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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE INSERINDO A COMUNIDADE NA GESTÃO ESCOLAR: UMA EXPERIÊNCIA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA PARTICIPATIVA. Por: Angelina Beatriz de Lima Monteiro Damasceno Orientador Profª: Maria Esther de Araújo Oliveira. Rio de Janeiro 2008

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · com autoritarismo, mas o mundo está em constante transição e a educação deve acompanhar esse ritmo. Houve então,

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

INSERINDO A COMUNIDADE NA GESTÃO ESCOLAR: UMA

EXPERIÊNCIA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA PARTICIPATIVA.

Por: Angelina Beatriz de Lima Monteiro Damasceno

Orientador

Profª: Maria Esther de Araújo Oliveira.

Rio de Janeiro

2008

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

INSERINDO A COMUNIDADE NA GESTÃO ESCOLAR: UMA

EXPERIÊNCIA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA PARTICIPATIVA.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Administração

e Supervisão Escolar.

Por: Angelina Beatriz de Lima Monteiro Damasceno.

3

AGRADECIMENTOS

....aos amigos, parentes e

principalmente ao meu Deus, por ter

me ajudado em todos os momentos da

minha vida me concedendo sabedoria

nesta jornada....

4

DEDICATÓRIA

.....A minha mãe, Dirce Ramos de Lima,

ao meu marido José Pereira Damasceno

e a minha filha Ana Beatriz, pela

paciência e compreensão ao longo dessa

pós graduação.

Aos professores do Instituto a Vez do

Mestre por me proporcionarem momentos

de crescimento e conhecimento.

A minha Orientadora Maria Esther, pela

constante ajuda na realização dessa

monografia.

5

RESUMO

Nesta pesquisa, foi feito um estudo sobre a Gestão Democrática

Participativa e uma análise sobre as práticas de inserção da comunidade na

gestão de uma Unidade Municipal de Educação Infantil no Município de Niterói.

No período da ditadura Militar, a gestão escolar era focada no administrativo e

com autoritarismo, mas o mundo está em constante transição e a educação

deve acompanhar esse ritmo. Houve então, a transição da gestão autoritária

para uma política de gestão democrática, que é enfatizada também pelas leis

brasileiras. A gestão democrática implica a participação e muitas vezes a

comunidade é deixada de lado, sem influenciar sobre as decisões da escola,

principalmente nas escolas públicas. Ao observar a prática, percebe-se que

existem muitas dificuldades ao assumir uma postura de gestão democrática

participativa, pois implica mudanças de filosofia da educação e do modo de

gerir. A participação da comunidade é importante no processo de gestão

democrática, mas muitas vezes ela não tem essa consciência política e

cultural. As pessoas estão exigindo cada vez mais seus direitos e,

consequentemente, conhecendo mais os seus deveres. O debate sobre a

gestão democrática deve ser estudado continuamente para que a educação

seja de todos e para todos. As escolas públicas, apesar das dificuldades, não

devem desistir ou fingir que estão exercendo a gestão democrática

participativa, que é um processo importante, gradual e que implica a melhoria

da educação Brasileira e sim, buscar meios de exercer essa gestão, como

observado na Unidade Municipal de Educação Infantil Professor Nilo Neves,

que procura ampliar a participação da comunidade e inseri-la no processo de

gestão.

6

METODOLOGIA

É comum ouvir que as escolas possuem uma gestão democrática e

participativa. Mas o que significa ser democrática ou participativa? Quais os

métodos e como fazer esse tipo de gestão? Através de leituras de livros,

revistas e textos, investiguei sobre a gestão democrática participativa. Procurei

saber se a as escolas públicas realmente conseguiam cumprir com essa

proposta e por isso, analisei a Unidade Municipal de Educação Infantil

Professor Nilo Neves, no Município de Niterói, onde a direção e a equipe

técnico pedagógica permitiu observar e comparar os resultados com a

bibliografia já consultada. Portanto, essa pesquisa Bibliográfica/Descritiva (com

relatos) utiliza entrevistas, observações, participação de reuniões e conselhos

de classe, para fazer, uma análise enfocando a participação da comunidade no

processo de Gestão Escolar, pois todos os envolvidos devem participar

efetivamente na definição de políticas, no planejamento, controle e avaliação

das propostas administrativas e pedagógicas da escola. As entrevistas e

questionário foram de grande importância para perceber o que realmente a

comunidade pensa sobre a gestão democrática participativa e o que a escola

investigada está propondo a fazer.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................08

CAPÍTULO I - Da administração controladora para a gestão democrática: a transição da gestão escolar...............................................................................11

CAPÍTULO II - A gestão democrática da educação no Brasil e a participação da

comunidade nesse processo de gestão........................................................... 17

CAPÍTULO III – Desafios de inserção da comunidade na gestão escolar: a

experiência da Unidade Municipal de Educação Infantil Professor Nilo

Neves.................................................................................................................29

CONCLUSÃO....................................................................................................37

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................39

ANEXO..............................................................................................................41

ÍNDICE..............................................................................................................43

FOLHA DE AVALIAÇÃO...................................................................................44

8

INTRODUÇÃO

Esse tema: “Inserindo a comunidade na gestão escolar: uma

experiência de gestão democrática participativa” foi escolhido devido ao

interesse em investigar a participação da comunidade e das famílias na gestão

escolar em escola pública. Em Niterói, a gestão escolar das escolas públicas

se define como participativa. A Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI)

Professor Nilo Neves tem apenas dois anos e está iniciando o processo de

inserção da comunidade no âmbito escolar. Muitas escolas públicas acreditam

ser difícil a inserção da gestão democrática participativa e preferem

simplesmente optar pelo autoritarismo. A UMEI Professor Nilo Neves desde o

início dispôs-se a inserir a comunidade na gestão escolar, optando pelos

desafios da democracia participativa. A gestão democrática muitas vezes é

referida somente na eleição de diretores nas escolas públicas. A democracia e

a participação devem acontecer em todas as esferas nacionais, como prevê a

lei, inseridas principalmente no cotidiano escolar. Para isso, é preciso a

participação de todos:

“O Brasil prevê em sua Constituição de 1988 [...] de que

‘todo o poder emana do povo, que exerce por meio de

representantes eleitos diretamente’. Está explícito o

‘direito da participação’, assim como importantes

elementos que abrem caminho para gestão pública

democrática participativa no Brasil. Observa-se com

freqüência que as palavras ‘participação’, ‘democracia

participativa’, ‘os novos direitos’ estão cada vez mais

presentes no contexto da atualidade. Faz-se mister uma

‘nova cidadania’. É uma ‘outra mudança’, para uma ‘outra

democracia’. Uma ‘democracia participativa’ com o

respaldo da Constituição brasileira” (VIEIRA, 2008, p.01).

Diante dos desafios da democracia participativa surgiu o seguinte

problema: Qual a importância de se ter a participação da comunidade numa

proposta de gestão democrática participativa?

9

Através de uma pesquisa de campo na UMEI Professor Nilo Neves,

localizada no Morro da Boa Vista, o objetivo principal foi: investigar quais as

ações propostas pela UMEI para inserir a comunidade no processo de gestão.

Se uma escola diz que sua gestão é democrática e participativa, a comunidade

também tem que estar inserida no processo de administração escolar:

“Ao se definir participação das comunidades no processo

de gestão educacional, adiciona-se ao segundo conceito

a idéia de que a comunidade atendida pela escola deva

ter um grau de conscientização sócoio-político-

econômica e cultural suficientemente desenvolvido no

sentido de exigir uma escola de qualidade e que atenda a

todos, fato este que será concretizado através de criação

de mecanismos de influência sobre o poder que

possibilitem a democratização da escola e estejam para

o interesse da comunidade” (BRITO, 1992, p.44).

Os objetivos específicos são: ilustrar a transição da gestão escolar,

pesquisar o que é Gestão Democrática Participativa e suas implicações

levantando um estudo bibliográfico verificando a importância da comunidade no

processo de Gestão Democrática Participativa; e investigar se realmente existe

a participação da comunidade no processo de gestão da escola pública,

verificando quais as medidas de incentivo proporcionadas pela UMEI Professor

Nilo Neves para que a comunidade sinta-se inserida nesse processo.

Essa pesquisa Bibliográfica/Descritiva (com relatos) utiliza entrevistas,

observações, participação de reuniões e conselhos de classe, para fazer

assim, uma análise enfocando a participação da comunidade no processo de

Gestão Escolar, pois todos os envolvidos devem participar efetivamente na

definição de políticas, no planejamento, controle e avaliação das propostas

administrativas e pedagógicas da escola. O quadro teórico foi composto,

primordialmente, pelos conceitos: administração escolar e gestão escolar,

gestão democrática participativa, gestão em escolas públicas, participação,

democracia e comunidade escolar. Utilizando autores como PARO, GADOTTI,

10

BASTOS, GANDIN e BRITO, é possível fazer um diálogo com a realidade

encontrada nessa escola para assim, analisar a gestão escolar e a participação

das comunidades.

Uma gestão participativa preocupada com os interesses de todos, que

possibilite a expressão e participação, inclusive da comunidade na escola,

estando sempre atenta no sentido de melhor compreender seus interesses é

uma Gestão que exerce a democracia para que todos os envolvidos estejam

satisfeitos. A participação é um processo lento e gradual, servindo justamente

para romper com o distanciamento entre sociedade e administração,

aproximando-se dos conflitos sociais e políticos e proporcionando aos

administrados uma gestão responsiva.

Os resultados desta pesquisa estão estruturados nos seguintes

capítulos: I – Da administração controladora para a gestão democrática: a

transição da gestão escolar; II – A Gestão democrática da educação no Brasil e

a participação da comunidade nesse processo de gestão; e III – Desafios de

inserção da comunidade na gestão escolar: a experiência da Unidade

Municipal de Educação Infantil Professor Nilo Neves; e as considerações finais

sobre o tema investigado.

11

CAPÍTULO I

DA ADMINISTRAÇÃO CONTROLADORA PARA A

GESTÃO DEMOCRÁTICA PARTICIPATIVA: A

TRANSIÇÃO DA GESTÃO ESCOLAR.

Para iniciar a reflexão sobre gestão escolar precisamos pensar

principalmente na administração de um modo geral, pois o termo gestão vem

sendo utilizado a partir do final do século XX. No início do século XX, Frederick

Taylor lança a obra “Princípios da Administração Científica”1. A partir dessa

obra, o século XX produz avanços significativos na área de administração

através de estudos dos métodos de gestão.

Segundo Oliveira (s/d, p. 118), “Administrar uma fábrica e uma escola

para a burguesia é a mesma coisa, pois esses locais precisam de controle

sobre o processo de trabalho e “os trabalhadores são vistos como objetos,

coisas, que só produzem mercadorias, enquanto “massa bruta” que será

“dirigida”, “controlada”.” Como na empresa, o trabalho docente também é

fragmentado, com exercícios prontos, com períodos determinados para aulas e

atividades adicionais, tudo controlado por funcionários especialmente

destacados para esse fim, lembrando exatamente a heterogestão taylorista. Na

administração de um modo geral, a organização é seu próprio objeto de

estudos, por isso, a escola precisa ser administrada, tendo na figura do diretor

o responsável último pelas ações desenvolvidas. Como conseqüência, a

função do diretor tem a característica de controle impregnado de tal maneira no

imaginário educacional brasileiro, que se lermos a descrição de suas funções,

logo encontraremos: “o diretor é o principal executor das Leis dentro do

estabelecimento. Ele é a garantia da boa ordem e acatamento, ou o causador

1 O paradigma da administração científica do trabalho, surgiu de estudos desenvolvidos por Frederick Taylor (1856-1915) sobre a racionalização do trabalho operário e a divisão de tarefas em múltiplas etapas, caracterizado pela busca de um a melhor produtividade, enfatizando tempos e movimentos (MONTEIRO, 2005).

12

da desordem e do caos, conforme age ou não de acordo com as leis e

regulamentos” (OLIVEIRA, s/d, p.120).

“O administrador é homem que dispões dos meios e dos recursos

necessários para obter alguns resultados. Resultados certos, e isto é um

administrador” (TEIXEIRA, 1961, p. 86). Será que o diretor também é como

aquele administrador de empresas e fábricas taylorista/fordista2, que utiliza o

autoritarismo, a rotinização e a burocratização das atividades no interior da

escola, preocupando-se impreterivelmente com a atividade fim, com a

qualidade do objeto sem considerar o sujeito da ação?

O modelo de diretor escolar controlador, é conseqüência do método de

administração científica, orientado pelos princípios da racionalidade limitada, da

linearidade, da fragmentação dos processos educacionais, portanto,

administrar seria: “comandar e controlar, mediante uma visão objetiva de quem

atua sobre uma unidade e nela intervém de maneira distanciada, até mesmo

para manter essa objetividade e a própria autoridade, centrada na figura do

diretor” (LUCK, 2000, p.13).

Luck (2000) ressalta que até bem pouco tempo, esse modelo de direção

de escola hegemônico, origina-se da realidade em que estávamos inseridos,

onde: o ambiente de trabalho e o comportamento humano eram previsíveis; os

conflitos crises e tensões eram evitados e reprimidos e deveriam ser vistos

como crescimento e transformação; administrar é fragmentar o trabalho em

funções e tarefas para que sejam bem executadas pelos especialistas;

estratégias e modelos de administração que deram certo não devem ser

mudados e a realidade é estável e regular sendo que todas as escolas podem

atuar da mesma maneira em diversas comunidades. Diante desses

pressupostos, resultou-se a verticalização e a hierarquização dos sistemas de

ensino e das escolas, desconsiderando os processos sociais neles vigentes e

associando uma administração centrada na autoridade e no controle, construiu-

se uma cultura de determinismo e dependência.

Administrar uma escola não é tarefa fácil. Além de manter uma

educação de qualidade o administrador tem que cuidar da parte burocrática 2 No modelo taylorista/fordista, a formação profissional assume um caráter restrito de adestramento da mão-de-obra e de adaptação do produtor direto do posto de trabalho (MONTEIRO, 2005).

13

exigida, utilizando o recurso humano (professores, alunos, funcionários e

comunidade) a fim de alcançar seus objetivos, “tal objetivo deve estar sempre

norteando as ações para que não ocorram desvios em sua realização” (PARO,

2000):

“Em nosso dia-a-dia, administração (ou gestão) costuma

ser associada com chefia ou controle das ações de

outros. Isso decorre do fato de que, diariamente,

convivemos com o arbítrio e a dominação e quase não

nos damos conta disso. É compreensível, portanto, que

gerir, administrar, seja confundido com mandar, chefiar.”

(PARO, 1998 - p.303).

Pensando no conceito de administração, que é “a utilização racional de

recursos para a realização de fins determinados” (PARO, 2000), temos que

lembrar que a administração escolar diferencia-se da administração

empresarial, pois a escola tem suas características específicas que precisam

ser levadas em consideração.

A reflexão sobre a administração escolar no Brasil, então, tem sido feita

a partir desses dois enfoques: “paradigma da empresa” e “especificidade da

escola”. O paradigma da empresa utiliza a teoria da administração e os adapta

para a escola. O outro enfoque trata a escola como uma organização

específica e, portanto sua administração é distinta de outras organizações. O

educando não é mero consumidor do produto educação. Ele está inserido no

processo ao mesmo tempo como objeto e sujeito da educação (OLIVEIRA, s/d,

p. 15).

Com a crescente complexidade das organizações, com a pluralidade

que as envolvem e com a dinâmica das interações no embate dos interesses,

os sistemas educacionais não poderiam continuar administrando dessa mesma

maneira. Não só a escola, mas também a administração geral têm que dar

conta das novas demandas do mercado mudando seu modo de agir, pensar e

administrar. Os estabelecimentos de ensino, como unidades sociais especiais,

são organismos vivos e dinâmicos, caracterizados pelas relações entre todos

os elementos que neles atuam e interferem e por isso a direção demanda um

14

novo enfoque de organização e é a esta necessidade que a gestão escolar

procura corresponder.

A partir da percepção dessa nova realidade, a escola defronta com a

necessidade de desenvolver novos conhecimentos, competências, habilidades

e atitudes para dar conta da multiculturalidade de nossa sociedade, associado

ao poder local e reivindicação de esforços de participação. O trabalho da

direção escolar também muda sua fundamentação teórico-metodológica

passando de equipe, demandando ampla participação (LUCK, 2000).

Alguns pressupostos fundamentam esse novo paradigma; a realidade é

global e dinâmica, sendo construída por todos através da interação, ação e

pensamento das pessoas; é possível coordenar e orientar o comportamento

humano e o ambiente social por serem dinâmicos, mas sem ser controlados;

cada ambiente organizacional tem sua peculiaridade, não podendo ser

simplesmente copiadas as suas experiências em outros contextos. Luck (2000,

p. 15) afirma que:

Esse paradigma é marcado, sobretudo, por uma

mudança de consciência a respeito da realidade e da

relação das pessoas na mesma – se assim não fosse,

seria apenas uma mudança de modelos. Essa mudança

de consciência está associada à substituição do enfoque

de administração, pelo de gestão. Cabe ressaltar que

não se trata de simples mudança terminológica e sim de

uma fundamental alteração de atitude e orientação

conceitual. Portanto, sua prática é promotora de

transformações de relações de poder, de práticas e da

organização escolar em si, e não de inovações, como

costumava acontecer com a administração cientifica.

De acordo com esse novo paradigma, professores, funcionários, alunos

pais e comunidade formam e constroem o ambiente cultural, interagindo com a

identidade da escola na comunidade. É preciso que reconheçam seu papel em

relação ao todo, sentindo-se então responsável pelos resultados. Os problemas

são globais e complexos, transformando a escola e movendo sua prática social

15

para um melhor desenvolvimento. “A qualidade da educação não poderia mais

ser promovida pelo enfoque administrativo” (Luck, 2000, p.16) com ações

concentradas em focos prioritários e isolados. O diretor também tem que ser

dinâmico, mobilizador, articulando diversidades para que a formação de seus

alunos seja consistente. É preciso pensar grande e agir no pequeno, isto é, ter

em mente o seu papel educacional também no futuro, com uma visão de

escola inserida na comunidade, a médio e longo prazo. É nesse contexto:

que emerge o conceito de gestão escolar, que ultrapassa

o de administração escolar, por abranger uma série de

concepções não abarcadas por este outro, podendo-se

citar a democratização do processo de construção social

da escola e a realização de seu trabalho, mediante a

organização social da escola e realização de seu projeto

político-pedagógico, o compartilhamento do poder

realizado pela tomada de decisões de forma coletiva, a

compreensão da questão dinâmica e conflitiva e

contraditória das relações interpessoais da organização,

o entendimento dessa organização como uma entidade

viva e dinâmica, demandando uma atuação especial de

liderança e articulação, a compreensão de que a

mudança de processos educacionais envolve mudanças

nas relações sociais praticadas na escola e nos sistemas

de ensino (LUCK, 2000, p.16).

A partir do final dos anos 70, ocorre um certo empobrecimento teórico da

administração escolar em função de exacerbadas concepções tecnicista e

normativas, revelando assim, interesses, ideologias e concepções que

inspiraram, durante décadas, as políticas educacionais. As limitações da teoria

geral da administração fazem com que os administradores escolares aprendam

a natureza e especificidade da educação e seus desafios. É preciso revisar

criticamente as práticas da administração escolar no Brasil (NASCIMENTO,

2005).

16

Silva Junior (2002) defende ser impossível estabelecer diferenças na

literatura especializada, entre o conceito de administração e gestão escolar.

Ressalta ainda que no Brasil, existe um jogo conceitual/intencional ao adotar o

termo gestão, pois nesse é acrescido o adjetivo democracia, que muitas

vezes é interpretada como participativa, mas sem esclarecer os mecanismos

que garantem o caráter democrático ou participativo da gestão.

Sabe-se que qualquer discussão acerca da gestão democrática da

escola passando necessariamente pela delimitação das formas de poder

exercida pelo diretor é bastante difícil, pois o diretor escolar nem sempre tem a

autonomia necessária para exercer a gestão democrática como ela deve ser.

Portanto, ”há que se definir com maior precisão o conceito de gestão escolar,

da forma como a entendemos no Brasil, buscando explicitar melhor sua

natureza e as adjetivações a ela subjacentes, como democracia e participativa,

por exemplo.” (NACIMENTO, 2005, p. 166).

E é a partir dessas observações que veremos a seguir, como está se

encaminhando o processo de gestão democrática no Brasil e a relevância da

participação nesse processo.

17

Capítulo II

A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL E A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE NESSE

PROCESSO DE GESTÃO.

Com a mudança de paradigma, muito se tem discutido sobre a gestão

democrática no Brasil. Leis foram modificadas e alguns movimentos tiveram

grande importância ao iniciar essa democratização escolar. A gestão

democrática, pressupondo a participação, é um processo que, gradualmente,

envolve a sociedade à pensar coletivamente em prol de uma educação digna e

de qualidade. Porém, essa sociedade precisa ser dotada de consciência

política para fazer valer seus direitos e sua participação. Nesse capítulo

veremos o que dizem as leis brasileiras sobre a gestão democrática; como a

partir dessas leis, alguns movimentos aconteceram para que elas fossem

cumpridas ou pelo menos conhecidas pela sociedade e ao final; como deve ser

a participação da comunidade na gestão democrática para que essa gestão

democrática e participativa aconteça efetivamente. É importante saber que a

gestão democrática e participativa não é somente uma idéia que surgiu nas

escolas e que a diretora ou equipe técnico pedagógica acha legal ter a

participação da comunidade e das famílias. Existem leis e fundamentos que

mostram a importância e a validade de uma gestão democrática e participativa

e que a partir disso, as escolas devem incluir a sociedade e a comunidade no

processo de gestão.

2.1 – O que dizem as leis brasileiras?

Historicamente, a gestão democrática no Brasil torna-se mais plena de

significado com o golpe militar de 1964. O regime militar, com sua forma

política de se instalar e de ser, instaurou comandos autoritários também no

campo educacional. O movimento de contestação a esse regime e sua

derrubada contou com a participação da população e do professorado,

derrubando a ordem autoritária e criando um novo ordenamento jurídico

nacional com bases democráticas. Nasce então, os princípios éticos

estabelecidos em nossa Constituição de 1988:

18

“Constata-se no contexto constitucional aprovado em

1988, um conjunto de aspirações da sociedade civil no

tocante à participação e à transparência na gestão da

escola pública, sendo o resultado dos processos de

mobilização e das pressões exercidas por vários

segmentos da sociedade. A constituição de 1988

acentuou esse processo de forma decisiva, ao

institucionalizar princípios pautados em conceitos como

participação e controle social. O texto constitucional

exerceu influencia determinante no formato e conteúdo

das políticas públicas que se seguiram no debate sobre

participação e espaços públicos no Brasil” (VIEIRA, 2008,

p.02).

No período da ditadura militar as reivindicações pelos movimentos

sociais em relação à gestão democrática da educação, tornaram-se: “um dos

princípios da educação na Constituição Brasileira de 1988, a ser aplicada

apenas ao ensino público, abriu uma perspectiva para resgatar o caráter

público da administração pública” (BASTOS, 2001, p.07).

Segundo Bastos (2001, p.15) “o principio da gestão democrática não foi

definido na forma da lei”, apesar do próprio processo de elaboração da

Constituição resgatar a democracia do país. Foi a Constituição de 1988 que

determinou a inclusão da gestão democrática como principio nas escolas

públicas, e ninguém ousou negar a gestão democrática como princípio.

O art. 206, VI da Constituição federal, formaliza a inclusão do principio

de gestão democrática:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

O principio de gestão democrática, apesar de não atingir legalmente o

setor privado, estendeu-se para todas as instituições escolares (Cury, 2008, p.

02).

19

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº

9394/96, a gestão democrática também se faz presente. O art. 3º, VIII reforça o

que já fora posto na Constituição:

Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios;

VIII gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da

legislação dos sistemas de ensino;

Já o art. 14 refere-se a autonomia da escola em relação a gestão

democrática, podendo ir além do que está definido na LDB e na Constituição:

Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do

ensino público na educação básica, de acordo com as peculiaridades e

conforme os seguintes princípios:

I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto

pedagógico da escola;

II – participação das comunidades escolar e local em conselhos

escolares ou equivalentes.

O trabalho em equipe de toda a comunidade escolar, a integração e a

participação, também aparecem nos art. 12, 13 e 15, considerando o que já se

previa; não existe democracia sem a participação, e uma gestão democrática

de qualidade deve ter a participação de todos os envolvidos na comunidade

escolar.

O Plano Nacional de educação, também conhecido como Lei nº 10.127,

de 9 de janeiro de 2001, também cita a gestão democrática:

“Num terceiro momento é que se põe diretamente a

gestão democrática, recomendando Conselhos de

Educação revestidos de competência técnica e

representatividade, conselhos escolares e formas de

escolha da direção escolar que associem a garantia da

competência ao compromisso com a proposta

pedagógica emanada dos conselhos escolares e a

20

representatividade e liderança dos gestores escolares”

(CURY, 2008, p.2).

Dando mais fundamento a gestão democrática, está expressa em nossa

Constituição a noção de Estado Democrático de Direito, no seu Preâmbulo e

no seu art. 1º, inclusive no seu parágrafo único:

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Mas o que é Estado Democrático de Direito? Segundo Cury (2008, p.2)

é aquele que reconhece explícita e concretamente a soberania da lei, incluindo

do poder popular como fonte de poder e de legitimidade, considerando esse

poder popular como processo decisório de deliberação pública e de

democratização do próprio Estado.

No art. 14 da Constituição, que decorre do art.1º, reconhece a

participação popular, ou seja, a vontade geral como alternativa de

complemento do processo democrático. Os cidadãos querem participar dos

processos políticos do governo, sendo ouvidos e presenciando a elaboração de

projetos e tomadas de decisão. A gestão democrática terá um processo de

decisão baseada na participação, expressando anseio de crescimento do

indivíduo e da sociedade enquanto sociedade democrática. A escola então,

também é um espaço de construção democrática, respeitando pois, o caráter

específico da instituição escolar como lugar de ensino/aprendizagem (Cury,

2008).

2.2 – Alguns movimentos de democratização da educação

brasileira.

“Anísio Teixeira foi o primeiro administrador público a

relacionar democracia com administração da educação.

Seu projeto de educação concebia a escola como único

caminho para a democracia. A democracia é o regime

21

capaz de fornecer os instrumentos necessários ao

controle social da sociedade sobre a coisa pública”

(BASTOS, 2001, p.20).

No Brasil, o adjetivo democrática, na gestão, como já foi dito, é

interpretado também como participativa, ora por determinação legal, ora pelos

movimentos de participação que resultam em conquistas democráticas para a

sociedade brasileira.

Bastos (2001) afirma que os movimentos de democratização da

administração dos sistemas educativos recomeçaram na década de 70 com

lutas populares por mais vagas nas escolas e pela eleição de diretores

escolares. Em alguns estados onde os governantes se sentiram pressionados

pelas lutas populares, a eleição de diretores realmente aconteceu. Três

municípios são citados como pioneiros na construção do movimento de

democratização da gestão local, conseguindo, então, implantar o planejamento

participativo, mudanças no currículo com a história local contada por

moradores e realizações comunitárias com a participação da população.

No final dos anos 80 o debate sobre a gestão democrática se consolidou

em algumas secretarias de educação, nos Sindicatos dos Profissionais de

Educação, em algumas escolas Públicas e no Fórum da Educação da

Constituinte em Defesa do Ensino Público e Gratuito, movimentos mais amplos

da sociedade civil e do Estado que alimentaram esses debates de

democratização:

“A população representada pela associação de

moradores, pelas comunidades eclesiais de base, pelos

partidos políticos de esquerda participava de abaixo

assinados, reivindicava mais vagas nas escolas públicas,

e mais verbas para a educação” (BASTOS, 2001, p. 17).

No município de Niterói, no Rio de Janeiro, em 1989, ocorreu também

um debate sobre gestão democrática que ganhou dimensão de um fórum de

educação, de tal forma que a Câmara Municipal aprovou a Lei 748, de 22 de

agosto de 1989, estabelecendo: Art. 2º “O sufrágio é universa, direito livre e

22

secreto para o provimento dos cargos de diretores de escolas”. Esse debate foi

organizado por quatro representações; a rede municipal escolar, o Sindicato

Estadual do profissionais de Ensino do Rio de Janeiro – Núcleo de Niterói

(SEPE), A Secretaria de Educação, a Federação de Associações de

Moradores de Niterói (FAMNIT) e a professora Satié Mizubuti. Novas

conquistas também foram alcançadas a partir das eleições diretas nas escolas

municipais de Niterói, como concursos públicos para professores e funcionários

e matrículas n própria escola (Bastos, 2001, p. 17).

No período entre 1989 a 1992, no município de Angra dos Reis, no rio

de Janeiro, houve um outro debate sobre a gestão democrática que alcançou

grande participação da Sociedade, sendo realizada seis plenárias com até 400

participantes de todas as categorias escolares e associações de moradores.

Como resultado, um modelo de gestão democrática foi encaminhado ao

executivo municipal.

Bastos (2001, p.18), ainda afirma que:

as p “as propostas de gestão democrática que conseguiram

se implantar, foram aquelas em que o debate alcançou

um compromisso efetivo de representações da secretária

de educação, do sindicato da categoria, das unidades

escolares e das comunidades.”

Esses debates são importantes porque mobilizam as pessoas a

entenderem e a participarem no processo de gestão democrática escolar.

O termo gestão democrática da educação emerge então, a partir dos

movimentos que resultam em conquistas democráticas durante a década de

1980, onde as reivindicações eram por melhores condições de trabalho e

remuneração salarial, mudanças na gestão e organização da educação e

valorização do magistério. É preciso reconhecer a escola como espaço de

trabalho e política, possibilitando debates sobre educação. A participação da

comunidade usuária nos processos de decisão, fez com que a gestão fosse

repensada e por isso, era defendida a autonomia das escolas, possibilitando

cada estabelecimento de ensino a elaborar o sei projeto político pedagógico,

23

definir seu calendário, constituir colegiados e eleger seus diretores

(NASCIMENTO, 2005).

A gestão democrática pressupõe a participação efetiva de seus usuários

que, ao estarem inseridos nesse processo, contribuirão para que a escola

funcione a contento de todos, implicando melhorias na qualidade do ensino

ministrado.

2.3 – A participação da comunidade na Gestão

Democrática.

Ao definir participação como elemento fundamental da gestão

democrática, pretende-se ampliar cada vez mais os espaços de participação do

cidadão para que além de ser ouvido, integre-se nas questões educacionais ali

existentes. O cidadão precisa fazer parte do processo de gestão democrática

reivindicando o atendimento de seus direitos. Sabendo dessa importância,

Spósito (2001, p. 45) vem ressaltar que existem muitas dificuldades para a

“democratização do sistema público quanto as suas formas de gestão”, pois

nossa sociedade é “tradicionalmente marcada pela subordinação econômica e

pela exclusão política e cultural”.

A presença de pais, familiares e comunidade no interior da escola não é

novidade, pois tem sido estimulada desde os anos de 1920 e início da década

de 1930 defendida pelas teses reformistas educacionais no Brasil. Nas escolas

de elite, a harmonia decorria das condições sociais dos alunos, mas foi preciso

redefinir a escola para os pobres, tendo em vista a abertura para a população.

A princípio, essa integração girou em torno de iniciativas sanitárias para

melhoria das condições de higiene e saúde da população e de educação moral

e cívica, estendendo a capacidade da ação pedagógica para pais e familiares.

A partir da década de 1970, o regime autoritário considerou tão importante

essa participação, que criou a Associação de Pais e Mestres, para estabelecer

uma condição de “cidadania sob controle”. Spósito (2001, p. 48), destaca ainda

que essas “propostas de aproximação da escola com a população que a ela

tem acesso, muito pouco se alteraram ao longo do tempo”. As intenções de

24

melhorar o nível cultural das famílias pobres foram traduzidas em práticas

sanitárias, assistenciais e cívicas, condizentes com “orientações autoritárias

para a organização da sociedade, privilegiando a tutela e a subordinação

política e cultural dos setores desprivilegiados”.

Para que a participação das comunidades no processo de gestão

escolar efetivada, é preciso que essa comunidade tenha um grau de

conscientização sócio-político-econômico e cultural para criar mecanismos de

influencia sobre o poder, possibilitando a democratização da escola voltando-

se para os interesses da comunidade e exigindo uma escola de qualidade

(BRITTO, 1992)

Ao conceituar democracia, Bobbio (2000, p.33 – 34), diferencia

democracia representativa e democracia participativa. A democracia

representativa é aquela em que o povo escolhe alguém para decidir por ele. A

democracia participativa é um governo de muitos, onde o povo tem o poder de

decidir coletivamente, tomar as decisões coletivas. Ao se falar em gestão

democrática, é preciso ter bem claro qual é o tipo de democracia:

representativa ou participativa, para que não haja confusão na hora de exigir

seus direitos. Sabe-se que a eleição de diretores é uma democracia

representativa, onde a população escolhe quem vai representá-los na gestão

da escola, e é essa gestão escolar escolhida que optará também pela

participação ou não.

Na perspectiva da gestão democrática, a comunidade da escola tem o

compromisso de reeducar seus dirigentes, colocando a necessidade de ser

representada por todos os segmentos na administração da escola. Quando

existe a conscientização de todos para um projeto democrático da educação, é

possível exigir o compromisso com a participação de todos na construção de

uma escola democrática (Bastos, 2001)

Como condição básica para a democracia e participação é exigida a

transparência nas decisões e a real possibilidade de interferência. A

colaboração dos pais e a integração da escola com a família é também um

mecanismo de representação e participação política. Os setores docentes vêm

25

lutando pela ampliação da sua participação nos processos de tomada de

decisão nos sistemas educativos e isso já representa uma mudança da gestão

da escola sob a ótica da representação política, mas é preciso que

trabalhadores, cidadãos e usuários também participem dos sistemas públicos

de ensino e assim: “a gestão tenderá a ser concebida como direitos concretos

de cidadania e não como dádiva de uma ou outra escola, em relação aos

usuários” (Spósito, 2001, p.50).

A gestão democrática não pode ser uma proposta de democratizar

apenas a administração escolar e sim toda a esfera escolar, chegando até as

salas de aula, pois é também lugar de educação política. O voto popular

também é uma fonte de participação da comunidade e da sociedade. Outra

fonte de democratização é a participação nas decisões.

Os conselhos de escola e comunidade, através das diferentes vozes,

provam que a realidade não é homogênea e está sempre em movimento, os

direitos e os deveres fazem parte do cotidiano escolar. Trabalhar

participativamente é3 quando todos estão juntos caminhando no mesmo rumo,

cada um com suas idéias, opiniões, desejos e dificuldades para decidir uma

prática ou ação (Gandin, 1994).

Alguns pressupostos devem alicerçar a escola para que haja uma

gestão democrática e participativa. Segundo Brito(1992. p. 44 a 48):

• A democratização não deve ser somente na gestão, mas também na

educação, pois são partes de um mesmo todo, se completando e se

potencializando;

• É preciso ampliar os espaços de participação do cidadão;

• Numa gestão democrática, a participação é considerada uma conquista,

um processo que deve ser construído dia-a-dia e ampliado cada vez

mais;

• A participação deve se estender a todos: comunidade, discentes e

docentes, funcionários, equipe técnico-pedagógica, associação de

moradores e sociedade em geral, que devem participar efetivamente na

26

definição de políticas, no planejamento, desenvolvimento, controle e

avaliação das propostas administrativas e pedagógicas da escola;

• Garantia do atendimento das aspirações e demandas da maioria da

população;

• Participação no processo decisório através do acesso a informação

sobre o desempenho do ensino público e transparência no exercício do

poder.

Na gestão democrática, a comunidade participa ativamente desse

processo. Mas de que comunidade estamos falando? A comunidade onde a

escola está inserida? A comunidade escolar? No processo de gestão

democrática, participam tanto a comunidade interna quanto a comunidade

externa à escola para assegurar assim, a qualidade da educação, ou seja,

professores, pais, alunos, funcionários em geral e até a sociedade devem estar

envolvidos no processo de democratização.

A comunidade externa participará através da criação de mecanismos de

influência, possibilitando a democracia da escola com interesses voltados para

a comunidade. Já a comunidade interna, destaca sua participação ampliando

possibilidades de atuação no processo educacional, assim, devolvendo sua

dignidade como profissional. Juntos, passam a se o “antecedente e o

conseqüente de diretrizes cuja formulação ajudaram a traçar, e é a partir daí

que a qualidade do ensino começa a se resolver” (BRITTO, 1992, p.47).

Numa proposta de gestão democrática participativa é possível pensar

em algumas estratégias para o planejamento, implantação, desenvolvimento e

avaliação dessa proposta como:

• Participação de todos os envolvidos no sistema escolar no processo

decisório e de gestão educacional;

• Incentivo e implementação do Conselho Escola Comunidade – CEC;

• Participação na composição de órgão normativo e deliberativo;

27

• Definição de políticas e sua implementação, desenvolvimento, controle e

avaliação;

• Transparência nos resultados obtidos na gestão educacional;

• Utilizar como instrumento, consulta obrigatória e periódica à comunidade

escolar.

Um ambiente participativo dá condições às pessoas para controlar seu

próprio trabalho sentindo-se parte orgânica de uma realidade e aferindo sua

responsabilidade social. As mudanças na realidade só acontecem na medida

em que, e só porque, nós mesmos a mudamos e sabemos que é mudada por

nós. O trabalho coletivo, compartilhado, associando pessoas, analisando

situações, decidindo sobre seu encaminhamento e agindo sobre elas é que

fundamenta a participação numa gestão democrática, criando assim, um

processo de construção de uma escola comprometida com a sociedade e

também competente:

“A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por

uma força de atuação consistente pela qual os membros

da escola reconhecem e assumem seu poder de exercer

influência na dinâmica dessa unidade social, de sua

cultura e dos seus resultados. Esse poder seria

resultante de sua competência e vontade de

compreender, decidir e agir em torno de questões que

lhe dizem respeito” (LUCK, 2000, P.27).

Portanto, trabalhar coletivamente é quando todos estão juntos

caminhando no mesmo rumo, cada um com suas idéias, opiniões, desejos e

dificuldades para decidir uma prática ou ação (Gandin, 1994).

A partir dessas leis que enfatizam a gestão democrática e participativa, e

dos movimentos que expressaram a vontade de implementação dessa gestão,

as escolas públicas estão modificando seu modo de pensar e agir, enfatizando

a participação da comunidade em geral devido à importância de uma escola de

todos e para todos. Portanto , é preciso observar e analisar essas escolas e

28

verificar quais as medidas que concretizam essa democracia participativa e

como as pessoas lidam com esse novo modo de gerir uma escola.

29

Capítulo III

DESAFIO DE INSERÇÃO DA COMUNIDADE NA

GESTÃO ESCOLAR: A EXPERIÊNCIA DA UNIDADE

MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL PROFESSOR

NILO NEVES.

A Unidade Municipal de educação Infantil – UMEI - Professor Nilo Neves

situa-se na Rua Silveira da Motta, s/n, no Morro da Boa Vista em Niterói. O

morro da Boa Vista fica localizado entre o Bairro de Fátima e o Fonseca, tendo

uma vista realmente bela de grande parte de Niterói, da ponte e da Baia de

Guanabara. As famílias das crianças da escola são basicamente de antigos

moradores do local, por isso há uma grande quantidade de parentes na escola.

É uma comunidade bastante carente, onde segundo a direção da escola, as

famílias têm escolaridade baixa e muitos não sabem ler, as casas têm um

cômodo só e falta saneamento básico em muitas delas. “A inauguração da

UMEI é uma oportunidade diferente da que nós tivemos. No início, pensamos

que era uma escola particular, devido à estrutura e o atendimento integral.

Fiquei desconfiada.” – Fala de uma mãe de aluno que foi matriculado logo no

primeiro ano da escola. A UMEI Professor Nilo Neves foi inaugurada em abril

de 2006 e desde então só vem crescendo. No inicio, os funcionário da escola

convidavam as crianças que passavam por lá para estudar na UMEI e hoje a

escola está com aproximadamente 160 alunos matriculados, estando com seu

quadro completo de vagas.

A escola é um espaço de formação do cidadão para participar

conscientemente da sociedade em que vive. A gestão democrática participativa

implica mudanças na realidade social brasileira. É preciso repensar a escola a

partir de sua realidade, refletindo a prática pedagógica e sua concepção de

mundo em busca de novas alternativas. Por isso, a participação deve ser

consciente e critica, buscando relações necessárias para transformar a

30

realidade com a sociedade, no sentido de reduzir as desigualdades e impedir a

exclusão social.

3.1 - Caracterização da Escola:

O nome da instituição é uma homenagem ao vereador, professor,

secretário de Educação do Estado da Guanabara, poeta e diretor do Liceu Nilo

Peçanha, O Professor Nilo Neves, que faleceu em 2005 aos 98 anos, deixando

esposa, filhas, filhos, netas e netos, bisnetos e bisnetas, e principalmente

muitos amigos e admiradores no muno da educação e da política.

O prédio da escola conta com 4 andares, sendo no térreo, sala da

direção, pedagoga, secretaria, dois banheiros adaptados para cadeirantes, um

elevador e almoxarifado de material de limpeza.

No primeiro andar, tem o pátio descoberto, 3 salas de aula, um banheiro

infantil adaptado para crianças cadeirantes, refeitório, cozinha, despensa,

lavanderia, dois banheiros de adultos e lixeira.

No segundo andar conta-se com 5 salas de aula, sendo uma sendo

usada para sala dos professores, 2 banheiros de crianças, adaptados também,

almoxarifado de material pedagógico e didático, dois banheiros de adultos e

lixeira.

No terceiro andar, funciona o berçário, com 3 salas, sendo uma utilizada

como sala de recursos para crianças com necessidades especiais, uma que

funciona como vídeo e refeitório e outra para atividades lúdicas e descanso,

solário, lactário, dois banheiros de adultos, dois banheiros para crianças de 4

meses a 2 anos, e lixeira.

A escola é interligada por escadas e elevador.

A equipe da escola é formada por uma diretora, uma pedagoga, uma

secretária, uma coordenadora, dois porteiros, 5 auxiliares de serviços gerais, 5

merendeiras, 3 agentes de educação infantil, locados no grupo de 1 ano, e 20

professoras, uma na sala de recursos, dos grupos de 2 a 5 anos e 11 meses

duas professora por turma e 3 professora no grupo de 1 ano.

31

3.2 - Análise da Gestão Escolar e da Comunidade.

Conforme as Leis Brasileiras, a gestão da UMEI segue pela linha da

gestão democrática. Se democracia envolve participação, será que essa

gestão também, é participativa? Qual o papel da comunidade (digo, interna e

externa) na gestão da escola? O que a comunidade pensa realmente sobre a

gestão escolar? Diante dessas dúvidas, os professores, funcionários,

comunidade e famílias, responderam um questionário (anexo 1) para auxiliar

na análise sobre a gestão da UMEI Professor Nilo Neves, juntamente com

depoimentos e participação em reuniões, conselhos de classe e eventos

escolares.

A gestão democrática muitas vezes é confundida com a gestão

autoritária. Quando a comunidade elege uma pessoa para representar seus

interesses está exercendo a democracia com o poder de escolha, mas se

esquece que a direção eleita é que vai tomar as decisões pela comunidade em

benefício da escola, Por isso a gestão tem que ser além de democrática,

participativa. Essa eleição já acontece em Niterói e tem que ser bastante

estruturada para que seja feita a vontade da comunidade também. “O voto

popular, porém é uma fonte, mas não a única fonte de participação da

sociedade ou da comunidade na democratização do poder” (BASTOS, 2001,

p,26). A participação nas decisões é outra fonte de democracia, pois o voto não

deve esgotar a participação da sociedade e sim iniciar processos democráticos,

um gerado do voto e outro originário de instituições diretas de participação.

Sabe-se que a democracia envolve a participação, mas será que essa

participação acontece em todas as esferas da gestão escolar?

“A gestão democrática da escola implica que a

comunidade, os usuários da escola, sejam os seus

dirigentes e gestores e não apenas os seus

fiscalizadores ou, menos ainda, os meros receptores dos

serviços educacionais. Na gestão democrática pais,

mães, alunas, alunos, professores e funcionários

32

assumem sua parte de responsabilidade pelo projeto da

escola” (GADOTTI, 2001, p.35).

Na UMEI, Professor Nilo Neves, existe essa grande confusão porque

muitos acreditam que a gestão é autoritária, com o poder concentrado nas

mãos da direção ou da equipe técnico pedagógica, e outros acreditam que

apesar da gestão ser democrática, a decisão final é da direção. Percebem que

a opinião da comunidade não foi levada em consideração e que por mais, ou

menos, que participem, a decisão final é sempre da direção da escola. A

democracia existe, pois é a comunidade que elege seus representantes, mas a

participação depois das eleições é bastante pequena. Mas porque defender

então, a participação além das eleições de diretores?

“A participação na gestão da escola proporcionará um

melhor conhecimento do funcionamento da escola e de

todos os seus atores; propiciará um contato permanente

entre professores e alunos, o que leva ao conhecimento

mútuo e, em conseqüência, aproximará também as

necessidades dos alunos dos conteúdos ensinados pelos

professores” (GADOTTI, 2001, p. 35).

A participação efetiva da comunidade na gestão da escola e nas

decisões a serem tomadas também é algo que chama a atenção nas escolas

públicas. Muitos acreditam que participam ativamente, mas não conhecem

todas as esferas de participação que uma escola onde a gestão é democrática

e participativa, pode oferecer. Os professores têm mais consciência dessa

participação e acreditam ser os que mais participam. Os funcionários muitas

vezes reclamam de terem que participar até de uma simples reunião com a

equipe escolar. Se sentem inferiorizados e preferem nem dar opinião, a não ser

que o assunto seja relacionado à sua área de atuação. Por exemplo, quando o

assunto é comida, as merendeiras participam bastante, mas não são tão ativas

quando envolve decisões pedagógicas ou estruturais. Já a comunide externa á

escola, acredita que participa bastante por comparecerem á reuniões de pais e

eventos escolares, mas não tem idéia que podem participar muito mais.

33

“A Gestão Democrática e Participativa, não se resume

apenas a um conjunto de ações organizadas e

compartilhadas em benefício da escola, mas é uma

filosofia, que exige a construção interativa de uma

postura que, por sua vez, também pressupõe revisão de

atitudes em relação à vida, à educação, á escola.”

(VIANNA, 2008, p. 01)

Quando questionados sobre os caminhos para a participação da

comunidade na escola, os mais citados foram reuniões de pais, pedagógicas e

festas e eventos escolares. Professores e funcionários da escola ainda citaram

cursos oferecidos pela Fundação Municipal de Educação de Niterói. Apesar de

saberem que existem reuniões do CEC, eleição de diretores, fóruns

educacionais, etc., muitos disseram que a participação da comunidade não é

efetiva e sim passiva, simplesmente assistem as reuniões e vão embora, sem

serem ouvidos, participarem ou opinarem. Segundo os entrevistados, a única

coisa que impede uma maior participação da comunidade é a falta de interesse

em participar das questões escolares. Será que essa comunidade está

preparada para participar socialmente? Como já foi dito, a escola está inserida

no Morro da Boa Vista, uma comunidade carente, com pessoas pouco

escolarizadas e sem saneamento básico adequado. A UMEI é bem nova na

comunidade e as pessoas não estão culturalmente acostumadas a participar,

principalmente nas decisões relacionadas à escola. “A maior participação da

comunidade foi na Feira da Saúde e na festa de encerramento, com Papai

Noel, onde as crianças ganham brinquedos e roupas” – depoimento de uma

mãe de aluno. As professoras também concordam com esse depoimento,

dizendo que a comunidade se interessou muito pela Feira da Saúde, que além

de informar, teve serviços gratuitos como corte de cabelo, vacinação e

distribuição de camisinhas. É preciso lembrar que a participação vai além da

prestação de serviços ou reuniões de pais. A escola tem que mudar a

comunidade em que está inserida, mas também tem que ter a cara da

comunidade. A troca é importante para o crescimento do espaço escolar e é a

participação que possibilitará essa troca.

34

A gestão da UMEI Professor Nilo Neves está caminhando rumo à gestão

democrática participativa, mas reconhece que não é fácil seguir por esse

caminho. Há dificuldades em reunir todo o pessoal, que não participa

efetivamente da gestão escolar. Também há impasses quanto às cobranças da

rede municipal de educação. Algumas decisões são tomadas em cima da hora

e a decisão final acaba sendo da direção. Privilegiam assim, questões

burocrática/administrativas delegando os aspectos pedagógicos e didáticos a

outros e setorizando a escola, dividindo o administrativo do pedagógico. Outro

fator interessante é a falta de conhecimento da legislação básica da educação

a partir das determinações da LDB e dos direitos e deveres de cada funcionário

e da comunidade. Concluindo assim, que muitos nem sabem o que podem e

como podem participar ou interferir no processo de gestão escolar. A UMEI

Professor Nilo Neves proporciona aos seus funcionários, tempo de estudo,

planejamento e um seminário interno por ano, no mínimo. Os funcionários são

divididos em grupos, pesquisam e estudam sobre o tema ou autor escolhido e

apresentam aos outros. Pretende-se abrir esses seminários para a

comunidade, mas ainda estão em fase de experimentação.

Nessa UMEI, o Projeto Político pedagógico está em construção e a

participação de todos tem sido bastante importante e efetiva, apesar de poucos

representantes da comunidade externa. Nesse caso observou-se a importância

da participação e a dificuldade desse processo. “O projeto pedagógico da

escola pode ser considerado como um momento importante de renovação da

escola” (GADOTTI, 2001, p. 34).

Outras ações também são tomadas para tentar aproximar a comunidade

e as famílias, dentre as quais podemos destacar as mostras de trabalhos das

crianças, reuniões periódicas com as famílias, o InforUMEI, Ler é Divertido!, e o

1º Encontro com/de Grávidas. O InforUMEI é um informativo dirigido às

crianças e suas famílias que visa apresentar o trabalho desenvolvido na UMEI,

sendo também um veículo de comunicação aberto aos pais e à comunidade

em geral. O Ler é Divertido é uma ação de promoção da leitura que facilita e

amplia o acesso ao livro, incentivando o hábito da leitura pelas crianças e suas

famílias. Ao levar para casa um livro a família se predispõe a criar um momento

35

de contação de histórias e de expressão de sentimentos e sensações. E o 1º

Encontro com/de Grávidas se constituiu de uma tarde de conversas sobre a

maternidade, sobre o que é ser mulher e mãe, e sobre a importância das

primeiras vivências do bebê para sua constituição enquanto sujeito e para seu

desenvolvimento emocional, cognitivo e motor. Junto a isso, diversas

atividades de promoção da saúde, entendida como o conjunto de condições

sociais, ambientais, econômicas, emocionais promovendo o bem-estar global

do indivíduo, através do trabalho com temas geradores e as práticas

cotidianas. A Feira da Saúde contou com a parceria do Núcleo de Educação e

Saúde da Fundação Municipal de Educação de Niterói e com a Policlínica

Regional Carlos Antônio da Silva. É um evento que se tornará permanente,

pois agora, em seu segundo ano, querem aumentar a participação da

comunidade e aproximá-la cada vez mais do espaço escolar.

“A Gestão Democrática e Participativa, envolvendo ações

coletivas e organizadas, precisa ser contínua,

permanente, e não pontual em suas ações e propostas,

devendo constituir-se em processo solidário e amoroso

que possibilita o crescimento coletivo” (VIANNA, 2008, p.

01).

“A Feira de Saúde não foi uma ação com fim em si mesma e seus

desdobramentos vêm acontecendo neste segundo ano, pois acreditamos que a

interlocução com a comunidade é um processo contínuo e não linear de debate

e reflexão crítica em que buscamos promover ações efetivas de luta pela

garantia de direito à saúde” - Samantha Ferraz Lobo Cavalcanti, Orientadora

Educacional.

Quanto ao CEC, pouco se sabe ou se fala dentro da escola ou

comunidade. O CEC é um Conselho Escola Comunidade, onde se tem a

chance de interagir com a comunidade de forma mais pontual:

“Os conselhos da escola e comunidade trouxeram para o

cotidiano escolar vozes diferentes e discordantes, -

assustam a direção, o corpo docente e os técnicos das

36

secretárias de educação - , mas importantes no conjunto

das relações democráticas, porque fazem refletir, e

provam que a realidade não é homogênea e está sempre

em movimento. As iniciativas se multiplicam nas escolas,

quando os conselhos são atuantes, os direitos e deveres

passam a fazer parte do cotidiano. A confiança na coisa

pública como bem comum é restabelecida” (BASTOS,

2001, p,27).

É preciso fundamentar a participação coletiva coordenando esforços

entre funcionários, equipe técnico pedagógica, pais, alunos e comunidade a fim

de efetivar a gestão democrática no interior da escola, fornecendo assim,

condições para os diversos setores participarem efetivamente das tomadas de

decisões, já que “não se concentra mais nas mãos de uma única pessoa, mas

na de grupos ou equipes representativos de todos”. Essa representação deve

fazer com que os mecanismos de expressão de idéias e de intercâmbio de

informações funcionem adequadamente (PARO, 2000, p. 162).

Na Unidade Municipal de Educação Infantil Professor Nilo Neves, são

muitos os desafios ao inserir a comunidade na gestão democrática. Algumas

experiências já estão dando certo como a Feira da Saúde, tentando integrar as

famílias ao espaço escolar, além das reuniões de pais e eventos escolares que

estão conseguindo progresso no número de participantes. Sabe-se que uma

gestão democrática e participativa vai além, mas para uma escola que está

iniciando esse processo, a UMEI vem buscando alternativas de inserção dessa

comunidade. Toda mudança leva um tempo para ser assimilada,

principalmente numa comunidade carente e com pouca instrução, mas é

preciso continuar insistindo na gestão democrática para que todos participem

da escola e lutem por uma educação pública mais justa e de qualidade.

37

CONCLUSÃO

A gestão democrática participativa é algo novo no Brasil e por isso

precisa ser estudada constantemente para definir exatamente o que é e quais

as ações mais eficientes para democratizar a gestão. Os brasileiros estão

acostumados com a gestão autoritária devido ao regime militar e isso está tão

impregnado em nossas culturas que muitas vezes estranhamos essa

democracia e participação dentro do espaço escolar. A escola sempre foi vista

como disciplinadora, e formadora de opiniões, pensamentos e cidadãos.

Propõe-se que a gestão da escola seja democrática para que assim promova a

formação de cidadãos democráticos e participativos. Para isso é preciso um

conjunto de ações competentes e conseqüentes impulsionando alcançar

resultados desejados, transformando assim, a realidade da escola.

Mecanismos como monitoramento e avaliação também auxiliam na evidência

dos resultados ao público, que por sua vez deve exigir uma escola pública de

qualidade. As escolas públicas estão passando por um período de transição,

enquanto algumas já conseguem exercer a gestão democrática participativa,

outras, nem tentam, apesar de se dizerem democráticas. Concentram suas

ações e decisões nas mãos do diretor. Sabe-se que é difícil retirar esse poder e

assim tomar a responsabilidade também da escola, mas é dessa forma que a

escola será democrática e participativa, abrindo para a comunidade também o

compromisso de construção de uma escola democrática.

A administração escolar não está totalmente ausente na gestão

democrática se entendida como um conjunto de ações burocráticas e

administrativas que toda instituição tem. O que se deve evitar é aquela

administração empresarial, onde o ser humano não é levado em consideração,

visto que a escola é movida de e para o ser humano e o aprendizado não é

algo previsível e igual para todos ou para todas as escolas. A realidade está

em constante transição e o diretor democrático preocupa-se em atender todas

as esferas escolares, olhando para a complexidade e a pluralidade dos

sistemas educacionais, dando conta do multiculturalismo e exigindo a

38

participação de todos: funcionários, famílias, sociedade, pois é impossível

garantir a qualidade da educação olhando apenas pelo enfoque administrativo.

Nossa constituição vem aspirando à participação e a democratização do

ensino, principalmente do ensino público. Os movimentos populares

pressionaram para que essa democratização realmente acontecesse. Através

da participação popular, conseguiram eleger diretores e ter um número

significativo da participação popular em plenárias e debates sobre a própria

democratização do ensino.

A ótica da gestão democrática e participativa, muitas vezes pode ser

considerada como utópica porque não é um conjunto de ações pontuais e sim

uma filosofia que exige uma mudança de postura e pensamento diante das

situações, ações e decisões em relação à vida, educação, escola e sociedade.

É preciso respeitar os direitos básicos da cidadania, de pertencimento a uma

comunidade, pois a gestão democrática e participativa, trás desafios que

envolvem o verdadeiro significado de participação e efetivação da prática no

cotidiano das escolas. A atitude democrática não é suficiente. Métodos e

ações democráticas também auxiliam nesse processo de democratização

participativa, que não deixa de ser um aprendizado, pois demanda tempo,

atenção e trabalho.

Pretende-se que a gestão seja democrática para que a escola também o

seja, promovendo a formação para a cidadania. Essa formação deve ser plena,

não somente com uma nova mentalidade ou atitudes, mas desenvolvendo

habilidades que tornem as pessoas capazes de agir com proficiência, pois de

nada vale as boas idéias se não impulsionarem as pessoas a agir promovendo

resultados desejados. Nenhuma prática de gestão democrática e participativa

se sustentará sem os pressupostos de uma educação que valoriza o diálogo, a

participação, a conquista da democracia e da autonomia, e o compromisso

ético e político na construção de uma sociedade capaz de lutar por uma

transformação social e mais justa.

39

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40

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41

ANEXO Índice de anexos

Anexo 1 – Questionário.....................................................................................42

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ANEXO 1 UMEI PROFESSOR NILO NEVES – Função na escola: ________________________

QUESTIONÁRIO SOBRE GESTÃO ESCOLAR. 1 – Como esta escola é administrada atualmente? a) Gestão autoritária – com o poder concentrado nas mãos do diretor; b) Gestão democrática – onde todos são ouvidos, mas a palavra final é da direção; c) Gestão democrática participativa – onde todos participam das decisões chegando a um consenso juntos. 2 – A comunidade participa ativamente da gestão escolar? a) somente a comunidade interna – professores, equipe técnico pedagógica, alunos e funcionários; b) somente a comunidade externa – pais, vizinhos da escola, sociedade, etc; c) sim, todos participam; d) não, ninguém participa. 3 – Quais são os caminhos para a participação da comunidade na UMEI? (Assinale quantas achar necessário). a) reuniões de pais; b) eleição de diretores; c) reuniões pedagógicas; d) festas e eventos escolares; e) reuniões do CEC; f) outros ___________________, ____________________, _____________________. 4 – Existe algo que impeça uma maior participação da comunidade? a) não; b) falta de interesse por parte da comunidade; c) a comunidade não sabe que pode participar; d) a escola não dá espaço para a participação da comunidade. 5 – Quando,ou por que, aconteceu a maior participação da comunidade na UMEI? 6 – Quais as medidas que a escola está tomando para integrar escola e comunidade?

Obrigada, Angelina.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO.............................................................................................2

AGRADECIMENTO.............................................................................................3 DEDICATÓRIA....................................................................................................4

RESUMO.............................................................................................................5

METODOLOGIA..................................................................................................6

SUMÁRIO............................................................................................................7

INTRODUÇÃO.....................................................................................................8

CAPÍTULO I - Da administração controladora para a gestão democrática: a transição da gestão escolar...............................................................................11

CAPÍTULO II - A gestão democrática da educação no Brasil e a participação da

comunidade nesse processo de gestão............................................................17

2.1 – O que dizem as leis brasileiras?...............................................................17 2.2 – Alguns movimentos de democratização da educação brasileira..............20 2.3 – A participação da comunidade na Gestão Democrática...........................23

CAPÍTULO III – Desafios de inserção da comunidade na gestão escolar: a

experiência da Unidade Municipal de Educação Infantil Professor Nilo Neves.29

3.1 – Caracterização da Escola.........................................................................30 3.2 – Análise da Gestão Escolar e da Comunidade..........................................31

CONCLUSÃO....................................................................................................37

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................39

ANEXO..............................................................................................................41

INDICE...............................................................................................................42

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: