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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM Liberdade de expressão no mundo virtual: uma análise do blog do Noblat Por: Laíze Damasceno Orientador Prof. Fernando Alves Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

Liberdade de expressão no mundo virtual: uma análise do blog

do Noblat

Por: Laíze Damasceno

Orientador

Prof. Fernando Alves

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

Liberdade de expressão no mundo virtual: uma análise do blog

do Noblat

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Comunicação

Empresarial.

Por: . Laíze Damasceno Dias

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RESUMO

A internet continua se desenvolvendo e apresentando possibilidades

cada vez mais diversas. Com isso, novas formas de relação, de interação e de

comunicação surgem no ciberespaço. Modos diferentes para divulgar e

compartilhar informações parecem nascer como simples idéias, que

rapidamente passam a ser levadas a sério. Pode-se dizer que os blogs são

exemplos dessas idéias que viram profissão e responsabilidade.

Com o tempo, os diários pessoais espalhados na internet ganharam

novas características, tornando-se também importantes ferramentas

jornalísticas. Pois, através dos weblogs, jornalistas têm viabilizado espaços

para dialogar, trocar informações e expressar opiniões com seus leitores.

Neste contexto, pretende-se discutir como a ferramenta blog pode ser

utilizada para exercer a livre expressão de opinião. Serão trabalhados

conceitos relacionados à interação virtual a fim de compreender de que forma

o jornalista Ricardo Noblat exerce liberdade de expressão em seu blog. Para a

realização desta pesquisa, o objeto de estudo foi observado durante uma

semana. Foram estudados o primeiro e o último post de cada dia publicados

na página virtual do jornalista.

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METODOLOGIA

Durante cinco dias será analisado um post de cada dia publicado pelo

colunista no blog e até os três primeiros comentários referentes às publicações

observadas.

Para registrar este material será necessário arquivá-lo em cd e disco

rígido, como pen drive, tendo em vista que a qualquer hora todo o conteúdo

pode ser apagado, deletado e desaparecer por algum motivo já previsto.

Será feita análise minuciosa para compreender a linguagem, as técnicas

jornalísticas e as ferramentas estratégicas utilizadas para se comunicar num

espaço virtual interativo. Além disso, será contextualizada a história dos blogs

no sentido da sua popularização e caracterizado como espaço jornalístico.

Durante este tempo de observação e de coleta de informações sobre o

objeto, pretende-se realizar pesquisas sobre novas tecnologias, blogs,

ciberespaço, interatividade, liberdade de expressão, imagem profissional de

jornalismo e credibilidade jornalística. Recorrei a autores como, por exemplo,

Pierre Lévy, Eugênio Bucci e John Thompson. Após estudar e reunir o

material, a monografia será redigida.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 06

CAPÍTULO I - Da pequena rede ao cibermundo 11

CAPÍTULO II - Ciberespaço 25

CAPÍTULO III – Blogosfera 40

CONCLUSÃO 57

BIBLIOGRAFIA 61

ÍNDICE 65

FOLHA DE AVALIAÇÃO 66

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INTRODUÇÃO

Atualmente a internet é uma das tecnologias mais utilizadas para se

comunicar. Portanto, vale lembrar que, em seu início, o principal objetivo era

somente registrar e compartilhar de modo rápido e seguro as informações do

governo norte-americano. No decorrer das décadas, a pequena de rede de

computadores sofreu transformações, se espalhou pelo mundo e ganhou

diversas finalidades, tornando-se uma importante ferramenta de comunicação,

considerada fundamental em diversas áreas da vida dos seres humanos.

A comunicação mediada por computador (CMC) revolucionou a vida

cotidiana das pessoas que, conectadas à internet, podem dialogar em um novo

ambiente e à distância. Através de salas de bate-papo, correio eletrônico e

sites de relacionamento, por exemplo, a realidade dos indivíduos ganhou uma

versão virtual, onde tudo parece ser possível ou pelo menos idealizado.

Desde o surgimento da rede, pesquisas são realizadas e,

conseqüentemente, novas descobertas são feitas, fazendo com que a

tecnologia continue a avançar. Mesmo com o passar do tempo a internet

garante novidades, continua mostrando que ela não pára de se desenvolver,

deixando de ser apenas um canal simples para trocar informações, mas

também se estabelecendo cada vez mais como um eficaz meio de

comunicação de massa.

Neste sentido, veículos de comunicação exploram ao máximo o que o

mundo online pode oferecer. Reproduzem e criam seus conteúdos para

despejar em mais um lugar, onde, por exemplo, impressos ganham versões

eletrônicas ou ainda ampliadas. Com isso, o jornalismo também cresce e

acompanha o ritmo das novas tecnologias da informação, lançando, portanto,

o webjornalismo que vem transformando e alargando as possibilidades da

atividade profissional, desde as adaptações da linguagem, ao consumo e

publicação de notícias.

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Nessa cadência de mudanças, a internet, provida de muitas

potencialidades, permite não somente que jornalistas produzam e divulguem

informações e conteúdos, mas também abre espaço para que usuários

comuns participem de maneira mais ativa de processos comunicacionais. Os

leitores passam a expor as próprias idéias e defender opiniões, por exemplo,

através dos weblogs.

Blogs ou weblogs, sobretudo são caracterizados por funcionarem

como diários pessoais em formato de páginas na internet, onde o dono pode

utilizar uma técnica simples e prática para escrever o que quiser. Porém, pode-

se dizer que a versão digital dos diários têm sentido oposto ao do formato

impresso (as antigas agendas), pois a idéia é que o blogueiro utilize-os para

relatar acontecimentos do seu dia-a-dia, publicar seus pensamentos e

opiniões. Porém, devido ao sucesso, não só os internautas aderem à

ferramenta, mas como também os jornalistas e os grandes portais jornalísticos,

que a utilizam para divulgar periodicamente notícias ou para criar novas pontes

com o público. Todavia, o jornalismo realizado em blogs se transforma ainda

mais, onde as técnicas e estilos se diferenciam do trabalho no impresso,

alterando assim desde a estrutura das redações a forma de apurar, de produzir

e de noticiar.

Os blogs são alguns dos instrumentos de comunicação disponíveis e

facilmente manuseados na internet, tendo por maior potencial a interação, que

por sua vez proporciona ao jornalismo características próprias, se comparadas

a outros meios. O caráter de coletividade faz com que o público participe e

construa junto com os profissionais de tal modo que a comunicação, em tempo

real, seja mulidirecional. Os blogs têm a capacidade de multiplicar as vias da

informação, tanto para a opinião pública quanto à própria camada jornalística.

Uma das características mais marcantes dos weblogs é a atualização

rápida e fácil dos conteúdos, que geralmente apresentam linguagem objetiva e

íntima. Há também a possibilidade de troca entre autores e leitores através do

espaço para enviar comentários. Para organizar a blogosfera, as páginas

virtuais podem ter diferentes classificações, categorizando-se por assuntos e

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temas. Com isso, diante das múltiplas funções desempenhadas, já existem

blogs com importantes papéis no que se trata de veiculação jornalística.

Neste contexto, a maneira de comunicar, de compreender, de

conversar e de transmitir informações, como se fosse um novo conjunto de

costumes e cultura, passou também a ser praticada na esfera chamada de

ciberespaço, potencializando ainda mais a interatividade. Logo, a interação

virtual, permite que idéias e opiniões sejam expressas de modo mais livre

nesse universo invisível.

Hoje, facilmente são encontrados na rede blogs jornalísticos. Além de

colunistas optarem por administrar também versões digitais, existem aqueles

jornalistas que abandonam as redações tradicionais e migram de vez para a

atividade online. Pode ser que um dos motivos para tais escolhas sejam a

autonomia e a flexibilidade que a internet e o formato por si só já oferecem,

proporcionando assim liberdade de expressão enquanto opinião,

diferentemente de meios como rádio, revista, televisão ou jornal impresso.

Mesmo com o surgimento de portais na internet, dirigidos por grandes

grupos de comunicação, muitos profissionais buscam certa independência

através das páginas pessoais, como se estas funcionassem como um espaço

exclusivo do jornalista para escrever sobre os assuntos mais variados,

podendo atualizá-lo a qualquer hora e ainda comunicar-se mais diretamente

com os leitores.

Portanto, este trabalho, além acrescer o repertório de estudos

acadêmicos sobre novas tecnologias da informação utilizadas pelos meios de

comunicação de massa, pretende compreender de que forma a liberdade de

expressão pode ser manifestada num espaço virtual, mais especificamente em

weblogs jornalísticos. Para tanto, foi escolhido como objeto de estudo a página

pessoal do jornalista Ricardo Noblat, o Blog do Noblat, sitiado atualmente no

portal do jornal O Globo.

Esta pesquisa está organizada em três capítulos temáticos. No

primeiro, são apresentados os principais acontecimentos da história da

internet, desde sua invenção, quando ainda restrita a assuntos militares,

passando por diferentes fases de desenvolvimento até se popularizar.

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Também são exemplificadas algumas possibilidades da internet, mostrando as

diferentes maneiras de utilização da tecnologia como um meio de

comunicação, seja através de e-mails, de sites para compartilhamento de

arquivos, de portais jornalísticos, ou ainda dos weblogs, que em tão pouco

tempo se popularizaram. Neste capítulo é feita uma análise dos blogs,

compreendendo como surgiram, seus diferentes tipos, como se expandiram e

de que forma desempenham papéis semelhantes aos do webjornalismo. Para

isso, foram utilizados autores como Manuel Castells, Raquel Recuero e

Pollyana Ferrari.

O segundo capítulo é destinado a mostrar como o crescimento da rede

e das tecnologias digitais transformaram a cultura e as relações pessoais,

conseqüentemente fazendo dos blogs instrumentos jornalísticos para a livre

expressão de pensamentos e canais de diálogo com o público. Para entender

conceitos como cibercultura, ciberespaço, comunidade virtual e inteligência

coletiva, buscou-se estudos de autores como o filósofo Pierre Lévy e o

pesquisador André Lemos. A fim de compreender as formas de interatividade

humana e como ela ocorre entre as pessoas e os meios de comunicação no

ciberespaço, são explanadas os três tipos de interação propostos pelo

sociólogo John Thompson. Através de autores como Wilson Gomes, José

Marques Melo, Patrícia Santos e Eugênio Bucci, foram considerados também

estudos relacionados ao papel e a motivação do jornalista e a liberdade de

expressão na comunicação virtual.

No terceiro e último capítulo é exposta uma análise do Blog do Noblat.

Primeiro é feita uma descrição sobre a trajetória profissional do jornalista,

sobre a história do blog, contando como surgiu, além de algumas

transformações. Num segundo momento, uma exposição minuciosa do blog,

mostrando seu funcionamento, características, regras, serviços, entre outros.

Por fim, com base nas teorias apresentadas no segundo capítulo, foi realizada

uma análise do recorte do objeto estudado através da observação de alguns

conteúdos publicados no blog no período de uma semana. Para a construção

deste capítulo, contou-se com o auxílio de outros trabalhos de autores já

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dedicados ao assunto, como Larissa Morais, Juliano Borges, Ana Paula

Figueiredo Guedes e Juliana Lúcia Escobar.

Por meio da observação de aspectos como linguagem, estrutura,

velocidade na atualização, relação entre autor e leitores, posts e comentários,

foi possível atingir o principal objetivo deste trabalho: compreender como o

jornalista Ricardo Noblat exerce liberdade de expressão enquanto opinião em

seu blog.

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Capítulo I

Da pequena rede ao cibermundo

A internet, que é usada para diversos fins e atividades, como por

exemplo, entretenimento, comércio, informação, relacionamento, entre outros,

passou por muitas fases e transformações até ser o que é hoje.

1.1 – WWW em ação

A internet surgiu em 1969 no auge da Guerra Fria com a ARPANET,

criada pela ARPA (Advanced Research Projects Agency, agência de pesquisas

de projetos avançados, uma subdivisão do departamento de defesa dos

Estados Unidos). O objetivo era armazenar e compartilhar, por meio de uma

rede de computadores, as informações e os dados valiosos pertencentes ao

governo americano de forma segura e rápida. Desta forma, esses dados não

ficariam centralizados em apenas um servidor, o que evitaria a perda de

informações devido aos ataques inimigos.

Segundo Filippo e Sztajnberg (2008), durante os primeiros anos do

surgimento desta nova tecnologia, foi desenvolvida a maioria dos protocolos

que permitiam a comunicação entre os computadores da ARPANET. O

protocolo NCP (Network Control Protocol) foi o primeiro a ser inventado, que

mais tarde foi substituído pelo TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet

Protocol), protocolo de comunicação que a Internet utiliza atualmente. Os

protocolos servem para ordenar a comunicação entre computadores e redes.

Ainda de acordo com os autores, a ARPANET, em seu início, era formada por

apenas quatro computadores alocados em Estados Americanos, três na

Califórnia e um em Utah. Rapidamente o projeto obteve sucesso e ganhou

grandes proporções. Novos computadores e redes que utilizavam ondas de

rádio e satélite se interligaram, e a rede não parou mais de crescer. A

ARPANET se desenvolveu e passou a ser a Nova Arpanet.

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De acordo com Bogo (2008), quando a Guerra Fria terminou, a rede

tornou-se inútil para os militares que passaram a não a considerá-la tão

importante para mantê-la sob a sua guarda. A Nova Arpa se desvinculou então

do campo militar e focalizou seu uso em pesquisas. Aos poucos outras

pessoas tiveram o acesso, como os cientistas, pesquisadores e também

universidades. Em 1970, esta foi a maneira mais eficiente que as instituições

acadêmicas encontraram para que estudantes e professores pudessem trocar

seus estudos, pesquisas, ideias, mensagens e descobertas. A rede de

computadores tomava proporções mundiais, visto que cerca de cinco milhões

de pessoas já tinham acesso à teia da comunicação mundial, conectadas à

rede. Em 1975, já existiam cerca de 100 sites.

A forma mais conhecida para trocar informações eletrônicas, utilizada

até hoje, é o e-mail. Sua criação, segundo alguns registros, data antes do

surgimento da própria rede. Ainda no início da década de 70, o engenheiro de

computação norte-americano Ray Tomlinson desenvolveu o primeiro programa

de e-mail na BBN Technologies, empresa contratada pelo Departamento de

Defesa dos Estados Unidos para desenvolver a Arpanet. O primeiro e-mail

enviado na história foi um teste de Tomlinson com duas máquinas instaladas

na Universidade de Cambridge. Seu texto foi algo como QWERTYUIOP e a

mensagem foi enviada por Tomlinson para ele mesmo.

Filippo e Sztajnberg (2008) afirmam que na transição da década de 70

para a de 80, surgiram as primeiras estações de trabalho, já utilizando os

protocolos TCP/IP embutidos. Já de acordo com informações publicadas no

site da National Science Foundation – NSF - (2008), órgão de fomento à

pesquisa existente nos Estados Unidos, a década de 80 pode ser lembrada

como o tempo que realmente mudou a vida quotidiana. Empresas como Apple

e IBM começaram a produzir microcomputadores pessoais (hoje, mais

conhecidos por PCs - Personal Computer) para facilitar a execução de simples

afazeres diários, como digitar textos e acessar jogos, além se tornarem úteis,

práticos e fundamentais para tarefas de trabalho.

Nesta década, segundo a Internet Society – ISOC – (2008),

organização sem fins lucrativos que supervisiona o desenvolvimento da

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internet, a rede, além de ter sido utilizada com objetivos militares, também foi

um importante meio de comunicação acadêmico, principalmente nos Estados

Unidos. Foi nos anos 80 que surgiram os primeiros passos para a

comercialização da tecnologia, encerrando então a Era Militar e a Era

Acadêmica para dar início a Era Comercial, período de forte a especulação

lucrativa com a comercialização do acesso à internet e responsável pelo

crescimento da rede. Esta década foi marcada por crescimento e melhorias

técnicas, onde o número de internautas e de pessoas estudando a tecnologia

aumentou, resultando em aperfeiçoamento rápido das possíveis falhas. Assim,

a comercialização da internet envolveu não somente o desenvolvimento de

serviços privados e competitivos, mas também produtos comerciais

implementando a tecnologia Internet.

Em 1990, foi lançado o The World, o 1º serviço comercial de acesso

discado, a Internet começou a se expandir e passou a alcançar a população

em geral. Neste ano, no Laboratório Europeu de Física de Partículas, em

Genebra, Suíça, o engenheiro britânico Tim Berners-Lee desenvolveu o WWW

(world wide web – Rede de Abrangência Mundial), sistema que permite aos

usuários o compartilhamento de informações que ficam disponíveis em

milhares de sites e possibilita a utilização de uma interface gráfica e a criação

de sites. O objetivo principal do projeto era permitir que grupos de pesquisa

alocados em diferentes lugares compartilhassem fontes de conhecimento, que

numa primeira fase eram somente documentos na forma de texto. Mas aos

poucos o projeto cresceu e passou a fazer uso de imagens estáticas ou

animadas, sons e suporte para outros serviços da Internet. Além do surgimento

de navegadores, como o Internet Explorer e o Netscape Navigator, e de

diversos provedores de acesso e portais de serviço online, que também

colaboraram para o crescimento.

No Brasil, a história da Internet tem início só em 1991 com a Rede

Nacional de Pesquisa (RNP), uma intervenção por parte de universidades,

laboratórios e instituições acadêmicas, submetida ao Ministério de Ciência e

Tecnologia (MCT). Segundo dados de Internet no Brasil (2008), em 1992, um

marco importante, além da liberação do uso da tecnologia para Organizações

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Não Governamentais, foi a cobertura do ECO 92, distribuída pela web, o que

pode ter impulsionado a internet no país. Ferrari (2006) afirma que foi neste

mesmo ano que a internet começou a ser instalada nas principais

universidades brasileiras. Não existia interface gráfica: o monitor é

monocromático, com tela preta e letras e números em verde. Já em 1994, os

estudantes de engenharia elétrica, David Filo e Jerry Yang, da Universidade de

Stanford, na Califórnia, tiveram uma ideia e criaram o site de busca Yahoo!.

Neste ritmo, a internet ultrapassou as fronteiras acadêmicas e alcançou muitos

brasileiros, tornando-se, uma importante ferramenta de comunicação, trabalho

e entretenimento, e houve uma expansão tecnológica no Brasil e uma

expansão comercial no mundo.

Mais tarde, em 1995, a Embratel (Empresa Brasileira de

Telecomunicações), lançou o serviço experimental para entender melhor a

internet. Neste mesmo ano, o Ministério das Telecomunicações e Ministério da

Ciência e Tecnologia possibilitou a exploração comercial da internet à

população brasileira.

Mas foi no decorrer de 1996, conforme informações do site já

mencionado, Internet no Brasil, que aconteceu o grande boom da internet

brasileira, devido principalmente ao crescimento do mercado, além das

melhorais providas pelos serviços oferecidos pela Embratel.

1.2 - A Internet e suas possibilidades

A internet brasileira abriu novas possibilidades além dos vínculos

acadêmicos militares, permitindo então o acesso à sociedade. O boom de

crescimento, em 1996, transformou o cenário nacional e gerou múltiplas

possibilidades técnicas, desde a simples troca de informações e mensagens,

ao surgimento do comércio eletrônico, que presentemente agita milhões no

espaço virtual.

Foi em 1996, segundo o site Internet no Brasil, que a rede brasileira

cresceu vertiginosamente, tanto em relação ao número de usuários quanto ao

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número de provedores e de serviços prestados através da Internet. Uma das

provas de que a internet de fato havia decolado no país, aconteceu em

dezembro deste mesmo ano: o artista Gilberto Gil lançou pela internet uma de

suas músicas em versão acústica. Além de cantar, o músico conversava com

os internautas sobre sua relação com a mais nova tecnologia. O ritmo era

esse, empresas como Abril deram início a prática de disponibilizar na ampla

rede materiais de suas publicações. Ainda em 96 a empresa Andersen

Consulting revelou resultados de uma pesquisa aplicada em um grupo

selecionado de grandes empresas estatais e privadas do país: 80% das

companhias já haviam disponibilizado na internet seus serviços e informações.

A pesquisa também mostrou que mais da metade das empresas analisadas

considerava a tecnologia da informação extremamente importante para a

tomada de decisões profissionais.

Castells (2003) afirma que a utilização da internet no mundo é em sua

maioria, relacionada à família, ao trabalho e à vida cotidiana, e que o e-mail

representa uma média de 85% do uso da internet, com assuntos atrelados, por

exemplo, a finalidades de trabalho e de contato em tempo real com parentes e

amigos. Se tratando do mundo dos negócios, para Castells (2003, 49):

“A difusão da Internet a partir de círculos fechados de tecnólogos e pessoas organizadas em comunidades para a sociedade em geral foi levada a cabo por empresários. Só aconteceu na década de 1990, com a velocidade do raio. Como firmas comerciais foram a força propulsora de sua expansão, a Internet foi moldada em grande parte em torno desses usos comerciais. O ponto-chave é que eles ganharam dinheiro com ideias, numa época em que a falta de novas ideias levava empresas estabelecidas a perdas financeiras. Assim, a inovação empresarial, e não o capital, foi a força propulsora da economia da Internet”.

Neste contexto o jornalismo também começou a ser transformado.

Dreves (2004) afirma ter sido entre os anos de 1995 e 1996 o boom dos jornais

digitais, momento em que veículos impressos passaram a apresentar versões

digitalizadas. Os jornalistas começaram a adaptar linguagem e arquitetura para

publicar notícias de maneira apropriada na web. Segundo Ferrari (2006), o

pioneiro neste serviço surgiu em março de 95, o The Wall Street Journal

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(http://www.wsj.com), veículo considerado pela mídia o primeiro jornal com

tiragem de um exemplar. Nesta época, muitos dos sites jornalísticos eram

ainda simples reprodutores dos conteúdos expressos em papel. No Brasil, em

maio de 95, foi criado o primeiro site de jornalismo, o

http://www.jbonline.com.br, do Jornal do Brasil, seguido pelo O Globo, com sua

versão eletrônica do jornal. Neste período, começaram a embarcar na rede

grandes grupos de comunicação, como a Agência Estado (agência de notícias

do Grupo Estado), a Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Zero Hora,

entre outros. O passo seguinte para o desenvolvimento do jornalismo on-line

foi o surgimento do “portal” (que significa “porta de entrada”), termo utilizado

em 1997. Para Ferrari (2006, 30):

“Para ser chamado de portal, um site precisa reunir certas características. Os jornais The New York times e USA today e a rede CNN, para citar exemplos célebres, não aderiram ao modelo portal. Os portais tentam atrair e manter a atenção do internauta ao apresentar, na página inicial, chamadas para conteúdos díspares, de várias áreas e de várias origens. A solução ajuda a formar ‘comunidades’ de leitores digitais, reunidas em torno de um determinado tema e interessadas no detalhamento da categoria de conteúdo em questão e seus respectivos hyperlinks, que surgem em novas janelas de browse”.

Pondera-se que os conteúdos jornalísticos são as principais iscas dos

portais, pois eles têm a capacidade de reunir milhões de indivíduos conectados

ao mesmo tempo, além de os sites relacionados a jornalismo terem seguido a

conduta de mídia de massa.

Para exemplificar, algumas das seções mais comuns nos portais são:

ferramenta de busca, comunidades, previsão do tempo, e-commerce (comércio

eletrônico), entretenimento, e-mail gratuito, notícias, chats, homepages

pessoais, jogos on-line, cotações financeiras, personalização, entre outras. Os

conteúdos de um portal não precisam encontrar-se somente na parte de

noticiário, eles podem ficar disseminados em outras áreas do endereço digital.

Vale ressaltar que o jornalismo digital abrange todos os serviços: notícias, sites

e produtos criados totalmente na rede. Jornais planejados diretamente na web

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e para web necessariamente precisam ter todos os setores de uma redação

convencional: editorias, fotografia, financeiro, entre outros.

Portanto, constata-se mais uma vez, que a internet, também com força

no webjornalismo, promoveu variadas formas para se produzir informação,

gerar conteúdos dos mais díspares tipos, além de trazer possibilidades

multimídias, como por exemplo, a convergência de texto, áudio e vídeo, a

velocidade, a praticidade e a interatividade. O ciberjornalismo seria um

exemplo deste tipo de interação. Ainda, de acordo com a autora, a definição

designa todas as tarefas que envolvem a criação de textos para os produtos do

ciberespaço, como escrever em um fórum, mediar chats ou até mesmo criar e

manter um blog.

Mas antes de aprofundar o estudo sobre os weblogs, assim como sua

expansão, neste mar de possibilidades Dreves (2004) afirma que desde a

invenção da internet, apareceram várias maneiras de se propagar informação

na rede mundial de computadores. A pioneira foi a sala de bate-papo do BBS

(Bulletin Board Systems), sistemas de boletim eletrônico que conectam computadores entre si.

Aos poucos foram surgindo diversos canais, sempre de forma a aperfeiçoar o

inventado anteriormente – vieram os chats (salas virtuais de bate-papo), os ircs

(internet Relay Chat), programa utilizado para entrar em salas de bate-papo, o

aplicativo icq, utilizado para trocar arquivos e mensagens instantaneamente, e

o msn (Messenger – aplicativo da Microsoft, utilizado para conversar trocar

arquivos e exibir imagens com som e vídeo através de uma webcam). Neste

sentido, ninguém conseguiu frear a internet, ela não parou mais. Foram

surgindo novidades atrás de novidades, como copiar arquivos diversos de

websites disponíveis na grande rede para o computador pessoal ou fazer

downloads livres e compartilhar de músicas através do Napster, pioneira no

campo do MP3.

O fenômeno internet foi alcançando o mundo inteiro e tomando

proporções ainda maiores: começou-se a utilizar a rede para diversos fins,

como buscar vagas de emprego, se divertir nos sites de games online e com

programas interativos como The Sims e Second Life (jogos que simulam o

mundo real), além de comprar, vender, ou ainda conhecer pessoas para

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relacionamentos afetivos. Ao final da década de 90 e no início de 2000, a

Internet passou a ser realidade fundamental na vida dos brasileiros e com a

banda larga ela se popularizou ainda mais. E junto com os atrativos de

entretenimento, cresceram também os interesses com o e-commerce

(comércio eletrônico), que uniu os recursos de internet, como home page,

browser, servidor web e provedor de acesso, com a prática de televenda e tele

consumo, através do novo meio de comunicação.

A grande rede está repleta de instrumentos, aplicativos e programas

para informar e comunicar, sejam eles em texto, áudio ou vídeo, ou tudo isso

junto e ainda mais um pouco. Algumas das ferramentas bem aceitas no Brasil

são: YouTube (http://www.youtube.com), MySpace (http://www.myspace.com)

e Orkut (http://www.orkut.com), sites dotados de tecnologia Web 2.0. O

YouTube, inventado em 2005 por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, é

um site que serve para difundir e compartilhar arquivos audiovisuais, onde os

internautas são os provedores de conteúdo. O nome YouTube designa do

inglês: You , que significa você, e Tube, gíria americana que quer dizer

televisão ou canal. A ideia é exatamente essa, o usuário é o próprio canal,

podendo transmitir a outros e a si mesmo o que desejar. A invenção dos três

jovens foi muito bem sucedida em tão pouco tempo. No ano seguinte de sua

inauguração a Google comprou o YouTube pelo valor de US$1,65 bilhão em

ações.

Atualmente, o YouTube tem uma interface dentro do Orkut,

considerado aqui um bom exemplo para mostrar as potencialidades da

internet, principalmente se atendo a questão da interação no mundo virtual.

Criado pela empresa Google e lançado em 2004, o Orkut é um sistema gratuito

de relacionamento que permite a comunicação instantânea com as pessoas,

com novos amigos ou com internautas que tenham alguma afinidade e

interesses em comum, principalmente compartilhados nas comunidades

virtuais dos mais variados temas, desde os mais comuns como música, a

assuntos como pedofilia e mundo do crime e drogas.

No Orkut, cada participante é dono de um perfil (podendo ser

verdadeiro ou não), com descrição de características pessoais, profissionais,

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gostos, costumes, manias, informações sobre relacionamento afetivo, entre

outros, além da página de scraps (recados), álbum de fotos, rede de amigos,

etc. Também é possível compartilhar vídeos favoritos com os amigos - basta

enviá-los para o YouTube e depois, adicionar o URL (Uniform Resource

Location, utilizado para localizar arquivos disponíveis na internet) e

compartilhá-los no Orkut. Ou seja, mais uma amostra da facilidade que

qualquer um, profissional ou não, tem na internet.

A internet permite veicular fotos e vídeos caseiros, disponibilizar

gravações musicais de uma banda, divulgar trabalhos artísticos, fazer

downloads de e-books, músicas e programas, criar homepages pessoais sobre

assuntos prediletos como culinária e moda ou ainda criar e manter um diário

“íntimo” virtual na rede para todos saberem o que você pensa, acha e faz no

seu dia-a-dia, um blog.

1.3 – Blogs pra quê?

Os blogs, que além de terem função similar com a de um diário

pessoal, onde o dono expõe seus sentimentos, sua vida cotidiana,

pensamentos etc, também têm sido utilizados como espaços e ferramentas

para veicular informação de cunho jornalístico. No entanto, o que são e como

surgiram, para que servem e como funcionam os blogs ou weblogs?

Para começar a compreender, de acordo comRodrigues (2008), blog é

uma abreviação que resulta das palavras em inglês web (rede) e log (diário de

bordo onde os navegadores registravam os eventos das viagens). Na realidade

os blogs podem ser considerados autênticos diários, mas em formato

eletrônico. Ou seja, registro na rede.

Há pouca certeza sobre como se deu o surgimento dos blogs, mas

pelo visto eles têm mais idade do que parecem ter. Segundo Oliveira e Fadel

(2008) em Os Meios de Comunicação de Massa e sua evolução para os blogs,

a história começou em 1997, popularizando-se, porém, apenas em 1999, com

a criação do primeiro site do tipo “faça-seu-próprio-blog”, que não requeria do

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usuário conhecimento de programação. Tempos depois surgiu o atualmente

mais famoso site de construção de ciberdiários: o Blogger.

Conforme Dreves (2004), o primeiro weblog foi o de Tim Berners-Lee,

chamado de “What’s New?” (“O que há de novo?”), criado em meados da

década de 90. Depois um monte de outros começaram a surgir. Os blogs mais

antigos apresentariam apenas uma lista de links misturada com comentários,

nada de conteúdo e textos extensos como se vê nos atuais. Até a metade de

1998, existiam poucos. Em junho de 1999 foi lançada a primeira ferramenta

gratuita ensinando como montar seu próprio weblog. Com isso, a quantidade

de diários pessoais cresceu mais ainda, e em agosto do mesmo ano, foi criado

o Blogger (http://www.blogger.com), por Evan Williams, da Pyra Labs, de São

Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos. Esta foi e ainda é a ferramenta mais

aderida por blogueiros do mundo todo, mas no Brasil a sua versão é da

Globo.com e existe desde 2002. Atualmente, o serviço internacional tem a

opção de gratuidade, porém, com menos recursos, e o brasileiro é pago. O

Weblogger (http://www.weblogger.com), que existe desde 2001 e pertence ao

servidor Terra, se alastrou, impulsionando as pessoas a criarem suas próprias

páginas na Internet, se popularizou principalmente pela gratuidade do serviço.

Mas também existe o serviço pago, caso o usuário queira recursos a mais.

Além do Blogspot (http://www.blogspot.com), entre outros servidores.

Uma das características de um blog é a exibição das informações em

ordem cronológica - de maneira organizada em primeiro lugar vêm os posts

mais recentes, colocados através de blocos. No mundo virtual os blogueiros

costumam “postar”, ato que significa colocar, atualizar ou alimentar alguma

informação na rede. Para se ter um é muito fácil, pois existem os templates,

páginas prontas que facilitam o uso para os internautas inexperientes com as

linguagens de programação de web. Com interface simplificada e uma

estrutura-padrão na arrumação dos conteúdos, para serem construídos podem

ser utilizadas as ferramentas servidoras, como por exemplo, Blogger,

Weblogger, Blogspot, já mencionadas.

Com essas ferramentas, o usuário tem mais facilidade para criar, fazer

a manutenção e atualizar a qualquer hora o seu blog caso o internauta seja

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mais experiente ao ponto de dominar programação na internet, ele pode

inventar sua própria ferramenta de blog. Outra característica dos blogs são os

links (endereço de outra página na internet ou URL - Uniform Resource

Location – utilizado para localizar uma página na internet), que na maioria das

vezes direcionam para outros blogs de assuntos parecidos. Além dos espaços

reservado para os visitantes, que podem interagir através de comentários.

Compreende-se então o que são e como surgiram, para que servem e

como funcionam os tão famosos blogs. Para saber mais sobre o assunto

“blogs”, basta “surfar” na internet que, num espaço curto de tempo serão

encontrados milhões espalhados, um levando a outros, de tudo quanto é tipo.

Os mais comuns achados na rede são: o blog individual, onde apenas o dono,

com total autonomia, pode postar seus conteúdos; o blog coletivo, que possui

vários autores, que têm acesso à ferramenta para alimentar o espaço.

Mas é o criador do blog quem determina a autonomia dos usuários,

podendo ser simples usuários convidados, sem muitas permissões para fazer

grandes alterações ou administradores (com direito para modificar, por

exemplo, o layout e outras configurações); o blog livre, que não se limita a um

tema específico, podendo então abordar de forma livre qualquer assunto, seja

crítica, fofoca, etc.; e blog temático, que, como o próprio nome diz, traz temas

específicos, voltados a um grupo de interesse - assuntos como culinária,

música, humor, moda, jornalismo, etc.

Já de acordo com Recuero (2003), existem mais classificações como:

Weblogs Diários – que se referem principalmente à vida pessoal do autor. A

finalidade não é debater as informações publicadas, mas, simplesmente,

contar os acontecimentos pessoais do cotidiano, assim como num diário;

Weblogs Publicações – que buscam o comentário e o debate. Estes se

dedicam principalmente a trazer informação de maneira opinativa. Podem ter

temas centrais ou gerais; Weblogs Literários – que se destinam a contar

histórias ficcionais, crônicas ou poesias com pretensões literárias; Weblogs

Clippings – que simplesmente filtram informações espalhadas em outros

espaços e fazem um apanhado de recortes e links de outras publicações.

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Weblogs Mistos – que fazem um mix de posts informativos e pessoais, com

dicas, notícias e comentários de acordo com o gosto e opinião do autor.

A ferramenta blog proporciona liberdade – seus assuntos e tipos

podem ser mudados a qualquer momento, e se enjoar daquela página sobre

moda, é possível transformá-lo ou então desistir e criar um novo. Não há

limites.

Em meio a essa gama de possibilidades, gêneros e categorias, é

importante lembrar que no início os blogs serviam como um diário pessoal em

versão digital. Fato é que os weblogs são apenas mais um formato que

comportam qualquer tipo de conteúdo informativo, que vêm democratizando o

acesso a todos os usuários, trazendo rapidez e praticidade na criação e

atualização dos ciberdiários, seja ele sobre qualquer assunto ou segmento,

como, por exemplo, o jornalismo. Neste contexto, assim que os blogs

apareceram houve também quem os identificasse com o jornalismo, pois

alguns blogs se caracterizam principalmente pelas informações transmitidas,

assim como a exposição de opiniões e entrevistas, aproximando-se, portanto,

da atividade jornalística. Segundo Rodrigues (2008):

“Mas a verdade é que nem os blogs são jornalismo, nem os bloggers jornalistas, que têm uma formação específica para o exercício da sua atividade. Qualquer pessoa, de qualquer profissão ou área de interesse pode aderir ao mundo da blogosfera cuja principal característica é ser livre e aberta a todos. Mas a verdade é que a blogosfera não exige técnicos qualificados ou profissionais especializados para publicar seja o que for. Aos jornalistas é exigido acima de tudo rigor, num processo que deve passar pela pesquisa, seleção de dados e sua confirmação para depois se proceder à redação de notícias de forma a que estas sejam difundidas para um grande público”.

Com isso, pode-se dizer que existem duas categorias de blogs: os que

possuem características de diários pessoais, mais ligados ao entretenimento

enquanto diversão, e os que têm características jornalísticas, os de

informação. Assim sendo, essas duas classes por vezes se misturam e se

complementam em um único portal e/ou site.

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Na internet encontra-se weblogs destinados a diversos fins, sejam eles

para noticiar, opinar ou simplesmente comentar. O que importa é a vantagem

que este formato oferece: um texto simples, mais pessoal e sem compromisso,

ou seja, uma escrita e uma leitura mais relaxante. Diferentemente de uma

informação oficial, uma notícia publicada em um blog se aproxima da ideia de

um bate-papo, uma conversa sem formalidade. E foi diante do sucesso dos

weblogs que os grandes grupos de comunicação lançaram seus próprios blogs

dentro seus de seus portais, com o objetivo de construir para seu público, uma

relação direta, íntima e simples entre produtor/editor e receptor da mensagem.

O site http://www.oglobo.com.br do jornal O Globo, por exemplo, tem uma

seção especial de blogs desde 2003, onde alguns jornalistas da empresa, que

também assinam colunas na versão impressa, mantêm seus próprios espaços

pessoais, cada um abordando um assunto específico.

Os blogs profissionais jornalísticos tendem a empregar uma linguagem

pessoal e mais próxima do leitor, do mesmo modo que os blogs pessoais

costumam fazer, indo além dos limites do colunismo. Para Ramos (2008):

“João Ximenes Braga, do O GLOBO, precisou entrar em discussão com os leitores para justificar sua legitimidade como colunista (apesar de já o ser). A natureza da escrita interativa nos blogs faz com que seja impossível o papel do jornalista que tem a “palavra final”. O blog se configura como um espaço de intervenção na opinião dos colunistas, eles são “forçados” a reverem posições, sob pena de xingamentos. Já Pedro Doria tem um perfil crítico e observador da imprensa, principalmente a norte-americana. Seus textos são construídos com links que remetem às fontes de seus comentários sobre determinado assunto. Em 22 textos, todos têm título: sem dúvida uma evidência que Pedro recorre às normas cultas da escrita jornalística na sua transposição para a web. Possui um público cativo que, embora evite excessos de comentários, acompanha assiduamente os textos, em geral, não muito longos nem muito curtos”.

Com tudo isso, frente às citações feitas acima, surge uma questão

muito importante e bastante falada por estudos a fora: a relação entre blogs e

credibilidade. Os mais tradicionais crêem que é o jornalismo de dentro das

redações que se produzem matérias jornalísticas. Defendem a ideia de que os

blogs publicam notícias sem fazer um trabalho mínimo de apuração dos fatos,

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desobedecendo à veracidade da notícia. Portanto, para compreender melhor

este ponto e tentar responder possíveis questionamentos, é necessário

recorrer a um estudo mais aprofundado sobre conceitos como cibercultura,

interatividade e liberdade de expressão, que será feito a seguir.

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Capítulo II

Ciberespaço

O crescimento da internet, bem como o desenvolvimento das

tecnologias digitais, possibilitou aos internautas novas formas de comunicação

em um novo espaço. Através da interface mundial de computadores, a

comunicação, o diálogo, o entendimento e a difusão de ideias, ganharam um

novo ambiente: “o ciberespaço”, que naturalmente potencializou a

“interatividade”, uma competência praticamente indispensável na vida dos

internautas. Consequentemente, a interação virtual pode ter reforçado a ideia

de “liberdade de expressão” nesse universo imaginário, onde quase tudo é

possível, sem muitas leis e regras.

2.1 – Cibercultura

De acordo com Recuero (2008), o surgimento da Comunicação

Mediada por Computador (CMC) trouxe mudanças à vida das pessoas e à

noção de comunidade. Comunidade Virtual seria o termo utilizado para os

agrupamentos humanos que surgem no ciberespaço, através da comunicação

mediada pelas redes de computadores (CMC).

Segundo Lévy (1998), o termo “ciberespaço” é de origem americana e

foi utilizado pela primeira vez em 1984, pelo escritor de ficção científica William

Gibson, em sua obra Neuromante. O romance retrata um mundo onde seres

humanos conectados ao ciberespaço interagem entre si e com programas de

computador. Neste lugar se desenvolveriam as relações, deste modo,

originando a comunidade virtual. O ciberespaço instituiria o mundo das redes

digitais como sendo um espaço para encontros, conflitos e aventuras.

Em seu livro Cibercultura, ciberespaço pode ser comparado a um

espaço de comunicação aberto pela interface mundial dos computadores, bem

como das suas memórias. Sendo assim, essa definição incluiria o conjunto dos

sistemas de comunicação eletrônicos como as redes hertzianas e as redes

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clássicas de telefones, conforme a transmissão de informações derivadas de

fontes digitais ou designadas à digitalização. Para Lévy (2005, 92 e 93) a

codificação digital:

“condiciona o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação que é, parece-me, a marca distintiva do ciberespaço. Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século”.

Com isso, o acesso a distância seria uma das principais funções do

ciberespaço. Uma vez que uma informação pública se encontraria no

ciberespaço, ela estaria virtual e imediatamente à disposição,

independentemente das coordenadas espaciais de seu suporte físico.

Qualquer que seja a posição geográfica do indivíduo, este espaço possibilita,

por exemplo, ler um livro, navegar em um hipertexto, ver imagens, assistir um

vídeo, interagir com pessoas e comunidades, ouvir músicas, acessar jogos e

também nutrir a memória da rede de computadores com informações, através

de texto, imagens etc. Para Lévy (2005, 203):

“O ciberespaço encoraja uma troca recíproca e comunitária, enquanto as mídias clássicas praticam uma comunicação unidirecional na qual os receptores estão isolados uns dos outros. Existe, portanto, uma espécie de antinomia, ou de oposição de princípios, entre as mídias e a cibercultura, o que explica que o reflexo deformado que uma oferece da outra para o público. O que obviamente não impede que alguns jornalistas utilizem apaixonadamente todos os recursos da Internet, e não proíbe de forma alguma que a maior parte das grandes mídias ofereça uma versão on-line de seus serviços”.

Cibercultura consistiria uma transformação profunda da noção de

cultura e não apenas uma cultura dos fanáticos da internet. Pode-se afirmar,

portanto, que este novo espaço será sempre uma novidade, se comparado ao

período primórdio da oralidade e da escrita. A passagem do manuscrito para a

produção de documentos digitados e digitalizados leva consigo conseqüências

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que estão para além do suporte técnico, por exemplo, a perda da expressão

caligráfica.

Para Schittine (2002, 182), a caligrafia, que diz muito a respeito da

pessoa, é substituída pela tipografia, neutra e imparcial. “Emoções diferentes

de pessoas variadas se configuram no computador com uma única ‘letra’ que

só aceita as mudanças de tipo, de tamanho de corpo, o negrito e o itálico. É

uma maneira de nivelar a escrita”. Desta forma, surgem na imensa rede várias

formas de identidades e diversas comunidades virtuais. Os blogs, por exemplo,

oferecem ao seu autor a possibilidade para o anonimato, para a invenção de

novas identificações e para a articulação de sujeitos com interesses em

comum, queiram estes também se apresentar ou não. De acordo com o

Dicionário Michaelis Trilíngue (2008, 121), identidade é mais que um nome, é “a

qualidade daquilo que é idêntico. Paridade absoluta. Espécie de equação ou de

igualdade cujos membros são identicamente os mesmos, ou igualdade que se verifica

para todos os valores da incógnita. Conjunto dos caracteres próprios de uma pessoa,

tais como nome, profissão, sexo, impressões digitais etc”.

Por um lado existem autores de blogs que se identificam, dão o seu

nome verdadeiro e se responsabilizam por suas afirmações e comentários, e

por outro lado, é comum encontrar aqueles que assumem identidades

diferentes das que realmente são donos, de maneira a usar nomes fictícios e

assim se comportar como se o seu suposto “eu” fosse este inventado. Além

disso, grupos e indivíduos, com suas identidades arquitetadas, integrariam ou

se separariam de uma comunidade, afirmando-se, portanto, através da

autonomia e da diferença comparada a outros. Para Rodrigues (2008):

“Muitos são os que aproveitam a Internet para assumir um novo “eu”, ou talvez o seu próprio “eu”. Veja-se o grande número de blogs cujo autor é desconhecido e que, nem por isso, são menos lidos. Se inspiram mais ou menos confiança ao leitor, isso já é outra questão. Os blogs representam sempre alguém, alguém que revela assim várias facetas da sua personalidade. O blog possibilita a publicação do “eu” do indivíduo diariamente”.

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Ou seja, ao se apropriar de novas identidades, o indivíduo constrói o

seu próprio universo e assim “vive” aquilo que ele deseja. Nos blogs, é possível

exercer liberdade de expressão, pois qualquer “eu” pode expressar suas

vontades e pensamentos, o que provavelmente não faria de outra forma em

outro espaço.

Segundo Lemos (2008), o desenvolvimento da cibercultura se dá na

década de 70, com o surgimento da informática e com a convergência

tecnológica e o estabelecimento do personal computer (PC). Já nos anos 80 e

90, nota-se a popularização da internet e a transformação do PC em um

computador coletivo (CC), conectado ao ciberespaço. Para Lemos (2008):

“Aqui, a rede é o computador e o computador uma máquina de conexão. Agora, em pleno século XXI, com o desenvolvimento da computação móvel e das novas tecnologias nômades (laptops, palms, celulares), o que está em marcha é a fase da computação ubíqua, pervasiva e senciente, insistindo na mobilidade. Estamos na era da conexão. Ela não é apenas a era da expansão dos contatos sobre forma de relação telemática. Isso caracterizou a primeira fase da internet, a dos “computadores coletivos” (CC). Agora temos os “computadores coletivos móveis (CCm)”.

“Computação ubíqua” vem das palavras em inglês Ubiquitous

Computing ou ubicomp. O termo é utilizado para descrever a onipresença da

informática no cotidiano de pessoas, além de expressar também inteligência

ambiental. Computação ubíqua tem por objetivo fazer a interação entre pessoa

e máquina invisível, agregando assim as ações naturais do indivíduo com a

informática. Ainda de acordo com o autor, o CCm estabelecem-se com a

computação ubíqua sem fio. Para Lemos (2008):

“Trata-se da ampliação de formas de conexão entre homens e homens, máquinas e homens, e máquinas e máquinas motivadas pelo nomadismo tecnológico da cultura contemporânea e pelo desenvolvimento da computação ubíqua (3G, Wi-Fi), da computação senciente (RFID5, bluetooth) e da computação pervasiva, além da continuação natural de processos de emissão generalizada e de trabalho cooperativos da primeira fase dos CC (blogs, fóruns, chats, software livres, peer to peer, etc). Na era da conexão, do CCm, a rede transforma-se em um “ambiente” generalizado de conexão, envolvendo o usuário em plena mobilidade”.

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Dentro desse contexto - relação entre homem e máquina num espaço

cibernético - Lévy (1998, 28) diz haver uma inteligência coletiva, “... uma

inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada

em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências”.

Para o autor a inteligência coletiva nasce e cresce com a cultura e o objetivo e

a base dessa inteligência não são o culto de comunidades fetichizadas, e sim o

enriquecimento recíproco dos participantes, pois o saber e o conhecimento

estão na humanidade e por isso todos sabem alguma coisa. O pensamento

dos sujeitos seria o fator que movimenta, torna duradouro e idealiza o

pensamento da sociedade. Deste modo, a finalidade de uma comunidade

virtual, seja ela qual for, seria, por exemplo, negociar constantemente a

organização de sua linguagem e da função de cada um, o que revela um

caráter interativo em seu processo comunicacional.

2.2 – Interatividade

Interatividade, velocidade e capacidade de armazenar conteúdos são

algumas das características mais marcantes da internet, sendo “interagir”,

atualmente, uma das potencialidades mais faladas e acentuadas no campo da

comunicação mediada por computador.

De acordo com o dicionário Aurélio, interagir significa agir de maneira

recíproca, e interatividade é o caráter ou condição de interativo, é a capacidade

que um equipamento, sistema de comunicação ou de computação tem de

interagir ou possibilitar interação. Segundo Silva (2008), o termo

“interatividade” surgiu no início da década de 70 em meio às críticas aos meios

e tecnologias de comunicação de massa. Para Lévy (2005, 79), a

denominação ressalta em geral “a participação ativa do beneficiário de uma

transação de informação. De fato, seria trivial mostrar que um receptor de

informação, a menos que esteja morto, nunca é passivo”. Para o autor, até

parado em frente a um aparelho de televisão e sem a posse de um controle

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remoto, o receptor participa, decifra códigos e interpreta, sempre de forma

diferente do outro.

Lemos (2008) diz que um dos níveis de interatividade é a do tipo

eletrônico-digital, que ao mesmo tempo é social e técnica. Social porque marca

em geral a nossa relação com o mundo e com toda vida em sociedade, e

técnica, por exemplo, quando se experimenta virar a maçaneta de uma porta

ou dirigir um carro. A interatividade seria marcada por algumas características:

feedback, retorno rápido, onde as ações dos usuários correspondem a reações

simultâneas da máquina; e a interação individual – ao contrário dos tradicionais

meios de comunicação de massa.

De acordo com Thompson (1998), as interações sociais foram face a

face durante a maior parte da história da humanidade, no qual os indivíduos se

relacionavam e compartilhavam suas ações em um espaço físico. Para ele, as

tradições eram relativamente limitadas em termos de abrangência geográfica -

a comunicação dependia da interação face a face e do deslocamento físico. O

desenvolvimento dos meios de comunicação promoveria formas de se

relacionar desprendidas deste ambiente físico, possibilitando interação entre

os indivíduos sem que eles precisem se deslocar e partilhar de um mesmo

ambiente espaço-temporal.

Thompson distingue três formas de interação. A primeira é a face-a-

face, onde os participantes, presentes, dividem um mesmo sistema referencial

de espaço e tempo, assim eles podem se expressar através de denotações

como, por exemplo, “aqui”, “agora”, “este” e “aquele”, além de prever que são

compreendidos. Este tipo de interação apresentaria também um caráter

dialógico, pois tanto os receptores quanto os produtores, ao enviar e responder

mensagens adquirem funções e papéis similares.

Outra característica da interação face a face é que os participantes

geralmente aplicam diversificados símbolos para comunicar e decifrar as

mensagens de cada um. Neste tipo, as palavras para Thompson (1998, 78):

“[...] podem vir acompanhadas de piscadelas e gestos, franzimento de sobrancelhas e sorrisos, mudanças da entonação e assim por diante. Os participantes de uma

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interação face a face são constantemente e rotineiramente instados a comprar as várias deixas simbólicas e a usá-las para reproduzir a ambigüidade e clarificar a compreensão da mensagem. Se os participantes detectam inconsistências, ou deixas que não se encaixam umas com as outras, isto pode tornar-se uma fonte de confusão, ameaçar a continuidade da interação ou lançar dúvidas sobre a sinceridade do interlocutor”.

A interação discorrida acima é o oposto do segundo tipo: a interação

mediada. Esta, segundo o estudioso, requer a utilização de meios técnicos,

como papel, fios elétricos, ondas eletrônicas magnéticas, entre outros. Esses

meios permitiriam a propagação de informações e conteúdos simbólicos aos

indivíduos situados remotamente no espaço e no tempo. Compreende-se, por

conseguinte, que os participantes da interação mediada podem estar em

contextos diferentes de tempo e espaço, e não compartir desse mesmo

referencial, além de não poderem prever que o outro entenderá expressões

denotadas. A interação mediada limitaria os participantes, já que implica certa

redução na possibilidade de deixas simbólicas. A comunicação através de

cartas, por exemplo, não permite gestos, entonação e expressões ligadas à

presença física, mas por outro lado, são aguçadas outras formas simbólicas,

agregadas à escrita. Para Thompson (1998, 79):

“Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução da ambigüidade na comunicação. Por isso as interações mediadas têm um caráter mais aberto do que as interações face a face. Estreitando as possibilidades de deixas simbólicas, os indivíduos têm que se valer de seus próprios recursos para interpretar as mensagens transmitidas”.

Thompson diz haver ainda mais uma forma de interação. A terceira, a

“quase-interação mediada”, refere-se às relações sociais constituídas pelos

meios massivos de comunicação, como os livros, os jornais, o rádio e a

televisão, por exemplo. Este tipo de interação se difundiria através do tempo e

do espaço, e se comparada ao primeiro tipo de interação (face a face),

estreitaria as possibilidades de deixas simbólicas. Entretanto, existem dois

pontos fundamentais que distinguiriam as quase-interações mediadas das

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outras duas interações. O primeiro aspecto: os participantes da face a face ou

da mediada seriam norteados a outros específicos, para quem eles produzem

ações, afirmações, entre outros. Mas, no caso da quase-interação mediada, as

formas simbólicas são produzidas para um número indefinido de receptores

potenciais. O segundo ponto seria o fato de que as duas primeiras interações

são dialógicas, e a quase-interação mediada monológica, ou seja, neste caso

presente a comunicação tem uma única direção. Por exemplo, ao ler um artigo

em um jornal, o receptor não responde direta e imediatamente, mesmo porque

geralmente o emissor não exige esta ação, pelo menos num primeiro

momento.

Apesar da quase-interação não apresentar um nível de reciprocidade

interpessoal como as outras interações, ela poderia ser considerada uma

forma de interação, pois criaria determinadas situações em que os

participantes se conectam entre si num processo de comunicação e troca

simbólica. Conforme Thompson (2008, 80), a quase-interação mediada:

“é uma situação estruturada na qual alguns indivíduos se ocupam principalmente na produção de formas simbólicas para outros que não estão fisicamente presentes, enquanto estes se ocupam em receber formas simbólicas produzidas por outros a quem eles não podem responder, mas com quem podem criar laços de amizade, afeto e lealdade”.

Deste modo, é no ciberespaço que a internet possibilitaria uma

condição maior de interação em vários contextos, principalmente nos meios de

comunicação de massa. Um destes contextos é o jornalismo.

Nos veículos tradicionais, a interatividade é restrita, já nos veículos

online, a probabilidade de interação se amplia, pois nestes se encontram

ferramentas como fóruns de discussões, enquetes, e-mails, chats, espaços

destinados a comentários do leitor, entre outros, que além de serem atraentes

para o receptor, devido a essa gama de possibilidades, também podem servir

de fontes para obter novas informações sobre uma notícia. Esses instrumentos

são cada vez mais utilizados no jornalismo na web como recursos técnicos

para chamar atenção de seu público, como por exemplo, promover

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comunicação entre jornalistas e leitores através de troca de mensagens

instantâneas, muitas vezes em tempo real, como nas salas de bate-papo.

Uma das ferramentas que viabilizou a comunicação de mão dupla, com

mais de um tipo de interação (com base nas definições de Thompson citadas

anteriormente), e vem sendo utilizada por jornalistas e grupos de comunicação

de massa para fazer do leitor/destinatário da mensagem também um co-

participante da ação jornalística (ou pelos menos fazer com que ele se sinta

assim), são os weblogs. De acordo com Araújo (2008), o blog de caráter

jornalístico é comumente usado no formato de texto, e nas versões

digitalizadas, os conteúdos vêm sendo empregados de algumas distintas

formas. A primeira forma, como programa de edição, o blog é atraente para os

jornais online porque permite publicar variados tipos de conteúdo

instantaneamente; também por causa da delimitação do espaço para o texto

(às vezes com fotos e gráficos); além dos arquivos postados terem uma ordem

cronológica. Espaço de discussão é a segunda maneira, no qual os blogs se

tornam também atraentes por desenvolverem canais dialógicos entre os

jornalistas e os seus públicos, por exemplo, através dos espaços reservados

para os coments (comentários). Para Araújo (2008) há ainda outros modos que

remetem à ideia de blog:

“[...] Como coleção de links, os jornalista vêem no conceito uma versão, em hipertexto, dos digestos, as publicações que comentam outras publicações. [...]. Como diário, o blog estabelece um vínculo com uma vertente dita marginal do discurso jornalístico [...] Por fim, como home page pessoal, o blog de imprensa aparece associado aos softwares de edição e assume a conotação de coluna jornalística.[...]”.

A conseqüência de se utilizar os blogs como mais um formato de

imprensa seria um misto ou uma confusão de todas essas definições Por

conseguinte, esta relação blog e jornalismo é um assunto que vem causando

discussão e polêmica. Alguns diriam que a função dos blogs não tem nada a

ver com o jornalismo, porém, outros diriam o contrário, pois um blog poderia

ser considerado um importante instrumento para a difusão de notícias e para o

desenvolvimento do jornalismo online. Vale lembrar que os blogs não foram

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criados com a finalidade de serem canais de informações jornalísticas,

entretanto, aos poucos foram assumindo tal função - o formato propicia

facilidades técnicas como a publicação rápida e simples e a liberdade para

expressar opiniões. Pelo motivo de os blogs serem baseados na opinião de

seus autores que os críticos julgam este formato de produzir qualquer coisa,

menos fazer jornalismo. E é exatamente a opinião que movimenta a vida e a

essência dos blogs. Porém, apesar do espaço virtual possuir essa

potencialidade d e popularizar e democratizar a informação, isso não significa

que ele vá assegurar experiências bem sucedidas e resultados adequados.

2.3 – O editor-chefe é você

Em relação aos tradicionais meios de comunicação de massa, sem

dúvida alguma os veículos online possuem vantagens que abriram novos

caminhos e continuam apontando novas direções, e naturalmente instigando

não só os internautas, mas também os jornalistas. Rapidez para disponibilizar

posts e inserir conteúdos (como textos e fotos), multimidialidade,

hipertextualidade, e gratuidade do serviço em geral, são algumas das

facilidades técnicas dos blogs, o que despertou o interesse de profissionais e

de grandes grupos de comunicação. Para Guedes (2007):

“Talvez um dos pontos que mais estimulou os jornalistas a adotarem os blogs foi a independência de regulamentações superiores, já que esse espaço virtual é um domínio pessoal do administrador. Por não possuir restrições hierárquicas quanto ao conteúdo e à linguagem, pode conter qualquer tipo de informação sem censura prévia, seja ela objetiva ou subjetiva”.

Em relação ao controle de conteúdos e à regulamentação do direito de

opinião na internet, Gomes (2008) sugere o argumento: defender a liberdade

de opinião, independentemente do seu valor cultural e político. Para ele, o

caráter descentralizado da internet:

“[...] seria a razão principal da inutilidade da censura, na medida que um site censurado num país pode ser replicado e reaparecer em provedores de qualquer outro país. O

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argumento, nesse caso, é simples uma constatação de fato, sem avançar nenhuma pretensão de direito. Mas é igualmente verdade que grande parte da inutilidade prática da censura se deve ao fato de a “comunidade” dos usuários da rede partilharem a convicção que, de direito, censurar é errado”.

Caso as opiniões sejam equivocadas, ofensivas, agressivas, e sem

coerência, significa que elas podem ser combatidas, criticadas e recusadas,

porém, nunca censuradas.

Melo (2006) assevera que a grande motivação do profissional de

jornalismo é o direito que ele tem de anunciar suas opiniões e seus pontos de

vista a respeito dos fatos que vivencia ou avalia. Sendo assim, o jornalista

abandonaria o papel de simples figurante num cenário atual e assumiria a

função de protagonista da história. Para Melo, a batalha do jornalista pelo seu

direito de opinar pode vir a produzir um tipo de exclusivismo editorial ao

profissional, já que o argumento muitas vezes levantado seria o de controle

hierárquico superior.

Santos (2008) explica que da mesma maneira que a TV caracterizou-

se pela velocidade das imagens e textos, a internet anda rumo à saturação de

informações.

“E o pior, poucos se dão conta disso e não sabem distinguir o aprendizado real de uma satisfação ilusória. O acesso à informação significa, antes de tudo, o rompimento do controle dos conglomerados de comunicação e o fim das benesses oferecidas pelos Estados a esses grupos. Seria o fim do monopólio da informação unidirecional do centro (grupos dominantes) para a periferia (explorados)”.

Como já mencionados, alguns dos componentes do blog – a

velocidade, a convergência das mídias e o hipertexto, que facilitaram a

navegação atrelando os infinitos links e quebrando as regras da linearidade da

leitura - proporcionam por si mesmos, as ferramentas necessárias à livre

propagação de ideias. Assim como qualquer internauta pode criar seu blog,

nada impede que o jornalista também o faça; utilizando-se de seus

conhecimentos e da prática de sua profissão, em poucos minutos cria sua

conta em um dos sítios disponíveis e passa a fazer jornalismo, contando ainda

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com o prazer de receber comentários, opiniões sobre o conteúdo direto de

suas ideias, o que não seria possível, na maioria dos casos, em seu ambiente

de trabalho.

Pode-se dizer que, a objetividade jornalística está ligada à sua

dimensão ética, mas cada versão do fato irá refletir objetivamente o referencial

de observação do próprio jornalista ou da instituição que o emprega e o

assalaria. É neste exato ponto que se coloca a utilização da liberdade de

expressão enquanto opinião. No primeiro caso - o referencial do profissional -

por mais que o jornalista intente capturar todas as nuances de um fato, este é

“escravo” de sua observação, quando é descrito em verbos, adjetivos,

entonações, reticências. Aliás, arrisca-se dizer que há muito já se deixou de

lado a procura obcecada pela descrição imparcial dos fatos. O segundo, no

entanto, não ocorre por uma limitação de observação - inerente ao ser

humano, não só ao jornalista – mas a uma escolha deliberada de uma

instituição, encarnada, por exemplo, no editor-chefe. Aqui o fato não é mal

observado ou parcamente relatado, mas moldado, dirigido e adequado por

aquele que escreve, ou melhor, por aquele que decide sobre o que se escreve

e o que não se escreve, levando sempre em conta as diretrizes da instituição a

que se deve obediência.

Acredita-se que a quantidade de visitas de um blog e a freqüência de

suas atualizações, seja uma das maneiras possíveis para observar sua

credibilidade, pois as pessoas acessam, dão atenção e gastam tempo com o

que lhes parece interessante e confiável. Ou seja, talvez para fugir dos

equívocos e da perda de tempo ao buscar notícias na internet, a saída seria

acessar blogs, com índole profissional, mais populares, de mais visibilidade.

No entanto, poderia acontecer o processo inverso: o blog popularizar seu

autor. Isso se daria, então, por meio dos internautas identificando a

credibilidade do blogueiro – geralmente através dos links que direcionam a

outros. Muitos bloguers, assim como suas ideias, ganham visibilidade e fama

quando outras pessoas os citam e fazem referência. Sendo assim, teriam

destaque aqueles (jornalistas ou não) que possuem melhores textos e

argumentos, podendo ser avaliados através dos comentários deixados pelos

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leitores. Contudo, ainda ficam questões a serem respondidas: mesmo quando

o blog pertence a um jornalista, ele pode ser considerado jornalístico por

publicar notícias? E será que de fato essas informações podem ser

consideradas notícias?

Quadros (2008) expõe a definição de alguns estudiosos do assunto.

Ela explica que de acordo com Gieber, “notícia é tudo aquilo que jornalistas

definem como tal”. Para Graber, quem produz notícia determina em conjunto

com quem fornece as informações se alguma coisa merece atenção da mídia

ou não. Já Leon Sigal afirma que notícia é o que as fontes dizem. Na visão de

Sigal, os jornalistas têm uma influência limitada sobre o que é constituído como

notícia.

“É evidente que o blog como sistema de comunicação alternativo não pode ser desconsiderado, pois já provou que enfrenta a mídia centralizadora e governos autoritários com certo êxito. Na sua carreira em evolução, o blog continua apontando possibilidades para o jornalismo digital. Em sua primeira fase, prevaleceram os registros de quem sabia escrever bem e teve persistência e fôlego para continuar atualizando o conteúdo de um blog. Mas outras fases surgem com o desenvolvimento da tecnologia, o que permite a renovação do blog através de outras formas de expressão”.

Tratando-se do papel do jornalista, para Melo (2006, 48) ser objetivo

em noticiar é uma função ancorada em três valores da mediação jornalística.

Um desses valores seria a credibilidade, que designa a apresentação de

indícios e evidências suficientes para suscitar a confiança coletiva. Para Bucci

(2000, 47):

“O bem mais precioso na vida de um jornalista não é o seu emprego, mas a sua credibilidade. Por isso é correto presumir que tudo o que se pratica no campo do jornalismo, da apuração dos fatos à edição final do que será visto pelo público, é o interesse e da conta do cidadão. É preciso saber que o direito de ser informado inclui o direito de saber como se é informado, o direito de opinar sobre os métodos e de optar entre um veículo e outra com base nisso [...]”.

Ainda conforme o autor “a confiabilidade e a credibilidade advêm da

atitude, em relação aos fatos e ao público, daqueles encarregados de relatar

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os fatos e a esse mesmo público...”. Outro resultado seria a impressão deixada

pelo veículo: acredita ou pelo menos finge que acredita que tudo que ele

publica é a verdade. É como se esse veículo dissesse ao público que a

verdade dos fatos está ali, e é só isso que lhe cabe, mas dizer como essa

“verdade” foi apurada, e quais critérios foram adotados, não é oportuno dizer.

De acordo com Bucci, “quem age assim não é jornalista – talvez se imagine

profeta”.

Seguindo esta linha de pensamento, compreende-se que o direito, de

manifestar opniões, ideias e pensamentos na web, possibilita que toda e

qualquer pessoa, experiente ou não, divulgue tudo aquilo que deseja. Caso

infrinja as leis, ela responderá pelos seus atos, contudo, a possibilidade de se

propagar quase totalmente livre ainda continua a existir. Com isso, se

expandem tanto à quantidade de fontes de informação e notícia quanto à

cobrança e a exigência por qualidade no serviço.

Neste contexto, tratando especificamente liberdade de expressão na

internet, se esbarra na discussão: blogueiros X jornalistas. Ao mesmo tempo

em que aumentam as facilidades dos usos das tecnologias digitais para

acessar notícias, disseminam-se também informações falsas e compreensões

deturpadas dos fatos. Para Guedes (2007):

“Por serem emissores e terem o poder de divulgar fatos pela rede, os internautas passam a ser considerados jornalistas em potencial por alguns teóricos. [...] Entretanto, por não terem estudos aprofundados a respeito de teorias da recepção e dos valores-notícias, por exemplo, muitos poderão ser prolixos ou mesmo enfadonhos ao não publicar conteúdos de forma agradável para a leitura. Existem critérios na elaboração de notícias que precisam ser seguidos pelos emissores. Como afirma Gradim apud Rodrigues (2006, p.52), ‘Fazer notícias exige preparação intelectual, deontológica e prática, e presumir possuir tais virtudes não é o mesmo que ser capaz de efectivamente as exercer. Além disso, fazer notícias implica processos de verificação semântica”.

Logo, considerar-se-ia insubstituível e necessário o jornalista neste

universo em que são produzidas informações, incessantemente. Devido aos

seus aprendizados profissionais, seria este o organizador dos conteúdos

disponibilizados aos internautas.

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Conforme Santos (2008), cada um pode, por si só, tomar suas próprias

decisões, como escolher em que comunidade virtual interagir e então se

submeter às suas regras.

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Capítulo III

Blogosfera

Já existem hoje muitos blogs jornalísticos no Brasil. Dentre eles, um

dos mais conhecidos é o do jornalista Ricardo Noblat, devido ao seu

pioneirismo em trabalhar com exclusividade para um veículo, por ser o primeiro

weblog sobre política, além de sua credibilidade e visibilidade profissional

alcançada ao longo do tempo.

Esta pesquisa tem por objeto de estudo o Blog do Noblat, disponível

atualmente em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/. O objetivo deste capítulo é

analisar o blog e mostrar como o jornalista Ricardo Noblat exerce a liberdade

de expressão enquanto opinião. Para isso faz-se necessário contar a história

do blog, desde seu surgimento, passando por algumas transformações, além

da trajetória de seu autor. Para entender de que forma Noblat se expressa em

seu blog, fez-se necessário observar aspectos como linguagem, estrutura,

velocidade na atualização e relação entre autor e leitores, além do conteúdo

publicado. Durante cinco dias, de 16 a 20 de julho de 2011, foi realizado um

monitoramento que mostrará mais a frente uma análise de alguns posts

publicados no blog no período da observação.

3.1 - Quem é Ricardo Noblat e o que é Blog do Noblat?

De acordo com alguns autores e registros, Ricardo Noblat nasceu na

cidade de Recife em 1949. Pela Universidade Católica de Pernambuco se

formou em Jornalismo e iniciou sua carreira profissional como correspondente

do Jornal do Brasil em sua cidade natal. Foi editor-chefe do Correio Braziliense

e da sucursal do Jornal do Brasil, em Brasília. Como repórter trabalhou nos

jornais Diário de Pernambuco, Jornal do Commercio, Jornal do Brasil e na

revista Veja de Recife. Atuou como chefe de redação nas revistas Manchete,

e Veja em Salvador, e depois editor-assistente da mesma em São Paulo. Em

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1982, chegou a editor regional da filial do JB em Brasília. Em 1989 foi repórter

do O Globo, depois passou a chefiar a sucursal da revista IstoÉ. De 1994 a

2002 dirigiu a redação do Correio Braziliense. Passou também pelo jornal A

Tarde e O Dia. Ricardo Noblat também é professor e autor dos livros “A Arte de

Fazer um Jornal Diário”, “O Que É Ser Jornalista”, “O Complô que Elegeu

Tancredo” e “Céu dos Favoritos”, além de artigos como “O que um blog pode

ensinar” e “Até qualquer dia”, dentre outros, disponibilizados para download em

seu blog.

Por conta própria, o jornalista criou um blog no Blig no portal iG e o

lançou em 20 março de 2004, com o objetivo de noticiar sobre os bastidores da

política nacional, o que até então não era feito em sua coluna dominical

mantida pelo impresso carioca O Dia. O primeiro conteúdo postado foi às

20h57, com a curta mensagem “Bem-vindos ao meu blog”, com o título “É o

início”.

Já o segundo post, enviado no dia seguinte, 21 de março de 2004, às

14h39, traz o título “Obrigado”, onde Noblat agradece pelas primeiras

mensagens de amigos, e afirma que a pretensão é atualizar o blog todos os

dias, além de prometer que se houverem notícias que ele não possa ou não

queira esperar até o domingo para publicar na coluna do O Dia, elas serão

antecipadas em sua página pessoal na internet. O jornalista chega a contar

uma novidade para os leitores: “Pretendo também criar um espaço na coluna

impressa chamado "Mande Ver". Para reunir ali comentários engraçados,

curiosos, ácidos de leitores sobre tudo e qualquer coisa. Creio que tais

mensagens chegarão mais por meio do blog”.

A ideia seria utilizar o meio (caracterizado pela instantaneidade) para

publicar informações apuradas por ele mesmo no começo da semana, que

poderiam ficar velhas se tivesse que esperar até o domingo. Três meses

depois da inauguração do espaço virtual, Noblat saiu do jornal O Dia. Noblat

chegou a se despedir dos leitores de seu blog, que então fizeram pedidos para

que mantivesse a home page. Noblat acreditou e levou a ideia à frente,

fazendo com que seu espaço na internet ganhasse força e popularidade.

MORAIS afirma que Noblat:

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“(...) conta que nunca tinha entrado em um blog até ter o seu. Ele ‘ouvira falar que blog era uma espécie de diário de adolescente na internet’. Sabia ainda que seus três filhos, todos na faixa dos 20 anos, se interessavam pela novidade, o que pode tê-lo levado a intuir o potencial do formato. (...) ‘Como notícias cavadas no início da semana acabavam envelhecendo antes que a semana terminasse, um amigo sugeriu que eu criasse um blog para ter onde despejá-las a tempo e a hora’ (...) o blog é um espaço de notícias, análises e debate que devia ser experimentado por todo jornalista, pois ‘ensina mais do que muitos anos de redação’. Noblat considera que um blog ensina o jornalista a levar mais em conta o gosto dos leitores, que por meio de comentários manifestam com clareza suas preferências”.

Ainda conforme a autora, através da internet, os jornalistas trazem a

memória, que por vezes os meios tradicionais de comunicação aparentam

ignorar, a função de um jornal: a de que ele existe para seus leitores.

Conforme Borges (2007), Noblat que até não recebia nada para

manter seu blog no Blig passou ser remunerado pelo mesmo provedor, iG, em

março de 2005. Neste ano, a crise do mensalão teria contribuído para que o

blog atingisse recorde de audiência, obtendo mais notoriedade e

reconhecimento para além do mundo dos blogs. Só durante o mês de

setembro deste mesmo ano, o blog teria recebido exatamente 1.800 mil

visitantes únicos. O desempenho de Noblat no blog teria sido influente, tanto

que “durante a crise do mensalão, em 2005, e na cobertura das eleições de

2006 é apontado pelos especialistas como um dos principais responsáveis

pelo crescimento de blogs jornalísticos em todo o Brasil”.

Um pouco mais tarde, no final de 2005, o Blog do Noblat passou a ser

abrigado pelo site do jornal O Estado de São Paulo, onde permaneceu até o

ano de 2007. Depois o blog passou a ser mantido pelo suporte digital O Globo

Online (http://www.oglobo.com.br), do jornal O Globo - primeiro jornal em

versão online a inventar uma seção de blogs - desde 2003 (em

http://oglobo.globo.com/online/blogs) páginas pessoais de alguns jornalistas de

renome do próprio veículo como, por exemplo, Ancelmo Gois, Patrícia Kogut e

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o próprio Ricardo Noblat. Cada blog é destinado a publicar informações sobre

assuntos específicos, como economia, televisão, cinema, política, entre outros.

Para Guedes (2007), o sucesso de Noblat em seu blog não aconteceu

somente devido a sua atuação profissional dentro do campo da política.

Através da qualidade de seu trabalho, o jornalista teria edificado a credibilidade

na internet. “Por isso, Noblat conseguiu muito mais do que manter os antigos

leitores reais: ele conquistou um público virtual e especializado em

comunicação”.

Credibilidade na internet pode ser considerado algo difícil a se

conquistar, porém os autores citados neste capítulo mostraram que o Blog do

Noblat é um exemplo de que é possível fazer jornalismo e ainda ter a

confiabilidade de seus leitores. Para dar continuidade a este estudo, será feita

a seguir uma apresentação do Blog do Noblat, de modo a conhecê-lo com

mais especificidade, dando uma visão mais aberta e ampla de sua aparência

interfacial e características.

3.2 – Surfando no Blog do Noblat

O Blog do Noblat é considerado genuinamente jornalístico e sobre

política, trazendo uma interface interativa e com caráter de coletividade. Para

facilitar a compreensão de alguns detalhes, o blog será explicado com base

nos links existentes.

Ao acessar o endereço correspondente ao Blog do Noblat uma das

primeiras visualizações é a de uma tarja horizontal azul com os links das

seções de O Globo, como por exemplo, Capa, Plantão, Colunistas, Mundo,

Esportes, Cultura, Tecnologia, Viagem, entre outros, estando Blog do Noblat

em “País”. Logo abaixo dessa coluna horizontal, ainda na parte superior

esquerda da página, apresenta-se uma foto do próprio jornalista e ao lado o

nome do site, “Blog do NOBLAT”, para assim que o internauta acessar saiba

de quem é o blog, criando uma identificação intencional com o objetivo de

estabelecer uma relação de proximidade entre o visitante e o autor da página.

Ainda ao lado, localizado na parte central, traz o nome da cidade (Brasília), e a

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data atualizada, e já no lado direito os três links Regras do Blog, Perfil do

Noblat e Publicações do Noblat. O registro a seguir mostra como se configura

a página inicial.

No link referente às regras, Noblat explica as normas de sua página

para que o participante saiba navegar e enviar comentários sem desobedecer

aos princípios do blog. Ele afirma que aqueles que violarem as leis do país e

da página, poderão ter seus comentários deletados ou permanentemente

bloqueados, por exemplo, se os participantes insistirem no envio de

comentários agressivos e ofensivos; escreverem em caixa alta; ou ainda

criarem cadastros múltiplos e falsos no Globo Online. Avisa ainda que blog não

é chat, e se respeitadas às regras, o debate sobre os assuntos postados,

torna-se livre. Para enviar coments é necessário ser cadastrado no Globo

Online, caso contrário é possível participar usando nicknames (apelidos), e

ainda se a pessoa quiser pode colocar o endereço do e-mail. As informações

pessoais ficam guardadas em sigilo e não são publicadas. Com isso observa-

se um ambiente interativo, onde o receptor também pode produzir informação,

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porém com organização e regras. Percebe-se também que tal imposição pode

gerar respeito, ordem e confiabilidade por parte dos leitores.

Já no segundo link, Perfil do Noblat, o jornalista resume sua história,

descrevendo acontecimentos que marcaram sua vida e carreira profissional

como, por exemplo, quando se assustou ao saber na noite de 14 de março de

1985 que o presidente eleito Tancredo Neves se hospitalizara doze horas

antes de tomar posse. E dali a mais ou menos um mês, o jornalista estava no

velório que acontecera no mezanino do Palácio do Planalto. Este também é

um ponto que dar a entender a busca da intimidade com o leitor, onde o

mesmo se sente parte da história, pois, talvez, muitos dos fatos descritos por

Noblat, alguns presenciaram, ouviram falar ou acompanharam através dos

meios de comunicação. Somando o terceiro link, Publicações do Noblat, onde

o blogueiro disponibiliza downloads em formato word dos livros “O Complô que

Elegeu Tancredo”, sobre a história dos bastidores da eleição para presidência

do país, quando Tancredo Neves marcou o fim do regime militar, e “O Céu dos

Favoritos”, uma coletânea de artigos, publicados pelo autor no Jornal do Brasil,

sobre o governo do presidente José Sarney e a eleição do presidente

Fernando Collor de Mello. Além de downloads de textos, artigos, reportagens e

entrevistas de sua autoria. Com isso, observa-se mais uma estratégia para

proporcionar certa sensação de familiaridade com o internauta, permitindo que

ele tenha acesso gratuito a materiais do Ricardo Noblat.

Abaixo da imagem do Noblat, ao lado esquerdo da página, encontra-se

um serviço de busca, um espaço para escrever palavras-chave e fazer

pesquisas. Abaixo, uma coluna com cinco links com diferentes funções. São

eles Página principal, Artigos, Entrevistas, A Obra Prima do Dia e Arquivo do

blog.

“Página principal” direciona o participante à home, página inicial do

blog. “Artigos” e “Entrevistas” são conteúdos produzidos também por

colaboradores, como por exemplo, José Dirceu, Demóstenes Torres, Marcos

Coimbra, Ateneia Feijó, Leonardo Boff, entre outros. Além de publicar

conteúdos transcritos de outros jornais de grande circulação como o Estado de

São Paulo e a Folha de São Paulo. Ao acionar o link “A Obra prima do dia”, o

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leitor pode conferir conteúdos publicados pela colunista Maria Helena Rubinato

Rodrigues de Sousa: imagens e análises de obras primas como, por exemplo,

fotografias, mobiliários, objetos, quadros e pinturas de acervos de nacionais e

internacionais. Além de trazer também um espaço para fazer comentários. O

último link desta coluna, “Arquivo do blog”, permite procurar rapidamente no

banco de dados interno conteúdos antigos até as publicações atuais.

Abaixo, ainda no lado esquerdo da página, Noblat recomenda em “Leia

também” o blog da Maria Helena``, aparentemente a mesma pessoa

responsável pelas publicações de “A obra prima do dia”. Em seguida, vem

“Desabafe”, um espaço para o internauta enviar comentários dando opiniões a

respeito de qualquer assunto. Continuando na vertical, “Ouça Estação Jazz e

Tal”, uma rádio dentro do blog para quem gosta de jazz, bossa nova e MPB.

“Fale com o Blog” serve para enviar e-mail para [email protected]. E

por último, ainda ao lado esquerdo, Noblat indica “Outros sites de colunistas”:

Ancelmo.com, Miriam Leitão, Patrícia Kogut, e Rádio do Moreno.

Terminada a análise do lado esquerdo da página, na parte central e

superior, o blogueiro publica uma “Frase do dia”, geralmente pronunciada por

alguém reconhecido e com destaque na mídia. Noblat credita a frase, permite

aos participantes fazerem comentários sobre a citação e ler os enviados, estes

trazendo em parênteses o número de comentários já emitidos,

Abaixo da Frase do dia, encontra-se o principal: os posts, que têm uma

estrutura padrão, onde na primeira linha, ao lado direito, ficam nome do

remetente (ex: enviado por Ricardo Noblat), dia, mês e ano, e hora e minutos

da publicação. Abaixo, ao lado esquerdo, vem o título em letras um pouco

maiores que o texto disponível logo em baixo. Para ilustrar os textos, Noblat

também usa este espaço para inserir fotos, charges, vídeos e imagens em

geral. Os posts se organizam de maneira que as mensagens mais novas

permaneçam na frente das mais antigas que são jogadas para as páginas

anteriores, conforme as publicações são feitas. Abaixo de cada postagem

existem cinco links mais utilizados e organizados na mesma linha horizontal.

Na ordem: +RSS; Permalink; Envie; Compartilhe (nas opções: Facebook,

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Google, Twitter e Google+); Comente; e Ler comentários (também indicando a

quantidade de comentários enviados até o momento).

O RSS (Really Simple Syndication) é um formato de arquivo

padronizado no mundo todo com o objetivo de distribuir notícias

automaticamente. Essa tecnologia permite que o usuário se inscreva em sites

que fornecem feeds (do inglês, “alimentar”) RSS e acompanhe as novas

publicações de blogs, portais etc. O arquivo traz informações das últimas

atualizações, como por exemplo, título, data, autor, página e descrição da

alteração, entre outras.

Quando o usuário se inscreve no RSS do Blog do Noblat, passa a

receber constantemente as últimas atualizações do blog, que são baixadas

automaticamente para o computador ao se conectar a internet, facilitando ao

internauta o acesso ao blog, além de servir como um instrumento gerador de

fidelidade entre blog e internauta. Já o Permalink, palavra em inglês que

significa ligação permanente ou apontador permanente, é um URL (Uniform

Resource Locator, em português Localizador de Recursos Universal) que

aponta uma postagem específica de um blog. Este recurso atende a

necessidade daqueles que desejam se concentrar num post, onde clicando, se

abre outra janela separada, facilitando a visualização e a leitura de um post

específico. Desta forma o leitor se sente confortável e auxiliado pelo veículo,

tendo a oportunidade de fazer uma leitura mais agradável. Ao clicar em Envie,

o terceiro link, aparece “Indique esse texto”, que pode ser utilizado quando o

participante estiver lendo um post e quiser encaminhá-lo para um endereço de

e-mail. Esta pode ser uma forma de divulgar a página para os amigos e torná-

lo ainda mais conhecido. O próximo link, Compartilhe, possibilita comunicar e

indicar tal conteúdo em alguma rede social. Já o link Comente, serve para

fazer comentários sobre um post específico. O último, Ler Comentário, é o link

que exibe os coments já inseridos, exibidos da seguinte maneira:

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Na coluna da direita, encontra-se uma “Enquete” semanal, onde o

participante pode votar clicando em alguma das alternativas, podendo também

acessar o resultado parcial e à pesquisa anterior. Geralmente são perguntas

relacionadas a fatos atuais e assuntos abordados em meios de comunicação

de massa. Durante o período de observação do blog, a enquete era sobre a

crise econômica: “Por que os partidos brigam tanto por cargos nos governos?”.

As opções de respostas são: Para ajudá-los a governar bem; Para demonstrar

prestígio junto aos seus eleitores; Para empregar seus correligionários; Para

roubar; Não concordo com nenhuma das afirmações acima; e Não sei. Até o

momento da análise a alternativa mais votada foi Para roubar, com 83,20% de

votos.

Logo abaixo, o espaço “Twitter”, com os links “Siga o blog do Noblat” e

“Mais tweets”, permite interação através do Twitter. Além de “No seu celular”,

que traz a mensagem: “Envie Noblat para 50020. R$ 0,10* por notícia, até

2x/dia. * Mais impostos”, que possibilita o envio de mensagens de SMS pelo

celular. E ainda, a possibilidade de navegar no blog pelo aparelho de celular

através do oglobo.mobi. Ou seja, estes serviços colocam em prática a ideia de

que o receptor também passa a ser um produtor de informação de onde quer

que ele esteja.

Em seguida, “Biblioteca”, espaço onde são disponibilizados conteúdos

organizados por nove assuntos: Crônicas, Discursos, Documentos, Editoriais,

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Frases de 2006, Histórias exemplares, Notas oficiais, Memórias do Blog e

Reportagens. Seguem alguns exemplos: em “Crônicas”, podem vir textos do

escritor e jornalista Luis Fernando Veríssimo, já no tópico “Discursos”, observa-

se, por exemplo, textos de José Dirceu, Sarney, entre outros. O último tópico

dessa seção traz reportagens de Noblat e de veículos de comunicação como a

revista Veja e Época.

Por último, o espaço “Coberturas Especiais”, que reúne postagens do

blog, como por exemplo, “A queda de Palocci - No meio do caminho tinha um

caseiro (março/2006)”

O Blog do Noblat foi analisado minuciosamente para conhecer e

compreender melhor o espaço virtual em que o jornalista produz informação e

se comunica com os participantes do site. Para dar continuidade ao estudo,

serão apresentados e analisados, a seguir, alguns posts selecionados. O

objetivo é mostrar de que forma o jornalista exerce liberdade de opinião no em

seu espaço vittual.

3.3 – De olho nos posts e nos coments

Este tópico apresentará a análise do recorte do objeto estudado, de

acordo com o embasamento teórico desenvolvido nesta pesquisa, levando em

consideração aspectos como estrutura e linguagem utilizadas no Blog do

Noblat. De 16 a 20 de julho de 2011, foi monitorado um post de cada dia e até

os três comentários referentes às publicações observadas. Portanto, para

exemplificar, a seguir serão evidenciados alguns trechos extraídos do blog.

No primeiro dia de observação, sábado, 16 de julho, o primeiro post foi

enviado às 2h05 e assinado pelo Ricardo Noblat, trazendo o título “Mineiros

resgatados no Chile abrem processo contra o Estado”. Este não obteve

nenhum comentário. A última frase da matéria sugere que o internauta

continue a leitura através de um link que direciona ao Globo.com. Ao acessar o

site constata-se que a publicação no blog de Noblat é apenas uma transcrição

de uma matéria da editoria Mundo, publicada no dia anterior, 15/07, às 19h41.

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Com isso, percebe-se que o jornalista utiliza estratégias da linguagem

jornalística na web em sua página pessoal.

(http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/07/16/mineiros-resgatados-no-

chile-abrem-processo-contra-estado-392732.asp)

No dia 17 de julho, observou-se o último post do dia, enviado por

Pedro Lago, do Corujão da Poesia, às 23h30, trazendo o título “Pelas ruas”, de

Jorge Mautner, nascido no Rio de Janeiro e conhecido pelo seu trabalho de

compositor e cantor brasileiro, umas das grandes referências do Tropicalismo.

O texto rendeu um comentário às 23h40, exatamente 10 minutos após a

publicação. O internauta Carlos Prudente Leite diz: “Adorei o breque. Parece

ser um vaticínio, haja vista que sendo hoje domingo termina aqui o seu espaço.

Que alívio! Vade retro!”. Este comentário demonstra, de alguma forma, que o

leitor parece acompanhar o blog por estar atento aos horários das últimas

publicações.

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(http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/07/17/pelas-ruas-jorge-

mautner-390185.asp)

No início da tarde do dia 18 de julho, Ricardo Noblat publica, às 13h51,

uma charge de Néo Correa, que diz “Erra é o Mano”:

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(http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/07/18/charge-do-neo-

391603.asp)

O post rendeu dois comentários. Um de Arsênio Lamb (Outra das boas,

aêêêeeeee) e outro de José Monte Aragão (Muito boa... morrendo de rir).

Ambos demonstraram se divertir com o trocadilho de humor em relação a

derrota da seleção brasileira de futebol no dia anterior no jogo contra o

Paraguai.

Neste sentido, é interessante observar que apesar de Ricardo Noblat

ter uma forte relação com notícias sobre política, em seu blog, o jornalista

também dá espaço para notas e publicações sobre outros assuntos. No caso

desta charge acima, pode-se dizer que além de falar sobre a situação o

esporte em si, ele também aproveita para dar uma pitada de humor e assim

interagir e se expressar com mais “intimidade” com seus internautas.

No quarto dia de observação, 19/07, terça-feira, Noblat envia às 2h19

uma matéria sobre o caso do pai e filho, que estavam abraçados, e foram

confundidos com casal gay e agredidos por um grupo de jovens numa

exposição em São Paulo. O pai, de 42 anos, teve parte da orelha arrancada

por um dos agressores.

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(http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/07/19/pai-filho-atacados-ao-

serem-confundidos-com-casal-gay-393117.asp)

O post provocou dez comentários. O primeiro, enviado às 3h02 por

ferrugem23 diz: “Inacreditável! Será que o Brasil foi reduzido a isso?

Que vergonha...”. Já o de apelido pilib, às 4h20, diz:

“Temos que 'parabenizar' o pastor malafaia e a viúva-da-ditadura bolsonaro. A campanha de desinformação, preconceito e intolerância protagonizada de forma grandiosa por eles nos últimos meses está dando frutos. Não se enganem! Esse e muitos outros casos de violência que tem acontecido (a lâmpada da paulista, o menino assassinado em São Gonçalo, o rapaz que levou um tiro no arpoador) e tantos outros casos que virão a acontecer foram, são e serão motivados por esse fascismo escancarado que incentiva o ódio e que estimula a violência. Graças a esses personagens manipuladores e interessados unicamente em suas contas bancárias, o brasil é hoje um pais pior.

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O terceiro comentário é de Jaques Silva, às 4h56, que afirma “Eles

ganharam força na campanha homofóbica da chapa da oposição na última

eleição”.

Observa-se que o caso, noticiado em rede nacional por diferentes

meios de comunicação, traz à tona várias discussões como preconceito,

religião, política e violência, como mostram os comentários dos internautas.

O quinto e último dia de monitoramento, 20/07, ressalta o post intitulato

“#prontofalei”, de Ranier Bragon, da Folha de S. Paulo, que diz: “Ao chegar a

uma reunião no Planalto, a presidente fez piada da avaliação de que Gilberto

Carvalho (Secretaria-Geral) é a sombra de Lula em seu governo: "Se você é o

avatar de Lula, eu sou o que?”.

(http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/07/20/prontofalei-393339.asp)

Esta publicação rendeu 11 comentários. Seguem os três primeiros:

“Nome: JOSÉ MONTE ARAGÃO - 20/7/2011 - 11:28 Estão vendo? Até Dilma brinca com o roubo em seu governo. Nome: Frank Santos - 20/7/2011 - 12:13 Não é nada. ABSOLUTAMENTE. Zero ao cubo. Nome: Reynaldo Cintra - 20/7/2011 - 11:39 Boneca de fantoche. (quem pergunta quer saber)”.

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Interessante é observar que a partir de pequenos textos os leitores

passaram a enviar comentários em formato de respostas, gerando outras

perguntas, sendo que Noblat não perguntou nada a ninguém, pelo menos não

de forma explícita. Com isso, entende-se também que o jornalista pauta os

assuntos mais interessantes de acordo com seu ponto de vista e conforme

aquilo que pode render mais discussões. A partir do momento que é exibido o

primeiro comentário, passa a surgir novas mensagens complementando as

anteriores, como se fosse um chat, (onde os participantes trocam mensagens

online), exatamente o que as Regras do Noblat dizem que o blog não é. Isso

pode significar que apesar das normas o administrador não está tão

preocupado em censurar seus leitores. Assim, o blog, através da participação

dos leitores, é caracterizado pela interatividade e troca, geralmente num tom

de desabafo e ironia.

Percebe-se também que o blog não serve apenas para travar

discussões sobre política – mas também é utilizado como um espaço para

compartilhar assuntos diferentes e mais leves, pelo menos ao final do dia com

o “Poema da noite”, organizada por Pedro Lago, do Corujão da Poesia. Foi

possível observar que esta seção não costuma provocar muitos comentários,

em alguns casos não obtendo nenhum, porém, os que participam parecem

livres em opinar, criticar, agradecer, elogiar ou dar sugestões. Uns até arriscam

recitar os próprios versos. No decorrer desses dias, “Carlos Prudente Leite”

mostrou-se participante fiel da seção “Poema da noite”. Em 16/07, ele diz:

“Para expressar tão bem estes seus ós, ós, ós, seria necessário mesmo sentir

as rugas da verrugas! Grande Mautner, o cúmulo da expressão do sentimento

do vernáculo, na razão de ser do poeta em transe. Que belo, bem diz coisa

com coisa. Besteirol elevado ao cubo”.

A explanação detalhada dos fragmentos acima tem por objetivo

sintetizar o que comumente ocorre no Blog do Noblat, atualizado várias vezes

ao dia. Durante o período de análise, constatou-se que geralmente o primeiro

post de cada dia: é enviado por Noblat logo nas primeiras horas da madrugada

(em torno de 1h e 3h); é um texto mais curto - transcrições de notícias atuais

sobre política e economia publicadas em veículos de comunicação de massa

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como O Globo.com; sugere através de um link ao final do texto que o

participante continue a leitura no jornal de onde a matéria foi copiada; rende

menos comentários do que as atualizações feitas durante o dia (por vezes

acompanhadas por fotos, charges, imagens e vídeos); provoca críticas e

discussões entre os leitores; e desperta interesse dos que costumam navegar

na internet durante a madrugada, que correspondem e interagem em poucos

minutos após a inserção do conteúdo, o que não poderia acontecer em uma

coluna tradicional.

Com base nesse monitoramento, percebe-se que apesar de Ricardo

Noblat ter trabalhado na maior parte da sua vida em veículos impressos, ele

conseguiu unir experiência profissional adquiridas nas grandes redações às

possibilidades oferecidas pelo ciberespaço, de modo a fazer webjornalismo

com autonomia, flexibilidade e criatividade. Pode-se dizer que Blog do Noblat

não é apenas um site jornalístico mas também um veículo, que apesar de

virtual, faz o leitor existir, pois abre espaço para a livre expressão de

pensamento aos participantes e a si próprio.

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CONCLUSÃO

Este trabalho procurou mostrar como a liberdade de expressão pode

se manifestar em weblogs jornalísticos. Para tratar deste tema foi escolhido o

blog do jornalista Ricardo Noblat como objeto de estudo, devido ao

profissionalismo, prestígio e boa reputação do colunista.

Para tanto, fez-se necessário uma análise histórica, onde se constatou

que a internet, criada inicialmente com o objetivo de atender necessidades

militares, se difundiu como um meio de comunicação de massa e espaço

democrático de idéias. A ambição inicial de ser uma maneira prática e rápida

de troca de informações entre os militares tomou proporções que qualquer

prognóstico da época duvidaria, pelo menos com as proporções atuais. A

internet, hoje, é utilizada para finalidades infindas, além de ter estimulado a

venda de computadores, presentes nas residências como se fossem

eletrodomésticos de uso corriqueiro.

A interatividade e o acesso irrestrito aos que possuem o equipamento

necessário para conectar-se à rede possibilitam que usuários comuns se

manifestem e criem laços de comunicação entre si, sendo uma das formas os

weblogs, inicialmente diários pessoais de acesso público e, posteriormente,

propagadores de idéias multifacetárias, dentre elas, a veiculação de notícias

online.

Tais atividades não se dão no mundo palpável, mas em um meio

virtual denominado ciberespaço. Nele, a cultura, a interatividade e a opinião

pessoal são mediadas por máquinas computadorizadas, tornando as relações,

num primeiro e displicente olhar, impessoais, porém, transformando a

comunicação de modo a criar uma troca de conhecimento antes não

imaginada. Desprovida de uma regulação estatal específica até então, a

internet é um meio que fomenta a livre manifestação de opiniões, tanto de

simples usuários como de profissionais de jornalismo.

Neste sentido percebeu-se que o Blog do Noblat não é apenas um

blog que faz webjornalismo de qualidade, cumprindo o papel de informar o

público através de notícias e conteúdos diversos já mencionados

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anteriormente, mas é também um espaço que, apesar de virtual, faz o leitor

existir, dando voz e abrindo espaço para a livre expressão de pensamento aos

participantes e a si próprio.

Com isso foi possível observar que existe tanto a troca de informação

quanto a de opinião. Isto acontece quando o jornalista publica notas, matérias,

poemas, etc, ao passo que seu público envia comentários, sugere debates e

indica novos links. Desta forma os leitores, tidos por algumas linhas teóricas

como receptores passivos da mensagem, passam a ocupar também o papel

da emissão, produzindo informação, construindo e reconstruindo temas e

discussões inicialmente expostos.

Durante a análise, verificou-se que esta interação é uma forte

característica do Blog do Noblat. Daí passou-se a observar com mais

tenacidade a maneira como se configura a liberdade de expressão, enquanto

opinião, praticada pelo profissional. É certo que qualquer jornalista, em meio

virtual ou não, desempenha, em maior ou menor medida, tal faculdade, mas

não se pode afirmar que o mesmo jornalista o faça da mesma maneira no meio

impresso como no meio cibernético. Diante da diferença entre os meios,

constatou-se que o formato digital, em si, já contribui para tal exercício,

facilitando desde a velocidade e agilidade na atualização instantânea até as

modificações estruturais da linguagem, de layouts, e de conteúdos em geral.

Num primeiro momento pensou-se que liberdade de expressão poderia

remeter a certa desordem e confusão virtual, pois o próprio termo pode dar

margens ao entendimento de que no ciberespaço nada é proibido ou errado,

como se fosse um local onde tudo pode ser dito e divulgado sem receios.

Porém, mesmo compreendendo que é impraticável conhecer totalmente a

dimensão deste ambiente que não permite a noção de começo e fim, foi

possível observar que apesar de tais dificuldades o Blog do Noblat apresenta

organização e limite. Por exemplo, através das regras do blog e dos horários

em que são enviados os post de cada dia. Logo, conclui-se que embora

considerada mínima, existe a tentativa para que o blog seja um lugar

organizado e ao mesmo tempo democratizado, encontrando-se acessível para

diálogos e opiniões.

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Neste sentido, pode-se afirmar que a liberdade de expressão não está

exclusivamente ligada àquilo que se pensa e que se diz objetivamente, mas

também às formas de como a opinião se configura e se anuncia.

Compreendido que o meio por si só propicia certo grau de liberdade,

considerou-se relevante verificar de que forma isto é apresentado no Blog do

Noblat. Apurou-se, por exemplo, que Noblat através da hipertextualidade

direciona o leitor para outras fontes, seja um blog ou webjornal, porém, o leitor

não é obrigado a obedecer ao “comando” dos links. Ele pode escolher ampliar

a navegação ou não, até porque as inserções de Noblat são suficientes para o

entendimento do assunto em questão. Apesar de Noblat, por vezes, publicar

apenas trechos de matérias e reportagens oficiais de outros veículos, o usuário

não fica desinformado caso não queira expandir a leitura.

Além dos hyperlinks, a multimidialidade também é evidenciada quando

o jornalista converge em sua página, texto, vídeo, foto, charge e áudio, por

exemplo. Já a instantaneidade e velocidade na atualização constante são

conferidas nos posts e nos comentários enviados por leitores, permitindo a

visualização dos dados de publicação, como data, hora exata, nome ou

apelido.

Demonstrou-se também haver espaço para a livre expressão entre os

leitores. Noblat permite que eles leiam os comentários enviados por outros,

podendo ainda dar seqüência ali mesmo ao debate, seja concordando ou não

com a opinião em contexto. Além disso, existe um diálogo direto, onde os

usuários podem opinar ou corrigir possíveis equívocos cometidos por Noblat

que aparentemente não se sente desrespeitado ao receber ponderações.

Através da observação dos diferentes tipos de conteúdos veiculados

pelo jornalista, descritos nos tópicos anteriores, conclui-se também que apesar

de ser um dos sites abrigados no portal do O Globo, o Blog do Noblat alia

características e potencialidades similares a de um portal jornalístico. Isto foi

percebido ao compreender como se deu o desenvolvimento do blog que aos

poucos, conforme o empenho de Noblat foi incrementado por seções e

serviços relacionados a diferentes temas, como música e poesia. Foram

encontrados, por exemplo, ferramenta de busca; estação de rádio online “Jazz

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e Tal”; fale com o blog; Biblioteca; Coberturas especiais; Poema da noite; frase

e foto do dia, Enquete, coluna que agrega endereços de sites de outros

colunistas, utilização constante de hyperlinks, o próprio noticiário, entre outros.

Contudo, este trabalho não teve a intenção de descobrir ou explorar

tudo a respeito do objeto escolhido, entretanto, no decorrer do estudo de caso,

a investigação proporcionou não apenas chegar a conclusões sobre o recorte,

mas também levantar novas dúvidas. Estaria o webjornalismo, em blogs,

proliferando naturalmente uma multiplicação de veículos? Seria então o Blog

do Noblat um portal dentro de outro portal? Os meios de comunicação de

massa se desenvolveram e se aprimoraram. Pode ser este um tempo marcado

por uma transformação do colunismo, onde colunas impressas ganham

versões na internet e colunistas dos meios tradicionais viram verdadeiros

blogueiros, ocupando assim a função de editores-chefe e donos do seu próprio

jornal? De que forma isto prejudicaria ou beneficiaria os grandes

conglomerados de comunicação e os jornalistas?

Neste contexto, conclui-se que Ricardo Noblat, além de ser o autor e

administrador de um weblog genuinamente jornalístico, é também um modelo

de como servir-se do universo virtual de modo livre e ético. Noblat parece

explorar bem o que a web tem a oferecer, tornando seu blog cada vez mais

atrativo e referenciado, pois com experiência e bom senso consegue vincular

as diferentes possibilidades do ciberespaço, como interatividade, velocidade e

instantaneidade, a gêneros provenientes do jornalismo, como por exemplo,

notícias, análises, notas, colunas, crônicas e reportagens. Deste modo, o Blog

do Noblat é utilizado como um espaço favorável e apropriado para que tanto o

jornalista como os leitores exerçam liberdade de expressão enquanto opinião.

.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

RESUMO 3

METODOLOGIA 4

SUMÁRIO 5

INTRODUÇÃO 6

CAPÍTULO I

Da pequena rede ao cibermundo 11

1.1 – WWW em ação 11

1.2 – A Internet e suas possibilidades 14

1.3 – Blogs pra quê? 19

CAPÍTULO II

Ciberespaço 25

2.1 - Cibercultura 25

2.2 – Interatividade 29

2.3 – O editor-chefe é você 34

Capítulo III

Blogosfera 40

3.1 - Quem é Ricardo Noblat e o que é o Blog do Noblat 40

3.2 - Surfando no Blog do Noblat 45

3.3 – De olho nos posts e nos coments 49

CONCLUSÃO 57

BIBLIOGRAFIA 61

ÍNDICE 65

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