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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Brincadeira é coisa séria: O Brincar e O Aprender na Educação Infantil Por: Danielle Rosa de Mendonça Orientador Prof. Edla Trocoli Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …brincar para o desenvolvimento cognitivo e social das crianças de 3 a 6 anos. Sabemos que jogos e brincadeiras são importantes

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Brincadeira é coisa séria: O Brincar e O Aprender na

Educação Infantil

Por: Danielle Rosa de Mendonça

Orientador

Prof. Edla Trocoli

Rio de Janeiro

2012

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Brincadeira é coisa séria: O Brincar e O Aprender na

Educação Infantil

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Educação Infantil e

Desenvolvimento

Por: Danielle Rosa de Mendonça

3

AGRADECIMENTOS

....à Deus Pai, Filho e Espírito Santo, a

Nossa Senhora, a minha mãe Anna

Rosa, irmãos: Ana Carla, Cristina,

Flávio e Alexandre, sobrinhos: Lucas,

Yvens, Giulia e Nicolle, cunhadas Irene

e Sara, ao meu namorado Marco

Antônio e as amigas Maria Luíza,

Fernanda e Rejane, a professora Edla.

4

DEDICATÓRIA

A minha mãe Anna Rosa, irmã Ana Carla,

demais irmãos e sobrinhos,

especialmente ao Lucas. Ao meu

namorado Marco Antônio e amigos.

5

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar jogos e brincadeiras como

importantes instrumentos de ensino-aprendizagem para o desenvolvimento

cognitivo e social das crianças de 3 a 6 anos.

A utilização de estratégias pedagógicas permitem que as crianças

adquiram conhecimentos básicos que utilizarão para o resto de suas vidas

escolares, acadêmicas, sociais.

A brincadeira, o lúdico, o jogo permitem que professores, diretores e

principalmente alunos possam experimentar, decodificar. Vivenciar de

maneira intensa cada experiência.

Tanto o professor quanto o aluno são elementos ativos na arte de

“simbolizar”.

Por meio da pesquisa bibliográfica, de sites relacionados à educação

e da vivencia pedagógica em instituições públicas e privadas, tornou-se

possível constatar que brincar é uma atividade fundamental na infância,

cabendo a professores, pais, educadores e demais interessados, otimizar e

oportunizar espaços e ambientes que mexam com o corpo e a imaginação das

crianças.

6

Metodologia

A escola do século XXI precisa estar cada vez mais atenta às

necessidades sociais, psicológicas e cognitivas das crianças pequenas. Com o

objetivo de atender a esta demanda, os profissionais de Educação Infantil e

demais áreas afins têm a sua disposição jogos e brincadeiras que os auxiliam

na tarefa de educar, cuidar e formar.

Ao longo da história da educação, diversos teóricos salientaram a

importância de jogos e brincadeiras no cotidiano escolar.

Segundo Wallon, educar deve unir razão e emoção. Mexer com o

corpo e a imaginação de crianças e adultos.

Com o intuito de ratificar o ato de brincar para o desenvolvimento

integral da criança de 3 a 6 anos, foram utilizados diversos autores tradicionais

e contemporâneos, a saber: Maria Montessori, Jean Piaget, Henri Wallon,

Celso Antunes, entre outros.

Por meio de leitura e pesquisas bibliográficas, textos lidos em sala

de aula, revistas, apostilas e sites educacionais, recreativos e das contribuições

de grandes pensadores da educação, pretende-se desenvolver este projeto de

pesquisa.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O Educar e O Brincar 10 CAPÍTULO II - Jogos na Educação Infantil 19

CAPÍTULO III – Brincadeiras na Educação Infantil 28

CONCLUSÃO 37 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38 ANEXOS 40

ÍNDICE 44

8

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como meta um pequeno relato da importância do

brincar para o desenvolvimento cognitivo e social das crianças de 3 a 6 anos.

Sabemos que jogos e brincadeiras são importantes ferramentas

utilizadas por educadores e educandos durante o processo de ensino

aprendizagem desenvolvido em creches e pré-escolas.

O desenvolvimento físico, pessoal, cognitivo e social ocorre com

maior velocidade na criança de 0 a 6 anos. Por este motivo, o professor deve

estimulá-la de forma lúdica utilizando jogos e brincadeiras como importantes

instrumentos de ensino.

De acordo com as Orientações Curriculares Para a Educação

Infantil, o educador deve levar em consideração que as aprendizagens infantis

acontecem a todo o momento e não apenas quando ele planeja. Mesmo no

brincar espontâneo e não dirigido, a criança está se desenvolvendo,

descobrindo, aprendendo.

Tendo a consciência de que o espaço escolar precisa estar cada vez

mais atento às necessidades sociais, psicológicas e cognitivas das crianças

pequenas, profissionais de Educação Infantil, membros da comunidade

acadêmica, tios, pais e responsáveis devem criar ambientes favoráveis ao bom

desempenho infantil em todos os aspectos.

Quando afirmamos que brincadeira é coisa séria, significa que

estamos valorizando a criança como ser critico e construtivo no que diz

respeito a si, à sua família, à sociedade e ao mundo que a cerca.

Ao longo de cada capítulo, procuramos mostrar a influência de um

ambiente lúdico para a construção do conhecimento infantil.

Seja na escola ou em casa, por meio de atividades individuais ou

coletivas, como ou sem necessidades educacionais, meninos e meninas são

verdadeiros mestres na arte de simbolizar.

9

Ao mergulharmos no universo lúdico estamos auxiliando a

construção de uma sociedade mais justa, mais equilibrada e certamente mais

feliz.

10

Capítulo I:

O Educar e o Brincar

“ A escola é um elemento de transformação da sociedade e sua

função é contribuir para que as mudanças necessárias se efetivem”

FRIEDMANN, Adriana.2006 p.52

As instituições de Educação Infantil são por excelência lugares onde

o educar, o cuidar e o brincar se encontram e se entrelaçam. Elas têm sido

instrumentos sociais de transformações individuais e coletivas.

Foi-se o tempo em que creches e pré-escolas eram meros depósitos

ou responsáveis por uma educação simplesmente preparatória para estudos

posteriores.

Educar é muito mais que isso. É atender às necessidades

cognitivas, afetivas, linguísticas, sociais, morais, espirituais e físico-motoras

das crianças.

Um bom planejamento pedagógico deve levar em consideração que

o principal objetivo da Educação Infantil é o desenvolvimento integral da

criança de 0 a 6 anos1.

Um dos principais questionamentos do educador é como transformar

o planejamento em conhecimento e principalmente em vivência infantil.

O professor deve ser o primeiro a experimentar e a identificar-se

com a atividade proposta para seus alunos. Só pode ensinar a brincar quem

aprendeu o valor do jogo, da brincadeira, do lúdico2.

1 A Educação Infantil abrange crianças de 0 a 5anos e 11 meses na Legislação Brasileira atual. Neste trabalho, abordaremos também a criança de 6 anos e seu ingresso no Ensino Fundamental no tocante ao brincar.

11

Sabemos que o folclore e as brincadeiras são as principais heranças

transmitidas de geração em geração, dentro e fora do ambiente escolar e que

independem de escolarização. São patrimônios culturais da sociedade

brasileira e da humanidade.

Embora tenhamos a consciência da contribuição cultural que o

gracejo exerce na sociedade em geral, nossa abordagem é baseada na

contribuição pedagógica do ato de brincar, desde a entrada na creche até o

início da alfabetização.

De acordo com Vygotsky, o adulto, o professor ou a criança mais

experiente é um parceiro no processo educativo também no que diz respeito ao

brincar. Ele auxilia a criança a atingir a zona de desenvolvimento proximal e

chegar ao seu potencial ideal.

A brincadeira, enquanto instrumento educacional abrange as

diversas dimensões: linguagem oral e escrita, linguagem plástica,

conhecimentos matemáticos, natureza e sociedade, corpo e movimento,

música.

Através do registro oral e escrito por meio da contação de histórias,

do registro escrito de atividades significativas, da roda das novidades, da

conversas informais durante brincadeiras e fora delas, a criança mostra-se

extremamente comunicativa.

A rabiscação ou garatuja, a pintura a dedo, com pincel, esponja ou

batedor, o giz e posteriormente o lápis de cor dão “asas” à criatividade artística

dos pequenos.

Caminhos retos e curvos, cores e formas tanto em brinquedos

quanto em objetos do dia a dia, quantidades e tamanhos são maneiras

divertidas de adquirir noções matemáticas.

Mesmo que a família ou o ambiente escolar sejam “pobres” em

recursos científicos, a própria criança nos fornece a curiosidade e a capacidade

inventiva e científica necessárias. Ela explora objetos, folhas, animais, a água e 2 Vem de ludus que significa “ jogo, divertimento, recreação,gracejo”.

12

tudo que a sociedade e o mundo lhe oferecerem, explorando também seu

próprio corpo e suas capacidades de movimento.

Além destas características, percebemos também que a criança é

extremamente musical, assimilando, adaptando e criando ritmos, melodias e

sinfonias harmônicas e encantadoras que fazem parte do seu universo

sonhado.

O faz-de-conta, o simbolismo, o prazer e bem estar devem

perpassar todas as fases da Educação Básica, especialmente na Educação

Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Cabe ao professor e seus

auxiliares, ao diretor e a toda a equipe pedagógica proporcionar este ambiente

favorável à adaptação e principalmente à aprendizagem.

1- O brincar como instrumento de adaptação em creches

e pré-escolas

Creches e pré-escolas têm sido frequentadas cada vez mais cedo

por crianças de diferentes classes sociais e diferentes idades. Algumas

crianças frequentam estes ambientes desde o berçário, enquanto outras são

matriculadas a partir dos 3 anos. Seja de maneira precoce ou não, tratando-se

de um novo ambiente de convívio. Ela necessita ser bem acolhida. Necessita

também de um período para se adaptar ao espaço, às pessoas e às novas

relações que vão surgir.

Neste período, que varia de criança para criança, é fundamental que

educadores, pais, auxiliares e todos os envolvidos no processo, mostrem aos

pequenos que a creche ou a “escolinha” pode ser um lugar de brincar, de

sonhar, de compartilhar.

Geralmente nos primeiros dias o professor costuma apresentar o

ambiente de maneira “livre” ou pouco direcionada para que pais e alunos

13

sintam-se parte daquele novo ambiente e o tempo de permanência na

instituição geralmente é breve.

Com o intuito de promover a adaptação, algumas atividades podem

ser realizadas. Vejamos dois exemplos:

Vamos passear na escola enquanto a mamãe não vem3

Idade: a partir de 2 anos e meio/ 3 anos

Tempo: meia hora ou enquanto durar o interesse das crianças.

Espaço: cada ambiente da creche ou pré-escola, iniciando e finalizando na sala

de atividades.

Material: Música: “vamos passear no bosque”, adaptada e cantada oralmente.

Objetivo: Integrar-se ao ambiente escolar.

Aliviar a ausência materna ou paterna.

Amenizar a ansiedade.

Socializar-se.

Preparação: Meia hora antes da chegada dos pais ou responsáveis, as

crianças são convidadas pela professora para fazerem um passeio mágico pelo

bosque enquanto a mamãe não vem.

Durante o passeio, cada ambiente da creche ou pré-escola é apresentado.

Pode-se combinar previamente com os pais que o ponto de encontro seja a

sala de atividades da turma. Sendo assim, ao final do passeio, cada criança é

conduzida para sua família.

Salada de frutas igual à de casa4

Idade: A partir de 4 anos.

Tempo: Cerca de uma hora.

Espaço: Refeitório.

3 Adaptação própria 4 Revista Nova Escola on line. Especial Educação Infantil p. 31em 13/10/2008

14

Material: Frutas que as crianças trazem de casa, uma vasilha grande, facas

sem fio ou de plástico e pratos suficientes para todas as crianças.

Objetivo: Integrar-se ao grupo.

Preparação: Após as crianças lavarem as mãos, reúna todas em torno de uma

mesa grande. Entregue a cada uma um pratinho e uma faquinha para que

possam picar as frutas que trouxeram de casa – e que você já descascou. Os

pedaços de frutas devem ser despejados em uma vasilha grande deixada no

centro da mesa e misturados. A salada de frutas será servida às crianças logo

após o preparo, na hora do lanche. A atividade, se realizada com frequência,

contribui para que os pequenos desenvolvam a continuidade temporal e, assim,

saibam que, depois do preparo, vem o lanche e que logo se aproxima o

momento em que alguém da família irá buscá-los, transmitindo-lhe mais

tranquilidade.

Nesta faixa etária dos 3 aos 6 anos também são importantes

atividades ligadas à auto-imagem com brincadeiras relacionadas ao reflexo, ao

tamanho, ao corpo e suas partes, fazendo com que a criança deixe de ser uma

projeção paterna ou materna e construa identidade, ganhe autonomia.

À medida que todos vão adquirindo confiança, vão surgindo

atividades direcionadas tipo rodinha das novidades, a hora do pátio ou

parquinho, contação de histórias, hora de brincar com os brinquedos,

cantinhos, atividades dirigidas, cantigas de roda, pequenos cientistas, entre

outros.

Levando em consideração que a Educação infantil é a modalidade

de ensino no qual são desenvolvidas as habilidades, vejamos a influência do

brincar nas diferentes áreas do conhecimento.

15

2- O brincar e as áreas do conhecimento

Á medida em que a criança já estiver adaptada ao ambiente, aos

professores e colegas, ficará mais fácil trabalhar suas habilidades através de

suas necessidades e de seu conhecimento de mundo.

Trabalhar com a criança pequena significa entrar em seu universo,

ouví-la, ver o que necessita para que seja desenvolvido um currículo próprio,

explorando cada área do conhecimento.

2.1- As linguagens oral e escrita

“Rolinha voou voou

Caiu no laço e se embaraçou

Oi me Dá um abraço

Que eu desembaraço

A linda rolinha que caiu no laço...”

As linguagens oral e escrita estão totalmente presentes no cotidiano

infantil. Desde o ventre materno que a criança é exposta a vozes, cantigas,

conversas, leituras. Quando chega à creche ou pré-escola, seu vocabulário e

repertório linguísticos aumentam.

Músicas diversas envolvem atividades e marcam as rotinas: entrada

e saída, higiene pessoal, brinquedos cantados, brincadeiras livres ou dirigidas.

Histórias são contadas e recontadas. Jogos e brincadeiras são

transmitidos e apresentados.

16

Cada criança e seus coleguinhas possuem nomes, além dos adultos

e tudo que a cerca. Tudo pode ser nomeado, rotulado, classificado. Elas estão

expostas ao ambiente letrado, ao verdadeiro jogo de palavras e ideias a ser

decifrado.

É nesse jogo de palavras e ideias que o aprendizado acontece.

2.2- A linguagem plástica

Fotos e desenhos, cores, esculturas e texturas. Tudo é arte. Brincar

é uma arte popular.

Quando a criança faz seu auto-retrato, tendo como base seu retrato

ou reflexo, ao modelar o papai, a mamãe, uma pizza ou avião ou simplesmente

durante uma pintura livre ou rabiscação, ela simboliza, cria, representa. Ela

busca entender o mundo e contribuir com ele através de sua produção cultural.

Para que isso ocorra é fundamental que o educador disponibilize

diferentes matérias a serem observadas, exploradas, conhecidas e

manipuladas pelas crianças.

2.3- Os conhecimentos matemáticos

Contar e brincar fazem parte dos ambientes familiar e escolar. A

criança é única e ao mesmo tempo plural. Brinca de diversas coisas ao mesmo

tempo, anda sobre curvas e retas, constrói edificações, monta quebra-cabeças.

Conta e classifica tampinhas de garrafa e degraus de uma escada. Compara

seu tamanho com o do colega.

Todo este conhecimento será ampliado de acordo com o estimulo

didático que lhe for apresentado.

17

2.4- Natureza e sociedade

A natureza e seus mistérios desempenham verdadeiro fascínio nas

crianças.

Pássaros e borboletas, folhas e gotas de água, bolhas de sabão e

sombras. Tudo é novo. Tudo é mágico. Tudo pode ser explorado

cientificamente.

2.5- Corpo e Movimento

As crianças a partir de 3 anos, devido a maior autonomia motora em

relação a idades anteriores, brincam e exploram totalmente seu corpo.

Movimentam-se constantemente.

Aprender parece estar intimamente ligado ao correr, pular, saltar,

aventurar-se. Muitas vezes não têm medo de tentar novas manobras, de

arriscar-se.

Nesta fase, são imprescindíveis o acompanhamento, a supervisão e

o planejamento do professor para que a criança use seu corpo de forma

segura.

2.6- Música

“ Pai Francisco

entrou na roda

tocando seu violão...”

18

Canções, cantigas, brincadeiras de roda. A arte de cantarolar e de

brincar estão intimamente ligadas. Por este motivo tão nobre, abordaremos a

presença da música em algumas brincadeiras populares utilizadas pelas

escolas.

19

Capítulo II

Jogos na Educação Infantil

“O jogo possui implicações importantíssimas em todas as etapas da

vida psicológica de uma criança e representa erro inaceitável considerá-lo

como atividade trivial ou perda de tempo5”

O jogo é constituído por regras, combinações, parcerias entre os

brincantes. O ato de jogar assume o significado de gracejo, divertimento

através do qual ninguém perde ou ganha, apenas desenvolve-se, aprende.

A criança quando “joga” não apenas representa, assimila um

conhecimento, vivencia-o de forma intensa.

O ato de jogar e a Educação Infantil são correlatos. Jogar

proporciona inúmeros benefícios a seus participantes: físicos, motores,

intelectuais, espirituais, sociais e respiratórios.

Ao lidar com o jogo de maneira lúdica, criativa, a criança

adquire conhecimento.

Segundo Vygotsky é através da interação social que a criança

descobre o mundo, as regras, as peças da sociedade na qual está inserida.

Aprende o jogo da vida.

“Se um indivíduo é passivo intelectualmente, não conseguirá ser livre moralmente6” Piaget, Jean.

5ANTUNES, Celso. O Jogo e a Educação Infantil. 2008.p.10 6PIAGET, Jean .apud. Revista Nova Escola: Grandes Pensadores.p91

20

O jogo é a forma mais completa de estimular o raciocínio. Tanto

jogos calmos quanto agitados contribuem diretamente no processo cognitivo

das crianças.

Por este motivo, a escolha e a intencionalidade de cada jogo nunca

deve ser feita de forma ingênua pelo educador, pois faz parte do dia a dia da

Educação Infantil.

Esta seleção precisa respeitar a disposição das crianças em

diferentes partes do dia, adaptar-se ao período em que a criança permanece

na escola e respeitar o estágio de desenvolvimento no qual se encontra.

De acordo com a intencionalidade pedagógica do jogo, podemos

adotar a seguinte classificação: 1- Jogos calmos, moderados e agitados; 2-

Pequenos grupos e Grandes grupos; 3- Coisas de meninas e Coisas de

meninos.

1- Jogos calmos, moderados e agitados

1.1- Jogos calmos

Jogos calmos ou atividades de relaxamento ou concentração são

aqueles cuja intenção é proporcionar ao aluno as seguintes experiências:

equilíbrio e controle emocional e intelectual; a percepção das sensações;

limites e sinais vitais; raciocínio, além de respeitar a integridade do próprio

corpo e do outro. Trabalha tanto a dimensão corporal quanto a espiritual e

emocional.

Geralmente são empregados para iniciar ou encerrar uma atividade

mais moderada ou agitada; equilibrar a rotina pedagógica e preparar as

crianças para maior aceitação de tarefas importantes ao longo do dia (

atividades didáticas, preparação para o almoço, dinâmica de entrada e saída

da escola, entre outras).

21

São exemplos de jogos calmos:

• Cantinho dos jogos: cantos ou espaços destinados aos jogos de

encaixes, quebra-cabeça, dominós, jogos da memória, legos e suas variações.

Estas atividades estimulam o conhecimento matemático, o raciocínio

lógico, e a capacidade de resolver problemas, cálculos, quantidades, tamanhos

e cores.

• Cantinho da leitura: destinados à leitura e manuseio de livros,

revistas, jornais, encartes.

É desenvolvido o gosto pelas linguagens oral e escrita, a imaginação

e interpretação.

Jogos calmos propriamente ditos:

São aqueles cuja atividade motora é suave. Seus participantes

podem estar dispostos em círculos e há um líder ou dinamizador. Ao realizar

esse tipo de atividade é possível desenvolver a audição, a concentração, a

percepção corporal e espacial, a socialização e a paciência.

Vejamos um exemplo7:

Pobre gato

Idade: 3 a 6 anos.

Objetivos: Estimular o tato, a concentração e as emoções.

Preparação: As crianças são convidadas para sentarem em um círculo ou

semi-círculo. O professor ou o dinamizador escolhe alguém para ficar no meio

da roda. Ele representará o gato. A criança se aproxima dos demais

participantes engatinhando e miando de maneira cômica. Quem receber o

miado deve colocar a mão na cabeça do “gato” que esta no meio e sem rir

7Jogo extraído do site: http://niltonzumba.blogspot.com/2009/02/75-atividades-recreativas.html

22

deve dizer: “pobre gato”. Se não conseguir conter o riso precisa ir ao centro e

se tornar o gato. Se não rir o gato deve fazer outra tentativa com outro colega.

Jogos de relaxamento ou volta à calma:

São aqueles cujo objetivo é acalmar, aliviar a tensão.

São empregados após uma atividade extremamente agitada ou em

preparação de atividades que exijam maior concentração.

São utilizadas por vezes com estimulantes da hora da soneca ou

em preparação para o almoço em instituições de atendimento integral.

Essas atividades trabalham a atenção e a tensão, a imaginação e

estimulam os sentidos: audição, tato, respiração, consciente e inconsciente.

Podem ser acompanhadas ou não por músicas suaves ou

relaxantes. A voz de quem conduz a brincadeira deve ser suave e clara.

Exemplo:

Cheirando a “flor”

Idade: 2 a 6 anos.

Objetivos: Trabalhar a respiração.

Concentrar e acalmar.

Preparação: As crianças, sentadas no chão com uma das mãos fechada a sua

frente simulam uma rosa a ser cheirada e ao mesmo tempo uma vela soprada,

num movimento de encher e esvaziar os pulmões e o diafragma:

“Respire a florzinha (inspirando o ar) e assopre a velinha (expirando o ar),

uma, duas, três, quatro vezes”.

1.2- Jogos moderados

São jogos onde a atividade física é bastante moderada. Os

jogadores participam da atividade cada um em sua vez, enquanto os demais

23

esperam seu momento de participar. Trabalham a atenção, a concentração, a

socialização, a coordenação motora e a paciência.

Exemplo:

Chicotinho queimado

Idade: a partir de 3 anos e meio

Objetivos: Assimilar conceitos matemáticos de longe e perto

Trabalhar a atenção e a Coordenação viso-motora.

Preparação: Um dos participantes será o chicotinho queimado. Ele irá esconder

um objeto para que os outros o encontrem. Quando alguém se aproximar do

objeto o Chicotinho queimado vai dando pistas: Diz “Quente” se a pessoa

estiver perto do objeto, “frio” se estiver longe, “morno” se estiver se

aproximando.

1.3- Jogos agitados:

São jogos que exigem atividades físicas intensas, com a

participação de todos ao mesmo tempo.

Exemplo:

Circuito

Idade: a partir de 3 anos

Objetivos: Coordenação motora ampla

Noção espacial

Realização:

a) Pular uma sequência de arcos no chão;

b) Passar correndo por baixo de uma corda;

c) Passar em quadrupedia(gatinho) por pneus, arcos;

24

d) Subir em bandos.

2- Pequenos grupos e Grandes grupos

São jogos que variam de acordo com a quantidade de crianças, o

espaço utilizado, o número de atividades desempenhadas e a intencionalidade

do que se quer ensinar.

Por vezes, o educador utiliza esta configuração espacial com o

objetivo de particularizar ou ampliar um conceito a ser trabalhado.

Quando o objetivo deve ser alcançado por todos ao mesmo tempo,

são realizadas atividades em grandes grupos.

• Jogos realizados em Pequenos grupos:

a) Exploração dos cantinhos, nos quais grupos pequenos de crianças

exploram um ambiente por vez.

b) Atividades em área externa, na qual uns brincam de futebol, outros

de boliche, outros jogam amarelinha.

c) Estimular uma determinada habilidade: quando o educador precisa

observar o desempenho individual ou em dupla de determinadas

crianças diante de uma atividade proposta.

Ex. 1: Duas ou três crianças diante de um objeto ou vários que

posteriormente serão escondidos para que uma por vez lembre o que

foi escondido, trabalhando a memória visual.

Ex. 2: Jogo das sombras, no qual cada criança explora as

dimensões de seu próprio corpo diante da ausência de luz.

Ex. 3: Exploração da letra inicial de cada nome: a Bruna, a Bianca e

a Barbara vão correr e sentar perto do balanço, o Daniel, o Danilo e o

Davi perto do escorrega etc.

25

• Jogos realizados em Grandes grupos:

a) Jogos calmos, moderados e agitados;

b) Noções e conceitos gerais:

Ex: atividades de reconhecimento e identificação de ruídos.

c) Atividades de Recreação ou Educação Física:

Ex. 1: time dos meninos contra time das meninas, pique esconde.

Ex. 2: Caça ao tesouro.

d) Conceitos específicos:

Ex: seu mestre mandou desenhar um quadrado no chão, tocar na

cor vermelha etc.

3- Coisas de meninos e Coisas de meninas.

Por volta dos cinco anos, as crianças começam a selecionar os

grupos que querem participar.

A utilização dos jogos com regras, as classificações de objetos por

cores, tamanhos e formas e o aprendizado das cores secundárias aguçam

ainda mais a categorização.

A partir de então, inicia-se a classificação: “rosa é cor de menina,

azul é cor de menino”; “só as meninas vão montar o quebra cabeça das

princesas”; “só os meninos vão jogar bola”.

A criança estabelece estas relações de afirmação e negação,

buscando construir sua identidade, autonomia, auto-imagem. Por este motivo,

26

baseia a construção do “eu” em relação ao outro seja com referência ou 8negação.

Entretanto, sabemos que jogos e brincadeiras são elementos

construídos culturalmente, assim como as categorias de gênero, e são

assimilados pela criança.

No que diz respeito à Educação Infantil, temos a consciência de que

os exemplos aqui citados não são uma defesa machista ou feminista. Servem

apenas para demonstrar como é construída a identidade e a autonomia de

meninos e meninas.

• Jogos de meninos:

a) Jogos simbólicos: heróis e vilões.

Ex: homem-aranha, lobo mau, lutas.

b) Quebra-cabeças temáticos e jogos:

Ex: Quebra-cabeça do filme carros, meu pequeno engenheiro.

c) Jogos motores:

Ex: Futebol, corridas e lutas (judô, karatê, “lutinhas”, queda de

braço).

• Jogos de meninas:

a) Jogos simbólicos:

Heroínas e vilães.

Ex: Cinderela e a bruxa má.

b) Quebra-cabeças temáticos e jogos:

Ex: quebra cabeça das princesas, jogo de panelinhas.

c) Jogos motores:

Ex: amarelinha, pular elástico, desfile da moda.

8 WALLON,Henri.apud. Revista Nova Escola: Grandes Pensadores. p.76

27

Todo conhecimento adquirido através de jogos e brincadeiras é uma

representação da realidade feita pela criança. Ela internaliza, representa e

reage às regras e circunstâncias que o jogo traz a seu modo.

De acordo com Piaget, a criança de 3 a 6 anos anos encontra-se no

período da inteligência representativa, no estágio das representações pré-

operatórias.9

Neste período a criança constrói hipóteses, problematiza, assimila

informações, acomoda conhecimentos por meio de atividades concretas.

A ação está intimamente ligada à reflexão, ao pensamento.

Cabe ao professor planejar atividades diversificadas e significativas

que atendam as necessidades corporais e mentais.

Um simples jogo de boliche, além de trabalhar as noções de espaço,

quantidade, lateralidade, coordenação motora, auxilia a criança em seu

processo interativo de construção e reconstrução interior10.

Portanto, é através da intencionalidade do jogo que as crianças

adquirem autonomia e se desenvolvem de maneira satisfatória e integral,

constituindo conhecimentos e habilidades que levará para o resto de sua vida.

9PIAGET, Jean.apud.FRIEDMAN.2006.p57 10 ANTUNES, Celso. Jogos na Educação Infantil.p.33

28

Capítulo III

Brincadeiras na Educação Infantil

“As crianças são as personagens das brincadeiras. Os papéis mudam de um cenário para outro. E todas têm oportunidade de experimentar “pegar outras ou serem pegas”; brincar com amigos ou contra eles. Parece só uma brincadeira, mais é muito mais que isso 11”

A atividade lúdica é inerente à atividade vital da criança.

Desenvolvem a coordenação motora, a mente, a alma e o coração.

Por este motivo, profissionais da Educação Infantil precisam

proporcionar ambientes desafiadores, prazerosos, “mágicos” que estimulem o

corpo e a imaginação dos pequenos.

Os espaços de desenvolvimento infantis, tanto públicos quanto

privados, devem ser verdadeiros laboratórios nos quais se possam viver

experiências únicas, cheias de significância.

Ambientes externos, com brinquedos diversos, mais simples ou mais

complexos, áreas livres, salas arejadas, brinquedos industrializados ou

confeccionados com sucata, além de uma equipe de gestores e um corpo

docente criativo e comprometido auxiliam as crianças em sua formação integral

através do simples ato de brincar.

Seja em creches ou pré- escolas com poucos recursos financeiros,

seja em instituições tradicionalmente pertencentes à elite, é possível

proporcionar ambientes “brincantes” de qualidade e que atendam as

necessidades da clientela educacional.

Uma boa escola oportuniza espaços e ambientes para que ocorram

brincadeiras livres e dirigidas, pedagógicas ou sociais que atenda às

11 FRIEDMAN,Adriana.2006.p.51

29

peculiaridades de todas as crianças, com ou sem necessidades educacionais

especiais. Está é a verdadeira educação: de todos e para todos.

“ A Educação é o processo que visa levar o indivíduo, concomitantemente, a explicitar as suas virtualidades e a encontrar-se com a realidade para nela atuar de maneira consciente, eficiente e responsável, a fim de serem atendidas necessidades e aspirações pessoais e sociais12”

1- Brincadeiras livres e brincadeiras dirigidas

Brincadeiras livres:

São aquelas criadas e conduzidas pela própria criança, seja

utilizando seu próprio corpo ou por meio de objetos simbólicos, brinquedos

industrializados e do próprio espaço no qual está inserida. Neste tipo de

brincadeira, a criança é um ser ativo, constituindo-se sujeito da sua ação

criadora.

A criança extrai sons de seu próprio corpo, transforma um rolo de

papel higiênico em luneta, um cabo de vassoura em cavalo. Anda sobre linhas

de ruas e calçadas. Salta obstáculos urbanos (blocos de cimento, canteiros de

plantas etc). Interpreta, utiliza e modifica a realidade ao seu redor, aprendendo

e apreendendo o mundo.

Cabe a escola e ao professor, em seu planejamento pedagógico,

incluir atividades de livre escolha dos alunos, estimulando o potencial criativo e

conhecendo a criança, seu universo e toda a riqueza humana e social que a

espontaneidade lúdica traz.

Exemplos de atividades livres:

Na sala de atividades:

12 NÉRICI, Imídeo. Apud. SOUZA, Lilian Carvalho de.1996.p.6

30

• Brincadeiras de faz-de-conta com ou sem brinquedos: casinha e

comidinha, na qual a boneca vira filha e as folhas de árvores viram

comida. Guitarras e pandeiros viram importantes instrumentos de

“carreiras solo” ou “bandas mirins”; as mãos em forma de concha ou

sobrepostas viram animais mansos ou ferozes, cujos sons são imitados.

• Brincadeiras utilizando sucatas: garrafas Pet se transformam em

bola de futebol; tampinhas em rodas de carros; caixas de sapato viram

berços de bebê, carro da Barbie, caminhões; potes vazios de paçoca

tornam-se belos tambores.

Em áreas externas, pátios e áreas livres:

• Brincadeiras utilizando o corpo: andar na ponta dos pés; andar de

costas; trotar; correr livremente pelo espaço; andar sobre linha fixa no chão;

saltar desenhos em pisos; andar de ponta cabeça; engatinhar em superfícies

lisas ou gramadas imitando um animal; rastejar;pular; cantarolar etc.

Brincadeiras dirigidas:

São aquelas que possuem alguma intencionalidade social ou

pedagógica. São transmitidas por gerações ou ensinadas pelo professor aos

seus alunos. Geralmente possuem regras ou modelos através dos quais são

desenvolvidas.

O educador pode utilizá-las como instrumento didático para

desenvolver conhecimentos e habilidades de maneira agradável tanto para si

quanto para seus alunos.

Exemplos de brincadeiras dirigidas:

• Brincadeiras tradicionais:

Cabra cega; galinha choca; piques; pular corda; brinquedos

cantados ( Pai Francisco, Se esta rua fosse minha); cantigas de roda.

• Brincadeiras motoras:

Circuitos; andar nas linhas: curva, reta, tracejada; saltar obstáculos;

jogar bola (com uma única mão, com as duas, acima da cabeça, quicando,

31

acertando cestas ou derrubando pinos); equilibrar objetos, trotar, andar de

quatro, cabo de guerra.

• Brincadeiras folclóricas e ritmas:

São aquelas que transmitem costumes e tradições étnico-culturais e

sociais de cidades, estados, regiões ou países. Geralmente são transmitidas

entre gerações. Proporcionam bem estar corporal, físico, social e valores.

Ex: danças juninas, capoeira, reisados, jongos, cantigas de

lavadeira, chorinhos, marchinhas de carnaval.

• Brincadeiras utilizando recursos pedagógicos: jogos de encaixe, blocos lógicos, quebra cabeça, dominó.

• Brincadeiras utilizando espaços escolares:

Na sala de atividades: cantinhos (da leitura, do desenho, da

construção, da pintura, da modelagem, dos brinquedos, dos jogos, da beleza);

Nas áreas externas e pátios: ida ao parque da escola; caça ao

tesouro ( no qual cada ambiente escolar é explorado no intuito de encontrar as

“pistas”); atividades de Educação Física e recreativa ( pular corda, saltar

“pocinhas”, toca do coelho, passa ralho, galinha choca, futebol).

• Brincadeiras e a linguagem teatral: pequenas peças e

dramatizações de histórias contadas por livros ou vivenciadas pelas crianças;

interpretações de músicas infantis; encenação de conceitos aprendidos durante

o bimestre ( culminância de projetos Ex: Ecologia: representando os animais

em extinção); danças folclóricas; juninas e natalinas.

2- Intencionalidade pedagógica da brincadeira

Brincar, aprender e crescer são conceitos fundamentais para um

bom educador infantil. Vimos outrora que a ludicidade é inerente à própria

existência pueril. E porque não utilizá-la a favor da Educação.

32

Para a criança é apenas diversão, mas o professor tem uma

intenção, um objetivo a ser alcançado. Uma noção a ser estimulada.

Quando o educador reserva um espaço em seu planejamento para a

plena realização das atividades lúdicas está realizando um investimento

cognitivo, corporal, emocional e espiritual.

Com este intuito, as brincadeiras são largamente exploradas nos

ambientes pré-escolares, públicos e particulares, de atendimento integral e/ou

parcial, levando em consideração tanto os estágios cronológicos e mentais

quanto os interesses sociais e emocionais.

Deve-se levar em conta também a duração e o período do dia em

que serão ministradas as atividades recreativo-pedagógicas.

Quanto à duração, pode-se respeitar a seguinte proporção: Crianças de 3 a 4 anos – 15 a 20 minutos; Crianças de 4 a 5 anos- 20 a 25 minutos; Crianças de 5 a 6 anos-25 a 30 minutos13.

No que diz respeito ao período diurno em que a brincadeira é

realizada, deve-se dar preferência a lugares frescos e arejados, em períodos

matinais ou no fim da tarde.

Brincadeiras livres e dirigidas, com ou sem regras, utilizando ou não

instrumentos didático-pedagógicos são amplamente empregados e difundidos

no âmbito escolar.

Diferentes esferas de conhecimento são despertadas. Vários

conhecimentos de mundo são adquiridos: linguísticos, matemáticos, visuais,

espaciais, motores, sensitivos e sensoriais.

Celso Antunes em seu livro anteriormente citado apresenta um

interessante guia de brinquedos e do brincar, elaborado pela Fundação Abrinq.

No documento em questão podemos ver algumas atividades simbólicas e os

13GUEDES, Maria Hermínia de Sousa. 2007.p.16

33

brinquedos diretamente ligados a estas atividades, de acordo com a faixa etária

de 3 a 6 anos.

Quadro adaptado de guia de brinquedos e do brincar14

Faixa Etária Atividade principal Brinquedos sugeridos

36 meses a 6 anos Criar cenários para brincar e ambientes

Fantasias, fantoches e teatrinhos.

Telefone e relógio de brinquedo.

Casinha de brinquedo e brinquedos para brincar na casinha.

“Homenzinhos”( soldados, superheróis etc).

Garagem, posto de gasolina e carrinhos.

Fazendinhas, autoramas e ferrorama simples. Lego e suas variações.

Movimentar-se no espaço

Triciclos maiores, equipamentos de ginástica para playgroud, lanternas para usar no escuro.

Compreender os meios de comunicação

Discos e toca-fitas, livros para colorir, cadernos de desenhos, livros de história.

14 Celso, Antunes.2008.pp.28.29

34

Para que o bom êxito destas atividades aconteça, o educando deve

sentir-se motivado na sua capacidade de construção intelectual, moral, social,

física e autônoma. Brincar deve ser algo agradável não um passatempo

curricular, tanto da parte do professor quanto do aluno. Precisa transformar e

reestruturar todos os seus participantes.

Por meio destas brincadeiras são aguçadas as seguintes

habilidades/áreas do conhecimento: conhecimentos matemáticos, linguagem

oral e escrita, corpo e movimento, resolução de problemas, dramatização,

organização espacial.

Ao criar cenários e ambientes para brincar estamos proporcionando

o desenvolvimento mental por meio de atividade simbólica, estimulando o

corpo e a imaginação.

Movimentar-se no espaço com ou sem o auxílio de equipamentos e

brinquedos, sejam industrializados ou adaptados trabalham a capacidade de

interação: corpo, espaço, objeto e suas utilizações espaciais, temporais e

físicas.

Os meios de comunicação estimulam as linguagens oral e escrita e

demonstram que a linguagem é um instrumento de autonomia linguística,

histórica e social.

Portanto, ao proporcionar um ambiente desafiador e diversificado,

proporcionamos a aprendizagem significativa de nossas crianças, preparando-

as para a grande roda da vida.

3- O brincar como importante instrumento de inclusão

Brincar constrói pontes, derruba barreiras e inimizades entre o eu e

o outro. Através da brincadeira, limites físicos e cognitivos são transpostos e

desafios são vencidos. Todos são acolhidos, incluídos, respeitados e amados.

Sabemos que o processo de inclusão foi introduzido em creches,

pré-escolas e escolas de maneira normativa. Um exemplo disto é o Decreto nº

35

3.298 de 20 de Dezembro de 1999, que atribui à Educação Infantil a tarefa de

acolher os alunos portadores de necessidades educacionais especiais a partir

de zero ano.

Foi lançado o desafio: educar, cuidar e incluir. Construir

verdadeiramente uma Educação Infantil de todos e para todos.

Entretanto, constatamos que esta é a melhor modalidade do ensino

básico para lidar com a inclusão.

A criança pequena é natural e gradualmente estimulada a tornar-se

cooperativa e participativa. Passa do egocentrismo ao socialismo. Constrói

seus conceitos a partir das experiências que lhes são propiciadas.

A partir dos 3 anos, ela é estimulada a vivenciar jogos e brincadeiras

com e sem regras, ouvir histórias e cantigas, contar novidades na rodinha,

brincar com ou sem brinquedos, dividir os espaços e as atividades com os

colegas, socializar-se, integrar-se.

Portanto, creches e pré escolas desempenham um importante papel

de integração social, funcionando como verdadeiros “ecossistemas” de

saberes compartilhados.

Nesta deliciosa “colônia” infantil, o professor é o principal

incentivador e deve ter o cuidado de não transpor para a turma conceitos,

preconceitos e estereótipos que não são inerentes à criança, mas construídos

socialmente pelos adultos.

Este profissional deve ser o dinamizador do processo inclusivo,

construindo parcerias entre crianças, pais e a sociedade em geral, além do

apoio de toda equipe pedagógica e comunidade escolar ( gestores,

coordenadores pedagógicos e funcionários).

As experiências inclusivas podem ocorrer de diversas formas no

ambiente educacional, como demonstraremos a seguir.

Crianças são verdadeiras “mestras” na arte de incluir, interagir,

amar, cooperar.

36

Quando convivem com um colega cujos membros superiores lhes

faltem, ao brincar de roda, as demais crianças naturalmente dão um jeito de

incluí-lo, segurando nas mangas da camisa.

Se o desafio é fazer “comidinha”, a colher e a “panelinha” são

deslocadas com a boca. Por vezes, os demais colegas “sem necessidades

especiais” experimentam colocar-se no lugar do amigo e realizam tarefas

também utilizando a boca.

Lidando com um aluno portador de deficiência é visual, é possível

trabalhar as sensações, aguçar os sentidos.

Para que este objetivo seja alcançado, todos podem ser estimulados

pelo professor a sentirem o gosto, o cheiro, o tato e o som de objetos, formas,

perfumes, gosto dos alimentos: amargura ou doçura, fragrâncias suaves ou

fortes, maciez ou aspereza, matérias que produzem sons espontaneamente

(corneta) ou utilizados para este fim (molho de chaves).

Nenhuma deficiência intelectual impede que a criança brinque de

pique ou realize outras tarefas livremente.

Ao encenar “a linda rosa juvenil, o educador pode dispor os

personagens de forma que “o tempo” seja interpretado por um aluno

“cadeirante”, que percorre a roda de amigos com seu instrumento de

locomoção.

No dia a dia da sala de aula, em atividades cotidianas ou em

situações festivas, em brincadeiras de livre escolha ou dirigidas é preciso

encontrar estratégias de ensino para que todos participem de acordo com suas

potencialidades e tenham suas individualidades e identidades respeitadas.

Desta forma, há de se alcançar a formação integral, o bem estar e a inclusão

social.

37

Conclusão

Ao desembarcar no fantástico universo infantil dos jogos e das

brincadeiras, pudemos perceber o quanto “é bom brincar”.

A brincadeira, o lúdico, o jogo nos permitem experimentar,

decodificar. Vivenciar de maneira intensa cada experiência dentro ou fora do

universo escolar.

Através de diversas estratégias pedagógicas, as crianças adquirem

conhecimentos básicos que utilizarão para o resto de suas vidas escolares,

acadêmicas, sociais.

Em meio ao universo profissional e ao dia a dia escolar, o professor

também é transformado. Tem seus conceitos reformulados.

Quando dizemos que brincar e aprender são coisas sérias é porque

estamos lidando com um novo modelo de educação: que alia

comprometimento e emoção.

Educar não está desvinculado de amar aquilo que se faz e deixar-se

moldar-se.

Tanto o professor quanto o aluno são elementos ativos na arte de

“simbolizar”.

Antigas e novas brincadeiras, atividades livres ou dirigidas nos

proporcionam um novo olhar: do mundo ao nosso redor e da prática

pedagógica que buscamos alcançar.

38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Bibliografia:

GUEDES, Maria Hermínia de Sousa. Oficina da Brincadeira. Rio de Janeiro:

Sprint, 2007.

ANTUNES, Celso. O jogo e a educação infantil: falar e dizer, olhar e ver,

escutar e ouvir, fascículo 15. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

BRITES da Vila, Gladys; MÜLLer, Marina. Brincadeiras e Atividades recreativas

para crianças de 6 meses a 6 anos. São Paulo; Paulinas, 1992.

VAZQUEZ, Lídia. Brinquemos com o corpo e a imaginação. [tradução Ivone

Barreto]. São Paulo: Paulus, 2000.

FRIEDMANN, Adriana. O desenvolvimento da criança através do brincar. São

Paulo: Moderna, 2006.

SOUZA, Lilian Carvalho de. Corpo e movimento na educação vol 1 e 3.

COPYRIGHT.1996. by Centro Educacional de Niterói.

ALDÈ, Lorenzo. Guliver. Texto adaptado da escola da vida.

MOÇO, André. Creche: Um dia cheio de aprendizagens. Revista Nova Escola

nº 231. Abril, 2010.

Orientações Curriculares para a Educação Infantil. Fevereiro de 2010.

39

Webgrafia:

ORTIZ, Cisele. Adaptação: um novo ambiente. www.ne.org.br.

Capturado em 13/10/2008.

Brincadeiras e jogos. http://educacao.uol.com.br/cultura-brasileira/jogos-e-

brincadeiras-origens-das-diversoes-das-criancas-brasileiras.jhtm dia

Capturado em 23/1/2012 as 18:18.

Atividades recreativas. http://niltonzumba.blogspot.com/2009/02/75-atividades-recreativas.html

Capturado em 24/1/2012.

40

ANEXOS

Sugestões de Brincadeiras

1- Brincadeiras para Adaptação

Desenho livre para começar

IDADE: A partir de 4 anos.

TEMPO: 30 minutos.

ESPAÇO: Sala de atividades.

MATERIAL: Canetas hidrocor e folhas de papel branco de tamanhos variados.

OBJETIVOS: Desenhar e ter contato com o material usado na atividade.

As crianças sentam-se em mesas coletivas (com até quatro lugares) e fazem

desenhos individuais e livres com os materiais à disposição. Observe não

apenas o que o desenho expressa mas também se há alguém que não esteja

acostumado a realizar esse tipo de atividade e auxilie-o a utilizar os novos

materiais.

Esta é a escola

IDADE: A partir de 4 anos.

TEMPO: 15 minutos.

ESPAÇO: Entrada ou próximo à sala de atividades.

OBJETIVO: Conhecer a rotina da escola.

Quando a criança está indo à escola pela primeira vez, tenha uma conversa

com ela e com o responsável que a acompanha. Lembre-se de que essa é uma

situação nova para ambos e,por isso, é preciso acolhê-los. Primeiro se

41

apresente. Depois, conte a eles o que vai acontecer, qual é a proposta da

escola e a programação do dia.

Assim, a criança fica sabendo após qual atividade é hora de reencontrar a

família15.

2- Jogos

Ronda redonda16

IDADE: 3 a 4 anos.

Participantes: três a dez crianças e um adulto.

Objetivos: coordenação psicomotora, noções de espaço, socialização,

compartilhar de uma norma.

Material: uma bola grande e leve

Atividades: as crianças sentam-se ao chão, com as pernas afastadas e

tocando-se com os pés, de maneira a formar um espaço fechado. A seguir,

gira-se a bola dentro desse espaço, empurrando-a com as mãos, obedecendo

a uma trajetória predeterminada ( em círculo), ou desenvolvendo uma atividade

recreativa livre.

O trenzinho

Idade: 3 a 5 anos

Participantes: adulto e grupo de crianças

Objetivos: conhecer melhor, memorizar nomes, interiorizar uma sequencia

espaço-temporal.

Atividades: este jogo é adequado para os primeiros dias de aula ou para

favorecer o início da comunicação e o reconhecimento dos nomes em qualquer

agrupamento de crianças ( festa infantil, parque etc).

15 Revista Nova Escola on line 16Brincadeiras retiradas do livro: Brincadeiras e Atividades Recreativas.

42

As crianças formam uma roda. Uma delas vai para o meio, imita o ruído de

uma locomotiva e diz seu nome circulando diante dos outros até deter-se

diante de outra criança, escolhida por acaso. Esta última coloca-se na frente da

anterior e passa a ser “ a locomotiva”. Enquanto diz seu nome e repete o da

criança anterior, vai se movimentando seguida da primeira, agora transformada

em “vagão”.

Prossegue-se assim até que todas as crianças sejam incorporadas ao trem. È

importante que cada criança, tão logo se incorpore ao trem, após dizer seu

nome, repita os nomes de todas as criança transformadas em vagões. Aquela

que não tiver sido lembrada diz, ela própria, seu nome.

3- Brincadeiras em geral

Os meses17

Idade: a partir de 6 anos

Objetivos: trabalhar a noção temporal dos meses do ano.

Socializar.

Espaço: sala de atividades ou pátio

Atividades: Grupo de crianças sentadas e uma dupla de pé ( que pode ser

formada por um adulto e uma criança ou por crianças) escolhem um mês do

ano, sem que o grupo saiba. Ganha que aceitar primeiro qual mês foi escolhido

e comporá uma nova dupla para rodada seguinte.

Passe o anel

Idade: a partir de 4 anos e meio

Objetivos: Trabalhar a coordenação motora fina, a percepção, concentração e

socialização.

Material: um anel ou objeto em tamanho médio que o represente.

17 Memória de infância e tradições populares.

43

Atividades: grupo de crianças sentadas em círculo ou fileira e um dinamizador.

Este traz o “anel” escondido em suas mãos, em forma de “oração”. Ele deve

transferir o objeto sem que a maior parte do grupo perceba pra quem foi dado.

Ganha quem acertar a quem o anel foi dado.

44

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

O Educar e O Brincar 10

1- O brincar como instrumento de adaptação 12

2- O brincar e as áreas do conhecimento 15

2.1- As linguagens oral e escrita 15

2.2- A linguagem plástica 16

2.3- Os conhecimentos matemáticos 16

2.4- Natureza e sociedade 17

2.5- Corpo e movimento 17

2.6- Música 17

CAPÍTULO II

Jogos na Educação Infantil 19

1- Jogos calmos, moderados e agitados 20

1.1- Jogos calmos 20

1.2- Jogos moderados 22

1.3- Jogos agitados 23

2- Pequenos grupos e grandes grupos 24

3- Coisas de meninos e coisas de meninas 25

CAPÍTULO III

Brincadeiras na Educação Infantil 28

1- Brincadeiras livres e brincadeiras dirigidas 29

2- Intencionalidade pedagógica da brincadeira 31

45

3- O brincar como importante instrumento de inclusão 34

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ANEXOS 40

ÍNDICE 44