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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLENEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A RELAÇÃO ENTRE O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO DA
AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
JANAÍNA MAIA BARBOSA
Orientador: Nilson Guedes de Freitas
RJ/Agosto de 2002
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLENEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A RELAÇÃO ENTRE O LÚDICO E DESENVOLVIMENTO DA
AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção de grau de
especialista em psicomotricidade.
RJ/Agosto de 2002
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, a Nossa Senhora
de Aparecida e a todos os meus familiares , pela
dedicação, amor e paciência..
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à Sandra, Janine e
Rosemere, que sempre me apoiaram
durante a realização do curso, e em
todos os momentos da minha vida.
5
EPÍGRAFE
“Você aprende mais sobre uma pessoa
em uma hora de brincadeira do que a
vida inteira de conversação”.( Platão)
6
RESUMO
Este trabalho terá como objetivo apontar a importância de atividades lúdicas no
desenvolvimento da afetividade na educação infantil. Abordando no seu conteúdo o
desenvolvimento infantil e suas fases e aplicabilidade do lúdico dentro do processo
educacional visando a formação biopsicosocial do educando.
Existem diversas teorias que falam de desenvolvimento infantil, mas todas têm
um ponto em comum: consideram a criança um ser diferente do adulto. A criança é um
ser em desenvolvimento que sofre mudanças fisiológicas, anatômicas e psicológicas que
se processam de forma cada vez mais complexas, produzindo um todo unificado e
dinâmico.
Todos nós sabemos que o sentido da vida de uma criança é a brincadeira.
Brincando elas reproduzem situações concretas pondo-se no papel dos adultos,
imitando-os e procurando entender o seu comportamento.
Para criança brincar não é apenas um passatempo. Seus jogos estão relacionados
com um aprendizado fundamental; seu conhecimento do mundo através das suas
próprias emoções. Por meio de jogos, cada criança cria uma série de indagações a
respeito da vida, as mesmas que mais tarde, já adulta, ela voltará a descobrir e ordenar,
fazendo uso do raciocínio.
As atividades lúdicas reforçam a interação entre as crianças facilitando assim a
socialização, a afetividade e o processo ensino-aprendizagem, é importante que o lúdico
seja respeitado, porque o jogo é uma linguagem única entre as crianças, independente da
classe social a que pertencem, portanto é uma linguagem franca acessível a todas as
culturas. A abordagem lúdica utilizada dentro de uma perspectiva educacional e
formativa, torna-se de grande utilidade para que o homem se realize de maneira integral.
7
SUMÁRIO..................................................................................................................pág.
INTRODUÇÃO...............................................................................................................8 CAPÍTULO I 1.1-Desenvolvimento (Conceito)...................................................................................10 CAPÍTULO II 2.1-Períodos de Desenvolvimento do Nasc. aos 6 anos................................................13
2.2-Características Psicológicas de Crianças de 0 a 6 anos...........................................15
CAPÍTULO III 3.1-O Homem lúdico......................................................................................................19
3.2-História da Infância e das atividades lúdicas............................................................21
3.3-Atividade Lúdica e o Desenvolvimento Afetivo-Social...........................................24
3.4-A Criança e o Jogo....................................................................................................26
3.5-Os Rituais e as Regras do Brincar............................................................................28
CAPÍTULO IV 4.1-Conclusão.................................................................................................................31 CAPÍTULO V 5.1-Referências Bibliográficas........................................................................................33
8
INTRODUÇÃO
A proposta do presente estudo é procurar mostrar como se pode despertar na
criança afetividade, valendo-se de práticas de atividades lúdicas. Sendo de suma
importância para a formação do cidadão e da sociedade, pois as possibilidades do corpo
são mal conhecidas pelas crianças, a estrutura corporal ainda é imprecisa, e elas mal se
comunicam umas com as outras, no entanto o gosto pela atividade corporal, o prazer
extraído de atividades recreativas e o contato com as outras ajudam no desenvolvimento
da afetividade.
No período da infância, exigi-se muito pouco da criança e faz-se de tudo que é
possível para diminuir a tensão e satisfazer as suas necessidades, Aos poucos, à medida
que se desenvolve, a criança adquire mecanismos próprios para lidar com situações
complexas. A criança começa gradativamente a se interessar pela essência das coisas e
não somente pelo resultado delas, conforme a criança vai crescendo, ela irá encontrando
mais soluções para os problemas, até resolvê-los sem ajuda.
A conduta efetiva se faz presente em qualquer situação em que a criança esteja
atuando e sabendo-se que, no período da educação infantil, a criança se torna mais
independente, é que deve-se incentivar o trabalho em grupo a fim de despertar na
mesma o espírito de solidariedade e companheirismo. A criança mora num mundo todo
seu e poucos são os adultos que a compreendem realmente, é importante ressaltarmos a
interação de crianças umas com as outras para um bom desenvolvimento afetivo-social.
O jogo contribuirá para o desenvolvimento educacional e afetivo, bem como as
atividades lúdicas, a fim de favorecer a necessidade de autonomia da criança.
A palavra lúdico, apesar de ser usada como um substantivo é um adjetivo que
traz em si uma idéia de brincadeira, jogo. O lúdico é o caminho mais fácil para que a
criança entre para o mundo do adulto, pois a criança que tem uma infância bem
estruturada e com certa liberdade, certamente será um adulto criativo e mais seguro.
Além dos jogos existem, ao nosso alcance, outras formas de atividades lúdicas
que podem ser proveitosas para a educação como o : teatro, a pintura, a televisão; o
lúdico é tudo aquilo que esta ligado ao lazer, a diversão e a recreação.
Durante o desenvolvimento do trabalho monográfico, será feito um estudo sobre
o desenvolvimento infantil, a história do lúdico, dos jogos e conseguentemente de posse
9
destes conhecimentos, ficará mais fácil e claro entender a importância do lúdico na
educação infantil.
Foram abordados, no decorrer do trabalho, os conteúdos bibliográficos
referentes ao estudo, segundo autores pesquisados.
10
CAPÍTULO I
1.1-DESENVOLVIMENTO ( CONCEITO )
O nascimento significa tornar presente no mundo, um ser humano que duzentos
e oitenta dias antes, era apenas uma célula. Ele é um processo tão natural como o foi ao
ser concebido e assim o será no seu desenvolvimento posterior, cumprindo etapas como
rastejar, gatinhar, andar, lançando-se ao desconhecido com uma mente curiosa. Muitas
das suas características, que o destacam como personalidade distinta e única, diferente
de qualquer ser humano, ficarão estabelecidas ao final de poucas semanas.
Segundo alguns autores o desenvolvimento é um processo que faz a criança
passar do estado de nutrição e vagidos ao estado adulto. A criança, é, portanto, um ser
em via de maturação física e psicológica.
O estudo do desenvolvimento repousa sobre dados quantitativos e qualitativos
que evoluem com o tempo. As transformações quantitativas são relativamente fáceis de
mensurar ( exemplo: crescimento, evolução estatural, enriquecimento do vocabulário ).
O estudo dos aspectos qualitativos são mais complexos.
De fato, se o desenvolvimento se apresenta como um processo ininterrupto, seu
ritmo não é, necessariamente uniforme e contínuo: progressões rápidas são seguidas de
períodos de estagnação, verdadeiras regressões são seguidas às vezes, por uma mudança
brusca e total da personalidade.
Pode parecer cômodo dividir o desenvolvimento em vários estágios, pois quase
todos os seres humanos sofrem modificações, praticamente idênticas, resultado da
maturidade fisiológica associada às influências do meio. Certos elementos,
característicos de um dado período do desenvolvimento, não desaparecem bruscamente
passando ao período seguinte, mas vão lentamente sendo ultrapassados e podem
permanecer ao lado de outros aspectos que estão se formando.
Frequentemente a criança pode atingir uma fase por um aspecto de seu
desenvolvimento e uma outra por um componente diferente de sua personalidade.
Entretanto, é útil estabelecer certas referências no conjunto de desenvolvimento
comportamental a fim de interpretar as informações recolhidas.
11
O brincar desempenha um papel primordial em suas diversas modalidades e
manifestações que acompanham o bebê do berço as mais adiantadas fases adultas do
homem.
12
CAPÍTULO II
2.1-PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO DO NASCIMENTO AOS SEIS
ANOS
É importante comentarmos o que alguns autores descrevem sobre as fases do
desenvolvimento, para que possamos visualizar de maneira mais clara, algumas atitudes
e sentimentos expressos pelas crianças em determinados períodos, e principalmente
durante a educação infantil, que é o assunto a ser tratado neste trabalho. Pois em cada
estágio de desenvolvimento, a criança apresenta um modo característico de visualizar o
mundo e explicá-lo a si mesmo.
De modo geral, pode-se dizer que, ao nascer, a criança é caracterizada por uma
atividade do tipo automática, reflexa, que lhe permite receber diversos alimentos para
sobreviver, além de formar e desenvolver recursos vitais. Essas primeiras expressões de
vida da criança “Se parecem mais crises motoras, que a movimentos orientados”, esta
etapa é chamada de corpo submisso.
Passados os primeiros meses de vida, nota-se que os reflexos arcaicos (de sugar,
agarrar, por exemplo ) começam a ceder lugar aos movimentos intencionais, esse
período denominamos de corpo vivido.
A partir do momento em que as funções nervosas permitem à criança libertar-se
dos automatismos , aquilo que era reflexo começa a dar lugar ao aprendido. Ou seja,
aparece no indivíduo o comportamento inteligente , os esquemas motores
correspondendo, no plano da inteligência corporal, as representações mentais ou
pensamentos no plano da inteligência conceitual.
Para se adaptar ao mundo, para resolver problemas, para agir sobre o mundo,
transformando-o, o sujeito constrói movimentos corporais específicos, dirigidos para
um fim e orientados por uma intenção: São os esquemas de ação. É por esses esquemas
que o ser humano se expressará em todas as ocasiões de sua vida. Como a criança não
desenvolveu ainda o privilégio humano de representar por imagens suas experiências
práticas, é nesta primeira fase de desenvolvimento em que, por absoluta necessidade,
formam-se todas as possibilidades básicas de movimentação corporal, afetiva e
cognitiva.
13
O primeiro período de vida da criança, que vai do nascimento até o surgimento
da linguagem, é chamado , do ponto de vista da inteligencia, de sensório- motor. Nele
podem ser distinguidos três estágios: o dos reflexos, o da organização das percepções e
hábitos e o da inteligência propriamente dita. Cronologicamente, esse período é
superado pelo próximo, entre um e dois anos de idade aproximadamente. Essa primeira
fase é chamada de latência.
A partir do surgimento da linguagem, inicia-se um novo período, que incorpora
o anterior e acrescenta às atividades da criança os símbolos, a representação mental. É a
chamada primeira infância, ou período pré- operatório, intuitivo ou simbólico.
Neste período, o que de mais importante acontece é o aparecimento da
linguagem que irá acarretar modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social da
criança. A interação e a comunicação entre os indivíduos são, sem dúvida as
consequências mais evidentes da linguagem. Com a palavra, há possibilidades de
exteriorização da vida interior, e portanto, a possibilidade de corrigir ações futuras, a
criança já antecipa o que vai fazer.
Como decorrência do aparecimento da linguagem, o desenvolvimento do
pensamento se acelera. No início do período, ele exclui toda a objetividade, a criança
transforma o real em função dos seus desejos e fantasias (jogo simbólico);
posteriormente, utiliza-o como referencial para explicar o mundo real, a sua própria
atividade, seu eu e suas leis morais, e , no final do período, passa procurar a razão
causal e finalista de tudo (é a fase dos porquês). É um pensamento mais adaptado ao
outro e ao real.
Como várias novas capacidades surgem, muitas vezes ocorre a superestimação
da capacidade da criança, neste período. É importante ter claro que grande parte do seu
repertório verbal é usada de forma imitativa, sem que ela domine o significado das
palavras, ela tem dificuldades de reconhecer a ordem em que mais de dois ou três
eventos ocorrem e não possui o conceito de número. Por ainda estar centrada em si
mesma( a chamada fase do egocentrismo ), ocorre uma primazia do próprio ponto de
vista, o que torna possível o trabalho em grupo .
Está dificuldade mantém-se ao longo do período, na medida em que a criança
não consegue colocar-se do ponto de vista do outro. No aspecto afetivo, surgem os
sentimentos interindividuais, sendo que um dos mais relevantes é o respeito que a
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criança nutre pelos indivíduos que julga superiores a ela, por exemplo em relação aos
pais e professores. É um misto de amor e temor. Seus sentimentos morais refletem esta
relação com os adultos, em que o critério de bem e mal é a vontade dos adultos. Com
relação as regras, mesmo nas brincadeiras, concebe-as como imutáveis e determinadas
externamente. Mais tarde, adquire uma noção mais elaborada da regra, concebendo-a
como necessária para organizar o brinquedo, porém não a discute. Com o domínio
ampliado do mundo, seu interesse, pelas diferentes atividades e objetos se multiplica,
diferencia e regulariza, isto é, torna-se estável, sendo que, a partir desse interesse, surge
uma escala de valores próprio da criança. E a criança passa a avaliar suas próprias ações
a partir dessa escala.
É importante, ainda, considerar que, neste período a maturação neurofisíologica
completa-se, permitindo o desenvolvimento de novas habilidades, como a coordenação
motora fina : pegar pequenos objetos com a ponta dos dedos, segurar o lápis
corretamente e conseguir fazer os delicados movimentos exigidos pela escrita.
Em termos cronológicos, tal período se estenderia até os seis ou sete anos, mais
ou menos, que compreende justamente o período da educação infantil. É importante
ressaltarmos que cada criança é um ser uno não podemos transferir as respostas que uma
criança apresentou em certa idade para outra, cada uma tem o seu universo de
sensações.
A questão daí para frente não será somente o fazer, mas também o compreender.
É quando surge , a função de interiorização, que permite à criança conscientizar-se de
aspectos de seu corpo e exprimi-los verbalmente através da função simbólica. A
linguagem revela, por exemplo, que a criança coordena ações interiores, pensa
raciocina. Porém, esse raciocínio ainda enfrenta as mesmas dificuldades para se
desenvolver que enfrentaram os esquemas de ação do período sensório-motor, como o
engatinhar, o andar etc. , por isso chama-se este período de pré-operatório, isto é, o
período de preparação das operações lógico-matemáticas.
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2.2- CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS E DE COMPORTAMENTO
DE CRIANÇAS DE ZERO SEIS ANOS
Em sua trajetória milenar, o homem fixou-se em território para esperar,
confiando que a semente iria germinar, descobrindo assim a agricultura; foi quando
adquiriu características especificamente humanas . Desenvolveu a capacidade de criar
laços de afeto mais permanentes e pessoais, aprendeu a planejar e a esperar a época do
plantio, teve tempo ocioso para se encantar e deslumbrar com o céu cheio de estrelas e
decorar e circunscreve melhor seu habitat, começou a dividir tarefas e colheitas com
grupo com o qual convivia e, principalmente, começou a refletir sobre si mesmo,
inclusive, sobre a vida e a morte.
Assim, o permanecer de forma mais prolongada e regular num núcleo espacial
determinado e circunscrito, onde havia maior e mais íntima convivência com outras
pessoas, com seus objetos e pertences, criou condições extremamemte favoráveis ao
desenvolvimento do senso social, moral e estético. Elevou assim a capacidade humana
de observar, registrar e refletir sobre o meio, e de tomar consciência de si e do outro.
Esse processo de desenvolvimento vivido pela humanidade é renovado
individualmente em cada criancinha. O sentir o chão onde pisa como seu relativamente
permanente , estável e seguro, é condição de uma evolução sadia.
O ambiente, com todas as suas propriedades, pode ser caracterizado de forma
psicológica, isto é, de acordo com a conjunção de os aspectos físicos, sociais e mentais
das pessoas que nele interagem.
O espaço psicológico de uma criança e , consequentemente, o tipo de conduta
que pode vir a ter, estão diretamente correlacionados à liberdade de movimento que esta
possui, ou seja, aos lugares que considera de livre acesso e às regiões que, mesmo
existindo psicologicamente para ela, lhe são bloqueadas por situações sociais, como a
proibição por parte de um adulto, o impedimento imposto por outra criança ou, ainda,
por sua própria inadequação social, física ou intelectual.
A partir de um núcleo onde permanece mais tempo, à criança tende naturalmente
a explorar suas regiões vizinhas, a descobrir novos trajetos, lugares, pessoas e objetos.
Nessas descobertas vai atribuindo valências positivas, negativas ou ambivalentes ao que
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vivencia, de acordo com seus desejos e necessidades. Vai criando barreiras ou, ao
contrário, pontes de contato de acordo com a forma como vê o trajeto.
Muitas situações, modos de agir ou mesmo objetos, adquirem características
“boas”ou “más”aos olhos da criança, por assimilação da forma de lidar com a situação
por outra pessoa, criança ou adulto. A imitação, sendo um dos grandes mecanismos de
aprendizagem, leva-a a reagir como se fosse o outro. Quanto menor é, maior sua
sensibilidade às atribuições alheias de valores.
Através da observação de como as pessoas com as quais convive reagem a
determinadas situações, a criança vai internalizando modelos de ação e buscando
reproduzi-los em contextos análogos. Copia gestos, posturas, mímicas e entonações de
voz, expressando atração ou repulsa, muitas vezes de acordo com o que presenciou. Por
exemplo, para uma criança pequena que observa a mãe ou o educador, ou mesmo outra
criança, ter uma atitude favorável e afetuosa frente a outra pessoa, será mais fácil
atribuir um valor positivo a esse desconhecido.
Alguns autores colocam que é o social que vai decodificando a realidade para a
criança, denotando-a e conotando-a segundo sua história de vida e cultura. Nesse
sentido, as decisões e atribuições de valor da criança pequena dependem muito do que
ela observa ao seu redor.
Situações que contribuem para cercear sua liberdade ação e de opção, como as
provenientes de uma postura de superproteção, ou excesso de rigor nas regras e
proibições, ou, em sentido oposto, de ausência quase que completa de limites claros e
objetivos, ou ainda de oscilação constante da forma de agir frente a determinados fatos
,ora permitindo e incentivando, ora proibindo e castigando, levam a criança a ter uma
grande dificuldade para se adaptar.
A ampliação de seu ambiente externo corresponde e expressa uma estruturação
de seu meio interno, que integra e correlaciona partes em totalidades cada vez maiores,
formando uma rede dinâmica de significações, onde o físico, o social e o psicológico se
entrelaçam .
Em seu desenvolvimento, a criança vai reestruturar continuamente seu campo de
ação tentando encontrar novas formas de contornar barreiras a fim de obter o que quer,
conseguindo mesmo fazer trajetos parciais em sentido inverso ao do objetivo maior, a
fim de contornar um obstáculo. Precisa, contudo, de um espaço nitidamente demarcado
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como seu, onde ao voltar de suas excursões a desafios cada vez maiores, reencontre suas
coisas, reconheça sua localização específica, sua textura e até mesmo seu cheiro.
Este espaço caracteriza-se principalmente pelas pessoas com as quais convive e
pelo tipo de relação que com elas desenvolve. A seguir, teremos um resumo das
características de cada criança durante a educação infantil:
Características da crianças de três anos: A criança já possui potenciais recebidos
do meio familiar, cuja consolidação depende, em parte, da estimulação e receptividade
do meio que se expressam. Ela começa a organizar as emoções e expressá-las como
sentimentos, sendo criada uma confiança mútua, o ambiente propricia que ela
externalize seus sentimentos e temores. Muitos medos se ligam à incapacidade de
distinguir, entre fantasia e realidade interior e exterior.
É mais independente, querendo fazer tudo sozinha, procurando imitar os adultos,
com quem convive, em palavras e atitudes. Em muitas coisas nos surpreende com sua
criatividade e originalidade.
Nesta idade, a criança distrai-se facilmente, tendo dificuldades para manter sua
atenção por um longo tempo, e se prender a regras de jogos. Jogam como se estivessem
sozinhas. Não existe o sentido de competição. Suas imagens não são necessariamente,
organizadas.
Características da criança de quatro anos: Está interessada e preparada em
aprender o que é real e o que é “faz-de-conta”, devido a sua imaginação. Suas
brincadeiras refletem a maneira como oscila entre esses dois mundos, ajudando-a,
assim, a compreender melhor a diferença entre eles. Nesta idade, a criança tem grande
prazer em sentir que pode ajudar e esta ajuda, às vezes, representa o desejo de copiar.
Começa a fase de identificação e, por estar mais segura de sua identidade, divide a
afeição, tolera mais as coisas que devem ser partilhadas.
A criança na idade do faz-de-conta mostra grande necessidade de excitações
afetivas e de incremento do prazer de viver relacionado com elas. Com sua viva
imaginação, a criança inventa histórias e as enfeita. Ela encontra prazer no movimento
caracterizador e encontra, por si mesma, atitudes decisivas.
A Cooperação toma forma de auxílio, sugestão e crítica. É nesta idade que a
criança aprende que o combate físico não é o melhor método de resolver disputas e
conflitos.
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Características de criança de 5 anos : Tem ou deverá ter uma personalidade real
para o autocontrole. Está descobrindo as diferenças entre realidade e fantasia,
ampliando a capacidade de aprender o mundo externo. Elas precisam da experiência, da
tolerância e do bom humor, ao aplicar normas. São capazes de fazer críticas a si
próprias o que constitui uma expressão de orientação mais realista.
Características de crianças de 6 anos: Já apresenta suas próprias variações com
um mesmo brinquedo e já consegue perceber variações de rápido, lento, repetir sons e a
atribuir novos significados ao mesmo objeto através da representação mental.
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CAPÍTULO III
3.1-O HOMEM LÚDICO
Os antigos já sabiam da importância do brincar no desenvolvimento integral do
ser humano. Aristóteles, quando classificou os vários aspectos do homem , dividiu-os
em Homo Sapiens ( o que conhece e aprende), Homo Faber (o que faz, produz) e Homo
Ludens (o que brinca, o que cria).
Em nenhum momento, um dos aspectos sobrepujou o outro como mais
importante ou mais significativo. Na sua imensa sabedoria, os povos antigos sabiam que
mente, corpo e alma são indissolúveis, embora tenham suas características próprias.
A era capitalista, com seu enfoque na produtividade e no lucro a qualquer preço,
passou a valorizar os atributos intelectuais e físicos em detrimento dos valores
espirituais tais como: Sensibilidade, criatividade, senso estético, solidariedade,
altruísmo, idealismo e humor.
Nas últimas décadas, no entanto a visão materialista do ser humano e de sua
missão no mundo, independentemente de qualquer conceito, passou a ser amplamente
discutidas pois não produziu o resultado desejado: A Felicidade.
Embora, para alguns privilegiados, ela pareça existir, as chamadas “Ilhas de
Prosperidade”. Estão cada vez mais ameaçadas pelas ondas de pessoas infelizes,
violentas, que perderam a alegria e a crença no valor da vida.
O que vemos então são crianças e adolescentes armados com todo tipo de
artefatos, matando-se entre si ou ameaçando outras crianças e adolescentes mais
afortunadas do que elas.
E aí nós perguntamos...o que o brincar tem a ver com tudo isso? Se
consideraremos que brincar é a ação do “Homo Ludens”, aquele de quem falávamos no
início, e que é parte do ser humano integral e que além do desenvolvimento físico e
intelectual, o brincar favorece o desenvolvimento dos vínculos afetivos e sociais
positivos, condição única para que possamos viver em grupo, estaremos diante do
principal, senão único, instrumento de educação para a vida.
O grande trunfo das atividades lúdicas é o fato de elas estarem centradas na
emoção e no prazer, mesmo quando o jogo pode trazer alguma angustia ou sofrimento.
Nesses casos, quando à criança exprime emoções consideradas negativas, o jogo
20
funciona como uma “Catarsis” uma limpeza da alma , que dá lugar para que outras
emoções mais positivas se instalem.
Sentimentos como raiva, tristeza ou frustração fazem parte da nossa vida diária.
Poder exprimi-los através de um jogo, uma brincadeira, não só nos aliviará do fardo,
como nos ensinará a utilizar o humor de forma a fortalecer nossa reziliência. Chutar
uma bola ou virar cambalhota podem ser maneiras saudáveis de liberar aquela
adrenalina concentrada em nosso organismo e que, muitas vezes não nos permite nos
concentrarmos nas atividades mentais, incluindo o aprendizado.
Felizmente pouco a pouco, os muito especialistas, e os nem tanto estão
percebendo o peso e a importância do lúdico para o desenvolvimento saudável, não só
de crianças e adolescentes, mas também de adultos de qualquer idade.
Recentes artigos publicados na imprensa, nos dão conta do avanço das periferias
e suas mazelas, entre elas a falta de espaço para brincar e para viver o viver
compartilhado. As consequências são previsíveis e assustadoras e está chegando o
momento em que as crianças alí crescidas se defrontaram com aquelas criadas em
redomas de luxo, muito confortáveis e ricas, mas não menos opressoras. E essas
crianças com baixo nível de tolerância reciproca, mal humoradas, com sua sensibilidade
mal aflorada, irão confrontar-se com toda a raiva e violência de que são capazes os seres
humanos desumanizados.
Cabe a nós todos educadores, empresário, políticos e cidadãos comuns, repintar
esse quadro com as cores suaves da alegria, da atividade livre da convivência fraterna,
propiciando a todos espaços e oportunidades para brincar.
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3.2-HISTÓRIA DA INFÂNCIA E DAS ATIVIDADES LÚDICAS
Nos primeiros tempos do cristianismo, gregos e romanos participavam de
diversos tipos de recreações. No início da era cristã a atividade física prevalecia.
Na escola primária da época helenística, a criança aprendia a leitura a partir de
letras, sem preocupação com seu valor fonético, e daí passava-se lentamente para a
sílaba, às palavras e às frases .
Sob a influência romana, a valorização harmoniosa do corpo e, assim, o ócio, o
lazer era de fundamental importância para o desenvolvimento do ser humano. Na
Rússia, no século xx, o pedagogo alemão Froebel (1782-1852), influenciado por
Rosseau e Pestalozzi, desenvolveu na sua clássica a educação do homen, suas idéias
sobre a finalidade da educação, sua ênfase no papel do jogo, revelador das idéias
infantis, estava ligada à certeza de que a primeira infância, com suas primeiras
impressões marca profundamente o ser humano. E o desenho infantil, para ele, era a
atividade exteriorizadora das experiências aprendidas.
Contrariamente à opinião generalizada de que o ato de brincar se inicia por volta
dos dois anos de idade, quando a criança começa a “dramatizar”, utilizando o jogo faz-
de-conta, o comportamento lúdico tem seu inicío, já desde o primeiro mês de vida,
mediante reações espontâneas e prazeirozas. Assim, o bebê pode responder ao
movimento de um brinquedinho próximo de sua vista, seguindo-o com o olhar ou com o
girar da cabeça, entre outras formas preliminares de comportamento que revelam certa
expressão de prazer e distração. A partir desses primeiros sinais, o brincar vai se
configurando ao longo, da infância, incluindo a dramatização como uma dessas fases de
maior significação no comportamento lúdico.
Alguns especialistas destacados em brincadeiras infantis, afirmam que tais
comportamentos se iniciam já nos primeiros meses de vida da criança. Para caracterizá-
los como brincadeira, considera necessário que o mesmo se manifeste livremente,
embora estimulado adequadamente pela pessoa que atenda o pequeno. Desse modo,
seguindo um exemplo citado por esses especialistas, a criança, nos seus três primeiros
meses pode divertir-se observando-os e movimentando-os com espontaneidade e
satisfação.
22
Como prova da importância de que se revestem as atividades lúdicas com o fim
de otimizar o desenvolvimento dos pequenos, os estudos e experiência educacionais
sobre o tema, evidenciam resultados claramente satisfatórios quando aquelas são
apropriadas aos níveis do processo evolutivo da criança, a seu ritmo e a outras, e ainda,
outras mais, mostram-se mais ativas ou mais calmas, sendo até seletivas nos seus
brinquedos e brincadeiras desde os primeiros meses de vida.
Portanto, conclui-se que não é suficiente cercar a criança de cuidados, ela
precisa de algo mais que a estimule para torna-se mais comunicativa, independente e
alegre, o que provém, em grande parte, das atividades lúdicas originadas por ela própria
ou proporcionadas pelas pessoas que a atendem.
23
3-3-ATIVIDADE LÚDICA E O DESENVOLVIMENTO AFETIVO-
SOCIAL
Hoje em dia, com o ingresso da mulher no mercado de trabalho e o consequente
aumento de participação efetiva das instituições na educação infantil no
desenvolvimento da criança, é importante que se reflita cuidadosamente sobre a
necessidade de se organizar um ambiente propício, que respeite necessidades básicas
neuropsicológicas da criança como indivíduo ativo e social.
A força, originalidade e criatividade da brincadeira simbólica, também chamada
de faz-de-conta, ou ainda, de jogo dramático, provém de suas raízes que se afirmam e
tiram sua seiva do chão-terra. De fato, são as brincadeiras do bebê com seu corpo,
quando rola, engatinha, tira e põe, vezes sem conta, objetos uns dentro dos outros, numa
cadência rítmica, que alterna movimentos opostos, como os de abaixar e levantar puxar
e empurrar, abrir e fechar, esconder e achar, que dão condição a passagem da vida ainda
muito próxima dos instintos, alicerçada nos reflexos, ao lento, gradual e batalhado
ingresso no universo humano propriamente dito, o simbólico. Ou seja, o brincar do bebê
tem uma importância fundamental na construção de sua inteligência e de seu equilíbrio
emocional, contribuindo para sua afirmação pessoal e integração social. As estruturas
mentais são orgânicas e só se desenvolvem se houver possibilidade de expressão e
comunicação com o meio.
Nos aspectos afetivos-sociais estão incluídas todas as variáveis relacionadas ao
desenvolvimento emocional e social da criança. Esses aspectos, de alguma forma, estão
envolvidos na aprendizagem, seja como condição prévia, seja como produtos da
aprendizagem. é o caso por exemplo, de interesses, atitudes e valores, motivações,
autoconfiança, sociabilidade.
Vida a fora o meio exercerá sua influência, sua atração “falará” à criança
através das suas diferentes “linguagens”, convidado-a ou mesmo impedindo-a a agir ou,
por outro lado, inibindo-a. A criança, contudo, tomará sempre parte ativa nessa escolha
e seleção: do que faz, como faz, por que faz, quando faz, e com quem faz. O brincar
ensina a escolher, a assumir, a participar, a delegar.
Aprender a agir, inclusive a brincar, só se dá em contato íntimo e significativo
com o outro, que via de regra, no inicío da vida è a mãe ou quem a substitua. Não há
24
possibilidade de aprendizagem e conseguentemente de humanização fora do convívio
social , e, mais do que isso , sem vivenciar e sentir realmente um vínculo afetivo, estável
e confiável, que no começo é mais sentido do que manifesto.
Nesse sentido, a formação do educador infantil não se restringe só a aspectos
intelectuais e cognitivos, mas também aos psicológicos, com especial atenção aos
afetivos-emocionais, já que, quanto menor a criança, menor consciência tem de si
mesma como um ser separado e, consequentemente, mais vulnerável e influênciável
fica a estados de tensão, frustração, ansiedade, depressão e etc.., por parte de quem
convive com ela. A absorção desses estados desequilibradores, inconscientes em sua
maior parte tanto pelo educador como pela criança, cria-lhe um grande mal-estar, que
pode traduzir por condutas inibidas, ou ao contrário, agitadas. Assim, após momentos de
maior frustração, o brincar compensa e reequilibra o organismo, chegando mesmo a
armazenar bem-estar, se assim podemos dizer, para momentos futuros.
Atividades recreativas e físicas, com ou sem a forma de jogos, podem
influenciar positivamente vários outros aspectos afetivo-sociais das crianças. Um bom
lugar para se entender a questão das recompensas intrínsecas é a análise do jogo. As
pessoas são mais humanas, integradas, livres e criativas quando elas jogam
No caso humano, o jogo permite à criança desenvolver um ego mais forte, por
meio de manipulação simbólica do ambiente. O jogo ou o brinquedo, como atividade
agradável, não pode ser confundido como o jogo no sentido de partidas, competições,
que podem significar obrigações, treinamento, ansiedade. Toda vez que o elemento
competitivo ou agressivo suplanta os demais atributos do jogo-brinquedo, este passa a
ser jogo-vício ou jogo-obrigação. O jogo-brinquedo é, em essência, de natureza criativa.
O jogo é, assim uma forma de estar no mundo. Quando bem aproveitado, o jogo
ou brinquedo, tão presente na infância, é uma das mais construtivas e úteis experiências,
que a civilização de hoje está acabando de liquidar. Assim, na atividade lúdica, a
presença da concomitante atitude lúdica é fundamental.
Tão importante quanto uma boa seleção(cognitiva e afetivo-emocional) dos
educadores é propiciar sua constante adequação não só quanto a seus conhecimentos e
estratégias de ação, mas quanto à sua saúde mental. Pais e educadores que respeitam a
necessidade da criança de brincar estarão construindo , portanto, os alicerces de uma
adolescência mais tranquila.
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3.4-A CRIANÇA E O JOGO
No brincar, casam-se a espontaneidade e a criatividade com a progressiva
aceitação das regras sociais e morais. Em outras palavras, é brincando que a criança se
humaniza, aprendendo a conciliar de forma efetiva a afirmação de si mesma à criação
de vínculos afetivos duradouros.
Assim como molda a cultura contextualizada no tempo e no espaço, o brincar
dela deriva. Não sendo uma prerrogativa humana, mas muito mais ampla e precoce, o
lúdico afirma suas raízes em sociedades animais constituindo-se, não apenas como uma
preparação a vida adulta, mas como uma atividade que contém sua finalidade em si
mesmo.
Com a criança, o brincar da continuidade a características válidas para outras
espécies vivas, mas também as prolonga, aperfeiçoa e especializa, havendo se
convertido numa das estratégias selecionadas pela natureza e pelo próprio homen, na
formação de sua autonomia e sociabilidade, ajudando-o a atravessar sua longa infância e
adolescência.
O lúdico aparece como atividade própria da criança pequena, sem regras, pois a
fantasia orienta a criança para brincar seriamente. De acordo com RODRIGUES (1986):
O brinquedo como fantasia estabelece uma ponte entre o mundo inconsciente e a
realidade que rodeia a criança, pois nele fantasia e realidade se mesclam. Depois desta
etapa, aparece o jogo imaginário, que permite à criança a conquista do autodomínio; ela
aprende a se controlar, aproveitando as oportunidades para se auto-afirmar. Em seguida
aparece o jogo de regras através do qual a criança vivencia a sensação de permanência e
segurança do ambiente. O jogo é considerado uma atividade natural, espontânea,
empreendida com prazer, onde predomina o aspecto lúdico. O jogo é um caso típico das
condutas negligenciadas pela escola tradicional, dado o fato de parecerem destituídas de
significado funcional. Para a pedagogia corrente, é apenas um descanso ou desgaste de
um excedente de energia. Mas esta visão simplista não explica nem a importância que
as crianças atribuem aos seus jogos e muito menos a forma constante de que se
revestem os jogos infantis, simbolismo ou ficção, por exemplo.
As crianças que não apresentam a linguagem verbal ainda desenvolvida repetem
gestos já aprendidos, por puro prazer, caracteriza-se então uma conduta lúdica, um jogo.
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Relacionada ao ato corporal temos os jogos de exercício. É importante procurar ressaltar
que esse jogo não é uma conduta exclusiva de um período de vida, mas uma ação
evidente e a única forma de jogo possível para as crianças do período sensório-motor.
Já o jogo simbólico além de exercer papel semelhante ao do jogo de exercício ,
acrescenta um espaço onde se podem resolver conflitos e realizar desejos que não foram
possíveis em situações não lúdicas. Ou seja, no jogo símbólico pode-se fazer de conta
aquilo que na realidade não foi possível.
Pois, no decorrer do desenvolvimento, várias maneiras de brincar aparecem. Da
mesma forma que a criança adquiriu habilidades de andar, falar, através da prática
repetitiva, ela passa do jogo de exercícios para o jogo simbólico, utilizando o faz-de-
conta para se introduzir no mundo dos adultos. Significa que a criança progride da
necessidade de experimentar alguma coisa para a habilidade de pensar sobre ela. Ela
aprende que uma bola é redonda, rola e que, ao brincar com ela podemos jogá-la em
várias direções e de muitas maneiras diferentes.
A mudança no conteúdo da brincadeira está intimamente relacionada à mudança
em suas atividades rotineiras.
Chamaremos a atenção, para as mudanças qualitativas no faz-de-conta social de
crianças mais velhas em relação as mais novas (3 e 6 anos). A criança torna-se capaz de
se libertar das propriedades físicas do objeto, apresentando um jogo de faz-de-conta
mais complexo e de maior duração.
A brincadeira de faz de conta pode ser vista como uma intercessão de dois
amplos conceitos: Brincar e Simular. Brincar é comumente definido como uma
atividade que tem como objetivo a diversão e não a sobrevivência, enquanto, que a
simulação envolve uma realidade que se sobrepõe à outra, mantendo uma coisa frente à
outra para protegê-la, encobri-la ou disfarça-la .
A brincadeira de faz-de-conta está ligada ao sentimento de “como se “que
caracteriza o jogo simbólico, que de acordo com PIAGET (1951) tem seu apogeu aos
quatro anos. O “como se” pode ser observado em crianças que brincam imitando
barulhos de canos, apitos de trem, tendo como suporte da brincadeira, apenas alguns
pedaços de madeira e soldados de plástico.
Há diferença entre uma menina que troca de roupa de sua boneca e outra que
conversa com a boneca, ao trocar sua roupa, pedindo que ela não suje o vestido novo
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nem desarrume o penteado. A primeira criança estaria apenas executando a tarefa de
trocar de roupa da boneca, enquanto que a outra, de acordo com PIAGET, estaria
modificando a situação e introduzindo elementos de “como se”.
A brincadeira de faz-de-conta é frequentemente manifestada, por exemplo, no
comportamento de fingir está dormindo, quando não está , envolve também objetos
substitutos fingindo que uma trouxa de roupa é um travesseiro e imaginando objetos
onde não há nada. A simulação pode também, envolver papéis imaginários e situações:
fingindo ser a Branca de neve, o homen aranha e etc.... Em todos esses cenários o
mundo real é suplantado pelo mundo da fantasia.
No brincar a criança está sempre acima de sua idade média, acima de seu
comportamento diário. Assim, na brincadeira de faz-de-conta as crianças manifestam
certas habilidades que não seriam esperadas para a sua idade.
As crianças pensam sobre o mundo da fantasia com mais flexibilidade do que
pensam sobre o mundo real, e isso pode indicar que a brincadeira de faz-de-conta é um
meio na qual elas são mais competentes nas tarefas que requerem flexibilidade ou
pensamento divergentes.
E a terceira categoria é o jogo de regras, que tem como característica a
sociabilização.
O jogo é a atividade mais indicada para satisfazer a necessidade de movimento
de movimento que a criança tem em grande potencial. A criança joga por diversão,
entretenimento e, também, porque o jogo representa esforço e conquista. O professor
deve criar um ambiente apropriado para a aprendizagem da criança, e que esta possa
livremente sem haver qualquer tipo de bloqueio afetivo desfrutar destas oportunidades.
É brincando que a criança elabora progressivamente o luto pela perda relativa
dos cuidados maternos, assim como encontra forças e descobre estratégias par enfrentar
o desafio de andar com as próprias pernas e pensar aos poucos com a própria cabeça,
assumindo a responsabilidade por seus atos. O brincar desenvolve na criança seu
espírito construtor e artístico. Faz com que lide de forma efetiva com as dificuldades
encontradas, identificando seu próprio estilo de agir.
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3.5-OS RITUAIS E AS REGRAS DO BRINCAR
Nesse processo de adaptação mútua, os ritos contidos nas brincadeiras infantis
têm um papel facilitador e integrador.
Instrumentos de integração grupal, os ritos estão presentes já nas sociedades de
animais e adquirem no processo de formação e desenvolvimento sociocultural humano,
desde a pré-história, um papel insubstituível.
Sua funcão maior é de preservar a coesão do grupo, criando condições de
estabelecimento de laços positivos, afetivos e duradouros entre seus membros.
Vemos, portanto sua fundamental relevância na consolidação de uma
sociabilidade efetiva, que será posta à prova no decorrer da vida principalmente em
situações de transição e crise.
Os ritos revelam-se como excelentes mecanismos, convergentes inter e intra
grupais, favorecendo o contato criança-criança e criança-pais/professores.
Nos rituais contidos nas brincadeiras infantis a criança é introduzida de forma
viva e significativa ao mundo das regras e morais, que contém a seriedade e o
compromisso do respeito a um contrato estabelecido.
Quem brinca, de certa forma pisa em chão sagrado, já que acredita plenamente
na realidade vivida e sentida, mergulhando fundo em suas águas, respeitando suas
alianças. Rito e crença permanecem indissociáveis na evolução do brincar, ambos
mantendo por pólo formador e sustentador a imagem mítica da ligação efetiva como
grupo primordial ( mãe-criança ). É a sensação de estar integrado a, de pertencer a, que
anima a criança a brincar com envolvimento e alegria.
É importante mostrar como o brincar. Principalmente nos primeiros anos de
vida, vem a ser uma situação altamente significativa para a formação da personalidade
saudável da criança, favorecendo sua afetividade e criatividade, ajudando-a inclusive a
identificar e controlar e canalizar impulsos provenientes de fantasias agressivas para
atividades mais adaptadas.
Nesse processo, a organização da motricidade e da capacidade de representar a
realidade se entrelaçam num movimento dinâmico, que forma e reflete sua estruturação
mental.
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O brincar da criança combina corpo e símbolo numa inserção gradual e
progressiva no universo histórico cultural, que contém regras sociais e morais que
ajudam a manter-se no eixo maior do respeito a si, ao outro e à liberdade.
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CAPÍTULO IV
4.1-CONCLUSÃO
Ao final do estudo, conclui-se que as atividades lúdicas contribuem
positivamente para o desenvolvimento da afetividade e do indivíduo de forma global.
A brincadeira é uma forma da criança constituir-se como indivíduo, formulando
e compartilhando significados, a mesma traduz a forma como as crianças interpretam e
assimilam o mundo, os objetos, a cultura, as relações e os afetos das pessoas, é uma
maneira de conhecer o mundo do adulto sem adentrar neste mundo realmente.
A medida que a criança utiliza-se da brincadeira, do lúdico, ela interage com o
outro , com o objeto e consigo mesma, desenvolvendo a linguagem, função esta que
organiza todos os processos mentais da criança, dando forma ao pensamento.
Vale observar, que a atividade lúdica é, antes de mais nada uma demonstração
plena do exercício de abstração.
É certo que a atividade em si exercita o físico e promove uma maior
compreensão do esquema corporal, ajudando a criança a equilibrar suas emoções, uma
vez que estará descarregando tensões acumuladas, contribuindo para reforçar a sua auto
estima e aumentando a sua confiança em lidar com os seus colegas e o mundo em que
vive.
Contudo, a estrutura social do ser humano só encontra significado ao se
comportar como um todo.
Este trabalho enfatizou, nas suas partes que não é possível desenvolver qualquer
aspecto do indivíduo se este não estiver relacionado com o todo, não podemos trabalhar
partes isoladas quando falamos de seres humanos. Portanto, o trabalho lúdico tem a
obrigação de se preocupar com a criança na sua globalidade e esta é uma
responsabilidade que não deve e nem pode ser tratada superficialmente.
Acreditamos que as atividades lúdicas, quando bem estruturadas, possibilita a
praparação de um ambiente de aprendizagem e de desenvolvimento que favoreça a
todas crianças desenvolverem ao máximo as suas potencialidades de movimento e os
fatores que influenciam, levando-se em conta suas características e limitações.
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Esperamos que pais, educadores e as próprias crianças possam ter seu lado
afetivo bem resolvido, para que possam se tornar pessoas com recursos necessários na
construção da sua identidade, da sua autonomia satisfazendo assim todas as suas
expectativas e necessidades.
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CAPÍTULO V
5.1-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1-CHATEAU,jean. O jogo e a criança
São Paulo, ed. Summus,1987.
2-FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro
São Paulo, ed. Scipione,1997.
3-HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. O jogo como Elemento da Cultura
São Paulo, ed. Perpectiva, 1980.
4-LA TAILE, Yves de Piaget, Vigotsky, Wallon. Teorias psicogenéticas em
discussão. São Paulo, ed. Summus, 1992.
5-PIAGET, Jean. A Formação do símbolo na criança.
Rio de Janeiro, ed. Zahar, 1978.
6- RODRIGUES, Maria. Desenvolvimento do pré-escolar e o jogo.
São Paulo, ed. Pioneira, 1979.
7-SEYBOLD, Annemarie. Educação Física: Princípios pedagógicos
Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1980.
8-OLIVEIRA, Vera Barros. O Brincar e a Criança do Nascimento aos seis Anos
Rio de Janeiro, ed. Vozes, 2000.