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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE LUXO: OS DESAFIOS DE UM MERCADO EXTRAORDINÁRIO Por: Juliana Fionda Campos Orientador Prof. Fernando Lima Rio de Janeiro 2010 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · O consumidor do luxo está na internet, mas as marcas de Luxo não. A internet está hoje no centro do universo e as marcas

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

LUXO: OS DESAFIOS DE UM MERCADO EXTRAORDINÁRIO

Por: Juliana Fionda Campos

Orientador

Prof. Fernando Lima

Rio de Janeiro

2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

2

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

LUXO: OS DESAFIOS DE UM MERCADO EXTRAORDINÁRIO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Comunicação

Empresarial. Por: Juliana Fionda Campos

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço em especial meus pais, pelo

apoio e dedicação na minha criação.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe que

sempre esteve ao meu lado me apoiando

em todos os momentos deste curso.

5

“Lê luxe, ce n'est pas le contraire de la pauvreté mais celui de la vulgarité.”

Coco Chanel.

6

RESUMO

Estamos diante de um mercado exigente, diferenciado e formador de

opinião.

O consumidor do luxo está na internet, mas as marcas de Luxo não. A

internet está hoje no centro do universo e as marcas do segmento precisam se

posicionar porque os consumidores estão falando delas nas mídias sociais.

A grande questão é que as marcas de luxo ainda querem manter

distância do consumidor. Este vácuo no mundo digital, na verdade, é uma

grande oportunidade para aquelas que querem se enveredar na web, porque o

consumidor quer um diálogo com ela, quer comprar, quer se relacionar.

As marcas devem entrar na internet e monitorar as mídias sociais, se

comunicar da melhor maneira, participar, dialogar e experimentar novos

formatos. Devem evitar controlar, bloquear e ignorar as opiniões das pessoas

e, mais ainda, focar em oferecer experiência da marca on-line assim como

fazem off-line.

Hoje o mercado quer inovação e idéias audaciosas. O consumidor

procura autenticidade e as empresa hoje precisam deixar bem claro seu

posicionamento.

Investir em mídias alternativas e focar no cliente suas ações

mercadológicas de comunicação é o grande desafio.

Palavras-chave: Luxo, Marketing, Comunicação, Marca e Consumidor.

7

METODOLOGIA

A pesquisa é qualitativa classificada como bibliográfica de caráter

exploratório com enfoque teórico.

Sendo assim, a leitura de livros bem como de revistas e jornais foram

essenciais para a confecção deste trabalho. Manter-me bem informada e

atualizada foram pontos primordiais para adquirir conhecimento e bagagem

para escrever todo esse material.

Durante a confecção percorri bibliotecas de instituições conceituadas,

consultei professores e conversei bastante com profissionais da área.

O acesso à Internet foi de extrema relevância, pois, sendo este o

veículo de maior polêmica neste tema abordado não poderia deixar de

consultá-la e explorá-la.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - O Luxo 11

CAPÍTULO II - O Comportamento do Consumidor 20

CAPÍTULO III – Comunicação Integrada 25

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 46

FOLHA DE AVALIAÇÃO 47

INTRODUÇÃO

9

O objetivo deste trabalho é discutir as dificuldades encontradas para

trabalhar a comunicação no mercado de luxo na atualidade.

Não mais limitado ao universo dos reis e das elites, o luxo tornou-se

hoje um importante mercado em termos globais. Movimenta cifras

consideráveis de dinheiro e se configura como uma fonte notável de atividade

econômica, gerando empregos e renda, seja no seu comércio, seja na

manufatura. As marcas de luxo exigem um forte trabalho de posicionamento,

de uso criativo do marketing e de renovação contínua, sem contradizer sua

essência de marca.

O universo do luxo é extremamente propício para o desenvolvimento e

experimentação de novas tecnologias, que, sendo inicialmente de alto custo e

reduzida escala de produção, seriam inacessíveis para consumidores de

menor poder aquisitivo.

Hoje, estamos diante de uma mudança de cenário profundo. É preciso

deletar o conhecimento que o mercado tinha para poder se reinventar. Não

basta ter o melhor produto ou serviço, é preciso ir além, pois surgiram novos

desejos. E isso impõe uma reflexão pelo mercado de luxo. Estamos na Era da

busca pelo raro, pelo único. Um produto precisa tocar o consumidor. Precisa

emocionar. A nova Era demanda a capacidade de despertar sensações nas

pessoas. É a era das experiências. Os produtos suprem necessidade, a

experiência supre o desejo.

Os bens de luxo são produtos e serviços com comportamentos muito

particulares no mercado, e sua administração mercadológica frequentemente

contradiz as regras do marketing de consumo de massa. É preciso adaptar e

muitas vezes reinventar conceitos para prosperar nesse segmento.

Além disso, o luxo relaciona-se com o que é raro, exclusivo, restrito e,

consequentemente, de custo mais elevado. Podemos resumir que o luxo é

sempre caro e raro mesmo porque se for acessível à maioria das pessoas,

deixa de ser luxo. Mas em contra partida deve ser único e proporcionar sempre

uma grande experiência. Decorre daí outra dimensão importante do termo: a

diferenciação, ou melhor, sua simbologia das distinções de classe social. Luxo

10

é tudo o que sinaliza privilégio, elite, nobreza, prestígio, aristocracia, riqueza,

estilo, diferenciação.

CAPÍTULO I

O LUXO

11

1.1 – O que é luxo?

Uma das dificuldades iniciais de estudar esse mercado advém da

conceituação mesma do que seja Luxo.

Etimologicamente, "luxo" e "luz" têm a mesma origem, vêm do latim

"lux", que significa "luz". Como se pode verificar na definição acima transcrita,

a referência à luz provavelmente associa-se com conceitos como brilho,

esplendor, distinção perceptível ou resplandecente (JOÃO BRAGA, 2004). Ao

examinarmos a definição dicionarizada, notamos que há uma dimensão

bastante concreta do termo (suntuosidade, fausto, pompa, supérfluo,

aparência, poder material). Contudo, como continua observando João Braga,

há vários aspectos intangíveis embutidos no conceito, pois o luxo “deixa de

estar ligado a um objeto para se associar a um signo, a um código, a um

comportamento, à vaidade, ao conforto, a um estilo de vida, a valores éticos e

estéticos,(...) ao prazer e ao requinte.”

Quando pensamos mais especificamente em mercados e questões

econômicas, o termo “luxo” refere-se a “um produto melhor, superior, mais

duradouro, mais bem acabado, mais bonito...” (SCHWERINER, 2005). Além

disso, o luxo relaciona-se com o que é raro, exclusivo, restrito e,

consequentemente, de custo mais elevado. Podemos resumir que o luxo é

sempre caro e raro. Se for acessível à maioria das pessoas, deixa de ser luxo.

Decorre daí outra dimensão importante do termo: a diferenciação, ou melhor,

sua simbologia das distinções de classe social. Luxo é tudo o que sinaliza

privilégio, elite, nobreza, prestígio, aristocracia, riqueza, estilo.

Em todas as épocas, o uso de objetos de luxo se verifica,

principalmente para marcar a fronteira entre uma classe social favorecida e o

resto da população. Segundo o filósofo Gilles Lipovetsky, um dos maiores

pensadores atuais sobre o universo dos bens e serviços premium, não há

sociedade que rejeite o conceito de luxo; desde o período paleolítico (muito

antes do esplendor dos palácios, portanto), o homem tem tido comportamentos

ligados ao luxo: adornos, festas, consumo despreocupado dos bens de

12

reserva, etc. "Nessa época não havia ainda esplendor material, mas a

mentalidade de dilapidação, o impulso de prodigalidade, de gastar tudo com o

gozo presente sem se preocupar com as conseqüências futuras, (o que) revela

uma mentalidade de luxo anterior à criação de objetos luxuosos."

(LIPOVETSKY, 2004). O conceito de luxo nasceu antes dos processos

industriais, vinculado mesmo a um conceito religioso, da mágica da

organização cósmica, como um meio de estabelecer uma aliança com outra

dimensão da realidade. “Foi com o surgimento do conceito de Estado, 4.000

anos a.C.,que surgiu a separação social entre ricos e pobres. Nesse novo

momento histórico, passou-se a dedicar objetos de alto valor -- inclusive

mágico -- ao mortos. Nesse sentido, o luxo se tornou um elo entre os vivos e

os mortos. Do mesmo modo, o luxo tornou-se uma maneira de traduzir a

soberania dos reis. O luxo passou a ser o traço distintivo do modo de viver, de

se alimentar e até de morrer entre os ricos e pobres. Assim, fixou-se a idéia de

que os soberanos deveriam se cercar de coisas belas para mostrar sua

superioridade, o que gerou a obrigação social de se distinguir por meio das

coisas raras. Na escala dos milênios, se sempre houve algo que jamais foi

supérfluo, foi o luxo. Era totalmente imbuído da função de traduzir a hierarquia

social, tanto no aspecto humano quanto no mágico" (LIPOVETSKY, 2004).

Danielle Allérès, diretora do Departamento de Gestão do Luxo e Arte

da Universidade de Marne-la-Vallée e estudiosa desse mercado, completa

essa visão histórica. A burguesia, surgida no século XVIII, tenta imitar os usos

da aristocracia, copiando seus hábitos e comprando objetos de distinção

social. Sua vontade é vincular-se às classes dominantes, esquecendo-se de

suas origens trabalhadoras. Importante notar que, aqui, as escolhas e

aquisições desses bens traduzem uma preocupação com a vinculação às

classes privilegiadas e não um desejo hedônico de desfrutar de objetos

preciosos, moradias luxuosas ou equipamentos mais confortáveis.

1.2 – O produto de luxo

13

O conceito de luxo é importante para se entender como ocorre a sua

aplicação em produtos. Partindo dos estudos já realizados sobre produtos de

luxo, neste capítulo define-se primeiro o que são produtos de luxo para depois

estabelecer qual é a conexão destes com as marcas de luxo.

No final dos anos 1990, as modernas técnicas da administração

provocaram na França algumas discussões sobre o que é luxo verdadeiro –

vraie luxe – em oposição a um luxo novo (HERLORY et al., 2002, p. 45). O

luxo verdadeiro é aquele que tem tradição, em oposição ao produto de luxo

lançado como resultado de estratégias de marketing. Outro tema abordado foi

como evitar a migração de categoria de marca de luxo para apenas mais uma

marca no mercado, além de competir com novas marcas do mercado.

Esse debate evidencia a necessidade da França de proteger seus

tradicionais produtos de exportação de outras marcas que começaram a

competir no mercado e, por isso, a postura dos autores de origem francesa

enfatiza a tradição. Por exemplo, Dubois e Laurent (2001) identificam o

histórico como uma das seis dimensões do construto luxo; as outras são:

qualidade extrema, preço alto, escassez, estética (aspecto sensorial) e

supérfluo. Allérès (1997) e Kapferer (2003) também incluem em suas análises

a importância histórica. Outros autores – não franceses – como Eastman,

Goldsmith e Flynn (1999, p. 42), Nia e Zaichkowsky (2000) atrelam o conceito

de luxo principalmente ao conceito de status e nem sequer mencionam a

tradição.

Produto é um conceito amplo em marketing e designa qualquer coisa

oferecida ao mercado para sua aquisição, uso ou apreciação. A definição de

produto utilizada neste trabalho é a de Kotler (2000: 416): “algo que pode ser

oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou desejo”.

Na classificação de Kotler e Armstrong (2003), os bens de consumo

podem ser classificados em quatro categorias e os bens de luxo se enquadram

como bens de especialidade, pois apresentam características únicas. Em

outras palavras, os bens de luxo são especiais de alguma maneira e em geral

sua distribuição se limita a poucas lojas, induzindo os consumidores a fazer um

esforço considerável para adquiri-los.

14

O produto é a somatória dos fatores matéria-prima, qualidade, custo de

produção, etc., mas para o consumidor ele representa a satisfação de uma

necessidade, seja ela qual for: social, emocional, econômica, etc. Em suma, o

valor do produto advém do que o consumidor dele retira e não do que o

fabricante coloca nele.

A renda elevada do consumidor induz à aquisição de produtos de luxo,

mas a cultura desempenha papel semelhante, porque triplica o consumo

independentemente do nível de rendimentos. É impossível predizer o perfil

cultural a partir do nível de renda e vice-versa (DUBOIS e DUQUESNE, 1993,

p.38).

Entre o produto de massa e o de luxo existe uma gradação de prestígio

e

qualidade, que os autores denominam e delimitam de formas diferentes.

Neiestz (1991) organiza os bens de consumo em função de dois eixos

de força: a sensibilidade dos produtos à densidade da distribuição (se ela é

crescente com a baixa dos preços) e a sensibilidade ao preço. O produto de

gama elevada é definido na apreciação da relação de qualidade/preço e seu

marketing-mix; ele se apropria de signos do luxo (raridade, tradição) na

comunicação, procura espaços privilegiados nos canais de distribuição como

shop in the shop, e faz referência a modelos de comportamento imaginários ou

reais dos consumidores de luxo na ambientação da loja, embalagem,

propaganda. Além disso, esses bens devem ser medidos por meio de

indicadores qualitativos, como força imaginária da marca, reconhecimento

espontâneo dos atributos do produto, valor agregado pelo símbolo social, entre

outros. O fabricante deseja um determinado volume de produção para

minimizar custos e maximizar lucros. Os autores afirmam que o produto de

luxo tem um modo de produção artesanal, é fabricado manualmente, e não

abordam produtos de alta tecnologia como telas de cristal líquido para TV.

Para eles, o valor simbólico e a criação são mais importantes para definir o

produto de luxo.

Allérès (2000, p. 108-170) realiza sua classificação em função da

forma como os produtos são elaborados, fabricados, acondicionados,

15

distribuídos, além de seu preço e da comunicação. Quanto mais se usa

comunicação de massa, distribuição relativamente menos seletiva, quanto

mais se trabalha com descontos, menor será o prestígio do produto.

Segundo a autora, o desrespeito aos critérios seletivos desequilibra a

gestão da raridade do produto, favorece a banalização e suscita a fabricação

de cópias. Os setores de luxo que oferecem os mais finos substitutos recebem

o maior volume de cópias.

Os estudos apresentados por Neiestz (1999) e Allérès (2000) são

relevantes por demonstrar que os produtos de luxo podem modificar sua

classificação de acordo com o trabalho de marketing realizado.

Dubois (2002) afirma que o marketing de produtos de luxo está repleto

de contradições. Uma delas é que a satisfação não gera fidelidade, pois, uma

vez que o consumidor realiza seu sonho de consumo, não deseja recomeçá-lo

da mesma forma, ou seja, o sonho se autodestrói e automaticamente é

substituído por outro. A segunda é que o crescimento da demanda se dá mais

pela propaganda boca-a-boca do que pela recompra.

Além disso, não há um desejo expresso do cliente pelo produto antes

da sua criação, por exemplo, um cliente não deseja que Yves Saint-Laurent lhe

pergunte como quer seu vestido, ele “compra o gênio” do criador. Outro

paradoxo é que o preço dos concorrentes não é sistematicamente utilizado

como referência: quem compra Chanel No. 5 não está comparando o preço ou

se é melhor ou pior que as outras marcas de luxo disponíveis, compra o

perfume.

No tocante à distribuição, as vendas devem ser restritas a poucos

pontos de venda para manter o valor fundamental da raridade. Na

comunicação, a propaganda não deve focar o produto em demasia, mas sim o

conceito da marca; o marketing de relacionamento será o ponto crucial.

Os produtos de luxo são caros em termos absolutos e relativos, por

isso mesmo algumas empresas tendem a acreditar que seus clientes são das

classes econômicas mais altas.

A administração dessas companhias baseia-se nesse pressuposto; por

exemplo, as propagandas são veiculadas principalmente em revistas do

16

segmento superior como Vogue e suas lojas ficam nas ruas mais requisitadas

como Place Vendôme, 5th Avenue ou, no caso de São Paulo, em São Paulo,

na rua Oscar Freire e no Shopping Iguatemi. Essa visão vem em parte como

conseqüência da visão da economia e do consumo conspícuo teorizado por

Veblen. Mais recentemente, pesquisadores desenvolveram outras

perspectivas: a hedônica, cuja satisfação está no significado do símbolo; e o

desejo do consumidor de estender sua própria personalidade por meio das

possessões (DUBOIS e DUQUESNE, 1993, p. 36).

O luxo fica cada vez menos presente no objeto e mais presente na

marca com a simbologia. Símbolo é um termo genérico para qualquer coisa

que designe algo fora de si mesmo, que declare algo em virtude de acordo

entre membros da mesma cultura que a utilizam.

Os símbolos são enviados em uma comunicação, mas o que as

pessoas recebem é um significado. O ato de compreender ou interpretar o

símbolo ocorre somente quando uma pessoa tem afinidade com o repertório

de símbolos da outra, por exemplo, palavras, imagens e música.

Os produtos de luxo começaram a ser identificados por nomes,

geralmente o do seu fabricante como Cartier ou Chanel. A aplicação de nomes

a produtos é fundamental para o marketing. Primeiro, para que o consumidor

possa designar um produto pelo seu nome e, em segundo lugar, para que esse

nome ofereça algo que o diferencie dos demais (FOWLES, 1996, p. 21, 35).

Começa-se a atrelar o conceito de luxo ao de marcas.

O produto de luxo geralmente está abrigado sob uma marca bem

estabelecida e trabalhada segundo critérios específicos como Boucheron,

Cartier, Hermés, Kenzo, Vuitton, Chanel, Baccarat e Hôtel Crillon de Paris

(ALLÉRÈS, 1997). Essas marcas apresentam forte rede de associações que

criam um valor percebido, por trás do valor físico observável, diferenciando-as

da concorrência, de preferência através de associações fortes e favoráveis e,

se possível, únicas.

1.3 – A marca de luxo

17

A marca nasceu com a função de identificar e sinalizar a origem do

produto. As primeiras leis no uso de marcas, aparentemente, surgiram na

Inglaterra por volta de 1266 e eram relativas ao uso dos sinais compulsórios

das corporações medievais (KELLER, 1998, p.2).

A American Marketing Association – AMA (apud KELLER, 1998, p. 3)

define marca como um nome, signo, símbolo, design ou a combinação destes

com a intenção de identificar bens e serviços de um vendedor ou um grupo

deles e diferenciá-los da concorrência.

No Brasil, a definição legal de marca é: “Marcas são sinais distintivos

visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais” (BRASIL-

Lei 9.279, 1996).

Os elementos que compõem uma marca são: nome, logo, símbolo,

slogan, jingle e embalagem (KELLER, 1998, p. 131). O nome da marca é a sua

parte verbal, aquela que se pronuncia. Logotipo é um símbolo, ou desenho

pictórico, constituído para representar a marca nominal. Logos e outros

símbolos (como o bonequinho da Michelin, o cavalo da Ferrari) não são

verbalizáveis, mas nem por isso são menos associados às marcas.

As marcas são usadas como símbolos, pelos quais os indivíduos

comunicam algo sobre si mesmos. Nia e Zaikowsky (2000), relacionando o uso

e a exibição de uma marca específica e o prestígio que ela aporta ao seu

proprietário, afirmam que os atributos de preço e nome da marca são a

principal razão do consumo.

Os elementos da marca ajudam a construir o brand equity. A tradução

varia entre as expressões patrimônio da marca, eqüidade ou valor da marca,

embora o conceito básico seja o mesmo: o valor que a marca agrega ao

produto. Na definição da AMA, brand equity é o conjunto total de ativos

tangíveis e intangíveis que dá à empresa uma vantagem competitiva.

Kapferer (1992) distinguiu entre o conceito de imagem e identidade da

marca. A identidade da marca situa-se do lado da empresa, que deve

especificar o sentido, a intenção e a vocação de uma marca. A imagem, por

sua vez, situa-se do lado do receptor e refere-se à maneira como o público

decodifica todos os sinais emitidos pela marca através de seus produtos,

18

serviços e programa de comunicação. A identidade necessariamente precede

a imagem, pois antes de retratar a idéia do que está na mente do público é

preciso estabelecer exatamente o que será retratado.

O sucesso das marcas, para Aaker e Joachimsthaler (2002), está

relacionado à criação da imagem e da personalidade, encorajando a

percepção do consumidor de que os atributos a que se aspira estão fortemente

associados à marca. Esses atributos podem ser objetivos e reais (tais como

qualidade ou relação custo/benefício) ou emocionais e abstratos (como status,

juventude, etc.). A personalidade da marca é resultado de suas características

reais, ressaltadas e comunicadas para os consumidores através de

propaganda, design, embalagem, distribuição. O conceito de imagem é

particularmente importante para a definição do que é uma marca de luxo.

Kapferer (2003, p. 75-76) afirma que as marcas de luxo americanas são

uma nova concorrência, não somente no sentido temporal, já que são mais

recentes, mas principalmente por serem regidas por um modelo diferente do

francês. A forma americana criada sem base histórica ou hierárquica, como

Calvin Klein e Ralph Lauren, utiliza a comunicação para estabelecer uma

história e aplicá-la a todos os produtos indistintamente. Todos os produtos

(perfume, roupa ou louça) são expressões da marca, da mesma forma que o

produto têxtil que a originou, não constituindo subprodutos da sua origem têxtil.

O modelo francês impõe uma hierarquia, uma pirâmide, cujo topo é composto

pela grife, a alta-costura de caráter único. Os subprodutos da grife, como as

butiques e acessórios, proporcionam a rentabilidade. Há uma superioridade da

roupa de alta-costura sobre os seus subprodutos.

Outra definição de marca de luxo é dada por Nueno e Quelch (1998, p.

62-63). Eles afirmam que as marcas de luxo, obrigatoriamente com qualidade

premium em todas as suas linhas de produtos, são herança de

artistas/artesãos (oferecem um estilo ou design reconhecido, de modo que o

consumidor não precisa ver o rótulo para reconhecer a marca). Sua produção

limitada gera exclusividade e, se possível, uma lista de espera. Os programas

de marketing dão suporte ao posicionamento no mercado, combinando apelo

emocional com excelência de produto. Isso implica distribuição limitada, preços

19

premium e reputação global, associada a um país de origem amplamente

reconhecido como fonte de excelência na categoria do produto. Além disso,

apresentam um elemento de destaque ou único; são hábeis para lidar com o

fator tempo para modificar designs, quando a categoria é dependente da moda

e transmitem personalidade/valores dos seus criadores. Embora tentem

elaborar uma definição abrangente, esses autores deixam somente implícita a

importância do conceito de imagem e símbolo de status. Sua definição pode

ser considerada uma aplicação das formas que Goffman (1951) considerou

para evitar uma representação enganosa de um símbolo de status.

Dubois e Paternault (1995) afirmaram que toda marca de luxo pode ser

posicionada em termos da relação lembrança-compra-sonho.

A definição que se ajusta melhor para os objetivos desse trabalho é a de

Kapferer (2003, p. 73) porque já considera o habitus que é um pilar da análise:

“As marcas de luxo constituem parâmetros tangíveis do gosto de uma época

naquilo que há de mais elevado. Elas sugerem mais do que objetos, mas uma

referência de gosto, um habitus, para retomar a expressão de Bourdieu.” Não

se gerencia o luxo perguntando ao consumidor o que ele espera, segundo o

autor. A marca de luxo é definida pela visão de mundo e pelo sistema de gosto

que ela promove; não é resposta a uma demanda, mas expressão de uma

vontade criadora.

O valor agregado pela marca pode diluir-se em função de diversos

fatores. Um deles é o mau gerenciamento da qualidade, capaz de levar uma

marca de luxo ao seu declínio.

CAPÍTULO II

COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

2.1 – O perfil dos consumidores dos produtos de luxo

20

Podemos segmentar os consumidores de bens de luxo segundo critérios

econômicos, sociológicos e psicológicos.

Alguns autores, tomando em conta a definição básica dos bens de luxo

como objetos raros e caros, exclusivos e com distribuição seletiva e restrita,

usam mais os aspectos econômicos (renda) e sociológicos (classe social) para

segmentá-los. Ao estudarmos o consumidor de luxo sob uma ótica de classes

sociais, estamos obviamente falando das classes mais altas e abastadas. No

entanto, é arriscado supor que qualquer pessoa com alta renda deva ser

colocada no mesmo segmento de mercado, pois a definição de classe social

envolve mais que simplesmente a renda absoluta. Aspectos como o estilo de

vida, os interesses e prioridades de consumo dos ricos são afetados

significativamente por fatores como: origem de seu dinheiro, há quanto tempo

o possuem, como tornaram-se ricos, etc.

Como símbolos de status, os produtos de luxo vêm ressurgindo desde

os anos 90, conforme os consumidores afluentes se entregam aos desejos

pelas coisas mais finas da vida. Essa espécie de “revanche do prazer” embute

um apetite por produtos auto-indulgentes, de superior qualidade, ou de

excelência, que tornam o segmento luxo mais forte do que nunca.

Algumas análises vão além e levam em consideração os aspectos

psicográficos dos públicos-alvo, ou seja, combinam variáveis de personalidade,

estilo de vida e motivações, para explicar diferentes escolhas de consumo e

uso de produtos. A análise psicográfica permite entender por que os

consumidores compram (SOLOMON, 2002). Ao usar essa segmentação, uma

empresa pode posicionar melhor seu produto, enfatizando as características

que mais combinam com um determinado estilo de vida. Pode também

comunicar melhor os atributos do produto. Em se tratando dos produtos de

luxo, dependendo do tipo de consumidor em questão, pode-se comunicar e

enfatizar mais elementos de ostentação, diferenciação, reconhecimentos

social, expressão pessoal, realização ou sonho.

Vários autores (Vigneron, Johnson, Nyeck e Schweriner) estabeleceram

motivações para o consumo dos bens de luxo. Um pequeno resumo de suas

teorias listaria:

21

• O desejo de ser único, de exclusividade e diferenciação;

• O desejo de melhorar o auto-conceito, projetando sucesso e poder;

• O desejo de exteriorizar a própria personalidade;

• Necessidade de marcar a filiação a um grupo social almejado;

• Hedonismo, desejo de estímulos aos sentimentos e estados afetivos,

busca do próprio prazer, deleite ao excitar positivamente os órgãos dos

sentidos;

• Perfeccionismo, busca da melhor qualidade e de um desempenho

superior;

• O desejo de ostentação, de exibição da riqueza ou da conquista de uma

ascensão social;

• Motivação emocional ou a busca de uma experiência excepcional como

compensação ou auto-indulgência;

• Desejo de marcar-se como elite, old money, símbolo de status

hereditário;

Teorias do comportamento do consumidor utilizam a noção de auto-

conceito (as crenças que uma pessoa tem sobre seus próprios atributos, e

como avalia essas qualidades) para relacionar atributos percebidos no produto

com os que o indivíduo percebe em si. (SOLOMON, 2000). A premissa é de

que existe uma congruência entre a imagem simbólica do produto e a

autoimagem do consumidor (GADE, 1980). O auto-conceito refere-se a uma

estrutura bastante complexa, composta de muitos atributos, dos quais

destacamos:

• A auto-estima, que se refere a quão positivo é o auto-conceito da

pessoa. Esse nível de positividade é muito relacionado com a aceitação

social e também pode ser influenciado por esforços de comunicação de

marketing, na medida em que estes estimulam um processo de

comparação social.

• O eu ideal e o eu real: o eu ideal, ou seja, aquele que desejaríamos ser,

é parcialmente moldado por elementos da cultura do indivíduo, por

modelos de sucesso ou de beleza. Podemos comprar produtos que nos

22

ajudem a atingir esses objetivos, ou que sejam coerentes com eles.

(SOLOMON)

• A fantasia (ou sonho): muitos consumidores buscam a fantasia como

forma de compensar uma falta de estímulos externos ou para escapar

de problemas reais.

É fácil verificar que os nossos papéis sociais são acompanhados por uma

série de produtos e atividades, que nos ajudam a defini-los: roupas, hábitos de

higiene pessoal, jóias, carros, mobiliário, atividades de lazer, consumo de

alimentos e bebidas, tudo isso ajuda na percepção que temos de nosso eu

(tanto por nós como os outros). Ao ponto de podermos afirmar que: “você é o

que você consome” (SOLOMON, 2000).

Os atributos de um produto tendem a ser relacionados com a auto-imagem

especialmente quando se trata de produtos que apelam ao eu ideal, ou seja,

aqueles com alta expressividade social (perfumes, roupas, adornos) e com alta

orientação para a imagem.

2.2 – Necessidades e desejos

A hierarquização das necessidades de Maslow (1954;2000) é um

conceito da Psicologia dos mais utilizados na literatura de marketing. Elas vão

das básicas, ou essenciais à manutenção da vida humana (fisiológicas, como

comer, dormir, beber, fazer sexo) às mais sofisticadas ou superiores (status e

auto-realização).

Em primeiro lugar, Maslow (1954; 2000) ressalta que as necessidades

são inerentes a todos os seres humanos, independente de sua cultura. O que

é culturalmente determinado são as formas de satisfazê-las. Outro ponto a

ressaltar é que, normalmente, a maioria das pessoas experimenta satisfação

apenas parcial das necessidades, e a proporção dessa satisfação diminui

conforme se sobe na hierarquia das necessidades. Dessa forma, a pirâmide

pode ser entendida não só pela preponderância de cada necessidade, mas

também pelo seu nível de satisfação. Além disso, Maslow afirma que a

23

hierarquia não é tão rígida quanto possa parecer. É possível haver inversões

de ordem ou mesmo a dominação de uma necessidade de nível mais alto,

levando uma pessoa a privar-se de necessidades básicas em prol daquela.

Cabe ressaltar que Maslow fala em necessidades. Para ele, os desejos,

conscientes, são sintomas ou indicadores superficiais das necessidades, às

quais especificam ou particularizam. Além disso, o homem é um a animal que

deseja e raramente alcança um estado de completa satisfação, exceto por um

curto tempo. No entanto, “a satisfação de necessidades superiores produz

melhores resultados subjetivos. As necessidades mais básicas produzem, no

máximo, alívio e relaxamento.” (MASLOW, 1954, pg. 153). A vida, portanto,

seria mais completa no nível das necessidades superiores.

Para Allérès (2000), coexistem necessidades instintivas, fundamentais,

vitais com necessidades aprendidas, ligadas ao imaginário. Estas últimas são a

expressão de uma sociedade em crescimento, com elevação do padrão de

vida e melhoria do poder aquisitivo médio.

Assim, haveria, necessidades absolutas, invariáveis, universais, ligadas

a um consumo repetitivo, cotidiano, e sentida como custos vitais para nossa

sobrevivência. E necessidades relativas, nascidas do imaginário humano,

subjetivas e suscitadas pelo contexto social, que correspondem a esferas mais

ostentatórias do consumo, ligadas a gastos subjetivos e flexíveis. (ALLÉRÈS,

2000).

É bastante difícil estabelecer fronteiras nítidas entre as necessidades e

os desejos, principalmente em uma sociedade de abundância. As

necessidades seriam motivos primários e objetivos, advindos do instinto de

conservação da vida humana; portanto, intensos e incontroláveis, em número

limitado, uniformes, constantes e universais. Já os desejos seriam motivos

secundários, intencionais, ilimitados, dinâmicos, com causas variáveis,

dependentes do domínio do irracional, do sonho e da fantasia (ALLÉRÈS,

2000). Necessidades e desejos são duas entidades necessárias à passagem

para o ato de consumo; a necessidade obedece à lógica da satisfação e o

desejo, à lógica da carência, da insatisfação incessante.

24

Há também um forte aspecto social nos desejos: eles são configurados

e expressos dentro do contexto social, e servem a propósitos como inclusão,

socialização ou mimese. Mesmo quando os objetos desejados mostram-se

comuns a várias culturas , isto somente indica a existência de uma cultura do

consumo globalizada, com um imaginário consensual sobre o que constituiria a

base material de um bom padrão de vida (BELK et al, 2003). Todavia , Berry

(1994) discorda de que luxo seja sinônimo de bens de consumidos

conspicuamente: há um elemento de particularidade, individualidade e

relativismo nele.

Uma discussão recorrente é se a sociedade de consumo cria

necessidades artificiais, que não existiriam sem as atividades de marketing (em

especial, a propaganda). Se aceitarmos a definição de necessidades como

motivos básicos e universais, inerentes à natureza humana, o marketing e a

sociedade de consumo não possuem a capacidade de criar necessidades

(SOLOMOM, 2002).

Todavia, o marketing pode suscitar a conscientização sobre uma

necessidade, e assim criar demanda; o desejo de consumir produtos ou

serviços é causado por uma necessidade, mas não é a necessidade. Todavia,

é evidente que há limites éticos envolvidos na criação de demanda. A

manipulação de sentimentos de insegurança ou auto-estima, quando

presentes na comunicação de serviços ou produtos, suscitam muitas críticas

ao sistema (HAWKINS, BEST & CONEY, 2000).

“Ninguém, ou quase ninguém, em nossas sociedades,

vive mais tendo como objetivo a aquisição do estritamente

‘necessário’: com o crescimento do consumo, do lazer e

do bem-estar, ‘o supérfluo’ ganhou títulos de nobreza

democrática, tornou-se uma aspiração de massa

legítima.” (LIPOVETSKY & ROUX, 3005, PG. 57)

CAPÍTULO III

COMUNICAÇÃO INTEGRADA

25

3.1 – Comunicação integrada de marketing

Comunicação integrada de marketing é o desenvolvimento da

comunicação estratégica organizacional junto ao mercado, promovendo,

posicionando e divulgando produtos, serviços, marcas, benefícios e soluções.

Tem como base um sistema gerencial integrado, utilizando como

ferramenta o composto de comunicação – propaganda, publicidade, assessoria

de imprensa, promoção de vendas, patrocínios, venda pessoal, Internet,

marketing direto, eventos culturais e relações públicas. Busca atingir, com a

utilização holística de todos os elementos deste composto, uma comunicação

eficaz por parte do emissor junto ao seu consumidor-alvo.

Entre as milhares de marcas nas prateleiras das lojas, qual é a

probabilidade de um consumidor ver um determinado produto e comprá-lo?

Observando uma lista telefônica, qual prestador de serviço escolher?

Os consumidores estão sem tempo, têm o dinheiro contado e um

excesso de informações diárias, impossibilitando a compreensão e

absorção/retenção integral das mensagens, veiculadas maciçamente pelos

veículos de comunicação. O resultado disso, na maioria das vezes, é a compra

feita com base unicamente em preço.

Uma marca pode possuir um alto valor agregado, ser de alta qualidade e

relativamente valorizada, e, mesmo assim, não conseguir atingir seus objetivos

de vendas e lucro se os clientes em potencial não a conhecerem ou não

tiverem

uma percepção favorável a seu respeito.

A comunicação eficaz é fundamental para a criação da consciência da

marca, visando estabelecer uma imagem positiva, baseada em sua identidade

corporativa, representada por seus produtos, serviços, soluções e benefícios

oferecidos.

A comunicação integrada de marketing é imprescindível, também, para

o sucesso dos planos de marketing no segmento business-to-business,

26

principalmente os relativos aos objetivos de participação de mercado e

aumento de valor, buscando a maximização dos lucros.

Muitos produtos comercializados nesse segmento estão se

comoditizando. Em geral, a qualidade não difere muito de um fornecedor para

o outro e os preços costumam ser muito semelhantes. A possibilidade de

diferenciação entre os concorrentes com freqüência resume-se à capacidade

de compreender desejos e necessidades, comunicar e trocar informações e se

adaptar com eficácia às mudanças, sugerindo inovações e gerando

conveniência. Tudo isto pode ser feito por meio do atendimento diferenciado

na venda pessoal.

Deve-se identificar o público-alvo determinado: qual o perfil social, quais

são hábitos, seus costumes e desejos regionalizados. Isto é essencial para

melhor posicionar o processo de comunicação integrada de marketing. É

preciso lembrar-se que este estudo deve ser cuidadoso, tendo como premissa

o respeito à privacidade, o que permitirá determinar a melhor forma de

comunicação com os clientes e/ou prospects. Esse processo é científico, utiliza

hipóteses, as quais são confirmadas por meio de pesquisas de mercado

qualitativas e quantitativas, fundamentais quando da personalização da

mensagem e escolha do melhor veículo de comunicação.

O importante é que a escolha dos meios e processos de comunicação

seja definida pelo estudo mercadológico junto ao público a ser atingido e não

pelas preferências da agência, do comunicador ou pelos seus sucessos

anteriores.

A comunicação integrada de marketing tem como objetivo macro

lembrar, persuadir e informar, sempre integrando de forma harmônica a

mensagem desejada junto ao público-alvo, chamando sua atenção, gerando

interesse, desejo e, por conseqüência, uma possível compra.

Após identificar o mercado-alvo e suas premissas, o comunicador de

marketing define sobre a resposta desejada com base no público e no plano

global de marketing. A organização pode estar procurando uma resposta

focada na maior atenção, conscientização e conhecimento da marca, que são

aspectos cognitivos; pode estar buscando despertar o interesse, o desejo e a

27

preferência pela solução gerada, que são premissas afetivas; ou então a

compra ou experimentação, que constitui o estágio comportamental.

Existem diferentes modelos de estágio de resposta do consumidor, os

quais pressupõem que o comprador passe por um estágio cognitivo, afetivo e

comportamental. Essa seqüência de aprender – sentir – agir é apropriada

quando o público tem grande envolvimento com uma categoria de produtos

que parece muito ampla e heterogênea, como no caso da compra de um

automóvel. Uma seqüência alternativa agir-sentir-aprender é importante

quando o público tem grande envolvimento com o produto mas faz pouca ou

nenhuma distinção enntre os produtos da categoria, como ocorre na compra

de uma placa de alumínio. Uma terceira seqüência, aprender-agir-sentir, é

importante quando o público tem pouco envolvimento e faz pouca

diferenciação entre os produtos da categoria, como na compra de sal, por

exemplo.

De acordo com o produto ou serviço há uma seqüência hierárquica de

causa e efeitos. O profissional de comunicação integrada de marketing deve

analisar esta seqüência com base na categoria, diferenciações e atributos dos

objetos de desejo, com o objetivo de planejar melhor o posicionamento de sua

mensagem ou marca.

O comunicador mercadológico tem o papel de criar uma mensagem que

aumente a atenção, reduza a dispersão e anule os ruídos, buscando uma

resposta positiva dos consumidores.

A mensagem, além de atrair a atenção, deve manter o interesse do

receptor, mediante uma linguagem dirigida para cada audiência-alvo, buscando

despertar o desejo de compra do produto ou serviço. É preciso lembrar que a

eficácia da mensagem depende tanto da estrutura quanto do seu conteúdo e

formato. É fundamental, também, definir a utilização da ambigüidade de

estímulos ou argumentações bilaterais, de acordo com a ordem hierárquica de

interesses do público.

Definida a estratégia da mensagem, deve-se buscar os canais de

comunicação/mídias mais eficientes para sua veiculação. Para isto são

necessários alguns critérios básicos de análise para melhor escolha, tais como:

28

• Índice de audiência - é o percentual da audiência potencial total exposta

a umdeterminado veículo de mídia (é medido pelos institutos de

pesquisa: Ibope, Marplan, IVC, entre outros).

• Abrangência/cobertura e alcance - é o número de pessoas ou domicílios

expostos pelo menos uma vez a umdeterminado veículo de

comunicação.

• Custo por mil - trata-se do custo relativo para atingir mil domicílios ou

pessoas.

• GRP(Gross Rating Point – Pontuação Bruta Total) - é o somatório da

audiência-alvo em um espaço de tempo específico.

Outros pontos importantes são a freqüência, o valor qualitativo da

exposição, a localização e os hábitos da audiência-alvo.

Estima-se que o valor de investimento em comunicação deva ser

de 2% a 5% ao ano, com base no faturamento bruto de uma organização de

porte médio. É um percentual relativo, que deve variar de acordo com o

segmento do negócio, tamanho, disponibilidade de recursos, região ou plano

estratégico mercadológico de cada empresa.

Existem outros métodos de decisão orçamentária, os quais usam como

parâmetro o custo de oportunidades de mercado, o percentual das vendas

fixado em um valor por unidade ou os gastos da concorrência.

Não se deve confundir o orçamento distinto por canais de comunicação

com o orçamento para estratégia integrada de comunicação. O planejamento

tático focado no cronograma de ação pode ser pontual em relação aos canais,

mas sempre sistêmico e constante quando da comunicação integrada de

marketing, caso contrário poderá ocorrer uma descontinuidade do processo de

relacionamento com o mercado.

Sempre que possível, o gestor mercadológico deve medir o custo x

benefício de cada ação, verificando o retorno do investimento em

comunicação, utilizando este histórico para futuras decisões de melhoria.

29

As agências de propaganda que desejem atender de forma mais

completa seus clientes deverão se transformar em agências de comunicação.

Estas trabalharão com um programa integrado baseado na comunicação

integrada de marketing e na verticalização de soluções, buscando

compreender cada público-alvo, dentro deste contexto, customizando e

flexibilizando o composto e os processos da nova abordagem comunicativa.

As Principais ferramentas utilizadas do composto de comunicação são:

• Propaganda - trata-se de qualquer forma paga de divulgação que tenha

como objetivo apresentar e promover idéias, produtos ou serviços, de

caráter não pessoal, subsidiada por um patrocinador.

• Tipos de propaganda - há propaganda de produto, serviço, marca,

institucional, comparativa, corretiva, subliminar e documentário.

• Promoção de vendas - são estratégias de marketing, efetivadas dentro e

fora da mídia, em um período limitado, oferecendo suporte e incentivo a

ações de venda pessoal (utiliza ferramentas de merchandising).

• Tipos de promoção - amostragem, cupons-de-venda, brindes,

descontos, bonificações, reembolsos, concursos, sorteios, garantias,

promoção cruzada e material no ponto-de-venda.

• Relações públicas - variedade de esforços para criar e manter uma

imagem positiva da organização com seus diversos públicos (trabalha

também com a geração de publicidade).

• Táticas mais usadas - press-release, kits de mídia, marketing de

eventos, exibições e endomarketing.

• Publicidade - comunicação gratuita de informações sobre a organização,

produto ou serviço (muito utilizada nas pequenas empresas que geram

notícia e inovação).

• Venda pessoal - é a vendaemsi; busca a interação e o relacionamento

pessoal com o cliente, visando apresentar soluções com base em

benefícios percebidos e valores agregados.

• Marketing direto - sistema interativo de comunicação que usa um ou

mais meios de propaganda para obter uma resposta ou transação

mensurável sem o uso de intermediários.

30

• Categorias - propaganda ou promoção de resposta direta, telemarketing,

venda direta e internet.

Tais ferramentas, empregadas de forma estratégica e integrada, dentro de

um processo de relacionamento constante com o mercado, durante os

estágios de pré-venda, venda, consumo e pós-venda, são o princípio da

comunicação integrada de marketing.

A análise do ciclo de vida do produto é outro ponto importante para

compreender quando e com que intensidade usar o composto. Isto se aplica,

por exemplo, no lançamento de um novo produto, em que a força na utilização

integrada de todas as ferramentas é imprescindível.

3.2 – O papel da comunicação no mercado de luxo

O luxo representa um importante mercado em termos globais, como

mostram os dados da Interbrand, apontando que seu faturamento em 2003

atingiu cerca de US$ 200 bilhões, apresentando crescimento de 19% com

relação ao ano anterior. E há uma estimativa do Boston Consulting Group de

que atinja US$ 1 trilhão por volta de 2010 (CAROZZI, 2005).

Vale salientar que muitas dessas grifes possuem décadas de história,

como Coco Chanel, Gucci, Prada, Christian Dior, Pierre Cardin, Givenchy e

Yves Saint Laurent, por exemplo (BAUDOT, 2005). E apesar de toda a

tradição, essas marcas hoje gravitam em torno das tendências comerciais e

sociais, e acabam ficando reféns das exigências imediatas do mercado e de

um processo de inovações e lançamentos contínuos.

De acordo com Ferreirinha et al. (2005), dentre os grandes desafios do

cenário atual para a indústria do luxo estão: alta competitividade do setor;

novos canais de distribuição; consumidor mais consciente e informado;

mercado da falsificação; ciclo de vida dos produtos cada vez mais curto;

pressão sobre a rentabilidade; e sobreviver à era da Internet. Sendo este

último, o pontochave de discussão neste trabalho, pois da mesma forma que o

31

luxo, a Internet também pode ser considerada um fenômeno de grandes

proporções na atualidade.

A mídia já vem sendo utilizada com sábia cautela pelas grifes, cujos

consumidores valorizam o atendimento personalizado e o ambiente luxuoso de

suas lojas e butiques.

Por outro lado, a impressão causada por um site pode ser um

importante elemento de comunicação da idéia de luxo, bom gosto e

exclusividade. Basta acessar sites como os da Dior, Yves Saint Laurent,

Givenchy, Louis Vuitton, Montblanc, Cartier, Rolls-Royce e Rolex, verdadeiras

vitrines que ajudam a confirmar a imagem de diferenciação dessas marcas.

É preciso adaptar e muitas vezes reinventar conceitos para prosperar

neste mercado. Afinal, o mundo contemporâneo tem sido marcado por uma

imensa e variada mutação das formas de comunicação e se até bem pouco

tempo, atingir o consumidor do luxo com anúncios belíssimos em revistas

especializadas era suficiente para comunicar a marca, essa estratégia hoje é

no mínimo questionável.

Com a chegada cada vez mais acelerada da globalização e da

tecnologia, a atenção dos consumidores está fragmentada e seletiva; e os

produtos da mídia ficam cada vez mais disponíveis a uma pluralidade de

receptores. Todavia, para o mercado do luxo, a Internet ainda é uma

linguagem inaugural, uma mídia recente e, portanto, não se sabe ao certo se

existem fórmulas ou estratégias para comunicar o luxo na web.

Na intenção de conhecer melhor a configuração contemporânea da

comunicação dos produtos de luxo na Internet, privilegiamos a abordagem

teórica de Thompson, ao pensar a mídia sobre um enfoque sociológico. Assim,

foram discutidas algumas estratégias adotadas nos sites de grifes de luxo,

dentre outras questões, refletindo acerca das formas simbólicas que a Internet

cria nas sociedades, capaz de destacar fenômenos distantes da realidade local

de cada indivíduo.

Sob este enfoque, percebeu-se que o luxo nada mais é do que uma

forma simbólica, um fenômeno distante da realidade padrão existente, capaz

de acentuar desigualdades. Por conseguinte, o tema foi abordado levando em

32

consideração o contexto simbólico em que as mudanças no setor luxo estão

ocorrendo, e como ele acentua, ainda mais, os antagonismos sociais.

Thompson, após longa trajetória de estudos, formulou uma teoria social

da mídia, que “tem muito a oferecer às pesquisas sobre as comunicações”

(THOMPSON, 1999, p.15). Em sua abordagem, ele mostra que os meios de

comunicação são importantes para a organização do poder e que apontam na

direção de um novo conceito de publicidade, onde a comunicação face a face

foi

deixada de lado, privilegiando uma interação quase-mediada e monológica, ou

seja, predominantemente de sentido único.

O objetivo do autor é traçar o perfil das transformações causadas pelos

meios de comunicação na sociedade, naquilo que ele chama de “organização

social do poder simbólico” (THOMPSON, 1999, p.12), e explorar algumas de

suas conseqüências para o mundo em que vivemos.

Ao apontar que o luxo atualmente vive diante do paradoxo da elite e das

massas, Lipovetsky (2005) demonstra que o setor adquiriu uma ampla

visibilidade social, enveredando pelo caminho inédito da democratização de

massa. E assim, coincide com a fala de Thompson (1999), ao demonstrar que

o desenvolvimento dos meios de comunicação e, especificamente, o

investimento na midiatização das marcas de luxo, contribuíram para a

organização do poder na sociedade e para as mudanças nas relações.

Portanto, cabe a pergunta se essas mudanças nos levam a uma

sociedade mais igualitária ou, ao contrário, acabam incentivando a

consolidação das barreiras sociais existentes.

Em seus estudos, Thompson (1999, p.38) tem como linha central os

efeitos da globalização na sociedade, através do desenvolvimento dos meios

de comunicação de massa. O autor coloca que a ampla difusão dos produtos

na mídia nos permite “o conhecimento de um mundo que se amplia para além

dos nossos encontros diários”. Em conseqüência, o mundo se parece cada vez

menor e não mais uma imensidão de territórios desconhecidos.

Transportando essa concepção para o campo da comunicação dos

produtos de luxo, seja na TV, nas revistas e agora também na Internet, através

33

dos sites das grifes, é possível visualizar o pensamento do autor com mais

clareza. Nessa perspectiva, supõe-se que a exposição do luxo em mídias de

massa, mesmo que com um intuito direcionado a determinados públicos,

acaba por atingir àqueles que a princípio não teriam interesse nem condições

de adquirir tais produtos e, assim, ampliar a perspectiva de consumo dessas

pessoas. É o chamado “luxo-marketing”, citado por Lipovetsky (2005, p.50),

que é “centrado na procura e na lógica do mercado”.

O luxo-marketing faz parte deste novo momento do luxo, um momento

globalizado, hipermoderno, financeirizado. Antes, o setor escorava-se em

sociedades familiares e nos famosos fundadores. Este ciclo terminou, abrindo

espaço para os gigantes mundiais, grandes grupos de marcas prestigiosas,

onde é cada vez mais o pólo econômico e financeiro que domina, impondo sua

lei ao desenvolvimento dos produtos, às compras e vendas das marcas:

Levado por uma procura em forte expansão e marcado

por uma concorrência feroz, o universo do luxo tende a

aventurar-se em práticas análogas às observáveis nos

mercados de massa: explosão dos custos de lançamento

e da publicidade, comunicação de choque ou

transgressiva, inflação de lançamento de novos produtos,

encurtamento da duração de vida dos produtos, aumento

das ofertas promocionais no mercado dos perfumes e dos

cosméticos, exigência de resultados financeiros a curto

prazo. (LIPOVETSKY, 2005, p.50)

Nesse sentido, associa-se que o luxo está claramente dependente de

um mundo globalizado, onde a lógica do capital se sobrepõe até mesmo sobre

os conceitos mais fundamentais de um produto de luxo: exclusividade,

seletividade e distinção.

Mesmo sendo o luxo “elemento de diferenciação social” (LIPOVETSKY,

005, p.49), sua inacessibilidade acaba comprometida pela lógica de mercado

atual. Hoje, observa-se que mesmo as grandes marcas lançam diversos

artigos com preço e distribuição acessíveis, como perfumes e acessórios, no

34

intuito de garantir um fluxo de vendas, inclusive para públicos esporádicos, não

pertencentes às classes de maior poder aquisitivo. Não é de se estranhar,

assim, que muitas vezes, seja necessário a realização de promoções para

retirar do estoque produtos acumulados nas prateleiras devido ao excesso de

lançamentos.

Obviamente, o barateamento dos produtos, principalmente através de

ações promocionais, atinge a um público antes nunca almejado no setor,

podendo gerar nestes indivíduos um desejo cada vez maior de fazer parte

deste universo, mesmo quando um sacrifício maior se fizer necessário para

tanto.

Segundo Thompson (1999), informação e conteúdo simbólico são

colocados à disposição de um número incalculável de indivíduos, em espaços

cada vez mais amplos e em velocidade sempre maior. Grifes de luxo que antes

eram inacessíveis, por existirem somente em grandes centros da moda, como

Paris, hoje são acessíveis ao mundo inteiro através dos sites das grifes.

Mesmo que em alguns casos não seja possível a compra on-line do produto,

só o fato desta realidade hoje ser visível à um número bem maior de pessoas,

faz do luxo um objeto de desejo social.

O autor enfatiza que a apropriação dos materiais simbólicos divulgados

na mídia, tornam-se parâmetros seguidos pelos indivíduos: “Imagens de outros

modos de vida constituem um recurso que os indivíduos têm para julgar

criticamente suas próprias condições de vida” (THOMPSON, 1999, p.157).

Nesse sentido, aqueles que não teriam condições de adquirir os produtos de

luxo, acabam por acessá-los através da mídia, e muitas vezes podem

questionar-se quanto às suas próprias condições, gerando um conflito interno,

que, possivelmente, só será solucionado através da compra, mesmo que

sacrificada, daquele produto.

Lipovetsky (2005, p.57) considera essa experiência temporária com o

universo do luxo, uma espécie de direito à felicidade. É aquela famosa idéia de

que as pessoas “se dão ao luxo” de comprar alguma coisa:

35

Mais ninguém ou quase ninguém, em nossas sociedades,

vive tendo como objetivo a aquisição do estritamente

necessário: com o crescimento do consumo, do lazer e do

bem-estar, o supérfluo ganhou títulos de nobreza

democrática, tornou-se uma aspiração de massa legítima.

Torna-se complicado diante do cenário de consumo atual, querer privar

qualquer pessoa de desejar a posse de um produto. Mesmo que distantes das

condições financeiras “ideais” para se consumir um bem premium, como

delimitar os desejos daqueles que visualizam tais materiais? A mídia não só

expõe, como estimula o desejo, a partir do momento em que padroniza tudo

que é exposto de uma forma extremamente bela, sedutora e provocativa.

Assim, não há como limitar-se ao desejo incontrolável de querer fazer parte

deste universo.

Dessa forma, é muito comum no universo do luxo atual, notar

consumidores de classe média comprando uma bolsa Louis Vuitton, por

exemplo, diluída em suaves parcelas durante o ano inteiro (FERREIRINHA et

al., 2005). Isso demonstra a vontade destes consumidores de sentirem-se

parte deste universo ao qual são expostos diariamente nas mídias, nas novelas

e nos shoppings da vida. Fica, então, a pergunta: porque uns podem e outros

não, se os produtos são expostos a todos de maneira igual? E se outros não

podem, por que têm que aceitar de forma passiva a exposição a estes

produtos diariamente?

Percebe-se, portanto, o papel da mídia na propagação destes valores

de pertencimento, desse sentimento de direito à posse. Para Lipovetsky (2005,

p.58), ter acesso às grifes e seu conteúdo tornou-se possível à todos: “o

fascínio pelo consumo, pelas marcas e pelo ‘cada vez mais’, libertouse das

fronteiras de classe. À antiga ‘interdição’ ligada ao luxo sucedeu esta idéia:

Luxo, por que não pra mim?”.

Thompson (1999) fala deste cenário como uma apropriação localizada

de produtos globalizados; uma fonte de tensão, um “choque de valores”; que é

exatamente o que significa o consumo dos produtos de luxo no cenário

36

desigual da sociedade capitalista globalizada. Essa visão do autor nos chama

a atenção pelo fato de que a comunicação dos produtos de luxo, devido à forte

concorrência que tem se dado no setor, tem apelado para um lado muito mais

fantasioso e agressivo que, muitas vezes, pode chocar até mesmo os

consumidores do segmento:

A própria publicidade e comunicação das marcas de luxo

dedicam-se agora, a recuperar a dimensão de desafio,

explorando a veia da transgressão. Exibição fetichista,

imagens sexualmente sugestivas, acenos à orgia, ao

lesbianismo, à masturbação, à androginia [...]. O mundo

do luxo trocou sua imagem de respeitabilidade pela da

provocação, do antitabu, do sensacionalismo.

(LIPOVETSKY, 2005, p.63)

Podemos assim dizer que a mídia tem um papel crucial nas

transformações culturais associadas ao surgimento das sociedades modernas.

São nestas transformações que se situam os produtos de luxo, como parte de

um fenômeno recente e em expansão. Através da exposição à mídia, o

consumidor se desprende de valores tradicionais, como o estritamente

necessário, ficando mais disponível à experimentação, à busca de novas

oportunidades e novos estilos de vida, uma vida de glamour e dispêndios. Só o

fato de acessar ao site de uma grife, por exemplo, demonstraria essa abertura

do self do indivíduo, já que o conteúdo desses sites varia, desde textos

informativos e técnicos a imagens provocativas, ousadas e perfeitamente

belas:

O self na sociedade tradicional é um self limitado: ele se

enraíza no familiar e na rotina [...]. Por contraste, o

indivíduo nas sociedades modernas se caracteriza por um

grau de flexibilidade [...] estimulada pela difusão das

experiências mediadas pela comunicação de massa. [...].

37

A experiência mediada é uma experiência do outro, ela

cultiva a faculdade de imaginação do indivíduo [...]

(THOMPSON, 1999, p.167).

Emerge, então, um consumo dispendioso, livre das prescrições sociais,

que representa a ascensão das aspirações e motivações individualistas: “Por

toda parte a cultura neo-individualista é acompanhada pela emancipação dos

indivíduos em relação às antigas imposições de dependência e pela correlativa

erosão da autoridade das normas coletivas” (LIPOVETSKY; ROUX, 2005,

p.53).

O que vemos hoje é uma sociedade menos presa aos valores mais

tradicionais, referentes à família, religião, educação; e mais ligada aos seus

interesses individuais, ao próprio bem-estar e satisfação.

Antes, os horizontes das pessoas eram limitados pelo contexto geográfico,

suas interações com os outros eram restritas às pessoas com quem

partilhavam um ambiente social comum. Não existiam outros padrões se não

os tradicionais, simplesmente porque, para a maioria dos indivíduos, não

existiam outras alternativas. Portanto, havia uma ausência de curiosidade e de

conhecimento sobre acontecimentos ocorridos em locais distantes

(THOMPSON, 1999).

Diante desse cenário, como indivíduos pertencentes às classes mais

populares iriam questionar-se quanto às suas condições e almejar produtos

luxuosos e caríssimos?

Em contrapartida, no mundo globalizado atual, aumentou-lhes a

capacidade de se imaginarem em novas situações, por estarem confrontados

com novas possibilidades. Podemos dizer que essa abertura do self foi

estimulada pela difusão das experiências mediadas pela comunicação de

massa, sendo a mídia a ferramenta que torna disponível aos indivíduos um

vasto arsenal de experiências que de outra forma permaneceriam encobertas

(THOMPSON, 1999). Ou seja, a mídia desenvolve no indivíduo a capacidade

de se imaginar no lugar do outro. E o que é o luxo para as massas, se não

esse desejo de ter e ser o outro?

38

Essa discussão não tem por objetivo dizer que é certo ou errado

encobrir as experiências dispendiosas que demonstram as desigualdades

sociais, mas apenas apresentar o funcionamento das sociedades antes e

depois da globalização, e da conseqüente expansão dos meios de

comunicação e da espetacularização das mídias.

CONCLUSÃO

Pensar o luxo na interdisciplinaridade, refletir sobre as novas situações

comunicativas e as estratégias utilizadas pelo que denominamos de “novo

luxo” no cenário contemporâneo é o que motivou a confecção deste trabalho

que investiga áreas como a Comunicação, o Marketing, seus desdobramentos

em relação ao mercado de consumo, e as novas formas de construir o sentido

dos produtos luxuosos.

A comunicação do luxo contemporâneo assume outras configurações

nas quais sobressaem a importância do processo de

codificação/decodificação, simbólico/textual. O luxo perde a obviedade do

39

material nobre e ganha em sensorialidade e em capital cultural. Os

personagens privilegiados, as celebridades do contemporâneo, investem na

produção de códigos que exigem um verdadeiro investimento para o

reconhecimento e a fruição. O luxo se dá no detalhe, nas particularidades,

diagnosticadas por poucos, o luxo se dá no design, na sofisticação tecnológica,

na hipermobilidade e na individualização. O luxo exige aprendizado do raro, do

exótico e do sensível e exige também separações e limites: da sala Vip ao

mundo virtual.

A intenção foi apontar a complexidade crescente do tema sua

importância, abrangência e a multiplicidade de setores economicamente

relacionados a esta definição. Alargando seu domínio de influência, a

comunicação publicitária e o marketing se preocupam em, numa época de

consumismo, não reduzir os objetos a simples produtos e a valorizar o

aprendizado, realçando a autoridade dos objetos e o saber fazer que os gera.

O luxo, segundo Pierre Bergé, presidente do Instituto Francês da Moda, lembra

a importância da lentidão que pontuou sua produção na história. O homem

hoje parece buscar apenas o que pode abreviar o tempo. O luxo, no entanto, é

primeiramente uma prova do tempo e também de paciência que não pode

prosperar respondendo a chamados imediatos. Sob este aspecto, a indústria

do luxo progride num equilíbrio delicado entre o desejo de lucro e aquele de

desenvolver o imaginário e a reflexão contemporânea. O novo luxo parece

caminhar entre margens onde repentinamente o excesso se transforma em

vulgaridade espetaculosa, onde os limites se redefinem e deslocam-se com

agilidade crescente criando novos mercados, novos segmentos, abrindo assim

possibilidades de ascensão e participação ostensiva. Junto com os grandes

conglomerados empresariais que dominam e difundem este universo, estão os

perigos compreendidos na extensão desta difusão. A arte do luxo dá-se na

produção e na recepção. As perguntas em torno da questão são numerosas.

Sem a preocupação nostálgica de sacralizar o passado, há preocupação de

discutir a qualidade do discurso do luxo do contemporâneo, analisando seus

objetos no cenário dos processos da subjetivação contemporânea. Na

verdade, trata-se de pensar com Nietzsche que a palavra do passado é

40

sempre uma palavra de oráculo. Nós não a entendemos senão construindo o

futuro e os intérpretes do presente. Tal a direção de nossa reflexão a propósito

das propostas do novo luxo.

O luxo refere-se à dimensão simbólica do consumo e se reveste de

uma significação social, jogando com diversos fatores de ordem cultural que

condicionam as representações coletivas: fatores econômicos, sociológicos,

políticos, religiosos, filosóficos etc. Do ponto de vista do valor de uso é

perfeitamente supérfluo, mas suas motivações podem ser de diversas

naturezas e podemos considerar que seu consumo se decompõe em duas

formas distintas: o “luxo exteriorizado” que visa à distinção social e à

ostentação e o “luxo interiorizado” que supõe o prazer do gosto. Embora as

duas formas se embriquem, o lugar relativo que ocupam podem variar. No

contemporâneo, a ostentação parece ceder mais espaço ao prazer do

refinamento, embora, logicamente, vá variar de cultura para cultura o tipo de

voluptuosidade também por influência da questão religiosa.

As definições tradicionais do luxo hesitam em torno de algumas

noções: supérfluo, raridade, preço, boa qualidade, marca de prestígio.

Entretanto, nenhuma delas é suficientemente clara e, na verdade, precisam ser

pensadas quanto ao modo de serem construídas. A questão das marcas é

especialmente interessante porque remete à uma constelação de significações

onde a imagem de si e dos outros, bem como a história individual e coletiva,

desempenham um papel determinante. O que está em jogo é a identidade do

consumidor e a dinâmica marca/objetos. Que objetos escolher, como não

enfraquecer a marca? Daí o interesse do mercado de luxo em construir a

excelência dos produtos baseando-a numa espécie de qualidade objetiva sem

referência a seu uso.

Diante das reflexões levantadas até aqui buscou-se inserir socialmente

o luxo no mundo globalizado e dar-lhe um sentido crítico.

Foi possível notar que este novo cenário do luxo é fortemente marcado

pela presença das leis do mercado global intervindo diretamente na esfera

social e cultural. Por essa razão é que compreendemos o luxo na

contemporaneidade como espaço de mediação entre cultura, mercado e

41

sociedade. Uma configuração que veio se constituindo durante as últimas

décadas, e que hoje, alcançou seu lugar e triunfo no mundo globalizado. O fato

de o luxo estar vivendo um novo momento, aponta para uma série de

mudanças no setor, mudanças essas que refletem na sociedade e nas

diversas relações entre os indivíduos. Da mesma forma, a mídia e os avanços

tecnológicos fazem parte deste processo e contribuem para que o fenômeno

do luxo tome proporções antes nunca esperadas.

Assim, a ampla visibilidade social do luxo, sendo a Internet parte deste

cenário, altera as concepções de pertencimento dos indivíduos e gera conflitos

ainda maiores entre as classes. Ao mesmo tempo em que as elites tradicionais

lutam por uma exclusividade, as massas almejam cada vez mais pertencer a

este universo; e assim, a escalada em busca de distinção social continua. Por

isso, o luxo na Internet parece ser parte desta estratégia de manutenção do

desejo social, enquanto mídia que disponibiliza informações a quem quer que

tenha interesse em acessá-las.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

O Luxo 11

1.1 – O que é luxo? 11

1.2 – O produto de luxo 13

1.3 – A marca de luxo 17

46

CAPÍTULO II

O Comportamento do Consumidor 20

1.1 – O perfil dos consumidores dos produtos de luxo 20

1.2 – Necessidades e desejos 22

CAPÍTULO III

Comunicação Integrada 25

1.1 – Comunicação integrada de marketing 25

1.2 – O papel da comunicação no mercado de luxo 31

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 46

47

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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