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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE O ENSINO DA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NO BRASIL FATIMA DE ARAÚJO MELLO CASTRO ORIENTADOR Prof. Antônio Fernando Vieira Ney Rio de Janeiro Abr./2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O ENSINO DA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NO BRASIL

FATIMA DE ARAÚJO MELLO CASTRO

ORIENTADOR

Prof. Antônio Fernando Vieira Ney

Rio de Janeiro

Abr./2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O ENSINO DA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NO BRASIL

Trabalho monográfico apresentado ao conjunto

Universitário Candido Mendes como condições

prévia para a conclusão do curso de Pós –

Graduação “Lato Sensu” em Docência do Ensino

Médio e Fundamental.

Rio de Janeiro

Abr./2002

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III

Às amigas, Rosângela Maria e Carmem Lúcia, que

muito contribuirão para que este trabalho se tornasse

realidade, meus agradecimentos.

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IV

À minha irmã, Josélia Castro e meus pais, dedico

essa monografia, pelo apoio e incentivo na busca de

mais uma conquista.

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V

Oração do Artista Plástico

Senhor! Tu que és o maior dos artistas,

Fonte das mais belas inspirações,

Abençoa os meus talentos e minhas obras.

Maravilhoso é o Dom que me deste na louvada

Missão de servir-te com alegria, e de exercer o

Meu trabalho com amor e dedicação.

Por isso, agradeço-te

Por permaneceres sempre comigo.

Mesmo incompreendido ou diante de desafios,

Quero sustentar em minha vocação

A energia de vencer e realizar os meus projetos

No imenso cenário da vida.

Dá-me equilíbrio entre a razão e a emoção,

Humildade e sabedoria para me aperfeiçoar.

Inspira-me, ó mestre, à criação do novo e do belo.

Protege, também, todos os artistas

Em suas carreiras e gêneros.

Faz com que minhas obras contribuam

Para a construção do teu reino

E que eu prospere, seguindo teu desígnios,

Pelos caminhos gloriosos da arte.

Amem!

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VI

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................

06

CAPÍTULO I – VISÃO HISTÓRICA 1.1 Preconceitos Contra o Ensino da Arte .................................................................... 09 1.2 Início do século XX – Influência Modernista..........................................................1.3 Influências Liberalistas ..........................................................................................

13

1.4 Influencias Positivistas ........................................................................................... 1.5 Articulações ( liberalismo X Positivismo ) ...........................................................

18 19

CAPÍTULO II – SITUAÇÃO CONCEITUAL DO ENSINO DA ARTE 2.1 Educação Artística e Sua Finalidade....................................................................... 23 2.2 Sensibilização ao Meio Ambiente (Qualidade de Vida X Espaço Vital) .............. 24 2.3 Desenvolvimento da Personalidade ........................................................................ 26 2.4 Criatividade Estética ............................................................................................... 27 CAPÍTULO III – EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E O MERCADO DE TRABALHO 3.1 Mercado de Trabalho .............................................................................................. 28 3.2 Professor de Educação Artística (Arte Educador X Arte Educação) ..................... 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 34

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INTRODUÇÃO

Quando olho à minha volta, a todo momento, constato que vivemos rodeado de uma

grande quantidade de objetos, seja em casa, no trabalho, na sala de aula, em todos os lugares.

Se examinarmos estes objetos, perceberemos que foram idealizados e confeccionados com

uma finalidade e, para eles terem uma função perfeita, foi necessário que alguém parasse e

estudasse uma forma de melhor adequá-lo à suas necessidades.

Ao longo da história, o homem sempre produziu ferramentas para facilitar seu trabalho

ou para ajudá-lo a superar suas limitações físicas. Uma vara de anzol, não deixa de ser o

prolongamento dos braços de um pescador, assim como um guindaste, pode levantar um peso

que não poderia ser levantado apenas com a forca muscular.

O homem, um ser que facilmente poderia ser vencido pêlos elementos da natureza,

produz artefatos, que possibilitam dominar e transformar o meio em que vive.

A atitude de criar e aperfeiçoar , torna possível nossa compreensão do processo

civilizatório pelo qual o homem passa desde que surgiu sobre a terra.

Os antropólogos culturais são capazes de reconstruir a organização social de um

grupo humano a partir dos objetos que foram e se fizeram preservar.

Ao observarmos potes, urnas mortuárias e instrumentos rudimentares para a

tecelagem, a caça ou pesca, podemos saber como o homem da antigüidade vivia seu dia-a-

dia. Suas descobertas estavam sempre ligadas a funcionalidade dos objetos criados.

Muitos dos objetos expostos em museus ou que fazem parte da nossa vida diária têm

utilidade evidente: basta vê-los para sabermos sua utilidade; outros, por serem mais complexo

exigem que alguém mais informado nos explique seu funcionamento e sua finalidade.

Contudo, o ser humano também produz coisas que, apesar de não terem uma utilidade, sempre

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estão presente em nossas vidas. É a respeito delas que nos perguntamos por que e para que

foram idealizadas.

A resposta a essa pergunta, não está no final desta pesquisa, mas sim nos diferentes

momentos em que percebemos o homem, em sua trajetória, criando objetos não apenas para

se servir utilitáriamente, mas para expressar seus sentimentos diante da vida e, mais ainda,

para expressar sua visão do momento histórico em que vive. São essas criações que fazem as

obras de artes, e ao mesmo tempo narram, talvez de forma mais fiel, a história dos homens ao

longo dos séculos. Segundo Ruskin, crítico de arte inglês, “as grandes nações escrevem suas

bibliografias em três volumes: o livro de tuas ações, o livro de suas palavras e o livro de suas

artes”. E acrescenta: nenhum destes três livros podem ser compreendido sem que se tenham

lido os outros dois, mas desses três, o único que se pode confiar é o último”.

Dessa forma, tentarei mostrar que, as obras de arte não devem ser encaradas como

algo extraordinário dentro da cultura humana. Ao contrário, devem ser vistas como

profundamente integradas na cultura de um povo, já que retratam elementos do meio natural,

expressam os sentimentos religiosos ou ainda retratam situações sociais.

A arte não é, como vemos, algo isolado das demais atividades humanas, está presente

em todos os momentos

Com essa pesquisa quero mostrar também que a arte não é um estudo somente para

intelectuais ou para pessoas que vivem fora de uma realidade. A arte existe e deve ser

aperfeiçoada, democratizada para os diferentes níveis de nossa sociedade. Criando

possibilidades de ser um veículo de crescimento e de novas formas de profissionalização e

sobrevivência no mercado de trabalho formal e informal.

Dessa forma, este trabalho se propõe a refletir sobre as complexas relações culturais,

as interferências econômicas, sociais, artísticas e educacionais que influenciaram a

metodologia do ensino da arte, na escola de nível médio e fundamental, no Brasil, na época

compreendida entre a chegada da missão Francesa até os dias atuais.

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CAPÍTITULO I

VISÃO HISTÓRICA

Durante os anos de 1974 e 1975 em aulas de Educação Artística em escolas públicas

de ensino de 1º grau, na época, foi constatado que ainda persistiam no ensino da arte, métodos

e conteúdos que se originaram no século XIX e que se afirmaram nos inícios do século XX.

A década de 70, foi o período da História da Educação Brasileira em que o ensino da Arte se

apresentou de forma mais extensa e profunda.

Um dos pressupostos difundidos na época, a idéia identificação do ensino da Arte

com o ensino do Desenho Geométrico, compatível com as concepções liberais e positivas

dominantes naquele período, ainda encontra eco cem anos depois em nossas salas de aula e na

maioria dos compêndios de Educação Artística, editados mesmo depois da Reforma

Educacional de 1971.

A organização do ensino artístico de grau superior antecedeu de muitos anos a sua

organização a nível médio e fundamental, refletindo uma tendência geral da Educação

Brasileira, envolvida desde o início do século XIX na preocupação prioritária com o ensino

superior, antes mesmo de ter organizado ensino médio e fundamental.

Procurava-se justificar tal preocupação argumentando que o ensino superior era

fonte de formação e renovação do sistema de ensino em geral como um todo. Na realidade,

entretanto, a importância prioritária dada ao ensino superior teve como causas principais,

durante o reinado e o império, a necessidade de formar uma elite que defendesse a colônia dos

invasores e que movimentasse culturalmente a corte, enquanto que durante os primeiros anos

da República, foi a necessidade de uma elite que governasse o país, que norteou o pensamento

educacional brasileiro.

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Não é difícil, portanto, entender porque as primeiras instituições de ensino superior

foram as Escolas Militares, os cursos médicos e a Academia Imperial de Belas Artes1 durante

o Reinado. Com a preparação para a República, as faculdades de Direito passaram a ser

consideradas as de maior importância no cenário educacional e foi onde se formou a elite

dirigente do regime republicano.

1.1 Preconceitos Contra o Ensino da Arte.

Com a República foi reiterado o preconceito contra o ensino da Arte2, simbolizado

pela Academia de Belas Artes, pois esta estivera a serviço do adorno do Reinado e do

Império, e com a essência do espírito neoclássico de que estava impregnada, servira ao novo

poder.

Tal preconceito veio acrescentar-se aos inúmeros contra o ensino da Arte

sedimentados durante todo o século XIX, os quais se originaram da criação da Academia

Imperial de Belas Artes, ou de elementos já assimilados pela nossa cultura, mas que a sua

atuação da Academia fez vir à tona..

Com a queda de Napoleão, artistas e artificies franceses foram contatados para organizar o

ensino das Belas - Artes no Brasil e uma pinacoteca.. Lebreton reuniu o grupo, que depois de

sucessivas mudanças de denominação fundaram, após a proclamação da República a Escola

de Belas Artes.

Entretanto, Bonaparte nesta época, no Brasil, era a figura mais agredida pelas

publicações da recém criada Imprensa Régia. Esta oposição política foi uma das influências

na configuração do preconceito contra o ensino de Artes no Brasil. Acrescenta-se a ele o

despeito dos portugueses, que não tinham ainda uma Academia de Artes de tão alto nível

quanto a projetada por Lebreton para o Brasil.

Também um preconceito de ordem estética envolveu o início do ensino artístico no

Brasil. Todos os membros da Missão Francesa eram de orientação neoclássica, a qual marcou

seus ensinamentos e suas atividades artística na Corte.. Nossa tradição na época era de

1 Criada pelo Decreto - Lei datado de 1816, e que só começaria a funcionar em 1826. 2 “Os jornais da época comentam que o Império protegeu as Artes e a República relegou - a ao esquecimento”. In: Roberto Pontual. Dicionário das artes plásticas no Brasil, Civilização, 1969, s. p .

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barroco - rococó. ”De repente o calor do emocionalismo barroco era assim substituído pela

frieza do intelectualismo do neoclássico”3.

As novas manifestações neoclássicas, implantadas como que “por decreto”, iriam encontrar

eco apenas na pequena burguesia, camada intermediária entre a classe dominante e popular, e

que via na aliança com um grupo de artistas da importância dos franceses, “operando por

força do aparelho oficial de transmissão sistemática da cultura”4, uma forma de ascensão, de

classificação5.

Quanto aos nossos artistas, todos de origem popular, mestiços em sua maioria,

apresentavam uma arte homogênea do barroco de importação, jesuítico, eram vistos pelas

camadas superiores como simples artesão.

O neoclássico, que na França era arte da burguesia antiaristocrata foi no Brasil arte

da burguesia a serviço dos ideais da aristocracia, a serviço do sistema monárquico.

Entretanto, mesmo neste sentido a repercussão da Academia na comunidade não foi

muito extensiva, os discípulos eram pouco numerosos e recrutados com dificuldade. Este

processo de interrupção da tradição da arte colonial, que já era uma arte brasileira e popular,

acentuou o afastamento entre a massa e a arte, concorrendo para isto também uma variante de

ordem psicossocial, ou seja, o fato de que a “emotividade e o sensualismo do mestiço

brasileiro encontrava no barroco formas mais próprias de expressão, suscetíveis de

autenticidade.

Afastando-se a arte do contato popular, reservando-a para os privilegiados e

talentosos, concorria-se, assim, para alimentar um dos preconceitos contra a arte até hoje

acentuada em nossa sociedade, a idéia de arte como atividade supérflua, um acessório da

cultura.

Este aspecto, está implícito no Decreto de 1816, no qual D. João cria o ensino

artístico no Brasil, determinado a fundação no Rio de Janeiro da Escola de Ciência, Artes e

Ofícios para que nela se

“promova e difunda a instrução e conhecimento indispensáveis aos homens

destinados não só aos empregos públicos de administração do Estado, mas também ao

progresso da agricultura, mineralogia, indústria e comércio de que resulta a subsistência,

comodidade e civilização dos povos, mormente neste continente, cuja a extensão não tendo 3 Carlos Cavalcanti. “O predomínio do academismo neoclássico. In Roberto Pontual. Dic. De Artes Plástica do Brasil. Rio de janeiro, Civilização,1969, s.p. 4 Nelson Werneck Sodré: Síntese da história da cultura brasileira, Rio de Janeiro, pela Civilização Brasileira, em 1972, p.34 5 Id. P. 24. “Eles encontraram na atividade intelectual tanto de caráter político como de estético condições de ascensão social de classificação que lhes são negadas em outros campos”.

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ainda o devido e correspondente número de braços indispensáveis ao aproveitamento do

terreno, precisa de grandes socorros da estética para aproveitar os produtos, cujo o valor e

preciosidade podem vir a formar do Brasil o mais rico e opulento dos reinos conhecidos.”

O texto legal, como podemos ver, caracteriza a Arte como um acessório, um

instrumento para a modernização de outros setores e não como uma atividade com

importância própria.

Mesmo como acessório da cultura e instrumento de mobilidade da classificação social,

as atividades de caráter estético lidadas às artes visuais tiveram pouco prestígio em

comparação com a larga e profunda aceitação das atividades estéticas ligadas a literatura6.

O artista categoria institucionalizada em nossa sociedade com a vinda da Missão

Francesa, não desfrutava a mesma importância social atribuída ao escritor, ao poeta.

O grau de valorização das diferentes categorias profissionais dependia dos padrões

estabelecidos pela classe dominante, que refletindo a influência da educação jesuítica, a qual

moldou o espírito nacional, colocava no ápice de sua escala de valores as atividades de

ordem literária, demonstrando acentuado preconceito contra as atividades manuais, com as

quais Artes Plásticas se identificavam pela natureza de seus instrumentos.

Enquanto as atividades manuais eram rejeitadas nas escolas dos homens livres e

exploradas nos ofícios manuais e mecânicos, por trabalhadores escravos, vindo da África, em

função de consumo de toda uma elite, dos organizadores das missões indígenas e do

treinamento dos escravos e trabalhos manufaturados por ele, razão esta, que acredito ser, raiz

mais profunda do preconceito, já que , era hábito da corte portuguesa viver de escravos.

Embora ausentes das atividades educativas, o modelo implantado pêlos jesuítas,

expulsos do Brasil em 1759, por razões político - administrativa, ainda ecoavam e orientavam

nossa cultura quando aqui chegou D. João VI, em 1808, e oito anos depois, quando chegou a

Missão Francesa, havendo mesmo quem afirme que suas influências ainda ressoam entre nós.

Expulsá-los não significou, portanto, expulsar o país de suas idéias, que continuaram a

germinar em virtude da ausência de idéias novas que substituíssem aquelas veiculadas pela

ação missionária e colonizado no Brasil.

A tradição enraizada no sistema de ensino colonial humanístico e abstrato foi tão

persistente que as escolas técnicas fundadas no tempo de D. João VI não determinaram

6 N.W. SODRÉ. Op. cit., p. 23.

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quaisquer transformações sensíveis desta mentalidade, reorientando – a para as ciências e as

suas aplicações às atividades técnicas e industriais7.

A escola, que pretendia corroborar na empresa lançada por D. João VI de estabelecer

as bases de uma política economicamente cultural mais pragmática, transformou-se apenas no

veículo de interesse de outra natureza: arranjar uma nobreza da terra, que, realmente tivesse as

condições econômicas necessárias e não apenas aparente.

Faltava alicerce de civilização e poder econômico. Era ilógico querer ensinar Arte

num país onde não existia os dois fatores principais para uma restruturação.

Restou à Arte apenas o caminho estreito e pouco reconhecido de se afirmar como

símbolo de distinção e refinamento, principalmente quando D. João VI. Transpôs para o

Brasil o hábito das cortes européias de incluir as Artes na educação dos príncipes.

Outras iniciativas foram tomadas, novas Reformas, novos decretos, entretanto não

foram feitas modificações quanto a natureza dos métodos; permaneceram superados com

linguagem sofisticada, mantendo o povo afastado, tornando a inclusão da formação do artífice

junto ao artista uma espécie de concessão da elite a classe obreira, clima este que, por um

processo inverso de excessiva simplificação curricular, envolveu também os cursos noturnos,

criados para a formação de artesão, e que se simplificaram excessivamente e reduzindo- se a

um mero treinamento profissional.

Somente com a abolição da escravatura iniciou-se o processo de respeitabilidade do

trabalho manual. Isto coincidiu com a primeira fase de nossa revolução industrial, que

consistiu na substituição do trabalho físico pelo o trabalho mecânico, invertendo os pólos pré -

conceituais.

As Belas Artes que até o momento de eclosão das lutas contra a escravatura8, havia

desfrutado um pouco de consideração social por serem vistas como um passa tempo dos

ociosos, um requinte reservado as classes sociais mais ricas, continuaram a ser vistas sob este

mesmo ângulo, mas por isso mesmo desprezada como inutilidade, ao passo que as artes

aplicadas à indústria e ligadas à técnica começaram a ser valorizadas como meio de redenção

econômica do país e da classe obreira, que engrossara suas fileiras com os recém - libertos.

7 F. Azevedo, op. cit., t.2, p.55 8 “Somente em 1865 a abolição começou a figurar no número das reformas legislativas possíveis. Sua marcha foi desde então rápida”. Cf. OLIVEIRA LIMA. Formação histórica da nacionalidade brasileira. Rio de Janeiro, Cia. Edit. Leitura, 1944, p.252.

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Assim, é sob o signo da argumentação para “demonstrar e afirmar” a importância da Arte, do

Desenho com linguagem Técnica e da Ciência, no ensino médio e fundamental que se inicia

o século XX..

1.2 Início do Século XX – Influências Modernistas.

Nos inícios do século XX, pelo menos até o final da Primeira Guerra Mundial, houve

um prolongamento das idéias filosóficas, políticas, pedagógicas e estéticas que impulsionaram

os movimento republicano de 1889, refletindo-se sobre os objetivos do ensino de artes nas

escolas. É bem verdade que, neste período, podemos constatar já uma tímida preparação para

as idéias modernistas que eclodiu em 1922, na Semana da Arte moderna, data de grande

importância para nossa cultura. Esta preparação se resumiria quase tão somente à chegada ao

Brasil do pintor expressionista Lasar Segall, em 1913, ao artigo de Osvald de Andrade, ^Em

prol de uma Arte Nacional”, publicado em1917; e à exposição da artista brasileira

expressionista Anita Malfatti, também em 1917.

Entretanto estes acontecimentos pré - modernista, movimento que marcou uma época,

uma sociedade, não definiu nem influenciou a sistemática do ensino de Artes na escola

fundamental, média e superior.

O ensino superior, que tinha como molde a Escola de Belas - Artes, continuou em

“moldes arcaicos disfarçados em reformas, as quais eram apenas simples mudanças de

rótulos”9.

A metodologia da Escola de Belas – Artes influenciou grandemente o ensino da arte

a nível fundamental, e principalmente, médio, durante os vinte dois primeiros anos de nosso

século; mas outras influencias dominaram durante este período: os processos resultantes do

impacto do encontro efetivo entre as artes e a indústria e o processo de cientifização da Arte.

Ambos tiveram suas raízes no século XIX, comprovando a afirmação anterior de que

estas primeiras décadas do século XX correspondem `a realização dos ideais do anterior.

A preocupação central a respeito do ensino da Arte, neste momento, era a sua

implantação nas escolas e sua obrigatoriedade: não só os argumentos reivindicatórios de um

9 Ver GONZAGA DUQUE. Contemporâneos. Rio, Tip. Benedicto de Souza, 1929, p. 221-223.

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lugar para a Arte nos currículos escolares como também os modelos de implantação estavam

baseados principalmente nas idéias de Rui Barbosa, expressas em 1882 e 188310 nos seus

projetos de reforma do ensino primário e secundário, e no ideário positivista extensamente

divulgado no país. O século XX não deixa de ser um prolongamento ideológico do século

XIX, pois estas idéias que levaram a República continuaram ativas no sentido de assegurá-la,

institucionalizá-la.

É preciso esclarecer que o ensino de Arte nas escolas primarias e secundária, se

resumia ao ensino do desenho.

“ (...) O Desenho é um complemento da escrita: da caligrafia e da ortografia.

É o meio de comunicar a idéia de uma figura do mesmo modo que a escrita

é o modo de comunicar um pensamento.

Tendes a inspiração de uma bela antítese ou de uma imaginosa metáfora,

vós a escreveis; tendes a idéia de uma forma nova, vós a desenhais.

É assim que deve ser compreendida a necessidade de generalizar o

ensino do Desenho por todas as classes da sociedade.

Seria ocioso demonstrar a indispensabilidade do Desenho para o

artista, para o operário, para os engenheiros e para todas as profissões

conexas. Para esses o Desenho vale mais do que a escrita e até mais do

a palavra.

Pode o engenheiro fazer a seu contramestre um discurso de duas

e no fim nada ter alcançado mas em dois minutos, esboçando a peça de

uma máquina que tem na mente, terá conseguido fazer-se compreender

como por milagre (...)11.

No inicio do século XIX era o Desenho, dentro da pedagogia neoclássica, o elemento

principal do ensino artístico, levando à precisão da linha e do modelado. A importância destes

elementos refletia a influência dos exercícios de observação da escultura antiga, que eram

produzidas em maior numero que a pintura. Para os neoclássicos, os artistas era o gênio, uma

inteligência superior que, através do Desenho, era domado pela razão, pela teoria, pelas

convenções da composição para melhor entender a tradição e a história.

10 RUI BARBOSA, A reforma do ensino secundário e superior (1882). Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1941. Id. Ref. Do ens. Prim., t.1, 2, 3, 4. 11 ANDRÉ REBOUÇAS. Generalização do ensino do desenho. O Novo Mundo, nov. 1878, p.246.

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Já, no século XX, a ênfase no Desenho continuaria nos argumentos a favor de sua

inclusão na escola primária e secundária, ou seja fundamental e médio, os quais se orientaram

no sentido de considerá-lo mais uma forma escrita que uma arte plástica, como percebemos

no texto acima transcrito de André Rebouças, destacado engenheiro brasileiro que exerceu

larga atividade política durante a propaganda pela extinção do regime escravocrata.

A identificação do Desenho com as artes da palavra foi, para uma cultura

predominantemente literária como a nossa, elemento de aceitação social e concepção que

ultrapassou as barreiras do tempo, indo desde os escritos de Rebouças e Abílio César Pereira

Borges, também datados de 1878 até Mário de Andrade, um dos responsáveis pela introdução

da arte moderna no Brasil.

Esta identificação do Desenho com a escrita que ultrapassou as barreiras do

Modernismo, foi argumento não só para tentar vencer o preconceito contra a Arte como

também argumento para demonstrar que a capacidade para desenhar era natural aos homens

ou, pelo menos, acessível a todos e não um dom ou vocação excepcional. Na época, dizia Rui

Barbosa combatendo os que contrariamente pensava:

“Não percebem que, pela simplicidade das suas aplicações elementares

ele (o desenho) tem precedências à própria escrita” e “ que as aptidões naturais

de que depende seu estudo são comuns a todos os entendimentos, e de uma

vivacidade particularmente ativa nos primeiros dias da existência humana” 12.

Sobre a idéia corrente naquele tempo de que seria possível haver completas

inaptidões para o desenho, “aliás em pessoas inteligentes”, escreveu André Rebouças:

Negamos e distinguimos. Exceto em caso de defeito físico é quase

impossível uma completa inaptidão. O que há realmente ainda por desgraça em

nossos dias é o estulto preconceito contra as profissões artísticas.

(...) Há desenho de régua e de compasso e há desenho sem auxílio de

instrumento algum. O primeiro está ao alcance de todos que não têm defeito físico,

basta um pouco de paciência e boa vontade.

O segundo é mais difícil; só os privilegiados trazem esta faculdade inata,

mais é muito raro que depois de dois ou três anos de prática de desenho não se

12 RUI BARBOSA. Ref. Do ens. Prim., v.10, t.2, p.180.

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consiga representar mais ou menos qualquer objeto sem o auxílio da régua ou do

compasso (...)13.

A categorização do Desenho explicitada neste texto – desenho linear ou geométrico

e desenho figurado – dominou o ensino da escola , então, primária e secundária nas primeiras

décadas do século XX, tendo-se acrescentado a este conteúdo o desenho de ornato ou arte

decorativa pela influência marcante da Escola de Belas-Artes e do Liceu de Artes e Ofício. A

luta pela preponderância de uma destas categorias sobre as outras existiu e se prendeu, de um

lado, a princípios político-sociais e, de outro, a concepções artísticas.

O primeiro surto industrial brasileiro, 1885 e 1895, reforçou o ideal da educação

para o progresso da Nação. Reafirmando as idéias que antecederam a arrancada inicial da

indústria, propagada por Rui Barbosa e André Rebouças no O Novo Mundo.

Este aspecto preparatório do Desenho, a educação do caráter e da inteligência, iria

ser objetivo principal dos positivistas, mas não deixou de encantar também os liberais, embora

o objetivo primordial do seu ensino fosse a preparação do povo para o trabalho.

1.3 Influência do Liberalismo

Os liberais que lutavam a favor da revolução industrial, em reformulações do liberalismo

utilitaristas inglês, objetivavam, com o ensino do Desenho, “abrir à população, em geral,

ampla, fácil e eficaz iniciação profissional”.

O crescimento econômico do país estaria ligado à capacitação profissional dos seus

cidadões.

O ensino do Desenho, a sua popularização, a sua adptação para os fins

da indústria tem sido o principal motor da prosperidade do trabalho em todos os

países já iniciados na imensa liça, em que se têm assinalado a Inglaterra, os

Estados Unidos, a França, a Alemanha, a Áustria, a Suíça, a Bélgica, a Holanda e

a Itália14.

Assim se expressa Rui Barbosa através dos pareceres sobre a Reforma do ensino,

os quais apresentou ao parlamento e que, muito mais de simples pareceres, representavam

13 A. REBOUÇAS, op. cit. S. p. 14 R. BARBOSA. Ref. ens. sec. sup., v. 10, t. 1, p. 166.

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novos projetos para a educação brasileira, talvez o mais bem fundamentados teoricamente que

já se apresentaram à nossa legislação e em perfeita consonância com as mais modernas

concepções e técnicas pedagógicas da época.

Rui Barbosa é considerado um dos mais fiéis intérpretes da corrente liberal

brasileira. Todos os seis trabalhos sobre educação resultaram de um ação política. É o homem

de estado que considera a democracia como uma função da educação.

Sua teoria político liberal se dirigia para a função prática de enriquecer

economicamente o país. Este enriquecimento só seria possível através do desenvolvimento

industrial, e a educação técnica e artesanal do povo era por ele considerada uma condição

básica para este desenvolvimento.

Assim, a educação artística seria uma das bases mais sólidas para a educação

popular, a sua introdução na escola pública americana, principalmente através do desenho

geométrico, já demonstrava um enorme sucesso, observados, nos bem desenhados produtos

americanos apresentados no Centenial Exhibition15. Com isto, intensificou-se o interesse

pelas artes industriais, o que levaria a pretensão de implantação do modelo americano Brasil,

tornando-o obrigatório em todos os anos do currículo secundário.

O inglês Walter SmiTh, com o sucesso alcançado ao implantar o ensino na

Inglaterra, tornou-se o eixo em torno do qual começaram a se formar as idéias de Rui Barbosa

apresentadas como modelo a ser seguido pelo Brasil. A repercussão cultural foi tão grande,

que durante os primeiros 20 anos do século XX, seu nome era símbolo de sabedoria para o

povo e a burguesia brasileira.

Os pareceres de Rui Barbosa sobre o ensino, embora reforçando a idéia do ensino

do desenho com fins industriais, foi enriquecido por outras fontes bibliográficas além dos

livros de Walter Smith e por reflexões articuladoras dos princípios da pedagogia intuitiva

que orientava todo o sistema de ensino primário proposto por R. Barbosa. Combatendo

decididamente os métodos verbalistas e orais, considerando-os um processo de asfixia das

“faculdades criadoras da inteligência humana”16 argumentava fortemente a favor da

aprendizagem intuitiva através dos sentidos, destacando a importância do Desenho para um

ensino desta natureza; um instrumento de transformação de uma pedagogia meramente

15 Exposição Internacional, a Centenial Exhibition of Philadelfia, 1876. Através dos desenhos os EUA , demonstraram a possibilidade de competir com os projetos europeus, como também uma superioridade em desenhos de máquinas. 16 R.BARBOSA, ref. ens. Prim. (1883), v.10, t. 2, p. 209

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retórica e verbalista, num processo de desenvolvimento intelectual através do uso da

percepção e transcrição dos objetos.

Entretanto, este método intuitivo, que se baseava no estudo das coisas e

fenômenos da naturais, foi reduzido no Brasil a mera visão ou descrição de objetos do seu

ambiente natural e quase sempre sem relação com a vida da criança.

Rapidamente degenerou em mero automatismo, perigo acerca do qual já

sinalizava Rui Barbosa.

1.4 Influência do Positivismo

É talvez em relação a política educacional que o liberalismo e o positivismo

apresentaram pontos divergentes mais acentuados. Proclamada a República, os positivistas,

estimulando o avanço reformista, pretenderam consolidar o novo regime pelo qual em parte

eram responsáveis através das tentativa de uma mudança radical nas instituições: militar,

política, religiosa e educacional.

A mentalidade positivista quase sectária que se instalou no Brasil, e que

encontrou inúmeros adeptos originou-se do movimento de um grupo de estudantes brasileiros

formados em Bruxelas. Através da filosofia da matemática, nas Escolas Politécnicas e Militar,

apoiaram-se em Benjamin Constant, professor, ministro do recém criado Ministério da

Instrução, Correio e Telégrafo, responsável em elaborar a primeira reforma educacional

republicana denominada Reforma Benjamim Constant, aprovada em 22.11.1890 pelo decreto

lei n.1075, e que atingiu todas as instituições de ensino.

Com o objetivo de regenerar o povo, achavam que o governo deveria

difundir o ensino da Arte em todas as escolas públicas em todos os graus, dele devendo

encarregar-se os estudantes de Pintura e Escultura nomeados em virtude de prévio concurso,

aos quais caberia também a função de preparar os professores e professoras das escolas

públicas para presidirem as aulas artísticas “ficando assim aptos a apresentarem um tipo mais

completo de guia mental da Segunda infância”17.

A leitura atenta do projeto dos positivistas esclarece-nos acerca dos objetivos

que enfatizavam para a instrução do ensino da Arte nas escolas primárias e secundárias, e que

17 Apud GONZAGA DUQUE, Contemporâneos, p.219

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concluímos ser principalmente a regeneração do povo através de um instrumento que lhe

educasse a mente. O aperfeiçoamento intelectual era considerado a condição principal para o

progresso social e político, assim como a crise moral era considerada por eles como reflexo da

crise intelectual.

A Arte era vista como um poderoso veículo para o desenvolvimento do

raciocínio desde que, ensinada através do método positivo, subordinasse a imaginação à

observação identificando as leis que regem a forma.

Augusto Conte, o grande mestre dos positivistas brasileiros, valorizava as

funções humanistas da arte e afirmava a conexão entre o “gênio estético” e o “gênio

científico” já que, para ele, a formação científica devia “basear-se naquela formação estética

geral que predispõe a desfrutar profundamente todos os modos de idealização”18 , tornando os

homens capazes de pensar melhor e de organizar melhor sua vida social.

Contudo, a célebre reforma do positivista Benjamim Constant, mesmo

influenciando decisivamente a evolução do ensino durante a primeira república, não deu à

Arte a importância reclamada por Augusto Comte e centrou o currículo desde cedo no ensino

de ciências. Se é bem verdade que, para Camte, o principal objetivo do ensino da Arte na

Infância era a preparação para a formação científica, representava, entretanto, um

disciplinamento não formal da mente através de metodologia baseada na estética.

O excessivo intelectualismo e ante individualismo foi fator determinante dos

meios de ensino artístico, e denominador comum entre a práticas artísticas influenciadas pelo

positivismo.

Com a morte de Benjamim Constant, sua Reforma sofre várias modificações.

Outras reformas positivistas são implantadas, muitas com os princípios racionalistas dos

positivistas, associada a uma estética realista, o que vem responder negativamente, pelo

menos no domínio da Arte.

1.5 Articulações ( liberalismo X Positivismo )

De uma forma mais generalizada, no que diz respeito aos objetivos e

métodos de ensino do Desenho, passou por uma solução eclética, reunindo os princípios

positivistas e liberalistas. Determinou como objetivo principal o desenvolvimento das idéias e

do raciocínio; num retorno ao modelo que principiou os positivistas.

18 Apoud. IRENE WOJNOR. Estética y Pedagoia. México, fondo de cultura Econômica, 1967, p.48.

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A forma pedagógica positivista do Desenho sobre a gradual transparência do

estudo prático da geometria, resultante da transformação das idéias literalmente fechadas num

processo de interpretação mais aberto e adaptado à realidade brasileira da época: por um

lado, falta de professores capacitados para dar nas escolas do curso secundário dos Estados, os

vastos e profundos conteúdos dos programas de Geometria; por outro, a dificuldade de

assimilação desses conteúdo por parte do adolescente brasileiro, cujo desenvolvimento

intelectual tinha sido retardado pela natureza dos modelos educacionais a que tinham estado

submetidos até então. Para não menosprezar a Geometria tão importante para os positivistas

simplificando-a excessivamente, aderiram, pouco a pouco, às propostas metodológicas

liberais de introduzir nos programas de Desenho, somente noções básicas de Geometria.

Um ponto comum entra as duas correntes, liberalista e positivista, em relação a

natureza do desenho permitiu o ecletismo, a mistura deste programa. Ambas correntes

concebiam o desenho como forma de linguagem. Entretanto, a interpretação da natureza desta

linguagem seguia diferentes caminhos.

O desenho com conotação de preparação para a linguagem científica era a

interpretação veiculada pelos positivistas; o desenho com linguagem técnica, a concepção dos

liberais. Somente a partir de 1901, passaram a exigir uma gramática comum, o desenho

geométrico, proposto nas escolas primárias e secundárias como um meio, não um fim, em si

mesmo.

Para os positivistas era um meio de racionalização da emoção e, para os

liberais; um meio de libertar a criatividade frente aos bloqueios da ignorância das normas

básicas de construção. No entender dos liberais, a liberdade exigia o conhecimento objetivo

dos objetos e da natureza.

Entretanto, uma série de variáveis de outras origens iria estimular o

progresso da posição positivista em direção a um exagero da importância do desenho

geométrico, transformando-o num fim em si mesmo.

No início do século XX, um sistema dual estava nitidamente implantado.

No campo da Educação popular profissional e técnica, a adoção das

propostas liberais para o ensino do Desenho, tanto no ponto de vista dos objetivos como das

metodologias, foi pacífica e liderada em grande parte pelos Liceus de Artes e Ofícios.

É importante citar, o aspecto que o ensino de Desenho e Artes assumiam

nos Estados, que apresentavam situação de desenvolvimento econômico; como em 1909, no

Pará, com a produção exportação de borracha. Mesmo o Brasil só exportando a matéria-

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prima, uma enorme preocupação com a industrialização e com o desenho na escola em todos

os níveis, desponta no Estado.

Num artigo do Jornal do Pará19, foi, a primeira vez que se fez referencia no

Brasil à importância que teve o ensino do desenho Artístico e Industrial para a prosperidade

das nações do Oriente. Os partidários

O ensino do desenho, após a breve simbiose entre as correntes positivista e

liberal, que o orientou durante um período, afastar-se-ia da área de influência liberal para

acentuar a política positivista matematizante e influência culturalista que tentou basear-se em

apressadas interpretações evolucionistas da Arte.

Em 1911, esta proposta foi radicalizada, tornando vitoriosa a tese de

descentralização completa do ensino; política defendida pelos positivistas desde a República.

Determinando, assim, a autonomia didática e administrativa, fazendo

cessar na Educação a intervenção do governo, que só mediante auxílios materiais poderia, a

partir de então, exercer sua ação junto às corporações de ensino superior e fundamental.

Desapareceram também a interferência fiscalizadora do governo e a

uniformização dos programas. Estes eram organizados por professores, e sua aprovação ficava

entregue à competência exclusiva das congregações de cada instituto de ensino.

Somente para o primeiro grau, foi determinado na lei o conteúdo do

ensino do desenho, que deveria constar nas 4 primeiras séries das seis que compunham o

curso.

Sem escolas destinadas à formação uniforme de professores secundários,

quase todos autodidatas, recrutados nos quadros de profissionais liberais, como no Império, o

ensino secundário não resistiu à carga de responsabilidades que a não oficialização lhe jogou

nos ombros. Não tínhamos educadores que pudessem tirar proveito da autonomia e liberdade

que a lei estabelecia. Pois, eram os políticos os orientadores educacionais do ensino.

Nenhuma variedade ou flexibilidade metodológica foi produzida com esta

autonomia, para o ensino do Desenho.

Pelo contrário, rompidas as boas relações entre as correntes positivistas e

liberais instauradas no programa do Desenho para a escola secundária, passou a dominar o

radicalismo positivista que se dicotomizou. De um lado, tivemos um exagero das correntes

matemáticas, orientando os programas das escolas secundárias em direção ao traçado puro da

geometria com ajuda de instrumentos e exigência de precisão e do outro lado a corrente

19 BARTOLOMEU DIAS. O estudo do desenho, O estado do Pará, 13 de julho de 1915.

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priorizando a estética. Esta ultima corrente, inconformada com a solução conciliadora que

reduziu os ornatos a mero exercícios de geometrização, regrediu às estratégias utilizadas,

relegando o estudo da geometria no ensino primário como mero estágio preparatório para o

estudo de ornatos. No secundário dominou o estudo dos baixos relevo, com exercícios, cópia

de estátuas e outros procedimentos necessários a sua introdução a “Arte Maior”.

Nos anos oitenta, a arte passou a ser matéria obrigatória nos currículos de 1.º

e 2.º graus. Depois de tantos pareceres e Reformas, o que determinou esta medida, foi um

acordo oficial ( Acordo MEC-UAID ), dos educadores norte-americanos que reformulou a

educação brasileira, estabelecendo em 1971 os objetivos e currículo configurado na Lei n.º

5.692 de Diretrizes e Bases da Educação.

Esta lei estabeleceu uma educação tecnologicamente orientada que começou

a profissionalizar a criança na sétima série, sendo a escola secundária completamente

profissionalizante. Esta foi uma maneira de proporcionar mão-de-obra barata para as

companhias multinacionais que adquiriram grande poder econômico no país sob o regime da

ditadura militar ( 1964 a 1983 ).

No currículo estabelecido em 1971, as artes eram aparentemente a única

matéria que poderia mostrar abertura em relação as humanidades e ao trabalho criativo,

porque mesmo a filosofia e a história foram eliminados do currículo.

A partir de 1886, o Conselho Federal de Educação condenou a arte ao

ostracismo nas escolas. Quando, em novembro do mesmo ano, aprovou a reformulação do

núcleo comum para os currículos das escolas de 1.ºe 2.º graus, determinando como matérias

básica: português, estudos sociais, ciências e matemática. Eliminando a área de comunicação

e expressão, eliminou também a educação artística que pertencia àquela área.

Ao mesmo tempo a educação artística, passou a figurar num parágrafo onde

se dizia também ser exigido educação artística no currículo. Deixando claro que “não é básico

a educação artística, mas é exigido”. A importância da Arte na escola foi, mais uma vez

dissolvida, por esta ambigüidade.

Nos anos noventa, As diretrizes e bases da educação nacional, através da lei

9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece o ensino da arte, como componente curricular

obrigatório, nos diversos níveis da educação, de forma a promover o desenvolvimento cultural

dos alunos.

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CAPÍTULO II

SITUAÇÃO CONCEITUAL DO ENSINO DA ARTE

2.1 Educação Artística e sua finalidade

São muitas as finalidades que podemos apontar como primordiais ao

ensino da educação artística nas escolas, como fundamentais a serem adotadas, podemos citar:

• A educação artística ao propor-se criar no indivíduo não um amor problemático e isolado

por belas-artes e belas obras, mas sobretudo uma consciência exigente e ativa em relação

ao meio ambiente, quer dizer, em relação ao panorama e à qualidade da vida cotidiana

desses indivíduos.

• A educação artística ao propor se a criar nos indivíduos não tanto aptidões artísticas

específicas, mas sobretudo um desenvolvimento global da personalidade, através de

formas as mais diversificadas e complementares possíveis de atividades expressivas,

criativas e sensibilizadoras.

• A educação artística , porém, não se contenta apenas com as virtudes instauradas do acaso

e da não intervenção, mas pressupõe, pelo contrário, a utilização de métodos pedagógicos

específicos, progressivos e controlados, os únicos capazes de produzirem a alfabetização

estética ( plástica, musical, etc.), sem a qual toda expressão permanece impotente e toda

criação é ilusória.

2.2 Sensibilização ao meio ambiente (Qualidade de Vida X Espaço Vital )

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Por meio ambiente devemos entender a totalidade dos valores insensíveis do

panorama da vida, sistemas e objetos naturais e artificiais, conjuntos de estímulos sensoriais,

formas, cores, cheiros, sabores, movimentos, ruídos, justaposição das qualidades percebidas,

através das quais o espaço se acha ocupado, ritmado, modulado, diferenciado, determinado

como espaço familiar para quem o habita.

• Valor estético do panorama vital - Pode-se dizer que o homem vive um meio ambiente

estável, coerente e único, que conserva todas as aparências de um meio natural. Num tal

universo tradicionalista, onde o modo de produção artesanal subordina quase

naturalmente os objetos às necessidades e as formas às funções. Os objetos são os

produtos imediatos do trabalho humano, as ferramentas prolongam os membros do

corpo, os modos de habitação integram-se aos espaços naturais.

• Qualidade do panorama vital – Assume real importância e tende a tornar-se prioritária.

Com efeito, a partir da era industrial pode se falar numa verdadeira crise do meio

ambiente. Seria absolutamente ilusório querer reduzir esta crise, como se tem feito

muitas vezes nos últimos tempos, ao problema bio-ecológico da poluição Industrial e da

degradação da natureza .

Este é um aspecto, um nível apenas, de erosão, de uma confusão e de desequilíbrio que afetam

todos os planos, todas as estâncias e referências da vida humana: São os níveis sociais da

percepção e da memória, os valores morais, os critérios estéticos, os pólos da afetividade, os

pontos fixos da vida individual e familiar, os conceitos absolutos da consciência religiosa, as

categorias do pensamento intelectual que se dissolvem e se esvaem como fumaça, deixando

os indivíduos desamparados, soltos, súditos de uma liberdade que eles não reconhecem.

Dentro desta generalizada crise referencial, o surgimento da feiura em

massa, conseqüência da produção em série, do predomínio do princípio da rentabilidade, do

fato da população terem sido arrancadas dos antigos equilibrios por um progresso, tornando

seu modo de vida uma característica geral de toda uma sociedade.

A Beleza refugia-se nos museus, espaços que lhe são reservados. Torna-se

assunto dos profissionais de arte e de especialistas sem critérios definidos, é consumida em

lugares fechados, em horários fixos por uma elite , de certa forma previlegiada.Paralelamente.

da mesma maneira como a natureza é transformada em parques de lazer para os exaustos

habitante da cidade, ávidos de regenerações periódicas; enquanto isto, a vida cotidiana fica

condenada à miséria sensorial, à sons ensurdecedores industriais, aos excessos publicitários, à

saturação de estímulos insignificantes. No nosso mundo industrial e urbano, pode-se dizer

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que a feiúra, a banalidade, o excêntrico, o disforme, o medíocre, o repetitivo, o sem estilo e

sem interesse constituem mais que um acidente histórico ou produto de uma degradação

ocasional daquilo que poderíamos chamar de gosto, mais do que efeitos de ignorância

acumuladas ou de uma incultura generosamente compartilhada: trata-se, na verdade, do

ambiente, da forma, do rosto quase natural e necessário, pelo menos aparentemente, da vida

inteira.

De que serve tornar os indivíduos sensíveis à beleza das obras-

primas consideradas imperecivéis, se não os tornamos primeiro sensíveis à

mortal feiúra desse meio ambiente? De que serve, por exemplo, repintar

catedrais, se ao lado são construídas estradas de alta velocidade?

Na realidade, o problema do panorama vital é ao mesmo tempo político e

pedagógico. Político, quando entram em jogo os interesses ligados à reivindicação a favor do

meio ambiente ( contra a poluição / contra o urbanismo de menor custo; que é também o

maior lucro / contra o obsessivo martelamento da publicidade, etc.)20. Mas é também um

problema pedagógico, pois se a opinião pública tivesse tido a oportunidade, de Ter a sua

sensibilidade mas bem educada, jamais aceitaria estas agressões.

E é na escola, desde a infância, que pode ser forjada uma

sensibilidade ao meio ambiente.

Todas as disciplinas de auto descoberta produzem necessariamente uma

sensibilização dessa espécie, a matemática, a geografia, a história, porém a pedagogia

estética, nesta interdisciplina global dá ênfase aos aspectos mais diretamente sensoriais e

sensíveis: Ensinar as crianças, através de exercícios sistemáticos de variações dos estímulos,

levando-os a perceberem as aparências como aquilo que são, e não como indicadores com

vistas a comportamentos utilitários. Isto porque na nossa percepção comum costumamos

perceber mal, muito depressa, muito superficialmente. Contentando-nos com sinais que nos

indicam os objetos de que necessitamos, não nos detemos a detalhar as aparências. Neste

sentido, a educação artística é antes de mais nada, e contrariando toda uma tradição platônica,

uma aprendizagem das aparências. Reconhecendo os matizes das cores e das luzes, estudar

20 A propósito das implicações da estética e da política. Ver Marcuse, H.,Vers la librration, Ed. De Minuit, 1969; em particular pp.37 a 68: “Une nouvelle sensibilité”.

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os movimentos, os ruídos, avaliar o tamanho e as distâncias, sentir as matérias e as formas,

tomar consciência dos ritmos próprios das coisas e dos seres mais variados, preocupar-se com

aquilo que passa e aquilo que permanece, com as proporções e as distorções, com as

semelhanças e os contrastes, familiarizar-se com os valores espaciais e com as características

dos volumes; estas são as bases de qualquer domínio do mundo sensível, o meio de habitar o

mundo de modo intenso e significativo. Conduzindo a uma sensibilidade tecnológica, ou seja,

compreender os objetos através da relação forma x estrutura x função.

2.3 Desenvolvimento da Personalidade

Essa sensibilização ao meio não representa o único objetivo da educação

artística: Trata-se, de um modo mais geral, de um desenvolvimento global da personalidade.

Através de atividades como prática vocal e coral, à memorização de canções, os

diversos exercícios rítmicos ou melódicos, etc. a criança desenvolve inconscientemente a sua

capacidade de observação, o espírito de analise e de síntese, e até mesmo a abstração.

Os resultados aparecem com a transferencias de certas disposições e aptidões

adquiridas graças à prática intensa de exercícios artísticos , musicas e corporais. A prática

das atividades artísticas representa um fator altamente favorável para o desenvolvimento de

toda a personalidade e especialmente, dos seus aspectos intelectuais.

Uma concepção global da educação artística quer dizer, além das suas ligações

com a educação física, com a formação lógica intelectual e com o estudo do meio ambiente

ecogeográfico, também uma pedagogia na qual os diversos tipos de expressão estejam em

relação uns com os outros, se prolonguem, se completem e se reflitam mutuamente: é assim

que a expressão corporal, a expressão poética, a expressão vocal e instrumental, a expressão

coreografia, a expressão plástica ( pintura,, escultura, colagem, diversas composições de

materiais e de forma) são permeáveis uma à outra, se provocam, se chamam, se retomam

reciprocamente, num movimento perpétuo de simbologia aberta e de somatório expressivo.

Uma pedagogia global é por tanto, uma quebra das divisões que separam as diversas

atividades expressivas, estabelecendo uma relação entre estas atividades de expressão e as de

sensibilização.

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2.4 Criatividade estética

Entendemos por criatividade estética a aptidão para produzir de uma maneira

específica (não utilitária) e diferenciada (segundo os indivíduos e as ocasiões)

acontecimentos, formas, objetos suscetíveis de cristalização estética, capazes de modificar. É

formar a criatividade da criança, de eleborá-la e produzi-la, tal como se forma e produz a sua

aptidão para manejar a linguagem matemática ou o seu conhecimento de técnicas de ajuste. E

torná-la operatória, fazer com que dela resulte um poder de realização e de decisão, graças a

um instrumental de informações, de exercícios de regulamentação, de controles aos quais a

criança criadora deve submeter-se a fim de dar à sua criação ( verbal, rítmica, plástica,etc.)

uma forma, um valor objeto, uma comunicabilidade e uma espécie de universalidade formal.

O que importa para o educador ao desenvolver a criatividade, é proporcionar

à criança exclusivamente uma oportunidade para a expressão e a criação, o direito à palavra, à

escrita, à manifestação plástica, musical, corporal: uma vez que a criança é espontaneamente

criadora, espontaneamente poeta, artista, dançarina, arquiteta, etc. todo o reto aparecerá.

Na verdade a educação artística que despreze qualquer consideração de

eficiência Técnica, quer em nome de uma autenticidade ou de uma estética, uma busca pelo

Belo, depressa se condenará à estagnação e à auto destruição. Mas no sentido contrário, é bom

que se diga que uma educação artística entrincheirada, como acontece com demasiada

freqüência , na preocupação única de impor receitas técnicas e modelos estereotipados,

sufocando toda imaginação e invenção, seria uma instituição perigosa e antieducativa.

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CAPÍTULO III

A EDUCAÇAO ARTÍSTICA E O MERCADO DE TRABALHO

3.1 Mercado de trabalho

Com tantas mudanças, tantas reformas, atribuindo a educação artística

argumentos injustificáveis, em relação a sua importância, a realidade e sua função diante das

possibilidades de desenvolvimento cultural e econômico do país. Resta-nos a pergunta:

Será se já perceberam que a área de artes gera grande número de empregos neste país?

O que será Arte, somente quadros na parede ou concertos em praças ou museus?

Vivemos, respiramos arte. A roupa que vestimos é produto de desenho, o tecido

das roupas é produto das artes têxtil, a cadeira que sentamos alguém desenhou, em geral

algum estrangeiro, mesmo que ela tenha sido produzida no Brasil, isto porque temos pouca

gente educada para ser competente em desenho. Mesmo, assim a capacidade do artista

brasileiro é tão grande, que com sua criatividade , rompem as limitações e obstáculos causado

por estes fazedores de currículos, e criam verdadeiras obras de arte.

Na profissão de artista, existem muitas ramificações, não podemos deixar de

lembrar das Artes ligadas as atividades comerciais como a propaganda, broadcasing, cinema,

as artes gráficas, que por sinal, apresentam livros e revistas, com impressão de primeira

qualidade, das artes do setor de vídeo e som, da TV, com seus cenários e figurinos, sua equipe

de iluminação e dos câmeras, que iniciam seu trabalho em cima de uma Imagem. Do

desenhistas projetistas, dos desenhistas arquitetos, dos carnavalescos e outros que com o

progresso acelerado se fazem necessários.

Para tudo isto a educação artística prepara ou devia preparar , já na infância

possíveis profissionais. Desenvolvendo suas capacidades para a invenção, inovação e difusão

de novas idéias e tecnologias, encorajando um meio ambiente inovador e inovado.

Em vários quadros profissionais, da área de desenho e artes plásticas, já

existem uma defasagem, Em pouco tempo, se não começarmos a divulgar a profissão e

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profissionalizar, teremos sérios problemas para suprir a falta desta mão de obra especializada

e em geral bem remunerada.

Precisamos levar a arte, que hoje está circunscrita a um mundo socialmente

limitado, a se expandir, a tornando-se patrimônio cultural da maioria e elevando o nível de

qualidade de vida da população

3.2 O Professor de Educação Artística ( Arte Educador X Arte Educação)

A falta de mão-de-obra especializada continua. Onde estão os agentes

difusores da arte e de sua força organizadora? A carência de pessoal, capaz de uma ação

cultural estimuladora de curiosidade pela arte, da compreensão e do fazer artístico, é quase

absoluta. Não há nenhuma formação específica para administradores de arte e de cultura.

Nossos museus, casas de cultura, centros culturais etc., quando funcionam é graça à atuação

de uma elite, de pessoas especiais, mas autodidatas, que dificilmente encontram como

substituto outras pessoas especiais que pelo menos preservem da destruição o trabalho

cultural precedente.

É necessário a formação de recursos humanos, de pessoal capacitado para

decodificar e potencializar as forças que controlam a cultura, estimular o acesso de todos à

livre expressão, propiciar o desenvolvimento orgânico das arte dentro do contexto local,

valorizar as valiosas trocas de idéias e experiências, identificar os padrões específicos de

organização cultural de uma comunidade para entender novo vocabulário e novos contextos

estéticos.

Precisamos estimular a produção em grupo, a imaginação criativa e o

entendimento dos princípios articuladores da obra de arte, respeitando as potencialidades, as

especificidade de cada linguagem e de cada criador, através de oficinas, no trabalho direto

com a arte e seus veículos para um maior desenvolvimento econômico do país.

Mas, para formar, especializar, estimular. É necessário a formação de

professores de educação Artística, ou seja, arte educadores, competentes e especializados,

com conhecimento dos objetivos, conteúdos e metodologia direcionada ao desenvolvimento

criativo, estético, social e cultural do adolescente.

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Enquanto o acelerado mercado das artes acompanha o progresso. Nas

escolas, encontramos artes-educadores com uma participação ativa e em algumas vezes

conscientes, mas com uma formação fraca e superficial no que diz respeito ao conhecimento

de arte-educação e de arte.

As sucessivas políticas, a baixa remuneração em relação a outras áreas

artísticas, os preconceitos em relação as Artes causaram um afastamento do profissional

especializado. Hoje algumas Universidades, preocupadas com a fraca preparação de

professores de arte, começaram a organizar cursos de especialização Estes cursos, geralmente

são conduzidos por artistas, professores com mestrados.

Geralmente, encontramos professores de arte, ensinando da mesma forma

que apreenderam, com currículo superado. Muitos arte-educadores se desenvolveram, com o

que a universidade pretendia fazer deles. Sem reciclagem, repetem os conceitos, de forma

incoerente, muitas vezes, contribuindo para que haja, uma reação negativa por parte do aluno,

ocasionando um sentimento negativo pela arte.

Contudo, estes ainda não sabem o que fazer ou quais são os limites de

invasão-expressão dos alunos. A maioria deles, que por um longo período praticaram

exercícios de desenhos sem definição de objetivos ou expectativas maiores com seus alunos,

estão chocados com a introdução da imagem nas salas de aula e com crianças observando,

fazendo a releitura de trabalhos de arte de adultos. O preconceito contra a obra de arte ainda é

muito grande nas escolas.

Apesar de alguns esforços governamentais para desenvolver o

conhecimento de arte educação, mais de 50% dos professores, que já eram atuantes nas

escolas de nível médio e fundamental, não se atualizaram. Não tem preparo.

Muitos lecionam outras matérias e incluem a arte ; uma das razões é o

baixo salário, com a “dobra” aumentam a remuneração.

Como resultado, temos professores dando aulas de arte que nunca leram

nenhum livro de arte-educação e pensam que arte na escola é dar folhas para colorir com

coração para o dia das mães, soldados no dia da Independência, e assim por diante.

Esses professores nunca ouviram falar sobre auto-expressão ou educação

estética. Por outro lado estão intoxicado pelo expressionismo, acreditam que arte é igual a

emoção e intuição e, como resultado, pensam que “arte-educadores não precisam pensar” e

“arte é só fazer”, excluem a possibilidade de observação e compreensão da arte.

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Para que as décadas futuras sejam mais promissoras à arte- educação, é

necessário primeiro romper com o preconceito de que arte –educação significa apenas arte

para criança e adolescente.

Arte-educação é epistemologia da arte e, portanto, é a investigação dos

modos como se aprende arte na escola de nível fundamental, médio, na universidade e nos

ateliers.

Talvez seja necessário vencer o preconceito, sacrificar a própria expressão

arte-educação que serviu para identificar uma posição de vanguarda do ensino da arte contra o

ofícialismo da educação artística dos anos setenta e oitenta.

Eliminemos a designação “arte-educação e arte-educador” e passemos a

falar do agente multiplicador e do ensino da arte e aprendizagem sem eufemismo, ensino que

tem de ser conceitualmente revisto nas escola fundamental, nas universidades, nas

profissionalizantes, nos museus, nos centros culturais e ser previsto nos projetos de

politécnica que se anunciam.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foram muitas as mudanças, que fizeram do ensino da Educação Artística

o que é hoje. Uma disciplina!

Mesmo não tendo, ainda chegado ao seu ponto máximo de

desenvolvimento ou conhecimento no meio acadêmico. Sua importância, já pode ser sentida

com o trabalho desenvolvido por grupos seletos de profissionais, professores que , em tempo,

conseguiram sintetizar o que é ser artista e ser professor. O que é ter a MISSÃO de despertar,

transmitir e possibilitar o crescimento individual de uma criança dentro do seu pequeno

universo para uma realidade maior, Para uma capacitação ou até mesmo uma

profissionalização

Os preconceitos que atingiram a arte educação desde o Império , continuam

hoje refletindo na forma desta matéria ser vista dentro das escolas . A diferença é que os

profissionais, arte educadores que estão assumindo suas funções atualmente, optaram por

uma nova postura. A de desenvolver arte na escola com competência e conseqüência.

Exigindo das autoridades uma ação efetiva no que se refere às situações conceituais e

estratégicas mais adequadas para estimular o fazer artístico e a apreciação estética em todas as

camadas sociais. Sabemos que a arte não é socialmente desejável, mas é socialmente

necessária.

Não é possível uma educação intelectual, formal ou informal, de elite ou

popular, sem arte. Porque é impossível o desenvolvimento integral da inteligência sem o

desenvolvimento do pensamento divergente, da Imagem visual e dos conhecimentos que

caracterizam a arte.

Se pretendemos uma educação não apenas intelectual, mas principalmente

humanizadora, temos que admitir que a arte é necessária. E, que é importante para o

desenvolvimento da percepção, da imaginação, tanto para captar a realidade circundante

como, desenvolver a capacidade criadora, necessária para modificar esta realidade.

A história da arte que atualmente, está se desenhando, não tem concepção

linear, pretende contextualizar a arte no tempo e explorar suas circunstâncias. Em lugar de

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mostrar a evolução das formas artísticas através do tempo, pretende mostrar que não está

isolada do nosso cotidiano, de nossa história pessoal

Apesar de ser um produto da fantasia e imaginação, está diretamente ligada

a economia, política e a padrões sociais que operam na sociedade.

Um canal aberto de sensibilização e comunicação entre as classes menos

favorecidas; com linguagem específica que recupera a cidadania e dá possibilidade de

profissionalização não só a uma elites, mas também aos marginalizados.

O profissional das Artes tem mercado de trabalho aberto. Não é mais

possível sonegar os códigos eruditos de arte que presidem o gosto da classe dominante que,

por ser dominante, é mais abrangente e domina também os código da cultura popular como no

trabalho de produção das escolas de samba. Porque não tirarmos proveito dos próprios

códigos da cultura popular, para com eles mudarmos a realidade desta população.

A massa têm direito a sua própria cultura e também à cultura da elite, da

mesma maneira que a elite já se apropriou da cultura da massa, embora quase sempre não se

comprometendo com a realidade desta massa.

Depois desta viagem através do tempo, das políticas e dos diferentes

momentos econômicos e sociais do nosso país.

Reconhecemos que a arte representa a apoteose cultural de uma

sociedade, mas reservamos um espaço bem pequeno para a escola.

Reconhecemos também que, não existe outro caminho, se não ao da

educação, para a promoção do crescimento individual;

Acreditamos na arte! na interligação dos padrões estéticos, nos

currículos escolares priorizando a livre-expressão, nos valores éticos e criativos, da magia do

fazer, da leitura deste fazer e dos fazeres de artistas populares e eruditos, na contextualização

destes artistas.

No seu tempo e no seu espaço!

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