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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO SUSTENTÁVEL Por: Maxwell Santos de Oliveira Orientador Prof. Francisco Carrera Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO SUSTENTÁVEL

Por: Maxwell Santos de Oliveira

Orientador

Prof. Francisco Carrera

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO SUSTENTÁVEL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito Ambiental

Por: Maxwell Santos de Oliveira

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AGRADECIMENTOS

Dedico a todos aqueles que me

incentivaram, orientaram e não

deixaram que eu desistisse.

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DEDICATÓRIA

Dedico a minha Querida Mãezinha que

hoje olha por mim lá do céu e que nesta

vida foi minha amiga, conselheira e que

será meu espelho para todo o sempre.

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RESUMO

As Unidades de conservação ainda são um dos instrumentos mais

eficientes na promoção da proteção e conservação da biodiversidade. As

unidades de uso sustentável têm se mostrado cada vez mais importantes no

cenário atual.

Neste trabalho são apresentados os aspectos mais centrais da

formulação dos modelos, criação, gestão termos com foco principal na

conservação de áreas de plena significância além de outras considerações

acerca das Unidades de Conservação de Uso Sustentável.

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METODOLOGIA

Com foco direcionado às Unidades de Conservação de Uso Sustentável

ilustrarei através de artigos, correntes doutrinárias, relatos, sites e reportagens,

como são criadas as Unidades de Conservação de Uso Sustentável, qual a sua

importância no crescente cenário mundial relativo a conservar e preservar a

natureza e como estão sendo tratadas, com fulcro as Leis, Decretos e

resoluções e advertir onde possam estar havendo abusos e descumprimentos

ao que estas determinam levando-se com conta principalmente a Lei

9.985/2000 e o artigo 225 da Constituição Federal.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - Unidades de Conservação de Uso Sustentável 13

1.1 - Conceitos 13 1.2 - Aspectos Históricos 13 1.3 - Sistemas de Unidades de Conservação 14 1.4 - Objetivos 15 1.5 - Objetivos Gerais das Unidades de Conservação 16 1.6 - Das Unidades de Uso Sustentável 16 1.7 - Da criação das Unidades de Uso Sustentável 20 1.8 - Reserva de Desenvolvimento Sustentável 24 1.9 – Concepção das U Cs em nível mundial 25 1.10 – Uso Público em Unidades de Conservação 27 CAPÍTULO II – Diferença entre Conservação e Preservação 30 2.1 – Preservacionismo 30 2.2 – Conservacionismo 30 2.3- Uso dos termos 32 2.4 – Quadro comparativo 34 CAPÍTULO III – As Unidades de Conservação de Uso Sustentável e a compensação por impactos ambientais negativos 36 3.1 – Fundamento Legal 36 3.2 – Compensação Ambiental segundo o SNCU 37 CONCLUSÃO 39 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

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INTRODUÇÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil no artigo 225 assegura a

todos um meio ambiente ecologicamente equilibrado impondo ao Poder Público

o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações e

para tanto determinou que fossem definidos espaços territoriais e seus

componentes a serem protegidos, ou seja, a criação de áreas preservadas as

quais ajudariam no equilíbrio ambiental.

Artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder

Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o

manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País

e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material

genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus

componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a

supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que

comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

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IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade

potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,

estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a

produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias

que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que

coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies

ou submetam os animais a crueldade.

§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o

meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão

público competente, na forma da lei.

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente

sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e

administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos

causados.

§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o

Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua

utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a

preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados,

por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua

localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

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Com base neste artigo da Constituição e para que essas normas

fossem cumpridas de maneira específica foi criado o Sistema Nacional de

Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, constituído pelo conjunto das

unidades de conservação federais, estaduais e municipal e instituído pela Lei

nº 9.985 de 18 de julho de 2000 que estabeleceria a partir desta data os

critérios e as normas que criariam, implantariam e gerenciariam as Unidades

de Conservação.

As categorias das Unidades de Conservação foram tratadas no

capítulo III da Lei 9.985/00 e divididas em dois grupos e cada uma com suas

especificidades a saber: -Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso

Sustentável onde a primeira visa preservar essas áreas admitindo apenas o

uso indireto dos seus recursos naturais e a segunda é a de compatibilizar a

conservação da natureza com uso sustentável de parcela dos recursos naturais

nelas existentes.

No entanto, tratarei de forma mais abrangente nesta monografia

das UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO SUSTENTÁVEL elencando,

em um primeiro momento, as suas categorias de modo a propiciar uma análise

entre o uso dos recursos naturais e sua sustentabilidade. No entanto, mesmo

que de maneira ilustrativa, citarei características relevantes das Unidades de

Conservação de um modo geral.

O Brasil está prestes a receber dois eventos mundiais de grande

porte. Em 2014 a Copa do Mundo da FIFA e em 2016 as Olimpíadas. Estes

eventos trouxeram um elevado número de obras devido ao aglomerado de

exigências a serem cumpridas dentre as quais a construção de novos estádios

de futebol e reformulação quase total de outros, a ampliação de vias expressas

para melhoria do atendimento do transporte de massa rodoviário e diminuição

do tempo de viagem, a remodelagem e adequação dos aeroportos, construção

de novos hotéis, dentre outros. Em análise sobre o que determina o SNUC à

preservação das áreas de Conservação de Uso Sustentável estarão estas

obras em conformidade com as normas e condutas, ou seja, licenciadas e

autorizadas pelos órgãos competentes para a sua execução?

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CAPÍTULO I

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO

SUSTENTÁVEL

1.1 - Conceitos

Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação -SNUC- a

definição para Unidade de Conservação é a seguinte: “espaço territorial e seus

recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características

naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de

conservação definidos, sob regime especial de administração, ao qual se

aplicam garantias adequadas de proteção”. (pág. 1087).

Abrangendo o tema Sustentabilidade, podemos encontrar algumas

definições dentre as quais a de Townsend que diz:

“Chamar uma atividade de “sustentável” significa que ela pode ser continuada ou repetida em um futuro previsível”. (TOWNSEND, BEGON & HARPER, 2009, pág. 442)

Outra Definição dada para Sustentabilidade, segundo o Relatório de

Brundtland (1987), é a seguinte: “o uso sustentável dos recursos naturais deve

suprir as necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das

gerações futuras de suprir as suas".

1.2 - Aspectos Históricos

A preocupação com o estabelecimento de áreas a serem protegidas é bastante

antigo; existem relatos de que o imperador indiano Ashoka em 252 a.C.

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determinou a proteção de certos animais, peixes e áreas florestadas e do

também imperador indiano Babar que no século XV estabeleceu reservas

especiais para a proteção e caça de rinocerontes (WALLAUER, 1998). A

civilização Inca impôs limites físicos e sazonais à caça de certas espécies e na

Europa Medieval a palavra “parque” designava um local determinado no qual

animais viviam na natureza sob a responsabilidade do rei (MORSELLO, 2001).

Estas áreas européias tinham como principal objetivo a proteção de seus

recursos para garantir à aristocracia o exercício da caça e a provisão de

madeira (QUINTÃO, 1983).

As teorias mais elaboradas no sentido de se estabelecer áreas protegidas teve

como marco a concepção desenvolvida nos Estados Unidos no século XIX que

culminou com a criação do Yellowstone National Park, em 1872, com grande

valorização da beleza cênica do local e com o objetivo de proporcionar

benefício e lazer à população, protegendo as áreas de interferência que

degradassem o ambiente (MORSELLO, 2001; WALLAUER, 1997).

A preocupação inicial com a beleza cênica das áreas protegidas foi dando lugar

a uma importância cada vez maior para a preservação da natureza,

conservação da biodiversidade e com outros propósitos ligados a preocupação

ecológica e mesmo com o objetivo de fazer frente ao processo de

desenvolvimento desenfreado que causa a destruição e transformação dos

ambientes naturais. Assim o valor recreativo e a beleza cênica, pouco a pouco

deram lugar ao objetivo da conservação de habitats e espécies, sendo este

considerado atualmente como o principal objetivo de criação de Unidades de

Conservação (MORSELLO, 2001).

1.3 – Sistema Nacional de Unidades de Conservação

A Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 veio regulamentar o artigo 225,

parágrafo 1º, incisos I, II, III e IV, da Constituição Federal, institui o Sistema

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Nacional de Unidades de Conservação e estabelece critérios e normas para

criação, implantação e gestão das unidades de conservação.

Um dos grandes avanços desta Lei é tornar claros os conceitos nela

utilizados, como os elencados no artigo 2°. Deveria existir um dispositivo

constitucional impondo que toda Lei que introduzisse novos termos as definisse

em seu próprio corpo, evitando-se confusões de qual o significado oficial disto

ou daquilo. Os que militam na área jurídica sabem, que muitas vezes, a

proteção ambiental perde pela falta do entendimento do que é ou deixa de ser

o significado de uma palavra ou uma expressão. Nem todos os juizes são

sensíveis com a questão ambiental, o que muitas vezes resulta na impunidade

dos poluidores.

1.4 - Objetivos

O SNUC objetiva a conservação da natureza no Brasil. Especificamente,

fornece mecanismos legais às esferas governamentais federal, estadual e

municipal e à iniciativa privada para que possam:

§ contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos

genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;

§ proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;

§ contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de

ecossistemas naturais;

§ promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;

§ promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza

no processo de desenvolvimento;

§ proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;

§ proteger as características de natureza geológica, geomorfológica,

espeleológica, paleontológica e cultural;

§ proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

§ recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

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§ proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica,

estudos e monitoramento ambiental;

§ valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;

§ favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a

recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;

§ proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações

tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e

promovendo-as social e economicamente.

1.5 – Objetivos Gerais das Unidades de Conservação

I – Preservação de bancos genético, de fauna e de flora, de modo a

permitir pesquisas que levem à utilização racional pelo homem;

II – Acompanhamento, através do monitoramento, no entorno e nas

áreas estritamente protegidas, das alterações ambientais ocorridas,

correlacionando as mudanças internas e externas e estabelecendo parâmetros

para a condução do uso do solo e reabilitação dos espaços já degradados.

III – Proteção de recursos hídricos, especialmente das cabeceiras dos

rios e mananciais de abastecimento, ao longo das bacias hidrográficas sujeitas

a pressões demográficas ou ocupação predatória;

IV – Proteção de paisagens de relevante beleza cênica ou que

contenham valores culturais, históricos e arqueológicos, de interesse para

pesquisa;

V – Condução de atividades de educação ambiental -formal, não formal,

turística ou de informação à comunidade- como intuito de desenvolver uma

consciência pública voltada para a conservação do meio ambiente e dos

recursos naturais;

VI – Criação de condições adequadas ao desenvolvimento de pesquisas

com a finalidade de atender necessidades das áreas do entorno de outras

Unidades de Conservação que contenham ecossistemas similares aos

estudados, permitindo-lhes uma apropriação racional dos recursos naturais;

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VII – Proteção de áreas sob o domínio de particulares, áreas essas que

tenham relevantes.

1.6 - Das Unidades de Uso Sustentável

Na forma do artigo 14 da Lei 9.985/2000, constituem o Grupo das

Unidades de Uso Sustentável, referindo-se a lei sobre a questão da seguinte

forma:

Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as

seguintes categorias de unidade de conservação:

I - Área de Proteção Ambiental;

II - Área de Relevante Interesse Ecológico;

III - Floresta Nacional;

IV - Reserva Extrativista;

V - Reserva de Fauna;

VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e

VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.

As Unidades de Uso Sustentável têm como objetivo compatibilizar a

conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos, conciliando a

presença humana nas áreas protegidas.

São sete as categorias de Unidades de Conservação de Uso

Sustentável, que compreendem desde territórios exclusivos para populações

tradicionais consolidarem um manejo sustentável de baixo impacto,

privilegiando suas formas de conhecimento, até amplas áreas já urbanizadas,

nas quais o estabelecimento de uma Unidade de Conservação pode contribuir

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para o zoneamento, manejo adequado dos remanescentes florestais e

cumprimento das leis ambientais, a saber:

1.6.1 – Área de Proteção Ambiental: é uma área em geral extensa, com um

certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos,

estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o

bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a

diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a

sustentabilidade do uso dos recursos naturais. É constituída por terras públicas

ou privadas. As condições para a realização de pesquisa científica e visitação

pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor

da unidade e nas áreas sob propriedade privada, pelo seu proprietário. A Área

de Proteção Ambiental deve ter um Conselho presidido pelo órgão responsável

por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de

organizações da sociedade civil e da população residente.

1.6.2 – Área de Relevante Interesse Ecológico: é uma área em geral de

pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com

características naturais extraordinárias ou que abrigue exemplares raros da

biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de

importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo

a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza. A Área de

Relevante Interesse Ecológico é constituída por terras públicas ou privadas.

1.6.3 – Floresta Nacional: é uma área com cobertura florestal de espécies

predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo

sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em

métodos para exploração sustentável de florestas nativas. É de posse e

domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites

devem ser desapropriadas. Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência

de populações tradicionais que ali residiam quando da criação, em

conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da

unidade.

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A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para

o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração e a

pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão

responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este

estabelecidas e àquelas previstas em regulamento. A Floresta Nacional dever

ter um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua

administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de

organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações

tradicionais residentes.

1.6.4 – Reserva Extrativista: é uma área utilizada por populações extrativistas

tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e,

complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de

pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a

cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos

naturais da unidade. A Reserva é de domínio público, com uso concedido às

populações extrativistas tradicionais, sendo que as áreas particulares incluídas

em seus limites devem ser desapropriadas. A Reserva Extrativista é gerida por

um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua

administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de

organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na

área.

A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais

e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área e a pesquisa científica

é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão

responsável pela administração da unidade. Nessas Reservas são proibidas a

exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou profissional, e a

exploração comercial de recursos madeireiros só será admitida em bases

sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades

desenvolvidas na Reserva Extrativista.

1.6.5 - Reserva de Fauna: é uma área natural com populações animais de

espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas

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para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de

recursos faunísticos. É uma unidade de posse e domínio públicos e as áreas

particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas. A visitação

pública pode ser permitida e a caça amadorística ou profissional é proibida.

1.6.6 - Reserva de Desenvolvimento Sustentável: é uma área natural que

abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas

sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de

gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um

papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade

biológica. Esse tipo de unidade tem como objetivo básico preservar a natureza

e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a

reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos

recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e

aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente,

desenvolvido por estas populações. A Reserva de Desenvolvimento

Sustentável é de domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em

seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas. A Reserva é

gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua

administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de

organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na

área. A visitação pública e a pesquisa científica são permitidas e incentivadas,

embora sujeitas aos interesses e normas locais. A exploração de componentes

dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e a substituição

da cobertura vegetal por espécies cultiváveis são permitidas quanto de acordo

com o Plano de Manejo.

1.6.7 – Reserva Particular do Patrimônio Cultural: é uma área privada,

criada por iniciativa do proprietário, gravada com perpetuidade, com o objetivo

de conservar a diversidade biológica. Nessa modalidade de unidade de

conservação apenas a pesquisa científica e a visitação com objetivos turísticos,

recreativos e educacionais são permitidas.

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1.7 – Da criação das Unidades de Uso Sustentável

As responsabilidades para lidar com os temas ambientais aparecem

repartidas nos diversos tipos de competência. Sobre a criação das unidades de

Conservação, podemos ressalvar que serão criadas por ato do Pode Público

como reza o artigo 22 da Lei 9.985/2000:

Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do

Poder Público.

§ 1o (vetado)

§ 2o A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida

de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a

localização, a dimensão e os limites mais adequados para a

unidade, conforme se dispuser em regulamento.

§ 3o No processo de consulta de que trata o § 2o, o Poder Público é

obrigado a fornecer informações adequadas e inteligíveis à

população local e a outras partes interessadas.

§ 4o Na criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica não é

obrigatória a consulta de que trata o § 2o deste artigo.

§ 5o As unidades de conservação do grupo de Uso Sustentável

podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades do

grupo de Proteção Integral, por instrumento normativo do mesmo

nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os

procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo.

§ 6o A ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem

modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo

proposto, pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível

hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os

procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo.

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§ 7o A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de

conservação só pode ser feita mediante lei específica.

Criar uma unidade de conservação não é tarefa fácil. Não tanto pelas

dificuldades técnicas, mas, sobretudo, pelas dificuldades que poderíamos

chamar de políticas. A criação de unidades de conservação demanda estudos

ecológicos sobre a flora e a fauna, a situação fundiária, a ocupação humana e

as atividades econômicas desenvolvidas na área. Esses estudos, dependendo

do tamanho da área, das dificuldades de acesso ou do grau de ocupação

humana podem demandar um volume significativo de tempo, de trabalho e de

recursos. Mas, em geral, não são demasiadamente complexos e podem ser

realizados sem maior dificuldade por uma equipe bem treinada. Além disso,

recursos inimagináveis há 10 ou 20 anos atrás, como imagens de satélite,

sistemas de informações geográficas, GPS e notebooks facilitam muito os

estudos e permitem a elaboração de propostas com maior rapidez e melhor

qualidade.

O que faz da criação de unidades de conservação uma tarefa

especialmente difícil são as resistências opostas pelas pessoas, grupos ou

setores (e seus prepostos na política) que ocupam, exploram ou planejam

explorar os recursos naturais, conhecidos ou potenciais, das áreas propostas,

cujos interesses são direta e imediatamente prejudicados pela criação das

unidades, como, por exemplo, agricultores, madeireiros, mineradores,

empresas de energia (petróleo, hidrelétricas), imobiliárias etc.

A criação de unidades de conservação está fundada no entendimento de

que as áreas naturais desempenham funções essenciais para a sobrevivência,

o bem estar, a qualidade de vida e o desenvolvimento das sociedades

humanas. E que, portanto, é necessário assegurar a conservação de

extensões significativas dos ambientes naturais, vale dizer, é preciso limitar ou

proibir a exploração de recursos naturais nessas áreas. A criação de unidades

de conservação é um instrumento relativamente efetivo de ordenamento do

processo de ocupação do território ou, se quisermos, de zoneamento

ambiental. No cão das Unidades de Conservação de Uso Sustentável, é

possível a exploração florestal, a mineração e até mesmo a agricultura,

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dependendo da categoria da unidade, mas com restrições sempre superiores

àquelas que aplicam-se ao restante do território.

O SNUC introduziu mudanças importantes no processo de criação de

unidades de conservação. Dentre elas, destaca-se, sem dúvida, a exigência de

consulta pública. Diz a referida lei no seu artigo 22, parágrafo segundo:

“A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de

estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a

localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade,

conforme se dispuser em regimento”.

Estabelecer na Lei a obrigatoriedade da consulta pública para a criação de

unidades de conservação não foi uma tarefa simples. O tema dividiu os

ambientalistas. Os defensores do modelo tradicional de unidade de

conservação (Parques Nacionais, Reservas Biológicas), não queriam a

consulta pública. Justificavam essa posição com dois argumentos: a criação

de uma unidade de conservação é uma atividade essencialmente técnica, que

exige conhecimentos especializados, não acessíveis ao cidadão comum. Este

cidadão não tem, portanto, nada a dizer de relevante no processo. Dar ao

público conhecimento do processo de criação de uma unidade de conservação

abriria oportunidade para pressões políticas contrárias que dificultariam ou

mesmo inviabilizariam a criação da unidade, já que, como se sabe, (quase)

todo mundo é contra a criação de unidades de conservação. O correto,

portanto, seria entregar a decisão sobre tipo, localização e limites da unidade

aos técnicos e manter o processo o máximo possível “em segredo”.

O segundo argumento era que, ao dar ao público conhecimento do

processo de criação da unidade, estar-se-ia favorecendo a devastação da área

pretendida. As pessoas e grupos contrários à unidade acelerariam o processo

de ocupação, exploração ou devastação dos recursos naturais da área para

tirar o máximo proveito ou acabar com os recursos que justificariam sua

criação, inviabilizando o processo.

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Os ambientalistas com forte vínculo com os movimentos sociais,

especialmente com povos indígenas, comunidades extrativistas e agricultores

tradicionais, argumentavam que a criação de uma unidade de conservação,

especialmente aquelas que obedecem ao modelo tradicional, causa um

impacto social (e econômico) negativo sobre as populações residentes. Essas

populações têm, no mínimo, o direito de serem consultadas e de participarem

do processo. A consulta possibilitaria ao governo conhecer melhor a realidade

local e evitar conflitos desnecessários. Uma decisão mais bem informada e

melhor negociada facilitaria a gestão futura da unidade, com benefícios diretos

para a conservação.

De fato, a consulta pública foi introduzida na Lei 9.985/2000 para,

sobretudo, proteger as populações tradicionais e de agricultores familiares.

Essas populações, pouco organizadas, desprovidas de recursos e carentes de

informação, quase sempre foram, historicamente, ignoradas no processo de

criação de unidades de conservação.

Na votação desta Lei, como não poderia ser diferente, em um país em

franco processo de democratização e fortalecimento da sociedade civil,

prevaleceu a tese da necessidade da consulta pública, com a notável exceção

das Reservas Biológicas e das Estações Ecológicas, que continuam podendo

ser criadas sem consulta.

1.8 - Reserva de Desenvolvimento Sustentável

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área natural que abriga

populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de

exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e

adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel

fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade

biológica.

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A RDS tem como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo tempo,

assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a

melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais

das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o

conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente, desenvolvido por estas

populações. É de domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas

em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de acordo

com o que dispõe a lei.

O uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais será regulado de

acordo com o disposto no art. 23 da Lei 9985/2000 e em regulamentação

específica.

Esta UC será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão

responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos

públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais

residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação

da unidade.

As atividades desenvolvidas na RDS obedecerão às seguintes condições:

I - é permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os

interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área;

II - é permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da

natureza, à melhor relação das populações residentes com seu meio e à

educação ambiental, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável

pela administração da unidade, às condições e restrições por estas

estabelecidas e às normas previstas em regulamento;

III - deve ser sempre considerado o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da

população e a conservação a ser tratada por este tipo de sistema; e

IV - é admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em

regime de manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal por

espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e

ao Plano de Manejo da área.

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1.9 – Concepção das Unidades de Conservação em

Nível Mundial

O aumento de áreas protegidas em todo o mundo – com um ciclo de criação

nos anos 20 e 30 e com grande impulso a partir dos anos 50 – e o grande

número de propósitos destas áreas provocou a proliferação dos mais diversos

tipos de “parques” e outras áreas protegidas com grande diversificação de

objetivos e significados. Com o propósito de se obter cooperação internacional

nas áreas de conservação da natureza, em 1948 foi criada a atual UICN (União

Internacional para a conservação da Natureza), órgão vinculado a ONU

(Organização das Nações Unidas), que tem como objetivo promover ações

científicas visando a conservação da natureza e que passou a desempenhar

um papel fundamental para o desenvolvimento da filosofia de áreas naturais

protegidas, atuando também no assessoramento para o planejamento e

manejo destas áreas em nível mundial.

Em 1962 a UICN realiza a “Primeira Conferência Mundial de Parques

Nacionais”, onde foram discutidos pela primeira vez os critérios de classificação

de áreas protegidas, passando a UICN a fazer recomendações sobre as

diferentes terminologias e objetivos aos diferentes tipos de Unidades de

Conservação (MORSELLO, 2001; MILANO et al., 1993).

Na “Primeira Conferência Mundial de Parques Nacionais” havia ficado clara a

predominância da influência norte-americana da concepção de parques com

base no modelo “Yellowstone” de “parque sem gente”. Em 1972 é realizada a

segunda Conferência Mundial, em Yellowstone, incentivando a criação de

novas UCs e a proteção absoluta destas áreas de preservação (QUINTÃO,

1983).

Em 1980 a UICN elaborou uma estratégia mundial para a conservação da

natureza, frente a um quadro global de destruição e esgotamento dos recursos

naturais. Esta estratégia teve como objetivo geral oferecer subsídios para que

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os países pudessem desenvolver suas ações visando um desenvolvimento

sustentável e seus objetivos específicos estavam centrados em manter os

processos biológicos e os sistemas vitais essenciais, preservar a diversidade

genética e permitir o aproveitamento perene das espécies e dos ecossistemas

(UICN,1984).

A partir de 1982, com a realização do “Terceiro Congresso Mundial de Parques

Nacionais”, em Bali – Indonésia, que teve como tema “O papel das áreas

protegidas na sociedade sustentável”, a expansão do número de áreas

protegidas no mundo foi considerado como uma estratégia particularmente vital

para a conservação dos recursos naturais do planeta, mas também começaram

a ser mais significativas as preocupações com o uso sustentável dos recursos

da natureza, aparecendo a recomendação para a criação de mais áreas com a

categoria de uso múltiplo e sustentável (WALLAUER, 1997).

Em 1992 ocorreu o “Quarto Congresso Mundial de Parques Nacionais e Áreas

Protegidas”, em Caracas, onde o próprio título do evento já deixava clara a

importância de outras categorias de UCs além dos parques nacionais. O tema

do congresso “Parques para a vida: intensificação do papel da conservação na

sustentação da sociedade” indicava claramente uma maior preocupação com

uma visão mais flexível em relação às atividades humanas e a conservação da

natureza. Algumas das 23 recomendações eram:

(...) encorajar as comunidades locais à conservação

dos recursos naturais, reconhecendo suas necessidades

sociais e econômicas. Identificar e monitorar a dinâmica

das populações humanas e suas atividades, de maneira

que se possa melhor assegurar a integridade,

implementação e manejo das áreas protegidas

(WALLAUER, 1977, p. 74).

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1.10 – Uso Público em Unidades de Conservação

O uso público nas unidades de conservação deveria ser precedido

sempre de plano de manejo, que inclui o adequado zoneamento da área, o

plano de uso público e define os objetivos das unidades de conservação.

Todavia, como o plano de manejo é um documento de difícil confecção, por ser

muito caro e exigir pesquisas detalhadas da área, com inventário preciso,

dentre outros, muitas vezes a visitação é permitida sem que esse documento

tenha sido elaborado, o que pode gerar conseqüências bastante graves para a

unidade. De qualquer forma, haja ou não plano de manejo, tendo em vista que

a visitação às unidades de conservação tem aumentado muito nos últimos

anos, em virtude da popularidade que o turismo ecológico vem alcançando, há

a necessidade de se conciliar uso público com preservação da biodiversidade e

demais recursos naturais encontrados nos espaços ambientais.

Isso não significa que se deva proibir a visitação nas unidades de conservação,

pois, muito embora ela gere impacto, também oferece diversas vantagens, tais

como: educação ambiental, lazer em contato com a natureza, geração de

receitas para as Unidades de Conservação, geração de renda para a população

do entorno. Os riscos, contudo, devem ser considerados, e abarcam destruição

da vegetação, a erosão nas trilhas, o lixo deixado pelos visitantes, além de

ameaças como danos que afetam a evolução dos ecossistemas, alterando o

comportamento da fauna e induzem a sua alteração de forma considerável.

O pisoteio nas trilhas, como adverte Takahashi, mesmo quando produz

baixo impacto, reduz a vegetação rasteira, a biomassa e pode alterar a

composição da flora mediante a eliminação de espécies frágeis. Em altos níveis,

pode acarretar alteração na composição ou mesmo perda completa da

vegetação forrageira, extinção de espécies, compactação do solo, alargamento

da trilha e diminuição da taxa de infiltração.

Por isso o planejamento é essencial, pois ele pode diminuir significativamente

os efeitos negativos da visitação. Esse planejamento deve considerar,

necessariamente, a sustentabilidade das trilhas, a determinação da capacidade

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de carga da área, o limite aceitável de câmbio e conjugar métodos de

planejamento de recreação como o manejo baseado na experiência e o

espectro de oportunidades de recreação. Daí a importância da elaboração do

plano de manejo antes de ser facultada a visitação, pois todos esses fatores

serão considerados pelo documento, que formaliza o planejamento para a UC.

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CAPÍTULO II

DIFERENÇA ENTRE CONSERVAÇÃO E

PRESERVAÇÃO

É comum haver confusão entre os termos conservação e preservação.

Muitas vezes usados para significar a mesma coisa, na verdade expressam

idéias que têm origens distintas. Conservar e preservar são correntes

ideológicas que representam relacionamentos diferentes do ser humano com a

natureza.

2.1 – Preservacionismo

Com o passar do tempo, o termo preservação tornou-se sinônimo de salvar

espécies, áreas naturais, ecossistemas e biomas. Tende a compreender a

proteção da natureza, independentemente do interesse utilitário e do valor

econômico.

2.2 – Conservacionismo

Já a visão conservacionista, contempla o amor pela natureza, mas permite o

uso sustentável e assume um significado de salvar a natureza para algum fim

ou integrando o ser humano. Na conservação a participação humana precisa

ser de harmonia e sempre com intuito final vislumbrando a proteção.

Por volta de 1940, Aldo Leopold deu uma grande contribuição ao

conservacionismo, pois demonstrava o amor de um preservacionista pela

natureza, mas trabalhou para integrar o ser humano às áreas naturais,

atribuindo uma dimensão de maior acessibilidade e importância a elas. Propôs

o que na época foi inovador e que continua sendo recomendado até hoje: um

manejo que visasse maior proteção do que a ‘intocabilidade’. Aldo Leopold

introduziu uma nova ética ambiental como no capítulo “Land Ethics” (A Ética da

Terra) em seu livro Sand County Almanaque. Precursor da Biologia da

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Conservação tratava a conservação como ciência, com os diferentes campos

se complementando, de modo a que se atingisse maior efetividade na própria

proteção ambiental.

Suas idéias expressam a necessidade de se assumir novas posturas

que compreendam a integração dos elementos e a noção de longo prazo: “a

ética da terra transforma o papel do Homo sapiens de conquistador da

comunidade da terra, a um mero membro e cidadão dela. Implica em respeito

pelos membros-companheiros, assim como respeito pela comunidade em um

todo”.

Uma outra tendência liderada pelo escandinavo, Arne Naess, vale ser

mencionada. Conhecida como ‘ecologia profunda’, considera que o

conservacionismo tem uma visão reducionista, pois, segundo o autor, está

limitado a concepções do primeiro mundo. De acordo com Arne Naess a

conservação depende da compreensão de aspectos mais profundos, tais

como:

- a ótica precisa ser abrangente para incluir todos os seres e suas inter-

relações, e não apenas a visão humana como se é de costume;

- é fundamental que haja maior eqüidade nas relações planetárias com

posturas anti-classe, para que a diversidade biológica possa ser

verdadeiramente valorizada e conseqüentemente protegida de fato;

- medidas que se opõem para a poluição e para a degradação ambiental

devem ser levadas adiante com seriedade e compromisso;

- a complexidade deve ser contemplada, evitando-se visões que levam à

complicação;

- a autonomia local e a descentralização das decisões podem ser vista também

como chave no processo de inclusão social e valorização da natureza.

Nessa visão de mundo tudo está integrado; tudo é importante porque tem valor

próprio. O ser humano passa, assim, a ser mais uma espécie e não mais “a

espécie”. Essa linha de pensamento tem sido chamada de holística e se afina

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com escritores como Kapra (Ponto de Mutação), Lovelock (Teoria Gaia).

Nem sempre esses pensadores são aceitos sem críticas. Lovelock, por

exemplo, foi bastante refutado no mundo científico, que dizia faltarem provas

concretas para suas afirmações. No entanto, a metáfora que criou com o

planeta como um ser vivo acabou sendo respeitada e largamente conhecida:

os rios são comparados às veias, os pulmões aos oceanos e florestas, e assim

por diante. Sua ênfase é na interligação de tudo o que se encontra no planeta,

estando todos os elementos conectados. Nesse sentido, tudo precisa estar

sadio para que o todo funcione e se manifeste plenamente. Segundo Boff, a

hipótese Gaia confere unidade e harmonia no universo, constituído por uma

imensa teia de relações, “de tal forma que cada um vive pelo outro, para o

outro e com o outro...” (Ecologia: Grito da Terra Grito dos Pobres, 2004).

Com a compreensão da necessidade de se proteger a natureza e devido aos

altos impactos que o modelo de desenvolvimento estava causando no

equilíbrio planetário, surgiram termos como ‘eco-desenvolvimento’, proposto

por Ignacy Sachs, que posteriormente evoluíram para ‘desenvolvimento

sustentável’ e ‘sustentabilidade’. Esta terminologia tem sido usada em reuniões

internacionais, inclusive na Rio-92. Existem também discussões acirradas

sobre o significado dos termos, uma vez que alguns autores não

desenvolvimento e sustentabilidade ambivalentes, um invalidando o outro ao

pressupor a continuidade de uso e de impacto que certas atividades causam. O

desafio parece estar no conciliar produtividade, conforto e conservação

ambiental.

2.3 - Uso dos termos

Todos esses termos são relativamente novos, já que a necessidade de

se conservar ou preservar só apareceu há poucas décadas. Por isso, acabam

sendo empregados sem muitos critérios até mesmo por profissionais das áreas

ambientais, jornalistas e políticos. Mesmo na legislação brasileira, os termos

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são usados de maneira variada, apesar de se ter a noção das diferenças de

significados.

Conservação, nas leis brasileiras, significa proteção dos recursos

naturais, com a utilização racional, garantindo sua sustentabilidade e existência

para as atuais gerações e também para as futuras gerações.

Já preservação visa à integridade e à perenidade de algo. O termo se refere à

proteção integral, a "intocabilidade". A preservação se faz necessária quando

há risco de perda de biodiversidade, seja de uma espécie, um ecossistema ou

de um bioma representado como sendo este um todo.

No Brasil, a necessidade de se incluir as necessidades sociais tem sido uma

constante nos movimentos ambientalistas. Por exemplo, o envolvimento

comunitário vem sendo conquistado por meio de programas de educação

ambiental direcionados a populações que vivem ao redor de Unidades de

Conservação. Primeiro como uma ferramenta de apoio à conservação, mas

aos poucos assumindo novas frentes. Em muitos contextos tem incluído

alternativas de renda que visam à melhoria da qualidade de vida humana com

práticas que enfocam e valorizam a natureza local. Esta abordagem resulta da

impossibilidade e da injustiça de se pensar em conservar espécies e

ecossistemas ameaçados, quando as condições de humanas são indignas.

Com base nesse novo pensar surgiu o termo ‘socioambiental’, onde o social e

o ambiental são verdadeiramente tratados de maneira integrada.

A idéia não é abrir mão nem da conservação da natureza nem das

necessidades humanas. É contemplar a vida de forma ampla e integrada.

Sendo assim, a opção de qual termo utilizar pode variar entre preservar ou

conservar, desenvolvimento mais sustentável ou medidas que visem a

sustentabilidade de um sistema amplo. Ainda há quem discuta

apaixonadamente qual a tendência mais correta. Entretanto, a escolha muitas

vezes lembra crenças religiosas, o que nem sempre vale questionar. O

importante é incentivar a reflexão e a análise das idéias que têm sido

elaboradas no Brasil e pelo mundo afora. Só assim poderemos escolher o que

queremos preservar de nossos pensamentos e atitudes e o que estamos

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dispostos a mudar para que possamos aumentar as perspectivas de melhor

conservar a biodiversidade brasileira.

2.4 - QUADRO COMPARATIVO

ALGUMAS DIFERENÇAS ENTRE

CONSERVAÇÃO E PRESEVAÇÃO

CONSERVACIONISMO PRESERVACIONISMO

Adotam medidas para multar e

remediar as más ações

causadas pelo homem na

natureza

São fundamentais nas questões

ambientais

Adotam medidas de

sustentabilidade

Não existe um desenvolvimento

humano que não seja pra

destruir o meio ambiente

Greenpeace, SOS Mata Atlântica,

WWF

Vê o homem como uma ameaça

para a natureza, que deve ser

separado dela, para a sua

proteção contra o

desenvolvimento urbano

Um manejo que vise maior

proteção do que a

“intocabilidade”

Visa garantir a integridade e a

perenidade da natureza

A participação humana precisa

ser harmoniosa e sempre com o

intuito de proteção

Proteção da natureza,

independente do interesse

utilitário e do valor econômico

que possa conter

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Levando-se em consideração toda a abrangência dos fatos acima

elucidados, podemos então definir os termos conservação da natureza e

preservação da natureza da seguinte forma:

- CONESRVAÇÃO AMBIENTAL é o uso racional de um recurso qualquer, para

obter um rendimento considerado bom, garantindo-se ao mesmo tempo, sua

renovação ou auto sustentabilidade. Conservar implica administrar, usar com

cuidado. Preservar de modo geral tem um significado mais restritivo, o de não

usar ou não permitir intervenção humana.

-PRESERVAÇÃO AMBIENTAL é a ação de proteger um ecossistema, uma

área geográfica ou espécies vegetais ou animais ameaçadas de extinção

contra a destruição e qualquer forma de dano ou degradação do meio

ambiente.

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CAPÍTULO III

As Unidades de Conservação de Uso Sustentável e a

compensação por impactos ambientais negativos

3.1 – Fundamento Legal

A Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (art. 2º, inciso I) e a Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988 (art. 225, caput) elegeram o meio ambiente à condição de

bem de domínio universal - patrimônio da coletividade, essencial à sadia

qualidade de vida, competindo ao poder público (União, Estados, Distrito

Federal e Municípios, competência comum prevista no art. 23, incisos VI e VII,

da CF/88) proteger esse bem e combater a poluição em qualquer de suas

formas, além de preservar as florestas, a fauna e a flora.

Nesse sentido, a Política Nacional de Meio Ambiente previu que as

atividades utilizadoras de recursos ambientais considerados efetiva e

potencialmente poluidoras e capazes de causar degradação ambiental devem

ser controladas pelos órgãos ambientais, dependendo, assim, de prévio

licenciamento (art. 9º, inciso IV e art. 10, da Lei 6.938/81).

Além desse instrumento extremamente importante para a manutenção

da qualidade ambiental, a Política Nacional de Meio Ambiente definiu como um

dos seus objetivos a imposição ao poluidor e ao predador de recuperar e/ou

indenizar os danos causados ao meio ambiente (art. 4º, inciso VII, da Lei

6.938/81).

De acordo com os ensinamentos de MILARÉ que dizem:

Assenta-se esse princípio na vocação redistributiva

do Direito Ambiental e se inspira na teoria econômica de

que os custos sociais externos que acompanham o

processo produtivo (os custos resultantes dos danos

ambientais) devem ser internalizados, vale dizer, que os

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agentes econômicos devem levá-los em conta ao elaborar

os custos da produção e, conseqeuntemente assumi-los.

(Milaré, Édis, 2001, pag.116)

Seguindo esse princípio do poluidor-pagador, a Lei nº 9.985, de 18 de

julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação,

trouxe em seu bojo a figura da compensação ambiental, por meio da qual se

estipulou que o empreendedor, nos casos de licenciamento ambiental de

empreendimentos de significativo impacto ambiental, é obrigado a apoiar a

implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo Proteção

Integral (art. 36, caput, da Lei nº 9.985/00). Estipulou-se também que se o

empreendimento afetar unidade de conservação específica ou sua zona de

amortecimento, esta deverá ser uma das beneficiárias da compensação,

mesmo que não pertencente ao Grupo Proteção Integral (art. 36, § 3º, da Lei nº

9.985/00).

3.2 – Compensação Ambiental segundo o SNUC

A Constituição Federal de 1988 (art. 225, §1º, III) estabeleceu a

definição de espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente

protegidos como uma das formas de assegurar o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado.

Nesse sentido, a Lei nº 9.985/00 instituiu o Sistema Nacional

de Unidades de Conservação que possui como alguns de seus objetivos, como

já citados anteriormente os seguintes: contribuir para a manutenção da

diversidade biológica; proteger as espécies ameaçadas de extinção; promover

o desenvolvimento sustentável; proteger e recuperar recursos hídricos e

edáficos; proteger os recursos naturais necessários à subsistência de

populações tradicionais.

Esse sistema é composto por dois grupos de Unidades de

Conservação, a saber: Unidades de Conservação de Proteção Integral e as

Unidades de Conservação de Uso Sustentável.

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Para auxiliar na consolidação da Política Nacional de Biodiversidade,

cujo substrato estrutural materializa-se na criação e manutenção

de unidades de conservação - como destaca MILARÉ E ARTIGAS (2006, pag.

106), a Lei do SNUC, resgatou a figura da compensação ambiental. Por meio

dela, os empreendimentos causadores de significativo impacto ambiental são

compelidos a apoiar a implantação e manutenção de Unidades de

Conservação.

A referida lei disciplina a questão da seguinte forma:

Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de

significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental

competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e

respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a

implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de

Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no

regulamento desta Lei.

(...)

§ 3o Quando o empreendimento afetar unidade de conservação

específica ou sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se

refere o caput deste artigo só poderá ser concedido mediante

autorização do órgão responsável por sua administração, e a unidade

afetada, mesmo que não pertencente ao Grupo de Proteção Integral,

deverá ser uma das beneficiárias da compensação definida neste artigo.

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CONCLUSÃO

Dentre os crescentes problemas enfrentados pela natureza, o

desmatamento tem sido o mais visível e agudo, provocando debates intensos

em várias frentes da sociedade brasileira e na comunidade científica e

acadêmica em geral. Apesar da grande controvérsia envolvida, ainda é

consenso, ou quase isso, que as unidades de conservação são uma importante

medida de proteção e conservação da biodiversidade em tempos de grande

ameaça. As unidades de conservação, especialmente aquelas de uso

sustentável, têm assumido naturalmente um papel fundamental na

conservação da biodiversidade porque apesar de proteger essas áreas

demarcadas, inibe a exploração sem controle das áreas e o esgotamento do

seu circulo de vida.

A necessidade de utilização dos ambientes protegidos e de seus

recursos naturais pelas populações que habitam o planeta deixam claro que as

unidades de conservação de proteção integral, por mais necessárias que

sejam, nem sempre consistem na melhor estratégia para proteger boa parte da

biodiversidade que se encontra em áreas de ocupação tradicional ou em áreas

de alta densidade populacional humana. Há de se conservar mas também

permitir que estas populações retirem da terra o seu sustento e trabalho para

que retirem recursos para as suas demais necessidades. Na tentativa de

viabilizar este aparente dilema, algumas formas recentes e alternativas de

gestão e manejo de unidades de conservação de uso sustentável,

particularmente na Amazônia, têm produzido grandes resultados nos últimos

anos.

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Dentre os modelos de conservação da biodiversidade em unidades de

conservação de uso sustentável que foram desenvolvidos neste período,

podemos com firmeza destacar o de criação e manejo de reservas de

desenvolvimento sustentável.

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), então uma nova categoria

de unidade de conservação ainda inédita no país, foi criada no Estado do

Amazonas, e foi posteriormente incorporada ao Sistema Nacional de Unidades

de Conservação (SNUC). Este tipo de área protegida de uso sustentável teve

como objetivo básico promover a conservação da biodiversidade e, ao mesmo

tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução

social, a melhoria dos modos e da qualidade de vida por meio da exploração

racional e sustentada dos recursos naturais por parte das populações

tradicionais, além de valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as

técnicas de manejo do ambiente desenvolvido por estas populações.

A conscientização ambiental se tornou um assunto multidisciplinar e não

se resume apenas em preservar ou conservar áreas delimitadas ou

simplesmente nas campanhas contra os maus-tratos aos animais, podas de

árvores, desmatamentos. Além de toda a globalidade que o assunto está

adquirindo ainda temos a grande vantagem de ninguém necessitar de

conhecimentos científicos ou culturais complexos para entender esse assunto.

Podemos considerar estas notórias mudanças de comportamento, por

exemplo, devido à mudança na cultura ao se tratar o meio ambiente. Verifica-

se na maioria das pessoas o modo como tratam as questões relacionadas ao

meio ambiente e o seu bem estar. Podemos citar como exemplo destas

mudanças os vaga-lumes. Na época em que eu era criança adorava prende-los

em um pote de vidro e levar até um lugar escuro para brincar de lanterna. Hoje

em dia isso se tornou inaceitável para os pais e para as próprias crianças. O

ambientalismo pode e deve ser tratado muna linguagem simples, de fácil

compreensão tanto para as crianças quanto para as pessoas simples que

vivem em situações menos privilegiadas possam compreender e colaborar para

a “saúde” do ambiente.

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A base da sustentação do conservacionismo está na população. Sem

uma massa crítica de ativistas os efeitos benéficos não conseguirão atingir uma

dimensão que produza efeito real. Para que isso seja viável são necessários

trabalhos de base com procedimentos estratégicos de educação e informação

bem planejados e bem executados. Aqui também temos uma grande

vantagem: a princípio não deve existir ninguém que esteja contra a

preservação ambiental. Assim sendo basta romper a barreira do

desconhecimento para que pelo menos os procedimentos mais simples sejam

de pronto adotados.

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