou um corte perfeito no meu pescoço. O real motivo para que eu

não ensinasse magia á Akemi é relativamente simples: assim que você nasceu, Akemi, sua mãe

me fez prometer que eu cuidaria de ti, e não deixaria ninguém além de um verdadeiro mestre

ensiná-la. Por isso você deve que ir busca-lo. Raitun é seu mestre, o que lhe ensinará sobre ma-

gia. Confie nele em todos os momentos, pois será no mais crucial deles que será revelado o

quanto isso é importante. Vocês são imensamente importantes. Raitun, o lorde está agindo, mas

há algo diferente nele. Fique atento e recupere-se logo. – após isso, o espetro pareceu suspirar, e

com uma expressão mais serena virou-se para o dragão. – Louise, é minha hora de descansar,

não é? No final, só mesmo os grandes dragões são poderosos o suficiente para resistir ao peso

do tempo. Me perguntaria se isso se deve ao seu orgulho inflexível, mas não há mais tempo para

essas coisas. Não para mim. Deixo todos em suas mãos. Façam uma boa jornada, raposas.

Depois de completar sua fala o espectro de Alexis se desfez com o vento e deixou o silên-

cio a sós com os Montrisianos. Algum tempo depois, Louise disse:

- Acho que ela já disse tudo, Raitun.

- Sim, eu sei... para onde devemos ir agora, dragão?

A sacerdotisa sorriu e disse:

- Meus olhos não são e nunca serão os melhores, mas nos momento...aconselho o templo

do leste. Em Montris, o caminho sempre encontrará você.

Raitun riu junto da sacerdotisa, e com um movimento só fez persona voltar a ser um gra-

veto e invocou sua raposa.

- Akemi, Kitsu?

Akemi se perdeu por algum tempo no tempo que observava Kitsu, a montaria de Raitun.

Se havia inveja ou admiração ou outro sentimento pelas nove caudas é uma informação confi-

dencial.

- Oi? Ahn? – disse ele, no voltar a si.

- Vamos, garota – disse Kitsu, já com Raitun nas costas. Akemi não responde nada, ape-

nas invoca sua raposa negra. Aconteceu algo relativamente importante, mas é informação confi-

dencial. Nenhuma interrupção dos Luminus, eu garanto. Pouco tempo depois do vilarejo dos

sobreviventes chegaram ao local onde deveria estar o templo do leste (e só havia um descampa-

do).

- Uma barreira, heim... – disse Raitun antes de se aproximarem.

- Qual será a senha dessa vez? – disse Akemi displicentemente.

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Memórias de um aprendiz

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- Não há senha. Vamos entrar direto. Com medo, garota?

- Algum. Preciso enfrenta-lo, né?

- “Preciso de coragem e não posso desistir de obtê-la para enfrentar o medo”? – disse Kit-

su, imitando perfeitamente a voz de Akemi.

Fizeram um sinal de olhos um para o outro (coisa de raposas) e atravessaram a barreira.

Do outro lado, algo nostalgicamente novo os esperava.

Raitun estava montado em Kitsu, Do outro lado, uma elfa noturna de cabelos prateados

segurava um enorme arco apontado para eles. Akemi parou um pouco distante dos dois e ficou

observando. Parecia um diálogo sem palavras. De um lado, Raitun, com roupas puídas, mas

elegantemente sentado numa majestosa raposa de nove caudas. Do outro, uma tão majestosa

quanto elfa noturna, com roupas brancas (mas ainda assim, menos tecido do que os rasgados do

aprendiz), portando um arco enorme (“já ouvi isso antes”, não é? “parece alguém conhecido”?

Não para Akemi). “Isso não é um diálogo. É um duelo” pensou Akemi. E pensou em tantas

outras coisas que não ouviu esse breve diálogo.

- Há quanto tempo, Lilly.

- Você não imagina quanto, Tun-tun.

Após pensar muito, Akemi piscou os olhos duas vezes. Na primeira, viu Raitun puxando

suas espadas e a elfa se preparando para atirar. Na segunda, eles haviam trocado de lugar e a

elfa estava sem o arco. A elfa recebeu duas marcas das katanas de Raitun (uma em cada boche-

cha) que foram sumindo após seu trabalho. Quando sumiram completamente o arco da elfa caiu

entre os dois. Akemi não entendeu nem conseguiu falar nada, mas sabia estar presenciando algo

importante.

- “O ciclo recomeça, mas não igual ao anterior”, né... Você parece com alguém que co-

nheci há muito, muito tempo... Não, é igual, porém, é diferente. É esquisito. “E me incomoda.

Então também não é você.”, pensou, por fim.

- Então o famoso Omni Raitun ficou atordoado com uma mera sacerdotisa?

- Informação confidencial. Porém seria mais fácil dizer que quem está atortoada é você,

depois de perder sua arma para uma raposa velha e fraca.

- Mal chegastes e estás cheio de mistérios, tuntun-kun?

Raitun desceu da raposa e foi andando até a elfa

- Não é uma boa ideia me chamar desse jeito, srta sacerdotisa. Eu tenho duas espadas e

você

- Desculpe, coisa fofa. Ah, e também não é uma boa ideia tocar nesse arco – disse Lilith,

prevendo as ações do aprendiz.

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Memórias de um aprendiz

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- E qual seria o porquê, sacerdotisa?

- “Informação confidencial”, coisa fofa. – disse a elfa com um leve sorriso.

-Raitun, não temos tempo para flertes agora! Apresente-se.

- Tsc, Kitsu... Não estava flertando. – disse Raitun antes de fazer uma mesura

“Não quero mais flertar com sacerdotisas e receber bilhetes esquisitos só vinte/2 mil anos

depois”, pensou ele.

– 37º Lupuoskirus, Omni Raitun.

A sacerdotisa sorriu, aproximou-se e retribuiu a mesura.

- Lilith Omen, sacerdotisa do templo do sul. E você, raposa? Nove caudas, pelagem bran-

ca e prateada, olhos prateados, fogo azul nas patas e caudas...só pode ser Kitsu. E você, Akemi,

por que está com eles? Alexis não te deixava sair da barreira antes.

- Ele é meu...mestre.

“Não é?”

- Eu sou o mestre dela. Ela está sob minha tutela agora e vai me acompanhar aonde eu

for, Lilith, Omen...seja lá como devo chamá-la.

- Omen serve, “tuntun”

– Omen é melhor. E é no mínimo “Raitun” pra você. - responde Raitun, olhando para a

sacerdotisa

“O ciclo se repete, os erros não podem se repetir.”

– Bem, você parece conhecer a todos nós, Omen.

- Alguém tão único e exótico como Omni Raitun é conhecido em todos os recantos de

Montris. Talvez não seja reconhecido nestas condições, mas seu nome é e foi falado nas mais

altas cortes e nos mais profundos abismos. Com alegria, tristeza, e ódio. Mesmo nestas condi-

ções, nós sacerdotisas o reconhecemos, Raitun. É nosso dever conhecer muitas coisas e contar

algumas.

- Algo mais a contar, Omen?

- Sim, sim. E é realmente importante. – disse a sacerdotisa, logo após pegar seu arco do

chão e transformá-lo em pingente. “Parece um deja-vú” pensou Raitun. “Igual, mas diferente.

Agora temos essa garota de expressão solene, porém magnífica, como se ela fosse uma nobre de

terras distantes ou um mundo paralelo...”, pensou, olhando sua aprendiz, e só saiu dos devaneios

quando Omen sentou-se no templo e começou a falar.

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Memórias de um aprendiz

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- Antes de tudo... Raitun, o que você acha que aconteceu com os seus poderes?

- Eu não sei dizer, realmente. Eu suspeitava apenas que eles estivessem enferrujados e

voltariam com algum tempo de uso, mas considerando o fato de alguém como você estar citado

isso, devo presumir que me equivoquei e a situação dos meus poderes não é nada simples.

- Não mesmo. Em parte estás certo. Ou melhor dizendo, em partes. É verdade que o trei-

no irá te fazer recuperar a prática e o instinto, mas não te trará o mesmo nível de poder que tu

tinhas.

- E o motivo para isso é...?

- Eu não sei o motivo, para ser sincera. Sei o fato. – Omen se levantou e entrou no tem-

plo, não sem antes fazer sinal para que Raitun a acompanhasse. Raitun entra no templo e se

depara com a ‘nova Lilith’ embaixo de uma estátua da ‘antiga Lilith’ em posição de luta, fazen-

do rivalidade a uma outra estátua que parecia representar Hatsumomo.

- O fato é: sinto uma aura muito parecida com a sua e suspeito de uma coisa. Na verdade,

coisa fofa, tenho quase certeza. Seus poderes não enferrujaram, eles foram selados. E quem fez

isso foi ela. – disse Lilith olhando a outra Lilith.

– Ela...- disse Raitun com as mãos nos bolsos, aproximando-se da estátua. – Nossos olhos

estão mais parecidos, mas ao mesmo tempo, mais diferentes do que nunca...mas... por que dia-

bos selar meus poderes?! – e esmurrou a estátua até então admirada e acariciada. Akemi, que

estava entrando no templo, presenciou uma outra cena interessante: o pingente da estátua bri-

lhou e saiu do pescoço da Lilith de pedra, indo se juntar ao pingente que a garota carregava. O

livro que Raitun havia pego antes se materializou no ar, e um segundo livro pareceu sair do

pingente de Akemi e “entrar” no primeiro. Akemi se espantou, e mesmo sem entender bem teria

ficado feliz se um fato adicional não a tivesse assustado. Raitun parecia estar com muita raiva

da primeira Lilith, ajoelhado no chão. Em volta do aprendiz-mestre, uma aura negra na forma da

criatura da gadanha observava atentamente a estátua de Hatsumomo. A segunda Lilith também

o fazia, de forma mais vaga e contemplativa.

- Ela está vindo novamente. Não achei que fosse tão persistente – disse a criatura da aura

sombria com sua voz rouca e profunda.

- Ela quem? – perguntou Akemi?

- Com quem estás falando, Akemi? – perguntou a sacerdotisa

- Não sei dizer... não o conheço muito bem, apesar de parecer que o conheço há muito

tempo. – foi a única coisa que Akemi conseguiu responder, mesmo sem entender bem o que

disse.

- Entendo... há mais alguém aqui então...As raposas sempre tem muitos segredos, e nem

sempre somos agraciados com o dom de vê-los. Você tem bons olhos, Akemi.

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- Ah, são vocês. Há quanto tempo... – disse Kitsu ao entrar no templo, observando a cria-

tura sombria. Mas... “vocês?” Akemi se perguntou sobre isso com a entrada da raposa, e só en-

tendeu ao olhar de volta. Uma elfa noturna estava sentada no ombro da estátua de Lilith...e...era

exatamente igual à segunda Lilith, porém...tinha algo diferente. Tinha marcas negras no corpo, e

transmitia uma sensação esquisita para a aprendiz do aprendiz. O único julgamento possível

para Akemi: era o espectro da primeira Lilith, que conversou brevemente com eles, mesmo sem

abrir a boca.

- Olá, Kitsu. Tempo demais, infelizmente... infelizmente. Tempo demais sem vocês e de

menos para ficar com vocês. Antes de ir, preciso dizer: Ela está voltando. “Aquela pessoa” é

quem está por trás de tudo.

- Achei que você lembrava aquela pessoa...a chuva lembrava...mas...não foi você. – disse

Raitun, ainda caído aos pés da Lilith de pedra, de cabeça baixa e olhos fechados.

A primeira Lilith (de pedra) não se moveu, era insensível como sua substância. A segun-

da Lilith, de carne, estava comovida por algum motivo, o mesmo pelo qual ela não entendia

tudo o que se passava nem sabia o que fazer. A neve foi derretida, e a água não se move sempre

que quer. A terceira e primeira Lilith, de éter, majestosamente sentada, foi a que fez algo. Ainda

sem se mover, disse:

- Raitun... Raitun! – e desceu de forma ainda mais majestosa e leve ao seu encontro, fato

que aumentou a sensação esquisita em Akemi. – Eu tive que selar seus poderes, mas deixei a

chave para abrir o selo com você... Só você pode percorrer esse caminho e deter “aquela pesso-

a”... é a sua responsabilidade e foi o que você escolheu, lembra?

Raitun não conseguia ver nem ouvir o espectro de Lilith, mas se levantou aos poucos.

Enquanto isso, a aura sombria foi se dissipando até sumir.

- Ela está aqui, não é? – disse Raitun já de pé olhando novamente a estátua sem saber o

real motivo para aquilo

- Sim, ela está.

- Não posso vê-la. Meus olhos ainda não estão bons o suficiente, pelo visto.

- Imaginei. Mas não há nada de diferente para ver. Está igual ao que era antes.

- E disse algo importante, presumo.

- Tudo que você precisa saber – disse Kitsu

- E nada que você não saiba – disse a Lilith espectral, de pé, segurando o rosto do apren-

diz, fato que trouxe uma sensação fria ao rosto e à expressão de Raitun, e uma sensação flame-

jante ao rosto e à expressão de Akemi.

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Memórias de um aprendiz

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Raitun fechou os olhos e sorriu, virou de costas para a estátua e pegou seu livro de volta

que ficou flutuando durante todo esse período.

- Hora de ir. – disseram juntos Raitun e Lilith, Lupuoskirus e Lampirerin, de olhos fecha-

dos.

- Ah sim, quando renascer, Lilith, não demore 2 mil anos pra mandar um bilhete caso se

apaixone por um homem. Eles acabam desistindo depois de muito tempo sem resposta. Ou co-

mo costumam dizer no mundo cinza, “o fogo apaga se ninguém o alimenta”.

O espectro não respondeu nada, apenas sumiu. A sensação da aprendiz do aprendiz foi de

um alívio muito grande.

- Aonde irás agora, Raitun? – perguntou a segunda Lilith.

- Antes de tudo, lá fora, recepcionar nossas visitas. Vamos? – Disse Raitun, com um sor-

riso confiante, olhando para sua aprendiz. Ao sair do templo, com o mesmo sorriso, sussurrou

um “até nunca, Lilith” que Omen não entendeu.

- Algum assunto ficou pendente na nossa última conversa ou apenas um surto insano de

masoquismo? Não achei que fosses se apaixonar pelas minhas tapas, heim, condessinha...– riu-

se Raitun.

- O que queres, Elissa? – perguntou Akemi, que saiu ao lado de seu mestre.

- Nada que seja de sua jurisdição, pirralha. Meus assuntos a tratar são exclusivamente tra-

tados com ele – respondeu ela, apontando para Raitun com o machado.

- Aiai, aiai, aiai...que feio, condessa, que feio... tu vens educadamente, cheia de códigos e

etiquetas tratar assuntos comigo, mas fala rudemente com a minha parceira – disse Raitun, e

abraçou Akemi pela cintura, puxando-a para si. Olhou nos olhos da garota atordoada, sorriu e

disse – Assim tornas os nossos negócios mais complicados, condessa. Assim vais deixar a srta.

Akemi com ciúmes... não é, coisa fofa?

- Eu deveria matar vocês junto dela por profanarem esse templo? – disse Omen, apare-

cendo e separando os dois.

- Prefiro depois. É deselegante fazer esse tipo de coisas agora. Impróprio para o local e

horário, eu diria.

- “Essas coisas”... entendo. Então condessa, você não vai conversar nada com ele. A não

ser que cadáveres falem, por que vocês serão dois deles em breve. – disse ela alterando a voz e a

aura na última parte – O inimigo congela de medo assim que se encontra em tua mira, Alaska! –

disse ela, pegando o seu pingente e transformando-o em um enorme arco de gelo que segurava

com a mão direita.

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Memórias de um aprendiz

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- Ah, então isso também é diferente...a antiga usava a outra mão, sabe... para segurar o ar-

co, eu digo. Interessante. Muito interessante

- Já que só consegue ficar olhando, não me atrapalhe com comentários desnecessários.

- Ah, ok. – disse Raitun, soltando a cintura de Omen, enquanto pensava “não achei que

ela fosse assim mal humorada. Será que é o calor? A lua? A mudança do ciclo? E... uau... habi-

lidade interessante” pensou ele, ao observar o início da luta. A sacerdotisa encostou a ponta do

arco no chão e liberou uma rajada de neve. A condessa desviou pulando para o alto e teria sido

alvo fácil se não possuísse um escudo enorme.

- Precisa de ajuda, sacerdotisa-san? – perguntou Raitun, observando as duas.

- Não. Já estou confortável, diz ela olhando em volta – O lugar havia sido transformado

em um campo de gelo.

- Suas flechas não atravessam meu escudo. O que vai fazer, Lilith?

Nesse momento Lilith apareceu atrás dela e disparou uma flecha. A condessa desviou

com certa dificuldade.

- Fácil, não?

- Interessante... Espero que termine antes que eu volte, Omen. – disse Raitun, indo para a

direção do rio Katonirus.

- Espere, aonde você vai? Temos assuntos a con- – disse a condessa que teve sua fala in-

terrompida por uma flecha de Lilith.

- Você não vai falar com ninguém. Não viva, pelo menos. – disse Omen.

- Fiquei com frio. Vou esquentar um pouco as coisas. Prometo que volto antes de você

morrer. – disse Raitun, mais para Akemi que estava observando do que para as outras que havi-

am recomeçado a lutar. Mesmo com a vantagem de terreno Lilith não conseguia atravessar o

tamanho vantajoso do escudo de sua inimiga. E uma desvantagem sempre pode se agravar. A

condessa invocou novamente seus espectros, usando-os para manter a elfa ocupada e se aproxi-

mar o suficiente para um ataque. Para a sorte de Omen, a velocidade e a agilidade estavam do

seu lado, o que permitia que ela desviasse com certa folga. Omen apenas esqueceu de prever o

seguinte: 1- A condessa podia invocar mais espectros. 2- Fazendo isso, não haveriam muitas

rotas de fuga. 3- Ela o fez, porém também esqueceu de prever coisas. Ou criatura, como prefe-

rir. Esqueceu de prever Omni Raitun. Quando ela finalmente fechou o cerco contra Omen ele

fez um rombo reaparecendo na forma vulpina, com mãos e pés envoltos em chamas azuis, des-

truindo os espectros.

- Eu disse que iria esquentar as coisas...

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Memórias de um aprendiz

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- Resolveu ajudar sua mulherzinha, Raitun? – disse a condessa, antes de ter que se defen-

der de um ataque com o seu escudo. E mais um, outro, uma chuva deles. Enquanto isso, Raitun

falou:

- Você entendeu errado. Ela que resolveu me ajudar, o que por sinal, foi muito útil. – dis-

se ele, olhando as garras em chamas. – E a mulher que me acompanha é minha aprendiz. Bem,

que tal acabarmos isso antes que as futuras narrações dessa luta tornem-se uma chatice? – disse

Raitun, pegando um pingente em forma de floco de neve.

- Aquele é... – disse Akemi, e olhou para o próprio colo – não, é outro.

- Iceberg – e o pingente se transformou em outro arco de gelo parecido com o de Omen,

que Raitun segurava com a mão esquerda, que liberava vapor em contato com arco.

- Ah, entendi...então assim você pode segurar o arco sem virar um iceberg. Interessante.

- Exato... Agradeço pela dica, Omen. Eu estava pensando em como usá-lo. Agora, não in-

terfira nos nossos assuntos – disse ele, pegando-a pelo braço e jogando-a para dentro do templo

– Você é poderosa e tem bons olhos, mas o assunto dela não é contigo.

- MALDITO! COMO OUSA! AGORA EU VOU MESMO MANDAR VOCÊS DOIS

PARA O INFERNO! – gritou a segunda Lilith de dentro do templo, saindo com o arco na mão e

tentando mirar em Raitun e na sacerdotisa, que dançavam rápido demais para os olhos raivosos

da sacerdotisa.

Akemi sentiu a mesma sensação esquisita de antes, mas decidiu que era mais importante

não ficar parada olhando dessa vez.

- Não vai não! Você não vai encostar no meu mestre... Se não quer ajudá-lo, não vai atra-

palhar. – disse ela, segurando o braço em que a sacerdotisa usava o arco.

A sacerdotisa olhou ainda mais raivosa para a garota, mas não conseguiu manter a sua

raiva por muito tempo. Mesmo que a garota não tivesse mais força que ela, havia algo nos olhos

da garota que a fez ficar imóvel. Enquanto as duas garotas se encaravam, Raitun pressionava

Elissa, mas não encontrava abertura suficiente para atacar.

- Seus truques não vão funcionar dessa vez, Raitun.

- Eu não preciso de truques pra te dar outra surra, general masoquista.

“Só de uma abertura suficiente... só uma abertura. Quase. Não, ainda não. Ag-”

Uma flecha passou entre eles.

- Posso ajudar, mestre? – disse Akemi, segurando o arco da segunda Lilith

- Deve. Preciso de uma abertura.

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Memórias de um aprendiz

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“Ou poder suficiente pra atravessar o escudo. Você pode me prover ambos”

A sacerdotisa se limitou a olhar estupefata para a outra garota. Não entendia como o arco

havia saído de sua mão, muito menos como a garota que não havia aprendido nada conseguia

segurar e usar um arco que congelava tudo o que tocasse, a não ser que fosse usado por alguém

poderoso o bastante.

- Vamos?

- Vamos.

Contra Raitun e Akemi o melhor que Elissa pôde fazer foi desviar. Mesmo que defendes-

se uma das flechas o outro teria espaço para atacar. Como boa general, pensou rapidamente na

melhor defesa: um contra-ataque. Invocou espectros suficiente para ocupar os dois e começou a

preparar novamente seu ataque final com o escudo. Novamente esqueceu de contar o fator Rai-

tun. O aprendiz acabou com os espectros em uma velocidade impressionante e novamente pu-

xou Akemi para si pela cintura, ficando de frente para ela.

- Juntos, ok? – disse Raitun, e apontou seu arco para a condessa. Akemi, atordoada virou

de costas, se livrando do abraço de Raitun. Ele puxou-a de volta (de costas dessa vez), e ao cola-

rem os corpos sussurrou: “Juntos”. Ela aceitou e estendeu o arco. Curiosamente, os arcos encai-

xaram-se em um só, em formato de cruz, seguro pela mã esquerda de Raitun. Akemi encarre-

gou-se de esperar a condessa terminar de preparar seu ataque. A sacerdotisa teve a impressão de

ver asas nas costas dos dois. Uma esquerda em Raitun, uma direita em Akemi.

“No momento certo. Espere..espere...agora.”

- Saigo Elissya!

- Coup doble! – disseram os dois arqueiros ao atirar um poderoso, assustador e imenso ti-

ro de mana, luz e neve, suficiente para superar o ataque de general e fazê-la sumir (infelizmente,

não por definitivo)

- Você é um pouco teimosa, mas... Parabéns, Akemi. Você é surpreendente. – disse Rai-

tun

- E você é...bem, eu obedeci, não obedeci? E derrotamos nosso inimigo, né? E por que

você ainda não me soltou? – e depois disso debateu-se até ser libertada dos braços do aprendiz,

ofegante e um pouco tonta.

- Achei que estava confortável, aprendiz. – disse Raitun, segurando no alto os dois pin-

gentes. Colocou o seu no próprio pescoço e ia devolver o outro para a sacerdotisa, mas ele de

alguma forma se recusou e se juntou ao pingente que Akemi já usava e mudou de forma. O pes-

coço da garota agora era ornado por uma espécie de sol, e não mais um floco de neve.

- Bem, eu não entendi o que aconteceu, mas... – disse a sacerdotisa olhando ora Raitun,

ora Akemi, sem ter reação para esboçar

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Memórias de um aprendiz

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- Acho que o seu arco não é mais seu, Lilith. – disse Raitun – Ele mudou sua lealdade. Ou

melhor dizendo, acho que o seu arco de gelo “se derreteu” pela Akemi.

- C-como assim? Mas...eu não queria ficar com o arco dela, só te aju-

- O arco não é mais dela. Só vai obedecer a você agora – disse a raposa de Raitun, que

havia ficado olhando o combate deitada na porta do templo.

- Ah, ótimo... você profana o templo, ela rouba meu ar-

- Não, errado – interrompeu Raitun. – Ela é mais digna de usar o arco, e ele a escolheu ao

invés de vocês. Há uma diferença grande nisso, e é preciso lembrar que são as armas que esco-

lhem a quem se servem por aqui. Pelo menos, é o que aconteceu com as minhas.

- Ah, então eu sou “indigna” também, e ainda tenho que dar parabéns a ela e guiar vocês.

– Suspira a sacerdotisa, pensando “Vocês realmente estão em outro nível, não é? O que diabos

são vocês dois?” – Agora vamos ao meu templo. – disse Omen, encarando de volta.

- Ah, tá. Ok... Não sabia que você era tão dramática. Se o arco fosse totalmente leal a vo-

cê não se ligaria à ela nem que ela fosse uma deusa. Você provavelmente deve ter alguma outra

arma mais leal a você. Outro arco até, não duvido. E que mudança repentina. “Vamos” agora,

“vou matar vocês” antes...Interessante, não? Ah, por obséquio, me explique uma coisa... Quan-

do você diz “vamos”, não quer dizer só nós dois, não é? Não gosto de ficar muito tempo a sós

com quem não sabe se vai me matar ou me ajudar, sabe... – disse Raitun, e adicionou um sorri-

so aos olhos que ainda estavam encarando Omen.

- Não. “Vamos” inclui todo o grupo! – disse em volta alta, afastando-se de Raitun – Va-

mos ao meu templo! Agora! Quanto mais cedo formos mais rápido eu me livro de vocês e vocês

de mim, não é?

E logo se colocaram a caminho do templo do sul. Akemi em sua raposa negra, Raitun e

Lilith na raposa branca (Lilith queria ir andando, mas de última hora Raitun puxou-a de qual-

quer jeito para cima da raposa e Kitsu fez questão de demonstrar que ela não poderia acompa-

nhá-los a pé, por mais rápida que fosse). Conversaram amenidades durante a viagem. Próximos

ao templo, travaram o seguinte diálogo.

- Por que vocês não usam toda essa velocidade em combate? O inimigo seria aniquilado

em instantes. – indagou Omen.

- É difícil controlar isso e atacar ao mesmo tempo... Então guardamos para ‘ocasiões es-

peciais’.

- Acho que podemos chamar aquilo de uma, não é? – disse a sacerdotisa ao se aproxima-

rem do templo – consequentemente, do próximo inimigo. Ao se aproximarem mais percebem se

tratar de uma bizarra quimera, daquelas de oito patas, espinhos nas costas, asas de morcego,

focinho horrível e essas coisas todas que uma boa quimera deve ter.

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- Ah, que fofinho...Então você tem um bichinho de estimação pra nos dar boas vindas? E

por que não me contou? Apesar de que parece mais um cão de guarda do tipo raivoso... - disse

Raitun.

- Não é meu. Mulheres gostam de gatos. E raposas. Acho que ele quer brincar com você.

– “ou destroçar, depende de se estamos olhando as caudas ou a boca...” – pensou Omen, com-

pletando a fala.

- É o que parece. – respondeu Raitun, e desceu de Kitsu, invocando seu arco. As garotas

desceram e ficaram observando.

– Será que ele aprendeu a pegar? Pega! – disse, e disparou rapidamente várias flechas de

gelo na quimera, congelando a parcialmente. O efeito não foi o esperado: a quimera livrou-se do

congelamento e cuspiu uma bola de fogo em resposta (que Raitun parou no meio do caminho

usando mais disparos de Iceberg). “Nada bom, Raitun, Nada bom. O que vais fazer agora? Ata-

car diretamente?” pensou a garota. Se Raitun ouviu isso ou não é informação confidencial. Sa-

be-se apenas que ele sorriu e trocou o arco pelas garras em chamas.

- Parece que você não gosta de pegar coisas... Que tal um afago antes da gente brincar? –

disse ele, andando em direção da quimera enquanto estalava os dedos. A criatura pareceu gostar

menos ainda, rosnou e se preparou para cuspir outra bola de fogo.

- Raitun! – gritou Omen, fazendo menção de ir ajudar Raitun. Kitsu rosnou antes e parou

a sacerdotisa.

- Você não deve interferir. É a luta dele. É o caminho que ele escolheu. – disse a raposa.

“Se você não ajudou antes, por que ajudar agora? Se ele precisar eu mesma ajudo...” pen-

sou a garota

- Entendo... Há coisas que só nós podemos fazer por nós mesmos. Vocês raposas são re-

almente complicadas. Mais do que eu sempre imaginei. Mas até que isso é interessante... – res-

pondeu ela, olhando as raposas e a garota.

Enquanto isso, Raitun tentava acertar a quimera, mas ela era mais rápida que o Raitun a-

tual e ele acabou concentrando-se em desviar investidas e bolas de fogo.

“Hmm... então tudo depende da velocidade nessa luta” pensou a garota.

- Raitun, você ainda tem um truque! É uma ocasião especial, não é? – perguntou Akemi

- Não, não tenho! Não nesse estado! – disse Raitun rapidamente logo antes de desviar

mais uma investida da quimera.

- V-você consegue! É só...acreditar em si mesmo. Vai conseguir... – disse Akemi e repe-

tiu “consegue” cada vez mais baixo, fechando os olhos e juntando as mãos. O que espantou a

todos no entanto foi aparição de um círculo com vários símbolos e coisas escritas em uma lín-

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gua ininteligível sob os pés da garota. E aquilo já havia sido visto aquilo nos momentos em que

Raitun realmente usava seus poderes. “Por que o mesmo círculo de magia? E...uau, como ele

está se movendo rápido em volta da quimera. Ele disse que não conseguia, então...como...” se

indagava a sacerdotisa mentalmente em uma confusão de pensamentos enquanto Raitun estava a

ponto de finalizar seu inimigo. Olhou para Akemi e depois para Raitun. “Então...é a garota de

novo? O que ela é para poder fazer isso?” Pensou a sacerdotisa e continuou em sua confusão e

indagações. Enquanto isso, Raitun sentia que poderia aumentar cada vez mais sua velocidade.

Depois viu Akemi e o círculo de magia (o que por pouco não lhe custou uma cicatriz extra) e

entendeu, ou achou que entendeu e aproveitou-se da velocidade e de suas garras para retalhar a

quimera. Depois de levar muitos golpes a besta parou de se mexer e começou a se desintegrar.

Sobrou apenas algo brilhante: uma parte do livro de Raitun, que pegou-a nas mãos e juntou-a às

outras. Agora tinha três. Quantas faltavam? Eram realmente nove, como seus instintos grita-

vam? Raitun teria refletido sobre esse tipo de coisa se não tivesse se preocupado com Akemi. A

garota desmaiou logo após o fim da luta.

- Você é realmente interessante, aprendiz... – disse tomando-a nos braços e andando em

direção ao templo. - ...mas você precisa aprender o que exatamente você fez antes de usar esse

truque novamente – foi o pedaço que ele disse ao repetir a frase para sua aprendiz no outro dia,

do lado de fora do templo, e acrescentou “Conhecimento é poder”.

- Então, o que exatamente eu fiz? – perguntou Akemi.

- Invocou um ‘círculo de magia’. Os magos do mundo cinza chamam de “Mahoujin”. Use

o que preferir.

- Ok...e o que é o tal mahoujin?

- A prova de sua magia. Lá estão os símbolos dos seus poderes. Você precisa aprender a

usá-lo de forma consciente e moderada, ou não vai conseguir libertar seus poderes. Kitsu!

- Yes, my master. – diz Kitsu, aparecendo junto de Raitun.

- Mahoujin.

- Ah, isso? – respondeu Kitsu, e o círculo cheio de símbolos apareceu sob as patas da ra-

posa.

- Eu não sei quanto poder ou limitações dele eu tenho atualmente, então isso é uma pre-

caução. Como seu Mahoujin é igual ao meu, vou te explicar o que sei sobre ele.

- Como assim, Raitun?

- Ainda não aprendi tudo sobre a minha magia... ou não me lembro... ainda existem in-

formações confidenciais. Podemos começar?

- Sim. – depois da confirmação viu Raitun piscar lentamente os olhos e se por em posição

de combate. O círulo apareceu sem símbolo nenhum. Enquanto os símbolos apareciam Raitun

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Memórias de um aprendiz

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explicava detalhadamente os seus usos e significados. Isso é, porém, uma longa (e para alguns,

entendiante) informação confidencial. Contarei o que posso: No meio do círculo existe o olho

de uma raposa, com sete traços. Em volta, um pentágono. Em volta, os símbolos de cinco ele-

mentos: Kaminari (raio), Kaze (vento), Mizu (água), Tsuchi (terra), Hi (fogo). Entre esses sím-

bolos maiores, outros quatro representam mana, prana, armas e stamina. Esses nove estão ligan-

do à circunferência do mahoujin. Ainda é um símbolo isolado representando Yami (a escuri-

dão). Em volta disso, um pentágono ligado a um círculo cheio de inscrições, em contato com

nove símbolos. Esse é o Mahoujin de Omni Raiken. Talvez a única diferença entre o dele e o de

Akemi era o símbolo de “Yami”. Akemi mostrava o símbolo de “Hikari” (A luz). Depois da

explicação, um pouco de treino e algum descanso Raitun e Akemi partiram em direção às ruínas

de Midgard, deixando Omen no templo do sul. Ao ver os dois partindo, sobraram uma marca

negra e estranha no peito da sacerdotisas e um pensamento ainda mais estranho para ela: “Não

queria admitir, mas vocês são incríveis. Fazem parecer tudo isso ser tão fácil... Felicidades para

o casal ”

- O que viemos fazer aqui? – disse Akemi quando estavam passeando pelas ruínas.

- Procurar uma coisa, visitar um lugar, importa tanto assim?

- Um pouco... – diz ela, olhando em volta

- Chegamos. – diz Raitun, parado em frente ás ruínas de uma mansão, que havia sido ma-

jestosa no passado.

- E onde estamos? – diz Akemi, sendo puxada para dentro.

- Na mansão de Namikaze Yumi, ou o que sobrou dela. Yumi, a Arquiduquesa dos Aio-

drome, uma dos três Lordes Imperiais, a única mulher entre eles. A que dava os nomes às coisas

em Montris. Essas coisas todas das quais as pessoas importantes são chamadas.

- Ah... ela te deu o nome de Raitun então?

- E as espadas. E o aiodrome. E as roupas. Bem, não essas... ela me deu roupas decentes.

- O que viemos fazer aqui?

- Pegar alguma coisa que deve estar por aqui.

- E o que seria? Será que está por aqui mesmo?

- Ainda não sei, mas acho que vamos descobrir em breve. – disse Raitun, quando chega-

ram no local onde ficava o salão principal, um cômodo enorme que curiosamente parecia estar

inteiro, mas com uma aparência velha de mansão mal-assombrada. Akemi sentiu frio, e que algo

ali não cheirava bem, mas não era o mofo. Ao entrar no salão ativaram um círculo de magia

exatamente no meio do lugar. Nele materializou-se uma espécie de guerreiro com armadura

completa e uma espada larga em cada mão. Raitun e o inimigo se colocaram rapidamente na

mesma posição de ataque.

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- Então estavam mesmo aqui... Agora que finalmente apareceram, podemos brincar. –

disse Raitun, puxando as Katanas, mas logo percebendo que elas começaram a sumir. Pareciam

estar sendo ‘sugadas’ pelas espadas largas do guerreiro armado. “Ah, deveria ter imaginado algo

assim..” Pensou Raitun, agora armando-se com suas garras. Não teve muito tempo para imagi-

nar mais coisas, quase foi decapitado pela criatura. Escapou por baixo e derrubou seu inimigo

com uma rasteira, afastando-se com um pulo para trás.

- Vocês estão realmente mal-humoradas...

“Vocês? Mas...só tem um guerreiro al-...não...são dois...dois fundidos em um? Quem

são?”

– Eu sei que vocês iriam adorar um pedido de desculpas formal, me ver implorar, fazer

mesuras e aquelas coisas todas, mas não temos mais tempo a perder. Kitsuhi! Iceberg! – depois

de ser obrigado a mudar várias vezes de lugar para não ser atingido os mãos e pés de Raitun

ficaram em chamas e ele invocou seu arco. Desviou de um raio negro e atirou algumas flechas.

- Agora, Akemi! – disse Kitsu

“Yes, my master!”

- Omniraiken Mahoujin – disse Akemi, invocando o círculo de magia. Raitun desviou ou-

tro ataque e parou perto de Akemi.

- Icicle Garoa – disse Raitun antes de disparar uma saraivada de flechas que virou uma

chuva de agulhas de gelo. Algumas causaram dano ao inimigo, outras prenderam seus braços ao

chão.

- Com ou sem poderes plenos, ainda sou o seu mestre.

“Ah, então elas são-!”

- Hora de voltar ao seu devido lugar, irmãs Raiken. – disse Raitun antes dos três últimos

tiros. Duas flechas desarmaram as espadas do guerreiro, o terceiro o transformou em pó de gelo.

Do pó surgiu o brilho, e do brilho mais uma parte do livro. Tudo parecia “normal” (para você,

algo pode ser considerado “normal” em Montris?) até Akemi perceber as espadas flutuando até

Raitun enquanto a aura negra brotava novamente.

- Você sabe quem são estas, garota? – disse a criatura sombria das outras vezes, seguran-

do as duas espadas.

“Nem sei quem é você direito...” pensou Akemi

- Isto é informação confidencial, por enquanto. Estas são espadas gêmeas, Mana e Lidia

Raiken, as formas definitivas das espadas Cumulus e Nimbus reforjadas pelo Lupuoskirus. Mas

parece que ainda há mais alguma coisa aqui. Veremos – disse a criatura, que começou a se dis-

sipar no instante em que Raitun começou a andar. As espadas caíram fincadas no chão. Ele pa-

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rou em frente à cadeira que pertenceu a Yumi. Após alguns segundos um aiodrome apareceu e o

aprendiz trancou-o em suas mãos.

- Isso é seu. – disse Raitun, jogando rapidamente o aiodrome em Akemi.

- Ah...e “isso” tem nome? – perguntou Akemi.

- Trate isso com mais respeito, garota.

“Ou seja, trate-o de forma oposta a que eu trato?” pensou a garota

- Meus ouvidos ainda estão comigo, então eu ouvi... mesmo que seus olhos sejam melho-

res, não subestime o ouvido de uma raposa. “Isso” é um aiodrome chamado Plakint. Aiodrome

que era da Arquiduquesa e guardião disso – diz apontado um cetro.

- O cetro da Arquiduquesa dos Aiodromes?

- Sim, esse era o cetro dela. Agora os dois são seus. – disse Raitun, jogando o cetro para a

garota - Espero que saiba cuidar dele. E não ande com ele assim, esconda-o. Ainda temos luga-

res a visitar e muito treino. – terminou a fala indo para o lado de fora da mansão.

“Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui?” pensou a garota.

- Informação confidencial. Um dia saberás. Um dia entenderás tudo como a si mesma. –

disse Raitun

“Perigoso...ouvidos de raposa são perigosos...”

- São piores que os olhos, geralmente. – respondeu o aprendiz.

“Dá pra parar de ler meus pensamentos? Não, não responda!”

Ao passar pelas espadas estas viraram Katanas iguais as que Raitun possuía antes. O a-

prendiz guardou-as onde guardava as antigas e saiu da mansão junto da garota. Montaram nas

raposas e tomaram o caminho para o templo do oeste. Pouco depois de entrarem na floresta

encontraram um grupo de elfos escuros, com quem Raitun resolveu falar.

- Saúdo-vos, nobres filhos dos deuses! – disse Raitun

- Quem és, forasteiro, e o que queres conosco?

- Acreditarás se eu te disser que sou Omni Raitun?

- Talvez. Tuas vestes e porte parecem ser o do lendário forasteiro que chamam de Omni

Raitun, e dizem os rumores que ele reapareceu e decapitou a senhora élfica dos Montrisianos. –

Disse um mais velho, que parecia ser o líder. Só aí Akemi notou que as vestes de Raitun não

pareciam mais tão gastas e rasgadas.

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Memórias de um aprendiz

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- Eu sou os rumores. Alexis estava sob o efeito de uma maldição. Não havia outra manei-

ra de libertá-la.

- É o que dizes, não tenho provas para concordar ou discordar. O que viestes fazer na flo-

resta, forasteiro? Nessa floresta a caça é escassa e o perigo farto.

“Parta agora ou eu te parto? Entendo, elfo...entendo.” – pensou o aprendiz.

- Sim, eu lembro disso e já visitei esse lugar. Tomei estes caminhos novamente por que

vim procurar uma coisa, embora se considerarmos o que procuro...talvez seja o caminho que me

ache. Aproveito a oportunidade porém, para fazer um pedido. Não é coincidência o nosso en-

contro. Uma nova guerra está vindo e os Luminus já começaram a se mover. Quando a hora

chegar, peço que ajudem Montris a lidar com o inimigo.

- Recuso-me a ajuda-los. Montris nunca nos ofereceu apoio, e nunca fizemos aliança com

eles. Recuso seu pedido.

- Sem Montris não estarias vivo até agora, elfo – responde Raitun

- Recuso-me.

- Entendo... – disse Raitun, encarando o elfo com seus olhos prateados - ...então é isso.

Até o nosso próximo encontro. – e ficou olhando em volta, talvez procurando um novo cami-

nho. Após dois passos para a frente, parou e disse – E eu não atiraria esse arco, se fosse você. –

virando para os grupo e elfos e encarando-os até que eles se afastassem o suficiente para não

causar perigo

- Raposas são assustadores – comentou a aprendiz do aprendiz.

- Não, não. É que se eles atirarem nós iríamos perder o caminho. E isso não seria nada

bom. Ah, e já chegamos.

Raitun parou de frente a uma clareira e ficou observando.

- Outra Kekkai (barreira)? – perguntou a garota

- Sim, mas a senha para essa barreira é o oposto da outra. Acalme-se e livre-se de pensa-

mentos hostis...depois... – Raitun deu alguns passos para a frente e sumiu ao entrar no espaço da

clareira.

- Os mestres tem uma mania horrível de fazer parecer que é fácil. Por que? – disse Akemi

em um pensamento alto de indignação. Acompanhou a fala com um murro na barreira e ganhou

um choque em retribuição. Depois de algumas tentativas a garota conseguiu atravessar.

- Argh, finalmen- - Akemi parou a fala para desviar de algo que foi arremessado contra

ela. Só depois percebeu que “algo” se chamava Omni Raitun nessa ocasião. Do outro lado algo

que seria um majestoso mago, não fosse a aparência cadavérica.

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Memórias de um aprendiz

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- Não seria mal te dar os parabéns, já que eu passei o dobro do tempo para conseguir en-

trar da primeira vez, mas...suspeito que ele não vai me deixar muito tempo pra isso – disse Rai-

tun, sendo obrigado a criar uma de suas barreiras de proteção para completar a frase.

“Ele gosta tanto assim de lutar? E peraí, ele disse que eu me saí melhor do que ele?”

O mestre-aprendiz precisou segurar só algumas rajadas de fogo negro e desviar uma bola

de gelo com as katanas, depois sumiu e apareceu atrás do mago, mas sua investida foi aparada

por um cajado. Só então Akemi percebeu: o cajado era Persona.

- Tsc. Akemi, tente desarmá-lo na primeira oportunidade. – Raitun se afastou e começou

a se transformar em raposa. Akemi ativou o círculo de magia e criou uma barreira para esperar

segura pelo momento certo.

“Só posso usar quatro caudas? Espero que seja o suficiente...” pensou Raitun, após se

transformar na raposa com quatro caudas, e desviar mais ataques. Voltou a lutar com o mago até

conseguir uma abertura segura, transformar as patas dianteiras em braços humanos e segurar (e

morder) o mago.

- Agora, mestra! – disse o novo aiodrome de Akemi. A garota puxou Kaleidos, e com um

movimento soltou um raio forte o suficiente para desarmar o mago e jogar seu báculo para lon-

ge.

- Kitsuhi! – Raitun, soltando uma rajada do fogo azul pela cabeça de raposa. Enquanto o

inimigo queimava, pareceu ser um “mago de verdade” Chamou o cetro de volta e fez um movi-

mento antes de sumir com ele. A criatura sombria apareceu novamente. Entre Raitun e a criatu-

ra, um pedaço do livro.

- Então, finalmente posso vê-lo... Quem és? – disse Raitun

- Meu nome é Darukian, mestres. Finalmente podemos conversar.

- “Mestres”? Mas...eu sou a aprendiz dele, só...

- Você entenderá depois.

- Ahn...e o que você é exatamente? – perguntou Akemi

- Eu sou um dos três grandes ceifadores.

- “A foice de Tuurem”...!?

- Na verdade, a foice de Vertrag é o nome verdadeiro. Portada por Vertrag, o mais fraco

em nossa hierarquia (o que não quer dizer necessariamente que ele não tenha grandes poderes).

- E as coisas ficam cada vez piores... – lamentou a garota, sentando no chão do terraço do

templo.

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Memórias de um aprendiz

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- Explique melhor, Darukian. – disse Raitun, sentando ao lado dela.

- Então esqueceram de tudo, ó mestres? E as raposas não te contaram. Ainda não deve ser

o momento.

“Como assim?” se perguntaram os dois

- E ainda não é, Darukian. Conte apenas quem são os ceifadores, já que os mencionou –

disse Kitsu, aparecendo do nada como sempre entre eles

- Eu deveria ter imaginado que era você. Ninguém além de você faria algo desse tipo. –

disse Darukian em tom de desdém, obtendo um rosnado como resposta. Encarou a raposa em

silêncio por alguns instantes antes de continuar:

- Em Montris existem três grandes ceifadores de almas. Há uma hierarquia entre nós, ape-

sar da diferença de poderes não ser muito grande. O mais fraco de nós se chama Versag e sua

foice é a que os Montrisianos chamam de ‘foice de Tuurem’. Ele cuida das almas mortas por

suicídio. A nossa hierarquia se baseia em nossas habilidades e na quantidade de prana que cei-

famos. Ele é do nível mais baixo em ambos. – Akemi fez um sinal e interrompeu a fala da cria-

tura

- E o que é prana?

- A fonte de magia mais poderosa desse mundo. A magia da vida. En-

- Como assim “magia da vida”?

- Informação confidencial. Na próxima interrupção verás como uma foice corta magica-

mente cabeças, mortal. Como geralmente as pessoas que se suicidam morrem jovens, Versag é o

que menos recolhe prana das almas. Ele tem a maldita mania de largar sua foice nesse mundo de

tempo em tempos, causando o caos assim que alguma criatura a pegue. Ele manipula o seu por-

tador a causar o caos e o desequilíbrio do mundo. Assim, o portador da Vertrag, foice de Ver-

sag, precisa ser eliminado para restaurar o equilíbrio. Em resumo: possuir a foice leva seu por-

tador ao suicídio. O segundo na hierarquia sou eu. Cuido das mortes por homicídios. Apresento

a vós, mestres, ‘Despairus, a lâmina do desespero’.

Ao dizer isso liberou uma poderosa aura negra e materializou uma majestosa gadanha ne-

gra. Continuou com os seguintes dizeres:

- Os suicídios são atos de desespero dos que gritaram por socorro e não foram ouvidos,

mas só esta lâmina traz seu verdadeiro significado em seu fio amaldiçoado. A tortura física e

mental, alheia e própria antes da morte. O medo de morrer em batalha. O desespero do mais

fraco instantes antes de ser esmagado. É disso que essa lâmina se alimenta. Nesses momentos de

desespero, porém, eu, Darukian, irei emprestar minha força a meus mestres com essa lâmina. –

disse Darukian, e mesmo curvando-se diante de Raitun ainda parecia maior, mais imponente,

poderoso e sombrio do que Raitun já fora em sua forma mais poderosa.

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Memórias de um aprendiz

214

- Aceito toda e qualquer ajuda, principalmente a sua, ceifador de almas Darukian. É bom

vê-lo novamente. – disse Raitun com um tom diferente enquanto absorvia o pedaço do livro.

“Eles se conhecem?”

- Arma interessante, e realmente precisamos de ajuda. – falou novamente o mestre-

aprendiz na voz de sempre.

- E...qu-qual é...o terceiro ceifador da sua hierarquia? – perguntou a garota, receosa, tal-

vez pensando “se ele não é o mais poderoso e já faz tanto estragos com um movimento de sua

foice, o que o mais forte deles pode fazer? Destruir o mundo?”

- Ceifadora. É uma mulher, mestra, é uma deusa. Temos as mesmas habilidades, mas ela

dispõe de mais prana. A terceira na hierarquia é a deusa Mizushi. A foice que ela usa já visitou a

tua toca, Omni Raitun.

- Que enigmático esse final... –disse Raitun – Suspeito que seja uma deixa e que não pos-

sas contar nada além disso por agora, acertei?

- Sim. “Informações confidenciais”, como dizem os mortais.

- Então é isso. Ainda preciso ir em um local específico. É perto, mas talvez eu demore.

Esperem aqui e descansem – disse Raitun para Akemi, as raposas e Darukian, que desfez sua

forma no ar. Akemi ignorou pela metade as ordens e treinou um pouco com sua raposa antes de

descansar. Raitun foi até o Nefirus e ficou fitando as águas e as imagens que nela bruxuleavam

por algum tempo.

- Então era realmente você. Parece estar voltando a ficar inteiro aos poucos, Raitun.

- Hahahaha! Então ainda estás vivo, Ácades?

- Talvez menos do que aparento. – disse o celtamorfo, se aproximando do aprendiz.

- As coisas são piores do que pensamos, não são?

- Talvez sim, talvez não, Raitun... O que te trouxe até aqui?

- Meus poderes foram selados e espalharam as chaves dos selos por vários lugares. Estou

recuperando meus poderes para poder encarar ‘aquela pessoa’ de igual para igual.

- Ah, chuva e tempestade são sempre um problema. Precisam um do outro para serem for-

tes, mas vivem em uma discussão interminável, e enquanto não se entendem, destroem tudo.

Quando isso irá acabar e a luz clareará estes céus definitivamente, garoto?

- Suspeito que não tão em breve, mas que estamos mais perto do que longe de um fim.

Então, Ácades, o que tens a dizer para mim dessa vez? Acho que não preciso perguntar mais

nada, preciso?

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Memórias de um aprendiz

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- Aquela garota é mais parecida contigo do que pensas. Lembra-te disso. Ah, e aquilo que

procuras, acharás na toca das raposas. ‘Conhecimento é poder’ que só os mestres podem usar

com precisão e quando seu, só você usa plenamente, mas não deves esquecer que todos somos

um pouco mestres e temos algo que é só nosso e só nós podemos usar.

Após escutar essas palavras Raitun fez uma mesura ao antigo e sábio celtamorfo. Voltou

refletindo sobre tudo. No caminho da volta, escreveu os acontecimentos todos em seu livro,

entre outras coisas, com o seguinte adendo: “Um aprendiz não deve esquecer que, embora a-

prendiz, também é um pouco mestre. Um aprendiz deve ensinar o que aprende e descobre a um

novo aprendiz, e se este for parecido com o mestre-aprendiz, pode-se tentar ensinar um pouco

do que só o mestre-aprendiz sabe. Não se deve ensinar tudo, nem isto é possível, pois conheci-

mento é poder, o poder de cada um é único e um único indivíduo não pode obter sozinho e só

para si o poder destruir e criar mundos. Este tipo de poder é uma maldição carregada pelos sá-

bios e poderosos. O poder constrói ou destrói, dependendo dos propósitos que o seu usuário

possui. O poder, quando intenso demais, protege de tudo, mas traz o risco de assustar e afastar

quem é protegido por ele.”

Ao voltar ao templo encontrou Akemi treinando e tentando acertar Kitsu com o báculo de

Yumi.

- É assim que estás descansando, garota?

- Não importune, garoto, deixe o filhote se concentrar.

- Não se preocupe, Kitsu, eu assumo daqui. Então quer treinar, Akemi? Vamos treinar. –

disse Raitun, e criou um círculo de magia em volta de si. – Mas eu não sairei daqui até que con-

sigas me acertar. Só precisa acertar uma vez e eu não sairei de dentro do círculo. Fácil, não?

“Até que seria, se você não fosse...você...”

- Se não quiser passar o resto de sua vida nesse templo sombrio e melancólico, comece a

tentar, pois não te deixarei partir antes que consigas cumprir essa tarefa. Acerte uma vez, ou

morra tentando. Pode começar. – após dizer isso, esperou algum tempo, mas a garota não ata-

cou. Raitun então desfez o círculo de magia e piscou os olhos lentamente, fazendo os voltar a

aparência humana e ficou esperando enquanto pensava. “Foi algo do tipo que o velho fez comi-

go, né? Mas ele poderia ter tornado mais interessante, não poderia?...aliás, eu posso, não posso?

Sim... Então Akemi, como te comportarás?”

Depois de mais algum tempo de espera Akemi investiu contra seu mestre, tentando acer-

tá-lo com o báculo. Antes que isso acontecesse Raitun abriu os olhos e juntou as mãos. O medo

fez a garota recuar. Raitun observou-a com uma expressão serena, continuou de mãos juntas e

fechou os olhos novamente.

- Para tentar me acertar você precisa tentar. Não esqueça que o primordial é a essência da

frase ‘conhecimento é poder’.

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Memórias de um aprendiz

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- O que você quer dizer com isso? – perguntou Akemi

- Você descobrirá quando for o momento certo. Não deixe o medo te paralisar. Passe por

cima dele. Ataque.

A garota observou por alguns instantes o seu mestre naquela espera estática, de mãos jun-

tas e olhos fechados até resolver investir novamente.

“Bem...eu acho que é importante isso...ou pelo menos, pra mim é importante sair daqui,

então...”

“Ah, então resolveu tentar. Finalmente. Tente e não desista até conseguir.”

Aconteceu quase a mesma coisa que na última investida. QUASE. Não se sabe se o maior

espanto que a aprendiz teve foi com o abrir repentino e esperado dos olhos prateados de Raitun,

o círculo de magia e a barreira que apareceram ao mesmo tempo ou a mudança ainda mais re-

pentina de cenário que Akemi só notou quando parou de encarar os olhos prateados do seu mes-

tre.

“Olá. Eu sei, falei demais da última vez. Vou tentar ser mais breve. A história está mais ou

menos na metade. E não sei se é por causa disso ou de outra coisa, mas o Raitun vai dar

uma sumida, sabe, assim como eu faço quando começo a contar pra vocês tudo isso. Espe-

ro que ele não tenha aprendido comigo, porque isso deixaria alguns de vocês ainda mais

irritados, eu sei. É não é por que o Raitun vai dar uma sumida que a história vai ficar pa-

rada, é claro. Até por que preciso contar alguma da Akemi. Aliás, é curioso notar que

também não sabemos o nome da Akemi. A Akemi é o “nome de Montris” dela. Deve ser

outra “informação confidencial”, pra variar. Acho que um dia isso será explicado enquan-

to eu conto a história pra vocês. O que eu não preciso mais explicar é aquela história do

“coração do Raitun”, né? Enfim, se você ainda tem curiosidade sobre coisas mágicas, ro-

mances poderosos, acontecimentos exóticos, uma garota iluminada e um aprendiz que não

é mais apenas aprendiz nem careca, continue me ouvindo.

Ass: Aquilo que conta

P.S.: Espero não ter sido em vão ter contado tudo isso. Essas partes mais bonitas são meio

frescas, é claro, mas são interessantes, sabe...

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Memórias de um aprendiz

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Parte 4: Despertar de aprendizes

Sumiço

- Não achou que eu deixaria as coisas tão fáceis, achou? – disse Raitun, parado, com a mesma

expressão, enquanto mantinha ativos o Mahoujin e a barreira.

“Eu até deixaria, se você fosse alguém mais comum... mas contigo isso não é possível.

Preciso pedir demais de você, garota exótica”

- O templo sumiu, aliás...tudo sumiu...o que aconteceu exatamente?

“Finalmente perguntou... ela é um pouco lenta, mas vai ser interessante”

- Estamos na ‘minha toca’ – disse Raitun – Passamos muito tempo nas nossas tocas. Pas-

sei tanto tempo na minha toca que eu acho que já decorei cada pedaço de grama daqui. As nu-

vens são complicadas, mas tenho alguma noção do que foram e de que forma poderão assumir.

Mas uma coisa chata e que não consigo prever são os raios. – e uma ventania forte tomou conta

do lugar – Sério. Nunca sei prever quando irão cair...muito menos onde. – ao terminar, sorriu e

inclinou um pouco a cabeça para o lado. O mesmo tempo que Akemi teve para levantar o báculo

e criar uma barreira, e o mesmo para cair um raio que teria atingido sua cabeça, mas só atingiu e

quebrou a barreira recém levantada. A barreira de Raitun também foi atingida mas manteve-se

intacta.

“Cria mas não mantém a barreira. Ao menos conseguiu se defender, e isso já muito bom,

mas...”

- Você ainda não me acertou, Akemi.

- É, eu já sei disso. – disse Akemi, olhando seu alvo imóvel em meio a ventania, raios e

trovões, dentro de uma barreira que protege exatamente o espaço de um círculo de magia. Acor-

dada por algum trovão, tentou investir novamente e saiu correndo em direção ao seu alvo. Preci-

sou desviar de alguns raios, mas conseguiu aproximação o suficiente para atacar com o báculo.

Só não conseguiu causar dano ou arranhão à barreira de Raitun. Mais que isso: ainda foi repeli-

da para longe. Não teve tempo de reclamar, precisou se proteger de mais raios.

- Usar um báculo desse jeito... Não, não, usar esse báculo desse jeito...Aiodus deve estar

furioso agora. – disse Raitun, sem mover um milímetro de sua postura ou expressão.

- Quem é Aiodus? – perguntou a garota inocentemente.

- Não sou o mais adequado para responder, mas já estão gritando a resposta há algum

tempo. Ouça... – disse Raitun, e calou-se.

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Memórias de um aprendiz

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A garota só ouvia o rugir do vento. Concentrou-se e logo escutou outro tipo de rugido. E

perguntou-se novamente: “Quem é Aiodus?”

“EU sou Aiodus, garota idiota.”

“Mas você é...o báculo!?”

“Claro. Imaginei que minha nova mestra seria inexperiente, mas não uma retardada com-

pleta”

“É rude dizer isso da sua mestra, mesmo que ela o seja”

“Perdão, mestra. Agora que finalmente estás me ouvindo, estou a seu serviço de forma

plena. Precias de minha força, mestra?”

“Preciso acertar ele uma vez. Você pode me ajudar com isso?”

O báculo não respondeu, começou a brilhar e liberar vários Aiodromes, que se juntaram à

arma até transformá-lo numa maça gigante, além de criar uma barreira contra outro raio.

- Só esses, Akemi?! A antiga mestra criou um aiodrome para cada cidadão e soldado

montrisiano, além de uma maça duas vezes maior – disse Raitun “Mas deve ter treinado por

anos para chegar onde você está de primeira viagem, garota. O que és exatamente?” – Ah, ape-

sar de não ser o ideal, como defesa não é minha especialidade, isso deve bastar. Vai tentar no-

vamente?

Akemi se colocou em posição de ataque, e como resposta atacou novamente a barreira,

quebrando-a com muito sucesso. Mesmo assim, não conseguiu acertar Raitun. Ele desviou o

golpe, o seguinte e empurrou-a para fora.

- Quase. Suspeito que eu não vá escapar tão facilmente da próxima vez... afinal, você ain-

da pode melhorar um pouco isso aí, não pode? – disse Raitun, voltando ao centro do círculo e

refazendo a barreira.

Akemi tentou novamente. Não sem antes bolar uma estratégia. Primeiro quebrou a barrei-

ra (dessa vez, com mais dificuldade), depois desfez a maça e atacou Raitun com o báculo. Rai-

tun segurou o ataque com as mãos e teve os pés presos por aiodromes. Akemi entrou aproveitou

a oportunidade, largou o báculo e acertou Raitun, atravessando-o com suas garras. Enquanto a

garota estava espantada pelo próprio golpe, Raitun sorriu com a mesma expressão serena e se-

gurou o braço com o qual a garota atacou.

- Dessa vez eu posso, devo, e te dou os meus parabéns, Akemi. – disse Raitun, entre risos.

Continuou. – E lembre-se disso pelo resto de seu aprendizado. Infelizmente não poderei te a-

companhar durante todo o seu caminho, apesar de querer fazê-lo. Uma parte dele você deve

seguir sozinha, com suas próprias forças. E eu tenho de ir em outra toca... Volte para o dragão

junto de Kitsu, eles saberão o que fazer. Eu acho que voltarei quando você mais precisar e me-

nos esperar, para efeitos de efeito dramático. Gosto disso, acho interessante até. No final das

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contas, e mesmo no final dos tempos, chuva e tempestade possuem uma melancolia irreparável

– suspirou. – Aiai, pra que esse discurso enorme mesmo? Até a volta, aprendiz. Já que estare-

mos eternamente ligados a partir de agora (ou será que sempre estivemos?), direi de outra for-

ma: até sempre, Akemi. – aos poucos, enquanto falava, Raitun ia sumindo. “Até sempre”, disse-

ram os olhos prateados de fenda. Os olhos de Raitun e sua mão, segurando o braço da garota.

Após isso, o mestre-aprendiz da aprendiz sumiu de vez com o círculo de magia e sua toca, dei-

xando tudo negro por instantes. Após algum tempo a escuridão começou a se dissipar e Akemi

se viu exatamente no mesmo lugar de antes do início da luta, como se não tivesse mexido um

centímetro. Apesar de não haver mais um Raitun na frente dela, todas as outras coisas estavam

no mesmo lugar: o chão, as raposas, o templo e o tempo, o tempo púrpura.

“Pera...pera....Rai...mes...”

- E-eu...eu matei ele? – sussurrou a garota, ainda sem entender o que havia acontecido,

com lágrimas nos olhos

- Não, não... impossível com o seu nível de poder atual. Ele apenas foi para outro lugar –

respondeu Kitsu.

- Para...para onde ele foi exatamente...? Cadê ele? Tem certeza que tá tudo bem?– per-

guntou-se Akemi.

- Achei que ele teria dito a você antes de ir. E sim, ele ainda está vivo. Eu consigo sentir

por causa do nosso contrato

- Ah... – sentou-se no chão, aliviada - Ele falou algo sobre ‘ir para outra toca’, e mandou

irmos para os sobreviventes...algo assim.

- Em resumo, você não lembra, não é? – disse Kitsu, em tom de desapontamento. – Deve

ter ido para a toca das raposas. De qualquer forma, já sei o que ele está fazendo, o que quis fa-

zer, e o que fará. Vamos voltar aos sobreviventes.

Só então a garota notou que havia algo na sua mão. Era um pedaço de folha com os se-

guintes dizeres: “Um mestre-aprendiz deve sempre pensar no melhor e trabalhar para o melhor

desempenho e aprendizado de seus pupilos. Um aprendiz pode aprender muito mais passando

algum tempo com outros mestres e pode-se até dizer que quanto mais mestres o aprendiz possu-

ir, mais chances terá de aprender coisas novas e variadas. Os aprendizes tem tantos mestres e

aprendem tamanha variedade de coisas por vezes que os mais poderosos já disseram ter apren-

dido com os quatro elementos, os astros e os grãos de areia. Aprenderam sobre um pouco de

tudo, e a criar e destruir mundos.”

“Interessante...” pensou a garota depois de ler o trecho escrito na folha e guarda-lo no

bolso.

- Por que os filhotes acham que há para eles todo o tempo do mundo e são tão lerdos? –

disse Kitsu. Akemi despertou do transe e montou na raposa branca, que sem falar mais nada

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Memórias de um aprendiz

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dirigiu-se de volta ao refúgio dos sobreviventes Montrisianos. Chegados como um raio branco,

atravessaram a barreira despercebidos e se dirigiram direto ao palacete.

- Voltaram rápido... mas onde está Raitun? – pergunta Louise.

- Teve que ir a outro lugar e nos enviou até aqui, srta Louise.

- E o que queres aqui ou o que achas que ele quer?

- Quero que você continue o meu treinamento.

- Por que eu deveria, Akemi?

- É exatamente isso. Você não deveria, já que por algum motivo nenhum de vocês me en-

sinou magia até agora.

- Entendo. E se eu me recusar a te ensinar?

- Eu ficarei aqui até mudar sua opinião. E os seus guardas não conseguirão mover meus

pés de onde eles estão agora, mesmo que se esforcem bastante.

- Irei confessar uma coisa que nunca teria dito ao Raitun quando ele tinha sua idade. Na-

quela época ainda tinha o notável e irredutível orgulho dos dragões impregnado em minhas es-

camas. Agora, assim como a grande maioria das coisas daquela época, ele foi reduzido a nada

mais que destroço e cinzas. – disse Louise, com a mesma expressão serena de antes - Os olhos

de vocês raposas são realmente assustadores com essa determinação toda.

Após dizer isso a sacerdotisa estalou os dedos. Vários soldados apareceram e tentaram

prender Akemi. A garota bateu seu báculo no chão, criando uma barreira que repeliu os solda-

dos para todos os lados.

- Interessante. – disse Louise ao passar por eles, dirigindo-se para o lado de fora do pala-

cete.

- Ei, aonde vais? – perguntou Akemi se preparando para atacar.

- Te treinar. Se fizermos isso aqui dentro você vai destruir a barreira e a cidade inteira.

- Por que você mudou de ideia tão rápido? – enquanto perguntou, desfez a barreira e saiu

acompanhando a sacerdotisa-dragão.

- E quem disse que eu mudei de ideia? Por que acha isso? Estava apenas testando sua for-

ça e determinação, apenas isso, garota.

Assim Louise (ajudada por Kitsu) continuou o treinamento de Akemi, que apresentava re-

sultados cada vez mais extraordinários e comparáveis aos de Raitun (rumores diziam que até

melhores). Um dia, enquanto treinada com Kitsu e Louise, recebeu um treino especial dos ven-

tos mensageiros. Pouco antes do teste Akemi estava aprendendo um pouco mais sobre o contro-

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Memórias de um aprendiz

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le dos poderes que partilhava com sua raposa através do contrato. No meio de sua transformação

ela foi interrompida por um forte vento que a fez voltar ao normal. “E o que foi isso? Que vento

mais...” pensou a garota.

- Mestra! Mestra! – gritou Plakint, o aiodrome de Akemi.

- Algo nada bom, não é? – respondeu Akemi.

- Sim, mestra. A base dos orcs foi destruída.

- Certo... detalhes.

- A base dos orcs foi totalmente devastada por um montrisiano, mestra. Os orcs declara-

ram guerra a Montris e estão se preparando para marchar até nós.

- Um? Um só? A sua fonte é confiável, Plakint? – perguntou Akemi.

- Tão confiável quanto uma raposa de nove caudas, mestra.

- Entendo... – depois disso Akemi intensificou os treinos. “Por que os orcs estão vindo”,

dizia ela quando perguntavam. Ao terminar seus treinamentos passou a andar um pouco pela

floresta. Em uma de suas caminhadas acabou dentro da floresta das Trwillow. Não se lembrava

de ter conhecido aquela parte da floresta e ficou fascinada com as Trwillow e seus leves movi-

mentos, até ir parar nas raízes da velha matriarca.

- Ah, então é você a nova aprendiz. Isso explica muita coisa. – escutou Akemi de repente

– Estava me perguntando quando você viria, querida.

- Quem disse isso? – perguntou Akemi.

- Eu, Tatsuy, Matriarca das Trwillow, filha de Yggdrasil.

- Então você é a tal Matriarca de que as lendas falam? – perguntou Akemi.

- Isso mesmo, minha querida, eu sou a Matriarca. Por que não pergunta algo que queira

saber? Sou a mais antiga das Trwillow. Nunca poderei sair dessa floresta para um passeio, mas

talvez possa responder alguma pergunta sua com o que os ventos me sopraram.

- Ok então... quero saber uma coisa apenas. Por que nunca me ensinaram magia?

- Ah, isso... A resposta é longa e pesada. Extremamente complexa, eu diria. Se cansar,

sente-se, simplesmente sente-se. Já que conheces e tens como procurar saber sobre a história de

Montris, eu suponho, então pularei essa parte. Mizushi é uma desertora de seus deveres que

causou muito caos em Montris. Causou não é a palavra exata. Causa. A interferência dela, a

filha das trevas, chegou até você. Por que você é protegida por outra deusa, a deusa que a Mizu-

shi mais odeia nesse mundo.

- E...quem é essa deusa? – indagou a garota

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Memórias de um aprendiz

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- Hikari.

- Mas... – disse e sentou, ou desabou no chão.

- Seria problemático explicar mais no momento, talvez nem fosse possível. O que importa

é que ela te fez nascer nesse momento por um motivo muito importante, e fez Alexis prometer

que te protegeria a qualquer custo até que alguém qualificado quisesse ou pudesse te ensinar

magia. Você precisava sobreviver. Você precisa ser feliz. Mas Mizushi interferiu nos planos da

deusa, e assim os Montrisianos passaram a acreditar que as Liliths ‘trouxeram a desgraça a

Montris’, e que você faria o mesmo, por ser parecida com ela, de alguma forma... Parecida, mas

completamente diferente. Muito mais brilhante, em vários aspectos...

- Ainda não entendi o que você quer dizer com isso tudo, Matriarca.

- Acham que a primeira Lilith, ao trazer Raitun para esse mundo, trouxe a desgraça e que

após a segunda Lilith fazer você buscar Raitun de volta virão mais desgraças. Então eles acham

que Lilith deixou um ‘herança amaldiçoada’ em você, uma maldição que traz a desgraça e o

infortúnio: Omni Raitun.

- Omni Raitun não é nenhuma desgraça...ele só é...

- Não, não é mesmo... eu vi quando ele veio me visitar. Ele só trouxe em si algum tipo in-

descritível de...melancolia naqueles olhos, mas... não é nenhuma desgraça, com certeza. Na

verdade, é mais difícil de explicar do que parece, e entenderias pouco agora... Então, deixarei

isso para ele, Akemi. Aqueles olhos são o que melhor podem explicar o que exatamente está

acontecendo. Os próximos passos são complicados. Você vai precisar de força, de todos os tipos

de força. Você é imensamente importante, e é imensamente importante que você sobreviva até

que ele volte. Seja a luz de Montris, Akemi. Que os quatro ventos abençoem sua jornada.

- Agradeço, disse a garota. Fez uma mesura de voltou ao refúgio dos sobreviventes. Pou-

co depois uma raposa, uma pequena raposa branca que estava atrás da Trwillow sentou-se de

frente à Matriarca.

- Ah, então realmente era você. Ainda existem coisas a serem resolvidas, mas estas são

mais profundas que as raízes de Yggdrasil e só o grande regente do tempo pode mostrar. Você

também deve ir agora. Vá...

Após a última fala aparentemente sem sentido de Tatsuy a raposa sumiu com os ventos.

Falar nos ventos é providencial nesse momento de nossa história, pois seus rumos levaram a

aprendiz do mestre-aprendiz a novos testes quando trouxeram novas más notícias.

-Então os elfos escuros se aliaram aos Luminus e também vão nos atacar? – disse Akemi,

espantada ao receber a notícia da sacerdotisa-dragão no salão principal do palacete.

-Não apenas isso. Os três clãs já estão vindo até nós com seus exércitos – disse Louise

“E o Raitun ainda não voltou...”

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Memórias de um aprendiz

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- Provavelmente, um ataque devastador e triplo. Não há tempo para montar uma defesa

forte. Não, não temos condições para montar uma defesa forte, para ser mais coerente. – disse

Kitsu, aparecendo do nada, como sempre

- Por que você está tão pessimista, raposa? Claro que podemos! E vamos... Não vamos?

- Não temos tempo, Akemi, eles já estão lá fora, e o dragão não tem poder para segurar a

barreira e atacar ao mesmo tempo. Nem os antigos mestres conseguiam. Os poucos sorudiuns

devem estar tremendo nesse momento. Montris será esmagada, garota. É apenas questão de

tempo.

A garota virou o focinho da raposa cabisbaixa, puxando-a pela pelagem, e encarando-a,

começou a gritar: - VIROU UM GATO MEDROSO DEPOIS DE VELHA?! ESTÁ FINAL-

MENTE CADUCANDO, RAPOSA RETARDADA? Seus mestres iriam desistir só por causa

da desvantagem? Não foi assim que eles sempre lutaram? Não foi por não querer mais mortes e

tristeza que a dona desse báculo e todos os outros se sacrificaram? Eu não vou ficar aqui espe-

rando e gemendo que nem um idiota que “as mortes de todos foram em vão”, entendeu, raposa

idosa? Ainda consegue me escutar?

- Você vai simplesmente morrer totalmente esmagada, Akemi. É isso que vai acontecer se você

sair. – disse a raposa após um suspiro.

- Talvez, mas vou mandar os soldados daqueles exércitos para o mundo dos mortos como

souvenir até que Raitun apareça. Se eu morrer antes, ele pode ficar com o resto. Estou indo, e

você vem junto – disse a garota e pulou nas costas da raposa.

Os olhos de raposa se fixaram no dragão, e ela disse, apontando seu báculo para Louise. –

E você, dragão, proteja essa barreira até Raitun voltar, ou eu farei questão de partir você em

pedacinhos antes dos nossos inimigos. Lembre-se de que essa barreira mágica foi construída

com as armas e as almas daqueles que você ama. O suor e o sangue deles está aqui, protegendo

este lugar. Proteja Montris até morrer, ou eu te matarei trinta e sete vezes.

Depois disso, virou sua montaria para a saída e saiu andando devagar. Akemi ainda disse as

seguintes palavras antes de sair do salão:

- Até porque, dragão, se todos eles já morreram protegendo esse lugar, você está devendo a sua

cota... e caso não pague devidamente, voltarei das profundezas das raízes de Yggdrasil para

cobrar a dívida.

Enquanto a garota montada na raposa branca se afastava, o dragão voltou a sua forma o-

riginal e finalmente respirou normalmente.

- Em questão de olhos assustadores, ela já superou o mestre.

Entretanto, as discussões não estavam acontecendo apenas do lado de dentro da barreira.

Lá fora, reuniram-se três exércitos. De um lado, os orcs de Kwarmore, liderados por um orc

alto, de pele escura e aparência horrenda. Do outro, os elfos escuros, liderados pelo elfo que

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Memórias de um aprendiz

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falou com Raitun na floresta escura. Entre eles, o exército dos Luminus, liderado pela Condessa

von Darkbeth. Unidos pelo mesmo propósito, os comandantes discutem entre si.

- O que vieram fazer aqui, raças inferiores? – perguntou o general orc, apontando para os

elfos.

- Assim como vocês, viemos esmagar o que sobrou de Montris. Onde está o demônio cin-

zento, Siegfried? – perguntou a condessa

- Um demônio apareceu no nosso acampamento e o nosso chefe o desafiou. Um demônio

de olhos prateados matou o nosso chefe e ficou com sua espada. Tentamos pará-lo, mas nenhum

de nós o acertou. O demônio de olhos prateados destruiu nosso acampamento e sumiu. Então eu,

Thorak’um, descendente de Keltur, fui escolhido por Kagutsuchi para liderar os clãs orcs.

- Keltur? O mesmo que arrancou a cabeça do rei elfo da antiga lenda? – perguntou o elfo

- Sim, o mesmo sangue poderoso de Keltur corre em mim.

- Então eu, Caelsiir, vingarei meu rei, meu ancestral e meu clã te mandando para o sub-

mundo! – disse o elfo, preparando seu arco

- Tente, e se conseguir prepare-se para a contravingança de meu clã, verme élfico! – ros-

nou o orc, preparando seu machado

-Tente, e verás a vingança dos remanescentes de meu clã por cauda da contravingança de

minha vingança!

- Tente, e que os seus vermes élficos remanescentes de seu clã se preparem para...

Então a condessa fez os dois se afastarem para trás com cotoveladas.

- Que tal os dois se calarem e tentarem me atacar para eu ter um motivo a mais para deca-

pitá-los com esse machado? – disse a condessa, e ambos se calaram. –Primeiro esmagamos

Montris, depois vocês continuam sua discussão retardada. Entenderam?

- Primeiro aquele maldito paladino, sujando o nome de meu ancestral. Agora, aquele de-

mônio de olhos prateados... Eu vou esmagar os insetos de Montris com o cabo de meu machado.

SAIAM DA TOCA, BARATAS MONTRISIANAS!

- Tsc, pelo menos gritar eles sabem. Por que tanta pressa pra morrer, orc?

- Já te vi antes, não? Quem é você, garota que tem o direito de montar na raposa branca?

– perguntou a condessa

- Digam vossos nomes, e eu direi o meu. – disse Akemi, descendo da raposa e ajoelhan-

do-se. A raposa sentou-se e colocou a pata sobre os ombros da garota que, após certo tempo,

levantou-se e virou de frente para os exércitos. – Você fica aí, eu ocupo eles.

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Memórias de um aprendiz

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Enquanto isso, os generais se apresentaram.

- Eu sou Caelsiir, descendente do grande rei élfico da lenda.

- Eu sou Thrak’um, descendente de Keltur (que matou o rei élfico)

- Eu sou Elissa von Darkbeth, condessa e general do clã dos Luminus

- Eu sou Arashiko Akemi, – disse a garota de olhos fechados – primeira e única aprendiz

de Omni Raitun, o 37º Lupuoskirus, carrasco de Rag-Finnaros – abriu seus olhos de raposa – e

general suplente do exército de Montris - apresentando-se assim e liberando uma poderosa aura

que parecia luz negra e luz branca ao mesmo tempo. Aquilo espantou os generais, sobretudo

depois da resposta de Akemi.

- Então, onde está seu exército, Akemi? – Perguntou a condessa

- Eu sou o exército, condessa. Eu ,a raposa e o dragão. Podemos começar? –respondeu

Akemi, encarando a condessa com um pequeno sorriso.

“Que inseto audacioso”, pensou o orc, espantado com a coragem/audácia de Akemi. O el-

fo estava espantado com a aura familiarmente terrível que a garota possuía, e mais espantada era

a condessa, que pensava coisas como “o que é essa garota, que possui essa aura, montra a raposa

branca do aprendiz e usa o báculo da arquiduquesa? Por que aqueles olhos tão poderosos?” e

muitas outras. Porém ela ainda não era a mais espantada. Vocês podem pensar que Akemi temia

os três exércitos naquele momento, mas o que a espantou de verdade foi perceber que entre os

dois exércitos estava Raitun, de pé, olhando para ela, e parecia que apenas ela podia vê-lo.

Akemi arregalou os olhos e observou bem, com o corpo paralisado e a mente cheia de

pensamentos. Era o mesmo Raitun de antes, e ao mesmo tempo era um Raitun com feições

completamente diferentes, mas Akemi não conseguia descrever como. Parecia maior? Mais

sério? Mais poderoso? Não soube dizer. Continuou vasculhando uma resposta com olhos, mas

achou apenas seu mestre. A única diferença realmente notável e descritível era que na frente de

Raitun estava fincada no chão uma espada tão grande ou maior que uma zanbatou, mas muito

bonita e trabalhada.

- Mes-! – mas Akemi calou-se. Seu mestre fez sinal de silêncio. Após seguir a ordem, sua

boca seguiu a de seu mestre, e ambos disseram juntos:

- Omni Raiken, Ancient Summoning: Quartetto Amandita!

Enquanto pronunciavam o encantamento, Akemi e Raitun seguravam suas armas com as

duas mãos. Sob seus pés, o círculo de magia, símbolos e inscrições. Enquanto Akemi liberava

uma aura assustadoramente poderosa mantendo-se na mesma posição, Raitun, sem sinal de pre-

sença nem ser visto por mais ninguém apontou para sua aprendiz. Ambos disseram ao mesmo

tempo:

- O chão é o que sustenta as florestas e suas criaturas, junto com as vidas do mundo, Tierra.

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Em frente a espada de Raitun a terra levantou-se lentamente, agrupando-se e tomando

forma. Tentaram lançar flechas em Akemi nesse momento (não viam nem ouviam Raitun, ape-

nas o círculo de magia e a terra), mas o ataque foi simplesmente neutralizado e pulverizado no

meio do caminho. A terra que levantou-se tornou-se uma mulher igual à Akemi, usando um

vestido marrom levemente composto e adornado de pedras preciosas. Algumas dessas pedras

giravam em volta de seus pulsos e tornozelos. Raitun apontou a espada para o sul (que era o

norte), em direção ao templo da neve, e disse com Akemi:

- O poder de uma gota de vida é transformar-se em um oceano de emoções, Acqua.

Dito isso, apareceram correntes de água, que tomaram a forma de uma segunda mulher.

Agora eram duas mulheres de feições idênticas às da primeira. A diferença estava em seus olhos

mais azulados e um vestido de gola bufante, também azulado. Em suas mãos, bolas de água.

Nos pulsos e tornozelos, pequenos dragões de água serpenteando. A condessa tentou ataca-la

com o raio de seu escudo, mas o ataque também parou misteriosamente no meio do caminho.

Nenhum montrisiano havia se mexido para isso.

Raitun virou a lâmina para o leste, templo de Louise. Junto de Akemi, disse:

- A chama da vida nunca se extinguirá enquanto houver contato entre dois corações, Fue-

go.

Dessa vez, apareceu uma chama azul, moldando-se no ar. A terceira mulher usava roupas

que faziam-na parecer uma dançarina flamenca, e se não fosse pelos cabelos, que pareciam uma

tocha viva e pulseiras que lembravam anéis de fogo, seria um disfarce convincente.

A partir daquele momento os três exércitos desistiram de tentar interromper a magia pro-

funda que estava sendo conjurada, e resumiram-se a assistir.

Após virar-se e apontar para o oeste, Raitun disse junto de sua aprendiz as seguintes pala-

vras:

- O vento é a prova viva da vida do sopro que move os homens, Aeris.

A última das Amanditas apareceu flutuando. Após as palavras de Raitun, os ventos sopra-

ram com força e viraram uma mulher/garota igual às outras, porém diferente: além de flutuar,

usava um vestido curto e colado ao corpo. Os cabelos, sedosos como nuvens, pareciam estar a

ponto de se desmanchar a qualquer instante.

A magia de invocação pareceu terminar ali, já eu os círculos sumiram. Akemi e os exércitos

passaram algum instante de eternidade admirando as quatro criaturas elementares. Enquanto

isso, as quatro se aproximaram de Raitun, e caminharam até a garota, que perguntou para si,

porém em tom audível “O que exatamente são vocês”. Raitun e as Amanditas sorriram doce-

mente com a pergunta da garota, e talvez um dos motivos tenha sido o fato da garota não notar a

notável semelhança de suas feições (as das Amanditas) com a da própria garota.

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- Nós somos maquiagem e proteção de um importante rosto de luz, Akemi, para que nesse

rosto haja um sorriso vindo do fundo de uma alma feliz. Para que esse sorriso brilhe eternamen-

te nesse rosto e ilumine as coisas cinzas desse mundo. – disseram as Amanditas e Raitun ao

mesmo tempo. Raitun ficou olhando a garota. Olhos de raposa com olhos de raposa. As amandi-

tas? Se desfizeram, incorporando-se à aura de Akemi. A garota continuou olhando Raitun e

pareceu não entender ou não perceber o que se passava. Raitun, ainda invisível para os outros

fechou os olhos e ficou de costas para sua aprendiz.

- Mas... por que?

- Você entenderá em breve. Voltei na intensidade de antes, de antes de tudo. Intenso co-

mo a fúria da tempestade. Intenso como A tempestade. Eu sou a tempestade, no final das contas.

Agora eu posso te proteger de qualquer coisa, mas isso te deixaria com medo de mim. Melhor

não. Bem, que tal um meio termo então? Um pouco de intensidade da tempestade vai te fazer

chorar um pouquin- Raitun interrompeu a fala e abriu os olhos. O clã dos Luminus havia invo-

cado uma quimera (maior e mais horrendo que os do templo). Raitun esperou até a criatura cor-

rer para eles e aproximar-se o suficiente, com a espada no ombro. A quimera parou em frente a

Raitun e caiu partida em dois pedaços. Novamente acharam que era obra de Akemi. Akemi

sorriu, como se finalmente estivesse compreendendo, ou relembrando algo há muito tempo es-

quecido. Andou lentamente até metade do caminho que a separava dos exércitos e se colocou

em posição de ataque.

- Vamos começar, condessa? – disse Akemi. A condessa respondeu com uma bola de fo-

go negra, que Akemi defendeu com o báculo. Essa era a ordem de ataque, e assim os exércitos

começaram a avançar. Imediatamente após isso aconteceram três fatos interessantes e totalmen-

te inesperados:

1- Uma mulher de preto apareceu repentinamente e tentou atacar Akemi com uma gada-

nha.

2- Um homem de branco com uma espada gigantesca defendeu Akemi. Era Raitun.

3- Os exércitos que estavam avançando para atacar Akemi e Montris, simplesmente para-

ram no tempo. Não apenas os exércitos, o tempo congelou. Tudo em Montris, menos Akemi e

Raitun.

- Você precisa correr. Rápido. – disse Raitun.

A garota entendia cada vez menos o que estava acontecendo, mas algo disse que ela deve-

ria aceitar o conselho e começar a correr. Talvez os espectros bizarros voando em sua direção

reforçassem a mera sugestão de Raitun. Ela tentou criar uma barreira para se defender. Por ten-

são ou outro motivo qualquer não funcionou, e mais uma vez ela foi salva, dessa vez por algu-

mas flechas. Um dragão cinza-azulado com marcas brancas a protegeu com o próprio corpo,

enrolando-a como as serpentes fazem com as presas. Algo nela dizia que o dragão era algo im-

portante e não hostil, estava ali para ajuda-la.

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- Suba, rápido! – disse o dragão percebendo uma nova investida dos se formando.

A garota obedeceu os comandos e montou no dragão, que saiu serpenteando no ar e voou

para dentro da floresta. A garota em cima do dragão fugia pela sua vida, sendo perseguida por

entre as árvores por espectros e sombras de todos os tipos que as acompanhavam de perto. Para

ela, uma luz recém avistada era a única salvação. Enquanto a garota não chega ao seu destino,

proponho uma nova história, que tal?

***

Estava sentado na frente da fogueira quando isso ocorreu-me. Assim como estou agora

quando minha mente recuperou essa história. Assim como sempre estive, eu que fui muitas coi-

sas e sou um amaldiçoado pelo regente. Existiu uma "lendária" criatura quimérica que foi divi-

dida em nove partes, em um outro mundo paralelo ao que os humanos comuns vivem, chamado

Montris. Um dia, nove partes reuniram-se numa..."confraternização". A história começa com

um mero garoto. Ele queria um pouco de tudo, e para isso criou um universo e um deus, que

criou dois, que criou três. Sete deuses criaram uma quimera de nove partes. Uma quimera de

nove partes era incompleta, porem muito poderosa. Com medo, os deuses selaram seus poderes

para prevenir revoltas e ter em mãos uma arma para apaziguar a esfera de Montris, o mundo ao

qual servia. Nove selos, nove partes, uma quimera, um destino, um garoto. Um mero garoto

virou um aprendiz, passou por Montris, aprendeu sobre magia e luta com armas, ajudou Montris

a se livrar de uma força obscura. Chamemos ele de aprendiz. Ele aparecerá em nossa história em

3..2...

"Tudo é escuro a minha volta, menos essas chamas azuis da minha fogueira. E dizem que

me veem de olhos vermelhos. Dizem. Hoje, porém, temos algo a mais se destacando no escuro.

Um garoto careca. Vestes brancas, duas katanas. Reza a lenda que ele foi importante em um

lugar chamado Montris.

- Olá, Raitun. Me pergunto o que fazes por aqui.

- Olá... ser encapuzado, me pergunto quem tu és e por que sabes meu nome.

- Me pergunto também o que viestes fazer aqui. O que, provavelmente, saberei em breve.

Perdão, você perguntou.... quem sou eu, correto? E se eu disser que em certo nível eu sou você,

o que você me responderá?"

Se me recordo bem... alguns instantes de silêncio mórbido foram a primeira resposta. Foi

um silêncio tão denso que poderia ser cortado com aquelas katanas de lâmina negra que o garoto

filhote de raposa portava. A segunda resposta foi inteligente e digna de um bom aprendiz bem

treinado

"- Eu poderia pensar em muitas coisas, e responder duas: considerando sua frase como

verdadeira, ou irritei os deuses o suficiente para ser amaldiçoado ou fui agraciado com o privi-

légio de ver a mim mesmo, em outro nível.

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- E em certo nível, as duas respostas podem ser consideradas como corretas - diz uma ter-

ceira voz, conhecida para as duas primeiras.

- Ah, então você também está aqui... disse o encapuzado com voz de ancião.

- Todos estarão, em breve. Respondeu a terceira voz. E calou-se.

- "Nove caudas da raposa demonstram sua sabedoria, quimera partida em nove, foi essa a

sua sina". Isso é...nostálgico.

- O que isso quer dizer, ancião?

- Talvez você descubra...em breve."

Continuamos na mesma história, mas em outro lugar. Porém cada vez mais perto do nos-

so local inicial e atual. Temos uma garota, montada em um dragão. Um dragão voador com

corpo serpenteante, para ser mais exato. Ele voa como vento para salvar a garota de algo. E eles

estão vendo uma luz no meio da floresta. Uma luz azul. Está ficando perto, perto, cada vez mais

perto. Quase lá...

" - Oh, então ela também está vindo? Voe, e salve sua vida! Faça seu dragão correr mais

que o vento, se puder! Venha! Venha! Implore para sobreviver, e talvez te ajudemos! - diz uma

quarta voz, em tom debochante

- Cale-se, criatura insensível - responde o ancião, e se levanta pondo a mão dentro do ca-

puz - e..seja bem vinda novamente, garota.

- Eu...eu... por favor, eles...estão vindo. Corram, eles estão atrás de mim.

- O que exatamente está atrás de você? - pergunta o garoto, enquanto põe as mãos nervo-

samente nas katanas

- Não sei dizer... não quis olhar para trás. Medo, senti medo, como se a felicidade nunca

tivesse existido, senti as trevas, como se nunca mais houvesse luz, senti vultos passando e debo-

chando, como se todos os vivos tivessem se esvaído em éter, e... vi uma pequena luz, para onde

corri. São... talvez sejam discípulos da deusa da morte, da... da... - a garota estava tremendo

enquanto falava.

Enquanto ela falava, o ancião puxou um livro, abriu. Recitou algo em alguma língua, e uma

espécie de redoma cobriu o lugar. Abaixo deles, um círculo de magia de Omniraiken. E nova-

mente ele falou com sua voz velha e meio rouca

- Mizushi, traidora de seus pais, governante do submundo. A deusa da morte.

- Morte, eu a sou. - irrompe uma nova voz, sombria - Três gadanhas malditas foram cria-

das, três amaldiçoados foram escolhidos. Ceifar almas é o trabalho de três ceifadores indignos.

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Aparece o dono da voz. Muito alto, muito sombrio, carregando uma enorme gadanha.

Nada se via, tudo estava encoberto por vestes negras.

- Então...temos agora um guerreiro com uma foice. - pensa o garoto, alto de mais.

- Uma gadanha. Confundir ambos é confudir duendes e gnomos, aprendiz. Gadanhas fi-

cam ofendidas, e esta pode realmente matar.

- Então... quem são as outras vozes?"

Do breu, sairam mais duas silhuetas. Uma era um homem, magro e de sorriso afetado, de

roupas surradas, que carrega algo parecido com uma faca em cada mão presa por uma corrente.

Outra era uma raposa. Grande como um cavalo, de pelo branco, fogo azul nas patas e na ponta

de suas nove caudas.

"- Tente entender, se conseguir. Heh - diz o homem que não tira o sorriso debochado do

rosto

- Você entenderá, garoto. - diz a raposa

- Eu conheço você, raposa. De algum lugar...

- A todos nós... de certa forma. - completa o ancião

- E...esse livro - apontou o livro que o ancião segurava- Eu tenho um igual.

- E nós também temos - disseram em conjunto quatro vozes"

Uma das vozes soou bastante feminina, vinha de alguém que vestia um kimono e maqui-

agem de teatro kabuki, imitando uma raposa. Outro desses, uma simples roupa preta, e tinha o

rosto muito pálido, e a expressão de alguém que sofria por carregar em si toda a tristeza do

mundo. O terceiro vestia algo como uma camisa de força, mantinha os olhos fechados e um

pontudo pêndulo estendido no braço. O último deles possuia uma aparencia muito esbelta e

cabelos muito longos e prateados.

"- E por que todos vocês também tem o livro? - perguntou o aprendiz.

- Por que somos você, em certo nível.

- Os deuses nos amaldiçoaram, separando-nos em nove partes.

- E talvez agora queiram nos juntar.

- Deuses são esquisitos, por que será?

- Porém, ainda há um porém

- Somos nove

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Memórias de um aprendiz

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- Formamos um

- Porém, mesmo com a junção dos nove, somos uma quimera incompleta.

- Então... vocês... nove são... um só? Uma quimera... isso é...muito confuso. - interrompe

a garota.

- A confusão acabará, em breve. - disse o garoto - Espero... - completou.

- Graças a você, garota. É o que diremos. - diz a raposa, mirando a garota.

- Você, garota, é o futuro que protegemos.

- Você, garota, é a esperança que nós temos.

- Você, garota, é o que o nós, três gadanhas, tememos.

- Você, garota, é a única alegria que temos.

- Você, garota, é o recomeço para o qual vivemos.

- Você, garota, é o ponto no qual nos mantemos.

- Você, garota, é a luz. Para que nos iluminemos.

E completou o garoto.

- Parece que graças a ti e para você, garota, não foi pouco o que aprendemos.

- Nos separarão novamente. Porém um dia voltaremos a ser um, e nos completaremos.

- Quando formos novamente uma vez uma quimera completa...

- Este conto de vingança tomará forma correta."

Assim despertou a quimera. Sua vingança está a ponto de começar. Antes disso, notícias

da garota: ela chegou sã e salva até a luz. Talvez adiantada o suficiente para uma última história.

Isso é informação confidencial (ou seja, algo que em breve será revelado). Que os quatro ventos

protejam a última história de vingança. Uma história sobre ninguém procurando um pouco de

tudo, sob os cuidados da chuva e da tempestade.